Domingo, 16 de Junho de 2013 Nº 107 SÉRIE III...

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SEKE IA BINDO | Kufa era um menino sem pai nem mãe e a família fugiu dele como a noite foge do Sol. Nasceu sem nada e nada tem a não ser uma pedrinha de sal e um tugúrio onde se refugia da chuva e do frio. Foi abandonado para sempre quando no jango contou aos mais ve- lhos que viu no grande rio Queve uma lebre amarrar a pata do hipopótamo a uma árvore da margem. Os velhos sen- tenciaram: quem fala assim é feiticeiro. Desde então Fuka repete para si o que ouviu à lebre na margem do rio Queve: - A ngeve, ofuka yove yeyi. Linga hu- pandeke v’okulu, onale mwele popó! Ó hipopótamo, a tua dívida está aqui. Dei- xa que te prenda a perna, para puxares com toda a tua força! E ele aceitou. A lebre é dona de muitas artimanhas e até dizem que convenceu a leão a comer os filhos. Quem a conhece sabe que a sua inteligência ofusca até a luz do dia. Os mais velhos erraram quando bani- ram Kufa. É verdade! A lebre amarrou mesmo o hipopótamo na grande árvore da margem do rio. O menino passava o dia colhendo fru- tos silvestres. Colocava armadilhas nas lavras para apanhar coelhos. As lebres nunca se deixam apanhar. Tinha poucos anos de vida mas já conhecia aquelas ter- ras melhor do que os mais velhos. Percor- ria todos os caminhos mas foi mais além: rasgou caminhos novos, entre o vale e o monte, das lavras até ao rio, do rio às nu- vens. Aquelas nuvens baixas que indi- cam a chuva. Ou as altas nuvens das tro- voadas. Kufa aprendeu a vida pelo livro que escrevia dia após dia, hora a hora. Um dia houve grande alarido na aldeia. As mulheres do soba foram à lavra e en- contraram apenas as canas do milho. Até parecia que mãos invisíveis tinham apa- nhado todas as espigas. Aquilo era obra de um feiticeiro com imenso poder, ca- paz de secar o rio e comer vidas. Todos os dedos foram apontados em direcção ao tugúrio de Kufa. Quando ao entardecer ele chegou à aldeia com um coelho que tinha apanhado na armadilha, ouviu-se um grande clamor: - É ele, é ele! Foi Kufa que colheu o milho e devorou as espigas! O menino fi- cou atordoado e sem ânimo para conti- nuar a andar. Estava estarrecido, parali- sado. Olhava temeroso para aquela gen- te que o desprezava e agora lhe fazia uma terrível acusação: era o ladrão da aldeia! Mas Kufa nunca até então tinha posto a mão num fruto alheio, nunca tirou uma espiga madura, jamais tocou nos úberes das vacas ou das cabras para be- ber um pingo de leite. O menino só que- ria o que era da natureza. E até àquele dia, ela tinha-lhe dado frutos silvestres em abundância, muita água, pequenos animais que comia, cozinhando-os alta madrugada, nos restos de fogo do jan- go. Nunca sequer tinha pedido nada aos vizinhos. Porque sentia a hostilidade e o desprezo que lhe dedicavam. Kufa nunca se abeirou de um mais velho para lhe pedir um ensinamento ou uma informação. Fazia tudo pelo ti- no, reminiscências do que vira fazer a seus pais, ainda mal andava. - Eu não sou um ladrão! – Disse Kufa com a voz sumida, quase imperceptível. E novo clamor se levantou: - Este é o ladrão, o feiticeiro. É ele que come vidas! O menino começou a chorar silenciosamente e deixou cair o coelho ao chão. Estava sem forças e só lhe apetecia morrer. O so- ba então falou. Todos o ouviram res- peitosamente em silêncio. Só Kufa continuava a chorar. - Se não foi ele que roubou as espigas então foi o feiticeiro que vive nele! Mas não podemos castigá-lo porque pode lançar todas as desgraças sobre a nossa terra. A partir de agora ele fica proibido de se aproximar das nossas la- vras. Só pode andar pelos caminhos de pedras e espinhos. Aos poucos as pessoas foram-se afas- tando, temendo que Kufa fizesse lançar logo ali uma grande desgraça sobre a al- deia. O soba ficou sozinho, frente ao menino: - Se voltares a roubar serás amarrado por uma perna na grande ár- vore do rio e ali ficarás para sempre. E assim Kufa foi escravizado. Quem não pode percorrer livremente os cami- nhos perde a dimensão da humanidade. Agora