DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL COMO … · Empresarial, que é uma ação articulada entre o Governo...

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DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL COMO CONDICIONANTE NA ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGIA DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO VESTUÁRIO DE MARINGÁ - PR. Ariana Martins Vieira (UNESP) [email protected] Henrique Soares de Mello (UEM) [email protected] Isabela Silva Gerin (UEM) [email protected] Maria de Lourdes Santiago Luz (UEM) [email protected] Renan Eduardo Megiani (UEM) [email protected] Este artigo relata os resultados coletados por meio do diagnóstico realizado em Micro e Pequenas Empresas inscritas no projeto “Introdução de práticas de inovação contínua nas Micro e Pequenas Empresas (MPEs) do Arranjo Produtivo Local (APLL) do Vestuário de Maringá”. O projeto está vinculado ao Programa Universidade sem Fronteiras: Extensão Tecnológica Empresarial fruto de uma ação articulada entre o Governo de Estado do Paraná, através da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná. O desenvolvimento da pesquisa caracterizou-se como exploratória e descritiva. O escopo deste trabalho, restringiu o diagnóstico ao nível operacional. Pode-se observar na obtenção e análise dos dados que as MPEs apresentam uma carência de atuação nas três áreas de atuação do projeto: Gestão da Produção, Qualidade e Ergonomia. Entretanto, como preliminar; a ação se iniciará principalmente nas áreas de gestão da produção e utilização dos 5 sensos. Conclui-se que as empresas inscritas no projeto não apresentam uma sistemática de inovação tecnológica e ações de inovação ou melhoria contínua, o que vem a viabilizar a implantação destas ações de forma a contribuir com o desenvolvimento do APL. Neste sentido, ações de melhorias podem estimular a cooperação e o fortalecimento do arranjo produtivo, através da implantação posterior dos módulos Compra coletiva, Melhoria contínua e Avaliação de desempenho. XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL

COMO CONDICIONANTE NA

ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE

INOVAÇÃO TECNOLÓGIA DO

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO

VESTUÁRIO DE MARINGÁ - PR.

Ariana Martins Vieira (UNESP)

[email protected]

Henrique Soares de Mello (UEM)

[email protected]

Isabela Silva Gerin (UEM)

[email protected]

Maria de Lourdes Santiago Luz (UEM)

[email protected]

Renan Eduardo Megiani (UEM)

[email protected]

Este artigo relata os resultados coletados por meio do diagnóstico

realizado em Micro e Pequenas Empresas inscritas no projeto

“Introdução de práticas de inovação contínua nas Micro e Pequenas

Empresas (MPEs) do Arranjo Produtivo Local (APLL) do Vestuário de

Maringá”. O projeto está vinculado ao Programa Universidade sem

Fronteiras: Extensão Tecnológica Empresarial fruto de uma ação

articulada entre o Governo de Estado do Paraná, através da Secretaria

de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Fundação

Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do

Paraná. O desenvolvimento da pesquisa caracterizou-se como

exploratória e descritiva. O escopo deste trabalho, restringiu o

diagnóstico ao nível operacional. Pode-se observar na obtenção e

análise dos dados que as MPEs apresentam uma carência de atuação

nas três áreas de atuação do projeto: Gestão da Produção, Qualidade

e Ergonomia. Entretanto, como preliminar; a ação se iniciará

principalmente nas áreas de gestão da produção e utilização dos 5

sensos. Conclui-se que as empresas inscritas no projeto não

apresentam uma sistemática de inovação tecnológica e ações de

inovação ou melhoria contínua, o que vem a viabilizar a implantação

destas ações de forma a contribuir com o desenvolvimento do APL.

Neste sentido, ações de melhorias podem estimular a cooperação e o

fortalecimento do arranjo produtivo, através da implantação posterior

dos módulos Compra coletiva, Melhoria contínua e Avaliação de

desempenho.

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Palavras-chaves: Micro e pequena empresa, arranjo produtivo local,

ações de melhoria

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1. Introdução

A partir da interação prévia dos pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá com dois

atores de governança local (SEBRAE/PR e SINDIVEST) e empresários do setor do vestuário,

desenvolveu-se um projeto com o propósito de introduzir ações de inovação ou tecnologias de

gestão da produção, qualidade e ergonomia. O projeto denominado “Introdução de práticas de

inovação contínua nas Micro e Pequenas Empresas (MPEs) do arranjo produtivo local do

vestuário de Maringá” visa estimular a cooperação empresarial e promover a inovação

contínua nos processos de gestão empresarial e manufatura das Micro e Pequenas Empresas

do arranjo produtivo do setor do vestuário.

