AVALIAÇÃO DE OSCILAÇÕES DE ULTRABAIXA FREQUÊNCIA DE...

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AVALIAÇÃO DE OSCILAÇÕES DE ULTRABAIXA FREQUÊNCIA DE UNIDADES ANCORADAS NO CONSUMO DE VIDA A FADIGA DE LINHAS DE ANCORAGEM Lucas Tabosa Evangelista Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Carl Horst Albrecht, D.Sc. Rio de Janeiro Outubro de 2017

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AVALIAÇÃO DE OSCILAÇÕES DE ULTRABAIXA FREQUÊNCIA DE

UNIDADES ANCORADAS NO CONSUMO DE VIDA A FADIGA DE

LINHAS DE ANCORAGEM

Lucas Tabosa Evangelista

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Naval e Oceânica da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Carl Horst Albrecht, D.Sc.

Rio de Janeiro

Outubro de 2017

ii

AVALIAÇÃO DE OSCILAÇÕES DE ULTRABAIXA FREQUÊNCIA DE

UNIDADES ANCORADAS NO CONSUMO DE VIDA A FADIGA DE

LINHAS DE ANCORAGEM

Lucas Tabosa Evangelista

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO DA ESCOLA

POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO NAVAL E OCEÂNICO.

Examinado por:

Orientador: Prof.Carl Host Albrecht, D.Sc.

Prof. Severino Fonseca da Silva Neto, D.Sc.

Prof. Mauro Henrique Alves de Lima Junior, D.Sc.

RIO DE JANEIRO – RJ – BRASIL

OUTUBRO DE 2017

iii

Evangelista, Lucas Tabosa

Avaliação de Oscilações de Ultrabaixa Frequência de

Unidades Ancoradas no Consumo de Vida a Fadiga de Linhas

de Ancoragem/ Lucas Tabosa Evangelista. – Rio de Janeiro:

UFRJ/Escola Politécnica, 2017.

X, 31 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Carl Host Albrecht

Projeto de Graduação – UFRJ/POLI/Engenharia Naval e

Oceânica, 2017.

Referências Bibliográficas: p.34

1. Consumo da Vida à Fadiga. 2. Análise Estática. 3. Sistemas de

Ancoragem de Plataformas de Produção de Petróleo. I. Albrecht, Carl

Horst. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia Naval e Oceânica. III. Avaliação de Oscilações

de Ultrabaixa Frequência de Unidades Ancoradas no Consumo de Vida

a Fadiga de Linhas de Ancoragem

iv

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Flavio e Regina, por me criarem com amor e carinho,

compartilharem comigo sua sabedoria e providenciarem todo o necessário para a vida

maravilhosa que tenho hoje.

Aos meus irmãos Antônio, Luisa e Pryscilla, por serem meus companheiros na

jornada da vida e sempre estarem ao meu lado; aos meus avós Sarah e Emilson, por

fazerem parte de minha criação e me presentearem com seu carinho e a todos os meus

familiares.

Ao meu professor orientador Carl Albrecht, por ter sido um orientador e um amigo

presente e altamente comprometido.

Ao Laboratório de Métodos Computacionais e Sistemas Offshore (LAMCSO) da

COPPE/UFRJ, pela disponibilização do sistema SITUA/PROSIM para realização deste

projeto e à Petrobrás, pelo fornecimento dos dados usados no mesmo.

Aos meus colegas de curso Bernardo Kahn, Liad Paskin, Diana Moreira e

Nicholas Barbosa, por serem os melhores companheiros de faculdade que eu poderia ter

e por tornarem cada um dos trabalhos em experiências maravilhosas e agregadoras.

Aos meus melhores amigos Leandro Avelar, Lucas Falcão, Heitor Bernardes,

Francisco Bernardes e João Paulo, por transcenderem o papel de amigos e me

presentearem com sua amizade, carinho e sabedoria todos os dias.

A Leticia Antunes, por ser uma das pessoas mais especiais na minha vida, me

incentivar em momentos difíceis e me presentear com seu carinho todos os dias.

Ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da UFRJ, por fornecerem todo o

conhecimento necessário para minha formação como Engenheiro Naval.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval e Oceânico.

Avaliação de Oscilações de Ultrabaixa Frequência de Unidades Ancoradas no Consumo

de Vida a Fadiga de Linhas de Ancoragem

Lucas Tabosa Evangelista

Outubro/2017

Orientador: Carl Host Albrecht, D.Sc.

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

Este trabalho pretende avaliar o dano na vida a fadiga gerado por oscilações de ultrabaixa

frequência no sistema de ancoragem de uma unidade de produção de petróleo em

funcionamento na Bacia de Campos, através da análise dos dados de movimentação

medidos em campo. Foram analisados os registros de posição gravados por GPS de um

ano de movimentação de um FPSO e identificado um dia com dados satisfatórios. Estes

dados foram filtrados para identificação de oscilação de baixa frequência. Foi assumido

que o fenômeno de variação de tração era um fenômeno estático, então as trações nas

linhas de ancoragem foram calculadas de forma analítica utilizando o programa de análise

de trações SITUA/Prosin. O dano referente a esta variação de tração foi considerado na

avaliação do cálculo da vida a fadiga das linhas de ancoragem, calculando-se a

porcentagem de dano causado por oscilações de ultrabaixa frequência em relação ao dano

comumente calculado em projeto, os quais oscilações de ultrabaixa frequência não são

consideradas.

vi

Abstract of the Course Conclusion Project presented to the Department of Naval and

Oceanic Engineering of the Polytechnic School as a partial fulfillment of the requirements

for the degree of Bachelor in Naval and Oceanic Engineering (B.Sc.)

Evaluation of Ultra Low Frequency Oscillations of Anchored Units in Fatigue Life

Consumption of Anchor Lines

Lucas Tabosa Evangelista

October/2017

Advisor: Carl Host Albrecht, D.Sc.

