CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO · receptores (...) conjunto disperso e não...

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1 INTRODUÇÃO O interesse pela tradução jornalística me acompanha há tempo; por isso como futuro tradutor, escolhi esse tema como forma de reflexão sobre a prática tradutória, no gênero jornalístico. A forma como bons jornalistas tratam o texto e o desenvolvem é empolgante, indicando a necessidade de quem mexe com esse tipo de tradução de ter destreza e objetividade para levar a informação aos leitores de modo imparcial, na medida do possível. O texto jornalístico, por exemplo, não é muito extenso pelo fato de o jornal estar em circulação diariamente, diferentemente das revistas que circulam, em média, quinzenalmente. Por não ocupar muito espaço no jornal impresso, é necessário que o jornalista e/ou tradutor tenham um bom domínio integral do assunto e saibam definir todos os aspectos da matéria a ser impressa. No campo tradutório a ordem de ser fiel ao texto deve ser cumprida com seriedade quando tratamos de tradução jornalística. Se uma notícia é divulgada nos Estados Unidos e existe alguém responsável por traduzi-la para o português, a agilidade e fidelidade ao texto são indispensáveis. O tradutor não deve interferir de forma que expresse sua opinião ou modifique o sentido da notícia, afinal, trate-se de um fato e fato o próprio nome se auto-explica. Um único detalhe é que o tradutor, ao se deparar com uma notícia que contenha informações que não soam de maneira familiar aos leitores (da cultura alvo), deve, então, inserir uma nota explicativa para situacionar a leitura e, dessa forma, explicitar o enfoque do texto. Um exemplo interessante relacionado à tradução jornalística é o que aconteceu no Haiti. Após toda a recente catástrofe, a imprensa mundial se mobilizou para que se fizesse conhecido por todos de maneira abrangente o caos em que se encontrava aquele país. Redes de televisão, mídia impressa, organizações não governamentais, grandes empresas e pessoas influentes, valeram-se de todos os recursos, cada qual em seu lugar, para auxiliar o país por meio de uma mobilização global. Jornais importantes publicam grandes matérias, como por exemplo, o The New York Times, que fez uma grande cobertura e tem suas matérias traduzidas para inúmeros idiomas. Aqui no Brasil, um dos responsáveis por esse processo tradutório é o Portal IG – Último Segundo, que contribuiu para que o leitor brasileiro se 1

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1 INTRODUÇÃO

O interesse pela tradução jornalística me acompanha há tempo; por isso

como futuro tradutor, escolhi esse tema como forma de reflexão sobre a prática

tradutória, no gênero jornalístico. A forma como bons jornalistas tratam o texto e o

desenvolvem é empolgante, indicando a necessidade de quem mexe com esse tipo

de tradução de ter destreza e objetividade para levar a informação aos leitores de

modo imparcial, na medida do possível.

O texto jornalístico, por exemplo, não é muito extenso pelo fato de o jornal

estar em circulação diariamente, diferentemente das revistas que circulam, em

média, quinzenalmente. Por não ocupar muito espaço no jornal impresso, é

necessário que o jornalista e/ou tradutor tenham um bom domínio integral do

assunto e saibam definir todos os aspectos da matéria a ser impressa.

No campo tradutório a ordem de ser fiel ao texto deve ser cumprida com

seriedade quando tratamos de tradução jornalística. Se uma notícia é divulgada nos

Estados Unidos e existe alguém responsável por traduzi-la para o português, a

agilidade e fidelidade ao texto são indispensáveis. O tradutor não deve interferir de

forma que expresse sua opinião ou modifique o sentido da notícia, afinal, trate-se de

um fato e fato o próprio nome se auto-explica. Um único detalhe é que o tradutor, ao

se deparar com uma notícia que contenha informações que não soam de maneira

familiar aos leitores (da cultura alvo), deve, então, inserir uma nota explicativa para

situacionar a leitura e, dessa forma, explicitar o enfoque do texto.

Um exemplo interessante relacionado à tradução jornalística é o que

aconteceu no Haiti. Após toda a recente catástrofe, a imprensa mundial se mobilizou

para que se fizesse conhecido por todos de maneira abrangente o caos em que se

encontrava aquele país. Redes de televisão, mídia impressa, organizações não

governamentais, grandes empresas e pessoas influentes, valeram-se de todos os

recursos, cada qual em seu lugar, para auxiliar o país por meio de uma mobilização

global. Jornais importantes publicam grandes matérias, como por exemplo, o The

New York Times, que fez uma grande cobertura e tem suas matérias traduzidas para

inúmeros idiomas. Aqui no Brasil, um dos responsáveis por esse processo tradutório

é o Portal IG – Último Segundo, que contribuiu para que o leitor brasileiro se

1

informasse de tudo aquilo que publicou o jornal norte-americano à época. Essa foi

uma das maneiras pela qual a tradução, além de cumprir seu papel, também

mobilizou algumas pessoas e entidades para que ajudassem a amenizar tamanha

dificuldade. É evidente que vários países cobriram todo o fato, porém, nossa

contribuição geral neste trabalho é salientar a importância de uma tradução

jornalística para a sociedade. Entre essas situações e outras, mesmo em meio a

inúmeros infortúnios e dificuldades, o Haiti recebeu donativos e auxílios oriundos de

diversos lugares do planeta, visando contribuir com uma possível reestruturação

daquele local.

Algum tempo depois, já na América do Sul, o Chile passou por um problema

parecido, embora de menores proporções. Um terremoto assolou o país fazendo

com que a imagem do turismo ficasse comprometida. Como é um país que recebe

muitos turistas (em especial, os brasileiros), a preocupação com a imagem turística,

por assim dizer, foi o alvo principal. Nesse caso, a imprensa brasileira, de forma

geral, tratou do assunto de outra forma, isto é, os textos que nos chegaram

traduzidos preocuparam-se em noticiar o fato, cumprindo o papel fundamental de

imprensa e, a partir de então, evitou noticiar mais acerca do terremoto que agravou

o país. A razão é simples: Brasil e Chile têm fortes e estreitos laços comerciais, em

evidência o turismo. Partindo desse pressuposto, pode-se entender que não seria

interessante para o Brasil massificar a tragédia ocorrida com seu parceiro comercial

e, ao se traduzir uma notícia com toda essa cena, não era interessante salientar os

fatos trágicos, possível falta de estrutura para receber turistas e outras situações que

acarretariam uma maior dificuldade entre as partes: Brasil e Chile, nesse caso.

Dessa forma, o tradutor trabalha com fragmentos da notícia, procurando ser objetivo,

ao mostrar ao leitor apenas o necessário da matéria divulgada. Observa-se que a

tradução, neste caso, serve de veículo que não só informa, mas filtra as informações

para que o leitor receba o conteúdo veiculado em outra língua, mas sob certas

limitações.

Parte-se do pressuposto de que a prática de tradução, de modo geral, atende

sempre a interesses culturais, políticos e sociais da cultura alvo. Considerando-se tal

pressuposto, defende-se a hipótese de que o universo cultural do leitor define

determinadas escolhas e/ou tendências do tradutor, gerando abordagens e efeitos

de sentidos distintos para um mesmo fato noticioso.

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Os objetivos propostos são contribuir para a análise e tradução de textos

jornalísticos, dando ênfase ao processo tradutório desde a notícia na língua de

partida até a língua de chegada — entendendo nessa pesquisa, como a tradução

feita pelo Portal IG – Último Segundo, de notícias do jornal The New York Times —,

na internet. Busca-se também auxiliar futuros profissionais de tradução para que

aprimorem seu objeto de estudo, trabalho e suas competências interpretativas ao

traduzir um texto jornalístico, especificamente, de internet.

A análise dos fragmentos de notícias traduzidas sobre o terremoto no Chile,

extraídos de reportagens do jornal The New York Times e comparadas com as

respectivas traduções para o português do Brasil será o foco do trabalho que se

divide em três partes: no primeiro capítulo traremos um breve histórico das

especificidades do texto jornalístico e dentro dele algumas considerações sobre a

tradução jornalística; no capítulo seguinte, explicita-se a metodologia empregada e

os procedimentos de análise que culminarão com a apresentação de fragmentos de

textos extraídos do jornal supracitado em comparação com suas traduções para o

português do Brasil, no terceiro capítulo. Assim, no próximo capítulo, esboça-se um

sucinto histórico do texto jornalístico para, em seguida, proceder a uma abordagem

do tema específico de nossa proposta que é a tradução jornalística.

