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ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDO EM EMPRESAS INDUSTRIAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EDUARDO ESPÍNDOLA HALPERN ORIENTADORA: PROFESSORA ÂNGELA DA ROCHA

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ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDOEM EMPRESAS INDUSTRIAIS DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO

EDUARDO ESPÍNDOLA HALPERN

ORIENTADORA: PROFESSORA ÂNGELA DA ROCHA

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE

COPPEAD – Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDO EM EMPRESAS INDUSTRIAIS DOESTADO DO RIO DE JANEIRO

EDUARDO ESPÍNDOLA HALPERN

Mestrado em AdministraçãoOrientadora: Professora Ângela da Rocha

Rio de Janeiro, RJ – BrasilMarço de 2001

iii

ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDO EM EMPRESAS INDUSTRIAIS DOESTADO DO RIO DE JANEIRO

Eduardo Espíndola Halpern

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOSCENTE DO INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO

E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO, COPPEAD, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS (M. Sc.).

APROVADA POR:

______________________________________

PROFA. ÂNGELA DA ROCHA

COPPEAD/UFRJ

PRESIDENTE DA BANCA

______________________________________

KLÉBER FIGUEIREDO

COPPEAD/UFRJ

______________________________________

ANDRÉ LACOMBE

PUC-RIO

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO DE 2002

iv

Halpern, Eduardo Espíndola

Estratégia de Multi-canais: um estudo emempresas industriais do Estado do Rio deJaneiro. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ, 2002.

142 p.

Tese de Mestrado – Universidade Federal do Riode Janeiro, COPPEAD.

1. Canais de Distribuição. 2. Marketing. 3. Tese(Mestrado – COPPEAD/UFRJ). I. Título

v

À minha esposa Roberta,

pelo seu amor e amizade.

Aos meus pais,

pela sua amizade e apoio.

vi

AGRADECIMENTOS

À Roberta, minha esposa, que com muita paciência me estimulou a perseguir meus

objetivos.

Aos meus pais, Cynthia e Maurício, que sempre me apoiaram de forma incondicional em

todos os momentos de minha vida.

Aos colegas, professores e funcionários do COPPEAD, pela enriquecedora convivência ao

longo do curso.

À professora Ângela, cuja orientação segura e carinhosa me deu confiança e estímulo para

concluir esta dissertação.

vii

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo estudar a utilização de canais de distribuição por

empresas do setor industrial brasileiro. Através dela, procurou-se identificar como as

características das empresas e de seus mercados de atuação influenciam a escolha de

estratégias de distribuição, a seleção de canais de distribuição, o gerenciamento destes

canais e a existência de conflitos entre eles.

Para que estes objetivos fossem alcançados, foi realizada uma pesquisa de campo,

através do envio de questionários pelos correios, respondidos por executivos das áreas de

marketing ou comercial de 63 empresas localizadas no Estado do Rio de Janeiro. O teste de

hipóteses foi realizado através de análise discriminante direta simples e passo a passo.

O estudo permitiu comprovar a existência de diferenças significativas entre as

empresas que utilizam estratégias de distribuição intensivas e exclusivas, bem como entre

as empresas que utilizam e as que não utilizam os seguintes canais de distribuição:

telemarketing, catálogos, mala-direta, atacadistas, varejistas, franquias, supermercados e

lojas especializadas. O número de clientes e a estratégia de cobertura de mercado das

empresas, bem como a necessidade de crédito e a quantidade comprada pelo consumidor

final foram algumas das características mais observadas como tendo maior poder

discriminante entre os diferentes grupos de empresas.

O estudo também verificou a ampla utilização de estratégias de multi-canais entre as

empresas pesquisadas, identificando o número de estados atendidos e a estratégia de

cobertura de mercado como as variáveis que melhor explicam a sua adoção. Não foi

possível identificar qualquer associação estatisticamente significativa entre as

características das empresas e de seus mercados de atuação com a existência de conflitos

entre os canais.

viii

ABSTRACT

This study aimed to investigate the use of distribution channels by Brazilian

industrial firms. It examined how firm and market characteristics are associated with

distribution strategy, channel selection, channel management and channel conflict.

A mail survey was designed to achieve the research objectives, with a total of 63

questionnaires returned by top executives responsible for marketing and sales functions

from firms located in the state of Rio de Janeiro. The hypothesis test was conducted, with

the use of linear discriminant analysis.

The results suggest the existence of statistically significant differences between

firms that use exclusive and intensive distribution strategies, as well as between firms that

use and those that do not use the following distribution channels: telemarketing, catalogs,

wholesalers, retailers, franchises, supermarkets and specialty stores. The number of

customers served, the firms’ distribution strategy, the customers’ need for credit and the

customers’ order size were the variables most observed among those with best

discriminating power.

The research also verified a rapid adoption of multi-channel distribution strategies

by Brazilian firms, influenced by the number of states served by the company and by it’s

distribution strategy. The existence of channel conflict was not associated with any of the

firms’ and markets’ characteristics.

SUMÁRIO

1. Objetivos e Importância do Estudo ........................................................................2

1.1. Objetivo.........................................................................................................21.2. Relevância do Estudo.....................................................................................21.3. Organização do Estudo ..................................................................................6

2. Revisão Bibliográfica ............................................................................................7

2.1. Conceito de Canal..........................................................................................72.2. Atividades e Funções do Canal ......................................................................92.3. Cadeia de Valor ...........................................................................................142.4. Estratégia de Canais.....................................................................................172.5. Desenho de canais........................................................................................242.6. Gerenciamento de canais..............................................................................322.7. Intermediários..............................................................................................392.8. Estratégia de Multi-canais............................................................................52

3. Metodologia ........................................................................................................63

3.1. Esquema Conceitual do Estudo ....................................................................633.2. Tipo de Pesquisa..........................................................................................653.3. Hipóteses e Testes........................................................................................663.4. Variáveis Operacionais ................................................................................673.5. População e Amostra ...................................................................................703.6. Coleta de Dados...........................................................................................703.7. Análise dos Dados .......................................................................................723.8. Limitações do Método .................................................................................75

4. Análise dos Resultados........................................................................................78

4.1. Análise Descritiva........................................................................................784.2. Teste de Hipóteses .....................................................................................104

5. Conclusões ........................................................................................................135

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................139

1

Coppead / UFRJ

Dissertação: Estratégia de Multi-canais

Eduardo Espíndola Halpern

Orientadora: Professora Ângela da Rocha

2

1. OBJETIVOS E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

1.1. Objetivo

O objetivo desta dissertação é contribuir para a melhor compreensão da

utilização de canais de distribuição em empresas do setor industrial brasileiro. A

pesquisa pretende identificar como as características do mercado e das próprias

empresas influenciam a escolha de estratégias de distribuição, a seleção dos canais e a

existência de conflitos entre estes.

Para que este objetivo fosse alcançado, o estudo foi dividido em duas partes.

Primeiramente realizou-se uma revisão da literatura sobre canais de distribuição

que permitisse identificar: o conceito de canal de distribuição e as suas principais

funções e atividades; as principais decisões relacionadas à formulação de estratégias de

distribuição, bem como ao desenho e ao gerenciamento de canais de distribuição; as

principais contribuições desenvolvidas a respeito das estratégias de multi-canais.

A seguir foi desenvolvida pesquisa de campo, através de envio de questionários

para empresas do setor industrial brasileiro, localizadas no Estado do Rio de Janeiro,

onde se procurou identificar as principais variáveis que influenciam a escolha de

estratégias de distribuição, a escolha de canais de distribuição diretos e de

intermediários, a adoção de estratégias de multi-canais e a ocorrência de conflitos de

canais.

1.2. Relevância do Estudo

A adoção de estratégias de multi-canais vem ganhando alguma atenção do meio

acadêmico e empresarial por representar oportunidade para a ampliação da cobertura de

3

mercado através do atendimento a segmentos de clientes que não eram atendidos

satisfatoriamente pelos canais tradicionais das empresas e, também, para reduzir os

custos de distribuição das empresas, graças à introdução de canais mais eficientes na

execução de determinadas atividades de distribuição. No entanto, tal arranjo traz

consigo maior complexidade gerencial, que oferece margem para o surgimento de

diversos conflitos que podem acabar por enfraquecer o contato da empresa com seus

consumidores finais.

O canal de distribuição é tradicionalmente o elemento do composto de marketing que

tem recebido a menor atenção por parte da direção das empresas e da pesquisa

acadêmica, conforme admitido por autores como Day (1990), Kotler (1986) e

Rosenbloom (1998). Apenas recentemente começou a ocorrer um deslocamento das

atenções para este tópico, talvez em função de alguns fatores como a necessidade de

redução de custos de distribuição, o crescente poder de barganha do varejo e a maior

dificuldade que as empresas têm encontrado em conquistar vantagens competitivas

sustentáveis através dos outros três elementos do composto de marketing: preço,

produto e promoção.

Tradicionalmente as empresas assumiam, e talvez ainda o façam, uma postura

passiva em relação à administração dos seus canais de distribuição ou de marketing.

Kotler (1993, p. 592) admite que “... existe uma poderosa tendência inercial na

organização de canais”. Já Day (1990, p. 242) afirma que “por razões de inércia,

tradição, práticas da indústria e ausência de alternativas viáveis, a gerência tendia a

permanecer com seus canais existentes”. Porter (1989, p. 47) diz que “os elos verticais,

como os elos dentro de uma cadeia de valores de uma empresa, são freqüentemente

4

negligenciados”. Finalmente Rosenbloom (1998, p. 04) reconhece que “enquanto

ferramenta estratégica de marketing, o campo dos canais de marketing ficou, por muitos

anos, em segundo plano em relação aos outros três elementos do composto de

marketing: produto, preço e promoção”.

Talvez esta desatenção tenha sido o fruto de um ambiente onde as pressões

competitivas exercidas pelos compradores não fossem tão intensas, exigindo poucos

esforços por parte das empresas no aprimoramento do nível de serviço oferecido aos

seus clientes bem como na redução dos seus custos. As prioridades dos executivos da

área de marketing encontravam-se associadas aos demais componentes do composto de

marketing.

Assim, o gerenciamento dos canais vem sendo percebido como grande

oportunidade para o apoio às estratégias das empresas, possivelmente por ser um campo

de batalha onde ainda existem relativamente poucas ferramentas desenvolvidas.

Segundo Porter (1989), os elos entre atividades da cadeia de valor das empresas e dos

seus canais podem ser fontes de vantagem competitiva tanto quanto as atividades

propriamente ditas.

Rosenbloom (1998) afirma que há um deslocamento das atenções para o

gerenciamento dos canais em função da maior dificuldade em atingir vantagens

competitivas sustentáveis, do crescente poder dos distribuidores e varejistas no canal, da

necessidade de reduzir custos de distribuição, da dificuldade em obter crescimento em

mercados maduros e do ritmo acelerado de inovações tecnológicas.

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Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) dizem que as companhias estão buscando

novos canais de distribuição em função da necessidade de atender de forma mais precisa

e eficaz as necessidades de diferentes segmentos de clientes.

É possível que algumas das dificuldades que as empresas fabricantes atualmente

enfrentam no gerenciamento dos canais de distribuição sejam justamente resultantes da

falta de atenção dada aos mesmos no passado. Uma das questões mais perceptíveis é o

grande poder de barganha do qual as redes de atacado e varejo desfrutam no seu

relacionamento com a indústria. Elas ocuparam com eficiência uma lacuna deixada em

aberto pela indústria que, gradualmente, distanciou-se de seus consumidores e tornou-se

mais dependente do varejo que, por sua vez, passou a ditar as regras do relacionamento.

O desenvolvimento de marcas próprias pelo varejo e o gerenciamento de categorias1 são

duas tendências bastante ilustrativas deste deslocamento de poder.

A busca por reduções nos custos também tem levado muitas empresas a procurar

reduzir o número de atacadistas e varejistas que trabalham com suas linhas de produtos.

Trabalhando com poucos intermediários, elas conseguiram otimizar suas próprias

equipes de vendas e simplificar suas operações logísticas. No entanto, a contrapartida é

a de uma forte dependência de um número muito mais reduzido de clientes com um

poder muito maior de barganha.

1 Arranjo no qual um fabricante de um determinado produto é selecionado pelo varejista para gerenciar as

vendas nas lojas de toda a categoria a qual pertence, inclusive de seus concorrentes.

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1.3. Organização do Estudo

A dissertação foi dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo foram

apresentados os objetivos e a relevância do estudo.

O segundo capítulo é constituído por levantamento bibliográfico cujo objetivo é

identificar os principais conceitos relacionados aos canais de distribuição, auxiliando a

formulação das hipóteses da pesquisa. Neste capítulo são discutidos: conceito de canais

de distribuição, atividades e funções dos canais, estratégia, desenho e gerenciamento de

canais, papel dos intermediários e estratégia de multi-canais.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia de pesquisa utilizada. Apresenta-se

o esquema conceitual do estudo, desenvolvido a partir das conclusões atingidas no

levantamento bibliográfico, o tipo de pesquisa realizada, as hipóteses da pesquisa, as

variáveis operacionais da pesquisa, o processo de amostragem da população pesquisada,

as ferramentas de coleta e análise dos dados e as limitações do método de pesquisa.

No quarto capítulo são apresentados os resultados da pesquisa. A análise

estatística descritiva da amostra é seguida pelos testes de hipóteses. Por fim, no quinto

capítulo são apresentadas as principais conclusões do estudo e sugestões para pesquisas

futuras.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são apresentados os principais conceitos e definições

identificados na literatura sobre canais de distribuição. A discussão do conceito de canal

de distribuição e das atividades e funções executadas pelo canal foi complementada pela

discussão do conceito de cadeia de valor de Porter (1989). Tais definições permitiram

identificar de forma mais clara as principais decisões relacionadas à formulação de

estratégias de distribuição, ao desenho dos canais e ao gerenciamento dos mesmos. O

estudo dos principais formatos de intermediários, bem como as vantagens e restrições

associadas ao uso de cada um deles, auxiliou a compreensão das estratégias de multi-

canais.

2.1. Conceito de Canal

Kotler (1993, p. 592) utiliza a definição de Stern, El-Ansary e Coughlan (1996,

p. 01) segundo a qual “os canais de marketing podem ser vistos como conjuntos de

organizações interdependentes envolvidas no processo de tornar produtos ou serviços

disponíveis para uso ou consumo”. Rosenbloom (1998, p. 09), por sua vez, o define

como “a organização fora dos limites da empresa que a gerência opera para atingir seus

objetivos de distribuição”, enquanto Alderson (apud Clewett, 1954, p. 30) o classifica

como “uma frágil coalizão engajada na exploração de uma oportunidade comum no

mercado”.

Day (1990, p. 243) afirma que “um canal existe para desempenhar uma série de

atividades, essenciais e inevitáveis, destinados a levar um produto ou serviço até o

mercado”. Rocha e Christensen (1987, p. 154) definem que “para que se caracterize a

8

existência de um canal é importante que a propriedade ou o controle do produto ou

serviço passe do fabricante, pelo canal, para o consumidor ou usuário”.

É possível ver que há concordância entre estes autores quanto ao objetivo do

canal de distribuição (também chamado de canal de marketing), que seria o de garantir

o fluxo de bens ou serviços do fornecedor para o consumidor final.

A definição de Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), no entanto, enfatiza a

questão da presença de organizações interdependentes. Tal definição deixa de levar em

conta que as atividades de transferência dos produtos ou serviços podem ser realizadas

pelos seus próprios fabricantes. A definição de Corey (apud Kotler, 1993, p. 593), ao

dizer que “um sistema de distribuição (...) é um recurso externo importante”, parece

confirmar esta crença por parte de alguns autores.

Rocha e Christensen (1987, p. 157) admitem, no entanto, que “muitas vezes os

fabricantes utilizam a distribuição direta, procurando alcançar o cliente final sem

intermediários, ou criando seus próprios intermediários”. Já Day (1990, p. 243) afirma

que “essas atividades podem ser parte integrante da cadeia de valor da empresa ou

serem consideradas como um elo separado de um sistema de cadeias de valor

relacionadas entre si”. O próprio Kotler (1993, p. 596) admite a distribuição direta como

um canal de distribuição ao afirmar que “um canal de nível zero consiste em o

fabricante vender diretamente aos consumidores”.

Rosenbloom (1998) admite que as confusões existentes sobre as definições do

conceito de canal de distribuição derivam, em grande parte, das perspectivas distintas

oferecidas pelos diferentes pontos de vista através dos quais ele é analisado. Analistas

situados em diferentes estágios do fluxo de atividades de valor tendem a perceber o

9

canal de forma diferente. O autor enfatiza que a sua definição reflete o ponto de vista

adequado para o gerenciamento de marketing de firmas envolvidas em atividades de

fabricação de bens.

2.2. Atividades e Funções do Canal

O objetivo primordial de um canal de distribuição é o de garantir o fluxo de bens

e serviços até os consumidores finais. Kotler (1993, p. 594) enumera as atividades

desempenhadas pelo canal de distribuição da seguinte forma:

! Informação => Coleta e disseminação de informação, de pesquisa de

marketing sobre os consumidores atuais e potenciais, concorrentes e outros

agentes e forças que atuam no ambiente de marketing.

! Promoção => Desenvolvimento e disseminação de mensagens persuasivas

sobre a oferta projetada para atrair consumidores.

! Negociação => Tentativa de busca de um acordo final sobre preço e outros

termos relativos à oferta, a fim de que se possa efetuar a transferência de

propriedade ou posse.

! Pedido => Comunicação de intenções de compra dos membros do canal para

o fabricante.

! Financiamento => Aquisição e alocação de fundos requeridos para financiar

os níveis de estoque do canal.

! Risco => Aceitação de riscos juntamente com a execução da tarefa do canal.

! Posse física => Armazenamento contínuo e movimentação de produtos até o

consumidor final.

! Pagamento => Os compradores pagam suas faturas aos vendedores através

de bancos ou outras instituições financeiras.

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! Propriedade => Transferência de propriedade de uma instituição de

marketing para a outra.

Segundo Day (1990, p. 244), as atividades desempenhadas pelo canal são cinco:

Comunicação e negociação => incluem o uso de veículos de

comunicação ou de vendedores para aumentar a conscientização e transmitir mensagens

persuasivas, acompanhadas por tentativas para chegar a um acordo a respeito de preços

ou condições de venda.

Transação => inclui a comunicação, para trás, do pedido ao fornecedor; a

provisão de crédito ou ajuda financeira ao comprador; e a absorção dos riscos, para o

comprador, de perdas e obsolescência do estoque.

Armazenagem e transferência => Incluem a armazenagem intermediária

em depósitos, o transporte até o comprador e a classificação e embalagem em formas

vendáveis.

Facilitação => Inclui o processamento de pagamentos e da papelada

pertinente, necessário à transferência de propriedade, o aconselhamento aos clientes, a

respeito de como utilizar e manter o item comprado, e o fornecimento de informações a

respeito da transação às outras partes na seqüência da cadeia de valor.

Instalação e assistência técnica => Inclui a assistência ao início de

funcionamento, administração da garantia, reparos, treinamento, fornecimento de peças

e ajustes no produto.

Ao discutir o desenvolvimento e gerência de canais, Rocha e Christensen (1987)

também enumeram as responsabilidades assumidas pelo canal de distribuição, tanto

quando ele é liderado pelo fabricante como pelo varejista. Quando o canal é liderado

pelo fabricante, estas funções seriam:

! Controlar o atendimento e o serviço fornecidos ao cliente pelo intermediário.

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! Controlar a área do varejista dedicada ao produto ou serviço do fabricante.

! Controlar as vendas e o estoque do varejista.

! Controlar o esforço promocional agregado.

! Controlar os preços pelos quais o produto é vendido.

Quando a liderança encontra-se nas mãos do varejista, este assumiria as

seguintes funções:

! Controlar a produção, os estoques e o prazo de entrega dos fabricantes.

! Controlar a qualidade e as especificações do produto.

! Controlar o esforço promocional do canal.

! Gerar e transmitir informações de mercado, em tempo real, diretamente para

os fornecedores.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996, p. 10) afirmam que os seguintes fluxos

ocorrem nos canais:

! Físico

! Propriedade

! Promoção

! Negociação

! Financiamento

! Risco

! Pedido

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! Pagamento

Segundo Porter (1989, p. 47), “os canais executam atividades como vendas,

publicidade e exposição que podem substituir ou complementar as atividades da

empresa”. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) afirmam que os canais existem para

executar uma ou mais das seguintes tarefas: manutenção de estoque, estímulo de

consumo e venda, distribuição física, serviços de pós-venda e fornecimento de crédito.

Rosenbloom (1998) enumera como funções do canal a movimentação física dos

produtos, as funções de negociação, a transferência de propriedade, a transmissão de

informação e as atividades de promoção.

Este autor faz a ressalva de que os membros do canal são somente aqueles

envolvidos nas funções de negociação e de transferência de propriedade e reforça a sua

afirmação ao utilizar o exemplo de uma firma de transporte que não faria parte do canal,

caso estivesse envolvida apenas na movimentação física dos produtos. Neste caso,

dificilmente haveria a necessidade da participação de algum gerente da área de

marketing no seu gerenciamento.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) dizem que as funções ou atividades do canal

de distribuição precisam ser executadas para que os produtos e serviços possam chegar

até os consumidores. No entanto, os membros do canal podem ser eliminados ou

substituídos sem que as atividades deixem de ser executadas. Neste caso, haverá

integração para frente ou para trás de algum outro membro da cadeia.

