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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

VERMINOSES: UMA AVALIAÇÃO DA INTERFERÊNCIA DA ESCOLA NO

PARASITISMO ENTRE ESCOLARES

Vera Regina Batista¹

R Rosilda Aparecida Kovaliczn²

Resumo

Em 1998 realizou-se um inquérito sobre os índices de enteroparasitos em escolares da 6ª e 7ª séries da Escola Estadual Gil Stein Ferreira, do município de Ivaí - PR. Na ocasião, além do percentual elevado de parasitos intestinais, constatou-se precárias condições de higiene e saneamento básico de onde provinham a maioria dos escolares investigados. Uma nova população de alunos da mesma escola e faixa etária foi investigada em 2010, utilizando-se os mesmos procedimentos para coleta e análise da matéria fecal. Visitando os locais de moradia dos alunos envolvidos, e provenientes das mesmas localidades da investigação anterior, observou-se que a carência de saneamento básico ainda persiste. A análise comparativa revelou que praticamente não houve modificações nas taxas de infecção: 56,1% e 44,83% respectivamente para 1998 e 2010. Infelizmente, parte desta questão cabe ao poder público solucionar; porém, enquanto professores, e atuando na formação de cidadãos, procurou-se adotar uma nova postura crítico-reflexiva revisando o conteúdo específico sobre parasitos intestinais nas aulas de Ciências e sua abordagem, com o objetivo de tornar a aprendizagem significativa. Procurou - se alternativas metodológicas para um ensino mais atrativo, entre estas, um jogo tipo “trilha”, construído pelos escolares. Através de perguntas e respostas significativas eles puderam compreender a morfobiologia, ação patogênica, processos transmissivos, e principalmente, a importância do saneamento básico na prevenção das enteroparasitoses.

Palavras chave: Parasitos intestinais; escolares, metodologias alternativas.

_______________

1 Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Área de Ciências. Escola

Estadual Gil Stein Ferreira – Ivaí-PR. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Educação. Professora da Disciplina de Parasitologia Humana do Departamento de

Biologia Geral da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) – Ponta Grossa – PR. E-mail: [email protected]

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1 Introdução

As parasitoses intestinais se constituem em um importante problema social e

de saúde pública nos países em desenvolvimento, porque estão relacionadas com o

nível sócio econômico, condições de higiene e saneamento básico, grau de

instrução e idade da população. No Brasil, as crianças, inclusive aquelas em idade

escolar são mais comumente infectadas, acarretando prejuízos no desenvolvimento

físico e mental, e consequentemente, uma diminuição da aprendizagem. Neves;

Filippis (2010), afirma que somente no final do século XIX e início do século XX é

que a ciência passou a conhecer o modo de transmissão da maioria dos parasitos, e

ainda que muitos atribuíam essas doenças ao clima tropical, o que não é correto,

pois toda doença parasitária é decorrente da pobreza, falta de higiene e da

precariedade dos recursos alimentares.

Crianças e adolescentes estão mais sujeitas às ações dos parasitas, devido ao

fato de que a maioria não ingere o suficiente de proteínas, por não possuírem o

sistema imune totalmente desenvolvido e pelo fato de serem elas as mais expostas

as precárias condições de higiene, principalmente pelo hábito de brincarem no chão

e a propagação do parasita ocorrer pela via fecal oral. (KOVALICZN,1999).

Devido a transmissão das doenças parasitárias estarem vinculadas também as

condições de saneamento ambiental, os educadores podem intervir levando à

comunidade escolar e em geral, conhecimentos sobre as formas de contágio e

prevenção.

Entre as parasitoses de transmissão fecal oral destacamos o Ascaris

lumbricoides (Lineu, 1758), popularmente conhecido como lombriga ou “bichas”.

