Editorial J - número 8 - setembro/outubro de 2012
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Reação é o último recurso dos síriosO governo reprime com a morte e não poupa nem a inocência de uma criança, diz a
jornalista e ativista Leila Nachawati. “A população da Síria descobriu que os gritos de
liberdade são muito mais valiosos que o silêncio da repressão”, afirma. /Central
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Fortunati, agora prefeito eleito/2
#votoj
Crise nas companhias de aviação não inibe o interesse pela carreira /3Fila de espera para ser piloto
Recursos permitiram a Apanhador Só produzir álbum /11
“Vaquinha” financia cultura
Daniele Souza (4º)
Caroline Medeiros (4º)
Jefferson Bernardes (divulgação)
Curso ensina a detectar mentiras/4 e 5
treinamento
SETEMBRO/OUTUBRO DE 2012 / PÁGINA 2
papo de redação
Laboratório convergente da Famecos
www.pucrs.br/famecos/editorialj
expediente editorial J
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga, 6681, Porto Alegre (RS).
Reitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraPró-reitora de Graduação: Solange Medina Ketzer
FAMECOS
Diretora: Mágda Rodrigues da CunhaCoordenador do curso de Jornalismo:
Vitor NecchiCoordenador do Espaço Experiência: Fábian Chelkanoff ThierCoordenador do Editorial J: Fabio CanattaCoordenadora de produção: Ivone CassolProjeto gráfico: Luiz Adolfo Lino de SouzaProfessores responsáveis: André Pase, Caroline de Mello, Fabio Canatta, Flávia Quadros, Geórgia Santos, Ivone Cassol, Marcelo Träsel, Marco Villalobos, Sérgio Stosch, Rogério Fraga e Vitor Necchi.
EQUIPE DE ALUNOS
Editores: Ana Maria Müller, Caio Venâncio, Cândida Schaedler, Daniele Souza, Eduardo
Bertuol e Pedro Tavares.Repórteres: Anahis Vargas, Anna Karolina Santa Helena, Airan Coimbra da Costa, Bárbara Moreira, Bárbara Souza, Bibiana Borba, Bruna Suptitz, Bruno Andreoni, Caroline Medeiros, Christiane Luckow, Claiton B. da Silva, Constance Laux, Daniela Flor, Eduardo Schiefelbein, Evelyn Centeno, Flavio Schirmer, Gabriela Brasil, Gabriela Cavalheiro, Gabriel Galli Arevalo, Gabrielle Toldo, Guilherme Barcellos, Guilherme Jaeger, Guilherme Testa, Gustavo Frota, Ingrid Flores, Isabele Sonda, Janaína Marques, Jéssica Schneider, João Pedro Arroque Lopes, Júlia Finamor Magalhães, Júlia Lewgoy Martini, Juliana de Gonzalez, Kamyla Jardim, Karine Flores, Katherine D’ávila, Laís Escher, Laura Martins, Lucas Borba, Lucas de Oliveira, Lucas Etchenique, Luísa Dal Mas, Luiza Lorentz, Marcel Klein, Marcos Belo, Mariana Gonzalez, Mariana Moraes, Maria Carolina Santos, Matheus Riskala, Matheus de Jesus, Mônica Nascimento, Patrícia de La Jardim, Pedro de Fraga, Rafael Ribeiro, Rafaela Masoni, Raquel Saliba, Regina Martins Albrecht, Roberta Fofonka, Ricardo Miorelli, Sabrina Simões, Thamys Trindade, Thiago Netto, Vitória Di Giorgio e Vithoria Vaz.
Impressão: Apoio Zero Hora Editora Jornalística
D ia de eleição é dia de jornalista em ação. Então,
da cobertura de um grande evento? A pergunta gerou inquietação entre estagiários e
a proposta do laboratório de jornalismo.Além de abrir as portas da
em um domingo, havia umcomo abordar as eleições municipais sem mimetizar a cobertura dos repórteres dos grandes veículos de comunicação? Como
público sem acompanhar os
Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e anunciar prognósticos sobre os eleitos? A decisão de cobrir as eleições municipais de 2012 nos conscientizou de que o conteúdo deveria ser
Nosso trabalho precisava contar histórias que os veículos tradicionais não dão atenção, como a expectativa da população em ver a presidente Dilma
Dupla estreiaTexto:
Pedro Tavares (7º sem.)
Foto:
Giovanna Pozzer (4º)
Primeiro voto e primeira grande cobertura
Depois de ter sido eleito
Fortunati (PDT) chegou à
22% dos votos válidos de mais de um milhão de eleitores da Capital.
a eleição
polarizada entre Fortunati e Manuela D’Ávila, do PC do B. Apesar das pesquisas eleitorais terem indicado a provável vitória do vice que se tornou
de votos em relação aos outros candidatos surpreendeu. Além do Partido
Democrático Trabalhista (PDT), integram a coligação vencedora oito partidos, PMDB, PTB, PP, PPS, DEM, PRB, PMN e PTN. Os vereadores eleitos pela coligação também garantem
maioria na Câmara Municipal,
com o equivalente a quase dois terços. F
antes de assumir o cargo em
ao governo do Rio Grande do Sul. Seu primeiro cargo político
estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual
pelo mesmo partido. Antes de ingressar na política partidária,
da Associação de Moradores da Casa do Estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e participou de um movimento
vilas da Grande Cruzeiro Sul.
o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre.
Votos reconduzem Fortunati
os bastidores de redações de jornais, rádios e televisões nesse agitado dia. Por que não relatar a apuração relâmpago em cidades de 2 a 3 mil eleitores, caso da pequena Harmonia, no Vale do Caí? Os eleitores
11 urnas do município. anaína Marques, a repórter que escolheu registrar a agitação na seção eleitoral em que a presidente votou, deixou sua casa, em Gravataí, na véspera.
Pernoitou na casa de uma amiga em Porto Alegre, para poder seguir bem cedo à seção na Zona Sul. No seu primeiro plantão como repórter, viveu a angústia da espera, o corre-
é a Dilma”, testemunhou o
da personagem principal e a
empregadas para resultar num pequeno registro. Felizmente, a
da presidente, mas o público que lá compareceu, como Ana
votando naquela seção eleitoral e usando muletas para se locomover, Ana Lúcia para ver a mulher que admira.A estagiária Constance
Laux constatou, na Associação Leopoldina
que os eleitores tinham alguns privilégios como ar-condicionado e, curiosamente, uma calçada sem os tradicionais santinhos que
que Daniela Flor percebeu relevante e trouxe à redação.
tuítes completaram o trabalho realizado pelos alunos. Alguns em dupla estreia, pois votaram
também a primeira cobertura de eleição. Um dia histórico, não só para os eleitos.
Texto: Tereza Torres (4º sem.)
