Como pode influenciar os resultados - web.fe.up.ptprojfeup/cd_2010_11/files/MMM520_relatorio.pdf ·...
Transcript of Como pode influenciar os resultados - web.fe.up.ptprojfeup/cd_2010_11/files/MMM520_relatorio.pdf ·...
2
Projecto FEUP 2010/2011
Supervisora
Teresa Duarte
Monitor Luís Guimarães
Membros do Grupo:
André Moreira Duarte de Freitas Garcia – 100508022 – MIEMM
António João Monteiro Paiva Coimbra – 100504088 – MIEM
Eugénio José da Silva Pires Tavares – 100504025 – MIEM
José Miguel de Pinho Ferreira – 100581003 – LCEEMG
Orlando José Monteiro Marques Pinto – 100504148 – MIEM
Rui Miguel Almeida Oliveira – 100504094 – MIEM
3
Resumo
Este relatório tem como objectivo dar a conhecer, à população em geral, o
modo como a Engenharia condiciona os resultados no desporto.
O grupo resolveu escolher três modalidades que serviram de base para se
responder ao problema proposto, nomeadamente o ciclismo, automobilismo (Fórmula
1) e o futebol. Dentro de cada modalidade, aprofundámos os temas mais relacionados
com o trabalho da Engenharia, e desse modo tentámos provar que a Engenharia
consegue, realmente, influenciar os resultados desportivos.
Dentro do ciclismo, foram abordados temas como a escolha de materiais para
construção de uma bicicleta mais competitiva, a relação entre as geometrias das
bicicletas e a performance/conforto do ciclista, o desenvolvimento da bicicleta ao longo
dos tempos e o papel que a Engenharia teve em tal desenvolvimento.
No automobilismo, mais concretamente, na Fórmula 1, foram desenvolvidos
temas como a influência da aerodinâmica e dos novos sistemas tecnológicos (sistema
KERS) na performance dos veículos; os vários tipos de pneus existentes, bem como o
desenvolvimento que estes tiveram ao longo dos tempos; a electrónica presente nos
carros, mais propriamente no seu centro de controlo, o volante; os dispositivos de
segurança presentes, mais concretamente o sistema “Hans”.
Relativamente ao futebol, concluímos que a Engenharia não tem uma acção
directa na alteração dos resultados. Contudo, contribui para um melhor ambiente
desportivo e para a melhoria de condições dos desportistas e adeptos, nomeadamente
na construção dos estádios. A Engenharia pode também ajudar a arbitragem dos
jogos, contribuindo assim para um jogo mais “limpo”.
O relatório contém imagens e tabelas que auxiliam na defesa do tema.
De salientar que no capítulo do ciclismo, a informação apresentada tem como base os
conhecimentos prévios do autor dentro da área.
4
Índice
Resumo .......................................................................................................................................... 3
Índice ............................................................................................................................................. 4
1. Introdução ................................................................................................................................. 5
2. Desenvolvimento ...................................................................................................................... 6
2.1 Ciclismo. .......................................................................................................................... 6
2.2 Fórmula 1 ...................................................................................................................... 10
2.2.1 Motor ................................................................................................................. 1910
2.2.2 Caixa de Velocidades ............................................................................................ 191
2.2.3 O Volante .............................................................................................................. 192
2.2.4 Segurança na Fórmula 1 ....................................................................................... 194
2.2.5 F-Duct ................................................................................................................... 195
2.2.6 O Sistema KERS ..................................................................................................... 196
2.2.7 Pneus .................................................................................................................... 197
2.2.7.1 Constituintes .................................................................................................. 197
2.2.7.2 Pneus de Chuva .............................................................................................. 197
2.2.7.3 Pneus Slicks .................................................................................................... 197
2.3 Futebol ........................................................................................................................... 19
2.3.1 Estádios de Futebol ............................................................................................... 19
2.3.1.1 Cobertura ......................................................................................................... 19
2.3.1.2 Bancadas ........................................................................................................ 200
2.3.1.3 Relvado .......................................................................................................... 200
2.3.2 Apoio à arbitragem ............................................................................................... 211
2.3.2.1 A tecnologia da linha de golo......................................................................... 211
2.3.2.2 “Olho de Falcão” .............................................................................................. 22
3. Conclusão .............................................................................................................................. 244
4. Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 25
5
1. Introdução
No âmbito da disciplina de Projecto FEUP, o tema que foi atribuído ao nosso
grupo intitula-se "A Engenharia e o Desporto: Como pode a Engenharia alterar os
resultados?”. Esta temática enquadra-se muito bem na actualidade, pois o desporto é
um dos ramos da sociedade actual que tem vindo a ganhar cada vez mais
importância, e por consequência tem vindo a movimentar grandes quantidades de
recursos financeiros em seu redor. Nos dias de hoje, a Engenharia pode contribuir
para a evolução do desporto, de modo a proporcionar a cada equipa ou atleta, o
aumento do seu rendimento desportivo, obtendo assim melhores resultados.