Course: Engenharia Naval e Oceânica

This work aims to evaluate the damage in fatigue life generated by oscillations of ultralow

frequency in the anchorage system of a petroleum production unit operating in the

Campos Basin, by analyzing the movement of data measured in the field. The position

data, recorded by GPS of one year of FPSO movement, was analyzed and it was identified

one day with satisfactory data. These data was filtered to identify low frequency

oscillation. It was assumed that the tension variation was a static phenomenon, and then

the tensions in the anchor lines were calculated analytically using the tension analysis

program SITUA / Prosin. The damage related to this traction variation was considered in

fatigue life calculation of the anchor lines, calculating the percentage of damage caused

by ultralow frequency oscillations in relation to the damage commonly calculated in

design, which does not consider ultralow frequency motions.

vii

Sumário

1. Introdução ................................................................................................................. 1

1.1. Contexto e motivação ........................................................................................... 1

1.2. Objetivo ................................................................................................................ 1

2. Sistema de ancoragem .............................................................................................. 2

2.1. Configuração das linhas........................................................................................ 2

2.1.1. Convencional ........................................................................................................ 2

2.1.2. Taut leg ................................................................................................................. 3

2.1.3. Vertical ................................................................................................................. 3

2.2. Tipos de ancoragem .............................................................................................. 4

2.2.1. Spread mooring .................................................................................................... 4

2.2.2. Turret .................................................................................................................... 5

2.2.3. Catenary anchor leg mooring (calm) .................................................................... 6

2.2.4. Single anchor leg mooring (salm) ........................................................................ 7

2.3. Componentes ........................................................................................................ 8

2.3.1. Amarras ................................................................................................................ 8

2.3.2. Cabos de aço ....................................................................................................... 10

2.3.3. Cabos de materiais sintéticos .............................................................................. 11

2.3.4. Âncoras ............................................................................................................... 12

3. Base teórica............................................................................................................. 13

3.1. Fadiga ................................................................................................................. 13

3.2. Acúmulo linear de danos .................................................................................... 14

3.3. Contagem de ciclos ............................................................................................. 15

3.4. Curva t-n para elos de amarras e cabos de aço ................................................... 17

3.5. Média móvel simples .......................................................................................... 19

viii

4. Metodologia ............................................................................................................ 20

4.1. Dados de entrada ................................................................................................ 20

4.2. Filtragem dos dados ............................................................................................ 21

4.3. Programa situa/prosim ........................................................................................ 24

4.4. Modelo numérico ................................................................................................ 25

5. Resultados ............................................................................................................... 28

5.1. Cálculo do dano anual ........................................................................................ 28

5.2. Avaliação do dano na vida útil a fadiga ............................................................. 31

6. Conclusão e trabalhos futuros................................................................................. 33

7. Referências ............................................................................................................. 34

ix

Sumário de Imagens

FIGURA 1 - ANCORAGEM CONVENCIONAL ..................................................................................... 2

FIGURA 2 - ANCORAGEM TAUT LEG ............................................................................................... 3

FIGURA 3 - SISTEMA DE ANCORAGEM VERTICAL ........................................................................... 4

FIGURA 4 - ANCORAGEM SPREAD MOORING .................................................................................. 4

FIGURA 5 - TURRET EXTERNO ........................................................................................................ 5

FIGURA 6 - TURRET INTERNO ......................................................................................................... 5

FIGURA 7 - SISTEMA CALM COM CABOS ......................................................................................... 6

FIGURA 8 - SISTEMA CALM COM ESTRUTURA ................................................................................ 6

FIGURA 9 - SISTEMA SALM COM BOIAS DE FLUTUAÇÃO ................................................................ 7

FIGURA 10 - SISTEMA SALM COM RISER PRÉ-TRACIONADO ........................................................... 7

FIGURA 11 - AMARRAS FORMADAS POR ELOS COM MALHETE ....................................................... 8

FIGURA 12 - ELO COMUM COM MALHETE ...................................................................................... 9

FIGURA 13 - ELO COMUM SEM MALHETE ....................................................................................... 9

FIGURA 14 - ELO KENTER ............................................................................................................... 9

FIGURA 15 - DETALHE DO ARRANJO DE CABOS DE AÇO ............................................................... 10

FIGURA 16 - TIPOS DE CONFIGURAÇÕES PARA CABOS DE AÇO .................................................... 11

FIGURA 17 - CONFIGURAÇÃO DE CABOS DE POLIÉSTER ............................................................... 11

FIGURA 18 – CURVA S-N [2] ......................................................................................................... 13

FIGURA 19 - ESPECTRO DE CARREGAMENTO [4] .......................................................................... 14

FIGURA 20 - PARÂMETROS BÁSICOS DO MÉTODO RAINFLOW [5] ................................................ 15

FIGURA 21 - FLUXOGRAMA DO MÉTODO RAINFLOW ................................................................... 16

FIGURA 22 - EXEMPLO DO MÉTODO RAINFLOW [5] ...................................................................... 17

FIGURA 23 - CURVA T-N PARA DIFERENTES TIPOS DE ELOS DE AMARRAS E CABOS DE AÇO ........ 19

FIGURA 24 - GRÁFICO DAS COORDENADAS DE X PELO TEMPO ..................................................... 22

FIGURA 25 - GRÁFICO DA MÉDIA MÓVEL DE 600S ....................................................................... 23

FIGURA 26 - GRÁFICO DA MÉDIA MÓVEL DE 3600S ..................................................................... 23

FIGURA 27 - GRÁFICO DA MÉDIA MÓVEL DE 10800S ................................................................... 24

FIGURA 28 - VISTA LATERAL DO MODELO ................................................................................... 25

FIGURA 29 - VISTA SUPERIOR DO MODELO .................................................................................. 26

FIGURA 30 - VISTA EM PROFUNDIDADE DO MODELO ................................................................... 27

FIGURA 31 - LINHA DE ANCORAGEM EM CATENÁRIA .................................................................. 27

FIGURA 32 - CONFIGURAÇÃO DAS LINHAS DE ANCORAGEM ........................................................ 28

FIGURA 33 - GRÁFICO DO DANO ANUAL X CICLOS DIÁRIOS ........................................................ 31

FIGURA 34 - PORCENTAGEM DE DANO DESCONSIDERADA AO LONGO DA VIDA ÚTIL POR CICLOS

DIÁRIOS ............................................................................................................................... 32

x

Sumário de Tabelas

TABELA 1 - VALORES DE M E K DE ACORDO COM A API ............................................................... 18

TABELA 2 - CORRELAÇÃO ENTRE AS COORDENADAS DE POSIÇÃO .............................................. 22

TABELA 3 - TABELA COM VALORES DE TRAÇÕES PARA X E Y MÁXIMOS ..................................... 28

1

1. Introdução

1.1. Contexto e Motivação

Devido à grande demanda da indústria por produtos derivados do petróleo e o grande

potencial das reservas de petróleo encontradas na costa brasileira, a bacia de campos,

compreendida entre as imediações da cidade de Vitória (ES) e da cidade de Cabo Frio (RJ) e

com cerca de 116.000 km², vem sendo explorada nos últimos anos e algumas das unidades de

produção instaladas no local estão próximas do seu período de vida útil para qual foram

projetadas. Durante o período de operação, as estruturas das unidades sofrem carregamentos

cíclicos contínuos, carregamentos esses que não são exatamente idênticos aos previstos quando

a unidade foi projetada, consumindo assim a vida a fadiga das estruturas em ritmo diferente do

projetado.

