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Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura catarinense Tese submetida ao Programa de Pós-graduação em Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de mestre em Aquicultura. Orientadora: Dra. Aimê Rachel Magenta Magalhães Co-orientadora: Dra. Simone Sühnel Florianópolis 2015

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Ana Lúcia Carneiro Schaefer

Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus,

1758) e implicações na mitilicultura catarinense

Tese submetida ao Programa de Pós-graduação em

Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de mestre em Aquicultura.

Orientadora: Dra. Aimê Rachel Magenta Magalhães

Co-orientadora: Dra. Simone Sühnel

Florianópolis

2015

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Dedico este trabalho ao meu

companheiro de todos e tantos momentos

Antônio Carlos Garcia Sayão.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à minha amada mãe, Regina Amélia

Greenhalgh Carneiro Schaefer, que tanto me incentivou, vibrou e se

emocionou com minhas lutas e conquistas e, que tanto sentiu a minha

ausência enquanto trilhei os caminhos desta realização.

Agradeço ao meu pai, João Luiz Schaefer que, a sua maneira,

muito incentivou a acreditar nas minhas lutas.

Agradeço infinitamente ao Sayão, meu Guru, Cúmplice, Amor e

Companheiro de todas as horas, que me guiou na realização deste

Doutorado.

Às minhas irmãs Isabel Cristina e Regina Célia, ao meu irmão

Luiz Gustavo, à minha sobrinha Ana Carolina, seu marido Ênio e à

pequena Malu que já estava programada em seus corações, por suas

contribuições para esta conquista.

À Marina, Tim e Cauê que se fizeram presentes em tantos

momentos desta caminhada.

À Professora, amiga e Orientadora, Draª Aimê Rachel Magenta

Magalhães, por ter me confiado tamanha responsabilidade, mas que com

suas palavras amorosas e certeiras, lapidaram meus conhecimentos e me

conduziram a esta realização.

À minha amiga e Co-orientadora, Drª Simone Sühnel, por ter

participado dos momentos de angústias e dúvidas, mas principalmente,

dos momentos das boas, divertidas e instrutivas conversas.

Aos Profs Dr. João Bosco Rozas Rodrigues e Ernesto Tremel que

muito me incentivaram para o início desta caminhada.

À minha amiga Maya Ribeiro Baggio que com seu carinho e boa

energia, sempre se fez presente na caminhada.

Aos amigos José Geraldino Valgas (Keka), Anita e Juliano por

suas presenças carinhosas.

Aos amigos do LAMEX, Sthefanie, Maria, Celene, Thais, Vitor,

Marcelo, Rafinha, André (Zé), Ana Carolina, Gabriel, Robert, Rafael

(Budha) e a todos que ajudaram na construção desta Tese.

Aos amigos do AQUOS, Prof. Dr. Maurício Laterça, Lucas (pelos

momentos ao DIC), Patrícia Garcia (pelo empréstimo de equipamentos,

bibliografias e por compartilhar conhecimentos), Gabriela Jerônimo,

Sheila, Maitê e a todos que contribuíram para esta realização.

Aos amigos do LABCAI, Profª Drª Risoleta, Prof. Dr. Afonso,

Jacó e a todos que contribuíram para esta pesquisa.

Aos amigos do LMM, Prof. Dr. Jaime Fernandes Ferreira, Prof.

Dr. Claudio Manoel Rodrigues de Melo, Prof. Dr. Gilberto José Pereira

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Onofre de Andrade, Prof. Dr. Marcos Caivano Pedroso de

Albuquerque, Carlos Henqique, Claudio, Francisco (Chico), Itamar,

Jaqueline, Marisa, Luiz Ricardo (Rico) e a todos que contribuíram com

esta conquista.

Aos amigos do LCME, Profª Drª Zenilda Bouzon, Renata, Eliana

e a todos que contribuíram com estes resultados.

À Profª Drª Florência Cremonte e sua Equipe, com as quais

aprendi muito durante o Doutorado Sanduíche no CENPAT, Puerto

Madryn, Argentina.

Ao Prof. Dr. Francisco Brusa e sua Equipe, pela oportunidade

única de trabalhar no Museo de La Plata e pelos ensinamentos sobre

Turbelários, durante o período que passei em La Plata, Argentina.

A Profª Drª Andrea Santarosa Freire e sua equipe pelo material

bibliográfico que auxiliaram na classificação dos Copépodes.

A Profª Drª Cristina de Oliveira Dias pelas importantes

orientações sobre os Monstrilloida.

Ao Prof. Dr. Claudio, do LMM pelo apoio e discussões sobre as

análises estatísticas.

A Profª Drª Guisla Boehs pelos conhecimentos e bibliografias

sobre patologias de moluscos bivalves.

Aos amigos da EPAGRI, Fabiano Müller, André Luís Tortato

Novaes, Robson Ventura, Alex Alves dos Santos, Everton Della

Giustina, Vicente e “Zero”, pelo todo apoio durante as coletas.

Ao Prof. Dr. Gilberto Caetano Manzoni, da Universidade do Vale

do Itajaí (UNIVALI), pelo seu apoio durante as coletas na Penha/SC.

Ao Prof. Dr. José Guilherme Bersano Filho (Duda), da

Universidade Federal do Paraná, Centro de Estudos do Mar

(UFPR/CEM), pelos ensinamentos e bibliografias sobre os copépodes.

Aos proprietários dos cultivos onde foram realizadas as coletas

dos mexilhões, Felipe Maeda (Palhoça), Ozair Olavo Porto (Governador

Celso Ramos), Djalma Gentil Serpa (Penha) e UFSC (Florianópolis).

A todos os Professores do curso de Pós-Graduação em

Aquicultura pelo conhecimento compartilhado.

A Serena Sühnel Lagreze e ao Prof. Dr. Francisco José Lagreze

Squella (Pancho) por terem me ajudado nas traduções e pelos momentos

de tranquilidade e aprendizado em seu lar.

Aos colegas de disciplinas que tanto enriqueceram os conteúdos

estudados.

Ao Departamento de Aquicultura, principalmente ao Carlito que

tanto me auxiliou em todas as etapas desta caminhada.

A CAPES pelo apoio financeiro para o Doutorado Sanduíche.

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O mestre na arte da vida faz pouca distinção

entre seu trabalho e seu lazer,

entre sua mente e seu corpo, entre sua educação e sua recreação,

entre seu amor e sua religião. Ele simplesmente persegue sua visão

de excelência em tudo que faz, deixando para os outros a decisão de saber se

está trabalhando ou se divertindo.

Ele acha que está sempre fazendo as duas coisas simultaneamente.

Pensamento zen-budista

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RESUMO

O incremento da mitilicultura catarinense gerou a necessidade da

identificação dos patógenos que acometem o cultivo de Perna perna nos

municípios de Palhoça, Florianópolis, Governador Celso Ramos e

Penha. Durante o período de julho de 2010 a junho de 2011 foram

coletados 720 animais em cada local de cultivo, totalizando 2.880

mexilhões. Do total coletado, a metade (1.440) foi observada ao

estereomicroscópio onde foram realizadas as coletas do turbelário

Urastoma cyprinae e dos copépodes Pseudomyicola spinosus e

Monstrilla sp., que após serem tratados através dos protocolos de

Microscopia Eletrônica de Varredura e clarificação com Polyvinil-

Lactophenol foram medidos e fotografados ao microscópio de contraste

diferencial de fase (DIC) e tratados para histologia de cortes seriados,

que auxiliaram nas identificações das espécies e gênero. Os outros

mexilhões (1.440) tiveram seus tecidos processados conforme os

protocolos de Histologia Clássica e da OIE: Monocamadas de

hemócitos, Imprint e Cultivo em Meio de Tioglicolato de Ray. Através

das análises dos cortes histológicos foi identificada a presença dos

protozoários Ancistrocoma sp. e Nematopsis sp. e dos metazoários

Tylocephalum sp., Urastoma cyprinae, Pseudomyicola spinosus,

Monstrilla sp. e Bucephalus margaritae, já através dos protocolos da

OIE, foi verificado que as doenças de notificação obrigatória não estão

presentes nos cultivos de mexilhão de Santa Catarina. Dos patógenos

registrados por esta pesquisa, o Cestoda Tylocephalum sp. é responsável

pela ocorrência de infiltração hemocitária e o Trematoda Bucephalus margaritae, pelo alto índice de mexilhões de sexo indeterminado e

castração parasitária.

Palavras chave: 1.Aquicultura; 2. moluscos bivalves; 3.mitilicultura; 4.

Perna perna; 5. Patógenos.

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ABSTRACT

The increment of mytiliculture in the municipalities of Santa Catarina,

Palhoça, Florianópolis, Governador Celso Ramos e Penha, generated the

demand for pathogens identification in Perna perna. During the period

July 2010 to June 2011 were collected 720 animals in each studied local,

totaling 2,880 mussels. From the total collected, half (1,440) was

observed under a microscope stereoscope, where was collected the

tuberllary Urastoma cyprinae and the copepods Pseudomyicola spinosus and Monstrilla sp.. After sampling, the parasites were analyzed by

scanning electron microscopy differential contrast microscope (DIC),

and processed for histological serial sections for species identification.

Other mussels (1,440) had their tissues processed according to classical

histology protocols and OIE: Monolayers of hemocytes, Imprint and

Cultivation Ray's Fluid Thioglycollate Medium. Through the analysis of

histological sections showed the presence of protozoa Ancistrocoma sp.

and Nematopsis sp. and metazoan Tylocephalum sp., Urastoma cyprinae, Pseudomyicola spinosus, Monstrilla sp. and Bucephalus

margaritae, already through the OIE protocols, it was found that the

notifiable diseases are not present in mussel cultivated in the studied

location of Santa Catarina. Pathogens recorded by this survey, the

Cestoda Tylocephalum sp. is responsible for the occurrence of hemocyte

infiltration and the Trematoda Bucephalus margaritae, the high rate of

indeterminate sex and parasitic castration mussels.

Keywords: 1.Aquaculture; 2. bivalve mollusc; 3.mytiliculture; 4. Perna perna; 5. pathogens.

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO II

Figura 1. (A) Locais de coleta de Perna perna no estado de Santa

Catarina, sul do Brasil e (B) esquema de um cultivo de mexilhões

indicando a disposição das cordas (quadrados pretos) de onde foram

coletados os animais. ............................................................................. 39

Figura 2. Temperatura (ºC) e salinidade (‰) nos locais de coleta,

durante o período da pesquisa. .............................................................. 43

Figura 3. Sexo dos mexilhões (%), por local de coleta, analisados

através do estereomicroscópio............................................................... 44

Figura 4. Sexo dos mexilhões (%), por local de coleta, analisados

através da histologia. ............................................................................. 44

Figura 5 a 10. Cortes histológicos (coloração HHE) de Perna perna

coletados em Santa Catarina, Brasil. Fig. 5, esporos da Gregarina

Nematopsis sp. nas brânquias; Fig. 6, larva em encapsulamento do

Cestoda Tylocephalum sp. no tecido conjuntivo da glândula

digestiva; Fig. 7, Trematoda Digenea, Bucephalus margaritae no

tecido gonádico (ES – esporocisto e CE – cercaria); Fig. 8,

Turbelário Urastoma sp. nas brânquias; Fig. 9, náuplio do Copepoda

Pseudomyicola sp. no trato digestório e Fig. 10, copepodito do

Copepoda Monstrilla sp. no tecido conjuntivo da borda do manto.

Barras: 10µm (Figs. 7, 8 e 10) e 40µm (Figs. 5, 6 e 9). ........................ 50

Figura 11 a 13. Parasitas observados e coletados com o auxílio do

estereomicroscópio nos mexilhões Perna perna em Santa Catarina,

Brasil. Fig. 11, o Turbelário Urastoma sp. nas brânquias dos

mexilhões; Fig. 12, fase adulta (fêmea) do Copepoda

Pseudomyicola sp. na cavidade do manto (SO – sacos ovígeros); e

Fig. 13, fase de copepodito do Copepoda Monstrilla sp. no tecido

conjuntivo da borda do manto. Barras: 40µm. ...................................... 51

CAPÍTULO III

Figura 1 a 7. Espécimens de Pseudomyicola spinosus, coletada em

mexilhões Perna perna cultivados em Santa Catarina, Brasil,

utilizando técnica Polyvinil-Lactofenol e fotografia ao microscópio

de contraste diferencial de fase. Fig 1. Vista dorsal de fêmea de

copépode (seta: sacos ovígeros) (Barra: 200 µm). Fig 2. Detalhe da

antena 1 (setas indicando os 5 segmentos) (Barra: 32 µm). Fig 3.

Detalhe da antena 2 (setas indicando os 3 segmentos) (Barra: 32

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µm). Fig 4. Detalhe do rostro (Barra: 20µm). Fig 5. Detalhe da

região oral (Barra: 20 µm). Fig 6. Detalhe do urossoma (seta)

(Barra: 130 µm). Fig 7. Detalhe dos ramos caudais e segmento anal

(Barra: 32 µm)....................................................................................... 67

Figura 8. Representação esquemática de fêmea de Pseudomyicola

spinosus, em vista ventral, com detalhes das antenas 1 e 2 e dos

apêndices 1, 2, 3, 4 e 5 e do ramo caudal que são estruturas que

caracterizam esta espécie de copépode .................................................. 68

Figura 9. Fêmea de Pseudomyicola spinosus sem sacos ovígeros

coletados em mexilhões Perna perna cultivados em Santa Catarina,

Brasil. Técnica Microscopia Eletrônica de Varredura. Vista ventral

com setas indicando as principais estruturas .......................................... 69

Figura 10 a 13. Náuplios de Pseudomyicola spinosus registrados

através das análises das lâminas histológicas nos mexilhões Perna

perna cultivados em Santa Catarina, Brasil. Fig 10. Náuplio no

lúmem do estômago (comprimento = 94,40 µm). Fig 11. Náuplio

entre os filamentos branquiais (comprimento = 87,56 µm). Fig 12.

Náuplio no tecido gonádico de um mexilhão macho (comprimento =

88,04 µm). Fig 13. Último estádio de copepodito no tecido da

glândula digestiva (comprimento = 170,18 µm). Coloração: HHE.

Barras: 40µm (Figs. 10 a 12); 100 µm (Fig. 13) .................................... 70

CAPÍTULO IV

Figura 1 e 2. Estruturas de Urastoma cyprinae coletados em Perna perna, corados com corante vital vermelho neutro. Fig. 1 – cílios

(C), olhos (O) e pênis (P); Fig. 2 – faringe (F). Barras = 100 µm

(Fig. 1) e 40 µm (Fig. 2)........................................................................ 92

Figura 3. Esquema das estruturas internas que caracterizam a

espécie Urastoma cyprinae, elaborado com base nos cortes

histológicos seriados dos turbelários coletados nos mexilhões Perna

perna. A- átrio; C- cílios; CGM- canal genital masculino; E-

epiderme; F- faringe; GF- glândulas da faringe; GFR- glândulas

frontais; GC- glândulas cutâneas; ID- intestino difuso; O- olhos;

OV- ovócitos; P- pênis; PP- papila peniana; T- testículos; V-

vitelário; VS- vesícula seminal; VSF- vesícula seminal fina; VSG-

vesícula seminal granulosa; SM- septo muscular. ................................. 93

Figura 4. Corte histológico de Urastoma cyprinae coletado em

Perna perna. A- átrio; CSP- colunas secretoras do pênis; ID –

intestino difuso; PP- papila peniana; VSF- vesícula seminal fina;

VSG- vesícula seminal granulosa. Barra: 40µm. ................................... 94

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Figura 5 e 6. Visão geral de Urastoma cyprinae preparado através

do protocolo de Microscopia Eletrônica de Varredura. Fig. 6-

detalhe dos cílios (C) que recobrem o corpo do animal. ....................... 95

Figura 7 a 10. Cortes histológicos mostrando a presença do

turbelário Urastoma cyprinae nos tecidos do Perna perna. Fig. 7-

Corte longitudinal de U. cyprinae no tecido gonádico masculino

(Barra: 100 µm); Fig. 8- Corte longitudinal de U. cyprinae sobre o

tecido branquial; Figs. 9 e 10- Corte transversal anterior de U.

cyprinae entre as lamelas do tecido branquial (Barras: 40µm). Onde:

BR = brânquia; C = cílios; GD = glândula digestiva; O = olho; TGM

= tecido gonadal masculino. .................................................................. 96

CAPÍTULO V

Figura 1 a 6. Espécimes do copepodito do gênero Monstrilla

(fêmea) encontrados no mexilhão Perna perna. Figs. 1 e 2.

Copepodito de Monstrilla sp., em vistas latero-dorsal e dorsal,

observados com o auxílio do estereomicroscópio, retirados de

mexilhões P. perna cultivados, na Palhoça/SC. Detalhes dos ocelos

frontais, grandes e pigmentados. Figs. 3 a 6. Copepodito de

Monstrilla sp. tratados com Polyvinyl-Lactofenol e fotografados ao

DIC. Fig. 3. Copepodito em vista lateral. Detalhe dos tubos de

alimentação frontais. Fig. 4. Copepodito em vista lateral. Corpo

dividido em cefalossoma (CF), metassoma (MT) e urossoma (UR).

Destaque para o par de antênulas frontais. Fig. 5. Vista lateral do

metassoma e urossoma de copepodito. Detalhe dos quatro pares de

apêndices (P1, P2, P3 e P4) e do somito genital duplo com o par de

espinhos ovígeros do copepodito. Fig. 6. Vista dorsal do urossoma

de copepodito. Detalhe do 5° par de apêndices (seta) e do ramo

caudal com 5 cerdas. Barras = 200 µm (Figs. 1 a 4) e 40 µm (Figs. 5

e 6) ....................................................................................................... 113

Figura 7. Representação esquemática dos pares de apêndices e

urossoma de copepodito de Monstrilla sp.: (A) 1º par de apêndices;

(B) 2º par de apêndices; (C) 3º par de apêndices; (D) 4º par de

apêndices; (E) vista ventral do urossoma com indicação do 5º par de

apêndices, somito genital duplo (SGD) e ramo da furca (RF); (F)

vista lateral do urossoma. Barras: 40 µm (A, B, C e D); 100 µm (E e

F).. ....................................................................................................... 114

Figura 8 a 13. Copepodito de Monstrilla sp. preparado através do

protocolo de Microscopia Eletrônica de Varredura em fases

distintas. Figs. 8 e 9 – Vista ventral de copepoditos com os pares de

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tubos alimentares frontais. Fig. 10 – Vista lateral de copepodito com

parte da membrana que o envolve dentro do hospedeiro. Fig. 11 –

Vista latero-dorsal de copepodito. Fig. 12 – Vista dorsal de

copepodito com detalhe da região entre cefalossoma e metassoma,

mostrando pares de filamentos utilizados para alimentação. Fig. 13 –

Vista lateral de copepodito com detalhe do tubo oral fechado e das

antênulas, na parte frontal do cefalossoma........................................... 116

Figura 14 a 17. Copepodito de Monstrilla sp. preparado para

Histologia. Fig. 14 – Corte transversal do copepodito no tecido

conjuntivo da borda do manto (BM). Fig. 15 – Detalhe dos

apêndices do copepodito em corte transversal. Fig. 16 - Corte

longitudinal de copepodito no tecido conjuntivo da borda do manto.

