Campus nº 351

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kung fu vira fenômeno em planaltina ANO 40 - Edição 351 Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010 Jornal-laboratório da Universidade de Brasília Faculdade de Comunicação REITOR PROMESSAS QUE FORAM CUMPRIDAS ATÉ A METADE DA GESTÃO josé Geraldo BARULHO INTENSIDADE DE RUÍDOS NA UNB DESRESPEITA LEI DISTRITAL SEXO ACADÊMICO CAMPIM EXPLORA OUTRAS FUNÇÕES DO CAMPUS DARCY RIBEIRO PAULLINY GUALBERTO BÁRBARA VASCONCELOS MIGUEL REIS IÚRI LOPES

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Projeto gráfico e edição de texto - Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Edição nº 351. 16 a 29 de novembro de 2010

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1Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010

Centro para jovens carentes derrota academias privadas e produz três campeãs nacionais em um único ano

kung fu vira fenômeno em planaltina

ANO 40 - Edição 351 Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010

Jornal-laboratório da Universidade de Brasília Faculdade de Comunicação

REITORPROMESSAS QUE FORAM CUMPRIDAS ATÉ A METADE DA GESTÃO josé Geraldo

BARULHOINTENSIDADE DE RUÍDOS NA UNBDESRESPEITA LEI DISTRITAL

SEXO ACADÊMICOCAMPIM EXPLORA OUTRAS FUNÇÕESDO CAMPUS DARCY RIBEIRO

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2 Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010

resgate

Carta do editor

EXPEDIENTE

Ombudskvinna

Editor-chefe: Braitner Moreira

Secretária de redação: Tatiana Tenuto

Direção de arte: Miguel Reis

Diagramação: Ana Elisa Nunes, Edemilson Paraná,

Emanuella Camargo, Letícia Correia, Lorena Bicalho,

Roberta Diniz

Editores: Mariana Costa (fotografia), Laís Alegretti

(página 3), Luiza Machado (páginas 4 e 5),

Nathália Koslyk (página 6), Juliana Contaifer (página 7),

Thaís Cunha (Campim)

Repórteres: Clara Campoli, Daniela Gonçalves, Davi de Cas-

tro, Gabriella Furquim, Guilherme Pera, João Thiago Stilben,

Larissa Leite, Raphaela Bernardes, Renata Rusky, Rodrigo

Antonelli, Tajla Medeiros, Thiago Vilela, Vanessa Röpke

Fotógrafos: Bárbara Vasconcelos, Camila Maia, Camila de

Vellasco, Carícia Temporal, Paulliny Gualberto

Opinião: Thiago Vilela

Ilustrador: Iúri Lopes, Vitor Fubu

Professores responsáveis: Solano Nascimento e Sérgio de Sá

Jornalista: José Luiz Silva

Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação,

ICC Ala Norte.

Contato: (61) 3107-6498/6501 CEP: 70.910-900

E-mail: [email protected]

Impressão: Gráfica Palavra Comunicação – 4 mil exemplares

Erramos

CARTA DO LEITOR

Em 2005, o Campus revelou o fetiche que permeou a vida de estudantes, professores e funcionários da Universi-dade: o sexo em lugares inusitados do campus. Dos “tra-dicionais” banheiros e centros acadêmicos até fantasias na biblioteca e em copiadoras, a imaginação dos casais vai longe. Mesmo quem não tem vínculo com a UnB marca encontros na instituição.

O “motel UnB” está de volta nesta edição do Campim, recheado de novas histórias. A busca por locais atípicos para realizar fantasias sexuais não diminuiu. O tesão por lugares públicos, pelo perigo de serem flagrados, estimula os casais.

E quem já foi pego no ato? Em 2004, um casal utilizou o teto do Instituto Central de Ciências, mas não percebeu a presença da câmera de uma rede de televisão. O close feito pelo cinegrafista flagrou os animados.

Longe da perversão, descubra na última página os novos objetos de desejo e fixação dos frequentadores do campus, tratados aqui com ironia e humor.

Na edição passada, a reportagem “Jogos no interior”, da página 7, trouxe o nome do psicólogo grafado de forma incor-reta. Ele se chama Herverson Juarez.

Parabenizamos o Campus pela excelente matéria-denúncia “Os novos caubóis da Marlboro”. Esclarecedora, a reporta-gem aborda uma questão central em uma das nossas campa-nhas: a indústria do tabaco continua atuando forte na pro-paganda de cigarros – e com foco no público jovem – apesar da publicidade estar proibida nos meios de comunicação de massa e no patrocínio de eventos.

Como ONG atuante na área de controle do tabagismo, trabalhamos com foco na promoção de políticas públicas. Não temos nada contra os fumantes e, inclusive, muitos são adeptos à causa, pois o início do hábito de fumar está ligado às estratégias de marketing da indústria, por isso fazemos o monitoramento destas ações. Daniela Guedes, coordenadora de relações institucionais da ONG Aliança de Controle do Tabagismo

Leia o

fac.unb.br/campusonline

@campus_online

Feminino de Ombudsman, termo sueco que significa represen-tante, a Ombudskvinna observa e discute o comportamento dos jornalistas e o resultado final de seu trabalho. É a defen-sora do leitor junto ao jornal.

Nenhum início de semestre é tão conturbado quanto o do Campus. O processo de ingressar em uma rotina de

redação e elaborar todo um projeto a partir de ideias e vonta-des variadas gera controvérsias e surpresas de última hora. Entretanto, tal confusão não pode ser estampada no resulta-do do trabalho, como aconteceu nessa primeira edição.

O resultado, de fato, foi provocante – como sugere a editora-chefe –, mas de forma negativa. A falta de padroniza-ção entre fontes, linhas, colunas, sutiãs e assinaturas trazem desconforto na leitura e a impressão de que foi tudo feito às escuras. A logo do Campus parece tão perdida quanto a linha que divide a manchete das outras chamadas: ambas aparentam estar inacabadas. Também incomodam o cabe-çalho, com duas linhas e um espaço perdido, e as enormes assinaturas que não sabem se ficam após ou abaixo do sutiã.

Ainda na capa, o coloquial “pra” destoa. Se fosse escrito dessa forma na chamada da matéria “Viola na Rede”, onde a literalização do regionalismo traz o tom de leveza e com-pactua com o assunto abordado, seria compreensível. Mas,

na própria matéria do Campim, as preposições foram escritas da forma completa: para. Não entendi.

Também deve haver maior aten-ção às fotografias. Com a legenda “No-gueira faz parcerias virtuais”, espera-se que a foto apresente ou os parceiros do

rapaz ou algo relacionado à tecnologia – e não o violeiro em meio a um centro comercial. Além dessa, a imagem de “Os novos caubóis da Marlboro” me trouxe desconforto.

A vinculação da imagem dos jovens sentados à mesa do bar dá a impressão de que eles adquiriram o produto ilegal. Isso aconteceu? Qual a repercussão de uma pessoa ser apontada, mesmo que indiretamente, comprando algo ilícito? Em situa-ções como essas, um jornal, mesmo que velho, não será facil-mente esquecido, como brinca a divertida reportagem do Campim.

Ainda assim, a matéria de capa está de parabéns. Os repór-teres foram ousados, apresentaram-na cheia de fontes oficiais e personagens e conseguiram fechá-la com chave de ouro com uma dura crítica à ambiciosa indústria do cigarro. Isso sem esquecer a ilustração da linha do tempo, que casou muito bem com a proposta.