Ele será o prefeito da Copa
Parte desta equipe se dedicou ao exercício de cobertura do primeiro turno da eleição
Use o QR Code para acessar todas as matérias sobre as eleições
Jefferson Bernardes (divulgação)
SETEMBRO/OUTUBRO DE 2012 / PÁGINA 3
Carreira de piloto tem
Texto e fotos: Daniele Souza (4º sem.)
O Polo Naval de Rio Grande também faz crescer interesse pelos cursos oferecidos no Aeroclube de Belém Novo
aviação
Do Vietnã ao Belém NovoPor gentileza do piloto comercial
Marlon Markendorf, 23 anos, a repórter
voou em um Cessna L-19, também
conhecido como Cessna O-1 ou 305
Bird Dog. Este avião é de origem norte-
americana e foi utilizado para controle
dos combates, os americanos doaram ao
Brasil três unidades que vieram para a
base de Belém, no Pará. Na década de 80,
eles passaram a servir como rebocadores
no Aeroclube.
Os aviões L-19 estiveram abandonados
durante algum tempo devido aos altos
custos de manutenção. Um deles foi para
Pelotas e os outros dois continuam em
Belém Novo. O que foi recuperado por
Markendorf e seu amigo Leandro Kertész
é usado pelos dois para voos particulares,
como o realizado para essa reportagem.
“Era triste ver um avião com tanta história
parado naquele lugar. Só quem é piloto e
voa nele entende como é, uma sensação
muito boa”, conta Markendorf.
Em tons predominantemente verdes,
o Cessna tem capacidade para duas
pessoas: o piloto e um passageiro. Não
dispõe de vidros nas janelas traseiras,
possibilitando uma excelente visão
externa.
No voo feito em setembro, o Cessna
L-19 partiu por volta das 17h e sobrevoou
a Zona Sul de Porto Alegre e a orla do
Guaíba, revivendo um pouco do que
sentiram os soldados que ocuparam
aqueles bancos para observar as posições
inimigas nos tristes tempos da Guerra do
Vietnã (1964 a 1975).
A Escola de Aviação Civil
do Aeroclube
do Rio
Grande do Sul
mantém, pelo terceiro ano
de alguns meses para seus
cursos de formação de
pilotos, embora a procura
tenha estabilizado este
ano. A informação é do
superintendente geral Ilton
Bonacheski que atribui a
grande demanda de 2010
e 2011 ao destaque que a
imprensa deu à falta de
para voar. A maioria dos
candidatos visa à carreira
de piloto comercial, mas
também aumenta o interesse
pelo curso de piloto de
helicóptero, especialmente
para trabalhar no transporte
de equipes para as
plataformas petrolíferas em
construção no Polo Naval de
Rio Grande.
O Aeroclube do Rio
Grande do Sul está localizado
no bairro Belém Novo, em
Porto Alegre. Tem uma
equipe com cerca de 15
instrutores e mais de cem
alunos. Seus cursos duram
em média dois anos e
categorias: piloto privado
(PP), piloto comercial (PC)
e instrutor. A idade mínima
para ingresso na escola
é 16 anos e a frequência
equivale ao serviço militar.
A frota para instrução
conta, atualmente, com 25
aeronaves, dentre as quais
três helicópteros. Os alunos
que vêm de outras cidades
nas dependências do próprio
aeroclube.
Fábio Klafke é instrutor
e ao mesmo tempo aluno.
Piloto de avião há cerca de
20 anos, o porto-alegrense
aposta no seu futuro como
condutor de helicóptero,
tendo em vista a ascensão
deste mercado. No mesmo
caminho de Klafke, segue
Rodolfo Medeiros, 35 anos.
Ele quer obter a carteira de
piloto comercial e pretende
virar instrutor. Medeiros veio
do Espírito Santo porque lá
não há escola de aviação.
As mulheres também se
Sílvia Juchem Corrêa, 22
anos, veio de Bom Princípio
com muita vontade de
pilotar. “Vem daqui de
dentro”, confessa, sorrindo
e apontado para o peito.
Sempre foi fascinada por
aviões e gostava muito de
ir ao aeroporto. No Ensino
Médio, pesquisou na internet
o procedimento para
entrar para a aeronáutica
e descobriu que sua altura
centímetros para 1m60cm
exigido). Então, descobriu
o aeroclube, assim como
Kauê Leão Peixoto, 21 anos,
porto-alegrense formado em
Ciências Aeronáuticas pela
PUCRS. Ele é instrutor e,
assim, acumula horas para
virar piloto comercial.
Todos já deram pelo
menos o primeiro passo
para alcançar seus sonhos:
Rodolfo e Sílvia se preparam para ser pilotos no Aeroclube
Piloto Marlon Markendorf em seu Cessna L-19
A mentira pode ser tecnologicamente detectada? Há métodos para desmontar uma informação falsa que possam dar origem ao
conteúdo de um curso? Ao buscar resposta às perguntas, o especialista em detecção de mentiras Thompson Cardoso decidiu oferecer, em 2007, o curso de Técnicas de Entrevista para Detecção de Mentiras. No início, ele pensou que a iniciativa chamaria a atenção de poucas pessoas.
Porém, a procura foi aumentando e, hoje, chega a realizar cinco edições por semana para atender a todos os interessados. Os
das áreas de recursos humanos, psicologia, direito, setores logísticos, engenharia e da Polícia Civil.Cardoso explica que a mentira é atávica:
“A gente aprende, desde criança, a mentir para se defender”. Os métodos utilizados para detectar um mentiroso vão desde a análise de movimentos corporais, como gestos e reações faciais, até softwares que medem o nível de tensão na fala de uma
pessoa. Na concepção do especialista, no entanto, cada emoção ou linguagem corporal deve ser contextualizada. Ele questiona softwares que medem a tensão na fala de uma pessoa, popularmente conhecidos como
polígrafos, porque o sujeito que está nervoso emite os
início, ele pensou que a iniciativa chamaria a atenção de poucas pessoas.
para detectar um mentiroso vão desde a análise de movimentos corporais, como gestos e reações faciais, até softwares que medem o nível de tensão na fala de uma
pessoa. Na concepção do especialista, no entanto, cada emoção ou linguagem corporal deve ser contextualizada. Ele questiona softwares que medem a tensão na fala de uma pessoa, popularmente conhecidos como
polígrafos, porque o sujeito que está nervoso emite os
Texto:Cândida Schaedler (2º sem.) e João Pedro Arroque Lopes (4º)
SETEMBRO/OUTUBRO DE 2012 / PÁGINA 4
comportamento
A mentira
Aplicação das técnicas
Mesmo sem garantia de eficiência, análise corporal e softwares são utilizados para detectar sinais de falsidade
João Lessa, capitão de infantaria da Força Aérea Brasileira (FAB), explica que fez o curso
por dois motivos. Primeiro porque trabalha na ouvidoria da FAB e dominar técnicas de entrevista o auxilia na questão da transgressão disciplinar de soldados. O segundo é porque lida com marketing em um negócio que abriu com a esposa. Gerente de tecnologia da informação (TI) na
Compuserv, empresa de informática corporativa, Jonatas Oliveira participou do curso porque realiza entrevistas para contratar funcionários. Desse modo, Oliveira acredita que vai estar mais preparado para avaliar os candidatos.