Fig. 17 – Corte longitudinal de copepodito com indicação do tubo

alimentar no tecido conjuntivo da borda do manto. Barras: Figs. 14 e

17 (200 µm) e Figs. 15 e 16 (40 µm). .................................................. 117

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I

Tabela 1. Estudos realizados com patógenos registrados em Perna

perna de diferentes localidades do Brasil. ............................................. 28

CAPÍTULO II

Tabela 1. Caracterização quanto ao sistema de produção e dados

ambientais dos locais de coleta. ............................................................ 38 Tabela 2. Comprimento médio ± desvio padrão (mm) dos

mexilhões estudados (n=2.880), avaliados por locais, estações e

meses e coordenadas geográficas dos locais de coleta. ......................... 42 Tabela 3. Prevalência (%) e taxa de infestação da gregarina

Nematopsis sp. nos mexilhões analisados através da histologia

(n=360/local), avaliados por locais, estações e meses. Onde: P =

Prevalência; I = Infestação. ................................................................... 45 Tabela 4. Prevalência (%) e taxa de infestação do metacestóide

Tylocephalum sp. nos mexilhões analisados através da histologia

(n=360/local), por locais, estações e meses. Onde: P = Prevalência; I

= Infestação. .......................................................................................... 46 Tabela 5. Prevalência (%) e taxa de infestação do trematoda

Bucephalus margaritae nos mexilhões analisados através da

histologia (n=360/local), por locais e prevalências por estações e

meses. .................................................................................................... 47 Tabela 6. Grau de infestação por Bucephalus margaritae nos

mexilhões analisados através da gratícula de Weibel (n=360/local). .... 48 Tabela 7. Prevalência (%) do trematoda Bucephalus margaritae nos

mexilhões analisados ao estereomicroscópio (n=360/local), por

locais, estações e meses. ........................................................................ 49

CAPÍTULO III

Tabela 1. Estudos realizados com mitilídeos, relatando a ocorrência

do copépode Pseudomyicola spinosus................................................... 63 Tabela 2. Prevalência (%) e taxa de infestação do copépode

Pseudomyicola spinosus, em sua fase adulta, nos mexilhões

analisados através do estereomicroscópio (n=360/local), avaliados

por locais, estações e meses. Onde: P = Prevalência; I = Infestação. .... 71

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Tabela 3. Prevalência (%) e taxa de infestação do copépode

Pseudomyicola spinosus, em suas fases naupliares, nos mexilhões

analisados através da histologia (n=360/local), avaliados por locais,

estações e meses. Onde: P = Prevalência; I = Infestação. ...................... 72 Tabela 4. Pares de apêndices e ornamentações dos endo e

exopoditos. Numerais romanos indicam o número de espinhos e

arábicos o número de cerdas, de acordo com Humes (1968). ................ 73

CAPÍTULO IV

Tabela 1. Estudos realizados com mitilídeos, relatando a ocorrência

do turbelário Urastoma cyprinae. .......................................................... 85 Tabela 2. Temperatura e salinidade média (± desvio padrão) da

água do mar e comprimento médio (± DP) dos mexilhões Perna

perna amostrados nos locais de coleta durante o período de julho de

2010 e junho de 2011. ............................................................................ 89 Tabela 3. Prevalência (%) e taxa de infestação do turbelário

Urastoma cyprinae nos mexilhões analisados através da histologia

(n=360/local), avaliados por locais, estações e meses. Onde: P =

Prevalência; I = Infestação. .................................................................... 90 Tabela 4. Prevalência (%) e taxa de infestação do turbelário

Urastoma cyprinae nos mexilhões analisados através do

estereomicroscópio (n=360/local), avaliados por locais, estações e

meses. Onde: P = Prevalência; I = Infestação. ....................................... 91

CAPÍTULO V

Tabela 1. Síntese de pesquisas realizadas com copépodes

Monstrilloida. ....................................................................................... 108 Tabela 2. Número de espécies de Monstrilloida descritas e suas

regiões de ocorrência (adaptado de Suárez-Morales, 2011). ................ 109 Tabela 3. Ornamentações dos endo e exopoditos dos pares de

apêndices natatórios do copepodito de Monstrilla sp. Numerais

romanos indicam o número de espinhos e arábicos o número de

cerdas, de acordo com Suárez-Morales & Dias (2000).. ...................... 115

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SUMÁRIO

Proposta da Tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

CAPÍTULO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

1. INTRODUÇÃO GERAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Prob lemát ica e just if icat iva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

CAPÍTULO II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

PATÓGENOS ENCONTRADOS EM MEXILHÕES

Perna perna E IMPLICAÇÕES NA MITILICULTURA

CATARINENSE

1. INTRODUÇÃO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

2. MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Análise ao es ter eomicroscópio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Análises ao microscópio de luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Monocamadas de hemóci tos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Cultivo em meio de tiogl icolato de Ray (RFTM) . . . . . . . . . . . . 40

Imprints de tecidos e órgãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Histopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Análise esta tís tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3. RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4. DISCUSSÃO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

5. CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

6. AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

CAPÍTULO III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

PRIMEIRO REGISTRO DO COPÉPODE Pseudomyicola

spinosus EM MEXILHÕES PERNA PERNA DE

CULTIVO

1. INTRODUÇÃO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

2. MATERIAL E MÉTODO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Locais de coletas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Avaliação ao es ter eomicroscópio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Histopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

Análise esta tís tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

3. RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

4. DISCUSSÃO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

5. CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

6. AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Page 22: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

CAPÍTULO IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

TURBELÁRIO Urastoma cyprinae EM MEXILHÕES

Perna perna CULTIVADOS NO SUL BRASIL

1. INTRODUÇÃO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

2. MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

Locais de amostragens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

Avaliação ao es ter eomicroscópio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Observações em vivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Cortes ser iados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Microscopia eletrônica de varredura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Histopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

Análise esta tís tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

3. RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4. DISCUSSÃO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

5. CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

6. AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

CAPÍTULO V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

PRIMEIRO REGISTRO DA OCORRÊNCIA DO

COPÉPODE Monstril la sp. EM MEXILHÕES Perna

perna DE CULTIVO, NO MUNICÍPIO DE PALHOÇA,

SANTA CATARINA, BRASIL

1. INTRODUÇÃO.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

2. MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Locais de coletas e amostragens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Coleta de tecido do hospedeiro e de copépodes ao

estereomicroscópio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

Análise esta tís tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

3. RESULTADOS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

4. DISCUSSÃO... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

5. CONCLUSÕES.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

6. AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIC AS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

Resumo da Tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

Considerações finais da Tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

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23

Proposta da Tese

Esta Tese foi motivada pela ocorrência de mortalidades em cultivos de

mexilhões Perna perna nos municípios catarinenses de Penha e

Governador Celso Ramos nos anos de 2007 e 2009. Tendo em vista que

o estado de Santa Catarina possui grande importância na mitilicultura

nacional, a pesquisa também incluiu os municípios de Palhoça e

Florianópolis. Desta maneira as análises foram realizadas nos quatro

principais municípios produtores de mexilhões do País. As revisões

bibliográficas foram feitas com foco nas patologias que acometem os

moluscos bivalves e que poderiam estar envolvidas nas mortalidades

relatadas. Os protocolos de detecção e identificação da Organização

Mundial da Saúde Animal – OIE foram aplicados com a intenção de

detectar protozoários causadores de doenças de notificação obrigatória.

Para a identificação dos metazoários de distintos Filos, foram utilizados

protocolos de histologia, estereomicroscopia e microscopia eletrônica de

varredura.

Para relatar o desenvolvimento e os resultados do presente

estudo, este foi dividido nas seguintes partes:

Introdução Geral – Apresentação e problemática.

Capítulo I – Conhecimento dos patógenos que podem estar afetando a

saúde dos mexilhões cultivados nos quatro municípios de Santa

Catarina, através de análises realizadas durante um ano, com a utilização

de protocolos específicos da OIE, de histologia e de estereomicroscopia.

Os resultados geraram dados distintos de prevalência e infestação.

Foram encontradas novas ocorrências, que levaram à redação dos 3

capítulos abaixo.

Capítulo II – Primeiro registro de copépodes da espécie Pseudomyicola spinosus em mexilhões Perna perna. Os tecidos do hospedeiro foram

analisados através de histologia e os copépodes através de

estereomicroscopia e microscopia eletrônica de varredura.

Capítulo III – Registro da ocorrência de turbelários da espécie

Urastoma cyprinae em mexilhões Perna perna, através das análises

histológicas dos tecidos do hospedeiro e de estereomicroscopia e

microscopia eletrônica de varredura dos turbelários.

Capítulo IV – Ocorrência de copépodes do gênero Monstrilla em

mexilhões Perna perna. Os tecidos do hospedeiro contendo os

copépodes foram analisados através de histologia. Alguns copépodes

coletados ao estereomicroscópio foram clarificados e fotografados e

outros processados para microscopia eletrônica de varredura.

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24

Produção bibliográfica gerada pela pesquisa

Resumos publicados em Anais de Congressos

1.Schaefer, A. L. C.; Alves, R.; Fortunato, M. V.; Rios, C.; Sühnel,

S.; Magalhães, A. R. M. Ocorrência de patógenos em mexilhões

Perna perna cultivados na Enseada da Armação do Itapocoroy,

Penha/SC. In: XXII Encontro Brasileiro de Malacologia, 2011,

Fortaleza/CE.

2.Schaefer, A. L. C.; Fortunato, M.; Rios, C.; Sühnel, S.;

Magalhães, A. R. M. Ocorrência de patógenos em mexilhões

Perna perna cultivados em Florianópolis e Palhoça/SC. In: 5°

Congresso da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia

Aquática, 2012, Palmas/TO.

3.Schaefer, A. L. C.; Fortunato, M. V.; Rios, C.; Sühnel, S.;

Magalhães, A. R. M. Ocorrência do Trematoda Bucephalus margaritae em mexilhões Perna perna cultivados em

Florianópolis e Palhoça/SC. In: XII Encontro Brasileiro de

Patologistas de Organismos Aquáticos, 2012, Bonito/MS.

4.Schaefer, A. L. C.; Sühnel, S.; Magalhães, A. R. M. Mexilhões

Perna perna cultivados em Santa Catarina, livres de patógenos

de notificação obrigatória para a Organização Mundial de

Saúde Animal – OIE. In: XXIII Encontro Brasileiro de

Malacologia e I Simpósio Latino-Americano de Jovens

Taxonomistas, 2013, Rio de Janeiro/RJ.

5.Schaefer, A. L. C.; Sühnel, S.; Magalhães, A. R. M. Ocorrência de

copépode da Família Myicolidae, do Gênero Pseudomyicola em

mexilhões Perna perna cultivados em Santa Catarina. In: XIII

Encontro Brasileiro de Patologistas de Organismos Aquáticos,

2014, Aracaju/SE.

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25

CAPÍTULO I

1.INTRODUÇÃO GERAL

Problemática e jus tif icativa

A aquicultura é uma atividade praticada tanto por pequenos

produtores como por empresas multinacionais que cultivam 567

espécies aquáticas sendo responsáveis por quase 50% dos pescados

utilizados para alimento como fonte de proteínas, ácidos graxos,

vitaminas, minerais e micronutrientes essenciais. As estatísticas

mostram que a produção aquícola mundial no ano de 2012 foi de 90,43

milhões toneladas, sendo 66,63 milhões de pescados, 23,78 milhões de

algas e 22,4 mil toneladas de produtos como pérolas e conchas (FAO,

2015).

A mitilicultura, que é o cultivo de mexilhões, teve início em 1235

com o irlandês Patrick Walton que, após naufragar na Baía de Aiguilon

(França), fixou redes para capturar aves marinhas em estacas de madeira

nas quais se fixaram mexilhões que lhe serviram de alimento (Dore,

1991).

De acordo com a FAO (2015), a espécie Mytilus galloprovincialis

é a mais cultivada na Espanha, países do Mediterrâneo, Rússia, Ucrânia,

África do Sul e China e Mytilus edulis nas águas européias, desde o Mar

Branco na Rússia até o sul da França, além do Canadá e Estados Unidos

da América, com produção referente a 2013 de 116.574 e de 197.831

toneladas, respectivamente.

Os primeiros registros sobre a malacocultura brasileira datam de

1934, numa publicação intitulada “O futuro industrial da ostreicultura

no país” (Ferreira e Oliveira Neto, 2006), mas as primeiras tentativas de

cultivo de Crassostrea rhizophorae ocorreram no litoral dos estados da

Bahia e Santa Catarina, em 1971 (Littlepage e Poli, 1999). No ano de

1983 o projeto “Viabilidade do cultivo de ostras consorciado com o

cultivo de camarões” foi iniciado em Santa Catarina e em 1988,

implantado o cultivo de mexilhões Perna perna em parceria com os

pescadores artesanais catarinenses (Ferreira e Oliveira Neto, 2006). A

partir destas iniciativas, em 1990 a produção comercial de mexilhões em

Santa Catarina atingiu a marca inicial de 190 toneladas (EPAGRI,

2014).

No Brasil o cultivo do Perna perna é feito em sistema suspenso

fixo em ambientes com até 4 metros de profundidade mas o mais

utilizado é o de espinhéis flutuantes em locais abrigados onde a

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26

profundidade varia entre 4 e 40 metros, podendo ser usados em cultivos

de mar aberto (Ferreira & Magalhães, 2003).

De acordo com o IBGE (2015), no ano de 2013, Santa Catarina

foi responsável por 97,2% da produção nacional de ostras, vieiras e

mexilhões, sendo o município de Palhoça responsável por 55,7% da

produção estadual e de 54,1% da produção nacional de moluscos

bivalves. Esta mesma fonte divulgou que, em 2013, a produção de

sementes de ostras, vieiras e mexilhões ficou concentrada em

Florianópolis com 92,5% da produção nacional.

No ano de 2013 a malacocultura catarinense contou com 589

maricultores que comercializaram 19.079 toneladas de moluscos, sendo

16.147 toneladas de mexilhões Perna perna, 2.932 toneladas de ostras

Crassostrea gigas e 28,6 toneladas de vieira Nodipecten nodosus

(EPAGRI, 2014).

Os principais desafios da malacocultura mundial estão

relacionados com a prevenção e o controle das doenças tanto nos

cultivos com menores densidades como nos intensivos. As patologias

podem causar perdas sazonais devidas às mudanças ambientais ou ao

limite de suporte do hospedeiro. Desta maneira a identificação e estudo

do desenvolvimento das doenças podem ajudar no controle da sua

propagação e redução das perdas relacionadas à mortalidade ou

morbidade, tendo em vista que nem todas as doenças matam seu

hospedeiro (Figueras, 2011).

Por causa do processo de globalização, medidas sanitárias são

cada vez mais importantes no sentido de facilitar o comércio nacional e

internacional seguro de animais e produtos de origem animal. O acordo

sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias incentiva os

membros da Organização Mundial do Comércio a basearem suas

medidas sanitárias em padrões internacionais inspecionados pela

Organização Internacional de Epizotias (OIE, 2014).

Grande parte das enfermidades descritas para moluscos causam

problemas em sistemas de cultivo e poderiam ser evitadas se fossem

respeitadas as regras de controle de transferências e introdução de

organismos.

A maioria das enfermidades de notificação obrigatória que

acometem os moluscos refere-se às ostras e é causada pelos protozoários

Marteilia refringens, Bonamia ostrea, Bonamia exitiosa, Perkinsus

olseni, Perkinsus marinus e Mikrocytos machini, que em muitos casos

possuem um ciclo de vida complexo com vários hospedeiros

intermediários para completar seu desenvolvimento ou como

reservatório (Figueras, 2011).

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27

Com a consolidação da malacocultura brasileira, estudos vêm

registrando a presença de enfermidades causadas por bactérias, fungos,

protozoários e metazoários (Magalhães e Ferreira, 2006). Pesquisas

realizadas com mitilídeos registraram a presença do trematódeo

Bucephalus margaritae, do poliqueto perfurador Polydora websteri e do

caranguejo Pinnotheres maculatus em Perna perna e de organismos

semelhantes a Rickettsia, Nematopsis sp., Bucephalus sp., Tylocephalum

sp. e turbelários, digeneos e metacercária não identificados em Mytella

guyanensis (Boehs et al., 2012).

A Tabela 1 apresenta um resumo dos estudos com patologias de

Perna perna, apontando os autores e locais de ocorrências no litoral

brasileiro.

Page 28: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

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28

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29

No Brasil, os estudos realizados com o trematódeo Bucephalus

sp. foram iniciados por Umiji et al. (1976) que registraram a presença

do parasita formando estruturas filamentosas de coloração laranja no

tecido gonádico dos mexilhões Perna perna. Posteriormente Magalhães

et al. (2008) identificaram que este parasitismo afeta a composição

bioquímica do mexilhão e inviabiliza a reprodução. Nas pesquisas

realizadas por Lima et al. (2001); Da Silva et al. (2002 e 2012); Galvão

et al. (2006); Costa (2007); Suárez-Morales et al. (2010) e Medeiros

(2013) este trematódeo foi registrado em diferentes hospedeiros. A

pesquisa realizada por Marchiori et al. (2010) identificou o ciclo de vida

do trematódeo e seus hospedeiros intermediários e definitivos,

conseguindo realizar a identificação da espécie Bucephalus margaritae.

A ocorrência de larvas do cestódeo Tylocephalum sp. foi

registrada no tecido conjuntivo do manto do marisco-do-mangue

Mytella guyanensis por Ceuta & Boehs (2012) e em P. perna e

Crassostrea gigas por Da Silva et al. (2012), formando encapsulamento

e provocando infiltração hemocitária em ambos hospedeiros.

Na pesquisa realizada por Suárez-Morales et al. (2010) com

mexilhões P. perna, também foram registradas as presenças do

copépode Monstrilla sp. formando nódulos e infiltração hemocitária no

tecido conjuntivo do manto e do turbelário Urastoma cyprinae

movendo-se pelas brânquias, aparentemente sem provocar reações do

hospedeiro.

A polidiariose, doença causada pelo anelídeo poliqueta Polydora

sp. que perfura as conchas e forma tubos e bolhas de lodo, foi registrada

no berbigão Anomalocardia brasiliana por Boehs & Magalhães (2004);

em ostras Crassostrea gigas e C. rhizophorae por Sabry & Magalhães

(2005), Sabry et al. (2011) e Da Silva (2012); em Crassostrea gigas por

Maciel et al. (2010) e em Perna perna por Costa (2007), Suárez-

Morales et al. (2010) e Da Silva et al. (2012), sem provocar danos aos

tecidos moles dos hospedeiros mas sim às suas valvas.

Considerando a necessidade da constante atualização do

inventário de parasitos e patologias de mitilídeos cultivados no Brasil,

mexilhões no Estado de Santa Catarina foram estudados, durante o

período de um ano, através dos protocolos específicos da OIE e de

histologia clássica, estereomicroscopia e microscopia eletrônica de

varredura.

Page 30: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

30

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33

CAPÍTULO II

PATÓGENOS ENCONTRADOS EM MEXILHÕES Perna

perna E IMPLICAÇÕES NA MITILICULTURA

CATARINENSE.

O artigo será enviado para publicação e foi redigido segundo as

normas do Boletim do Instituto de Pesca.

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34

PATÓGENOS ENCONTRADOS EM MEXILHÕES Perna

perna E IMPLICAÇÕES NA MITILICULTURA

CATARINENSE.