todos os aldeãos lhe chamam ladrão. Os meninos da aldeia despre- zam-no. Ele nasceu enjeitado e assim vai morrer. Vosi vakuêmbo volukisa otjimunu, omala l’akwavo vokupula, kuvapapa- la vali l’ae. Assim nasceu a tristeza. CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS Kufa e o dia em que nasceu a tristeza PROVÉRBIO ADIVINHAS Soluções: 1. Alfinete; 2. Letra z; 3. Alho; 4 Alho; 5. Ar Cuidar as crianças africanas Na nossa escola começámos a semana a fazer trabalhos sobre o Dia da Criança Africana. Eu aprendi que em África as crianças ainda têm mui- tos problemas porque o nosso continente foi durante muitos séculos ocupado por forças estrangeiras e os povos africanos escravizados. A escravatura durante muitos séculos destruiu levou à saída das suas comunidades de milhões de homens e mulheres que estavam no auge da sua vida. Nunca na História da Humanidade aconteceu uma catás- trofe humana destas dimensões. Jovens de ambos os sexos e homenas na força da vida foram vendidos como escravos para as Américas, que os europeus tinham ocupado e onde não existia força de trabalho suficiente. A escravatura acabou oficialmente na última metade do século XIX mas o trabalho escravo continuou praticamente até às Independências dos países africanos que eram colónias das grandes potências ocidentais. Eu aprendi que um continente inteiro que sofre uma sangria tão grande do seu capital humano vai levar muitos séculos a recuperar. E é porque ficámos sem gente nova e forte para desenvolver África, que hoje milhões de crianças africanas sofrem com a fome e a doença. As potências ocidentais têm uma grande dívida para com África. ÂNGELA ROGÉRIO |12 ANOS| RANGEL 1. Todas as damas me querem, à cabeça me dão valor, eu mordo sem ter dentes, ferro sem ser pescador. 2. O que é que todo o nariz tem na ponta? 3. Tem barbas e não tem queixo. Tem dentes mas não tem boca. Tem cabeça e não tem pés. 4. Tem barba e não a corta, tem dentes e não come, tem rabo e não o arrasta. 5. Quem falta dele tiver, vá depressa ao hospital, que se trate, é mister, pois pode ser fatal! «O coração do homem sábio está quieto como a água límpida. Domingo, 16 de Junho de 2013 Nº 107 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER Cartas dos Amiguinhos AEm todo o mundo existem mais de 8.500 espécies de aves. Nem todas as aves voam, algumas espécies como a ema e a aves- truz, correm com muita velocidade. Já o ganso e o cisne têm a capacidade de nadar. A menor ave conhecida é o besourinho de Cuba, um colibri que pesa 1,6 gramas. A maior é a avestruz que chega a pesar 125 quilos. Aves são animais vertebrados, com quatro membros, sendo assim considerados tetrápodes. A Os dois membros anteriores são modificados em asas, que são usa- das para voar na maioria dos grupos. Os dois membros posteriores (pés) são utilizados para andar, correr e nadar. Por possuírem dois pés, são chamadas bípedes. Têm ossos resistentes, mas delicados, em alguns casos ocos e por isso chamados de pneumáticos. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Cuidado com os amigos Meninos, tem acontecido muita coisa má. tanto nas famílias co- mo na rua ou nas escolas. Há muita maldade. Procura fazer bons amigos. Não te envolvas com meninos maus. Se um menino bate no outro, agride com algum objecto como faca, lâmina ou pedra, repreen- de-o e afasta-te dele, porque não é um bom exemplo para ser se- guido por ninguém. Tu deves ajudar um menino se estiver ferido, a sentir-se mal ou que tenha sido agredido por ou- tro. Isto é amar o próximo e é o que todos devem fazer. CASIMIRO PEDRO VAMOS COLORIR

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SEKE IA BINDO |

Kufa era um menino sem pai nemmãe e a família fugiu dele como a noitefoge do Sol. Nasceu sem nada e nadatem a não ser uma pedrinha de sal e umtugúrio onde se refugia da chuva e dofrio. Foi abandonado para semprequando no jango contou aos mais ve-lhos que viu no grande rio Queve umalebre amarrar a pata do hipopótamo auma árvore da margem. Os velhos sen-tenciaram: quem fala assim é feiticeiro.

