Artículos y Ensayos A ASCENSÃO DA...

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Facultad de Ciencias Psicológicas Universidad Argentina John F. Kennedy Revista Borromeo N° 7– Septiembre 2016 http://borromeo.kennedy.edu.ar [email protected] ISSN 1852-5704 164 Artículos y Ensayos A ASCENSÃO DA NEUROEXPLICAÇÃO LUÍS CARLOS FREIRE RESUMO Este ensaio se constitui de três grandes blocos. Na Introdução, apresentamos uma breve revisão dos principais eventos que fundamentaram uma nova Ciência da Aprendizagem, a partir do desenvolvimento da Neurociência no final do século XX. No segundo bloco fazemos um sobrevoo sobre o impacto desse desenvolvimento nas Ciências Humanas, notadamente Economia e Psicanálise. No terceiro bloco abordamos a aplicação da Neurociência nos processos educacionais, como Neuroaprendizagem Palavras Chaves: Ciência da Aprendizagem; Neurociências; Neuroaprendizagem. EL ASCENSO DE LA NEUROEXPLICACIÓN RESUMEN Este ensayo contiene tres grandes bloques. En la introducción, se presenta una breve revisión de los principales acontecimientos que justifican una nueva ciencia del aprendizaje, del desarrollo de las Neurociencias a finales del siglo XX. En el segundo bloque hacemos un vuelo sobre el impacto de este desarrollo en las ciencias humanas, especialmente Economía y Psicoanálisis. En el tercer bloque se discute la aplicación de la Neurociencia en los procesos educativos, como Neuroaprendizagem. Palabras Claves: Ciencia del aprendizaje; Neurociencias; Neuroaprendizaje THE RISE OF NEUROEXPLANATION ABSTRACT This essay constitutes of three large blocks. In the introduction, we present a brief review of the main events that substantiate a new science of learning, from the development of Neuroscience at the end of the 20th century. In the second block we make a fly-past on the impact of this development in the human sciences, especially Economics and Psychoanalysis. In the third block we discuss the application of Neuroscience in educational processes, as Neurolearning. Kay Words: Science of learning; Neurosciences; Neurolearning

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Artículos y Ensayos

A ASCENSÃO DA NEUROEXPLICAÇÃO

LUÍS CARLOS FREIRE

RESUMO

Este ensaio se constitui de três grandes blocos. Na

Introdução, apresentamos uma breve revisão dos

principais eventos que fundamentaram uma nova

Ciência da Aprendizagem, a partir do

desenvolvimento da Neurociência no final do

século XX. No segundo bloco fazemos um

sobrevoo sobre o impacto desse desenvolvimento

nas Ciências Humanas, notadamente Economia e

Psicanálise. No terceiro bloco abordamos a

aplicação da Neurociência nos processos

educacionais, como Neuroaprendizagem

Palavras Chaves: Ciência da Aprendizagem;

Neurociências; Neuroaprendizagem.

EL ASCENSO DE LA NEUROEXPLICACIÓN

RESUMEN

Este ensayo contiene tres grandes bloques. En la

introducción, se presenta una breve revisión de los

principales acontecimientos que justifican una

nueva ciencia del aprendizaje, del desarrollo de las

Neurociencias a finales del siglo XX. En el segundo

bloque hacemos un vuelo sobre el impacto de este

desarrollo en las ciencias humanas, especialmente

Economía y Psicoanálisis. En el tercer bloque se

discute la aplicación de la Neurociencia en los

procesos educativos, como Neuroaprendizagem.

Palabras Claves: Ciencia del aprendizaje;

Neurociencias; Neuroaprendizaje

THE RISE OF NEUROEXPLANATION

ABSTRACT

This essay constitutes of three large blocks. In the

introduction, we present a brief review of the

main events that substantiate a new science of

learning, from the development of Neuroscience

at the end of the 20th century. In the second block

we make a fly-past on the impact of this

development in the human sciences, especially

Economics and Psychoanalysis. In the third block

we discuss the application of Neuroscience in

educational processes, as Neurolearning.

Kay Words: Science of learning; Neurosciences;

Neurolearning

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Introdução

Um dos campos mais excitantes do mundo é a pesquisa do cérebro.

Manter o ritmo com a explosão de pesquisas sobre o cérebro ao longo

das últimas duas décadas tem-se revelado um desafio (Jensem, 2008,

p. xii).