Segundo Rey (2002), apenas um em cada seis indivíduos infectados, apresentam

alguma sintomatologia, pelo fato de que na maioria dos casos o número de vermes é

pequeno. Contudo, Neves (2009), cita a ação pulmonar causada pela passagem das

larvas, e a ação intestinal, associadas com o depauperamento físico, magreza,

palidez, barriga aumentada de volume, pela ação expoliadora dos vermes que

consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas. A

3

ação irritativa desenvolvida pelo Ascaris sobre a parede intestinal e seu acúmulo em

volumosos novelos, podem causar a obstrução intestinal e levar o paciente a morte,

se não for submetido a uma intervenção cirúrgica imediata. (REY, 2002). Não é raro

o paciente eliminar vermes pela boca ou nariz, quando há infecções maciças ou

quando os vermes são irritados por alimentos ou anti-helmínticos. Em vários

inquéritos coproparasitológicos realizados, percebemos que a prevalência desta

verminose é bastante alta, provavelmente pelo fato de que os ovos eliminados,

cerca de 200.000 ovos/dia, por fêmea, são extremamente resistentes e podem

permanecer viáveis no solo por um ano ou mais e por resistirem as técnicas de

tratamento de esgoto. Rey (2002), afirma que a dispersão dos ovos pode ser feita

pelas chuvas, ventos, insetos, mas o ciclo de transmissão dessa parasitose,

desenvolve-se no domicílio e peridomicílio, pelo fato de as crianças levarem as

mãos sujas à boca, alimentos ou água contaminada.

Outra parasitose de transmissão semelhante a do Ascaris lumbricoides é o

Trichurus trichiura (Lineu, 1771). Segundo Neves (2009), a epidemiologia da

tricuríase e da ascaríase é muito semelhante: a falta de saneamento básico, higiene

e as baixas condições sociais, contribuem para a ocorrência dessas parasitoses,

sendo comum um mesmo indivíduo estar infectados pelos dois parasitos. As fêmeas

eliminam cerca de 7.000 ovos/dia, podendo chegar a 20.000 ovos/dia, que ao serem

ingeridos pelas crianças ou adultos, liberam larvas, estas ao se tornarem adultos,

fixam-se na mucosa intestinal onde mantém mergulhada a extremidade cefálica; 70

a 90 dias após a ingestão do material infectante, já ocorre a liberação de ovos nas

fezes (REY, 2002). As crianças em idade escolar e pré-escolar tem papel

fundamental na transmissão dessa helmintose, por serem elas grandes

disseminadoras de ovos, devido aos seus precários hábitos de higiene, mãos sujas

e alimentos contaminados.

Em um trabalho para detecção da incidência de enteroparasitos nas crianças

carentes da cidade de Guaçuí- ES, Barreto (2005), realizou a coleta de fezes de 35

crianças e adolescentes na faixa etária entre 1 a 14 anos, residentes em um bairro

sem infraestrutura adequada, com rede de captação de esgoto e saneamento básico

deficientes. Das 35 amostras, 31 estavam positivas e entre os helmintos mais

frequentes foram Ascaris lumbricoides 62,9% e Trichuris trichiura 48,8%,

demonstrando, dessa forma a similaridade entre essas parasitoses.

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Em outro levantamento coproparasitológico realizado no estado do

Amazonas, nas cidades de Manaus, Eirunepé e Lábrea revelou respectivamente

uma positividade de 25,80%; 64,1% e 80,05%; destes, o percentual para Ascaris

lumbricoides foi de 12,8%, 55,3% e 54,1%, nas cidades de Manaus, Eirunepé e

Lábrea, respectivamente. Os índices elevados não causaram surpresa aos

pesquisadores, pois é uma das helmintoses mais comuns no Brasil. (ARAUJO;

MARTINS, 2005).

