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1 Edição 3 | Portugal | www.cacho.pt Sicó: pedras, serras, mar e natureza A Vila do Refúgio Cacho Vinhos & Companhia

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Edição 3 | Portugal | www.cacho.pt

Sicó: pedras, serras, mar e natureza

A Vila do Refúgio

CachoVinhos & Companhia

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CachoDireção de arte Raul Moita ([email protected]) | Jornalismo Amadeu Araújo ([email protected]) | Design Raul Moita ([email protected])Comunicação Valter Nisa ([email protected]) | www.cacho.pt | [email protected] | www.facebook.com/cachodigital | www.youtube.com/cachodigitalRedação e departamento comercial Rua Alexandre Herculano, 129, C. C. Ícaro, loja 33, 3510-036 Viseu | +351 232 435 384Impressão e acabamento A. J. Sá Pinto & Filhos, Lda.

Saca-Rolhas

AutenticidadePululam as lojas gourmets, os vinhos premium, os chefs e a cozinha de fusão ao mesmo tempo que se ignoram os mercados, os vinhos autênticos, os cozinheiros e as cozinhas antigas. Vivemos num tempo em que se vendem queijos sem rótulo, azeite em garrafões de plástico e vinhos que sendo zurrapa têm assinatura e os tornam, por vaidade e osmose, em grandes pomadas.O consumidor, esse, está cada vez mais autêntico, procura o genuíno e não se importa de palmilhar na demanda do único, sejam eles os mata --bichos do Sicó ou o vinho da talha, de Marvão, entre tantos outros exemplos deste Portugal profícuo e que tanto de bom produz. Aqui, na Cacho, a luta continua a ser por divulgar o que é bom, autêntico, genuíno e feito com verdade, sem grandes artificialismos e, sobretudo, sem respeito às modas que são isso mesmo. Modas, ditadas por quem, muitas das vezes, ouviu falar e não escutou, dos maxilares de quem produz, os estalidos da alegria de fazer bem sem olhar a quem.Cada vez mais os pequenos mercados se afirmam, cada vez mais os produtores de vinho engarrafam duas ou três mil garrafas ou os queijeiros fabricam meia dúzia deles por dia. O bom prova-se.É essa demanda, esse colher do cacho que lhe procuramos transmitir, informando-o da sua existência para que se saiba, se informe, prove e beberique e depois decida. A ditadura do politicamente correto, a certeza dos abalizadores vitivinícolas ou a moda dos gourmet não resistirão a um consumidor ilustrado que quer saber de onde vem e como são feitos e que rejeita, por absurdo, a vaidade de quem põe o Barca Velha ao sol ou a empáfia de quem tem o melhor azeite do país em… garrafões de plástico.É isso que lhe contamos nesta edição com o vinho da talha, com Portel e com a Touriga, transformada em moda mas cuja história diz mais ao profundo enófilo do que a garantia dos abalizadores. E sem memória, sem história, sem ouvidos que contam histórias, nada faria sentido. Viver é mais que ouvir dizer. É mesmo a singeleza de tão só viver.Depenique, disfrute, e, se curioso estiver, meta pés ao caminho que nós insistimos em apontar mas jamais em certificar.

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Verdes, vermelhos e azuis.São os mirtilos senhores! 20

Lusa, completa, sóbria e sabedora Cave 25

Bochecha de vitela a baixa temperatura

Chef Cristina Almeida

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Opinião do EnólogoCarlos Sequeira 19

Mouras na Planície 17

A Vila do Refúgio 13

ÍndiceSicó: pedras, serras,

mar e natureza 7

Garrafeira& Megastore Premium

Um conceito único em Portugal e na Europa,pelo requinte, pela oferta

e pelos serviços associados ao vinho

www.facebook.com/cavelusapremiumwww.cavelusa.pt

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O Sicó são encostas cobertas de vinhas, olivais que escor-rem da paisagem rude do Maciço Calcário. Subindo ao alto da Serra de Alvaiázere, a mais elevada do maciço, pode-mos sorver golfadas da planura verde e fértil, emoldurada de pinhais e salpicada de pequenas aldeias de casario branco e ocre. Ao longe suspeitamos o mar, para onde correm os rios como o Nabão, e Alge, rasgando encostas e serranias, onde se escuta o lento andar dos rebanhos e das cabras. Aqui a natureza é intensamente verde. Azul. Branca. Verde. Cinzenta.