Durante os Séc. XVI a XX, a Ciência estabeleceu as bases de

conhecimento do mundo material, fundamentado na Física e nas diversas

disciplinas científicas dela derivada. Esse empreendimento ainda não terminou, e

talvez nunca venha a terminar, mas hoje já temos sólidas informações sobre a

origem e constituição do universo e da matéria (teoria do Big Bang; mecânica

quântica, teoria das cordas, multiversos, etc). Também adquirimos um bom nível

de conhecimento sobre a origem da Vida e das Espécies Biológicas, com a teoria

da evolução, de Darwin.

Todavia, a Mente e o Cérebro constituíam uma “caixa preta”. Até cerca de

vinte anos atrás, não tínhamos acesso ao cérebro “vivo”. Tudo que sabíamos

sobre o cérebro era derivado de análises dos cérebros “mortos” e, na maioria das

vezes, de pessoas que tiveram alguma deficiência cerebral, como os famosos

Phineas Gage no século XIX (que mudou de personalidade após um acidente

cerebral) e HM (Henry Molaison), no século XX (que perdeu a capacidade de

memorizar, vivendo num eterno presente inferior a um minuto, após uma cirurgia

cerebral (Damásio, 1996; Alonso, 2013). Em face dessa realidade, a Psicologia se

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baseava principalmente em insights e teorias sobre a Mente – apesar das

controvérsias (ainda existentes) sobre o significado de “Mente”, o que gerou as

inúmeras correntes e escolas de pensamento sobre esse fenômeno. Hoje

podemos perceber a fantástica percepção de pioneiros como Piaget, Vygotsky,

Leontiev, Ausubel e Wallon na Educação; Luria, Wundt, Freud, Jung e Skinner na

Psicologia, e muitos outros (Cosenza & Guerra, 2011).

No final do século XX e início do XXI, o avanço nas técnicas de obtenção de

imagens permitiu o desenvolvimento do que passou a ser conhecido como

“imageamento cerebral”: técnicas não invasivas que permitem observar o

funcionamento do cérebro vivo com uma riqueza de detalhes antes inexistentes.

Agora podemos “ver” como diferentes partes do cérebro se conectam e/ou se

ativam quando a pessoa enfrenta determinadas tarefas (Jones, 2014, Alonso,

2013); isso deu grande impulso à Neurociência, confirmando muito dos insights

desses grandes pioneiros. Penso que o esforço para conhecermos o fenômeno da

Mente Humana e seu substrato material - o Cérebro (Damásio, 2011; Ffytche,

2015) fará com que no século XXI a Neurociência substitua a Física como ciência

dominante na pesquisa e avanços científicos.

Nos últimos 50 anos os avanços do conhecimento sobre o Cérebro foram

extraordinários, gerando uma série de novas disciplinas ou dando uma nova

roupagem a antigas. Surgiram as disciplinas “neuro...” Neuropsicologia,

neuropsicanálise, neuroeconomia, neuroaprendizagem, neuroeducação, etc.

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Destacamos a seguir alguns acontecimentos desse período (Tokuhama-Espinosa,

2011, Bradford et al., 2000).

1973 – É lançado o que muitos consideram o primeiro livro sobre

Neurociência: Working Brain: An Introduction to Neuropsychology, de Luria;

1980’s – O Cérebro adquire um status mais nobre, como substrato material

que permite a existência da Mente. Descartes é questionado em sua

proposta de separar Mente e Cérebro (como parte do corpo). Não há dois

objetos: corpo e mente. Existe apenas um: corpomente (Callegaro, 2011);

1983 – É lançado o Livro: Human Brain, Human Learning, de Leslie Hart.

Uma das primeiras tentativas de explicar a Aprendizagem a partir do órgão

que a possibilita. A autora critica fortemente as práticas tradicionais de

ensino, as quais para ela atrapalham o desenvolvimento cognitivo do aluno;

1990 – Em face da incapacitação para o trabalho e dos altos custos

gerados pelas doenças neurológicas aos planos de saúde, o Congresso

Americano aprovou uma lei destinando recursos e criando benefícios para a

investigação científica do cérebro, instituindo a “Década do Cérebro”:

1990/1999 (Bradford et al, 2000);

1990’s – Desenvolvimento da Neurotecnologia e do Imageamento Cerebral;

1991 – É lançado o livro “Making Connections: Teaching and the Human

Brain”, de Caine & Caine, no qual é proposto “Os 12 Princípios de

Aprendizagem Cerebral”. Os autores dizem (p. 4): A aprendizagem baseada

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no cérebro... envolve conhecer as regras do cérebro para uma

aprendizagem significativa e organizar o ensino com essas regras na

mente.