Outra enteroparasitose, já descrita por Monteiro Lobato, trata de um roceiro

sem disposição para o trabalho, e que todos o chamavam de preguiçoso, era na

verdade uma doença causada pelo Ancylostoma duodenale (Dubini, 1843) e o

Necator americanos (Stiles, 1902): a ancilostomose ou ancilostomíase que pode ser

causada por esses parasitos, onde o quadro clínico mais típico é a anemia, devido a

espoliação sanguínea a que submetem o organismo do hospedeiro. Nas crianças o

desenvolvimento fica comprometido, dificuldades de atenção e apatia conduzem a

um acentuado déficit no rendimento escolar. (REY, 2002). O uso de calçados

reduziu significativamente esta helmintose, devido ao fato de que as larvas se

encontram no solo e a contaminação ocorre via cutânea, mas segundo Neves

(2009), devemos intensificar nossas ações para que esses índices se reduzam ainda

mais.

Uma verminose de transmissão idêntica a ancilostomose é a estrongiloidose,

pois o modo usual de transmissão é a penetração das larvas infectantes através da

pele, principalmente dos pés. Causada pelo Strongyloides stercoralis (Bavay, 1876),

raramente provoca doença grave, no entanto em pacientes imunodeprimidos, pode

causar sérias alterações podendo provocar até a morte. (NEVES; FILIPPIS, 2010).

Com alta prevalência nas crianças em idade escolar, citamos Enterobius

vermicularis (Lineu, 1758), diferentemente dos demais a sua transmissão ocorre em

ambientes coletivos fechados (NEVES, 2009), causando intenso prurido anal pela

presença das fêmeas que eliminam grande quantidade de ovos, principalmente a

noite, dessa forma, estes, passam para a roupa de dormir, roupa de cama ou ficam

na roupa íntima do parasitado. Com a movimentação do paciente ou das roupas, os

ovos dispersam-se pelo ambiente, misturando-se com a poeira. Por isso, como

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forma de evitar a transmissão recomenda-se não sacudir as roupas usadas, nem

varrer o ambiente, mas usar o aspirador de pó ou lavar o local.

Menezes et al. (1998) em bairros periféricos da cidade de Londrina - PR

encontraram, em um total de 7315 amostras, 56% de positividade, destas, 3,3%

eram de Enterobius vermicularis e 0,7% para Taenia sp. A idade da população

variou de 0 a 50 anos e a maioria dos resultados positivos foram encontrados na

faixa etária de 01 a 10 anos, mas houve prevalência de enteroparasitos nas diversas

idades, sugerindo elevada contaminação ambiental.

Em Uberlândia – MG, Silva et al., (1999) realizaram um estudo em cinco

instituições escolares e pré escolares, para verificar a prevalência de Enterobius

vermicularis e, das 187 crianças e jovens examinados, 12,83% encontravam-se

parasitadas por oxiurus, sendo este o de maior frequência na população estudada.

No mesmo ano, Hanke et al., (1999) no município da Lapa – PR, trabalhando com

1602 amostras de escolares que se encontravam na mesma faixa etária aos

escolares da presente pesquisa, obtiveram 703 (43,88%) amostras positivas, 866

(54,05%), negativas e 33 (2,1%) amostras insuficientes para análise. Dos casos

positivos encontraram 254 (36,13%) para Ascaris lumbricoides e 83 (11,81%) para

Entamoeba coli.

Frente as elevadas prevalências de parasitos intestinais em crianças e

adolescentes em idade escolar, este trabalho teve por objetivo verificar os atuais

índices de entoparasitoses em escolares de 5ª e 6ª séries, turno vespertino da

Escola Estadual Gil Stein Ferreira, no município de Ivaí-PR, e compará-los com os

dados obtidos em uma investigação semelhante, em 1998. O critério de escolha das

turmas foi devido a uma verificação prévia de que esses alunos moram na mesma

localidade do inquérito anterior. (Fig. 1).

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Figura 1- Condições de moradia de alguns escolares pesquisados. Foto: BATISTA, 2009.

