É o caos!!! a luta anti agro-reformista de Plínio Corrêa de Oliveira[-WwW.LivrosGratis.net-]

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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA  CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS  PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA  É O CAOS!!! A LUTA ANTI AGRO - REFORMISTA  DE PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA  Gizele Zanotto Florianópolis SC, 2003 

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIA

O CAOS!!! A LUTA ANTI AGRO-REFORMISTA DE PLNIO CORRA DE OLIVEIRA

Gizele Zanotto

Florianpolis

SC, 2003

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GIZELE ZANOTTO

O CAOS!!! A LUTA ANTI AGRO-REFORMISTA DE PLNIO CORRA DE OLIVEIRA

Dissertao apresentada Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) como parte dos requisitos para obteno do grau de Mestre em Histria Cultural. Orientador: Dr. Artur Csar Isaia

Florianpolis

SC, 2003

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O historiador, como homem do presente trabalhando sobre o passado, , pois, julgado em segunda instncia pelo futuro .Jean-Franois Sirinelli

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Agradecimentos:pelo amor, assistncia e compreenso: Leonardo, Clenir, Darci, Katia, Lenoir, Jlio, Joo Gabriel, Marcio, Wilma, Deonile, Marilene, Jair, Bruno e demais familiares. pelo companheirismo e pela proveitosa troca de materiais: Maristela, Volmir, Claricia, Jos Ricardo, Armando Alexandre. pela intensa e indispensvel amizade: Liliane, Johanna, Sandro, J, Oto, Alecssandra, Iunes, Karine, Eduardo, Fbio, Everton, Marga, Jlio, Marilda, Dborah, Eliane, Maria de Ftima Fontes Piazza, Joo Klug, Maria Nazar Wagner. pela pacincia, competncia, amizade e afeto: Artur Csar Isaia. CAPES, pelo financiamento que possibilitou a presente pesquisa.

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RESUMO

Neste trabalho refletimos sobre a utilizao do discurso religioso na luta anti agro-reformista de Plnio Corra de Oliveira, e por extenso da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradio, Famlia e Propriedade (TFP), fundada pelo autor em 1960. A formao integrista e ultramontana deste catlico formou a base de sua doutrina e imaginrio contra-revolucionrios, que nortearam a ao da TFP no pas, sendo que esta entidade representou um paladino na luta pela restaurao de um modelo ideal de sociedade (identificada com a cristandade medieval), e sustentada na unio entre Igreja Catlica e Estado, e numa poltica de privilgios. A defesa da manuteno da estrutura rural vigente no pas, portanto, fez parte de um projeto maior: a defesa de uma sociedade monrquico-aristocrtica-crist.

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SUMRIO

INTRODUO.....................................................................................................7 1. PLNIO CORRA DE OLIVEIRA: O INTELECTUAL E O MITO..................................19 1.1. 1.2. Quando ainda muito jovem... ...............................................................24 A Assemblia Constituinte de 1933 e a atuao da Liga Eleitoral Catlica (LEC).........................................................................................32 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. 1.7. O Legionrio (1933-1947)......................................................................36 Em defesa da Ao Catlica .................................................................40 Ostracismo do grupo do Legionrio ......................................................43 Catolicismo ..........................................................................................47 Revoluo e Contra-Revoluo ..............................................................49

2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIO, FAMLIA E PROPRIEDADE: IMAGINRIO CONTRA-REVOLUCIONRIO......................................................58 2.1. 2.2. 2.3. Eis que surge a TFP.................................................................................63 Meios de atuao e divulgao da TFP....................................................74 Os temas que mobilizaram a TFP.............................................................79 2.3.1. 2.3.2. 2.3.3. 2.4. Divrcio e Aborto....................................................................80 Comunismo e Socialismo........................................................82 Esquerdismo Catlico..............................................................86

Imaginrio Contra-Revolucionrio: base da atuao da TFP......................93

3. O DISCURSO ANTI AGRO-REFORMISTA DE PLNIO CORRA DE OLIVEIRA........111 3.1. 3.2. O discurso anti agro-reformista de Plnio Corra de Oliveira...................114 Originalidade discursiva de Plnio Corra de Oliveira.............................135

CONSIDERAES FINAIS................................................................................142 FONTES..........................................................................................................147 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................151

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INTRODUO

Os caminhos que nos levam a optar por determinado tema de pesquisa geralmente relacionam-se com uma inquietao intelectual que tem como fonte uma motivao subjetiva. Neste trabalho optamos pela anlise de Plnio Corra de Oliveira, e da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradio, Famlia e Propriedade (TFP), aps constatar a presena saliente da entidade no cenrio poltico brasileiro, especialmente entre as dcadas de 60/ 70, fato que se relaciona com a liberdade de ao que a TFP adquiriu ao publicizar seu apoio ao governo militar. Apesar disso, a TFP ainda no recebeu a devida ateno por parte dos historiadores, sendo que poucos foram os autores que contemplaram as atividades tefepistas1, de maneira que nosso estudo pretende, tambm, preencher parte desta lacuna ao analisar a atuao pblica deste movimento. J a motivao subjetiva relaciona-se com o fascnio que temos pelo tema do anticomunismo, que remete atuao da TFP pela sua postura de identificar com o comunismo qualquer atitude ou pensamento que contrarie sua doutrina, o que torna este anticomunismo tefepista um tanto mecnico. Assim, a reforma agrria tambm foi identificada com o comunismo pelos tefepistas, e refutada como prejudicial aos interesses de nosso pas e, principalmente, como contrria

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Entre os estudos realizados podemos citar: KORNIS, Mnica. FLAKSMAN, Dora. Sociedade Brasileira de Defesa da Tradio, Famlia e Propriedade (TFP). In: FUNDAO GETLIO VARGAS. Centro de Pesquisas e Documentao de Histria Contempornea do Brasil. Dicionrio Histrico-Biogrfico brasileiro: 1930-1983. Rio de Janeiro: Ed Forense Universitria, FGV / CPDOC, FINEP, 1984. LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de O liveira Um Cruzado do Sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. SNCHEZ, Jesus Hortal. Tradizione Famiglia Propriet: religioni e politica nei tropici. Disponvel em: Acesso em 12/setembro/2002.

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orientao crist da maioria nossa populao. Mas a motivao principal que nos fez orientar a pesquisa foi o interesse pela questo da reforma agrria uma questo complexa que afeta os interesses de grandes produtores rurais (lucro), investidores (especulao financeira), polticos (influncia) e agricultores (digna sobrevivncia). A escolha de Plnio Corra de Oliveira como objeto de anlise advm de sua peculiaridade como pensador e de suas atitudes frente Igreja, poltica e ao modelo ideal de sociedade do qual comunga. Em relao Igreja Catlica2, sua atitude foi bastante alterada durante a militncia religiosa, principalmente, pela mudana de rumos que a instituio adotou aps o Conclio do Vaticano II (1962-1965), onde a corrente que preconizava a valorizao do laicato tornouse preponderante. Esta mudana de rumos da hierarquia no agradou os setores catlicos conservadores, que passaram a questionar os rumos do progressismo instaurado. Plnio se insere entre estes descontentes, o que ocasionou inmeros ataques deste Igreja utilizando-se, para isto, de sua prpria arma: o discurso catlico. Conforme Lima,

a ao poltico-ideolgica de Plnio se caracterizou, em um momento, pela defesa intransigente dos interesses corporativos da Instituio, e, em outro, pela oposio e crtica atuao desta mesma instituio. (...) Utilizou todo o repertrio doutrinrio catlico tradicional para condenar o denominado progressismo catlico .3

Tendo contato com sua obra, Revoluo e Contra-Revoluo , - na qual expe, ainda 1959, a luta que deve ser travada pela tradio e pela Civilizao Crist -, uma intensa curiosidade nos impulsionou a buscar mais obras que elucidassem seu pensamento. Sua tese de que a runa do mundo seria causada por dois motivos: a exploso de orgulho e de sensualidade4, reflexos das2

Sempre que nos referirmos Igreja, neste trabalho, estaremos fazendo aluso Igreja Catlica Apostlica Romana. 3 LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de O liveira Um Cruzado do Sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 04. 4 O orgulho leva ao dio a toda superioridade, e , pois, afirmao de que a desigualdade em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafsico e religioso, um mal. o aspecto igualitrio da Revoluo. A sensualidade, em si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela no aceita freios e leva revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou

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paixes desenfreadas do homem e que destroem a pureza e devoo humanas, nos remete a uma concepo de mundo muito mais ligada teologia do que a poltica, e essencialmente inspirada no catolicismo ultramontano vigente no Brasil, no incio do sculo XX, como nos descreve Lima,

a ideologia incorporada a este catolicismo est centrada na idia de que existe um mal que h cinco sculos tenta destruir a cristandade: a Revoluo. A origem deste terrvel mal se encontra na prpria alma humana. No fundo trata-se de uma manifestao do pecado .5

em busca da consolidao de uma proposta de sociedade crist que Plnio Corra de Oliveira se voltou para a poltica, pois esta considerada a forma possvel de implantar os princpios cristos em leis humanas e de garantir o que resta da civilizao ideal e, qui ampli-los at a implantao de uma monarquia-catlica no Brasil 6. A corrente ultramontana, do qual adepto, tem nesta interferncia no poder temporal seu alicerce de luta, pois

preconiza a interveno ativa dos catlicos nas instituies pblicas para cristianiz-las em nome de uma adeso incondicional e fervorosa ao papado, visto como poder absoluto .7

A importncia de Plnio Corra de Oliveira no advm exclusivamente de suas teses e da militncia catlica, mas, tambm, de sua luta poltica contra o comunismo, socialismo e progressismo, e, como resultado, contra a prpria Reforma Agrria, que considerada como o primeiro passo para uma invaso comunista no Brasil. Esta luta de fins conservadores inspirou a fundao, em 1960, da TFP, entidade de carter cultural e cvico filantrpicos com objetivos tambm

para enfrentar, no campo temporal, a dupla investida

humana, eclesistica ou civil. o aspecto liberal da Revoluo . OLIVEIRA, Plnio Corra de. Revoluo e Contra-Revoluo. Revista Catolicismo. So Paulo, N 100, maro, 1959. p. 12. 5 LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de O liveira Um Cruzado do Sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 25. 6 CATO, Francisco. VILELA, Magno.O Monoplio do Sagrado: uma anlise da presena da Igreja Catlica no Brasil. So Paulo: Editora Best Seller, 1994. p. 180. 7 PORTELLI, Hugues. Os socialismos no discurso social catlico. So Paulo: Edies Paulinas, 1990. p. 100.