Por fim, a reportagem “Equilíbrio emocional em segundo plano” consegue comprovar a situação emergencial em que o sistema de saúde brasileiro encontra-se. Entretanto, por ques-tões de credibilidade, faltou explicar melhor como o Campus realizou o levantamento dos dados, incompatíveis com os da Secretaria de Saúde. E outro detalhe: o correto é Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), e não de Brasília (HBB), como apareceu no lide. Um bom trabalho a todos! Marcela Mattos, estudante do sétimo semestre de Jornalismo

A produção de um jornal é um grande ciclo com início definido, mas de final desconhecido. Armando No-

gueira, ex-diretor de jornalismo da Rede Globo, comparava a transmissão ao vivo do Jornal Nacional ao voo de um Boeing. Cada edição era uma nova decolagem que teria companhia dos riscos mais improváveis. No jornal impres-so, pode-se dizer que o avião levanta voo com a primeira pauta e só pousa quando é distribuído.

Pois nosso Boeing começou a decolar ainda na primei-ra reunião de pauta deste jornal-laboratório. Enquanto a edição passada ganhava corpo, parte da atual era realizada – assim como a próxima já está em processo de produção. Com este planejamento, foi possível publicar o segundo passo de uma fiscalização importante para a comunidade acadêmica. Afinal, como está o andamento das 15 promes-sas que levaram nosso reitor ao poder?

Em 2009, o Campus publicou o balanço do primeiro ano da gestão de José Geraldo. Nossa missão é acompanhar o andamento das propostas que elegeram o atual reitor. Se promessa é dívida, é obrigação do jornal cobrar em nome de quem representa. Há um ano, dois dos compromissos estavam totalmente cumpridos. Agora, são seis. Outros quatro, porém, estão com sinal vermelho ligado. Enquanto o projeto da Casa do Estudante Universitário parece enca-minhado, o “novo Centro Olímpico” permanece no campo das ideias. Diz-se que custará mais de R$ 300 milhões e poderá ser útil na Copa do Mundo de 2014 – caso fique pronto até lá.

Como a Universidade não é autossustentável, espera a atenção de legisladores para desfazer alguns nós da bu-rocracia e acelerar projetos de pesquisa que hoje acabam

deixados de lado. No entanto, não adianta que a lei já nasça anacrônica. Para que alguma destas não sirva de exemplo em futuro próximo, o Campus lembra que o tempo está passan-do para que a UnB se adapte à lei distrital que controlará o barulho em nossos prédios. Atualmente, o nível de ruído em alguns lugares ultrapassa em até 60% o permitido.

Há momentos em que barulho é, digamos, necessário. E o espaço universitário tem sido palco de algumas destas oca-siões. Nesta edição, o Campim buscou histórias que vão além do sexo que já se tornou convencional pela UnB. Esqueça o feijão com arroz em algum carro pelo estacionamento, modalidade consagrada, porém obscurecida por novos rela-tos. Ou você realmente acha que a Biblioteca Central é local exclusivo para se estudar?

Fora dos terrenos da UnB, encontramos para nossa capa três garotas de Planaltina que se mostraram prodígios no kung fu. A determinação e o esforço do trio são uma história tocante que não pode passar em branco. Enquanto o inves-timento total na infraestrutura de Brasília para a Copa pode chegar a R$ 1 bilhão, duas das jovens lutadoras ainda bata-lham por R$ 750 mensais que poderiam levá-las à seleção brasileira de kung fu.

Armando Nogueira sentia alívio ao fim de todas as edi-ções do Jornal Nacional. A cada dia, um Boeing decolava e aterrissava apesar dos riscos constantes de pane. O Boeing do Campus fica mais tempo no ar, é mais modesto e voa com frequência menor. Mas a satisfação de vê-lo pousar após as turbulências é, de fato, recompensadora. Braitner Moreira, editor-chefe

Marcela Mattos

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Decibelímetro foi o instrumento usado para medir o ruído nos corredores e salas de aula

meio ambienteUniversidade do barulho

Medições realizadas por repórteres do Campus apontam intensidade sonora acima da lei

Os níveis de ruído na Universidade de Brasília (UnB)chegam a ultrapassar em 60% o permitido pela legislação

distrital. Segundo parâmetros da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), espaços de sala de aula e circulação de pessoas não devem exceder 55 decibéis (dB). “O barulho não deixa ninguém surdo, mas deixa louco”, desabafa a pro-fessora do Departamento de Estatística Ana Maria Nogales, que neste semestre trocou de sala de aula devido ao excesso de ruído nas proximidades.

A reportagem do Campus mediu a pressão sonora em salas de aula e em vários pontos da UnB. Os valores encon-trados variam entre 70 e 80 dB em locais onde a intensidade sonora legal é de 50 dB. Entretanto, de acordo com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e a 2ª Delegacia de Polícia, não constam denúncias relativas à perturbação sonora no espa-ço da UnB destinado a atividades acadêmicas. Assim como escolas, creches, bibliotecas e hospitais, universidades têm até 2013 para se adaptar aos limites estabelecidos pela lei distrital sancionada há dois anos.

Fugindo do ruídoO barulho excessivo não passa despercebido durante as

aulas. Este foi o motivo alegado por cerca de 20 professores que solicitaram mudança de sala à prefeitura, desde o início do semestre, segundo a responsável pelo gerenciamento de espaço físico da UnB, Juliana de Freitas.

A professora do Departamento de História Lucilia de Almeida leciona há 40 anos, mas é novata na UnB. Desde o primeiro encontro na sala B1-222 (mezanino, próxima à entrada principal da Ala Sul), ela ficou convencida de que ali seria impossível dar aula. “Não escutava o que os alunos estavam dizendo. Fechar a porta era impossível devido ao calor abrasador”, lembra. Os colegas docentes brincavam com Lucilia, dizendo que ela aprendera rápido: deveria enfrentar a “concorrência sonora” se quisesse dar aula naquele espaço. “Cheguei a pensar em comprar um microfone de lapela”, diz. Mas não comprou. O desconforto e a ansiedade dos alunos levaram a professora a mudar de sala duas semanas após o início do semestre.

Já a professora Ana Maria Nogales não enfrenta a concor-rência do barulho pela primeira vez. No primeiro semestre deste ano, ela lecionava no Pavilhão João Calmon, que, apesar da reforma, continua barulhento. Nos 24 anos como professo-ra na UnB, ela não esquece do dia em que se viu dando aula ao lado de um anfiteatro onde uma banda de rock fazia a passa-gem de som. “Trabalhar no Minhocão é impossível, o barulho é imenso, há muita festa”. Para Ana Maria, a tarde de sexta-feira é o período mais crítico.

Isabela Moreira, estudante de Tradução Inglês, reclama do Minhocão Sul: “É muito difícil se concentrar, principalmente para fazer prova. Sempre tem alguém falando muito alto do

lado de fora”. Paulo Raul, estudante de Ciências Farmacêuticas, lamenta ser incomodado pelas obras: “As salas de aula são muito abertas, o barulho das construções atrapalha”.

As condições precárias de trabalho interferem na qualidade da aula e da produ-ção acadêmica. À medida que o barulho do lado de fora aumenta, professores forçam a garganta para superá-lo. “Vira e mexe perco a voz”, reforça Ana Maria, sem deixar de protestar.