Entremos pelo Rabaçal, velhos castelos, novas sentine-las que guardam urze, orquídeas, figos e as bocas de lobo.

Sicó: pedras, serras, mar e natureza

“Um pedaço de pão, um prato de azeite, e depois molhar e provar”

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As couves com cominhos, a cacholada, o bacalhau com batatas a murro ou o cabrito de Sicó assado são outros pra-tos que dão alimento a uma bela caminhada.

Em Ansião a mancha de carvalho e azinheira que se encontra preservada, alberga mais de oitocentas espécies da fauna e da flora. Endemismos, lírios e orquídeas, com espé-cies centenárias e mesmo milenares, de carvalho-cerqui-nho, zambujeiros e oliveiras. Mal acaba a terra e começa o céu, com as raízes num e o olhar noutro, estragão, tomilho, orégãos, louro e salva. Temperos e composturas de vina-gres. O paladar proveniente desta mistura de elementos dá um toque especial a vários pratos regionais, bem como sala-das e entradas.

Em Pombal Nossa Senhora de Jerusalém, abrigada no leito do Arunce, rio de margens arborizadas, que refresca os campos antes de se lançar no Mondego. É em Pombal que o Sicó toca o mar, na Praia do Osso da Baleia, local sossegado, natureza em estado puro, à beira do Atlântico.

Na sede do concelho, e subindo para o Castelo, vemos os edifícios Pombalinos, a antiga Cadeia, o Celeiro do Marquês de Pombal e o Solar dos Condes de Castelo Melhor. Sempre a subir, como quem quer alcançar o Sicó, vemos a torre quatrocentista

Um pedaço de pão, um prato de azeite, e depois molhar e provar. Simples e sabo-roso como todos os sabores da Serra de Sicó. Acrescente o queijo, está na terra dele.

Terras de Sicó são palácios e solares, o Paul de Arzila, as Buracas do Casmilo, o roteiro dos caminhos de Santiago-Zam-bujal. E também o Palácio dos Almadas.

Alojamento de charme, da Pousada de Condeixa-a-Nova ao Villa Pedra, vá por Conimbriga, o Pátio das Laranjeiras e se não se quiser perder há uma apli-cação, Villa Sicó, que lhe permite visitar, conhecer, provar e apaixonar-se por este lugar.

Os principais espaços da Romanização do território encontram-se na Cidade Romana de Conímbriga, na Villa Romana de Santiago da Guarda e na Villa Romana do Raba-çal, história crestada no barro da terra onde a mesa, como a terra, é generosa.

O queijo do Rabaçal e o cabrito são duas das iguarias que emergem do roteiro gastronómico do Sicó.

O azeite Serra de Sicó é ainda essencial para a conser-vação dos enchidos, em potes de barro, bem como para o Queijo Rabaçal que, depois de curado, surge no mercado em pequenos frascos com azeite e ervas aromáticas.

Ansião, Alvaiázere, Condeixa-a-Nova, Pombal e Soure são as terras de Sicó, atlas da gastronomia, mapa de São Pan-tagruel, capelania farta e copiosa.

“couves com cominhos, a cacholada,

o bacalhau com batatas a murro ou o

cabrito de Sicó assado”

“Paul da Madriz um outro oásis de biodiversidade por entre os castelos e muralhas do Mondego”

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do Relógio Velho e, lá do alto, toda a imensa várzea, quase até aos campos de arroz, no Mondego.

Mais a Norte, em Soure, a aragem verde deste Sicó, onde molhamos os pés no Atlântico.