Com este trabalho, o grupo procurou encontrar alguns desportos onde fosse
visível a influência da Engenharia, mais ou menos directamente na performance de
cada equipa ou atleta. Depois de alguma discussão, chegou-se à conclusão que este
trabalho iria concentrar-se em três desportos principais: o automobilismo
(nomeadamente a Fórmula 1), o ciclismo e o futebol.
Neste relatório vai-se demonstrar que a Engenharia pode alterar os resultados
de cada uma destas modalidades. Em relação à Fórmula 1, será mostrado a maneira
como a Engenharia tornou os carros mais rápidos e mais seguros para os condutores.
No ciclismo será retratada a forma como a Engenharia influenciou a performance e o
conforto dos ciclistas através de novos materiais e geometrias implementadas nas
bicicletas. Quanto ao futebol, centrou-se no facto de a Engenharia poder tornar um
jogo mais justo e com melhor qualidade, em que o resultado seria maioritariamente
influenciado pela capacidade de cada uma das equipas em campo.
6
2. Desenvolvimento
2.1 Ciclismo
“A bicicleta é o mais difundido e conhecido meio de transporte individual do mundo” [1]
Com base nesta afirmação, é possível concluir que o ciclismo é um desporto de
massas, não só de massas “simpatizantes” como igualmente de massas “praticantes”.
Sendo um desporto com grande difusão à escala mundial, capaz de mover
milhões de pessoas e gerar paixões equivalentes, capaz de promover eventos dos
mais variados géneros e de organizar competições/provas contínuas por períodos de
tempo que ultrapassam várias semanas, o ciclismo sustenta um desenvolvimento
tecnológico de grande dimensão.
São várias as áreas da Engenharia que trabalham em conjunto com o ciclismo
de modo a aumentar o desempenho, o conforto e a performance do ciclista. Deste
modo é criado um ambiente mais competitivo dentro do pelotão, pois as marcas que
equipam os ciclistas tentam ao máximo corresponder às exigências da competição
actual.
O aspecto em que a Engenharia mais contribui para o desenvolvimento dentro
deste desporto é, sem dúvida, a “ferramenta” ou a máquina que lhe é essencial: a
bicicleta.
Figura 1 - Evolução da bicicleta de ciclismo. [2] [3]
7
O conceito de bicicleta, neste caso, de bicicleta de competição, sofreu uma
grande evolução durante os últimos 30 anos, como se pode verificar na ilustração
acima (figura 1).
No passado, o sucesso de um ciclista dependia quase somente das suas
capacidades, quer físicas, quer mentais. Um ciclista tinha que suportar esforços
tremendos, muitas vezes sozinho e sem apoio, pois o ciclismo não tinha o mediatismo
que hoje lhe é atribuído e, por conseguinte, as equipas não possuíam capacidade para
prestar apoio aos seus atletas.
Para além disso, as
bicicletas eram muito semelhantes
entre si. As formas e geometrias
eram idênticas de marca para
marca, os materiais não eram muito
diversificados (uso abundante do
ferro e algum alumínio) e a bicicleta
não era vista como um meio de
aumentar a performance do ciclista,
mas sim como um mero acessório
essencial à prática deste desporto.
Contudo, com os avanços tecnológicos que ocorreram durante as últimas três
décadas, o modo como se pratica ciclismo foi mudado drasticamente. Hoje em dia, o
desenvolvimento da bicicleta é uma parte essencial deste desporto, e dele depende a
capacidade do ciclista conseguir melhorar os resultados, ou seja, a Engenharia
intervém agora como uma base de pesquisa e desenvolvimento essencial para
melhorar os resultados na
competição.
Uma área da Engenharia que
foi fundamental para o
desenvolvimento das bicicletas
actuais foi a componente
aeroespacial. Os novos materiais
(titânio, magnésio e fibra de
carbono), aplicados em
componentes como as rodas (figura
2), e os desenvolvimentos ao nível
da aerodinâmica revelaram-se
Figura 2 - Rodas Mavic ultra leves, construídas em fibra de carbono e alumínio.
[4]
Figura 3 - Specialized Tarmac SL3, bicicleta topo de gama da marca.
[5]
8
essenciais para a produção de bicicletas mais competitivas, leves e confortáveis, como
a Specialized Tarmac de 2010 (figura 3).