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2 O TEXTO JORNALÍSTICO

O texto jornalístico apresenta inúmeras diferenças quando comparado a um

texto literário, como a concisão, objetividade e clareza no desenvolvimento do

assunto. Por ser um texto direcionado ao público de maneira geral, uma linguagem

direta e simples é adotada. A informação é o objetivo primordial de um texto

jornalístico, que também considera a formação de opinião dos leitores em geral.

Na definição do teórico da Comunicação Nilson Lage, no livro Linguagem

Jornalística (1990, p. 35), o texto jornalístico precisa ser submetido constantemente

à crítica, que remove o entulho e repõe vida às palavras. Para o autor,

O texto jornalístico procura conter informação conceitual, o que significa suprimir usos lingüísticos pobres de valores referenciais, como as frases feitas da linguagem cartorária. Sua descrição não se pode limitar ao fornecimento de fórmulas rígidas, porque elas não dão conta da variedade de situações encontradas no mundo objetivo e tendem a envelhecer rapidamente.

Para que um texto jornalístico mostre sua excelência, é preciso que o escritor

esteja envolvido de forma completa com aquilo que está em foco. Segundo Lima, “o

jornalista tem que estar a par das coisas, estar bem informado para poder informar.

É para isso que ele tem que viver no meio dos acontecimentos, em pleno fluxo vital”

(LIMA, 1990 p. 22).

Em comentário realizado para o Manual de Redação da Folha de São Paulo, a professora e jornalista Iraildes Dantas de Miranda define o texto jornalístico:

Um bom texto jornalístico depende, antes de mais nada, de clareza de raciocínio e domínio do idioma. Não há criatividade que possa substituir esses dois requisitos. Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por meio de encadeamentos lógicos. Deve ser exato e conciso. Deve estar redigido em nível intermediário, ou seja, utilizar-se das formas mais simples admitidas pela norma culta da língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e que cada frase contenha uma só idéia. Verbos e substantivos fortalecem o texto jornalístico, mas adjetivos e advérbios, sobretudo se usados com frequência, tendem a piorá-lo. O tom dos textos noticiosos deve ser sóbrio e descritivo. Mesmo em situações dramáticas ou cômicas, é essa a melhor maneira de transmitir o fato da emoção. Deve evitar fórmulas desgastadas pelo uso e cultivar a riqueza dos vocábulos acessíveis à média dos leitores. O autor pode e deve interpretar os fatos, estabelecer analogias e apontar contradições, desde que

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sustente sua interpretação no próprio texto. Deve abster-se de opinar, exceto em artigo ou crítica.

Segundo Gomes (2002, p. 19), antes de registrar e informar, “o jornalismo é

ele próprio um fato de língua”, cujo papel ou função na instituição social é organizá-

la discursivamente. Para Silva (2002, p. 8), a linguagem ou discurso jornalístico é um

elemento que auxilia a busca de respostas para compreender, o que denomina de

“matéria do jornalismo”. A inserção do texto jornalístico exige que os profissionais da

imprensa obedeçam a padrões institucionais estabelecidos, visando informar e

formar o cidadão. Apresentamos, a seguir, alguns desses padrões citados por Lage

(1997), demarcando a linguagem (ou o discurso jornalístico):

• Factual – busca se ater à veracidade dos fatos e à certeza das fontes.

Seu caráter informativo deriva de sua referencialidade, do contexto.

Corresponde à função descritiva da língua, aquela que se reporta ao

mundo objetivo dos acontecimentos, exterior ao processo de

comunicação, aquela que encontra na fotografia a comprovação do real.

Na opinião de Lage (1997, p. 38), a linguagem jornalística é a conciliação

entre a norma da língua padrão (vigente através dos manuais de redação)

e o registro coloquial: “ela é basicamente constituída de palavras,

expressões e regras combinatórias que são possíveis no registro

coloquial e aceitas no registro formal”. Para Gomes (2002, p. 20) “é a

confirmação da aliança social”, exercendo o que a autora chama de

“função testemunhal”;

• Objetiva – não é partidarista, mas imparcial, sem juízos pessoais;

informa ao invés de persuadir; é direta, simples, de fácil e rápida

compreensão pelo leitor; posiciona as informações mais importantes

primeiro. Sobre isso Lage (1997, p. 40) comenta: “A situação corrente em

jornalismo é a de um emissor falando para um grande número de

receptores (...) conjunto disperso e não identificado, cujo conhecimento só

é possível por amostragem estatística”. Tal fato pressupõe, segundo o

autor que, adjetivos testemunhais (grande salário, edifício alto, episódio

chocante) e aferições subjetivas devem ser eliminados, pois dependem

essencialmente do juízo e valores do jornalista e, substituídas por dados

que permitam ao leitor tirar suas próprias conclusões, ou seja, o

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jornalismo descreve, não classifica. Ainda segundo o autor, “o texto

jornalístico procura conter informação conceitual, o que significa suprimir

usos linguísticos pobres de valores referenciais”, evitando o uso de frases

feitas (LAGE, 1997, p. 36);

• Justa – Deve ouvir e investigar todos os lados e posições envolvidas

para, então, reportá-las igualmente, com equilíbrio. Não deve ser

intencionalmente vaga ou ambígua, nem tão pouco fazer pré-julgamentos.

• Acessível – Na opinião de Lage (1997, p. 38), a linguagem jornalística é

a conciliação entre a norma da língua padrão (vigente através dos

manuais de redação) e o registro coloquial: “ela é basicamente constituída

de palavras, expressões e regras combinatórias que são possíveis no

registro coloquial e aceitas no registro formal”. A princípio não utiliza

termos técnicos; porém, se utilizá-los, deve explicá-los, ou estabelecer

comparações para facilitar a compreensão do leitor sem, no entanto,

subestimá-lo empregando linguagem muito simplificada;

• O uso da terceira pessoa (ele/ela) é obrigatório porque fala de algo no

mundo, exterior ao emissor, ao receptor e ao processo de comunicação

em si, à retórica referencial apoiando-se no contexto (LAGE, 1997, p. 39).

Já os números, conferem alta confiabilidade, exatidão, apuração. Para

Gomes (2002, p. 21), isso equivale à função de vigilância exercida pela

imprensa (ou quarto poder, no sendo comum); um jornalismo de

observação e denúncia do exercício do poder. E, finalmente, quanto a

questões ideológicas, Lage admite que “as grandes e pequenas questões

da ideologia estão presentes na linguagem jornalística, porque não se faz

jornalismo fora da sociedade e do tempo histórico” (LAGE, 1997, p. 42).

Segundo Lima, citado anteriormente, a relação entre emissor/receptor

(jornalista/público leitor) deve ser priorizada: “pois a informação – como tradução

intensiva do acontecimento para a comunicação com o Outro, se desdobra em

informação. Isto é, em formação do público. (...) É a grande finalidade moral e social

do jornalista, que vai além da finalidade puramente informativa”. (LIMA, 1990, p. 22)

Já para Rossi (1988, p. 30), jornalista de renome, “a função do jornal ou de

qualquer publicação não é apresentar textos de grande originalidade, mas

simplesmente apresentar bons textos, com muita informação e rigorosa exatidão”.

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2.1 Breve histórico da tradução jornalística

O mundo vive num ciclo de mudanças. Tais mudanças acontecem nos

seguintes aspectos: cultural, moral, psicológico, social, econômico, literário,

comportamental, político, dentre outros. Em algumas situações as mudanças

irrisórias não alteram a rotina de um povo ou a maneira de pensar do mesmo; já em

outras, as mudanças podem ser radicais, e como tais, muitas situações tomam

rumos diferentes e inovadores.