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esquerdista, progressista 8. A TFP, que possui co-irms nos cinco continentes9, tornou-se um poderoso grupo de presso contra o liberalismo e o progressismo poltico, religioso e social. Seu radicalismo anticomunista auxiliou o Governo Militar brasileiro a prender inmeros subversivos durante a ditadura10. Por sua

ao, as iniciativas da TFP deixaram de ser toleradas pela Igreja em meados de 1970, apesar de a entidade nunca ter sido um movimento oficial. Lenharo, em Sacralizao da Poltica11, nos aponta alguns dos usos do discurso religioso no domnio da poltica como legitimador de atitudes e de controle social. Seu estudo evidencia a utilizao de tal recurso pelo Estado Novo: sua eficincia e suas possibilidades. A partir desta anlise, pretendemos analisar o discurso de Plnio Corra de Oliveira colocando em evidncia a utilizao do discurso religioso do direito natural para desqualificar qualquer tentativa de efetivao de uma Reforma Agrria no Brasil entre 1960 (data de publicao de seu primeiro livro contrrio Reforma Agrria: Reforma Agrria: Questo de Conscincia12

) e 1995 (data de seu falecimento), percebendo,

tambm, a interao entre o discurso produzido e a situao social e poltica no qual est inserido. Optamos por uma anlise bibliogrfica das obras do autor buscando trabalhar com a peculiaridade da proposta poltico-social de Plnio Corra de Oliveira, proposta esta que oscila entre o integrismo catlico e a adoo de uma postura completamente fora dos cnones do tradicionalismo catlico, ou seja, uma postura que oscila entre o integrismo13 e a heresia .8

SO CIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIO , FAMLIA E PR PRIEDADE. Meio sculo de O epopia anticomunista. 3 edio. So Paulo: Editora Vera Cruz, 1980. p. 66. 9 Atualmente a TFP possui representaes ou entidades co-irms em 23 pases: frica do Sul, Alemanha, Argentina, Austrlia, ustria, Brasil, Canad, Chile, Colmbia, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos da Amrica, Equador, Filipinas, Frana, ndia, Itlia, Paraguai, Peru, Polnia, Portugal, Reino Unido e Uruguai. 10 Lima descreve que os tefepistas clamavam por represso nos meios catlicos infiltrados por subversivos , ou seja, ela [TFP] assumiu no s a defesa dos agentes da subverso nos meios eclesisticos, mas tambm acabou empunhando as suas bandeiras . LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de O liveira Um Cruzado do Sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. p. 141 e 142. 11 LENHARO, Alcir. Sacralizao da Poltica. 2 edio. So Paulo: Papirus, 1986. 12 Tal publicao foi escrita em conjunto com o Bispo de Campos, Dom Antonio de Castro Mayer, o Bispo de Jacarezinho, Dom Geraldo de Proena Sigaud e Luiz Mendona de Freitas. 13 O integrismo nasceu na, Europa no sculo XIX, como oposio ao modernismo, que naquele momento traduzia-se tambm no chamado catolicismo popular. Conforme Alves, o integrismo um ramo teolgico de uma posio poltica sustentada pelos papas Pio IX e Pio X, o catolicismo

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Mas afinal, o que a TFP? Como pode ser considerado seu fundador? Plnio e a TFP j foram definidos de inmeras maneiras integrista, contra-revolucionrio, reacionrio, fascista, seita, conservador, movimento

religioso, etc

sendo que para este trabalho optamos pela tipologia de Arno

Mayer para designar tanto o TFP como seu fundador como representantes da contra-revoluo e dos reacionrios respectivamente, embora ambos

apresentem traos presentes em mais de uma das classificaes, ou seja, no consideramos estas tipologias como rgidas e imutveis. Mas, perguntamos, possvel um lder reacionrio com uma proposta contra-revolucionria, a partir desta definio de Mayer? Acreditamos que sim, pois este autor salienta que os contra-revolucionrios inspiram-se no declogo conservador e reacionrio, de maneira que perfeitamente concebvel que um lder reacionrio oriente doutrinariamente os contra-revolucionrios. Conforme a compreenso de Mayer, os reacionrios so crticos impassveis e pretensiosos da sociedade vigente, rejeitam o mundo que os cerca por sua decadncia, corrupo, perniciosidade e contradies14

. Tambm

so pessimistas com relao ao presente e ao futuro; desconfiam das inovaes, e s vezes so hostis com a cincia, a tecnologia, a educao, a indstria, a urbanizao, a juventude, os intelectuais e com os eruditos. Para Mayer, esta hostilidade

parece ser motivada por uma combinao de culpa, dio e desconfiana, nutrida pelo medo de que as oportunidades para si e para os seus filhos fiquem condenadas a uma contnua deteriorao, caso a histria continue seguindo o seu curso atual 15.

integral , que defende a imutabilidade e a inteligibilidade da posio dominante da Igreja na sociedade. ALVES, Marcio Moreira. A Igreja e a Poltica no Brasil. So Paulo: Brasiliense, 1979. Para Poulat, o termo integrismo catlico freqentemente utilizado como sinnimo de integralismo, o que no correto. O integralismo parte de uma concepo global e unitria de cristianismo, reafirma a integridade doutrinal e quer ser um sistema de vida e pensamento aplicvel a todas as necessidades da vida moderna. POULAT, Emile. Integralismo. In: BOBBIO , Norberto. MATTEUCCI, Nicola. PASQ UINO , Gianfranco (O rgs). Dicionrio de Poltica. Braslia: Editora da UnB, 1986. p. 635-637. 14 MAYER, Arno. Dinmica da Contra-Revoluo na Europa, 1870-1956. Uma estrutura analtica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. p. 57. 15 Idem, p. 57.

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Os reacionrios tambm desejam a mudana, se necessrio fazendo o uso da fora. Mas esta mudana relaciona-se com a volta a um passado mitificado e romantizado,

nesse passado, buscam o restabelecimento e a restaurao das instituies monarquia, igreja, propriedades e comunidades que sustentam uma ordem hierrquica de privilgios e prerrogativas, e que tambm constituem uma barreira contra o nivelamento corrosivo do estado, da sociedade e da cultura. Uma vez recuperados, os velhos bons tempos ficariam congelados para sempre 16.

Sua luta contra os antagonistas transposta ao campo do imaginrio, com a classificao dos inimigos como conspiradores diablicos interessados na corrupo do homem e da sociedade. Por fim, Mayer esclarece que em tempos de paz, os reacionrios procuram o isolamento, mas, em pocas de crise unemse aos conservadores e contra-revolucionrios, j que o presente considerado melhor do que um futuro incerto17. Ainda baseando-nos na tipologia de Mayer, consideramos a TFP como tipicamente contra-revolucionria. Mayer esclarece que os contra-

revolucionrios no tm o prestigio das classes dominantes tradicionais ou das elites, no participam das bases de influncia do poder e no contam com um grupo de adeptos polticos fixos. Em cada atuao comeam de novo, arregimentando grupos de inativos e marginalizados, ou seja, sua formao composta segundo as necessidades do momento. Mayer ainda lembra-nos de que os contra-revolucionrios buscam apoio popular entre os grupos descontentes ou ressentidos e, ao invs de afastar os seus temores, os provocam ainda mais, tirando proveito deles. Entre suas qualidades destaca-se a excelncia na mobilizao das classes em crise exacerbando e manipulando o seu ressentimento contra os que esto acima e o seu temor pelos que esto abaixo lembramos que esta premissa, no caso tefepista, refere-se

especificamente s sociedades no aristocrticas / monrquicas (modelo que

16 17

Ibidem, p. 57. Ibidem, p. 58.

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consideram ideal), j que a hierarquia rgida, o poder centralizado no lder (rei), a submisso dos sditos, etc, so altamente desejveis. Em seu trabalho, os contra-revolucionrios assemelham-se aos prprios revolucionrios,

seus representantes denunciam, de maneira implacvel e furiosa, todos os aspectos da vida, instituies e cultura contemporneos. Jactam-se de possuir as solues que propiciaro um milnio de permanente estabilidade e segurana 18.

Em sua propaganda, acentuam as mudanas de atitude, mentalidade e perspectiva muito mais do que mudanas das estruturas sociais e econmicas. Pregam a ordem, hierarquia, autoridade, disciplina e nacionalismo, em outras palavras, os apelos em prol da converso, regenerao e disposio psquicas tirados de idias, smbolos e mitos tradicionais j conhecidos salienta Mayer,19

. Por fim,

ao mesmo tempo em que os lderes polticos do movimento contra-revolucionrio desencadeiam e instigam a poltica de rua, que traz a desordem e a intranqilidade, denominam-se defensores da lei e da ordem. Afirmam que somente eles podem refrear seus prprios extremistas, que somente eles podem controlar as foras de segurana regulares e concentrar o apoio popular visando a conteno e represso dos revolucionrios 20.

Para compreender o discurso mpar de Plnio, vamos nos socorrer de uma abordagem biogrfica, buscando abranger a produo de seu sistema de idias, bem como a maneira como o autor exps seu pensamento, angariando tantos adeptos pelo Brasil e pelo mundo. Para tanto, retomaremos Foucault, que nos aponta os caminhos para desvendar as regras do discurso, ou seja, devemos interpelar ao prprio discurso quem fala; questionar os critrios de competncia e saber que lhe asseguram o direito de falar com sentido , tambm devemos remeter o discurso analisado aos lugares institucionais de

18 19

Ibidem, p. 71. Ibidem, p. 73. 20 Ibidem, p. 75.

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onde este sujeito21 obtm o direito de falar22. Para tentar responder a estas questes, em especial buscando compreender quem este sujeito que fala, o que ele diz representar, o que o mobiliza, que faremos uso da nova abordagem biogrfica. Esta nova abordagem valoriza o individual como forma de compreender um estrato social em determinado perodo histrico, tal como o fez Ginzburg em seu estudo O queijo e os vermes23. Lemos reitera a conexo necessria entre o individual e o coletivo afirmando que determinadas questes histricas precisam ser situadas na singularidade de um indivduo para uma melhor compreenso de seu significado, embora, salienta o autor, esta anlise jamais deve ser desconectada do social, porque no existe sujeito fora das relaes sociais24. Outra caracterstica desta nova abordagem que ela no isola o personagem lugar25

como se ele fosse de nenhuma poca e de nenhum

, ela mais um meio de penetrar na mentalidade de um grupo, ou seja,

preza pela sua individualidade ao mesmo tempo em que desperta para o estudo de seu meio, na busca de um entendimento de sua cultura, bem como das aspiraes coletivas que movem dada sociedade ou grupo em determinada poca histrica. Esta opo pelo estudo biogrfico do autor se torna pertinente para o entendimento de seu pensamento na medida em que sua atuao no pode ser dissociada de suas crenas, ou seja, a prtica social do autor pautou-se em sua viso de mundo, portanto, sua prtica refletiu seu iderio. No primeiro captulo, analisaremos alguns dados da biografia de Plnio Corra de Oliveira, de forma a tentar compreender algumas de suas teses, bem como sua intensa militncia21

Na perspectiva discursiva os sujeitos e o social esto envolvidos no processo de significao, e tambm so significados. Desta forma, consideramos os sujeitos no como causas, no como origem, mas como efeito do discurso, ou seja, os sujeitos so construdos discursivamente. O sujeito dotado de significao no interior da discursividade social (e histrica). PINTO, Cli Regina Jardim. A noo de discurso. In: Com a palavra o Senhor Presidente Jos Sarney. O discurso do plano cruzado. So Paulo: Hucitec, 1989. p. 25. 22 FOUCAULT, Michel. Apud: COSTA, Eleonora Z. Sobre o acontecimento discursivo. In: SWAIN, Tnia Navarro (Org.). Histria no Plural. Braslia: Editora da UnB, 1994. p. 191. 23 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idias de um moleiro perseguido pela Inquisio. 8 reimpresso. So Paulo: Cia das Letras, 1987. 24 LEMOS, Renato Lus de Couto Neto e. Benjamin Constant: Biografia e explicao histrica. Revista de Estudos Histricos. Ed. FVG, vol. 10, n 19, 1997. p. 68 25 RIBEIR , Maria Eurydice de Barros. A volta da Histria Poltica e o retorno da narrativa O histrica. In: SWAIN, Tnia Navarro (Org). Histria no Plural. Braslia: Ed. UnB, 1994. p. 101.