Filipe Musskopf, Carolina Mazoni e Guilherme Schitz, estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
de Thompson Cardoso em maio. Eles acreditam que o aprendizado adquirido auxilia em atendimentos a pacientes e na psicologia forense, que lida com criminosos e questões jurídicas. Musskopf, além de estudar Psicologia, também cursa Direito na Pontifícia Universidade Católica
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mesmos sinais de quem está mentindo. Também
corporais não é um bom detector, pois há modos de aprender a gerenciá-los.O primeiro módulo
do curso ministrado por Thompson Cardoso contempla questões relacionadas ao modo como alguém se expressa e técnicas de entrevista para extrair relatos que possam ser contraditórios. Em quatro horas e meia de aula, os alunos interagem entre si e aplicam o conhecimento no próprio curso. Cardoso utiliza vídeos
e exemplos concretos para ilustrar suas ideias, mesclando teoria e prática. O segundo módulo tem duração de dez horas-aula e é destinado ao mesmo público que cursou o primeiro e pretende se aprofundar no assunto. Durante esse módulo, são
abordadas técnicas como
análise de sinais corporais contextualizados, semântica do discurso, planejamento de entrevista para detectar
que compreende a parte prática.“Às vezes não é falando,
mas permanecendo calado e deixando o entrevistado se explicar que pegamos um mentiroso”, ensina Cardoso. De acordo com o especialista, é preciso observar, ainda, a quantidade de detalhes presentes em uma narrativa, como reproduções de conversas e complicações inesperadas. Gestos acompanhando os relatos também são indicadores de veracidade. Três são os sinais
constantemente emitidos na mentira, segundo Thompson Cardoso: piscar muito os olhos, movimentar o ombro esquerdo para cima e para baixo e aumentar as pausas do discurso podem ser indicadores de falsidade.
Arte de Giovanna Maia (1º) sobre foto de Guilherme Testa (4º)
do Rio Grande do Sul (PUCRS). Como pretende seguir carreira na promotoria, aprender a observar e interpretar relatos, reações na fala e mudanças emocionais de réus será vantajoso em sua atuação.No entanto, há questões psicológicas que
a professora de Psicologia da PUCRS e coordenadora do grupo de pesquisa em processos cognitivos, Lilian Milnitsky Stein.
na detecção de mentiras, através de sinais não verbais, são falhos, sustenta. Ela coordena, há 13 anos, o único grupo que pesquisa o tema falsas memórias na América Latina, tendo, inclusive, publicado um livro a respeito do assunto. A pesquisadora explica que falsa memória é
quando uma pessoa lembra-se de algo que não aconteceu, mas que parece real. Essa ocorrência é frequente e pode atingir qualquer ser humano, independente de ter sofrido um trauma. Lilian reitera que isso é diferente de uma mentira. “Ao mentir, tu lembras o que aconteceu. Já falsas memórias são processo normal”, explica. A ação
pelo métodoA Polícia Civil, além do
curso do Thompson Cardoso, também usa o detector de mentiras que se diferencia do antigo polígrafo, quando era preciso por chips e plugs no acusado. No novo sistema, tudo é feito com base em leitura vocal, sendo através
não a veracidade do que
à máquina, já foi possível resolver casos que não
Demétrio Peixoto, perito em veracidade. Peixoto sustenta que,
em inúmeros casos, pessoas que trabalham com essas máquinas foram requisitados pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público para ajudar a resolver processos, empregando a máquina na análise da voz. Para Peixoto,
a trabalhar com detectores em 2009, as ferramentas tecnológicas auxiliam cada
criminal, tanto que o Poder Judiciário já aceita muito bem o emprego da tecnologia. Para operar a máquina,
é necessário ter alguém treinado e habilitado em técnicas de entrevistas, como as aulas oferecidas por Cardoso, somadas ao detector de mentiras. “O trabalho que Cardoso faz é base de tudo, e uma coisa auxilia a outra”, argumenta o perito que trabalha com os detectores e acredita que eles satisfazem a polícia, pois são mais um meio para combater a criminalidade. A máquina da verdade
também pode ser usada para outras coisas, além de resolver crimes, tanto que o representante da
fabricante de software Truster Brasil, Mauro Nadvory, dá suporte e presta
e análise de voz no quadro Máquina da Verdade do programa Tudo é Possível, da Record, apresentado por Ana Hickmann. Esse não é o único programa que já fez o uso do artefato. Na época do polígrafo, essas máquinas
entretenimento, como um quadro ou assunto principal do programa, caso do Nada além da verdade, exibido em 2008 e 2009 pelo SBT. O game show foi
apresentado primeiramente por Silvio Santos e depois por Carlos Massa (Ratinho) e se baseava no americano Nothing but the truth. O programa, que durou dois
de personalidades famosas
Na luta contra o crime
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Sinais constantemente emitidos na mentira
Movimentar o ombro esquerdo
Piscar muito os olhos
Aumento nas pausas do discurso
Clodovil Hernandez e Fafá de Belém, entre outros,
da emissora. Os convidados sentavam-se em frente a um telão, onde apareciam, ao longo do programa, 21
sobre momentos de suas vidas. A cada pergunta o convidado respondia se era
verdade ou mentira. Caso não mentisse, o competidor
programa, até R$ 100 mil. Além do SBT, na televisão brasileira as máquinas também foram utilizadas no programa Márcia, da Band, e atualmente no humorístico Custe o que custar (CQC), da mesma emissora.