13

Figura 2.2.1 Alocação de Atividade de Distribuição

Fonte: Kotler (2001)

Porter (1986), aliás, considera a possibilidade de integração para frente ou para

trás como um dos fatores que afetam o poder de negociação tanto de fornecedores

quanto de compradores em uma indústria. Quanto maior for esta ameaça, menor seria a

atratividade da indústria em questão, uma vez que poderia haver grandes possibilidades

das empresas virem a sofrer a concorrência e até de serem substituídas por fornecedores

e compradores na realização de várias atividades tendo, portanto, suas margens

corroídas.

Corey, Cespedes e Rangan (1989) dividem as tarefas dos canais em cinco

categorias. As tarefas de vendas se dividem em geração de demanda (promoções e

propaganda) e negociação de preços e condições. As de distribuição física envolvem

tomada de pedidos, armazenagem e entrega. Tarefas de modificação e manutenção dos

produtos incluem empacotamento, customização e serviços de pós-venda. As funções de

transferência de risco são a manutenção de estoques, o fornecimento de crédito e a

operação de ativos dedicados. As funções de suporte, tipicamente realizadas pelos

Consumidores

Varejistas

Atacadistas

Agentes

Fabricante

Alocação das Tarefas de Distribuição

Consumidores

Varejistas

Atacadistas

Agentes

Fabricante

Alocação das Tarefas de Distribuição

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fabricantes ou representantes exclusivos, dizem respeito ao recrutamento, treinamento e

controle dos intermediários.

Os autores analisados assumem, assim, que determinadas funções podem ser

executadas por mais de um membro do canal. Isto pode levar a um aumento do custo,

mas pode ser necessário caso aumente o nível de serviço. Na maioria dos casos estas

duplicidades são redundantes, em função da falta de atenção, já mencionada, ao que

Porter (1989) chama de otimização e coordenação dos elos com os canais.

A discussão anterior parece mostrar que a visão dos vários autores a respeito das

atividades e funções desempenhadas pelos canais de distribuição é bastante

convergente. As diferenças existentes resumem-se à forma pela qual estas atividades são

agrupadas para fins didáticos.

Da mesma forma, a maioria dos autores parece concordar que os canais podem

ser configurados, de modo que estas atividades sejam realizadas tanto por

intermediários independentes, quanto pelos próprios fabricantes e, até mesmo pelos

consumidores.

A discussão sobre o conceito de cadeia de valor de Porter (1989) pode, por este

motivo, ser bastante útil para a compreensão do conceito e das funções dos canais de

distribuição.

2.3. Cadeia de Valor

A ferramenta de análise desenvolvida por Porter (1989) parte do pressuposto de

que as vantagens competitivas de uma empresa derivam das diversas atividades por ela

executadas. Estas atividades são separadas e evidenciadas através do seu modelo, de

15

modo a tornar possível a compreensão do comportamento dos custos e das fontes de

diferenciação da empresa analisada.

Figura 2.3.1 Cadeia Genérica de Valor

Fonte: Porter (1989)

Cada atividade é distinta em termos físicos e tecnológicos e através delas a

empresa cria produtos que tem valor para os seus clientes. Estes produtos percorrem um

caminho até chegar ao seu consumidor final, que também possui uma cadeia de valores

que é afetada pelo impacto destes. Este percurso inclui a cadeia de valor dos canais de

distribuição, cujas atividades também podem afetar o valor do produto para o

consumidor.

Porter (1989) divide a cadeia de valor em atividades de apoio e primárias. As

primeiras são a infra-estrutura da empresa, a gerência de recursos humanos, o

desenvolvimento de tecnologia e as atividades de aquisição. As segundas são logística

interna, operações, logística externa, marketing e vendas e serviços. Estas últimas são

ComprasTecnologia

Recursos HumanosInfra-Estrutura

LogísticaInterna Operações Logística

ExternaMarketing

eVendas

Serviços

Ativ

idad

esPr

imár

ias

Ativ

idad

esSe

cund

ária

s

Mar

gem

Margem

Atividades primárias

ComprasTecnologia

Recursos HumanosInfra-Estrutura

LogísticaInterna Operações Logística

ExternaMarketing

eVendas

Serviços

Ativ

idad

esPr

imár

ias

Ativ

idad

esSe

cund

ária

s

Mar

gem

Margem

Atividades primárias

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diretamente relacionadas com a criação de valor pela empresa. São as atividades-fim do

negócio.

Ele define a logística externa como “atividades associadas à coleta,

armazenamento e distribuição física do produto para compradores, como armazenagem

de produtos acabados, manuseio de materiais, operação de veículos de entrega,

processamento de pedidos e programação” (Porter, 1989, p. 37). A sua definição de

marketing e vendas é de “atividades associadas a oferecer um meio pelo qual

compradores possam comprar o produto e a induzi-los a fazer isto, como propaganda,

promoção, força de vendas, cotação, seleção de canal, relações com canais e fixação de

preços” (Porter, 1989, p. 37). Por fim, ele define serviços como sendo “atividades

associadas ao fornecimento de serviço para intensificar ou manter o valor do produto,

como instalação, conserto, treinamento, fornecimento de peças e ajuste do produto”

(Porter, 1989, p. 37).

Quando comparamos estas definições com as que foram vistas anteriormente,

sobre os canais de distribuição, vemos que as funções dos canais descritas podem ser

encaixadas no modelo de cadeia de valor, cujo conceito, aliás, parece permear os

estudos citados.

Assim, o foco da gerência preocupada em conquistar vantagens competitivas

sustentáveis é o de identificar quais são as atividades valorizadas pelos seus clientes que

podem ser melhoradas e até reconfiguradas, de modo a reduzir custos ou aumentar a

diferenciação.

A utilização de definições arbitrárias e fronteiras rígidas para definir as

responsabilidades e atribuições dos canais de distribuição e dos seus gerentes podem

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levar as empresas a deixar de perceber oportunidades e ameaças existentes em seus

negócios. Porter (1989) alerta que é justamente nos elos entre as atividades de valor das

empresas que surgem boas oportunidades para a conquista de vantagens sustentáveis,

sejam estas atividades referentes ou não àquelas usualmente classificadas como de

canais de distribuição.

2.4. Estratégia de Canais

A compreensão do modelo de cadeia de valor de Porter (1989) torna-se, então,

um importante passo na elaboração da estratégia de distribuição das firmas. A

identificação das atividades capazes de criar valor para os clientes permite a criação de

uma estratégia capaz de gerar vantagens competitivas sustentáveis para a empresa.

No entanto, Anderson, Day e Rangan (1997) argumentam que a maioria das

decisões de canais é tomada dentro de uma perspectiva oportunística, reativa e de curto

prazo e que estas decisões, no longo prazo, tornam-se engessadas pela dificuldade em

promover mudanças em uma estrutura complexa, que envolve relacionamentos com os

demais membros do canal.

Estes autores defendem que a abordagem adotada na elaboração de estratégias

de canais deve ser modificada em função de fatores como o maior grau de exigência dos

consumidores, as mudanças na estrutura de poder nos canais e as mudanças nas

prioridades estratégicas das próprias firmas, que buscam concentrar-se na execução de

atividades que possam reforçar suas posições competitivas, através da obtenção de

economias de escala e de escopo.

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Corey, Cespedes e Rangan (1989) também questionam os atuais padrões de

elaboração das estratégias de distribuição, criticando a postura reativa das firmas que se

limitam a uma visão de curto prazo em relação aos seus canais, em resposta às

solicitações do mercado.

Cespedes (1988) reforça a necessidade de mudanças na forma pela qual as

estratégias de canais são elaboradas, em função de fatores como o incremento dos

custos da força de vendas próprias, o impacto da adoção de técnicas como o just-in-time

sobre o papel dos intermediários, a concentração das estruturas dos canais de várias

indústrias, o maior poder de barganha do varejo, o desenvolvimento de novas

tecnologias e o surgimento de novas estruturas de canais.

O autor critica a abordagem normalmente adotada pelas empresas, na qual a

estrutura de distribuição é subordinada à estratégia de um produto ou de uma linha de

produtos.

Conforme esta visão, dever-se-ia montar estratégias de distribuição intensiva

para produtos de compra freqüente, de distribuição seletiva para produtos em que há

busca ativa dos compradores por determinadas marcas, ou de distribuição exclusiva para

produtos de alto valor em termos de preço ou imagem, ou que exijam prestação de

serviço mais intensiva.

Outra variante desta abordagem baseia-se na utilização do conceito do ciclo de

vida do produto para elaborar as estratégias de distribuição das firmas. Kotler (2001)

propõe um esquema conceitual no qual a canais especializados devem ser utilizados no

estágio de introdução do produto no mercado. No estágio de crescimento as empresas

devem buscar canais de maior volume com serviços mais restritos. Ao atingir a

19

maturidade, o produto deve ser distribuído através de canais de custo mais reduzido, ou

seja, comerciantes de massa. O advento do declínio do produto traria a necessidade de

usar canais com custos ainda mais reduzidos, como as vendas por catálogos ou em lojas

de descontos. Lele (1992) realizou estudos de casos sobre vendas de computadores

pessoais e roupas de grife, onde acompanhou os canais de distribuição utilizados por

estes produtos ao longo dos diferentes estágios do ciclo de vida.

Quadro 2.4.1 – Uso de Canais ao Longo do Ciclo de Vida do Produto

Valor Agregado pelo Canal

Alto Baixo

BaixaIntrodução:

PC´s: Lojas de NovidadesRoupas de Grife: Butiques

DeclínioPC´s: Venda pelo Correio

Roupas de Grife: Lojas de DescontoTaxa deCrescimentodo Mercado Alta

CrescimentoPC´s: VarejistasEspecializados

Roupas de Grife: Lojas deDepartamentos

MaturidadePC´s: Comerciantes de Massa

Roupas de Grife: Comerciantes deMassa

Fonte: Kotler (2001)

Segundo Cespedes (1988), embora esta abordagem não seja necessariamente

errada, ela falha por não levar em consideração outros elementos além da linha de

produtos ao elaborar a estratégia de canais. As empresas que adotam esta postura muitas

vezes falham por não contar com responsabilidades claramente definidas sobre as

decisões de canais, principalmente quando diferentes linhas de produto compartilham o

mesmo canal.

Rosenbloom (1998) define a estratégia de canais como sendo o princípio geral

através do qual as firmas esperam atingir seus objetivos de distribuição no mercado ou

mercados-alvo. Ele levanta algumas questões que devem ser levadas em consideração

20

pela empresa ao montar uma estratégia de canais que a auxilie a atingir seus objetivos

de distribuição.

Primeiramente, a empresa deve procurar entender o papel assumido pela

distribuição para o cumprimento dos objetivos gerais da empresa e como a estratégia de

canais se adequa aos demais componentes do seu composto de marketing.

Assim, a empresa daria mais ênfase à estratégia de canais quando o mercado-

alvo valorizasse a forma pela qual os produtos são disponibilizados para o consumo,

quando houvesse dificuldade em estabelecer vantagens competitivas sustentáveis

através dos demais elementos do composto de marketing, ou quando a estratégia de

canais da concorrência fosse vulnerável.

O próximo passo da montagem da estratégia é o desenho dos canais e a seleção

de seus membros. Rosenbloom (1998) defende que o desenho do canal deve refletir a

busca da empresa por um diferencial competitivo, estabelecendo arranjos que ofereçam

um valor superior tanto para seus clientes quanto para os próprios membros do canal.

Ainda segundo Rosenbloom (1998), as decisões sobre a forma pela qual os

canais são gerenciados devem refletir a busca pelo envolvimento e a cooperação dos

seus membros no cumprimento dos objetivos de distribuição.

A última etapa deste processo, a avaliação do desempenho dos membros do

canal, é fundamental para que a empresa possa detectar as falhas ocorridas na

montagem e implantação da estratégia de canais da empresa.

Quadro 2.4.2

21

Etapas da Formulação da Estratégia de Canais de Distribuição

1ª Etapa Definição do papel da distribuição nos objetivos e estratégias gerais daempresa

2ª Etapa Definição do papel da distribuição no composto de marketing da empresa3ª Etapa Desenho do canal de distribuição4ª Etapa Seleção dos membros do canal de distribuição5ª Etapa Gerenciamento do canal de distribuição6ª Etapa Avaliação do desempenho do canal de distribuiçãoFonte: Rosenbloom (1998)

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) alertam para o fato de que o planejamento

da estrutura do sistema de distribuição deve ter como objetivo tornar a empresa mais

apta para atender às necessidades dos seus clientes. Para que isso ocorra, a empresa

deve descobrir quais os serviços valorizados pelos seus clientes finais, quais atividades

de marketing e de logística devem ser desempenhadas pelo canal de modo a satisfazê-

los e quais as organizações em melhores condições para desempenhá-las.

Segundo estes autores, a empresa deveria perseguir dois objetivos, de modo a

oferecer valor superior para os seus clientes através da estratégia de canais:

“intimidade” com seus consumidores e excelência operacional. Atingindo tais objetivos,

a empresa conseguiria garantir a entrega de seus produtos e serviços de forma

conveniente, segundo as reais necessidades de seus clientes.

Segundo Novich (1990), um passo fundamental a ser considerado pela empresa

na elaboração de sua estratégia é a definição do mercado a ser atendido pelo canal. O

tamanho e a densidade deste mercado podem conferir à empresa vantagens de custos

decorrentes de escala geográfica, tornando o atendimento aos clientes mais eficiente e

sua estratégia mais rentável.

22

Esta definição do mercado, de acordo com Novich (1990), é afetada por

questões como o valor relativo ao peso da carga, o prazo de validade dos produtos e o

nível de serviço exigido pelos clientes. Ele sugere, então, a identificação das

necessidades dos clientes, a sua segmentação em grupos homogêneos e a identificação

dos condutores de custos associados ao atendimento dos mesmos como etapas

necessárias para a identificação do mercado relevante.

Corey, Cespedes e Rangan (1989) citam quatro fatores que influenciam a

elaboração da estratégia de distribuição das firmas em geral, que são a natureza do

produto, a segmentação do mercado, o comportamento do consumidor e os custos de

distribuição. Além disso, haveria um quinto elemento que afetaria as decisões de firmas

do ponto de vista individual, que seria o ambiente de negócio da mesma.

Segundo os autores, quando a firma desenvolve a sua estratégia de distribuição,

ela se depara com cinco decisões que dizem respeito ao equilíbrio entre as vendas

diretas e indiretas, aos tipos de intermediários a serem utilizados, à intensidade de

distribuição desejada, à alocação de tarefas entre os membros do canal e aos termos que

regem a relação com o canal.

Assim, as duas primeiras decisões seriam influenciadas pelo grau de

concentração e pelo valor agregado das compras e pelas necessidades do mercado em

termos de assistência técnica, customização dos produtos, sortimento e disponibilidade.

A intensidade da distribuição dependeria do nível de investimentos exigidos pelo

negócio, dos padrões de compra (conveniência e disponibilidade x atendimento

customizado) e do potencial de vendas existente no mercado.

23

A alocação das tarefas entre os membros do canal se daria em função dos custos

associados a cada tarefa, das oportunidades de incremento de vendas, das possibilidades

de otimizar o uso de ativos especializados e minimizar riscos, dos padrões de compra

dos consumidores e da necessidade de conseguir melhor acesso a informações

relevantes de mercado.

A negociação dos termos da relação teria como objetivos garantir a presença da

linha de produtos do fabricante no canal, garantir a satisfação dos consumidores em

termos da oferta de produtos e dos serviços prestados, evitar conflitos entre os canais,

estabelecer barreiras à entrada de competidores no canal e garantir a realização das

receitas e margens desejadas pelo fabricante.

Day (1990) divide o desenvolvimento da estratégia de canais em cindo etapas.

Na primeira, se deve analisar a situação atual dos canais. Em seguida, a empresa deve

pesquisar canais alternativos capazes de atender às necessidades dos consumidores. O

terceiro passo reside na comparação entre os resultados esperados para cada alternativa.

A firma deve, então, testar a viabilidade destas alternativas e, por fim, implementar o

programa estratégico.

No segundo passo desta metodologia, é importante que se tenha uma visão que

parta das expectativas e necessidades dos clientes em termos dos serviços oferecidos

pelos canais (tamanho de lote, acessibilidade, velocidade de resposta, variedade de

produtos, qualidade e apoio de serviços etc.).

Na realidade, a definição da estratégia de distribuição das empresas parece ser

uma questão a respeito da qual ainda existem poucas conclusões significativas que

possam ser aproveitadas pela indústria em geral. Os autores indicam as etapas que

24

deveriam ser seguidas pelas empresas na montagem de uma estratégia de distribuição

como se as mesmas estivessem “partindo do zero” em suas atividades. Pouco se fala

sobre como devem se comportar as empresas que sentem a necessidade de reconfigurar

suas atuais estruturas e sobre a falta de alternativas estratégicas para acessar o mercado

com que as firmas em início de atividade se deparam.

2.5. Desenho de canais

A forma pela qual os canais de distribuição da empresa são desenhados tem

profundo impacto sobre a maneira pela qual o mercado será atendido. Uma estrutura

inadequada pode resultar em atividades redundantes e, conseqüentemente, custos

excessivos, em atendimento inadequado aos clientes e em conflitos entre os membros

do canal.

No entanto, o que se verifica é que raros são os casos de estruturas de canais

desenhadas, desde o início, através de planejamento consciente por parte da empresa. O

que, em geral, se verifica é uma montagem que não é suportada por nenhuma estratégia

explícita, ocorrendo através de acréscimos à estrutura existente, em reação às

necessidades ou oportunidades surgidas. McVey (1960) argumenta que muitas

estruturas de canais surgem de forma espontânea, sem a intenção ou o controle por parte

de seus membros.

Rosenbloom (1998), por sinal, enfatiza que o desenho de canais se dá quando a

empresa assume uma atitude pró-ativa na tarefa de desenvolvimento de novos arranjos

de canais ou na reconfiguração dos arranjos já existentes, alocando as tarefas de

distribuição em busca de uma estrutura mais eficiente de distribuição. Ele afirma que,

25

na prática, as decisões de reconfiguração de canais tendem a ocorrer com maior

freqüência que as decisões de desenvolvimento de novos canais.

O grande problema enfrentado pela empresa é o de que as estruturas de canais

não são facilmente reconfiguráveis, por envolverem redes de relacionamentos

construídos, muitas vezes, ao longo de vários anos e difíceis de serem rompidos. Este

componente relacional existente nos canais de distribuição pode tanto se constituir em

enorme fonte de vantagens competitivas quanto em poderoso entrave para mudanças

necessárias. E é justamente por este motivo que é importante uma grande atenção da

empresa ao processo de desenho dos seus canais.

Segundo Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), a década de 90 foi marcada pela

busca de melhorias no serviço aos clientes através de programas como ECR, Quick

Response e Just-In-Time. Estes autores dizem que tal busca foi impulsionada, ainda, por

fatores como o crescimento do poder dos intermediários, as mudanças na tecnologia de

informação, a necessidade de tornar as atividades de distribuição mais eficientes e

eficazes e a ênfase, cada vez maior, na busca de criação de valor para os consumidores.

Assim, as empresas têm procurado redirecionar suas estratégias de distribuição, visando

torná-las mais sensíveis às necessidades de seus clientes.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) sugerem que tal processo deve se iniciar

pela avaliação da estrutura de distribuição existente, decompondo-a em função das

atividades desempenhadas ao longo dos fluxos existentes rumo ao consumidor final. Tal

tarefa permite a identificação de custos e margens associadas ao processo e deve ser

acompanhada da análise das estruturas dos competidores. O processo de comparação

26

pode trazer luz para a empresa sobre suas próprias vulnerabilidades e sobre

oportunidades existentes.

O momento seguinte deste processo envolve a identificação das necessidades

dos consumidores finais do produto comercializado. Segundo os autores, existem quatro

critérios básicos através dos quais o serviço prestado seria analisado pelos clientes:

tamanho do lote, concentração geográfica da oferta, disponibilidade e confiabilidade da

entrega e variedade e sortimentos.

Day (1990) identifica cinco decisões que devem ser tomadas pela firma na

montagem do seu canal de distribuição. A primeira se constitui na definição das

atividades e serviços que serão desempenhados pela estrutura do canal. Em seguida vem

a escolha do grau de integração vertical desejada pela empresa. Segundo o autor, o uso

de intermediários independentes se torna atraente quando a compra é freqüente, o

mercado é amplo e disperso, as margens são pequenas e o produto é padronizado. O

relaxamento destas condições tornaria a venda direta mais interessante para a empresa.