Ana Lúcia CARNEIRO-SCHAEFER, Simone SÜHNEL e Aimê Rachel

Magenta MAGALHÃES

Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias,

Departamento de Aquicultura, Núcleo de Estudos em Patologia

Aquícola. Rodovia Admar Gonzaga, 1346 – CEP: 88034-001 –

Itacorubi – Florianópolis – SC – Brasil. e-mail: [email protected]

(autor correspondente)

RESUMO

Mexilhões Perna perna foram coletados nos principais municípios

produtores deste bivalve em Santa Catarina, sul do Brasil. Durante o

período de julho de 2010 a junho de 2011 foram analisados 2.880

mexilhões com o auxílio de estereomicroscopia, microscopia de luz,

incluindo histopatologia, monocamadas de hemócitos, imprint de

tecidos e cultivo em meio tioglicolato, para verificar a presença de

patógenos. Os resultados das análises mostraram ausência das

enfermidades de notificação obrigatória. Contudo, foi registrada a

presença de patógenos do Filo Platyhelmintes: o Trematoda Bucephalus

margaritae, o Cestoda Tylocephalum sp. e um Turbelário do gênero

Urastoma. Também foi registrada a ocorrência de copépodes da Classe

Maxillopoda, gêneros Pseudomyicola e Monstrilla. Além destes, foram

encontrados protozoários do Filo Ciliophora, Ancistrocoma sp. e do Filo

Apicomplexa, Nematopsis sp. Os patógenos encontrados não sugerem

causar mortalidade ou trazer danos aos mexilhões, com exceção de

Bucephalus margaritae, que causa castração parasitária, o que afeta a

mitilicultura, pela diminuição no número de larvas e de jovens

mexilhões.

Palavras-chave: Histopatologia, prevalência, infestação, molusco

bivalve.

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ABSTRACT

Perna perna mussels were collected in the main municipalities

producers of this bivalve in Santa Catarina, southern Brazil. During the

period of July 2010 to June 2011 were analyzed 2,880 mussels with the

aid of stereomicroscopy, light microscopy, including histopathology,

monolayers of hemocytes, imprint and incubation of tissues in Ray's

Fluid Thioglycollate Medium, for the presence of pathogens. The

results of the analysis showed absence of notifiable diseases. However,

it was registered the presence of Filo Platyhelmintes pathogens: the

Trematoda Bucephalus margaritae, the Cestoda Tylocephalum sp. and a

gender Turbelário Urastoma. It was also registered the occurrence of

copepods class Maxillopoda, Pseudomyicola and Monstrilla genres. In

addition, protozoa found the Filo Ciliophora, Ancistrocoma sp. and Filo

Apicomplexa, Nematopsis sp.. Pathogens found not suggest cause

mortality or bring harm to mussels, except for B. margaritae, which

causes parasitic castration, which affects the mussel, the decrease in the

number of larvae and young mussels.

Keywords: Histopathology, prevalence, infestation, bivalve mollusc.

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36

1.INTRODUÇÃO

Mexilhões são moluscos bivalves da família Mytilidae

(Rafinesque, 1815), com 26 gêneros distribuídos ao longo dos oceanos

no planeta (ITIS, 2014). No litoral brasileiro a família Mytilidae está

representada por 13 gêneros e 22 espécies (RIOS, 2009), sendo cinco

utilizadas na alimentação: Aulacomya ater (Molina, 1782), Mytella

charruana (Orbigny, 1842), Mytella guyanensis (Lamark, 1819),

Mytilus edulis platensis (Orbigny, 1846) e Perna perna (Linnaeus,

1758), a espécie de maior valor comercial.

Estudos sobre a perspectiva da mitilicultura no Brasil e sobre a

fisiologia da reprodução do mexilhão Mytilus perna (=Perna perna) foram realizados por LUNETTA (1969). Neste mesmo ano, UMIJI

(1969) realizou pesquisas sobre a neurossecreção nesta espécie de

mitilídeo.

No ano de 1990 tem início o cultivo comercial do mexilhão

Perna perna em Santa Catarina, com produção de 190 toneladas.

Segundo a EPAGRI (2015), no ano de 2013 a malacocultura catarinense

contou com 589 maricultores que foram responsáveis por 95% da

produção nacional de moluscos bivalves como ostras, mexilhões,

berbigões e vieiras. No ano de 2012 foram comercializadas 23.495

toneladas de moluscos, sendo 21.027 toneladas de mexilhões Perna perna, produzidas principalmente nos municípios de Penha, Governador

Celso Ramos, Florianópolis e Palhoça e 2.468 toneladas de ostras

Crassostrea gigas (DOS SANTOS et al., 2012). Isto significa que os

mexilhões foram responsáveis por 89,5% do total de moluscos marinhos

cultivados no Estado.

Estudos sobre patologias em mexilhões Perna perna vem sendo

realizados desde 1976 e a partir dos últimos anos os trabalhos tem

focado na avaliação do estado de saúde dos moluscos, como registraram

MAGALHÃES e FERREIRA (2006) e BOEHS et al. (2012) e nos

agentes patogênicos.

O Trematoda Digenea Bucephalus sp., que causa castração

parasitária, foi estudado no litoral dos estados do Rio de Janeiro, São

Paulo e Santa Catarina, por UMIJI et al. (1976); MAGALHÃES (1998);

LIMA et al. (2001); DA SILVA et al. (2002); GALVÃO et al. (2006);

COSTA (2007). O ciclo de vida da espécie Bucephalus margaritae da

costa do Estadeo de Santa Catarina, foi identificado por MARCHIORI

et al. (2010) e a partir desta pesquisa, SUÁREZ-MORALES et al.

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37

(2010), DA SILVA et al. (2012) e MEDEIROS (2013) citam esta

espécie em suas pesquisas.

A gregarina apicomplexa Nematopsis sp. foi registrada por LIMA

et al. (2001) e DA SILVA et al. (2012).

A ascidia colonial Didemnum psammathodes, o copépode

Monstrilla sp., o poliqueto perfurador Polydora sp. e o turbelário

Urastoma cyprinae foram registrados por SUÁREZ-MORALES et al. (2010), em mexilhões cultivados em Penha, SC, Brasil.

A pesquisa realizada por DA SILVA et al. (2012), registrou a

ocorrência do protozoário Nematopsis sp., do cestoda Tylocephalum sp.,

do poliqueto Polydora sp., de esporocistos de Trematódeos e ciliados

não identificados, em mexilhões cultivados em São José, SC, Brasil.

Nos últimos anos os mitilicultores tem relatado a ocorrência de

mortalidades nos cultivos nos municípios de Penha e Governador Celso

Ramos, no litoral catarinense (comunicação pessoal). Neste estudo foi

analisada a saúde dos mexilhões Perna perna procedentes dos quatro

principais municípios produtores do Estado de Santa Catarina, visando

contribuir com a consolidação da mitilicultura.

2.MATERIAIS E MÉTODOS

Durante o período de julho de 2010 a junho de 2011, foram

amostrados mensalmente 240 mexilhões ao longo da costa do estado de

Santa Catarina, sul do Brasil (Figura 1A). As amostragens (n=60 por

local) foram realizadas em cultivos comerciais localizados nos

municípios de Palhoça, Governador Celso Ramos e Penha e em cultivo

experimental (UFSC) no município de Florianópolis, totalizando 2.880

animais. Nos dias das coletas dos mexilhões também foram aferidos os

dados de salinidade, através da média de 3 amostras de água do mar,

com o auxílio de salinômetro Alfakit. A temperatura foi registrada ao

final de cada coleta com o auxílio de um termômetro de mercúrio que

permaneceu submerso a uma profundidade de 1m.

O sistema de cultivo nos locais de coleta é flutuante com espinhel

de superfície. Cada local foi caracterizado em relação ao sistema de

produção, tipo de substrato, profundidade e aporte de efluentes (Tabela

1).

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Tabela 1. Caracterização quanto ao sistema de produção e dados ambientais

dos locais de coleta.

Características do

cultivo

Palhoça Florianópolis Governador

Celso Ramos

Penha

Número de áreas de

cultivo 3 1 1 1

Tamanho total do cultivo

(hectares) 10 1 5 0,7 - 0,8

Número de espinhéis

por área

56 3 24 7

Tamanho de cada espinhel

(m) 75 50 150 100

Espaçamento entre espinhéis

(m) 5 9 10 10

Número de cordas de mexilhão por

espinhel

1

100 240 140

Tamanho da corda (m)

600 (sistema contínuo)

0,80 a 1 1,60 2,50

Espaçamento entre cordas

(m)

- 0,50 0,50 0,70

Quantidade de mexilhões

600 a 700/m 600/corda 700/corda 800/corda

Peso (kg)

20/m 12/corda 17 a 20/corda 20/corda

Tempo entre desdobres

sem sem sem

2 vezes ao

ano (março e outubro)

Quantidade de mexilhões na área

de cultivo 60.480.000 18.000 4.032.000 784.000

Profundidade

(m) 4 a 8 4 5 a 6 7

Tipo de fundo Lodoso/arenoso Lodoso Lodoso Rochoso

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As coletas foram realizadas em 05 cordas pré-determinadas

(Figura 1B), sendo os animais transportados em caixas de isopor até o

Núcleo de Estudos em Patologia Aquícola (NEPAQ), do Departamento

de Aquicultura, da Universidade Federal de Santa Catarina. Do total de

mexilhões coletados, 1.440 mexilhões (n=30, por mês) foram analisados

ao estereomicroscópio, com a finalidade de coletar macropatógenos e os

outros 1.440 mexilhões (n=30, por mês), destinados aos protocolos de

análises microscópicas, para avaliação da presença de micropatógenos.

Figura 1.(A) Locais de coleta de Perna perna no estado de Santa Catarina, sul

do Brasil e (B) esquema de um cultivo de mexilhões indicando a disposição das cordas (quadrados pretos) de onde foram coletados os animais.

Análise ao estereomicroscópio Os mexilhões destinados às análises de macropatógenos foram

abertos com um objeto perfurocortante inserido entre as valvas após o

deslocamento do bisso, com a finalidade de cortar o músculo adutor.

Após sua abertura, foram levados ao estereomicroscópio para

identificação do sexo, registro de anomalias na carne do animal

(pústulas e abscessos) e coleta de parasitas.

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Análises ao microscópio de luz

Os mexilhões destinados às análises microscópicas foram

medidos e após a avaliação das partes moles como descrito

anteriormente, foi realizada a coleta de tecidos para as técnicas

específicas descritas a seguir.

Monocamadas de hemócitos Após ser feita uma pequena abertura na concha dos mexilhões a

hemolinfa foi retirada do músculo adutor, com o auxílio de uma seringa

de 1 mL, contendo solução fixadora de formol-MAS (modified Alsèver’s solution) (BACHÉRE et al., 1988), na proporção de 2:1 (Formol MAS:

Hemolinfa). Para avaliar a presença de Bonamia sp. e Perkinsus sp., 50

µL da mistura de hemolinfa e Formol MAS foram colocados sobre uma

lâmina que, após seca, foi corada com Giemsa, coberta com lamínula e

avaliada ao microscópio de luz.

Cultivo em meio de tioglicola to de Ray (RFTM) Para esta técnica, realizada com base em RAY (1966) e no

Manual Aquático da OIE (2014), foi retirado de cada mexilhão, um par

de lamelas branquiais e o reto que foram colocados juntos em um tubo

falcon contendo meio tioglicolato. Após a amostragem de tecido, foi

adicionado o antifúngico Nistatina (10.000 U/mL) e incubado por 5 dias

ao abrigo da luz e em temperatura ambiente. Após este período, os

tecidos foram macerados sobre uma lâmina, corados com Lugol,

cobertos com lamínula e observados ao microscópio de luz. Esta técnica

é utilizada para detectar a presença do protozoário Perkinsus sp. e

também é útil para a detecção da gregarina Nematopsis sp..

Imprints de tecidos e órgãos

De acordo com o Manual Aquático da OIE (2014), para esta

técnica são utilizadas amostras (de 3 a 5 mm) de glândula digestiva, mas

neste trabalho utilizaram-se também amostras de brânquia, coração e

tecido gonádico, que foram levemente pressionadas sobre uma lâmina

de vidro. As preparações foram secas ao ar, fixadas em Metanol, coradas

com Giemsa e lavadas em água destilada. Após secagem foram cobertas

por lamínula e observadas ao microscópio de luz para verificar a

presença dos protozoários Marteilia sp. e Bonamia sp.

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41

Histopatolog ia

Após ser retirado da concha, o mexilhão foi seccionado

transversalmente e retirada uma fatia (com aproximadamente 2 mm de

espessura) contendo manto, brânquia, tecido gonádico e glândula

digestiva. Esta amostra foi colocada em cassete e fixada em Solução de

Davidson marinho (BELL e LIGHTNER, 1988 e HOWARD et al., 2004).

A inclusão em parafina foi realizada conforme PAULETE-

VANRELL (1967) e o material biológico foi cortado a uma espessura de

5 µm em micrótomo com navalhas descartáveis. Os cortes foram

colocados em lâminas de vidro, corados com Hematoxilina de Harris e

Eosina (HOWARD et al., 2004) e, após receberem lamínulas,

observados ao microscópio de luz para identificação do sexo, avaliação

dos tecidos e análises patológicas.

Análise estatís tica A prevalência foi calculada de acordo com BUSH et al. (1997)

dividindo o total de hospedeiros com determinado patógeno pelo total

de hospedeiros estudados em cada local de coleta e a infestação mensal

foi calculada dividindo a quantidade de patógenos pelo número de

hospedeiros. A avaliação da infestação do trematoda Bucephalus

margaritae foi calculada por estereologia, através do uso da gratícula de

Weibel, classificando-se o grau de parasitismo em grau leve, (<5%),

moderado (5-50%) e pesado (>50%), segundo a relação entre a

quantidade de tecidos do parasita nos tecidos do hospedeiro, de acordo

com MAGALHÃES (1998).

Os dados de prevalência e infestação foram analisados através de

teste t com permutação (não paramétrico) usando multitest proc no

SAS® (WESTFALL et al., 1999), para avaliar diferenças entre locais,

estações, meses, temperatura e salinidade.

3.RESULTADOS

As medidas de comprimento dos mexilhões, coletados no período

de julho/2010 e junho/2011, apresentaram diferenças significativas

(p<0,05) entre locais, estações e meses (Tabela 2). O tamanho dos

mexilhões de Florianópolis e da Palhoça apresentou diferença

significativa (p<0,05) dos de Governador Celso Ramos, assim como o

tamanho dos mexilhões de Florianópolis apresentaram diferença

significativa dos da Penha. Agrupando os dados por estação foi

registrada diferença significativa no tamanho dos mexilhões coletados

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42

no verão em relação aos coletados no outono e inverno, sem diferença

significativa entre si, e entre os coletados no outono e inverno em

relação aos da primavera. Na avaliação mensal independente do local, o

maior tamanho dos animais foi registrado em janeiro, diferente

significativamente dos demais meses, com exceção de novembro e

dezembro. O menor tamanho foi registrado no mês de julho, diferente

significativamente de outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e

março.

Tabela 2. Comprimento médio ± desvio padrão (mm) dos mexilhões

estudados (n=2.880), avaliados por locais, estações e meses.

Local de coleta Comprimento

Palhoça 85,69 ± 11,74

Florianópolis 88,88 ± 13,96 Governador Celso Ramos 76,29 ± 18,54

Penha 80,06 ± 49,68

Estação do ano

Inverno 76,55 ± 11,63

Primavera 84,37 ± 11,71 Verão 91,98 ± 51,50

Outono 78,48 ± 13,20

Ano Mês do ano

Comprimento

2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

71 ± 6 83 ± 12 80 ± 14 84 ± 9 89 ± 10 89 ± 87

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

100 ± 9 86 ± 17 83 ± 14 79 ± 12 74 ± 12 76 ± 12

A temperatura e a salinidade da água do mar (Figura 2) (n=12)

não apresentaram diferenças significativas entre os locais, estações do

ano e meses. A temperatura (ºC) e a salinidade (‰) médias na Palhoça

foram de 20,6 ± 3,4 e 32,0 ± 3,0; em Florianópolis foram de 20,5 ± 3,45

e 33 ± 3; em Governador Celso Ramos foram de 20,6 ± 4,22 e 33 ± 4 e,

na Penha, foram de 21,3 ± 3,79 e 33 ± 3.

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43

Figura 2. Temperatura (ºC) e salinidade (‰) nos locais de coleta, durante o período da pesquisa.

Através das análises ao estereomicroscópio foram analisados

1320 mexilhões onde foram registradas 559 fêmeas, 754 machos e 7

indivíduos de sexo indeterminado (Figura 3). Para esta técnica o sexo

dos mexilhões não foi registrado, no mês de julho de 2010, nos 4 locais

de coleta. Nas análises histológicas dos 1440 mexilhões foram

registradas 662 fêmeas, 658 machos e 120 de sexo indeterminado

(Figura 4). As avaliações estatísticas mostraram que não houve

diferença significativa na taxa entre machos e fêmeas do total de

animais coletados.

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44

Figura 3. Sexo dos mexilhões (%), por local de coleta, analisados através do estereomicroscópio.

Figura 4. Sexo dos mexilhões (%), por local de coleta, analisados através da histologia.

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45

Através das técnicas de cultivo em meio de tioglicolato de Ray,

monocamadas de hemócitos e Imprints de tecidos e órgãos não foram

observados os protozoários de notificação obrigatória Perkinsus sp.,

Bonamia sp. e Marteilia sp. nos mexilhões cultivados nas localidades e

período estudado.

O Ciliophora do gênero Ancistrocoma (Chatton e Lwoff, 1926)

foi registrado através das análises histológicas na glândula digestiva de

um único mexilhão da Penha, na primavera no mês de setembro.

Oócitos de gregarinas do gênero Nematopsis (Schneider, 1892)

(Apicomplexa: Eugregarina) contendo um esporozoíto (Figura 5) foram

observados através das análises histológicas nas brânquias de mexilhões

(Tabela 3). As análises sobre prevalência deste patógeno não

apresentaram diferenças significativas entre locais e estações, mas

mostraram diferenças significativas (p<0,05) entre o mês de julho e os

meses de fevereiro, março, abril, maio, junho, agosto, setembro, outubro

e dezembro. A ocorrência deste parasita foi registrada em 4 mexilhões

da Penha e em 1 mexilhão de Governador Celso Ramos.

Tabela 3. Prevalência (%) e taxa de infestação médias ± desvios padrões

da gregarina Nematopsis sp. nos mexilhões analisados através da

histologia (n=360/local), avaliados por locais, estações e meses. Onde: P

= Prevalência; I = Infestação. Local de coleta Prevalência média(%) ±

DP

Infestação média

± DP

Palhoça 0 ± 0 0 ± 0

Florianópolis 0 ± 0 0 ± 0 Governador Celso Ramos 0,28 ± 0,96 2,67 ± 9,23

Penha 1,11 ± 2,17 3,63 ± 7,13

Estação do ano

Inverno 0,83 ± 1,06 12,88 ± 15,71 Primavera 0,28 ± 0,56 1,75 ± 3,50

Verão 0,28 ± 0,56 4,25 ± 8,50

Outono 0 ± 0 0 ± 0

Ano Mês do ano

Prevalência (%) / Infestação

2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

P I P I P I P I P I P I 2,50 23,67 0 0 0 0 0 0 0,83 7 0 0

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

P I P I P I P I P I P I

0,83 17 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

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Metacestóides do gênero Tylocephalum (Linton, 1890)

(Tetragonocephalidae) (Figura 6) foram registrados através das análises

histológicas no tecido conjuntivo dos mexilhões (Tabela 4). A

prevalência deste patógeno, durante o período do estudo, foi maior na

Penha sendo significativamente diferente (p<0,05) de Governador Celso

Ramos, Florianópolis e Palhoça, sem diferença significativa entre

estações, mas com diferença significativa (p<0,05) entre o mês de

outubro e os outros meses estudados. A taxa de infestação não

apresentou diferença significativa entre os locais, estações e meses.

Tabela 4. Prevalência (%) e taxa de infestação médias ± desvios padrões

do metacestóide Tylocephalum sp. nos mexilhões analisados através da

histologia (n=360/local), por locais, estações e meses. Onde: P =

Prevalência; I = Infestação.