2 Vivenciando a realidade: escolares x parasitoses

Este projeto é parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional

do Estado do Paraná – PDE, e foi desenvolvido com o apoio da direção e equipe

pedagógica da Escola Estadual Gil Stein Ferreira, no município de Ivaí - PR.

Inicialmente, os pais/ responsável foram convocados para uma ação educativa,

sensibilizadora para a questão, onde a professora da Disciplina de Parasitologia

Humana da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Prof.ª Rosilda

Kovaliczn, abordou as principais enteroparasitoses da região e sua importância

médica, bem como a necessidade da realização de exames coprológicos das

crianças, sem ônus financeiro aos escolares. (Fig. 2).

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Figura 2 - Ação educativa sobre enteroparasitos destinada aos pais/responsável pelos alunos. Foto: BATISTA, 2010.

A seguir, os pais que aderiram voluntariamente ao projeto, assinaram um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aprovado pelo Comitê de Ética

e Pesquisa da UEPG, autorizando a participação do escolar menor de idade.

Receberam gratuitamente um frasco e as instruções para a coleta da matéria fecal.

Esclareceu-se ainda, que a participação dos alunos seria voluntária, não havendo

nenhum tipo de punição caso se recusassem a participar do projeto.

Os alunos tiveram um prazo de dois dias para a entrega das fezes, as quais

foram devidamente acondicionadas em caixas de isopor com garrafas de gelo, e

posteriormente transportadas para os laboratórios de Parasitologia Clínica da UEPG

para fins da realização dos exames. Entre os alunos da 5ª e 6ª séries, 58 deles

participaram enviando uma amostra de fezes para análise macro e microscópica.

Os resultados dos exames foram encaminhados para o Posto de Saúde

através da Secretaria Municipal de Saúde de Ivaí para prescrição médica e

tratamento dos casos positivos patogênicos. Na seqüência, houve a dispensação

dos medicamentos pelo farmacêutico responsável pela Farmácia Básica da

Prefeitura Municipal de Ivaí, e entrega aos pais/ responsável, orientando-os quanto

ao uso correto dos medicamentos. (Fig. 3).

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Figura 3 - Reunião com a Secretária de Saúde do Município de Ivaí - PR, a professora PDE (Ciências), e o farmacêutico, para a entrega gratuita dos medicamentos antiparasitários aos pais/responsável para tratamento dos escolares. Fonte: Acervo pessoal.

Após essa etapa, como os índices de parasitoses intestinais mostraram-se

bastante elevados, e em saída de campo constatou-se que os alunos parasitados

moravam em precárias condições de higiene e saneamento básico, entendemos

que, enquanto professores, este seria o momento de intervirmos, retomando o

conteúdo sobre parasitos intestinais no ensino de Ciências, buscando metodologias

alternativas que tornassem a aprendizagem significativa, tais como maquetes ou

réplicas, conservas dos espécimes, jogos, etc., alguma forma de levar o

conhecimento necessário aos alunos, voltado para a sua realidade e do interesse

deles. Decidimos então, confeccionar juntamente com os alunos e a professora de

Arte, um jogo pedagógico do tipo “trilha” sobre enteroparasitoses, com perguntas e

respostas sobre o assunto. Com a professora de Matemática, trabalhando com o

conteúdo sobre sólidos geométricos, cada aluno elaborou um dado e um pino para

ser usado no jogo.

3 Confeccionando o jogo “trilha”: combatento as enteroparasitoses

a) Material necessário:

- tabuleiro: consiste na elaboração de uma trilha dividida em 62 estações (casas)

em cores variadas. Dessas 62 estações, 41 são amarelas, 14 vermelhas e 7 azuis.

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O material utilizado para confecção do tabuleiro foi tipo lona, devido a durabilidade e

resistência, e para as cartas foi filicoat laminado. (Fig. 4).

Figura 4. Modelo do tabuleiro do jogo trilha “Combatendo as enteroparasitoses” fornecido aos alunos pela professora de Ciências. Fonte: BATISTA, 2010.

