A vez dos emergentes

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28 Tubo & Cia www.cipanet.com.br A vez dos emergentes POR FÁBIO CALDEIRA FERRAZ | [email protected] FOTOS STOCK.XCHNG EMPRESAS DE TUBOS DIRECIONAM FOCO PARA MERCADO INTERNO E DE PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO tubo & cia matéria de capa

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Reportagem de capa publicada, em 2009, pela revista Tubo & Companhia. O texto aborda os impactos da atual crise financeira no mercado internacional da construção civil e de tubos.

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A vez dos emergentesPOR Fábio Caldeira Ferraz | [email protected]

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A participação do Brasil no co-mércio internacional de tubos apre-sentou crescimento ininterrupto nos últimos cinco anos. Em 2003, a exportação desse produto chegou a US$ 228,9 milhões. Já, em 2007, foram US$ 525,6 milhões exporta-dos, ampliação de 130%. Observan-do a corrente de comércio (somató-ria das exportações com as impor-tações) verifica-se que a trajetória de crescimento contínuo também remete a 2003. Naquele ano, foram transacionados US$ 336,9 milhões, contra US$ 856,4 milhões de 2007, um salto de 154% (veja tabela abaixo).

O período em questão trata exata-mente dos anos cujo Produto Interno Bruto (PIB) mundial (estimado, hoje, em US$ 48 trilhões) apresentou forte expansão, com bom desempenho por parte de países emergentes. O Brasil também se beneficiou desse cenário, vide o resultado de seu balanço de pagamentos no período, que permi-tiu a constituição de reservas (cerca de US$ 200 bilhões) e saldo positivo na balança comercial.

A bem-sucedida ação empresa-rial do setor de tubos no mercado internacional pode ser medida a par-tir da própria balança comercial, em sua fração dedicada a esses produtos (códigos 73.04.00.00 a 73.06.90.20 da Nomenclatura Comum do Mer-

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cosul – NCM – veja pág. 32). São nove anos consecutivos de superá-vit, cujo pico foi alcançado em 2006 (US$ 380,9 milhões), portanto, um ano antes de os primeiros sintomas da crise virem à tona. Em 2007, hou-ve um modesto aumento da corrente comercial. Mesmo assim, o superá-

vit do setor, sentindo a desacelera-ção nos países ricos, foi a US$ 194,8 milhões.

Essa tendência pode ser verifi-cada mesmo em âmbito geral. Ao se considerar o todo da balança co-mercial brasileira, de janeiro até 1º dezembro de 2008, o resultado mos-tra um recuo do superávit de 38,6% (US$ 22,4 bilhões), no comparativo

a igual período de 2007, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE).

Entre 2003 e 2006, o ritmo médio de expansão das exportações de tu-bos foi de 39%. No entanto, quando se considera 2007 no intervalo, esta medida vai a 26%. Já uma projeção que compreenda informações par-ciais do ano passado (janeiro a outu-bro) aponta para 18%, em média.

No acumulado de 2008, o Brasil registrava até setembro déficit de US$ 13 milhões, o que não acon-tecia desde 1998. No mês seguin-te, houve uma discreta inversão: superávit de US$ 19,1 milhões. Os dados de 2008, disponíveis até o fechamento desta edição, aponta-vam para uma queda, em divisas, do montante exportado (US$ 486,3 milhões) e um aumento do impor-tado (US$ 467,2 milhões), em rela-ção a 2007. Ainda assim, e mesmo desconsiderando os resultados de novembro e dezembro, a corrente de comércio será de US$ 953,6 mi-lhões, a maior da série histórica.