O visionário Gutenberg viu que algo precisava ser modificado e, por

conseguinte, melhorado. Ele inventou a imprensa e as informações começaram a

ser movimentadas com muito mais velocidade. Um passo importantíssimo e

fundamental para que, eventualmente, a imprensa se fortalecesse e agregasse mais

conteúdos informativos. Já no século XIX a Revolução Industrial contribuiu para o

fortalecimento da imprensa, como de várias outras áreas, promovendo com mais

potencialidade a impressão de livros e buscando assim uma sistematização da mídia

impressa.

A tradução jornalística é, portanto, uma abordagem nova que se propõe à

ampliação de conceitos vigentes na área de tradução e do entendimento da tarefa

do tradutor, em textos jornalísticos de informação, invariavelmente sob a influência

de aspectos culturais e contextuais.

O tempo passou a dar as coordenadas de maneira mais intensa, pois os

computadores entraram em fase de criação, e assim, a troca de informações e o

envio das mesmas ficaram ainda mais rápidos. E, nas últimas cinco décadas, a

tecnologia teve um avanço tremendo (e continua até o presente momento)

provocando assim uma nova revolução social.

A internet está nas artérias da humanidade nos dias de hoje e, obviamente,

quando a inventaram, ela não tinha essa presença tão maciça. Tinha a serventia

somente para as universidades e bases militares americanas. O governo protegia

suas informações secretas e poderia acessá-las de qualquer outra localidade, pois

tais dados estavam ligados pela rede mundial de computadores. E, como toda

revolução passa por um processo gradativo de evolução, com a internet não foi

diferente. Assim, os jornais ganharam espaço na rede mundial de computadores e

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aqueles com maior circulação pelo mundo, foram vistos com bons olhos pela

tradução, para que chegassem a vários outros países via internet. Vivendo num

mundo globalizado onde grande parte das notícias é de interesse de inúmeros

leitores de todos os lugares do mundo, houve então, essa necessidade. A internet

teve sua explosão, por assim dizer, em meados dos anos noventa. Essa intensidade

de informações, globalização e tudo mais, abriram espaço para um canal muito

importante: justamente a tradução jornalística. Os grandes portais de notícias se

estabeleceram e, assim também, grandes revistas e jornais viram na rede mundial

de computadores uma chance de alcançar o leitor em qualquer lugar do mundo.

Assim, os grandes jornais de outros países (salientamos o norte-americano The

New York Times) também viram nessa explosão virtual uma oportunidade para

alcançar seus leitores de mídia impressa e outros interessados. Como citamos

acima, por estarmos num mundo globalizado, as notícias que ocorrem no Japão, por

exemplo, podem interessar aos italianos. Assim como as notícias que ocorrem na

Rússia, podem interessar ao público leitor brasileiro. O Portal IG – Último Segundo,

que vamos abordar na presente pesquisa, acordou com o jornal norte-americano

The New York Times a realização da tradução das notícias divulgadas pelo jornal

para internet. Assim, os portais de internet seguem traduzindo os jornais do mundo

todo e passando as notícias para o público leitor interessado.

Portanto, as revoluções em todos os segmentos causam inovações. Na

tradução jornalística, impulsionaram mecanismos para que a informação chegasse

com velocidade, qualidade e estivesse presente em vários países, com acesso

facilitado para pessoas que se interessam por notícias que acontecem pelo mundo e

também assuntos regionais de determinado país ou região. Após esse breve relato

sobre a história da tradução jornalística, vamos salientar alguns pontos importantes

do texto jornalístico, suas características e peculiaridades que abrangem essa área.

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2.2 A tradução jornalística

Relacionar a importância do papel da tradução na área da comunicação, que

deve ser objetiva e precisa, num português informativo do texto.

A tradução tem um campo muito grande de atuação. Além de um

conhecimento cognitivo, o tradutor deve buscar meios técnicos de aprimoramento

para que o texto a ser traduzido seja compreendido e, a partir de então, trabalhado.

Wyler (2003, p. 36) descreve o primeiro ato de tradução da nossa história partindo

de um fato-fonte: a carta de Pero Vaz de Caminha, ao rei de Portugal, na qual

Caminha relata a chegada à nova terra, os habitantes, os atos de índios, certamente

teríamos o mesmo fato/evento descrito a partir de outra ótica peculiar,

provavelmente relatando o estranhamento aos costumes e modos dos portugueses.

Ao buscar uma análise para estudo da tradução jornalística, há certa

dificuldade com o tema, pois conteúdo escasso nessa área dificulta a pesquisa de

forma mais abrangente. José Guillermo Culleton, em sua tese, compartilha

informações que julgamos fundamentais para o entendimento do contexto no qual se

situa a tradução jornalística: “A falta de uma bibliografia específica para a tradução

jornalística é unanimidade entre os estudiosos da tradução. Num artigo publicado na

Internet, o professor de jornalismo Bernardino M. Hernando, da Universidad

Complutense de Madrid (2000) confirma a quase inexistência de textos ou livros

sobre o assunto:

Surpreendem os poucos sinais de interesse pelo jornalismo ligado à tradução para o campo de pesquisas linguísticas, mesmo que muitos artigos de jornal, por séculos, resultem em grande parte uma ligação próxima com a tradução.

Numa nota de rodapé, o mesmo autor acrescenta:

Na bibliografia mais completa sobre a tradução que conhecemos, a de Julio-César Santoyo (Santoyo, 1996ª), dos cerca de 5.000 títulos que trazem (livros e artigos), apenas uma dúzia de estudos referem-se a imprensa e tradução (Hernando, 2000). (Ambas as traduções são do autor).

Como até o presente momento a literatura especializada mostra apenas

estudos superficiais sobre a tradução de textos jornalísticos, existe a necessidade de

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investir numa pesquisa mais profunda, que poderia levar a uma análise de

tendências apresentadas pelos tradutores e de uma possível existência de praxe

tradutória na imprensa.

Como descrito acima, é necessária que a pesquisa nessa área seja mais

difundida para que, os pesquisadores, apresentem resultados mais abrangentes e,

dessa forma, deixem mais consistente a área de tradução jornalística.

A tradução jornalística é, portanto, uma abordagem nova que se propõe à

ampliação de conceitos vigentes na área de tradução e do entendimento da tarefa

do tradutor, em textos jornalísticos de informação, invariavelmente sob a influência

de aspectos culturais e contextuais.

2.3 A intersecção entre texto jornalístico e tradução

A tradução jornalística tem características que a diferencia da tradução de

não-ficção originadas nas peculiaridades da atividade jornalística como a busca pela

informação resumida e a falta de um contexto claro, deixando implícitos certos

dados. Estas particularidades muitas vezes dificultam o entendimento do texto de

chegada. Por isso, a necessidade da concisão e objetividade deve ser sempre

levada em consideração num processo tradutório no campo jornalístico. Para Nord,

a tradução deve conter o máximo de informações sobre os fatores situacionais da

recepção prospectiva do texto traduzido, tais como: o público idealizado ou os

possíveis receptores, tempo e lugar da recepção, meio, etc. Nord (1991, p. 28)

enfatiza:

A tradução é sempre realizada para uma situação alvo com seus fatores determinantes (receptor, momento e lugar da recepção, etc.), na qual o texto-alvo está possibilitado a cumprir certa função que pode e, de fato, deve ser especificada durante seu desenvolvimento.

Nord (1991, p. 4) entende a tradução como “comunicação intercultural”, que é

marcada culturalmente e tem seus propósitos baseados no leitor em prospecção. A

comunicação ocorre entre as duas culturas que estão envolvidas na transmissão da

mensagem, e o texto só poderá ser entendido e analisado dentro e em relação ao

contexto dessa comunicação.

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Culleton (2005, p. 32), traz uma citação que julgamos interessante de Osimo,

cujo professor faz uma análise detalhada dos problemas que envolvem a tradução

jornalística. Segundo Osimo (apud Culleton, 2005, p. 32):

À primeira vista, pode-se pensar que o texto jornalístico, ao expressar dados ou informar, é puramente denotativo, portanto, relativamente fácil de traduzir em termos de estilo e sintaxe, com algumas dificuldades no vocabulário eventualmente. Na verdade, os textos de um jornal são heterogêneos, para não mencionar a revista semestral, mensal ou semanal, que muitas vezes contêm muito poucos textos jornalísticos, ou seja, que poderiam perfeitamente parecer publicações não periódicas. (Tradução do autor).

