Analgesia Preemptiva Em Odontologia
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7/22/2019 Analgesia Preemptiva Em Odontologia
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ANALGESIA PREEMPTIVA EM ODONTOLOGIA REVISO DE
LITERATURA
PREEMPTIVE ANALGESIA IN DENTISTRY - LITERATURE REVIEW
Roberto Pena C. BAPTISTAI;
Mrcio Gilberto ZANGERNIMOII,
Raimundo Vicente de SOUSAII,
Leandro Silva MARQUESIII,
Luciano Jos PEREIRAII.
I Cirurgio-dentista, aluno do curso de especializao em Farmacologia Atualizao e novas perspectivas
Universidade Federal de Lavras UFLA, Lavras, Minas Gerais, Brasil
II Professores Doutores do Setor de Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal de Lavras UFLA,
Lavras, Minas Gerais, BrasilIIIProfessor Doutor, Programa de Ps-graduao em Clnica Odontolgica, Universidade Vale do Rio Verde,
UNINCOR, Trs Coraes, Minas Gerais, Brasil
Autor Correspondente:
Prof. Dr. Luciano Jos Pereira
DMV Setor de Fisiologia e Farmacologia - [email protected]
(35) 3829-5211 - Caixa Postal 3037 - Campus Universitrio
Universidade Federal de Lavras UFLA, Lavras, MG, Brasil CEP 37200-000
doi:http://dx.doi.org/10.5892/RUVRV.91.3851
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RESUMO: A analgesia preemptiva uma terapia antinoceptiva que objetiva prevenir ambas as
sensibilizaes centrais e perifricas, diminuindo (ou preferencialmente prevenindo) a amplificao da dor
ps-operatria. Este trabalho teve por finalidade principal realizar uma reviso de literatura associada ao
tema, buscando identificar a eficcia da tcnica de analgesia preemptiva no controle da dor ps-operatria,
com a inteno de propor um protocolo farmacolgico de atendimento com uso racional de medicamentosdisponveis no mercado nacional. A reviso da literatura clara no que tange a segurana e eficcia da
tcnica, entretanto, no h consenso sobre qual o regime a ser padronizado. A associao de analgsicos de
ao perifrica com corticosterides por via oral tem sido proposta como uma alternativa eficaz para analgesia
pr-emptiva.
Palavras-chave:Controle da dor, hiperalgesia, nocicepo, conforto ps-operatrio.
ABSTRACT: Preemptive analgesia is a type of antinoceptive therapy which aims preventing both central
and peripheral sensitizations, decreasing (or preferentially preventing) post-operative amplification of pain.
This study had as main objective to carry out a literature review associated with the theme, seeking to identify
the effectiveness of the technique and additionally to propose a pharmacological protocol with rational use of
medicinal products available on the Brazilian market. The review of literature is clear regarding the safety and
efficacy of the technique, however, there is no consensus on the arrangements to be standardized. It seems to
be hopeful the association of analgesics with peripheral action with oral corticosteroids.
Keywords:Pain control, hiperalgesia, nociception, pos-operative care.
INTRODUO
A dor um dos fenmenos
biolgicos mais importantes para a
manuteno do equilbrio homeosttico
dos organismos. inerente a maioria dos
procedimentos odontolgicos,
principalmente aos cirrgicos, sendo sua
variao geralmente relacionada
extenso do procedimento (Pinheiro,
2004). Por se tratar de uma sensao
subjetiva, o profissional s consegue
avali-la aps a descrio do paciente.
Atualmente, com a grande
variedade de frmacos disponveis no
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mercado, h necessidade de aplicar
conhecimentos farmacolgicos para
produzir conforto e ajudar na
desmistificao do medo e da dor no
atendimento odontolgico. Como
ferramenta de grande destaque, a
analgesia preemptiva consiste na
instituio de um regime medicamentoso
prvio ao estmulo nociceptivo, com o
objetivo de prevenir a hiperalgesia e a
subseqente amplificao da dor (Hadzic,
2007). Acredita-se que essa estratgia,
alm de proporcionar conforto ao
paciente, reduz o consumo de analgsicos
no perodo ps-operatrio, reduzindo o
tempo de recuperao do paciente (Kelly
et al, 2001). A adoo desse mtodo
como prtica padro tem sido adiada pela
falta de conhecimento dos cirurgies-
dentistas, dificuldade de se criar um
protocolo com quais drogas deveriam ser
utilizadas, alm de controvrsias sobre o
momento em que o regime farmacolgico
deve ser introduzido.