Peixoto está acostumado a usar os detectores
Eduarda Alcaraz (8º)
Fotos: Guilherm
e Testa (4º)
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Movimentar o ombro esquerdo
Piscar muito os olhos
Aumento nas pausas do discurso
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25º SET
Leila Nachawati acusa que governo de Bashar Al-Assad encontrou na morte dos ativistas solução para conter as manifestações. A jornalista foi palestrante do 25º SET Universitário
O ano de 1982 foi diferente para a pequena Leila Nachawati Rego. Diferente das meninas de quatro anos que, nos países ocidentais, usavam lindos vestidos e brincavam
de boneca, a habitante da cidade de Damasco, capital da Síria, trajava vestes militares típicas de estudante daquele país. Sentada na sala de
estampava a capa do caderno. Hafez Al-Assad, presidente sírio, era o Peter Pan daquela infância.Aquela Leila cresceu, voltou para a Galícia,
na Espanha, onde nasceu. Com a troca de país também mudou o pensamento. Aprendeu que aquele Peter Pan era, na verdade, o Capitão-
Oriente Médio, sofreram com a tirania de um regime que nunca respeitou os direitos dos cidadãos, como contou Leila, em entrevista ao Editorial J. Hoje, a cidadã da cidade de Madri
Colaboradora da Al-Jazeera, do Global Voices e de El Diário, da Espanha, a jornalista e ativista acredita que a luta por liberdade travada pelo povo sírio desde março de 2011 – a revolta faz parte da onda de protestos no Oriente Médio que
grito por uma liberdade nunca sentida. Para ela, o povo sírio sempre foi explorado, “as leis nunca existiram para protegê-los”.A jornalista diz que a população, atualmente
Pan de mentira, sente-se abandonada, diante de um contexto de violência. Leila entende que
trata os enfrentamentos entre os revoltosos e o
regime como guerra. “Acho que o mais adequado é falar de rebelião armada contra um sistema repressivo. Também acho que é hora de falar de genocídio”, acrescenta, mencionando os ataques da ditadura que já teriam matado cerca de 40 mil pessoas.Para a ativista, o conceito de guerra civil
também não pode ser aplicado à situação da Síria, pois, em primeiro plano, não existe um
da população contra um governo que a sufoca. “Não é um enfrentamento por questão de fé ou religiosa. Isso é secundário. O principal é uma luta entre os que se agarram ao status quo do atual aparato de poder, e aqueles que o querem mudar”, opina.Mesmo com uma ditadura que age através de
franco-atiradores que alvejam civis desarmados, a sírio-espanhola tem otimismo quanto às mobilizações. Para que as mesmas tenham efeito, precisam ser documentadas. Apesar da censura digital, a Síria é o primeiro país do Oriente Médio a produzir vídeos para o YouTube. A blogueira vê progresso, comparando o cenário atual com um massacre ocorrido na cidade de Hama, em 1982. “Deste massacre, que ocorreu no governo anterior ao do pai de Assad, não existem fotos, vídeos e nenhum outro tipo de documentação”, ressalta.O papel das redes sociais possui importância,
mas não fundamental. Ela considera que são apenas uma ferramenta de comunicação. Outros
de lado por aqueles que pensam que as mídias digitais desempenham papel indispensável. “Na verdade as revoluções estão sendo muito violentas, mas não por parte dos civis, mas das instituições.”
A crueldade é extrema, balas e mísseis do exército de Assad não distinguem vítimas. Crianças têm a vida abreviada apenas pelo fato de estarem nas ruas com seus pais. “Esses dias deparei, no Facebook, com a foto de uma menina sem cabeça. A casa dela foi bombardeada pelas forças do governo”, relata.O governo sírio aprendeu com as revoltas
ocorridas nos países vizinhos, onde milhões de manifestantes se reuniram no Egito, na Tunísia e na Líbia. Por essa razão, as multidões causam temor nas tiranias do mundo árabe, comenta Leila. “O que acontece quando as pessoas se juntam em uma praça em Túnis, ou na Praça Tahrir, no Egito? Os governos caem. Portanto, o governo sírio tem juntado todas as suas forças tentando impedir que se ocupem as ruas”, pontua a ativista que foi palestrante no 25º SET.
Na Síria,
nenhuma
criança é
poupada
Texto: Pedro Henrique Tavares (7º sem.) Foto: Renata Carolina (4º sem.)
Presidentes sírios nas capas dos cadernos de Leila
Arquivo Pessoal
Verônica Abdala (4º)
SETEMBRO/OUTUBRO DE 2012 / PÁGINA 7
“F azer as coisas mais humanas” é um dos desejos do publicitário Roberto Espino Arias. Depois de ganhar, em
2010, Leão de Prata e, em 2011, Leão de Ouro em Cannes, conta que, na fase atual, valoriza também o lado humano, além da criatividade. Espino veio a Porto Alegre, em setembro, para realizar uma palestra no SET Universitário. Ele começou a carreira em Lima, no Peru, como estagiário que foi efetivado no final da faculdade. Em seguida, se mudou para Buenos Aires, na Argentina. Com isso surgiu o desafio da língua. Apesar de peruanos e argentinos falarem espanhol, há grandes diferenças principalmente nos sotaques e até mesmo nas palavras. Como redator, Espino escrevia muito. A solução encontrada foi ler jornais, principalmente esportivos, com linguagem mais coloquial, acessível ao público, e ouvir muito rádio. A partir daí as coisas começam a fluir
com mais trabalhos, responsabilidades, projetos importantes. Na sua segunda empresa, o publicitário passou de redator júnior para sênior. Sua equipe ganhou prêmios e reconhecimento. Nessa boa fase,
uma empresa maior, a BBDO, procurava uma nova equipe, indo atrás de indicações. Chegaram à equipe de Roberto Espino. Começar na BBDO foi importante em sua carreira, a empresa estava em um momento criativo. “Entrar em um lugar assim é muito bom, poder trabalhar com gente talentosa e com gana”, avalia. No ano seguinte, ganhou o Leão de prata, em Cannes. O prêmio foi uma surpresa. Mais um ano de trabalho e recebeu o Leão de Ouro. Há oito anos na Argentina e após os
prêmios e o reconhecimento conquistados, ainda falta alguma coisa na carreira de Espino? O publicitário diz que gostaria de fazer algum trabalho maior em uma empresa, como acompanhar uma marca e seu crescimento. Além disso, deseja tornar a publicidade mais humana, “trazer as coisas para mais perto das pessoas”. Compromisso, atitude e entusiasmo
ter, acredita. Hoje as empresas não buscam apenas pessoas criativas, mas engajadas nos projetos. Outra dica importante de Espino: observar tudo e todos. Qualquer fato serve
consome muito a pessoa. Ainda assim, ele segue apaixonado por ela.