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catlica, ora de apoio, ora de embate com elementos do clero e do laicato catlico. Acreditamos que o imaginrio aristocrtico vivenciado por Plnio desde sua infncia foi fundamental para a sistematizao de seu pensamento, como tambm as influncias religiosas incorporadas durante sua formao (em especial o integrismo e ultramontanismo catlicos) marcaram profundamente sua atuao pblica posterior. A valorizao do estudo biogrfico, presente em nosso trabalho, no significa que acreditamos que as concepes do biografado tm de refletir exatamente os elementos de sua formao. Entendemos que a interao homem / mundo muito dinmica, sendo que as concepes de um indivduo podem variar muito de sua infncia at sua idade adulta, mas, no caso de Plnio, percebemos uma intensa conexo entre os fatos e imaginrio e suas crenas posteriores, deste modo, acreditamos que o estudo de sua biografia pde contemplar positivamente elementos de seu iderio. Aps analisar a biografia de Plnio, partiremos para o estudo do lugar institucional do qual o autor nos fala: este local a TFP, que ser analisada para compreendermos que entidade esta, porque no um movimento oficial da Igreja (que diz representar), de que forma esta entidade refletiu de forma to intensa o iderio de seu fundador. Estas questes sero analisadas no segundo captulo, que versa sobre a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradio, Famlia e Propriedade (TFP), fundada por Plnio em 1960, abordando sua fundao, objetivos, meios de atuao e principais bandeiras de luta. Tambm abordaremos a peculiaridade do seu iderio, buscando melhor compreender as tramas tecidas pelo imaginrio contra-revolucionrio que impele os tefepistas ao. Acreditamos que a TFP foi o principal assimilador e difusor do discurso de Plnio, portanto, analisar a atuao intelectual e prtica da entidade tornou-se um meio de compreenso da prxis do prprio Plnio, na medida em que suas concepes foram traduzidas na atuao da TFP, ou seja, foi atravs da TFP que o discurso e prxis de Plnio foram publicizados. Somente aps entendermos quem o sujeito Plnio e de que lugar ele fala que poderemos passar para a anlise de seu discurso, ou seja, para

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elucidar o que fala este sujeito, qual seu estatuto de autoridade 26 e porque seu discurso foi assimilvel por uma parcela considervel da populao. Para compreender o discurso de Plnio utilizaremos como fonte primria as suas obras, ou seja, o presente trabalho parte de uma reviso bibliogrfica de Plnio Corra de Oliveira para o desenvolvimento da anlise, incidindo sobre suas obras a teoria da anlise do discurso, com o intuito de melhor interpretar as condies de existncia, produo e emergncia de seu pensamento, bem como os mecanismos de adeso s suas premissas. Para Swain,

dizer agir, e dizer criar mensagens em movimento; objetivar representaes, esculpir desejos que se transferem infinitamente de um significante para outro. 27

A anlise do discurso compreende a linguagem como mediao entre o homem e a sociedade em geral, ou seja, relaciona a linguagem com a sua exterioridade. Esta teoria tambm valoriza o imaginrio coletivo que estabelece sentidos, papis sociais, condutas, e suscita a adeso a certo sistema de valores, de forma que constitui sentidos e sujeitos em processos de transferncias, jogos simblicos sobre os quais no temos controle imediato28. Conforme Swain, o imaginrio religioso - utilizado por Plnio em seu discurso -, instiga, corrobora ordens institudas, sob o signo do verdadeiro29

fundamenta, e do

natural

, desta maneira imputa as questes abordadas o signo do divino,

do inquestionvel, do correto e do bem. Assim como Costa acreditamos que todo discurso possui historicidade, e que, portanto, devemos tomar tambm as fontes como construes discursivas. Ao buscarmos compreender o discurso produzido por Plnio nos deparamos com um emaranhado de referncias que, aps passarem por seu filtro de leitura,26

Em anlise do discurso a autoridade refere-se legitimidade atribuda ao enunciador e ao status que lhe reconhecido. MAINGUENEAU, Dominique. Autoridade. In: Termos-Chave da anlise do discurso. 1 reimpresso. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. p. 18. 27 SWAIN, Tnia Navarro. Voc disse imaginrio? In: Histria no Plural. Braslia: Editora UnB, 1994. p. 60. 28 ORLANDI, Eni Puccineli. Anlise de Discurso: princpios e procedimentos. 3 edio. Campinas: Pontes, 2001. p 60. 29 SWAIN, Tnia Navarro. Voc disse imaginrio? In: Histria no Plural. Braslia: Editora da UnB, 1994. p. 60.

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deram corpo a um sistema de idias lgico que vai ao encontro de anseios diversos, j que versa sobre praticamente todos os assuntos materiais e espirituais que permearam sua vivncia. Segundo a mesma autora, a aceitao de um discurso se realiza pela identificao do receptor com o mesmo, ou pela necessidade de identificao com o interlocutor imaginado pelo sujeito / emissor do discurso30, ou seja, um discurso s exerce poder pela adeso espontnea do ouvinte, e a capacidade de um discurso exercer poder est agregada sua capacidade de responder desejos e de se inserir no conjunto de significados de uma sociedade31. Plnio d respostas a todos os que buscaram melhor compreender o processo histrico, a partir da uma viso crist de criao divina. Com base na anlise do discurso, pretendemos perceber quais os argumentos utilizados por Plnio para desqualificar, invalidar e denegrir qualquer medida modernizadora ou transformadora das estruturas sociais de maneira a privilegiar a manuteno do status quo. Trata-se do terceiro captulo, que abordar o discurso anti agro-reformista de Plnio, enfatizando suas contradies com a doutrina social crist e a utilizao do prprio discurso religioso para defender suas teses. Esta anlise pretende revelar a fora persuasiva da argumentao utilizada por Plnio durante sua militncia anti agro-reformista. A importncia da TFP a nvel mundial revela que o discurso de Plnio soube atender a muitos anseios, de forma que foi amplamente aceito e difundido, revelando, assim, que foi um discurso que alcanou certo poder no conjunto discursivo que forma a sociedade. A permanncia de um discurso na sociedade resultado, segundo Pinto, da sua capacidade de transformar as condies de emergncia em condies de existncia, este recurso que permite que um discurso se institucionalize no social, ou seja,

poder30

A permanncia de um discurso isto , sua condio de est altamente relacionada com sua capacidade de por um

COSTA, Eleonora Z. Sobre o acontecimento discursivo. In: SWAIN, Tnia Navarro (Org.). Histria no Plural. Braslia: Editora da UNB, 1994. p. 197. 31 PINTO, Cli Regina Jardim. A noo de discurso. In: Com a palavra o Senhor Presidente Jos Sarney. O discurso do plano cruzado. So Paulo: Hucitec, 1989. p. 36.

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lado transformar as condies de emergncia em condies de existncia e por outro construir no seu interior suas prprias condies de existncia 32.

O discurso de Plnio demonstrou tal capacidade de poder, sendo que ainda hoje cultuado por milhares de pessoas em todo o mundo. Alm de ter sido um homem de idias, - um intelectual polmico que gerou inmeros inimigos como tambm milhares de seguidores e admiradores -, Plnio tambm nos mostrou que foi um homem de ao; que transformou suas crenas em ideais a serem defendidos integralmente. Amado ou odiado, o correto que sua influncia no deve ser desconsiderada, pois ainda se traduz em ao social, impulsionada pelas inmeras TFP s existentes nos cinco continentes. Almejamos, com a realizao da pesquisa, auxiliar na compreenso das intensas e freqentes tramas tecidas entre o religioso e o poltico para a manuteno da ordem social e poltica, o que se pode constatar a partir da freqncia com que os significados religiosos so invocados pelo poder estabelecido.

32

Idem, p. 39.

19

1. PLNIO CORRA DE OLIVEIRA: O INTELECTUAL E O MITO

Querendo ou no, todos estamos a escrever as nossas biografias. E no dia do Juzo, o volume ser aberto e lido . Plnio Corra de Oliveira

Recentemente houve uma retomada do estudo de indivduos pela histria, e tambm pelo jornalismo. Segundo Schmidt, o redespertar do interesse pelo gnero seria decorrente da crise do estruturalismo, com o conseqente recuo da histria quantitativa e serial, e com o avano dos estudos de caso e da microhistria. Tambm resultaria de uma aproximao da histria com a antropologia e com a literatura. Os principais avanos do gnero biogrfico apontados pelo autor seriam uma preocupao com a relao indivduo / sociedade, o interesse despertado tambm pelas pessoas midas , o resgate de vrias facetas dos biografados (vida pblica, grandes feitos, desiluses, sentimentos, inconsciente, cultura, dimenso privada e cotidiano), a contestao da noo de indivduo como ser unitrio, e o necessrio respeito pela memria do biografado (questo tica). A massificao e a perda de referenciais ideolgicos e morais vivenciados contemporaneamente teriam despertado, como contrapartida, um interesse crescente por trajetrias individuais. O grande pblico estaria buscando nos estudos biogrficos uma forma de inspirao para atos e condutas do presente33.

33

SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo Biografias... Historiadores e Jornalistas: Aproximaes e Afastamentos. Revista de Estudos Histricos. Ed. FGV, vol. 10, n 19, p. 03-21, 1997.

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Diversa da histria tradicional, a nova abordagem biogrfica no isola o personagem como se ele fosse de nenhuma poca e de nenhum lugar. Ela mais um meio de penetrar na mentalidade de um grupo ,34 ou seja, preza pela sua individualidade ao mesmo tempo em que desperta para o estudo de seu meio, na busca de um entendimento de sua cultura, bem como das aspiraes coletivas que movem dada sociedade em determinada poca histrica. Acreditamos, assim como Lemos, que este retorno s biografias muito vlido, na medida em que alguns acontecimentos precisam ser situados no individual para ganhar significado, embora este autor tambm alerte que no se deve desvincular qualquer estudo do social35. Um estudo que valoriza individual / coletivo foi realizado por Ginzburg, em O queijo e os Vermes. A histria de Domenico Scandella (Menocchio), segundo o autor, serviu como um microcosmo de um estrato social inteiro em determinado perodo histrico36, ou seja, mesmo com as especificidades do moleiro Menocchio, sua vida foi marcada pela cultura oral comum de sua sociedade. Portanto, estudar um indivduo tornou-se um meio para entender, e refletir, sobre sua prxis bem como para compreender parte do contexto em que vive. Este tipo de anlise serve-nos de referencial para a compreenso do grupo que segue Plnio, bem como nos d pistas para o entendimento da complexa estrutura de plausibilidade37 que permitiu a aceitao de seu discurso, em especial durante o regime militar, no qual a TFP se consolidou e expandiu, beneficiada pelo embate entre os militares e os eclesisticos. Esta nova abordagem tambm valoriza o imaginrio social que auxilia no reconhecimento dos referenciais da sociedade da qual o biografado pertencente. So os sentimentos que permeiam o consciente / inconsciente de uma sociedade que passam a ser valorizados na compreenso de seu meio.34

RIBEIR , Maria Eurydice de Barros. A volta da Histria Poltica e o retorno da narrativa O histrica. In: SWAIN, Tnia Navarro (Org). Histria no Plural. Braslia: Ed. UnB, 1994. p. 101. 35 LEMOS, Renato Lus de Couto Neto e. Benjamin Constant: Biografia e explicao histrica. Revista de Estudos Histricos. Ed. FGV, vol. 10, n 19, 1997. p. 68. 36 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idias de um moleiro perseguido pela Inquisio. 8 reimpresso. So Paulo: Cia das Letras, 1987. p. 27. 37 BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociolgica da religio. So Paulo: Paulinas, 1985. p. 58.