Nestes campos rasos, talhados por riachos, ribeiras, rios que correm para o mar, moinhos e azenhas, açudes e acéquias, energia e água que alimenta engenhos, molha campos e embala o cultivo.

Arroz, lavoura que pinta estas pai-sagens que mudam de cor ao longo do ano. Vales floridos e frescos, águas lím-pidas nas Termas do Bicanho, Amieira e Azenha.

Soure é concelho de transição entre a Serra onde predomina a cultura do olival, a pastorícia e o mel e a Planí-cie com as culturas do milho e do arroz.

Aqui a serra casa-se com o Atlân-tico e acrescenta arroz de pato, cabrito assado, caldeirada de enguias, chan-fana.

E depois do serviçal da palamenta ala ao Paul da Madriz um outro oásis de biodiversidade por entre os caste-los e muralhas do Mondego.

O Sicó é, de facto, um generoso encontro de modos, vidas procriadas entre a serra e o mar, o país que foge para a península, o interior que lava os pés no oceano. Acrescente-lhe as ter-mas, os romanos, um verde incólume e generosamente diverso e preservado e terá, em bom rigor, uma jornada digna de calcorrear um naco valente deste Portugal enquistado no centro da pátria.

“Sicó é, de facto, um generoso encontro de modos, vidas procriadas entre a serra e o mar, o país que foge para a península, o interior que lava os pés no oceano”

Touriga NacionalSenhora do Dão, Embaixatriz de Portugal

Touriga Nacional poder-se-ia chamar Tourigão, mas é pelo primeiro nome que melhor se identifica à chamada dos seguidores de Baco.De origem provável no Dão, as suas primeiras referências remontam ao século XIX, no livro “O Portugal Vinícola”, obra do agrónomo português Cincinnato da Costa, que por essa altura documentava os domínios de Viriato, encepados de Touriga Nacional a perder de vista.Touriga Nacional nunca foi uma casta de grandes quantidades, daí que se tenha tornado menos importante, face à importância daquelas que garantiam mais néctar a nascer do mosto, a escorrer do lagar para as pipas, fermentando vinho novo, o ganha-pão das gentes dadas às vinhas. Contudo, mais produção, não significava necessariamente melhor. E certamente que não o era. Mas matava a sede. E a fome.A casta Touriga Nacional tinha entre as suas qualidades a de grande resistência às enfermidades que volta e meia assolavam à porta dos vinhedos, cepa acima, parra abaixo, cacho adentro, colheita ao chão, qualidades que em meados do século XVIII a levaram a ser preferida no plantio, mercê da sua resistência que a levou a ganhar terroir

fora da sua Beira natal, abeirando-se de outras paragens, a norte e a sul, a este e a oeste, para lá do Atlântico e para cá do Pacífico.Os vinhos do Douro, ou do Porto como são sobejamente conhecidos cá e lá, têm na Touriga Nacional uma das castas que melhor os define e engrandece enquanto vinhos de guarda e da velha guarda. E que nenhuma alma ouse sequer desgostar deles, privar-se do seu calor.Touriga Nacional é uma casta dotada de incomensurável versatilidade, pois produz vinhos vários e de nobre elegância, de cores fortes e olfacto cheio. Na boca denota vigor que permanece, depois de primeira prova, num sabor intenso. A saudade, essa, apenas se faz sentir quando a garrafa se enche de vazio. Mas haverá sempre mais uma garrafa à espera de respirar. Um bouquet de emoções para sorver.“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, escrevendo, Camões imortalizou, a quantidade já não é o que era, mas a qualidade, essa, quer-se grande, porque vinhos há muitos. Vinhos com qualidade, há cada vez mais, basta saber apreciá-los. A muitos deles a Touriga Nacional oferece as suas castas virtudes e neles é preciso apostar, bebendo-os em boa companhia.

