Narrativa de um Viajante Descrevendo o Episódio do Báb

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"Busquei com a máxima diligência durante as minhas viagens em todas as partes da Pérsia..., quer dentro ou fora do país, com amigos e estranhos... demonstrar brevemente aqui por escrito um resumo dos fatos para que esteja à disposição dos sedentos por fonte de conhecimento e àqueles que buscam inteirar-se de todos os eventos do episódio d'Aquele conhecido como o Báb e a verdadeira natureza de Sua missão."

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‘Abdu’l-Bahá aos 24 anos de idade.Foto tirada em Edirne, Turquia.

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-- �‘Abdu�’l-Bahá --

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O Episódio do Báb

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Título da tradução em inglês: A Traveller’s Narrative Written to Ilustrate theEpisode of The Báb

Copyright 2006

Editora Bahá’í do BrasilC.P. 19813800-970 - Mogi Mirim - SPwww.editorabahaibrasil.com.br

ISBN: 85-320-0141-6

1ª Edição: 2006Tradução do persa para o inglês: Edward G. BrowneTradução: Robert P. Lowe Jr.Revisão: Coordenação Nacional Bahá’í de Tradução e Revisão do BrasilCapa: Gustavo Pallone de FigueiredoImpressão: Prisma Printer Gráfica e Editora Ltda, Campinas

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Outras Obras de ‘Abdu’l-Bahá:ALICERCES DA UNIDADE MUNDIAL

EPÍSTOLA AO DR. AUGUSTE FOREL

EPÍSTOLAS DO PLANO DIVINO

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS

SEGREDO DA CIVILIZAÇÃO DIVINA, OSELEÇÃO DOS ESCRITOS DE ‘ABDU’L-BAHÁ

TRIBUTO AOS FIÉIS

ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

Coleção PALESTRAS DE ‘ABDU’L-BAHÁ:• Londres – 1911• Paris – 1911• Estados Unidos e Canadá – 1912 / A PROMULGAÇÃO DA PAZ

UNIVERSAL

Outras Obras com Escritos de ‘Abdu’l-Bahá:COLEÇÃO “SELEÇÃO DE ESCRITOS BAHÁ’ÍS”ORAÇÕES BAHÁ’ÍSREVELAÇÃO BAHÁ’Í, A

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Prefácio vii

INTRODUÇÃO 1

O EPISÓDIO DO BÁB 3

Referências 133

Sumário

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Prefácio

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Prefácio

Em abril de 1891, um professor inglês daUniversidade de Cambridge, Edward G. Browne,visitou Israel com o intuito de coletar maiores dadospara suas teses sobre a Fé Bábí e durante cinco diaspermaneceu em ‘Akká, sendo concedido a ele quatroentrevistas com Bahá’u’lláh, das quais a primeiraentrevista de vinte minutos tornou-se enormementeconhecida e publicada em várias línguas por todo omundo1. Edward Browne foi o único ocidental aencontrar-se com Bahá’u’lláh.

Quem o conduziu, de Haifa à Bahjí, ao primeiroencontro com Bahá’u’lláh, foi Seu Filho mais velho,‘Abdu’l-Bahá, sendo que o professor Browne,também descreveu suas primeiras impressões sobre oAutor desta presente narrativa:

“ ... Levantei-me na manhã seguinte (terça-feira,14 de abril) após uma noite de sono repousante, erecebi o chá do senhor de óculos. Em seguida, uma

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Prefácio

súbita movimentação lá fora anunciou a chegadade visitas e aquele que lá estivera na véspera entrouno quarto acompanhado de outras duas pessoas,sendo um deles o agente bábí de Beirute, enquantoque o outro, que adivinhei de imediato quem fosse,devido à extraordinária deferência que lhe erademonstrada, e que não poderia ser outro a nãoser o filho mais velho de Bahá: ‘Abbás Effendi.Dificilmente encontraria alguém cuja aparênciame causasse tanta impressão. Um homem alto,forte, ereto como uma flecha, turbante e vestuáriosbrancos, volumosos cabelos pretos chegando-lheaos ombros, ampla e poderosa fronte indicativa deum intelecto perspicaz, combinado a umadeterminação inabalável, olhos penetrantes comoos de um falcão e feições muito marcadas, porémagradáveis. Tal foi minha primeira impressão de‘Abbás Effendi, “o Mestre” (Ákhá), conforme erachamado por excelência entre os bábís. Asubseqüente conversa com ele serviu somente paraelevar o respeito com o qual sua aparência, deinício, me inspirara. Alguém com maior eloqüênciaao falar, melhores argumentos, mais apto parailustrar, mais intimamente capacitado em relaçãoaos livros sagrados dos judeus, cristãos emuçulmanos, seria, creio eu, dificilmenteencontrado mesmo dentre os mais eloqüentes, maispreparados e refinados de sua raça. Estas qualidadescombinadas com um porte ao mesmo tempomajestoso e afável fizeram com que cessasse deme surpreender da influência e estima com queele impunha até além do círculo dos seguidores de

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seu pai. Sobre a grandeza deste homem e seu poder,ninguém que o encontrasse, teria a menor dúvida. ...”2

No dia em que saía da Terra Santa, Browne recebeude presente, entre outros livros bahá’ís, uma cópiado original em persa deste livro aqui publicado.Provavelmente, conforme conclusões do professorBrowne, ‘Abdu’l-Bahá o escreveu em 1886.

Narrativa de um Viajante Descrevendo o Episódiodo Báb e O Segredo da Civilização Divina são osúnicos dois livros de autoria de ‘Abdu’l-Bahá. Elesforam inicialmente publicados (1891, na Inglaterra e1875, na Índia) desconhecendo-se a autoria públicadEle. Conforme dr. Amin Banani, grande eruditobahá’í, este procedimento provavelmente deveu-se aofato da “humildade de ‘Abdu’l-Bahá peranteBahá’u’lláh, pois não quis colocar Seu nome, duranteo tempo em que Seu Pai vivia, nos dois livros queescreveu perante o público da comunidade bahá’í”3.

Outros livros de ‘Abdu’l-Bahá são compilações deSuas Epístolas, palestras, entrevistas e orações, e o Seutestamento.

O professor Browne, ao retornar à Inglaterra,coloca-se arduamente a traduzir este livro para oinglês e a Cambridge University Press o publica em1891, em dois volumes, com uma profícuaintrodução, contando sua viagem ao Oriente Médioem busca de informações do movimento bábí e umextenso apêndice de suas notas interpretando estanarrativa de ‘Abdu’l-Bahá.

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Prefácio

Somente em 1930, o Comitê de Publicações Bahá’ídos Estados Unidos e Canadá, edita os dois volumesdeste livro e, em 1975, a Philo Press, de Amsterdã, opublica em um só volume, tanto em persa como eminglês.

Em 1980, a Editora Bahá’í dos Estados Unidos,reedita o livro de autoria de ‘Abdu’l-Bahá, como umanova e corrigida versão, sem a introdução, apêndicese notas de Browne*, e é deste volume que se originoua presente tradução para o português. No futuro, umatradução oficial do persa para o inglês deve ser feita

*Conforme o prefácio da edição norte-americana de 1930:“Membros da Causa Bahá’í são agradecidos imensamente ao professorBrowne por suas pesquisas eruditas a respeito da história e literaturadesta Religião, e mais particularmente da dignificativa e poderosatradução de Narrativa de um Viajante Descrevendo o Episódio doBáb. (Porém,) ...a Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís dosEstados Unidos da América chama à atenção do leitor para o fato deque a acuidade histórica dos textos escritos pelo professor Browne,infelizmente, não se estendem ao inteiro corpo das notas adicionadaspelo tradutor. Pois tornou-se muito evidente a qualquer pesquisadorda Causa Bahá’í, que possa lê-las para adquirir o conhecimento edesenvolvimento dela durante estes quarenta anos desde 1891, queo professor Browne demasiadamente enfatizava o significado domovimento azalí, atribuindo a ele, de fato, uma importância comoum contestador rival da Religião fundada por Bahá’u’lláh, na qual ahistória por si só, revelou que nunca possuiu. Atualmente, Subhi-Azal, o rebelde meio-irmão de Bahá’u’lláh, permanece meramentecomo uma das muitas figuras que, em vão, atentaram a interromperos incidentes pelos quais o poder espiritual de Bahá’u’lláh sãoclaramente vindicados ao mundo. Um erro tão lamentável invalidouos pontos de vista do professor Browne, e há uma geração atrás, ficounotório que ele foi incapaz de seguir o curso da história bahá’í, doBáb a Bahá’u’lláh. Ele falhou em perceber que Bahá’u’lláh foi oFundador desta Religião e que o Báb foi um de Seus seguidores, e

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pelo Centro Mundial Bahá’í, acertando os pequenosdeslizes da tradução de Browne, mas isto não tira omérito do seu trabalho feito em 1891. Todavia aEditora Bahá’í do Brasil tomou a precaução deutilizar, sempre que possível, as traduções oficiais dascitações que ‘Abdu’l-Bahá faz de Seu Pai ou do Báb.

Esperamos que o leitor se delicie da forma poética,quase como uma partitura de música, com que‘Abdu’l-Bahá, intitulando-Se como um viajante,elucida o início da Causa Bahá’í, retirando os véusque as imaginações dos homens criaram sobre estemomento da história da humanidade, do qual não háparalelos.

Editora Bahá’í do Brasil

como resultado devotou seus únicos recursos de erudição para aestéril meta de interpretar o movimento bahá’í nos termos do limitadoentendimento de poucos bábís, cujas faces eram dirigidas ao passado.O interesse do professor Browne pelo Báb era tão profundo e suaspesquisas tão ardentes que sua inabilidade de reajustar seus pontosde vista, quando estudara o material gerado após o martírio do Báb, étratado como uma perda trágica por todos os amigos desta Causa.”

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Diversas são as parábolas contadas pelas línguas ebocas dos homens, e variados são os relatos contidosnas páginas da história persa e nas folhas das crônicaseuropéias mencionando Aquele conhecido como oBáb e a verdadeira natureza de Sua Fé. Porém, devidoà variedade das suas asserções e a diversidade das suasnarrativas, nenhuma é tão digna de confiança quantodeveria ser. Algumas pessoas pronunciaram-se emcensura extrema e condenação, e certas crônicasestrangeiras falaram num forte tom de aprovação.Enquanto isso, um certo setor registrava aquilo queouvia sem se interessar pela censura ou aprovação.

Uma vez que estes diversos relatos estão registradosem outros locais e devido ao fato de que a relaçãonovamente dos mesmos levaria a uma prolixidadedaquilo que se refere à história desta questão (busqueicom a máxima diligência durante as minhas viagensem todas as partes da Pérsia, quer de longe ou deperto, quer dentro ou fora do país, com amigos e

Introdução

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estranhos) e sobre a qual os inquisitores estão deacordo, será brevemente demonstrado aqui porescrito um resumo dos fatos para que esteja àdisposição dos sedentos por fonte de conhecimentoe àqueles que buscam inteirar-se de todos os eventosdeste episódio.

‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás

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OBáb foi um jovem mercador de linhagempura. Nasceu no ano 1235 (d.h.) noprimeiro dia de Muharram*, e quando,após alguns anos, Seu pai, SiyyidMuhammad-Ridá faleceu, foi criado em

Shíráz por Seu tio materno, Mírzá Siyyid ‘Alí, omercador. Ao atingir a maturidade, envolveu-Se naárea do comércio em Búshihr, primeiro em parceriacom Seu tio materno e depois por conta própria.Devido às Suas qualidades, Ele era notado por Suareligiosidade, devoção, virtude e piedade, sendo assimcaracterizado na visão dos homens.

No ano 1260 (d.h.), quando estava com vinte ecinco anos de idade†, certos sinais tornaram-seaparentes em Seu comportamento, costumes econduta, através dos quais ficou evidente em Shíráz

*20 de outubro de 1819.†23 de maio 1844.

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que estava em conflito e almejava outros vôos.Começou, então, a falar e declarar o grau do Báb*.Entretanto, o que pretendeu pelo termo Báb† foi queEle era o canal de graça de um grande Ser ainda atrásdo véu da Glória – Aquele que era o possuidor deincontáveis e ilimitadas perfeições – através da vontadede Quem, Ele movia-Se, e pelo vínculo do amor deQuem, Ele apegava-Se. E, no primeiro livro queescreveu como sendo a explicação à Súriy de José1,dirigiu-Se em todas as passagens Àquele Ser oculto deQuem recebia ajuda e graça, implorando por ajuda dElepara que estivesse de acordo com Suas prerrogativas,e almejava o sacrifício de Sua vida no caminho do amordEle.

Esta frase figura, entre outras:

“Ó Tu, Remanescente de Deus! Sacrifiquei-meinteiramente por Ti; aceitei maldições por amor aTi e jamais ansiei por outra coisa senão o martíriono caminho de Teu amor. Testemunha suficientepara mim é Deus, o Excelso, o Protetor, o Anciãodos Dias.”2

Do mesmo modo, compôs um número de obrasexplicando e elucidando versos do Alcorão, e sermõese orações em árabe, incitando e instando os homensa esperar a aparição dAquele Ser. A estes livros Eledesignou: “Páginas Inspiradas” e “Palavra da

*Báb-hood (posição do Báb).†Portão ou Porta. n.e.

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Consciência”. Mas, ao ser investigado, foi descobertoque não fez nenhuma reivindicação de tê-los recebidosatravés da revelação de um anjo.

Agora, uma vez que todos sabiam que não possuíainstrução e estudo, esta circunstância apareceu, navisão dos homens, como sendo sobrenatural. Algunsdos homens curvaram-se a Ele, mas a maioriamanifestou uma forte desaprovação. Enquanto todosos eruditos e advogados que ocupavam posições,altares e púlpitos eram unânimes na erradicação e nasupressão, alguns sacerdotes da seita shaykhí que erameremitas e reclusos, e que em conformidade com suasdoutrinas, sempre buscaram por um grande Ser,confiável e incomparável, que conforme sua própriaterminologia era a “Quarta Sustentação” e aManifestação Central das verdades da religiãoperspícua.

Deste número, Mullá Husayn de Bushrúyih, MírzáAhmad de Azghand, Mullá Sádiq Muqaddas (oSanto), Shaykh Abú-Turáb de Ishtihard, Mullá Yúsúfde Ardibíl, Mullá Jalíl de Urúmíyyih, Mullá Mihdí deKand, Shaykh Sa’íd (o Indiano), Mullá ‘Alí de Bastáme outros do mesmo nível, vieram até Ele e espalharam-se por todos os cantos da Pérsia.

O próprio Báb dirigiu-Se para executar acircumambulação da Casa de Deus*. No Seu retorno,quando as notícias da Sua chegada em Búshihralcançaram Shíráz, houve muitos debates, e uma

*Empreender a peregrinação à Meca.

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estranha excitação e agitação ficou aparente naquelacidade. A grande maioria dos eruditos O repudiou,decretando Sua morte e Sua destruição, e induziuHusayn Khán Ajúdán-báshí, que era o governadorde Fárs, para infligir um açoitamento nos missionáriosdo Báb, ou seja, no Mullá Sádiq Muqaddas. Apósterem queimado seu bigode e barba, juntamente comos de Mírzá Muhammad-’Alí de Barfurúsh e Mullá‘Alí-Akbar de Ardistán, colocaram arreios em todosos três e os fizeram caminhar por ruas e bazares.

Uma vez que os eruditos da Pérsia não têm umacapacidade administrativa, pensaram que violência einterferência causariam a extinção e o silêncio, levandoà supressão e ao esquecimento. Entretanto, ainterferência em assuntos de consciência causa aestabilidade e a firmeza, e atrai a atenção dos homensde visão e alma. Tal fato tem recebido provasexperimentais muitas vezes e freqüentemente. Assimesta punição causou notoriedade e a maioria doshomens começou a fazer indagações.

O governador de Fárs, agindo de acordo comaquilo que os eruditos julgavam ser apropriado,despachou vários cavaleiros, para que o Báb fossetrazido a ele, e na presença dos doutos e estudiosos,censurou-O e culpou-O e exigiu uma reparação.Quando o Báb o repreendeu e o resistiu com altivez,foi feito um sinal pelo governador e eles O golpearamviolentamente, insultando-O e desdenhando-O, de talmaneira que Seu turbante caiu da Sua cabeça e a marcado golpe ficou aparente em Seu rosto. No final do

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encontro chegaram a um consenso e após receber afiança e garantias do Seu tio materno Hájí Siyyid ‘Alí,O mandaram de volta para Sua casa proibindo-O deSe comunicar com Seus parentes ou estranhos.

Um dia eles O convocaram à mesquita instando-Oe compelindo-O a abjurar, mas Ele discursou do púlpitocom tal maneira que silenciou e subjugou a todos ospresentes e firmou e fortaleceu os Seus seguidores. Foientão entendido que Ele afirmou ser o Veículo da graçada Sua Alteza – o Senhor da Era – que sobre Ele estejaa paz. Então, ficou conhecido e posteriormenteevidente que Seu significado era ser o Báb (Bábíyyat)de uma outra Cidade e a Intermediação das graças deum outro Ser cujas qualidades e atributos são contidosnos Seus livros e tratados.

Em todos os eventos, como fora mencionado, porrazão da falta de experiência e habilidade dos eruditosna ciência da administração e da sucessão contínuadas suas decisões, o comentário entre o povo eraabundante. As interferências com o Báb lançaram umclamor por todo a Pérsia, causando um ardorcrescente nos amigos e a aderência dos que vacilavam.Em razão destas ocorrências, o interesse das pessoasaumentou, e em todas as partes da Pérsia alguns dosservos (de Deus) se inclinaram em direção a Ele, atéque a questão adquiriu tal importância que o rei,Muhammad Sháh*, que veio a falecer logo após estesacontecimentos, delegou uma certa pessoa de nome

*Ele faleceu em 4 de setembro de 1848.

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Siyyid Yahyá de Daráb, que era um dos maisconhecidos eruditos e siyyids e objeto de veneração econfiança, dando a ele um cavalo e dinheiro para aviagem para que se dirigisse à Shíráz e investigasseeste assunto pessoalmente.

Quando o referido siyyid chegou em Shíráz, eleentrevistou o Báb três vezes. Na primeira e segundaconferência, perguntas e respostas foram trocadas; naterceira conferência, ele solicitou um comentário dasura chamada Kawthar3, e quando o Báb, sem pensarou refletir, escreveu um elaborado comentário daKawthar em sua presença, o siyyid acima mencionadoficou encantado e maravilhado com Ele, eprontamente, sem preocupação com o futuro ouansiedade sobre os resultados desta afeição, apressou-se a Burújird para encontrar com seu pai, Siyyid Ja’far,conhecido como Kashfí, e o inteirou a respeito doacontecido. Embora ele fosse sábio e prudente, estavaacostumado a respeitar as exigências da época eescreveu, sem medo ou precaução, um relatóriodetalhado das suas observações ao Mírzá Lutf-‘Alí, ocamareiro-mor, de modo que este pudesse o submeterà atenção do rei, enquanto ele mesmo viajou a todasas partes da Pérsia, e em cada cidade, qualquer quefosse a posição da pessoa, do alto dos púlpitosconvocou a todos, de tal maneira que os eruditosconcluíram que ele deveria estar demente econsideraram o fato como um caso certo de feitiçaria.

Porém, quando as notícias das decisões doseruditos e o protesto e o clamor dos advogados

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chegaram à Zanján, o Mullá Muhammad-‘Alí, osacerdote, que era um homem de destaque, possuidorde um discurso penetrante, enviou um daqueles emquem confiava para Shíráz para investigar o assunto.Esta pessoa inteirou-se sabiamente, de formanecessária e apropriada, dos detalhes destasocorrências, e retornou com alguns dos Escritos (doBáb). Quando o sacerdote ouviu quais eram osassuntos e inteirou-se dos Escritos, não obstante ofato de ser um homem perito em conhecimento ecélebre pelas pesquisas profundas, este sacerdotedesequilibrou-se e enlouqueceu conforme forapredestinado. Ele juntou os livros na sala deconferências dizendo:

–– A estação de primavera e vinho chegou. Buscaro conhecimento após ter alcançado o conhecido écensurável.

Então, do topo do púlpito, convocou e dirigiutodos os seus discípulos (a abraçar a doutrina), eescreveu ao Báb a sua declaração e confissão.

O Báb, em resposta, indicou-lhe a obrigação deoração congregacional.

Embora os doutos de Zanján ergueram-se comforça e coragem para exortar e admoestar o povo,nada conseguiram efetuar. Finalmente, foramcompelidos a ir à Teerã e fizeram suas reclamaçõesdiante do rei, Muhammad Sháh, requerendo queMullá Muhammad-‘Alí fosse convocado. Por fim, umdecreto real foi emitido para que ele comparecesse àTeerã.

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Quando chegou à Teerã, trouxeram-no diante deum conclave de eruditos, mas conforme relatam, apósmuitas controvérsias e disputas, nada foi feito deleperante àquela assembléia. O rei, então, concedeu aele um cajado e cinqüenta tumáns para seus gastos elhe deu permissão para retornar.

Em todos os eventos, em diversas partes e regiõesda Pérsia, estas notícias foram disseminadas e quandovários novos crentes chegaram à Fárs, os eruditosperceberam que a questão adquiriu demasiadaimportância, que o poder de lidar com a mesma haviaescapado de suas mãos, e que, encarceramento,açoitamento, tormenta e contumélia eram infrutíferos.Assim sendo, eles manifestaram-se ao governador deFárs, Husayn Khán:

–– Se deseja a extinção deste fogo ou busca umimpedimento para esta ruptura, tem a cura imediata e oremédio decisivo: matar o Báb. Ele tem agregado a Siuma multidão e medeia um levante.

Husayn Khán ordenou a ‘Abdu’l-Hamíd Khán, oguardião-mor do castelo, a atacar à meia-noite, detodos os lados, a casa do tio materno do Báb, e trazê-Lo, juntamente com todos os Seus seguidores,algemados. Mas ‘Abdu’l-Hamíd Khán e seu bandonão encontraram ninguém na casa, salvo o Báb, Seutio materno e Siyyid Kázim de Zanján. Por obra doacaso, naquela noite, uma peste proliferou ecomitantemente com o clamor dos acontecimentos,compeliram Husayn Khán a fugir. Ele soltou o Bábna condição dEle deixar a cidade.

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Na manhã seguinte àquela noite, o Báb com SiyyidKázim de Zanján partiram de Shíráz para Isfahán.Antes de chegar em Isfahán, Ele escreveu uma cartaao Mu’tamídu’d-Dawlih, o governador da província,solicitando alojamento em um lugar apropriado coma sanção do governo. O governador indicou a mansãodo Imám-Jum’ih, onde o Báb ficou por quarenta dias.Um dia, de acordo com a solicitação do Imám, Eleescreveu, sem nenhuma delonga, um comentáriosobre (a sura de) V‘al-‘Asr na frente de um grupo.4

Quando esta notícia chegou ao mu’tamíd, esteprocurou uma entrevista com Ele e O questionou arespeito da “Missão Especial”. Nesta mesma entrevistauma resposta provando a “Missão Especial” foi escrita.

O mu’tamíd então deu ordens para que todos oseruditos se congregassem e debatessem com Ele emum conclave, e que a discussão fosse registradafielmente sem alteração pelo seu secretário particular,de modo que pudesse ser enviada para Teerã, equalquer que fosse o decreto real, a ordem deveriaser executada.

Os eruditos, porém, consideraram este arranjocomo sendo um enfraquecimento da lei e nãoconcordaram, mas reuniram um conclave eescreveram: “Se tivesse dúvida na questão teríamos anecessidade de uma assembléia e uma discussão, mascomo a discordância desta pessoa para com a Lei maisluminosa, que é mais clara do que o sol,conseqüentemente, a melhor coisa possível a fazer seráa de colocar em prática a sentença da Lei.”

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O mu’tamíd, então, desejou fazer a conferência nasua própria presença, de modo que a verdade atualpudesse ser exposta e os corações colocados em paz,mas estes eruditos e ilustres estudiosos, relutantes emtrazer desrespeito à lei perspícua, não aprovaram adiscussão e continuaram a controvérsia com o jovemMercador; as únicas exceções foram um sábio erudito,Áqá Muhammad-Mihdí e um platonista eminente,Mírzá Hasan de Núr. Por fim, a conferência terminouem questionamentos sobre certos pontos relacionadosà ciência do dogma fundamental, e à elucidação eanálise das doutrinas de Mullá Sadrá. Uma vez que,desta conferência, o governador não chegou emnenhuma conclusão, a severa sentença e a decisão crueldos eruditos não foram executadas, mas, ansioso emminorar rapidamente a grande ansiedade e prevenireficazmente um tumulto público, ele deu credibilidadea um relatório de que um decreto havia sido emitidoordenando que o Báb fosse enviado à Teerã a fim deque um arranjo decisivo fosse alcançado, ou que algumsacerdote corajoso pudesse ser capaz de refutá-Lo.

Ele, portanto, enviou o Báb para fora de Isfaháncom uma companhia de seus próprios guardas-costasmontados, mas quando chegaram em Murchih-Khar,o governador deu ordens secretas para o Seu retornopara Isfahán, aonde proporcionou um refúgio eabrigo nos seus próprios alojamentos particularescobertos. Nenhuma alma, salvo os empregados leaise de confiança do mu’tamíd sabiam de algo.

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Um período de quatro meses passou-se destaforma, porém o mu’tamíd adiantou-se para o Reinoda misericórdia de Deus, falecendo. Gurgín Khán, osobrinho do Mu’tamíd, estava ciente do fato do Bábestar nos aposentos particulares de seu tio, e reportouo assunto ao primeiro-ministro. Hájí Mírzá Aqásí,aquele célebre ministro, emitiu uma ordem decisiva edeu instruções para que enviassem o Báb secretamente,disfarçado com a escolta de cavaleiros de Núsayrí paraa capital.