Local de coleta Prevalência média(%) ±

DP

Infestação média

± DP

Palhoça 0,28 ± 0,96 0,88 ± 0,28 Florianópolis 1,11 ± 1,64 0,42 ± 0,66

Governador Celso Ramos 3,33 ± 3,48 0,63 ± 0,56 Penha 15,00 ± 6,89 1,34 ± 0,47

Estação do ano

Inverno 5,58 ± 7,61 1,07 ± 0,82 Primavera 2,78 ± 4,11 0,88 ± 0,62

Verão 5,56 ± 6,29 1,17 ± 0,21 Outono 5,56 ± 9,64 0,86 ± 0,61

Ano Mês do ano

Prevalência (%) / Infestação 2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

P I P I P I P I P I P I

7,50 1,11 4,17 1,40 5,83 1,29 0,83 1,00 5,00 1,33 2,50 1,67

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

P I P I P I P I P I P I 7,50 1,22 3,33 1,75 5,83 1,29 6,67 1,38 5,83 1,29 4,17 1,60

Esporocistos contendo cercárias em diferentes estágios de

desenvolvimento do Trematoda Bucephalus margaritae (Ozaki e

Ishibashi, 1934) (Digenea, Bucephalidae) (Figura 7) foram observados

nos cortes histológicos no tecido gonádico dos mexilhões. A prevalência

deste patógeno, durante o período do estudo, foi maior nos mexilhões de

Florianópolis e da Palhoça sem diferença significativa entre si, mas

ambos locais, significativamente diferentes (p<0,05) da Penha e de

Governador Celso Ramos. Em relação às estações, o outono foi

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significativamente diferente (p<0,05) do verão, inverno e primavera. Em

relação aos meses, abril e junho foram significativamente diferentes

(p<0,05) de julho, setembro, outubro, novembro e dezembro, além dos

resultados encontrados em abril terem sido significativamente diferentes

dos de fevereiro e março (Tabela 5).

Tabela 5. Prevalência média (%) ± desvio padrão e taxa de infestação

(calculada com a Gratícula de Weibel) do trematoda Bucephalus

margaritae nos mexilhões analisados através da histologia

(n=360/local), por locais e prevalências por estações e meses.

Local de coleta Prevalência média(%)

± DP

Infestação (Gratícula de Weibel)

Palhoça 14,44 ± 12,89 49,49 Florianópolis 16,11 ± 9,08 48,49

Governador Celso Ramos 1,11 ± 2,17 43,66 Penha 5,00 ± 4,38 37,80

Estação do ano Prevalência (%)

Inverno 6,39 ± 6,18

Primavera 5,00 ± 5,17 Verão 8,33 ± 7,06

Outono 16,94 ± 13,89

Ano Mês do ano

Prevalência (%)

2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

5,00 8,33 5,83 6,67 5,00 3,33

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

10,00 7,50 7,50 20,00 12,50 18,33

Avaliando o grau de parasitismo por Bucephalus margaritae os

municípios de Palhoça e de Florianópolis apresentaram o maior número

de mexilhões parasitados tanto para o grau moderado, com 22 e 31

animais, respectivamente, quanto para o grau pesado, com 30 e 27

animais, respectivamente (Tabela 6). Para as quatro localidades

estudadas, não foram observados animais com o grau leve de

parasitismo. Os mexilhões com grau de infestação moderado estavam

com o tecido gonádico danificado e os com grau pesado, apresentavam o

tecido gonádico destruído, sem a presença de células germinativas.

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Tabela 6. Grau de infestação por Bucephalus margaritae nos mexilhões

analisados através da gratícula de Weibel (n=360/local).

Local de coleta Quantidade de

mexilhões

parasitados

Grau de parasitismo

(número de animais)

Leve

(<5%)

Moderado

(5-50%)

Pesado

(>50%)

Palhoça 52 - 22 30

Florianópolis 58 - 31 27 Governador Celso

Ramos

4 - 3 1

Penha 18 - 13 5

A presença deste patógeno também foi observada com o auxílio

do estereomicroscópio no tecido gonádico dos mexilhões (Tabela 7). A

prevalência deste patógeno, durante o período do estudo, foi maior nos

mexilhões de Florianópolis apresentando diferença significativa

(p<0,05) em relação a Governador Celso Ramos e maior na Palhoça em

relação à Penha e a Governador Celso Ramos. Avaliando as estações, no

outono houve diferença significativa (p<0,05) do inverno, verão e

primavera. A avaliação mensal registrou que o mês de abril foi

significativamente diferente (p<0,05) de fevereiro, março, outubro,

novembro e dezembro e que o encontrado no mês de maio foi

significativamente diferente do mês de outubro.

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Tabela 7. Prevalência média (%) ± desvio padrão do trematoda

Bucephalus margaritae nos mexilhões analisados ao estereomicroscópio

(n=360/local), por locais, estações e meses. Local de coleta Prevalência média(%) ± DP

Palhoça 9,72 ± 8,46 Florianópolis 10,83 ± 8,66

Governador Celso Ramos 1,67 ± 2,65 Penha 3,89 ± 6,00

Estação do ano

Inverno 6,67 ± 5,21 Primavera 2,78 ± 1,43

Verão 3,61 ± 3,56 Outono 13,06 ± 8,62

Ano Mês do ano

Prevalência (%)

2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

5,83 8,33 5,83 1,67 2,50 4,17

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

5,00 2,50 3,33 15,00 12,50 11,67

Através das análises histológicas foram observados Turbelários

do gênero Urastoma (Graff, 1882) entre os filamentos branquiais (Fig.

8), nauplios (copepoditos) de copépodes do gênero Pseudomyicola

(Raffaele e Monticelli, 1885) no lumem do trato digestório (Fig. 9) e do

gênero Monstrilla (Dana, 1849) formando nódulos no tecido conjuntivo

da borda do manto (Fig. 10).

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Figura 5 a 10. Cortes histológicos (coloração HHE) de Perna perna coletados em Santa Catarina, Brasil. Fig. 5, esporos da Gregarina Nematopsis sp. nas

brânquias; Fig. 6, larva em encapsulamento do Cestoda Tylocephalum sp. no tecido conjuntivo da glândula digestiva; Fig. 7, Trematoda Digenea, Bucephalus

margaritae no tecido gonádico (ES – esporocisto e CE – cercaria); Fig. 8, Turbelário Urastoma sp. nas brânquias; Fig. 9, náuplio do Copepoda

Pseudomyicola sp. no trato digestório e Fig. 10, copepodito do Copepoda Monstrilla sp. no tecido conjuntivo da borda do manto. Barras: 10µm (Figs. 7, 8

e 10) e 40µm (Figs. 5, 6 e 9).

Turbelários do gênero Urastoma (Fig. 11) e copépodes dos

gêneros Pseudomyicola (fig. 12) e Monstrilla (Fig. 13), também foram

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registrados nas análises ao estereomicroscópio, em sua fase adulta e

naupliar, respectivamente.

Durante o período da pesquisa, de julho de 2010 a junho de 2011,

foram registrados, com o auxílio do estereomicroscópio, turbelários do

gênero Urastoma (524 espécimes) e copépodes dos gêneros

Pseudomyicola. (19 espécimes) e Monstrilla (13 espécimes).

Figura 11 a 13. Parasitas observados e coletados com o auxílio do

estereomicroscópio nos mexilhões Perna perna em Santa Catarina, Brasil. Fig. 11, o Turbelário Urastoma sp. nas brânquias dos mexilhões; Fig. 12, fase adulta

(fêmea) do Copepoda Pseudomyicola sp. na cavidade do manto (SO – sacos ovígeros); e Fig. 13, fase de copepodito do Copepoda Monstrilla sp. no tecido

conjuntivo da borda do manto. Barras: 40µm.

4.DISCUSSÃO

O presente trabalho foi realizado com mexilhões adultos de

tamanho adequado para serem comercializados e apresentavam medidas

semelhantes às dos animais estudados por MAGALHÃES (1998);

FERREIRA e MAGALHÃES (2003); SUÁREZ-MORALES et al.

(2010) e MEDEIROS (2013).

Durante o período da pesquisa a temperatura e salinidade da água

do mar não variaram significativamente, permanecendo em uma faixa

que favorece o desenvolvimento desta espécie de mitilídeo. De acordo

com SIDDAL (1979), Perna perna se desenvolve numa faixa ótima de

temperatura entre 18 a 30°C e, segundo SALOMÃO et al. (1980)

sobrevive a salinidades entre 19 e 44‰. Mesmo possuindo faixas

amplas de tolerância tanto para temperatura como para salinidade,

segundo MAGALHÃES (1998), alterações nestes dois fatores

ambientais podem afetar as respostas dos hospedeiros às infestações

parasitárias.

Em relação à quantidade de machos e fêmeas, os resultados tanto

na avaliação macro como microscópica confirmam a espécie Perna

perna como dióica. Não há dimorfismo sexual externo, mas ao abrir a

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52

concha é possível fazer a distinção pela coloração do manto, vermelho

nas fêmeas e branco nos machos.

A histologia também auxilia na classificação do sexo dos

animais. O alto número de mexilhões com sexo indeterminado deve-se

ao intenso grau de bucefalose apresentado por esses animais.

Devido ao registro de mortalidades de Perna perna em 2009, os

tecidos e órgãos dos mexilhões desta pesquisa, foram processados

através dos protocolos para detecção de doenças de notificação

obrigatória em outros moluscos bivalves, recomendadas pela OIE.

Como os resultados destas análises foram negativos para os protozoários

Perkinsus sp., Bonamia sp. e Marteilia sp., é possível afirmar que estas

doenças não ocorrem nos cultivos desta espécie de mitilídeo, até a

presente data.

As análises registraram a presença do protozoário Apicomplexa,

Nematopsis sp. em prevalências e taxas de infestação muito baixas em

relação ao que foi visto por NASCIMENTO et al. (1986) em

Crassostrea rhizophorae e por MATOS et al. (1998) em Mytella guyanensis. Já estudo realizado por DA SILVA et al. (2012) com

mexilhões do estado de Santa Catarina, registrou a presença de oocistos

deste parasita em apenas um P. perna, corroborando os dados

encontrados na atual pesquisa onde foram registrados nas brânquias de

apenas cinco mexilhões.

A prevalência de larvas do cestóide Tylocephalum sp. registrada

na Palhoça e em Florianópolis corroboram com a encontrada por DA

SILVA et al. (2012), em estudo com P. perna na localidade de Serraria,

São José,SC, onde foi registrada 1,25%.

O Trematoda B. margaritae é causador da doença denominada de

bucefalose ou enfermidade laranja, devido à intensa ramificação dos

esporocistos contendo cercárias em diferentes estágios de formação, em

estudos realizados com Perna perna de Santa Catarina (MAGALHÃES,

1998; COCHÔA e MAGALHÃES, 2008; MARCHIORI et al., 2010 e

MEDEIROS, 2013). A fase adulta deste Trematoda foi registrada no

intestino de várias espécies de peixes carnívoros e seus ovos podem ser

ingeridos ou sua fase de miracídeo, contendo células indiferenciadas,

pode produzir várias gerações de esporocistos, antes de produzir a

cercária, dentro do hospedeiro (MAGALHÃES, 1998). É considerado o

principal parasita de P. perna, pois provoca a castração do animal

devido à substituição do tecido germinativo do hospedeiro pelo tecido

do parasita BOWER et al. (1994), DA SILVA et al. (2002) e COCHÔA

e MAGALHÃES (2008). No presente estudo isto foi confirmado.

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53

Pesquisas realizadas com Perna perna de Florianópolis/SC, as

maiores prevalências de bucefalose foram registradas nos meses do

outono, corroborando com pesquisa realizada por COSTA (2007), que

registrou os maiores picos de infestação nos meses de abril, maio e

junho. Já nas pesquisas realizadas por DA SILVA et al. (2002) e por

COCHÔA e MAGALHÃES (2008), as maiores prevalências deste

parasita ocorreram no inverno.

A mitilicultura catarinense tem sofrido, nos últimos anos, com a

falta de “sementes” (jovens mexilhões). A baixa captação de sementes

em coletores manufaturados tem, como uma das causas, a bucefalose

nos adultos, impedindo a reprodução e formação das larvas

planctônicas.

A comparação dos resultados de bucefalose nos mexilhões,

obtida a partir do estudo macro e microscópico, corroboram o

encontrado por GARCIA e MAGALHÃES (2008), em

Florianópolis/SC. A análise histológica permite detectar a bucefalose

com maior precisão, ampliando os valores de prevalência. No total,

neste estudo, o número de mexilhões com bucefalose foi 40,4% superior

nos diagnosticados através da histologia do que através do

estereomicroscópio. Todavia, os estudos através das duas técnicas

apresentaram a mesma tendência nos resultados, tanto em relação aos

locais, como nas épocas do ano.

Em relação ao tamanho do hospedeiro, foi visto nesta pesquisa

que os mexilhões maiores apresentaram maiores valores de prevalência

deste parasita, tanto nas análises ao microscópio de luz como ao

estereomicroscópio. Em pesquisa realizada por LASIAK (1989) e

MAGALHÃES (1988), foi visto que mexilhões com menos de 30 mm

de comprimento não eram parasitados por esse trematoda. Na mesma

pesquisa, MAGALHÃES (1988) observou que mexilhões medindo entre

30 e 40 mm eram parasitados, entre 60 e 70 mm sofriam um parasitismo

intenso e os maiores de 70 mm eram pouco parasitados.

Nesta pesquisa, o Turbelário do gênero Urastoma foi registrado

em prevalências inferiores ao observado por SUÁREZ-MORALES et al. (2010), que registrou uma prevalência de 100% deste parasita em P.

perna cultivado na Penha (SC). Este parasita mostrou não provocar

lesões nos filamentos branquiais. Já pesquisas realizadas por

ROBLEDO et al. (1994) com Mytilus galloprovincialis na Espanha,

CÁCERES-MARTÍNEZ et al. (1998) com M. galloprovincialis e M. californianus no México, consideram este Turbelário como parasita

causador de grandes injúrias às brânquias destes bivalves em cultivos

comerciais.

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Ficou evidenciado que o Trematoda Bucephalus margaritae em

grau de parasitismo moderado e pesado causa a destruição do tecido

gonádio dos mexilhões, sendo o único com potencial de interferência na

mitilicultura. Com a destruição progressiva do tecido gonádico, este

parasita afeta a reprodução do bivalve, acarretando a redução da

captação de sementes no meio ambiente.

Os demais organismos registrados no presente estudo não

mostraram causar danos ao seu hospedeiro.

5.CONCLUSÕES

As enfermidades de notificação obrigatória não estão presentes nos

cultivos de mexilhões Perna perna, no Estado de Santa

Catarina;

A bucefalose ou enfermidade laranja, provocada pelo Trematoda

Bucephalus margaritae é a patologia que mais preocupa por

provocar a castração parasitária do mexilhão;

Os demais organismos registrados durante o período da pesquisa e

na densidade de ocorrência, não são causadores de

mortalidades;

A continuidade dessas pesquisas se faz necessária com a

finalidade de monitorar os patógenos nos cultivos de moluscos

e de reconhecer problemas de saúde animal.

6.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa e

Inovação do Estado de Santa Catarina - FAPESC, pelo apoio financeiro

recebido através do Projeto 17287/2009-1 e aos mitilicultores que

forneceram os mexilhões para esta pesquisa.

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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59

CAPÍTULO III

PRIMEIRO REGISTRO DO COPÉPODE Pseudomyicola

spinosus EM MEXILHÕES PERNA PERNA DE

CULTIVO

O artigo será enviado para publicação no periódico

Diseases of Aquatic Organisms , tendo s ido redigido

segundo as normas da referida revista cientí fica.

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60

PRIMEIRO REGISTRO DO COPÉPODE

PSEUDOMYICOLA SPINOSUS EM MEXILHÕES Perna

perna DE CULTIVO

Ana Lúcia CARNEIRO-SCHAEFER*, Simone SÜHNEL, Aimê Rachel

Magenta MAGALHÃES

Núcleo de Estudos em Patologia Aquícola, Centro de Ciências Agrárias

(CCA), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Rodovia

Admar Gonzaga, 1346, 88040-900, Florianópolis, Santa Catarina (SC),

Brasil. e-mail: [email protected]

Resumo

Este é o primeiro estudo que descreve a ocorrência do copépode da

espécie Pseudomyicola spinosus em cultivos de mexilhões Perna perna nos municípios catarinenses de Palhoça, Florianópolis, Governador

Celso Ramos e Penha. A fase adulta deste parasita foi coletada, na

cavidade do manto, com maior prevalência e taxa de infestação nos

mexilhões de Florianópolis (3,33% e 1,08). Já as fases naupliares foram

registradas através das análises dos cortes histológicos, fazendo parte do

trato digestório, com maior prevalência nos mexilhões da Penha

(17,78%) e maior taxa de infestação nos mexilhões da Palhoça (1,19).

As análises evidenciaram a maior prevalência de adultos no outono

(2,22%) e de fases naupliares no verão (16,67%). Mesmo em situações

de maior prevalência e infestação, não há evidências de danos

histopatológicos no hospedeiro.

Plavras-chave: Patologia, moluscos, mitilicultura, Myicolidae.

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61

Abstract

This is the first study describing the occurrence of copepod species

Pseudomyicola spinosus in culture of the mussel Perna perna in the

municipalities of Santa Catarina Palhoça, Florianópolis, Governador

Celso Ramos and Penha. The adult stage of the parasite was collected in

the mantle cavity, with higher prevalence and infestation rate in mussels

from Florianópolis (3.33% and 1.08). Already the naupliar phases were

registered through the analysis of histological sections, part of the

digestive gland, with higher prevalence in mussels from Penha (17.78%)

and higher infestation rate in mussels from Palhoça (1.19). The analyzes

showed the highest prevalence of adults in the fall (2.22%) and naupliar

phases in summer (16.67%). Even in situations of higher prevalence and

infestation, no histopathological evidence of damage on the host.

Keywords: Pathology, molluscs, mytiliculture, Myicolidae.

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62

1.INTRODUÇÃO

A Sub-Classe Copepoda, que pertence à Classe Maxillopoda e

esta, ao Sub-Filo Crustacea, possui em torno de 14.000 espécies (ITIS,

2015). Alimentam-se do fitoplâcnton e são os principais consumidores

primários das comunidades planctônicas, formando a base da cadeia

trófica pelágica. Possuem reprodução sexuada e ao eclodir do ovo são

chamados de náuplio, apresentando 5 a 6 estágios onde o corpo não é

segmentado. Na próxima fase do desenvolvimento são chamados de

copepoditos, onde possuem corpo segmentado, completando seu

desenvolvimento e se transformando em adulto (Meirinho, 2001). De

acordo com Huys e Boxshall (1991), são classificados em 10 Ordens,

onde metade destas contém exclusivamente espécies parasitas e

simbiontes, incluindo a ordem Poecilostomatoida, da qual faz parte o

copépode da família Myicolidae, Pseudomyicola spinosus (Raffaele &

Monticelli,1885).

Com o incremento do cultivo de moluscos bivalves, pesquisas

têm sido realizadas com foco em parasitas, sendo a ocorrência do

copépode P. spinosus relatada (Tabela 1) em diversas espécies de

mitilídeos, sem registros em bivalves das águas costeiras brasileiras.

No presente estudo foi avaliada a ocorrência de copépodes do

gênero Pseudomyicola em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758)

cultivados em quatro municípios produtores, no litoral de Santa

Catarina, Brasil.

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63

Tabela 1 . Estudos realizados com mitilídeos, relatando a ocorrência

do copépode Pseudomyicola spinosus.