Fator dólar

Outro aspecto que salta do per-fil da balança comercial brasileira é que, em 2008, embora estivesse próxima a um saldo equilibrado no

A bem-sucedida ação empresarial do setor de tubos

no mercado internacional

pode ser medida pela balança

comercial

PartiCiPação braSileira No ComérCio iNterNaCioNal de tuboS*

2008** 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998

exportações*** 486,39 525,63 589,39 424,45 338,48 228,97 356,99 258,57 156,87 141,17 202,44

importações 467,22 330,80 208,40 181,29 107,74 107,97 124,02 98,78 63,19 111,22 235,48

CorrenteComercial

953,61 856,43 797,79 605,74 446,22 336,94 481,01 357,35 220,06 252,39 437,92

* Códigos 73.04.00.00 a 73.06.90.20 da NCM

** Entre janeiro e outubro

*** Em milhões de US$/FOB

Fonte: Secex/MDIC

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quesito divisas, quando se observa a variável “peso líquido”, ainda se-gundo dados da Secex, verifica-se um superávit de 79,9 mil toneladas. São 266,4 mil toneladas de tubos vendidos contra 186,4 mil tonela-das compradas. Ou seja, exportamos mais produtos por menos divisas no comparativo com o conjunto dos pa-íses que o Brasil importa.

Ainda que se considere a pos-sibilidade da compra de produtos de valor agregado superior àque-les vendidos pelo Brasil, haveria aí apenas uma parte da explicação. Conforme apontou editorial da edi-ção 21 de Tubo & Companhia, “este efeito em larga medida ocor-reu em função da desvalorização gradativa do dólar frente ao real que, em agosto de 2008, chegou a menos de R$ 1,60”.

E aí acrescenta-se outro efeito da crise sobre a economia brasileira. Neste momento, em várias frentes há uma tendência de revalorização da moeda americana, o que influi no câmbio nacional. Entre agosto e início de dezembro do ano anterior, o dólar comercial pulou de R$ 1,60

a R$ 2,50, e sem dar sinais de estar próximo a um ponto de estabilização (veja gráfico abaixo).

Este aumento, que a princípio poderia ser interessante ao expor-tador e prejudicial ao importador brasileiro, em verdade, tem se mos-trado o inverso. Com o dólar em disparada, o exportador tem mais dificuldade em estabelecer o preço de seus produtos. Mesmo quando o cliente se propõe importar, a vola-

Nicolau Marcelo Bernardo, diretor da Confab Industrial

“...o governo federal deveria acelerar a

reforma tributária para aliviar a incidência de

impostos”

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Desde agosto dólar sobe sem apontar estabilidade

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Em 2008, o dia 15 de setembro marcou o princípio do estágio “catastrofista” desta crise financeira. Naquela segunda-feira, o centenário banco americano Lehman Brothers foi à bancarrota, com o consentimento do governo dos Estados Unidos, golpeado pelos créditos chamados subprime. O impacto da queda do gigante financeiro foi tamanho que imediatamente as bolsas de valores ao redor do mundo refletiram suas consequências. E foram péssimas. Nos dias seguintes, os índices relativos aos ativos financeiros, termômetros de primeira ordem das alterações de cenário,

apresentaram perdas expressivas onde quer que se observasse. Algo comparável aos dias subsequentes aos atentados terroristas de 2001, em Nova York. Desde aquela “segunda-feira negra”, o pânico ganhou corpo entre os agentes financeiros. Outros grandes bancos e seguradoras americanas recorrerem ao governo – que agora estava disposto a agir – para impedir suas respectivas quebras. Em um desdobramento, bancos europeus sinalizam que também estão “intoxicados” com papéis compostos pelo subprime. Desde então, frases como “crise de confiança”, “derretimento do sistema”

– para ficar somente nas menos técnicas – passaram a ser ditas até pelo mais moderado dos analistas. Em uma ação anticíclica radical, em outubro, pacotes econômicos foram anunciados nas duas pontas do Atlântico. Aquele desenhado pelo governo britânico (injeção direta de recursos por parte dos governos no caixa de empresas, seja como empréstimo, seja como compra direta de capital acionário) se mostra mais eficaz. Rapidamente, outros países, inclusive os EUA, passam a aplicar medidas semelhantes.A manobra, de fato, tirou da boca dos

Mudança já era prevista em países ricos

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7304.10.90 OUTS. TUBOS DE FERRO/ACO, S/COSTURA, P/OLEODUTOS/GASODUTOS