“Governo não tolera ocupação do espaço público”protestar. Leila Nachawati Rego cita
consistem em ocupações do espaço público com duração de um minuto. A passeata é realizada de maneira rápida, para que os rebeldes não sejam
“O governo não suporta a ocupação do espaço público”,destaca. Para dissipar as revoltas, a alternativa do exército de Assad é o assassinato. Matar para limpar as ruas. O derramamento de sangue não acontece apenas nos momentos de mais agitação. A ativista relata que quem testemunhou para os observadores da Organização das Nações Unidas (ONU) foi morto. “Se os observadores vêm para entrevistar sem nenhum tipo de proteção para as testemunhas e se não existe plano de ação, para que servem, então?”, questiona. A cobertura realizada pela imprensa ocidental é um fator
A jornalista considera um erro avaliar que o suposto anti-imperialismo do governo de Assad é um fator determinante para os acontecimentos. “Um governo que massacra sua população não é anti-imperalismo, não é anti-nada, é um governo que faz qualquer coisa para se manter no poder. Existe continuamente a tendência de acusar os ativistas sírios de serem manipulados pelos Estados Unidos, pela CIA, pela Al-Jazeera. Essa é uma coisa que me surpreende muito”, conta.Elencada como uma das opções de
salvação dos sírios, a intervenção externa é abominada por Leila Nachawati. Na visão da moradora de Madri, há medo de que uma eventual entrada dos Estados Unidos possa transformar o país em um novo Iraque. A invasão estrangeira já existe, na verdade. “O regime sírio não seria o que é se não fossem as armas enviadas por Irã, Rússia, China e Venezuela, sobretudo a Rússia. Então como debater uma intervenção ocidental quando já há uma intervenção de fato?”, indaga. Construir um novo governo
democrático é uma das maiores
triunfaram na Primavera Árabe. Leila fala em um povo que não conheceu uma sociedade civil organizada. “Eu entendo que a população oprimida pelas leis reaja refugiando-se em valores mais tradicionais, mais conservadores, em partidos que parecem mais familiares, de cunho islamista, porque não conhecem outra coisa.” A novidade de uma batalha que está
apenas para o ocidente. Leila Nachawati, que viveu na Síria sufocada há quatro décadas, chamou um dia o torturador de seu povo de líder supremo. A manipulação de que foi vítima na infância não surte mais efeito no século 21. “Quanto aos
surpresos com o que acontece”, salienta.
Publicidade mais humana
Texto: Ana Maria Müller (4º sem.)
Compromisso,
atitude e
muito trabalho
possibilitaram a
Roberto Espino
conquistar Leão
de Prata e de
Ouro em Cannes
A resistência iranianaPalco de revoltas contra a
reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2009, o Irã é um dos países do Oriente Médio
Leila acredita que, diferentemente das outras nações que foram palcos da Primavera Árabe, o Irã tem uma mentalidade mais progressista, principalmente os
jovens. “Continuam celebrando festas pagãs, anteriores ao regime islâmico do país, e também mantêm costumes que o regime procura apagar, mas não tem conseguido”, observa.A favor do governo iraniano
está o pioneirismo que permitiu aos cidadãos estabelecer conexões na internet. Desta forma, os mecanismos estatais
de controle digital estão mais avançados. Recentemente, os serviços do Google e do Gmail foram bloqueados, em um plano que busca criar uma rede doméstica no Irã, de acordo com a Al-Jazeera. “O Irã trabalha na própria internet, para evitar que iranianos acessem a rede mundial, como na China”, relata.
O aumento no número de
militares de
alta patente
dos Estados
Unidos presentes no
Paraguai, nos últimos meses,
levantou dúvidas sobre a
verdadeira intenção dos
americanos naquele país.
Forças militares do Brasil
e dos países do Mercado
Comum do Sul (Mercosul)
expressaram preocupação
devido à suspeita de que
os americanos possam
instalar uma base militar
no país paraguaio. O
coronel reformado de
Infantaria e Estado Maior
do Exército Brasileiro
Manuel Soriano Neto fala
em aspecto geopolítico,
militar, nacionalista e de
defesa e guarda do Centro-
Oeste e Amazônia. “Não
interessa quem nos ameaça,
deveremos sempre nos
encontrar de atalaia em
defesa de nosso território e
patrimônio material”, alerta
o historiador militar.
O Brasil dispõe de muitos
recursos naturais, água doce,
biodiversidade, minerais
estratégicos como o urânio
(usado na indústria bélica)
e o nióbio (empregado na
produção de tubos de longa
distância de água e petróleo).
Argentina, Brasil, Paraguai
e Uruguai dividem o maior
manancial de água doce
subterrânea do mundo,
o Aquífero Guarani, com
extensão de 1,2 milhão de
Km². Outras preocupações
levantadas por Soriano
são a camada do pré-sal e
a Amazônia. São riquezas
naturais que mobilizam as
autoridades dos países da
América do Sul. “O Brasil
tem que se defender do
mundo todo”, completou o
coronel da reserva.
Por causa de
manifestações de
em Assunção, a Embaixada
dos Estados Unidos chegou
a emitir uma nota em que
parceria “humanitária” entre
os dois países. Com o título
“Rumores e Desinformação”,
o texto desmente a instalação
de uma base militar no país e
o interesse norte-americano
pelas terras guarani. “Os
Estados Unidos não têm
planos para uma base militar
no Paraguai”, negando
as suposições feitas por
analistas geopolíticos.
Na Câmara de Deputados
do Paraguai, o presidente
da comissão da Defesa
Nacional, Segurança e
Ordem Interna, deputado
José López Chavez, havia
anunciado que negociava
a construção da base
americana em território
paraguaio. Entre os motivos
para essa aproximação com
os Estados Unidos estaria
uma espécie de corrida
armamentista na vizinha
Bolívia.
A suposta base militar
seria construída na região
conhecida como Chaco
paraguaio, que se estende
na margem direita do rio
Paraguai. É uma área de terra
com planícies, coberta por
correspondendo a dois terços
do país. O Chaco tem no leste
o Brasil (estado do Mato
Grosso do Sul), no oeste, a
fronteira com Bolívia e ao sul
a Argentina. Cerca de 40%
dos paraguaios vivem nesta
região, sendo que o vilarejo de
Mariscal Estigarriba, ponto
que seria estratégico nesta
investida, conta com 3 mil
habitantes.
Texto: Rafael Ribeiro (7º sem.) Ilustração: Giovanna Maia (1º sem.)
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defesa
Inquietação na fronteiraPresença de militares norte-americanos no Paraguai gera suspeita sobre as reais intenções desta aproximação
O deputado José
Chavez explicou, no
pronunciamento na
Câmara, que a construção
da base seria uma maneira
de proteger a área pouco
povoada. Na região já existe
um aeroporto internacional
que tem hangares de grande
porte, radares, bombas
de reabastecimento e um
sistema que permite pousos
e decolagens.
Em 2009, os Estados
Unidos não obtiveram
autorização para enviar
seus militares ao Paraguai.
Na época, o governo era do
ex-presidente Fernando
Lugo, que sofreu processo
de impeachment em junho
deste ano. O assunto
teve grande repercussão
nos países que fazem
fronteira com o Paraguai.
No caso do Brasil, o
ministro da Defesa, Celso
Amorim, se manifestou
sobre a hipótese da base
“esdrúxula”. Comentou
que isso “resultaria no
isolamento de longo prazo
do Paraguai”. Enquanto isso,
quando Federico Franco
assumiu, substituindo
Fernando Lugo na
presidência, os EUA foram
um dos primeiros países a
aceitar formalmente o novo
governo paraguaio.