Portanto, é justificável a preocupação quanto ao cálculo da vida a fadiga remanescente

das estruturas quando seu tempo de operação está próximo da vida útil planejada. Entretanto,

em muitas análises de consumo da vida em fadiga, os cálculos considerados são apenas para

carregamentos cíclicos com frequências que giram em torno da frequência de incidência de

ondas na plataforma. No entanto, percebe-se pelos dados de medição da posição da plataforma

que há movimentos com longos períodos de oscilação e trações mais elevadas que não são

levadas em consideração na análise da vida a fadiga.

1.2. Objetivo

O objetivo do presente trabalho é a determinação da relevância de carregamentos

cíclicos de ultrabaixa frequência no consumo da vida a fadiga em linha de ancoragem de uma

plataforma de produção de petróleo na bacia de campos, considerando os carregamentos reais

medidos ao longo da vida da unidade.

2

2. Sistema de Ancoragem

O sistema de ancoragem é o conjunto de equipamentos que ligam a embarcação com o

fundo do mar e evitam que a embarcação fique à deriva, restringindo seu passeio a determinada

área. Esse sistema é constituído âncoras, cabos de aço ou poliéster e de amarras de aço e ser

configurado de diversas formas diferentes, dependendo do tipo de embarcação e do tipo de

forças ambientais ela irá enfrentar, configurações essas mostradas nas seções que se sucedem.

2.1. Configuração das linhas

2.1.1. Convencional

As linhas ancoradas são fixadas por âncoras de resistência horizontal a quilômetros de

distância da plataforma, de maneira que o segmento da linha que fica apoiado no fundo do mar

contribui para a força restauradora através do atrito com o fundo e do próprio peso. Pelo fato

da linha apoiado no solo também fazer parte do arrasto necessário para a força restauradora,

esse tipo de ancoragem necessita de muito espaço no fundo marinho, o que pode vir a ser um

problema com o fundo congestionado, devido a um grande número de equipamentos.

Figura 1 - Ancoragem convencional [1]

3

2.1.2. Taut Leg

A ancoragem Taut-Leg é constituída por linhas retesadas com ângulo de topo de

aproximadamente 45° não apresentando trechos apoiados no leito marinho. Por isso, as ancoras

utilizadas nesse sistema são de resistência horizontal e vertical, como as ancoras de sucção,

torpedo ou VLA por exemplo. A ausência de trechos apoiados no leito marinho diminui

consideravelmente a área de ocupação do sistema, o que é vantajoso em águas profundas por

diminuir consideravelmente o tamanho do sistema.

Figura 2 - Ancoragem Taut Leg [1]

2.1.3. Vertical

Na ancoragem vertical, a configuração é tida por linhas que trabalham como tendões

verticais tracionados. Essa tração é gera a submersão da embarcação ancorada, tornando o

empuxo maior do que seu próprio peso e esse empuxo adicional aumenta a estabilidade da

embarcação, através de uma força de restauração hidrostática. Esses tendões dão alta rigidez ao

sistema no plano vertical, enquanto a rigidez no plano horizontal é reduzida. Esse tipo de

ancoragem é utilizado, comumente, em plataformas do tipo TLP (Tension Leg Platform), bóias

e monobóias.

4

Figura 3 - Sistema de ancoragem vertical [2]

2.2. Tipos de ancoragem

2.2.1. Spread Mooring

A ancoragem Spread mooring, também chamada de distribuída, caracteriza-se pela

distribuição simétrica das linhas de ancoragem em torno da embarcação e é mais utilizada em

plataforma do tipo semi-submersível e FPSO.

Figura 4 - Ancoragem Spread mooring [3]

5

Uma configuração especial de ancoragem foi desenvolvida pela PETROBRAS para

navios do tipo FPSO. Trata-se do sistema DICAS (Differentiated Compliance Anchoring

System). Este sistema se diferencia por utilizar linhas de ancoragem com rigidezes distintas na

proa e na popa do navio e também de angulações diferentes na proa e na popa, o que

proporciona um alinhamento parcial do navio em relação às direções dos carregamentos

ambientais mais severos.

2.2.2. Turret

Esse sistema é caracterizado pela utilização do sistema spread mooring, onde toda a

linha de ancoragem conecta-se a embarcação por meio de uma estrutura em forma de torre

(turret) que pode estar na proa ou na popa (turret externo) ou internamente ao navio (turret

interno). O casco da embarcação é conectado ao turret por meio de rolamentos e assim, ficando

livre para se alinhar aos carregamentos ambientais, sempre girando em torno do turret.

Figura 5 - Turret externo [2]

Figura 6 - Turret interno [4]

6

2.2.3. Catenary Anchor Leg Mooring (CALM)

O sistema CALM consiste de uma bóia de grandes dimensões que suporta um

determinado número de linhas de ancoragem em catenária. A amarração entre a bóia e a unidade

flutuante é feita por meio de um cabo ou através de uma estrutura fixa, chamada de Yoke.

Figura 7 - Sistema CALM com cabos [5]

Figura 8 - Sistema CALM com estrutura [2]

7

2.2.4. Single Anchor Leg Mooring (SALM)

O sistema SALM utiliza um riser vertical com grande capacidade de flutuação ou um

riser pré-tracionado. Emprega-se um riser tubular articulado, conectado à unidade através de

uma forquilha rígida, ou ainda pode-se empregar uma configuração alternativa com amarras

ligadas a uma bóia que é acoplada à unidade através de cabos.

Figura 9 - Sistema SALM com boias de flutuação [2]

Figura 10 - Sistema SALM com riser pré-tracionado [5]

8

2.3. Componentes

Linhas de ancoragem podem ter diversas configurações, sendo constituídas de apenas

um componente ou de diversos e também de materiais variados ou não. Dentre os componentes

que podem compor esse sistema estão as amarras, cabos, sendo eles de aço ou de poliéster, e

ancoras.

2.3.1. Amarras

As amarras são formadas por elos de aço ligados, fabricados a partir de barras de aço

com seção circular, que podem ser elos sem malhete (Studless) ou com malhete (Stud link),

sendo o último mais comumente usados. A classificação das amarras é feita de acordo com a

resistência ao escoamento do aço utilizado em sua fabricação e de acordo com a geometria,

considerando o diâmetro nominal da barra de aço utilizada para fabricar o elo.