7304.11.00 TUBOS OCOS AÇO INOX P/ OLEODUTOS/GASODUTOS

7304.19.00 OUTROS TUBOS OCOS FER/AÇO P/ OLEODUTO/GASODUTO

7304.21.10 TUBOS DE ACOS N/LIG. S/ COST. P/ PERFUR. EXTRAC. PETRÓLEO/GAS

7304.21.90 OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO, S/ COST. P/ PERF. EXTR. PETRÓLEO/GAS

7304.22.00 TUBOS D/ PERF. D/AÇOS INOX ESTR. D/ PETRÓLEO/GÁS

7304.23.10 TUBOS D/PERFURAÇÃO S/COST. D/AÇOS NÃO LIGADOS

7304.23.90 OUTROS TUBOS D/PERFURAÇÃO S/COST. D/FERRO, AÇO

7304.29.10 TUBOS DE ACOS N/LIG. S/COST. P/REVESTIM. DE POCOS, ETC.

7304.29.20 TUBOS DE ACOS INOX. S/COST. P/REVESTIM. DE POCOS, ETC.

7304.29.31 TUBOS DE LIGAS ACOS, S/COST. P/REVEST. POÇOS, ETC. D<=229MM

7304.29.39 OUTROS TUBOS LIGAS ACOS, N/REV. S/COST. P/REVEST. POCOS,ETC

7304.29.90 OUTROS TUBOS FERRO FUND/FERRO/ACO, S/COST.P/REV.POCOS,ETC.

7304.31.10 TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG.S/COST.SEC.CIRC.LAM.FRIO, N/VER

7304.31.90 OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC.CIRC.LAM.FRIO

7304.39.10 TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC. CIRC. N/REV.D<=229MM

7304.39.20 TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC. CIRC. REV.D<=229MM

7304.39.90 OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. S/COST. SEC. CIRC.

7304.41.00 TUBOS DE ACOS INOX S/ COST. SEC. CIRC. LAMIN.A FRIO

7304.49.00 OUTROS TUBOS DE ACOS INOX. S/ COST. SEC. CIRC.

7304.51.10 TUBOS OUTROS LIGAS AÇOS, S/ COST. SEC.CIRC.LAM.FRIO,D<=229MM

7304.90.19 OUTROS TUBOS/PERFIS OCOS, DE FERRO/ACO, S/ COST .D<=229MM

7304.51.90 OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, S/ COST. SEC.CIRC.LAM.FRIO

7304.59.10 OUTROS TUBOS DE OUTRAS. LIGAS ACOS, S/COST. SEC.CIRC.D<=229MM

7304.59.11 TUBOS DE OUT. LIGA AÇO, S/COST. SEC.CIRC.D<=229MM,C>=0,98%

7304.59.19 OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, S/COST. SEC.CIRC.D<=229MM

7304.59.90 OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, S/ COST. SEC.CIRC.

7304.90.11 OUTROS TUBOS/PERFIS OCOS, DE ACOS INOX. S/ COST. D<=229MM

7304.90.90 OUTROS TUBOS/PERFIS OCOS, DE FERRO/ACO, S/COST.

7305.11.00 TUBOS FERRO/ACO, SOLD. LONG ARCO, SEC. CIRC. D>406MM, P/OLEOD

7305.12.00 OUTROS TUBOS FERRO/ACO SOLD. LONG. SEC. CIRC.D>406MM,P/OLEOD

7305.19.00 OUTROS TUBOS FERRO/ACO, SOLD. ETC.SEC. CIRC.D>406MM,P/OLEOD.

7305.20.00 TUBOS FERRO/ACO, SOLD. ETC. SEC. CIRC. D>406MM,P/REV.POCOS

7305.31.00 OUTROS TUBOS FERRO/ACO, SOLD. LONGIT. SEC. CIRC.D>406MM

7305.39.00 OUTROS TUBOS FERRO/ACO, SOLD. SEC. CIRC. D>406MM

7305.90.00 OUTROS TUBOS FERRO/ACO, REBITADOS, SEC. CIRC. D>406MM

7306.10.00 TUBOS FERRO/ACO, SOLD/REBITAD/AGRAFAD. P/OLEODUTO/GASOD.

7306.11.00 TUBOS FERRO/AÇO UTILIZADOS P/OLEODUTOS/GASODUTOS

7306.19.00 OUTROS TUBOS D/TIPOS UTILIZADOS EM OLEODUTOS/GASODUTOS

7306.20.00 TUBOS FERRO/ACO, SOLD/REBITAD/AGRAFAD. P/REVEST.POCOS,ETC

7306.30.00 OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO N/LIG. SOLD. SEC. CIRC.

7306.40.00 OUTROS TUBOS DE ACOS INOX. SOLD. SEC. CIRC.

7306.50.00 OUTROS TUBOS DE OUTRAS LIGAS ACOS, SOLD. ETC.SEC.CIRC.

7306.60.00 OUTROS TUBOS DE FERRO/ACO, SOLD. SEC.N/CIRC.

7306.61.00 OUTROS TUBOS SOLD. D/SEÇÃO QUADRADA/RETANGULAR

7306.69.00 OUTROS TUBOS SOLD. DE SEÇÃO NÃO CIRCULAR

7306.90.10 OUTROS TUBOS E PERFIS OCOS, DE FERRO/ACO N/LIG.SOLD.ETC.

Relação de tubos

Fonte: Secex /MDIC