Ainda segundo Day (1990), a firma deve decidir sobre a variedade de canais a

serem utilizados. A próxima decisão a ser tomada diz respeito à intensidade de

cobertura oferecida em cada nível do canal. Segundo o autor, a firma pode optar por

uma distribuição exclusiva, quando estiver comercializando produtos nos estágios

iniciais do ciclo de vida, ou por uma distribuição extensiva, para produtos mais

maduros. Por fim, a empresa deve decidir sobre os mecanismos de controle a serem

utilizados. Este controle pode ser frouxo, com a empresa regulando suas relações com

os intermediários através de sua política de preços, ou rígido, quando as relações são

27

regidas por cláusulas contratuais. Entre estes dois pólos pode haver uma relação baseada

na liderança exercida pelo fabricante ou pelos intermediários.

Meinberg (s/d) propõe um modelo para a tomada de decisão sobre o

comprimento dos canais de distribuição utilizados pela empresa baseado nas

características do mercado, do produto, da empresa e dos intermediários:

Quadro 2.5.1 – Critérios Utilizados para o Desenho de Canais de DistribuiçãoCritérios de Avaliação Canal Curto Canal Longo

Clientes Potenciais Poucos MuitosCaracterísticasdo Mercado Concentração Geográfica Alta Baixa

Complexidade Alta BaixaPadronização Baixa AltaCaracterísticas

do ProdutoTamanho do Lote Grande Pequeno

Recursos Financeiros Altos BaixosForça de Vendas Forte FracaCaracterísticas

da EmpresaDesejo de Controle Alto Baixo

Qualidade Baixa AltaDisponibilidade Restrita Ampla

Característicasdos

Intermediários Funções Executadas Poucas MuitasFonte: Meinberg (s/d)

Cobra (1994) propõe uma escala para a avaliação do tipo/comprimento do canal

a ser utilizado baseada em critérios semelhantes:

Quadro 2.5.2 – Critérios Utilizados para o Desenho de Canais de DistribuiçãoCritérios de Decisão Canal Curto / Venda Direta Canal Longo / Venda Indireta

Preço Unitário Alto BaixoFreqüência de Compra Baixa AltaSignificado da Compra Alto Baixo

Tamanho do Pedido Grande PequenoConcentração do Mercado Alta BaixaDistância em Relação ao

Mercado Principal Pequena Grande

Quantidade de Clientes Pequena GrandeQuantidade de Concorrentes Pequena Grande

Negociação Necessária DesnecessáriaProduto Fabricação por Pedido Estocado

Padronização Não SimTecnologia do Produto Alta Baixa

28

Tecnologia e Especializaçãoda Força de Vendas Alta Baixa

Expedição Retardada ImediataRecursos Financeiros Altos Baixos

Instalações Especiais RotineirasServiços de Vendas

Requeridos Muitos Poucos

Preferência de Compra doCliente Direta Revendedor Local

Focos do Esforço deMarketing Usuário Revendedor

Fonte: Cobra (1994)

Rangan (1994) defende a necessidade de uma equipe multifuncional para a

tarefa de desenho dos canais de distribuição. Segundo este autor, o ponto de partida do

desenho da estrutura de distribuição da firma deve ser a identificação das necessidades

do cliente, mapeando os diferentes segmentos existentes. Ele adverte, no entanto, que a

empresa não deve confundir os clientes com os intermediários. O foco desta análise

deve estar no usuário final do produto.

Uma vez que os clientes tenham sido identificados a empresa deve identificar e

classificar suas necessidades em termos dos serviços oferecidos pelos canais. Rangan

(1994) ressalta que estes serviços devem ser imaginados pela empresa como blocos de

construção, atividades que podem ser arrumadas de modo a garantir um maior nível de

satisfação aos clientes.

Rangan (1994) apresenta uma série de atividades que os canais podem

desempenhar para atender às necessidades dos clientes:

! Informações sobre produtos;

29

! Customização dos produtos;

! Garantia de qualidade;

! Tamanho do lote;

! Sortimento;

! Disponibilidade;

! Serviços de pós-venda;

! Atividades logísticas.

O próximo passo para o desenho do canal seria a auditoria dos canais atualmente

utilizados pela empresa e pelos concorrentes visando uma análise dos pontos fortes e

fracos da empresa no que diz respeito à sua estrutura de distribuição.

A partir dessa análise a empresa passaria a avaliar alternativas para o

atendimento dos diferentes segmentos existentes no mercado. Nesta etapa, segundo

Rangan (1994), a empresa poderia identificar a possibilidade de um arranjo no qual cada

canal desempenhasse tarefas distintas no atendimento a um mesmo segmento de clientes

ou de outro onde cada canal se especializasse no atendimento a um segmento de

clientes.

Por fim, Rangan (1994) preconiza a necessidade de avaliações sistemáticas dos

benefícios e custos associados a cada alternativa de arranjo. Deveriam ser avaliadas as

receitas, custos, cobertura de mercado, conflitos, entre outros para identificar sinergias e

sobreposições existentes para, então, avaliar a necessidade de redesenho dos canais. É

interessante notar, que o autor não menciona a necessidade de avaliação da satisfação

dos clientes da empresa com o atendimento do canal, que é o ponto de partida de todo o

processo.

30

Rosenbloom (1998) apresenta um modelo para o processo de desenho de canais

composto por sete etapas: o reconhecimento da necessidade de desenho de canais, o

estabelecimento e a coordenação de metas de distribuição, a especificação de tarefas de

distribuição, o desenvolvimento de estruturas alternativas de distribuição, a avaliação

das variáveis que afetam as estruturas, a seleção da estrutura mais adequada e a seleção

dos componentes do canal.

Na quarta etapa do processo proposto por Rosenbloom (1998), as empresas

devem decidir como alocar as tarefas de distribuição ao longo do canal. Segundo o

autor, esta etapa envolve decisões sobre o comprimento (ou o número de níveis) do

canal, a intensidade de distribuição em cada nível e os tipos de intermediários utilizados

em cada nível.

Rosenbloom (1998) afirma que tais decisões são influenciadas por fatores como

práticas da indústria, natureza e tamanho do mercado e disponibilidade de

intermediários, no caso do comprimento do canal, a natureza do produto, no caso da

intensidade de distribuição, e a capacidade de diferentes empresas para realizar tarefas

de distribuição durante a seleção dos intermediários.

Ao avaliar as variáveis que afetam a estrutura dos canais, Rosenbloom (1998)

destaca a necessidade de prevenção contra critérios simplistas de tomada de decisão. Ele

lembra que vários fatores atuam de forma conjunta para influenciar a decisão de qual

estrutura de distribuição utilizar em determinado mercado e que, portanto, nenhuma

variável pode, individualmente, estar associada a uma prescrição única de desenho de

canal. O autor cita como exemplo o grau de complexidade técnica do produto, que está

geralmente associado à decisão de utilizar canais de distribuição diretos. Rosenbloom

31

(1998) acredita que tal prescrição deve ser observada com cautela em função de outras

variáveis que podem afetar a decisão de canal.

Rosenbloom (1998) cita seis variáveis que podem afetar a estrutura de

distribuição das empresas, que são as características do mercado, do produto, da

empresa, dos intermediários, do ambiente e as comportamentais. Estas características

são apresentadas no quadro 2.5.3.

Quadro 2.5.3 – Critérios Utilizados para o Desenho de Canais de DistribuiçãoCritérios de Avaliação Impacto sobre Estrutura

Geografia Distâncias longas entre fabricantes e mercados estimulam uso deintermediários

Tamanho Grande quantidade de clientes estimula uso de intermediáriosDensidade Mercados com baixa densidade estimulam uso de intermediários

Volume Pequeno volume de compras estimula uso de intermediáriosFreqüência Alta freqüência de compras estimula uso de intermediários

Local Busca por conveniência de compras estimula maior intensidade

Mer

cado

Comportamentodo Consumidor

Comprador Mercados de bens de consumo associados ao uso deintermediários; mercados industriais à venda direta

Tamanho e Peso do Lote Lotes maiores estimulam uso de canais diretosPerecibilidade/Obsolescência Necessidade de fluxos rápidos ao longo do canal

Valor do Lote Baixos valores unitários estimulam uso de intermediáriosFlexibilidade na Produção Baixa flexibilidade estimula uso de intermediários

Complexidade Técnica Produtos com baixa complexidade estimulam uso deintermediários

Prod

uto

Inovação Produtos inovadores estimulam uso de canais diretos e combaixa intensidade

Tamanho Grandes empresas podem exercer mais poder sobre o canal

Capacidade Financeira Empresas com capacidade financeira podem estar mais aptas aexecutar distribuição direta

Capacidade Gerencial Empresas com capacidade gerencial podem estar mais aptas aexecutar distribuição diretaEm

pres

a

Objetivos e Estratégias Necessidade de maior controle sobre execução das atividadespode estimular uso de canais diretos

Disponibilidade Disponibilidade de intermediários limita capacidade dasempresas em desenvolver estruturas desejadas

Custos Custos de distribuição podem influenciar seleção deintermediários

Inte

rmed

iário

s

Serviços Serviços oferecidos podem influenciar seleção de intermediários

32

Ambiente Necessidade de observação das variáveis ambientais

Comportamentais Necessidade de observação do comportamento dos membros docanal

Fonte: Rosenbloom (1998)

2.6. Gerenciamento de canais

Rosenbloom (1998) define o gerenciamento dos canais de distribuição como

uma atividade que visa garantir a cooperação dos seus membros para atingir os

objetivos de distribuição. A dificuldade em garantir tal cooperação reside no fato de que

o canal é formado, na maior parte das vezes, por empresas independentes com seus

próprios objetivos.

Kotler (2001) lista como atividades de gerenciamento do canal a seleção, o

treinamento, a motivação e a avaliação dos canais. Segundo o autor, é necessário que as

empresas estabeleçam critérios para escolher os intermediários com quem pretende

trabalhar. Estes critérios podem ser baseados na experiência e na capacidade financeira

do intermediário, nas outras linhas de produtos por ele comercializadas, na sua

capacidade de cooperação e na sua reputação.Eles também precisam ser treinados para

garantir que seu posicionamento perante os consumidores seja coerente com o desejado

pela empresa. Além disso, a empresa precisa identificar as necessidades de seus

intermediários de modo a garantir o máximo de cooperação destes. Finalmente, as

empresas devem avaliar periodicamente o desempenho destes intermediários em relação

aos padrões estabelecidos de modo a identificar eventuais necessidades de modificações

no arranjo de seus canais.

33

Cespedes (1989) lembra que o motivo primordial que leva indústrias e

intermediário a estabelecerem algum tipo de relacionamento é a expectativa de que um

possa oferecer algo de valioso para o outro e vice-versa. No entanto, mesmo em uma

relação contratualmente estabelecida, é muito difícil antever todas as circunstâncias que

podem afetar os objetivos particulares e, conseqüentemente, o relacionamento de

ambos.

Deste modo, a relação entre a indústria e seus intermediários tende a ser

caracterizada por uma autêntica “queda-de-braço”, com ambas as partes disputando as

maiores parcelas das margens sobre as vendas bem como o controle sobre as decisões

estratégicas. Esta é uma visão bastante coerente com o conceito de concorrência

ampliada desenvolvido por Porter (1986), no qual as empresas concorrem não apenas

com seus concorrentes diretos na indústria, mas também com seus fornecedores, com

novos entrantes, com produtos substitutos e com seus clientes.

Cespedes (1989) ainda lembra que o duplo papel de representantes dos seus

fornecedores perante os consumidores e vice-versa desempenhado pelos intermediários

pode acabar por estimular ainda mais o potencial de conflito com seus fornecedores. Na

maioria das vezes o intermediário terá um empenho maior em atender às necessidades

de seus clientes em detrimento das de seus fornecedores.

McVey (1960) já enfatizava a dificuldade em se alcançar um gerenciamento

integrado das ações ao longo do canal, argumentando que os intermediários constituem

muito mais um mercado independente do que um elo de ligação de uma cadeia de

distribuição. Este autor argumentou que os intermediários possuem seus próprios

34

objetivos e procuram atuar mais como agentes de seus clientes do que de seus

fornecedores, tornando difícil a cooperação.

Rosenbloom (1998) afirma que para que a empresa consiga motivar o canal para

o cumprimento dos seus objetivos ela deve compreender as necessidades e problemas

dos seus componentes, fornecer-lhes o suporte necessário para o desempenho adequado

de suas atividades e praticar uma liderança com o uso efetivo de seu poder.

Ele lembra, no entanto, que a maioria das empresas não possui vias formais de

comunicação que possibilitem a identificação das necessidades dos intermediários.

Além disso, o suporte oferecido aos intermediários é, na maioria das vezes, reativo, ou

seja, realizado sem planejamento prévio, ocorrendo à medida que problemas surjam no

canal. Quando as atividades de suporte são efetivamente planejadas, elas o são sem a

participação dos intermediários, o que as torna menos eficazes. Por fim, poucas

empresas exercem liderança efetiva sobre o canal, ditando rumos e ações estratégicas,

até pela falta de atenção que a estratégia de distribuição normalmente recebe delas.

Segundo Rocha e Christensen (1987), o gerenciamento dos canais pode ser

entendido como a administração da cooperação e do conflito entre seus membros. Estes

autores lembram que a gerência do canal pode ser exercida tanto pelos fabricantes

quanto pelos intermediários, dependendo do poder de barganha de cada um.

Rocha e Christensen (1987) afirmam que a busca pela cooperação surge da

percepção da existência de objetivos comuns aos seus componentes e possibilita

redução de custos, maior eficiência das ações de marketing e logística e maior rapidez

de resposta a mudanças no ambiente.

35

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) também identificam a complexidade do

gerenciamento dos canais resultante do seu caráter tipicamente interorganizacional, em

que cada membro pode possuir objetivos próprios, divergentes dos demais. No entanto,

eles alertam para a necessidade da percepção por parte dos componentes do canal de um

objetivo comum de oferecer a máxima satisfação para os consumidores finais.

O gerenciamento do canal busca, então, segundo estes autores, alcançar a

convergência entre os objetivos dos seus diferentes membros. Para tal, é necessário para

a coordenação e o controle das atividades desempenhadas, conseguidas através de

comunicação clara, de efetiva liderança e da motivação dos membros para que eles

adotem uma postura cooperativa.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) dividem o gerenciamento dos canais em três

estágios: reunir os recursos necessários, identificar potenciais e atuais conflitos e

resolver e gerenciar os conflitos. A primeira engloba a seleção dos membros do canal e

a montagem de programas de treinamento, de sistemas de informação, de sistemas de

recompensa e de programas de vendas. A segunda etapa envolve a identificação de

situações onde um membro do canal esteja impedindo outro de atingir seus objetivos e a

medição da intensidade, da freqüência e da importância destes conflitos. A terceira

etapa envolve a elaboração antecipada de linhas de ação a serem adotadas diante do

surgimento de conflitos. Na maioria das vezes, as empresas resolvem os conflitos de

forma reativa e insatisfatória por não possuírem tais linhas já desenvolvidas.

Rosenbloom (1998) enfatiza que os conflitos surgem quando algum membro do

canal percebe que as ações de outro o impedem de atingir seus próprios objetivos. Ele

faz uma distinção entre competição e conflito. Embora em ambos os casos os

36

componentes do canal possuam objetivos incompatíveis, no conflito as partes

envolvidas procuram interferir de forma direta, bloqueando as ações de seus

adversários.

O autor cita o caso de lançamento de produtos com marcas próprias pelos

varejistas americanos como um exemplo de competição entre varejistas e fabricantes de

bens de consumo. Como exemplo de conflito, Rosenbloom (1998) menciona a “guerra

dos cupons”, quando os varejistas americanos passaram a aceitar de forma

indiscriminada os cupons de desconto apresentados pelos consumidores, contrariando

orientação da indústria.

Kotler (2000) estabelece uma distinção entre conflitos verticais e horizontais. Os

conflitos verticais seriam aqueles que ocorrem entre membros de diferentes níveis do

canal, como por exemplo, entre fabricantes e varejistas. Os conflitos horizontais seriam

aqueles que ocorrem entre membro do mesmo nível de canal, como por exemplo, uma

disputa entre varejistas de uma mesma marca de produtos pelos mesmos clientes.

Entre as causas para o surgimento de conflitos entre canais, citadas por

Rosenbloom (1998), podemos destacar a escassez de recursos (inclusive de clientes) e a

falta de concordância sobre os papéis e objetivos dos canais. Ele lembra, no entanto, que

nem sempre a existência de conflitos é prejudicial para a eficiência do canal. Uma certa

intensidade de conflitos pode funcionar como estímulo para que os membros do canal

não se tornem acomodados (fig 2.6.2). Na medida em que a intensidade dos conflitos

cresce, os esforços de distribuição podem ser desperdiçados, principalmente quando

diferentes componentes do canal disputam os mesmos clientes.

37

Conflito x Eficiência nos Canais

C1 C2Intensidade de Conflito

Efic

iênc

ia d

o C

anal

Figura 2.6.2 – Eficiência x Conflitos nos Canais de DistribuiçãoFonte: Rosenbloom (1998)

Rosembloom (1998) apresenta algumas sugestões para a resolução de conflitos

entre os membros dos canais. Entre elas podemos citar a criação de comitês com a

participação de todos os membros para avaliações periódicas de conflitos e arbitragem,

o estabelecimento conjunto de metas e a disseminação de informações de forma mais

intensa entre os membros do canal.

Day (1990) identifica quatro mecanismos para a resolução de conflitos surgidos

nos canais. O primeiro é o estabelecimento de um canal de comunicação mais aberto

entre fabricante e intermediários em substituição aos padrões vigentes de negociação. O

segundo é a participação dos intermediários nos processos de desenvolvimento de

produtos e serviços. Em seguida, ele sugere o estabelecimento de padrões de

desempenho para intermediários e fabricantes. Por fim, todos os membros do canal

deveriam estar envolvidos no processo de planejamento de longo prazo.

38

Cespedes (1989) estabelece uma relação entre o número de intermediários

utilizados pela firma, o controle que ela deseja exercer sobre as atividades do canal e a

sua disponibilidade de recursos financeiros e gerenciais.

Quando a empresa trabalha com um número limitado de intermediários, ela pode

exercer maior controle sobre as atividades dos mesmos. No entanto, torna-se necessário

que ela disponha de maior quantidade de recursos gerenciais e financeiros uma vez que

ela terá que oferecer maior assistência e suporte aos intermediários com os quais irá

trabalhar e, até mesmo, que desempenhar algumas tarefas de distribuição.

Caso a firma opte por trabalhar com mais intermediários, ela poderá incrementar

a cobertura e o nível de serviço oferecido ao mercado, além de comprometer uma

quantidade menor de recursos. No entanto, ela acabará por ver reduzida a sua

capacidade de ditar políticas de distribuição e, principalmente, os preços praticados para

os consumidores finais.

Segundo este autor, a necessidade de controle sobre os canais pela firma é dada

por fatores como a natureza do produto (produtos tecnicamente mais sofisticados podem

exigir maior assistência por parte do fabricante), a necessidade de garantia de um fluxo

adequado de informações ao longo da cadeia de suprimentos e a importância do produto

dentro do processo produtivo do cliente.

39

Quadro 2.6.1 – Influência da Necessidade de Controle e da Disponibilidade de Recursossobre o Desenho de Canais de Distribuição

Disponibilidade de Recursos

Baixa Alta

Alta Recursos como fator limitanteno desenho do canal

Controle como fatordeterminante no desenho docanal => Distribuição DiretaNecessidade de

Controle sobreAtividades

BaixaControle como fator

subordinado no desenho docanal => Distribuição Múltipla

Eficiência financeira como fatordeterminante no desenho do

canal

Fonte: Cespedes (1989)

2.7. Intermediários

Rosenbloom (1998) divide o canal de distribuição em três categorias básicas que

são: produtores, intermediários e consumidores finais. Esta divisão leva em

consideração a sua definição, que considera como membros ou participantes do canal

apenas as entidades envolvidas nas funções de negociação.

Segundo ele, os intermediários entram em ação na economia porque os

produtores carecem da qualificação e da economia de escala necessárias à realização das

atividades de distribuição.

Segundo Rocha e Christensen (1987), o intermediário surge como facilitador na

relação entre fornecedores e clientes, reduzindo a quantidade de transações necessárias

para que o produto chegue até o mercado.

40

Figura 2.7.1 Como o intermediário reduz esforço de distribuição

Fonte: Kotler (2001)

Kotler (1993) ainda acrescenta que os intermediários possuem contatos e

experiência, conseguindo maior disponibilidade e acesso aos mercados-alvo para os

bens do produtor do que este poderia conseguir por conta própria.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) listam quatro razões de ordem econômica

que explicam a relevância dos intermediários. A primeira é a possibilidade de tornar o

processo de troca de bens mais eficiente. A segunda é a de realizar o processo de ajuste

dos sortimentos de produtos oferecidos pelos produtores com os desejados pelos

consumidores. Em seguida há a necessidade de padronizar e rotinizar as transações. Por

fim, os intermediários facilitam o processo de procura pelos consumidores.

Alderson (apud Kotler, 1993, p. 593) resume estes argumentos ao afirmar que:

“O objetivo de marketing é a combinação da oferta e da demanda.” A introdução de

intermediários pode reduzir os custos de transação, uma vez que possibilita a redução no

número de contatos no processo de negociação.