Actualmente, as marcas mais conceituadas trabalham em conjunto com
equipas de engenheiros de modo a projectar e desenvolver bicicletas “state of the art”
que se adaptem aos ciclistas e que contribuam para o sucesso dos mesmos. Sendo
assim, cada marca adopta um estilo de bicicleta, que em tudo diverge das outras
bicicletas no mercado, quer em termos de estética, como nos materiais e geometria.
Focando o aspecto da competição, pode-se perceber que os avanços
tecnológicos têm sido tão drásticos, que a União Ciclista Internacional (UCI) procedeu
à implantação de um peso mínimo de 6,8 kg para as bicicletas de competição. Claro
que fora da competição existem bicicletas muito mais leves, algumas com menos de 5
kg, valor quase absurdo, principalmente quando comparado com os mais de 15 kg das
bicicletas de 1960/70.
Aprofundando o capítulo dos materiais, pode-se inferir sobre as características
de cada um, focando os aspectos positivos e negativos da sua utilização (tabela 1).
Aço Alumínio Fibra de Carbono
Pontos
positivos:
Baixo custo;
Muito
abundante;
De fácil
reparação;
Muito resistente.
Boa relação
preço/qualidade;
Muito abundante;
Quando de boa
qualidade, bastante
leve;
Resistente.
Pode ser moldada em
praticamente qualquer
forma;
Bastante resistente;
Dependendo da
construção, tanto pode
ser rígida como pode
absorver vibrações;
Leve.
Pontos
negativos:
Muito pesado;
Sujeito a
oxidação;
De pouca
maneabilidade.
Pesado quando de
baixa qualidade;
Material pouco
elástico;
Sujeito a alguma
oxidação.
Custo elevado;
Sem possibilidade de
reparação;
Tabela 1 - Vantagens/desvantagens dos vários materiais
constituintes de uma bicicleta.
9
Existem também outros materiais usados na construção de bicicletas,
mas, devido aos seus elevados custos e raridade, são pouco expressivos no mercado.
São, basicamente, materiais muito utilizados na indústria aeroespacial, como titânio,
magnésio e outras ligas exóticas, que, no ciclismo, são aplicados nos mais variados
componentes, como no quadro de uma bicicleta De Rosa e no desviador traseiro Sram
(figura 4). [6]
Em suma, pode-se concluir que o alto nível de competição existente no
ciclismo sustenta-se com base nos avanços tecnológicos produzidos pela
Engenharia, sendo esta fundamental para a melhoria dos resultados obtidos.
Figura 4 - Desviador traseiro Sram, construído em titânio e Fibra de carbono e bicicleta De Rosa, com quadro em
titânio. [7] [8]
10
2.2 Fórmula 1
2.2.1 Motor
O motor de um F1 (figura 5) é uma
das obras mais magníficas da Engenharia
dos dias que correm. Curiosamente, são as
regras impostas pela FIA (Federação
Internacional do Automobilismo) que
impulsionam a evolução dos mesmos em
termos tecnológicos.
Com a alteração no peso mínimo
exigido (95 Kg) e a redução de custos, foram
substituídos materiais mais pesados por outros mais leves
e baratos.
Uma das grandes alterações foi a obrigatoriedade de os motores de um F1
durarem mais do que uma corrida, o que levou as marcas a devenvolver formas
eficazes de encontrar falhas nos seus motores. [10]
Em suma, a Engenharia evoluiu na direcção da durabilidade, confiança e
qualidade nos motores que desenvolve, influenciando sempre os resultados obtidos.
Figura 5 - Motor de Fórmula 1 [9]
11
2.2.2 Caixa de Velocidades
As caixas de velocidades de um F1 (figura 6) são diferentes das caixas de
carro de estrada, que são semi-automáticas e não sincronizadas. Já as dos F1 são
sequenciais, o que significa que operam como uma caixa de uma mota. A falta de um
sincronismo significa que a electrónica do motor tem de estar sincronizada com a
velocidade do motor e com a velocidade da caixa de engrenagens interna antes de se
engrenar uma mudança.
Cada equipa constrói a
sua própria caixa de velocidades
de forma independente ou em
parceria com empresas. Os
regulamentos estipulam que os
carros devem ter no mínimo 4 e
não mais que 7 mudanças,
contando uma como marcha
atrás.
As engrenagens dentadas são utilizadas apenas numa corrida, e são
substituídas regularmente para evitar falhas. As relações entre mudanças são uma
parte importante do processo de configuração de cada carro. As equipes ajustam a
engrenagem final (sexta ou sétima, dependendo de quantas mudanças tiver) para que
o carro só se aproxime do limite de rotações no final da corrida. A menor mudança é
ajustada para proporcionar uma melhor aceleração. [12]
Concluindo, a evolução da Engenharia permitiu que as marcas pudessem
desenvolver a sua caixa de velocidades dependendo das suas necessidades. Assim
sendo, a Engenharia influencia os resultados seja nos motores ou nas caixas de
velocidades. A Engenharia influencia tudo neste desporto.