O tradutor ao se deparar com um texto jornalístico para ser traduzido deve

levar em conta as características que enolvem tal tipo de texto. Analisando a ideia

de que o texto de jornal é objetivo e conciso, assim também deve ocorrer no

processo tradutório, passando ao leitor a notícia de maneira clara. Considerando a

intersecção da tradução e jornalismo em aspectos culturais, é importante que o

tradutor aborde tais aspectos, buscando situacionar o leitor, porém sem causar

interferencias na proposta da notícia.

No próximo capítulo, descrever-se-à a metodologia empregada na pesquisa e

os procedimentos de análise adotados.

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3 METODOLOGIA

A pesquisa fez uma breve revisão bibliográfica sobre o texto jornalístico e a

tradução jornalística. Em seguida, foi feita a seleção das notícias em inglês e a

localização de sua respectiva tradução. A fonte de notícia escolhida foi o jornal The

New York Times, de janeiro e fevereiro de 2010. Já as respectivas traduções das

notícias foram selecionadas no Portal IG – Último Segundo, das mesmas datas ou

próximas delas.

A temática escolhida para a análise refere-se a duas catástrofes de grandes

dimensões, o terremoto no Haiti (janeiro/2010) e o do Chile (fevereiro/2010).

Os procedimentos de análise seguirão o processo de cotejamento entre

notícia em inglês e em português, buscando semelhanças e diferenças, muitas

vezes bastante sutis no enfoque dado à situação tratada.

Dessa forma, traremos sempre o texto original, extraído das fontes

supracitadas, em seguida a respectiva tradução também já indicada.

3.1 Descrição do corpus

O corpus consiste de duas notícias, extraídas do jornal The New York Times

em inglês e suas respectivas traduções para o português. Elas foram selecionadas

por tratarem de temáticas semelhantes: catástrofes ambientais. A primeira delas, de

grande dimensão foi o terremoto no Haiti (janeiro/2010); a segunda, também

catastrófica foi o terremoto do Chile (fevereiro/2010);

1. THE NEW YOR TIMES. “Haiti’s Children Adrift in World of Chaos”.

Disponível em: http://www.nytimes.com/2010/01/27/world/americas/27children.html

2. PORTAL IG – Último Segundo. “Terremoto do Haiti deixa crianças à deriva

em um mundo de caos.” Disponível em:

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/terremoto+do+haiti+deixa+criancas+a+deri

va+em+um+mundo+de+caos/n1237592079105.html

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3. THE NEW YORK TIMES. “A Devastating Earthquake”. Disponível em:

http://www.nytimes.com/2010/02/world/americas/chile/earthquake.html

4. PORTAL IG – Último Segundo. “Um terremoto devastador”. Disponível em:

ultimosegundo.ig.com.br/terremoto...chile/terremoto...chile.../n1237584578768.html

No próximo capítulo apresentaremos alguns exemplos de fragmentos de

textos extraídos do jornal The New York Times, para, em seguida discutirmos as

traduções apresentadas pela imprensa brasileira e nossas considerações sobre o

assunto.

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4 ANÁLISE: FRAGMENTOS

A proposta que apresento neste trabalho é uma breve análise resultante da

comparação entre fragmentos de notícias extraídas do jornal The New York Times

em sua versão para internet e suas respectivas traduções realizadas pelo Portal IG –

Último Segundo, também divulgadas na internet. A análise visa ratificar a hipótese

da pesquisa de que é o universo cultural do leitor da língua de chegada que vai

definir as escolhas e/ou tendências de quem traduz; daí que para um mesmo fato,

pode haver abordagens e efeitos de sentido distintos. A abordagem do tradutor do

fato trabalhado envolve algumas situações que chamaremos atenção e, assim,

vamos buscar contribuir para seguir a proposta apresentada neste estudo.

Vamos reproduzir os fragmentos de notícia em inglês e português e, em

seguida, tecer alguns comentários. Começaremos com nosso primeiro recorte do

jornal norte-americano The New York Times: “Haiti’s Children Adrift in World of

Chaos”.

4.1 FRAGMENTO 1:

Haiti’s Children Adrift in World of Chaos

CROIX DES BOUQUETS, Haiti — Not long after 14-year-old Daphne Joseph escaped her collapsed house on the day of the earthquake, she boarded a crowded jitney with her uncle and crawled in traffic toward the capital, where her single mother sold beauty products in the Tête Boeuf marketplace. “Mama,” she said she repeated to herself. “Mama, I’m coming.” Abandoning the slow-moving jitney, Daphne, petite and delicate, got separated from her uncle and jumped onto a motorcycle-for-hire. She arrived alone at a marketplace in ruins and ran, in her dusty purple sandals, toward a pile of debris laced with “broken people,” she said.

TRADUÇÃO

Terremoto do Haiti deixa crianças à deriva em um mundo de caos

Pouco depois que Daphne Joseph, de 14 anos, escapou dos escombros de sua casa no dia do terremoto, ela embarcou em um ônibus abarrotado ao lado de seu tio e se arrastou em trânsito lento para a capital, onde sua mãe solteira vendia produtos de beleza na feira Tete Boeuf.

"Mamãe", ela repetia. "Mamãe, eu estou chegando”.

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Ao sair do coletivo, Daphne se perdeu de seu tio e pegou um moto-táxi. Ela chegou sozinha na feira em ruínas e correu para uma pilha de escombros cheia de "pessoas quebradas", ela disse.

4.1.1 Análise do fragmento: – Estratégia tradutória empregada:

omissão.

Nessa primeira parte, vemos uma tradução que se preocupou em relatar o

fato apenas, sem qualquer descrição da personagem. Como a notícia feita pelo

jornal americano valeu-se de uma forma de narrativa, descrevendo a garota Daphne

e sua trajetória em busca da mãe, a qual ela não encontrou com vida. A intenção

parecia seguir uma linha cronológica para situar o leitor e enfatizar o acontecimento,

ou seja, a orfandade da criança. As falas da garota e todas as sensações relatadas

pelo The New York Times foram também reproduzidas de maneira eficaz pelo Portal

IG – Último Segundo. No entanto, o embora buscasse seguir normas que um texto

jornalístico exige, de objetividade e clareza para situacionar o leitor, deixou a

desejar, no sentido que, omite as descrições. O jornal americano apresenta a

descrição detalhada da garota, com suas sandálias roxas empoeiradas, cita que é

uma garota pequena e delicada, salientando toda essa fragilidade que, por sua vez,

é omitida pelo tradutor. Talvez por pensar que não houvesse necessidade de

detalhar, tirando assim o foco da garota e apenas colocando na situação em si?

Qual a finalidade do tradutor em não mostrar ao leitor todo o cenário da notícia,

omitindo fatos que marcam a personagem principal salientada em detalhes pelo

jornal americano?

4.2 FRAGMENTO 2

Haiti’s Children Adrift in World of Chaos

Two weeks after the earthquake, with the smell of death still fouling the air, children can be seen in every devastated corner resiliently kicking soccer balls, flying handmade kites, singing pop songs and ferreting out textbooks from the rubble of their schools. But as Haitian and international groups begin tending to the neediest among them, many children are clearly traumatized and at risk.

“There are health concerns, malnutrition concerns, psychosocial issues and, of course, we are concerned that unaccompanied children will be exploited by unscrupulous people who

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may wish to traffic them for adoption, for the sex trade or for domestic servitude,” said Kent Page, a spokesman for Unicef.

TRADUÇÃO

Terremoto do Haiti deixa crianças à deriva em um mundo de caos - Portal IG - Último Segundo

Duas semanas depois do terremoto, com o cheiro de morte ainda impregnado no ar, crianças podem ser vistas em cada canto devastado de forma resistente jogando futebol, empinando pipas, entoando músicas populares e coletando livros de ensino de escolas desmoronadas. Mas conforme grupos haitianos e internacionais começam a cuidar dos mais necessitados entre elas, muitas crianças se mostram claramente traumatizadas. "Há preocupações de saúde, preocupações de desnutrição, questões psicossociais e, claro, nós tememos que crianças desacompanhadas sejam exploradas por pessoas sem escrúpulos que podem querer traficá-las para adoção, para o comércio sexual ou para a servidão doméstica", disse Kent Page, porta-voz da Unicef.