Para a pesquisadora na área de saúde do trabalhador Marlene Escher, os danos dependem do tempo de exposição a determi-nada intensidade do som. Assim, as princi-pais vítimas da poluição sonora na UnB são professores, servidores e outros trabalhado-res, como a proprietária da banca de jornal no Ceubinho, Edilma Queiroz, conhecida como Neide. Há 29 anos na Universidade, ela abre o comércio às 7h e só fecha às 21h. Ela destaca a música em alto volume como um dos principais incômodos que enfrenta nas 14 horas que passa exposta aos ruídos do ambiente. “Não sei por que tem que ter caixa de som para vender ingressos”, diz ao se referir à divulgação das festas na entrada principal da ala norte do Instituto Central de Ciências (ICC).

Neide conta que chega a sentir dores de cabeça e zumbidos no ouvido. Esse é um sintoma que pode estar relacionado à perda da audição. O certo é que o barulho excessi-vo ocasiona perda de células do ouvido que não se regeneram. Além dos danos à saúde auditiva, a exposição excessiva aos sons pode provocar alteração do sono e distúrbios gástricos. “O ideal é minimizar o ruído na fonte, a partir de um processo educativo para que as pessoas respeitem o ambiente, fazendo menos barulho”, afirma Marlene.

AlternativaA professora do Departamento de Tecnologia na área de

Conforto Ambiental Rosana Stockler explica que há dois re-quisitos básicos na construção de uma sala de aula: a diminui-ção dos ruídos externos e a preservação da qualidade do som interno. Para a pesquisadora, tal preocupação “não fazia parte da formação dos arquitetos como acontece agora”.

Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), uma sala ideal quanto ao equilíbrio do som interno foi projetada. Um ar-condicionado, uma porta de isolamento acústico e parede dupla para o corredor interno garantem o isolamento sonoro do espaço. “Isso nos permitiu manter o nível de ruído externo na faixa de 45 a 48 dB”, acrescenta Rosana.

No restante da Universidade, entretanto, a realidade é ou-tra. As falhas existem inclusive no projeto de edifícios, como é o caso dos pavilhões. Um dos principais problemas é o corre-dor central entre dois conjuntos de salas. “Se você deixa a porta aberta para a ventilação, sacrifica-se a acústica”, lembra Rosana. A professora ainda explica que as aberturas

por Daniela Gonçalves e thiaGo vilela

Silêncio protegido por normas

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a poluição sonora é o terceiro maior problema do mundo, atrás do ar e da água. A partir de 70 dB, a exposição constante torna-se nociva à saúde

e pode causar estresse, insônia, infecções, gastrite, prisão de ventre, pressão alta, infarto, derrame e impotência sexual.

Em 1986, a ABNT definiu os parâmetros de conforto acústico para diversos tipos de ambientes. As máximas fixadas obedecem a normas internacionais. A determinação de limites serve para quantificar as condições de tranquilidade para o ambiente de trabalho.

Há referência à poluição sonora até na Constituição Federal promulgada em 1988. De acordo com o artigo 225, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. Em 1990, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Cona-ma) estabeleceu que a emissão de sons, em decorrência de qualquer atividade industrial, comercial, social e recreativa, inclusive a de propaganda, obedecerá, no interesse da saúde pública, ao máximo de 70 dB durante o dia e 60 dB durante a noite.

Em 2008, 19 anos após a OMS considerar o ruído um problema de saúde pública, o Governo do Distrito Federal sancionou a lei 4.092. A legislação distrital determina prazos para os estabelecimentos cumprirem as normas da ABNT e sanções para quem desrespeitar o regulamento. A multa varia de acordo com a gravidade e pode chegar a R$ 20 mil e levar ao fechamento do local.

no teto do prédio João Calmon não são suficientes para a circulação do ar.

Segundo Rosana, a acústica dos anfiteatros não é adequa-da à realidade do prédio. Alguns destes auditórios começaram a ser reformados em abril de 2009. Mudanças como a troca das portas e a criação de uma antecâmara para transição entre os ambientes externo e interno resolveram o problema. “Selaram-se também as frestas, que eram grandes fontes de ruído”, completa, referindo-se às perfurações e janelas.

O formato do auditório também não ajuda: o teto plano e as paredes paralelas provocam grande volume sonoro em torno do professor. Assim, apenas os mais próximos dele escutam a aula. A solução encontrada foi ajustar o formato da estrutura para melhor propagação do som “aproveitando ao máximo a energia que sai da fonte e direcionando-a para partes mais distantes”, de acordo com Rosana. Foram apli-cados também materiais de absorção sonora para melhorar a inteligibilidade da voz.

Segundo o prefeito do campus Darcy Ribeiro, Paulo Cesar Marques, em todos os espaços de aula que estão sendo refor-mados está previsto o adequamento à nova legislação. Mesmo o comércio, que hoje funciona no ICC, será transferido para os Módulos de Serviço Comunitário, que serão construídos para abrigar esse tipo de atividade. O término das reformas está previsto para 2012, quando acaba a gestão do atual reitor.

Níveis de sons na UnB

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O ambiente é pequeno, o piso é de cimento e a pintura nas paredes mostra sua fragilidade em duas cores: branco

e laranja. De dia, a iluminação é natural, vem da abertura da porta de aço, daquelas de enrolar, típica de lojas comerciais. À noite, quando as contas estão em dia – o que nem sempre ocorre, pois só neste ano foram três interrupções –, a luz é pro-vida por cinco lâmpadas incandescentes de baixa voltagem. A espessura do tatame, que ocupa quase metade da sala, é mais fina que a ideal e, como seu material de fabricação não é dos melhores, a absorção do impacto fica prejudicada. As luvas, único equipamento disponível, são de karatê e não revestem toda a mão, como pede o kung fu. Ao todo, são dez pares de luvas revezados por cerca de 22 alunos por turma.

Os problemas estruturais internos aqui descritos não dife-rem em muito dos observados da porta para fora. Planaltina, onde a sala está instalada, possui um dos Índices de Desen-volvimento Humano (IDH) mais baixos do Distrito Federal, segundo os dados de 2003 da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central, e a terceira menor renda per capita men-sal do DF, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Do-micílios (PDAD) de 2004. Essas condições e a precariedade do tatame, no entanto, não impediram que dali saíssem duas medalhas de ouro e uma de bronze no Campeonato Brasileiro de Kung Fu de 2010.

Valquíria dos Santos Fonseca, 20 anos, e Lays Catharine Medeiros, 17, conquistaram o primeiro lugar nas categorias adulto feminino até 56 kg e juvenil feminino até 52 kg, respec-tivamente. Munik Brenne Rodrigues, 20, ficou em terceiro na categoria adulto feminino até 65 kg. Hoje são grandes amigas, mas seus caminhos se cruzaram por acaso no Centro de Integração Esporte e Cultura (Ciec), onde descobriram a paixão pela arte marcial chinesa. Trata-se de uma organiza-ção não-governamental (ONG) que oferece à comunidade de Planaltina atividades esportivas e culturais. Lá, as três treinam com outras 50 pessoas, aproximadamente, e fazem parte da equipe Ao Wushu.