Figura 6 – Caixa de Velocidades de um F1 [11]
12
2.2.3 O Volante
Os condutores de Formula 1 (F1) não podem perder o mínimo de concentração
para operar certos controlos, ou tentar olhar para pequenos painéis de instrumentos.
Por essa razão, esses controlos e instrumentos da era moderna dos carros de F1
migraram quase todos para o volante, tornando-o na principal interface entre o
condutor e o carro.
Os carros usados antigamente (figura 6) usavam
volantes tirados quase directamente de carros normais
que circulavam na estrada. Estes eram normalmente
feitos de madeira (o que obrigava os condutores a usar
luvas) e o mais largo possível sem provocar
constrangimento, para reduzir a força necessário para
virar o veículo. Enquanto os carros foram progressivamente diminuindo de tamanho e
o cockpit estreitando durante os anos 60 e 70, consecutivamente também o volante
tornou-se mais pequeno para caber o menor espaço possível.
A introdução de mudanças semi-automáticas através das actuais “patilhas”
marcaram o inicio de mover os controlos para o mais próximo possível dos dedos do
corredor. Os primeiros botões a aparecer na parte da frente do volante foi o “botão
neutro” (vital para por o carro em ponto morto no caso de o carro derrapar e rodopiar)
e o de comunicação via rádio com a equipa.
À medida que os tempos foram avançando a
tendência continuou. Tirando o acelerador e o
travão, poucos carros de Formula 1 tem outros
controlos fora do volante (figura 7). Os botões
costumam ser usados para funções “on/off”, como o
ligar o sistema de limitação de velocidade nas
boxes; ou então, controlos rotativos que permitem alterar algumas definições do carro,
como o programa de controlo de tracção, a mistura de combustível e até a influência
dos travões de frente/trás – ou seja, todo o tipo de aspectos que o condutor pode
desejar alterar conforme as condições durante a corrida. Entre as mais recentes
adições está o botão que activa o sistema KERS (sistema explicado no cap. 2.2.6), e
controlos da asa dianteira.
Figura 7 - Carro de F1 (1993) [13]
Figura 8 - Volante da Mercedes 2010 [14]
13
Para além de botões também há um
pequeno ecrã LCD com luzes “ultra-claras” que
informam o condutor a altura ideal para comutar a
mudança. O Controlo de Corrida também pode
enviar para o condutor informações sobre alguma
bandeira que tenha sido mostrada.
O volante foi desenhado para não rodar mais que três quartos de volta para
que não seja preciso virar continuamente para fazer uma curva. Desta forma, apenas
existem dois encaixes onde o condutor põe as mãos.
Uma das partes mais tecnicamente complexas de todo o carro de F1 é o
conector que liga o volante à direcção do carro. Esta tem que ser suficientemente forte
para aguentar com as forças de mudança de direcção e para providenciar todas as
conexões eléctricas com o carro. Para além disso, as regulamentações da FIA
afirmam que o condutor tem que ser capaz de sair do carro em pelo menos 5
segundos, não retirando nada excepto o volante.
Actualmente os carros de F1 correm com direcção assistida, reduzindo as
forças necessárias transmitidas pelo volante. Esta vantagem permitiu aos designers
continuar a diminuir o tamanho do volante (figura 9), sendo normalmente quase
metade do volante de um carro normal. [16]
Esta evolução do volante permitiu ao condutor dispensar menos concentração
a alterar definições do carro e incrementá-la na corrida.
Figura 9 - Volante no cockpit. [15]
14
2.2.4 Segurança na Fórmula 1
Sistema HANS
O Sistema HANS (Head and Neck Support) (figura 10)
foi inventado na década de 80, pelo Dr. Bob Hubbard, um
professor de Engenharia biomecânica na Universidade do
Michigan.
Introduzido na fórmula 1 em 2003, o sistema HANS
consiste numa estrutura em carbono, com duas correias e dois
fixadores, sistema este que é colocado na zona cervical do
condutor, debaixo do cinto de segurança, e fixado no capacete do condutor. Esta
estrutura impede que o condutor contraia lesões cervicais, e também não permite que
o condutor atinja o volante do carro com a cabeça.
Funcionamento
O sistema HANS funciona com base num
simples princípio. Quando ocorre um impacto, as
correias que estão presas ao capacete controlam o
movimento da cabeça do condutor. As forças
geradas pelo movimento da cabeça (figura 11) são
absorvidas e distribuídas pela estrutura em
carbono para o sistema do cinto de segurança, em
vez de serem absorvidas pela cabeça e pelo pescoço, sujeitando o piloto a lesões.