Desde então Fuka repete para si o queouviu à lebre na margem do rio Queve:

- A ngeve, ofuka yove yeyi. Linga hu-pandeke v’okulu, onale mwele popó! Óhipopótamo, a tua dívida está aqui. Dei-xa que te prenda a perna, para puxarescom toda a tua força! E ele aceitou.

A lebre é dona de muitas artimanhas eaté dizem que convenceu a leão a comeros filhos. Quem a conhece sabe que asua inteligência ofusca até a luz do dia.Os mais velhos erraram quando bani-ram Kufa. É verdade! A lebre amarroumesmo o hipopótamo na grande árvoreda margem do rio.

O menino passava o dia colhendo fru-tos silvestres. Colocava armadilhas naslavras para apanhar coelhos. As lebres

nunca se deixam apanhar. Tinha poucosanos de vida mas já conhecia aquelas ter-ras melhor do que os mais velhos. Percor-ria todos os caminhos mas foi mais além:rasgou caminhos novos, entre o vale e omonte, das lavras até ao rio, do rio às nu-vens. Aquelas nuvens baixas que indi-cam a chuva. Ou as altas nuvens das tro-voadas. Kufa aprendeu a vida pelo livroque escrevia dia após dia, hora a hora.Um dia houve grande alarido na aldeia.

As mulheres do soba foram à lavra e en-contraram apenas as canas do milho. Atéparecia que mãos invisíveis tinham apa-nhado todas as espigas. Aquilo era obrade um feiticeiro com imenso poder, ca-paz de secar o rio e comer vidas. Todos osdedos foram apontados em direcção aotugúrio de Kufa. Quando ao entardecerele chegou à aldeia com um coelho quetinha apanhado na armadilha, ouviu-seum grande clamor:

- É ele, é ele! Foi Kufa que colheu omilho e devorou as espigas! O menino fi-cou atordoado e sem ânimo para conti-nuar a andar. Estava estarrecido, parali-sado. Olhava temeroso para aquela gen-te que o desprezava e agora lhe fazia umaterrível acusação: era o ladrão da aldeia!

Mas Kufa nunca até então tinha postoa mão num fruto alheio, nunca tirouuma espiga madura, jamais tocou nosúberes das vacas ou das cabras para be-ber um pingo de leite. O menino só que-ria o que era da natureza. E até àqueledia, ela tinha-lhe dado frutos silvestresem abundância, muita água, pequenosanimais que comia, cozinhando-os altamadrugada, nos restos de fogo do jan-go. Nunca sequer tinha pedido nada aosvizinhos. Porque sentia a hostilidade e odesprezo que lhe dedicavam.

Kufa nunca se abeirou de um maisvelho para lhe pedir um ensinamentoou uma informação. Fazia tudo pelo ti-no, reminiscências do que vira fazer aseus pais, ainda mal andava.

- Eu não sou um ladrão! – Disse Kufacom a voz sumida, quase imperceptível.

E novo clamor se levantou:- Este é o ladrão, o feiticeiro. É ele

que come vidas! O menino começoua chorar silenciosamente e deixou

cair o coelho ao chão. Estava semforças e só lhe apetecia morrer. O so-ba então falou. Todos o ouviram res-peitosamente em silêncio. Só Kufacontinuava a chorar.

- Se não foi ele que roubou as espigasentão foi o feiticeiro que vive nele!Mas não podemos castigá-lo porquepode lançar todas as desgraças sobre anossa terra. A partir de agora ele ficaproibido de se aproximar das nossas la-vras. Só pode andar pelos caminhos depedras e espinhos.