“É possível que os
Estados Unidos tenham
visto que esta mudança
política (de Lugo por Franco)
possibilite reverter a situação
regional mais a seu favor”,
avalia a coordenadora
de pós-graduação de
Ciências Sociais e Políticas
Internacionais da PUCRS,
Maria Izabel Mallmann.
terem uma relação mais
amigável é complicadíssima,
principalmente nos países
com governos esquerdistas,
comentou Maria Izabel,
citando como exemplo o
governo de Evo Morales,
da Bolívia. “Os avanços e
retrocessos políticos seriam
suportados até certos limites,
desde que não comprometam
os interesses dos Estados
Unidos”, concluiu.
Hipótese é vista como esdrúxula
Texto: Matheus de Jesus (4º sem.)
cone Sul
Universindo, uma prova
da Operação Condor
Ave de rapina
O sequestro dos uruguaios, ocorrido em Porto Alegre, revelou a ação conjunta das ditaduras latino-americanos
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A morte do ativista e historiador uruguaio Universindo Díaz, em 2 de setembro, em Montevidéu, colocou em pauta uma história que se tornou conhecida
como a grande falha da Operação Condor, união das forças de repressão dos países do Cone Sul nas décadas de 1970 e 1980. O homem que aguentara cinco anos de prisão (1978–1983) e torturas nas penitenciárias uruguaias não conseguiu vencer o câncer na medula. Universindo trabalhava em livros e documentários sobre a história que teve início no Uruguai e um importante capítulo escrito na cidade de Porto Alegre, em 1978.Universindo Díaz e Lílian Celiberti
estavam refugiados em Porto Alegre, em novembro de 1978, quando foram capturados por policiais uruguaios e brasileiros dos órgãos de repressão dos dois países e levados
de um lider do Partido Batlttista (nome dado devido ao ex-presidente José Batlle Ordeñoz), de cunho social-democrata. Viu crescer gradualmente o golpe militar que tomou o país em 1973. Ativista político, interrompeu o curso de Medicina e precisou sair do Uruguai, em 1975, por causa da repressão. Primeiro foi para a Argentina, onde se juntou ao Partido por la Victoria del Pueblo (PVP), e conheceu Lílian Celiberti. Em 1976, após o golpe militar na
Argentina, Universindo se refugiou na Suécia. Neste país, formou-se em Medicina e logo percebeu que precisava decidir entre
ou voltar para a América do Sul e seguir na luta pela democracia. Decidiu voltar. Chegou ao Rio de Janeiro em 1978 e se estabeleceu clandestinamente em Porto Alegre. Reencontrou Lílian Celiberti, também
de sete anos, e Francesca, de três.Em um domingo do mês de novembro,
Universindo se preparava, no apartamento da rua Botafogo, onde residia, para ir ao Estádio Beira-Rio assistir à uma partida do Internacional, acompanhado de Camilo e Francesca. Na Estação Rodoviária de Porto Alegre, ainda pela manhã, Lílian esperava companheiros militantes, quando foi presa. Em seguida, policiais brasileiros e uruguaios invadiram o apartamento da rua Botafogo e anunciaram a prisão do seu ocupante. Universindo pediu para deixar as crianças com uma vizinha. O pedido foi aceito. Às 14 h, ele e Lílian estavam no Palácio da Polícia, sendo interrogados. As torturas se estenderam por mais dez horas, pois se recusaram a entregar nomes de companheiros e contatos. Antes disto, ainda no apartamento da rua
Botafogo, dois jornalistas bateram a porta, surpreendendo os policiais. Um telefonema anônimo levou Luiz Cláudio Cunha, então repórter da Sucursal da revista Veja, e João Batista Scalco, fotógrafo da Placar, até o endereço. Os dois foram confundidos pelos policiais como colegas à paisana e tiveram acesso ao apartamento. Naquela semana, as páginas da revista
Veja expuseram a estranha ação conjunta dos policiais que resultou na prisão do casal uruguaio e transferência para presídios de Montevidéu. Posteriormente, se descobriu que o telefonema foi feito por Hugo Cores, ex-preso político uruguaio que vivia em São
Brasil, de Lílian Celiberti .Universindo Díaz e Lílian Celiberti
foram condenados a cinco anos de prisão
conquistar a liberdade, eles processaram os militares que os capturaram. O processo acabou arquivado pela Lei de Anistia uruguaia, mas reaberto recentemente. Lílian ainda luta pela condenação dos culpados, Universindo morreu sem ver a justiça.
No período das ditaduras militares da América Latina, crimes contra os direitos humanos e a dignidade da vida se tornaram comuns no Brasil e nos países vizinhos com milhares de mortos e presos políticos desaparecidos, sendo que muitos casos não foram esclarecidos, principalmente na Argentina e no Uruguai. A Operação Condor integrou os órgãos de repressão
política de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia na década de 1970. O nome “condor” é uma alusão à ave de rapina que age com perspicácia e precisão na captura da presa. Documentos do Departamento de Estado dos EUA (United States Department of State) revelados em 2001 mostram que o país tinham conhecimento das ações do grupo, mas não teve participação. A operação servia para, basicamente, fazer intercâmbio de prisioneiros capturados em países associados e acobertar os rastros dos mesmos. Quem fosse preso por uma ação conjunta da Condor poderia ser dado como desaparecido ou, se o caso fosse mais grave, ser chamado de terrorista. Tudo era válido para impedir que o comunismo apoiado por Cuba se espalhasse na América Latina. Estima-se que esse trabalho de quase uma década resultou em cerca de 100 mil “desaparecidos”. Em 12 de setembro, em painel promovido pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a ativista dos direitos humanos Veronika Engler falou dos estudos que realizou sobre as ações da Condor na América do Sul. O pai de Veronika, Henry Engler, foi preso político uruguaio, e isso a fez ativista dos direitos humanos. Ela relatou que no país de 3 milhões de habitantes, população
e permaneceram sob observação constante. Destes, cerca de 6 mil foram presos políticos. Um em cada cem uruguaios já esteve preso. Veronika ainda mencionou 740 mulheres e 64 crianças levadas pelos militares com pelo menos um dos pais, 27 antes do golpe. O primeiro caso de criança detida foi em 1970, e o último, em 1976. No âmbito geral, os estudos de Veronika apontam 116 mortos por razões políticas e 175 desaparecidos no seu país.
A Operação Condor motivou uma das primeiras investi-gações da Comissão Nacional da Verdade, constituída para averiguar violações aos direitos humanos. Representantes da comissão estiveram em Porto
para recolher informações, as-sessorados pelo jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro O sequestro dos uruguaios -
Uma reportagem dos tempos
da ditadura. O livro relata o
ajudou a desmantelar a Condor. A comissão ouviu o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke que, desde 1978, denunciava a
repressivos das ditaduras que
da América Latina.