Este sistema consegue reduzir o movimento da cabeça num acidente em 44%,
a força aplicada no pescoço em 86%, e a aceleração da cabeça em 68%. [19]
Figura 10 - Sistema HANS [17]
Figura 11 - Movimento do condutor
num impacto, com sistema HANS [18]
15
2.2.5 F-Duct – A última inovação da Fórmula 1
A McLaren no inicio desta época encontrou um “buraco” nos regulamentos para
2010, o que lhes permitiu desenvolver um sistema para desaccionar o funcionamento
da asa traseira em recta, quando o carro se desloca a velocidade máxima. Assim,
permitia-lhes ter um máximo de aerodinâmica nas zonas mais técnicas da pista e uma
maior velocidade de ponta nas rectas.
Decidiram então colocar uma entrada de ar acima do piloto e outra
imediatamente á frente do local onde o piloto se encontra sentado (cockpit). Daí o ar
circularia por um canal, passando pelo cockpit, até à asa traseira. A conduta de ar ao
passar pelo cockpit permitiria ao piloto usar o F-Duct, ou seja decidir se quer “anular” a
função aerodinâmica da asa traseira ou não. Para isso, os pilotos da McLaren
precisam de usar a perna esquerda (que nas rectas não seria precisa para nada, visto
que é só acelerar a fundo com a perna direita) para tapar a conduta que passa no
cockpit e assim accionar o F-Duct.
A asa traseira é usada para aumentar aerodinâmica dos carros de Formula 1
nas curvas. Isto é, a asa gera downforce, o que permite “agarrar” o carro ao chão e
assim permite curvar a velocidades mais elevadas e muito mais eficazmente. O facto
de a McLaren anular o uso da asa traseira em recta, através do F-Duct, significa que o
carro deixa de gerar downforce e assim se torna mais rápido.Com o uso do sistema F-
Duct, os pilotos da McLaren usufruem de toda a aerodinâmica possível nas curvas e
conseguem ganhar 6km/h em recta, em relação aos carros que não usam o F-Duct.
Figura 12 – Aerodinâmica do F-Duct [20]
16
2.2.6 Sistema KERS
O Sistema KERS (Kinetic Energy Recovering System) tal como o nome indica,
é um sistema de recuperação de energia. Apesar de ser chamado de sistema, o KERS
é na verdade um conceito. Isto porque existem diversos sistemas utilizados para
atingir o objectivo do KERS. O objectivo do KERS é acumular a energia gerada nas
travagens, que em condições normais seria desperdiçada, e usá-la quando o carro
acelera.
O KERS surgiu inicialmente na Formula 1 como um sistema opcional, sendo
assim escolha das equipas a sua utilização ou não quando bem entendessem. As
regras dos comissários da F1, permitiam que as equipas que queriam usar o KERS o
pudessem desenvolver ou comprar a terceiros.
A reutilização da energia acumulada no KERS contribuiria com 10% da
potência máxima de um motor F1, o que na prática é muito útil em rectas para atingir
maior velocidade de ponta e ultrapassar. O regulamento da F1 para o sistema KERS,
limita o KERS a libertar no máximo 400 kJ e não mais de 60 kW num determinado
instante. O regulamento proíbe também qualquer sistema que controle o KERS, assim
o piloto usa um botão no volante para ligar e desligar o KERS.
Na prática, o piloto pode usar toda a potência adicional do KERS (81,5cv)
durante 6,7s por volta. Assim, os carros que possuírem o KERS podem usufruir de
uma maior velocidade de ponta durante 6,7s por volta.
17
2.2.7 Pneus
Os pneus são dos constituintes mais importantes de um carro de fórmula 1,
visto que realmente é a única parte do veículo que contacta o solo. Assim, estes foram
sofrendo alterações tanto ao nível da composição como da sua forma, gerando uma
busca incansável pelo pneu mais apto á prática do desporto.