O kung fu chegou há duas décadas à comunidade de baixa renda do Vale do Amanhecer, perto de Planaltina. A iniciativa do projeto social foi do professor João Valuiton e de Werotty-des Luiz Rocha, à época seu aluno e hoje com 32 anos. Rocha depois deu aula no Ciec durante três anos, mudou-se para Mi-nas Gerais em virtude de aprovação em um concurso público e foi substituído por Murilo Pires da Mota, 24 anos, que era seu aluno. “A ideia de levar a arte marcial para Planaltina foi uma tentativa de ajudar a população a tirar os jovens da marginali-dade, das drogas. No começo, as aulas no Vale do Amanhecer eram na rua mesmo, treinávamos até na beira de um córrego”, relembra. Quando começou o projeto, Rocha não imaginava a proporção que a iniciativa iria tomar. Planaltina entrou para o rol de destaques do kung fu no Distrito Federal e compete acir-radamente em campeonatos com as tradicionais academias particulares de Taguatinga, Sobradinho e Brazlândia. “Elas são grandes referências em termos logísticos, têm facilidade em conseguir patrocínio, mas, no que se refere a vitórias em campeonatos, estamos saindo à frente. Minha equipe (Ao Wushu) nunca perdeu um”, analisa Rocha. “Quando chega-mos a alguns campeonatos, muita gente já nos conhece, sabe que somos de Planaltina”, completa Pires.

O Ciec, localizado na Estância Mestre D’Armas, e o projeto no Vale do Amanhecer, que hoje recebe o apoio da ONG Ação Esperança, são, atualmente, grandes polos de kung fu – espor-te que se populariza por ser uma das poucas lutas oferecidas gratuitamente por esses centros voluntários. O presidente do Ciec, José Omar Xavier Diniz, conta que a instituição sur-giu justamente da necessidade de espaços como este para a juventude local. A ONG se mantém com o apoio do Programa Esporte e Lazer da Cidade (Pelc), do Ministério do Esporte, e por doações.

CampeãsDo trio prodígio do Ciec, Valquíria é a mais experiente.

Ela começou a treinar aos 15 anos e não parou mais. “Sem-pre quis fazer algum esporte. Aí meu namorado me chamou para ir ao Ciec aprender kung fu de graça. Fui e gostei muito”, lembra. Ela diz que no começo sua mãe não gostava muito da ideia, mas depois que começou a participar de campeonatos a família em peso passou a apoiar. Valquíria é dona de nove me-dalhas de ouro e uma de prata em campeonatos brasilienses e ainda ostenta uma medalha de ouro conquistada na competi-ção nacional deste ano – realizada em setembro na cidade de São José dos Campos (SP) –, além da de bronze que ganhou no torneio de 2009. Dedicada, a jovem se esforça em prol de uma vida melhor. De manhã, trabalha em uma empresa de cobrança na Asa Sul. À tarde, estuda e faz os trabalhos da faculdade de Administração. “Faço a dis-tância porque pago menos, mas estudo muito do mes-mo jeito”, explica. À noite, Valquíria extravasa o estresse da rotina diária nos treinos do Ciec. Aliás, sobre esse hobby, ela não economiza euforia: “Kung fu é minha vida”.

A devoção de Valquíria ao Ciec não é em vão, nem solitária. Munik e Lays também compartilham o mesmo pensamento. Além de terem se iniciado lá, elas ainda encontram o apoio dos profissionais e, também, dos colegas de treino, apesar das inúmeras dificuldades. A participação no campeonato nacional deste ano ficou por um fio. O custo era de R$ 880 para cada uma, mais o do professor Pires, que as acom-panharia. “Nos esforçamos para conseguir verba para a viagem das meninas. Recebe-mos doações da comunidade e de dois deputados que esta-vam em campanha eleitoral”, afirma o presidente da ONG, José Diniz.

A questão financeira, parte mais complicada, foi solucionada a tempo, mas ainda assim havia alguns impasses delicados. Restava conseguir liberação do serviço, já que a competição se estendia de terça-feira a domingo. Valquíria conta que no ano passado a gerência da empresa não gostou muito da ideia, mas acabou a liberando, descontan-do, entretanto, os dias não trabalhados. Já neste ano, após o bronze conquistado em 2009, a situação mudou. “Fiquei com receio de pedir folga, mas eles acabaram me apoiando, não descontaram os dias que fiquei ausente, fizeram camiseta para mim com o nome da empresa nas costas e, pra minha surpre-sa, ainda me deram R$ 300 para ajudar nos custos da viagem”,

alegra-se Valquíria, satisfeita com o patrocínio e o suporte recebidos do serviço.

Munik não recebeu o mesmo apoio. Teve de escolher entre o campeonato e o emprego de secretária em uma loja de peças de carro. “Eu pedi para meu chefe me liberar, mas ele não deixou. De tanto eu insistir, ele disse para eu fazer o que bem quisesse. Acabei indo, não podia deixar de ir. Como sabia que ele iria me demitir, nem voltei mais lá.” Ela, agora, busca um novo emprego. Munik também é veterana no kung fu, está há quatro anos no Ciec. “Eu vim por diversão mesmo. Com o tempo, fui me interessando mais pelo esporte, até que virou paixão”, narra a atleta. E logo emenda, sorridente: “Eu vinha

por Davi De castro

O TATAME DE PLANALTINACom escassez de equipamento, um pequeno centro de treinos para jovens carentes derrota academias privadas e conquista duas medalhas de ouro e uma de bronze no campeonato nacional de kung fu

A história do kung fu é de difícil delimitação. Por ser muito antiga, há poucos registros escritos da origem desta arte mar-cial. Lendas e mitos passaram, oralmente, de pai para filho. Especula-se que por volta do ano 2000 a.C a arte marcial já

era mencionada em diversas lendas chinesas, às vezes até como instrumento de guerra. Mas nada é comprovado. A teoria mais comum é de que os movimentos do kung fu teriam nascido por meio da observação de animais e com objetivo principal de defesa pessoal e concentrações mental e física. Com o passar do tempo, a luta deixou de ser vista como uma habilidade mili-tar e hoje é popular pela disciplina e concentração de que necessita. O esporte chegou ao Brasil na década de 1950, junto com o boom da imigração chinesa para o país. Eram os primeiros anos de Mao Tse-Tung no poder e as guerras e a fome assolavam a nação. Aqui, os chineses encontraram oportunidade de trabalho e tranquilidade. Consigo, trouxeram muitos de seus costu-mes. Entre eles, o kung fu, que anos mais tarde se popularizaria na terra da capoeira por conta dos filmes protagonizados pelo sino-americano Bruce Lee.

“Pensava que era só dar soco. Depois fui ver que

o kung fu é mesmo uma arte”

Munik Brenne

Uma arte milenar

Satisfeitas com os resultados, as campeãs Munik, Lays e Valquíria se preparam para o próximo campeonato de kung fu

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Com escassez de equipamento, um pequeno centro de treinos para jovens carentes derrota academias privadas e conquista duas medalhas de ouro e uma de bronze no campeonato nacional de kung fu

com meus irmãos, aí eles pararam de vir. Como eu só podia treinar à noite, forcei amizade com um vizinho que treinava aqui também pra poder vir com ele”. Ela confessa que no início tinha uma opinião equivocada sobre o esporte. “Pensava que era só dar soco. Depois fui ver que o kung fu é mesmo uma arte.” Esta visão também era compartilhada pela mãe, que não queria que a filha competisse. “Minha mãe dizia que isso não dava em nada, que era perda de tempo. Ela tinha medo de que eu apanhasse. E como na época eu era menor de idade, tinha que insistir pra ela assinar para que eu participasse de campeonatos”, conta Munik, hoje aliviada pela aceitação. “Quando comecei a ganhar as coisas (campeonatos), ela ficou

feliz.” A felicidade da mãe não é à toa: Munik já ganhou nove campeonatos brasilienses e ficou em terceiro lugar nos dois campeonatos nacionais em que competiu. Mesmo com tantas vitórias, a atleta não se conforma e lamenta os dois bronzes que ganhou. “Vou emagrecer para entrar na categoria de até 60 kg, porque na minha estou em desvantagem. A maioria das atletas que eu enfrento pesa mais que eu”, desabafa.