O projeto está vinculado ao Programa Universidade sem Fronteiras: Extensão Tecnológica

Empresarial, que é uma ação articulada entre o Governo de Estado do Paraná, através da

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Fundação Araucária de

Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.

Para a execução do projeto a equipe técnica foi composta por seis pesquisadores do curso de

Engenharia de Produção, Engenharia Têxtil e Administração (UEM), um pesquisador do

Programa de Pós-graduação de Engenharia de Produção (UNESP/FEB), 5 alunos de

graduação da UEM e dois profissionais recém-formados nas áreas de Engenharia de

Produção.

As ações de inovação e melhoria contínua ou tecnologias têm como premissa atender as

necessidades demandadas que as MPEs enfrentam nas áreas de gestão empresarial e

manufatura tais como: custos elevados de produção, problemas de qualidade nos produtos e

processos industriais, baixa produtividade, lead time de produção elevado, layout, carência de

um sistema de indicadores de desempenho que apóiem a tomada de decisão, escassez de mão

de obra qualificada, elevado número de absenteísmo e problemas ergonômicos. Para isto é

prevista a execução de 4 atividades:

i) formar um grupo de cooperação empresarial;

ii) planejamento do plano de ações tecnológicas;

iii) implantação e execução do plano de ações tecnológicas, e

iv) avaliação dos impactos sociais e econômicos no arranjo produtivo local.

Este trabalho propõe apresentar os resultados diagnosticados junto às micro e pequenas

empresas (MPEs). A proposta está limitada às atividades inseridas na etapa de planejamento

do plano de ações tecnológicas, cujo objetivo está na caracterização das empresas inscritas no

projeto e a elucidação das ações de extensão e inovação tecnológica.

2 Diagnóstico empresarial

Executar um diagnóstico da situação de uma empresa é complexo e uma das maiores

dificuldades é a escolha das ferramentas que serão utilizadas para pesquisar e compreender os

fatos, porque elas implicitamente mostram o marco teórico do pesquisador.

Schmitt (1996) conceitua cinco definições como elementos-chave sobre o que é um

diagnóstico empresarial: “o diagnóstico implica diferenciar, discernir, conhecer”;

“compreende o conhecimento dos sinais de determinados comportamentos”; “compreende a

identificação de uma patologia a partir de seus sinais e seus sintomas”; “implica pesquisar e

analisar as causas de uma condição, situação ou problema” e “implica na coleta de todos os

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dados necessários”.

O diagnóstico empresarial/organizacional é um instrumento aplicado para se obter o

mapeamento da conjuntura atual da empresa sob a ótica de seus proprietários, funcionários,

clientes internos e principais clientes externos, como etapa essencial anterior à elaboração de

um planejamento de ações e inserção de melhorias.

Ressalta-se que não existe um único diagnóstico. Cada metodologia utilizada apresenta o

resultado do conjunto de variáveis que se investiga, da profundidade com que cada variável é

analisada, do momento histórico em que se faz o estudo e da experiência de quem o executa.

3. Caracterização do APL do Vestuário de Maringá

A atividade de confecção no Paraná destaca-se na região noroeste do estado, especialmente no

município de Maringá e região. O início desta atividade data de meados da década de 1980 e

nas últimas décadas verifica-se um acentuado crescimento do número de empresas

relacionadas à confecção de artigos do vestuário (TRINTIN, et al. 2007). Com isto, esse

segmento mostra-se intensivo na utilização de mão-de-obra, absorvendo quantidades

significativas de trabalhadores.

O setor do vestuário de Maringá e região está caracterizado pelo elevado índice de

concentração geográfica de MPEs, constatando-se, atualmente, inseridas 1.200 indústrias

formais. Esse crescimento não se resume à quantidade de estabelecimentos, mas também na

ampliação da produtividade e da competitividade, produzindo 7 milhões de peças por mês,

com faturamento mensal em torno de R$ 130 milhões de reais, gerando 20 mil empregos

diretos e 60 mil indiretos (SINDVEST, 2009).