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Resgatam-se os smbolos vivenciados no cotidiano, e com isto, so evidenciadas as relaes existentes entre a memria e a histria, especificamente, o uso que o presente faz do passado, como forma de legitimao, contestao, criao ou recriao de novas representaes sociais, alterao do imaginrio, criao ou revalorizao de esteritipos, etc. Assim como o imaginrio valorizado no campo prtico, tambm o no campo das pesquisas. Plnio Corra utilizou o imaginrio catlico para fazer com que seu discurso fosse melhor assimilado, j que a cultura brasileira marcada por elementos desta religio. A utilizao de elementos religiosos nos campos poltico, cultural e social tem garantido a muitos de seus emissores uma legitimidade que no receberiam falando somente em seu nome . Costa, ao analisar o jornal Santurio da Trindade (Gois), esclarece o expediente utilizado pelos editores para garantir legitimidade ao seu discurso,

para que uma autoridade se estabelea sem contestao, utiliza-se o recurso do apagamento do emissor, despossuindo-o do papel de sujeito falante e remetendo-o a instituio que ele representa [ou pretende representar, como o caso da TFP]. No a sua verdade que est sendo dita, mas a verdade da Igreja .38

Orlandi chama este apagamento do emissor de

mecanismo de

incorporao de vozes , ou seja, quando uma voz se fala na outra da qual (ou se diz) representante39. Consideramos que, para o estudo de Plnio Corra de Oliveira, e da TFP, tal recurso foi de grande valia, assim como para o jornal goiano. Foi o que aconteceu, por exemplo, no livro Meio sculo de epopia anticomunista, da TFP. Justificando as anlises e denncias da infiltrao comunista / esquerdista na Igreja Catlica brasileira, expostas na obra, os autores ressaltaram que

s um grupo de intelectuais e homens de ao notoriamente tidos como catlicos fervorosos poderiam empreender tal obra sem38

COSTA, Eleonora Z. Sobre o acontecimento discursivo. In: SWAIN, Tnia Navarro (Org.). Histria no Plural. Braslia: Editora da UnB, 1994. p. 196. 39 ORLANDI, Eni Puccinelli. O discurso religioso. In: A Linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. 4 edio. Campinas: Pontes, 1996. p. 244.

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incorrer na suspeita de que desejam demolir a Igreja.S a especializao muito acurada desses intelectuais, em doutrina social catlica, lhes permite fazer dos erros do criptocomunismo catlico uma refutao que toque a fundo os ambientes especificamente catlicos .40

Assim, o grupo de autores desta obra (membros da TFP) utilizou-se da mistificao41 e do apagamento do emissor para postarem-se como

representantes da doutrina oficial da Igreja. Por fim, lembramos que o estudo biogrfico se torna difcil na medida em que, para o estudo de Plnio, utilizamos sua autobiografia como referencial para a construo dos eventos que marcaram sua formao e sua ao. Heymann enfatiza que a autobiografia

fruto da prpria atividade narrativa, ou seja, de um discurso explcita e deliberadamente formulado com o objetivo de, num momento posterior e afastado da dinmica dos acontecimentos, refazer os caminhos percorridos por uma pessoa at o momento do relato, situao que a prpria justificativa para a motivao de registr-lo. Com isso, as experincias de vida seriam submetidas a uma lgica discursiva que enfatiza a sucesso e a vinculao entre os acontecimentos, produzindo uma unidade coerente onde s existiriam fragmentos .42

Ou seja, quando tomamos uma autobiografia como fonte devemos ter cautela, pois, esta construo seletiva e geralmente encaminha-se para uma ordem de fatos que busca causar uma impresso de harmonia entre as idias e os acontecimentos vivenciados pelo personagem. Heymann, comentando Bourdieu, afirma que este autor

alerta que o indivduo, ao contar sua vida e expor suas memrias, atuaria como idelogo de sua prpria histria, selecionando certos acontecimentos significativos em funo de uma40

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIO, FAMLIA E PROPRIEDADE. Meio sculo de epopia anticomunista. 3 edio. So Paulo: Editora Vera Cruz, 1980. p. 22. 41 Orlandi considera como mistificao o recurso da subsuno de uma voz pela outra (estar no lugar de) sem que se mostre o mecanismo pelo qual esta voz se representa na outra. ORLANDI, Eni Puccinelli. O discurso religioso. In: A Linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. 4 edio. Campinas: Pontes, 1996. p. 244. 42 HEYMANN, Luciana Q uillet. Indivduo, Memria e Resduo Histrico: Uma reflexo sobre os arquivos pessoais e o caso Filinto Muller. Revista de Estudos Histricos, Rio de Janeiro, vol. 10, n 19, 1997, p. 44-45.

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inteno global e estabelecendo entre eles conexes adequadas a dar-lhes coerncia, gerando sentidos a partir de uma retrica ordenadora da descontinuidade do real; trata-se de um esforo de representao, ou melhor, de produo de si mesmo .43

Neste primeiro captulo analisaremos fragmentos da biografia de Plnio Corra de Oliveira para que possamos melhor entender as nuances de sua formao e atuao, possibilitando, desta forma, uma maior compreenso dos motivos e ideais que permearam sua atuao social e intelectual. Acreditamos, como j mencionamos anteriormente, que a vida de um indivduo no est desconectada do social do qual pertencente, portanto, nos deteremos tambm no contexto nacional / internacional vivenciado por Plnio, quando pertinente ao estudo do biografado. Assim, pretendemos tambm manter esta tentativa de uma narrativa em constante conexo com o mundo ao redor, ou seja, buscaremos estudar o indivduo e a sociedade / o personagem e o seu mundo, de forma a valorizar as influncias culturais recebidas e absorvidas e/ ou rechaadas por Plnio durante sua formao e vivncia pessoal. A utilizao de uma abordagem biogrfica, neste trabalho, relaciona-se com a necessidade de compreender o imaginrio vivenciado por Plnio, que resultou nas concepes que orientaram sua atuao. Outro fator que nos levou a aprofundar os acontecimentos vivenciados pelo autor refere-se ao fato de que, aps a fundao da TFP (1960), sua vida e a da entidade confundem-se de maneira que os ideais e a prxis de Plnio transformaram-se tambm em ideais e prxis da associao. Plnio traduziu suas angstias, desejos e alegrias para a TFP, de forma que h uma incrvel sintonia entre suas aes e as da entidade. Assim sendo, o estudo de Plnio vem responder questes sobre a origem de suas concepes, bem como evidenciar a analogia entre as aes do autor e da TFP44.

43 44

Idem, p. 44. Sobre a atuao da TFP, vide Captulo III do presente trabalho.

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1.1. QUANDO AINDA MUITO JOVEM...

45

Quando ainda muito jovem considerei enlevado s runas da Cristandade. A elas entreguei o meu corao voltei as costas ao meu futuro, e fiz daquele passado carregado de bnos o meu porvir . Plnio Corra de Oliveira

Plnio Corra de Oliveira nasceu em uma poca conturbada da poltica nacional. Aps a proclamao da Repblica, em 15 de novembro de 1889, os polticos condizentes com o novo sistema passaram por constantes discusses acerca da melhor forma de governo para o pas. Inmeros foram os descontentes com esta proclamao, e inmeros foram os que acreditaram que esta seria uma forma de resolver os problemas do pas: dvidas pblicas, indenizao pela emancipao dos escravos, desemprego causado pela abolio, crescimento desordenado das cidades, necessidade de incrementar o mercado nacional (mo-de-obra abundante que deveria ser aproveitada), etc. Ainda nas dcadas de 1920 e 1930 intelectuais, polticos e homens de negcio debatiam sobre as vantagens e desvantagens adquiridas com a Repblica, sendo que vrios movimentos monarquistas formaram-se visando um retorno ordem anterior. Neste contexto nasceu Plnio, no dia 13 de dezembro de 1908, na cidade de So Paulo. Seus pais eram, segundo Mattei, membros da aristocracia rural do pas, sendo que por parte de pai, o advogado Joo Paulo Corra de Oliveira, Plnio descendia dos senhores de engenho de Pernambuco. J a famlia de sua me, dona Luclia Ribeiro dos Santos, descendia de bandeirantes e da aristocracia do caf, e figurava entre as famlias mais conservadoras da capital paulista46. Mattei revela que Plnio veio ao mundo atravs de um parto difcil, onde a previso mdica era de que o beb ou a me morreria durante o

45 46

Subttulo extrado do excerto de Plnio Corra de Oliveira citado abaixo. MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de O liveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 35/36.

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parto, mas, devido ao herosmo de Dona Luclia, ambos sobreviveram47. As biografias e a autobiografia de Plnio apresentam eventos que possuem paralelos com narrativas dos considerados grandes homens , santos, e at mesmo com a vida de Jesus Cristo. Isto evidencia que este discurso foi construdo para demonstrar que Plnio foi um predestinado; um lder na luta em defesa tradio e da Igreja Catlica Apostlica Romana; um homem que dedicou imensa admirao e devoo sua me, numa famlia cujo pai embora muito elogiado pouco aparece (tal qual a famlia de Cristo); um

devoto ao catolicismo que se sacrificou fsica e intelectualmente pela sua Igreja (imolao); que se entregou como escravo de amor a Nossa Senhora; enfim, um lder que, contra tudo e todos que se opusessem, lutou pelos seus mais altos ideais. A formao religiosa de Plnio ocorreu simultaneamente ao predomnio do catolicismo ultramontano no Brasil. Este modelo de catolicismo orientou o revigoramento da Igreja no incio do sculo XIX. O movimento ultramontano surgiu como reao dos catlicos ao mundo moderno e ao liberalismo, desta forma, tambm realou a incompatibilidade entre a Igreja e a civilizao moderna (marcada pela secularizao), entre o sagrado e o profano. Sua nfase recaiu sobre a uniformizao do uso do latim, da liturgia e do catecismo tridentino, bem como na centralizao do poder religioso na Santa S. Os presbteros deveriam ser padres ascetas, espirituais, apstolos com a tendncia de se isolarem do mundo, homens de orao, de vida retirada e de sacrifcio. Os ultramontanos reconhecem no Papa uma autoridade espiritual total o que

culminou com a proclamao do dogma da infalibilidade papal. No mbito poltico, os ultramontanos colocavam-se ao lado do que existia de mais reacionrio, como forma de barrar a modernizao48. Plnio teria despertado precocemente o interesse pela religio e pela tradio, decorrentes da instruo recebida em casa, de sua me Luclia, devota47 48

Idem, p. 38. WERNET, Augustin. Introduo. Alcance e significado da reforma do clero paulista. In: A Igreja paulista no sculo XIX. So Paulo: tica, 1987. p. 178 a 182. ISAIA, Artur Csar. Introduo. In: Catolicismo e Autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. p. 21.

