Ambiência e Bem-Estar Animal

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ISSN 1983-0475 Boas Práticas Agropecuárias: Ambiência e Bem-Estar Animal Circular Técnica Bagé, RS Dezembro, 2011 Autores 1 Sergio Silveira Gonzaga , Jorge Luiz Sant´Anna 1 dos Santos , 2 Estefanía Damboriarena , 2 Paulo Campos de Figueiredo , 3 Jaime Eduardo Riez , 4 João Carlos da Luz , 5 Valdir da Trindade Filipini . 1 Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul, [email protected], [email protected]; 2 Analistas da Embrapa Pecuária Sul, [email protected], [email protected]; 3 Zootecnista, [email protected]; 4 Médico Veterinário, [email protected]; 5 estudante, [email protected]. 43 As Boas Práticas Agropecuárias (BPA) são um conjunto de itens que visa identificar pontos críticos que limitam a rentabilidade e a competitividade dos sistemas produtivos e disponibilizar tecnologias necessárias e em tempo hábil, para promover o aumento da rentabilidade e das possibilidades de conquista de novos mercados (VARELLA et al., 2009). A implantação voluntária das Boas Práticas Agropecuárias (BPA) irá possibilitar a identificação e o controle dos diversos fatores que influenciam o processo produtivo, tornando-o mais rentável e competitivo. Deste modo conscientizando os produtores rurais sobre a necessidade de disponibilizar, para o mercado consumidor, alimentos seguros, com atributos de qualidade de interesse do consumidor e com preços acessíveis. O atendimento desses requisitos irá facilitar a inserção e a manutenção do Brasil no mercado mundial de carnes (VALLE, 2011). As instalações para a produção de bovinos de corte devem ser caracterizadas pelos aspectos relacionados com a funcionalidade, resistência, economia, segurança e que visem a atender aos princípios de bem-estar animal. Instalações inadequadas podem comprometer a qualidade do produto final, por causa da ocorrência de hematomas e feridas na carcaça e de furos, cortes e riscos profundos no couro bovino, além de provocar desconforto e submeter os animais a condições dolorosas desnecessárias e frequentemente evitáveis. Esses danos depreciam seu valor comercial e, desse modo, a rentabilidade do produtor. (VALLE, 2011). De uma maneira geral, as instalações rurais devem possuir quatro princípios básicos. Elas devem ser funcionais, facilitando todo trabalho que for realizado; devem ser econômicas, não sendo necessárias instalações muito luxuosas, mas que atendam as necessidades do dia-a-dia no manejo dos animais; devem ter uma boa durabilidade, sendo construídas com materiais de boa qualidade, garantindo assim uma longa vida útil das instalações; e devem ser sustentáveis social e ambientalmente, não prejudicando as pessoas que vão trabalhar nelas nem os animais que nelas serão manejados. Para melhor esclarecimento do assunto, abaixo são apontadas as principais instalações utilizadas no manejo e no trato diário dos bovinos: 1. Curral (mangueira); 2. Cercas; 3. Reservatório; 4. Bebedouro; 5. Instalações de Confinamento. Essas instalações serão descritas a seguir, mostrando as principais características e fatores relacionados ao bem estar-animal, conforme indicações de Nunes e Martins (1998).

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  • ISSN 1983-0475

    Boas Prticas Agropecurias: Ambincia e Bem-Estar Animal

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    Bag, RSDezembro, 2011

    Autores1Sergio Silveira Gonzaga ,

    Jorge Luiz SantAnna1dos Santos ,2Estefana Damboriarena ,2Paulo Campos de Figueiredo ,3Jaime Eduardo Riez ,4Joo Carlos da Luz ,5Valdir da Trindade Filipini .

    1 Pesquisadores da Embrapa Pecuria Sul,

    [email protected],[email protected];

    2 Analistas da Embrapa Pecuria Sul,

    [email protected],[email protected];

    3 Zootecnista,[email protected];

    4 Mdico Veterinrio,[email protected];

    5 estudante,[email protected].

    43 As Boas Prticas Agropecurias (BPA) so um conjunto de itens que visa identificar pontos crticos que limitam a rentabilidade e a competitividade dos sistemas produtivos e disponibilizar tecnologias necessrias e em tempo hbil, para promover o aumento da rentabilidade e das possibilidades de conquista de novos mercados (VARELLA et al., 2009).