1999 – A OECD (Organization for Economic Cooperation and Development)

lança seu projeto Brain and Learning, através do seu Centro para Pesquisa

e Inovação Educacional (CERI, em inglês). Em 2002 os resultados obtidos

na primeira fase do projeto são publicados no livro Understanding the Brain:

Towards a New Learning Science, traduzido e publicado em 2003: em

espanhol pela Editorial Santilana do

México e em Português pela editora

do SENAC, no Brasil.

2000 – A National Academy of

Science publica o livro How People

Learn: Brain, Mind, Experience, and

School: Expanded Edition, apresentando os “resultados do trabalho de dois

comitês da Commission on Behavioral and Social Sciences and Education

of the National Research Council”, (Bradford et al, 2000). cujo objetivo era

“como melhorar o link dos achados

de pesquisas da Ciência da

Aprendizagem com as práticas atuais

em sala de aula”

Figura 1 – Partes do Cérebro Humano.

Imagem livre, disponível em:

http://es.dreamstime.com/foto-de-archivo-

libre-de-regal%C3%ADas-cerebro-humano-

image24746545; acessada em 11/02/2016

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Séc. XXI – O Cortex Pre Frontal assume sua posição proeminente: de

“lobos silenciosos”, para “lobos executivos”, sede dos processos de escolha

e decisão, específicos da espécie humana (Goldberg, 2002).

O Cérebro Humano pesa menos de 2% do total do Corpo. Consome cerca de

25% da energia que mantém o corpo vivo e funcionando (65% no recém-nascido);

ele é composto de células específicas, chamadas neurônios: são cerca de 86

bilhões.

Cada neurônio pode se comunicar com milhares de outros, simultaneamente.

Esse processo de comunicação entre neurônios, as “sinapses”, pode atingir a

velocidade de até 360 km/h, formando redes que podem ultrapassar a cifra de 2 x

1014 neurônios; é dessas redes que surge a Mente humana; o sistema mais

complexo de todo o Universo conhecido (Goldberg, 2002).

A Neurociência e o Comportamento Humano

Os avanços realizados pela Neurociência têm beneficiado várias disciplinas

científicas associadas ao comportamento humano. Uma dessas disciplinas é a

Neuroeconomia, que realizará em junho/2016 a 12ª Neuro Psycho Economics

Conference. A Neuroeconomia busca explicar o comportamento humano reunindo

conhecimentos de Neurociência, Economia e Psicologia. O que faz com que

algumas pessoas tomem melhores decisões que outras pessoas? Porque

podemos ser bons para decidir sobre determinados caminhos ou produtos, mas

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não sobre outros, e cada ser humano tem um perfil de “ser bom” ou “ser fraco”

absolutamente individual? Porque o risco atrai algumas pessoas e paralisa

outras? O Economista Vernon Smith e o Psicólogo Daniel Kahneman dividiram o

Prêmio Nobel de Economia de 2002, por seus trabalhos no que passou a ser

conhecido como “Economia Comportamental”, que trata desses temas (Garcia,

2002). Todavia Kahneman vem abordando a Psicoeconomia há bastante tempo.

Em 1981, ele e Amos Tversky publicaram um artigo seminal: The Framing of

Decisões and the Psychology of Choice (Tversky & Kahneman, 1981), o qual foi

um dos trabalhos que inspiraram Steven Pinker a escrever “Como a Mente

Funciona”, já mais abastecido com os avanços da Neurociências (Pinker, 2014).

Grosso modo, a Psicologia pode ser considerada como a Ciência do

Comportamento Inconsciente: ela busca entender e descrever as razões

inconscientes do comportamento humano; enquanto que a Economia pode ser

considerada como a Ciência do Comportamento Consciente: ela busca entender e

descrever o comportamento admitindo que o ser humano age racional e

conscientemente: ele avalia as consequências de seu comportamento à luz de

suas necessidades conscientes - a chamada “teoria da utilidade”. Todavia, uma

coisa é identificar as áreas cerebrais responsáveis por determinados tipos de

comportamento (exemplo: o sistema límbico para reações de medo); e outra coisa

é poder prever com precisão o que vai acontecer se determinados fatores forem

acionados – fundamento da alta previsibilidade na Física, mas não na Psicologia

ou na Economia. As acusações que pesam sobre essas duas disciplinas

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científicas, às quais muitos negam a cientificidade, têm o mesmo fundamento:

ambas lidam com o comportamento humano – e ele é altamente imprevisível:

pode ser explicado “a posteriori”, mas não pode ser previsto “a priori”, com a

exatidão das ciências físicas.