Quando Ele chegou à Kinár-Gird, uma nova ordemveio do primeiro-ministro indicando a Vila de Kulayncomo um domicílio e o lugar de moradia. Lá, Elepermaneceu por um período de vinte dias. Depoisdisso, o Báb enviou uma carta ao rei, almejando umaaudiência para colocar em evidência a verdade da Suacondição, esperando que isto fosse uma maneira dealcançar sua bondade. O primeiro-ministro nãopermitiu isto, e reportou à presença do rei:

–– A cavalaria real está na iminência de sair eempreender tais assuntos neste momento, conduziráà desordem no reinado. Não há nenhuma dúvida queos eruditos mais notáveis da capital se comportarãodo mesmo modo que os doutos de Isfahán e talacontecimento será a causa de uma erupção popular,o que, de acordo com a religião do imaculado Imám,eles considerarão o sangue deste Siyyid comoinsignificante, até mesmo, como mais legítimo do queo leite materno. A caravana imperial está preparadapara viajar, não há obstáculo ou impedimento em

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vista. Não há dúvida de que a presença do Báb causaráo mais grave transtorno e o maior prejuízo. Assim,pela urgência do momento, o plano mais sábio é este:colocar esta pessoa na Fortaleza de Mákú durante operíodo da ausência da caravana real que a levaria paraa sede do trono imperial, e protelar a obtenção deuma audiência para o tempo do seu retorno.

Em conformidade com esta visão, uma carta foiemitida e endereçada ao Báb do próprio punho desua majestade e de acordo com o relatório tradicional.O teor desta carta segue em resumo:

“Uma vez que a caravana real está na iminência departir de Teerã, é impossível encontrar uma maneiraadequada. Vá a Mákú e permaneça e descanse lá porum período, ocupado em orar por nosso vitoriosoEstado, pois nós temos feito arranjos para que emtodas as circunstâncias demonstrem a vós atenção erespeito. Quando retornarmos da viagem, vosconvocaremos especialmente.”

Depois disto, eles O despacharam juntamente comvários guardas montados (entre eles Muhammad Big,o Mensageiro) à Tabríz e depois à Mákú.

Além disso, os seguidores do Báb relatam certasmensagens transmitidas (dEle) através de MuhammadBig, entre as quais estavam a promessa de curar o pédo rei, mas sob a condição de conseguir umaentrevista e a supressão da tirania da maioria. Porém,em razão do primeiro-ministro reivindicar, elepróprio, ser um guia espiritual e estar preparado arealizar as funções de administrador religioso, o envio

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dessas cartas à presença do rei sempre foram burladas.Todavia, existem os que negam estes relatórios.

Ao longo do curso da Sua jornada, o Báb escreveuuma carta ao primeiro-ministro dizendo:

“Convocaste-me de Isfahán para encontrar comos doutos e para obter uma decisão conclusiva. Oque ocorreu agora para que esta excelente decisãofosse modificada para Mákú e Tabríz?”5

Embora o Báb permanecesse por quarenta dias nacidade de Tabríz, os eruditos não se condescenderamao se aproximarem dEle e não consideraram corretoencontrarem-se com Ele. Então, despacharam o Bábpara a Fortaleza de Mákú e por nove meses O alojaramnaquela inaccessível fortaleza que é situada no cumede uma imponente montanha. Todavia, ‘Alí Khán deMákú, por causa do seu expressivo amor à família doProfeta, prestou a Ele tanta atenção quanto foipossível, e deu permissão (a algumas pessoas) paraconversar com Ele.

Quando os talentosos sacerdotes de Ádhirbayjánperceberam que em toda parte da cidade de Tabrízum clamor excessivo era ouvido como se o último diativesse chegado, solicitaram ao governo a punição dosseguidores (do Báb) e a remoção do Báb para aFortaleza de Chihríq. Eles, então, O mandaram paraaquela fortaleza e O consignaram à guarda de umcurdo chamado Yahyá Khán.

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Glorificado seja Deus! Não obstante estas decisõesdos grandes eruditos e veneráveis advogados e severaspunições e repreensão – açoitamentos, banimentos eencarceramentos por parte de alguns governadores– esta Fé estava diariamente aumentando, e a discussãoe a disputa chegaram a tal ponto que em reuniões eassembléias, em todas as partes da Pérsia, não haviaoutra conversa a não ser sobre este tópico. Grandefoi a comoção que se levantou: os doutos da ReligiãoPerspícua estavam lamentando, o povo comumclamoroso e agitado, e os amigos regozijando eaplaudindo.

Mas, o próprio Báb não deu nenhuma importânciaa este alvoroço e tumulto, e, da mesma maneira comona estrada e nas fortalezas de Mákú e Chihríq, aoanoitecer e ao amanhecer, mais ainda, dia e noite, nomais extremo maravilhoso êxtase, Ele Se restringia àrepetição e à meditação sobre as qualidades e atributosdAquele oculto, porém presente, venerado evenerando Ser.* Assim, Ele faz menção dEle conformeo teor a seguir:

“Embora o oceano da tribulação mostre-seenfurecido de todos os lados, e os dardos do destinoseguem-se em rápida sucessão, e a escuridão dospesares e aflições invadem a alma e o corpo, aindaassim Meu coração reluz com a lembrança de Teu

*Uma referência a Bahá’u’lláh, “Aquele que Deus tornará manifesto”,o Precurssor de Quem o Báb Se considerou.

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semblante e Minha alma é como um jardim derosas do perfume de Tua natureza.”6

Em resumo, após Ele ter permanecido por trêsmeses na Fortaleza de Chihríq, os eminentes eruditosde Tabríz e estudiosos de Ádhirbayján escreverampara Teerã e exigiram uma punição severa ao Báb porcausa da intimidação e amedrontamento causado aopovo. Quando o primeiro-ministro, Hájí Mírzá Aqásí,observou a comoção e o clamor dos eruditos em todosos distritos da Pérsia, ele forçosamente tornou-se Seucúmplice e ordenou que o Báb fosse trazido deChihríq para Tabríz. No curso da Sua passagem porUrúmíyyih, o governador do distrito, Qásim Mírzá,O tratou com deferência extraordinária e umacongregação peculiar de pessoas de todos os níveisapareceu, comportando-se com extremo respeito.

Quando o Báb chegou em Tabríz, eles Otrouxeram, após alguns dias, perante um tribunal dogoverno. Entre os vários sacerdotes e eruditospresentes, estavam: Nizámu’l-’Ulamá, MulláMuhammad-i-Mamaqaní, Mírzá Ahmad, Imám-Jum’ih, Mírzá ‘Alí-Asghar, Shaykhu’l-Islám. Elesperguntaram a respeito das reivindicações do Báb, eEle afirmou a reivindicação de ser o Mihdí, emconseqüência disso, um grande tumulto iniciou-se.Os eminentes eruditos, de forma opressiva, Ocircundou por todos os lados, e tal foi o ataque daortodoxia que não seria de se admirar se Aquele meroJovem não tivesse resistido a montanha de Elburz.

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Eles exigiram provas e sem hesitação o Báb recitoutextos, dizendo:

–– Esta é a prova permanente e mais poderosa.7

Eles criticaram a Sua gramática, e o Báb aduziuargumentos do Alcorão, demonstrando a partir domesmo as instâncias de infrações similares das regrasda gramática. Então a assembléia se desmanchou e oBáb retornou à Sua moradia.

O príncipe herdeiro do berço-do-céu era, nestaépoca, o governador de Ádhirbayján. Ele nãopronunciou nenhuma sentença a respeito do Báb,nem tinha desejo de interferir a favor dEle. Oseruditos, porém, consideraram aconselhável infligirpelo menos um severo castigo, e o açoitamento foidecidido. Mas, nenhum dos oficiais de farráshesconcordou em ser o instrumento para infligir estapunição. Então, Mírzá ‘Alí-Asghar, o Shaykhu’l-Islám, que era um dos nobres siyyids, trouxe-O parasua própria casa e aplicou as bastonadas com suaspróprias mãos. Depois disto, eles mandaram o Bábde volta à Chihríq e sujeitaram-nO a um confinamentorigoroso.

Quando as notícias destes açoitamento, castigo,encarceramento e rigor chegaram a todas as partesda Pérsia, os sacerdotes eruditos e os estimadosadvogados que detinham o poder e influência,empenharam-se para a erradicação e supressão destaFé, conseqüentemente exerceram seus máximos

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esforços neste intuito. E escreveram a seguinte notasobre as suas decisões: “Esta Pessoa e Seus seguidoresestão em erro absoluto e são prejudiciais ao Islã e aoEstado.” E, desde que os governadores na Pérsiadesfrutavam da autoridade mais completa, em algumasprovíncias eles seguiram esta decisão e uniram-se adesarraigar e dispersar os bábís. Mas, o rei, MuhammadSháh, agiu com deliberação neste assunto, refletindo:“Este Jovem é da linhagem pura e a família dEleintitulada de ‘se não fosse por Ti’. Enquanto nenhumaação ofensiva que não seja compatível com a paz públicae bem-estar procedam dEle, o governo não interferiráa respeito dEle.” E quando os eruditos dos distritoscircundantes apelaram a ele – ele ou não deu nenhumaresposta ou os ordenou a agirem com deliberação.

Entretanto, entre os eruditos e os ilustresestudiosos e aqueles instruídos que eram os opositoresdo Báb, a discussão e discórdia aumentaram de talmodo que em algumas províncias desejavam (a valer-se de) imprecação mútua e para os governadores dasprovíncias, também, um meio de adquirir proveito foiproduzido, de modo que grande tumulto e distúrbiosurgiram. E, visto que a enfermidade de gota haviaatacado violentamente o pé do rei e ocupado os seuspensamentos totalmente, o ministro-chefe, o famosoHájí Mírzá Aqásí, tornou-se o pivô da condução dosproblemas, e sua incapacidade e falta de recursostornaram-se tão aparentes quanto o sol. O ministroformava a cada hora uma nova opinião e dava umanova ordem: ora procurava apoiar a decisão dos

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eruditos, considerando a erradicação e supressão dosbábís como sendo necessárias; ora, acusava os eruditosde agressividade, considerando a indevidainterferência contraria à justiça; e em um outromomento, tornava-se um místico dizendo:

–– Todas estas vozes são do Rei.8

Ou repetia, dizendo:–– Moisés está guerreando com Moises.9

Ou recitava:–– Isto não é mais do que Seu julgamento.10

Em resumo este ministro inconstante, por razãode sua má administração nos assuntos importantes emalogro no controle e comando dos negócios dacomunidade, agiu de tal forma que a perturbação e oclamor surgiram de todos as regiões e direções – omais notável e influente dos eruditos ordenou ao povocomum a molestar os seguidores do Báb, e umainvestida geral ocorreu.

Mais especificamente quando a reivindicação daposição de Mihdí alcançou os ouvidos dos eminentessacerdotes e dos sagazes doutos, estes começaram alamentar e bradar e reclamar dos seus púlpitos,dizendo:

–– Uma das essências da religião e das tradiçõesautênticas transmitidas pelos santos Imáms, mais ainda,a base principal das fundações do Islã de sua altezaJa’far, é a Ocultação do décimo-segundo imaculadoImám (sobre ambos esteja a paz). O que teráacontecido com Jabúlqá? Para aonde foi Jabúlsá? Oque é a Ocultação Menor? O que aconteceu com a

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Ocultação Maior? Quais são as declarações do Husaynibn Rúh, e o que há com a tradição do Ibn Mihríyár?O que devemos compreender a respeito da fuga dosGuardiões e os Ajudantes? Como devemos lidar coma conquista do Leste e do Oeste? Onde está o animalque carrega o Anticristo? Quando acontecerá aaparição do Súfyán? Onde estão os sinais que fazemparte das tradições da Família Sagrada? Onde é que ovitorioso Islã está de comum acordo? Só há duasalternativas para a questão: ou devemos repudiar astradições dos santos Imáms, ficando exaustos com oIslã de Ja’far e considerar as indicações claras do Imámcomo sendo sonhos perturbadores; ou, de acordocom as doutrinas primárias e secundárias da Fé e asdeclarações essenciais e explícitas da Lei maisluminosa, devemos considerar o repúdio e até mesmoa destruição desta pessoa como sendo o nosso deverprincipal. Se for para fecharmos os nossos olhos aestas tradições autênticas e doutrinas óbvias,universalmente reconhecidas, nenhum outro vestígiodurará da base fundamental do Islã do Imámimaculado, nós não seremos nem sunitas, nem seremosda seita prevalecente* para continuar na espera doSanto prometido e acreditar no primogênito Mihdí.Por outro lado, devemos considerar como admissívela abertura do Portão da Santidade, e considerar queAquele que Se levantará da família de Muhammadpossuirá dois sinais: a primeira condição é a LinhagemSanta; a segunda, (que Ele é divinamente) fortificado*Os xiitas.

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com versos brilhantes. O que podemos fazer com estascrenças milenares do rebanho libertado dos xiitas ouo que diremos concernente aos seus doutos sagazes epreeminentes sacerdotes? Onde está o erro de todoseles? Viajaram eles ao vale da transgressão? Como éevidente que isto seja uma asserção falsa! Por Deus,esta é uma noção de quebrar a espinha-dorsal! Ó povo,extinga este fogo e esqueça estas palavras! Infelicidade!Ai de nossa Fé, ai de nossa Lei!

Assim eles reclamaram nas mesquitas e capelas, empúlpitos e congregações.

Mas os dirigentes bábís compuserem tratadoscombatendo as asserções deles e montaram réplicasde acordo com seus próprios pensamentos. Fosse istodiscutido em detalhes, conduziria o leitor àprolixidade, e o nosso objetivo é a afirmação dahistória e não de convencimentos para a crença ou arejeição. Mas, de algumas das réplicas, a essência éesta: Que eles julgassem a Prova como suprema e queas evidências tivessem mais valor do que as tradições,considerando a primeira como a raiz e a segundacomo o ramo, e dizendo:

–– Se o ramo não concorda com a raiz, este nãoserve como argumento e é desmerecedor deconfiança, pois as evidências são uma conseqüênciae, portanto, não tem direito a se opor ao princípioestabelecido e não pode argumentar contra o mesmo.

De fato, em tais casos, eles consideraram ainterpretação como a verdade da revelação e a essênciada verdadeira exegese. Assim, por exemplo, eles

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interpretaram a soberania do Qá’im como sendo umasoberania mística e Suas conquistas como sendoconquistas das cidades dos corações, abduzindo emapoio a esta brandura e a derrota do Chefe dosMártires (que a vida de todos seja um sacrifício a Ele).Pois Ele fora a verdadeira manifestação do versoabençoado: “E de que Nossos exércitos sair-se-iamvencedores.”11 Já, não obstante este fato, Ele tragouo cálice do martírio com brandura perfeita, e, noderradeiro momento da derrota mais esmagadora,triunfou sobre os Seus inimigos e Se tornou o maispoderoso dos soldados da Hoste Suprema.Semelhantemente, eles consideravam os numerososEscritos que, a despeito da Sua falta de instrução, oBáb tinha composto, como sendo devido à induçãodo Espírito Santo; citavam os depoimentos contráriosde livros escritos por homens de destaque; abduziramtradições que aparentemente concordavam com seusobjetivos; e apegavam-se aos anúncios de certosnotáveis dos tempos passados. Eles tambémconsideravam a conversão dos doutos austeros eascéticos e os devotos eminentes da Religião Perspícua(do Islã) como uma prova válida, julgavam a firmezae a constância do Báb como sinais extremamentepoderosos, e relatavam milagres e semelhanças.

Sendo tais coisas completamente distante ao nossopropósito, temos passado por cima e com brevidade.Agora procederemos com o nosso tópico original.

Durante estes eventos apareceram certas pessoasentre os bábís que tinham uma ascendência e uma

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aparência estranha aos olhos desta Fé. Entre estasestava Mírzá Muhammad-’Alí de Mazindarán*, quefoi o discípulo do ilustre Siyyid Hájí Siyyid Kázim deRasht (que Deus exalte a sua posição), e que foi oparceiro e companheiro do Báb na Sua viagem deperegrinação. Após um período, certas condutas emagnificência emanavam dele, de modo que todos,agindo com confiança absoluta, consideravam aobediência a ele como um baluarte inexpugnável, atémesmo Mullá Husayn de Bushrúyih, que era o líderde todos e o árbitro a quem apelavam tanto os nobresquanto os humildes desta Fé, costumava comportar-se na sua presença com grande humildade, em umaauto-submissão de servo.

Esta personagem postou-se a exaltar a Palavra doBáb com a máxima firmeza, e o Báb fez honra plenaà palavra em elogiá-lo e glorificá-lo, anunciando queo seu surgimento foi um auxílio do Invisível. Emelocução e estilo ele era “mágica evidente”, e emfirmeza e constância superior a todos. Finalmente, noano 1265 (d.h.)†, por força da sentença do chefe dosadvogados do Sa’ídu’l-’Ulamá, o sacerdote principalde Barfurúsh, ele cedeu sua cabeça e renunciou suavida em meio a um extremo clamor e protesto.

E entre eles estava aquela que foi intituladaQurratu’l-’Ayn, a filha do Hájí Salíh, o sábio deQazvín, o erudito. Ela, de acordo com o que foirelatado, era hábil em diversas artes, assombrou o

*Quddús. n.t.†1849. n.t.

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entendimento e pensamentos dos mais eminentesmestres através da suas dissertações eloqüentes sobreo exegese e tradições do Livro Perspícuo, e foi umsinal considerável nas doutrinas do glorioso shaykhde Ahsá. Nos Santuários Supremos, ela apropriou-seda luz da lâmpada de Kázim nos assuntos sacros, elivremente sacrificou sua vida no caminho do Báb.Ela discutiu e disputou com os doutos e sábios,soltando sua língua para estabelecer a doutrina dEle.Tal foi a sua fama que a maioria das pessoas, estudiosaou mística, procurava ouvir seu discurso e estavaansiosa a se familiarizar com seus poderes deespeculação e dedução. Ela tinha um cérebro repletode idéias tumultuosas e pensamentos veementes eagitados. Em muitos lugares ela triunfou sobre oscontenciosos, expondo as questões mais sutis. Quandoela foi encarcerada na casa do (Mahmúd) kalantar deTeerã, e as festividades e regozijo de um casamentoestavam em curso, as esposas dos magnatas da cidadeque estavam presentes ficaram tão encantadas com abeleza da sua fala que, esquecendo-se das festividades,se juntaram em volta dela e divertiram-se ouvindo asmelodias de suas palavras, e segundo os testemunhos,tornaram-se indiferentes às manifestações de alegriaque são tão comuns numa festa de casamento. Emresumo, em elocução, ela era a calamidade da época,e em raciocínio, o transtorno do mundo. De receioou timidez não havia traço no seu coração, nem tinhaas admoestações de uma inclinação bondosa qualquerproveito ou fruto para ela. Embora ela fosse (tais com

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são) uma donzela (apropriada) para o noivado,contudo ela arrancava a preeminência dos homensvalentes, e continuou a extenuar os pés da constânciaaté que cedeu sua vida por força da sentença dospoderosos eruditos de Teerã. Porém, se formos nosocupar com estes detalhes, o assunto terminaria emprolixidade.

Voltando ao tema, a Pérsia estava num estadocrítico e os eruditos estavam perplexos e ansiosos,quando o príncipe Muhammad Sháh faleceu e otrono da soberania foi adornado com a pessoa donovo monarca, Mírzá Taqí Khán Amír-Nizám, queera o primeiro-ministro e regente-chefe. Ele segurou,até onde seu poder despótico alcançava, as rédeas dosassuntos da comunidade, e instou o corcel de suaambição na arena da obstinação e possessão exclusiva.Este ministro era uma pessoa destituída de experiênciae faltava de consideração para com as conseqüênciasdas suas ações. Um sanguinário desavergonhado,prontamente animado para derramar sangue. Eleconsiderava a severidade em punições como sendouma sábia administração, e tratar asperamente, afligir,intimidar e assustar o povo, pontos de apoio para oavanço da monarquia. E como a sua majestade, o rei,estava na plenitude de seus anos de juventude, oministro caiu numa estranha ilusão e soou o tamborde despotismo nos (na condução dos) assuntos.Devido a sua própria resolução decisiva, sem procurarpermissão do rei ou consultar os estadistas prudentes,ele emitiu ordens para perseguir os bábís, imaginando

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que através dessa força presunçosa, pudesse erradicare suprimir assuntos desta natureza; e que a severidadeproduziria bons frutos, ao passo que (de fato) ainterferência em questão de consciência, simplesmentedá a eles maior destaque e força. Quanto mais seesforcem para extinguir a chama, mais ela arderá,especialmente em assuntos de fé e religião, as quaisespalham e adquirem influência tão logo sejaderramado sangue, fortemente afetando os coraçõesdos homens. Estas coisas têm sido colocadas à prova,e a maior prova são os diversos casos. Assim elesrelatam que as possessões de um certo bábí emKáshán foram saqueadas e seus pertences domésticosespalhados e seu lar dispersado. Eles o deixaram nu eo chicotearam, macularam sua barba, montaram-node costas num asno e ao som de tambores, trompetes,violões e pandeiros, fizeram-no desfilar pelas ruas ebazares com o máximo de crueldade.

Um certo gabr* que nada sabia do mundo ou deseus ocupantes, casualmente estava sentado separadonum canto de um caravançarai. E quando o clamordo povo subiu num nível alto, apressou-se para a rua,e, ao tomar conhecimento a respeito da ofensa e doofensor, e a causa da sua desgraça e punição públicaem todos os detalhes, ele procurou saber o por que, enaquele mesmo dia entrou na sociedade dos bábís,dizendo:

–– Este maltrato e humilhação pública é prova daverdade e o melhor dos argumentos. Não fosse assim,*Zoroastriamo. n.e.

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poderia ter passado mil anos antes que alguém comoeu ficasse informado.

Em todos os eventos o ministro com a máxima dearbitrariedade, sem receber quaisquer instruções oupedir permissão, emitiu ordens em todas as direçõespara punir e castigar os bábís. Governadores emagistrados buscaram um pretexto para acumularriqueza, e os oficias encontraram um meio de adquirirlucros; doutos célebres do topo dos seus púlpitosincitaram os homens a fazerem um violento ataquegeral; os poderes da lei religiosa e civil entrelaçaramas mãos e esforçaram-se a erradicar e destruir estepovo.

Os bábís não tinham adquirido ainda o correto enecessário conhecimento dos princípios fundamentaise doutrinas não desseminadas dos Ensinamentos doBáb, e conseqüentemente não conheciam seusdeveres. As suas concepções e idéias eram de acordocom os modos antigos, e suas condutas ecomportamentos correspondiam ao costumesantigos. A maneira de se aproximar ao Báb era, alémdo mais, fechada, e a chama das dificuldades ardiavisivelmente por todos os lados. Por conta do decretodos doutos mais célebres, o governo e, de fato, o povocomum, com poder irresistível, inaugurou saques epilhagens por todos os lados, e estavam engajadosem punir e torturar, matar e roubar, de modo quepudessem extinguir este fogo e enfrequecer estasdesoladas almas. Nas cidades onde estavam emnúmero limitado, todos, com as mãos atadas, se

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tornaram alimento para a espada, enquanto emcidades onde eram numerosos, eles se levantaram emautodefesa, conforme as suas crenças anteriores, umavez que era impossível para eles fazerem averiguaçõesa respeito de seus deveres, pois todas as portas estavamfechadas.

Em Mazindarán, entre outros lugares, o povo dacidade de Barfurúsh por força do comando do chefedos advogados, o Sa’ídu’l-’Ulamá, fez um ataquegeral ao Mullá Husayn de Bushrúyih e seusseguidores, assassinando de maneira violenta seis ousete pessoas. Eles estavam ocupados em maquinar adestruição do restante, quando Mullá Husaynordenou que o adhán fosse soado e empunhou suaespada; em conseqüência, todos procuraram fugir. Osnobres e lordes se apresentaram diante dele com amáxima penitência e deferência e concordaram empermitir sua partida. Eles ainda enviaram um guarda,Khusraw de Qádí-Kalá, com cavaleiros e soldados apé, de modo que, conforme os termos do acordo,eles poderiam sair salvos e protegidos do territóriode Mazindarán. Quando eles, desconhecedores dastravessias dos rios e dos caminhos, emergiram dacidade, Khusraw dispersou seus cavaleiros e soldadose os colocou numa emboscada na floresta deMazindarán. Ele espalhou e separou os bábís naquelafloresta, na estrada e fora dela e começou a caçá-losindividualmente. Quando os estampidos dosmosquetes elevaram-se por todos os cantos, aemboscada tornou-se manifesta, sendo alguns viajantes

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e os que vagavam por lá, brutal e repentinamentefuzilados. Mullá Husayn ordenou que o adhán fossesoado para reunir seus seguidores espalhados,enquanto Mírzá Lutf-‘Alí, o secretário, puxou suaadaga e abriu os órgãos vitais de Khusraw. Do bandode Khusraw alguns foram mortos e outros vagaramdistraidamente no campo de batalha. Mullá Husaynquartelou seu bando num forte perto do local aondejazia o shaykh Tabarsí, e, estando atento aos desejosda comunidade, pode descansar e interromper amarcha.

Este destacamento foi subseqüentemente reforçadomais ainda por Mírzá Muhammad-’Alí deMazindarán e mais outras pessoas, de modo que onúmero naquele forte aumentou para trezentas e trezealmas. Destes, porém, nem todos eram capazes delutar. Somente cento e dez pessoas estavam preparadaspara a guerra, pois a maioria era de eruditos ouestudantes, companheiros apenas de livros e áreasadministrativas. Contudo, a despeito do fato de queestavam desacostumados com a guerra e aos golpesde espadas e de tiros, quatro vezes foram formadosacampamentos e exércitos contra eles, sendo atacadose cercados por canhões, mosquetes e granadas, e emtodas as quatro ocasiões infligiram derrota, até que oexército foi completamente debandado e dispersado.Na ocasião da quarta derrota, Abbás-Qulí Khán deLaríján era o capitão das forças e o príncipe Mihdí-Qulí Mírzá, o comandante no acampamento.Oreferido khán usou as noites para ocultar-se e

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esconder-se entre as árvores do lado de fora doacampamento, enquanto durante o dia ficava presenteno acampamento. A última batalha aconteceu duranteuma noite e o exército foi derrotado. Os bábísqueimaram as tendas e choupanas deste exército,tornado a noite tão clara quanto o dia. Porém, derepente, a pata do cavalo de Mullá Husayn, único queestava montado, ficou enroscada num laço, e Abbás-Qulí Khán reconhecendo-o de longe, descarregouvárias balas, com suas próprias mãos, de cima de umaárvore. Com um terceiro tiro, ele o derrubou. MulláHusayn foi levado morto pelos seus seguidores parao forte; ali, eles enterraram o corpo. Apesar desteevento (as tropas) não puderam prevalecer através daforça bruta.