    A implantao voluntria das Boas Prticas Agropecurias (BPA) ir possibilitar a identificao e o controle dos diversos fatores que influenciam o processo produtivo, tornando-o mais rentvel e competitivo. Deste modo conscientizando os produtores rurais sobre a necessidade de disponibilizar, para o mercado consumidor, alimentos seguros, com atributos de qualidade de interesse do consumidor e com preos acessveis. O atendimento desses requisitos ir facilitar a insero e a manuteno do Brasil no mercado mundial de carnes (VALLE, 2011).

    As instalaes para a produo de bovinos de corte devem ser caracterizadas pelos aspectos relacionados com a funcionalidade, resistncia, economia, segurana e que visem a atender aos princpios de bem-estar animal. Instalaes inadequadas podem comprometer a qualidade do produto final, por causa da ocorrncia de hematomas e feridas na carcaa e de furos, cortes e riscos profundos no couro bovino, alm de provocar desconforto e submeter os animais a condies dolorosas desnecessrias e frequentemente evitveis. Esses danos depreciam seu valor comercial e, desse modo, a rentabilidade do produtor. (VALLE, 2011).

    De uma maneira geral, as instalaes rurais devem possuir quatro princpios bsicos. Elas devem ser funcionais, facilitando todo trabalho que for realizado; devem ser econmicas, no sendo necessrias instalaes muito luxuosas, mas que atendam as necessidades do dia-a-dia no manejo dos animais; devem ter uma boa durabilidade, sendo construdas com materiais de boa qualidade, garantindo assim uma longa vida til das instalaes; e devem ser sustentveis social e ambientalmente, no prejudicando as pessoas que vo trabalhar nelas nem os animais que nelas sero manejados.

    Para melhor esclarecimento do assunto, abaixo so apontadas as principais instalaes utilizadas no manejo e no trato dirio dos bovinos:

    1. Curral (mangueira);

    2. Cercas;

    3. Reservatrio;

    4. Bebedouro;

    5. Instalaes de Confinamento.

    Essas instalaes sero descritas a seguir, mostrando as principais caractersticas e fatores relacionados ao bem estar-animal, conforme indicaes de Nunes e Martins (1998).

  • 2 Boas Prticas Agropecurias: Ambincia e Bem-Estar Animal

    1. Mangueiras

    Na atividade de pecuria de corte, a construo de currais para manejo do gado constitui investimento indispensvel e prioritrio.

    Os componentes das mangueiras permitem a realizao, com eficincia, segurana e conforto, de todas as prticas necessrias ao trato do gado, como:

    Apartao;

    marcao e identificao;

    descorna;

    vacinao;

    castrao e pequenas cirurgias;

    exames ginecolgicos e inseminao artificial;

    embarque e desembarque. escorna

    Ao pensarmos na construo de mangueiras para o manejo de bovinos de corte, devemos deixar de lado o conceito de que eles devem ter grande capacidade

    de armazenagem de animais e que devem ser sempre construdos para resistir extrema presso (exercida pelos animais), utilizando-se materiais pesados e estrutura muito reforada. Estruturas menos rgidas podem apresentar enorme funcionalidade, desde que adequadas as exigncias da rotina. A mudana nesse conceito deve ser feita a partir da adoo de boas prticas de manejo no curral, com a implementao de boas rotinas e tratos simplificados, que tenham em conta o comportamento e o bem-estar das pessoas e dos animais apropriados ao dia a dia de trabalho na fazenda. (NUNES; MARTINS, 1998).

    Especialistas recomendam como mnimo um raio de 3,5m para o tronco e a seringa em curva, e rea de 2,2 m para cada animal adulto. No entanto uma experincia desenvolvida por Cardoso (2004), em que reformou um pequeno curral tradicional no estado de So Paulo, mostrou ser possvel uma adaptao do desenho recomendado por especialistas, com dimenses reduzidas para o corredor curvo de fila nica (tronco) de raio de 2,5 m de dimetro, sendo essa dimenso estendida para a seringa, conforme figura 1 a seguir.

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    Figura 1. Modelo de curral anti-estresse.

    Essas instalaes devem ser projetadas para evitar o mximo de estresse no momento dos trabalhos com os animais. Existem vrios modelos de mangueiras, diferenciando-se um do outro pela forma, pelo material utilizado e pelo nmero de animais que podem ser trabalhados.