Os processos de gestão empresarial, que envolvem sentimento de

pertencimento, liderança, motivação, também estão se beneficiando dos estudos

neurocientíficos, a partir do desenvolvimento do Neuromanagement, uma

disciplina proposta por um acadêmico chinês, Qing-Guo Ma, Diretor do

Management Laboratory da Zhejiang University (China). Na América Latina, a

Editora Granica, de Buenos Aires, lançou em 2008 o livro Neuromanagement de

Nestor Braidot1, em quatro capitais: México, Santiago, Montevideo e Buenos Aires.

Neuropsicanálise

Por sua vez, a parceria entre Psicanálise e Neurociência vem ganhando

terreno como um campo fértil e promissor para ambas as disciplinas. Eric Kandel é

um ardoroso defensor dessa parceria. Kandel é neurocientista ganhador do

Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2000 pelas suas pesquisas sobre a

memória, historiadas no livro Em Busca da Memória, lançado nos USA em 2006 e

no Brasil em 2009. É também autor de Psichiatry, Psichoanalysis and the New

Biology of Mind, (2005), uma ampliação de seu artigo de 1999 Biology and the

1 Professor na Universidade Nacional de General Sarmiento, Argentina.

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future of psychoanalysis: a new intellectual framework for psychiatry, lançado no

Brasil em 2003 (Kandel, 2003)

Vilayanur Ramacharandam (2012), considerado por Richard Dawkins como

“o Marco Polo” da Neurociência e chamado por Eric Kandel de “Paul Broca

moderno” (Center for Brain and Cognition, s/d) é outro Neurocientista de renome

que buscou convergências entre a Neurociência e a Psicanálise. Em 1994 ele

publicou o artigo Phantom limbs, neglect syndromes, repressed memories and

Freudian Psychology, considerado por alguns pesquisadores como a primeira vez

em que se propôs o uso de feedback visual espelhado para acelerar a

recuperação de acidente vascular cerebral (Ramachandran, 1994).

NeuroAprendizagem.

Astutos educadores estão aplicando os resultados (das pesquisas em

Neurociência) com crescente sucesso. O resultado é uma abordagem

de aprendizagem que está mais alinhada com a forma como o cérebro

aprende naturalmente melhor. Este dramático novo paradigma,

conhecido como “cérebro-compatível” ou “educação baseada no

cérebro”, surgiu com fortes implicações para os professores e

aprendizes de todo o mundo... (dando suporte)... ao nosso

entendimento da relação entre a aprendizagem e o cérebro . Ao integrar

o que hoje sabemos sobre o cérebro com as práticas de ensino padrão,

a Aprendizagem Baseada no Cérebro sugere maneiras que podem

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transformar as instituições de ensino em verdadeiras organizações de

aprendizagem (Jensem, 2008, p. xii).

Na Europa e Estados Unidos, os estudos sobre a Aprendizagem Baseada

no Cérebro (Brain Based Learning) têm gerado inúmeros artigos e conferências.

Todavia, o processo de ensino no Brasil, em seu dia a dia ainda continua afastado,

em grande extensão, dos achados da neurociência sobre como o Cérebro

funciona. O professor tem por meta gerar aprendizagem em seu aluno; e o órgão

onde a aprendizagem se realiza e consolida é o Cérebro. Todavia, os achados da

neurociência sobre como o cérebro realiza a aprendizagem ainda está longe do

dia a dia do professor em sala de aula. E não estou falando de uma ou outra

instituição específica: estou me referindo ao processo de ensino como um todo,

em face da grande maioria dos cursos de educação ainda não incluírem esses

achados em suas ementas.

Como disse Maria Irene Maluf (2011, p. 1):

Não é admissível, em pleno século XXI, quando o mundo transpira um

notável desenvolvimento das Neurociências, que esta esteja

praticamente fora dos currículos da graduação e que isso aconteça

também nos cursos de especialização que preparam nossos professores

a trabalharem na escola inclusiva. Oras: com o que nossos alunos e

professores aprendem, senão com seus cérebros?