4.2.1 Análise do fragmento: – Estratégia tradutória empregada:

erros de tradução e/ou amenização.

O recorte acima relata que, um tempo após a tragédia, as crianças podiam

ser vistas de forma resistente, com suas brincadeiras e jogos, cantando canções

populares. Nesse aspecto o Portal IG – Último Segundo traduziu o termo “resiliently”

por “resistentes”, quando na verdade, o termo em inglês propõe que as crianças

estavam enfrentando toda a situação adversa de maneira paciente, sem maturidade

o suficiente para compreender tudo o que a catástrofe envolvia, justamente com um

comportamento infantil, e não de forma resistentes como se compreendessem todo

o contexto e complicações resultantes da catástrofe. Em outro momento, o tradutor

coloca o termo “ferret out” como “coletar”, amenizando o real sentido da expressão

em inglês, que afirma, na matéria, que as crianças estavam desenterrando os livros

dos escombros, onde antes, havia uma escola. Na sequência, temos a tradução de

algumas palavras ditas pelo porta-voz da Unicef, Kent Page, onde ele relata sobre

os riscos que essas crianças correm, seja na exploração do mercado sexual ou

servidão doméstica. O tradutor usou alguns termos que gostaríamos de salientar. No

original, “unaccompanied children” foi traduzido por “crianças desacompanhadas”.

Nesse caso, o tradutor poderia trazer um termo mais adequado para o português,

como “crianças que perderam os pais”, por exemplo. Essa é uma sugestão apenas.

No geral, o Portal IG – Último segundo traduziu de forma jornalística, sem interferir

com opinião pessoal em textos informativos e/ou relatos e demonstrou objetividade

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para com o leitor. O jornal americano trouxe na notícia essa infeliz ligação entre

crianças órfãs e o mercado de pessoas inescrupulosas que traficam menores para o

comércio sexual e/ou trabalho.

4.3 FRAGMENTO 3

Haiti’s Children Adrift in World of Chaos

Child-welfare organizations have focused their initial efforts on orphaned children and those who have been separated from their families. They started Tuesday to compile a registry, sending workers into the streets to collect information for a database, in which each child would be assigned a numbered file to help track their cases, said Victor Nyland of Unicef, a senior adviser for child protection and emergencies. Such a registry was used in the Indonesian province of Aceh after the 2004 tsunami to help reunite separated families.

TRADUÇÃO

Terremoto do Haiti deixa crianças à deriva em um mundo de caos

Organizações de bem-estar da criança têm concentrado seus esforços iniciais nos órfãos e naqueles que estão separados de suas famílias. Na terça-feira, eles começaram a compilar um registro, enviando voluntários às ruas em busca de informação para um banco de dados no qual cada criança terá uma arquivo numerado para ajudar a localizar o seu caso, disse Victor Nyland da Unicef. Tal registro foi usado na província indonésia de Aceh após o tsunami de 2004 pra ajudar a reunir famílias separadas.

4.3.1 Análise do fragmento: – Estratégia tradutória empregada:

literalidade.

No começo do fragmento, vemos que a notícia fala que organizações têm

buscado ajudar essas crianças necessitadas, e, uma das formas, é a de organizar

um arquivo para que eles possam cuidar e localizar cada caso de maneira

específica, auxiliando assim as crianças. Na tradução, o tradutor apenas omitiu a

função que ocupa Victor Nyland, da Unicef, que faz parte do conselho de proteção a

crianças em casos emergenciais, como o do Haiti, que estamos tratando nessa

pesquisa. Nesse recorte, o tradutor usou da literalidade. Passou o fragmento com

clareza e objetividade, traduzindo as citações e detalhes que o jornal americano

salientou na notícia.

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4.4 FRAGMENTO 4

Haiti’s Children Adrift in World of Chaos

In this city, Daphne was one of 25 newly orphaned children in the care of a local organization called Frades, a collective that does everything from providing microloans to serving hot meals.

“I know we can’t replace their parents,” said Pierre Joseph, a psychologist there. “It’s an intimate loss. But we will do our best to help these kids have a future. We will find a way to create an orphanage for them.”

Early this week, the children, ages 4 to 14, slept huddled together for warmth under bed sheets slung over branches in a tent city on the paved grounds of a damaged school. Young adults took turns looking after them. During the day, the counselors brought them to a walled construction site strewn with rusty cans and broken glass — the only private space they could find — and tried to distract them with singing and clapping games.

4.4.1 Análise do fragmento: – Estratégia tradutória empregada:

omissão.

O recorte acima foi totalmente omitido pelo Portal IG. Aqui o jornal norte-

americano fala sobre o trabalho que equipes de psicólogos realizam, buscando dar

auxílio às crianças. Tais profissionais reconhecem que é impossível substituir os

pais das crianças, mas sim para ajudá-los nesse caos aparentemente sem limites.

Alguns jovens haitianos também prestam auxílio às crianças necessitadas. Eles

buscam formas de entretenimento com os pouquíssimos recursos disponíveis.

Nesse caso, o tradutor preferiu não fazer a tradução. Seria audacioso afirmar o

motivo pelo qual o profissional não realizou a tradução. Será que o tradutor julgou

que a o trabalho de tradução era suficiente? Qual o real motivo de simplesmente não

traduzir um fragmento de notícia? Se, como trouxemos nos aspectos teóricos do

nosso estudo, o texto jornalístico deve ser objetivo e claro, assim como sua

tradução, por quê o tradutor não cumpriu esse requisito ao omitir o último trecho da

notícia?

Considerações finais sobre a tradução dos fragmentos selecionados a partir do terremoto no Haiti.

A tradução realizada pelo Portal IG – Último Segundo da matéria publicada na

internet pelo jornal The New York Times enfatizou os procedimentos que a Unicef

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adotou para a ajuda e proteção das crianças que perderam seus entes queridos no

desastre que assolou o Haiti. A notícia destaca uma breve narrativa do fato e coloca

em evidência algumas pessoas que viveram aquele momento trágico. O tradutor, por

sua vez, fez uma tradução concisa, abordando os principais fragmentos da notícia

para dar ao leitor uma visão de contexto e, a partir daí, finalizar a tradução como que

ele julgou adequado, afinal, houve omissão no último trecho. Em outros momentos

ele preferiu por não traduzir alguns pontos, como detalhes da notícia, por exemplo, e

também houve equívoco na tradução de alguns termos que, no original, foram

bastante detalhados pelo jornal The New York Times. Ele também evidenciou o

trecho da matéria em que trata das ações da Unicef (citados na análise acima) e de

outras organizações que visam auxiliar os desamparados, especialmente as

crianças e adolescentes que se encontravam em situação absolutamente insegura.

Como citado no início dessa pesquisa, subentende-se que o tradutor fez com

que a atenção do texto se dividisse em duas etapas fundamentais de compreensão

para o leitor. A primeira é deixar exposta a situação a garota se encontrava, após

isso ele salienta a necessidade do país na melhoria de seus recursos de saúde

pública e cuidados com os desamparados oriundos do terremoto, conforme texto

original. Na segunda parte ele chama a atenção para o trabalho realizado pelas

organizações que buscam cuidar, ou ao menos colaborar, com esse quadro trágico.

Para o leitor, ao se deparar com uma sequência de informações sobre atos

humanitários, a ideia é levá-lo a mínima reflexão sobre o assunto e, de preferência,

tomar partido em ajudar.

Pensando em termos de quantidade de palavras, a estratégia de omissão se

confirma ainda mais quando nos deparamos com os números. O trabalho de

tradução realizado mostra a que o texto original publicado pelo jornal norte-

americano The New York Times contém 1.164 palavras, já o texto traduzido para o

português pelo Portal IG – Último Segundo trouxe apenas 398 palavras. A que se

deve tal fator? A tradução representa aproximadamente 33,5% de toda a matéria.