Assim como outras aglomerações produtivas do país determinadas como Arranjos Produtivos

Locais, o APL de confecção de Maringá é constituído predominantemente por micro e

pequenas empresas (98,4%) (TRINTIN, et al 2007.). Estudos de prospecção do setor

industrial destacam que a produção das empresas localizadas na região de Maringá está

distribuída entre a confecção de jeans, camisaria, malhas, lingerie, moda social masculina e

feminina, moda infantil e infanto-juvenil, linha bebê e praia (APL DO VESTUÁRIO, 2006).

Dentro deste panorama, as instituições relacionadas à formação técnica e empresarial do

capital humano da atividade são: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Paraná

(SENAI), a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e o Serviço Brasileiro de Apoio ás

Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá

(SINDVEST), sendo estas instituições os principais responsáveis por promover o intecâmbio

científico e tecnológico tanto para melhoria contínua quanto para solução de problemas,

contribuindo para o fortalecimento do APL.

Os problemas associados ao este setor industrial são a elevada informalidade das MPEs, o

porte dos empreendimentos e as características do mercado de moda: sazonalidade e massiva

exigência na criação de modelos e uso de novos tecidos. Ainda, existem dificuldades para

estabelecer uma estratégia de atuação coletiva e competitiva para o Arranjo Produtivo Local.

Isto é, os agentes de governança enfrentam dificuldades para estimular a cooperação

empresarial das MPEs.

Essa situação problemática pode ser associada a vários fatores relacionados com o perfil dos

empresários, tipo de processo industrial, a formação do empresário e carências no mercado de

tecnologia de gestão e prática de inovação contínua adequadas para o porte das empresas.

Verifica-se, também, uma limitação financeira e de infra-estrutura das MPEs e de capacitação

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técnica dos recursos humanos locais que também dificulta o acesso e a implantação das ações

de tecnologias e práticas de gestão empresarial que podem melhorar a qualidade dos produtos

e promover o desempenho dos processos de manufatura.

4. Metodologia

O público alvo deste projeto de extensão tecnológica empresarial se restringe as MPEs do

APL do vestuário de Maringá e região. A seleção desse arranjo produtivo foi realizada em

função de alguns critérios, conforme descritos a seguir:

- existe a oportunidade de integrar conhecimentos desenvolvidos na universidade (ofertas de

tecnologias) com as demandas de tecnologias das MPEs localizadas no arranjo produtivo de

Maringá;

- esforços foram realizados pelos participantes para integrar as demandas e ofertas

tecnológicas;

- o domínio de atuação dos pesquisadores está relacionado com as demandas de tecnologias

que promovem o desempenho nas áreas de gestão empresarial, produção e qualidade das

MPEs.

O diagnóstico foi realizado em vinte empresas: uma em Astorga, uma em Umuarama, uma em

Marialva, seis em Cianorte e onze em Maringá. Todas localizadas na região noroeste do

estado do Paraná.

O tipo de abordagem da metodologia possuiu um caráter qualitativo. Quanto aos

procedimentos técnicos classifica-se como pesquisa de campo e pesquisa-ação.

Iniciou-se, primeiramente com revisão bibliográfica referente as técnicas de investigação,

sequenciando por determinar a demanda do APL, analisá-lo e interpretá-lo, tendo como

abordagem o direcionamento da pesquisa às respostas para as indagações propostas às

demandas apresentadas.

O desenvolvimento da pesquisa pode ser dividido em duas etapas. A primeira etapa pode ser

caracterizada como exploratória e descritiva, escopo deste artigo. A segunda etapa da

pesquisa pode ser classificada como aplicada, pois tem como objetivo a aplicação prática dos

conhecimentos para a solução do problema a partir da validação da proposta. Tem seu

desenvolvimento caracterizado como pesquisa-ação, através da implantação e execução de

plano de ações tecnológicas.

4.1 Planejamento do plano de ações tecnológicas

Nesta etapa, foi elaborado um diagnóstico empresarial no arranjo produtivo. Esta atividade foi

realizada em parceria com o SINDVEST e SEBRAE-PR. O projeto foi divulgado entre os

associados do sindicato, no período de janeiro e fevereiro de 2009 e os interessados receberam

as visitas técnicas da equipe do projeto, neste período.

As técnicas utilizadas para a coleta de dados foram feitas por meio de questionário/check-list,

entrevistas, observações diretas no chão de fábrica e análise documental, compreendendo os

meses de março a abril de 2009. O questionário foi estratificado em três áreas: gestão da

produção, gestão da qualidade e ergonomia/segurança do trabalho. No anexo A, apresenta-se,

de modo resumido, parte das questões exploradas no questionário/check-list (Quadro 3).