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ao Sagrado Corao de Jesus. Plnio dedicou um imenso carinho e gratido sua me, j seu pai foi pouco mencionado em suas biografias. Este afeto dona Luclia transformou-se em devoo, sendo que os membros da TFP tambm passaram a prestar-lhe culto (como tambm a Plnio). Conforme depoimento de Jos Antnio Pedriali, egresso da TFP,

a devoo a dona Luclia, ento restrita a um pequeno grupo de militantes, foi aos poucos dominando crculos mais vastos da TFP. Compuseram-se ladainhas em eu louvor, introduziu-se a peregrinao a seu tmulo, no Cemitrio da Consolao, e alguns mais entusiasmados substituram o nome da Virgem e de Jesus por Luclia e Plnio, na Ave-Maria 49.

Este culto a Dona Luclia e a Plnio, foi legitimado pela obra de Mattei, que afirma que o culto um ato de estima e representa um sentimento de reconhecimento da excelncia de outra pessoa, mesmo que esta no tenha sido santificada pela Igreja50. Plnio foi educado com hbitos da cultura aristocrtica, conforme a educao recebida tambm por sua me51. A utilizao de uma educao baseada nos moldes europeus derivou, neste perodo, do intenso intercmbio cultural entre So Paulo e Europa, de maneira que a aristocracia paulistana vivenciava os ecos da Belle poque. Paris era considerada a capital da lngua, cultura e moda, sendo referncia para os demais pases. A famlia de Plnio prezou por estes costumes refinados, de maneira que este hbito permeou a vivncia do autor, traduzindo-se mais tarde, em modus vivendi ideal, quando no corrompido pelos decadentes costumes modernos. O menino Plnio Corra de Oliveira iniciou os estudos sob a direo da governanta bvara Mathilde Heldmann e com 11 anos de idade passou a freqentar o Colgio So Lus da capital paulista (entre 1918 e 1925), dirigido pela Companhia de Jesus, onde teria adquirido o amor pela vida metdica e

49

(Nota de rodap). PEDR IALI, Jos Antnio. Guerreiros da Virgem: A vida secreta na TFP. So Paulo: EMW Editora, 1985. p. 133. 50 MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de O liveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 253. 51 Idem, p. 37.

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uma concepo militante de vida espiritual, que orientou sua ao na sociedade52. Na escola teria aprendido que a batalha pr ou contra Deus e a Igreja seria a razo de todos os acontecimentos que sucedem na terra.

Na fidelidade a essa Igreja, o mundo tem os meios de ancorar seus melhores ideais numa rocha firme e rejeitar toda forma de erro e de mal; pelo contrrio, se ele rejeita Deus e a Igreja, os costumes sociais, as instituies, os povos e todas as civilizaes marcham de modo insopitvel para a destruio 53.

De Santo Incio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, teria assimilado que a vida um campo de batalhas entre o bem e o mal e, entre estas duas opes de vida, estaria o livre arbtrio do homem, que poderia levlo salvao / bem ou ao pecado / mal. Segundo a crena de Plnio,

todos possumos, como conseqncia do pecado original, inclinaes desordenadas que nos convidam ao pecado; o demnio procura favorec-las e a graa divina ajuda-nos a venc-las, transformando-as em ocasio de santificao 54.

Mattei e Taveiro enfatizam que o ambiente familiar de Plnio era oposto ao dos colegas. Estes j estavam influenciados com a malcia e imoralidade, bem como entusiasmados pelo mito americano , ou americanismo55 daqueles dias. A ascenso poltico-econmica dos Estados Unidos da Amrica, em nvel mundial, e as mudanas sociais ocorridas no Ps-guerra modificaram tambm os costumes e hbitos das sociedades. Difundida principalmente pelo cinema, esta nova maneira de agir, americanizada , alcanou grande parte do mundo ocidental. Homens e mulheres sentiram grandes mudanas nas sociedades: as mulheres foram relativamente emancipadas52 53

como resposta s suas intensas

Ibidem, p. 52. TAVEIR , Eloi de Magalhes. Plnio Corra de O liveira: Um resumo biogrfico. Catolicismo. O So Paulo, Ed. Padre Belchior de Pontes LTDA, Ano LI, n 610, pp. 17-27, Outubro/2001. p. 20. 54 MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de O liveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 53. 55 Para Plnio o americanismo um estado de esprito subconsciente, com afloraes conscientes, que erige o gozo da vida em supremo valor do homem e procura ver o universo e organizar a existncia de modo propriamente delicioso . O corao do sbio est onde h tristeza, Revista Catolicismo, n 85, janeiro de 1958. Apud: MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 51.

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reivindicaes -, e os homens viram o paradigma masculino alterar-se pela necessidade de uma maior dinamicidade e praticidade56. Simultaneamente, o mito do dinheiro se imps, como tambm a busca intensa pelo prazer. Houve uma certa democratizao no trato social, mas, esta democratizao atingiu principalmente os setores da moda57 e da linguagem. Seus colegas foram muito influenciados por esta onda do mito americano , assim, para estes, a pureza era motivo de chacota e a vulgaridade e obscenidade eram smbolos de varonilidade e sucesso58. Logo esta disparidade de ideais teria se transformado no motivo para que Plnio definisse a postura que iria vivenciar a partir da. Teria optado em lutar por uma concepo de vida baseada na religio,

era a concepo contra-revolucionria da religio como uma fora perseguida que nos ensina as verdades eternas, que salva a nossa alma, que conduz para o Cu e que imprime na vida um estilo que o nico estilo que torna a vida digna de ser vivida. Ento, a idia de que era preciso, quando fosse homem, empreender uma luta, para derrubar esta ordem de coisas que eu repudiava revolucionria e m, para estabelecer uma ordem de coisas que era a ordem de coisas catlica 59.

Portanto, segundo Mattei, Plnio j delineava as bases de sua luta prcristandade e pr-Igreja Catlica desde sua adolescncia. Ansart sublinha que uma prtica social pressupe uma estrutura de valores, um cdigo interiorizado previamente, ou seja, a efetivao de uma atividade exige o estabelecimento e a interiorizao de uma estrutura de sentido que possa conferir significado quele56 57

Idem, p.50. Plnio criticava vorazmente a globalizao indumentria , que igualava os trajes de homens e mulheres e primava pelo prtico e unissex, enquanto o bom gosto e a suntuosidade eram desprezados. Em um artigo o autor descreveu seu primeiro encontro com o novo hbito de vestir: Tinha eu cerca de dez anos quando assisti ao primeiro grande lance da revoluo indumentria que agora vai chegando ao seu auge. Por volta de 1918, como corolrio da importncia decisiva dos EUA na parte final da I Guerra, a influncia norte-americana jorrou intensamente sobre a Frana, de onde, por sua vez, se refletiu no Brasil. As senhoras cortavam os cabelos la garonne ; as saias, que se usavam pelo tornozelo, subiram de um salto at os joelhos; as mangas se encolheram at os ombros . REVISTA CATOLICISMO. s vsperas do sculo XXI, anlise retrospectiva do sculo em ocaso. Revista Catolicismo. Dezembro de 2000. Disponvel em: Acesso em 26/abril/2001. 58 MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de O liveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 54. 59 Memrias, indito. Apud: MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 54.

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ato60. Plnio participava de uma rede de sentido que foi vivenciada, amada ou odiada, e que aps ter sido sentida emocionalmente, foi racionalizada e transformada em linha de ao. Em suma, toda ao social desenrola-se numa estrutura de sentido, um imaginrio atravs do qual um grupo aponta sua identidade, suas aspiraes e as linhas gerais de sua organizao. Teria sido tambm na adolescncia que Plnio teria optado pela vida celibatria. Sua crena era de que a virtude da pureza era rdua e difcil, e contra ela se rebelava a natureza humana decada pelo pecado original. Mas, obtida a castidade habitual, o celibatrio se sentiria estvel com esta virtude, de forma que seu sacrifcio seria recompensado. Essa estabilidade lhe d no

interior da alma um equilbrio e bem estar que constituem um prmio, j nessa vida, pela batalha moral em que foi vencedor61

.

Aos 17 anos, quando completou os estudos bsicos no Colgio So Lus, inscreveu-se na Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, curso que completou quatro anos depois62. Foi no meio universitrio que principiou sua militncia catlica. Em 1928 iniciou sua participao na Congregao Mariana63 da Legio de So Pedro, anexa a Parquia da Santa Ceclia / SP, que editava o jornal O Legionrio (onde Plnio atuou como diretor a partir de 1933).

60 61

ANSART, Pierre. Ideologias, Conflitos e Poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 21/22 e 13. OLIVEIRA, Plnio Corra de. A luta pela pureza. Catolicismo. So Paulo, Ed. Padre Belchior de Pontes LTDA, n 616, pp 02, abril/2002. p. 02. 62 Segundo informaes da associao Cristianit, Plnio Corra de Oliveira teria exercido a advocacia durante o perodo de 1930 a 1964. CRISTIANIT. Dichiarazioni e documenti Plnio Corra de Oliveira: Ftima, perestrojka e TFP. Cristianit. N 181-181, 1990. Disponvel em < http://www.alleanzacattolica.org> Acesso em 01/setembro/2001 63 A Congregao Mariana (CM) foi fundada em Roma, em 1563, pelo Pe. Jean Leunis, S.J., professor do Colgio Romano, que criou uma Associao entre seus membros com a proposta de cultivar uma vida exemplar e fervorosa, um trabalho apostlico com ensino do Catecismo e visitas a Hospitais e Prises com uma especial devoo Virgem Maria. O grupo se caracterizou por uma rigorosa seleo de membros e pelo cuidado na sua formao. Em 1584 o Papa Gregrio XIII, pela bula Omnipotentis Dei, procedeu a ereo Cannica da CM concedendo-lhe o ttulo de Prima Primria, sob a direo do Superior Geral da Companhia de Jesus. Em 1967, logo aps o Conclio Vaticano II, a Federao Mundial props a mudana de nome para Comunidades de Vida Crist deixando total liberdade s Confederaes Nacionais de aprovla. Apenas o Brasil resolveu permanecer com o nome tradicional de Congregaes Marianas. FEDERAO ARQUIDIOCESANA DAS CONGREGAES MARIANAS DE PO R TO ALEGRE. Disponvel em: < http:/ / doctorbbs.com-facma.html> Acesso em 02/dezembro/2002.