Após um tempo, o príncipe fez um tratado – umconvênio – jurando em nome dos Imáms Santos. Paraeste efeito confirmou seu juramento com votosbaseados no Alcorão glorioso:

–– Vocês não serão molestados; retornem aos seuslugares.

Uma vez que as provisões havia sido, já há algumtempo, esgotadas e nem mesmo a pele e os ossos doscavalos restava, e tendo eles subsistido por vários diassomente com água, finalmente concordaram. Quandochegaram no acampamento do exército foi preparadacomida para eles, porém num lugar distante. Equando estavam comendo, tendo colocado de ladoas suas armas e armaduras, os soldados os atacaramde todos os lados e assassinaram a todos. Alguns têm

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relatado esta bravura, demonstrada por este povo,como sendo algo milagroso, mas quando um grupode homens está sitiado em algum lugar aonde todasas passagens e ruas são sem saída e qualquer esperançade resgate esteja eliminada, asseguradamente estegrupo se defenderá desesperadamente e demonstrarávalentia e coragem.

Em Zanján e Nayríz do mesmo modo, devido aosdecretos dos eruditos e advogados notáveis, uma forçamilitar sanguinária os atacou e sitiou-os. Em Zanján,o chefe foi Mullá Muhammad-‘Alí, o mujtahid,enquanto em Nayríz, Siyyid Yahyá de Daráb foi o lídere o árbitro. No começo, eles procuraram fazer umareconciliação, mas, sendo recebidos com ferocidadecruel, eles chegaram ao ápice do desespero. Com umaforça esmagadora, as tropas vitoriosas fecharam todasas passagens de fuga, e eles abriram mão em resistir.Mas, embora fossem muito fortes na batalha,assombrando os chefes do exército pela sua firmeza epersistência, a força militar esmagadora fechou a rotade fuga e derrubou suas esperanças de liberdade.Enfim, após numerosas batalhas, eles tambémcederam aos convênios e acordos, juramentos epromessas, votos registrados no Alcorão e àsestratégias maravilhosas dos oficiais e foram todossubmetidos ao fio da espada.

Fôssemos nos ocupar com as detalhes das guerrasde Nayríz e Zanján, ou detalhar estes eventos docomeço ao fim, este epítome se tornaria um tomo

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volumoso. Então, citarei brevemente osacontecimentos.

Durante o curso dos eventos que aconteceram emZanján, o primeiro-ministro maquinou um remédiofinal e vigoroso. Sem um comando real, sem consultarcom os ministros da corte que protegiam os súditos,ele, agindo com disposição arbitrária, determinaçãofixa e inteiramente de sua própria autoridade, emitiuordens para executar o Báb. Sucintamente, descrevoo que se sucedeu.

O governador do Ádhirbayján, o príncipe HamzihMírzá, estava relutante em executar esta sentença comsuas próprias mãos, e falou ao irmão do amír, MírzáHasan Khán:

–– Este é um negócio vil e fácil; qualquer um seriacapaz e competente. Eu havia imaginado que a suaexcelência, o regente, me comissionaria para guerrearcontra os afegãos ou os usbequitaneses ou medesignaria para atacar e invadir o território da Rússiaou da Turquia.

Foi assim que Mírzá Hasan Khán escreveu suadesculpa em detalhes ao amír.

O Siyyid Báb pôs em ordem todos os Seus negóciosantes de sair de Chihríq em direção à Tabríz,acondicionou Seus Escritos, Seu anel e estojo decanetas numa caixa especialmente preparada, colocoua chave da caixa num envelope e o enviou porintermédio de Mullá Báqir, que era um dos Seusprimeiros companheiros, à Mullá ‘Abdu’l-Karím deQazvín. Mullá Báqir confiou esta encomenda ao

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Mullá ‘Abdu’l-Karím em Qum na presença de umgrupo numeroso. Por força das solicitações daquelespresentes, abriu a tampa da caixa e disse:

–– Recebi ordens para conduzir isto e entregar emmãos a Bahá’u’lláh. Mais do que isto não meperguntem, pois não posso falar-vos.

Importunado pelo grupo, ele produziu uma longaepístola em tinta azul, caligrafada da maneira maisgraciosa com a máxima delicadeza e firmeza numbonito estilo diminuto de shikastih, usando umformato de um homem, tão condensado que poderiaser imaginado que fosse uma única pintura de tintano papel. Quando leram esta epístola, perceberamque havia produzido trezentos e sessenta derivaçõesda palavra Bahá. Então, Mullá ‘Abdu’l-Karímconduziu a incumbência ao seu destino.

Retornemos a nossa narrativa original. O primeiro-ministro emitiu uma segunda ordem para seu irmão,Mírzá Hasan Khán, sendo a essência desta ordem aseguinte:

“Obtenha uma sentença formal e explícita doseruditos de Tabríz que são os sustentáculos firmesdo Islã de Ja’far, sobre ele esteja a paz e a fortalezainexpugnável da fé xiita. Convoque o regimentocristão de Urúmíyyih e suspenda o Báb diante detodo o povo, e dê ordens para descarregar umasaraivada de tiros.”

Mírzá Hasan Khán convocou o chefe dos farráshes,e lhe deu suas instruções. Removeram o turbante e afaixa do Báb que eram sinais de Sua posição de siyyid,

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e O trouxeram, juntamente com quatro dos Seusseguidores, à praça do quartel. Ele foi confinadonuma cela e designaram quarenta dos soldadoscristãos de Tabríz para vigiá-Lo.

No dia seguinte, o chefe dos farráshes entregou oBáb e um jovem de nome Áqá Muhammad-‘Alí queera de uma nobre família de Tabríz ao Sám Khán, ocoronel do regimento cristão de Urúmíyyih, por forçadas sentenças dos eruditos Mullá Muhammad deMámáqán, Mullá Mírzá Báqir, a segunda autoridadeeclesiástica e Mullá Murtadá-Qulí, a terceiraautoridade eclesiástica, entre outros. Um prego deferro foi pregado no meio da escadaria da própriacela na qual estavam aprisionados, e duas cordas forampenduradas. Por uma das cordas o Báb foi suspensoe pela outra corda Áqá Muhammad-‘Alí, ambos sendofirmemente amarrados de tal maneira que a cabeçado jovem ficou no peito do Báb. Os telhados das casascircunvizinhas estavam repletos com multidõeseufóricas. Um regimento de soldados alinhou-se emtrês fileiras. A primeira fileira atirou; então a segundafileira; e por fim foi a vez da terceira fileira, produzindouma grande fumaça. Quando a fumaça dispersou,viram que o jovem estava em pé e o Báb encontrava-Se sentado ao lado do Seu amanuense, Áqá SiyyidHusayn, na mesma cela da escadaria da qual eles oshaviam suspendido. A nenhum dos dois haviaacontecido o menor ferimento.

Sám Khán, o cristão, pediu para ser dispensado; oturno de serviço caiu para um outro regimento e o

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chefe dos farráshes absteve-se deste ato. Áqá Ján Bigde Khamsíh, coronel do corpo de guarda-costas,avançou e eles de novo amarraram o Báb junto comaquele jovem ao mesmo prego. O Báb pronuncioucertas palavras que somente poucos que sabiam alíngua persa entenderam, enquanto o restante ouviuapenas o som da Sua voz.

O coronel do regimento apareceu em pessoa, eraantes do meio-dia do vigésimo-oitavo dia de Sha’bánno ano 1266 (d.h.)*. De repente, ele deu ordem paraatirar. Com esta saraivada, as balas produziram talefeito que os peitos das vítimas ficaram crivados e seusmembros completamente dissecados; exceto os seusrostos que foram somente um pouco marcados.

Eles, então, removeram aqueles dois corpos dapraça até a beirada de um fosso do lado de fora dacidade, e naquela noite, soldados permaneceram aolado do fosso. No dia seguinte, o cônsul russo veiocom um artista e fez um retrato daqueles dois corposna posição em que haviam caído ao lado do fosso.

Na segunda noite, à meia-noite, os bábís levaramembora os dois corpos.

No terceiro dia, o povo não achou os corpos ealguns supuseram que os bichos selvagens os haviamdevorado. Assim os eruditos proclamaram do topodos seus púlpitos dizendo:

–– O corpo sagrado do Imame imaculado e daqueleverdadeiro xiita não foram preservados de ferimentos

*9 de julho de 1850.

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ou da intromissão dos animais de rapina e rastejantes,pois os bichos selvagens os rasgaram em pedaços.

Após uma investigação e averiguação completaficou provado que quando o Báb dispersou todos osSeus escritos e pertences pessoais, Ele deixou claro eevidente, por vários sinais, de que estes eventos iriamacontecer em breve. Então, no segundo dia desteseventos, Sulaymán Khán, o filho do Yahyá Khán, umdos nobres de Ádhirbayján, devoto do Báb, dirigiu-se à Tabríz e foi diretamente à casa do prefeito. Comoo prefeito era um velho amigo, companheiro econfidente seu, e além disso, era de temperamentomístico e não acolhia aversão ou antipatia porqualquer seita, divulgou este segredo ao prefeitodizendo:

–– Hoje à noite, eu e vários outros companheirostentaremos por todos os meios e artifícios resgatar ocorpo. Mesmo que não seja possível, e o que querque aconteça, iremos fazer um ataque: ou atingimoso nosso objetivo ou perdemos livremente as nossasvidas desta maneira.

–– Tais transtornos – respondeu o prefeito – demaneira alguma são necessários.

Ele, então, enviou um dos seus servos particularesde nome Hájí Alláh-Yár, que por todos os meios eprocedimentos, obteve os corpos sem problemas oudificuldades e os entregou ao Hájí Sulaymán Khán. Eao amanhecer, as sentinelas, para se desculparem,disseram que os bichos selvagens os haviam devorado.Naquela noite, eles abrigaram os corpos na oficina

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de um bábí de Mílán, e no dia seguinte, fabricaramum caixão e os colocaram nele, deixando-os emconfiança daquele bábí. Mais tarde, de acordo cominstruções que chegaram de Teerã, enviaram o caixãopara longe de Ádhirbayján. E esta transaçãopermaneceu em segredo absoluto.

Pois bem, nos anos 1266 e 1267 (d.h.), por toda aPérsia, o fogo caiu sobre os lares dos bábís, e a cadaum deles, qualquer que fosse a aldeia, a quem selevantasse a mais leve suspeita, o fio de espada erapassado. Mais de quatro mil almas foram mortas, euma grande multidão de mulheres e crianças foideixada sem proteção ou amparo; e as que estavamdistraídas ou confusas eram pisoteadas e mortas.Todas estas ocorrências foram causadas unicamentepela decisão e comando de Mírzá Taqí Khán, queimaginou que, pela decretação de uma puniçãoesmagadora, esta Fé dispersaria e desapareceria de talmaneira que todos os sinais e o conhecimento delesseriam abolidos. Porém em curto período de tempo,contrário do que imaginavam, tornou-se certo ocrescimento dos bábís. A chama aumentou mais e apropagação tornou-se mais rápida. Incidentescresceram de maneira grave e as notícias chegaram àsoutras regiões. No começo estava confinado à Pérsia,e mais tarde espalhou-se pelo resto do mundo.Tremor e aflição resultaram em constância eestabilidade, e tormentos e punições penosas causarama aceitação e a atração. Os próprios acontecimentosproduziram uma impressão; esta impressão levou à

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investigação; e a investigação resultou em crescimento.Através da política imponderada do ministro, esteedifício tornou-se fortificado e fortalecido, e suasfundações firmes e sólidas. Inicialmente, o assunto eraconsiderado como corriqueiro; posteriormenteadquiriu importância aos olhos dos homens. Pessoasde todas as partes do mundo partiram para a Pérsia ecomeçaram a buscar de coração aberto. Pois, foiprovado pela experiência do mundo, que nosassuntos de consciência, a laceração causa a cura; acensura produz o aumento da diligência; a proibiçãoinduz à ânsia; e a intimidação cria a avidez. A raiz estáescondida no próprio coração, enquanto o ramo estáaparente e evidente. Quando um ramo é cortado,outros ramos crescem. Entretanto, pode-se observarque quando tais assuntos ocorrem em outros países,tornam-se extintos espontaneamente por falta deatenção e de interesse. Assim, até o presente momento,muitos movimentos concernentes à religião, têmaparecido em países da Europa, mas a não-interferência e a ausência de intolerância os têmprivados de importância, dentro de um curto tempose tornam ofuscados e dispersam-se.

Após este episódio, um certo bábí cometeu umgrande erro com sua presunção, um crime que temenegrecido a página da história desta Fé, criando umaimagem desfavorável através do mundo civilizado.Deste evento, a essência é esta: Durante o período emque o Báb estava residindo em Ádhirbayján, umjovem, de nome Sádiq, ficou sensibilizado com o

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máximo de devoção ao Báb. Dia e noite estavaocupado em servi-Lo, e ficou privado de pensamentoe razão. Quando soube o que se sucedeu ao Báb emTabríz, este servo, impulsionado por suas própriasinsensatas fantasias, pensou em buscar uma vingançasangrenta. E como nada sabia dos detalhes do evento,nem estava ciente de que esta sentença havia sidopromulgada absolutamente sem o conhecimento dacorte real, e que tinha sido presunçosamente emitidasob a ordem de exclusiva responsabilidade doprimeiro-ministro, a autocracia absoluta do Amír-Nizám, sob seu poder desenfreado e autoridadeexclusiva; ele presumiu que, de acordo com o costumee meios normais, os atendentes da corte tinham tidouma parte e um conhecimento daquela sentença,conseqüentemente, impelido por insensatez, delírioe não somente isto, mais ainda, por completademência, saiu de Tabríz e seguiu diretamente paraTeerã, tendo uma outra pessoa como seu cúmplice.Então, uma vez que a caravana real tinha o seudomicílio em Shimírán, para lá ele dirigiu seus passos.Deus é nosso refúgio! Por ele foi efetuada umafaçanha tão presunçosa que a língua é incapaz dedeclarar e a pena avessa a descrevê-la. Contudo, Deusseja louvado, este desvairado carregou sua pistola comchumbo, imaginando ser este preferível e superior atodos os outros projéteis. Então, todos em uma sócomoção levantaram-se, e a Fé ficou com tamanhamá fama que embora se esforçassem e se empenhassemao máximo para escapar da maldição e da desgraça

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deste feito, foram incapaz de protege-la. Relatamosdesde a manifestação do Báb até o presente momento,mas quando o fio do discurso chega neste evento,ficamos envergonhados e abaixamos nossas cabeçasem humilhação, repudiando o feitor presunçoso econsiderando-o o destruidor do edifício e a causa devergonha para a humanidade.

Após a ocorrência deste grave fato, todos quepertenciam a esta Fé eram suspeitos. No começo nãohouve nem investigação ou averiguação, masposteriormente, por mera justiça, foi decidido quedeveria haver investigação, averiguação e pesquisa.Todos que eram conhecidos como crentes desta Fécaíram sob suspeita. Bahá’u’lláh estava passando overão na vila de Áfchih, situada numa região de Teerã.Quando esta notícia foi espalhada amplamente e apunição começou, cada um que tinha condições seescondeu em algum retiro ou fugiu do país. Entreestes, Mírzá Yahyá, o irmão de Bahá’u’lláh, se ocultou,e como um fugitivo desnorteado, no disfarce de umdervixe com um kashkúl na mão, vagou pelasmontanhas e planícies da estrada para Rasht. MasBahá’u’lláh cavalgou publicamente, com perfeita ecalma compostura, de Áfchih para Níyávarán, que eraa estação da caravana real e o acampamento imperial.Imediatamente após Sua chegada, Ele foi levado preso,e um regimento inteiro O vigiou rigorosamente. Apósvários dias de interrogação, eles O mandaram emcorrentes e grilhões de Shimírán à prisão de Teerã.Esta severidade e punição foi devido a falta de

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oportunidade de Hájí ‘Alí Khán, o Hajíbu’d-Dawlih.Parecia não haver qualquer esperança de libertação,até que a sua majestade, o rei, movido pelo seu próprioespírito ameno, comandou a circunspeção e ordenouque esta ocorrência fosse investigada e examinada eem particular por intermédio dos ministros da corteimperial.

Quando Bahá’u’lláh foi interrogado sobre esteassunto, Ele respondeu em réplica:

–– O próprio episódio indica a verdade do assuntoe testifica que esta foi a ação de um homemimprudente, ilógico e ignorante. Pois, nenhumapessoa razoável carregaria sua pistola com chumboem se tratando de um empreendimento tão sério.No mínimo, ele faria arranjos e planejamentos detal modo que a ação fosse metódica e sistemática.A própria natureza do evento é tão clara e evidentequanto o sol, e que não foi a ação de alguémsemelhante a Mim.12

Então foi estabelecido e provado que o assassinotinha, de sua própria responsabilidade, empreendidoesta ação penosa e façanha monstruosa, com a idéia ea intenção de obter vingança sangrenta pelo seuMestre, e sem respeito a mais ninguém. E quando averdade do fato tornou-se evidente, a inocência deBahá’u’lláh foi estabelecida de tal maneira quenenhuma dúvida permaneceu a qualquer um. Adecisão da corte declarou a Sua pureza e isenção destaacusação, e se tornou aparente e claro que o que havia

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sido feito com respeito a Ele foi devido aos esforçosdos Seus inimigos e a insensatez precipitada doHajíbu’d-Dawlih. Foi por esta razão que o governode duração eterna, desejou restaurar certaspropriedades e patrimônios que haviam sidoconfiscados, para que, por meio disso, O pudesseapaziguar. Mas, visto que a maior parte dospatrimônios estava perdido e somente uma porçãoinsignificante estava disponível, ninguém seapresentou para reivindicá-las. De fato, Bahá’u’lláhsolicitou a permissão para se retirar até os SantuáriosSupremos* (Kárbilá e Najaf) e, após alguns meses,através da permissão real e com a licença do primeiro-ministro, partiu acompanhado por um dosmensageiros do rei para os Santuários.

Vamos retornar ao nosso assunto original. DosEscritos do Báb, muitos permaneceram em possespessoais. Alguns destes são comentários einterpretações dos versículos do Alcorão; outros sãoorações, sermões e alusões ao verdadeiro significadode certas passagens; enquanto outros são exortações,admonições, dissertações sobre os diversos ramos dadoutrina da Unidade Divina, demonstrações daespecial missão profética do Senhor das coisasexistentes (Muhammad), e (conforme compreen-

*Átabát Álíyát, literalmente Santuários Supremos, um termo peloqual os islamitas xiitas referiam-se às cidades de Kazímayn, Najaf eKárbilá e geralmente aplicado à região leste do Iraque, da qual Bagdáfoi o centro. Quando Bahá’u’lláh foi libertado da prisão e banido daPérsia, Ele escolheu Bagdá para ser o local do Seu exílio.

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demos) encorajamentos para o aperfeiçoamento docaráter, desprendimento dos estados mundanos edependência das inspirações de Deus. Mas a essênciae significado das Suas composições eram os elogios edescrição daquela Realidade que claramente foi Seuúnico objetivo e propósito, Seu Bem-Amado e Seuanelo*. Pois, Ele considerou Sua própria vinda comoAquele arauto das boas-novas, e considerou Suaverdadeira natureza como sendo meramente um meiopara manifestar as maiores perfeições dAquele Ser. Erealmente, Ele não cessava dia e noite de celebrá-Lonem por um único instante, mas costumava dizer atodos os Seus seguidores que deveriam esperar Suavinda. De tal maneira que Ele declara em Seus escritos:

“Eu não sou senão uma letra desse poderosíssimolivro, uma gota de orvalho desse oceano ilimitado,e quando Ele aparecer, a Minha verdadeiranatureza, os Meus mistérios e enigmas, se tornarãoevidentes, e o embrião desta religião sedesenvolverá através dos graus da sua existência esua evolução, e atingirá a posição ‘da mais perfeitaforma’13, e se adornará com o manto do ‘Louvadoseja Deus, Criador por excelência’14. E estamanifestação realizar-se-á no ano 1269 (d.h.)†, quecorresponde ao número do ano de ‘após um

*Bahá’u’lláh.†1852. Hin, de acordo com a anotação Abjad, é igual a 68. Em 1268(d.h.), Bahá’u’lláh, acorrentado na Fossa Negra de Teerã, recebeu asprimeiras manifestações da Sua Missão Divina e naquele mesmo anofez alusão disso em Suas odes.17

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tempo’, e será cumprida a profecia15 de ‘verás asmontanhas, que te parecem firmes, passaremrápidas como as nuvens’.”16

Em resumo, o Báb descreveu Bahá’u’lláh de talmodo que, na Sua própria expressão, considerou aaproximação da generosidade divina e a obtenção dosmais altos degraus de perfeição nos mundos dahumanidade como dependentes no amor aBahá’u’lláh, e tão inflamado estava o Báb com a chamade Bahá’u’lláh que a comemoração dEle era a velaluminosa de Suas noites escuras na fortaleza de Mákú,e a lembrança dEle era o melhor dos companheirosnas dificuldades da prisão de Chihríq. Por meio disso,o Báb obteve grande elevação espiritual. Com Seuvinho inebriava-Se e na lembrança dEle, o Bábregozijava-Se. Todos os Seus seguidores, tambémestavam na expectativa da aparição destes sinais, e cadaum dos Seus amigos íntimos estava buscando ocumprimento destas previsões.

No início da manifestação do Báb havia em Teerã(que o Báb chamava de Terra Santa) um Jovem dafamília de um dos ministros e de linhagem nobre,talentoso em todas as maneiras e adornado compureza e nobreza. Embora Ele combinasse umalinhagem elevada com conexões eminentes, e emboraSeus ancestrais fossem homens de destaque na Pérsia,tendo a população se dirigido a eles, contudo, Elenão era de uma linhagem de eruditos ou de uma famíliade estudiosos. Este Jovem era, desde os primórdios

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da Sua adolescência, celebrado entre aqueles da classedos ministros, mesmo entre parentes e estranhos, porSeu espírito singular, e era desde a infância apontadocomo sendo notável por Sua sagacidade e tido emalta estima aos olhos dos sábios. Ele, porém, contrárioa maneira dos Seus ancestrais, não desejava galgar aposição dos imponentes nem buscava posições dedestaque, pois estas são transitórias. A Sua capacidadeextrema era, apesar de tudo, admitida por todos, eSua perspicácia excessiva e inteligência eramuniversalmente reconhecidas. Aos olhos do povocomum Ele desfrutou de uma estima maravilhosa, eem todas as reuniões e assembléias Ele tinha umdiscurso e uma elocução magníficos. Não obstante afalta de instrução e ensino, tal foi a agudeza da Suapenetração e o desembaraço da Sua percepção quedurante o auge de Sua mocidade, quando Ele aparecianas assembléias onde questões de divindade emetafísica estavam sendo discutidas, na presença dogrande concurso de doutos e estudiosos Sepronunciava e todos os presentes ficavam assombrados,consideravam isto como um tipo de prodígio além dodiscernimento normal da raça humana. Desde os Seusprimeiros anos Ele era a esperança de seus parentes eum exemplo ímpar de Sua família e linhagem, maisainda, o refúgio e abrigo deles.

Porém, a despeito destas condições ecircunstâncias, com um kuláh* na Sua cabeça e

*Turbante. n.r.

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madeixas fluindo sobre Seus ombros, ninguémimaginava que Ele tornaria-Se a fonte de tais assuntos,e que estas ondas torrenciais chegariam ao zênite destefirmamento.

Quando a questão do Báb foi amplamentealardeada, sinais de parcialidade apareceram nEle. Nocomeço, Ele informou tanto aos Seus parentes eamigos quanto às crianças e dependentes do Seupróprio círculo. Subseqüentemente, Ele direcionouSuas energias dia e noite para convidar amigos eestranhos a abraçar a nova Fé. Ele levantou-Se comvigorosa resolução, engajado com a máximaconstância na sistematização e consolidação dosprincípios éticos fundamentais daquela sociedade,cada uma à sua maneira, e esforçou-Se de todas asformas para proteger e guardar estas pessoas.

Quando Ele estabeleceu as fundações em Teerã,apressou-Se para Mazindarán, onde demonstrou emassembléias, reuniões, conferências, estalagens,mesquitas e faculdades um poder vigoroso deelocução e de exposição. Quem quer que observasseSua mente aberta ou ouvisse Seus elogios vívidos,perceberia nEle Seus olhos de verdadeira visão sendouma demonstração evidente, uma força magnéticalatente e uma influência permeante. Um grandenúmero de ricos, pobres e eruditos foram atraídospela Sua pregação e limparam seus corações e vidas,ficando tão incendiados que sacrificaram suas vidasem martírio, dançando (com alegria).