- 1 dado

- 4 pinos (peões) em cores variadas.

- 7 cartas azuis, conforme as estações do tabuleiro, confeccionadas em papel

filicoat laminado.

- 14 cartas vermelhas, conforme as estações do tabuleiro, confeccionadas em

papel filicoat laminado.

Os alunos participaram ativamente da elaboração do material. (Fig. 5).

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Figura 5 - Aluno confeccionando o dado, com a orientação da professora de Matemática. Foto: BATISTA, 2010.

Divididos em equipes, os alunos puderam trocar idéias e elaborar o tabuleiro

para o jogo “trilha”. (Fig. 6).

Figura 6 - Confecção do jogo “trilha”, elaborado com a orientação da professora de Arte. Foto: BATISTA, 2010.

Devido ao grande número de alunos na maioria das classes da escola básica,

recomendamos dividí-los em duas equipes por tabuleiro, sendo dois jogadores e um

monitor em cada equipe, o qual auxiliava a professora no momento do jogo,

retirando as cartas azuis ou vermelhas, com as questões.

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Logo, para um tabuleiro (trilha) teremos um total de seis alunos envolvidos.

(Quadro 1).

1 TABULEIRO + 1 DADO + 4 PINOS (PEÕES) =

Equipe A: 2 jogadores +1 monitor X Equipe B: 2 jogadores +1 monitor.

Quadro 1 – Sugestão de participantes por tabuleiro para o jogo “trilha”.

E assim formam-se as equipes, de acordo com o número de alunos da turma.

b) Regras do jogo:

No tabuleiro do jogo trilha “combatendo as enteroparasitoses”, as estações

amarelas são paradas livres; as vermelhas correspondem aos maus hábitos de

higiene; as azuis correspondem aos bons hábitos de higiene. O jogo inicia-se com

um jogador da equipe A e um da equipe B. Um jogador de cada equipe arremessará

o dado, quem tirar o número maior iniciará o jogo. Cada um dos participantes será

representado por um pino de cor diferente, com o seu nome, ou alguma marca que o

identifique, podendo ser suas iniciais. O jogo seguirá na ordem: 1º jogador da equipe

A X 1º jogador da equipe B; 2º jogador da equipe A X 2º jogador da equipe B.

Os jogadores avançarão no percurso da trilha de acordo com os números

tirados no dado, sendo que dois ou mais jogadores podem permanecer na mesma

estação, simultaneamente. Ao cair em uma estação vermelha, deve retirar a carta

correspondente ao número de sua estação com a pergunta (Figura 7); caso não

saiba responder, deverá permanecer na mesma estação. Se acertar a resposta

avançará duas casas. As questões sobre parasitoses intestinais contidas nas cartas

foram elaboradas pela professora de Ciências e não foram vistas pelo aluno antes

do início do jogo.

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Figura 7. Modelo de uma das cartas vermelhas que compõe o jogo trilha (frente e verso).

Ao cair em uma estação azul, que corresponde a bons hábitos de higiene, o

jogador deverá apanhar a carta da cor e número da estação em que está, e tomar a

atitude descrita na carta. Nas cartas azuis existem recompensas para o jogador,

como por exemplo “avance 2 casas”. (Figura 8).

Figura 8. Modelo de uma das cartas azuis que compõe o jogo trilha (frente e verso).

Salvo se um dos jogadores não acertar a resposta, passará a vez para a outra

equipe, obedecendo a ordem citada anteriormente. Os participantes progridem com

seus pinos (peões) à medida que acertarem as respostas ou forem recompensados

pelas suas ações corretas, através das cartas azuis, podendo avançar 1, 2 ou mais

casas, conforme indicado.

Vencerá o jogo quando todos os participantes de uma mesma equipe

chegarem ao final da trilha, antes que todos os jogadores da outra.