Figura 11 - Amarras formadas por elos com malhete [7]

As amarras utilizadas em sistemas de ancoragem off shore são geralmente separadas em

seis categorias ou graus, que variam em escala crescente de resistência de acordo com a tração

de ruptura das mesmas (Graus 2, 3, ORQ – Oil Rig Quality, ORQ +10%, ORQ +20%, 4).

Quanto à geometria, as amarras são classificadas de acordo com o diâmetro nominal da barra

de aço utilizada para fabricar o elo.

9

Figura 12 - Elo comum com malhete [6]

Figura 13 - Elo comum sem malhete [6]

O mais comumente componente de união de duas correntes de amarras empregado é o

elo kenter. As linhas de ancoragem devem utilizar o menor número possível destes elos visto

que sua durabilidade à fadiga é sensivelmente menor à das correntes.

Figura 14 - Elo Kenter [6]

Em relação ao projeto de uma linha de ancoragem composta por amarras, a consideração

dos efeitos de fadiga é essencial especialmente quando acessórios de ligação são utilizados, que

correspondem a pontos fracos da linha. O mesmo pode ser dito nos casos de utilização de elos

10

com malhetes, pois, a solda também representa um ponto vulnerável quando sujeitos a cargas

cíclicas. Deve-se, portanto, minimizar o número de conexões em uma linha de ancoragem

composta por amarras e, quando utilizadas, considera-las como os elementos a serem estudados

da linha por serem os elementos mais suscetíveis a falhas.

2.3.2. Cabos de Aço

Os cabos de aço são formados por diversos fios de aço entrelaçados e agrupados. As

chamadas pernas são fios enrolados entre si em forma de espiral em torno de um elemento

central chamado núcleo ou alma, núcleo esse que pode ser composto por um cabo de aço

independente (Independent Wire Rope Core), uma perna de aço (Wire Strand Core) ou de fibras

naturais ou sintéticas (Fiber).

Figura 15 - Detalhe do arranjo de cabos de aço [8]

Os principais tipos de cabo de aço aplicados na área off shore são o six strand e o spiral

strand. Sendo o primeiro mais comumente utilizado em unidades de perfuração por sua facilidade

de manuseio, já o segundo é empregado e unidades de produção devido a sua resistência e

durabilidade superiores. Também há tipo multi strand que é uma versão do six strand, porém com

melhor balanceamento de torque, o que representa um meio termo entre o six strand e o spiral

strand.

11

Figura 16 - Tipos de configurações para cabos de aço [8]

É muito comum a utilização de fios galvanizados para a criação das tranças, de forma a

minimizar a corrosão durante a operação.

2.3.3. Cabos de Materiais Sintéticos

Os cabos de materiais sintéticos são formados por fios trançados, associados entre si,

formando cordas agrupadas, dando origem aos núcleos, que são dispostos em configurações

específicas. Por apresentarem custo reduzido, baixa relação massa/resistência e boa resistência

à fluência e fadiga, os cabos de materiais sintéticos mais utilizados em sistemas de ancoragem

em embarcações off shore são os de poliéster, cuja configuração pode ser vista conforme a

imagem abaixo [1]

Figura 17 - Configuração de cabos de poliéster [8]

12

Três construções de cabos são fabricadas. São elas: fios paralelos, sub-cabos paralelos

e tipo cabo de aço, tendo por objetivo manter as fibras posicionadas de tal modo que formem

pequenos ângulos em relação ao eixo do cabo.

Um aspecto relevante na utilização de cabos de poliéster, no sistema de ancoragem, é

sua baixa resistência a abrasão, o que limita a utilização destes em trechos que não estejam em

contato direto com o solo. Como solução a isso, pode-se utilizar um revestimento externo

protetor, que assegura a integridade e proteção dos núcleos contra partículas abrasivas.

2.3.4. Âncoras

A âncora é o componente responsável pela fixação das linhas de ancoragem no leito

marinho. O ponto de fixação ou ponto de ancoragem dependerá do tipo de sistema de

ancoragem utilizado visto que em alguns casos é necessário que a âncora resista a cargas

horizontais e verticais. Dentre os diversos tipos temos

i. Ancoras convencionais: Não possuem resistência a solicitações verticais e

geralmente utilizadas quando o sistema de ancoragem é do tipo spread mooring;

ii. Âncoras VLA (Vertical Load Anchor): Apresentam resistência a solicitações

vertical e horizontal e mais utilizadas em sistemas do tipo Taut Leg;

iii. Estacas de Sucção ou Estacas Caixão: São grandes tubos que funcionam como

se fosse uma câmara de pressão, sugam a areia no solo e se enterram.

Apresentam resistência a carregamentos vertical e horizontal e podem ser

utilizadas em sistemas tipo Taut Leg e Vertical;

iv. Estacas Torpedo: São torpedos lançados a 100m acima do solo marinho que

então se enterram pela ação de sua inércia. Provem resistência a solicitações

vertical e horizontal e podem ser utilizadas em sistemas Taut Leg.

13

3. Base Teórica

3.1. Fadiga

A fadiga é o fenômeno de ruptura do material causado por carregamentos cíclicos.

Apesar desses carregamentos gerarem valores nominais de tensão que são relativamente

pequenos quando comparados com a tensão limite de escoamento do material, os ciclos de

tensão/deformação geram nucleação na estrutura cristalina do material o que leva a propagação

de defeitos, como micro trincas, e diminuição de sua ductilidade, o que com o tempo podem

levar ao colapso da estrutura de forma repentina. A analise a fadiga de uma estrutura muitas

vezes é apresentada na forma gráfica por meio da curva S-N [2], curva essa que representa o

número de ciclos (N) que um certo material é capaz de suportar para um determinado valor de

tensão (S ou σ). Muitas vezes a curva S-N é apresentada com seu eixo horizontal em logaritmo,

por comodidade na apresentação dos dados, uma vez que o número de ciclos pode ser grande.

Figura 18 – Curva S-N [2]

Sendo a fadiga um dos principais mecanismos de falha de estruturas, um aspecto

importante a ser estimado em projeto é o tempo de vida a fadiga, ou seja, o tempo a qual

determinada estrutura suportará um determinado padrão de carregamentos ciclos antes de

falhar. Para que isso seja feito, dois conceitos importantes serão citados no presente relatório,

sendo eles, o acúmulo linear de danos e a contagem de ciclos, que juntos permitem ao projetista

estimar o consumo da vida a fadiga de um elemento.

14

3.2. Acúmulo Linear de Danos

O modelo de acumulo linear de danos, ou também chamado de regra de Palmgren-Miner

[3] é utilizado, juntamente com o um método de contagem de ciclos, para a estimativa da vida

a fadiga de um elemento estrutural. Considerando agora um espectro de carregamento em uma

estrutura que se desenvolve de acordo com a Figura 19 [4].