Como base para a elaboração dos questionários foi utilizado o modelo de check list de Moura

(1998) e o Programa D-olho na Qualidade do Sebrae de Oliveira (1997). Através do

diagnóstico foi possível identificar as carências tecnológicas por empresa e a realização de

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propostas para o plano de ações de inovação.

A entrevista e a aplicação do questionário ocorreram em todas as empresas simultaneamente.

Em cada empresa, foi designado um funcionário responsável por receber a equipe técnica para

acompanhamento, fornecimento de dados e contato.

Com base nas áreas atuação demandadas no projeto, conforme ilustrado no Quadro 1 e no

resultado da análise dos diagnósticos, foi desenvolvido pelos pesquisadores, um fluxograma

com os módulos de atuação para elaboração do plano de ação (Figura 1). Cada empresa terá,

inicialmente, um módulo como prioridade para implantação e os outros módulos serão

implantados de acordo com a especificidade de cada empresa.

As variáveis investigadas estão relacionadas à Gestão da Produção, compreendendo os

módulos (mapeamento de processo, PCP, operações, almoxarifado e ficha técnica), Gestão da

Qualidade (módulos 5S, qualidade do produto e qualidade do processo), Ergonomia (módulos

ergonomia e pesquisa do clima organizacional I e II) e os módulos de ações complementares

aos já implantados como avaliação de desempenho, melhoria contínua, gestão de compras e

compra coletiva.

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Quadro 1 – Principais demandas/ofertas tecnológicas

Os módulos foram divididos em treinamento e assessoria/implantação. Os treinamentos

ocorrerão no SINDVEST, onde participarão todos os colaboradores designados pelas

empresas juntamente com os empresários. Além do treinamento coletivo, haverá

sensibilizações internas por módulo e por empresa, restrita aos funcionários.

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Qualidade do Processo

Ficha Técnica

5S / Ergonomia

Mapeamento de Processos

Avaliação de Desempenho

5S / Operações PCP

Capacitação para 5S

(Funcionários)

Motivação para 5S (Gerentes / Supervisores)

Gestão de Compras

Qualidade do Produto

Melhoria Contínua

ClimaOrganizacional

II

Compra Coletiva

TreinamentoAssessoria / Implantação

Legenda:

5S / Almoxarifado

ClimaOrganizacional I

Módulos Implantação

Figura 1 – Módulos de atuação

5 Análise e Interpretação dos Resultados

Conforme a classificação do SEBRAE (2009) quanto ao porte das empresas, classifica-se

como micro empresa as que possuem até 19 funcionários e pequenas empresas as que

possuem de 20 a 99 funcionários.

Dentre as empresas inscritas no projeto, 75% correspondem às pequenas empresas, sendo que

50% do total possuem até 39 funcionários e 10% delas apresentam um quadro de 80 a 99

funcionários.

A Figura 2 ilustra a reclassificação adotada, no projeto, referente a amplitude desta faixa,

visto que, um incremento em torno de 20 funcionários influenciou diretamente no

desenvolvimento do plano ação de melhoria nas empresas.

25%

25%10%

30%

10%

0-19 20-39 40-59 59-79 80-99

Figura 2 – Perfil das empresas por quantidade de funcionários

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Verificou-se, também, que 70 % das empresas trabalham com parte de sua produção

terceirizada, distribuída entre micro e pequenas empresas denominadas facção, tendo entre as

atividades estratificadas o bordado, a estamparia e a costura assumindo um percentual de 79%

(Figura 3). Tais características evidenciam-se como estratégias para o pólo do vestuário como

forma de obter eficiência coletiva e o fortalecimento da cooperação empresarial.

Figura 3 – Terceirização

Quanto aos módulos de atuação, a Figura 4 ilustra a quantidade de módulos solicitados nas 20

empresas. A Motivação para 5S será uma etapa de treinamento para todas as empresas,

independente da ação a ser implantada, uma vez que, estas apresentam carências quanto a

organização e má adequação do ambiente de trabalho. Qualidade do produto e qualidade do

processo aparecem em seguida em 27% do total dos módulos solicitados e confirmados pelo

diagnóstico.

O módulo 5S Ergonomia não será ofertado a priori, uma vez que para intervenção deste foi

definido como requisito prévio a oferta de treinamento por meio do módulo Motivação para

5S e a partir deste, verificar as demandas aplicando o módulo de clima organizacional por

empresa.