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analistas as previsões apocalípticas. O estágio atual da crise, segundo eles, é outro. Trata-se agora de um longo período de retração econômica: encarecimento das linhas de crédito, declínio de vendas, aumento do desemprego, entre outras tantas consequências.Ainda antes dos dois estágios citados houve um outro, de influência decisiva sobre o momento atual, e que para as empresas de tubos e conexões instaladas no Brasil, notadamente as exportadoras, teve particular importância. A pré-crise despontou no início do segundo semestre de 2007. Seus primeiros sinais ocorreram em junho quando grandes bancos dos EUA e da Europa, com operação no mercado de créditos

imobiliários, passaram a anunciar perdas de porte e/ou fazer projeções bastante pessimistas sobre seus balanços. O núcleo do problema estava no sistema financeiro norte-americano, mais especificamente no braço dedicado aos financiamentos imobiliários. Graças a anos de juros baixos e critérios de concessão pra lá de relaxados, foram registradas seguidas taxas de expansão. Em uma estratégia de diluição de riscos, as instituições negociavam no mercado de capitais as dívidas imobiliárias, já transformadas em produtos financeiros (títulos e derivativos, por exemplo). Contudo, em 2004, quando o Federal Reserve (FED), banco central americano, começou a subir a taxa de juros referencial,

e o índice de inadimplência cresceu, tornou-se impossível rastrear para fins de resgate esses papéis, uma vez que foram misturados a outros papéis na composição dos produtos. Daí que o plano inicial de salvamento do governo americano não obteve êxito, pois previa exatamente pagar uma determinada quantia por esses papéis – que até agora ninguém sabe dizer quanto valem e exatamente onde estão em sua totalidade.Em um movimento, como a inadimplência assumiu trajetória de alta e a disposição dos consumidores em adquirir imóveis o sentido contrário, o valor tem caído a patamares inferiores aos negociados à época da concessão do “crédito ninja”. Isso impede os bancos de cobrir partes de suas

tilidade dos preços por vezes o ini-be, pois trata-se, sobretudo, de uma aposta nos rumos do mercado cam-bial. Ainda que as partes adotem salvaguardas cambiais (hedge) para assegurar alguma previsibilidade, em um contexto de incertezas na macroeconomia mundial é possível que alguém obtenha resultados in-satisfatórios.

Mas há alternativas. “A alta vo-latilidade cambial afeta a composi-ção dos custos em reais, que flutuam muito em função deste efeito. O que se procura fazer é fixar o custo da maior quantidade possível de insu-mos na mesma moeda que será utili-zada na operação de venda, fazendo-se um hedge cambial do restante dos custos”, explica Nicolau Marcelo Bernardo, diretor de exportação da Confab Industrial.

Para minimizar o impacto do dólar sobre seu faturamento as ex-portadoras têm recorrido às ante-cipações de contrato de câmbio (ACCs) – adiantamento de divisas, já convertidas, para o exportador. Com o recurso à disposição a em-presa pode aplicá-lo para conter uma

eventual defasagem do câmbio – e ao Programa de Financiamento às Exportações (Proex), mantido pelo governo federal que reúne uma sé-rie de alternativas de financiamento para o exportador. Tanto um quanto outro receberam nos últimos meses recursos adicionais por parte do go-verno federal.