Por ser um texto de caráter informativo será que o tradutor entendeu que

aproximadamente 1/3 da tradução seria suficiente para que o leitor captasse o

objetivo da notícia e entendesse com clareza? Deixamos aqui uma questão para

reflexão em cima da redução no processo tradutório em textos jornalísticos. Será

que essa redução/omissão tem algum objetivo? Se sim, qual seria?

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Vamos agora para a análise do recorte jornalístico do segundo texto do jornal The New York Times: “A Devastating Earthquake”. Em seguida, traremos os recortes, suas respectivas traduções e vamos tecer alguns comentários.

4.5 FRAGMENTO 5

A Devastating Earthquake

The toll from the February 8.8-magnitude earthquake — mostly in the country's main wine-growing area — has been estimated at 279. In scenes reminiscent of the frantic rescue efforts following January's less intense but far more deadly earthquake in Haiti, rescuers with trained dogs and search equipment hunted through the rubble of collapsed houses and apartment buildings in search of survivors. In the waning days of presidency, Ms. Bachelet dispatched thousands of troops to the hardest-hit areas to restore order and help distribute aid.

TRADUÇÃO

Um terremoto devastador

O número de mortos do terremoto de magnitude 8,8 em fevereiro atingiu principalmente a área mais movimentada do país. Em cenas fortes que lembram resgates após um intenso terremoto, mostram os profissionais fazendo as buscas com cães treinados e todos os equipamentos necessários entre os escombros de casas destruídas e prédios, em busca de sobreviventes. Nos últimos dias de Presidência, Bachelet mandou milhares de soldados para as áreas mais afetadas para restaurar a ordem e ajudar a distribuir a ajuda.

4.5.1 Análise do fragmento.

No recorte acima temos o início de uma matéria sobre o terremoto que

devastou o Chile no começo de 2010. O tradutor passou algumas informações,

porém, omitiu outras. Na notícia original temos a seguinte afirmação: “The toll from

the February 8.8-magnitude earthquake — mostly in the country's main wine-growing

area — has been estimated at 279”. O jornal norte-americano detalhou a magnitude

do terremoto e o número de mortes ocasionadas pelo mesmo. Já na tradução feito

pelo Portal IG, constatamos que o tradutor limitou-se a falar sobre a magnitude e

não falou sobre o número de mortos. Ele afirma que houve mortes, porém, prefere

não detalhar: “O número de mortos do terremoto de magnitude 8,8 em fevereiro

atingiu principalmente a área mais movimentada do país”. Na parte final do recorte

acima, ele deixa a tradução conforme o original, salientando que o governo está se

movendo para buscar melhorias e que o presidente mandou milhares de soldados

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para as áreas mais afetadas para trabalharem na restauração da ordem e também

para auxiliarem as pessoas que carecem de ajuda.

4.6 FRAGMENTO 6

A Devastating Earthquake

Many people in Santiago, a city of 6 million, wonder if their lives will ever be the same. Unsightly and unsafe camps, primarily occupied by Peruvian immigrants, have sprouted across the capital's historic center. In poor neighborhoods on the northern outskirts of the capital, thousands of people have been waiting for schools to reopen and basic services to be restored.

Two weeks after the disaster, President Piñera took the oath of office in March — shortly after three major aftershocks shook the building where his inauguration ceremony took place. Beyond addressing the widespread damage, his government is facing a major and perhaps protracted economic slowdown.

TRADUÇÃO

Um terremoto devastador

Nos bairros pobres da periferia, zona norte da capital, milhares de pessoas estão esperando para reabrir as escolas e restaurarem os serviços básicos.

4.6.1 Análise do fragmento

No fragmento acima, o tradutor optou por não realizar a tradução. No trecho,

o jornal The New York Times cita a sensação de alguns moradores, que questionam

se a vida voltará a ser a mesma de antes. Também fala da insegurança em que se

encontram e a ocupação de alguns imigrantes nas localidades. Nota-se aqui, que o

Portal IG apenas traduziu o trecho em que fala acerca dos bairros pobres da capital,

onde milhares de pessoas esperam reabrir escolas e aguardam também a

restauração de alguns serviços básicos. Aqui também, ressaltamos o fato de que o

profissional da tradução opta por deixar fragmentos inteiros sem traduzir. Seria,

porventura, uma busca na preservação da imagem do país? Para que, por exemplo,

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turistas brasileiros não se assustem tanto com o terremoto e continuem

freqüentando o país vizinho? Afinal, Brasil e Chile são países com relações turísticas

fortes. Pressupomos que não há interesse em relatar todos os fatos, devido a virem

denegrir a imagem do país, contribuindo para a queda no turismo.

4.7 FRAGMENTO 7

A Devastating Earthquake

Most economists are betting that Chile’s prudent economic management leading up to the disastrous quake, and the intense rebuilding effort now needed in some parts of the country, will help it weather the economic shocks better than most countries could. But for a few months at least, a major slowdown is expected in several Chilean industries, including fishing, pulp and paper, wine and agriculture. Seaside areas like Talcahuano that were ravaged by the tsunami could take much longer to pick themselves back up, perhaps a decade to repair its housing and ports.

TRADUÇÃO

Um terremoto devastador

A maioria dos economistas aposta que uma gestão econômica prudente no Chile, após o terremoto, e o esforço de reconstrução intensa agora, são necessários em algumas partes do país, e ajudará o governo em tempos de choques econômicos, mais do que a maioria dos países pode ajudar. Mas por alguns meses, pelo menos, uma desaceleração maior é esperada em várias industriais do Chile, incluindo a pesca, a celulose de papel, o vinho e a agricultura.

4.7.1 Análise de fragmento.

No trecho final da matéria, o jornal americano destaca a capacidade de

reação do Chile, por meio de uma gestão prudente e os esforços que o país deverá

fazer para sua reconstrução, segundo opinião de alguns economistas. Comenta

também que, a desaceleração nos setores industriais é inevitável, citando algumas

áreas. Trazendo para nossa análise feita pelo Portal IG, o tradutor, evidenciou

exatamente o que estava na matéria original. Que, em suma, o Chile tem totais

condições de se restabelecer e que o fato de algumas áreas serem afetadas é

inevitável. Deixamos também aqui mais uma pergunta para reflexão: Afinal, omitir

alguns fatos desagradáveis e números infelizes, como o de mortes e evidenciar que

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o governo chileno está se mobilizando e o país pode retomar as rédeas com uma

gestão prudente, é apenas redução de tradução ou existe algo que o tradutor

preferiu não traduzir, ou não evidenciar?

Considerações finais sobre a tradução dos fragmentos selecionados a partir do terremoto no Chile.

O fragmento de notícia acima trabalhou com o fato ocorrido no Chile, um

terremoto que causou inúmeros danos sociais, econômicos e políticos. O jornal

americano The New York Times publicou uma matéria abrangente, explicitando

alguns pontos de dificuldade do país sul-americano. No fragmento original, o escritor

faz uma comparação com o terremoto que assolou o Haiti, dizendo que o ocorrido

no Chile teve um número de mortes maior que o haitiano, fato este não traduzido

para os leitores brasileiros. Outro ponto que gostaríamos de salientar é que no texto

original o escritor fala sobre a expectativa dos próprios chilenos com relação à

qualidade de vida, ou pior, à preocupação dos moradores com o mínimo de

condições sustentáveis para viverem no Chile. Este trecho também foi omitido pelo

tradutor, que buscou não destacar os fatores mais trágicos nessa matéria.

Como já comentado, sabe-se que Brasil e Chile são parceiros comerciais,

principalmente quanto ao turismo. A presença de visitantes brasileiros nas cidades

chilenas sempre foi muito intensa e lucrativa. Parte-se do pressuposto de que o

tradutor procurou demonstrar duas intenções básicas em seu trabalho de tradução.

A primeira é a de informar o público leitor sobre a situação que o país sul-americano

se encontrava, deixando assim seu papel como informante realizado; a segunda

entende-se que ele buscou não explicitar alguns detalhes que, eventualmente,

pudessem prejudicar de alguma forma a relação dos países ou a opção dos turistas

brasileiros pelo Chile, visto que, ao se desenhar um quadro trágico demais, a

demanda turística e o interesse por novos visitantes sofreria abalos e o país sentiria

ainda mais.