Para participar dos campeonatos, Valquíria e Munik tiveram que economizar bastante e mobilizar parentes e co-nhecidos no intuito de arrecadar dinheiro para a compra dos equipamentos que precisavam: luva, capacete, protetor bucal, caneleira e protetor de tórax. A “vaquinha” deu certo e elas

conseguiram o material. O protetor de tórax, uma espécie de colete, no entanto, teve de ser comprado em conjunto. Além de compartilhá-lo, elas ainda o emprestam para Lays e outros meninos do Ciec, quando necessário. “Já aconteceu de, em um campeonato, eu terminar uma luta correndo, levar o colete para a Munik, que iria disputar em segui-da, e, quando ela mal tinha termi-nado de lutar, teve que se apressar e entregar pra Lays poder lutar tam-bém”, diz Valquíria, entusiasmada com o feito. Lays, para conseguir comprar seu equipamento, encon-trou outra solução. Ela revela que viu o anúncio de um concurso de beleza em Planaltina, cuja premia-ção seria em dinheiro, e resolveu se inscrever. “Como sou baixinha, pensei que nem iria ganhar nada. Acabei ficando em terceiro lugar e recebi R$ 200”, diz. É quase um segredo: “Só minha mãe ficou sabendo”.

Lays é a mais nova do trio, tanto em idade quanto em tempo de treino. Mesmo com a pouca ex-periência, apenas um ano de kung fu, conseguiu chegar ao topo do pódio do Campeonato Brasileiro de 2010. Nas disputas locais, a jovem também se destacou: foi três vezes ouro e uma vez prata. Ela começou a praticar a arte marcial com duas amigas no Ciec. “Elas me chama-ram e eu fui. Logo desistiram, e só eu fiquei. Acho que levo jeito, é uma coisa que me faz bem”, reflete. Lays também compartilha a experiência com as outras meninas quando a questão é o fato de a família não ter gostado muito da ideia do kung fu. “É um esporte que pode machucar,

minha mãe não gostou muito a princípio”, relata. Ela também treina à noite com Munik e Valquíria. De manhã, faz estágio em um órgão público em Brasília. À tarde, cursa o primeiro ano do Ensino Médio. A mais jovem do grupo lamenta os empecilhos pelos quais os treinos noturnos têm passado ulti-mamente: “Com a falta de recursos no Ciec, de vez em quando a água e a luz são cortadas. Com isso, a gente tem que se virar. Treinamos na quadra de esportes, no chão duro mesmo, ou em outro lugar improvisado que tenha luz”.

Valquíria confessa que as três já receberam diversos con-vites para treinar em outras academias particulares, de graça, mas elas recusaram. “Não seria justo deixar nossa casa (Ciec) logo agora que estamos crescendo”, afirma Valquíria. Munik completa: “Criamos vínculo, seria uma traição se saíssemos. Queremos crescer juntos. Por isso, enquanto tiver treinos aqui, não sairemos”.

DesafioPara as três, o maior desafio atualmente é conseguir

dinheiro para participar dos campeonatos. A esperança, no entanto, desponta no horizonte. Como Valquíria e Munik ficaram em terceiro lugar no campeonato nacional do ano passado, elas pleiteiam, neste ano, uma bolsa atleta oferecida pelo Ministério do Esporte, cujo valor esperado é de R$ 750 mensais. Elas só deram entrada no pedido um ano após o campeonato porque esse é um dos critérios do ministério. No ano que vem, Lays também poderá participar do programa, assim como Valquíria e Munik poderão entrar com pedido de renovação da bolsa, já que ganharam o campeonato nacional de 2010. “A bolsa é um ótimo incentivo. Com ela, poderíamos pagar também os exames de faixa e participar da seleção brasi-leira de kung fu. Fomos convocadas pra seleção, mas como os treinos são três vezes ao ano em São Paulo, não pudemos par-ticipar por falta de condições”, desabafa Valquíria. “A gente só apanha, mas é feliz mesmo assim. Gastamos muito nesses campeonatos e só ganhamos medalhas. Mesmo assim a gente gosta, é uma adrenalina muito boa. A bolsa atleta seria um alívio pra gente”, descontrai Munik. Uma vez na seleção brasi-leira, o sonho de participar dos campeonatos Pan-americano, Sul-americano e Mundial poderia ser concretizado.

Uma arte que faz bemNa equipe Ao Wushu, a força de vontade se sobressai a

todo tipo de dificuldade e os bons resultados obtidos têm atraído cada vez mais participantes, principalmente adoles-centes. O kung fu é a atividade mais procurada. “É a única arte marcial que trabalhamos aqui, isso também conta. Além disso, todos querem treinar com as campeãs brasileiras. Esses adolescentes se espelham muito nelas”, orgulha-se o professor Murilo Pires. Ele aproveita para enfatizar os benefícios do es-porte. “O kung fu não é apenas luta, trabalha condicionamen-to físico, movimentação. E também não é só essa parte física. Por ser uma arte marcial, trabalha muito a questão da discipli-na e respeito. É comum mães de alunos virem aqui agradecer e dizer que os meninos estão mais calmos, menos agressivos, que melhoraram o desempenho escolar. Estamos sempre cobrando melhor desempenho na vida e na escola.” Rocha concorda com o professor e afirma que a arte marcial tira o jovem do ócio, aumenta a autoconfiança, reduz a obesidade e trabalha a cognição.

Ronisson Henrique Pinto de Melo, 16 anos, mais conhecido como Roni, reconhece que melhorou em muitos aspectos desde que começou a treinar, há seis meses. “Tenho certeza que fiquei mais tranquilo. Antes, eu brigava com minha irmã todo dia. De-pois disso, nunca mais”, admite. Ele conta que sua mãe também notou a diferença e nem implica mais com a luta. Pelo contrário. Roni é outro prodígio no Ciec. Ele é o vice-campeão brasiliense deste ano, na primeira competição que disputou. O jovem se inspira nas colegas campeãs. “Elas são um incentivo”, diz. “No ano que vem, eu quero ser o próximo.”

colaborou roDriGo antonelli

“Pensava que era só dar soco. Depois fui ver que

o kung fu é mesmo uma arte”

Munik Brenne

A Federação Chinesa de Kung Fu organizou, paralelamente à Olimpíada de Beijing, em 2008, uma competição de demons-tração da luta. O intuito era promover o esporte e tentar fortalecer seu nome na pauta de modalidades que podem entrar nos

Jogos, futuramente. A regra geral para uma modalidade ser considerada olímpica é ser praticada por homens em, pelo menos, 72 países e quatro continentes, e por mulheres em, no mínimo, 40 países e três continentes. Com federações bem estabelecidas em 135 países e cinco continentes, além do reconhecimento do movimento olímpico, falta ao kung fu “apenas” a aprovação do Comitê Olímpico Internacional (COI). No entanto, este é o passo mais complicado do processo. Para evitar inchaço na progra-mação, o COI decidiu que no máximo 28 esportes podem integrar o programa. Portanto, para que uma nova modalidade passe a fazer parte da Olimpíada, outra tem que sair. A decisão deve ser tomada, também pelo COI, com até sete anos de antecedência aos jogos em questão. Agora, a arte marcial pleiteia uma vaga na Olimpíada de 2020, uma vez que os novos esportes a integrar o programa dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, já estão definidos: golfe e rúgbi.