Assunto da Comissão Nacional da Verdade
Imagens de Universindo Diaz: à esquerda, na época do sequestro, e à direita, foto feita um mês antes de falecer
Fotos: Arquivo Pessoal
Gilberto Monteiro nasceu e passou a mocidade em Santiago do
Boqueirão. Mudou-se para Porto Alegre há 30 anos, mas o seu dia ainda é permeado por hábitos e valores do homem do campo. “Eu sou muito apegado à terra”,
a gaita, o violão, o chimarrão, a proximidade com animais, o apreço pela simplicidade, pela hospitalidade e pela cultura gauchesca, a qual responde por boa parte das suas amizades. Monteiro seguidamente se refere a
Pampa, como os poetas Tadeu Martins e Chico Sosa, os violonistas Lucio Yanel, argentino, e Raul Quiroga, uruguaio, e o declamador Marco Aurélio Campos, de quem lembra emocionado.
instrumento ensinado pelo pai, a gaita de oito baixos, também conhecida por gaita de botão ou botoneira. Explica que a botoneira menor serve, muitas vezes, de introdução para a prática posterior com a gaita-piano ou acordeona. Apesar de reconhecido como nome importante da gaita de botão e um dos maiores expoentes
grandense, Monteiro não é muito popular entre o grande
a composição Milonga para as Missõessucesso do repertório de Renato Borghetti. Monteiro toca violão
ocasionalmente. Devido a parcerias com expoentes do instrumento, como Yanel, Quiroga e Marcio Rosado, não tem muita pretensão ao dedilhar as seis cordas, faz mais para se divertir. Também aproveita o momento em que se torna guitarreiro para cantar. Apesar de não levar a sério, se concentra e canta de olhos fechados, com esforço para
Texto e foto: Bolívar Abascal Oberto (8º sem)
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cancioneiro
Guardião da terra gaúchaUm dos principais nomes da gaita no Rio Grande do Sul, Gilberto Monteiro aprecia a cultura regional e valores como simplicidade e hospitalidade, enquanto usa seu perfeccionismo na preparação de novas músicas
encontrar o tom. A prática de empunhar o violão e cantar ocorre também no palco, quando ele se sente à vontade e a interação com a plateia é maior. Resgate cultural,
assuntos caros ao gaiteiro. Afora a invasão da cultura brasileira pelo que é produzido no Exterior, Monteiro também se preocupa com a inversão de valores entre a arte do Rio Grande do Sul e a de outros estados. Não é contra a produção nacional, mas acredita que
de fora do que os locais.
Aprendeu com o pai, Alexandre Monteiro,
bisavó Francisca Sezimbra Monteiro tocava piano para o pessoal da Corte e do Exército Brasileiro nos idos de 1860, 1870. Francisca transmitiu o conhecimento do piano para
serviço em Canoas e descobrir que não levava jeito para ser piloto da Aeronáutica, como almejava, Monteiro voltou para Santiago, onde passou a acompanhar outros artistas. A carreira começou a se fortalecer após
o convite do declamador Marco Aurélio
Campos para representar o Rio Grande do Sul em uma festa nacional realizada no Parque Anhembi, em São Paulo. Foi o
mantém até hoje. Após a mudança para Porto Alegre,
vieram participações de destaque no Rodeio
primeiro. Na mesma época, compôs um tema para o disco do programa Fogo de Chão, da TV Difusora (hoje Bandeirantes). A composição, Milonga para as Missões, virou vinheta do programa e, anos depois, o então iniciante Renato Borghetti se encantou com a canção e quis regravá-la. A pedido de Borghetti, os dois gaiteiros se encontraram
versão, Borghetti estourou em todo o Brasil.
bonita”, avalia Monteiro. Até hoje, Milonga para as Missões é um carro-chefe de
ao colega e nunca a gravou em um álbum próprio.
Monteiro foi Pra ti guria, considerado um
com faixas como a que dá nome ao álbum e Prelúdio
, que servem de vinhetas para programas radiofônicos
De lua e sol, cuja canção-tema foi regravada pelo grupo Quartcheto, grande vencedor
No primeiro semestre do ano, ele preparava novo álbum, sem pressa. “As minhas coisas são lentas, mas seguras”,
perfeccionismo. Monteiro e a companheira
Zani moram em uma casa rodeada por prédios e
bairro Vila Ipiranga. Para se chegar à casa, passa-se
pássaros em gaiolas, cata-ventos e anões de jardim. Dentro de casa, mais dois gatos convivem com os moradores.
maneira própria de conversar e receber visitantes. Diz poucas palavras, com vagar, até encontrar o que queria falar e muda de repente. Passa a mirar nos olhos do interlocutor, gesticula e enuncia as palavras com
é alta, franca e rápida. Uma
é a hospitalidade que dedica
pergunta se está bem-acomodado, convida para roda de chimarrão e recomenda a erva-mate favorita. Mostra gravuras, livros ou presentes recebidos de amigos, que não
que Monteiro também pegue uma gaita e passe os dedos pelos botões do instrumento, 31 de um lado, mais os oito referentes aos baixos do outro e presenteie a visita com sua
como algo livre, “como se fosse um barco”.
Gilberto Monteiro, um poeta da gaita que preserva os costumes do homem do campo
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Texto: Constance Laux (4º sem.) Foto: Caroline Medeiros (4º)
Na tarde de sábado, 1º de setembro, Fernanda Soares reuniu no salão de festas de seu prédio 50 amigos que com ela dividiram o valor de R$ 500 do show da banda Apanhador Só. A apresentação feita é uma das recompensas
oferecidas pelo grupo para aqueles que ajudarem, por meio da compra de diferentes cotas, na produção do segundo álbum da banda.
nome de crowdfunding, se populariza no cenário cultural de Porto Alegre. A concretização de projetos com o apoio de uma rede que tem interesse em sua realização não é novidade, mas se tornou mais viável pela facilidade das transações
possibilitou 308 projetos, totalizando mais de R$ 3,9 milhões arrecadados.O site estimula a oferta de recompensas para quem
contribui, independentemente do valor da cota. Assim, o
a produzir até um ano de entrada gratuita em apresentações da banda que apoia. Esse sistema transforma o consumidor passivo de um bem cultural em um colaborador ativo e realizador do projeto.A banda Apanhador Só, que surgiu no cenário
alternativo de Porto Alegre, sempre buscou se gerir de forma independente. Livre de gravadoras, o primeiro álbum (Apanhador Só) foi gravado com recursos do Fundo
Porto Alegre (Fumproarte). Até ser selecionada, a banda se inscreveu três vezes no concurso público organizado pela
A banda Apanhador Só faz show na Redenção e “passa o chapéu”, divulgando o endereço para contribuições
número 400, há uma casa que desde a década de 1950 contribui para a produção e disseminação da cultura, formando
teatro. A casa construída em 1916 foi a Escola
fundada pela bailarina Tony Seitz Petzhold e referência na história do balé gaúcho. Hoje, sua neta, Thais Petzhold, e a sócia, Didi Pedone, investem na reforma do estabelecimento para
que será palco de todo tipo de manifestação artística. Porém, os recursos necessários à reforma, provenientes de investimento pessoal,
Thais fez contatos com antigos alunos da casa e receber deles o apoio para a restauração do centro cultural. “Foi através daqueles que possuem um vínculo pessoal com a história desse lugar e da nossa rede de relacionamentos que conseguimos arrecadar esse valor”, explica Thais.O investimento na
casa cultural foi também uma forma de preservar a história de outros
Uma das cotas oferecidas trazia como recompensa a nomeação do palco de apresentações. A homenagem, que custou R$ 5 mil, foi a Olga Reverbel, teórica, autora e professora de teatro. “As referências culturais e espaciais foram se perdendo e um povo sem referências é um povo muito frágil”, acredita a neta de Tony Petzhold.