Outro aspecto que chama atenção é que nenhum momento as zonas

costeiras, como o balneário de Viña del Mar e a cidade de Talcahuano — regiões

altamente turísticas e as mais afetadas pelo desastre — sequer foram mencionadas

na tradução para o Brasil. Seria apenas na questão de redução e objetividade do

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texto jornalístico ou o tradutor foi influenciado por coerções econômicas e/ou

políticas?

Conforme defendemos, escolhas de quem traduz não são neutras e na

tradução jornalística, principalmente, há aspectos culturais, econômicos e sociais

sempre determinando o que pode, deve ou não ser traduzido para certa cultura alvo.

No caso específico da tradução da tragédia chilena para o contexto brasileiro, a fim

de não influenciar as relações turísticas entre os países envolvidos.

Em contrapartida, como se observou nos fragmentos traduzidos da catástrofe

haitiana, o tradutor, de modo geral, escolheu descrever melhor a situação, mas

dando ênfase às personagens infantis para captar atenção humanitária e auxílio

financeiro, aspectos tão importantes neste momento.

Com relação à quantidade de palavras traduzidas, o trabalho de tradução

mostra que o texto original do jornal The New York Times, contém 278 palavras. Já

o texto traduzido para o português pelo Portal IG – Último Segundo traz 178

palavras. Isso representa uma tradução de aproximadamente 64% da notícia

original. Como comentamos acima, partimos do pressuposto de que o tradutor não

tenha levado em conta apenas a redução em sua tradução, e sim, o fato de não

evidenciar algumas informações que, eventualmente, viessem a desagradar o

público leitor e, assim, prejudicar a imagem do Chile, que por sua vez, é um parceiro

comercial do Brasil.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme indicado na introdução, a pesquisa tinha o propósito de analisar

fragmentos de notícias traduzidas sobre o terremoto no Haiti e Chile, extraídos de

reportagens do jornal The New York Times e compará-las com as respectivas

traduções para o português do Brasil, feitas pelo Portal IG – Último Segundo. Após a

apresentação dos recortes e traduções, teceríamos alguns comentários. Ao nos

depararmos com matérias como os fragmentos trazidos, o tradutor delineia e

sistematiza a tradução para que a mesma siga os parâmetros do texto de partida e

as especificações do gênero jornalístico; ou seja, o tradutor deve primar pela

objetividade e informação, mas também pela formação da opinião do público leitor.

Pela análise, nota-se a importância de uma tradução concisa, objetiva e de caráter

informativo. As informações estão circulando a todo o momento e o tradutor é o

veículo por onde passa a informação quando ela vem de outros países. Tais

informações precisam ser passadas com rapidez e objetividade. Partindo do

pressuposto de que os textos trazem junto de si marcas culturais muito fortes, o

tradutor se vê na condição de trabalhar o texto num bom português, que, de fato, é o

que vai situacionar o leitor e fornecer aquilo que ele julga imprescindível. Diante

disso, é importante se pensar que a tradução jornalística, por mais que apregoe

objetividade e neutralidade, não está isenta das marcas de quem traduz e se molda

pelos interesses e pela cultura de chegada. O que fica evidente é a interferência não

só do tradutor, mas de aspectos econômicos, sociais e políticos que estão sempre

balizando o trabalho de quem traduz.

Após a breve análise feita, confirma-se a hipótese de que o universo cultural

do leitor define determinadas escolhas e/ou tendências do tradutor, gerando

abordagens e efeitos de sentidos distintos para um mesmo fato noticioso.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROJO, Rosemary. Oficina de Tradução – A Teoria na Prática. 5ª Ed. São Paulo-SP: Ática, 1986.

FIORIN, José Luiz. Elementos de Análise do Discurso. 13º Ed. São Paulo-SP: Contexto 1996.

GOMES, Mayra Rodrigues. Jornalismo e Ciências da Linguagem. São Paulo, Hacker Editores, Edusp, 2000.

LAGE, Nilson. A estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 1998.

LAGE, Nilson. Teoria e Técnica do Texto Jornalístico. 1º Ed. São Paulo-SP: Campus, 2005.

LIMA, Alceu Amoroso. O Jornalismo como gênero literário. São Paulo: EDUSP, 1990.

NORD, Christiane. Text Analysis in Translation – Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model for Translation-Oriented Text Analysis – Rodopi: Amsterdam – Atlanta, GA, 1991.

POSSENT, S. Discurso, Estilo e Subjetividade. 4º Ed. São Paulo-SP: Martins Editora, 2008.

ROSSI, Clovis. O que é jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1988.

SINCLAIR, John. Corpus, Concordance, Collocation. Oxford University Press, 1991.

SOUSA, Jorge Pedro. Teoria da notícia e do jornalismo. Chapecó: Argos, 2002.

VENUTI, Lawrence. A invisibilidade do tradutor, tradução de Carolina Alfaro. Rio de Janeiro: Grypho, 1995.

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7 ANEXOS

7.1 Anexo I

Haiti’s Children Adrift in World of Chaos

The New York Times

By DEBORAH SONTAG

CROIX DES BOUQUETS, Haiti — Not long after 14-year-old Daphne Joseph escaped her collapsed house on the day of the earthquake, she boarded a crowded jitney with her uncle and crawled in traffic toward the capital, where her single mother sold beauty products in the Tête Boeuf marketplace. “Mama,” she said she repeated to herself. “Mama, I’m coming.” Abandoning the slow-moving jitney, Daphne, petite and delicate, got separated from her uncle and jumped onto a motorcycle-for-hire. She arrived alone at a marketplace in ruins and ran, in her dusty purple sandals, toward a pile of debris laced with “broken people,” she said.

Growing closer, she saw her mother, lifeless. She froze, she said, eventually watching as her mother’s body was dumped in a wheelbarrow and her only parent vanished into the chaos.

“I wanted to kill myself,” Daphne said in a whisper.

Haiti’s children, 45 percent of the population, are among the most disoriented and vulnerable of the survivors of the earthquake. By the many tens of thousands, they have lost their parents, their homes, their schools and their bearings. They have sustained head injuries and undergone amputations. They have slept on the street, foraged for food and suffered nightmares.

Two weeks after the earthquake, with the smell of death still fouling the air, children can be seen in every devastated corner resiliently kicking soccer balls, flying handmade kites, singing pop songs and ferreting out textbooks from the rubble of their schools. But as Haitian and international groups begin tending to the neediest among them, many children are clearly traumatized and at risk.

“There are health concerns, malnutrition concerns, psychosocial issues and, of course, we are concerned that unaccompanied children will be exploited by unscrupulous people who may wish to traffic them for adoption, for the sex trade or for domestic servitude,” said Kent Page, a spokesman for Unicef.

Many children, like Daphne, bore direct witness to horror or survived destruction that killed their relatives, their schoolmates and their teachers. But even those who did not are experiencing vertigo. When the ground shifted beneath them, the landscape of their universe changed forever, and not just at home: 90 percent of schools in the capital, Port-au-Prince, are damaged or destroyed, according to Unicef.

“The children of Haiti, unless they get help, they will have lost their childhoods, their innocence,” Elisabeth Delatour Préval, Haiti’s first lady, said Tuesday, pledging to get schools running as soon as possible, a daunting challenge.

Many children are struggling to make sense of what they are experiencing. Danielle Schledy, 13, who has been living with her family in the courtyard of a destroyed primary school in Port-

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au-Prince, said she kept telling her parents that the earthquake was “not the end of the world.”

Then, in her soiled turquoise dress and chipped pink nail polish, she skipped over to where her mother, Margarita Dayitus, who had bloody and infected wounds covering her body, lay in misery on the ground.

“I am sad about my mom,” Danielle said.

Poor, middle-class and affluent children are all destabilized, even those who get to spend nights indoors. Marie Alice Craft, a school psychologist, said her 11-year-old daughter had been sleeping with her — in a bed at a relative’s intact house — and waking up with a start when her mother got up to use the bathroom.

“She plays, she smiles, she laughs but she doesn’t want to be alone,” Ms. Craft said, adding that “a lot of group therapy” would be needed to make the children of Haiti feel safe again.