Esta abordagem, referente ao módulo 5S/Ergonomia justifica-se pela não compreensão da

tecnologia em si, no universo restrito das MPEs do APL. Observou-se, na maioria das

empresas, por meio da entrevista e observação do setor produtivo o desconhecimento frente

aos benefícios gerados quanto a saúde, segurança e conforto dos colaboradores, além da

produtividade humana e do sistema. Na realidade, há enorme dificuldade dos empresários

serem capazes de vincular ações ergonômicas/segurança como justificativa para qualquer

investimento, se necessário, em termos dos benefícios concretos que se obterá para a

organização – para a capacidade da organização em ser competitiva e sobreviver.

Visto que, os módulos Gestão de Compras, Melhoria Contínua e Compra Coletiva apresentam

maior grau de complexidade e estruturação, a implantação dos módulos anteriores se faz

necessário, servindo como base da implantação destes para sua efetiva utilização, de forma a

estimular ações conjuntas e de melhoria contínua, o que justifica, nessa primeira etapa de

atuação a ausência de um plano de atendimento.

0% 10% 20% 30% 40%

costura

bordado

estamparia

lavanderia

criação

corte

outros

Tercerização por Segmento

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Terceiriza

Não Terceiriza

Empresas Utilizam Serviço Tercerização

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Quantidade Módulos

Porcentagem

Acumulada

Figura 4 – Ações diagnosticadas

Após a leitura e compreensão das informações levantadas, decidiu-se por iniciar a intervenção

nas empresas, com o atendimento a uma demanda de capacitação gerencial por meio do

Módulo Motivação para 5S e implantação de nove ações nas áreas de gestão, processos,

insumos e produtos, buscando atender as demandas ou necessidades tecnológicas nas áreas de

Gestão da Produção, Gestão da Qualidade e Ergonomia (Figura 5).

A ação Qualidade do Produto foi escolhida como prioritária em sete empresas. Uma

característica que justifica a aplicação deste módulo é que o controle de qualidade se restringe

unicamente ao controle monitorado por meio da sensibilidade natural do colaborador (sentido

visual, tátil) sem outros parâmetros de inspeção e indicadores de desempenho, tais como

prazos de entrega, controles estatísticos quanto aos padrões de qualidade e melhoria contínua

em seus produtos e processos, principalmente aquelas que utilizam serviços terceirizados.

Os módulos 5S Almoxarifado e 5S Operações serão implantados a partir do 5S Motivação,

como forma de utilizar além das ferramentas e técnicas específicas para estas áreas de

atuação, a implantação dos cinco sensos da qualidade como obrigatória.

O módulo ficha técnica não está entre os módulos de atendimento, pois será uma ferramenta

utilizada como complemento às ações de PCP, Qualidade do Produto e 5S/Operações.

Qualidade do Processo será aplicado como auxílio ao módulo Qualidade do Produto, de

acordo a necessidade da empresa.

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Figura 5 – Módulos a serem implantados

Outra característica detectada no diagnóstico, está na carência de conhecimento, utilização e

implantação de teorias de gestão e inovação nas diferentes áreas da produção. Isto se deve a

falta de informações e referências para aplicação de técnicas de gestão baseada na filosofia

JIT e metodologias como Kanban, TQM (Gerenciamento de Qualidade Total), certificações

como ISO 9000, programas de melhorias contínuas – Kaizen, CEQ (Controle Estatístico de

Qualidade), entre outras. Neste contexto, somente duas empresas utilizam estes métodos

(Quadro 2), sendo que uma utiliza a ferramenta Kanban e outra a gestão da produção baseada

na filosofia JIT.

Quanto aos demais aspectos pesquisados, 65% das empresas apontam a existência de um setor

de PCP, porém, conforme constatado, nota-se que estas não apresentam um setor formalizado

de PCP, mas sim um controle informal do sistema produtivo, apresentando carências de

softwares específicos e métodos produtivos explícitos para este setor.

Quanto aos prazos de entrega, nota-se que 50% das empresas não atendem estes prazos

devido a falta de planejamento da produção e de insumos, aliado a falta de critérios no

estabelecimento da programação de entrega visando o comprometimento como estratégia. O

Quadro 2 destaca os fatores relevantes em relação a área Gestão da Produção.