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3 Resultados e discussão

Dos 58 (100%) exames coproparasitológicos realizados 26 (44,83%) foram

positivos e 32 (55,17%) negativos, sendo os helmintos encontrados: Trichuris

trichiura, 10 (17,24%); Ascaris lumbricoides, 05 (8,62%); Ancilostomídeos, 01

(1,72%); Hymenolepis nana, 01 (1,72%); e entre os protozoários: Giardia lamblia, 08

(13,79); Entamoeba coli, 06 (10,34%); Endolimax nana, 05 (8,62%). (Gráfico 1).

17,24%

13,79%

10,34%8,62% 8,62%

1,72% 1,72%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

1

Trichuris trichiura Giardia lamblia Entamoeba coli Endolimax nana

Ascaris lumbricoides Hymenolepis nana Ancilostomídeos

Gráfico 1 – Incidência de enteroparasitos em escolares de 5ª e 6ª séries na Escola Estadual Gil Stein Ferrreira, Ivaí – PR, 2010. Fonte: As autoras.

Entre as amostras positivas houve 18 (69,23%) casos de monoparasitismo e

08 (30,77%) casos de poliparasitismo. (Gráfico 2).

Incidência de mono e poliparasitismo

69,23%

30,77%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

1

Monoparasitismo Poliparasitismo

Gráfico 2 – Incidência mono e poliparasitismo em escolares de 5ª e 6ª séries na Escola Estadual Gil Stein Ferrreira, Ivaí – PR, 2010. Fonte: As autoras.

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Durante a reunião realizada na escola, com a presença da secretária de

saúde do município e com o farmacêutico responsável, na qual foram entregues os

medicamentos antiparasitários aos pais/responsável, realizamos também um

levantamento das condições sanitárias em que viviam os escolares que participaram

do inquérito coproparasitológico.

Dos 44 (100%) pais/responsável presentes e investigados sobre as condições

sanitárias de suas moradias, 28 (64,33%) responderam que residem em casa de

madeira; 15 (34,09%) de alvenaria e 01 (2,27%) em casa mista. Perguntamos se

recebem água tratada (SANEPAR): 34 (77,27%) responderam que sim e 10

(22,73%) não. Outro item questionado, se a casa é ligada a rede pública coletora de

esgoto (SANEPAR): 30 (68,18%) deles responderam sim e 14 (31,82%) não; se a

casa possui fossa: 11 (25,00%) responderam sim e 33 (75,00%) não; se possui

privada fora (casinha) 15 (34,00%) responderam sim e 29 (66,00%) não; sanitário

dentro de casa: 29 (66,00%) sim e 15 (34,00%) não; poço ou bica: 14 (31,81%) sim

e 30 (68,19%) não. Questionamos também sobre o cultivo de horta no quintal e

obtivemos as seguintes respostas: 25 (56,81%) sim e 19 (43,19%) não; quanto a

coleta pública do lixo, 31 (70,46%) responderam que o lixo é coletado pela prefeitura

e 13 (29,54%) responderam não. (Tabela 1).

Tabela 1- Condições de moradia e saneamento onde vive a maioria dos alunos de 5ª e 6ª séries da Escola Estadual Gil Stein Ferrreira, Ivaí – PR, 2010. Fonte: As autoras.l

Na análise dos dados foi possível perceber a correlação existente entre os

casos positivos para enteroparasitos (44,83%) e as condições do meio em que

vivem os escolares, onde aproximadamente 32% das moradias não possui rede

pública coletora de esgoto e 34% possui privada externa. Quanto a água tratada,

22,73% não dispõe desse serviço e muitas das habitações possuem horta no

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quintal (56,81%), fatores esses predisponentes como formas de contágio para

enteroparasitos.