Espécie de bivalve Origem Local Tecido/órgão

parasitado Autores

Mytilus edulis

(Linnaeus, 1758)

Ambiente

natural

França Glândula digestiva Kleeton

(1964)

Holanda - Stock (1965)

Arcachon,

França - Humes (1968)

Ilha de Sado,

Japão Cavidade do manto

Ho

(1980) Suzu, Japão

Cavidade do manto

Esôfago

Yokosuka

Harbor, Japão Cavidade do manto

Kajihara &

Nakamura (1985)

Estreito da

Korea e Mar do

Japão

Cavidade do manto Kim (2004)

Mytilus

galloprovincialis

(Lamarck, 1819)

Ambiente

natural

Toulon e Etang

de Thau, França Intestino

Humes (1968)

Banyuls, França Intestino

Yokosuka

Harbor, Japão Cavidade do manto

Kajihara &

Nakamura (1985)

Cultivo

Baixa

Califórnia,

México

Cavidade do manto Cáceres-Martínez

et al. (1996)

Cultivo

Baixa

Califórnia,

México

Brânquias

Cavidade do manto

e trato digestório

Olivas-Valdez &

Cáceres-Martínez

(2002)

Mytilus californianus

(Conrad, 1837)

Cultivo

Baixa

Califórnia,

México

Cavidade do manto Cáceres-Martínez

et al. (1996)

Ambiente

natural

Baixa

Califórnia,

México

Cavidade do manto

Cáceres-Martínez

& Vásquez-

Yeomans (1999)

Septifer bifurcatus

(Conrad, 1837)

Ambiente

natural

Baixa

Califórnia,

México

Cavidade do manto

Cáceres-Martínez

& Vásquez-

Yeomans (1999)

Septifer virgatus

(Wiegmann, 1837)

Ambiente

natural

Sirahama, Japão Cavidade do manto Ho

(1980)

Japão - Do & Kajihara

(1986)

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64

2.MATERIAL E MÉTODO

Locais de coletas

Durante o período de julho de 2010 a junho de 2011, foram

amostrados mensalmente 240 mexilhões ao longo da costa do estado de

Santa Catarina, sul do Brasil. As amostragens (n=60 por local) foram

realizadas em cultivos comerciais localizados nos municípios de

Palhoça (27º45’23”S, 48º37’07”W), Governador Celso Ramos

(27º22’16”S, 48º33’43”W) e Penha (26º46’59”S, 48°36’17”W) e em

cultivo experimental (UFSC) no município de Florianópolis

(27º29’27”S, 48º32’23”W), totalizando 2.880 animais. Nos dias das

coletas dos mexilhões também foram aferidos os dados de salinidade,

através da média de 3 amostras de água do mar, com o auxílio de

salinômetro Alfakit. A temperatura foi registrada ao final de cada coleta

com o auxílio de um termômetro de mercúrio que permaneceu submerso

a uma profundidade de 1m.

As coletas foram realizadas em 05 cordas pré-determinadas e os

animais transportados em caixas de isopor até o Núcleo de Estudos em

Patologia Aquícola (NEPAQ), do Departamento de Aquicultura, da

Universidade Federal de Santa Catarina. Para avaliar a presença de

copépodes, do total de mexilhões coletados, 1.440 mexilhões foram

analisados ao estereomicroscópio e os outros 1.440 mexilhões à

histopatologia.

Avaliação ao estereomicroscópio

Para observação ao estereomicroscópio, os mexilhões foram

abertos e avaliados quanto à presença de copépodes e anomalias no

tecido dos mexilhões.

Os copépodes coletados foram preservados conforme protocolo

específico, sendo uma parte dos copépodes preservada para fotografia ao

microscópio de contraste diferencial de fase (DIC) e o restante para

microscopia eletrônica de varredura (MEV).

- Fotografia ao microscópio de contraste diferencial de fase

(DIC)

Para esta técnica os copépodes foram fixados em formol 5%

neutro, transferidos para álcool 70%, clarificados e montados com o uso

do polyvinyl-lactophenol. Essa substância dilui os tecidos internos,

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65

preservando o exoesqueleto para medições e observações de peças e

ornamentos que auxiliam na classificação da espécie (National Museum

of Natural History, Smithsonian Institution, 2014).

- Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

Para MEV, os copépodes foram fixados com Glutaraldeído,

lavados com Cacodilato de Sódio, desidratados em série alcoólica

crescente, passados pelo Ponto Crítico, montados em Stubs, cobertos por

ouro e fotografados em microscópio eletrônico de varredura (JEOL

JSM-6390LV), conforme Dawes 1971, Hayat 1972 e Dykstra 1993, no

Laboratório Central de Microscopia Eletrônica da UFSC.

Histopatolog ia

Os tecidos dos mexilhões foram seccionados em fatias de 2 mm

de espessura de acordo com Howard & Smith (1983) and Howard et al.

(2004), colocados em cassetes pré-identificados, fixados em Solução de

Davidson (Bell & Lightner, 1988), desidratados em série crescente de

álcool e incluídos em parafina conforme Paulete-Vanrell (1967). Os

cortes com 5 µm de espessura foram feitos no micrótomo (LUPE, MRP-

03) de navalhas descartáveis, montados em lâminas, corados com

Hematoxilina de Harris e Eosina (Howard & Smith, 1983). Receberam

lamínulas coladas com Erv-Mount e foram analisados e fotografados no

microscópio de luz.

Cada corte histológico foi analisado com a finalidade de registrar

o sexo do bivalve, número e estágio de desenvolvimento dos copépodes

e possíveis danos aos tecidos.

Análise estatís tica

Com os dados coletados, foi analisada a prevalência e infestação

do copépode por local de coleta, estação do ano e mês. A prevalência foi

calculada de acordo com Bush et al. (1997) dividindo o total de

hospedeiros com determinado patógeno pelo total de hospedeiros

estudados em cada local de coleta e a infestação mensal foi calculada

dividindo a quantidade de patógenos pelo número de hospedeiros. Os

dados de prevalência e infestação foram analisados através de teste t

com permutação (não paramétrico) usando multitest proc no SAS®

(Westfall et al., 1999), para avaliar diferenças entre locais, estações,

meses, temperatura e salinidade.

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66

Os dados de temperatura, salinidade e comprimento dos

mexilhões e copépode são apresentados com valores de média e desvio

padrão.

3.RESULTADOS

Ao longo do período experimental, os dados de temperatura e

salinidade foram semelhantes nos quatro locais de coletas, com médias

de 20,6 ± 3,4ºC e 32 ± 3‰ na Palhoça, 20,5 ± 3,4ºC e 33 ± 3‰ em

Florianópolis, 20,6 ± 4,2ºC e 33 ± 4‰ em Governador Celso Ramos e

21,3 ± 3,8ºC e 33 ± 3‰ em Penha. Ambos os parâmetros não

apresentaram diferença estatística entre os locais de estudo.

Os mexilhões que foram analisados através das técnicas de

histologia apresentaram comprimento médio de 85,69 ± 11,74 mm para

os animais da Palhoça, 88,88 ± 13,96 mm para Florianópolis, 76,29 ±

18,54 mm para Governador Celso Ramos e 80,06 ± 49,68 mm para

Penha.

As análises estatísticas dos comprimentos dos mexilhões por

locais registraram diferenças significativas (p<0,05) dos mexilhões de

Governador Celso Ramos em relação aos da Palhoça e Florianópolis.

Analisando o comprimento dos mexilhões em relação às estações do

ano, foram constatadas diferenças (p<0,05) estatísticas entre o verão em

relação ao outono e inverno. Nas análises dos comprimentos em relação

aos meses foram observadas diferenças significativas (p<0,05) do mês

de janeiro em relação a abril e setembro; de maio e junho em relação a

janeiro, novembro e dezembro; de julho em relação a janeiro, fevereiro,

março, abril, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro; de

agosto em relação a janeiro e novembro.

Copépodes analisados ao estereomicroscópio

Copépodes (n=19), na fase adulta, de vida livre, foram coletados

na cavidade do manto dos mexilhões P. perna.

Do total de copépodes coletados, 10 fêmeas foram fotografadas e

medidas no DIC. Estas estavam em sua fase reprodutiva e carregavam

sacos ovígeros com cerca de 20 ovos cada (Figura 1). A média de seus

comprimentos foi de 870 ± 70 µm (maior tamanho de 980 e menor de

740 µm) e a média das larguras foi de 260 ± 30 µm (maior tamanho de

300 e menor de 220 µm). A antena 1 possui 6 segmentos (Figura 2) e a

antena 2 (Figura 3) 3 segmentos, com número variável de espículas no

terceiro segmento (de 12 a 20 espículas). O rostro e a região oral são

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67

apresentados nas figuras 4 e 5, respectivamente. A parte final do urossoma

(Figura 6) possui dois ramos caudais (Figura 7), com características

correspondentes aos copépodes da Ordem Poecilostomatoida.

As fotografias feitas ao microcópio de contraste diferencial de

fase (DIC) possibilitaram a realização de desenhos (Figura 8),

imprescindíveis para a identificação da espécie do copépode, onde foi

possível visualizar os pares de antena 1 e 2, o 1, 2, 3, 4 e 5º pares de

apêndices e o ramo caudal.

Figura 1 a 7. Espécimens de Pseudomyicola spinosus, coletada em mexilhões Perna perna cultivados em Santa Catarina, Brasil, utilizando técnica Polyvinil-

Lactofenol e fotografia ao microscópio de contraste diferencial de fase. Fig 1. Vista dorsal de fêmea de copépode (seta: sacos ovígeros) (Barra: 200 µm). Fig

2. Detalhe da antena 1 (setas indicando os 5 segmentos) (Barra: 32 µm). Fig 3. Detalhe da antena 2 (setas indicando os 3 segmentos) (Barra: 32 µm). Fig 4.

Detalhe do rostro (Barra: 20µm). Fig 5. Detalhe da região oral (Barra: 20 µm). Fig 6. Detalhe do urossoma (seta) (Barra: 130 µm). Fig 7. Detalhe dos ramos

caudais e segmento anal (Barra: 32 µm).

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68

Figura 8. Representação esquemática de fêmea de Pseudomyicola spinosus, em

vista ventral, com detalhes das antenas 1 e 2 e dos apêndices 1, 2, 3, 4 e 5 e do ramo caudal que são estruturas que caracterizam esta espécie de copépode.

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Os outros 9 exemplares coletados no esteriomicroscópio foram

tratados para Microscopia Eletrônica de Varredura, produzindo imagens

que também auxiliaram na identificação da espécie. Na figura 9 é

possível identificar, no cefalotórax, a presença dos pares de antena 1 e 2

com suas segmentações características, a região oral e os 5 pares de

apêndices. Já no urossoma, a presença do segmento anal e dos ramos

caudais.

Figura 9. Fêmea de Pseudomyicola spinosus sem sacos ovígeros coletados em mexilhões Perna perna cultivados em Santa Catarina, Brasil. Técnica

Microscopia Eletrônica de Varredura. Vista ventral com setas indicando as principais estruturas.

Histopatolog ia

As fases naupliares destes copépodes, apresentando comprimento

médio de 107,70 ± 28,14 µm foram registradas através das análises dos

cortes histológicos nas gônadas, brânquias, glândulas digestivas e

lúmem do estômago dos mexilhões (Figuras 10 a 13).

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70

Figura 10 a 13. Náuplios de Pseudomyicola spinosus registrados através das análises das lâminas histológicas nos mexilhões Perna perna cultivados em

Santa Catarina, Brasil. Fig 10. Náuplio no lúmem do estômago (comprimento = 94,40 µm). Fig 11. Náuplio entre os filamentos branquiais (comprimento =

87,56 µm). Fig 12. Náuplio no tecido gonádico de um mexilhão macho (comprimento = 88,04 µm). Fig 13. Último estádio de copepodito no tecido da

glândula digestiva (comprimento = 170,18 µm). Coloração: HHE. Barras: 40µm (Figs. 10 a 12); 100 µm (Fig. 13). 10 a 13.

Durante o período da pesquisa não foram observadas alterações

macroscópicas nem mortalidades nos mexilhões onde este parasita foi

registrado em suas fases naupliares.

O maior número de copepoditos, 175 (12%), foi registrado no

trato digestório fazendo parte do conteúdo estomacal dos mexilhões, 5

(0,35%) entre os filamentos branquiais e 3 (0,21%) nas gônadas e os

estágios pré-emergentes destes parasitas, no tecido conjuntivo da

glândula digestiva de dois mexilhões, onde não foram observadas

infiltrações hemocitárias.

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Prevalência e infestação

A prevalência deste patógeno, em sua fase adulta, amostrado ao

estereomicroscópio por locais, registrou diferenças significativas

(p<0,05) dos mexilhões de Florianópolis em relação aos de Governador

Celso Ramos e Penha, entre o outono e as outras estações e entre os

meses de abril, junho e dezembro e os outros meses. As análises das

taxas de infestações não apresentaram diferenças significativas entre os

locais, estações e os meses do ano (Tabela 2).

Tabela 2. Prevalência (%) e taxa de infestação médias ± desvios padrões

do copépode Pseudomyicola spinosus, em sua fase adulta, nos

mexilhões analisados através do estereomicroscópio (n=360/local),

avaliados por locais, estações e meses. Onde: P = Prevalência; I =

Infestação. Local de coleta Prevalência média(%)

± DP

Infestação média(%)

± DP

Palhoça 0,83 ± 1,50 0,25 ± 0,45

Florianópolis 3,33 ± 3,76 0,61 ± 0,54 Governador Celso Ramos 0,56 ± 1,92 0,08 ± 0,28

Penha 0,28 ± 0,96 0,08 ± 0,28

Estação do ano

Inverno 0,56 ± 0,64 0,50 ± 0,57 Primavera 0,83 ± 1,06 0,50 ± 0,57

Verão 1,39 ± 2,10 0,50 ± 0,57 Outono 2,22 ± 3,14 0,54 ± 0,62

Ano Mês do ano

Prevalência (%) / Infestação

2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

P I P I P I P I P I P I 1,67 1,00 0 0 0 0 0 0 0 0 2,50 1,00

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

P I P I P I P I P I P I 0,83 1,00 1,67 1,00 1,67 1,00 3,33 1,25 0,83 1,00 2,50 1,00

As análises de prevalências deste patógeno, em suas fases

naupliares, amostrado por histopatologia por locais registraram

diferenças significativas (p<0,05) dos mexilhões da Penha em relação

aos de Governador Celso Ramos, Palhoça e Florianópolis. Analisando a

prevalência entre as estações do ano, foram constatadas diferenças

(p<0,05) estatísticas entre os resultados obtidos durante o verão em

relação à primavera, o inverno e o outono. Em relação aos meses foram

observadas diferenças significativas (p<0,05) dos meses de janeiro e

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72

fevereiro em relação a março, abril, junho, agosto, setembro e outubro e

de fevereiro em relação a maio e julho. As análises das taxas de

infestações não apresentaram diferenças significativas entre locais,

estações e meses do ano (Tabela 3).

Tabela 3. Prevalência (%) e taxa de infestação médias ± desvios padrões

do copépode Pseudomyicola spinosus, em suas fases naupliares, nos

mexilhões analisados através da histologia (n=360/local), avaliados por

locais, estações e meses. Onde: P = Prevalência; I = Infestação. Local de coleta Prevalência média(%)

± DP

Infestação média(%)

± DP

Palhoça 7,50 ± 10,83 0,59 ± 0,63

Florianópolis 5,56 ± 5,74 0,71 ± 0,75 Governador Celso Ramos 7,78 ± 6,40 1,07 ± 0,64

Penha 17,78 ± 16,35 1,42 ± 0,97

Estação do ano

Inverno 6,94 ± 4,83 1,21 ± 0,41 Primavera 9,44 ± 1,92 1,55 ± 0,44

Verão 16,67 ± 12,20 1,21 ± 0,15

Outono 5,56 ± 5,05 0,92 ± 0,66

Ano Mês do ano

Prevalência (%) / Infestação 2010 Jul Ago Set Out Nov Dez

P I P I P I P I P I P I 9,17 1,18 6,67 2,00 5,00 1,00 3,33 1,00 10,83 1,15 14,17 2,00

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

P I P I P I P I P I P I 19,17 1,39 25,83 1,06 5,00 1,17 6,67 1,25 7,50 1,11 2,50 1,33

4.DISCUSSÃO

Invertebrados são os hospedeiros que mais possuem copépodes

parasitas, a maioria da ordem Poecilostomatoida, que inclui a família

Myicolidae e esta, a espécie P. spinosus (Humes, 1994; Kim, 2004;

Huys et al. 2006).

A identificação da espécie de copépode P. spinosus, coletada nos

mexilhões cultivados em Santa Catariana, foi realizada através das

análises dos cortes histológicos, fotografias de exemplares e peças

individualizadas ao microscópio de contraste diferencial de fase (DIC),

as quais possibilitaram sua caracterização morfológica.

De acordo com Humes (1968), o corpo P. spinosus é dividido em

prossoma (cefalossoma e metassoma) e urossoma. No cefalossoma está

o par de antenas 1 ou antênulas, com seis segmentos e o par de antenas 2

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73

ou simplesmente antenas com tres segmentos, sendo que o 1º segmento

possui de 12 a 20 espículas. Nesta parte do corpo também estão

localizadas a mandíbula, 1ª e 2ª maxila e maxilípede. Os cinco pares de

apêndices estão localizados no metassoma e são compostos por

endopodito e exopodito com ornamentações de espinhos e cerdas em

números diferenciados (Tabela 4), exceto o 5º par de apêndices que

possui um segmento distal sub-circular. O urossoma é composto pelo

segmento genital, 1º e 2º segmentos abdominais, segmento anal e ramo

da furca ou caudal. A fêmea é distinguida por carregar dois sacos

ovígeros dorso-lateral.

Tabela 4. Pares de apêndices e ornamentações dos endo e exopoditos.

Numerais romanos indicam o número de espinhos e arábicos o número

de cerdas, de acordo com Humes (1968).

Par de apêndices Exopodito Endopodito

1 IV-4 I-1 I-0 II-4 0-1 0-1

2 IV-5 I-1 I-0 III-3 II-0 I-0

3 V-5 I-1 I-0 IV-2 0-2 0-1

4 IV-5 I-1 I-0 IV-1 0-2 0-1

Pseudomyicola spinosus habita a cavidade do manto e brânquias

de moluscos bivalves, onde seu deslocamento pode causar erosões,

derramamento de hemolinfa e infiltração hemocitária, além de

produzirem grande dano ao sistema digestório e ao tecido conjuntivo da

glândula digestiva, onde podem ser encapsulados e se chegarem ao

tecido gonadal, interferir na produção de gametas em Mytilus

galloprovincialis, M. californianus, Chione fluctifraga, Nodipecten sub-nodosus (Moore et al. 1978, Lowe & Moore 1979, Figueras et al. 1991,

Robledo et al. 1994a,b, Olivas-Valdéz & Cáceres-Martínez 2002,

Tinoco-Orta & Cáceres-Martínez 2003, Cáceres-Martínez et al. 2007).

De acordo com Davey (1989) em M. edulis no Mar do Norte,

Cáceres-Martínez & Vásquez-Yeomans (1997) em M. galloprovincialis

e M. californianus no México é incerto que P. spinosus provoque

mortalidades massivas em mexilhões. Em se tratando de mortalidades

em cultivos de M. galloprovincialis, estas têm sido atribuidas ao parasita

Myicola intestinalis na Holanda (Korringa, 1951); no Canadá (Li &

Clyburne, 1979) e na Itália (Munford et al. 1981).

O maior número de copepoditos observado no trato digestório

dos mexilhões no presente estudo corroboram com os encontrados por

Dinamani & Gorgon (1974) em Crassostrea glomerata da Nova

Page 74: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

74

Zelândia e com Cáceres-Martínez et al. (2005) em Argopecten

ventricosus do México, ambas com P. spinosus.

Em pesquisas realizadas por Cáceres-Martínez et al. (1996) e

Olivas-Valdez & Cáceres-Martínez (2002), a prevalência e a taxa de

infestação do copépode, foi relacionada com o tamanho dos hospedeiros

onde, mexilhões maiores possuiam mais copépodes. Mesmo nestas

condições e com relatos de lesões histológicas, não houve evidências de

mortalidade dos hospedeiros, indicando equilíbrio na relação copépode-

hospedeiro.