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Um dia, entre muitas instâncias, quatro talentososestudiosos e eruditos dos sacerdotes de Núr estavampresentes na Sua companhia, e Ele discursou de talmaneira que todos os quatro ficaram compelidos asuplicá-Lo para que os aceitasse em Seu serviço. Pois,pela força da Sua eloqüência, a qual era como“magnetismo manifesto”, Ele satisfez estes eminenteseruditos, que na verdade eram crianças engajadas nosrudimentos de estudo e simples principiantes, e queconseqüentemente deveriam ler novamente oabecedário desde o começo. Várias prolongadasconferências foram proferidas na exposição eelucidação do Ponto e do Alif do Absoluto, e osdoutos presentes ficaram pasmados e repletos deestupefação e perplexidade diante da ebulição etempestuosidade do oceano da Sua elocução. O relatodeste acontecimento chegou aos ouvidos dos queestavam próximos e distantes, e um desalentoprofundo caiu sobre os adversários. A região de Núrficou em grande excitação e comoção devido a esteseventos, e o barulho desta perniciosidade e transtornochegou aos ouvidos dos cidadãos de Barfurúsh. Osacerdote chefe de Núr, o mullá Muhammad, estavaem Qishláq. Quando ele ouviu sobre estes fatos,mandou dois dos mais distintos e profundos eruditos,que possuíam o maravilhoso poder da eloqüência etalento em oratória, argumentação conclusiva, e,também, poderes brilhantes de demonstração paradebelar este fogo e subjugar e superar este Jovem porforça do argumento e reduzindo-O à penitência ou

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causando-Lhe desespero pelo resultado êxitoso deSeus projetos. Glória a Deus por Seus decretosmaravilhosos! Quando estes dois eruditos entraramna presença dAquele Jovem e viram as ondas da Suaeloqüência, ouvindo a força de Seus argumentos, elesdesabrocharam-se como uma rosa e extremamentecomovidos, abandonaram o altar e a posição, opúlpito e o destaque, a riqueza e o luxo, ascongregações noturnas e matinais, e empregaram-seao fomento dos propósitos desta Pessoa, e mais ainda,convidaram o chefe dos sacerdotes a oferecer suafidelidade. Quando este Jovem com a capacidade dopoder da palavra, semelhante a uma torrenteimpetuosa, partiu para Ámul e Sarí, foi encontrar-Secom o experiente erudito e ilustre sacerdote emQishlaq de Núr, o povo de todas as regiões reuniu-separa esperar pelo resultado. Este acontecimento,reverenciou o sacerdote, embora esta Pessoa fosse deexcelência muito universalmente reconhecida e naciência O mais erudito dos Seus contemporâneos,entretanto, decidiu recorrer ao augúrio respeitandoa discussão e debate, mesmo sem a necessidade de seengajar.

O sacerdote não se mostrou favorável e, por essarazão, desculpou-se, protelando (o debate) para umoutro momento. A sua incompetência e deficiência,por meio disso, tornaram-se conhecidas e levantaramsuspeitas, causando este fato a adesão, confirmação eaperfeiçoamento de muitos.

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O breve sumário da narrativa é este: Por algumtempo, Bahá’u’lláh passeou entre aqueles distritos.Após a morte do príncipe Muhammad Sháh,retornou à Teerã, tendo em mente a intenção decorresponder-Se e entrar em contato com o Báb.Quem levou esta correspondência foi o celebradoMullá ‘Abdu’l-Karím de Qazvín, que era o suporteprincipal e amigo íntimo e de confiança do Báb. Umavez que Bahá’u’lláh havia alcançado um granderenome em Teerã e os corações dos homens estavaminclinados a Ele, Bahá’u’lláh juntamente com Mullá‘Abdu’l-Karím consideraram como sendoconveniente nao atrair atenção a si mesmos, emvirtude da agitação entre os eruditos, a agressividadeda maior parte da (do povo da) Pérsia e o poderirresistível do Amír-Nizám, por meio do qual tanto oBáb quanto Bahá’u’lláh ficariam em grave perigo esujeitos a atrair sobre Si uma severa punição. Algumamedida deveria ser adotada para direcionar ospensamentos dos homens a outra pessoa, alguém quenão estivesse presente – desta forma Bahá’u’lláhpermaneceria protegido da interferência dos homens.E uma vez mais, tendo em vista diversas considerações,consideraram que um estranho não seria apropriadoe jogaram a sorte deste augúrio no nome do irmãode Bahá’u’lláh – Mírzá Yahyá.

Com o auxílio e instrução de Bahá’u’lláh, então,tornaram-o notório e famoso nos círculos de amigose inimigos, e escreveram cartas, ostensivamenteditadas por ele, ao Báb. E, uma vez que correspon-

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dências secretas estavam em curso, o Báb aprovou esteesquema. Então, Mírzá Yahyá ficou oculto eescondido enquanto a menção dele estava na bocados homens. E este plano poderoso era de uma eficáciamaravilhosa, pois Bahá’u’lláh, embora fosse conheci-do e visto, permaneceu salvo e seguro, e este véu foi acausa e o motivo para que ninguém de fora (da Fé)sondasse o assunto ou tivesse a idéia de molestá-Lo,até que Bahá’u’lláh saiu de Teerã com a permissãodo rei para retirar-Se até os Santuários Supremos.

Quando Bahá’u’lláh chegou à Bagdá e a luacrescente do mês de Muharram do ano 1269 (d.h.),que foi denominado nos livros do Báb como sendo“o ano de após um tempo” e no qual Ele prometeu arevelação da verdadeira natureza de Sua Fé e seusmistérios, brilhou do horizonte do mundo e ficouaparente este segredo oculto entre todos de dentro efora (da sociedade), conforme foi relatado.Bahá’u’lláh, com imensa constância, tornou-Se o alvodas flechas de todos, enquanto Mírzá Yahyá,disfarçado em trajes árabes, passou seu tempo nacercania e vizinhança de Bagdá, engajado, para seencobrir melhor, em diversos ofícios.

Sendo assim, Bahá’u’lláh agiu de tal maneira queos corações desta Fé foram atraídos por Ele, enquantoa maioria dos habitantes do Iraque estava reduzidaao silêncio, ficando muda e alguns maravilhados eoutros encolerizados. Após permanecer lá por umano, Ele abriu mão de todas as coisas, abandonou osparentes e amigos, e, sem o conhecimento dos Seus

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seguidores, partiu do Iraque sozinho e solitário, semcompanheiro, auxiliador, associado ou colega. Porquase dois anos, Ele morou na região turca doCurdistão, geralmente passando a maior parte dotempo num lugar chamado Sar-Galú, situado nasmontanhas e longe das habitações humanas. Em rarasocasiões, Ele costumava freqüentar o Sulaymáníyyih*.Num curto espaço de tempo, os mais eminenteseruditos daquela região ouviram os rumores das Suascircunstâncias e condições, e conversaram com Elesobre a solução de certas questões difíceis, conectadascom os pontos mais abstrusos da teologia, tendoBahá’u’lláh fornecido sinais amplos e explanaçõessatisfatórias. Desta forma, eles despenderam respeitopor Ele e o máximo de acatamento e deferência. Comoconseqüência disso, Ele adquiriu uma grande fama ereputação maravilhosa naquelas regiões, e relatosfragmentados dEle circularam por todas as regiões edireções, falando que um estrangeiro, um persa, haviaaparecido no distrito do Sulaymáníyyih e que o povodaquele país havia soltado sua língua em elogios aEle. A partir destes rumores, soube-se que AquelaPessoa não era outra a não ser o próprio Bahá’u’lláh.Várias pessoas, então, apressaram-se para lá, ecomeçaram a suplicar e implorar, e estas súplicasfizeram com que Ele retornasse.

Embora esta Fé não tenha sido afetada comtremores ou consternações nestes eventos penosos,

*Desde os tempos antigos, o lugar de onde surgiu a maioria doseruditos mais versados dos sunitas. n.t.i.

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tais como o martírio de seu Líder e o massacre deSeus seguidores, e aumentado e multiplicado onúmero de crentes, ainda assim, esta comunidadeestava ignorante no que concerne à sua condutacorreta, sua ação, seu comportamento e seus deveres,seu único princípio de guia era seu amor pelo Báb,sendo que Ele estava apenas começando a assentar asfundações da nova Fé quando foi morto. Estaignorância foi a razão pela qual, em algumas partes,distúrbios aconteceram. Pois, ao experimentaremmolestamentos violentos, eles partiram para a auto-defesa. Mas após Seu retorno, tais foram os esforçosestrênuos de Bahá’u’lláh em educação, ensino,treinamento, regulamentação e reconstrução destacomunidade que, num curto período, todos estesproblemas e desordens foram extinguidos e o máximode tranqüilidade e sossego reinou nos corações doshomens. Deste modo, de acordo com o que foraouvido, ficou claro e óbvio, mesmo para os estadistas,que as intenções fundamentais e idéias desta Fé eramespirituais, assim como são as conexões dos puros decorações, e que seus verdadeiros e essenciais princípioseram a melhoria da moral e o aperfeiçoamento da raçahumana, e que com os assuntos materiais, eles nãotinham, em absoluto, nenhuma preocupação.

Quando estes princípios, então, foramestabelecidos no coração desta Fé, os crentes agiramde tal modo que em todos os países tornaram-secelebrados entre estadistas pela suavidade de espírito,constância de coração, intenção correta, ações boas e

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excelência de conduta. Por este povo ser bem dispostoà obediência e à submissão, e, ao receberem talinstrução, adaptaram suas condutas e compor-tamento a estas regras. No passado, era feita objeçãoàs palavras, ações, comportamento moral e condutadesta Fé – agora, objeção é feita na Pérsia à suadoutrina e seu estado espiritual. Isto está além do poderdo homem que poderia, por interferência ou objeção,modificar o coração e a consciência, ou intrometer-se nas convicções de qualquer um. Pois, no reino daconsciência nada além de um raio de luz de Deuspode comandar, e no trono do coração nada além dopoder universal do Rei dos Reis deve reinar. Destaforma, alguém pode deter e suspender (a ação de)qualquer faculdade exceto o pensamento e a reflexão,pois um homem não pode nem por sua própriavolição impedir a si próprio a reflexão ou opensamento, nem reter a sua imaginação.

De qualquer modo, a verdade incontestável é essa:que por quase trinta e cinco anos nenhuma ação deoposição ao governo ou de prejuízo à nação tememanado desta Fé ou tem sido testemunhado (porparte deles), e que durante este longo período, apesardo fato de que o número e a força deles é o dobro doque era no passado, nenhuma voz tem se levantadode qualquer lugar, exceto, uma vez ou outra, quandoos eruditos e os estudiosos eminentes (realmente paraa extensão deste relatório ao redor do mundo e odespertar dos homens) condenam alguns à morte.Tal interferência não é a destruição, mas a edificação

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quando consideramos a verdade, pois ela não seráextinta e esquecida por meio disso, mas, ao contrário,será estimulada e noticiada.

Relatarei pelo menos uma anedota curta querealmente aconteceu. Uma pessoa agrediuviolentamente e feriu gravemente um bábí. A vítimaseguiu em retaliação e levantou-se para se vingar,desembainhando sua arma contra o agressor. Aotornar-se o objeto de censura e reprimenda desta Fé,debandou-se em fuga. Quando chegou emHamadán, seu caráter ficou conhecido, e, como eleera de classe clerical, os doutos o perseguiramveementemente, entregando-o ao governo eordenando que um castigo fosse infligido. Por obrado acaso, caiu da dobra de seu colarinho, umdocumento escrito por Bahá’u’lláh que tratava sobrea reprovação contra tentativas de retaliação, censuravae desaprovava a busca de vingança e proibia a procurapor luxúria. Entre estes assuntos, acharam estasexpressões contidas naquele documento:

“Verdadeiramente, Deus rejeita o sedicioso.”18

“É melhor seres morto do que matar. E quandoestiveres passando por algum tormento, buscarecurso nos que controlam os assuntos e o refúgiodo povo; e se fores negligenciado, então confiateus problemas ao Senhor da Justiça. Esta é a marcados sinceros e a característica dos seguros.”19

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Quando o governador ficou ciente destes Escritos,dirigiu-se àquela pessoa dizendo:

–– Pelo decreto daquele Líder a quem você mesmoobedece, a correção é necessária e a punição e o castigosão obrigatórios.

–– Se – respondeu aquela pessoa – você for executartodos os Seus preceitos, terei o máximo de prazer emsubmeter-me à punição e à morte.

O governador sorriu e deixou o homem ir embora.Assim, Bahá’u’lláh esforçou-Se ao máximo para

educar (Seu povo) e incitar (neles) a moralidade; aaquisição das ciências e das artes de todos os países; ocomércio cordial com todas as nações da Terra; odesejo para o bem-estar de todos os povos; asociabilidade, concórdia, obediência, submissão einstrução das crianças; a produção daquilo que sejanecessário para a raça humana e a inauguração daverdadeira felicidade para o gênero humano. Elecontinuamente prosseguiu com o envio de Tratadose Admoestações para todas as partes (do mundo), porintermédio das quais um efeito maravilhoso eraproduzido. Algumas destas Epístolas foram, apósbuscas e indagações extremas, examinadas e algumaspartes delas serão, agora, registradas.

Todas estas Epístolas consistiram de (exortaçõespara a) purificação da moral, encorajamento à boaconduta, reprovação de certos atos dos indivíduos edenúncias dos sediciosos. Entre outras sentenças, estassão as que selecionei:

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“Meu cativeiro não é o que Me envergonha; porMinha vida, é na verdade o que Me glorifica! Masvergonhosa é a ação de Meus amigos que juntam-se a Nós e seguem o demônio em suas ações. Entreeles estão aqueles que entregam-se à luxúria eafastam-se daquilo que lhes é recomendado, porémhá também, os que seguem a verdade e a guia reta.E quanto àqueles que cometem pecados e apegam-se às coisas do mundo, estes seguramente não sãodo povo de Bahá.”20

“Bem-aventurado é aquele que adorna-se com osadereços das boas maneiras e da moralidade. Verda-deiramente, ele é dos que ajudam seu Senhor comperspícuas ações claras.”21

“Ele é Deus, exaltada é Sua condição, sabedoria eelocução. O Ser Verdadeiro, magnificada é Suaglória, para expor as jóias dos ideais da mina quejaz no ser humano, tem enviado, em todas as eras,Aquele que é Confiável. A base primária da fédivina e da religião de Deus é esta: que eles nãocriem diversas seitas e vários caminhos, que são acausa e a razão de ódios. Estes princípios, leis ecaminhos da certeza aparecem com uma alvoradae brilham de uma mesma fonte de luz, enquantoque as diversidades são contrárias às exigências dotempo, das estações, eras e épocas. Ó unitaristas,sede firmes em vossos esforços, para que a disputareligiosa e os conflitos possam ser removidos dospovos do mundo e definitivamente eliminados. Poramor a Deus, que Seus servos se engajem neste

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grande e poderoso assunto. O ódio religioso e orancor entre as pessoas é um fogo que consome omundo inteiro, e arrefecê-los é algo muito árduo,a não ser que a mão do Poder Divino conceda aoshomens a liberação desta infrutífera calamidade.Considerai a guerra que se deflagra entre doisEstados: os súditos de ambos perdem suas riquezase vidas, assim como muitas vilas ficam arrasadas,embora pensem o contrário. Este preceito é dadocomo a luz da lâmpada da elocução.”22

“O que Deus pronuncia é uma lâmpada cuja luzsão estas palavras: Vós sois os frutos de uma sóárvore e as folhas de um mesmo ramo. Tratai unsaos outros com o maior amor e harmonia, emespírito amigável e fraternal. Aquele que é o Solda Verdade dá-Me testemunho! Tão potente é aluz da unidade que pode iluminar toda a Terra. ODeus Uno e Verdadeiro, Quem conhece todas ascoisas, testifica, Ele Mesmo, a verdade destaspalavras.

Esforçai-vos para que possais atingir estetranscendente e mais sublime grau, grau esse quepode garantir a proteção e segurança de toda ahumanidade. Esta meta supera a qualquer outrameta; esta aspiração é o monarca de todas asaspirações.”23

“Confiamos que Deus irá ajudar os reis da Terra ailuminar e adornar o planeta com a luz refulgentedo Sol da Justiça. Em um tempo falamos nalinguagem da Lei, em outro, na linguagem daVerdade e da Orientação; e o objetivo final e a

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meta mais remota foram a de revelar esta maiselevada posição. E Deus é suficiente comotestemunha.”24

“Ó amigos, convivei com todos os povos domundo com alegria e fragrância. Se fores portadorde uma palavra ou essência da qual outros sãocarentes, compartilhai-a com eles na linguagemda afeição e bondade. E se ela for recebida etornada efetiva, o objetivo foi alcançado, porémcaso não for, deixai-a com eles e sem vospreocupardes não atuai de forma rude, mas orai.A linguagem da bondade traz conforto aoscorações e alimento à alma. Ela representa arelação entre as idéias e as palavras, e é como umhorizonte de onde o Sol da sabedoria e doconhecimento brilham.”25

“Se os unitaristas tivessem nos últimos temposagido de acordo com a gloriosa Lei (que veio) apósSua Santidade, o Selo (dos Profetas) – que a vidade todos além dEle sejam Seu sacrifício! – etivessem apegado-se à orla de Suas vestes, a baseda fortaleza da religião não seria abalada e ascidades populosas não teriam sido destruídas, mas,sim, cidades e vilas teriam adquirido e sidoadornadas com o ornamento da paz e daserenidade.”26

“Em decorrência da desatenção e discórdia dospovos favorecidos e da fumaça que envolve asalmas maldosas, a Nação Justa é vista como

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envolta em escuridão e enfraquecida. Tivessem elesagido (de acordo com o que sabiam), não teriamsido desatentos à luz do Sol da Justiça.”27

“Esta Vítima tem sido afligida desde os primórdiosaté os dias de agora pelas mãos dos desatentos.Eles Nos exilaram sem razão durante um tempopara o Iraque, em outro, para Adrianópolis, e entãopara ‘Akká, que era um lugar de exílio paraassassinos e salteadores; e ninguém sabe para ondee a que lugar seremos levados a residir depois destaMaior Prisão. Deus é o Conhecedor, o Senhor doTrono e do pó, e o Senhor do mais elevado Assento.Em qualquer lugar que estejamos e o que querque venha a Nos suceder, os santos devem voltar-se com perfeita firmeza e confiança para oHorizonte Supremo e ocuparem-se com a reformado mundo e a educação das nações. O que tenhaacontecido e o que vier a acontecer, é uminstrumento e um meio para levar avante a Palavrada Unidade. Obedecei ao comando de Deus eapegai-vos verdadeiramente àquilo que vos foienviado de ninguém mais além dAquele ordenadorsábio.”28

“Com perfeita compaixão e misericórdia temosguiado e dirigido os povos do mundo àquilo atravésdo qual suas almas serão beneficiadas. Juro peloSol da Justiça, que brilha dos mais elevadoshorizontes do mundo, o povo de Bahá não teve enão tem qualquer intenção senão a prosperidade ereforma do mundo e purificação das nações. Essepovo tem sido sincero e caritativo com todos os

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homens. Sua aparência externa é igual a suaaparência interna (o coração) e seu íntimo (ocoração) idêntico com sua aparência externa. Averdade deste assunto não está oculta ou escondida,mas é clara e evidente diante das faces (doshomens). Seus verdadeiros feitos são testemunhosdesta asserção. Que todos aqueles dotados de visãoencontrem hoje o caminho das boas ações e dossinais dos objetivos do povo de Bahá, e através desuas palavras e condutas alcancem o conhecimentode seus intentos. As ondas do oceano damisericórdia divina surgem em sua altura máximae as chuvas das nuvens de Sua graça e favor descema todo momento. Durante os dias da permanênciano Iraque, este Oprimido sentou-Se e fezcompanhia a todas as classes sem véu ou disfarce,e muitos de seus habitantes chegaram comoinimigos e saíram em amizade. A porta da graçafoi aberta diante das faces de todos. Conversamosde igual para igual, abertamente, com rebeldes eobedientes, para que os maldosos pudessemalcançar o oceano incomensurável do perdão. Osesplendores do Nome do Ocultador estavam detal forma manifestos que os maldosos imaginavamestar sendo reconhecidos como corretos e bons.Nenhum mensageiro ficou desapontado e nenhuminquiridor deixou de ser atendido. A aversão eesquivo dos homens foram causados por certosdoutos da Pérsia e pelos feitos impensados dosignorantes. Por (pelo termo de) “doutos”mencionado nestas passagens significa aquelaspessoas que mantinham a humanidade longe daspraias do Oceano da Unidade, mas quanto aos

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eruditos que praticam (seu conhecimento) e ossábios que agem corretamente, são eles como oespírito no corpo do mundo. Felizes os eruditoscujas cabeças estão ornadas com a coroa da justiçae cujo corpo é glorificado com o ornamento dahonestidade. A Pena da Advertência exorta osamigos e concede-lhes caridade, piedade, sabedoriae brandura. O Ser Oprimido* é hoje umprisioneiro; Seus aliados são as hostes dos bons atose virtudes, e não as posições que ocupam, nem osseus companheiros, nem suas armas ou canhões.Uma ação santificada transforma o mundo terrenono mais elevado paraíso.”29

“Ó amigos, ajudai o Ser Oprimido com virtudesprazerosas e bons atos. Que cada alma busquealcançar hoje o grau mais elevado. A pessoa nãodeve considerar o que se encontra nela própria,mas, sim, o que se encontra em Deus. Não devepreocupar-se com o que traga vantagemexclusivamente para ela, mas que, através daPalavra de Deus, tudo aquilo que é para serobedecido deve ser elevado. O coração deve sersantificado de todas as formas de egoísmo e cobiça,pois as armas dos unitaristas e dos santos foram econtinuam sendo o temor a Deus – que é aarmadura que defende o ser humano das setas doódio e da abominação. Incessantemente o padrãode devoção e piedade tem sido vitorioso, e éconsiderado dentre as mais poderosas hostes do

*Em todos os Seus Escritos, “o Ser Oprimido” refere-se ao próprioBahá’u’lláh.

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mundo. Através dele os santos conquistaram ascidades dos corações (dos homens) com apermissão de Deus, o Senhor das Hostes. Aescuridão envolveu a Terra; a lâmpada que geraluz foi e será a sabedoria. Os ditames devem,portanto, ser observados sob toda as circunstâncias.E sábio é considerar o lugar e a elocução dodiscurso de acordo com a condição e a capacidade.Na sabedoria devem ser baseadas as decisões, poiso homem não deve aceitar qualquer coisa quequalquer um lhe diga.”30

“Sob todas as circunstâncias deseja o SerVerdadeiro – magnificada seja Sua glória – nãoprivar Seus servos do vinho selado* e das luzes doNome do Ser Auto-Subsistente.”31

“Ó amigos de Deus, verdadeiramente, a Pena daSinceridade concede-vos a maior fidelidade. Pelavida de Deus, sua luz é mais evidente que a luz dosol! Em sua luz e em seu brilho e sua radiânciatodas as luzes são eclipsadas. Rogamos a Deus paraque Ele não retire de Suas cidades e terras aradiância e o fulgor do Sol da Fidelidade. Temosorientado a todos, dia e noite, à fidelidade,castidade, pureza e constância, e temos exaltadoos bons atos e as qualidades elogiáveis. Tanto denoite, como de dia, o chiado da pena se faz ouvir ea língua fala, para que contra a espada se anteponhaa palavra, e contra a ferocidade, a paciência, e emlugar da opressão, a submissão, e em tempo de

*As ordenações de Deus.

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martírio, a resignação. Por mais de trinta anos, comtudo o que aconteceu a esta comunidade oprimida,eles souberam suportar com paciência, entregandotudo a Deus. Todo aquele dotado de justiça eretidão, dá testemunho e confirma aquilo que temsido dito. Durante este período, este Ser Oprimidoesteve engajado em boas exortações e advertênciassuficientes e eficazes, até que se fez óbvia eestabelecida diante de todos que esta Vítima fezde Si mesma um alvo para as setas da calamidade,demonstrando os tesouros depositados nas almas(dos homens). Conflito e contenda foram e sãodignos dos animais predadores da terra, (mas) asações dignas de louvor são produtos dos homens.”32

“Louvado seja o Ser misericordioso! Criou ohomem e ensinou-lhe a eloqüência.33 Depois detodas essas agruras, nem os ministros de Estadomostraram-se satisfeitos e nem os doutos da igreja.Nenhuma alma é encontrada para expressar apalavra de Deus diante da corte de sua majestade,o rei, possa Deus perpetuar seu reino. Nada nosacontecerá salvo aquilo que Deus decretou paraNós. Eles não agem com bondade, nem existequalquer falha nas suas disposições para a maldade.A justiça tornou-se como a fênix e a fidelidadecomo a pedra filosofal; ninguém defende o que édireito. Parece que a justiça tornou-se odiada peloshomens e foi banida de todas as terras como o povode Deus. Gloria a Deus! No episódio da terra deTá ninguém falou em defesa do que Deus haviaordenado. Tendo demonstrado poder e serviço napresença do rei – que Deus perpetue seu reino –

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eles chamaram o bem de mal e o reformador decriador de sedição. Pessoas como essas chamam agota de oceano e uma partícula de pó de Sol.Chamam a casa de Kulayn de “a poderosafortaleza”, e fecham os olhos à verdade maisevidente. Atacam muitos reformistas do mundocom a acusação de sedição. Tão certo como Deusvive, essas pessoas não tinham e nem têm aintenção, nem a esperança, salvo na glória doEstado e no serviço à sua nação. Em nome de Deusfalaram e em nome de Deus falam, e no caminhode Deus seguem suas jornadas.”34

“Ó amigos, peçam a Ele – que é o Desejo doshabitantes da Terra – para que socorra suamajestade, o rei – que Deus perpetue seu reino –para que os domínios da Pérsia possam seriluminados com a luz do Sol da Justiça, tornando-se adornados com os ornamentos da tranqüilidadee segurança. De acordo com as declarações feitas,ele, seguindo os impulsos de sua naturezaabençoada, libertou aqueles que encontravam-seem grilhões, concedendo liberdade aos cativos. Aapresentação de determinados assuntos diante dasfaces dos servos (de Deus) é obrigatória, e naturalaos devotos, de forma que tornem-se conscientese conhecedores do bem. Verdadeiramente, Eleinspira aquele que Lhe agrada com aquilo que Eledeseja, e é o Poderoso, o Ordenador, o Onisciente,o Sábio.”35

“Uma palavra daquela terra chegou a este SerOprimido, a qual, em verdade, foi causa de

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admiração. O que sua alteza, o Mútamídu’d-Dawlih, Farhád Mírzá, disse em relação a estePrisioneiro, não é agradável sua repetição. EstaVítima conviveu muito pouco com ele ou comalguém como ele. Tanto quanto recordamos,(apenas) em duas ocasiões ele visitou o Murgh-Mahallihy em Shimír’n, onde ficava a residênciadeste Ser Oprimido. Na primeira ocasião veio umdia à tarde e na segunda vez numa sexta-feira demanhã, retornando próximo ao pôr-do-sol. Ele sabee está bem consciente de que não deve falar, senãoa verdade. Se alguém estiver em sua presença querepita essas palavras diante dele em nome do SerOprimido: ‘Ó príncipe! Peço justiça e retidão desua alteza com relação ao que tem sido infligido aesta pobre Vítima.’ Bem estará a alma cujasdúvidas dos perversos não a afastaram da justiçanem a privaram das luzes do luminar da eqüidade.Ó santos de Deus! Ao final de Nosso discursoconcedemos a vós, uma vez mais, a castidade,fidelidade, santidade, sinceridade e pureza. Deixaide lado o mal e adotai o bem. Isso é o que vos édeterminado no Livro de Deus, o Onisciente, oSábio. Bem estarão aqueles que praticam (estainjunção). Neste momento a pena exclama,dizendo: ‘Ó santos de Deus, considerai o horizonteda retidão e cortai, separai e libertai-vos de tudo omais. Não há força e poder a não ser em Deus!’”36

Em resumo, anteriormente em todas as provínciasda Pérsia, estórias e relatos diversos discordantes àesta Fé, até mesmos, incompatíveis com o caráter da

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raça humana e opostos ao dote divino, passaram pelaslínguas e bocas dos homens e obtiveram notoriedade.Mas quando seus princípios adquiriram firmeza eestabilidade e sua conduta e seu comportamentoficaram conhecidos e apreciados, o véu da dúvida esuspeita caiu, e o verdadeiro caráter desta Fé tornou-se claro e evidente, chegando ao grau de convicçãode que seus princípios eram dessemelhantes às ilusõesdos homens e que sua fundação diferia da opinião eavaliação (popular). Na sua conduta, ação, moralidadee comportamento não havia lugar para a objeção; aobjeção na Pérsia era com certas idéias e princípiosdesta Fé. E, das indicações de várias circunstâncias,tem sido observado que o povo têm adquirido aconvicção e a confiança na fidelidade, lealdade ereligiosidade desta Fé em todas as transações.