Após o levantamento dos índices de enteroparasitoses, das condições

sanitárias e da entrega dos medicamentos aos pais/responsáveis, retomamos

nosso trabalho com os alunos, sobre as enteroparasitoses e, para tornar o conteúdo

mais interessante e atraente aos alunos procuramos metodologias alternativas como

o uso de maquetes e realias dos parasitos, tomadas por empréstimo do laboratório

de Parasitologia Humana da UEPG (Figs. 9 e 10) e o jogo “trilha” elaborado em

conjunto com eles.

Figura 9 - Professora PDE (Ciências), Vera Regina Batista, explicando o conteúdo enteroparasitoses aos alunos, com auxílio de maquetes de Ascaris lumbricoides emprestadas do Laboratório de Parasitologia Humana da UEPG. Foto: Acervo pessoal.

Figura 10 – Alunos observaram realias de parasitos emprestados do Laboratório de Parasitologia Humana da UEPG. Foto: BATISTA, 2010.

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Sabemos que a disciplina de Ciências, na maioria das vezes, se torna

irrelevante e sem significado para o aluno, pois não está ancorada no seu universo

de interesses. A diversificação da clientela, devido a diferenças sociais, culturais e

econômicas, determinou um abismo muito grande entre o que é ensinado nas aulas

de Ciências e o que realmente interessa ao aluno, limitando dessa forma o

rendimento escolar. Geralmente o que se ensina não tem sentido aos alunos;

professores, livros didáticos e programas oficiais, não atendem aos interesses dos

alunos, prejudicando muitas vezes, irremediavelmente o seu aprendizado.

(KRASILCHIK, 1987).

Para Krasilchik (2004), é unânime entre os educadores a consciência de que

o ensino exclusivamente informativo, centrado no professor, está fadado ao

fracasso, gerando um clima de apatia e desinteresse, o que impede a interação

necessária ao verdadeiro aprendizado. Dessa forma é de fundamental importância o

uso de metodologias alternativas que motivem a aprendizagem e as atividades

lúdicas, despertam o interesse dos alunos, podendo ser aplicado em todos os níveis

de ensino. (KRASILCHIK, 2004).

Segundo Schwarz (2006), uma vez que nós, os humanos, aprendemos de

várias maneiras, a escola deve sempre buscar meios de facilitar a aprendizagem

para o maior número possível de alunos, buscando várias formas para desenvolver

os conteúdos, entre elas os jogos, porque lembramos aquilo que valorizamos e que

está relacionado ao interesse que as informações despertam. A autora destaca que

nos jogos as interações sociais entre colegas são importantes para que as crianças

possam construir seus valores sociais e morais. As interações muitas vezes geram

conflitos, impondo negociações, desenvolvendo autonomia e flexibilidade e a

capacidade de saber a hora de ceder ou de se impor, oportunizando a vivência de

situações que envolvem fracassos, sucessos, ganhos e perdas sem rancor, com

respeito ao adversário. Desta forma os jogos tem um importante papel na formação

integral do ser humano, de forma prazerosa e lúdica. Schwarz (2006), cita ainda a

possibilidade que os jogos oferecem de trabalhar as emoções, pois ganhos e perdas

fazem parte da nossa vida e quem não sabe vencer, porque se torna arrogante,

provavelmente, não saberá perder.

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Na aplicação do jogo trilha “Combatendo as enteroparasitoses” pudemos

verificar que os alunos observaram atentamente o encaminhamento do jogo e

participaram ativamente analisando e comparando as perguntas e respostas, e que

num momento de total descontração, enquanto se divertiam, os alunos também

aprendiam. (Fig. 11 e 12).

Figura 11 - O jogo trilha “Combatendo as enteroparasitoses” permitiu aos alunos a análise das perguntas e respostas às diversas questões relativas ao tema. Foto: BATISTA, 2010.

Figura 12 - As cartas vermelhas e azuis com as questões sobre parasitos intestinais eram manuseadas pelo monitor de cada equipe. Foto: BATISTA, 2010.