colaboração
Secretaria Municipal de
segundo álbum de canções inéditas, o grupo iniciou uma campanha para arrecadar R$
foi atingida, como o valor teve um excedente de 24%. “O Fumproarte é um recurso incrível para quem começa e ainda não tem público para fazer uma “vaquinha virtual”, mas essa iniciativa é bem melhor, pois permite uma aproximação com o
Kumpinski, guitarrista e vocalista da Apanhador Só.Também com recursos
públicos se iniciou a produção do curta-metragem Kassandra, sob a direção
O Fundo Municipal de
concedeu um valor inicial que foi destinado ao cachê do elenco e aos custos básicos de produção, enquanto equipamento e mão de obra
Diante dos custos extras de
e material de cena, houve necessidade de uma terceira
que se consolidou com crowdfunding. “Essa divisão em etapas foi inclusive uma decisão fundamental para não onerar nenhuma fonte de recurso”, explica o diretor
Mais do que uma
crowdfunding representa uma libertação dos recursos públicos e institucionais. Isso confere liberdade aos artistas que, isentos de quaisquer ligações com essas organizações, podem criar e se expressar livremente. “Financiamento coletivo é liberdade para o artista fazer o que quer e para o público escolher aquilo que é digno de seu investimento, como uma seleção natural de projetos de carácter colaborativo”, pondera Ulisses.
Crowdfunding estimula projetos como gravação de álbum de banda gaúcha
Acesse outras matérias sobre “vaquinha” virtual
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Do berço ao picadeiro
circo
O circo é a
realidade mais
conhecida
pelas crianças
e jovens que
nasceram entre palhaços,
malabaristas, mágicos e
contorcionistas do Circo
Fantástico. Eles vão à escola,
brincam, veem televisão e
usam computador. A rotina
se confundiria com a de
qualquer um nesta fase se não
fossem os ensaios à tarde e
os espetáculos à noite, além
do grande número de escolas
frequentadas no ano, de 15
a 20. Este é o cotidiano dos
adolescentes que vivem nos
mais de 500 circos itinerantes
que, segundo a Fundação
Nacional de Artes, estão hoje
em atividade no Brasil.
O Circo Fantástico
foi criado em 1994 em
Ipuaçu (Santa Catarina)
e é composto por sete
famílias, contabilizando 48
funcionários entre artistas e
montadores. Destes, 15 são
crianças ou adolescentes. As
famílias circenses passam
a tradição por diversas
gerações. Muitos dos
que nasceram no meio já
participavam de espetáculos
antes de aprenderem a falar.
No início recebem um salário
simbólico. À medida que
crescem, o valor aumenta,
dependendo dos números que
apresentam. Robert Peixoto,
quatro anos, é o palhaço
Xaropinho desde quando
tinha um ano e cinco meses.
Ele faz caretas e conta piadas
mesmo fora do picadeiro. Até
nos momentos de brincadeira,
Robert propõe às outras
crianças do Circo Fantástico:
“Vamos brincar de circo?”.
As mudanças constantes
de cidade não impedem o
estudo. Sempre que o Circo
Fantástico chega a uma nova
localidade, as crianças são
matriculados em escolas
período de permanência, que
costuma ser de 15 dias a um
mês, recebem notas parciais
está em vigor uma lei federal
que obriga instituições de
ensino Fundamental e Médio,
públicas e particulares, a
aceitarem as crianças de
circos itinerantes mediante
da escola anterior. Porém,
isso não garante que a
primeira reação no colégio
seja positiva. Mônica Ribas,
partner e administradora do Circo Fantástico, é
mãe de Aiesha, 12 anos,
contorcionista, e de Aierhã,
sete, o palhaço Linguicinha.
Ela relata que os diretores e
coordenadores pedagógicos
de algumas escolas têm
receio de que as crianças
não tenham conhecimento
prévio para acompanhar as
Texto : Daniela Flor (2º sem.)Fotos: Luísa Dal Mas (2º)
Crianças nascidas em famílias de circo convivem com a mudança constante de cidade e a responsabilidade dos espetáculos
Lona ainda limita os
planos do aprendizA continuidade do Circo Fantástico depende das crianças
e jovens que iniciam suas carreiras no picadeiro. A pressão
para que sigam no ramo é grande em algumas famílias, e os
mais novos também não demonstram vontade de mudar a
o palhaço Maxixinho, pai de Karlenia. A menina já é da
terceira geração da família a viver no circo, e suas ambições
para o futuro só dizem respeito ao crescimento dentro do
picadeiro, que não pretende largar.
Larah Casção, 13 anos, ensaia para ser acrobata enquanto
cursa o 8º ano do Ensino Fundamental. Para ela, o circo é
quis fazer outra coisa.” Ricardo Peixoto, 18 anos, é palhaço
confessa que já cogitou trabalhar
fora do circo. “Pensei em fazer
outras coisas, como ser jogador
de futebol, mas não levo jeito”,
reconhece.
aulas. “Depois os professores
percebem que eles são
impressionados”, comenta
Mônica.
Aiesha não se incomoda
com a troca frequente
de colégio. “Costumo me
enturmar rápido, então
tenho várias amizades e falo
com minhas amigas quando
posso pelo computador”,
conta. Assim como Aiesha,
muitos jovens do circo usam
as redes sociais para manter
contato com colegas que
passam. Karlenia Rodrigues,
18 anos, palhaça e acrobata,
diz que por não ter uma
rotina comum, grande parte
de suas relações também é do
meio circense. “Conhecemos
pessoas dos outros circos,
então, quando estamos
em cidades próximas, nos
visitamos”, relata.
Mônica Ribas acha que o
desconhecimento ainda gera
preconceito com as famílias
circenses e que as crianças
entender isso.
O dia das crianças inclui brincadeiras, escola, mas também trabalho no palco
Usando seu celular, conheça
ainda, através do QR Code,
as peripécias para o circo se
instalar numa cidade.