Esse tipo de expediente ofere-cido aos exportadores, embora im-

prescindível, funciona mais como um mantenedor do nível de compe-titividade no mercado internacional do que necessariamente como algo capaz de elevá-lo. Em um quadro de estabilidade macroeconômica, o aumento do grau de competitivida-de do exportador depende em uma maior medida, de seu desempenho individual, com ganhos de escala, ampliação da produtividade, inves-timentos, etc. Neste momento ad-verso, a tendência tem sido outra: maior interferência do estado junto aos seus exportadores, com incenti-vos, isenções, reduções de tributos, aumento de gastos públicos, entre outros. A ordem é garantir a entrada de divisas e, ao mesmo tempo, fo-mentar o mercado interno.

Com os outros países protegendo seus mercados e impulsionando suas empresas, por aqui as medidas ain-da são consideradas tímidas. “Adi-cionalmente ao que tem sido feito, o governo federal deveria acelerar a reforma tributária para aliviar a in-cidência de impostos na cadeia pro-dutiva, melhorar a infra-estrutura logística, etc.”, sugere Bernardo.

Marco Pólo de Mello Lopes da IBS

“ Protecionismo nos EUA e Europa pode agravar ainda mais o

nível de penetração do aço... ”

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Batismo da P-52: Petrobras insiste na manutenção do plano de investimentos

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perdas com a venda direta. O termo “ninja” faz referência ao perfil dos tomadores desses créditos e forma-se a partir das iniciais de “no incomes”, “no job” e “no assets”. Algo como clientes sem comprovação de renda, emprego ou patrimônio.Em suma, uma crise financeira oriunda da bolha imobiliária americana era tida como possível ao menos um ano antes, considerando esses elementos. Com uma perspectiva negativa pela frente, houve uma contínua reestruturação das posições dos agentes financeiros nos meses que antecederam a “segunda-feira negra”, o que atingiu primeiramente o setor de construção civil naqueles países. Em 2006, os EUA importaram de empresas instaladas no Brasil 203,4 mil de toneladas

de tubos (códigos 73.04.00.00 a 73.06.90.20 da Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM – veja pág. 32), que equivalem a US$ 239,3 milhões. No ano seguinte, foram 129,3 mil toneladas (US$ 153 milhões), um decréscimo de 57%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão pertencente à estrutura do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Entre janeiro e outubro do ano passado, foram apenas 54,3 mil toneladas (US$ 100,5 milhões) importadas.Essa tendência ocorre também quando se mira o G7, “grupo das sete mais importantes potências econômicas” (Alemanha, Japão, Itália, França, Grã-Bretanha, Canadá e Estados Unidos).

Em 2006, as vendas atingiram 224,9 mil toneladas (US$ 268,3 milhões) ao conjunto dessas economias contra 137,6 mil toneladas (US$ 168,7 milhões), em 2007, uma queda de 63%. Assim, neste momento em que a crise migra para a economia real nos países centrais, e em uma dinâmica semelhante nos periféricos, atingindo de modo agudo setores mais dependentes do crédito, outros setores, como o de tubos, registram perdas há mais tempo, por estarem ligados diretamente ao desempenho da construção civil naqueles países. Essas perdas são, antes, fruto da mudança na expectativa nos mercados estrangeiros. A essas perdas se somam agora as pertencentes a este estágio da crise.

demaNda iNterNa Como Saída

“Se vemos aumento do prote-cionismo nos EUA e Europa, à me-dida em que seus mercados se en-fraquecem, isso pode agravar ainda mais o nível de penetração de aço e produtos da cadeia metal-mecâ-nica em nosso mercado”, observou

em entrevista recente Marco Pólo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

Lopes refere-se à possibilida-de de aumento das importações de produtos no mercado nacional. Com o mercado do G7 contendo suas de-mandas e o dólar mais caro (e volá-til) para as empresas brasileiras, um

desdobramento possível é o redire-cionamento do excedente produzido por países emergentes do leste euro-peu ou ainda da China.