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Comparando-se os resultados dos exames parasitológicos de fezes

encontrados por Batista (1998), em investigação realizada sobre os índices de

parasitos em escolares de 6ª e 7ª séries, à época, na mesma escola e com alunos,

na sua grande maioria, provenientes das mesmas localidades atualmente

investigados, pode-se concluir que a positividade encontrada anteriormente (1998)

de 56,1% dos alunos parasitados, contra 44,83% de positividade para o estudo

recente (2010), houve apenas uma pequena modificação nas taxas de infecção ao

longo dos anos, o que, para nós professores de Ciências, novamente vem à tona o

questionamento sobre o nosso trabalho em sala de aula: será que estamos dando a

devida importância ao conteúdo enteroparasitoses? Com quais metodologias

estamos trabalhando? Estamos inserindo o aluno no seu contexto, adequando o

conteúdo trabalhado a sua realidade, tornando a aprendizagem significativa?

Deve-se dar maior ênfase as parasitoses locais, da realidade do aluno. No

entanto, em estudos já realizados por Kovaliczn (1999), o que se observa é um

aprofundamento nas parasitoses regionais, como malária, Chagas,

esquistossomose, leishmanioses e outras, ou seja o que é mais abordado nos livros

didáticos, esquecendo-se de trabalhar as parasitoses existentes na comunidade

onde o aluno está inserido, onde lá está o problema que afeta não somente ele, mas

toda a sua família, toda a comunidade.

Nós, professores, precisamos buscar novos meios para o ensino e a

aprendizagem, pois com todo o avanço da tecnologia a qual grande parte de nossos

alunos tem acesso, será difícil prender a sua atenção em aulas tradicionais, somente

com livros e quadro de giz. Hoje o aluno busca mais, tem sede de saber - através de

ferramentas que proporcionem a ele uma maneira prazerosa de aprender.

Para tornar a aprendizagem significativa e contribuir no processo preventivo

contra as parasitoses intestinais, tudo é válido e necessário: teatro, jogos, paródias,

treinamento de professores e líderes locais. (NEVES; FILIPPIS, 2010).

Atividades lúdicas facilitam, de forma divertida e prazerosa, o entendimento

de conteúdos considerados de difícil aprendizagem (MIRANDA, 2001 apud

VALADARES; RESENDE, 2009).

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Pudemos observar que as atividades lúdicas, despertam no aluno o prazer

em aprender, uma grande empatia pelo trabalho, além de mostrar que num jogo

devemos saber ganhar e saber perder, podemos trabalhar questões éticas e de

cidadania, o respeito pelo colega, compreender que, se vivemos numa sociedade,

há que se respeitar normas para que a convivência seja harmoniosa.

Considerações finais

Em uma práxis transformadora, investigamos a realidade em que vivem

nossos alunos em relação as suas condições de moradias. Após realização de

inquérito coproparasitológico encontramos muitos deles portadores de

enteroparasitoses, e além dos casos patogênicos, a presença de comensais nos

resultados serviu de alerta sobre as condições sanitárias dessa população, que

ainda vive em situação precária de saneamento básico.

Frente a essa realidade, modificamos a nossa atuação em sala de aula,

ensinando o aluno sobre direitos e deveres para cobrar dos governantes políticas

públicas saudáveis; e, enquanto professores, muito além de explanações teóricas

sobre o conteúdo, houve o envolvimento, a participação deles na elaboração desse

conteúdo, aprendizagem lúdica com elaboração de jogos didáticos pedagógicos e

demonstrações de realias e maquetes.

Ao observá-los desenhando o ciclo de vida dos parasitos intestinais, ficou

visível a apreensão do tema sobre os processos transmissivos e formas de

prevenção dessas parasitoses, as quais infelizmente ainda são comuns no seu

cotidiano. Conclui-se que o conteúdo tornou-se de mais fácil compreensão porque é

significativo, parte integrante da vida do aluno, da sua comunidade, do seu

município.

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