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16 Transações 8 Transações

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Interm ed iário

41

2.7.1. Atacado

Os atacadistas são definidos por Rosenbloom (1998) como empresas que

realizam a venda de bens para a revenda ou para consumidores institucionais. Eles

realizam compras de grandes volumes de produção junto aos produtores e os revendem

em lotes menores para os seus clientes. Para isso, podem contar com uma estrutura

especializada que inclui força de vendas e depósitos para o atendimento do mercado. A

manutenção de tal estrutura é, geralmente, antieconômica para os fabricantes.

O autor divide as atividades desenvolvidas pelo atacado em duas categorias: as

realizadas para os fabricantes e as realizadas para os seus clientes.

Na primeira categoria, as funções desempenhadas seriam a cobertura de

mercado, os contatos de vendas, a estocagem dos produtos, a tomada de pedidos, a

coleta de informações de mercado e assistência aos clientes.

Na segunda, estariam a disponibilização de produtos, a assistência, o

fornecimento de crédito e auxílio financeiro, a oferta de sortimentos adequados, a

adequação do tamanho dos lotes e o suporte e aconselhamento técnico.

Rocha e Christensen (1987) compartilham desta percepção sobre o duplo papel

desempenhado pelo atacadista e enumeram como sendo suas funções básicas a

formação de estoques e sortimento, o financiamento, a venda, o transporte e o

armazenamento.

Kotler (1993) lista como funções desempenhadas pelos atacadistas as atividades

de vendas e promoção, compra e formação de sortimentos, quebra de lote,

42

armazenamento, transporte, financiamento, absorção de riscos, coleta de informações de

mercado e serviços de administração e consultoria para o varejo.

Entre os motivos por ele citados para explicar o crescimento na importância dos

atacadistas na economia temos a concentração da produção em grandes fábricas

geograficamente distantes dos usuários e a proliferação de fabricantes e varejistas, que

torna mais difícil e importante a tarefa de adequação dos produtos às necessidades dos

clientes em termos de quantidade, embalagem e forma.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), no entanto, levantam a questão da perda de

competitividade do mercado atacadista que vem ocorrendo em função do surgimento de

canais alternativos no cenário competitivo. Estas alternativas são representadas

principalmente por negociações diretas entre a indústria e as novas categorias de varejo

como as lojas de desconto, os clubes de compras, as grandes cadeias de varejo etc.

2.7.2. Varejo

A definição dada por Rosenbloom (1998) sobre os varejistas é a de empresas que

realizam a venda de bens para o consumo final pessoal ou domiciliar. Kotler (1993) usa

a mesma definição sobre varejo usada por Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) que

definem como varejo todas as atividades envolvidas na venda de bens ou serviços

diretamente aos consumidores finais para uso pessoal.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) lembram que muitas organizações podem

estar simultaneamente envolvidas em atividades de varejo e de atacado, dependendo do

tipo de cliente atendido. Os autores utilizam o exemplo da empresa CompUSA, que

realiza a venda de computadores pessoais tanto para uso doméstico quanto para o uso de

43

empresas. Tais companhias devem, segundo eles, ter enorme cuidado em garantir que as

necessidades de cada tipo de cliente estejam sendo efetivamente atendidas.

Segundo eles, uma estratégia de varejo inclui um conjunto de decisões de âmbito

externo, que visa atender as expectativas dos consumidores relacionadas com questões

de conveniência de tempo e espaço, atmosfera e ambiente da loja, sortimento, preço,

informação e interação dos funcionários e serviço.

Rocha e Christensen (1987) apresentam vários formatos de varejo existentes no

mercado, dividindo-os em quatro categorias básicas: varejistas de mercadorias em geral,

varejistas de linha limitada, varejistas alimentares e outros formatos. Esta diversidade

parece ser o resultado da segmentação cada vez mais nítida dos consumidores em

função dos seus hábitos de compra e reforça a necessidade de atenção maior pelas

empresas às suas estratégias de distribuição.

Segundo Kotler (1993) as atividades de varejo podem ser desenvolvidas por todo

o tipo de organização: fabricantes, atacadistas ou varejistas. Tal percepção é compatível

com a conclusão de Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) anteriormente citada.

Kotler (1993) divide o comércio varejista em três categorias: lojas de varejo,

varejo sem loja e organizações de varejo. As lojas de varejo incluem supermercados,

lanchonetes, drogarias, lojas de conveniência, postos de gasolina e butiques de roupas

entre muitas outras.

Segundo Kotler (1993), elas podem adotar quatro tipos de estratégias no que diz

respeito ao nível de serviço e, conseqüentemente, dos seus custos operacionais. A

primeira seria a das lojas de auto-serviço, onde o próprio cliente realiza o processo de

44

localização, comparação e seleção dos bens. A segunda seria a das lojas com auto-

seleção, onde há funcionários da loja para auxiliar os clientes na execução de tais

tarefas. A terceira envolveria as lojas com serviço limitado, nas quais haveria maior

assistência ao cliente, inclusive com fornecimento de crédito e possibilidade de

devolução das mercadorias. Por fim viriam as lojas de serviço pleno, onde os

funcionários estariam aptos a orientar os clientes em cada etapa do processo de compra.

Ele argumenta que estes diferentes níveis de serviço podem ser combinados com

diferentes níveis de sortimento para formar o posicionamento estratégico da loja de

varejo. Ele identifica quatro posicionamentos possíveis para uma loja de varejo, citando

a Bloomingdale’s como uma loja com sortimento e serviços amplos. A K-Mart seria um

exemplo de loja com sortimento amplo, mas serviços restritos. A loja Tiffany teria um

sortimento restrito com alto nível de serviços. Finalmente, a Kinney Shoe seria um

exemplo de loja com sortimento e serviços restritos. Cada escolha de posicionamento

terá um impacto sobre o volume de vendas, sobre o custo e sobre as margens com as

quais a loja irá operar.

Quadro 2.7.2 – Posicionamento Estratégico no VarejoSortimento

Amplo Restrito

Amplo Bloomingdale’s TiffanyServiço

Restrito K-Mart Kinney Shoe

Fonte: Kotler (1993)

As vendas através do varejo sem loja são divididas por ele nas categorias de

vendas diretas, vendas por máquinas e serviços de compras.

45

A primeira incluiria as vendas de porta em porta e as reuniões domésticas, e se

apoiaria fortemente no uso intensivo de mão de obra abundante. Kotler (1993) cita o

exemplo da Avon, que chegou a dispor de cerca de um milhão de vendedoras em todo o

mundo. Este método teria no custo uma desvantagem em função de comissões altas,

custos de treinamento, contratação, administração e motivação.

A vendas por máquinas teriam como vantagem, que justificaria os seus custos

mais elevados, a conveniência de compra. Disponíveis 24 horas por dia e, geralmente,

carregando produtos de compra por impulso com alto valor de conveniência (cigarros,

lanches, doces e jornais), elas ainda oferecem a vantagem de operar em sistema de auto-

serviço, dispensando equipes de atendimento aos consumidores. Por outro lado, elas

exigem uma operação mais cuidadosa de manutenção e reparos e de reposição de

estoques. Uma modalidade de vendas por máquinas que tem conquistado grande

importância é a dos caixas-eletrônicos que permitem a realização de uma série de

operações financeiras fora das agências bancárias.

Os serviços de compras seriam organizações através das quais os seus filiados

poderiam obter condições vantajosas para as compras realizadas em redes conveniadas

em troca de uma taxa de adesão.

Por fim, Kotler (1993) define as organizações de varejo como sendo uma

categoria distinta das lojas de varejo. Estas se caracterizariam por pertencer a redes com

vários estabelecimentos funcionando de forma integrada. Elas não teriam, portanto, a

autonomia gerencial das lojas de varejo. Ele as divide em cinco categorias: redes

corporativas, cooperativas de varejo, cooperativas de consumidores, organizações de

franchising e conglomerados de comercialização.

46

As redes corporativas seriam teriam dois ou mais estabelecimentos de

propriedade e controle comuns, que vendem linhas similares de produtos, com compras

e promoções de ponto de venda centralizadas e que usam padrões de comunicação

visual semelhantes (Gist apud Kotler, 1993, p.624). Estariam incluídas nesta categoria

as redes de lojas de departamentos, de variedades, drogarias etc.

As cooperativas de varejo seriam redes voluntárias compostas por varejistas

independentes e, muitas vezes, patrocinadas por atacadistas para fazer frente às redes

corporativas. Elas também podem se reunir para estabelecer uma organização central

própria para realizar as compras e as estratégias promocionais.

As cooperativas de consumidores representam empresas montadas pelos

próprios consumidores para atender necessidades não satisfeitas pelo varejo local.

As organizações de franchising constituem uma organização contratual entre um

fabricante, atacadista ou empresa de prestação de serviços e pessoas independentes que

adquirem o direito de posse e operação de uma ou mais unidades do sistema.

Por fim, os conglomerados de comercialização ocorrem quando várias

modalidades de varejo são reunidas sob a mesma estrutura hierárquica, visando a

obtenção de economias de escala que os tornem mais competitivos frente a

concorrência.

O crescimento do porte e, conseqüentemente, do poder de barganha das

organizações de varejo tem-lhes permitido substituir o comércio atacadista na realização

de algumas importantes funções de suas cadeias de valor. As grandes redes de lojas têm

conseguido negociar, em condições vantajosas, diretamente com os fabricantes, a

47

compra de grandes volumes, que são armazenados e distribuídos para as lojas em seus

próprios armazéns.

2.7.3. Marketing Direto

O marketing direto tem sido uma ferramenta de negócios em rápida expansão no

mundo. Rosenberg e Hirschman (1980) já estimavam que, no início da década de 1980,

as vendas diretas cresciam em um ritmo de três a cinco vezes mais rápido do que as

feitas através dos formatos tradicionais de varejo. Segundo os autores, tal tendência

seria o fruto do desejo dos consumidores por acesso a maior sortimento de bens para sua

escolha e por maior disponibilidade de tempo para a execução de outras atividades, que

tornam a freqüência a lojas cada vez menos conveniente para os consumidores. No

entanto, Rosenberg e Hirschman (1980) destacam que esta tendência não significa

necessariamente uma sentença de morte para as vendas através de lojas, uma vez que

em diferentes momentos haverá consumidores interessados na utilização de uma ou

outra forma de realizar suas compras.

A Associação de Marketing Direto Americana (apud Roberts e Berger, 1989)

define o marketing direto como uma forma de comunicação onde dados são utilizados

de forma sistemática para atingir objetivos de marketing mensuráveis e onde o contato

direto é feito entre a empresa e seus clientes atuais ou potenciais.

Roberts e Berger (1989) procuram ampliar esta definição para dizer que o

marketing direto é qualquer forma de comunicação face a face com clientes potenciais,

com o objetivo de efetivar vendas e de manter um canal de diálogo que auxilie na

construção de um relacionamento de longo prazo.

48

Katzenstein e Sachs (1992) definem o marketing direto como sendo uma

comunicação paga em mídia que visa estimular respostas diretas e mensuráveis, seja

uma encomenda, uma solicitação de maiores informações ou uma visita a lojas ou

showrooms.

Kotler (1993) também enfatiza a ampliação do foco do marketing direto, que

deixa de ser apenas ferramenta geradora de respostas mensuráveis para se tornar

poderosa arma na criação de relacionamentos das empresas com seus consumidores.

Rosenbloom (1998) diferencia o conceito de marketing direto do de venda

direta. Ele utiliza-se da definição da Associação de Vendas Diretas Americana, que diz

que a venda direta é um método de distribuição de bens de consumo através de vendas

pessoais (ou face a face). Estas vendas são feitas, ainda segundo a definição, sem a

utilização de pontos de vendas fixos. O autor utiliza-se também da definição de

marketing direto elaborada pela Associação de Marketing Direto americana.

Fica claro pelas definições vistas que o marketing direto oferece às firmas que o

utilizam maior possibilidade de direcionar suas ações para segmentos específicos de

forma mais eficiente, através do uso de bancos de dados bem estruturados e da

mensuração da eficácia de suas ações, obtendo maior controle sobre suas operações e

diminuindo o seu grau de dependência em relação aos intermediários. Além disso, o

marketing direto oferece às empresas a oportunidade de estabelecer um canal de diálogo

com seus consumidores, permitindo a melhor compreensão das suas necessidades e

desejos.

Rosenbloom (1998) lembra que o marketing direto deve ser visto como uma das

alternativas disponíveis para que a firma possa atingir seus objetivos de distribuição. Ele

49

considera o uso do marketing direto mais vantajoso em situações em que o mercado a

ser atingido seja altamente especializado ou quando o produto a ser comercializado

possua características únicas que tornem a sua disponibilidade no varejo tradicional

mais escassa. Da mesma forma, ele considera que o marketing direto pode ser uma

importante alternativa estratégica para firmas de menor porte sem os recursos

necessários para montar uma estrutura de distribuição tradicional ou para firmas que

desejem possuir maior grau de controle sobre a distribuição de seus produtos, já que a

presença de intermediários será reduzida. Por fim, Rosenbloom (1998) considera que

questões do ambiente sócio-econômico e cultural, como a menor disponibilidade de

tempo para consumo, também podem motivar a opção pelo marketing direto.

Diversas mídias têm sido utilizadas para realizar este contato direto entre o

fabricante e o consumidor final. Roberts e Berger (1989) citam o telefone, a televisão e

o rádio, os anúncios em jornais e revistas e as malas-diretas e os catálogos de vendas

como algumas das principais ferramentas do marketing direto. Kotler (1986) e

Katzenstein e Sachs (1992) incluem o comércio eletrônico como uma das modalidades

de marketing direto.

As ferramentas de marketing direto parecem estar surgindo como importante

alternativa estratégica para os fabricantes de bens e serviços que desejam diminuir sua

dependência em relação aos canais tradicionais de varejo. No entanto, caso a indústria

repita a postura passiva já adotada no passado em relação à estratégia de canais, é

possível que novas estruturas de intermediários venham a dominar o cenário ou que as

próprias redes de varejo tradicional venham a dominar a utilização destas ferramentas,

50

deixando a indústria mais uma vez em posição desvantajosa de acesso aos mercados

consumidores.

2.7.4. Comércio Eletrônico

Segundo Schneider (1994), o advento do comércio eletrônico está trazendo

mudanças profundas na estrutura do varejo. Se antes os investimentos em mão de obra

nos pontos de vendas representavam fontes de vantagem competitiva, agora a tecnologia

da informação torna-se vital para o sucesso do negócio. Com menor necessidade de

investimentos de capital, as barreiras à entrada de novos concorrentes no varejo estão se

tornando menores e as estratégias de atendimentos de nichos estão se viabilizando.

Lopes (1998) comprova o extraordinário crescimento do comércio eletrônico

citado dados segundo os quais 400 mil empresas no mundo já dispõem de endereços

eletrônicos para a venda de produtos e serviços ou para divulgação institucional,

gerando um movimento próximo a 22 bilhões de dólares. Segundo a mesma fonte, tal

número deve atingir a cifra de 349 bilhões já no ano de 2002.

O autor enumera, como vantagens oferecidas pelo comércio eletrônico em

relação ao varejo tradicional, a maior conveniência de compra, o sortimento mais

amplo, menores custos de operação e, conseqüentemente, menores preços, melhor

prestação de serviços, maior nível de fidelidade dos consumidores e, finalmente, o fim

dos atravessadores.

Kalokota e Whinston (1996) consideram que a Internet oferece aos fabricantes a

chance de reconquistar o espaço perdido para o varejo no contato com os consumidores

finais. Desde a introdução da leitura ótica nos pontos de venda, a hegemonia alcançada

51

pelo varejo parecia difícil de ser revertida. No entanto, os próprios autores reconhecem

que tanto a indústria quanto o varejo ainda carecem de uma estratégia clara de atuação

na rede.

Rosenbloom (1998) define o comércio eletrônico como a forma pela qual

produtos e serviços são disponibilizados para seus mercados-alvo através do uso da

Internet. Segundo o autor, o surgimento do comércio eletrônico vem levantando

questionamentos sobre o papel futuro dos intermediários na economia. O autor discute

três tópicos para melhor compreender tal questão. Primeiramente, ele discute a questão

da intermediação, argumentando que, ao contrário do que tradicionalmente se supõe, os

negócios via Internet mais bem sucedidos tendem a adicionar intermediários ao canal de

distribuição. Ele cita os exemplos da Amazon.com, da Auto-By-Tel Corp. e da Peapod

Inc. como empresas que possuem mais um nível de intermediários no negócio do que

seus rivais tradicionais. Em segundo lugar, Rosenbloom (1998) lembra que os canais

eletrônicos não são capazes de promover os fluxos dos produtos por si sós, embora

possam promover os demais fluxos de negociação, de posse, de informação e de

promoção, sendo ainda, portanto, estruturas de canais incompletas. Por fim, o autor

questiona a capacidade que o comércio eletrônico terá de suprir as necessidades dos

consumidores no que diz respeito à existência de um ponto de venda fisicamente

tangível.

Schneider (1994) reforça este argumento ao dizer que há três motivos pelos

quais os consumidores vão às lojas: para repor seus estoques domiciliares com itens de

consumo freqüente, para decidir sobre a compra de produtos de consumo ocasional e

52

para satisfazer suas necessidades de convívio social. O autor considera que o comércio

eletrônico tenha maiores dificuldades em prover a satisfação do último destes fatores.

2.8. Estratégia de Multi-canais

A estratégia de multi-canais ainda é muito pouco citada na literatura existente

sobre os canais de distribuição. Lewis (1968) utiliza o termo distribuição dual para se

referir à utilização de canais paralelos na venda da mesma linha de produtos. Ele

defende o uso de tal sistema como forma para se atingir diferentes segmentos de

consumidores ou quando a empresa desejar trabalhar com mais de uma marca para a

mesma categoria de produtos.

Kotler (1999) também chama este arranjo de distribuição dual. Ele considera

esta estratégia como sendo delicada, em função do potencial de geração de conflitos

entre os membros do canal. Ele lembra, no entanto, que os elevados custos associados à

venda direta estimulam a adoção de estruturas nas quais novos e mais eficientes canais

possam substituir os tradicionais integralmente ou nas tarefas de custo mais elevado.

Kotler (1993) lembra que a proliferação de segmentos e alternativas de canais

tem levado as empresas a adotar a distribuição através de múltiplos canais. Ele cita a

definição de Weigand (apud Kotler, 1993, p.612), que diz que “eles ocorrem quando

uma única empresa estabelece dois ou mais canais para atingir um ou mais segmentos

de consumidores”.

Kotler (2000) lembra que as empresas podem conquistar três importantes

benefícios ao utilizar estratégias de multi-canais. Maior cobertura de mercado, graças ao

atendimento a novos segmentos de consumidores, redução nos custos de distribuição,

53

através da adoção de canais com custos mais reduzidos, e atendimento mais

personalizado, através do uso de canais que se adaptem melhor às necessidades dos

clientes. No entanto, ele lembra que a utilização de mais canais pode trazer problemas

de conflitos, com os canais disputando os mesmos clientes, e controle, já que a

proliferação de canais pode tornar mais difícil a busca por objetivos comuns.

Cespedes (1989) enfatiza a importância adquirida pela estratégia de multi-canais

lembrando que, já na década de 80, mais de 75% das indústrias americanas já haviam

acrescentado intermediários à sua estrutura de distribuição, antes composta apenas pela

força de vendas própria.

Ele cita quatro fatores que têm influenciado a adoção de uma estratégia de multi-

canais: aumento nos custos de vendas, implantação de técnicas de gerenciamento de

estoques just-in-time, concentração de mercado e informatização.

O aumento dos custos de vendas, especialmente das vendas diretas, estimula as

empresas a acrescentar intermediários à sua estrutura de distribuição buscando ganhos

de escala. A pressão por redução dos níveis de estoque aliada à demanda dos

consumidores pelo atendimento adequado de seus pedidos também contribui para a

utilização de intermediários. A concentração de intermediários traz, por sua vez, maior

poder de barganha frente aos fornecedores e ganhos de escopo e escala que permitem o

atendimento mais eficiente ao mercado. Por fim, o processo de automação comercial

empreendido pelo varejo trouxe maior eficiência em termos de custos e conhecimento

dos consumidores. Todos estes fatores tornam a utilização de intermediários pela

indústria praticamente obrigatória.

54

Kotler (1993) utiliza os exemplos fornecidos por aquele autor a respeito do uso

desta estratégia, citando empresas como a General Eletric, que vende utensílios

domésticos tanto através de varejistas independentes quanto diretamente, através de

firmas de construção. Ele cita também as empresas de seguros que vendem apólices

através de corretores autônomos, de corretores exclusivos e dos seus sistemas próprios

de telemarketing e mala direta. A IBM vende seus computadores pessoais através de

lojas especializadas, de grandes lojas de departamento, de representantes de materiais de

escritório e também diretamente para, por exemplo, universidades.

Esta estratégia traz consigo o risco de conflitos da empresa com os seus canais já

estabelecidos, que enxergam na sua adoção a ameaça de perda de vendas para os novos

canais. Kotler (1993) lembra que eles podem ver na adoção de tal estratégia uma

concorrência desonesta por parte de seu fornecedor.