Texto de João Pedro Costa

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A meio caminho de Espanha e já com os pés molhados no Alqueva o Hotel Rural Refúgio da Vila vale uma valente coça na carteira, seja pela cama fofa, pelos jardins onde se enche o peito com este Alentejo, seja pelo atendi-mento. Aos pés do Castelo de Portel este simpático hotel tem laranjeiras de cheiro, pedras antigas, camas enormes e quartos tripartidos e de pé bem alto. Uma varanda com vista para a Praça, e para a fortaleza que nos custa pouco mais de noventa euros a noite e que termina, a minha assim foi, com um formidável pequeno-almoço, ideal para carrear alma e pernas para viandar pela planície imensa.

O Refúgio da Vila, um hotel rural na vila de Portel, é inqui-lino da antiga casa da família Amaral e Palhavã Amaral, que por certo já conhece do filme Cerro Maior. Esta extraordi-nária casa marca um cenário senhorial, bem no coração da

bonita e elegante vila.O hotel dispõe duas dezenas de

luxuosos quartos e nove extraordiná-rias suites. O meu, com vista para a praça, tinha uma imensa cama, muito e assoalhado espaço, e um formidável sofá, apto a sonecar. Acrescente-lhe uma enorme banheira, a robustez dos móveis e um hall de permeio e verá como este fidalgo dormiu, por entre as enormes almofadas e as quentes man-

A Vila do Refúgio

“brindado com os ovos da planície, o pão do Alentejo, o sumo das laranjeiras, de beber e um deleitoso bolo de canela”

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tas. Ao acordar fui brindado com os ovos da planí-cie, o pão do Alentejo, o sumo das laranjeiras, de beber e um deleitoso bolo de canela. Supimpa e apto a lobrigar o terraço, preparado para reconci-liadores banhos de sol depois de usufruída a mesa do bilhar e o pano verde dos jogos de cartas.

Sossego, tranquilidade, bens preciosos que escondem uma escadaria que se desce lentamente para nos deixarmos invadir pelo Alentejo mourisco. Colunas, talhas, árvores de sombra e de fruto, rosei-ras e trepadeiras. Piscina, pátios e quintais comple-tam o remanso onde, à noite, podemos observar a Via Láctea, a Ursa Maior e a Ursa Menor, as estrelas e o céu, enquanto ouvimos cigarras doidas e rãs vadias a preencher a escuridão.

Vagar, que pede um tinto antes da dormida, no silêncio sereno da velha praça forte que de manhã a torre do reló-gio há-de pedir ao galo que nos acorde.

Um verdadeiro refúgio, se não disser a ninguém por certo que não o descobrem, por entre frescos recantos de sombra e a lavoura das hortas.

É neste jardim que estão novos quartos, decorados com mestria e modernidade para contrastar com a antiguidade austera e quente do interior. Não se intimide com a esca-daria, fuja ao bar e depois entre na recepção e verá que a simpatia é um enorme valor a ter em conta, que fecunda a sabedoria e abre os segredos deste palacete, recuperado com gosto, decorado com arte, mantido com brio.

Esta casa rural é hoje um vintage edifício, elegante e sin-cero, rustico mas romântico.

Hospitalidade em estado puro, cheia de mistérios e har-monia. Um magnifico agradável que nos faz esquecer onde estamos e nos preocupa a conhecer mais destes costumes e destas gentes, formidáveis gentes, que tão bem nos acolhem.

E cá refugiei-me, acolhi-me, deleitei-me e voltarei. Por certo.

Quinta Chão do VintémChão do Vintém3680-014 Arcozelo das MaiasOliveira de Frades - Portugal

Serafim Gândara: 969 050 858M.ª Fátima Gândara: 963 158 421Pastelaria Amazónia - Pão: 232 762 217

[email protected]