A relação entre tamanho do hospedeiro, prevalência e taxa de

infestação do parasita também foi registrada durante o período dessa

pesquisa. A fase adulta do copépode foi observada ao

estereomicroscópio, na cavidade do manto dos mexilhões, apresentou

maior prevalência e taxa de infestação nos mexilhões de Florianópolis,

que apresentaram o maior tamanho (88,88 ±13,96 mm). Já a fase

naupliar foi observada através das análises dos cortes histológicos, no

trato digestório dos mexilhões, com maior prevalência nos mexilhões da

Penha e maior taxa de infestação nos mexilhões da Palhoça, que

mediram 80,06±49,68 e 85,69±11,74 mm de comprimento,

respectivamente.

Em pesquisa realizada por Goater & Weber (1996) mostrando a

relação entre Mytilus trossulus e Mytilicola orientalis, do Canadá, foi

registrada uma associação positiva entre abundância de copépodes e

tamanho, idade, taxa de filtração e tolerância do hospedeiro. Esse fato

também foi observado por Gee & Davey (1986) quando estudaram a

relação entre Myticola intestinalis e M. edulis da costa europeia.

A maior ocorrência de fêmeas adultas de P. spinosus na atual

pesquisa coincide com os resultados de Do & Kajihara (1986) em M. edulis do Japão; Dinamani & Gordon (1974) em C. glomerata da Nova

Zelândia e Cáceres-Martínez & Vásquez-Yeomans (1997) em M. galloprovincialis e M. californianus do México.

Na atual pesquisa as maiores prevalências da fase adulta e fases

naupliares deste copépode foram registradas durante os meses do outono

e verão, 2,22 e 16,67%, respectivamente.

Em pesquisa realizada por Sabry et al. (2011), o copépode

encontrado no estômago da ostra C. rhizophorae de Ribeirão da Ilha,

Santa Catarina, Brasil, com a prevalência de 3,3%, no mês de

março/2008, possivelmente pertencia ao gênero Pseudomyicola.

Diversas pesquisas vêm registrando a presença da fase adulta

deste copépode parasita em outros moluscos bivalves e em épocas

distintas, como as realizadas por Dinamani & Gordon (1974) em C.

Page 75: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

75

glomerata da Nova Zelândia, onde a fase adulta foi registrada durante

verão; Humes (1984) em Anadara obesa do Panamá, no mês de

novembro; Olivas-Valdez & Cáceres-Martínez (2002) em M.

galloprovincialis do México, entre outubro a janeiro, e Leung & Poulin

(2007) com Austroventus stutchburyi da Nova Zelândia, em novembro;

Cáceres-Martínez et al. (1996) com M. galloprovincialis e M. californianus, em março e maio e por Cáceres-Martínez et al. (2005)

com Argopecten ventricosus, nos meses de julho a setembro, ambas

realizadas no México.

De acordo com Teia dos Santos & Coimbra (1995) em pesquisa

realizada com Mytilus edulis da Ria de Aveiro, Portugal entre 1980 e

1987, moluscos bivalves podem apresentar uma relação simbiótica com

alguns predadores, competidores ou parasitas que podem causar dano

gonádico e diminuição significativa na produção, quando cultivados em

grandes concentrações.

Apesar de não terem sido observadas alterações no tecido dos

mexilhões parasitados pelo copépode, Cáceres-Martínez et al. (1996),

em pesquisa realizada com Mytilus galloprovincialis e M. californianus

e Cáceres-Martínez et al. (2005), com Argopecten ventricosus, ambas no

México, consideram P. spinosus um parasita facultativo, podendo ser

prejudicial aos cultivos de moluscos.

A ação deste copépode nos tecidos dos mexilhões, durante o

período e na densidade registrada por esta pesquisa, não é responsável

por danos histológicos que provoquem mortalidades nos cultivos. Novas

pesquisas são necessárias com a finalidade de monitorar os cultivos de

mexilhões e fornecer mais dados sobre a interação entre esta espécie de

copépode e os mexilhões P. perna.

5.CONCLUSÕES

Copépodes da espécie P. spinosus, Família Myicolidae, Ordem

Poecilostomatoida, em suas fases adulta e naupliar, foram observados

parasitando o mexilhão P. perna, sem causar danos ao hospedeiro.

6.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa e

Inovação do Estado de Santa Catarina - FAPESC, pelo apoio financeiro

recebido através do Projeto 17287/2009-1 e aos mitilicultores que

forneceram os mexilhões para esta pesquisa.

Page 76: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

76

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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81

CAPÍTULO IV

TURBELÁRIO Urastoma cyprinae EM MEXILHÕES

Perna perna CULTIVADOS NO SUL BR ASIL.

O artigo será enviado para publicação no periódico

Diseases of Aquatic Organisms , tendo s ido redigido

segundo as normas da referida revista cientí fica.

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82

TURBELÁRIO Urastoma cyprinae EM MEXILHÕES

Perna perna CULTIVADOS NO SUL BRASIL.

Ana Lúcia Carneiro-Schaefer, Simone Sühnel e Aimê Rachel Magenta

Magalhães

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Centro de Ciências

Agrárias, Departamento de Aquicultura, Núcleo de Estudos em

Patologia Aquícola. Rodovia Admar Gonzaga, 1346 – CEP: 88034-001

– Itacorubi – Florianópolis – SC – Brasil. e-mail: [email protected]

(autor correspondente)

Resumo

Turbelários da espécie Urastoma cyprinae foram coletados entre os

filamentos branquiais de mexilhões Perna perna cultivados nos

municípios catarinenses de Palhoça, Florianópolis, Governador Celso

Ramos e Penha. Durante o período de julho de 2010 a junho de 2011,

foram realizadas coletas mensais e análises macro e microscópicas. As

maiores prevalências foram registradas através das análises ao

estereomicroscópio (54,17%), no município de Penha. Já os mexilhões

da Palhoça apresentaram a maior taxa de infestação (7,44). Apesar de

apresentarem prevalência e taxa de infestação elevadas, durante o

período da pesquisa, não há evidências de que este parasita seja

causador de danos histopatológicos em seu hospedeiro.

Palavras-chave: Patologia, Perna perna, Urastoma cyprinae,

parasitismo.

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83

Abstrat

Turbellarians of the species Urastoma cyprinae were collected among

the gill filaments of Perna perna mussels cultivated in Palhoça,

Florianópolis, Governador Celso Ramos and Penha, municipalities of

Santa Catarina state. During the period of July 2010 to June 2011,

samples for macro and microscopic analysis and samples were taken

monthly. The analysis on the stereoscopic microscope showed highest

prevalence rates (54.17%) of U. cyprinae in the mussels from Penha.

Already the mussels from Palhoça had the highest infestation rate

(7.44). Despite showing high prevalence and infestation rate during the

study period, there is no evidence that this parasite is causing

histopathological damage to its host.

Keywords: Pathology, Perna perna, Urastoma cyprinae, parasitism.

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84

1.INTRODUÇÃO

Entre os Platyhelminthes de vida livre, conhecidos como

turbelários, a maioria das espécies é encontrada colonizando ambientes

de água doce e marinhos, podendo viver associados a vertebrados, mas

principalmente a invertebrados (Rohde 2001). De acordo com Jennings

(1971) diversas espécies de turbelários vivem como comensais ou

parasitas, principalmente de invertebrados. Os turbelários (Rhabdocoela)

dos gêneros Paravortex (Wahl, 1906) e Graffilla (Ihering, 1880),

pertencentes à família Graffillidae, são parasitas intestinais de moluscos

(Cannon & Lester 1988). Espécies de Paravortex foram encontradas

dentro do sistema digestivo de bivalves e de gastrópodes (Linton 1910;

Ball 1916; Fleming et al. 1981 e Brusa et al. 2006).

O turbelário (Fecampiida) Urastoma cyprinae (Graff, 1882),

pertencente à família Urostomidae, foi considerado como comensal da

cavidade paleal do bivalve Arctica islandica (Linnaeus, 1767) em

Alemania (Westblad,1955), que registrou uma fase de sua vida sobre

algas marinhas. Marcus (1951) a menciona no litoral de São Paulo

(Brasil) vivendo entre as algas. Murina & Solonchenko (1991) os

consideram comensais, podendo influenciar na reprodução e no

crescimento de Mytilus galloprovincialis (Lamarck, 1819). Robledo et

al. (1994a) registraram que este turbelário poderia causar reações

patológicas e redução da capacidade de alimentação do mexilhão,

devido a desorganização dos filamentos branquiais. Zeidan et al. (2012)

o nomeiam como um ectocomensal sem provocar danos aparentes em

três espécies de moluscos bivalves.

Com o incremento do cultivo de moluscos bivalves, pesquisas

têm sido realizadas com foco em parasitas, sendo a ocorrência do

turbelário U. cyprinae relatada por vários autores em M.

galloprovincialis (Tabela 1).

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85

Tabela 1. Estudos realizados com mitilídeos, relatando a ocorrência do

turbelário Urastoma cyprinae.

Espécie de

bivalve

Origem

dos

moluscos

Local Prevalência

(%) Infestação

Tecido/órgão

parasitado Autor

Mytilus

galloprovincialis

Ambiente

natural

Black Sea

Bulgária

Criméria

Caucasu

40.5 104 Brânquias

Murina &

Solonchenko

(1991)

Cultivo e

ambiente

natural

Ria de

Vigo

Espanha

0 a 90 1 a 11.4 Brânquias Robledo et al.

(1994b)

Cultivo

Rias

galegas

Espanha

3.3 a 13.3

-

Brânquias Villalba et al.

(1997)

Cultivo

Itália

França

Espanha

0 a 86.3

-

Cavidade do

manto e

brânquias

Trotti et al.

(1998)

Cultivo e

ambiente

natural

Baixa

Califórnia,

México

57 a 100

7,4

Cavidade do

manto

Cáceres-

Martínez et

al. (1998)

Cultivo Mar Egeu

Grécia 31.1 a 57.9

32.2

a

60.5

Brânquias Rayyan et al.

(2004)

Ambiente

natural

Estuário de

Vigo

Espanha

82.71 a

99.38

e

48.37 a

93.63

5.77 a

22.2 e

2.34 a

15.74

Brânquias

Crespo-

González et

al. (2010)

Cultivo e

ambiente

natural

Baía de

M’diq

Marrocos

3 a 23 Brânquias Bhaby et al.

(2013)

Mytilus edulis Cultivo

Ria de

Aveiro,

Portugual

0 a 70

267 a 927

Livre e

cavidade do

manto

Teia dos

Santos &

Coimbra

(1995)

Mytilus

californianus

Cultivo e

ambiente

natural

Baixa

Califórnia,

México

10 a 87 1,9 Cavidade do

manto

Cáceres-

Martínez et

al. (1998)

Perna perna Cultivo

Penha,

Santa

Catarina,

Brasil

100 90 Brânquias

Suárez-

Morales et al.

(2010)

No Brasil, turbelários do gênero Urastoma (Urastoma sp.) foram

registrados nas brânquias de Crassostrea gigas e C. rhizophorae (Sabry

et al. 2011) e de Crassostrea gigas e Anomalocardia brasiliana (Da

Silva et al. 2012), em moluscos da Ilha de Santa Catarina. No litoral da

Bahia, estes mesmos turbelários foram observados nas brânquias e

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86

cavidade do manto de C. rhizophorae e Mytella guyanensis por Zeidan

et al. (2012).

No Brasil, turbelários do gênero Urastoma foram registrados

nas brânquias de Crassostrea gigas, C. rhizophorae e Anomalocardia brasiliana (Sabry et al. 2011, Da Silva et al. 2012) da Ilha de Santa

Catarina. No litoral da Bahia, estes mesmos turbelários foram

observados nas brânquias e cavidade do manto de C. rhizophorae e

Mytella guyanensis por Zeidan et al. (2012).

Com o objetivo de identificar a espécie e avaliar a distribuição

do tubelário em mexilhões P. perna cultivados em Santa Catarina,

Brasil, foram realizadas coletas nos principais municípios produtores

desse bivalve: Palhoça, Florianópolis, Governador Celso Ramos e

Penha.

2.MATERIAIS E MÉTODOS

Locais de amostragens

Durante o período de julho de 2010 a junho de 2011, foram

amostrados mensalmente 240 mexilhões ao longo da costa do estado de

Santa Catarina, sul do Brasil. As amostragens (n=60/local) foram

realizadas em cultivos comerciais localizados nos municípios de

Palhoça (27º45’23”S, 48º37’07”W), Governador Celso Ramos

(27º22’16”S, 48º33’43”W) e Penha (26º46’59”S, 48°36’17”W) e em

cultivo experimental (UFSC) no município de Florianópolis

(27º29’27”S, 48º32’23”W), totalizando 2.880 animais. Nos dias das

coletas dos mexilhões também foram aferidos os dados de salinidade,

através da média de 3 amostras de água do mar, com o auxílio de

salinômetro Alfakit. A temperatura foi registrada ao final de cada coleta

com o auxílio de um termômetro de mercúrio que permaneceu submerso

a uma profundidade de 1m.

As coletas foram realizadas em 05 cordas pré-determinadas e, os

animais, transportados em caixas de isopor até o Núcleo de Estudos em

Patologia Aquícola (NEPAQ), do Departamento de Aquicultura, da

UFSC. Do total de mexilhões coletados, 1.440 mexilhões (n=30/mensal)

foram analisados ao estereomicroscópio, com a finalidade de coletar

macropatógenos e os outros 1.440 mexilhões (n=30/mensal), destinados

aos protocolos de análises microscópicas, com a finalidade de avaliar a

presença de micropatógenos.

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87

Avaliação ao estereomicroscópio

Dos animais coletados mensalmente, 30 foram utilizados para

avaliação ao estereomicroscópio (n=30), com a finalidade de registrar o

sexo do mexilhão, a presença dos turbelários, anomalias, pústulas, entre

outros e/ou endoparasitas em suas brânquias e cavidade do corpo.

Dos turbelários coletados, alguns foram mantidos vivos para

posterior coloração com corante vital e outros, preservados com

fixadores apropriados para histologia clássica com cortes seriados e

microscopia eletrônica de varredura (MEV).

Observações em vivo

Os turbelários mantidos vivos foram corados com o corante vital

vermelho neutro, colocados entre lâmina e lamínula com uma gota de

água do mar, observados e fotografados ao fotomicroscópio.

Cortes seriados

Os turbelários fixados em formaldeído 10% foram preservados

em álcool 70%, desidratados em álcool 80%, 90%, 95%, 100% e

butílico, emblocados em Paraplast, cortados a uma espessura de 5 µm

em plano sagital, corados com coloração tricrômica orange G, ponceau

de xilidina e fucsina ácida, uma alteração do corante de Mallory e do

corante de Masson (Romeis 1968), observados e fotografados ao

fotomicroscópio.

Microscopia eletrônica de varredura

No Laboratório Central de Microscopia Eletrônica da

Universidade Federal de Santa Catarina, os turbelários fixados foram

lavados, pós-fixados em tetróxido de ósmio, lavados novamente e

desidratados em séries alcoólicas crescentes, passados pelo Ponto

Crítico, montadas em Stubs, onde receberam a cobertura de ouro e

fotografadas em microscópio eletrônico de varredura (JEOL JSM-

6390LV) (Dawes 1971; Hayat 1972 e Dykstra 1993).

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88

Histopatolog ia

Para complementar as análises, os outros mexilhões (n=30)

tiveram seus comprimentos medidos com o auxílio de um paquímetro

digital e foram abertos para observação e registros de anomalias da parte

interna das valvas e tecidos moles. Após estas análises, foi realizado um

corte transversal de acordo com Howard & Smith (1983), contendo

manto, glândula digestiva, brânquias e tecido gonádico. Os tecidos

foram fixados em solução de Davidson e, após processamento

histológico clássico, incluídos em parafina e os cortes corados com

hematoxilina de Harris e eosina.

Análise estatís tica

A prevalência foi calculada de acordo com Bush et al. (1997)

dividindo o total de hospedeiros com determinado patógeno pelo total

de hospedeiros estudados em cada local de coleta e a infestação mensal

foi calculada dividindo a quantidade de patógenos pelo número de

hospedeiros. Os dados de prevalência e infestação foram analisados

através de teste t com permutação (não paramétrico) usando multitest

proc no SAS® (Westfall et al. 1999), para avaliar diferenças entre

locais, estações, meses, temperatura e salinidade.

3.RESULTADOS

Ao estereomicroscópio foram analisados 1320 mexilhões onde

foram registradas 559 fêmeas, 754 machos e 7 indivíduos de sexo

indeterminado, não tendo sido registrado o sexo dos animais no mês de

julho de 2010, nos 4 locais de coleta. Nas análises histológicas dos 1440

mexilhões foram registradas 662 fêmeas, 658 machos e 120 de sexo

indeterminado. Os cálculos estatísticos mostraram que não houve

diferença significativa entre machos e fêmeas do total de animais

coletados.

Os dados de temperatura (Cº) e salinidade (‰) ao longo do

período de coleta para os quatro locais de estudo são apresentados na

Tabela 2. Ambos os parâmetros não apresentaram diferença estatística

entre os locais de estudo.

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89

Tabela 2. Temperatura e salinidade médias ± desvios padrões da água do

mar nos locais de coleta de Perna perna durante o período de julho de

2010 e junho de 2011.

Local de coleta Temperatura (ºC) Salinidade (‰)

Palhoça 20,6 ± 3,4 32 ± 3

Florianópolis 20,5 ± 3,4 33 ± 3

Governador Celso Ramos 20,6 ± 4,2 33 ± 4

Penha 21,3 ± 3,8 33 ± 3

Os mexilhões analisados através das técnicas de histologia

apresentaram comprimento médio de 85,69 ± 11,74 mm para os animais

da Palhoça, 88,88 ± 13,96 mm para Florianópolis, 76,29 ± 18,54 mm

para Governador Celso Ramos e 80,06 ± 49,68 mm para Penha.

As análises estatísticas dos comprimentos dos mexilhões por

locais registraram diferenças significativas (p<0,05) dos mexilhões de

Governador Celso Ramos em relação aos da Palhoça e Florianópolis.

Analisando o comprimento dos mexilhões em relação às estações do

ano, foram constatadas diferenças (p<0,05) estatísticas entre o verão em

relação ao outono e inverno. Nas análises dos comprimentos em relação

aos meses foram observadas diferenças significativas (p<0,05) do mês

de janeiro em relação a abril e setembro; de maio e junho em relação a

janeiro, novembro e dezembro; de julho em relação a janeiro, fevereiro,

março, abril, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro; de

agosto em relação a janeiro e novembro.

Turbelários da espécie U. cyprinae (Graff, 1882) foram

registrados através das análises histológicas nas brânquias e cavidade do

manto dos mexilhões. A prevalência e as taxas de infestações (Tabela 3)

deste helminto, durante o período do estudo, em geral foram baixas sem

diferença significativa entre locais, estação e meses.