Figura 19 - Espectro de Carregamento [4]

Cada ciclo possui valor de tensão constante igual a 𝑆𝑖 e número de ciclos

correspondente 𝑛𝑖. Para cada ciclo de tensão 𝑆𝑖, há um correspondente número de ciclos 𝑁𝑖 a

qual a estrutura submetida a tensão 𝑆𝑖 colapsaria. Seja então 𝐷𝑖 o dano acumulado no ciclo de

tensão 𝑆𝑖, definido pela regra de Palmgren-Miner [3].

𝐷𝑖 = 𝑛𝑖/𝑁𝑖

Dano esse acumulado durante o ciclo de tensão 𝑆𝑖. Portanto, o dano total de todo o

espectro de carregamentos é dado pela soma de todos os danos de cada um dos 𝑘 ciclo [4].

𝐷 = ∑ 𝑛𝑖/𝑁𝑖

𝑖=𝑘

𝑖=1

De acordo com a regra a falha do elemento estrutural ocorrerá quando o dano 𝐷 for

maior que a unidade

𝐷 ≥ 1

15

3.3. Contagem de Ciclos

Dentre os diversos métodos de contagem de ciclos, o utilizado no presente trabalho será

o método Rainflow, sendo explicado brevemente a forma como a contagem é feita de acordo

com o estabelecido pela Standard Practices for Cycle Counting in Fatigue Analysis da ASTM

- American Society for Testing and Materials [5].

Para isso, alguns parâmetros devem ser definidos:

i. Pico (Peak) e Vale (Valley): Pontos de máximo local e mínimo local,

respectivamente;

ii. Ciclo: Variação do carregamento entre dois picos, ou dois vales, passando por

um vale ou pico, respectivamente;

iii. Faixa (Range): Diferença algébrica entre um vale e um pico consecutivos (faixa

positiva) ou entre um pico e um vale consecutivos (faixa negativa).;

iv. Mean Crossing: Representa o número de passagens do gráfico pelo nível de

carregamento médio.

Figura 20 - Parâmetros Básicos do Método Rainflow [5]

O método baseia-se no seguinte procedimento [5]:

Sendo X a faixa em consideração, Y como a faixa anterior adjacente a X e S o ponto de início

do registro da carga.

1) Leia o próximo pico ou vale. Se não houver informação, vá para o passo (6);

2) Se há menos de três pontos, volte ao passo (1). Forme as faixas X e Y usando os três picos

e vales mais recentes, caso não tenham sido descartados;

16

3) Compare os valores absolutos dos caminhos X e Y:

a. Se X < Y, vá para o passo (1).

b. Se X ≥ Y, vá para o passo (4);

4) Se a faixa Y contiver o ponto de início S, vá para o passo (5); caso contrário, conte a faixa

Y como um ciclo, descarte o pico e o vale de Y, e vá para o passo (2);

5) Conte a faixa Y como um meio-ciclo, descarte o primeiro ponto (do pico ou do vale) na

faixa Y, mova o ponto de partida para o segundo ponto da faixa Y e vá para o passo (2);

6) Conte cada faixa não contada anteriormente como um meio-ciclo.

O método acima pode ser sintetizado em forma de fluxograma para melhor

entendimento.

Figura 21 - Fluxograma do Método Rainflow

Na mesma publicação, é dado um exemplo para ilustrar esse processo e aprimorar o

entendimento do mesmo

(1) S= A; Y = | A-B |; X = | B-C | e X > Y. A faixa Y contém S, que é o ponto A. Conte | A-B

| como um meio-ciclo e descarte o ponto A; S = B.

17

(2) Y = | B-C |; X = | C-D | e X > Y. Y contém o S, nesse caso, o ponto B. Conte | B-C | como

um meio ciclo e descarte o ponto B; S = C.

(3) Y = | C-D |; X = | D-E | e X < Y.

(4) Y = | D-E |; X = | E-F | e X < Y.

(5) Y = | E-F |; X = | F-G | e X > Y. Conte | E-F | como um ciclo e descarte os pontos E e F.

Unir, em seguida, o ponto D ao ponto G para formar uma nova faixa.

(6) Y = | C-D |; X = | D-G | e X > Y. A faixa Y contém o ponto S, que está localizado no

ponto C. Conte | C-D | como um meio-ciclo e descarte o ponto C; S = D.

(7) Y = | D-G |; X = | G-H | e X < Y.

(8) Y = | G-H |; X = | H-I | e X < Y. Término da história da carga.

(9) Conte | D-G |, | G-H | e | H-I | como meio-ciclos.

(10) Fim da contagem.

Figura 22 - Exemplo do Método Rainflow [5]

3.4. Curva T-N para elos de amarras e cabos de aço

No presente trabalho as estruturas que serão analisadas são elos de amarras, para que

essa analise seja feita utilizando os métodos citados acima precisaremos determinar o número

de ciclos até a falha dos elos. Para isso, utiliza-se as curvas T-N, que correlacionam que

18

correlaciona a tração nas amarras e cabos e o número de ciclos até a falha, baseados na API

2SK [6].

𝑁 = 𝐾/𝑅𝑀

Onde:

- 𝑁 o número de ciclos até a falha;

- 𝑅 a razão entre a amplitude de tração e a tração de ruptura;

- 𝑀 𝑒 𝐾 são valores disponibilizados pela American Petroleum Institute [7].

A Tabela 1 mostra os valores para M e K e o gráfico mostra o gráfico da equação acima

para diversos tipos de amarras.

Tabela 1 - Valores de M e K de acordo com a API [7]

19

Figura 23 - Curva T-N para diferentes tipos de elos de amarras e cabos de aço [8]

Tratando-se de amarras de aço, a tração de ruptura é tomada como a tração mínima de

ruptura (Minimum Breaking Load - MBL).

3.5. Média Móvel Simples

A Média Móvel é uma técnica bastante utilizada por economistas para entender e

determinar linhas de tendências e médias de dados financeiros. Essa técnica também pode ser

usada em dados experimentais, como os que serão posteriormente analisados nesse trabalho,

para eliminar ruídos no sinal capturado pelo aparelho de medição, suavizando a curva de dados.

Existem diversas formas de se calcular a média móvel de um conjunto de dados, mas apenas

será abordado aqui a método empregado no trabalho, a média móvel simples. Seja um conjunto

V de N número de dados no total, n o valor do número de pontos que se quer a média móvel e

i o índice dos valores da média móvel, portanto a média móvel simples é dada pela fórmula:

𝑀𝑀𝑆𝑛𝑖 =𝑉𝑖 + 𝑉𝑖+1 + ⋯ + 𝑉𝑛+𝑖−1

𝑛

Onde i vai variar de 1 até N-n+1.