ONDE OS SONHOSSE CONCRETIZAMEm plena harmonia com a natureza, é o local ideal para a realização dos mais variados tipos de eventos. Tem como palco principal uma casa rústica com canastro e casa de forno, cuidadosamente restaurados, bem como uma série de elementos que lhe conferem mais encanto e glamour.Com extensos e belíssimos jardins, destacam-se diversos atrativos que convidam adultos e crianças aos melhores momentos de lazer.O salão climatizado possui capacidade para 450 pessoas, e resulta da moderna conjugação entre o teto de madeira, as paredes de vidro e uma varanda panorâmica, que proporciona o contacto direto com a paisagem envolvente. A Quinta Chão do Vintém dispõe de uma excelente equipa de recursos humanos que permite oferecer resposta às mais exigentes necessidades dos clientes, garantindo o sucesso e a qualidade pretendidos.Oferece ainda aos seus convidados um parque de estacionamento privativo, um serviço personalizado de decoração e catering exclusivo, com diversas propostas de ementas, adequadas aos mais originais desejos e expectativas.

Salão de Eventos

“um tinto antes da dormida, no silêncio sereno da velha praça forte”

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Mouras na Planície

Em Arraiolos as Mouras têm adega e também uma das maiores man-chas de vinha contínua e culti-vada de toda a Europa. Um mar de vinhas abençoadas por São Gre-gório e Santa Justa que atestam as cores que enxameiam os 227 hec-tares de vinha, onde residem vários, muitos e tantos, dos bons encepa-dores do Alentejo.

Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet, Syrah, Aragonês e a tem-peramental Trincadeira aqui resi-dem nesta imensa vastidão de

verde que tinge a planície em agosto, que depois escapa--se para o amarelo e vermelho e acaba, simples e orgulhosa, com as cepas despidas, esperando o avançar da invernia.

A Adega das Mouras colhe nas castas antigas, Arago-nês, Trincadeira, Antão Vaz ou Alicante Bouschet; e apanha na Touriga Nacional, Petit Verdot ou Viognier.

A ideia da Adega das Mouras germinou no arranque do milénio quando os 326 hectares da propriedade passaram para as mãos de um empresário que entre o que estava e o que plantou tem hoje 226 hectares, tornando-a numa das três maiores vinhas contínuas da Europa, quando ficou acabada, 5 anos depois do milénio e da germinação que antes era dada a uva de mesa e hoje tem na Trincadeira, que ocupa quase metade da vinha, o essencial. Às já citadas acrescente-se Tinta Caiada e o Tempranillo, o nome espa-

“Adega das Mouras colhe nas castas antigas, Aragonês, Trincadeira, Antão Vaz ou Alicante Bouschet”

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nhol do Aragonês. No branco só coisas portuguesas como o tradicional Arinto e Antão Vaz e ideias suculentas como o Verdelho e o Perrum que são, ano após ano, curtidos em lagares e cubas temperados. No total 90% são cepas tintas, brancas na restante área.

Os vinhedos contemplam-se do topo da adega, verda-deira máquina de espremer uvas, colhidas nos montes, mon-tículos e declives. Por ano a produção ultrapassa o milhão e meio de litros de vinho.

Sílvia Cardoso, que responde pelas vendas e Vladimiro Pires foram os meus anfitriões na visita à adega, às cubas, armazém, sala de provas e tudo o mais que houvesse para ver. Neste Alentejo vínico não há segredos e é na adega, construída em 2006, que se fazem os bons, e em conta, vinhos que nos aquecem neste inverno.

Terras férteis, generosas e temperadas pela Planície, bebem de duas barragens que regam as videiras de onde hão-de sair as marcas Patameiras, Mouras de Arraiolos, Moi-ras, Maria da Penha, Morgado de Arraiolos e Paço dos Alcai-des de Arraiolos, vendidas entre os dois e os oito euros, suportados nos generosos armazéns e na sala de estágio, onde se escondem duas centenas de barricas, capitaneadas pelo carvalho francês, com o alistamento de algum ameri-cano e, curiosidade, também do leste europeu. No conjunto a Adega guarda três milhões de litros que, no limite, pode-riam ser engarrafados ao ritmo de três mil garrafas por hora.

Da Adega ao extremo da propriedade são pouco mais de 3 quilómetros espaçados por aromas e sabores que se deixam provar nas Mouras ou numa garrafeira perto de si.