Longo caminho até as Olimpíadas

Satisfeitas com os resultados, as campeãs Munik, Lays e Valquíria se preparam para o próximo campeonato de kung fu

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Page 6: Campus nº 351

6 Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010

A UnB vive uma contradição. Por um lado, somos a Uni-versidade dos novos prédios, das reformas nas salas de

aula, do incentivo à pesquisa e à extensão. Por outro, somos a Universidade dos trabalhadores terceirizados, das salas de aula em condições precárias e da greve de seis meses para garantir a não-redução dos salários.

A oposição é muito clara. Quando tivemos greve de professo-res, as aulas pararam. Quando foi a vez da maior greve de servi-dores da história da Universidade, estas continuaram. A carência de servidores e técnicos é tão grande que nos acostumamos ao serviço ruim. À exceção de alguns cursos que necessitam mais deste tipo de serviço, o restante está acostumado a estagiários e

UniversidadeFaltam nove

opiniãoterceirizados exercendo funções que não são deles.

No campus de Ceilândia, estudantes tiveram aula em salas improvisadas – esperando que o prédio improvisado, mas “ofi-cial”, ficasse pronto. No Gama, os alunos têm aula nas instalações do Serviço Social do Comércio (Sesc), mas o contrato terminará no final de janeiro. Se as obras do novo prédio não se encerrarem a tempo, não haverá sequer um espaço inadequado.

É neste contexto que devemos olhar para as promessas cumpri-das pelo reitor. Devemos parabenizá-lo, mas também continuar a cobrança pela realização de todo o restante, sem nos esquecermos de perguntar:

Por que temos tantos trabalhadores terceirizados ou estagiá-

Na metade da gestão, o reitor José Geraldo chega mais perto de cumprir as promessas feitas aos estudantes

Eleito em 2008, José Geraldo de Sousa chega neste mês de novembro à metade de seu mandato como reitor da UnB.

Levantamento do Campus mostra que, das 15 promessas de campanha feitas por ele aos estudantes – segmento responsá-vel por sua vitória nas eleições –, seis foram cumpridas, cinco foram parcialmente atendidas e as outras quatro ainda não passaram de projetos.

Em conversa com o Campus, o reitor classificou 2010 como um ano de tensões. A crise do Governo do Distrito Federal obrigou-o a negociar os projetos da Universidade com quatro diferentes governadores. Outra dificuldade enfrentada foi a greve dos servidores, mas o reitor acredita que “eles sou-beram preservar o interesse maior, que é a própria UnB”.

A paralisação total da instituição durante dois meses – quando professores também estavam parados – e o funciona-mento parcial durante seis, no entanto, atrasaram a realização de serviços básicos da Universidade, como a entrega de diplo-mas, e adiaram o cumprimento de algumas das promessas de campanha de José Geraldo. A decana de Assuntos Comunitários, Rachel Nunes, acredita que, com a greve, projetos que poderiam ser concluídos este ano ficarão para 2011. “Os serviços internos da Universidade não funcionaram durante metade do ano, o que impediu o avanço de alguns projetos”, analisa.

Os 15 pontos Veja a seguir como está o cumprimento das promessas

feitas por José Geraldo aos estudantes durante a campa-nha eleitoral. A cor verde marca as promessas cumpridas; a amarela, as parcialmente atendidas; e a verde, as que seguem apenas como metas.

Aumentar os recursos para o Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Pibex)

O número de bolsas passou de 196 para 400. E o valor da bolsa subiu: de R$ 300, foi para R$ 360.

Garantir a manutenção do preço do RU, visando a redução de custos

O preço das refeições no Restaurante Universitário foi mantido. Estudantes, funcionários, professores e visitantes pagam entre R$ 0,50 e R$ 5, conforme o grupo a que pertençam.

Viabilizar o funcionamento do RU durante os fins de semana e as férias, bem como a expansão do horário de atendimento

O restaurante passou a servir café da manhã, das 7h às 9h. Também funcionou duran-te o período de férias deste ano e começou a atender aos sábados.

Viabilizar a criação de linhas gratuitas de transporte coletivo intercampi, que atendam às necessidades da comunidade universitária

Micro-ônibus da empresa de turismo Catedral já circulam pelos quatro campi da Universidade, em horários determinados. O serviço é gratuito e permanente. O que po-derá mudar são os ônibus: a prefei-tura do campus Darcy Ribeiro está estudando se seria mais econômico adquirir ônibus próprios.

Trabalhar em conjunto com o GDF para ampliar o número de linhas e paradas de ônibus na/para a UnB

Não houve ampliação do número de linhas, mas houve alteração de uma das linhas. Agora, a linha 110 passa em mais pontos no campus Darcy Ribeiro. Três paradas de ônibus foram construídas pelo Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans).

Reformular a bolsa-permanência de modo a vinculá-la às atividades de pesquisa, extensão ou estágio na área de conhecimento/formação do estudante, com duração de, no máximo, 20 horas semanais

A bolsa é uma ajuda a alunos carentes. Ainda não hou-ve mudança formal, mas as regras já foram alteradas, na prática. Caiu a exigência de que bolsistas façam trabalhos administrativos, e agora é aceito um relatório de ativida-des de extensão.

Renovar os computadores do Projeto Quiosque e criar centros de informática com acesso à internet

Os centros de informática não foram criados e a renovação dos computadores do Projeto Quiosque tem sido insuficiente.

Construir creche gratuita para filhos de professores, estudantes e técnicos administrativos

A creche não pode ser construída devido ao decreto nº 977/93, da Presidência da República, que proíbe a criação de novas creches dentro de órgãos públicos.

Criar um Centro Cultural e de Vivência na UnBFoi o construído o Beijódromo, centro de convivência

que homenageia Darcy Ribeiro.

Liberar a promoção de festas nos campiAcordo feito em julho entre prefeitura e diversos líderes

de centros acadêmicos liberou a realização de confrater-nizações com música alta após as 22h30, desde que a pre-feitura seja avisada com 48h de antecedência. A solução é provisória. O reitor José Geraldo afirmou ao Campus que pediu à prefeitura a criação de espaços específicos para re-alização de happy hours e confraternizações. Além disso, está prevista a formação de uma comissão pela Câmara de Assuntos Comunitários encarregada de fazer uma nova proposta para disciplinar as festas acadêmicas.

Reformar a parte externa do CO para permitir o uso da área por toda comunidade

Não houve reforma, mas o projeto do novo Centro Olím-pico foi entregue à Faculdade de Educação este mês. Com custo estimado de R$ 303 milhões, a reforma inclui a cria-ção de um ginásio para competições oficiais e de um centro náutico. As piscinas, quadras de tênis, pistas de atletismo e campos de futebol serão reformados. A previsão é que a obra seja concluída antes da Copa do Mundo de 2014.

por Gabriella FurquiM e tajla MeDeiros

Implantar a rede cicloviária no campus Darcy Ribei-ro, integrada à rede do Plano Piloto, e incorporar os demais campi às redes cicloviárias das respectivas cidades

A rede não foi implantada. O que existe é o Plano de Mobilidade da UnB, que prevê a criação de uma ciclovia por toda L3 com ligação à L2 e, ainda, a formação de qua-tro centros de empréstimos de bicicletas no campus Darcy Ribeiro. O plano será discutido no Conselho de Adminis-tração da UnB.