    As chamadas mangueiras anti-estresse (Figura 2) so construdas de maneira a facilitar o trabalho com os animais. Ele possui a seringa semicircular, que proporciona a possibilidade de reduzir o seu espao interno, facilitando a conduo dos animais em uma das reas mais criticas da instalao, que a transio dos animais da seringa para o tronco.

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    Figura 2. Mangueira anti-estresse.

    As mangueiras devem ser construdas em terreno firme e seco visando realizao de todas as prticas de manejo com segurana. Na sua construo preciso evitar que fiquem pontas de pregos salientes, ou lascas de madeira, que possam vir a ferir os animais durante o seu deslocamento.

    Recomenda-se que as paredes internas do embarcadouro e da seringa (Figuras 3 e 5) sejam vedadas nas laterais, evitando assim que os animais se distraiam com movimentos externos no momento do embarque.

    As mangueiras devem ser construdas em terreno firme e seco visando realizao de todas as prticas de manejo com segurana. Na sua construo preciso evitar que fiquem pontas de pregos salientes, ou lascas de madeira, que possam vir a ferir os animais durante o seu deslocamento.

    Recomenda-se que as paredes internas do embarcadouro e da seringa (Figuras 3 e 5) sejam vedadas nas laterais, evitando assim que os animais

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    Figura 3. Seringa semicircular e com laterais vedadas.

    se distraiam com movimentos externos no momento do embarque.

    A rampa de embarque que conduz os animais ao caminho deve possuir uma leve extenso horizontal e na altura do caminho, impedindo que os animais dem um leve salto no momento do embarque, o que faz habitualmente com que colidam com o dorso no porto do veiculo, vindo a causar ferimento e prejudicando a qualidade da carcaa. Paranhos da Costa et al. (2008) recomenda as dimenses do embarcadouro conforme a figura 4 a seguir.

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    Figura 4. Dimenses recomendadas do embarcadouro.

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    Figura 5. Laterais do embarcadouro vedadas e ultimo lance na

    altura do caminho e na horizontal.

    Todo embarcadouro deve dispor de uma passarela lateral ao longo de toda sua extenso, que ser utilizada pelos vaqueiros para terem acesso aos animais durante o embarque. A passarela deve ter pelo menos 0,80m de largura e ser construda de forma slida e segura. (PARANHOS DA COSTA et al., 2008).

    Ainda com relao s mangueiras, deve-se dar preferncia a cobertura do tronco (Figura 6),

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  • 4garantindo assim maior durabilidade e conforto aos trabalhadores durantes as rotinas de manejo com os animais.

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    Figura 6. Cobertura do tronco e de toda estrutura dos bretes.

    2. Cercas

    Quanto construo das cercas, deve-se dar preferncia ao uso de arame liso (Figura 7), evitando assim leses no animal que possam vir a depreciar o seu valor no momento da comercializao e impedindo sofrimentos desnecessrios. Recomenda-se ainda cuidado com lascas e moires que sero utilizados na construo das cercas, evitando que fiquem salincias, farpas, pregos ou parafusos que possam ferir os animais.

    No caso do uso de cercas eltricas, importante seguir as recomendaes do fabricante no que diz respeito tenso utilizada no equipamento, bem como maneira correta de instalao das cercas.

    Figura 7. Cerca convencional e cerca eltrica.

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    3. Reservatrios

    Os reservatrios de gua devem estar localizados em locais estratgicos e com capacidade para abastecer os bebedouros por um perodo mnimo de trs dias, caso venha a faltar gua ou haja necessidade de reparos na rede de gua. Em locais planos ou com pequena declividade, recomenda-se elevar o local de instalao dos reservatrios por meio de aterro nivelado e compactado.

    4. Bebedouros

    Dependendo da regio, o uso dos bebedouros nos potreiros se faz necessrio (Figura 8). Devem ser de material resistente e com boa durabilidade. Os bebedouros devem estar localizados em locais estratgicos e dimensionados em funo do nmero de animais a serem atendidos, considerando o consumo de 50/60 litros/animal adulto/dia.