O autor lembra que, algumas vezes, os diferentes canais podem ser de

propriedade do fabricante, eliminando o risco de conflito. Em tal caso a empresa

possuiria um “conglomerado de canais” que, segundo a definição de Tillman (apud

Kotler, 1993, p. 612) por ele reproduzida, seria “um império multilinear de

comercialização sob direção centralizada, que geralmente combina vários estilos de

varejo com integração oculta de algumas funções de distribuição e de administração”.

Ele cita o exemplo da J. C. Penney, que opera lojas de departamentos, de atacado e de

especialidades.

Por fim, Kotler (1993) reproduz um estudo do The MAC Group, que defende a

adoção da estratégia de multi-canais, argumentando que as empresas que insistem em

utilizar um único canal para o atendimento de consumidores variados tornam-se

55

vulneráveis. Este argumento é sustentado através da construção de uma matriz como a

seguinte:

Complexidade do Produto

Sob encomenda Commodities

Fundos dePensão

Merril Linch

Mercado deOpções

Mercado deAções Fundos Mútuos Aplicações

Financeiras

Schwab

Val

or a

cres

cent

ado

pelo

can

al

Alto

BaixoTrade-Plus

Figura 2.8.1 – Varejo Multicanal

Fonte: Kotler (1993)

Nesta matriz, o eixo vertical representaria o valor acrescentado pelo canal e o

horizontal a complexidade do produto. Uma empresa que trabalhasse com o mesmo

canal para produtos de diferentes complexidades estaria deixando uma oportunidade

para o uso de canais alternativos que fossem mais adequados para cada tipo de produto.

Ele apresenta como exemplo a Merril Lynch, que utiliza serviços de corretagem de alto

valor tanto para a operação em mercados de opções quanto para aplicações financeiras

mais simples, agregando custos significativos às últimas. Agindo assim, a empresa

permitiu o crescimento de concorrentes como a Charles Schwab, que oferece serviços

de corretagem com desconto, inclusive por via telefônica.

56

Bowersox e Closs (1996) argumentam que a fragmentação dos segmentos de

consumo e a maior diferenciação dos produtos obrigam as empresas a utilizar múltiplos

canais de distribuição para atingir os mercados-alvo.

Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) lembram que em função da heterogeneidade

do mercado não há como atender às necessidades dos diferentes clientes potenciais da

empresa através de um único canal de distribuição. Por esse motivo, as empresas são

levadas a desenhar sistemas de canais híbridos ou multi-canais.

Os autores lembram que, historicamente, as empresas atingiam seus clientes

através de apenas um canal de distribuição, geralmente uma força de vendas própria.

Por outro lado citam o argumento de Moriarty (1990), de que o aumento dos custos

necessários para a manutenção de tal estrutura obrigou as empresas a implantar sistemas

como o telemarketing tanto para exercer a função de um novo canal de vendas, quanto

para a realização de funções de apoio.

Tal arranjo envolveria o uso simultâneo de canais diretos e indiretos de

distribuição. Assim, diferentes atividades de vendas, logísticas e de crédito, entre outras,

poderiam ser assumidas por diferentes canais, de forma complementar, em função dos

custos associados aos mesmos. Eles também admitem, no entanto, que tal arranjo

aumenta a probabilidade de ocorrência de conflitos na medida em que os diferentes

canais venham a competir pelos mesmos clientes.

Moriarty e Moran (1990), no artigo da Harvard Business Review em que

analisam o gerenciamento dos chamados canais híbridos de marketing, lembram que,

em anos recentes, os gerentes foram obrigados a buscar a utilização de vários canais de

57

distribuição de forma simultânea para conseguir aumento na cobertura de mercado e

redução nos seus custos.

Estes autores reconhecem a dificuldade em se gerenciar tais arranjos, que

levantam problemas de conflito e controle dentro do canal. O conflito ocorre porque os

canais podem vir a disputar os mesmos clientes e receitas. Os problemas de controle

podem surgir porque os canais indiretos estariam menos sujeitos à autoridade da

empresa que desenha tal arranjo.

Apesar destes problemas, os autores sustentam que uma estratégia de multi-

canais pode trazer grandes benefícios para a empresa através da possibilidade de

redução dos custos de distribuição resultante da otimização das tarefas executadas por

cada integrante do canal, da ampliação da cobertura de mercado e do atendimento

customizado de acordo com as necessidades dos segmentos atingidos por cada canal.

Um grande problema da estratégia de multi-canais, ainda segundo Moriarty e

Moran (1990), é que poucas empresas se dedicam à tarefa de planejar uma estrutura de

canais adequada para o atendimento do mercado. Ao invés disso, elas tendem a assumir

uma postura reativa, adicionando canais à sua estrutura a medida que sentem a

necessidade de aumentar a cobertura de mercado ou de reduzir custos.

Esta postura resulta em risco bem maior de surgimento de problemas de conflito

com os canais já existentes, bem como de problemas com os consumidores, insatisfeitos

por verem diferentes ofertas do mesmo produto, muitas vezes mais vantajosas do que as

que lhes foram oferecidas, surgindo nos novos canais.

58

Os autores lembram, entretanto, que algum nível de conflito entre os canais pode

ser desejável. Isto porque uma completa ausência de conflitos poderia ser um sinal de

que a cobertura de mercado oferecida pelos canais estivesse aquém da desejada. Eles

sugerem que o conflito pode se tornar prejudicial à empresa quando ele envolve um

percentual superior ao patamar que vai de 10% a 30% das receitas.

Eles propõem, além da divisão de tarefas de vendas, o estabelecimento de três

tipos de fronteiras entre os membros do canal como forma de minimizar os conflitos

entre os canais: fronteiras em função dos tipos de clientes, dos tipos de produtos ou

geográficas.

Moriarty e Moran (1990) defendem que, para se desenhar e gerenciar um arranjo

de canais deve-se ter em mente que as atividades de marketing, e não os canais

propriamente ditos, são os “blocos” de construção do sistema de marketing da empresa.

Essa visão é compatível com o conceito de cadeia de valor desenvolvido por Porter

(1986). Assim, a empresa deveria mapear e desagregar as atividades de geração de

pedido para as alocar aos canais mais adequados em termos de custos e de eficiência e

eficácia no atendimento às necessidades dos clientes potenciais.

59

Quadro 2.8.1 – Blocos de Construção da Estratégia de Multi-canais

Tarefas de Geração de Demanda

Indi

caçõ

es

Qua

lific

ação

Pré-

Ven

da

Fech

amen

to

Serv

iços

Pós

-V

enda

Ger

ênci

a de

Con

ta

Gerência deConta Nacional

Venda Direta

Telemarketing

Mala Direta

Lojas de Varejo

Distribuidores

Intermediários deValor Agregado

Can

ais e

Mét

odos

de

Mar

ketin

g

Propaganda

Fonte: Kotler (2001)

Anderson, Day e Rangan (1997) dizem que a estratégia de multi-canais deve

refletir a oferta de diferentes níveis de serviços aos consumidores finais no momento de

compra de um mesmo produto em função dos seus hábitos de consumo. Eles

argumentam que, com o encurtamento do ciclo de vida e a proliferação de produtos e

60

com a maior fragmentação dos segmentos de consumidores, o acesso ao mercado

através de multi-canais se tornará a única alternativa viável para se obter a cobertura de

mercado desejada (1997, p.64).

Eles identificam duas formas de utilização do arranjo de multi-canais em função

do grau de maturidade do mercado. Em mercados mais maduros ou de maturação lenta,

a estratégia de multi-canais só seria útil quando houvesse diferença significativa nos

padrões de consumo dos segmentos. Cada canal seria desenhado para atender as

necessidades específicas de cada um destes segmentos. Em mercados de rápido

crescimento a firma deveria buscar várias alternativas de canais como forma de se

proteger contra mudanças abruptas no comportamento de compra dos consumidores, até

que houvesse uma estabilização do ambiente.

Anderson, Day e Rangan (1997) argumentam que as firmas deveriam estabelecer

fronteiras entre os diferentes canais através da sua linha de produtos, minimizando,

desta forma, os possíveis conflitos entre eles. Na prática, dizem eles, as diferentes linhas

de produtos oferecidas pelas firmas não são significativamente diferentes e os canais

tendem a competir em função dos serviços oferecidos.

Cespedes e Corey (1990) também defendem o uso da estratégia de multi-canais

para atender a segmentos distintos de forma mais eficiente e eficaz. Eles argumentam

que as empresas têm procurado utilizar intermediários, paralelamente às suas próprias

forças de vendas.

Estes autores distinguem duas estratégias de multi-canais distintas adotadas pela

indústria, que eles denominam arranjos pluralistas e arranjos monolíticos. No primeiro

caso, a empresa utiliza diferentes canais, que realizam todas as tarefas de distribuição e

vendas, para atingir clientes pertencentes a segmentos distintos. No segundo, monta-se

um sistema integrado para atingir todos os segmentos, no qual cada componente do

canal se especializa na realização de tarefas específicas.

Figu

Cespedes e Corey (1

canais de distribuição: prospe

venda. Caberia à gerência

desempenhadas pela própria

intermediários.

A organização, monol

mercado seria influenciada po

Canal 1Tarefa 1

Canal 1Tarefa 2

Canal 1Tarefa 3

Canal 1Tarefa 4

Segmento A

Canal 2Tarefa 1

Canal 2Tarefa 2

Canal 2Tarefa 3

Canal 2Tarefa 4

Segmento B

Arranjo Pluralista

Canal 1Tarefa 1

Canal 1Tarefa 2

Arranjo Monolítico

61

ra 2.8.2 – Estratégias de Multi-canais

990) identificam três tarefas que são executadas pelos

ção e geração de demanda, distribuição e serviços de pós-

decidir sobre quais dessas funções deveriam ser

empresa e quais deveriam ser transferidas para os

ítica ou pluralista, escolhida pela empresa para atingir o

r cinco elementos: custos de marketing, coordenação entre

Canal 2Tarefa 3

Canal 2Tarefa 4

Mercado

62

a empresa e os canais, capacidade de diferenciação na prestação de serviços,

flexibilidade dos padrões de compra dos consumidores e capacidade em vendas.

Assim, a empresa que optasse pela organização pluralista acabaria por incorrer

em maiores custos de marketing, em função da necessidade de um staff mais numeroso

para coordenar as atividades dos vários canais. Por outro lado, este arranjo requer uma

capacidade menor de coordenação entre a empresa e os canais, uma vez que há relativa

independência entre as atividades desempenhadas por cada elemento do sistema. O

arranjo pluralista teria maior capacidade de se diferenciar através da prestação de

serviços, na medida em que cada canal estaria se especializando no atendimento a um

segmento específico. No entanto, por ter apenas um canal atendendo a um segmento, o

arranjo pluralista teria menor flexibilidade para lidar com mudanças nos padrões de

compra dos consumidores. Ele não seria capaz de atender a consumidores que se

utilizem de diferentes canais em função do volume desejado, da urgência da compra ou

do nível de serviço desejado, por exemplo. Por fim, os autores defendem que o arranjo

pluralista traria maior aprendizado das habilidades de vendas exigidas por cada

mercado.

É importante ressaltar que a estratégia de multi-canais ainda é de uso recente

entre as empresas e teve o seu papel discutido até agora de forma tímida na literatura

existente sobre os canais de distribuição. No entanto, tal discussão se faz necessária na

medida em que mais empresas se dispõem a adotá-la. Segundo Moriarty e Moran

(1990), 53% das empresas por eles pesquisadas se mostravam dispostas a adotar tal

estratégia. Por esse motivo é importante que se desenvolvam teorias através das quais

elas possam se guiar na sua implementação e gerenciamento.

63

3. METODOLOGIA

3.1. Esquema Conceitual do Estudo

A literatura sobre canais de distribuição é, por vezes, confusa e contraditória no

que diz respeito a algumas definições e termos, o que dificulta a compreensão de alguns

fenômenos relacionados com o tema. A própria definição do conceito de canal de

distribuição reflete tal controvérsia, especialmente no que diz respeito à necessidade da

presença de organizações externas para que o mesmo possa ser caracterizado. Todos os

demais temas relacionados à estratégia e ao gerenciamento dos canais, especialmente

quando as empresas utilizam estratégias de multi-canais, parecem ter a sua compreensão

dificultada por este primeiro obstáculo conceitual. Os autores freqüentemente utilizam

termos como canais, membros dos canais, atividades dos canais e intermediários para se

referir aos mesmos objetos de estudo, tornando o debate confuso.

Para efeitos deste estudo, serão considerados:

! Canais Diretos:

o Força de Vendas Própria

o Internet

o Telemarketing

o Catálogo

o Mala-Direta

Kotler (1993), Rocha e Christensen (1987) e Day (1990) admitem a existência

dos canais diretos quando as empresas vendem diretamente para os consumidores finais,

gerenciando por sua própria conta as atividades de distribuição.

64

! Intermediários:

o Atacadistas

o Varejistas

o Franquias

o Supermercados

o Representantes Independentes

o Lojas Especializadas

Os intermediários participam do canal de distribuição de forma isolada ou em

diferentes arranjos com os canais diretos dos fabricantes e/ou com outros

intermediários. Estes intermediários podem estar situados no mesmo nível ou em

diferentes níveis do canal de distribuição.

! Estratégias de Multi-canais:

Considera-se que as empresas adotam estratégias de multi-canais quando fazem

uso simultâneo de mais de um arranjo de canais para atingir seus consumidores finais.

Assim, neste trabalho não foram consideradas como estratégias de multi-canais

os seguintes arranjos:

o Apenas um intermediário ou apenas um canal direto

o Força de vendas própria + um intermediário

o Representante independente + um intermediário

o Força de vendas própria + atacadista + um intermediário

o Representante independente + atacadista + um intermediário

o Força de vendas própria + Representante independente

65

Em tais casos, considerou-se que os canais diretos ou intermediários estariam

atuando em diferentes níveis de um mesmo arranjo de canal, e não como estruturas

paralelas de distribuição.

3.2. Tipo de Pesquisa

A estratégia de multi-canais constitui fato recente e que, portanto, recebeu pouca

atenção por parte de pesquisadores e estudiosos de marketing. Os poucos estudos

encontrados a respeito do tema (Moriarty e Moran, 1990 e Cespedes e Corey, 1990)

realizaram pesquisas exploratórias, através de estudos de casos, em que procuram

descrever os processos de implantação e gerenciamento dos arranjos de multi-canais por

algumas empresas, discutindo as suas motivações, os benefícios atingidos e as

dificuldades surgidas ao longo da implantação dos mesmos.

A presente pesquisa é de natureza descritiva. O seu objetivo é fornecer uma

perspectiva mais ampla da implementação de estratégias de distribuição e do

gerenciamento de canais de distribuição no setor industrial brasileiro. Além disso, ela

procura verificar a validade de algumas hipóteses e proposições levantadas em

pesquisas anteriores no que diz respeito à existência de relações entre as características

das empresas e dos seus mercados de atuação com a implementação destas estratégias.

A pesquisa de natureza descritiva é definida por Pinsonneault e Kraemer (apud

Freitas, Oliveira, Saccol e Moscarola, 1999) como aquela que possui o propósito de

identificar situações, eventos, atitudes ou opiniões manifestas em uma população. Gil

(1995) acrescenta a esses objetivos o estabelecimento de relações entre variáveis. Ele

afirma que estas pesquisas, embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos,

66

podem proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas

exploratórias.

O método de pesquisa escolhido para este trabalho foi o survey. Tal método foi

utilizado para estudar a utilização de estratégias de multi-canais entre empresas do setor

industrial, buscando compreender de que forma as características ambientais e das

próprias empresas influenciam tal utilização.

A pesquisa survey pode se apresentar como ferramenta adequada para pesquisas

de natureza descritiva. Tanur (apud Pinsonneault e Kraemer,1993) a descreve como a

obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de

determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo,

por meio de um instrumento de pesquisa, normalmente um questionário. O foco do seu

interesse, segundo Freitas, Oliveira, Saccol e Moscarola (1999), é sobre “o que está

acontecendo” ou “como e por que isso está acontecendo”.

A primeira etapa do estudo foi o levantamento bibliográfico, cujo propósito foi

contribuir para o processo de formulação de hipóteses e para um conhecimento mais

amplo sobre o tema em questão. A identificação, através da leitura de casos já

desenvolvidos sobre estratégia de multi-canais, das motivações para a sua adoção e dos

problemas encontrados na sua implementação e gerenciamento auxiliou a identificar as

questões de pesquisa e a formular as hipóteses.

3.3. Hipóteses e Testes

As hipóteses formuladas foram enunciadas como se segue:

67

H1. As políticas de distribuição adotadas por empresas brasileiras

localizadas no Estado do Rio de Janeiro estão associadas a determinadas

características das próprias empresas e de seus mercados de atuação.

H2. O uso de canais diretos por empresas brasileiras localizadas no Estado

do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias

empresas e de seus mercados de atuação.

H3. O uso de intermediários por empresas brasileiras localizadas no Estado

do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias

empresas e de seus mercados de atuação.

H4. O uso de estratégias de multi-canais por empresas brasileiras

localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas

características das próprias empresas e de seus mercados de atuação.

H5. A intensidade percebida dos conflitos entre os canais de distribuição

está associada a determinadas características das próprias empresas, de seus

mercados de atuação e de suas políticas de distribuição.

3.4. Variáveis Operacionais

A escolha das variáveis operacionais utilizadas neste estudo reflete a

preocupação em detectar características das próprias empresas e de seus mercados de

atuação que podem influenciar diversos aspectos relacionados à estratégia e ao

gerenciamento dos canais de distribuição. As variáveis foram escolhidas com base nas

informações coletadas na revisão da literatura e nos testes do questionário.

Quadro 3.3.1 – Variáveis Operacionais

68

Características da EmpresaVariáveis Operacionalização

Tempo de existência Ano de fundaçãoTamanho da empresa Número de empregadosBase de clientes Número de clientes ativosDispersão geográfica Número de Estados em que atuaAmplitude da linha de produtos Número de itens comercializados

Características do MercadoVariáveis Operacionalização

Taxa de crescimento do mercado

Demanda em declínio Crescimento de até 3% ao ano Crescimento de 3,1% a 5% ao ano Crescimento superior a 5% ao ano

Estágio do ciclo de vida do produto

Produto novo ou pouco familiar Produto com aceitação crescente Produto familiar Redução no número de consumidores

Quantidade comprada Escala de cinco pontos, onde 1 = pequeno e 5 = grandeFreqüência de compra Escala de cinco pontos, onde 1 = baixa e 5 = altaForma de compra Escala de cinco pontos, onde 1 = impulso e 5 = planejadaNecessidade de crédito Escala de cinco pontos, onde 1 = baixa e 5 = altaNecessidade de assistência técnica Escala de cinco pontos, onde 1 = baixa e 5 = alta

Características da Estratégia de DistribuiçãoVariáveis Operacionalização

Estratégia de cobertura de mercado Exclusiva Seletiva Intensiva

Canal de distribuição utilizado(atacadista, varejista, força de vendasprópria, franquia, supermercado,representantes independentes, lojaespecializada, internet, telemarketing,catálogo, mala-direta e outros)

Não utilizado Pequena participação no faturamento da empresa Média participação no faturamento da empresa Grande participação no faturamento da empresa

Canal abandonado

Atacadista Varejista Força de vendas própria Franquia Supermercado Representantes independentes Loja especializada Internet Telemarketing Catálogo Mala-direta Outros

Motivo para a desistência do canal Busca por redução de custos

69

Insatisfação com serviços oferecidos pelo canal Busca por redução de conflitos entre canais Mudança no comportamento do consumidor Iniciativa do próprio intermediário Outros

Novo canal

Atacadista Varejista Força de vendas própria Franquia Supermercado Representantes independentes Loja especializada Internet Telemarketing Catálogo Mala-direta Outros

Motivo para adicionar canal

Atendimento a novos segmentos de consumidores Atendimento a novos consumidores dos segmentos já

atendidos pela empresa Atendimento a novas regiões geográficas Redução da dependência em relação aos canais

tradicionais Busca por redução de custos Busca por maior nível de serviço ou por novos serviços Reação a movimento da concorrência Mudança no comportamento de compra do consumidor Solicitação/iniciativa do próprio intermediário Outros

Critério de divisão de mercado

Inexistente Região geográfica Tipo de cliente Tipo de produto Tarefas executadas Outros

Similaridade entre políticas depreços para cada canal

Escala de cinco pontos, onde 1 = similares e 5 =diferenciadas

Similaridade entre políticas depromoções para cada canal

Escala de cinco pontos, onde 1 = similares e 5 =diferenciadas

Conflitos entre os canais Intensos Medianos Inexistentes

70

3.5. População e Amostra

Perrien, Chéron e Zins (1984) descrevem o processo de amostragem como sendo

composto pelas etapas de definição da população-alvo, do contexto da amostragem, da

unidade de amostragem, do método de amostragem, do tamanho da amostra, da seleção

da amostra e da execução do processo de amostragem.

No caso em questão, a população-alvo da pesquisa é composta pelas empresas

do setor industrial brasileiro, sediadas no Estado do Rio de Janeiro, sendo as empresas a

unidade utilizada para a amostragem. Os respondentes qualificados, nas empresas, para

responder o questionário foram os principais executivos dos departamentos de

marketing ou de vendas, responsáveis pelo gerenciamento dos canais de distribuição.