Há visitas para enófilos, passeios de jipe, passeios para curiosos e provas para todos.

“bebem de duas barragens que

regam as videiras de onde hão-de

sair as marcas Patameiras,

Mouras de Arraiolos, Moiras, Maria da Penha,

Morgado de Arraiolos e Paço dos Alcaides de

Arraiolos”

Opinião do EnólogoVinho da Talha

Carlos Sequeira: médico do Trabalho e produtor do Turimenha

Em S. Salvador de Aramenha concelho de Marvão, em pleno coração do Parque Natural da Serra de S. Mamede, honramos as tradições da

família, mantendo em actividade uma adega com mais de 50 anos, formada pelos ancestrais potes de barro ou talhas, onde colheita a colheita produz, com a paixão e o carinho que só um amador pode ter, o néctar báquico do milenar vinho do pote. Esta técnica de fabrico presente em toda a raia alentejana, sendo certo que amplamente utilizada pelos romanos, pode já ter sido usada pelos fenícios e gregos alguns anos antes de Cristo. Os potes proporcionam à fermentação duas condições essenciais, o controle de temperatura, e a oxigenação reduzida. No pote todo o trabalho tem que ser manual desde a agitação das massas e imersão da “manta” até ao retirar das massas e lavagem do pote após a desfega - abertura e esgotamento do vinho.Ajudado “cientificamente” por dois grandes amigos, na vinha o engenheiro José Luís Marmelo e pelo enólogo Rafael Neuparth, são estes tintos muito especiais, com poder digestivo, com um pH normalmente baixo para tintos, facilitam a digestão de repastos pesados e gordurosos da gastronomia alentejana e mediterrânica como as migas, açordas, enchidos, pèzinhos, molhinhos, queijinhos e outros miminhos. Devem ser consumidos jovens, na minha opinião a sua pujança raramente ultrapassa os cinco anos. Com predominância de Touriga Nacional, único engarrafado em monocasta a pedido de alguns “pacientes”, todo o “medicamento” final resulta da conjugação desta, com o Cabernet Sauvignon, o Alicante Bouchet, o Aragonez e a Trincadeira, numa fórmula variável de ano para ano conforme as “maleitas”.Podemos pois esperar que este verdadeiro remédio para o físico e para a alma ilumine a nossa consciência, abra o nosso coração e nos dê temperança!

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Verdes,vermelhos e azuis.

São os mirtilos senhores!

Sever do Vouga são as serranias, os mirtilos e os camalhões. Um sopro verde, ouro azul, fruta da juventude, elixir do amor, remédio para a alma, revigorante do coração.

Por aqui, nestas terras verdes produz-se arando, fruto sil-vestre excepcional, uma poderosa baga da longevidade, fruta azul casada com o sol, amante do frio. Pomar verde onde o ouro azul foi transformado em bandeira da nova agricul-tura, uma baga que carreia riqueza, emprego e inovação.

O mirtilo, também conhecido como arando ou uva-do--monte, lidera a fileira dos pequenos frutos e a área a plantar nos próximos anos pode ultrapassar os mil hectares.

A produção de mirtilos é uma realidade em crescimento, está a gerar uma nova dinâmica no sector agrícola e a levar muitos jovens a uma aposta na agricultura, aproveitando os apoios do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER).

Água, minifúndio e temperatura amena são as vantagens dos produtores do mirtilo que traz atrás de si a produção de compotas e licores.

O mirtilo é uma baga que cresce num pequeno arbusto. É conhecido como o “rei dos antioxidantes” e, além de ser uma planta medicinal, tem grande versatilidade culinária. Mas “o mirtilo é sobretudo uma possibilidade para rentabilizar terrenos que, em mui-tos casos, estavam abandonados”.

O fruto tem grande saída para exportação e é, atualmente, dos casos de maior sucesso na agricultura com projetos em curso para quadruplicar a

“nestas terras verdes produz-se arando, fruto silvestre excepcional, uma poderosa baga da longevidade, fruta azul casada com o sol, amante do frio”

produção e, dentro de alguns anos, levar Portugal a atingir os mil hectares de produção.