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Empresa Setor de

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Quadro 2 – Diagnóstico da Gestão da Produção

6. Considerações Finais

Conforme o escopo deste trabalho, restringiu-se o diagnóstico ao nível operacional, uma vez

que este vem a colaborar com a gestão específica da produção, qualidade dos produtos e

processos e ergonomia.

Pode-se observar na obtenção e análise dos dados do diagnóstico que as empresas apresentam

uma carência de atuação nas três áreas do projeto. Entretanto, como preliminar; a ação se

iniciará principalmente nas áreas de gestão da produção e utilização dos 5 sensos. A atuação

no APL vem a contribuir de forma a organizar o ambiente de trabalho e também de

conscientização dos empresários e funcionários quanto a uma sistemática de utilização dos

recursos disponíveis de acordo com o porte da empresa, sejam estes recursos financeiros,

operacionais, mão-de-obra, entre outros.

Diante da análise dos dados coletados, constatou-se que inexistem técnicas e práticas precisas

na gestão estratégica da produção.

Conclui-se que as empresas inscritas no projeto não apresentam uma sistemática de inovação

tecnológica e ações de inovação ou melhoria contínua, o que vem a viabilizar a implantação

destas ações de forma a contribuir com o desenvolvimento do APL. Neste sentido, ações de

melhorias podem estimular a cooperação e o fortalecimento do arranjo produtivo, através da

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implantação posterior dos módulos compra coletiva, melhoria contínua e avaliação de

desempenho.

Referências

APL DO VESTUÁRIO. Plano de desenvolvimento do arranjo produtivo local do vestuário de Cianorte/

Maringá – Paraná. 53p., 2006. Disponível em: <http://www.redeapl.pr.gov.br/arquivos/File/PDP

VestuarioCianorteMaringaPR.pdf> Acesso em: 01 nov. 2008.

MOURA, R. A. Check sua logística interna. São Paulo: Imam, 1998.

OLIVEIRA, J.A.S. (coord.). D-olho na qualidade. Brasília: Ed. Sebrae, 1997.

SCHMITT, G. R. Turnaround: a reestruturação dos negócios. São Paulo: Makron books, 1996.

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas. Classificação das MPEs segundo o

número de empregados. Disponível em:http://www.sebraesp.com.br/sites/ classificacao _ empregado.pdf .

Acesso em 21 jan. 2009

SINDVEST- Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá. Disponível em: <www.sindvestmaringa.com.br>.

Acesso em: 18 abr 2009.

TRINTIN, J. G. et al. Potencialidades e fragilidades do arranjo produtivo local: um estudo de caso do setor de

confecção no município de Maringá – PR, 2007. Disponível em: <http://www.ecopar.ufpr.br/artigos/. Acesso

em 20 fev. 2009.

ANEXO A

Questionário de características gerais da empresa.

1- Qual o porte da empresa?

( ) Micro (Até 19 func.) ( ) Pequena (20 a 99 func.)

2- A empresa é familiar?

3- Qual o público alvo?

( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Infantil

4- Quais atividades são desenvolvidas no setor produtivo?

5- Quais atividades são terceirizadas?

6- Como a empresa se posiciona no mercado?

( ) Custo ( ) Diferenciação ( ) Qualidade

Check List – Produção

1- Existe PCP? Software e/ou Manual?

2- Existe ficha técnica do produto para controle de produção?

3- Há controle do estoque de matéria prima?

4- Existe controle de estoque final informatizado e integrado com o controle de

produção?

5- Existem gargalos na produção?

6- A empresa trabalha com métodos do tipo Kanban, JIT, TQC , software?

7- Qual é o sistema de produção?

( ) Linha ( ) Célula ( ) Série

8- Os prazos de entrega são cumpridos pela produção?

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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Check List – Qualidade

1- A empresa adota programas de qualidade?

2- A empresa possui alguma certificação de qualidade?

3- Os funcionários passam por uma qualificação/capacitação?

4- (Observação) O ambiente de trabalho é limpo e organizado?

5- A empresa possui algum indicador de desempenho?

Check List – Ergonomia

1- Os funcionários usam EPI? Em quais atividades?

2- Os funcionários se afastam por acidentes/problemas ergonômicos?

3- Quais são os tipos de necessidades dos funcionários quanto ao ambiente de trabalho?

4- A empresa utiliza algum programa de sugestões para melhorias do ambiente de

trabalho?

5- As ferramentas são dispostas no posto de trabalho?

6- Existem funções que exigem esforços físico?

Quadro 3 – Modelo resumido do Questionário/Check-list