O objetivo desse trabalho foi
revisar os conhecimentos que embasam
essa ferramenta, discutir as teorias que a
cercam expondo os contedos necessrios
para sua correta compreenso e utilizao
na clnica diria, alm de sugerir
protocolos farmacolgicos descritos na
literatura.
ANALGESIA PREEMPTIVA
O medo e a dor so comuns na
Odontologia e a sua intensidade varia
amplamente. Cerca de 75% das pessoas
relatam uma leve apreenso, enquanto 6 a
20% so acometidas de intensa ansiedade
ao tratamento odontolgico (SCOTT &
HIRSCHMAN, 1982). A dor foi
conceituada pela primeira vez em 1986,
pela Associao Internacional para o
Estudo da Dor (IASP), como uma
experincia sensorial e emocional
desagradvel que est associada a leses
reais ou potenciais. geralmente iniciada
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momento do incio do tratamento, mas ao
fenmeno fisiopatolgico que deve ser
prevenido: a alterao do processamento
sensorial (KISSIN, 1996). J para Kelly
(2001), a analgesia preemptiva uma
terapia antinoceptiva que objetiva
prevenir ambas as sensibilizaes central
e perifricas diminuindo (ou
preferencialmente prevenindo) a
amplificao ps-operatria da sensao
dolorosa. Gozzani (2005) afirma que a
deduo lgica seria de que melhor
tomar medidas preventivas aos efeitos
nociceptivos do que tratar a dor j
estabelecida.
FRMACOS UTILIZADOS
Na tentativa de minimizar a
manifestao clnica do trauma cirrgico
utilizam-se drogas com objetivo de
bloquear os mediadores qumicos
endgenos responsveis pela resposta
inflamatria (WARE et al., 1963;
FERREIRA, 1972; WILLIANS, 1979;
DIONE et al., 1983). Existem trs
grandes grupos de drogas empregados no
controle da dor ps-operatria, tendo sua
atuao em estgios diferentes do
mecanismo da etiopatogenia da dor:
antiinflamatrios no-esteroidais
(AINES), os corticosterides e os
analgsicos (ROCHA, 2003). Todas elas
so usadas nos diversos protocolos
existentes de analgesia preemptiva,
isoladamente ou em associao.
Em odontologia, esses frmacos
esto indicados, geralmente, no controle
de processos inflamatrios agudos, tais
como traumas ps-cirrgicos, ulceraes
bucais auto-imunes, entre outros. Seus
efeitos teraputicos so geralmente,
atribudos supresso dos mltiplos
mecanismos envolvidos na resposta
inflamatria, levando a uma diminuio
dos nveis de mediadores qumicos pr-
inflamatrios no local da injria
(DIONNE, 2003; SHAOJUN, 2007).
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Sabe-se que o edema, na maioria
das vezes, o fator que traz maior
desconforto ao paciente, portanto, ao
limit-lo, a dor e a diminuio de abertura
bucal podero proporcionalmente ser
reduzidas (MESSER & KELLER, 1975).
A classe medicamentosa que mais
eficaz na supresso do edema a dos
corticosterides, pois inibe os mediadores
que influenciam na vasodilatao e
permeabilidade capilar.
Para Kelly et al., (2001), a
condio mais importante para
estabelecimento de um efeito analgsico
preemptivo eficiente consiste em
administrar um nvel ideal de
antinociceptivo antes da injria e manter
esse efeito analgsico durante a fase ps-
operatria impedindo a sensibilizao
durante a fase inflamatria.
Bridgman et al. (1996), avaliaram
a eficcia analgsica do diclofenaco de
sdio 100mg em exodontias de terceiros
molares. Foi observado que a dor e o grau
de abertura bucal aps uma semana do
procedimento cirrgico no mostrou
diferena significativa quanto a sua
administrao pr e ps-operatria,
sugerindo assim, que esse AINES no
causavam efeito analgsico preemptivo.