2.2.7.1 Constituintes
Houve um enorme progresso na tecnologia de pneus (figura 13) a partir da
metade do século XX. Hoje, as fórmulas que se usam são segredos bem guardados,
mas os ingredientes principais incluem a borracha, o preto de carbono, óleos, o
enxofre e os aditivos. [21]
2.2.7.2 Pneus de Chuva
Os pneus de chuva (figura 14), tal como o próprio nome indica são pneus que
foram desenvolvidos exclusivamente para corridas em que o piso se encontra
molhado, pois caso contrário sobreaqueceriam e iriam pôr a segurança do piloto em
causa. Este tipo de pneu contém nervuras que servem para escoar a água, impedindo
que se forme uma película de água entre o pneu e o solo, película essa altamente
perigosa geradora de fenómenos de hidroplanagem, que fazem perder o controlo do
Figura 13 - Evolução dos pneus de F1 [22]
18
carro. Cerca de um terço da superfície de
contacto do pneu com o solo empurra a água
para os canais de drenagem, o terço central
mantém a zona de contacto limpa e o terço
situado em ambos os extremos assegura a
aderência. Uma grande parte do calor gerado
pelas nervuras do pneu é dissipado na água, o
que não se sucede em pisos secos, daí este
tipo de pneu ser usado unicamente em pisos
molhados. [24]
2.2.7.3 Pneus “Slicks”
Os pneus "slick" (figura 15) foram
desenvolvidos exclusivamente para pisos
secos, sendo pneus completamente lisos.
Este tipo de pneu em primeiro lugar
oferece uma maior superfície de contacto
com o solo do que um pneu com desenho
e em segundo lugar é capaz de suportar
temperaturas mais elevadas. Tendo o
pneu uma maior superfície de contacto, há
uma tendência dos carros a gerarem mais
aderência no conjunto de rodas dianteiras
(cerca de mais 20%), o que melhora tanto
a performance como a segurança do piloto. [25]
Figura 14 - Pneu de chuva [23]
Figura 15 – Pneus “Slick” [26]
19
2.3 Futebol
2.3.1 Estádios de Futebol
Os estádios de futebol, embora não influenciem directamente o desporto,
contribuem claramente para melhores condições de jogo e ambientes de grande
espectacularidade. Desde o início deste desporto os estádios têm sofrido várias
evoluções, mas só agora atinge o seu auge, chegando-se ao ponto de já se
equacionar estádios subterrâneos.
2.3.1.1 Cobertura
Com o desenvolvimento dos estádios surgiu a cobertura (figura 16), que neste
caso é benéfica tanto para os jogadores como para os adeptos, visto que reduz em
grande parte as adversidades causadas pelo tempo. No caso de países em que a
probabilidade de precipitação é forte, já foram implantadas coberturas capazes de
abrir e fechar, de modo a reduzir o impacto causado pelas chuvas e a aproveitar o
máximo de energia solar, verificando-se nestes mecanismos o contributo da
Engenharia Mecânica.
Figura 16 - Cobertura de um estádio de Futebol [27]
20
2.3.1.2 Bancadas
Tendo o futebol ao longo dos tempos sido considerado o desporto rei em
muitos países, o número de adeptos foi aumentando progressivamente, surgindo
assim a necessidade de criar estádios com maior capacidade. Actualmente podemos
encontrar facilmente estádios com uma capacidade igual ou superior a 50 mil pessoas,
o que amplia sem dúvida o apoio às equipas e por consequência a auto-estima de
cada jogador. Para além disto é de realçar que cada vez mais, os adeptos usufruem
de melhores condições enquanto assistem aos jogos, o que funciona como mais um
razão para ir ao estádio, verificando-se assim um crescimento nas receitas dos clubes.
2.3.1.3 Relvado
A qualidade do relvado num estádio ocupa um papel preponderante no que
toca à qualidade de jogo produzida, sendo assim, foram desenvolvidas estratégias de
acordo com o clima apresentado pelas cidades para que o relvado se encontrasse
sempre nas melhores condições. Tendo em conta que existem climas em que seria
praticamente impossível a implantação de um relvado natural, foram desenvolvidos
relvados sintéticos para que fosse possível obter uma boa qualidade de jogo mesmo
em condições de temperatura bastante adversas. Por outro lado, temos o caso
particular do Arena AufSchalke (estádio da equipa alemã FC Gelsenkirchen-Schalke
04) que devido a mecanismos desenvolvidos é possível fazer deslizar o relvado para
fora do estádio (figura 17). Este mecanismo é de grande utilidade visto que o relvado
pode receber mais luz solar ao estar fora do estádio e no caso de outros eventos pode
ser retirado, preservando assim a sua qualidade.
Figura 17 - Mecanismo de deslizamento do relvado [28]
21
2.3.2 Apoio à arbitragem
2.3.2.1 A tecnologia da linha de golo
A tecnologia da linha de golo foi um sistema (figura 19) proposto pelas marcas
Adidas e Cairos Technologies AG, como forma de verificar, em lances duvidosos, se a
bola entrou na baliza ou não.
Funcionamento
Este sistema é constituído por quatro
componentes distintos:
- O campo magnético que é gerado por uma
corrente eléctrica que percorre uma série de finos cabos
eléctricos instalados na grande área e atrás da linha de
baliza;
- A bola (figura 18) que contém sensores
capazes de medir o campo magnético gerado pela corrente, e um transmissor que
envia a informação obtida para as antenas receptoras;
- Os receptores que recebem a informação codificada e a enviam param um
computador que irá determinar se a bola ultrapassou a linha de golo ou não;
- O árbitro que recebe a informação fornecida pelo computador no seu relógio,
através de um sinal de rádio codificado, a dizer se é golo ou não.