Vamos retornar ao nosso tópico original. Duranteo período de permanência no Iraque, estas pessoas setornaram notórias através do mundo. Pois, o exílioresultou em fama, de tal maneira que um grandenúmero de outros grupos procurou alianças e uniões,e inventaram maneiras de (adquirir) intimidade (comeles). Mas o Líder desta Fé, descobrindo as metas decada facção, agiu com o máximo de consistência,circunspeção e firmeza. Sem adular ninguém, Eleaplicou tanto quanto possível admoestações a cadaum, incitando-os e urgindo-os à boas resoluções emetas benéficas ao estado e à nação. E esta conduta ecomportamento deste Líder adquiriram notoriedadeno Iraque.

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Assim, do mesmo modo, durante este período deSua estada no Iraque, certos funcionários dosgovernos estrangeiros estavam desejosos de umaproximidade e buscaram relações amigáveis (comEle), mas este Líder não concordou. Entre outrosacontecimentos peculiares, aconteceu este: No Iraque,certos membros da família real fizeram entendimentoscom estes governos (estrangeiros), e, (induzidos) porpromessas e ameaças, conspiraram com eles. Mas estaFé soltou brado em reprovação e começou aadmoestá-los, dizendo:

–– Que torpeza é esta e qual a traição evidenteque o homem deve, por vantagens mundanas, lucropessoal, circunstâncias fáceis ou a proteção da vidae da propriedade, se lançar neste grande detrimentoe na perda evidente, e embarcar num curso de açãoque conduzirá à maior degradação e envolverá amáxima de infâmia e desgraça tanto agora comono futuro? Alguém pode suportar qualquer infâmiaa não ser a traição para com seu país, pois todopecado permite o perdão e a remissão, exceto(aquele da) a desonra ao seu governo e o prejuízoda sua nação. Imaginam eles que estão agindo demodo patriótico, demonstrando sinceridade elealdade, e considerando sagrado os deveres dafidelidade, cuja meta nobre consideram umaobrigação moral.37

Assim, rumores disto foram espalhados ao longeatravés do Iraque, e aqueles que desejavam o bem para

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seu país, soltaram suas línguas na expressão deagradecimento, aprovação e respeito. E foi supostoque estes eventos seriam representados na presençado rei, mas, após um tempo, soube-se que certosshaykhs dos Santuários Supremos que comunicavam-se com a corte, e até mesmo com o rei, estavam emsegredo, continuamente atribuindo a esta Féafinidades e relações estranhas, imaginando que taistentativas iriam conduzir favor na corte e causar oavanço das (suas) condições e posições. E comoninguém podia falar livremente deste assunto naquelacorte, o qual era o pivô da justiça, enquanto osministros justos e cientes (do verdadeiro estado docaso), também consideravam o silêncio como sendoa melhor política, a questão do Iraque, através derumores e representações falsas, tornou-se grave emTeerã e foi enormemente exagerada. Mas o cônsul-geral, estando ciente da verdade, continuou a agir commoderação, até que Mírzá Buzurg Khán de Qazvíntornou-se o cônsul-geral em Bagdá. E, uma vez queesta pessoa estava acostumada a passar a maior partedo seu tempo num estado de intoxicação e eradestituído de presciência, ele tornou-se o cúmplice eo aliado daqueles shaykhs no Iraque, e esfouçou-separa destruir e demolir (esta Fé). Ele empregou todoseu poder de descrição e força de ação na feitura derepresentações e declarações. Cada dia, elesecretamente escrevia um despacho a Teerã, fazia votose tratados com os shaykhs, e enviava notasdiplomáticas à sua excelência, o embaixador-chefe (em

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Constantinopla). Porém, estas declarações edeposições não tinham bases ou fundamentos e eramtodas postergadas e suspensas. Até que finalmenteestes shaykhs convocaram uma reunião para consultarcom o cônsul-geral, congregando um número deeruditos e grandes sacerdotes da (mesquita dos) “DoisKázims”, sobre eles esteja a paz, e, tendo chegado aum entendimento unânime, escreveram aos sacerdotesde Karbilá, o exaltado, e de Najaf, o mais nobre,convocando a todos. Eles vieram, alguns cientes,outros sem saber. Entre os últimos, chegou semconhecimento (do assunto em discussão) o ilustre eperito douto, o nobre e celebrado estudioso, o selodos que buscavam a verdade – Shaykh Murtadá – queagora está morto e enterrado, o qual erareconhecidamente o chefe de todos. Mas, tão logoele foi informado dos desígnios verdadeiros, eledeclarou:

–– Não sou devidamente informado do caráteressencial desta Fé, nem com os princípios secretos edoutrinas teológicas ocultas desta comunidade; nemtenho, até agora, testemunhado ou percebido no seucomportamento ou conduta qualquer coisa emdiscrepância com o Livro Perspícuo que me levaria apronunciá-los infiéis. Portanto, considerai-medispensado deste assunto, e deixai que aquele que oconsidera como sendo o seu dever a tomar uma ação.

Agora, o intento dos shaykhs e do cônsul era umataque repentino e geral, mas, por motivo de falta deaquiescência do falecido shaykh, esta maquinação

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provou malogrado, resultando, na verdade, somenteem vergonha e desapontamento. Assim, aqueleconcurso de shaykhs, doutos e gente comum quehavia vindo de Karbilá, dispersou-se.

Justamente nesta hora, pessoas perniciosas –(incluindo) mesmo até certos ministros demitidos –empenharam-se em todas as partes para influenciaresta Fé, de modo que eles pudessem, possivelmente,alterar seu curso e conduta. De todas as regiões,mensagens mentirosas e relatos inquietantes fluíramcontinuamente um após o outro em sucessãoininterrupta e constante, no sentido de que a intençãodeliberada da corte da Pérsia era a erradicação,supressão, aniquilação e destruição desta Fé.Correspondências eram continuamente enviadas àsautoridades locais, em que todos (os bábís) no Iraqueseriam, brevemente, entregues, com as mãos atadas, àPérsia. Mas os bábís passaram o tempo em calma esilêncio, sem alterar, de qualquer maneira, seucomportamento e conduta.

Também Mírzá Buzurg Khán falhou em efetuar erealizar os desígnios de seu coração, e por intermédiosde várias ações, ele, imprudentemente, pôs-se a refletircomo poderia afligir e humilhar (os bábís). Cada diaprocurou algum pretexto para oferecer insulto, incitaralgum distúrbio e tumulto e levantar o estandarte daperniciosidade, até que a questão quase chegou naculminação do surgimento repentino de um motim,podendo provocar a perda das rédeas do controle dassuas mãos e a precipitação dos corações (dos homens)

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na inquietação e perturbação destas mentes emangústia e agonia.

E, quando eles (os bábís) constatavam-se incapazesde tratar desta indisposição por qualquer meio, pois,por mais que se esforçassem, eram derrotados efrustrados, e quando falharam em achar qualquersolução para esta desordem ou qualquer formosuranesta flor, eles hesitaram por nove meses, sendo quefinalmente um certo número deles, para parar aperniciosidade adicional, registraram-se como súditosdo sublime governo otomano, para que (por meiodisso) pudessem amenizar este tumulto. Porintermédio deste dispositivo, a perniciosidade foiatenuada e o cônsul parou de atormentá-los. Mas, elenotificou esta ocorrência à corte real divergindo osfatos, contrário à verdade, e, juntamente com osaliados shaykhs, usou de todas as maneiras e artifíciospara distrair os sentimentos (dos bábís). Finalmente,ele foi demitido e dominado completamente peladesgraça, tornando-se penitente e arrependido.

Vamos proceder com o nosso tópico original. Poronze anos e um pouco mais, Bahá’u’lláh fixouresidência no Iraque. O comportamento e a condutadesta Fé eram tal que a (Sua) fama e o (Seu) renomeaumentaram. Ele estava, pois, manifesto e aparenteentre os homens, consorciou-Se e associou-Se comtodas as pessoas, e conversava com familiaridade comos doutos e estudiosos concernente à solução dequestões teológicas difíceis e a verificação doverdadeiro sentido de pontos obscuros da doutrina

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das coisas divinas. Conforme relatado correntementepor pessoas de todas as classes, Ele agradava a todos,quer habitantes ou visitantes, pelo Seu intercurso etrato cortês. Este tipo de comportamento e condutapor parte dEle, os levou a suspeitar de feitiçaria e julgá-Lo um adepto das ciências ocultas.

Durante este período, Mírzá Yahyá permaneceuoculto e escondido, seguindo sua conduta ecomportamento anterior, até que, quando o decretopara a remoção de Bahá’u’lláh de Bagdá foi emitidopela sua majestade, o monarca otomano, Mírzá Yahyánem abandonava nem acompanhava (Bahá’u’lláh).Cada vez ele contemplava uma coisa: ir para a Índiaou se fixar no Turquistão. Mas, sendo incapaz dedecidir um ou outro destes dois planos, ele finalmente,de sua própria volição, saiu diante de todos navestimenta de um dervixe. Assim disfarçado etrocando os trajes, partiu para Kárkúk e Arbíl. Daquelelugar, num avanço contínuo, ele chegou à Mosul,aonde, com a chegada de todos, ele fixou-se e postou-se ao lado da caravana. E, embora em toda esta viagem,os governadores e oficiais deferissem o máximo deconsideração e respeito, e apesar da marcha e da paradaestarem igualmente dignificadas e honoráveis,contudo ele ficava sempre ocultado, trocando devestuário, agindo cautelosamente, pois tinha a idéiade que algum ato de agressão poderia ocorrer.

Foi deste modo que chegaram em Constantinopla,onde foram reservados alojamentos numa casa dehóspedes por parte da gloriosa monarquia otomana.

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Inicialmente, o máximo de atenção, de todas asformas, foi prestado a eles. No terceiro dia, devido aoaperto dos alojamentos e a extensão de seu número,eles migraram e mudaram para uma outra casa. Certosnobres vieram para vê-los e conversar com eles, e estes,conforme é relatado, comportaram-se commoderação. Não obstante, muitos nas suasassembléias e reuniões continuaram a condená-los evilipendiá-los, dizendo:

–– Esta seita é nociva para o mundo todo e destroítratados e convênios; eles são malévolos; uma fontede problemas para todas as terras; eles acenderam umfogo que tem consumido a terra; e emboraexteriormente aparentam ser especiais, no entanto, sãomerecedores de castigo e punição.

Mesmo assim os bábís continuaram a conduzir-secom paciência, calma, deliberação e constância, demodo que eles, nem mesmo em autodefesa,importunaram (os ocupantes de) as posições altas oufreqüentaram as casas de quaisquer dos magnatasdaquele reinado. Entre eles, os grandes, Ele (Bahá)entrevistou por Sua conta própria os que Oencontravam, e nenhuma palavra a não ser das ciênciase artes passou por eles. Até que um certo nobreprocurou guiá-Lo e discursando em conselhoamigável, disse:

–– Apelar e declarar seu caso, cobrando a justiça,são medidas exigidas pelo costume.

Bahá’u’lláh respondeu em réplica:

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–– Seguindo no caminho da obediência aocomando do rei viemos para este país. Além disso,não tínhamos nem temos qualquer outro objetivoou desejo que possa apelar ou causar distúrbios. Oque está agora oculto atrás do véu do destino seráconhecido no futuro. Não houve nem é necessáriosuplicar e importunar. Se os líderes conscientes (desua nação) forem sábios e diligentes, eles comcerteza inquirirão e ficarão conhecendo averdadeira condição do caso; se não, então (sua)compreensão da verdade será impraticável eimpossível. Sob estas circunstâncias seria necessárioimportunar os estadistas e suplicar aos ministrosda Corte? Estamos livres de qualquer ansiedade,prontos e preparados para as coisas que nos estãopredestinadas. ‘Diz-lhes: Tudo emana de Deus.’*– é um sábio e suficiente argumento, e ‘Se Deuste infligir algum mal, ninguém poderá dele telibertar, a não ser Ele.’† – um remédio curador.”38

Após alguns meses, um decreto real foipromulgado, como sendo Seu lugar de domicílio eresidência, Adrianópolis, um distrito da Romélia. Paraaquela cidade, os bábís, acompanhados por oficias(turcos), procederam todos juntos, e fizeram de lá,seu lar e habitação. De acordo com as declaraçõesouvidas de vários viajantes e de certos famososhomens e estudiosos daquela cidade, elescomportaram-se e tiveram conduta, de tal maneira que

*Alcorão 4:80.†Alcorão 6:17; 10:107.

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os habitantes daquele distrito e os oficiais do governoos elogiavam, e todos mostravam respeito e deferênciaa eles. Em resumo, Bahá’u’lláh desejava mantercomunicação com os doutos, estudiosos, magnatas enobres, (e por meio disso) obteve fama e celebridadepor toda a Romélia, e conforto foi dado, e nem omedo nem o temor permaneceram, e eles repousaramno divã de tranqüilidade, passando o tempo emquietude. Neste ínterim, um siyyid de nomeMuhammad, de Isfahán, um dos seguidores (do Báb),assentou as fundações de intimidade e familiaridadecom Mírzá Yahyá, e (por conseguinte) tornou-se acausa de vexação e transtorno. Em outras palavras,ele começou uma intriga secreta e tentando MírzáYahyá, disse:

–– A fama desta seita tem subido alto no mundo, eseu nome tem se tornado nobre. Nem temor nemperigo permanecem, nem há qualquer medo ou(necessidade para) cautela diante de ti. Cesse, então,de segui-Lo, para que tu possas ser seguido pelomundo. E sai do meio dos que aderiram, para que tupossas te tornar celebrado do começo ao fim doshorizontes.

Mírzá Yahyá, também por causa da falta de reflexãoe pensamento a respeito das conseqüências e porcarência de experiência, ficou enamorado de suaspalavras e iludido por sua conduta. Este era (como)um bebê e o outro como um seio que tornou-semuito apreciado. Em todo o caso, muitas vezes alguns

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dos líderes desta Fé escreveram admoestações eapontaram o caminho da discrição, dizendo:

–– Por muitos anos tens tu sido nutrido nos braçosdo teu Irmão e tens repousado no travesseiro dacomodidade e contentamento. Que pensamentos sãoesses que resultam em demência? Não sejais seduzidopor este nome vazio*, que, por respeito a certasconsiderações e por questão de conveniência, foiconcedido (a ti), nem busques a repreensão dacomunidade. Teu grau e valor dependem de umapalavra, e tua exaltação e elevação foram uma proteçãoe uma consideração.

Contudo, quanto mais eles os admoestavam, menosos afetavam; e por mais que eles os aconselhassem,eles continuavam considerar a oposição como sendoidêntica à vantagem. Subseqüentemente, o fogo daganância e da avareza foi também acendido, e emboranão houvesse nenhuma necessidade, pois suascircunstâncias eram fáceis ao extremo, eles começarama pensar em salário e estipêndio. Então, certasmulheres dependentes de Mírzá Yahyá foram aopalácio (do governador) e rogaram assistência ecaridade. Quando Bahá’u’lláh observou tal condutae comportamento da parte deles, os repudiou e osimpeliu para longe dEle (Mirzá Yahyá e SiyyidMuhammad).

*O título de Mírzá Yahyá era Subh-i-Azal, a Manhã da Eternidade.Bahá’u’lláh, nesta conexão, cita Amos 4:12-13, que diz que Deus“faz da manhã as trevas”.39

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Então, Siyyid Muhammad partiu para Constanti-nopla para receber seu estipêndio, abrindo a portado sofrimento. De acordo com o relato dado, esteassunto causou maior tristeza e produziu a cessaçãodo intercurso. Em Constantinopla, além disso, elepresunçosamente colocou em circulação certosrelatórios, asseverando, entre outras coisas, que umacerta notável personagem que havia chegado do Iraqueera Mírzá Yahyá. Diversos indivíduos, percebendo queo conteúdo deste material era excelente para apromoção de desordens e um meio para a promoçãoda amotinação, ostensivamente o apoiaram e oaplaudiram, e estimulando-o e incitando-o, disseram:

–– Tu és realmente o esteio principal e o sucessorreconhecido. Agi com autoridade, de modo queaquela graça e bênção se tornem aparentes. O oceanosem ondas não tem nenhum som, e a nuvem semtrovão não tem chuva.

Por tal tipo de discurso, então, foi este infortunadohomem, ludibriado neste curso de ação, e levado aproferir palavras vãs que causaram a perturbação dospensamentos (dos homens). Pouco a pouco aquelesque não eram inclinados à incitação e aoencorajamento, começaram sem exceção a exprimirdenúncias violentas em cada canto e esquina, nãosomente isto, mas até na própria corte, dizendo:

–– Os bábís falam e expõem desta maneira: (seu)comportamento é tal, e (seu) discurso deste modo.

Tais perniciosidades e intrigas causaram questõesa serem mal compreendidas, e além disso, certas

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maquinações iniciaram-se, as quais eram consideradascomo medidas necessárias de auto-proteção. Aexpediência do banimento dos bábís entrou emconsideração, e de repente uma ordem chegou, eBahá’u’lláh foi removido da Romélia. Nem ficouconhecido qual era o propósito ou para onde eles Olevariam. Diversos relatos corriam nas bocas (doshomens) e muitos exageros eram ouvidos de que nãohaveria esperança de escapatória.

Pois bem, todas aquelas pessoas que estavam comBahá’u’lláh, com propósito unânime, imploraram einsistiram que deveriam (ser permitidas a) acompanhá-Lo, e, por mais que o governo admoestasse-os eproibisse, tudo era infrutífero. Até que um, de nomeHájí Ja’far, ficando transtornado nesta lamentação,cortou a sua garganta com sua própria mão. Quandoo governo observou este acontecimento, deupermissão a todos para acompanhá-lo, conduzindo-os de Adrianópolis para a costa, e dali transportou-os para ‘Akká. A Mírzá Yahyá, eles mandaram, demaneira semelhante, à Famagusta.

Durantes os últimos dias (passados) emAdrianópolis, Bahá’u’lláh compôs uma detalhadaEpístola definindo minuciosamente e claramente todasas questões. Ele desdobrou e expôs os princípiosfundamentais desta Fé e deixou claro e evidente suaética, costumes, curso e modo de conduta. Emdetalhes, Ele tratou certas questões políticas e aduziudiversas provas da Sua veracidade. Ele declarou as boasintenções, lealdade e sinceridade desta Fé e escreveu

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alguns fragmentos de orações, sendo algumas empersa, mas a maior parte em árabe. Ele, então,colocou-a num embrulho e adornou o endereço como nome real da sua majestade, o rei da Pérsia, e escreveu(nele) que alguma pessoa de coração puro e de vidapura, dedicada a Deus e preparada para o sacrifíciodo martírio, deveria, com perfeita resignação e boavontade, conduzir esta Epístola até a presença do rei.Um jovem de nome Mírzá Badí, um nativo deKhurásán, levou a Epístola, e apressou-se rumo àpresença de sua majestade, o rei. A caravana real tinhaa sua parada e estação do lado de fora de Teerã, então,ele tomou posição sozinho, e numa pedra, num locallongínquo, mas oposto ao pavilhão real, esperou diae noite pela passagem da escolta real ou para aobtenção de admissão para ir a presença imperial. Elepassou três dias em estado de jejum e vigilância,restando um corpo emaciado e um espíritoenfraquecido. No quarto dia, a personagem real estavaexaminando todos os locais e direções com umtelescópio, quando de repente seu olhar pousou sobreeste jovem que estava sentado, em atitude de granderespeito, numa pedra. Foi inferido das indicações(percebidas) que ele certamente deveria teragradecimentos (a oferecer), ou alguma reclamaçãoou reivindicação de reparação e justiça (a apresentar).(O rei) Ordenou a um daqueles a serviço da corte ainquirir sobre as circunstâncias deste jovem. Após ainterrogação, (descobriu-se que) ele carregava umacarta que desejava conduzir com suas próprias mãos

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à presença real. Ao receber a permissão de seaproximar, ele exclamou, diante do pavilhão, com umadignidade, compostura e respeito, sobrepujando adescrição e em uma voz alta:

–– Ó rei, trago a vós, de Sabá, uma notícia segura!40

(O rei) Ordenou que a carta fosse tomada e ocondutor fosse preso. Sua majestade, o rei, almejouagir com deliberação e desejou descobrir a verdade,mas aqueles presentes diante dele soltaram suas línguasem repreensão violenta, dizendo:

–– Esta pessoa tem demonstrado grande presunçãoe audácia espantosa, pois ele trouxe, sem medo outemor, a carta dAquele contra quem todo o povo estáencolerizado, dAquele que é banido para a Bulgáriae Eslovênia, até a presença do rei. Caso ele,instantaneamente, não sofra uma punição penosa,haverá um aumento desta grande presunção.

Então, os ministros da corte sinalizaram (que eledeveria sofrer) punição e ordenaram a tortura. Comoum primeiro tormento, eles aplicaram a corrente e acremalheira, dizendo:

–– Identifique os teus outros amigos para que tusejas poupado de uma punição excruciante, e faze comque teus companheiros sejam presos para que tuescapes do tormento da corrente e o afiamento daespada.

Mas, torturar, marcar com ferro quente eatormentá-lo, da maneira que fosse, nada veriam alémda constância e o silêncio, e descobriram nada alémde resignação silenciosa (de sua parte). Então, quando

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a tortura não deu resultado, eles (primeiramente) ofotografaram, os algozes ao seu lado esquerdo edireito, e ele sentado, amarrado em grilhões ecorrentes abaixo da espada com perfeita submissão ecompostura, e o mataram e o destruíram. Estafotografia*, mandei buscar e achei merecedora decontemplação, pois ele estava sentado com umahumildade maravilhosa e uma distinta submissão, commáxima resignação.

Quando sua majestade, o rei, examinou certaspassagens e ficou ciente do conteúdo da Epístola,ficou muito comovido pelo ocorrido e manifestouarrependimento, porque seus cortesãos agiramapressadamente e colocaram em execução umapunição muito severa. É relatado, ainda, que ele faloutrês vezes:

–– Quem pune aquele que apenas transporta acorrespondência?

Então, a ordem real foi emitida para que os eruditose os honrados e talentosos sacerdotes, escrevessemuma resposta àquela Epístola. Mas, quando os doutosmais versados da capital ficaram cientes do conteúdodaquela carta, eles determinaram:

–– Esta Pessoa, sem levar em consideração (o fato)que Ele está em divergência com a Religião Perspícua,é um intruso no costume e credo, e é umatormentador de reis e imperadores. Conseqüen-temente, erradicar, subjugar, reprimir e repelir (esta

*Esta fotografia está publicada em A Revelação de Bahá’u’lláh – Vol.III, p. 215. n.e.

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Fé) são condições essenciais no caminho do Bem-Estabelecido, e de fato, a mais importante dasobrigações.

Esta resposta não foi aprovada diante da presença(real), pois no conteúdo desta Epístola não havianenhuma discordância óbvia com a lei ou com a razão,e não se intrometia nas questões políticas ouadministrativas, nem interferia ou atacava o trono dasoberania. Eles deveriam, então, discutir os reaispontos em questão e escrever claramente eexplicitamente tamanha resposta que causasse odesaparecimento das dúvidas e a solução dasdificuldades, e tornar-se, para todos, o sustentáculoda discussão.