Corroborando nessa linha de pensamento,
Zacharias et al. (1996), executaram
extraes de terceiros molares em
pacientes sob anestesia geral utilizando
placebo, diclofenaco 100 mg e metadona
10 mg; administrados 60 a 90 minutos
antes da cirurgia e em seguida, o grau de
dor e a necessidade de medicao ps-
operatria foram mensuradas durante trs
dias. Os autores concluram que a
administrao de AINES associado aos
opiides no ofereceram efeito
preemptivo adicional nos pacientes que
receberam analgesia adequada durante a
cirurgia. Para esse efeito, o uso contnuo
de drogas analgsicas no ps-operatrio
seria talvez mais indicado para esse
propsito (DIONNE, 2000).
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Young-Soo et al. (2005)
compararam os efeitos analgsicos de um
AINE (talniflumato 370 mg) para a dor
originada de uma cirurgia oral em 3
intervalos diferentes de administrao. O
AINE foi testado 1 hora antes, 1 hora
depois e sem administrao. Observou-se
que a dor foi mais prolongada no grupo
que recebeu o AINE no pr-operatrio em
comparao aos demais. Os autores
concluram que o efeito analgsico do
AINE administrado preemptivamente no
foi eficaz para o controle da dor ps-
operatria. Entretanto, os resultados
sugerem que os analgsicos
administrados no ps-cirrgico antes do
desenvolvimento da dor so adequados
para a analgesia sem a administrao pr-
operatria. Corroborando com essa idia,
Kaczmarzyk e seus colaboradores (2010)
usaram 100 mg de cetoprofeno 60
minutos antes e 60 minutos depois de
cirurgia de remoo dos terceiros molares
inferiores. Estes concluram que o grupo
que utilizou o medicamento depois do
procedimento teve melhor controle
analgsico em relao ao grupo placebo e
ao do uso prvio.
Atualmente, os profissionais tm
prescrito os COXIBES (inibidores
seletivos da cicloxigenase 2) acreditando
que estes apresentam maior potncia
analgsica que os AINES convencionais.
Tais medicamentos so efetivos no
controle da dor, sem apresentar, no
entanto, conforto analgsico maior que
diversos AINES convencionais. (LANE,
1997; TANG et al., 2002). Corroborando
com essa idia, Morse (2006), conclui
que o ibuprofeno possui a mesma eficcia
preemptiva do que o Rofecoxib para
cirurgia de remoo dos terceiros molares
mandibulares.
Para Jeske (2002) os COXIBES
no devem ser recomendados como
drogas de primeira escolha para o
controle da dor e do edema em
odontologia em substituio aos AINES
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convencionais, pois sua eficcia similar
aos convencionais, possui custo mais
elevado alm de contra-indicaes
(pacientes com alteraes
cardiovasculares e trombticas) e
interaes similares aos AINES no
seletivos e em alguns casos durao de
ao inadequada para o controle da dor
ps-operatria. Soma-se a isso o fato de
que eles no foram suficientemente
testados em modelos da rea odontolgica
(MORRISON et al,. 2000)
J os corticosterides, possuem
dezenas de estudos sobre seu uso e sua
eficcia comprovada em diversos
experimentos ao longo dos anos. Messer
& Keller (1975), utilizaram 4 mg de
dexametasona, por via intramuscular
(msculo masseter homolateral) e oral em
5000 pacientes com indicao de
exodontias de terceiros molares
mandibulares inclusos, e demonstraram a
eficincia deste frmaco na preveno do
edema, trismo e dor ps-operatria.
Corroborando com esse resultado,
Greenfield & Caruso (1976), realizaram
um experimento clnico controlado, tendo
como modelo as exodontias de terceiros
molares maxilares inclusos e compararam
os efeitos de 4 mg de dexametasona com
os de um placebo, aplicados por via
intramuscular, observando uma
significativa reduo da dor ps-
operatria quando a preparao
corticosteride era empregada
(GREENFIELD & CARUSO, 1976).
Pedersen, em 1985, praticamente
reproduziu o experimento de Messer &
Keller (1975) e comprovou a significativa
diminuio dos eventos inflamatrios
quando 4 mg de dexametasona foram
injetados no msculo masseter, momentos
antes da remoo dos terceiros molares
mandibulares inclusos (PEDERSEN,
1985).
Van der Zwan et al., (1982),
verificaram diferena significativa entre
os efeitos da betametasona e do placebo.