Em resposta a críticas que dizem que este método
abrandaria o decorrer do jogo, a empresa Cairos
Technologies AG garante que o processo de transmissão
de informação, desde a medida dos campos magnéticos
até o árbitro receber a informação, demora menos de um
segundo.
Segundo a empresa Cairos Technologies AG, o facto de a bola ter um chip
incorporado no seu interior não afecta a mobilidade da bola, uma vez que o chip
localiza-se no centro desta, e o peso do sistema electrónico incorporado na bola é de
Figura 18 - Bola Adidas com chip
incorporado [29]
Figura 19 - Sistema proposto
pela Cairos Technologies AG [30]
22
apenas 15 gramas, se tivermos em conta que uma bola de futebol tem de ter um peso
entre 410 e 450 gramas.
A FIFA (Fédération Internationale de Football Association) já testou esta
tecnologia no Mundial de clubes de 2007. [31]
2.3.2.2 “Olho de Falcão”
O “olho de falcão” é um sistema informático utilizado em diversos desportos
(cricket, ténis e râguebi) que permite seguir a trajectória da bola e reproduzir uma
imagem definida dessa mesma trajectória.
No futebol, já houve a tentativa de implantação desta tecnologia no âmbito da
discussão das “tecnologias da linha de golo”. Este sistema teve como concorrente a
bola de futebol da Adidas implantada com um chip.
Funcionamento
Em relação ao futebol, esta
tecnologia iria ser usada para verificar se
a bola teria transposto a linha de golo ou
não. Este sistema seria baseado no
princípio da triangulação (figura 20),
utilizando seis câmaras colocadas
estrategicamente em diferentes zonas do
campo, de modo a poder obter uma imagem a três dimensões.
As câmaras estariam programadas para detectarem o movimento da bola na
zona da linha de golo, e transmitirem um sinal ao árbitro indicando se a bola entrou na
baliza ou não. De notar que as câmaras também estão programadas para transmitir a
informação ao árbitro no espaço tridimensional da baliza, ou seja, não indica se a bola
sai fora do campo pela linha de fundo.
Figura 20 – Triangulação [32]
23
As câmaras do sistema funcionam a 500 frames por segundo (as câmaras
televisivas normais captam imagens a 25 frames por segundo), ou seja, captam uma
imagem clara do que está a acontecer na linha de baliza. A existência de seis câmaras
permite ver a bola em pelo menos um dos ângulos (no caso de haver confusão à volta
da linha de golo). Este sistema permite também detectar a bola se apenas 25% desta
estiver visível. [33]
Esta tecnologia contribui para que um jogo de futebol seja mais justo, apesar
de receber inúmeras críticas que defendem que ao introduzir este sistema, se estaria a
tirar emoção ao desporto.
24
3. Conclusão
A Engenharia, ao longo dos tempos, tem-nos proporcionado grandes evoluções
em vários domínios da sociedade, nomeadamente no campo desportivo.
Apesar de, neste trabalho, só terem sido abordadas três modalidades
desportivas, é, sem dúvida, possível chegar à conclusão de que a Engenharia
influencia os resultados contribuindo para a melhoria do desempenho dos atletas em
particular e da qualidade do desporto em geral.
A Engenharia evolui, ainda, como resposta às necessidades que surgem nos
diversos âmbitos desportivos, influenciando positivamente o desporto, permitindo criar,
de certa forma, soluções para ultrapassar dificuldades e optimizar os resultados.
O contributo da Engenharia pode, também, materializar-se em métodos mais
justos e imparciais na realização e na avaliação das competições desportivas.
Concluímos neste trabalho que a Engenharia será sempre um parceiro
imprescindível do desporto.
25
4. Referências Bibliográficas
[1] Bietolini, Alfonso. 2008. Ciclismo. Lisboa: Arteplural edições, lda.
[2] CICLISMO ITABUNA. 2010. http://www.gilvansbike.co.cc/2010_06_01_archive.html
(accessed October 20, 2010).
[3] RoadCycling. 2008.
http://www.roadcycling.com/articles/Team_Astana_Leads_ProTour_Rankings_002127.
shtml (accessed October 20, 2010).
[4] Mavic. Road Wheels. 2010. http://www.mavic.com/en/product/wheels/road-
triathlon/wheels/Cosmic-Carbone-SLR (accessed October 20, 2010).