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No ano seguinte, juntamente com outros congregados marianos, fundou a Ao Universitria Catlica (AUC) na Faculdade de Direito. No campo poltico, Plnio participou do Centro Monarquista de Cultura Social e Poltica Ptria-Nova, futura Ao Imperial Patrianovista Brasileira (AIPB), fundado em 1928, que adotou uma proposta monarquista corporativa de salvao nacional como alternativa autoritria para substituir o Estado oligrquico existente. Para tanto, endossou as teses correntes na poca de artificialidade do regime, fragilidade e vcios da representao poltica partidria, ausncia de opinio e de domnio das hierarquias nacionais. Para os membros desta entidade, trono e altar deveriam ser novamente os alicerces da nao. Os patrianovistas acreditavam em uma recatolizao pelo alto e na reconquista do papel da Igreja como organizadora da sociedade e legitimadora do Estado64. Em 1932 Plnio atuou junto Sociedade de Estudos Polticos (SEP), entidade que precedeu a formao da Ao Integralista Brasileira (AIB). Esta associao visava estudar os problemas nacionais e traar rumos para uma poltica salvadora. Para tanto, organizou-se em vrias comisses de estudos, entre elas, Plnio participou da comisso de estudos de religio. No interior da SEP duas tendncias se esboaram: uma era aglutinada em torno de Plnio Salgado, e que progrediu para a AIB, que considerava os debates na SEP como atividade instrumental a servio da ao; e outra representada pelos membros do movimento patrianovista, que eram partidrios de um regime fundado sobre a realeza e o catolicismo este grupo se afastou da organizao65.

A dcada de 20 foi marcada por movimentos catlicos de reao ao positivismo, entre eles foram destaques a revista A Ordem, fundada em 1921, e o Centro Dom Vital66, criado no ano seguinte. Estes rgos foram importantes

64

MALATIAN, Teresa Maria. Os Cruzados do Imprio. So Paulo, 1988. Tese de doutorado em Histria Social, Universidade de So Paulo. 65 TRINDADE, Hlgio. Sociedade de Estudos Polticos (SEP). In: FUNDAO GETLIO VARGAS. Centro de Pesquisas e Documentao de Histria Contempornea do Brasil. Dicionrio Histrico-Biogrfico brasileiro: 1930-1983. Rio de Janeiro: Ed Forense Universitria, FGV / CPDOC, FINEP, 1984. p. 3241. 66 Conforme Malatian, a estratgia adotada [pelo Centro Dom Vidal] visava constituir lideranas capazes de pressionar o Estado de modo a tornar mais ampla a influncia da Igreja

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aglutinadores e formadores de catlicos militantes que se dispuseram a participar ativamente do apostolado de leigos, como colaboradores fiis dos eclesisticos, em especial de Dom Sebastio Leme da Silveira Cintra, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. Estas atividades inserem-se no contexto amplo de atuao da Igreja neste perodo, que foi marcado pela tentativa de recristianizao da sociedade. As estratgias mais utilizadas para tentar obter resultados favorveis frente sociedade brasileira foram uma tentativa de aproximao com o poder poltico, a busca pela conquista doutrinria do povo e o recrutamento de intelectuais para difundir o catolicismo em todos os meios. Esta recatolizao foi vista como tarefa das elites esclarecidas que, utilizando-se da criao de jornais, revistas e associaes catlicas, deveriam ser porta-vozes da tradio crist. O movimento catlico foi tambm impulsionado, nesta poca, como resposta solicitao do Papa Pio XI (1922-1939) que sugeriu, atravs da Encclica Ubi Arcano Dei, de 23 de dezembro de 1922, a instalao de um movimento mundial denominado Ao Catlica com o objetivo de cristianizar as naes. Este movimento deveria ser uma extenso do brao da hierarquia eclesistica . No Brasil, a Ao Catlica Brasileira (ACB) foi criada em 1935 por Dom Sebastio Leme como resposta solicitao do Santo Padre. O objetivo expresso em seus estatutos era o de organizar a participao do laicato no apostolado da Igreja e coordenar todas as associaes j existentes submetendo-as a uma nica orientao67.

na sociedade . MALATIAN, Teresa Maria. Os Cruzados do Imprio. So Paulo, 1988. Tese de doutorado em Histria Social, Universidade de So Paulo. P. 43. 67 KORNIS, Mnica. FLAKSMAN, Dora. Ao Catlica Brasileira. In: FUNDAO GETLIO VARGAS. Dicionrio Histrico-Biogrfico brasileiro: 1930-1983. Volume 1. Rio de Janeiro: Ed Forense Universitria, FGV/CPDOC, FINEP, 1984. p. 10 a 12.

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1.2. A ASSEMBLIA CONSTITUINTE DE 1933 E A ATUAO DA LIGA ELEITORAL CATLICA (LEC)

Os anos 30 foram marcados e iniciados pela ruptura histrica do regime oligrquico e a conseqente implantao do governo de Getlio Vargas. Esta mudana tornou o momento propcio para que os catlicos retornassem ao cenrio poltico com uma aliana entre Igreja e Estado, beneficiada pela relao pessoal entre Getlio Vargas e Dom Sebastio Leme. Esta aliana foi uma tentativa de influenciar a sociedade brasileira que, apesar de expressar sua adeso ao catolicismo, no realizava no dia-a-dia os preceitos cristos e no praticava os sacramentos. A unio com o governo Vargas tambm foi efetivada devido afinidade de posies polticas defendidas por ambas instituies. Governo e Igreja enfatizavam a importncia da ordem, do nacionalismo, do patriotismo e do anticomunismo. Existia tambm a crena, entre alguns eclesisticos, de que o governo, ao criar a legislao trabalhista, realizava a doutrina social da Igreja e que, com isto, o Estado Novo conseguiria superar os males do liberalismo e comunismo68. Malatian enfatiza que nesta poca (anos 30), a Igreja desenvolveu estratgias que dificultaram a ascenso poltica das classes dominadas, devido negao do socialismo e ao comunismo. A conseqncia de tal atitude foi o fortalecimento do Estado e das classes dominantes. O projeto da Igreja era o de controlar a luta de classes (desordem) atravs da sindicalizao crist, mas esta tentativa foi parcialmente inviabilizada pela Lei de Sindicalizao de 193169, que atrelava os sindicatos ao Estado e vedava vnculos confessionais. A partir de

68

MAINWARING, Scott. A Igreja de 1916 a 1964. In: A Igreja Catlica e a Poltica no Brasil (1916-1985). So Paulo: Brasiliense, 1989. p. 47. 69 A lei de sindicalizao foi aprovada pelo Decreto 19.770 em 19 de maro de 1931, incorporando o sindicato ao Estado e s leis . A partir da o Estado passou a regular a fundao e funcionamento dos sindicatos. O Decreto tambm proibiu a propaganda social, poltica ou religiosa; imps o reconhecimento e controle ministeriais; vedou a sindicalizao de estrangeiros no Brasil a menos de 20 anos ou trabalhadores associados a organizaes internacionais; e instituiu a unicidade sindical, ou seja, um s sindicato para cada base. VIDEOLAR, Atlas Histrico Isto Brasil 500 Anos: Multimdia da Histria do Brasil, 2000. 1 CD ROM.

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1932, a Igreja iniciou a criao de Crculos Operrios70 com os objetivos de barrar a influncia socialista ou comunista nos sindicatos, de defender o direito natural de propriedade e da interveno estatal na questo social atravs de um trabalho assistencialista e de doutrinao. Esta ao teria favorecido a domesticao do movimento operrio e a to desejada manuteno da ordem social71. As eleies para a Assemblia Constituinte de 1933, que aconteceram pelas fortes presses sofridas pelo governo Vargas, evidenciaram a organizao dos catlicos no intuito de atuar no campo poltico e de fazer prevalecer ideais cristos na nova Constituio. Para tanto, foi criada, em 1932, a Liga Eleitora Catlica (LEC), entidade extrapartidria que aglutinou candidatos de todo o pas que concordassem em lutar pela pauta mnima de reivindicaes dos catlicos, caso fossem eleitos. O objetivo principal era mobilizar o eleitorado catlico para que apoiasse os candidatos comprometidos com a doutrina social da Igreja. Plnio foi um dos candidatos pela LEC/ SP, participando da chapa Frente nica por So Paulo Unido72. Foi eleito com 24.017 votos (9,5% do total), sendo o candidato mais votado do pas. Algumas das propostas da LEC aprovadas na Constituio de 1934 foram: a indissolubilidade do vnculo conjugal e o reconhecimento de efeitos civis do casamento religioso, o ensino religioso nas escolas pblicas nos nveis primrio e secundrio, a assistncia religiosa s Foras Armadas e prises, a invocao de Deus no prembulo, a assistncia estatal as famlias numerosas, a decretao da legislao do trabalho inspirada nos preceitos da justia social e da ordem crist, a defesa dos direitos e deveres da propriedade individual, o servio militar de eclesisticos prestado sob forma de assistncia espiritual ou

70

O Crculo Operrio pioneiro foi fundado em 1932 na cidade de Pelotas/ RS. MALATIAN, Teresa Maria. Os Cruzados do Imprio. So Paulo, 1988. Tese de doutorado em Histria Social, Universidade de So Paulo. P. 46. 71 Idem, P. 46-47. 72 Esta chapa agregou o Partido Republicano Paulista (PRP), O Partido Democrtico (PD), a Federao dos Voluntrios, a LEC e a Associao Comercial. KORNIS, Mnica. FLAKSMAN, Dora. Liga Eleitoral Catlica (LEC). In: FUNDAO GETLIO VARGAS. Dicionrio HistricoBiogrfico brasileiro: 1930-1983. Rio de Janeiro: Ed Forense Universitria, FGV/CPDOC, FINEP, 1984. p. 1819.

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hospitalar, a pluralidade e liberdade dos sindicatos operrios e a lei contra a propaganda subversiva73. Com a implantao do Estado Novo, em 1937, a proposta corporativa laica que previa a manuteno da ordem e a obstruo da luta de classes se sobreps as demais. O Estado passou a ser a fora controladora da sociedade e a Igreja, ainda pleiteando uma maior influncia perante o Estado, auxiliou na obteno de consenso para o novo modo de governo de Vargas. Malatian descreve o papel da Igreja neste processo:

Igreja caberia a funo de agncia especializada em controle ideolgico, de um sistema corporativo teocraticamente dirigido, levando os dominados a aceitao pacfica do princpio de desigualdade .74

Esta aceitao da desigualdade foi ainda beneficiada pela utilizao da doutrina do Corpo Mstico de Cristo pela Igreja e pelo Estado, ou seja, a comparao entre o social e o corpo humano. Lenharo, em seu estudo sobre a utilizao de elementos religiosos no campo poltico, evidenciou a utilizao de tal recurso pelo Estado Novo. Segundo este autor, nessa representao a sociedade se assemelha a um corpo humano, onde rgos desiguais trabalham juntos para que o todo se mantenha. Como um corpo, existem rgos vitais e rgos perifricos, mas, embora suas funes sejam diferentes, a necessidade e a importncia de cada um, e da unio / harmonia entre todos essencial para garantir a ordem e a sobrevivncia. A poltica utilizou-se desta imagem para legitimar a fonte do poder (cabea), e para preservar a harmonia e a unidade social. Conforme Lenharo,

essa doutrina formaliza a formao da imagem mais acabada de um corpo-totalidade a funcionar como um todo perfeito e harmonioso; ele guarda duas vantagens comparativas em relao s imagens organicistas que conhecemos: este corpo, alm de universal, supranacional, mstico, religioso, e, enquanto tal, no se73

MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de O liveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 72/73. 74 MALATIAN, Teresa Maria. Os Cruzados do Imprio. So Paulo, 1988. Tese de doutorado em Histria Social, Universidade de So Paulo. p. 49.