20

4. Metodologia

4.1. Dados de Entrada

Os dados utilizados nesse estudo foram fornecidos pela Petrobras e referem-se a uma

das suas plataformas de produção de petróleo em funcionamento na Bacia de Campos. No caso

desse estudo, trata-se de uma plataforma do tipo FPSO. Os dados são divididos em dois tipos

de arquivos distintos: GPS e Octans. Em ambos os arquivos, as informações são fornecidas

para cada segundo do dia considerado, em cada mês. O arquivo GPS fornece o posicionamento

em função das coordenadas UTM Leste e UTM Norte. No arquivo Octans, são dados os

movimentos da plataforma em cada um dos seis graus de liberdade. Além disso, foi

disponibilizado o calado da embarcação em cada dia.

O sistema de coordenadas UTM – Universal Transversal Mercator – baseia-se no plano

cartesiano, utilizando-se do metro como unidade de medida. Como convenção, UTM Norte

equivale às coordenadas Norte-Sul (ordenadas) e UTM Leste, às coordenadas Leste-Oeste

(abscissas). O sistema é dividido em 60 fusos, porém não há a consideração de variação devido

a curvatura da terra. No hemisfério Sul, o sistema adota o valor de 10.000.000 m no Equador

para a coordenada Norte, decrescendo para o Sul e o valor de 500.000 m no Meridiano Central

para a coordenada Leste, decrescendo para Oeste. No hemisfério Norte, adota o valor de 0 m

no Equador, crescendo para o Norte. Quanto aos movimentos da embarcação dados no arquivo

Octans, o navio é tido como corpo rígido, possuindo assim 6 graus de liberdade. Três

movimentos de translação em cada eixo (X, Y e Z) e três movimentos de rotação em torno de

cada eixo que, no caso do navio, os três primeiros são Surge, Sway e Heave, no sentido dos

eixos X, Y e Z, respectivamente e os três últimos são Roll, Pitch e Yaw, em torno dos eixos X,

Y e Z, respectivamente.

21

Figura 24 - Nomes dos movimentos da embarcação nos eixos xyz [2]

No que tange a análise desse trabalho, os movimentos que serão estudados são os

movimentos de ultrabaixa frequência da embarcação, ou seja, movimentos que são

extremamente lentos quando comparados com os movimentos usuais da embarcação, como o

jogo (Roll), arfagem (Pitch) e etc., movimentos esses causados pela ação de ventos e ondas na

embarcação. Esses movimentos têm período da ordem de segundos e não serão levados em

consideração nessa análise. Os principais movimentos que serão tratados nesse trabalho são os

movimentos de passeio, tanto na direção UTM Norte como na direção UTM Leste, causado

principalmente pela interação das correntes marinhas com a estrutura, que geram oscilações

com períodos na ordem de minutos ou até mesmo horas.

4.2. Filtragem dos dados

Os dados UTM nem sempre são totalmente completos e contínuos, sendo observado a

ausência de medidas de posição da plataforma em diversos dias no banco de dados, portanto

escolheu-se o dia 31/01/2012, no qual foi verificado a continuidade das medições de posição

ao longo do dia inteiro. As leituras de posição foram colocadas em forma de tabela no Excel

para que a partir dela fosse adotado um referencial para a posterior análise do movimento

executado. Tomando o eixo UTM Leste como eixo x e o UTM Norte como y e com pontos de

origem equivalentes a primeira medida de posição dada pelo sistema naquele dia, foram

calculados na planilha a posição, para cada segundo, nos eixos x e y. Para a análise proposta

neste trabalho, basta analisarmos apenas um dos eixos adotados, sendo o x escolhido nesse

22

caso. A tabela abaixo representa apenas a porção inicial da tabela com as correlações entre as

coordenadas.

Tabela 2 - Correlação entre as coordenadas de posição

UTM Leste UTM Norte X Y

390059,5 7518404,1 0,000 0,000

390059,6 7518404,0 0,028 -0,046

390059,5 7518404,0 -0,037 -0,070

390059,4 7518403,9 -0,114 -0,193

390059,4 7518403,8 -0,164 -0,293

A partir desse banco de dados, gerou-se o gráfico da série temporal da posição x, como

ilustrado na Figura 25

Figura 25 - Gráfico das coordenadas de x pelo tempo

Analisando o gráfico da Figura 25, percebe-se que há dois padrões de movimentos

oscilatórios predominantes no gráfico, o movimento de período mais curto, que são as

oscilações de menor amplitude, e há uma tendência a um movimento de maior período e

amplitude. A oscilação de maior frequência mostrada no gráfico são os movimentos gerados

pelas ondas, movimentos que possuem uma ordem de grandeza de segundos. Já os movimentos

de interesse desse trabalho são os movimentos ultralentos, que estão representados no gráfico

como a oscilação de frequência mais baixa. Para que a análise proposta pelo trabalho seja

realizada nas oscilações de baixa frequência, os dados precisam ser filtrados, de forma a

eliminar o movimento causado pelas ondas e assim formar curvas mais suaves do movimento

23

de menor frequência, viabilizando a utilização dos métodos de contagem de ciclos e acumulo

de danos mostrados anteriormente.

Utilizou-se então o conceito de média móvel com o objetivo de eliminar os ruídos

causados pelas oscilações de frequências mais elevadas. Foram utilizados médias móveis para

valores de n iguais a 600s, 3600s e 10800s.

Figura 26 - Gráfico da Média Móvel de 600s

Figura 27 - Gráfico da Média Móvel de 3600s

24

Figura 28 - Gráfico da Média Móvel de 10800s

O processo de filtragem também foi feito na coordenada y.

Portanto, nas análises que serão realizadas com o programa SITUA/PROSIM, serão

utilizadas as três médias móveis de dados, mostradas acima, que apresentaram resultados

satisfatórios quanto a suavidade dos gráficos.

4.3. Programa SITUA/Prosim

O SITUA/Prosim [9] é um programa desenvolvido para a Petrobras pelo LAMCSO –

Laboratório de Métodos Matemáticos e Sistemas Offshore – PEC/COPPE/UFRJ. O programa

emprega um modelo hidrodinâmico para analisar os movimentos do casco e um modelo

estrutural, através da formulação de elementos finitos, para representar as linhas e a interação

entre esses dois elementos. O programa tem como principal objetivo a simulação do

comportamento de sistemas de produção de petróleo, por meio de análises estáticas e dinâmicas

não-lineares, no domínio do tempo.