Criar linhas circulares internas e racionalizar os horários e itinerários das demais linhas de ônibus no interior do campus Darcy Ribeiro

Houve a mudança de horários e itinerários. Dois ônibus percorrem 22 pontos do campus Darcy Ribeiro. O número de viagens aumentou. Antes eram oito por dia, agora os ônibus passam nos pontos a cada meia hora. Não foram criadas novas linhas. Existe uma negociação entre DFTrans e prefeitura do campus para que a linha interna inclua a L2.

Projeto Renovação BCE: ampliar a compra de livros e periódicos, de modo a garantir progressiva atualização do acervo

No ano passado, foram adquiri-dos 2.406 livros a mais que em 2008. Neste ano, o acervo não foi aumen-tado. Para novembro, no entanto, está prevista a aquisição de 4.188 títulos, 6.760 a menos do que o adquirido no ano passado. A compra de periódicos caiu pela metade entre 2008 e 2009, e neste ano não foram adquiridos novos periódicos.

Reformar a CEU, de modo a ga-rantir condições de dignidade de vida e de sociabilidade juvenil

A reforma não foi feita, mas reitoria e estudantes entraram em acordo e o início das obras está marcado para o próximo mês de fevereiro. Durante a reforma, os estudantes da Casa do Estudante Universitário (CEU) serão retirados

dos prédios, mas cada um receberá um auxílio mensal de R$ 510 que deverá ser utilizado no pagamento do aluguel de apartamentos temporários. A reforma da CEU está or-çada em R$ 2,2 milhões. Um novo projeto, de construção de cinco blocos de moradias estudantis, está sendo elabo-rado, segundo o Decanato de Assuntos Comunitários.

Reitor avalia promessas feitas à comunidade acadêmica quando assumiu o mandato

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Propostas da chapa da eleição para reitor

rios exercendo a função de um servidor? Por que a UnB oferece cerca de 70 cursos pagos, se é pública? Onde está a reforma do pronto-socorro do Hospital Universitário (HUB), fechado há dois anos? E por que, nas eleições para reitor, o voto estudantil tem menor peso?

As promessas da campanha de José Geraldo foram apenas maquiagem. Um avanço incontestável em relação à gestão anterior, mas os principais problemas da Universidade não estão sendo resolvidos. Apenas a participação e a mobilização cotidia-na de todos nós que a construímos é que garantirão uma institui-ção realmente melhor.

Falta Muito Maispor thiaGo vilela

Page 7: Campus nº 351

7Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010

PolíticaPesquisadores contra burocracia

por juliana contaiFer e larissa leite

Especialistas aguardam mudanças na legislação que exige longoprocesso licitatório para aquisição de produtos e equipamentos

Conheça 10 projetos em tramitação na Câmara dos Deputados que propõem alterações na legislação

que trata de pesquisas em universidades

PL-6785/2010Prevê que a União incentivará intercâmbios de alunos

entre instituições federais do país, concedendo bolsas de estudos. O objetivo é articular as propostas curriculares e fortalecer a base comum de formação superior no país.

Autor: Felipe Maia (DEM-RN)

PL-3283/2008Proíbe que as instituições federais de ensino superior

e de pesquisa científica e tecnológica contratem fun-dações de apoio para serviços de limpeza, segurança e manutenção.

Autor: Rodrigo Rollemberg (PSB-DF)

PL-3039/2008Propõe que os contribuintes do Imposto de Renda

deduzam do imposto devido qualquer doação a pesquisas de caráter científico e tecnológico em instituições de ensi-no superior. A dedução não poderá ser maior de 6%.

Autor: Sandes Júnior (PP-GO)

PL-1120/2007Obriga as instituições públicas de ensino superior

a construir sistemas de informação que armazenam, preservam, organizam e disseminam os resultados de pesquisas técnico-científicas na internet.

Autor: Rodrigo Rollemberg (PSB-DF)

PLP-29/2007Cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientí-

fico e Tecnológico (FNDCT) para dar apoio financeiro a projetos e pesquisas de instituições públicas de ensino superior.

Autor: Dr. Ubiali (PSB-SP)

PL-205/2007Destina parte da arrecadação do Imposto de Renda

de quem recebe pagamento de instituições públicas de ensino superior para investimento exclusivo em pesquisa científica e tecnológica e extensão da própria instituição tributada.

Autor: Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)

PL-4285/2004Prevê que os recursos estrangeiros que entram no país

para fins de pesquisa e preservação da biodiversidade devem ser direcionados às universidades públicas ou

instituições de pesquisa federais, que devem coordenar e executar os trabalhos.

Autor: Carlos Eduardo Cadoca - PMDB-PE

PL-3476/2004Estabelece medidas de incentivo à inovação e à pes-

quisa científica e tecnológica, com o intuito de alcançar a autonomia tecnológica e o desenvolvimento industrial do país. Prevê estimulo à construção de lugares especializa-dos e à inovação nas empresas.

Autor: Poder Executivo

PL3229/2004Permite ao contribuinte, em caso de pessoa física,

deduzir do seu Imposto de Renda valor equivalente ao doado a instituições federais de ensino superior para fins de pesquisas de desenvolvimento científico e tecnológico.

Autor: Almir Moura (PL-RJ)

PL-6575/2002Propõe que o artigo que criou o Fundo Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico seja reescrito e passe a destinar pelo menos 70% dos recursos para insti-tuições de ensino superior e pesquisa do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por pelo menos cinco anos.

Autor: Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)

PROPOSTAS DE MUDANÇA

S er pesquisador no Brasil é um ofício complicado. Para concluir e publicar um trabalho, estudiosos são obriga-

dos a esperar de quatro meses a um ano - tempo que pode ser diferencial na corrida acadêmica – para conseguir adquirir produtos e maquinários para as pesquisas. “Os entraves burocráticos no Brasil colocam nosso nível de competição em pesquisa de ponta em um patamar muito menor”, lamenta Adriano Tort, professor de Neurociência da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Para finalizar o estudo, muitas vezes fica faltando só um equipamento ou produto químico. Sem essa pequena parte, a pesquisa fica travada e a publicação, adiada. A pesquisadora e diretora do Instituto de Biologia (IB) da Universidade de Brasília, Sonia Bao, explica a urgência que se tem em adquirir instrumentos para pesquisa. “Existe uma disputa de quem vai patentear primeiro. Literalmente, estamos correndo contra o relógio”, afirma. O mestre em química pela UnB Christian Brandão concorda com a professora. “Muitas vezes se perde um paper pela demora na conclusão das pesquisas. Pesquisa é também uma corrida, e tem prestigio quem publica mais.” Uma das maiores queixas é quanto à exigência de processo licitatório, que implica a realização de diversas etapas e o cum-primento de prazos longos.

E nem sempre o período de espera é recompensado. Sonia Bao define o processo de compra como “o barato que custa caro”. O projeto P-hall, do Instituto de Física (IF) da UnB, que está desenvolvendo um propulsor de plasma, enfrentou os entraves da licitação. “Tivemos alguns problemas na compra de equipamentos, dentre eles uma máquina de vácuo, que era necessária para os experimentos, e uma placa de computador

que controlaria os experimentos”, conta Diogo Nazzetta, aluno do sexto semestre de Engenharia Mecatrônica.