Para a seleção das empresas a serem pesquisadas foi utilizado um arquivo de

dados obtido junto à empresa DMS (Database Marketing Solutions), contendo o

cadastro de 1200 empresas dos setores primário, secundário e terciário no Estado do Rio

de Janeiro. Foram selecionadas, dentre as empresas listadas, aquelas que atuavam no

setor industrial e tinham mais de 50 empregados, obtendo-se um total de 550 empresas.

Os questionários foram enviados para todas as 550 empresas que compuseram a

população do estudo

3.6. Coleta de Dados

O questionário enviado pelo correio é um dos principais instrumentos para a

coleta de dados na pesquisa survey. O envio pelo correio garante a possibilidade de

acesso a uma amostra ampla e geograficamente dispersa, trazendo conveniência em

termos de custos e tempo consumidos (Mattar, 1998; Aaker, Kumar e Day, 2001).

71

Tal abordagem também pode se mostrar interessante na medida em que, por

tratar-se de questionário auto-administrado, reduza as dificuldades que poderiam ser

encontradas no que diz respeito à marcação de entrevistas com executivos das áreas de

marketing ou de vendas das empresas pesquisadas.

O pré-teste foi conduzido, através de entrevistas pessoais, junto a três empresas

durante o mês de janeiro de 2001 para a verificação da compreensão do sentido das

perguntas, da facilidade de obtenção dos dados necessários para o fornecimento de

respostas e para uma estimativa do tempo de duração do seu preenchimento.

O pré-teste permitiu a identificação de uma questão não explorada durante a

pesquisa bibliográfica a respeito do abandono de canais de distribuição. Duas das

empresas pesquisadas mencionaram o fato de terem reduzido o número de canais de

distribuição utilizados em função de mudanças no ambiente de mercado, especialmente

nos hábitos de compra dos consumidores finais, e da necessidade de redução de custos.

O questionário final foi enviado em abril de 2001 para as 532 empresas que

compunham a lista original da população pesquisada, acompanhado de carta explicando

os objetivos do estudo.

Obteve-se um retorno de 63 questionários, equivalendo a 11,5% dos

questionários enviados. Em pesquisas dessa natureza no Brasil, um retorno superior a

20% é considerado adequado. Entre 20% e 10%, é considerado fraco. Comparando-se a

distribuição dos questionários enviados com os questionários recebidos, no que se refere

a tamanho, ou seja, número de funcionários, obtém-se a seguinte distribuição:

72

Quadro 3.5.1 – Questionários Enviados e Recebidos

Questionários Recebidos Questionários EnviadosNº deFuncionários Freqüência Freqüência

Relativa Freqüência FreqüênciaRelativa

Até 99 17 27,0% 139 26,1%100 a 199 12 19,0% 143 26,9%200 a 299 07 11,1% 80 15,0%300 a 499 09 14,3% 72 13,5%500 a 999 08 12,7% 58 10,9%

1000 a 4500 09 14,3% 40 7,7%NR 01 1,6% - -

Total 63 100,0% 532 100,0%

A comparação entre a distribuição da amostra da pesquisa e a lista da população

mostra a existência de diferenças entre as empresas que possuem de 100 a 199

funcionários e as empresas que possuem acima de 1000 funcionários.

3.7. Análise dos Dados

3.7.1. Preparação dos Dados

Os dados do questionário foram codificados em planilha eletrônica Microsoft

Excel.

Inicialmente realizou-se uma análise descritiva, com propósito exploratório,

utilizando freqüências para verificar a consistência dos dados e elaborar um quadro

geral dos resultados obtidos.

Em seguida, utilizando-se o programa SPSS (Statistical Package for the Social

Sciences), foram realizados os testes de hipóteses.

73

3.7.2. Teste de Hipóteses

Para o teste de hipóteses utilizou-se a análise linear de discriminantes, método

direto.

Para Aaker, Kumar e Day (2001), a análise discriminante é utilizada para

classificar objetos em um, dois ou mais grupos alternativos, como base de um conjunto

de mensurações, assim como para identificar quais variáveis contribuem para tal

classificação. Segundo os autores, a análise discriminante possui quatro objetivos

principais (p. 551):

" “Determinar combinações lineares das variáveis previsoras para separar os

grupos por meio da maximização da variação entre os grupos em relação à

variação dentro dos grupos (objetos em diferentes grupos são maximamente

separados)”;

" “Desenvolver procedimentos para designar novos objetos, empresas ou

indivíduos, cujos perfis, e não a identidade grupal, sejam conhecidos, para

um dos dois grupos”;

" “Testar se existem diferenças significantes entre os grupos, com base nos

centróides desses grupos”;

" “Determinar quais as variáveis mais relevantes para a explicação das

diferenças intergrupais”.

No presente estudo, a análise discriminante foi utilizada para testar se as

diferenças entre os grupos eram significativas (objetivo 3) e verificar quais as variáveis

74

que melhor explicavam essas diferenças (objetivo 4). Não foi testado o poder preditivo

das equações discriminantes (objetivos 1 e 2). Hair et alii (1992, p.94) admitem as duas

utilizações da análise discriminante, ao afirmar que “a análise discriminante, portanto,

pode ser considerada quer como um tipo de análise de perfil, quer como uma técnica

preditiva analítica”.

A análise discriminante envolve a combinação linear de diversas variáveis

independentes que discriminam dois ou mais grupos definidos a priori. A variável

dependente, na análise discriminante, é do tipo categórico, o que justifica o uso desta

análise no estudo realizado.

A análise discriminante pode ser feita utilizando-se dois métodos: direto e passo-

a-passo. O método direto é usado quando se deseja incluir todas as variáveis na análise.

O método passo-a-passo é utilizado quando há um número muito grande de variáveis e

quando o propósito não é traçar um perfil dos grupos. Na análise passo-a-passo, é

selecionado um grupo reduzido de variáveis, do conjunto total de variáveis, que melhor

discrimina os grupos. Hair et alii (1992) afirmam que o conjunto final reduzido de

variáveis utilizadas no método passo-a-passo é quase tão bom, e eventualmente melhor,

do que o uso de todas as variáveis. No caso específico do presente estudo, o método

direto foi adotado por ser o mais adequado aos objetivos estabelecidos, desejando-se

analisar o perfil das empresas usuárias de diferentes estratégias, e por se trabalhar com

um conjunto relativamente pequeno de variáveis.

Os coeficientes da função discriminante, em seu valor absoluto, indicam o peso

relativo que cada variável tem na discriminação entre os dois grupos. Dessa forma,

75

quanto maior for o coeficiente, independentemente de sinal, maior o poder daquela

variável em discriminar entre os dois grupos.

Adotou-se, nesse estudo, o nível de significância de 0,05 para rejeição da

hipótese nula. Esse nível é considerado adequado pela maioria dos estudiosos (Hair et

alii, 1992).

3.8. Limitações do Método

Algumas limitações associadas a este método de pesquisa devem ser

mencionadas.

Gil (1995) observa que o método de pesquisa survey apresenta uma limitação no

que diz respeito à percepção dos fatos ocorridos pelos entrevistados. Os levantamentos

identificam percepções e opiniões dos respondentes com relação a fatos, o que pode

trazer distorções em relação à realidade.

Mattar (1999) faz uma comparação entre diferentes métodos de coleta de dados

primários. Alguns dos critérios são apresentados no quadro a seguir:

Quadro 3.7.1 – Comparação entre Métodos de Coleta de Dados

Características EntrevistaPessoal

Entrevistapor

Telefone

QuestionárioAuto-

PreenchidoVersatilidade Alta Média BaixaCusto Alto Médio BaixoTempo de aplicação Alto Baixo MédioControle amostral Alto Médio BaixoQuantidade de dados Alta Média MédiaQualidade de dados Vide quadro 3.7.2Garantia de anonimato Baixa Baixa MédiaHabilidade exigida para aplicação Alta Alta BaixaUniformidade na mensuração Baixa Média AltaÍndice de resposta Alto Alto BaixoNível educacional exigido dos respondentes Baixo Baixo Alto

76

Possibilidade de verificação da sinceridadedas respostas

Alta Baixa Baixa

Tamanho da amostra Pequena Grande Grande

Fonte: Mattar (1999)

Quadro 3.7.2 – Ocorrência de vieses em Diferentes Métodos de Coleta de Dados

Fonte de Viés EntrevistaPessoal

Entrevistapor

Telefone

QuestionárioAuto-

PreenchidoGarantia de anonimato Alto Médio BaixoQuestões de entendimento difícil Baixo Médio AltoUniformidade das mensurações Alto Médio BaixoConhecer todas as questões antes deresponder

Baixo Baixo Alto

Fraude do entrevistador Alto Baixo BaixoDificuldade de supervisão e controle Alto Médio BaixoControle sobre quem responde Baixo Alto AltoInfluência do entrevistador Alto Alto BaixoInsinceridade das respostas Baixo Alto Alto

Fonte: Mattar (1999)

Pode-se observar, então que as principais limitações do questionário remetido

por correio dizem respeito à sua baixa versatilidade, ao baixo controle amostral, ao

baixo índice de respostas e ao alto nível educacional exigido dos respondentes.

Uma das estratégias adotada para garantir um percentual aceitável de respostas

foi o contato telefônico prévio com os respondentes. Este contato teve a finalidade de

confirmar algumas informações contidas na base de dados, bem como de buscar o

comprometimento dos executivos das empresas com o retorno dos questionários.

A limitação relacionada ao baixo controle amostral foi superada uma vez que a

composição dos respondentes, com relação ao número de funcionários das empresas, é

bastante similar à da população pesquisada. No entanto, não é possível afirmar que as

77

demais limitações tenham sido superadas em função da dificuldade de verificação da

qualidade das respostas obtidas.

78

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. Análise Descritiva

Este capítulo apresenta os resultados obtidos na pesquisa realizada junto a 63

empresas de setor industrial do Estado do Rio de Janeiro.

4.1.1. Ano de Fundação das Empresas

Quadro 3.4.1.1 - Ano de Fundação das Empresas

Ano de Fundação Freqüência FreqüênciaRelativa

Antes de 1950 14 22,2%1950 a 1959 09 14,3%1960 a 1969 15 23,8%1970 a 1979 13 20,6%1980 a 1989 06 9,5%1990 a 1999 05 7,9%

NR 01 1,6%Total 63 100,0%

A distribuição da amostra indica uma pequena participação de respondentes

entre as empresas fundadas nas décadas de 1980 e 1990 (17,4%). As décadas de 1980 e

1990 foram marcadas por tímido crescimento econômico, especialmente na indústria, o

que pode explicar a fraca presença de empresas fundadas neste período.

14

9

1513

6 5

1Antes

de 19501950 a1959

1960 a1969

1970 a1979

1980 a1989

1990 a1999

NR

Ano de Fundação das Empresas

79

4.1.2. Número de Funcionários das Empresas

Quadro 3.4.1.2 - Número de Funcionários das Empresas

Nº de Funcionários Freqüência FreqüênciaRelativa

Até 99 17 27,0%100 a 199 12 19,0%200 a 299 07 11,1%300 a 499 09 14,3%500 a 999 08 12,7%

1000 a 4500 09 14,3%NR 01 1,6%

Total 63 100,0%

A amostra pesquisada apresenta quantidade elevada de empresas de pequeno

porte. As empresas com até 199 funcionários representam 46% da amostra.

17

12

79 8 9

1Até 99 100 a

199200 a299

300 a499

500 a999

1000 a4500

NR

Número de Funcionários das Empresas

80

4.1.3. Número de Clientes Ativos das Empresas

Quadro 4.1.1 - Número de Clientes Ativos das Empresas

Nº de ClientesAtivos Freqüência Freqüência

RelativaAté 100 16 25,4%

100 a 999 14 22,2%1000 a 2999 16 25,4%3000 a 5999 07 11,1%

6000 a 49999 05 7,9%50000 a 200000 02 3,2%

NR 03 4,8%Total 63 100,0%

A amostra analisada apresenta pequena quantidade de empresas com mais de

3000 clientes ativos. Uma base extensa de clientes pode estar associada à necessidade

de utilização de quantidade maior de canais diretos e intermediários (Rosenbloom,

1998; Cobra, 1994).

1614

16

75

2 3

Até 100 100 a999

1000 a2999

3000 a5999

6000 a49999

50000 a200000

NR

Número de Clientes Ativos das Empresas

81

4.1.4. Número de Estados Atendidos pelas Empresas

Quadro 4.1.2 - Número de Estados Atendidos pelas Empresas

Nº de EstadosAtendidos Freqüência Freqüência Relativa

Até 10 16 25,4%10 a 19 14 22,2%20 a 26 12 19,0%

27 20 31,7%NR 01 1,6%

Total 63 100,0%

Uma parcela bastante expressiva da amostra (31,7%) tem clientes ativos em

todos os Estados do Brasil. Apenas um respondente afirmou ter clientes em apenas um

Estado. Espera-se que empresas com ampla cobertura geográfica façam uso de

variedade maior de canais diretos e intermediários, já que nem todas as regiões possuem

o mesmo tipo de infraestrutura comercial e logística (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994).

1614

12

20

1

Até 10 10 a 19 20 a 26 27 NR

Número de Estados Atendidos pelas Empresas

82

4.1.5. Número de Itens Comercializados pelas Empresas

Quadro 4.1.3 - Número de Itens Comercializados pelas Empresas

Nº de ItensComercializados Freqüência Freqüência Relativa

Até 100 26 41,3%100 a 499 14 22,2%500 a 999 04 6,3%

1000 a 2999 09 14,3%3000 a 17499 04 6,3%

18500 a 20000 02 3,2%NR 04 6,3%

Total 63 100,0%

Uma linha de produtos ampla e diversificada, que atenda às necessidades de

diferentes segmentos de consumidores finais, pode exigir da empresa a utilização de

canais diretos e intermediários variados. A grande maioria dos respondentes (63,5%)

possui linhas com até 499 itens, que podem ser consideradas como linhas amplas.

26

14

49

4 2 4

Até 100 100 a499

500 a999

1000 a2999

3000 a17499

18500 a20000

NR

Número de Itens Comercializados pelas Empresas

83

4.1.6. Taxa de Crescimento no Mercado de Atuação

Quadro 4.1.4 - Taxa de Crescimento no Mercado de Atuação

Taxa de Crescimentodo Mercado Freqüência Freqüência Relativa

Em Declínio 07 11,1%Até 3% 24 38,1%

3,1% a 5,0% 16 25,4%Maior que 5% 16 25,4%

Total 63 100,0%

A amostra apresenta grande quantidade de empresas situadas em mercados de

baixo crescimento (até 5% ao ano). Em mercados com baixo crescimento ou redução do

volume, tende a ocorrer uma busca por canais diretos e intermediários com custos mais

reduzidos (Kotler, 2001; Day, 1990). Quando o mercado se encontra em crescimento,

por outro lado, tende a ocorrer uma busca por novos canais diretos e intermediários, de

modo a aumentar a cobertura de mercado das empresas.

Comportamento da Demanda no Mercado de Atuação

Até 3%(39%)3,1% a 5,0%

(25%)

Em Declínio(11%)

Maior que 5%(25%)

84

4.1.7. Ciclo de Vida do Produto no Mercado de Atuação

Quadro 4.1.5 - Ciclo de Vida do Produto no Mercado de Atuação

Ciclo de Vida do Produto Freqüência Freqüência Relativa

Produto novo / pouco familiar 0 0,0%Produto com rápida aceitação 13 20,6%

Produto familiar 42 66,7%Produto em fase de retirada 08 12,7%

Total 63 100,0%

A grande maioria dos respondentes (66,7%) identificou seus produtos como

familiares para os consumidores. Esta informação é consistente com a informação

relativa à taxa de crescimento do mercado. É interessante destacar que nenhum

respondente indicou trabalhar com produtos recém-lançados.

Ciclo de Vida do Produto no Mercado de Atuação

Produto familiar(66%)

Produto com rápida

aceitação(21%)

Produto novo / pouco familiar

(0%)

Produto em fase de retirada

(13%)

85

4.1.8. Quantidade Comprada pelo Consumidor Final

Quadro 4.1.6 - Quantidade Comprada pelo Consumidor Final

Quantidade Comprada Freqüência Freqüência Relativa

Pequena = 1 11 17,5%2 19 30,2%3 17 27,0%4 04 6,3%

Grande = 5 09 14,3%NR 03 4,8%

Total 63 100,0%

A quantidade comprada pelo consumidor final pode influenciar a estratégia de

distribuição das empresas. Quando este consumidor compra grandes volumes, a

empresa pode ter a possibilidade de realizar suas vendas diretamente, sem a necessidade

de intermediários. Quanto menor for a quantidade comprada pelo consumidor, maior

tenderá a ser a necessidade de intermediários para garantir escala na distribuição

(Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994). A amostra pesquisada apresenta grande quantidade

de empresas cujos consumidores realizam compras de pequeno a médio volume

(74,7%).

11

1917

4

9

3

1 2 3 4 5 NR

Quantidade Comprada pelo Consumidor Final

86

4.1.9. Freqüência de Compra do Consumidor Final

Quadro 4.1.7 - Freqüência de Compra do Consumidor Final

Freqüência deCompra Freqüência Freqüência Relativa

Baixa = 1 08 12,7%2 15 23,8%3 18 28,6%4 08 12,7%

Alta = 5 11 17,5%NR 03 4,8%

Total 63 100,0%

Consumidores que realizam compras freqüentes de um produto tendem a

necessitar de níveis mais elevados de serviço, principalmente no que diz respeito à

disponibilidade de estoque. Tal postura pode favorecer a presença de número mais

elevado de intermediários de modo a intensificar a cobertura de mercado (Rosenbloom,

1998; Cobra, 1994). A amostra pesquisada apresenta distribuição equilibrada neste item,

com uma concentração um pouco maior de consumidores finais realizando compras

com pequena freqüência.

8

1518

811

3

1 2 3 4 5 NR

Freqüência de Compra do Consumidor Final

87

4.1.10. Forma de Compra do Consumidor Final

Quadro 4.1.8 - Forma de Compra do Consumidor Final

Forma de Compra Freqüência FreqüênciaRelativa

Impulso = 1 06 9,5%2 05 7,9%3 06 9,5%4 13 20,6%

Planejada = 5 29 46,0%NR 04 6,3%

Total 63 100,0%

Uma parcela significativa dos respondentes (66,6%) indicou que seus

consumidores finais realizam suas compras de forma planejada. Tal comportamento

reduziria a necessidade de uma cobertura de mercado tão intensa, uma vez que os

consumidores tendem a pesquisar de forma mais cuidadosa as ofertas feitas pelas

empresas e a se deslocar para os locais onde possam realizar compras mais vantajosas

(Kotler, 2001).

6 5 6

13

29

4

1 2 3 4 5 NR

Forma de Compra do Consumidor Final

88

4.1.11. Necessidade de Crédito do Consumidor Final

Quadro 4.1.9 - Necessidade de Crédito do Consumidor Final

Necessidade deCrédito Freqüência Freqüência Relativa

Baixa = 1 17 27,0%2 01 1,6%3 12 19,0%4 19 30,2%

Alta = 5 09 14,3%NR 05 7,9%

Total 63 100,0%

A amostra da pesquisa apresentou alta concentração de respostas nos pontos

extremos da escala sobre necessidade de crédito do consumidor final. Empresas cujos

consumidores finais tenham elevada necessidade de crédito tendem a fazer uso de

intermediários. Tal medida reduz a necessidade de investimentos em crédito da empresa

e minimiza os riscos associados à inadimplência dos consumidores finais (Rosenbloom,

1998).

17

1

12

19

9

5

1 2 3 4 5 NR

Necessidade de Crédito do Consumidor Final

89

4.1.12. Necessidade de Assistência Técnica do Consumidor Final

Quadro 4.1.10 - Necessidade de Assistência Técnica do Consumidor Final

Necessidade deAssistência Técnica Freqüência Freqüência Relativa

Baixa = 1 21 33,3%2 11 17,5%3 09 14,3%4 09 14,3%

Alta = 5 08 12,7%NR 05 7,9%

Total 63 100,0%

Uma grande parcela dos respondentes (50,8%) indicou que seus consumidores

finais necessitam de pouca assistência técnica. Tal comportamento parece ser

consistente com a familiaridade demonstrada com o tipo de produto (ver 4.1.7).

A necessidade de assistência técnica pode influenciar o desenho dos canais de

distribuição. Produtos que requerem grande assistência tendem a ser comercializados

pelos próprios fabricantes, em função da dificuldade existente para localizar

intermediários capacitados para tal tarefa (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994).