O programa Prosim usa um modelo híbrido para calcular as forças no casco, ou seja,

combina as características de mais de uma formulação para chegar a um resultado que melhor

descreva as condições físicas do problema. Neste modelo híbrido são combinadas forças de

primeira ordem da fórmula de Morison, especialmente as forças viscosas e de arraste; as forças

de Froude-Krylov e as forças de segunda ordem provenientes da teoria potencial, incluindo

efeitos de difração e radiação de ondas.

25

No caso de estudo deste relatório, como a posição e os movimentos da embarcação em

função do tempo já eram conhecidos, não foi necessário o uso de modelo hidrodinâmico para

o casco, pois os movimentos serão impostos (Movimento Prescrito). Outro ponto importante é

o fato dos movimentos serem lentos, o que permitiu que o problema fosse analisado como um

movimento quase estático, assim as trações nos picos de movimentos foram determinadas

alocando-se o modelo em posições extremas do movimento. Os dados de posição

disponibilizados pela PETROBRAS, filtrados, tratados e inseridos no programa SITUA/Prosim

[9] com o objetivo de calcular as trações em cada linha de ancoragem através da alocação do

modelo nas determinadas posições, resultando em um histórico de trações de cada linha de

ancoragem.

4.4. Modelo Numérico

A análise efetuada pelo SITUA/PROSIM é baseada em um modelo numérico da

plataforma. Uma ilustração desse modelo é apresentado a seguir:

Figura 29 - Vista Lateral do Modelo

26

Figura 30 - Vista Superior do Modelo

As figuras acima apresentam as linhas de ancoragem em azul escuro e os risers em azul

claro. Os risers não foram considerados na análise uma vez que estamos interessados somente

na simulação das trações nas linhas de ancoragem.

27

Figura 31 - Vista em profundidade do Modelo

O modelo estudado possui seu sistema com configuração em catenária convencional

típica das linhas de ancoragem desta unidade. Sendo os seguimentos superior e inferior de

amarra grau ORQ com 0.1-5 m de diâmetro nominal e o intermediário em cabo de aço “Six

Strand” com 0,127 m de diâmetro. A tração Máxima Axial (MBL – Minimum Break Load)

considerada para a amarra foi de 9937 kN.

Figura 32 - Linha de ancoragem em catenária

28

5. Resultados

5.1. Cálculo do Dano Anual

O modelo numérico utilizado leva em consideração as trações da porção superior do

sistema, ou seja, apenas as amarras mais próximas a plataforma.

Figura 33 - Configuração das linhas de ancoragem [9]

De posse do histórico das trações em cada uma das linhas, obtido de acordo com a seção

4.3, seleciona-se as trações máximas em cada linha registradas durante o dia, para cada uma

das médias móveis utilizadas.

Tabela 3 - Tabela com valores de trações para x e y máximos

600s 3600s 10800s T para

xmax

(kN)

T para

ymax

(kN)

T para

xmax

(kN)

T para

ymax

(kN)

T para

xmax

(kN)

T para

ymax

(kN)

Anc 1 99,767 198,662 47,654 66,878 26,094 33,999

Anc 2 228,924 76,647 108,989 25,615 59,645 13,022

Anc 3 193,440 103,621 91,910 34,272 50,539 17,285

Anc 4 65,062 218,123 31,121 71,614 17,119 36,028

Anc 5 139,767 243,246 67,541 79,962 37,182 40,203

Anc 6 244,221 74,764 118,226 24,750 65,348 12,479

Anc 7 303,140 200,115 145,235 67,243 79,871 34,342

Anc 8 51,661 220,918 24,833 74,455 13,795 37,859

29

Analisando a Tabela 3 pode-se perceber que a linha da âncora de número 7 é a que sofre

os maiores carregamentos nos pontos de máximo na direção x, então ela será o alvo de nossa

análise. Como o objetivo do presente trabalho é uma avaliação do efeito dos movimentos

ultralentos frente aos carregamentos das ondas na vida a fadiga, basta analisar a linha mais

tracionada em relação aos extremos, sendo essa linha a de número sete. Analisando o gráfico

da Figura 26 - Gráfico da Média Móvel de 600s, média móvel de 600s, estima-se que o período médio

das oscilações de grandes períodos é por volta de 6000s, em torno de 2 horas. Portanto as médias

móveis de 3600s (uma hora) e 10800s (três horas) podem levar aos resultados de valores de

tração a serem menores do que realmente são, assim a média móvel de 600s se torna a mais

adequada para os cálculos.

Figura 34 - Gráfico da Média Móvel de 600s

Para que possamos avaliar o dano causado pelos ciclos dos carregamentos nas amarras,

é necessário saber o número de ciclos até a falha para determinada intensidade de determinado

carregamento. Para isso, utilizando-se da curva T-N e a tabela para K e M para o cálculo do

número de ciclos até a falha para amarras, mostrada na seção 3.4, considerando as linhas em

estudo as amarras do tipo sem malhete (studless), tem-se

𝑀 = 3.0

𝐾 = 316

30

Então calcula-se o valor do número de ciclos pela equação

𝑁 =𝐾

𝑅𝑀

Sendo 𝑅 a razão entre a tração média da faixa considerada e a tração de ruptura (igual à

tração MBL – Minimum Break Load, no caso da amarra). Para a amarra em questão, a MBL é

igual a 9937 kN.

Portanto teremos

𝑅 =303,14

9937= 0,0305

Então

𝑁 =316

0,03053= 11130719 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜𝑠

Como o período de oscilação dos movimentos de ultrabaixa frequência não tem seu

valor calculado neste trabalho, estimado em cerca de 2 horas, e o fato de ser utilizado o valor

da tração máxima registrada no dia como o valor da intensidade carregamento cíclico para a

contagem dos ciclos, pode haver de um até cerca de doze ciclos desse carregamento por dia.

Essa consideração é feita supondo que os carregamentos registrados no dia podem ser próximos

o suficiente do máximo para que não gerem diferenças significativas no cálculo do N. Tem-se

então que o dano causado por esse carregamento de ultrabaixa frequência em um dia é dado

por

𝐷𝑢 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜 =𝑛𝑑

11130719

Sendo 𝑛𝑑 o número de ciclos por dia.

31

Extrapolando o resultado do dano gerado em um dia para um ano, teremos

𝐷𝑢 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 =365. 𝑛𝑑

11130719

Então, teremos como plotar um gráfico do dano anual gerado por este carregamento em

função do número de ciclos diários.