Desta Epístola, diversas passagens serão colocadasem exposição, por escrito, para conduzir as pessoas aum entendimento melhor da questão. No começo daEpístola encontra-se uma passagem impressionanteem árabe (tratando) das questões de fé e convicção; osacrifício da vida no caminho do Bem-Amado; oestado de resignação e contentamento; amultiplicidade de infortúnios, calamidades, privaçõese aflições; a queda na suspeita de se ter carátersedicioso através das maquinações dos inimigos; oestabelecimento da inocência de Bahá’u’lláh napresença da sua majestade, o rei; o repúdio das pessoassediciosas e a desaprovação ao partido rebelde; ascondições de crença sincera nos versos do Alcorão; anecessidade de virtudes divinas, distinção das outrascriaturas nesta morada transitória; obediência aos

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mandamentos e evitar as coisas proibidas; a evidênciade apoio divino no incidente do Báb; a inabilidade dequem quer que seja na Terra a opor-se a uma coisadivina; o despertar do próprio Bahá’u’lláh no afluxodivino e Sua queda, por conseguinte, em calamidadesilimitadas; a Sua aquisição da dádiva divina; a Suaparticipação na graça espiritual dada por Deus; a Suailuminação e pronto conhecimento sem estudos emqualquer escola; a justificação do Seu esforço paraadmoestações da humanidade na direção de obterperfeições humanas e inflamar os seres humanos como fogo do amor divino; encorajamento em direção àobtenção de energia para alcançar um grau maiselevado que a soberania terrestre; orações eloqüentes(escritos) no mais alto grau de humilhação, devoçãoe humildade; e assim por diante. Subseqüentemente,Ele examinou (outras) questões na língua persa. Estaé a Epístola41:

Esta é uma Epístola, ó Meu Deus, que tencioneienviar ao rei. Tu sabes que nada desejei dele, excetoque mostrasse justiça a Teus servos e estendesseseus favores aos povos de Teu reino. Para Mimpróprio desejei somente o que Me desejaste, eatravés de Teu auxílio nada almejei, salvo o queTu almejaste. Extinta seja a alma que buscar de Tialgo que não seja Teu próprio Ser! Juro por Tuaglória! Teu beneplácito é o Meu maior desejo, eTeu desígnio a Minha mais alta esperança. Temmisericórdia, ó Meu Deus, desta pobre criatura queSe apegou à orla de Tuas riquezas, e desta alma

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suplicante que Te invoca, dizendo, “Tu és,verdadeiramente, o Senhor de poder e glória!”Ajuda Tu, ó Meu Deus, a sua majestade, o xá, aguardar Tuas leis entre Teus servos e a manifestarTua justiça entre Tuas criaturas, para que ele possatratar este povo como trata os demais. Tu és, emverdade, o Deus de poder, de glória e sabedoria.

Com a anuência e permissão do rei da época,este Servo viajou desde o Assento da Soberania*até o Iraque e habitou por doze anos naquela terra.No transcorrer de todo esse período, nenhumrelato de Nossa condição foi submetido à corte detua presença e nenhuma representação jamais foifeita às autoridades estrangeiras. Depositando todaNossa confiança em Deus, residimos naquela terra,até que veio ao Iraque um certo oficial† que, aochegar, encarregou-se de atormentar este pobregrupo de exilados. Dia após dia, sob a instigaçãodos aparentemente eruditos e de outros indivíduos,ele provocava transtorno para esses servos, embora,em nenhuma ocasião, tivessem eles cometidoqualquer ato prejudicial ao país e a seu povo, ouque fosse contrário às regras e costumes doscidadãos do reino.

Temendo que as ações desses transgressorespudessem produzir algum efeito em desacordo comteu ponderado julgamento, este Servo despachouum relato resumido do assunto a Mírzá Sa’íd Khán‡

*Teerã.†Mírzá Buzurg Khán, o cônsul-geral persa em Bagdá.‡Mu’tamin’ul-Mulk, Mírzá As’id Khán-i-ansárí, ministro de assuntosexternos.

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no Ministério do Exterior, para que pudessesubmetê-lo à presença real e que pudesse serobedecida qualquer coisa que te aprouvessedecretar. Um longo período se passou, e nenhumdecreto foi emitido. Finalmente o caso tomou talvulto que era iminente a ameaça de luta ederramamento de sangue. Necessariamente,portanto, e para proteção dos servos de Deus, unspoucos deles apelaram para o governador doIraque.*

Fosses olhar esses eventos com o olhar da justiça,tornar-se-ia claro e evidente no espelho luminosode teu coração que o que ocorreu foi motivadopelas circunstâncias e que nenhuma outraalternativa podia ser encontrada. Sua majestademesmo é testemunha de que, em qualquer cidadeem que residam algumas dessas pessoas, ahostilidade de certos funcionários acende a chamado conflito e da contenda. Esta Alma Evanescente,entretanto, desde Sua chegada ao Iraque, proibiua todos de se engajarem em dissensão e luta.Testemunha deste Servo são Seus próprios atos,pois todos estão bem cientes e testificarão que,embora um número maior dessas pessoas residisseno Iraque comparado com qualquer outra terra,ninguém ultrapassou seus limites ou transgrediucontra seu próximo. Fixando seu olhar em Deus, edepositando sua confiança nEle, todos têm vividoem paz por aproximadamente quinze anos, equanto a qualquer coisa que lhes tenha sobrevindotêm demonstrado paciência e se resignado a Deus.

*Bahá’u’lláh refere-Se aqui a Sua solicitação e de Seus companheirospara obterem cidadania otomana.

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Após a chegada deste Servo nesta cidade,Adrianópolis, algumas pessoas do Iraque e deoutros lugares indagaram sobre o significado dotermo “prestar auxílio a Deus” que foi mencionadonas Sagradas Escrituras. Diversas respostas foramenviadas, uma das quais é anunciada nestas páginas,para que se possa demonstrar claramente, na cortede tua presença, que este Servo não tinha outropropósito em vista, salvo o de promover a melhorae o bem-estar do mundo. E se alguns dos favoresdivinos, que a Deus aprouve conceder-Me, aindaque Eu não seja merecedor, não estão evidentes emanifestos, este, ao menos, tornará claro ecompreensível que Ele, em Sua insuperávelmisericórdia e infinita graça, não privou Meucoração do ornamento da razão. A passagemreferida a respeito do significado de “prestar auxílioa Deus” é a seguinte:

Ele é Deus, exaltada seja Sua glória!É claro e evidente que o Deus Uno eVerdadeiro – glorificada seja Sua menção!– está santificado acima do mundo e de tudoo que nele se encontra. “Prestar auxílio aDeus”, então, não significa que uma almadevesse entrar em luta ou contenda comoutras. Aquele Senhor Soberano que faz oque Lhe apraz, confiou o reino da criação,suas terras e seus mares, às mãos dos reis,que são, cada um de acordo com seu grau,as manifestações de Seu poder divino. Se elesentrarem no abrigo do Verdadeiro, serãoconsiderados de Deus, caso contrário, teu

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Senhor, verdadeiramente, conhece e observatodas as coisas.

O que Deus – glorificado seja Seu Nome!– desejou para Si próprio, são os corações deSeus servos, que são os repositórios de Seuamor e Sua comemoração, e os recipientesde Seu conhecimento e Sua sabedoria. Odesejo do Rei Eterno tem sido semprepurificar os corações de Seus servos das coisasdo mundo e de tudo o que a eles pertence,para que possam se tornar recipientes dignosdos esplendores refulgentes dAquele que é oRei de todos os nomes e atributos. O motivopelo qual nenhum estranho deve serpermitido na cidade do coração é para queo Amigo incomparável possa entrar em Suamorada. Isto refere-se ao esplendor de Seusnomes e atributos, e não à Sua Essênciaexcelsa, uma vez que aquele Rei inigualávelsempre foi e para sempre permanecerásantificado acima de ascensão e descida.

Segue-se, portanto, que prestar auxílio aDeus, neste dia, não consiste e jamaisconsistirá em contender ou disputar comqualquer alma; não, antes, o que é preferívelaos olhos de Deus é que as cidades doscorações dos homens, que são regidas pelashostes do ego e da paixão, sejam subjugadaspela espada da expressão, da sabedoria e dacompreensão. Assim, aquele que buscaauxiliar a Deus deve, antes de tudo,conquistar, com a espada do significado edo entendimento interior, a cidade de seu

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próprio coração e guardá-lo da lembrançade tudo salvo de Deus, e somente entãolevantar-se para subjugar as cidades doscorações dos demais.

Tal é o verdadeiro significado de prestarauxílio a Deus. A sedição jamais foiagradável a Deus, nem foram os atoscometidos no passado aceitáveis a Seu ver.Sabei que ser morto no caminho de Seubeneplácito é melhor para vós do que matar.Os bem-amados do Senhor devem, neste dia,comportar-se de tal modo dentre Seusservos, que possam guiar, por suas própriasobras e ações, todos os homens ao paraísodo Todo-Glorioso.

Por Aquele que resplandece acima doAlvorecer da Santidade! Os amigos de Deusnão colocaram, nem jamais colocarão, suasesperanças no mundo e em suas possessõesefêmeras. O Deus Uno e Verdadeiro sempreconsiderou os corações dos homens comoSua própria, Sua exclusiva possessão – e issotambém apenas como uma expressão de Suamisericórdia que a tudo abrange, para quetalvez as almas mortais possam serpurificadas e santificadas de tudo o quepertença ao mundo do pó e obtenham acessoaos reinos da eternidade. Pois, caso contrário,aquele Rei ideal é, em Si mesmo e por Simesmo, AutoSuficiente e independente detodas as coisas. Nem o amor de Suas criaturasO pode beneficiar, nem sua maldadeprejudicá-Lo. Todos surgiram das moradas do

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pó, e ao pó retornarão, enquanto o Deus Unoe Verdadeiro, só e único, está estabelecido sobreSeu Trono, um Trono que está além do alcancede tempo e de espaço, está santificado acimade toda afirmação ou expressão, sugestão,descrição e definição, e está elevado acima detoda noção de rebaixamento e glória. Eninguém é disso sabedor, salvo Ele e aquelescom quem está o conhecimento do Livro.Nenhum Deus há, exceto Ele, o Todo-Poderoso, o Todo-Generoso.

Cabe à benevolência do Soberano, entretanto,examinar todos os assuntos com o olhar da justiçae misericórdia, e não se contentar com as alegaçõesinfundadas de certos indivíduos. Suplicamos a Deusque bondosamente auxilie o Rei a cumprir o queLhe aprouver e, verdadeiramente, aquilo que Eledeseja deveria ser o desejo de todos os mundos.

Posteriormente, este Servo foi chamado aConstantinopla, onde chegamos acompanhados deum pobre grupo de exilados. Depois disso, emnenhuma ocasião buscamos Nos encontrar compessoa alguma, uma vez que nada tínhamos asolicitar e nenhum propósito em vista, a não serdemonstrar a todos que este Servo não abrigavanenhuma maldade em mente e que jamais seassociara aos semeadores de sedição. Por Aqueleque fez com que as línguas de todos os seresexpressassem Seu louvor! Enquanto certasconsiderações tornavam difícil dirigir uma petiçãoa qualquer autoridade, tais medidas foram

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forçosamente tomadas para proteger determinadasalmas. Meu Senhor, verdadeiramente, sabe o queestá em Mim, e Ele dá testemunha da verdade doque digo.

Um rei justo é a sombra de Deus na terra. Todosdevem buscar amparo à sombra de sua justiça erepousar abrigados pelo seu favor. Não é coisaespecífica ou limitada em seu âmbito, que sepudesse restringir a uma ou outra pessoa, uma vezque a sombra refere-se a Quem a projeta. Deus –glorificado seja Sua lembrança – chamou a Sipróprio o Senhor dos mundos, pois é Ele Quemtem nutrido, e ainda nutre a todos. Glorificada, pois,seja Sua graça que precedeu a todas as coisas criadas,e Sua misericórdia que superou todos os mundos.

É claro e evidente que, mesmo sendo esta Causavista como certa ou errada pelo povo, aqueles queestão associados ao seu nome aceitaram-na eabraçaram-na como verdadeira, e abandonaramtudo o que possuíam em sua ânsia de participardas coisas de Deus. O fato de que vieram ademonstrar tal renúncia no caminho do amor aoTodo-Misericordioso, é em si próprio uma provafiel e um eloqüente testemunho da verdade de suasconvicções. Alguém já viu que um homem de juízoperfeito viesse a sacrificar sua vida sem causa ourazão? E se fosse insinuado que este povo perdeusua razão, isso também é altamente improvável,desde que tal comportamento não foi confinadomeramente a uma alma ou duas – não, uma vastamultidão de todas as classes sorveu o seu quinhãodas águas vivas do conhecimento divino, e,

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extasiados, apressou-se de coração e alma ao campodo sacrifício, no caminho do Bem-Amado.

Se essas almas, que renunciaram a tudo o maisexceto a Deus, por Seu amor, e ofereceram suavida e substância em Seu caminho, fossemconsideradas falsas, então por qual prova etestemunho poderia, em tua presença, serestabelecida a verdade do que os outros afirmam?

O falecido Hájí Siyyid Muhammad* – queDeus exalte sua posição e o faça imergir no oceanode Seu perdão e misericórdia! – foi um dossacerdotes mais eruditos de sua época, e um doshomens mais devotos e piedosos de seu tempo.Tão elevada era a consideração para com ele, queseu louvor estava em todas as línguas, e sua retidãoe devoção eram universalmente reconhecidas.Porém, quando as hostilidades irromperam naRússia,† aquele que, ele próprio, havia proferido odecreto de guerra santa, e que ostentando oestandarte havia partido de sua terra natal paraarregimentar o apoio à sua fé, abandonou, após ainconveniência de um breve encontro, todo o bema que se havia proposto e retornou para o lugar deonde viera. Oxalá fossem levantados os véus, eaquilo que até agora permaneceu oculto dos olhosdos homens se tornasse manifesto!

Por mais de vinte anos este povo, dia e noite,tem estado sujeito à potência da ira do Soberano,e tem sido disperso, pela ventania tempestuosa deseu desagrado, cada um para uma terra diferente.

*Áqá Siyyid Muhammad-i-Tabátaba’íy-i-Isfáhání, conhecido como“Mujáhid”.†A segunda guerra russo-persa de 1825-1828.

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Quão numerosas são as crianças que foram deixadasórfãs, e quantos pais perderam seus filhos! Quantasmães que não ousaram, por medo e pavor, prantearseus filhos mortos! Quão numerosos aqueles que,ao anoitecer, estavam de posse da maior riqueza eabundância, e que, ao surgir a manhã, haviamdescido à condição de completa humilhação edestituição. Não existe terra cujo solo não tenhasido tingido com seu sangue, nem lugar no céupara onde não tenham subido seus lamentos. Aolongo dos anos, os dardos da aflição verteram,incessantemente, das nuvens do decreto de Deus,no entanto, apesar dessas calamidades etribulações, a chama do amor divino de tal modoresplandecia em seus corações que, ainda que seuscorpos fossem despedaçados, não abandonariamseu amor por Aquele que é o Mais Amado dosmundos, e sim que acolhiam de coração e almaqualquer coisa que lhes pudesse suceder no caminhode Deus.

Ó rei! As brisas da graça do Todo-Misericordiosotransformaram esses servos e os atraíram à SuaSanta Corte. “A prova de um verdadeiro amante éa demonstração de seus sentimentos.” Entretanto,alguns dos aparentemente eruditos perturbaram ocoração luminoso do rei da época a respeito dessasalmas que giram em torno do Tabernáculo doTodo-Misericordioso e que buscam atingir oSantuário do verdadeiro conhecimento. Oxalá odesejo imperial, adorno do mundo, decretasse queeste Servo falasse face a face com os sacerdotes daépoca e apresentasse provas e testemunhos napresença de sua majestade, o xá! Este Servo está

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pronto e tem esperança em Deus de que se realizeesse encontro a fim de que a verdade do assunto setorne clara e manifesta diante de sua majestade, oxá. Incumbe-te, pois, mandar. Eu estou pronto,diante do trono de tua soberania. Decide, pois, porMim ou contra Mim.

O Todo-Misericordioso revela no Alcorão, Seutestemunho duradouro a todos os povos do mundo:“Desejai, pois, a morte, se sois homens daverdade.”42 Vê como Ele declarou ser o anseio pelamorte a prova da sinceridade! E, no espelholuminoso de teu julgamento, é, sem dúvida, claroe evidente quais pessoas escolheram, neste dia,sacrificar suas vidas no caminho do Bem-Amadodos mundos. De fato, se os livros que sustentam ascrenças dessas pessoas fossem escritos com osangue derramado no caminho de Deus – exaltadaseja a Sua glória! – então, incontáveis volumes játeriam surgido entre os homens, para todosconstatarem.

Como é possível, bem poderíamos perguntar,refutar estas pessoas cujos atos estão de acordo comsuas palavras, e por outro lado dar crédito àquelesque se recusaram renunciar à mais insignificanteporção de sua autoridade, no caminho dAqueleque é o Irrestrito?

Alguns dos eclesiásticos que decretaram ser esteServo um infiel nunca se encontraram Comigo.Apesar de jamais Me haverem visto, ou seinformado de Meu propósito, falaram como bementendiam e agiram de acordo com seus desejos.Porém, cada acusação exige uma prova, não meraspalavras e nem exibição de religiosidade exterior.

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Com relação a isso, os textos de várias passagensdo Livro Oculto de Fátimih – que as bênçãos deDeus estejam sobre ela! – que são relevantes aotema presente serão citados na língua persa, paraque vários assuntos que até agora estavam ocultospossam ser revelados diante de tua presença. Aspessoas referidas no Livro acima mencionado, quehoje é conhecido como “As Palavras Ocultas”, sãoaquelas que, embora externamente sejamconhecidas pela sua erudição e religiosidade,internamente são escravas do ego e da paixão.

Ó vós que sois insensatos mas tendes nome desábios! Por que usais as vestes de pastor, quando,interiormente, vos tornastes lobos, cobiçando Meurebanho? Sois semelhantes à estrela que nasce antesdo amanhecer e que, embora pareça radiante eluminosa, desvia da Minha cidade os caminhantes,conduzindo-os pelas veredas da perdição.

E igualmente Ele diz:Ó vós belos de aparência, mas vis interiormente!

Sois como água límpida porém amarga, de purezacristalina, aparentemente, mas da qual nenhumagota é aceita quando o Avaliador divino aexperimenta. Sim, o raio solar cai igualmente sobreo pó e sobre o espelho, mas estes diferem quanto àsua capacidade de refletir, assim como a estreladifere da terra. Mais ainda, imensurável é adiferença!

E igualmente Ele diz:Ó essência do desejo! Muitas vezes, ao alvorecer,

Eu me volvia dos reinos do Infinito para tuamorada e encontrava-te no leito do ócio, devotadoa outros e não a Mim. Com isso, assim como o

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relampejar do espírito, Eu regressava aos domíniosda glória celestial e nem o sussurrava às hostes dasantidade, em Minhas plagas nas alturas.

E igualmente Ele diz:Ó escravo do mundo! Muitas vezes, ao

alvorecer, a brisa da Minha terna misericórdiasoprava sobre ti e te encontrava no leito da incúria,completamente adormecido. Lastimando, pois, teutriste estado, regressava ao lugar donde viera.43

Portanto, no exercício da justiça real, não ésuficiente dar ouvidos apenas ao reivindicador.Deus revela no Alcorão, a infalível Balança quedistingue a verdade da falsidade: “Ó vós quecredes! Se um pecador vier a vós trazendonovidade, examinai-a prontamente, para que, porignorância, não tratei ninguém com injustiça eposteriormente vos arrependais do quecometestes.”44 As Tradições sagradas, ainda mais,contêm a seguinte admoestação: “Não creiais noportador de falsidades.” Certos eclesiásticos, quenunca Nos viram, formaram uma opinião errôneaa respeito da natureza de Nossa Causa. Aqueles,entretanto, que se encontraram conosco, darãotestemunho de que este Servo nada falou, salvo deacordo com o que Deus ordenou no Livro, e queEle chamou a atenção para o seguinte versículoabençoado – exaltada seja Sua Palavra: “Não nosrejeitais meramente porque cremos em Deus, enaquilo que Ele enviou para nós, e naquilo queEle enviou no passado?”45

Ó rei da época! Os olhos destes refugiadosvolvem-se para a clemência do Mais Clemente enela se fixam. Sem dúvida alguma, a estas

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tribulações seguir-se-ão as emanações de umamisericórdia suprema, e a estas adversidadeshorrorosas, uma prosperidade transbordante. SeriaNosso desejo esperar, porém, que vossa majestade,o xá, examinasse, vós mesmo, estes assuntos e desseesperança aos corações. O que submetemos a vossamajestade é, realmente, para vosso maior bem. EDeus, em verdade é testemunha suficiente paraMim.

Glorificado és Tu, ó Senhor Meu Deus! Doutestemunho de que o coração do rei está, emverdade, entre os dedos de Teu poder. Se for deTeu desejo, inclina-o, ó Meu Deus, na direção dacaridade e misericórdia. Tu, verdadeiramente, éso Todo-Poderoso, o Mais Excelso, o MaisGeneroso. Nenhum Deus há além de Ti, o Todo-Glorioso, Aquele cujo auxílio é buscado por todos.

Com relação aos pré-requisitos dos eruditos, Elediz: “Quem dentre os eruditos protege-se contraseu ego, defende sua fé, opõe-se a seus desejos eobedece ao mandamento de seu Senhor, então aopovo incumbe segui-lo.”* Se o rei da épocarefletisse sobre este pronunciamento, que fluiu dalíngua dAquele que é o Alvorecer da Revelaçãodo Todo-Misericordioso, perceberia que aquelesque foram adornados com os atributos enumeradosnesta santa tradição são mais raros do que a pedrafilosofal, motivo pelo qual, nem todo homem quereivindica possuir conhecimento merece crédito.

Novamente, relativo aos eclesiásticos dosÚltimos Dias, diz Ele: “Os doutos da religião

*Uma tradição atribuída ao décimo-primeiro Imame Abu Muhammadal-Hasan al-’Askarí.

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daquela época serão os mais perversos doseclesiásticos à sombra do céu. Deles o danoprocedeu e a eles haverá de regressar.”

E, novamente, diz Ele: “E quando se manifestao Estandarte da Verdade, tanto o povo do Lestecomo o do Oeste o amaldiçoa.”* Se alguémcontestar estas Tradições, este Servo encarregar-se-á de estabelecer sua validade, uma vez que osdetalhes de sua transmissão foram aqui omitidos,por razões de brevidade.

Aqueles doutos que, em verdade, sorveram docálice da renúncia, nunca interferiram com esteServo. Assim, por exemplo, Shaykh Murtaá1† –que Deus exalte sua posição e o faça repousar sobo pálio de Sua graça! – demonstrou amabilidadedurante Nossa estada no Iraque e nunca falou destaCausa de outra maneira senão aquela para a qualDeus concedeu permissão. Suplicamos a Deus quebondosamente auxilie a todos a fazer o que sejaSua vontade e de Seu agrado.

Agora, entretanto, todos abandonaram qualqueroutra consideração, e estão empenhados emperseguir este povo. Assim, se for perguntado acertas pessoas que, pela graça de seu Senhor,repousam sob o abrigo da misericórdia do rei edesfrutam de incontáveis favores: “Que serviçoprestastes como retribuição a esses favores reais?Acaso tendes, por meio de diplomacia sábia,anexado mais um território ao reino? Tendes vosocupado com algo que assegure o bem estar do

*Tradições atribuídas ao sexto Imame, Abu‘Abdu’lláh Já’far as-Sádiq.†Shaykh Murtadáy-i-Ansárí, um proeminente mujtahid.

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povo, a prosperidade do reino e glória duradourado estado?” – nenhuma outra resposta terão, senãoapontarem, justa ou falsamente, um grupo depessoas, diante de tua presença real, como bábís, eem seguida se engajarem em massacre e pilhagem.Em Tabríz, por exemplo, e na cidade egípcia deMansúríyyih, várias dessas pessoas foram libertadasem troca de dinheiro e grandes somas foramalcançadas, embora nenhum relato desses assuntostivesse sido apresentado na corte de tua presença.

A razão pela qual todas essas coisas ocorreram,é que seus perseguidores, encontrando essesdesafortunados sem proteção, deixaram de ladoassuntos mais importantes e se ocuparam, por outrolado, em atormentar este povo aflito.

Inúmeros credos e diversas crenças vivempacificamente sob a proteção de tua soberania.Permite que esse povo seja também contado entreeles. Não, aqueles que servem ao rei deveriam seranimados por propósitos tão elevados e intençõestão sublimes, e continuamente se esforçarem paratrazer todas as religiões para o abrigo de seuamparo, e governá-las com justiça perfeita.

Fazer cumprir as leis de Deus nada mais é doque justiça, e é a fonte do contentamento universal.Não, ainda mais, os estatutos divinos sempreforam, e sempre serão a causa e o instrumento dapreser vação da humanidade, conformetestemunham Suas palavras excelsas: “Na puniçãoencontrareis vida, ó homens de discernimento!”46

Mal convém, entretanto, à justiça de tuamajestade que, pela transgressão de uma únicaalma, todo um grupo de pessoas seja sujeito ao

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castigo de tua ira. O Deus Uno e Verdadeiro –glorificado seja Seu Nome! – disse: “Ninguémarcará com a culpa alheia.”47 É claro e evidenteque, em toda comunidade, tem existido e sempreexistirão os eruditos e os ignorantes, os sábios e osnegligentes, os devassos e os devotos. É muitoimprovável que uma alma sábia e ponderada venhaa cometer um ato abominável, uma vez que talpessoa, ou busca este mundo ou já o abandonou:se for deste último tipo, seguramente a nada daráatenção exceto a Deus; além disso, o temor a Deuso impediria de cometer ações ilícitas erepreensíveis; e se for do primeiro tipo, ele,seguramente, evitaria tais atos que pudessemalienar e alarmar o povo, e agiria de tal maneira aconquistar sua confiança e probidade. É, portanto,evidente que, ações repreensíveis sempreemanaram, e sempre emanarão, das almas tolas eignorantes. Imploramos a Deus que guarde Seusservos de se volverem para qualquer outro salvoEle, e que os aproxime de Sua presença. Seu poder,em verdade, é igual a todas as coisas.