[5] Specialized. Bicicletas de Estrada. 2010.
http://www.specialized.pt/?sc=010101&id=1225 (accessed October 20, 2010).
[6] Bietolini, Alfonso. 2008. Ciclismo. Lisboa: Arteplural edições, lda.
[7] Orange Pulp. 2008. http://wrenchscience.blogspot.com/2008/08/de-rosa-titanio-
xs.html (accessed October 20, 2010).
[8] Sram. Road Products. 2010.http://www.sram.com/sram/road/products/sram-red-rear-
derailleur (accessed October 20, 2010).
[9] F1 Technical. 2003. http://www.f1technical.net/articles/4 (accessed October 9, 2010)
[10] UOL. 2009. http://mais.uol.com.br/view/mtmv32w420ep/confira-as-mudancas-nos-
carros-da-formula-1-em-2009-0402356AD8B93346?types=A& (accessed October 9,
2010)
[11] Wordpress. 2008. http://direita3.files.wordpress.com/2008/10/cvt.jpg(accessed
October 9, 2010)
[12] F1Technical. 2003. http://www.f1technical.net/articles/66 (accessed October 9,
2010)
[13] Veloce Today. Archives. 2009. http://www.velocetoday.com/archives/2062
(accessed October 10, 2010)
[14] Mercedes Benz. Motorsports. 2010.
http://www.emercedesbenz.com/autos/mercedes-benz/motorsports/mercedes-gp-
petronas-f1-steering-wheel-analysis/ (accessed October 10, 2010)
[15] Sports Car Digest. Events. 2010. http://www.sportscardigest.com/2010-autosport-
international-racing-car-show-photo-gallery/ (accessed October 10, 2010)
26
[16] F1 (Formula 1). Understanding the Sport. 2010.
http://www.formula1.com/inside_f1/understanding_the_sport/5287 (accessed October
10, 2010)
[17] Circle Track. Safety. 2010.
http://www.circletrack.com/safety/ctrp_0906_safety_equipment_support/photo_06.html
(accessed October 17, 2010)
[18] Ogracing. Blog Archive. 2009 http://ogracing.blogspot.com/2009/05/hans-device-
fitment-issues.html (accessed October 17, 2010)
[19] F1 (Formula 1). Inside F1. 2010
http://www.formula1.com/inside_f1/understanding_the_sport/5279.html (accessed
October 17, 2010)
[20] http://1.bp.blogspot.com/_8vfFExYz2pA/S97hLCY0OwI/AAAAAAAAAU8/6wh4PR-
HGrA/s1600/f+duct.JPG (accessed October 17, 2010)
[21] Portal F1. Especiais. 2010. http://www.portalf1.com/especiais/afinar_um_f1/pneus.asp
(accessed October 16, 2010)
[22] Super Danilo F1 Page. Pneus. 2010.
http://www.superdanilof1page.com.br/pneus/pneus.php (accessed October 16, 2010)
[23] Autoboy. Uploads. 2010. http://www.autoboy.com.br/blog/wp-
content/uploads/raintyres.jpg (accessed October 16, 2010)
[24] Portal F1. Especiais. 2010. http://www.portalf1.com/especiais/afinar_um_f1/pneus.asp
(accessed October 16, 2010)
[25] F1 Around. 2009. http://f1around.wordpress.com/2009/03/25/f1-2009-pneus-slicks-
lisos/ (accessed October 16, 2010)
[26] F1 SMS. Files. 2009. http://f1sms.files.wordpress.com/2009/12/bridgestone-f001-2009-
f1sm- 450px.jpg?w=450&h=338 (accessed October 16, 2010)
[27] Static Guim. 2009. http://static.guim.co.uk/sys-
images/Sport/Pix/pictures/2009/4/7/1239100203926/Arena-Aufschalke-Gelsenki-001.jpg
(accessed October 16, 2010)
[28] Stadium Data Base. Images. 2008.
http://www.stadiumdb.com/images/stadiums/europe/germany/gelsenkirchen/veltins-
arena.jpg (accessed October 16, 2010)
27
[29] Football boots, soccer shoes and football equipment. 2008. http://www.footy-
boots.com/goal-line-technology/ (accessed October 24 2010)
[30] ExFn. 2008. http://www.exfn.com/goal-line-firms-urge-fifa-rethink (accessed October
24 2010)
[31] Cairos Technologies AG. GLT System. 2010.
http://www.cairos.com/unternehmen/gltsystem.php (accessed October 24 2010)
[32] Fairness in Football Act Now. 2010. http://fifactnow.org/ (accessed October 24
2010)
[33] Wikipedia, The free Encyclopedia. Hawk-Eye. 2010.
http://en.wikipedia.org/wiki/Hawk-Eye (accessed October 24 2010)