Figura 35 - Gráfico do Dano anual x Ciclos Diários

5.2. Avaliação do Dano na Vida Útil a Fadiga

De acordo com a referência [8], o dano acumulado em um ano na linha de número 7,

não considerando os movimentos de ultrabaixa frequência, é de 0,15. Portanto, para avaliar a

contribuição, não considerada em cálculos de vida a fadiga em projeto, das oscilações de

ultralentos, calcula-se a porcentagem anual de dano causado pelos movimentos de ultrabaixa

frequência com relação aos calculados desconsiderando os mesmos, ou seja, o dano não

considerado nas análises que normalmente são feitas em projeto.

𝐷𝑢

𝐷 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 =

365 . 𝑛𝑑

11130719 . 0,15

32

Porém essa formulação é mais melhor aproveitada quando é avaliada considerando toda

a vida útil da embarcação, ou seja, o valor do dano não considerado quando se chega próximo

a vida útil da embarcação, cerca de 25 anos. Portanto, a porcentagem de dano não considerado

ao longo de toda a vida útil da plataforma é dado por

𝐷𝑢

𝐷𝑣𝑖𝑑𝑎 ú𝑡𝑖𝑙 =

𝐷𝑢

𝐷 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 . 25 =

365 . 𝑛𝑑 . 25

11130719 . 0,15

Podemos então plotar o gráfico da porcentagem de dano não considerado ao longo da

vida útil pelo número de ciclos diários

Figura 36 - Porcentagem de Dano desconsiderada ao longo da vida útil por ciclos diários

Portanto, pode-se ver que a porcentagem do dano acumulado não contabilizado em

cálculos de vida a fadiga em projetos pode chegar a mais de 6%, dependendo do número de

ciclos diários. Importante enfatizar que este resultado foi extrapolado a partir de um dia de

verão na costa brasileira, período o mar se encontra mais calmo.

33

6. Conclusão e Trabalhos Futuros

Com o objetivo de a determinar da relevância de carregamentos cíclicos de ultrabaixa

frequência no consumo da vida a fadiga em linha de ancoragem de uma plataforma de produção de

petróleo, dados reais de movimentação, medidos a partir de uma plataforma do tipo FPSO

localizada na bacia de campos, foram filtrados para que se eliminasse os ruídos de movimentos

causados pelas ondas. A partir dos dados filtrados, utilizou-se o programa SITUA/Prosim para o

cálculo das trações em cada uma das linhas, sendo selecionada a linha com maior tração na

amplitude máxima de movimento. A partir disso, supõe-se que o número de ciclos desse

carregamento márx variar de uma a doze vezes ao dia e então é calculado que a porcentagem de

dano desconsiderado em cálculos de vida a fadiga em projetos pode chegar a mais de 6%.

Com os resultados apresentados, levando em consideração que outros ciclos ultralentos

não foram considerados na avaliação, ciclos gerados pelos movimentos no eixo transversal ao

considerado na análise, e o fato de a analise ter se baseado em um dia de verão, com mar mais

calmo, a porcentagem apresentada do dano causado por oscilações de ultrabaixa frequência não

considerados em projeto podem vir a ser ainda maiores. Tratando-se de segurança offshore e

planejamento, o efeito do dano causado por esses movimentos pode vir a ser importante, uma

vez que 6% em uma vida útil de uma plataforma representa cerca de um ano e meio de diferença

na sua vida útil, o que poderia causar certa mudança no planejamento de reparo das linhas e,

consequentemente, financeiro das empresas de petróleo.

Como trabalho futuro, pode-se propor a extensão da metodologia utilizada, avaliando

um número maior de dias do ano e em diferentes estações para a obtenção dos carregamentos.

Outra proposta interessante a ser feita é a avaliação do número de ciclos diários que as

oscilações de ultrabaixa frequência possuem e a proposição de uma metodologia de projeto

para adicionar o efeito do dano causado por estas oscilações na vida útil das linhas.

34

7. Referências

[1] C. L. Gonçalves RCF, “Inspeção em linhas de ancoragem de unidades de produção,”

Anais do 21º Congresso Nacional de Ensaios não Destrutivos, Salvador, 2002.

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ANCORAGEM DE UMA UNIDADE DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO,” UFRJ, Rio

de Janeiro, 2016.

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http://www.zebecmarine.com/spread-mooring-analysis.asp. [Acesso em 15 10 2017].

[4] H. F. d. Lima, “METODOLOGIA PARA A TOMADA DE DECISÃO NO PROJETO

DE SISTEMAS SUBMARINOS DE PRODUÇÃO DE ÓLEO E GÁS,” UFRJ, Rio de

Janeiro, 2007.

[5] B. Castro, “Sobre o trabalho feita na UNISUAM do Curso de Engenharia de Petróleo,”

UNISUAM, [Online]. Available: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABbW0AJ/1-

dinamica-dos-sistemas-ancoragem. [Acesso em 15 10 2017].

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http://jcfragoso.com.br/corrente.aspx. [Acesso em 15 10 2017].

[7] B. Amarras, “Sobre a Empresa: Brasil Amarras,” [Online]. Available:

http://www.brasilamarras.com/. [Acesso em 14 10 2017].

[8] G. d. S. Leal, “Metodologia de Análise de Fadiga de Sistemas de Amarração de um

FPSO,” COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2015.

[9] P. Y. Kawasaki, “ANÁLISE DE LINHAS DE ANCORAGEM DE PLATAFORMAS,”

UFRJ, Rio de Janeiro, 2010.

[10] D. Roylance, “About: Massachusetts Institute of Technology,” 1 may 2001. [Online].

Available: http://web.mit.edu/course/3/3.11/www/modules/fatigue.pdf.

[11] M. A. Miner, “Cumulative Damage in Fatigue,” California, Santa Monica, 1945.

[12] S. ARIDURU, “Fatigue Life Calculation by Rainflow Cycle Counting Method,”

MIDDLE EAST TECHNICAL UNIVERSITY, 2004.

[13] “ASTM E-1049. Standard practices for cycle counting in fatigue analysis,” 1985.

35

[14] J. C. F. Jorge, L. F. G. d. Souza, P. M. C. L. Pacheco, P. P. Kenedi, J. L. C. Diniz e O.

R. d. S. Filho, “AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE ELOS DE

AMARRA,” ABCM, Campina Grande, 2010.

[15] API. RP 2SK, “Design and Analysis of Stationkeeping Systems for Floating Structures,

3rd ed.,” 2005.

[16] L. C. PROSIM/SITUA, “Simulação Numérica do comportamento de sistemas para

explotação de petróleo offshore.,” LAMCSO COPPE/UFRJ., Rio de Janeiro, 2006.

[17] S. S. Rao, Vibrações Mecanicas, São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.