Child-welfare organizations have focused their initial efforts on orphaned children and those who have been separated from their families. They started Tuesday to compile a registry, sending workers into the streets to collect information for a database, in which each child would be assigned a numbered file to help track their cases, said Victor Nyland of Unicef, a senior adviser for child protection and emergencies. Such a registry was used in the Indonesian province of Aceh after the 2004 tsunami to help reunite separated families.

Some children who have nobody willing to look after them will be taken to one of three orphanages in the capital where Unicef is establishing interim care centers — that process began Monday with 60 children — or to safe spaces being established by other organizations.

In this city, Daphne was one of 25 newly orphaned children in the care of a local organization called Frades, a collective that does everything from providing microloans to serving hot meals.

“I know we can’t replace their parents,” said Pierre Joseph, a psychologist there. “It’s an intimate loss. But we will do our best to help these kids have a future. We will find a way to create an orphanage for them.”

Early this week, the children, ages 4 to 14, slept huddled together for warmth under bed sheets slung over branches in a tent city on the paved grounds of a damaged school. Young adults took turns looking after them. During the day, the counselors brought them to a walled construction site strewn with rusty cans and broken glass — the only private space they could find — and tried to distract them with singing and clapping games.

Daphne smiled occasionally as she watched the younger children, but mostly she looked stunned. When she told her story, she spoke so softly that she was barely audible. She explained that after she had watched her mother’s body being carted away, she wandered Port-au-Prince in a daze. A distant relative found her and put her in a taxi back to Croix des Bouquets, where she has nothing, she said.

“He told me to be tough,” she said, tears rolling down her cheeks.

She and her mother had lived with her uncle, but her uncle was shattered by his sister’s death — “They had to tie him up to calm him down,” Daphne said — and her uncle’s wife did

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not want her to stay with them. “She has always been mean to me,” Daphne said. “When I would get water, she’d tell me to use a coconut shell and not to dirty one of her glasses.”

Shortly after midday, the volunteers, who had been scraping together their own money to feed the children, gave them their first food of the day: sweet coffee and bread. Later, they fed them rice and beans. Then Mazen Haber, child protection officer with Save the Children, showed up with a large houselike tent and promised to find some mattresses, too.

Watching a dozen grown-ups struggle to erect the tent, Daphne said that adults had told her not to think about her mother. But she could still feel her presence, she said, “like a wind at my back.”

She said she was happy to be with the other children — the sisters with the wilted bows in their hairs, the tiny boys with the terror-stricken eyes — but she said she felt sorry that most had lost both parents.

“Before the earthquake, I only had but Mama,” she said.

Em seguida, a tradução para o português feita pelo Portal IG – Último Segundo para

internet:

Terremoto do Haiti deixa crianças à deriva em um mundo de caos

Portal IG - Último Segundo

Pouco depois que Daphne Joseph, de 14 anos, escapou dos escombros de sua casa no dia do terremoto, ela embarcou em um ônibus abarrotado ao lado de seu tio e se arrastou em trânsito lento para a capital, onde sua mãe solteira vendia produtos de beleza na feira Tete Boeuf.

"Mamãe", ela repetia. "Mamãe, eu estou chegando."

Ao sair do coletivo, Daphne se perdeu de seu tio e pegou um moto-táxi. Ela chegou sozinha na feira em ruínas e correu para uma pilha de escombros cheia de "pessoas quebradas", ela disse.

Ao se aproximar, ela viu sua mãe, sem vida. Ela gelou, ela disse, eventualmente vendo o corpo de sua mãe ser colocado em um carrinho de mão e desaparecer no caos.

"Quis me matar", Daphne disse em um sussurro.

As crianças do Haiti, que representam 45% da população, estão entre os mais desorientados e vulneráveis sobreviventes do terremoto. Milhares perderam seus pais, suas casas, suas escolas e seu propósito.

Elas sofreram ferimentos e passaram por amputações. Elas dormiram nas ruas, mendigaram por comida e tiveram pesadelos.

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Duas semanas depois do terremoto, com o cheiro de morte ainda impregnado no ar, crianças podem ser vistas em cada canto devastado de forma resistente jogando futebol, empinando pipas, entoando músicas populares e coletando livros de ensino de escolas desmoronadas.

Mas conforme grupos haitianos e internacionais começam a cuidar dos mais necessitados entre elas, muitas crianças se mostram claramente traumatizadas.

"Há preocupações de saúde, preocupações de desnutrição, questões psicossociais e, claro, nós tememos que crianças desacompanhadas sejam exploradas por pessoas sem escrúpulos que podem querer traficá-las para adoção, para o comércio sexual ou para a servidão doméstica", disse Kent Page, porta-voz da Unicef.

Organizações de bem-estar da criança têm concentrado seus esforços iniciais nos órfãos e naqueles que estão separados de suas famílias. Na terça-feira, eles começaram a compilar um registro, enviando voluntários às ruas em busca de informação para um banco de dados no qual cada criança terá uma arquivo numerado para ajudar a localizar o seu caso, disse Victor Nyland da Unicef.

Tal registro foi usado na província indonésia de Aceh após o tsunami de 2004 pra ajudar a reunir famílias separadas.

Algumas crianças que não têm ninguém disposto a cuidar delas serão levadas a um dos três orfanatos da capital onde a Unicef está estabelecendo centros de cuidados interinos ou para espaços seguros estabelecidos através de outras organizações.

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7.2 Anexo II

A Devastating Earthquake

The New York Times

By JEFFREY D. SACHS

The toll from the February 8.8-magnitude earthquake — mostly in the country's main wine-growing area — has been estimated at 279. In scenes reminiscent of the frantic rescue efforts following January's less intense but far more deadly earthquake in Haiti, rescuers with trained dogs and search equipment hunted through the rubble of collapsed houses and apartment buildings in search of survivors. In the waning days of presidency, Ms. Bachelet dispatched thousands of troops to the hardest-hit areas to restore order and help distribute aid.

Many people in Santiago, a city of 6 million, wonder if their lives will ever be the same. Unsightly and unsafe camps, primarily occupied by Peruvian immigrants, have sprouted across the capital's historic center. In poor neighborhoods on the northern outskirts of the capital, thousands of people have been waiting for schools to reopen and basic services to be restored.

Two weeks after the disaster, President Piñera took the oath of office in March — shortly after three major aftershocks shook the building where his inauguration ceremony took place. Beyond addressing the widespread damage, his government is facing a major and perhaps protracted economic slowdown.

Most economists are betting that Chile’s prudent economic management leading up to the disastrous quake, and the intense rebuilding effort now needed in some parts of the country, will help it weather the economic shocks better than most countries could. But for a few months at least, a major slowdown is expected in several Chilean industries, including fishing, pulp and paper, wine and agriculture. Seaside areas like Talcahuano that were ravaged by the tsunami could take much longer to pick themselves back up, perhaps a decade to repair its housing and ports.

Em seguida, a tradução para o português feita pelo Portal IG – Último Segundo para

internet:

Um terremoto devastador

Portal IG - Último Segundo

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O número de mortos do terremoto de magnitude 8,8 em fevereiro atingiu principalmente a área mais movimentada do país. Em cenas fortes que lembram resgates após um intenso terremoto, mostram os profissionais fazendo as buscas com cães treinados e todos os equipamentos necessários entre os escombros de casas destruídas e prédios, em busca de sobreviventes. Nos últimos dias de Presidência, Bachelet mandou milhares de soldados para as áreas mais afetadas para restaurar a ordem e ajudar a distribuir a ajuda.

Nos bairros pobres da periferia, zona norte da capital, milhares de pessoas estão esperando para reabrir as escolas e restaurarem os serviços básicos.

A maioria dos economistas aposta que uma gestão econômica prudente no Chile, após o terremoto, e o esforço de reconstrução intensa agora, são necessários em algumas partes do país, e ajudará o governo em tempos de choques econômicos, mais do que a maioria dos países pode ajudar. Mas por alguns meses, pelo menos, uma desaceleração maior é esperada em várias industriais do Chile, incluindo a pesca, a celulose de papel, o vinho e a agricultura.

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