Louvor a Ti, ó Senhor Meu Deus! Ouves a vozde Minha lamentação, e vês Minha condição,Minha angústia e aflição! Tu és conhecedor de tudoque está em Mim. Se o clamor que levantei fortotalmente por amor a Ti, inclina, então, oscorações de Tuas criaturas para o céu de Teuconhecimento, e o coração do Soberano para amão direita do trono de Teu nome, o Todo-Misericordioso. Provê-lhe então, ó Meu Deus, umaporção daquele sustento esplêndido que desceu docéu de Tua generosidade e das nuvens de Tua

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misericórdia, para que possa abandonar tudo o quelhe pertence, e volver-se para a corte de Teu favor.Ajuda-O, ó Meu Deus, a auxiliar Tua Causa e aexaltar Tua Palavra em meio às Tuas criaturas.Fortalece-O, então, com as hostes do visível e doinvisível, para que possa conquistar toda cidade emTeu Nome, e manter o domínio, através de Tuasoberania e poder, sobre todos os que habitam a terra,ó Tu, em cuja mão está o reino da criação! Tu,verdadeiramente, és o Supremo Ordenador, tanto noinício como no fim. Nenhum Deus há além de Ti, oMais Poderoso, o Todo-Glorioso, o Onissapiente.

Nossa Causa foi tão grosseiramente deturpadadiante de tua presença real que, se um atoimpróprio for cometido por uma única dessaspessoas, é apresentado como se fosse instigado porsua crença. Por Aquele além do Qual não há outroDeus! Este Servo recusou-Se a sancionar atémesmo o cometimento de atos repreensíveis,muito menos aqueles que foram explicitamenteproibidos no Livro de Deus.

Deus proibiu aos homens a ingestão de vinho,e esta proibição foi revelada e registrada em SeuLivro. Apesar disso, e do fato de todos os doutoseruditos da época – que Deus amplie seu número!– terem proibido o povo de ato tão desprezível,ainda resta alguns que o cometem. A punição quetal ato acarreta, entretanto, aplica-se apenas aosperpetradores negligentes, enquanto aquelas nobresmanifestações de santidade suprema permanecemexaltadas acima e isentas de toda culpa. Sim, todaa criação, tanto visível como invisível, dátestemunho de sua santidade.

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Sim, esses servos consideram o Deus Uno eVerdadeiro como Aquele que “faz o que queira”48

e “ordena o que Lhe apraz”49. Assim eles nãoconsideram impossível o contínuo aparecimento,no mundo contingente, dos Manifestantes de SuaUnidade. Se alguém asseverasse o contrário, comoele se diferenciaria daqueles que crêem que a mãode Deus está “atada”?50 E se o Deus Uno eVerdadeiro – glorificada seja Sua menção! – forverdadeiramente considerado como irrestrito,então, qualquer Causa que aprouver ao Rei Antigomanifestar do manancial de Seu Domínio deve serabraçada por todos. Não há nenhum refúgio paraquem quer que seja, e nenhum abrigo para fugirsalvo Deus, nenhuma proteção há para qualqueralma e nenhuma defesa a ser buscada exceto nEle.

... Fora disto, a rejeição do povo, tanto eruditocomo ignorante, nunca foi, nem será jamais, dequalquer efeito. Os Profetas de Deus, aquelasPérolas do oceano da Unidade Divina e osRepositórios da Revelação Divina, sempre foramobjeto do repúdio e negação dos homens. Assimcomo Ele diz: “Cada nação tem tramadosinistramente contra seu Mensageiro, querendoprendê-lo com violência e disputar, com palavrasvãs, a fim de invalidar a verdade.”51 E novamente:“Não lhes vem Mensageiro algum, que não sejaobjeto de seu escárnio.”52

Considera a Dispensação dAquele que é o Selodos Profetas e o Rei dos Eleitos – que as almas detoda a humanidade sejam oferecidas em sacrifíciopor Ele! Logo após o alvorecer do Sol da Verdade

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do horizonte de Hijáz, como foram grandes ascalúnias que os expoentes do erro infligiram sobreaquela incomparável Manifestação do Todo-Glorioso! Tal era a sua negligência, queconsideravam cada injúria infligida Àquele Sersagrado como sendo estimada entre os maiores detodos os atos, e constituindo um meio dealcançarem a Deus, o Altíssimo. Por esse motivo,nos primeiros anos de Sua missão, os sacerdotesdaquela época, tanto cristãos como judeus,desviaram-se daquela Estrela dAlva do céu daglória, em conseqüência do que todo o povo,ilustres e humildes igualmente, apressou-se emextinguir a luz daquele Luminar do horizonte dossignificados interiores. Os nomes de todos essessacerdotes foram mencionados nos livros dopassado; entre eles estão Wahb Ibn-i-Ráhib, Ka’bIbn-i-Ashraf, ‘Abdu’lláh-i-Ubayy e outrossemelhantes.

Finalmente, o caso chegou a tal ponto que esseshomens se aconselharam entre si e conspirarampara derramar Seu sangue puro, assim como Deus– glorificada seja Sua menção! – diz: “E recorda-Te de quando os incrédulos conspiraram contraTi, para aprisionar-Te, ou matar-Te, ou expulsar-Te; e assim conspiraram, e Deus conspirou, e Deus,verdadeiramente, é o melhor dos conspiradores.”53

Novamente, diz Ele: “Mas se sua oposição Te forpenosa – se puderes, busca uma abertura paradentro da terra, ou uma escada para o céu e traze-lhes um sinal; todavia, se Deus o desejasse, Elepoderia guiá-los à senda verdadeira; não sejas, pois,

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dos ignorantes.”54 Por Deus! Os corações de Seusfavorecidos são consumidos pelo significado dessesdois versículos abençoados. Tais fatos estabelecidose indiscutíveis foram esquecidos, e ninguém paroupara refletir, nos dias passados ou nos atuais, sobreas coisas que levaram os homens a rejeitarem osReveladores da luz de Deus, no tempo de suamanifestação.

Da mesma forma, antes do aparecimento doSelo dos Profetas, considera Jesus, o Filho de Maria.Quando aquele Manifestante do Todo-Misericordioso revelou-Se, todos os sacerdotesacusaram aquela Quinta-essência da Fé de cometerimpiedade e rebelião. Finalmente, com a sançãode Anás, o mais erudito dos sacerdotes de Seu Dia,e Caifás,* o sumo sacerdote, fizeram com que SuaPessoa Abençoada viesse a sofrer aquilo de que apena se envergonha de mencionar e se achaimpotente para descrever. O mundo inteiro, comtoda a sua vastidão, já não podia contê-Lo, atéque, enfim, Deus O alçou ao céu.

Se fôssemos dar aqui um relato detalhado sobretodos os Profetas, tememos que isso poderia levarao enfado. ...

Oxalá Me permitisse, ó xá, enviar-te aquilo quepoderia alegrar os olhos e tranqüilizar as almas efazer toda pessoa justa acreditar que com Ele(Bahá’u’lláh) está o conhecimento do Livro. ...Se não fosse o repúdio dos insensatos e aconivência dos sacerdotes, Eu teria pronunciadoum discurso que extasiaria os corações,

*Ver Bíblia: João 11:49-50; 18:13-28; Atos 4:6-10.

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transportando-os para um reino cujos ventos sefazem ouvir, murmurando: “Nenhum Deus hásenão Ele!” No momento, entretanto, conside-rando que a época não é propícia, a língua de Mi-nha elocução foi silenciada e o vinho da exposiçãoselado, até o tempo em que Deus, através da potên-cia de Seu poder, Se compraza em descerrá-lo. Ele,verdadeiramente, é o Grande, o Mais Poderoso.

Louvor a Ti, ó Senhor Meu Deus! Peço-Te porTeu Nome, através do qual subjugaste a todos osque estão nos céus e todos os que estão na terra,que protejas a lâmpada de Tua Causa dentro doglobo de Tua onipotência e de Teu generoso favor,para que não seja exposta aos ventos da negaçãodaqueles que permanecem descuidados dosmistérios de Teu Nome, o Irrestrito. Aumenta,pois, com o óleo de Tua sabedoria, o brilho de sualuz. Tu, verdadeiramente, tens poder sobre todosos habitantes de Tua terra e de Teu céu.

Imploro-Te, ó Meu Senhor, por aquela Palavramais excelsa, que infligiu terror nos corações detodos os que estão nos céus e na terra, salvosomente aqueles que se seguraram firmemente aTua Guia Certa, que não Me abandones em meioàs Tuas criaturas. Alça-Me a Ti próprio, faze-Meentrar no abrigo de Tua mercê, e dá-Me de beberdo vinho puro de Tua providência, para que Eupossa habitar no tabernáculo de Tua majestade esob o pálio de Teu favor. Potente és Tu para fazero que Te apraz. Tu, verdadeiramente, és o Amparono Perigo, O que subsiste por Si próprio.

Ó rei! As lâmpadas da eqüidade foramapagadas, e o fogo da tirania de tal modo

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resplandeceu de todos os lados, que Meu povo foiconduzido cativo... Este não é o primeiro ultrajesofrido no caminho de Deus. Incumbe a toda almaponderar e recordar aquilo que sobreveio à famíliado Profeta quando o povo a fez cativa e a trouxe aDamasco. Entre eles estava o Príncipe daquelesque adoram a Deus, o Esteio dos que seaproximaram dEle e o Santuário daqueles queanseiam por Sua presença – que a vida de todos osdemais seja um sacrifício por ele!*

Perguntaram a eles: “Sois da facção dosDissidentes?”† Ele respondeu: “Não, pelo SenhorTodo-Poderoso. Somos apenas servos queacreditaram em Deus e em Seus versículos. Atravésde nós a face da fé veio a irradiar júbilo, Através deNós resplandeceu o sinal do Todo-Misericordioso.Ao serem mencionados nossos nomes, o desertode Bathᇠinundou-se e foi dispersa a escuridão quesepara a terra e o céu.”

“Proibistes”, perguntaram a eles, “aquilo queDeus legitimou, ou aprovastes aquilo que Eleproibiu?” “Fomos os primeiros a seguir osmandamentos divinos”, ele respondeu. “Somos araiz e a origem de Sua Causa, o início e o fim detodo o bem. Somos o sinal do Ancião dos Dias e afonte de Sua comemoração entre as nações.”

Perguntaram a eles: “Abandonastes o Alcorão?”“Em nossa Casa”, foi sua resposta, “o

*‘Alí Ibn Husayn, conhecido como “Zayn’ul-’Ábidín”, o segundodos filhos do Imame Husayn, que se tornou o quarto Imame.†Os kharijites, uma facção oposta tanto aos imames quanto ao Estadode Umayyad.‡Meca.

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Misericordioso o revelou. Somos as brisas do Todo-Glorioso em meio à Sua criação. Somos os riosque procederam do Mais Grandioso Oceano,através do qual Deus revivificou a terra, e por cujointermédio Ele a revivificará novamente, apóshaver ela perecido. Por Nosso intermédio Seussinais foram difundidos, Suas provas reveladas eSeus sinais manifestados. Conosco está oconhecimento de Seus significados ocultos e Seusmistérios não narrados.”

“Por qual crime fostes punidos?” perguntarama eles. “Por nosso amor a Deus”, foi a resposta, “epor nosso desprendimento de tudo o mais, salvodEle.”

Não relatamos suas palavras exatas – que a pazesteja sobre ele! – mas, antes, comunicamos umaspoucas gotas daquele Oceano de Vida Eterna quejaz entesourado dentro delas, para que aqueles queas ouvem sejam vivificados e tornados conscientesdaquilo que sobreveio aos fiéis de Deus nas mãosde uma geração desobediente e perdida. Vemos opovo, neste dia, censurando os opressores de eraspassadas, enquanto eles próprios cometemtransgressões ainda maiores, e não o sabem!

Deus dá-Me testemunho de que Meu propósitonão foi fomentar sedição, mas sim purificar Seusservos de tudo o que os impediu de se aproximaremdEle, o Senhor do Dia do Juízo. Eu estavaadormecido em Meu leito, quando, eis, as brisasde Meu Senhor, o Todo-Misericordioso, fluíramsobre Mim, despertaram-Me de Meu sono e Meordenaram que Eu erguesse Minha voz entre a terrae o céu. Isto não é de Mim, mas de Deus. Disto

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dão testemunho os habitantes de Seu Domínio ede Seu Reino, e os moradores das cidades de Suaglória imperecível. Por Aquele que é a Verdade!Não temo a tribulação em Sua vereda, nem aaflição em Meu amor por Ele e no caminho deSeu beneplácito. Verdadeiramente Deus fez aadversidade como o orvalho da manhã sobre Suapastagem verdejante e como um pavio para Sualâmpada que ilumina terra e céu.

Pode a prosperidade de um homem durar parasempre, ou protegê-lo dAquele que, dentro embreve, o apanhará pelos cabelos? Ao se olhar paraaqueles que descansam sob as lápides dos túmulos,ocultadas pelo pó, poder-se-ia distinguir entre acaveira desintegrada de um soberano e os ossosdecomponentes de um súdito? Não, por Aqueleque é o Rei dos Reis! Poder-se-ia discernir o senhordo vassalo, ou aqueles que desfrutavam deprosperidade e riquezas daqueles que não possuíamnem sapatos nem capacho? Por Deus! Todadistinção foi obliterada, salvo apenas para aquelesque defendiam o que é correto e que governavamcom justiça.

Para onde foram os eruditos, os sacerdotes, e ospotentados de antigamente? O que sucedeu a suasvisões penetrantes, suas percepções perspicazes, seusdiscernimentos sutis e sábios pronunciamentos?Onde estão seus tesouros ocultos, seus ornamentospomposos, seus ricos leitos, seus tapetes e almofadasespalhadas? Para sempre se foi sua geração! Todospereceram, e, pelo decreto de Deus, nada delesrestou, exceto pó esparramado. Exaurida está afortuna que juntaram, dispersos estão os bens que

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acumularam, dissipados os tesouros que ocultaram.Nada pode ser visto agora, salvo os locais quefreqüentavam, agora desertos, suas habitaçõesdestelhadas, os troncos desenraizados de suasárvores, e seu esplendor desvanecido. Nenhumhomem de discernimento permitirá que aprosperidade desvie seu olhar de seu objetivo final,e nenhum homem de compreensão permitirá quea riqueza o impeça de volver-se para Aquele queTudo Possui, o Altíssimo.

Onde está o comandante da legião escura eaquele que levantava o estandarte dourado? Ondeestá o governante de Zawrá’*, e onde se encontrao tirano de Fayhá’?† Onde estão aqueles diante decuja munificência as câmaras de tesouro da terrase encolhiam de vergonha, e diante de cujagenerosidade e espírito elevado o próprio oceanose consternava? Onde está aquele que estendia seubraço em rebelião, e que voltava sua mão contra oTodo-Misericordioso?

Onde estão aqueles que foram em busca dosprazeres terrenos e dos frutos dos desejos carnais?Para onde fugiram suas formosas e graciosasmulheres? Onde estão seus ramos envergados, seusgalhos estendidos, suas mansões imponentes, seusjardins gradeados? E o que foi feito dos deleitesdesses jardins – sua terra primorosa e brisas suaves,seus riachos murmurantes, seus ventos sussurrantes,o arrulhar de seus pombos e o farfalhar de suasfolhas? Onde estão agora suas manhãs

*Bagdá.†Alusões às dinastias ‘Azbbásid e Umayyad.

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esplendorosas e suas faces radiantes adornadas desorrisos? Ai deles! Todos pereceram e foramrepousar sob um abrigo de pó. Deles não se ouvenem nome, nem menção; ninguém sabe de seusassuntos, e nenhum sinal seu resta.

...Questionará o povo, então, aquilo que elepróprio dá testemunho? Negarão aquilo que elessabem ser a verdade? Não sei em que ermoperambulam! Não vêem que embarcaram numaviagem da qual não há retorno? Por quanto tempovagarão eles da montanha ao vale, da baixada àcolina? “Não veio o tempo para aqueles que crêemem submeter seus corações enquanto fazemmenção de Deus?”55 Abençoado é aquele que disse,ou que dirá agora, “Sim, veio o tempo e soou ahora!”, e aquele que, depois disso, desprender-sede tudo o que tem sido, e entregar-se inteiramenteÀquele que é o Possuidor do universo e o Senhorde toda a criação.

...Pois, nada se colhe, salvo aquilo que se planta,e nada se ceifa, salvo o que semea,56 a não ser porintervenção da graça e favor do Senhor. Já teráconcebido o ventre do mundo alguém a quem osvéus da glória não o impeça de ascender ao Reinode seu Senhor, o Todo-Glorioso, o Altíssimo? Aindamais, estará ao Nosso alcance realizar tais atos quedissipam Nossas aflições e Nos aproximam dAqueleque é o Causador das causas? Imploramos a Deusque nos trate de acordo com Sua generosidade, enão com Sua justiça, e que nos permita sermosdaqueles que volveram suas faces ao seu Senhor ese desprenderam de tudo o mais.

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Tenho visto, ó xá, no caminho de Deus, o queolhos jamais viram nem ouvidos ouviram. Meusconhecidos Me repudiaram e Meus caminhos seestreitaram. A fonte do bem-estar secou-se e asfolhas do caramanchão da tranqüilidademurcharam. Quão numerosas as tribulações quechoveram, e que em breve choverão sobre Mim.Sigo adiante, com a face volvida para Aquele queé o Onipotente, o Todo-Generoso, enquanto atrásde Mim desliza a serpente. Meus olhos têmderramado lágrimas até ensopar Meu leito.

Minha tristeza não é por Minha própria causa,entretanto. Por Deus! Nunca passei por uma árvoresem que Meu coração não lhe tivesse dirigido estaspalavras: “Oxalá fosses cortada em Meu nome, eMeu corpo sobre ti crucificado, na vereda de Meusenhor!”, pois vejo o povo vagando desatento einconsciente em seu estupor embriagado.Elevaram às alturas suas paixões e diminuíram seuDeus. Parece-Me que tomaram Sua Causa porzombaria e a consideram uma brincadeira e umpassatempo, acreditando o tempo todo que agembem, e que habitam com segurança na cidadelada proteção. Não obstante, o assunto não é comoeles insensatamente imaginam: amanhã verãoaquilo que hoje estão habituados a negar!

Dentro em breve, os expoentes da riqueza e dopoder Nos banirão da terra de Adrianópolis para acidade de ‘Akká. De acordo com o que se diz, é amais desoladora cidade de todo o mundo, a demais feio aspecto, mais detestável por ser ametrópole das corujas, dentro de cujos arredores

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nada se pode ouvir, salvo o eco de seu lamento. Láresolveram aprisionar este Servo, para que sefechem, diante de Nossas Faces, as portas datranqüilidade e do conforto, e para nos privaremde cada benefício deste mundo, ao longo dorestante de nossos dias.

Por Deus! Embora a fadiga Me abata e a fomeMe consuma, a rocha dura seja Meu leito e as ferasdo deserto Minhas companheiras, não Mequeixarei, mas, sim, sofrerei pacientemente, comosofreram aqueles dotados de constância e firmeza,através do poder de Deus, o Rei Eterno e Criadordas nações, e agradecerei a Deus sob todas ascondições. Pedimos que, por Sua bondade –exaltado seja Ele – através deste encarceramento,Ele livre das cadeias e correntes os pescoços doshomens e os leve a volverem-se, com face sincera,para a Face dAquele que é o Potente, o Generoso.Prontamente, Ele responde a quem O invoca, epróximo está de quem com Ele comunga.Imploramos, ademais, que Ele faça desta tribulaçãosombria uma proteção para o Templo de SuaCausa, e a proteja do ataque das espadas afiadas edas adagas pontiagudas. A adversidade tem sempredado origem à exaltação de Sua Causa e àglorificação de Seu Nome. Tal tem sido o métodode Deus levado a cabo nos séculos e eras passadas.Em breve, aquilo que agora o povo não conseguecompreender, descobrirá no dia em que seuscorcéis tropeçarem, seus adornos foremdescartados, suas espadas enterradas e seus pésobrigados a recuar.

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Não sei por quanto tempo esporearão o cavalode batalha do ego e da paixão e vagarão no ermodo erro e da negligência! Durará a pompa dospoderosos, ou a miséria dos humildes? Subsistirápara sempre aquele que repousa no mais elevadoassento de honra, que alcançou o pináculo dopoder e da glória? Não, por Meu Senhor, o Todo-Misericordioso! Tudo na terra passará, e somentea face de Meu Senhor permanecerá, o Todo-Glorioso, o Mais Generoso.57

Que armadura não foi trespassada pela flechada destruição, e que fronte real não foi despojadapela mão do Destino? Que fortaleza resistiu àaproximação do Mensageiro da Morte? Que trononão foi despedaçado, que palácio não reduzido aentulho? Se o povo pudesse ao menos provardaquele Vinho seleto da misericórdia de seu Senhor,o Todo-Poderoso, o Onissapiente, que jazentesourado para ele no mundo do além,seguramente cessaria sua censura e buscaria apenasalcançar o beneplácito deste Servo. Por hora,entretanto, ocultaram-Me atrás de um véu deescuridão, cujo tecido trançaram com as mãos davã fantasia e imaginações fúteis. Dentro em breve,a mão nívea de Deus rasgará uma abertura em meioà escuridão desta noite e destrancará um poderosoportal para Sua Cidade. Naquele dia o povo nelaentrará em tropas, proferindo aquilo que oscensuradores outrora exclamaram,58 que se tornarámanifesto no fim, aquilo que surgiu no princípio.

É seu desejo tardar-se aqui, quando já têm umpé no estribo? Consideram voltar, quando jápartiram? Não, por Aquele que é o Senhor dos

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Senhores! Exceto no Dia do Juízo, o Dia em queas pessoas se levantarão de seus túmulos e serãoquestionadas por seus atos. Bem aventurado éaquele que não será encontrado em falta naqueleDia, o Dia no qual as montanhas passarão e todosse reunirão para prestar contas na presença de Deus,o Excelso. Severo, em verdade, é Ele quando pune!

Imploramos a Deus que purifique os coraçõesde certos sacerdotes do rancor e da inimizade, paraque venham a olhar os assuntos com olhos quenão estejam nublados pelo desdém. Que Ele oseleve à uma posição tão alta, que nem o fascíniodo mundo, nem a sedução da autoridade possamdesviar-lhes o olhar do Horizonte Supremo, e quenem os benefícios mundanos, nem os desejoscarnais os impeçam de atingir aquele Dia em queas montanhas serão reduzidas a pó. Embora,presentemente, se regozijem com a adversidadeque Nos sobreveio, em breve virá um dia em quese lamentarão e prantearão. Por Meu Senhor! Sefosse Me dada a escolha entre, por um lado, aprosperidade e a opulência, a tranqüilidade e oconforto, a honra e a glória de que desfrutam, e,por outro, as adversidades e tribulações que sãoMinhas, Eu, sem hesitar escolheria Minha condiçãoatual e Me recusaria a trocar um único átomodesses sofrimentos por tudo o que foi criado nomundo do ser.

Não fosse pelas tribulações que Me atingiramno caminho de Deus, a vida nenhuma doçura teriaMe proporcionado e Minha existência não Me seriade nenhum benefício. Para aqueles dotados dediscernimento, cujos olhos estão fixados na

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Sublime Visão, não é segredo algum que tenhosido, na maior parte dos dias de Minha vida, assimcomo um escravo, sentado sob uma espadasuspensa por um fio, sem saber se ela cairá maiscedo ou mais tarde sobre ele. E ainda mais, nãoobstante tudo isso, damos graças a Deus, o Senhordos mundos, e rendemos louvores a Ele, em todosos tempos e sob todas as condições. Ele,verdadeiramente, é testemunha de todas as coisas.

Imploramos a Deus que estenda amplamentesua sombra,* para que os verdadeiros crentespossam se apressar a ela e que Seus amantes sincerosvenham a buscar proteção nela. Que Ele concedaaos homens flores do caramanchão de Sua graça eestrelas do horizonte de Sua providência. Oramosa Deus, além disso, que por Sua graça auxilie o reia cumprir Sua vontade e prazer, e a confirmá-lonaquilo que o fará aproximar-se do Alvorecer dosmais excelentes nomes de Deus, para que não tolerea injustiça que testemunhar, possa ver seus súditoscom os olhos da misericórdia, e os proteja daopressão. ...

E, finalmente, imploramos a Deus, exaltadaseja Sua glória, que te capacite a auxiliar Sua Fé evolver-te para Sua justiça, para que venhas a julgarentre o povo assim como julgas entre tua própriafamília, e possas escolher para eles aquilo queescolhes para ti próprio. Ele, verdadeiramente, é oTodo-Poderoso, o Excelso, o Amparo no Perigo,O que subsiste por Si próprio.

*Referência ao xá da Pérsia.

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Agora, uma vez que uma ocasião apropriada temchegado, foi considerada apropriada que alguns dospreceitos de Bahá’u’lláh que são contidos em tratadose epístolas sejam, também, inseridos brevemente nestaobra, de modo que os principais princípios e práticase (as suas) fundações e base podem se tornar claros eaparentes. E estes textos foram copiados denumerosos tratados.