Page 90: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

90

Tabela 3. Prevalência (%) e taxa de infestação médias ± desvios padrões

do turbelário Urastoma cyprinae nos mexilhões analisados através da

histologia (n=360/local), avaliados por locais, estações e meses. Onde: P

= Prevalência; I = Infestação. Local de coleta Prevalência média(%)

± DP

Infestação média(%)

± DP

Palhoça 0,56 ± 1,29 0,25 ± 0,62 Florianópolis 0,56 ± 1,29 0,17 ± 0,38 Gov. Celso Ramos 0,83 ± 1,50 0,25 ± 0,45 Penha 2,50 ± 2,07 0,67 ± 0,49

Estação do ano

Inverno 1,39 ± 1,40 0,75 ± 0,50 Primavera 1,39 ± 2,10 0,50 ± 0,57 Verão 0,28 ± 0,60 0,25 ± 0,50 Outono 1,39 ± 1,06 0,88 ± 0,62

Ano Mês do ano

Prevalência (%) / Infestação

2010 Jul Ago Set Out Nov Dez P I P I P I P I P I P I 0,83 1,0 1,67 1,0 1,67 1,0 0,83 1,0 0,83 1,0 2,50 1,0

2011 Jan Fev Mar Abr Mai Jun

P I P I P I P I P I P I 0 0 0 0 0,83 1,0 1,67 1,0 0,83 1,0 1,67 1,5

A presença deste helminto também foi observada com o auxílio

do estereomicroscópio nas brânquias e cavidade do manto dos

mexilhões. A prevalência deste patógeno, durante o período do estudo,

foi maior na Penha apresentando diferença significativa (p<0,05) em

relação ao encontrado para Governador Celso Ramos e Florianópolis;

entre Palhoça e Florianópolis e entre este e Governador Celso Ramos.

Analisando esse fator em relação às estações do ano observou-se

que a prevalência na primavera apresentou diferença significativa

(p<0,05) do inverno, verão e outono e diferença significativa entre o

outono e o inverno. As análises mensais mostraram diferença

significativa (p<0,05) do mês de janeiro em relação a abril e maio; de

fevereiro, abril e maio em relação a junho, agosto, outubro, novembro e

dezembro; de março e setembro em relação a outubro, novembro e

dezembro; e de agosto em relação a outubro. As análises de infestações

totais não apresentaram diferença significativa para os locais e estações,

mas em relação aos meses, o mês de junho mostrou resultados

significativamente diferentes (p<0,05) dos outros meses (Tabela 4).

Page 91: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

Tab

ela

4.

Pre

val

ênci

a (%

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de

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staç

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édia

s ±

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6 ±

30,1

6

3,7

1 ±

7,5

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Flo

rian

óp

oli

s 15,5

6 ±

15,1

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8 ±

0,5

1

Gov.

Cel

so R

amos

37,7

8 ±

22,3

5

3,2

9 ±

3,2

9

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54,1

7 ±

28,0

7

2,5

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o d

o a

no

Inver

no

38,8

9 ±

24,1

0

2,1

0 ±

0,6

4

Pri

mav

era

51,9

4 ±

27,4

0

3,4

3 ±

2,4

9

Ver

ão

29,7

2 ±

9,9

9

2,0

4 ±

0,5

8

Outo

no

25,0

0 ±

18,6

0

6,1

8 ±

8,6

6

An

o

Mês

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no

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Infe

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2010

Jul

Ag

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O

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Nov

D

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P

I P

I

P

I P

I

P

I

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8,3

3

2,0

7

37

,50

2,8

0

30

,83

2,2

7

57,5

0

1,6

7

50,0

0

3,5

8

48,3

3

7,2

6

2011

Jan

Fev

M

ar

Abr

Mai

Ju

n

P

I

P

I P

I

P

I P

I

P

I

4

4,1

7

2,4

0

14

,17

2,0

0

30

,83

1,8

6

15,0

0

1,8

3

16,6

7

2,0

5

43,3

3

16,9

0

91

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92

Na avaliação em vivo, foram observados cílios e olhos e

estruturas internas como o pênis e a faringe, características para a

identificação da espécie (Figuras 1 e 2).

Figura 1 e 2. Estruturas de Urastoma cyprinae coletados em Perna perna,

corados com corante vital vermelho neutro. Fig. 1 – cílios (C), olhos (O) e pênis (P); Fig. 2 – faringe (F). Barras = 100 µm (Fig. 1) e 40 µm (Fig. 2).

A partir dos cortes seriados dos turbelários coletados nos

mexilhões P. perna, foi possível a confecção do esquema apresentado na

Figura 3. Neste esquema é possível visualizar as mesmas estruturas

registradas por Marcus (1951) e Westblad (1955), como sendo

estruturas anatômicas que caracterizam o turbelário U. cyprinae: cílios

revestindo o corpo de maneira abundante e abaixo deste uma camada

interna de células epidérmicas; na região anterior, presença de glândulas

frontais e olhos trilobados; na região mediana, testículos e ovócitos e na

região posterior, faringe, glândulas da faringe, pênis, vesícula seminal,

canal genital masculino e átrio. Compondo as estruturas corpóreas estão

as glândulas cutâneas e o intestino que se apresenta difuso no interior do

corpo, sem uma membrana que separe este órgão dos outros.

Page 93: Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em … · Ana Lúcia Carneiro Schaefer Macro e micropatógenos em mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) e implicações na mitilicultura

93

Figura 3. Esquema das estruturas internas que caracterizam a espécie Urastoma cyprinae, elaborado com base nos cortes histológicos seriados dos

turbelários coletados nos mexilhões Perna perna. A- átrio; C- cílios; CGM- canal genital masculino; E- epiderme; F- faringe; GF- glândulas da faringe;

GFR- glândulas frontais; GC- glândulas cutâneas; ID- intestino difuso; O- olhos; OV- ovócitos; P- pênis; PP- papila peniana; T- testículos; V- vitelário;

VS- vesícula seminal; VSF- vesícula seminal fina; VSG- vesícula seminal granulosa; SM- septo muscular.

Através dos cortes seriados foi possível observar em detalhe as

estruturas internas e sua localização na região posterior do corpo do

turbelário (Figura 4). Com este detalhamento foi possível visualizar o

átrio, as colunas secretoras do pênis, o ovovitelo duto, a papila peniana e

a vesícula seminal fina e granulosa.

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94

Figura 4. Corte histológico de Urastoma cyprinae coletado em Perna perna. A- átrio; CSP- colunas secretoras do pênis; ID – intestino difuso; PP- papila

peniana; VSF- vesícula seminal fina; VSG- vesícula seminal granulosa. Barra: 40µm.

Os espécimes tratados para Microscopia Eletrônica de Varredura

produziram imagens que auxiliaram na visualização externa do parasita.

(Figuras 5 e 6). Nestas imagens foi possível observar que o corpo do

animal é totalmente revestido por cílios que são responsáveis pelo seu

rápido deslocamento.

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95

Figura 5 e 6. Visão geral de Urastoma cyprinae preparado através do

protocolo de Microscopia Eletrônica de Varredura. Fig. 6- detalhe dos cílios (C) que recobrem o corpo do animal.

Através da análise dos tecidos tratados com o protocolo para

histologia clássica foi observado a presença deste parasita no tecido

gonádico masculino e nas brânquias dos mexilhões P. perna (Figuras

7 a 10).

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96

Figura 7 a 10. Cortes histológicos mostrando a presença do turbelário

Urastoma cyprinae nos tecidos do Perna perna. Fig. 7- Corte longitudinal de U. cyprinae no tecido gonádico masculino (Barra: 100 µm); Fig. 8- Corte

longitudinal de U. cyprinae sobre o tecido branquial; Figs. 9 e 10- Corte transversal anterior de U. cyprinae entre as lamelas do tecido branquial (Barras:

40µm). Onde: BR = brânquia; C = cílios; GD = glândula digestiva; O = olho; TGM = tecido gonadal masculino.

Apesar do número de parasitas observados durante o período da

pesquisa em determinados locais e meses, como na Penha em novembro

(n=143) e dezembro (n=162), em Governador Celso Ramos em

dezembro (n=240) e na Palhoça em junho (n=827), nessa pesquisa não

foi constatada a presença de desarranjos nos filamentos branquiais,

infiltração hemocitária ou necrose dos tecidos.

4.DISCUSSÃO

Segundo Rohde (2001), Uratoma cyprinae é a única espécie

válida, dentro dos Urastomidae e a mais amplamente registrada nas

brânquias de várias espécies de moluscos bivalves. Em seu trabalho,

Marcus (1951) relata que U. cyprinae é um organismo de vida livre

encontrado nos fundos lodosos e que também habita a cavidade do

manto e brânquias de moluscos bivalves. Na Espanha Villalba et al.

(1997), observaram a presença de manchas brancas entre as lamelas

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97

branquiais de M. galloprovincialis.Turbelários do gênero Urastoma tem

sido frequentemente observados nos tecidos branquiais, afetando

moluscos bivalves do ambiente natural e de cultivos. No México,

Caceres-Martínez et al. (1998) registrou turbelários nos filamentos

branquiais e cavidade do manto de M. galloprovincialis e M.

californianus. De acordo com Brun et al. (1999) os Turbelários adultos

apresentam um comportamento fototáxico negativo. Mesmo assim, o

uso do microscópio estereoscópio mostrou ser a melhor maneira para

observação, contagem e coleta deste Turbelário.

As observações realizadas por esta pesquisa, através dos

protocolos de observações em vivo, histologia de cortes seriados e

microscopia eletrônica de varredura, registraram que o turbelário aqui

estudado possui corpo uniformemente coberto por cílios, 2 olhos

trilobados escuros na extremidade frontal, faringe na parte posterior,

poro comum (átrio) onde desembocam a boca, duto genital masculino e

feminino, intestino difuso, localização padrão dos testículos e ovários,

de acordo com o que foi visto por Marcus (1951) em turbelários do

Brasil e Trotti et al. (1998), em animais coletados em M.

galloprovincialis da Itália. Desta maneira, morfologicamente o

turbelário observado nos tecidos branquiais e gonádico dos mexilhões P. perna coletados para esta pesquisa, pertence à espécie U. cyprinae.

Diversas pesquisas tem sido realizadas sobre a ação do turbelário

U. cyprinae sobre mitilídeos, como as de Robledo et al. (1994b),

Cáceres-Martínez et al. (1998), Bhaby et al. (2013) Karagiannis et al.

(2013), na Espanha, México, Marrocos e Grécia, respectivamente,

registrando infiltrações hemocitárias ocasionais nos tecidos branquiais

com destruição parcial destes. Mladineo et al. (2012), na Croácia,

observaram que o turbelário desencadeava uma reação no hospedeiro

sem afetar o crescimento e reprodução do hospedeiro, resultando numa

leve destruição dos tecidos e ativação de hemócitos.

A partir da observação e compreensão dos dados coletados

durante o período da atual pesquisa, podemos afirmar que este

turbelário, nas taxas de infestações encontradas, não representa risco

para os cultivos estudados, pois seria considerado um comensal. O

mesmo foi visto por Jennings (1971), Bower et al. (1994) e Robledo et

al. (1994a), que o consideraram como um comensal em bivalves ou de

vida livre no substrato, mas que poderiam ser classificados como

patogênicos imperceptíveis, assim como fez Villalba et al. (1997)

estudando simbiontes e doenças por eles causadas aos mitilídeos na

Galícia e por Bhaby et al. (2013), na Grécia, ambos trabalhando com M.

galloprovincialis.

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98

Nessa pesquisa foi constatado que o sexo do hospedeiro,

temperatura da água e salinidade durante o período da pesquisa não

tiveram influência na ocorrência destes turbelários. Tanto as análises ao

microscópio de luz, como ao estereomicroscópio mostraram que os

mexilhões de Penha foram os mais afetados. Teia dos Santos & Coimbra

(1995) trabalhando com M. edulis de Portugal, também registraram que

o sexo do hospedeiro não teve influência na ocorrência destes

turbelários e Murina e Solonchenko (1991) relataram que a salinidade

não tem efeito sobre a ocorrência deste parasita, estudando M. galloprovincialis do Caucasus.

Foi visto que não existe uma estação do ano em que a ocorrência

deste patógeno seja maior, diferente do que foi visto em estudos com M. galloprovincialis realizados por Murina e Solonchenko (1991), no

Caucasus, onde foram registrados mais parasitas no inverno e em anos

mais frios; Robledo et al. (1994b), na Espanha e Crespo-González et al.

(2010), no México, onde encontraram mais parasitas no verão e outono

e menos no inverno e por Rayyan et al. (2004) e Karagiannis et al.

(2013), na Grécia, onde registraram maior evento deste parasita no

inverno. Em relação ao tamanho dos hospedeiros não foram registradas

diferenças entre locais, estações e meses, contrariando o que foi visto

por Crespo-Gonzáles et al. (2010) em estudo com M. galloprovincialis

na Espanha, onde os maiores valores de prevalência foram registrados

nos mexilhões maiores. Neste trabalho os pesquisadores relatam que

algumas metodologias podem levantar dúvidas sobre a precisão de

alguns resultados, relatando que Robledo et al. (1994b) surpreendeu ao

apresentar resultados mais favoráveis através de histologia do que por

observações de brânquias dissecadas e observadas sob o

estereomicroscópio, quando técnicas histológicas raramente são

utilizadas para estimar a prevalência e intensidade de infecções por

helmintos.

O tamanho dos mexilhões não teve relação direta com a

ocorrência do turbelário, tendo em vista que os animais coletados

estavam prontos para serem comercializados, contrariando o que foi

visto por Rayyan et al. (2004) e Murina & Solonchenko (1991).

Outro dado interessante foi o observado por Murina e

Solonchenko (1991), onde o maior número de turbelários nos mexilhões

que estavam mais próximos da areia do que do fundo rochoso e menos

ainda nos mexilhões de cultivo; por Karagiannis et al. (2013), que

relatam um aumento na prevalência da infecção pelos turbelários nos

mexilhões cultivados mais perto do fundo o que poderia favorecer o

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99

acesso do parasita ao seu hospedeiro; e por Rayyan et al. (2004), que

registrou o aumento da prevalência e intensidade de U. cyprinae nos

mexilhões localizados nas partes baixas das cordas. Estes dados podem

estar relacionados com o que foi visto por Crespo-González et al. (2005)

que, estudando o ciclo de vida deste turbelário, verificou que este possui

uma fase de maturação sexual nas brânquias de M. gallaprovincialis e

um período reprodutivo, no substrato, onde secreta um casulo, realiza a

postura, com posterior eclosão dos ovos e procura de um novo

hospedeiro.

Dados importantes foram registrados por Cáceres-Martínez et al.

(1998), quando viram que a prevalência de U. cyprinae pode depender

das características ambientais, onde locais mais poluídos teriam menos

turbelários e que a exposição dos mexilhões ao ar durante as marés

baixas reduziria estas chances de infecção considerando que condições

anaeróbias fariam os mexilhões se fecharem, reduzindo a presença de U. cyprinae.

Apesar de ser tratado como parasita de moluscos bivalves, neste

estudo observou-se que a relação entre U. cyprinae e P. perna seria de

comensalismo e não de parasitismo, para a época da pesquisa e as

condições encontradas nos locais de cultivos.

5.CONCLUSÕES

Os turbelários registrados pertencem à espécie U. cyprinae;

O parasita U. cyprinae mostrou não causar danos ao hospedeiro,

durante o período da pesquisa e nas condições de prevalências

e taxas de infestações registradas.

6.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa e

Inovação do Estado de Santa Catarina - FAPESC, pelo apoio financeiro

recebido através do Projeto 17287/2009-1 e aos mitilicultores que

forneceram os mexilhões para esta pesquisa.

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100

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104

CAPÍTULO V

PRIMEIRO REGISTRO DA OCORRÊNCIA DO COPÉPODE

Monstrilla sp. EM MEXILHÕES Perna perna DE CULTIVO, NO

MUNICÍPIO DE PALHOÇA, SANTA CATARINA, BRASIL.

O artigo será enviado para publicação no periódico Diseases of

Aquatic Organisms, tendo sido redigido segundo as normas da

referida revista científica.

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105

PRIMEIRO REGISTRO DA OCORRÊNCIA DO COPÉPODE

Monstrilla SP. EM MEXILHÕES Perna perna DE CULTIVO, NO

MUNICÍPIO DE PALHOÇA, SANTA CATARINA, BRASIL.

Ana Lúcia Carneiro Schaefer, Simone Sühnel, Aimê Rachel Magenta

Magalhães

Núcleo de Estudos em Patologia Aquícola, Departamento de

Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC), Rodovia Admar Gonzaga, 1346, CEP 88040-

900, Florianópolis/SC, Brasil. [email protected]

Resumo

A presença de copépodes do gênero Monstrilla, tem sido registrada na

mitilicultura brasileira. Este é o primeiro registro da ocorrência do

copépode do gênero Monstrilla, em mexilhões Perna perna cultivados

no município de Palhoça, Santa Catarina, Brasil. Durante o período de

julho de 2010 a junho de 2011, foram realizadas coletas mensais de 30

indivíduos. As análises ao estereomicroscópio, microscópio de contraste

diferencial de fase (DIC) e análises através de microscopia eletrônica de

varredura (MEV) e de cortes histológicos com o auxílio da microscopia

de luz, mostraram a presença de fases juvenis e pré-adulta do copépode,

retirado de nódulos presentes no tecido conjuntivo da borda do manto

dos mexilhões. A prevalência de 43,33% foi registrada nos mexilhões

analisados ao estereomicroscópio, apenas no mês de junho de 2010.

Durante o período da pesquisa não foram registradas mortalidades dos

mexilhões.

Palavras-chave: Patologia, Monstrilloida, moluscos bivalves,

parasitismo.

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106

Abstract

The presence of copepods of the genus Monstrilla, has been registered

in the mussels from Brazil. This is the first record of the occurrence of

the copepod genus Monstrilla in Perna perna cultivated in Palhoça,

Santa Catarina state, Brazil. During the period July 2010 to June 2011,

monthly collections of 30 individuals were performed. The analysis

under a microscope stereoscope, phase contrast microscopy (DIC) and

by scanning electron microscopy (SEM) and histopathology, showed the

presence of juvenile and pre-adult stages of the copepod, removed from

nodules present in the connective tissue of the mussels mantle edge. The

prevalence of 43.33% was recorded in mussels analyzed with

stereoscopic microscope, only in June 2010. During the research period

no mussel mortalities were recorded.

Keywords: Pathology, Monstrilloida, bivalve molluscs, parasitism.

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107

1.INTRODUÇÃO

Como em qualquer produção animal, as enfermidades causadas

por parasitas são preocupantes, principalmente pela introdução de

espécies exóticas e o transporte de material biológico vivo (Magalhães e

Ferreira 2006).

Nos ecossistemas aquáticos os copépodes geralmente são os

organismos mais abundantes e possuem grande importância na

transferência de energia entre o fitoplâncton e os animais que estão em

níveis elevados da cadeia trófica (Ara 2004).

Espécies de Monstrilloida são copépodes parasitas que infectam

poliquetas bentônicos, moluscos bivalves e esponjas (Huys et al. 2007;

Suárez-Morales 2011). De acordo com Suárez-Morales et al. (2010),

pouco se sabe sobre o desenvolvimento destes crustáceos por ocorrer no

interior do seu hospedeiro. De acordo com Grygier & Ohtsuka (1995),

os copépodes Monstrilloida possuem uma fase naupliar infecciosa que

penetra nos tecidos do hospedeiro. Após a infecção é produzida uma

bainha de proteção e um tubo de alimentação, através do qual se

alimenta (Davis 1984; Suárez-Morales 2011). A fase de vida adulta livre

do copépode Monstrilla sp. está presente na coluna d’água e indivíduos

maduros são coletados com frequência por redes de plâncton nas águas

costeiras de todas as latitudes (Davis 1984; Suárez-Morales 2001).

Estudos realizados com espécies de copépodes Monstrilloida

registraram a ocorrência deste parasita em peixes (Suárez-Morales &

Santana-Piñeros 2008), moluscos (Suárez-Morales et al. 2010),

poliquetas (Suárez-Morales et al. 2014) e amostras de plâncton. Um

resumo dessas informações encontra-se na Tabela 1.