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expe como passvel de objees crticas sua construo assim como dificulta a aproximao dessas objees aos possveis desdobramentos imagticos, inclusive os polticos que a doutrina enseja .75

Desta forma, a Igreja auxiliou o Governo Vargas na formao de uma mentalidade que aceitasse as desigualdades e percebesse nelas uma naturalidade inexistente, j que qualquer sociedade que fabrica o que lhe natural e o que pode ser mudado. preciso ocultar dos homens o carter construdo da ordem social, enfatiza Benedetti, para que a ordem possa ser reproduzida e para que ela seja mantida76. Berger acrescenta que todos os mundos socialmente produzidos so precrios, portanto, necessitam estratgias para sua manuteno. Entre estes processos o autor cita a socializao (que procura garantir um consenso dos traos mais importantes), o controle social (que procura conter as resistncias individuais ou de grupos dentro de limites tolerveis) e a legitimao (objetivao do saber construdo para explicar e justificar a ordem social)77. Ainda, segundo Berger, a religio foi o instrumento mais amplo e mais efetivo de legitimao:

A religio legitima de modo to eficaz porque relaciona com a realidade suprema as precrias construes da realidade erguidas pelas sociedades empricas. As tnues realidades do mundo social se fundam no sagrado realissimum, que por definio est alm das contingncias dos sentidos humanos e da atividade humana .78

75 76

LENHARO, Alcir. Sacralizao da Poltica. 2 edio. So Paulo: Papirus, 1986. p. 159/160. BENEDETTI, Luiz Roberto. Prefcio. In: BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociolgica da religio. So Paulo: Paulinas, 1985. p. 07. 77 BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociolgica da religio. So Paulo: Paulinas, 1985. p. 42 78 Idem, p. 45.

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1.3. O LEGIONRIO (1933-1947)Q ual o ideal inicial do Legionrio? (...) No o tnhamos dvida sobre esse ideal. Era o Catolicismo, plenitude de todos os ideais verdadeiros e nobres. Plnio Corra de Oliveira

Ainda em 1933 Plnio assumiu a direo do jornal O Legionrio79, quando o mesmo passou a ser o rgo oficioso da Arquidiocese de So Paulo (antes era representante da Congregao Mariana da Parquia de Santa Ceclia). Foi como diretor deste rgo que Plnio acirrou sua luta contra as consideradas doutrinas subversivas e o combate a considerada m imprensa. Lima descreve as linhas de atuao deste veculo da imprensa catlica:

1. Luta para obteno de favores do Estado; 2. Articulao e formao de intelectuais catlicos capazes de conquistarem espaos nos meios de produo e divulgao ideolgica; 3. Ao poltica em prol dos interesses da Igreja, mas sem envolvimento partidrio; 4. Vigilncia sobre a produo cultural para identificar qualquer infiltrao comunista; 5. Preocupao com educao e bons costumes 80.

O Legionrio colocou-se claramente dentro da estratgia de reconquista da posio de religio oficial pelo catolicismo, liderada por Dom Leme, pressionando o Estado com o peso da maioria catlica do povo brasileiro, e, oferecendo em troca a aliana com a Igreja e a legitimidade do poder. A Igreja Catlica foi apresentada como um agente da unidade poltica e ideolgica do povo brasileiro, capaz de atenuar as divergncias existentes e atribuindo a to desejada estabilidade ao Estado. Embora uma das estratgias fosse a utilizao da premissa de que o povo brasileiro em maioria catlico , Plnio percebeu que esta maioria no representava uma fora poltica real. A partir desta79

O Legionrio foi criado em 29 de maio de 1927 pelo Monsenhor Marcondes Pedrosa. Seu pblico alvo era o movimento catlico, objetivava orientar o mesmo operativa e doutrinariamente. MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 74. 80 LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de Oliveira Um Cruzado do sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 41.

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concluso, partiu para a tentativa de conscientizao e mobilizao dos cristos. Segundo Lima, Plnio supunha que era a prpria inatividade dos catlicos que prejudicava a instituio, segundo suas palavras:

se a Constituio garantia, em tese, o ensino religioso, o casamento religioso, as capelanias militares e a colaborao entre Igreja e Estado, no se poderia culpar a lei e sim a indolncia e inrcia dos prprios catlicos .81

A partir desta constatao, O Legionrio partiu para um intenso combate . Entre as atividades do rgo, que visavam a recatolizao dos cristos, estavam o policiamento de filmes, livros, jornais e da prpria educao escolar (as escolas leigas eram acusadas de favorecer a penetrao do mal e da decadncia moral entre os estudantes). imprensa O combate considerada m

tambm moveu muitos esforos, especialmente porque Plnio

acreditava que s poderiam existir dois lados nesta luta: ou se est do lado do bem (imprensa crist) ou do mal (imprensa neutra e inimiga). A considerada imprensa neutra foi atacada e combatida nas pginas d O Legionrio pelo motivo de que esta, negando a verdade, est traindo a misso jornalstica que dizer o que correto ao pblico leitor. A orientao da prpria Igreja era de que os catlicos reconquistassem os meios intelectuais e, entre eles, a imprensa. O objetivo da imprensa catlica era de atingir os cultos e os semicultos, de forma a influenci-los a difundir o modelo de sociedade preconizado pela Igreja. Esta dcada de intensa batalha contra o comunismo foi marcada por denncias, justas ou no, contra veculos de imprensa considerados subversivos, ou seja, o combate ao comunismo justificava a necessidade de interveno na m

imprensa, a grande difusora de erros e um poderoso mecanismo de conquista da populao pelos inimigos da Igreja. Plnio participou ativamente destas denncias contra os meios de comunicao esquerdistas ; sob sua direo O Legionrio visou a recuperao da sociedade , com a eliminao da influncia liberal, uma recatolizao efetiva, a represso aos inimigos do regime (desordem) e da Igreja e a conquista de facilidades / privilgios para a81

Idem, p. 52.

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instituio religiosa. O Legionrio foi visto, pelos seus editores, como o estandarte da reao ao mal, um smbolo de pureza catlica82. Outro grande tema d O Legionrio foi a crtica e o combate s correntes polticas que prejudicariam a religio catlica, ou o seu monoplio. As anlises dirigiam-se especialmente ao liberalismo, comunismo e integralismo. O regime considerado adequado, nesta poca, era o Estado Novo. Este modelo poltico aparecia, para o grupo liderado por Plnio, como soluo para o pas e, quando da sua implantao, gerou perspectivas favorveis entre alguns setores catlicos, que acreditavam na provvel implantao de uma sociedade genuinamente catlica no pas atravs do governo liderado por Getlio Vargas. Plnio Corra de Oliveira estabeleceu alguns requisitos para que um estado fosse considerado catlico:

1. reconhecer que a Igreja a portadora da verdade, dando-lhe plena liberdade de ao no desempenho de sua misso essencial, a salvao das almas. 2. coadjuv-la nessa tarefa, favorecendo a ao catlica e dispondo a sociedade a receber a influncia da Igreja por uma organizao adequada em que, por exemplo, no haja perigo de se desenvolver o germe de doutrinas mpias e subversivas. 3. organizar toda a sociedade, quer as relaes do Estado com o indivduo, as famlias e os demais grupos sociais, quer as relaes dos indivduos, da famlia, dos grupos entre si, segundo os princpios da justia e da caridade, de acordo com as leis de Deus e da Igreja 83.

As doutrinas em voga no contexto poltico dos anos 30/ 40 no continham elementos que pudessem atender aos desejos do autor, portanto, seu ataque a elas foi contumaz. O liberalismo era considerado uma fora desagregadora da sociedade, como conseqncia foi refutado, especialmente pela concesso de liberdade ao que Plnio considerava o bem e o mal, favorecendo, desta forma, o desenvolvimento do comunismo. Segundo seu pensamento, a burguesia liberal seria a principal culpada pela destruio da

82 83

Ibidem, p. 64. O Legionrio, A posio do Legionrio em face da poltica brasileira , 10 de outubro de 1937. Apud: LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de Oliveira Um Cruzado do sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 82.

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civilizao, e pelo seu prprio aniquilamento, por ser responsvel pelo avano da ameaa comunista, por favorecer a irreligiosidade e por destruir a hierarquia, comprometendo assim o poder das autoridades84. O nazismo foi criticado em praticamente todas as edies d O Legionrio (durante as dcadas de 30 e 40). Suas crticas dirigiam-se centralizao de todas as decises no Estado totalitrio e a sua incompatibilidade com a doutrina catlica. Plnio enfatizou que a nica arma eficaz para combater esta doutrina era justamente a Igreja Catlica. Plnio tambm se esforou por indicar semelhanas entre o nazismo e o comunismo, o maior mal. Em suas narrativas reconstruiu o que considerou como a ancestralidade do nacional-socialismo:

O protestantismo produziu na Alemanha um processo evolutivo de idias filosficas e factos poltico-sociais, que, paralelamente ao liberalismo e em aparente antagonismo com este, gerou com uma lgica de ferro (verdadeira se no fossem erradas as suas premissas) o nazismo 85.

Tambm salientou o oportunismo nazi-fascista que utilizou princpios catlicos para seduzir as massas e combater o comunismo, assim, segundo o autor, o demnio se disfarou em defensor da ordem86

. Aps a publicao da

encclica Mir Brennender Sorge por Pio XI em 14 de maro de 1937, na qual os erros do nacional-socialismo foram condenados neopaganismo, racismo,

Estado totalitrio -, seu antagonismo ganhou novos contornos por estar fundamentado no magistrio da Igreja. A partir de 1933 comeou a se desenvolver o movimento integralista no Brasil, fundado por Plnio Salgado, que propunha uma reorganizao do pas baseada no modelo do Estado sindical-socialista de Mussolini. Plnio Corra de Oliveira, como j mencionamos, participou dos primrdios deste movimento integralista (SEP). Alguns meses depois de sua fundao, a SEP transformou-se,84

LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de Oliveira Um Cruzado do sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 65 a 69. 85 O Legionrio, Genealogia de monstros , n 302, 9/ 06/ 1938. Apud: MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p.82. 86 O Legionrio, Terceiro Ato , 24 de setembro de 1940. Apud: LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de Oliveira Um Cruzado do sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 72.

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com a publicao do Manifesto de Outubro, na Ao Integralista Brasileira (07/ outubro/ 1932). Segundo Lima, a tentativa inicial do grupo d O Legionrio para com os integralistas foi de aproximao e conciliao, j que o anticomunismo expresso de ambos auxiliava no contato. Algum tempo depois Plnio salientou que o catolicismo no poderia se comprometer com o integralismo, j que este inscreve em seu programa diversas reivindicaes de natureza meramente temporal. E a Igreja nunca poderia fazer oficialmente suas a tais reivindicaes que escapam sua esfera de ao87

, mas que o

integralismo deveria se comprometer em privilegiar o catolicismo. O desejo de Plnio era de um governo forte, repressivo contra tudo o que identificava como comunismo. Segundo sua crena, o Estado Novo gerava otimismo e a relao entre Igreja e Estado era, a seu ver, aceitvel. O Legionrio contribuiu para reforar as atividades repressivas do Estado e aplaudiu as restries s atividades polticas suspeitas , em particular s

consideradas comunistas. Embora o apoio fosse expresso, geralmente Plnio considerava a represso estatal pouco rigorosa. Por conseguinte, enfatizou que a verdadeira direita, a nica grande e efetiva defensora da ordem era a Igreja, portanto, entre as doutrinas existentes, optou pela soluo do catolicismo, uma nova cristandade nos moldes da Idade Mdia.