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O corticosteride reduziu a ocorrncia de
dor em 80%, de edema em 65% e do
trismo em 40% aps a remoo de
terceiros molares mandibulares inclusos.
Almeida e seus colaboradores (1990),
concluram que h uma maior eficcia
antilgica de 4 mg de betametasona por
via oral, se comparada ao uso de uma
soluo de depsito do mesmo corticide
por via intramuscular. Para Crespo e seus
colaboradores (2002), a betametasona foi
mais eficiente que o diclofenaco potssico
aps cirurgia para remoo de terceiro
molar inferior incluso, concluindo que o
uso da betametasona na dosagem de 6 mg
uma hora antes do procedimento, 4 mg no
primeiro dia ps-operatrio e 2 mg no
segundo dia reduziu significativamente o
edema e o trismo. Quanto dor, no
houve diferena significativa, embora
tenha havido tendncia de melhores
resultados no grupo teste. Tambm no
modelo de cirurgia para colocao de
implantes dentais, Quintana-Gomes
(2002), comprovou os efeitos da
betametasona 4 mg na preveno da
hiperalgesia e, conseqentemente, da dor
inflamatria aguda. Porm, Amantea et
al. (1999) afirmaram que em alguns
procedimentos cirrgicos, a
administrao de somente uma droga
analgsica antes da cirurgia no
suficiente para produzir um efeito
preemptivo.
Seguindo a mesma linha de
pesquisa, Almeida e seus colaboradores
em 2000, sugeriram a criao de um
protocolo farmacolgico para o controle
da dor decorrente da exodontia de
terceiros molares mandibulares inclusos,
utilizando a associao de betametasona
(4 mg) como medicao pr-operatria
com uma soluo anestsica com
vasoconstrictor testada (bupivacana ou
prilocana). Os resultados indicaram
menor intensidade de dor quando a
betametasona era empregada associada a
bupivacana, nas 24 primeiras horas ps-
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cirrgicas sendo que 80% dos pacientes
relataram preferncia por esse tipo de
tratamento (ALMEIDA, 2000). Por outro
lado, um estudo recente parece ter
demonstrado que a bupivacana, em
cirurgias de terceiros molares retidos,
estimula a expresso do gene COX-2
aps a injria tecidual, que associada ao
aumento da produo de prostaglandinas
E2 (PGE2). Na prtica, isso pode
acarretar em dor inflamatria aguda aps
a cessao dos efeitos desse anestsico.
(GORDON et al., 2008).
Dionne e seus colaboradores
(2000) concluram que os corticides
(dexametasona), na dose de 4 mg, no
suprimem a expresso de PGE2 em
quantidade suficiente para atenuar a
sensibilizao de nociceptores perifricos
antes da injria tecidual. Entretanto em
2004, Barron e seus colaboradores
concluram que ao associar dexametasona
(8 mg) com dipirona (1 g) conseguiram
prevenir a hipersensibilidade sensorial,
verificada em um estudo aps extraes
dos terceiros molares inferiores
comparando com pacientes que s
fizeram uso do analgsico.
CONSIDERAES FINAIS
A intensidade da dor sentida pelos
pacientes um dos fatores na
determinao da eficcia dos tratamentos,
sendo assim, a importncia da analgesia
preemptiva indiscutvel. Existem
evidncias sobre sua efetividade, porm
ainda falta a racionalizao e divulgao
do seu uso. Pesquisadores em nosso pas
e no mundo trabalham no sentido de
padronizao das condutas clnicas e dos
frmacos a serem utilizados para que o
maior beneficirio seja o paciente. Esta
reviso da literatura buscou iniciar e
contribuir para o estabelecimento de
novas pesquisas para a elaborao de um
protocolo farmacolgico que possa
atender s necessidades dos cirurgies-
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dentistas. Acredita-se que a tendncia
atual na analgesia preemptiva a
associao de frmacos de diferentes
classes que atuem antes do estmulo
nociceptivo, produzam bloqueio efetivo
durante o procedimento cirrgico e
durante o perodo inflamatrio. Parece ser
promissora a associao de analgsicos de
ao perifrica com corticosterides por
via oral, porm cada paciente deve ser
avaliado individualmente devido aos
efeitos colaterais destes medicamentos e
suas contra-indicaes.
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