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Fernanda Carvalho, do Laboratório de Neurociências da UFRGS diz algo na

mesma linha de pensamento (Carvalho, 2011, p.2):

É preciso que se abandonem os métodos pedagógicos instrucionais

os quais não permitem dar a devida atenção à individualidade, e que

se passe a compreender melhor como... lidar com certas

características pessoais de nossos alunos... as ciências do cérebro,

que avançam vertiginosamente, podem contribuir para a renovação

teórica na formação docente, adicionando informações científicas

essenciais para a melhor compreensão da aprendizagem como

fenômeno complexo

A OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), no

seu Relatório concernente aos três fóruns por ela organizado sobre “Ciências da

Aprendizagem e Pesquisa do Cérebro” indica claramente (SENAC, 2003):

A educação é uma disciplina pré-científica, e (é necessário explorar) a

possibilidade de que a neurociência cognitiva venha oferecer uma base

mais consistente para o estudo do cérebro e a prática do ensino (pag.

18)... o desafio é criar uma sociedade de aprendizagem (não uma

sociedade do conhecimento) para o séc. XXI (p. 41);

Isso também vale para nosso país. No V Colóquio Internacional de

Educação e Contemporaneidade, realizado em setembro de 2011 (São Cristóvao-

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SE), Silva & Bezerra (2011) apontaram que em todos os níveis da Educação,

desde as séries de ensino fundamental até à pós graduação, lato ou stricto sensu,

os processos de aprendizagem ainda permanecem bastante mal compreendidos:

O ensino-aprendizagem, através de fatores que o influenciam,

constitui um dos maiores, se não o maior, desafio a melhoria da

qualidade da educação identificada como baixa segundo índices

obtidos em avaliações de diferentes agências. Essas avaliações

deixam claro o desempenho insuficiente da maioria das nossas

escolas. Não é exagerado dizer que parte desse “baixo desempenho”

está relacionada a processos cognitivos que os profissionais da

educação desconhecem ou acreditam ser pouco relevante (Silva &

Bezerra, 2011).

De fato, uma olhada nos resultados obtidos pelos nossos estudantes nas

avaliações realizadas pela OCDE ao longo dos anos, confirma o “baixo

desempenho” registrado nessa citação. Apesar de alguns pequenos avanços, o

Brasil em 2012 continua numa deprimente situação, entre os oito piores resultados

dos sessenta e cinco (65) países que participam do Programa da OCDE

conhecido como PISA (Programme for International Student Assessment –

Programa Internacional para Avaliação dos Estudantes), conforme mostra o

quadro 1 a seguir.

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Quadro 1 – Resultados obtidos na avaliação PISA 2012.

Montagem do autor a partir do quadro apresentado no site da OCDE

(OECD, 2012).

Nas Instituições de Ensino, de qualquer nível, o “processo de ensino” é

constituído pelos Programas Curriculares e as Metodologias de Ensino adotadas.

Todavia, um bom Processo de Ensino, por si só, não é garantia de Aprendizado.

Porque ele, o Processo de Ensino (processos de definição do que e como oferecer

novos conhecimentos), necessita estar alinhado com os processos de

Aprendizagem, para conseguir realizar o objetivo pretendido: o Aprendizado.

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Nessa abordagem, o que estamos chamando de “NeuroAprendizagem”

corresponde às atividades que o Cérebro realiza e que podem resultar, ou não, no

aprendizado, a depender das experiências proporcionadas pelos processos de

ensino. Essas atividades cerebrais podem ser incrementadas e apoiadas por uma

intervenção direta dos educadores envolvidos no processo, através de sua

metodologia de ensino e de seu conhecimento desses processos cerebrais. Esse

alinhamento2 entre “processos de ensino” (atividade do cérebro do professor) e

“processos de aprendizagem” (atividade do cérebro do aluno) pode ser visto como

sendo a essência da atividade educativa, realizando a equação:

Neuroaprendizagem e Metodologia de Ensino

Conforme ilustra a Figura 2, o que

a neuroaprendizagem oferece é uma base

de conhecimentos, amparado na pesquisa

neurocientífica, para dar suporte às

metodologias de ensino, potencializado

sua eficácia. Porque, de forma estrita,

neuroaprendizagem não é uma

2 Que Jensem (2008) chamou de integração.

ENSINO + APRENDIZAGEM = APRENDIZADO

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Metodologia de Ensino – por definição, ela trata da Aprendizagem e do órgão que

a executa: o Cérebro. E, portanto, pode dar subsídios a inúmeras metodologias.

Referências

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