    Deve-se evitar o uso de audes, pois a gua parada pode ser fonte de contaminao da leptospirose, sendo recomendado desse modo a utilizao de bebedouros artificiais que possam ser higienizados e constantemente vistoriados para oferecer gua de boa qualidade. Em alguns casos, recomenda-se o uso de bebedouros dentro dos currais, para as situaes em que os animais so manejados por longos perodos ou quando ficam para serem manejados no dia seguinte.

    Figura 8. Bebedouros distribudos dentro dos piquetes.

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  • 54. Instalaes de Confinamento

    O confinamento deve estar localizado em rea elevada da propriedade, levemente inclinada, para evitar umidade e lama, prxima do centro de manejo e das reas de produo (milho, cana, capineira e outros), de preparo (misturador, moedor, picador e balana) e de armazenamento e conservao dos alimentos (sacaria, silos e outros).

    Os cochos de alimentao devem ficar na parte frontal do piquete, para facilitar o fornecimento, e o piso prximo aos cochos deve ter boa drenagem (quando os animais so confinados durante todo o ano, recomenda-se que os cochos sejam cobertos) (Figura 9).

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    Figura 9. Estrutura de confinamento coberta.

    Disponibilizar sombreamento, sempre que possvel, para proporcionar conforto trmico e reduo de estresse aos animais, estimulando maior rendimento e ganho de peso dos mesmos. Os bebedouros podem ser construdos com material de fcil limpeza e higienizao e possuir piso com boa drenagem ao seu redor (Figura 10).

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    Figura 10. Cocho de gua localizado no confinamento.

    primordial promover o tratamento dos dejetos, que podero ser utilizados como adubo orgnico ou biogs, evitando o acmulo destes nas baias do confinamento e a consequente contaminao do ar, da gua e do solo.

    Os insumos devem ser armazenados em locais apropriados de modo a evitar o acesso de animais e a deteriorao dos produtos, bem como reduzir as possibilidades de contaminao de alimentos, EEsementes, raes, pessoas e animais (Figura 11). Deve-se evitar a manuteno de sacos abertos com insumos mostra para coibir a presena de roedores.

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    Figura 11. Local de armazenamento de insumos.

    Deve-se usar algum tipo de estrado para armazenamento dos insumos ensacados, evitando assim que fiquem em contato direto com o solo e que venha a prejudicar sua qualidade e poluir o ambiente.

    Boas Prticas Agropecurias: Ambincia e Bem-Estar Animal

  • Exemplares desta edio podem ser adquiridos na:Embrapa Pecuria SulEndereo: BR 153, km 603, Caixa Postal 242,96401-970 - Bag, RSFone: (53) 3240.4650Fax: (53) 3240.4651e-mail: [email protected]

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    CircularTcnica, 43

    Comit dePublicaes

    Presidente: Renata Wolf SuSecretria-Executiva: Graciela Olivella OliveiraMembros: Claudia Cristina Gulias Gomes, Daniel Portella Montardo, Estefana Damboriarena, Graciela Olivella Oliveira, Jorge Luiz SantAnna dos Santos, Naylor Bastiani Perez, Renata Wolf Su, Roberto Cimirro Alves, Viviane de Bem e Canto.

    Superviso editorial: Comit Local de Publicaes - Embrapa Pecuria SulReviso de texto: Comit Local de Publicaes - Embrapa Pecuria SulEditorao eletrnica: Roberto Cimirro Alves

    Expediente

    CG

    PE 9

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    Referncias

    CARDOSO, F. P. Curral para um homem s. Beefpoint, 25 jun. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2011.

    NUNES, S. G.; MARTINS, C. S. Curral para bovinos de corte "mdulo 500". Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 1998. 75 p. (EMBRAPA-CNPGC. Circular tcnica, 10).

    PARANHOS DA COSTA, M. J. R.; SPIRONELLI, A. L. G.; QUINTILIANO, M. H. Boas prticas de manejo: embarque. Jaboticabal: Funep, 2008. 35 p.

    VALLE, E. R. (Ed.). Boas prticas agropecurias: bovinos de corte: manual de orientaes. 2. ed. rev. ampl. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2011. 69 p.

    VARELLA, A. C.; GENRO, T. C.; SANTOS, J. S. dos. Programa boas prticas agropecuria em bovinos de corte na regio Sul do Brasil: situao atual e perspectivas. Bag: Embrapa Pecuria Sul, 2009. 28 p. (Embrapa Pecuria Sul. Documentos, 89).

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