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108

Tabela 1. Síntese de pesquisas realizadas com copépodes Monstrilloida. Hospedeiro ou

Local de

amostragem

Especificação Local de

procedência Autor

Moluscos Perna perna Penha, Santa

Catarina, Brasil

Suárez-Morales

et al. (2010)

Poliquetas Haplosyllis sp. Hawai, EUA Suárez-Morales

et al. (2014)

Plâncton

Lagoa de recife Península de

Yucatan, México

Suárez-Morales & Islas-

Landeros (1993); Suárez-

Morales (1994) e Suárez-

Morales & Gasca (1998)

Baía de Ilha Grande Rio de Janeiro Dias (1996)

Enseada de Itapocoroi,

próximo aos cultivos

Penha, Santa

Catarina, Brasil Duarte (1999)

Zona costeira Rio de Janeiro e

Bahia, Brasil

Suárez-Morales & Dias

(2000)

Baía Suape

Pernambuco,

Brasil

Zona costeira

Espírito Santo e

Rio de Janeiro,

Brasil

Mahahual Recife no Caribe

Mexicano Suárez-Morales (2001)

Baía de Zihuatanejo Pacífico Mexicano Suárez-Morales & Alvarez-

Silva (2001)

Banco Chinchorro Caribe Mexicano Suárez-Morales (2003)

Zona costeira Valparaíso, Chile Suárez-Morales

et al. (2006)

Baía Brown Canal de Beagle Suárez-Morales

et al. (2008)

Depositados em

Museus

Museu Britânico de

História Natural Mar Egeu, Grécia

Suárez-Morales & Alvarez-

Silva (2001)

Museu Nacional de

História Natural dos

EUA

Mindanao,

Filipinas Suárez-Morales (2000)

Museu Nacional de

História Natural de

Berlin, Alemanha

Dry Tortugas,

Flórida, EUA

Suárez-Morales & Gasca

(2004)

Museu de Zoologia da

Universidade de

Amsterdam, Holanda

Mar das Molucas,

Indonésia. Suárez-Morales (2007)

Museu Nacional de

História Natural,

Smithsonian, EUA.

Baía Caldera,

Filipinas Suárez-Morales (2007)

Coleção da

Universidade de Oslo Mar da Noruega Suárez-Morales (2010)

De acordo com Suárez-Morales (2011) a análise da distribuição

mundial das publicações sobre a Ordem Monstrilloida, mostra o

Nordeste Atlântico com 45% do total dos registros, seguida pelo

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109

Noroeste Atlântico com 17% e o hemisfério sul com menos de 3%

(Tabela 2).

Tabela 2. Número de espécies de Monstrilloida descritas e suas regiões

de ocorrência (adaptado de Suárez-Morales, 2011).

Local de ocorrência Número de espécies descritas

Nordeste Atlântico 32

Mar do Caribe – Golfo do México 24

Mediterrâneo – Mar Negro 19

Indonésia – Malásia e Filipinas 17

Japão 17

Brasil e Argentina 16

O objetivo do presente trabalho foi avaliar a ocorrência do

copépode do gênero Monstrillia em mexilhões P. perna, cultivados no

município da Palhoça, Santa Catarina.

2.MATERIAIS E MÉTODOS

Locais de coletas e amostragens

Durante o período de julho de 2010 a junho de 2011, foram feitas

coletas de mexilhões em 5 cordas de um cultivo localizado na Praia do

Cedro em Palhoça (27º45’23”S, 48º37’07”W), litoral de Santa Catarina.

Mensalmente foram amostrados 6 mexilhões de cada corda,

totalizando 30 animais. Os bivalves de cada corda foram colocados em

sacos plásticos diferentes e transportados em caixa térmica até o Núcleo

de Estudos em Patologia Aquícola do Departamento de

Aquicultura/CCA/UFSC, onde foram dissecados dentro de 2 horas após

cada coleta. Nos dias das coletas dos mexilhões também foram aferidos

os dados de salinidade, através da média de 3 amostras de água do mar,

com o auxílio de salinômetro Alfakit. A temperatura foi registrada ao

final de cada coleta com o auxílio de um termômetro de mercúrio que

permaneceu submerso a uma profundidade de 1m.

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110

Coleta de tecido do hospedeiro e de copépodes ao

estereomicroscópio

Mensalmente, os mexilhões (n=30) foram abertos e observados

ao estereomicroscópio com a finalidade de registrar anomalias e/ou

endoparasitas.

Após a identificação de nódulos na borda do manto de alguns

mexilhões, foram realizadas dois tipos de coletas: a) abertura do nódulo

e retirada do copépode, com o auxílio de lâmina de bisturi, agulha e

pinça; e b) retirada do tecido da borda do manto junto com os nódulos e

seu conteúdo, com o auxílio de lâmina de bisturi e pinça.

Os copépodes retirados da protuberâncias foram preservados

conforme protocolo específico, para serem processados para

microscopia eletrônica de varredura (MEV) e para confecção de

imagens com o auxílio do microscópio de contraste diferencial de fase

(DIC). Os tecidos da borda do manto também foram processados para

histopatologia.

- Microscopia eletrônica de varredura No Laboratório Central de Microscopia Eletrônica da

Universidade Federal de Santa Catarina, os copépodes fixados foram

lavados, pós-fixados em tetróxido de ósmio, lavados novamente,

desidratados em série alcoólicas crescentes, passados pelo Ponto Crítico,

montados em Stubs, onde receberam a cobertura de ouro e fotografados

em microscópio eletrônico de varredura (JEOL JSM-6390LV) (Dawes

1971, Hayat 1972 and Dykstra 1993).

- Fotogra fia ao microscópio de contraste di ferencial de fase (DIC)

Para esta técnica os copépodes foram fixados em formol 5%

neutro, transferidos para álcool 70%, clarificados e montados com o uso

do polyvinyl-lactophenol. Essa substância dilui os tecidos internos,

preservando o exoesqueleto para medições e observações de peças e

ornamentos que auxiliam na classificação da espécie (National Museum

of Natural History, Smithsonian Institution, 2014). Os animais

clarificados foram observados e fotografados ao microscópio de

contraste diferencial de fase (DIC).

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111

- Histopatolog ia

As amostras de tecido da borda do manto dos mexilhões contendo

os nódulos foram colocadas em cassetes pré-identificados para serem

fixados em Solução de Davidson (Bell & Lightner 1988). A orientação

dos cortes do tecido da amostra da borda do manto foi longitudinal e

transversal. As amostras foram desidratadas em série crescente de álcool

e incluídas em parafina conforme Paulete-Vanrell (1967). Os cortes de 5

µm de espessura foram feitos com micrótomo (LUPE, MRP-03) de

navalhas descartáveis, montados em lâminas, corados com Hematoxilina

de Harris e Eosina (Howard & Smith 1983), cobertos com lamínulas

coladas com Erv-Mount e observados ao microscópio de luz.

Análise estatís tica

A prevalência foi calculada de acordo com Bush et al. (1997)

dividindo o total de hospedeiros com determinado patógeno pelo total

de hospedeiros estudados em cada local de coleta e a infestação mensal

foi calculada dividindo a quantidade de patógenos pelo número de

hospedeiros. Os dados de prevalência e infestação foram analisados

através de teste t com permutação (não paramétrico) usando multitest

proc no SAS® (Westfall et al. 1999), para avaliar diferenças entre

locais, estações, meses, temperatura e salinidade.

Os dados de comprimento dos copépode são apresentados com

valores de média e desvio padrão.

3.RESULTADOS

Ao longo do período do experimento, os dados médios de

temperatura e salinidade foram de 20,6 ± 3,4ºC e 32 ± 3‰. Os

mexilhões que foram analisados através das técnicas de histologia

apresentaram comprimento médio de 85,69 ± 11,74 mm.

As técnicas de microscopia eletrônica de varredura, fotografia ao

microscópio de contraste diferencial de fase (DIC) e histopatologia

foram utilizadas como ferramentas para a identificação dos copépodes

levou ao gênero Monstrilla. Trata-se do primeiro registro em mexilhões

P. perna cultivados no município de Palhoça/SC.

A ocorrência de copépodes desse gênero, em cultivo comercial de

mexilhões no município da Palhoça, foi registrada apenas no mês de

junho, no outono de 2011, com prevalência de 43,33%, sendo observado

um total de 39 espécimes em 13 mexilhões (infestação = 3).

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112

Coletas ao estereomicroscópio Nas avaliações ao estereomicroscópio, foram visualizadas

nodulações na borda do manto dos mexilhões. Após biópsia destes

nódulos, observou-se a presença de copépodes no seu interior. Os

copépodes, representados pelos espécimes das figuras 1 e 2, foram

retirados dos nódulos que estavam localizados nas bordas do manto dos

mexilhões parasitados.

Fotografias ao microscópio de contraste di ferencial de fase (DIC)

Do total de copépodes coletados, 9 foram clarificados e

fotografados ao microscópio de contraste diferencial de fase (DIC), onde

foi possível visualizar a morfologia de duas fases de copepoditos (Figs.

3 e 4), os tubos de alimentação no copepodito mais jovem (Fig. 3),

copepodito com a segmentação mais nítida (Figs 4 a 6), com o corpo

dividido em cefalossoma, com presença de antênulas frontais,

metassoma e urossoma (Fig. 4), quatro pares de apêndices e somito

genital duplo com espinho ovígero (Fig. 5) e 5° par de apêndices e ramo

caudal (Fig. 6).

Estes indivíduos apresentaram comprimento de 1,21 ± 0,12 mm,

sendo o maior tamanho de 1,50 mm e o menor de 1,03 mm. Os nódulos

no tecido apresentaram comprimento de 0,39 ± 0,17 mm, sendo o maior

tamanho de 0,57 mm e o menor de 0,19 mm.

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113

Figura 1 a 6. Espécimes do copepodito do gênero Monstrilla (fêmea)

encontrados no mexilhão Perna perna. Figs. 1 e 2. Copepodito de Monstrilla

sp., em vistas latero-dorsal e dorsal, observados com o auxílio do estereomicroscópio, retirados de mexilhões P. perna cultivados, na

Palhoça/SC. Detalhes dos ocelos frontais, grandes e pigmentados. Figs. 3 a 6. Copepodito de Monstrilla sp. tratados com Polyvinyl-Lactofenol e

fotografados ao DIC. Fig. 3. Copepodito em vista lateral. Detalhe dos tubos de alimentação frontais. Fig. 4. Copepodito em vista lateral. Corpo dividido

em cefalossoma (CF), metassoma (MT) e urossoma (UR). Destaque para o par de antênulas frontais. Fig. 5. Vista lateral do metassoma e urossoma de

copepodito. Detalhe dos quatro pares de apêndices (P1, P2, P3 e P4) e do somito genital duplo com o par de espinhos ovígeros do copepodito. Fig. 6.

Vista dorsal do urossoma de copepodito. Detalhe do 5° par de apêndices (seta) e do ramo caudal com 5 cerdas. Barras = 200 µm (Figs. 1 a 4) e 40 µm

(Figs. 5 e 6).

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114

As fotografias feitas ao microcópio de contraste diferencial de

fase (DIC) possibilitaram a realização de desenhos (Figura 7), onde foi

possível visualizar o 1, 2, 3 e 4º par de apêndices e o 5º par de apêndices

de copepodito junto ao complexo genital de uma fêmea.

Figura 7. Representação esquemática dos pares de apêndices e urossoma de

copepodito de Monstrilla sp.: (A) 1º par de apêndices; (B) 2º par de apêndices; (C) 3º par de apêndices; (D) 4º par de apêndices; (E) vista ventral do urossoma

com indicação do 5º par de apêndices, somito genital duplo (SGD) e ramo da furca (RF); (F) vista lateral do urossoma. Barras: 40 µm (A, B, C e D); 100 µm

(E e F).

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115

Os quatro pares de apêndices estão localizados no metassoma e

são compostos por endopodito e exopodito com ornamentações de

espinhos e cerdas em números diferenciados (Tabela 3).

Tabela 3. Pares de apêndices e ornamentações dos endo e exopoditos

de copepodito de Monstrilla sp. Numerais romanos indicam o número

de espinhos e arábicos o número de cerdas, de acordo com Suárez-

Morales & Dias (2000).

Par de apêndices Endopodito Exopodito

1 0-1; 0-1; 1,2,2 I-1;0-1;I,1,3

2 - 4 0-1; 0-1; 1,2,2 I-1;0-1;I,1,2,2

Microscopia eletrônica de varredura

Os demais copepoditos coletados (n=30) no estereomicroscópio

foram tratados para microscopia eletrônica de varredura e fotografados.

Com esta técnica foi possível visualizar os pares de tubos alimentares

frontais (Figs. 8 e 9), a membrana que envolve o copepodito quando está

no interior do tecido da borda do manto dos mexilhões (Fig. 10), as

segmentações do corpo do copepodito (Fig. 11), região entre o

cefalossoma e o metassoma, com pares de filamentos que os

copepoditos utilizam para conectar-se ao corpo do hospedeiro e

alimentar-se de seus fluidos (Fig. 12), e o detalhe do tubo oral fechado e

das antênulas na parte frontal do cefalossoma (Fig. 13).

As imagens obtidas através da MEV também auxiliaram na

identificação do gênero Monstrillia.

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116

Figura 8 a 13. Copepodito de Monstrilla sp. preparado através do protocolo de

Microscopia Eletrônica de Varredura em fases distintas. Figs. 8 e 9 – Vista ventral de copepoditos com os pares de tubos alimentares frontais. Fig. 10 –

Vista lateral de copepodito com parte da membrana que o envolve dentro do hospedeiro. Fig. 11 – Vista latero-dorsal de copepodito. Fig. 12 – Vista dorsal

de copepodito com detalhe da região entre cefalossoma e metassoma, mostrando pares de filamentos utilizados para alimentação. Fig. 13 – Vista

lateral de copepodito com detalhe do tubo oral fechado e das antênulas, na parte frontal do cefalossoma.

Histopatolog ia

As análises dos cortes histológicos dos tecidos da borda do manto

contendo os copepoditos evidenciaram que o mexilhão não apresentava

infiltração hemocitária, ou seja, o mexilhão não produz uma defesa em

relação à presença deste parasita. Além disso, a histologia auxiliou na

identificação do gênero do copépode, onde foi possível visualizar a

presença do copepodito de Monstrilla sp. no tecido conjuntivo da borda

do manto dos mexilhões, em corte transversal (Fig. 14), detalhe dos

apêndices do copepodito em corte transversal (Fig. 15), corte

longitudinal de copepodito no tecido conjuntivo da borda do manto (Fig.

16) e corte longitudinal de copepodito com destaque para o tubo

alimentar no tecido conjuntivo da borda do manto (Fig. 17).

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117

Figura 14 a 17. Copepodito de Monstrilla sp. preparado para Histologia. Fig.

14 – Corte transversal de copepodito no tecido conjuntivo da borda do manto

(BM). Fig. 15 – Detalhe dos apêndices do copepodito em corte transversal.

Fig. 16 - Corte longitudinal de copepodito no tecido conjuntivo da borda do manto. Fig. 17 – Corte longitudinal do copepodito com indicação do tubo

alimentar no tecido conjuntivo da borda do manto. Barras: Figs. 14 e 17 (200 µm) e Figs. 15 e 16 (40 µm).

4.DISCUSSÃO

A descoberta da ordem dos copépodes Monstrilloida data de

1841, sendo representados por 116 espécies, agrupadas em 4 gêneros,

das quais 56 pertencem ao gênero Monstrilla (Suárez-Morales 2011).

A maior parte das pesquisas tem sido realizada com exemplares

adultos coletados no plâncton ou com material biológico depositado em

coleções científicas. Pesquisas utilizando material coletado em

hospedeiros como poliquetas e moluscos bivalves foram realizadas por

Suárez-Morales et al. (2010) e Suárez-Morales et al. (2014).

A ocorrência deste gênero de copépode em cultivos comerciais

de P. perna, foi relatada pela primeira vez por Suárez-Morales et al.

(2010) na Penha/SC, Brasil, apresentando prevalência de 25,6%. Até

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118

este registro sua presença era relatada em gatrópodes prosobrânquios

(classificação em desuso por serem parafiléticos), numa prevalência de

2% (Pelseneer 1914) e em anelídeos poliquetas, com prevalência de 1%

(Hartman 1964).

Nos Monstrilloida somente os estágios adultos e naupliares

possuem vida livre planctônica sem se alimentar (Isaac 1975), pois estes

copépodes produzem um tubo alimentar (Figs. 3, 8, 9 e 17) em sua fase

de endoparasita seus hospedeiros (Figs. 1 e 2).

De acordo com Suárez-Morales et al. (2010), a taxonomia de

Monstrilloida é realizada exclusivamente a partir dos estudos realizados

com exemplares adultos. Nos copépodes analisados nessa pesquisa foi

possível identificar fêmeas juvenis pela presença do somito genital

duplo ou espinhos ovígeros (Figs. 5, 7E e 7F) e de 6 cerdas caudais

(Figs. 6 e 7E) que, de acordo com Suárez-Morales & Gasca (2004) e

Suárez-Morales (2011), caracterizam as fêmeas do gênero Monstrilla e

permanecem inalteradas durante seus estágios juvenis e pré-adulto. Nos

exemplares analisados ao estereomicroscópio, após a abertura dos

nódulos, foi possível observar a presença de ocelos frontais (Figs. 1 e 2),

de acordo com o que também foi registrado por Suárez-Morales et al.

(2014).

Morfologicamente podemos afirmar que o copépode coletado nos

tecidos da borda do manto dos mexilhões P. perna estudados nesta

pesquisa, é uma fêmea juvenil pertencente ao gênero Monstrilla.

5.CONCLUSÕES

Os copepoditos retirados dos nódulos localizados nas bordas do

manto dos mexilhões P. perna cultivados no município de Palhoça, são

fêmeas juvenis pertencentes ao gênero Monstrilla;

As análises dos cortes histológicos mostraram ausência de

infiltração hemocitária nos tecidos das bordas do manto, indicando que a

presença desses endo parasitas não provocou reação do hospedeiro,

durante o período da pesquisa e nas condições de prevalências e taxas de

infestações registradas.

Estudos complementares são necessários, não apenas nos cultivos

da Palhoça, mas nos principais municípios produtores de moluscos

bivalves de Santa Catarina, com a finalidade de coletar indivíduos

adultos para caracterização da espécie.

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119

6.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa e

Inovação do Estado de Santa Catarina - FAPESC, pelo apoio financeiro

recebido através do Projeto 17287/2009-1 e aos mitilicultores que

forneceram os mexilhões para esta pesquisa.

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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123

Resumo da Tese

Após um ano de pesquisa nos municípios de Palhoça,

Florianópolis, Governador Celso Ramos e Penha, que são os principais

produtores do mexilhão Perna perna em Santa Catarina, podemos

afirmar que enfermidades de notificação obrigatória pela OIE, não estão

presentes nas mitiliculturas catarinenses;

Os patógenos registrados durante o período da pesquisa e na

densidade de ocorrência, não são causadores de mortalidades, mas a

bucefalose é a patologia que mais preocupa por provocar a castração do

mexilhão.

Copépodes da espécie Pseudomyicola spinosus, em sua fase

adulta e naupliar, foram observados parasitando o mexilhão P. perna,

sem causar danos ao hospedeiro.

Turbelários da espécie Urastoma cyprinae mostraram não causar

danos ao hospedeiro nas condições de prevalências e taxas de

infestações registradas durante o período da pesquisa.

Os copépodes retirados dos nódulos do tecido da borda do manto

pertencem ao gênero Monstrilla, sem provocar danos aos mexilhões nas

condições de prevalências e taxas de infestações registradas durante o

período da pesquisa.

Considerações finais da Tese

A continuidade dessas pesquisas se faz necessária com a

finalidade de monitorar os patógenos que acometem a malacocultura

catarinense, reconhecer os problemas de saúde animal e fornecer dados

para ações imediatas.