A produção atual de mirtilos, na casa das 120 toneladas, deverá disparar, em 2015 para 400 ou 500 toneladas, plan-tados por duas centenas de agricultores.

Um dos maiores desafios do sector passa por formar mão-de-obra qualificada, seja para apanha do fruto, pre-paração dos campos ou poda dos arbustos. Em Portugal, a colheita decorre entre meados de Abril e inícios de Setem-bro, dependendo da altitude, região e variedades cultivadas, que podem precisar de mais, ou menos, frio. A norte são 500 a 1200 horas de frio de Junho a Setembro. A Sul 150 a 500 horas, de Outubro a Abril. Uma produção que quebra a sazonalidade e permite compensar a produção do Chile, Argentina e México.

Os Frutos nascem em aglomerados de 5 a 8 bagas que amadurecem sucessivamente ao longo de várias semanas. E só se colhem quando não existirem frutos de cor vermelha.

Existem diferentes maneiras de se consumir estas bagas. Em geral, são vendidas frescas em cuvetes de 125 gramas.

Solos frescos, humidade constante e água com parcimó-nia até à colheita sendo que em Abril é quando o preço dis-para. Um hectare produz 15 toneladas, vendidas entre 3 a 4 euros o quilo.

Nos últimos anos assistiu-se a um aumento da área de produção, que passou de zero para cerca de quarenta e cinco hectares, com tendência para aumentar. O Alentejo e a zona do Sever do Vouga são as principais regiões de pro-dução de mirtilo.

Lembre-se do mirtilo, fruta capaz de surpreendê-lo com o seu sabor e propriedades únicas. E delicie-se com o mirtilo seja em fruta fresca, licor, bolos e tartes, compotas e doces. E depois de o merendar acredite que o mirtilo é o elixir da juventude.

“delicie-se com o mirtilo seja em fruta

fresca, licor, bolos e tartes,

compotas e doces”

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Bochecha de vitela

a baixa temperatura

Chef Cristina AlmeidaMontebelo Viseu Hotel & Spa

Ingredientes (4 pax):4 nacos de bochecha de vitela;1 ramo de aipo;1 cenoura;1 cebola;3 dentes de alho;folhas de louro q.b.;1 raminho de salsa;Vinho do Porto q.b.;Vinho tinto q.b.;Brandy q.b.;Sal q.b.;250g de banha de porco;

Preparação:Temperam-se as bochechas de vitela com todos os ingredientes e deixam-se a marinar, pelo menos duas horas.Numa frigideira coloca-se a banha de porco e juntam-se as bochechas de vitela que devem apenas ficar coradas (1 minuto de cada lado é suficiente). A marinada coloca-se num tabuleiro que depois irá ao forno com as bochechas de vitela, durante quatro horas a uma temperatura constante de 100°.Depois de assadas, as bochechas de vitela podem ser servidas com batata confitada ou Brás de legumes.

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produção e, dentro de alguns anos, levar Portugal a atingir os mil hectares de produção.

A produção atual de mirtilos, na casa das 120 toneladas, deverá disparar, em 2015 para 400 ou 500 toneladas, plan-tados por duas centenas de agricultores.

Um dos maiores desafios do sector passa por formar mão-de-obra qualificada, seja para apanha do fruto, pre-paração dos campos ou poda dos arbustos. Em Portugal, a colheita decorre entre meados de Abril e inícios de Setem-bro, dependendo da altitude, região e variedades cultivadas, que podem precisar de mais, ou menos, frio. A norte são 500 a 1200 horas de frio de Junho a Setembro. A Sul 150 a 500 horas, de Outubro a Abril. Uma produção que quebra a sazonalidade e permite compensar a produção do Chile, Argentina e México.

Os Frutos nascem em aglomerados de 5 a 8 bagas que amadurecem sucessivamente ao longo de várias semanas. E só se colhem quando não existirem frutos de cor vermelha.

