Análise Do Episódio
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ð Análise do episódio
A Corneta do Diabo aparece como um jornal de maledicência e de escândalos. O narrador afirma que “na impressão, no papel, na abundância dos itálicos, no tipo gasto, todo ele revelava imundície e malandrice”.
O Diretor e principal redator é Palma Cavalão, um jornalista corrupto. É nesta publicação que Dâmaso Salcede publica um artigo a satirizar a intimidade da relação de Carlos da Maia e Maria Eduarda. A suspensão da circulação deste número só é conseguida graças ao Ega e a um suborno de 100 000 réis.
Eça de Queirós, com o episódio de A Corneta do Diabo e mais tarde com o jornal A Tarde, retrata a parcialidade do jornalismo da época e mostra a corrupção quando o Palma Cavalão aceita, por dinheiro, denunciar o autor do artigo comprometedor.
O propósito queirosiano de denunciar a vida portuguesa da sociedade da época percebe-se também quando Carlos da Maia considera que "só Lisboa, só a horrível Lisboa, com o seu apodrecimento moral, o seu rebaixamento social, a perda inteira de bom senso, o desvio profundo do bom gosto, a sua pulhice e o seu calão, podia produzir uma Corneta do Diabo”.
Adaptado de Infopédia
Jornal “A Tarde” – cap. XVð Contextualização do episódio
Ega estava na posse da carta de retratação de Dâmaso.
Junto com Carlos, decidem não a publicar, pois isso só suscitaria a curiosidade da sociedade lisboeta relativamente à relação de Carlos e Maria.
No entanto, Ega vê Dâmaso com “a sua” Raquel Cohen. Dominado pelo ciúme, resolve humilhar Dâmaso publicamente.
Dirige-se à redação do jornal A Tarde e tenta convencer o diretor, o Neves, a publicar a carta de Dâmaso.
Este, inicialmente recusa, pois pensa tratar-se de Dâmaso Guedes, um correligionário político. Mas quando percebe que se trata do Salcede, acede a publicar a carta, para se vingar do “manganão” que os “entalara na eleição passada”.
Na sequência da humilhação pública, Dâmaso parte de férias para Itália, e o assunto cai no esquecimento.
ð Análise do episódio
O jornal A Tarde aparece em Os Maias dirigido pelo Neves, deputado, político.
É neste jornal que Ega consegue a publicação da carta do Dâmaso, não só como represália da injúria feita a Carlos da Maia, mas também para se vingar de uma possível ligação do Salcede com a sua ex-amante Raquel Cohen.
Todo o diálogo do Ega com o Neves e outros funcionários do jornal lisboeta mostra a atmosfera política, o cinismo e a parcialidade do jornalismo.
Este está também patente na redação de uma notícia sobre o livro do poeta Craveiro, por pertencer "cá ao partido", mas sobretudo quando Gonçalo, um dos redatores do jornal, depois de exclamar "Que besta, aquele Gouvarinho!" e de o considerar "uma cavalgadura" afirma que "- É necessário, homem! Razões de disciplina e de solidariedade partidária... Há uns compromissos... O Paço quer, gosta dele...". E tudo isto acontece pois " - Há aí umas questões de sindicatos, de banqueiros, de concessões em Moçambique... Dinheiro, menino, o omnipotente dinheiro!“.
Adaptado de Infopédia
Os jornais n’Os Maias – as personagens-tipo
Palma "Cavalão"
Proprietário e redator do jornal "A Corneta do Diabo", é um jornalista corrupto, facilmente "agitado com o tinir do dinheiro".
O nome de "Cavalão" fora atribuído ao Palma para o "distinguir de outro benemérito chamado Palma Cavalinho.”
Sem carácter, publica artigos injuriosos ou retira-os, desde que para isso lhe paguem.
É baixo e gordo, como se depreende das palavras de Alencar que o define como "canalha", "vil bolinha de matéria pútrida!..." e "chouricinho de pus!“.
Palma Cavalão é o símbolo do jornalismo de escândalo, feito por jornalistas imorais e corruptos.
Neves
Diretor do jornal “A Tarde”, aproveita a sua situação para influenciar politicamente os leitores.
Revela parcialidade na decisão de publicar ou rejeitar artigos com base em amizades políticas.
Os jornais n’Os Maias – a crítica
O episódio dos jornais critica a decadência do jornalismo português que se deixa corromper, motivado por interesses económicos e demonstra uma preferência comprometedora de feições políticas.
Este episódio visa denunciar o baixo nível da imprensa lisboeta da época, que se alimenta de factos da vida privada das pessoas.
Critica-se a falta de ética dos jornalistas juntamente com a corrupção envolvida, sendo que se verifica ainda a vingança mesquinha e as amizades simuladas através das atitudes de Dâmaso e de Eusébio.
Aspetos a notar: o baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; assim como os jornais, está o País.