O pesquisador Adriano Tort, da UFRN, também questio-na a eficiência do processo. “Via licitação, acaba-se pagando mais”, afirma. O professor conta que, em pesquisa na internet, descobriu que os computadores que ele adquiriu por licitação tinham preços acima da média do mercado. Paga-se mais e os instrumentos, muitas vezes, não são os corretos para os objetivos do estudo. Sonia explica que a justificativa técnica, onde o pesquisador aponta a marca e modelo ideal para o trabalho, diminui a chance de receber um equipamento caro e que não serve para a pesquisa, mas é um processo ainda mais demorado, uma vez que a justificativa deve ser aprovada antes da compra.

Para pular etapas em casos de urgência, já é prática comum o investimento do professor-orientador na pesquisa, que paga equipamentos sem reembolso para que o estudo corra mais rá-pido. Sonia conta que já comprou reagentes para seus alunos. Isso ocorreu no projeto de P-hall. “Ano passado o professor-orientador chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para pagar algumas coisas do projeto”, lembra Nazzetta.

COMO RESOLVER A SITUAÇÃOAlguns projetos de lei que tramitam na Câmara dos Depu-

tados podem melhorar as condições de trabalho dos pesquisa-dores brasileiros. Uma das propostas, de autoria do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), prevê o fim do processo de licitação para a compra de equipamentos para fins científicos. A ideia

é mudar ao artigo 24 da lei 8.666, de 1993, e tornar a compra de produtos e reagentes químicos, maquinário e instrumentos destinados à pesquisa livre de licitações. “O excesso de buro-cracia atrasa as pesquisas, reduz a eficácia das organizações, aumenta os custos e pode significar perda de competitividade do Brasil e maior dependência por tecnologias geradas em outros países”, afirma o deputado.

Já não há necessidade de processo licitatório para pesqui-sas ligadas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamen-to de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), mas a intenção é incluir pesquisas que não sejam ligadas às agências de fomento nessa dispensa.

Cristovam Buarque, senador pelo PDT-DF e ex-reitor da UnB, concorda com a ampliação das licitações. “Sou favorá-vel à descentralização”, afirma. “O administrador que preste contas depois. No Brasil a gente fiscaliza demais e pune de menos.”

Atualmente, o projeto de Piau está na Comissão de Cons-tituição de Justiça e Cidadania (CCJC) aguardando parecer. O relator do processo não foi reeleito e, por isso, a discussão só deverá ocorrer no próximo ano. Cristovam considera a lentidão na tramitação de projetos como lamentável. “Tenho projeto que está tramitando há sete anos. A gente aprova pro-jeto de senador morto, é difícil apressar o processo.”

colaborou roDriGo antonelli

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A pesquisadora Sonia Bao, do Instituto de Biologia da UnB, reclama da demora para conseguir equipamentos de pesquisa

Equipamentos demoram de quatro meses a um ano para chegarem às mesas dos pesquisadores

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Page 8: Campus nº 351

8 Brasília, 16 a 29 de novembro de 2010

A Universitária do Próximopor GuilherMe pera

Mariana estava quase nua. Jorge, em cima dela. O Fiat Palio que o garoto ganhara dos pais por passar no vesti-

bular, estacionado na ala sul do Minhocão, era o palco. Como trilha sonora, a guitarra de David Gilmour em Shine On You Crazy Diamond.

O primeiro semestre de 2005 chegava ao fim e o garoto de 18 anos – calouro do curso de Letras da UnB – estava ansioso para perder a virgindade. Mariana, de mesma idade, era colega de curso e também virgem. Indiferente à presença de passan-tes e/ou voyeurs, Jorge beijava os lábios da companheira e acariciava os cabelos de Mariana.

A mão direita de Jorge agora descia pelo corpo de Mariana, enquanto ela sentia o abdômen do rapaz. “É verdade que as carícias eram, de certo modo, agressivas e apressadas, talvez pelo ardor do momento, talvez pela inexperiência”, lembra Jorge. Nada que atrapalhasse o momento do casal.

O Pink Floyd acompanhava o ritmo dos jovens universi-tários. A guitarrra agora era tão intensa quanto o prazer que Jorge sentia ao alcançar seu objetivo. “A primeira calcinha tirada a gente nunca esquece”, conta Jorge, parafraseando o publicitário Washington Olivetto.

Mariana desabotoava a bermuda xadrez de Jorge até passar pela roupa de baixo. Lentamente, com a apreensão da primei-ra vez, os sexos se aproximavam. Após alguns segundos de incerteza, numa mistura de prazer e um pouco de dor, Mariana sentiu Jorge. “Depois disso, namoramos por dois meses. Ela me fez sentir homem”, relembra com brilho nostálgico nos olhos o agora professor Jorge.

A UNB NÃO É SÓ ROMANCEOs cerca de 395 hectares do campus deixam grandes áreas

isoladas e bem exploradas pelos alunos. Provável formando de Desenho Industrial, João Roberto conhece bem a Universida-de. Ele conta a aventura vivida com a companheira Amanda no Lago Paranoá, arredores do Centro Olímpico. “Fizemos no lago. Não havia pessoas por perto, foi um momento só nosso”, conta sobre a área que outros alunos utilizam para a prática de caiaque pela manhã.

João Roberto foi além dos livros na Biblioteca Central dos Estudantes (BCE). No subsolo, há um corredor com salas de vídeo e de som. É com a chave delas nas mãos que os estudan-tes vão além do audiovisual. Para ter acesso ao escurinho do “cinema”, eles assinam um termo de responsabilidade pelos equipamentos e apresentam um documento com foto. Depois, como num motel, são duas horas para diversão. “É um belo de um esquema”, recomenda João Roberto.

Foi fora dessa sala que Patrícia, aluna de Educação Física, e o namorado deram outra função aos livros do acervo geral do subsolo da BCE, onde passam vários estudantes, para reali-

zar uma fantaria que já nutriam há tempos. “Foi um saboroso gosto de aventura”, lembra a universitária.

Localizado a leste da biblioteca, o Minhocão transforma centros acadêmicos e salas de aula em local de festa, nos cha-mados happy hours. Antunes é aluno de Comunicação Social. Após um happy hour do curso de Letras, ele, um amigo de fora da UnB e outro rapaz que conheceram na festa, resolveram fazer uma festa particular. “Arranjamos uma sala de aula vazia e fizemos um ménage à trois (sexo a três). Foi uma experiência bem interessante.”

Foi também num happy hour que Thamara e Fernando, alunos de Arquitetura e Comunicação Social respectivamen-te, resolveram explorar o então recém-inaugurado banheiro para deficientes do curso de Arquitetura. “Foi tenso. A gente chegou no começo da festa e já nos fechamos lá, sem perceber o quão frágil era a tranca. Tive que ficar o tempo todo seguran-do a porta para impedir que os curiosos entrassem. Ficamos a festa inteira lá dentro e depois saímos muito molhados”, conta Fernando. Coincidência ou não, o banheiro agora é interditado em festas.

Seja no estacionamento, no banheiro, na sala, nos livros ou nos vídeos, os universitários transam. No intransitivo. Permiti-do ou proibido; rápido ou devagar; hétero, bi ou homossexual; branco, negro, amarelo ou vermelho; com segurança ou com aventura, a UnB é quase um segundo lar para a prática sexual de vários estudantes.

Todos os nomes são fictícios

iúr

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Pes

iúr

i lo

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Uma página feita nas coxas,já que se trata do tema

“A primeira calcinha tiradaa gente nunca esquece”,

conta Jorge, parafraseando o publicitário Washington Olivetto