21

11 9 9 85

1 2 3 4 5 NR

Necessidade de Assistência Técnica do Consumidor Final

90

4.1.13. Canais Diretos e Intermediários Utilizados pelas Empresas

Quadro 4.1.11 - Canais Diretos e Intermediários Utilizados pelas Empresas

Intensidade de Uso do Canal Direto ou IntermediárioCanal /Intermediário Não Usado Pequeno Médio Grande NR Total

42,9% 20,6% 11,1% 23,8% 1,6% 100,0%Atacadistas 27 13 07 15 01 63

47,6% 4,8% 14,3% 31,7% 1,6% 100,0%Varejistas 30 03 09 20 01 6327,0% 7,9% 12,7% 50,8% 1,6% 100,0%Força de Vendas

Própria 17 05 08 32 01 6390,5% 4,8% 0,0% 3,2% 1,6% 100,0%Franquias 57 03 0 02 01 6368,3% 4,8% 9,5% 15,9% 1,6% 100,0%Supermercados 43 03 06 10 01 6334,9% 25,4% 14,3% 23,8% 1,6% 100,0%Representantes

Independentes 22 16 09 15 01 6361,9% 14,3% 4,8% 17,5% 1,6% 100,0%Lojas

Especializadas 39 09 03 11 01 6376,2% 14,3% 7,9% 0,0% 1,6% 100,0%Internet 48 09 05 00 01 6371,4% 14,3% 7,9% 4,8% 1,6% 100,0%Telemarketing 45 09 05 03 01 6390,5% 3,2% 1,6% 3,2% 1,6% 100,0%Catálogo 57 02 01 02 01 6384,1% 11,1% 3,2% 0,0% 1,6% 100,0%Mala-Direta 53 07 02 0 01 6381,0% 3,2% 3,2% 9,5% 3,2% 100,0%Outros 51 02 02 06 02 63

Os canais diretos e intermediários mais utilizados pelas empresas são,

respectivamente, a força de vendas própria (71,4%), os representantes independentes

(63,5%), atacadistas (55,6%) e varejistas (50,8%). Franquias e catálogos de vendas, no

entanto, foram citados por apenas 7,9% dos respondentes. Também é possível destacar a

ainda baixa presença da internet e do telemarketing como canais diretos entre as

empresas fluminenses.

91

A análise dos canais diretos e intermediários mais utilizados, mostra a forte

presença da força de vendas própria (50,8%), dos varejistas (31,7%) e dos atacadistas

(23,8%). O uso de representantes independentes, neste caso, cai para 23,8%. A internet

e a mala-direta não foram citadas por nenhum dos respondentes como canais diretos

muito utilizados.

71%63%

56%51%

37%30% 27%

22%16% 14%8% 8%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Canais de Distribuição Utilizados pelas Empresas

92

4.1.14. Quantidade de Canais Diretos e Intermediários Utilizada

pelas Empresas

Quadro 4.1.12 - Quantidade de Canais Diretos e IntermediáriosUtilizada pelas Empresas

Quantidade Freqüência Freqüência Relativa9/8 05 7,9%7/6 12 19,0%5/4 16 25,4%3/2 24 38,1%

1 05 7,9%NR 01 1,6%

Total 63 100,0%

Apenas cinco empresas, ou seja, 7,9% da amostra afirmaram utilizar apenas um

canal direto ou intermediário para a distribuição de seus produtos, o que confirma a

relevância do estudo.

5

12

16

24

5

1

9/8 canais 7/6 canais 5/4 canais 3/2 canais 1 canal NR

Quantidade de Canais Utilizados pelas Empresas

93

4.1.15. Canais Diretos e Intermediários Abandonados pelas

Empresas

Quadro 4.1.13.1 - Canais Diretos e Intermediários Abandonados pelasEmpresas

Canal / Intermediário Freqüência Freqüência Relativa

Atacadistas 02 3,2%Varejistas 02 3,2%

Força de VendasPrópria 02 3,2%

Franquias 01 1,6%Supermercados 03 4,8%RepresentantesIndependentes 03 4,8%

Telemarketing 01 1,6%Lojas Especializadas 01 1,6%

Total 07 11,1%

Na amostra pesquisada, sete respondentes (11,1%) afirmaram ter deixado de

utilizar algum canal de distribuição ou intermediário. Os canais diretos e intermediários

mais citados foram os supermercados e os representantes independentes, que foram

descartados por três empresas cada.

É importante ressaltar que boa parte da literatura sobre o gerenciamento de

canais aborda a questão da dificuldade que existe para a modificação da estrutura dos

canais de distribuição, em função das relações de longo prazo estabelecidas entre as

empresas que os compõem (McVey, 1960; Kolter, 1993; Day, 1990).

Os motivos mais citados para a desistência de canais diretos e intermediários

foram: insatisfação com o nível dos serviços oferecidos (6,3%) e busca por redução de

custos (4,8%). Cabe destacar que o questionário inicialmente elaborado não abordava a

questão de abandono de canais. Tal questão surgiu durante a execução dos pré-testes em

94

função da ocorrência de tal evento em duas das empresas pesquisadas. Os respondentes

puderam citar até três motivos para a desistência de canais no questionário.

Quadro 4.1.13.2 – Motivo da Desistência dos Canais Diretos e IntermediáriosAbandonados

Motivo da Desistência Freqüência FreqüênciaRelativa

Busca por redução de custos 03 4,8%Insatisfação com nível dos serviços oferecidos pelo

canal04 6,3%

Busca por redução de conflitos entre canais 02 3,2%Mudança no comportamento de compra do

consumidor0 0,0%

Solicitação/iniciativa do próprio intermediário 01 1,6%Outros 01 1,6%

Canais Abandonados pelas Empresas

Atacadistas13%

Varejistas13%

Força de Vendas Própria13%

Franquias7%

Supermercados20%

Representantes Comerciais

20%

Lojas Especializadas7%

Telemarketing7%

95

Motivos para o Abandono de Canais

Redução de custos27%

Insatisfação com serviços 37%

Redução de conflitos entre canais

18%

Iniciativa do canal9%

Outros9%

96

4.1.16. Novos Canais Diretos e Intermediários Adotados pelas

Empresas

Quadro 4.1.14.1 - Novos Canais Diretos e Intermediários Adotados pelas Empresas

Canal /Intermediário Não Adicionou Adicionou NR Total

95,2% 3,2% 1,6% 100,0%Atacadistas 60 02 01 6395,2% 3,2% 1,6% 100,0%Varejistas 60 02 01 6396,8% 1,6% 1,6% 100,0%Força de Vendas

Própria 61 01 01 6398,4% 0,0% 1,6% 100,0%Franquias 62 0 01 6393,7% 4,8% 1,6% 100,0%Supermercados 59 03 01 6390,5% 7,9% 1,6% 100,0%Representantes

Independentes 57 05 01 6393,7% 4,8% 1,6% 100,0%Lojas

Especializadas 59 03 01 6382,5% 15,9% 1,6% 100,0%Internet 52 10 01 6387,3% 11,1% 1,6% 100,0%Telemarketing 55 07 01 6398,4% 0,0% 1,6% 100,0%Catalogo 62 0 01 6395,2% 3,2% 1,6% 100,0%Mala-Direta 60 02 01 6393,7% 4,8% 1,6% 100,0%Outros 59 03 01 6355,6% 42,9% 1,6% 100,0%Total 35 27 01 63

A maioria dos respondentes (55,6%) afirmou não ter adicionado novos canais

diretos ou intermediários à sua estrutura de distribuição nos últimos cinco anos. No

97

entanto, pode-se considerar que a quantidade de empresas que adicionou novos canais

ou intermediários (42.9%) é bastante significativa.

A internet foi o mais citado (15,9%) pelos respondentes, seguido pelo

telemarketing (11,1%) e pelos representantes independentes (7,9%). As franquias e as

vendas por catálogo não foram citadas por nenhum dos respondentes.

Quadro 4.1.14.2 – Motivo para Adoção de Novos Canais Diretos eIntermediários

Motivo da Adoção Freqüência FreqüênciaRelativa

Atendimento a novos segmentos deconsumidores 12 19,0%

Atendimento a novos consumidores dossegmentos já atendidos pela empresa 11 17,5%

Atendimento a novas regiões geográficas 13 20,6%Redução da dependência em relação aos

canais tradicionais 07 11,1%

Busca por redução de custos 07 11,1%Busca por maior nível de serviço ou por

novos serviços 07 11,1%

Reação a movimento da concorrência 04 6,3%

Novos Canais de Distribuição Utilizados pelas Empresas

Atacadistas5%

Varejistas5%

Força de Vendas Própria

3%Supermercados8%

Representantes Comerciais

13%Lojas Especializadas

8%Internet27%

Telemarketing18%

Mala-Direta5%

Outros8%

98

Mudança no comportamento de compra doconsumidor 08 12,7%

Solicitação/iniciativa do própriointermediário 02 3,2%

Outros 03 4,8%

Os motivos mais citados para a adoção de novos canais diretos e intermediários

foram o atendimento a novas regiões geográficas (20,6%), o atendimento a novos

segmentos de consumidores (19,0%) e o atendimento a novos consumidores dos

segmentos já atendidos pela empresa (17,5%).

A solicitação do próprio intermediário (3,2%) e a reação a movimentos da

concorrência (6,3%) foram os motivos menos citados pelos respondentes. Os

respondentes puderam citar até três motivos para a adoção de novos canais diretos e

intermediários no questionário.

Motivos para a Adoção de Novos Canais de Distribuição

Novos segmentos de consumidores

16%

Novos consumidores dos segmentos já

atendidos pela empresa15%

Novas regiões geográficas

19%

Redução da dependência dos

canais9%

Redução de custos9%

Maior nível de serviço9%

Reação a movimento da concorrência

5%

Mudança no comportamento de

compra11%

Solicitação do intermediário

3%

Outros4%

99

4.1.17. Gerenciamento dos Canais Diretos e Intermediários

Quadro 4.1.15.1 - Estratégias de Cobertura de Mercado

Estratégia de Coberturade Mercado Freqüência Freqüência

RelativaExclusiva 22 34,9%

Seletiva 15 23,8%Intensiva / Massificada 23 36,5%

NR 03 4,8%Total 63 100,0%

A estratégia de cobertura de mercado adotada apresenta distribuição bem

equilibrada, com presença pouco mais elevada das empresas que buscam cobertura

massificada (36,5%) e das empresas que optam por distribuição exclusiva (34,9%).

Estratégia de Cobertura de Mercado

Exclusiva35%

Seletiva24%

Intensiva / Massificada

36%

NR5%

100

Quadro 4.1.15.2 - Critérios de Divisão de Mercado

Critério de Divisão de Mercado Freqüência FreqüênciaRelativa

Não há 18 28,6%Por região geográfica 30 47,6%

Por tipo de cliente 19 30,2%Por tipo de produto 13 20,6%

Por tarefas executadas 0 0,0%Outras 02 3,2%

O critério mais utilizado de divisão de mercado entre os canais diretos e

intermediários pelas empresas é o geográfico (47,6%), seguido da divisão por tipo de

cliente (30,2%). A divisão geográfica é considerada uma das formas mais simples de

segmentação em função da facilidade para a delimitação de fronteiras entre os

intermediários.

É importante ressaltar que um percentual bastante significativo dos respondentes

(28,6%) disse não utilizar qualquer critério para delimitar a área de atuação de seus

canais diretos e intermediários.

Nenhum dos respondentes citou a divisão por tipo de tarefa executada, onde os

canais diretos e intermediários funcionariam como uma cadeia vertical, executando

atividades complementares e seqüenciais.

Critérios para a Divisão de Mercado entre os Canais de Distribuição

Por tipo de produto

16%

Por tipo de cliente23%

Outras2%

Por região geográfica

37%

Não há22%

101

Quadro 4.1.15.3 - Similaridade da Política de Preços

Similaridade da Política de Preços Freqüência FreqüênciaRelativa

Similar = 1 19 30,2%2 08 12,7%3 12 19,0%4 10 15,9%

Diferenciada = 5 06 9,5%NR 08 12,7%

Total 63 100,0%

Um percentual elevado (30,2%) de respondentes afirmou utilizar políticas de

preços totalmente similares. Este percentual foi de apenas 9,5% para os respondentes

que afirmaram utilizar políticas totalmente diferenciadas de preços.

Este grau de similaridade pode representar risco para as empresas e seus

intermediários. Diferentes intermediários possuem diferentes estratégias, capacidades e

limitações. Atacadistas tendem a exigir preços mais competitivos do que varejistas, em

função do conjunto de atividades que eles executam para os fabricantes. Ao praticar

políticas de preços similares para diferentes canais diretos e intermediários, a empresa

pode estar dando início a uma série de conflitos entre seus canais.

Similaridade da Política de Preços

Similar = 129%

213%3

19%

416%

Diferenciada = 510%

NR13%

102

Quadro 4.1.15.4 - Similaridade da Política Promocional

Similaridade da Política Promocional Freqüência FreqüênciaRelativa

Similar = 1 16 25,4%2 06 9,5%3 11 17,5%4 09 14,3%

Diferenciada = 5 09 14,3%NR 12 19,0%

Total 63 100,0%

Pouco mais de 25% dos respondentes afirmou praticar políticas totalmente

similares contra 14,3% que afirmou utilizar políticas totalmente diferenciadas.

Assim como no caso da política de preços, uma política promocional muito

similar pode representar risco na medida em que as necessidades dos diferentes canais

podem ser bastante distintas no que diz respeito ao suporte promocional fornecido pelos

fabricantes.

Este item foi o que obteve o mais alto percentual de não resposta do questionário

(19%), o que pode indicar maior dificuldade para coletar dados e avaliar tais políticas

por parte dos respondentes.

Similaridade da Política Promocional

Similar = 126%

210%

317%

414%

Diferenciada = 514%

NR19%

103

Quadro 4.1.15.5 - Conflitos entre Canais

Conflitos entre Canais Freqüência FreqüênciaRelativa

Inexistente 17 27,0%Medianos 28 44,4%

Intensos 14 22,2%NR 04 6,3%

Total 63 100,0%

A grande maioria dos respondentes (66,6%) admite a existência de conflitos

entre seus canais diretos e intermediários. A maior parte desses respondentes, no

entanto, afirma que estes conflitos são apenas medianos. A freqüência de respondentes

que afirmam não existir conflitos entre seus canais diretos e intermediários (27%) causa

alguma surpresa em função das respostas colhidas nas questões anteriores. É possível

que parte dos respondentes não disponha de ferramentas consistentes para detectar a

existência de conflitos, bem como para avaliar sua intensidade. Também é possível que

algumas empresas resistam a admitir a existência de conflitos, pois estes poderiam

indicar uma falha no gerenciamento de seus canais diretos e intermediários.

104

4.2. Teste de Hipóteses

H1. As políticas de distribuição adotadas por empresas brasileiras

localizadas no Estado do Rio de Janeiro estão associadas a determinadas

características das próprias empresas e de seus mercados de atuação.

Procurou-se testar, inicialmente, se as políticas de distribuição adotadas pelas

empresas estariam associadas a características das empresas e de seus mercados de

atuação. Foram testadas três políticas de distribuição: exclusiva, seletiva e intensiva.

Para o teste de hipóteses utilizou-se a análise discriminante múltipla, método

direto. Foi possível rejeitar a hipótese nula apenas para uma das funções discriminantes

(ver quadro 4.2.1). Obteve-se, para a função 1, um lambda de Wilks de 0,3607, qui-

quadrado de 42,828 e significância de 0,005, inferior, portanto, ao nível adotado de

0,05. No caso da função 2 não foi possível rejeitar a hipótese nula.

Quadro 4.2.1Teste de Hipótese H1

Função Lambda de Wilks Qui-Quadrado Significância01 0,3607 42,828 0,00502 1,7948 9,644 0,4722

Esses resultados indicam que dois, entre os três grupos analisados, apresentam

diferenças significativas entre si. Para verificar as diferenças específicas entre os

grupos, foi realizada uma análise discriminante simples dos grupos dois a dois, método

direto, para identificar quais dos três grupos de empresas, em função de suas políticas de

distribuição, apresentavam diferenças significativas entre si no que diz respeito às suas

características e de seus mercados de atuação. Os resultados da análise discriminante

dois a dois (ver quadro 4.2.2), utilizando o método direto, mostram, efetivamente, que

105

as diferenças só se mostram significativas para os grupos de empresas que praticam a

distribuição exclusiva versus as que praticam a distribuição intensiva.

As diferenças existentes entre os grupos de empresas que utilizam estratégias de

cobertura de mercado exclusivas e seletivas e entre os grupos que utilizam estratégias

seletivas e intensivas não estão associadas às características das empresas e de seus

mercados de atuação.

Quadro 4.2.2Teste de Hipótese H1 – Sub-Hipóteses 01 a 03

Sub-Hipóteses Estratégia de Cobertura Lambda deWilks

Qui-Quadrado Significância

01 Exclusiva x Seletiva 0,5828 12.688 0,314202 Seletiva x Intensiva 0,5828 12.688 0,314203 Exclusiva x Intensiva 0,2995 33.152 0,0005

Dessa forma, a hipótese 1 só pode ser rejeitada parcialmente, para o caso

específico da distribuição exclusiva comparada à intensiva. Trata-se, evidentemente, das

duas estratégias limítrofes, sendo a estratégia seletiva uma espécie de caso intermediário

entre as duas, o que pode explicar a não obtenção de resultados significativos quando se

compara a estratégia seletiva com as outras duas.

As variáveis que melhor discriminam as empresas que usam distribuição

exclusiva e intensiva são, nesta ordem, a necessidade de assistência técnica e

manutenção do consumidor final, o número de estados atendidos pelas empresas, o

número de clientes ativos das empresas, a necessidade de crédito do consumidor final e

a freqüência de compra do consumidor final. O quadro 4.2.3 apresenta as médias, os

desvios-padrão e os coeficientes discriminantes obtidos na análise. O valor do

106

coeficiente discriminante, independente de sinal, indica o maior ou menor poder da

variável em discriminar entre os grupos.

As empresas que adotam estratégias de cobertura mais intensiva tendem a

possuir maior número de clientes e a atender maior número de estados que as empresas

que adotam estratégias exclusivas. Sendo o objetivo da estratégia de cobertura intensiva

o de garantir presença no maior número possível de pontos de venda, parece lógico que

as empresas que a utilizem estejam presentes em mais estados e atendam a mais

clientes. Embora esta variável tenha menor poder discriminante, é interessante perceber

que as empresas com estratégias de distribuição intensivas são significativamente

maiores que as empresas com estratégias de distribuição exclusivas. Isto pode estar

associado ao enfoque estratégico adotado. Embora o uso de diferentes estratégias

competitivas genéricas (Porter, 1986) não tenha sido pesquisado no presente estudo, é

provável que as estratégias de distribuição exclusivas estejam associadas a estratégias

genéricas do tipo enfoque, geralmente praticadas por empresas menores, que escolhem

atender a um ou poucos segmentos de mercado. Por outro lado, o uso de estratégias de

distribuição intensivas sugere a adoção de estratégias de atendimento ao mercado total

(que poderiam ser tanto estratégias competitivas genéricas de diferenciação ou de

liderança de custo).

Os consumidores das empresas com estratégias intensivas tendem a necessitar de

menos assistência técnica e manutenção e menos crédito que os consumidores das

empresas com estratégias de cobertura exclusivas. Eles também compram com maior

freqüência e de forma menos planejada, embora esta última variável também tenha

menor poder discriminante. Isto sugere que as empresas que adotam distribuição

107

intensiva tendem a comercializar produtos de consumo de massa, enquanto as que

adotam distribuição exclusiva tendem a comercializar possivelmente produtos de

consumo de maior valor unitário, tais como bens duráveis, ou produtos industriais.

Tais conclusões são coerentes com a revisão bibliográfica. A freqüência de

compra mais elevada e a compra feita de forma pouco planejada estimulam as empresas

a buscar presença de seus produtos no maior número possível de pontos de venda para

garantir proximidade com o consumidor. A baixa necessidade de crédito e de assistência

técnica e manutenção também facilitam a ampliação do número e da variedade de

intermediários, ao colocar menos restrições técnicas e financeiras para a venda dos

produtos.

Quadro 4.2.3Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Hipótese 1

(Distribuição Exclusiva x Distribuição Intensiva)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01DistribuiçãoExclusiva

Grupo 02Distribuição

Intensiva

Grupo 01DistribuiçãoExclusiva

Grupo 02Distribuição

Intensiva

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 172 949 137 1.125 -0,12095

Nº de Clientes 530 5.616 919 10.994 0,91170 (3º)Nº de Estados 14 21 09 08 0,98864 (2º)Nº de Itens 785 685 1,234 1.609 -0,01697Crescimento domercado 1,44 1,74 1,09 3,99 -0,31897Estágio doCVP 3,13 2,95 0,62 0,40 0,08692Quantidadecomprada 2,69 2,53 1,45 0,96 -0,15483Freqüência decompra 2,88 3,11 1,45 1,29 0,52637 (5º)Forma decompra 4,31 3,42 1,25 1,54 0,21973Necessidadede crédito 3,56 2,00 1,50 1,56 -0,68826 (4º)Necessidadede assistênciatécnica

3,31 1,68 1,58 1,29 -1,02260 (1º)

108

H2. O uso de canais diretos por empresas brasileiras localizadas no Estado

do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias

empresas e de seus mercados de atuação.

A segunda hipótese foi subdividida em cinco sub-hipóteses, cada uma

relacionada com um dos canais diretos pesquisados. Para o teste das sub-hipóteses

utilizou-se a análise discriminante, método direto. Em cada teste foram utilizados dois

grupos: o de empresas que utilizavam esse canal direto e o de empresas que não o

utilizavam.