Aos poucos as pessoas foram-se afas-tando, temendo que Kufa fizesse lançarlogo ali uma grande desgraça sobre a al-deia. O soba ficou sozinho, frente aomenino: - Se voltares a roubar serásamarrado por uma perna na grande ár-vore do rio e ali ficarás para sempre.

E assim Kufa foi escravizado. Quemnão pode percorrer livremente os cami-nhos perde a dimensão da humanidade.

Agora todos os aldeãos lhe chamamladrão. Os meninos da aldeia despre-zam-no. Ele nasceu enjeitado e assimvai morrer.

Vosi vakuêmbo volukisa otjimunu,omala l’akwavo vokupula, kuvapapa-la vali l’ae.

Assim nasceu a tristeza.

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOS

Kufa e o dia em que nasceu a tristeza

PROVÉRBIO

ADIVINHAS

Soluções:1.Alfinete; 2. Letra z; 3. Alho; 4 Alho; 5. Ar

Cuidar as crianças africanasNa nossa escola começámos a semana a fazer trabalhos sobre o Dia daCriança Africana. Eu aprendi que em África as crianças ainda têm mui-tos problemas porque o nosso continente foi durante muitos séculosocupado por forças estrangeiras e os povos africanos escravizados.A escravatura durante muitos séculos destruiu levou à saída das suascomunidades de milhões de homens e mulheres que estavam no augeda sua vida. Nunca na História da Humanidade aconteceu uma catás-trofe humana destas dimensões.Jovens de ambos os sexos e homenas na força da vida foram vendidoscomo escravos para as Américas, que os europeus tinham ocupado eonde não existia força de trabalho suficiente.A escravatura acabou oficialmente na última metade do século XIX maso trabalho escravo continuou praticamente até às Independências dospaíses africanos que eram colónias das grandes potências ocidentais. Eu aprendi que um continente inteiro que sofre uma sangria tão grandedo seu capital humano vai levar muitos séculos a recuperar.E é porque ficámos sem gente nova e forte para desenvolver África, quehoje milhões de crianças africanas sofrem com a fome e a doença. Aspotências ocidentais têm uma grande dívida para com África.

ÂNGELA ROGÉRIO |12 ANOS| RANGEL

1. Todas as damas me querem, à cabeça me dão valor, eumordo sem ter dentes, ferro sem ser pescador.2. O que é que todo o nariz tem na ponta?3. Tem barbas e não tem queixo. Tem dentes mas não temboca. Tem cabeça e não tem pés.4. Tem barba e não a corta, tem dentes e não come, tem rabo enão o arrasta.5. Quem falta dele tiver, vá depressa ao hospital, que se trate, émister, pois pode ser fatal!

«O coração do homem sábio estáquieto como a água límpida.

Domingo, 16 de Junho de 2013Nº 107 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCartas dos Amiguinhos

AEm todo o mundo existem mais de 8.500 espécies de aves. Nem todas as aves voam, algumas espécies como a ema e a aves-truz, correm com muita velocidade. Já o ganso e o cisne têm a capacidade de nadar. A menor ave conhecida é o besourinho de Cuba, um colibri que pesa1,6 gramas. A maior é a avestruz que chega a pesar 125 quilos. Aves são animais vertebrados, com quatro membros, sendo assimconsiderados tetrápodes.

A Os dois membros anteriores são modificados em asas, que são usa-das para voar na maioria dos grupos. Os dois membros posteriores (pés) são utilizados para andar, correr enadar. Por possuírem dois pés, são chamadas bípedes. Têm ossos resistentes, mas delicados, em alguns casos ocos e porisso chamados de pneumáticos.

SSAABBIIAASS QQUUEE.... ..

Cuidado com os amigos

Meninos, tem acontecido muitacoisa má. tanto nas famílias co-mo na rua ou nas escolas. Hámuita maldade. Procura fazerbons amigos. Não te envolvascom meninos maus.Se um menino bate no outro,agride com algum objecto comofaca, lâmina ou pedra, repreen-de-o e afasta-te dele, porque nãoé um bom exemplo para ser se-guido por ninguém.Tu deves ajudar um menino seestiver ferido, a sentir-se mal ouque tenha sido agredido por ou-tro. Isto é amar o próximo e é oque todos devem fazer.

CASIMIRO PEDRO

VAMOS COLORIR