Existem diferentes maneiras de se consumir estas bagas. Em geral, são vendidas frescas em cuvetes de 125 gramas.

Solos frescos, humidade constante e água com parcimó-nia até à colheita sendo que em Abril é quando o preço dis-para. Um hectare produz 15 toneladas, vendidas entre 3 a 4 euros o quilo.

Nos últimos anos assistiu-se a um aumento da área de produção, que passou de zero para cerca de quarenta e cinco hectares, com tendência para aumentar. O Alentejo e a zona do Sever do Vouga são as principais regiões de pro-dução de mirtilo.

Lembre-se do mirtilo, fruta capaz de surpreendê-lo com o seu sabor e propriedades únicas. E delicie-se com o mirtilo seja em fruta fresca, licor, bolos e tartes, compotas e doces. E depois de o merendar acredite que o mirtilo é o elixir da juventude.

“delicie-se com o mirtilo seja em fruta

fresca, licor, bolos e tartes,

compotas e doces”

Se procurarmos um vinho mais especial, um gin único ou uma aguardente velha, tenhamos vagar ou pressa, encontra-mo-los por certo na Cave Lusa, uma distribuidora de vinhos de Viseu, que dispõe agora de um novo espaço, sóbrio e requintado, tornado garrafeira de ocasiões singulares ou de encontros mais proletizados.

É um projeto arrojado mas ponderado. Adequado ao crescimento da urbe que todos os dias vê chegar a seus pés novos visitantes e que, pouco a pouco, vão engrossando o potencial humano da cidade de Viriato.

Para além do desenho da garrafeira, feito a pensar em quem ciranda ou demanda, há uma extraordinária uva tor-

Lusa, completa, sóbria e sabedora Cave

“novo espaço, sóbrio e requintado, tornado garrafeira”

Prestige DrinksWines & Spirits

Page 14: Edição 3 | Portugal | Cachocacho.pt/wp-content/uploads/2015/01/Cacho-3-digital.pdf · bebendo-os em boa companhia. Texto de João Pedro Costa. 12 13 A meio caminho de Espanha e

nada candeeiro, que nos inunda de tons vermelhos e ilu-mina as escolhas, sejam elas de espirituosos ou de taninos.

Um equilíbrio, que parece filho da sobriedade, onde encontramos um piso totalmente dedicado às cousas do espirito. É por aqui que deambulam quase duas centenas de referências de gins, vodkas, tequilhas, runs, whiskies, conha-ques, armagnhaques e aguardentes velhas. No espaço nobre o senhor vinho, generoso, de mesa, com denominação, espumantes, cavas, champanhes, verdes, alentejanos, bair-radas, tejos e outros Alentejos.

Aqui uma grata surpresa com área de assessórios, sala de provas e lounge com serviço de vinho a copo, entre eles o prestigiado, e antigo, Barca Velha. Todos unificados na dupla missão de quem vende para profissionais e para o consumidor mais exigente que não compra caixas, antes quer A Garrafa.

Espirituosos e vínicos apresentam rótulo premium, numa qualidade alicerçada em trezentos mil euros de estoques que, per si, garantem e atestam a honorabilidade dos pre-ciosos néctares.

A garrafeira também está aberta aos produtores da Região Demarcada do Dão, que tem excelente destaque, não fora esta Cave Lusa ser filha dileta da segunda mais antiga região demarcada. Isto, claro está em nome da prodigali-dade, sem esquecer provas de todos os produtores deste imenso e vínico Portugal.

A Cave Lusa localiza-se na Manhosa e abre de segunda a sábado.

“aberta aos produtores da Região Demarcada do Dão, que tem excelente destaque, não fora esta Cave Lusa ser filha dileta da segunda mais antiga região demarcada”

A 15 km de Viseu, no concelhode Penalva do Castelo, Freguesia de Pindo,situa-se a Adega da Corga.Poderá visitar-nos e degustar os nossos néctares selecionados.