“Convivei com os seguidores de todas asreligiões em espírito amistoso e fraternal. Assim osol de Sua sanção e autoridade resplandeceu acimado horizonte do decreto de Deus, Senhor dosmundos.”59

“Nós vos temos proibido a dissensão e o conflitoem Meus Livros, Minhas Escrituras, MeusPergaminhos e Minhas Epístolas, nada desejandocom isso, senão vossa elevação e vosso progresso.Disso dão testemunho os céus e suas estrelas, o sole seu brilho, e as árvores e as folhas que nelascrescem, e os mares e suas ondas, e a terra e ostesouros que nela jazem. Pedimos a Deus que ajudea Seus bem-amados, os auxilie naquilo que comeles seja condigno neste estado bendito, poderosoe admirável. Ainda mais, Lhe suplicamos quebenevolamente capacite àqueles que Me rodeiama observarem o que Minha Pena de Glória lhesprescreveu.”60

A mais formosa árvore do conhecimento sãoestas sublimes palavras: “Sois os frutos de uma só

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árvore e as folhas do mesmo ramo.”61 “Que nãose vanglorie quem ama seu próprio país, mas sim,quem ama o mundo inteiro.”62

“Quem cria o seu próprio filho, ou o filho deoutrem, é como se criasse um filho Meu; sobre elerepousem Minha glória, Minha ternura e Minhamercê, que envolveram o mundo inteiro.”63

“Ó povo de Bahá! Sois os pontos de alvorecerdo amor de Deus e as auroras de Sua benevolência.Não poluais vossas línguas com a maldição ou orebaixamento de qualquer alma, e guardai vossosolhos contra aquilo que não seja digno. Apresentaiaquilo que possuís. Se for recebido favoravelmente,vosso objetivo será alcançado; se não, é inútilprotestar. Deixai aquela alma a si própria e volvei-vos ao Senhor, o Amparo, O que subsiste por SiPróprio. Não sejais causa de tristeza - muito menosde discórdia e contenda. Alimenta-te da esperançade que possais obter a verdadeira educação àsombra da árvore de Sua terna misericórdia e agirde acordo com aquilo que Deus deseja. Vós todossois as folhas de uma só árvore e as gotas de um sóoceano.”64

“O propósito fundamental que anima a Fé deDeus e Sua Religião consiste em salvaguardar osinteresses e promover a unidade do gênerohumano, e nutrir entre os homens o espírito deamor e amizade. Não permitimos que se tornefonte de dissensão e discórdia, de ódio einimizade.65 A melhor forma e o principal

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instrumento para (produzir) o aparecimento e airradiação do luminar da concórdia é a religião deDeus e a Lei do Senhor; enquanto que ocrescimento do mundo, a educação das nações e apaz e o bem-estar daqueles que habitam todas asterras ocorrem através dos mandamentos divinose seus decretos. Este é o meio principal para obteresta dádiva mais preciosa; ela provê o cálice davida, concede vida eterna e confere felicidade parasempre. Os líderes da Terra, especialmente osexemplares da justiça divina, devem envidar todosos esforços para manter-se neste estado, elevá-lo epreservá-lo. Desta forma aquilo que é necessário ébuscar conhecer a condição do povo, e saber dosfeitos e das circunstâncias de cada uma dasdiferentes classes..... Desejamos dos que sãoexemplares do poder de Deus, particularmente osreis e líderes em geral, que se esforcem para que adiscórdia possa ser banida de seu meio (deles), eos horizontes possam ser iluminados com a luz daconcórdia. Todos devem firmar-se naquilo que fluida Pena do Recordador, e praticá-lo. Deustestemunha e (todos) os átomos de vida confirmamque temos mencionado aquilo que será a causa deexaltação, elevação, educação, preservação ereforma dos habitantes da Terra. Desejamos deDeus que Ele fortaleça (Seus) servos. Que este SerOprimido busca de todos justiça e retidão; que nãose satisfaçam em ouvir, mas que ponderem sobreaquilo que se tornou manifesto deste Ser Oprimido.Juro pelo Sol da Revelação que tem brilhado dohorizonte do céu do Reino do Misericordioso, sealgum (outro) expositor ou orador foi visto fazendo

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tal chamamento, Eu faria de Mim mesmo umobjeto de malevolência e de calúnias dahumanidade.”66

Procurei dispor à qualquer pessoa, através destasfrases, um indício dos princípios, idéias, linha deconduta, comportamento e intenções desta Fé;enquanto que, se buscarmos nos inteirar da verdadedeste assunto através dos relatos e estórias que estejamnas bocas dos homens, a verdade será completamenteocultada e escondida por motivo de suas múltiplasdiferenças e contrariedade. É, então, melhor descobriros princípios e objetivos desta Fé a partir do conteúdodos seus ensinamentos, tratados e epístolas. Não hánenhuma autoridade nem quaisquer provas ou textossuperiores a estes, pois este é o fundamento dosfundamentos e o critério insuperável. Não é possívelalguém julgar a regra geral através do discurso ou daação de indivíduos, pois a diversidade de estados éuma das peculiaridades e concomitâncias da raçahumana.

Em todo o caso, no começo do ano 1285 (d.h.)*transferiram Bahá’u’lláh e todas as pessoas que comEle estavam, de Adrianópolis para a prisão de ‘Akká,e Mírzá Yahyá para a fortaleza de Famagusta, e alieles permaneceram. Mas na Pérsia, após um tempo,várias pessoas que eram dotadas de discernimento,notáveis por suas políticas sabias e atentas e cônsciasda verdade dos eventos prévios e posteriores, fizeram

*1868.

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uma representação diante da presença de suamajestade, o rei, dizendo:

“O que foi, até agora, reportado, relatado,asseverado e alegado concernente à esta Fé napresença real ou foi uma exageração ou, então,(os locutores) fabricaram declarações com afinalidade de (seus) propósitos individuais e aobtenção de vantagens pessoais.

Fosse sua majestade investigar o assunto por suaprópria nobre pessoa, acreditar-se-ia de que setornará claro diante da sua presença que esta Fénão tem nenhum objetivo mundano nemconcernência com questões políticas. O fulcro deseu movimento e o pivô da sua disposição econduta são restringidos às coisas espirituais econfinado às questões de consciência; não há nadaa ver com os afazeres do governo nem quaisquerrelações com os poderes do trono. Seus princípiossão a retirada dos véus, a verificação dos sinais, aeducação das almas, a reformação dos caracteres,a purificação dos corações e a iluminação com osvislumbre de alumiação. Aquilo que condisseres àdignidade real e convieres ao diadema deconsagração mundial é esta: que todos os súditosde todas as classes e credos deverão ser os objetosde abundância, e (deverão permanecer) na maiortranqüilidade e prosperidade abaixo da sombra largada justiça do rei. Pois a sombra divina é o refúgiode todos os habitantes da Terra e o abrigo de todaa humanidade – não é limitado a um partido.

Em particular, a verdadeira natureza e a realdoutrina desta Fé tem (agora) se tornado evidentes

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e bem conhecidas. Todos os seus escritos e tratadostem repetidamente e freqüentemente caído nas(nossas) mãos, e podem ser achados preservadosna posse do governo. Se fossem examinados, averdade vigente e a veracidade interna ficariamclaras e aparentes. Estas páginas estão inteiramentetomadas com proibições de sedição,(recomendações de) conduta honesta entre ahumanidade, obediência, submissão, lealdade,conformidade, aquisição de qualidades louváveise encorajamento para se tornar dotado derealizações e características dignas de elogios. Elesnão têm, em absoluto, nenhuma referência àsquestões políticas nem tratam daquilo que poderiacausar distúrbios ou sedição.

Nestas circunstâncias, para um governo justo,não pode haver (se achar) nenhuma desculpa, nemnenhum pretexto (para a continuação daperseguição desta Fé) exceto (uma reivindicaçãopara o direito de) interferência do pensamento econsciência, que são as posses privadas do coraçãoe da alma. E, quanto a este assunto, (já) muitotêm sido a interferência e incontáveis os esforços.Quanto sangue têm sido derramado! Quantascabeças têm sido penduradas! Milhares de pessoastêm sido mortas; milhares de mulheres e criançastornadas andarilhas ou cativas; muitos são osprédios que foram arruinados; e quantos nobres efamílias se tornaram sem cabeças e sem lares!Contudo nada tem sido efetuado e nenhumavantagem tem sido ganha. Nenhum remédio temsido descoberto para esta enfermidade, nemqualquer bálsamo para este ferimento.

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(Para assegurar) Liberdade de consciência etranqüilidade do coração e da alma é um dosdeveres e funções de um governo, everdadeiramente em todas as épocas, é a causa dedesenvolvimento e progresso sobre outras terras.Outros países civilizados não adquiriram estapreeminência, nem atingiram estes altos graus deinfluência e poder, até que chegou o tempo emque eliminaram do seu meio, a contenda de seitase trataram todas as classes de acordo com um únicopadrão. Todos são um único povo, uma nação,uma espécie, um gênero. O interesse comum éigualdade completa. A justiça e a igualdade entreos seres humanos são, entre os promotoresprincipais de autoridade, o meio principal daextensão da orla da conquista. De qualquer parteocupada por eles na Terra, de onde apareceremsinais da contenda, punição imediata é requeridade um governo justo, enquanto qualquer pessoaque cinja os lombos de empenho e conduza a metada prioridade é digna dos favores reais e merecedorade esplêndidas dádivas.

Os tempos mudaram, e as necessidades e oscostumes do mundo têm mudado. Interferênciacom a crença e a fé em todos os países causadetrimento manifesto, enquanto a justiça e aconduta igual para com todos os povos na face daTerra, são os meios pelo qual o progresso é efetuado.É direito exercer a cautela e o cuidado em respeitoàs facções políticas e ficar receoso e apreensivo deseitas materialistas, pois os assuntos que ocupamos pensamentos dos primeiros são (esquemas de)a interferência nas questões políticas e (o desejo

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de) a ostentação, enquanto as ações e a condutados últimos são subversivas à segurança e àtranqüilidade. Mas as pessoas desta Fé são imutáveisno seu próprio caminho e firmementeestabelecidas em conduta e fé; são piedosas,devotadas, tenazes e consistentes, de tal maneiraque livremente sacrificam suas vidas, e, de suaprópria maneira, procuram a agradar a Deus; sãopessoas vigorosas no esforço e determinadas emempenho; são a essência da obediência emuitíssimo pacientes na privação e dificuldade; elassacrificam sua existência e não reclamam nemlamentam; o que elas exprimem é, na verdade, oanseio oculto do coração, e o que elas buscam eperseguem é seguir o Guia. É, então, necessárioconsiderar seus princípios e seu Líder, e não fazerde uma coisa trivial um pretexto. Agora, uma vezque a conduta do Líder, os ensinamentos das SuasEpístolas e o teor dos Seus Escritos estão aparentese bem conhecidos, a linha de ação desta Fé estáclara e tão óbvia quanto o sol.

O que quer que fosse possível e praticável comomeio de desencorajamento, impedimento,erradicação, intimidação, repreensão, matança,banimento e chicotadas não faltou, mas mesmoassim nada disso surtiu efeito. Em outros paísesquando perceberam que a severidade e aperseguição teria o mesmo efeito que estímulo eincitação, e que ignorá-las seria mais efetivo,minoraram o fogo da revolução.

Deste modo, foram universalmenteproclamados os direitos iguais de todas asdenominações e fizeram soar a liberdade de todas

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as classes do oriente ao ocidente. Este clamor eprotesto, este alvoroço e conflagração, são asconseqüências da instigação, tentação, incitamentoe provocação. Por trinta anos não houve nenhumrumor de distúrbios ou rebeliões, nem qualquersinal de sedição. Não obstante a duplicação donúmero dos que a aderiram a esta Fé e o aumentoe a multiplicação deste corpo, através de muitasadmoestações e encorajamentos à virtude desta Fé,todos permaneceram com o máximo de calma eestabilidade, pois eles têm feito da obediência oseu traço distintivo, e em submissão e subordinaçãoextrema se tornaram os súditos leais do rei. Sobquais fundamentos pode o governo molestá-losmais, ou permiti-los a serem menosprezados? Alémdisso, a interferência na consciência e crença depovos e a perseguição de diversas denominaçõesde seres humanos são um obstáculo à expansão doreinado, um impedimento à conquista de outrospaíses, uma obstrução à multiplicação dos súditose que contraria os princípios estabelecidos damonarquia.

Na época em que o poderoso governo da Pérsianão interferia nas consciências (dos homens),diversas seitas entraram e se sustentaram sob oestandarte do grande rei e (muitos) povos diferentesrepousaram e serviram sob a sombra da proteçãodaquele governo poderoso. A extensão do impérioaumentava dia após dia; a maior parte docontinente da Ásia estava sujeito ao mando de suaadministração, e a maioria das diferentes religiõese raças estava (representada) entre os súditosdaquele que vestia sua coroa. Mas quando o

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costume de interferência nas crenças de todas asseitas nasceu, e o princípio de indagação dospensamentos dos homens tornou-se a moda e aprática, os domínios extensos do império persadiminuíram e muitas províncias e vastos territóriospassaram para fora de suas mãos, e chegou a talponto em que as grandes províncias de Túrán,Assíria e Chaldea foram perdidas; até – qual anecessidade da prolixidade? – a maior parte dasregiões de Khurásán, do mesmo modo, saiu forado controle do governo da Pérsia em razão dainterferência nos assuntos da consciência e ofanatismo dos seus governadores. Pois, aindependência Afghan e a revolta das tribosturcomanas não teriam ocorrido se não fossem estasinterferências, não estando em nenhum tempo ouperíodo separadas da Pérsia.

Em face de sua não evidente nocividade, qualnecessidade de perseguição aos inofensivos? Mas,se desejamos colocar em vigor a sentença (dosdoutos da religião) ninguém escapará aos grilhõese às correntes e à agudeza da espada, pois na Pérsia,à parte desta Fé, existem diversas seitas, tais comoas mutásharrís, as shaykhís, as súfís, as nusayris eoutras, cada qual considera a outra como sendoinfiel e acusam-se mutualmente de crimes. Nestascircunstâncias qual é a necessidade para o governoem perseguir esta ou aquela, ou incomodar-se comas idéias e as consciências dos seus súditos e povo?Todos são os súditos do rei e estão sob a sombra daproteção real. Qualquer um que ouve e obedece,deveria permanecer sem ser incomodado emolestado, enquanto qualquer um que seja rebelde

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e desobediente, merece a punição das mãos de suamajestade, o rei. Acima de tudo, os tempos sãocompletamente diferentes, e os princípios e asinstituições têm sofrido alteração. Em todos ospaíses, tais ações estorvam o desenvolvimento e oprogresso, e causam o declínio e a deterioração.

Da agitação violenta que tem sucedido aosesteios do governo oriental, a causa essencial e ofator principal são, em verdade, estas leis e oshábitos de interferência; enquanto aquele Estadolocalizado nas regiões remotas do Norte e comdomínio sobre o Atlântico e o Báltico, procedeeqüitativamente estabelecendo direitos políticos dediversas nacionalidades uniformemente, adquirindocolônias extensas em cada um dos cincocontinentes do mundo.* Onde está esta pequenailha no Atlântico Norte e onde está o territóriovasto das Índias Orientais? Pode tal extensão serobtida salvo através de justiça igual para todos ospovos e classes? Em todo caso, por intermédio dasleis justas, da liberdade de consciência, dosprocedimentos uniformes e da equidade para comtodas as nacionalidades e povos, eles têmefetivamente dominado quase todo o quadrantehabitado do mundo, e por razão destes princípiosde liberdade, têm adicionado, dia após dia, a força,o poder e a extensão de seu império, e durantetodo este tempo a maioria dos povos na face daTerra celebra o nome deste Estado por causa desua justiça. Com respeito ao zelo religioso e àpiedade verdadeira, a sua pedra de toque e prova

*Inglaterra.

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são a firmeza e a constância em virtudes, perfeiçõese qualidades nobres que são as maiores bênções daraça humana, mas não a interferência nas crençasdeste ou daquele, a demolição de edifícios e aincisão da raça humana.

Na idade média, que teve início com a quedado Império Romano e findou-se após a captura deConstantinopla pelas mãos (dos seguidores) doIslã, intolerância feroz e perseguição, tanto de longecomo de perto, apareceram em (todos os) paísesda Europa por razão da influência soberana doslíderes religiosos. O assunto chegou a tal pontoque o edifício da humanidade cambaleou para suaqueda, e a paz e o conforto do chefe e do vassalo,o rei e o súdito, ficaram escondidos atrás do véuda aniquilação. Dia e noite, todas as facções eramescravas da apreensão e da inquietude. A civilizaçãoestava absolutamente destruída; o controle e aordem dos países estavam negligenciados; osprincípios e a essência da felicidade da raça humanaestavam suspensos; os esteios da autoridade realestavam abalados, mas a influência e o poder doschefes da religião e dos monges estavam em todasas partes completas. Quando removeram estasdiferenças, perseguições e intolerâncias do seumeio, e proclamaram os direitos iguais de todos ossúditos e a liberdade da consciência dos homens,as luzes da glória e do poder se ergueram e luziramdos horizontes daquele reinado, de tal maneira queaqueles países progrediram em todas as direções, eo monarca mais poderoso da Europa que haviasido servil e humilhado pelo menor governo da

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Ásia, viu os grandes Estados da Ásia incapazes deoporem-se aos pequenos Estados da Europa.

Estas são provas efetivas e suficientes de que aconsciência do homem é sagrada e deve serrespeitada, e que a liberdade desta produza aampliação de idéias, o melhoramento da moral, oaperfeiçoamento da conduta, a revelação dossegredos da criação e a manifestação das verdadesocultas do mundo contingente. Mais ainda, se ainterrogação da consciência que é uma das possesprivadas do coração e da alma, se realizar nestemundo, que outra recompensa permaneceria paraos homens na corte da justiça divina no dia daressurreição geral? As convicções e idéias estãodentro do escopo da compreensão do Rei dos reis,e não dos reis, pois a alma e a consciência estãoentre as mãos do controle do Senhor dos corações,e não dos (Seus) servos, e no mundo da existêncianão podem ser encontradas duas pessoas unânimesem todos os graus (de pensamento) e em todas ascrenças. ‘Os caminhos até Deus são tão numerososquanto os sopros das (Suas) criaturas’, é umaverdade misteriosa, e ‘A cada povo temos instituídoritos (separados)’67, é uma das sutilezas do Alcorão.Se esta vasta energia e tempo precioso que foramdespendidos na perseguição de outras religiões, epor intermédio do qual nenhum tipo de resultadoou efeito foi obtido, tivesse sido gasto nofortalecimento da base da monarquia, fortificandoo trono imperial, fazendo prosperar os domíniosdo soberano e revivificando os súditos do rei, atéagora os domínios reais teriam ficado prósperos, oviveiro do povo teria sido regado pela generosidade

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da justiça principesca e o esplendor do reinado daPérsia seria evidente e aparente como a verdadeiraalvorada através dos horizontes do mundo.”

Em todo o caso, estas questões e consideraçõestêm sido reportado por certas pessoas. Mas, deixe-nos retornarmos ao nosso assunto original. Apersonagem real estava contente em ele próprioinvestigar esta obscura Fé. De acordo com um relatotransmitido, ficou claro e óbvio para a presença (real)que a maioria destas suspeitas surgiram das intrigasde pessoas de influência que estavam continuamenteempenhadas na fabricação de assuntos por trás dovéu da fantasia e na imputação de suspeitas sobre acomunidade e que, para obter vantagens para sipróprias e para preservar suas próprias posições,estavam acostumadas a fazer partículas pareceremcomo se fossem globos e palhas como montanhas noespelho de suas imaginações. Para estas suspeitas nãohavia, em absoluto, nenhuma fundação ou base, nemhavia nestas afirmações quaisquer provas ouverossimilhanças. Qual poder e habilidade têm estedesamparado povo, ou qual audácia e força têm estespobres súditos para que eles pudessem infligir injúriaou detrimento na força soberana, ou serem capazesde se opor às forças militares do trono?

Daquela época até agora, a desordem e a sediçãovêm diminuindo na Pérsia, e o clamor e a contendatêm cessado; embora (ainda) em ocasiões raras, certosdoutos oficiais, visando vantagem pessoal e particular,

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têm incitado o povo comum, levantado um clamor ebrado, e, por sua importunidade e pertinácia,molestado um ou dois indivíduos desta Fé, conformeaconteceu há dez ou doze anos em Isfahán. Pois,havia entre os habitantes de Isfahán dois irmãos siyyidsde Tabátabá, Siyyid Hasan e Siyyid Husayn,celebrados naquela região por sua piedade, fidelidadee nobreza; homens de posses, engajados no comércio,tratando todos os homens com perfeita benevolênciae cortesia. E, até onde era aparente, ninguém haviaobservado nestes dois irmãos qualquer desvio daquiloque fosse, ou melhor, muito menos qualquer condutaou comportamento que pudesse merecer tormentaou punição. Pois, conforme é relatado, eles estavamadmitidos por todos (os proeminentes) em todas aslouváveis e salutares qualidades, enquanto os seusfeitos e ações eram como exortações e admoestações.Eles haviam realizado negócios com Mír MuhammadHusayn, o Imám-Jum’ih de Isfahán, e quando vierampara acertar suas contas tornou-se aparente que asoma de dezoito mil tumáns era devida a eles. Eles(então) interromperam as (novas) transações,prepararam uma carta de fiança para esta soma, edesejaram que esta fosse selada.

Este fato foi tão penoso para o Imám-Jum’ih, queele chegou ao estágio de raiva e inimizade.Encontrando-se endividado e não tendo nenhumrecurso a não ser pagar, ele levantou clamor e brado,dizendo:

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–– Estes dois irmãos são bábís e merecem umapunição do rei.

Uma turba imediatamente atacou a casa deles,saqueou e pilhou seus bens, afligiu e aterrorizou suasesposas e crianças, e este Imám apoderou-se de todasas posses deles. Então, com medo de que estes doisirmãos fossem encaminhar a punição ao degrau dotrono do rei e soltar suas línguas na reclamação dereparação, ele (o Imám-Jum’ih) começou a pensarcomo maquinar suas mortes e os destruir. Ele, então,persuadiu certos eruditos a cooperarem com ele, eestes pronunciaram as sentenças de morte.Subseqüentemente, prenderam aqueles dois irmãos,os colocaram em correntes e os trouxeram peranteuma assembléia pública.

Mas, ao buscar uma maneira de afixar neles algumaacusação, descobrir alguma falta ou algum pretexto,eles foram incapazes de o fazer. Após um tempofalaram:

–– Ou vocês renunciam esta Fé ou deitam suascabeças debaixo da espada da punição.

Alguns dos presentes urgiram:–– Digam meramente: “Nós não somos desta seita.”

Isto será suficiente e será o meio de sua libertação eproteção.

Eles de maneira alguma consentiram, mas pelocontrário, confirmaram a sua Fé e declararam umdiscurso eloqüente e comovente, de modo que a ira ea violência do Imám-Jum’ih entrou em ebulição, e,

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não satisfeito em matá-los e destruí-los, infligiu váriasindignidades em seus corpos até mesmo após suasmortes, a menção das quais não é apropriada e seusdetalhes estão além do poder da palavra.

De fato, de tal maneira foi o sangue destes doisirmãos derramado que até mesmo o padre cristão deJulfá clamou, lamentou e chorou naquele dia. Esteevento sucedeu-se de tal modo que todos choraramsobre o destino daqueles dois irmãos, pois durante operíodo inteiro de suas vidas, eles nunca haviamcausado aflição nos sentimentos nem mesmo de umaformiga, enquanto, pelo relato geral, eles, na épocada crise de fome na Pérsia haviam gastado toda suariqueza no alívio dos pobres e dos aflitos. Porém,apesar desta reputação, foram cruelmente assassinadosdiante do povo.

Todavia, já há algum tempo, enquanto a justiça dorei tem impedido e retido, ninguém atreve-se tentartais penosas perseguições.

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Referências Bibliográficas

PREFÁCIO1 Documento Bahá’u’lláh, 1ª edição, 1991, p. 58.2 A Traveller’s Narrative; vol. I; edição de Edward Granville Browne;

1891, pp. xxxv-xxxvi.3 Eunice Braun. A Reader’s Guide. George Ronald Publishers, 1986,

p. 14.

O EPISÓDIO DO BÁB1 Alcorão 12.2 Seleção dos Escritos do Báb, Rio de Janeiro, Editora Bahá’í do

Brasil, 1978, p. 65.3 Alcorão 108.4 Alcorão 103.5Sem referência bibliográfica.6 Ibid.7 Ibid.8 O Mathnaví.9 Ibid.10 Alcorão 7:154.11 Alcorão 37:173.12 Sem referência bibliográfica.13 Alcorão 95:4.14 Alcorão 23:14.15 Alcorão 27:90.16 Sem referência bibliográfica.17 Os Rompedores da Alvorada (Rio de Janeiro, RJ.: Editora Bahá’í

do Brasil, 1990),Volume I, p. 67, nota 28.

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Referências Bibliográficas

18 Sem referência bibliográfica.19 Ibid.20 Ibid.21 Ibid.22 Ibid.23 Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, seção CXXXII.24 Sem referência bibliográfica.25 Ibid.26 Ibid.27 Ibid.28 Ibid.29 Ibid.30 Ibid.31 Ibid.32 Ibid.33 Alcorão 55:3-4.34 Sem referência bibliográfica.35 Ibid.36 Ibid.37 Ibid.38 Ibid.39 Bahá’u’lláh, Epístola ao Filho do Lobo (Rio de Janeiro: Editora

Bahá’í do Brasil, 1997), p. 131. Ver Shoghi Effendi, A Presença deDeus (Rio de Janeiro: Editora Bahá’í do Brasil, 1981), p.169, paraos outros títulos de Mírzá Yahyá.

40 Alcorão 27:22.41 Textos extraídos do livro: O Chamado do Senhor das Hostes; 1ª

edição; 2003.pp. 86-113.42 Alcorão 2:88; 62:6.43 As Palavras Ocultas, Persa 24, 25, 28 e 30.44 Alcorão 49:6.45 Alcorão 5:64.46 Alcorão 2:179.47 Alcorão 6:164; 17:15; 35:18; 39:7; 53:38.48 Alcorão 3:40; 14:27; 22:18.49 Alcorão 5:1.50 Alcorão 5:64.51 Alcorão 40:5.52Alcorão 36:30.53 Alcorão 8:30.

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54 Alcorão 6:35.55 Alcorão 57:16.56 Bíblia: Lucas 19:21.57 Alcorão 55:26.58 Alcorão 12:31.59 Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 30.60 Ibid, p. 133.61 Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, seção CXII.62 Ibid, seção CXVII.63 O Kitáb-i-Aqdas; número 48.64 Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 35-6.65 Ibid, p. 187.66 Somente a primeira linha foi localizada sua referência, conforme

ítem 65. O restante do texto não possui referência bibliográfica.67 Alcorão 22:35.

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