Quanto a este último, essa ten-dência já se insinua na balança co-mercial entre os dois países. O Bra-sil saiu de um volume de importa-ções de 7,3 mil toneladas (US$ 10,2 milhões), em 2005, para 51 mil to-neladas (US$ 79,9 milhões), nos dez primeiros meses de 2007, cerca de sete vezes mais. Por outro lado, de janeiro a outubro de 2008, exporta-dores brasileiros embarcaram para o gigante asiático pouco mais de 300 toneladas de tubos.

O governo chinês em sua estraté-gia para enfrentar a crise combinou investimento público, estímulo ao mercado interno, financiamento e redução de juros, taxa de redesconto e carga tributária. Isso tem propor-cionado a reformulação das políti-cas de preço chinês, tornando seus produtos ainda mais competitivos. Acrescente a isso, regime cambial baseado em bandas fixas, o que pro-porciona maior estabilidade para o yuan e baixos custos trabalhistas.

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Particularmente para a cadeia do aço nacional, as notícias vindas de Beijing são preocupantes. Desde 1º de dezembro, as tarifas de exportação de produtos siderúrgicos fabricados na China, inclusive de chapas gros-sas, utilizadas na fabricação de tubos e acessórios, foram eliminadas.

Para as companhias com atuação no setor de tubos, tanto exportado-

ras quanto importadoras, completa o cenário desta crise os reiterados pro-nunciamentos de representantes de governos estaduais e federal e de em-presas estatais sobre a manutenção dos investimentos públicos. E, para além deles, é fato que o Brasil apro-vou recentemente os marcos legais para as áreas de saneamento básico (Lei 11.445/2007) e gás (a espera de sanção presidencial), o que deve servir de estímulo para os negócios. Além disso, os setores de construção civil e automobilístico, mais sensí-veis à retração do crédito, também têm recebido especial atenção do es-tado, disposto a garantir-lhes a neces-sária expansão. Por fim, a Petrobras insiste na manutenção de seus proje-tos de extração e logística em novos campos de combustíveis fósseis.

Dado o seu perfil, “a demanda brasileira realmente pode colocar o País na rota dos players do mercado internacional de tubos”, analisa José Adolfo Siqueira, diretor executivo da Associação Brasileira das Indús-trias de Tubos e Acessórios de Me-tais (Abitam).

Com quase todos os membros do G7 já adentrados em uma recessão, o Brasil, na contramão, apresentou taxa de expansão do PIB de 6,8% entre janeiro e setembro de 2008. Anualizada, ela atingiu 7,5%, con-forme divulgou o IBGE. Mais: o indicador que puxou o índice foi o de formação bruta de capital fixo (FBCF), composto por bens de capi-tal e construção civil, que alcançou em igual período 19,7%. Tamanho dinamismo torna-se um atrativo para o mercado internacional.

Diante disso, “o governo bra-sileiro, em conjunto com as enti-dades representativas dos diversos segmentos industriais afetados por uma potencial política agressiva de exportação da China, está atento ao tema e tem implementado medidas visando inibir a concorrência des-leal e a evasão fiscal que se dá por importações a preços aviltados”, conta Bernardo.

Entre as medidas ele cita as de “valoração aduaneira, que estabe-lece preços mínimos conforme in-dicadores do mercado internacional para efeitos de cálculo dos impostos incidentes na importação, e o licen-ciamento não automático para im-portação de produtos de determina-das origens, dentre elas a China”.

Por sua vez, empresas brasilei-ras têm mirado outros países emer-gentes como potenciais comprado-res de seus excedentes. Brastubos, Apolo Tubulars e a própria Confab Industrial, além de outras, já ma-nifestaram interesse em abrir ou expandir frentes de negócios em países da Ásia Central e do oeste da África, ricos em combustíveis fósseis. Estratégia semelhante aos concorrentes chineses e do leste europeu, não?

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José Adolfo Siqueira

“ demanda pode colocar o

País na rota do mercado internacional... ”

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TTudo por fazer: com novo marco legal e recursos públicos, saneamento atrai empresas

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