1.4. EM DEFESA DA AO CATLICA

Em 1940, Dom Jos Gaspar de Affonseca e Silva, Arcebispo de So Paulo, confiou a Plnio a presidncia da Junta Arquidiocesana da Ao Catlica Paulista. Segundo Mattei, Plnio dirigiu a associao com reprimindo os erros doutrinrios e procurando mo firme , as novas

modificar

mentalidades. Decidiu fazer da ptria brasileira um modelo histrico de nao devota ao catolicismo, em seu discurso oficial no Congresso Eucarstico de 1942, ocorrido em So Paulo, Plnio delineou o papel histrico do pas, j87

O Legionrio, Na expectativa , 23 de agosto de 1936. Apud: LIMA, Lizanias de Souza. Plnio Corra de Oliveira Um Cruzado do sculo XX. So Paulo, 1984. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo. P. 75.

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esboando elementos de sua intensa e ininterrupta luta pela recristianizao de nossa sociedade:

A misso providencial do Brasil consiste em crescer dentro das suas prprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilizao genuinamente catlica, apostlica e romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que ser verdadeiramente o lumen Christi que a Igreja irradia. A nossa ndole meiga e hospitaleira, a pluridade das raas que aqui vivem em fraterna harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que to intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do Santo Evangelho, jamais faro dos nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobisnismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, s-lo- para bem do mundo inteiro. Sejam entre vs os que governam como os que obedecem , diz o Redentor. O Brasil no ser grande pela conquista, mas pela F; no ser rico pelo dinheiro tanto quanto pela sua generosidade. Realmente, se soubermos ser fiis Roma dos Papas, poder nossa cidade ser uma nova Jerusalm, de beleza perfeita, honra, glria e gudio do mundo inteiro 88.

Embora sua influncia tendesse para um catolicismo tradicional , outras orientaes foram seguidas pela Ao Catlica. Em especial um confronto se estabeleceu entre Plnio AC/SP e Alceu Amoroso Lima AC/ RJ. Souza

descreve este embate de posies:A Ao Catlica seria cenrio de vrias disputas de orientao. Seu presidente nacional na primeira estapa (sic) Alceu Amoroso Lima, o crtico literrio conhecido com o pseudnimo de Tristo de Atade, convertera-se ao catolicismo em 1928 e estava ligado ao pensamento neotomista de Jacques Maritain, muito atacado por setores tradicionalistas. Em So Paulo, o dirigente leigo da Ao Catlica, Plnio Corra de Oliveira, era de tendncia oposta (...). De um lado era um esforo para entender o mundo contemporneo, repensar o problema da liberdade, da democracia e da participao social e de outro a atitude de rejeio a tudo o que era moderno e considerado anticristo. O modelo e referncia destes ltimos era a velha cristandade medieval, sobre a qual Corra de Oliveira ensinava na Universidade. Frente a ela, Maritain, em seu livro Humanismo Integral, de 1936, falava da Nova Cristandade, numa sociedade pluralista. O conflito ideolgico era profundo e irreconcilivel 89.

88

Discurso publicado em O Legionrio, Saudao s autoridades civis e militares , 07 de setembro de 1942. Apud: MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 128. 89 SOUZA, Luiz Alberto Gomes de. Ao Catlica Brasileira: O despertar da conscincia histrica na preparao de Medelln. In: SCHHLY, P. Gunther. KNIG, Hans-Joachim. SCHNEIDER, P.

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Determinado a seguir em frente na sua luta contra o mal que corrompia a sociedade, Plnio optou por escrever uma obra sobre a Ao Catlica, na qual faria um diagnstico dos males que a afligiam e, em contrapartida, confrontaria sua postura com a de Amoroso Lima, que escrevera a obra Elementos de Ao Catlica em 1938. Tal deciso foi apoiada pelo vigrio geral da arquidiocese, Padre Antnio de Castro Mayer90, e autorizada pelo Nncio Apostlico Dom Bento de Aloisi Masela. A necessidade da aprovao da obra pelo Arcebispo de So Paulo levou o autor a recorrer ao Nncio para que este escrevesse o prefcio do estudo a fim de superar o impasse causado pela perplexidade causada pelo livro na arquidiocese. A obra foi publicada sob o ttulo Em Defesa da Ao Catlica (1943) e serviu como um brado de alarma contra germes de laicismo, liberalismo e igualitarismo que comeavam a invadir a Ao Catlica91

. A publicao do livro efetivou o rompimento dos conservadores com

a Ao Catlica, que j no representava mais os interesses e ideais preconizados por Plnio e seus companheiros. O autor utilizou este trabalho como forma de denunciar os erros da organizao que ajudara a formar. Rompia com os dirigentes, com as teses, com o seu modelo para um movimento de leigos, e propunha como alternativa uma organizao verdadeiramente ortodoxa.

Esta organizao daria primazia devoo a Maria, daria nfase aos atos piedosos coletivos, necessidade de uma vida em Jos Odelso (Orgs). Conscincia Social: A histria de um processo atravs da Doutrina Social da Igreja. So Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1994. p. 184. 90 Dom Antnio de Castro Mayer nasceu em Campinas/SP, em 1904. Formou-se em teologia na Universidade Gregoriana de Roma, onde tambm foi ordenado Sacerdote (1927). No Brasil foi Assistente Geral da Ao Catlica de So Paulo (1940), Vigrio geral da Arquidiocese (19421943). Foi sagrado Bispo coadjutor, com direito de sucesso do Bispo de Campos em 1948. Suas relaes com Plnio foram rompidas em 1982. Em 1984 a ciso foi tornada pblica e justificada pela progressiva aproximao de Dom Mayer posio do Mons. Marcel Lefebvre, que culminou com a participao do Bispo de Campos nas consagraes episcopais de Ecne (30/ 06/ 1988) que o fizeram incorrer em excomunho latae sententiae. Dom Mayer faleceu em 1991. MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 76. 91 OLIVEIRA, Plnio Corra de. Auto-retrato filosfico. Sociedade Brasileira de Defesa da Tradio Famlia e Propriedade. Disponvel em: < http:/ / www.tfp.org.br/ > Acesso em 11/junho/2001.

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comum e de lugares onde os seus membros, que deveriam poder ser reconhecidos por sua indumentria correta, pudessem passar os seus momentos de lazer 92.

Em 1943, com a nomeao de Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta ao Arcebispado de SP, cessou a influncia de Mons. Mayer. Os setores tradicionalistas se desligaram do movimento catlico em todo o pas. Plnio perdeu seu cargo de Presidente da Junta Arquidiocesana da Ao Catlica, Mons. Mayer passou de Vigrio Geral da Arquidiocese para Vigrio-Ecnomo da Parquia de So Jos de Belm e, Pe. Geraldo de Proena Sigaud93 foi remanejado para a Espanha. A repercusso negativa ocorrida em setores catlicos ocasionou ao grupo d O Legionrio , como se autodenominavam, retaliaes que culminaram com o afastamento de Plnio e seu grupo tambm da edio do jornal, em 1947.

1.5. OSTRACISMO DO GRUPO DO LEGIONRIOO esquecimento e o olvido nos envolveram quando ainda estvamos na flor da idade: era este o sacrifcio previsto e consentido. Mas o progressismo nascente recebeu um golpe de que at hoje no se refez . Plnio Corra de Oliveira 1969

Plnio descreveu o perodo subseqente publicao do livro como de ostracismo , ou proscrio / exlio, devido perda de espao para expor suas teses em ambientes catlicos. Taveiro, na biografia que escreveu sobre Plnio Corra de Oliveira, destacou que durante este perodo

92

Segundo Marcio Moreira Alves, esta obra serviu de base teolgica para a futura TFP. ALVES, Marcio Moreira. A Igreja e a Poltica no Brasil. So Paulo: Brasiliense, 1979. p. 228/229. 93 Dom Geraldo de Proena Sigaud nasceu em Belo Horizonte/ MG no ano de 1909. Estudou teologia em Roma e foi ordenado sacerdote em 1932. Em 1947 foi sagrado Bispo diocesano de Jacarezinho (1947-1961) e mais tarde Arcebispo Metropolitano de Diamantina (1961-1980). Dom Geraldo de Proena Sigaud, que iniciou seu convvio com Plnio na dcada de 30, se desligou oficialmente da TFP em 02 de outubro de 1970, declarando que a entidade havia se distanciado pelo apoio de Dom Sigaud reforma agrria promovida pelo Governo Militar e reforma litrgica de Paulo VI. MATTEI, Roberto de. O cruzado do sculo XX Plnio Corra de Oliveira. Porto: Livraria Civilizao Editora, 1997. p. 77.

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a grande agonia para Plnio e seus amigos no era a perseguio injusta que sofreram em conseqncia de sua defesa da F. Pelo contrrio, o que os mortificava era a aparente indiferena da Santa S, cujos ensinamentos esses homens todos defendiam, e pelos quais morreriam se necessrio. Plnio, o lutador catlico e seus amigos, sentiam-se abandonados e desamparados por sua prpria Me, a Santa Igreja Catlica Romana .94

Mesmo estando nesta situao de angstia, o grupo remanescente no se dispersou. A partir de 1945 (antes do afastamento do hebdomadrio) o grupo, formado pelos senhores Plnio Corra de Oliveira, Adolpho Lindenberg, Fernando Furquim de Almeida, Jos de Azeredo Santos, Jos Benedicto Pacheco Salles, Jos Carlos Castilho de Andrade, Jos Fernando de Camargo, Jos Gonzaga de Arruda, Paulo Barros de Ulha Cintra, passou a reunir-se diariamente. O reduzido nmero de companheiros favoreceu uma coeso no pensar, no sentir e no agir, que elevou o grupo condio de uma verdadeira famlia de almas95

. Nas reunies, os membros do grupo

analisavam de modo preocupado a deteriorizao discreta e implacvel da situao religiosa no Brasil e no mundo, bem como o avano inexorvel do socialismo e do comunismo no cenrio nacional e internacional .96

Tambm divulgavam seus estudos doutrinrios, dedicavam-se a oraes e procuravam crescer na devoo Santssima Virgem Maria, utilizando o mtodo exposto por So Lus Maria Grignion de Montfort97 em sua obra Tratado

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Esta biografia foi escrita na dcada de 70, mas sua publicao s ocorreu em 2001 pela Revista Catolicismo. TAVEIRO, Eloi de Magalhes. Plnio Corra de O liveira: Um resumo biogrfico. Catolicismo. So Paulo, Ed. Padre Belchior de Pontes LTDA, Ano LI, n 610, pp. 1727, Outubro/2001. p. 25. 95 SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIO, FAMLIA E PROPRIEDADE. Meio sculo de epopia anticomunista. 3 edio. So Paulo: Editora Vera Cruz, 1980. p. 433. 96 Idem, p. 433. 97 So Lus Maria Grignion de Montfort nasceu em 31/ janeiro/ 1673, em Montfort, Frana. Foi ordenado sacerdote em 1700, no Seminrio So Suplcio em Paris. Seus primeiros anos de sacerdcio foram dedicados principalmente ao trabalho com os pobres no hospital de Poitiers (...). Do papa Clemente XI obteve o ttulo de Missionrio Apostlico e perc