Os testes das sub-hipóteses permitiram rejeitar a hipótese nula em três das cinco

alternativas. A utilização de força de vendas própria e da Internet não parece estar

associada às características das empresas estudadas e de seus mercados de atuação. Os

resultados obtidos nos testes são apresentados no quadro 4.2.4.

Quadro 4.2.4Teste de Hipótese H2 – Sub-Hipóteses 2.1 a 2.5

Sub-Hipótese Canal de Distribuição Lambda de

Wilks Qui-Quadrado Significância

2.1 Força de VendasPrópria

0,8071 8,999 0,7030

2.2 Internet 0,6224 19,913 0,06882.3 Telemarketing 0,5205 27,241 0,00672.4 Catálogo 0,5631 24,116 0,01962.5 Mala-Direta 0,9000 5,006 0,0253

109

Utilização de Força de Vendas Própria

No que se refere ao teste da sub-hipótese 2.1, não foi possível rejeitar a hipótese

nula, não se tendo atingido o nível de significância de 0,05. Desta forma, não é possível

afirmar que as empresas que utilizam força de vendas própria se diferenciem das que

não utilizam em função de suas características próprias e das de seus mercados de

atuação.

Utilização da Internet

No que se refere ao teste da sub-hipótese 2.2, não foi possível rejeitar a hipótese

nula, não se tendo atingido o nível de significância de 0,05. Desta forma, não é possível

afirmar que as empresas que utilizam Internet se diferenciem das que não utilizam em

função de suas características próprias e das de seus mercados de atuação.

Utilização de Telemarketing

O telemarketing é utilizado como canal de distribuição por 27,0% das empresas

que compõem a amostra, indicando a rápida aceitação que ele vem obtendo entre as

empresas brasileiras.

O teste da sub-hipótese 2.3, utilizando a análise discriminante, permitiu rejeitar a

hipótese nula, com uma probabilidade de 0,0067, superior ao nível de significância

adotado. Assim sendo, também com relação às empresas que utilizam telemarketing

como canal de distribuição direto, pode-se afirmar que essas se diferenciam das que não

o utilizam por suas características e de seus mercados de atuação.

110

As principais variáveis discriminantes para as empresas que utilizam este canal

são, em ordem decrescente de poder discriminante, o número de clientes ativos da

empresa, a freqüência de compra do consumidor final, a extensão da linha de produtos

da empresa, a necessidade de crédito do consumidor final e o número de estados

atendidos pela empresa. O quadro 4.2.5 apresenta as médias, os desvios-padrão e os

coeficientes discriminantes utilizados na análise.

As empresas que utilizam o telemarketing como canal de distribuição tendem a

possuir um número maior de clientes cadastrados e a atender um número maior de

estados do que aquelas que não o utilizam. O uso de telemarketing pode estar associado

à busca por reduções de custos no atendimento a clientes, principalmente na etapa de

negociação (especialmente quando elas forem rotineiras). Tal fato parece ser

confirmado pela freqüência de compra mais elevada por parte dos consumidores das

empresas que utilizam este canal, associado ao pequeno volume de compras dos

consumidores (embora esta variável tenha menor poder discriminante).

Outro fator que contribui para a confirmação deste argumento é o de que as

empresas que utilizam este canal também tendem a trabalhar com linhas de produtos

significativamente mais amplas do que as não-usuárias. Utilizando o telemarketing, a

empresa pode concretizar vendas sem a necessidade de manutenção de estoques

próximos ao local de consumo, o que tende a se tornar mais oneroso com a ampliação

da linha de produtos.

Finalmente, outra variável que distingue empresas que utilizam o telemarketing

é a necessidade de crédito mais reduzida. Levando em consideração que as compras

realizadas pelos consumidores finais tendem a ocorrer com alta freqüência e em

111

pequenas quantidades, é possível concluir que a necessidade de crédito dos mesmos seja

pequena, em termos absolutos, já que o valor financiado tende a ser pequeno.

Quadro 4.2.5Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 3

(Utilização de Telemarketing)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 426 720 559 1.205 -0,48663

Nº de Clientes 1.853 5.346 2.531 12.933 1,20150 (1º)Nº de Estados 17 22 10 06 0,64320 (5º)Nº de Itens 693 3.491 1.316 6.803 0,90138 (3º)Estratégia deCobertura 2,03 2,14 0,88 0,77 -0,56493Crescimento domercado 1,56 1,71 0,96 1,07 -0,34638Estágio doCVP 3,08 2,71 0,50 0,47 -0,23188Quantidadecomprada 2,78 2,71 1,20 1,49 -0,27847Freqüência decompra 2,89 3,43 1,30 1,28 1,04656 (2º)Forma decompra 3,81 3,93 1,49 1,07 0,30796Necessidadede crédito 2,97 2,79 1,70 1,25 -0,66303 (4º)Necessidade deassistênciatécnica

2,39 2,71 1,59 1,44 -0,08830

Utilização de Catálogos

As empresas pesquisadas fazem uso bastante limitado de catálogos. Apenas 8%

das empresas pesquisadas afirmaram utilizar esta modalidade de canal. Ele pode

enfrentar uma série de restrições no mercado brasileiro em função de questões como

112

falta de infra-estrutura adequada para garantir níveis de serviço satisfatórios e o

conseqüente aumento dos custos e da desconfiança dos consumidores.

O teste da sub-hipótese 2.4 permitiu rejeitar a hipótese nula, obtendo-se lambda

de Wilks de 0,5631, qui-quadrado de 24,116, com probabilidade de 0,0196 de se haver

erroneamente rejeitado a hipótese nula (inferior, portanto, ao nível de significância de

0,05 adotado no estudo). Pode-se afirmar, portanto, que as empresas que utilizam

catálogos se diferenciam das que não utilizam a partir de certas características próprias e

de seus mercados de atuação.

As variáveis que melhor discriminam os usuários deste canal de distribuição

direto são, em ordem decrescente de poder discriminante, a quantidade comprada pelo

consumidor final, a extensão da linha de produtos da empresa, a forma de compra do

consumidor final, o estágio do produto no ciclo de vida, e a necessidade de crédito do

consumidor final. O quadro 4.2.6 apresenta as médias, os desvios-padrão e os

coeficientes discriminantes utilizados na análise.

As diferenças entre usuários e não-usuários deste canal de distribuição foram

bastante significativas. Os consumidores finais destas empresas compram grandes

quantidades dos produtos, de forma planejada e com grande necessidade de crédito. A

freqüência de compra também tende a ser mais elevada, embora esta variável tenha

apresentado menor poder discriminante.

Tais características, associadas ao baixo número de empresas que utilizam

catálogos, podem sugerir que sua utilização esteja associada à venda para mercados

industriais ou institucionais. É possível que a utilização do catálogo surja para suprir

113

deficiências na distribuição para regiões mais remotas e com menor densidade de

clientes.

Este argumento é reforçado se levarmos em consideração que os produtos

comercializados por estas empresas encontram-se, em geral, na fase de maturidade e

com crescimento estável da demanda (embora esta variável possua menor poder

discriminante), o que pode trazer uma preocupação maior com redução dos custos de

distribuição e entrega de produtos apenas sob encomenda.

As empresas que utilizam catálogos trabalham com linhas de produtos mais que

cinco vezes mais amplas que as das empresas que não os utilizam. Esta característica é

consistente com a análise até aqui realizada. Empresas que atendem a mercados

institucionais e industriais, fornecendo peças e acessórios, tendem a trabalhar com

linhas mais amplas. A amplitude da linha acaba tornando o uso de catálogos ainda mais

vantajoso, em função do custo proibitivo de manter estoques ao longo do canal.

Finalmente, é interessante notar que as empresas que utilizam este canal tendem

a ser bem menores e a possuir menos clientes que aquelas que não o utilizam. Embora

estas variáveis tenham baixo poder discriminante, elas podem indicar que empresas de

pequeno porte podem recorrer a catálogos em função da dificuldade de acesso aos

canais tradicionais e que esta modalidade pode fazer mais sentido para empresas cuja

base de clientes seja bem reduzida.

114

Quadro 4.2.6Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 4

(Utilização de Catálogos)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 530 168 811 202 -0,27285

Nº de Clientes 2.989 350 7.374 278 0,22453Nº de Estados 18 15 09 10 0,35292Nº de Itens 1.143 6.706 2.907 11.512 0,85230 (2º)Estratégia deCobertura 2,06 2,00 0,84 1,00 0,13134Crescimento domercado 1,64 1,00 0,98 1,00 -0,046754Estágio doCVP 2,96 3,33 0,51 0,58 0,54173 (4º)Quantidadecomprada 2,66 4,33 1,22 1,15 1,22473 (1º)Freqüência decompra 3,02 3,33 1,31 1,53 -0,41890Forma decompra 3,77 5,00 1,39 0,00 0,56486 (3º)Necessidade decrédito 2,85 4,00 1,59 1,00 -0,47752 (5º)Necessidade deassistênciatécnica

2,44 2,00 1,57 1,00 0,04305

Utilização de Mala-Direta

A mala-direta é utilizada por apenas 14,3% das empresas da amostra. Este canal

provavelmente enfrenta os mesmos tipos de restrições enfrentadas pela venda por

catálogo para conquistar maior aceitação por parte dos consumidores e das próprias

empresas.

O teste da sub-hipótese 2.5 permitiu rejeitar a hipótese nula, com uma

probabilidade de 0,0253 de rejeição errônea da mesma, o que sugere que as empresas

115

que utilizam mala direta em sua distribuição podem se diferenciar das que não utilizam

essa modalidade.

As variáveis que melhor discriminam as empresas que utilizam das que não

utilizam mala direta são, nesta ordem, a necessidade de crédito do consumidor final, o

número de funcionários da empresa, a taxa de crescimento do mercado, a estratégia de

cobertura de mercado e a extensão da linha de produtos da empresa. O quadro 4.2.7

apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na

análise.

As empresas que utilizam mala-direta apresentam porte significativamente

menor que aquelas que não utilizam este canal. Esta variável pode estar associada com a

dificuldade que empresas de menor porte tendem a encontrar para ter acesso aos canais

diretos e intermediários tradicionais.

A estratégia de cobertura destas empresas é menos intensiva do que as das

demais empresas. É possível que elas atendam a nichos de mercado bem delimitados.

Esta suposição pode ser confirmada pela menor base de clientes que estas empresas

possuem (apesar desta variável possuir baixo poder discriminante).

Estas empresas trabalham com linhas de produtos mais extensas, o que parece

ser um traço em comum das empresas que utilizam canais não-tradicionais de

distribuição. Linhas de produtos amplas, aparentemente, tendem a inibir a utilização de

canais diretos e intermediários tradicionais, possivelmente em função de dificuldades

relacionadas à manutenção de um grande sortimento de produtos em estoque.

Os consumidores finais de seus produtos também possuem grande necessidade

de fornecimento de crédito. Este fato pode estar associado ao volume de compras mais

116

elevado dos usuários deste canal (embora esta variável possua baixo poder

discriminante). Aliás, é interessante notar que existe uma clara distinção entre o

comportamento dos consumidores finais das empresas usuárias e não-usuárias deste

canal. Além das variáveis já mencionadas, estes consumidores tendem a comprar com

maior freqüência, a realizar suas compras de forma planejada e a possuir grande

necessidade de assistência técnica.

Por fim, cabe mencionar que o mercado em que tais empresas atuam apresentam

taxas de crescimento inferiores às dos mercados de atuação das empresas que não

utilizam mala-direta.

Quadro 4.2.7Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 5

(Utilização de Mala-Direta)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 573 112 835 130 -0,46335 (2º)

Nº de Clientes 3.203 546 7.680 584 -0,14800Nº de Estados 18 17 09 07 0,10980Nº de Itens 1.211 3.107 3.032 7.456 0,38539 (5º)Estratégia deCobertura 2,09 1,85 0,84 0,90 0,44749 (4º)Crescimentodo mercado 1,67 1,14 0,97 1,07 -0,46065 (3º)Estágio doCVP 2,97 3,00 0,51 0,58 -0,15698Quantidadecomprada 2,70 3,14 1,23 1,57 0,31355Freqüência decompra 3,02 3,14 1,35 1,07 -0,25096Forma decompra 3,72 4,57 1,42 0,79 0,20120Necessidadede crédito 2,72 4,14 1,59 0,69 0,46823 (1º)Necessidadede assistênciatécnica

2,37 3,14 1,56 1,35 0,29502

117

H3. O uso de intermediários por empresas brasileiras localizadas no Estado

do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias

empresas e de seus mercados de atuação.

A terceira hipótese foi subdividida em seis sub-hipóteses, cada uma relacionada

com um dos intermediários pesquisados. Para o teste das sub-hipóteses utilizou-se a

análise discriminante, método direto. Em cada teste foram utilizados dois grupos: o de

empresas que utilizavam esse intermediário e o de empresas que não o utilizavam.

Os testes das sub-hipóteses permitiram rejeitar a hipótese nula em cinco das seis

alternativas. A utilização de representantes independentes não parece estar associada às

características das empresas estudadas e de seus mercados de atuação. Os resultados

obtidos nos testes são apresentados no quadro 4.2.8.

Quadro 4.2.8Teste de Hipótese H2 – Sub-Hipóteses 3.1 a 3.6

Sub-Hipótese Canal de Distribuição Lambda de

Wilks Qui-Quadrado Significância

3.1 Atacadistas 0,5159 27,795 0,00593.2 Varejistas 0,4092 37,256 0,00023.3 Franquias 0,7476 13,819 0,00023.4 Supermercado 0,2639 55,946 0,00003.5 Representantes

Independentes0,8167 8,503 0,7447

3.6 Lojas Especializadas 0,7299 14,800 0,0006

Utilização de Atacadistas

Mais de metade (55,5%) das empresas estudadas utiliza atacadistas para

distribuir seus produtos, sendo que 23,8% afirmaram fazer grande utilização deste canal.

Este canal provavelmente adquire grande importância para as empresas em função da

118

sua capacidade de prover ampla cobertura geográfica para seus produtos e da sua

capacidade para adquiri-los em grandes lotes, representando uma boa oportunidade para

o escoamento da produção a um custo mais reduzido.

Foi possível rejeitar a hipótese nula, no caso da sub-hipótese 3.1, obtendo-se

lambda de Wilks de 0,5159, qui-quadrado de 27,795 e probabilidade de 0,0059 de

rejeição errônea da hipótese nula. Desta forma, pode-se afirmar que existem diferenças

significativas entre as empresas que utilizam e as que não utilizam atacadistas em

função de suas características próprias e das de seus mercados de atuação.

As variáveis que melhor discriminaram os grupos de usuários e não-usuários

deste canal foram, respectivamente, a estratégia de cobertura de mercado, a necessidade

de assistência técnica e manutenção do consumidor final, o número de clientes ativos, o

número de estados atendidos e a necessidade de crédito do consumidor final. O quadro

4.2.9 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados

na análise.

As empresas que utilizam atacadistas tendem a possuir uma estratégia de

cobertura mais intensiva, uma menor base de clientes, a atuar em maior número de

estados e a possuir clientes com menor necessidade de crédito e de assistência técnica e

manutenção.

O canal atacadista proporciona às empresas que o utilizam grande capacidade de

penetração de mercado com investimentos mais reduzidos, já que ele, geralmente, conta

com estrutura especializada para o atendimento a clientes institucionais, que inclui força

de vendas e estruturas para armazenagem (Rosenbloom, 1998).

119

Esta capacidade permite que as empresas conjuguem cobertura geográfica mais

ampla e base mais restrita de clientes. As empresas que utilizam atacadistas atendem,

em média, aproximadamente 20 estados (contra 15 das empresas que não utilizam o

canal) e possuem uma média de apenas 2.710 clientes (contra 3.028 das empresas que

não utilizam o canal).

Tais argumentos se tornam mais fortes ao levarmos em consideração a extensão

do território e o elevado grau de pulverização do varejo brasileiro, que servem como

estímulo adicional para a utilização de atacadistas. A combinação de grande quantidade

de clientes, com pequenos lotes de compras, baixa concentração geográfica e elevada

distância entre produtores e mercados consumidores favorece a utilização de canais

mais longos, onde os atacadistas atuariam como um dos níveis (Mallen, 1996;

Meinberg, s/d; Cobra, 1994).

O único resultado que se encontra em aparente contradição com as informações

coletadas na revisão da bibliografia seria o relacionado ao número de clientes ativos. Os

autores pesquisados sugerem que uma base mais ampla de clientes estimula a utilização

de canais mais longos. No entanto, a pesquisa de campo identificou que as empresas que

utilizam atacadistas possuem menos clientes ativos.

É importante ressaltar que não há, necessariamente, contradição neste fato. A

pesquisa de campo inquiriu as empresas sobre o número de clientes por elas diretamente

atendidos, e não sobre o número total de clientes existentes no mercado. A utilização de

atacadistas permite que as empresas trabalhem com uma base menor de clientes, já que

o canal assume a responsabilidade pela cobertura do mercado.

120

A necessidade de assistência técnica e manutenção e a necessidade de crédito

foram duas outras variáveis discriminantes que mostraram maior poder explanatório a

respeito do uso do canal atacadista. Os consumidores finais dos produtos destas

empresas requerem menos crédito (média de 2,68 contra 3,32 em uma escala de 01 a

05) e menos assistência técnica e manutenção (média de 1,94 contra 3,37 em uma escala

de 01 a 05) do que os das empresas que não utilizam atacadistas.

Tais informações são consistentes com as encontradas na revisão bibliográfica.

Embora o fornecimento de crédito e a assistência técnica para os consumidores

encontrem-se justamente entre as atividades tipicamente exercidas pelo canal de

distribuição (Day, 1990), a utilização de canais mais longos (e, portanto, de atacadistas)

tende a ocorrer quando os produtos possuem baixa complexidade, que requerem menor

assistência técnica, e quando as empresas possuem pequena capacidade financeira e,

portanto, menor capacidade de fornecimento de crédito (Meinberg, s/d; Cobra, 1994).

Cabe ressaltar que o método de distribuição atacadista tende a estar associado à

utilização de outras modalidades de distribuição. Através da análise de correlação de

Spearman, foi possível verificar a existência de associação significativa (superior ao

nível de significância adotado de 0,05) entre a utilização de atacadistas com o uso de

varejistas (r = 0,635), supermercados (r = 0,555) e lojas especializadas (r = 0,352).

121

Quadro 4.2.9Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 1

(Utilização de Atacadistas)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 363 598 1.004 628 0,18098

Nº de Clientes 3.028 2.710 11.385 2.496 -0,48367 (3º)Nº de Estados 15 20 09 08 0,38357 (4º)Nº de Itens 1.634 1.380 4.528 3.518 -0,10217Estratégia deCobertura 1,42 2,45 0,61 0,72 0,85510 (1º)Crescimentodo mercado 1,58 1,61 0,96 1,02 0,09866Estágio doCVP 3,00 2,97 0,58 0,48 0,12752Quantidadecomprada 2,68 2,81 1,57 1,08 0,14069Freqüência decompra 2,79 3,19 1,47 1,19 0,00945Forma decompra 4,21 3,61 1,27 1,41 0,12021Necessidadede crédito 3,32 2,68 1,42 1,64 0,38221 (5º)Necessidadede assistênciatécnica

3,37 1,94 1,57 1,26 -0,55368 (2º)

Utilização de Varejistas

O canal varejista é utilizado por 50,8% das empresas que compõem a amostra. A

pesquisa ainda aponta que 37,1% das empresas utilizam este canal de forma intensa.

Este canal vem adquirindo grande importância dentro da economia em geral e da

brasileira, em particular.

De modo geral, é possível observar acelerado processo de concentração do

varejo nas principais economias do mundo, acompanhado de gradual processo de

ocupação de espaços e atividades antes executadas pelos atacadistas. O conseqüente

122

crescimento do seu poder de barganha junto à indústria em geral dele faz passagem

obrigatória para quem pretende garantir presença junto aos consumidores finais.

No Brasil, embora esta tendência também esteja presente, ainda é possível

observar grande pulverização do comércio varejista. Esta característica torna a sua

utilização necessária para as indústrias (em função da possibilidade de maior cobertura

de mercado), embora também exija grandes investimentos (em função da estrutura de

comercialização e distribuição necessária para o seu atendimento).

No que se refere ao teste da sub-hipótese 3.2, foi possível rejeitar a hipótese

nula, obtendo-se lambda de Wilks de 0,4092, qui-quadrado de 37,256 e probabilidade

de 0,0002 de rejeição errônea da hipótese nula. Assim sendo, pode-se afirmar que as

empresas que utilizam varejistas em sua distribuição diferenciam-se daquelas que não

os utilizam em função de certas características próprias e de seus mercados de atuação.

As variáveis que melhor discriminam os usuários do canal varejista são a

estratégia de cobertura de mercado, o número de clientes ativos da empresa, a

quantidade comprada pelo consumidor final, o número de funcionários da empresa e a

forma de compra do consumidor final. O quadro 4.2.10 apresenta as médias, os desvios-

padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise.

Assim como no caso do canal atacadista, as empresas que utilizam varejistas

tendem a possuir uma estratégia de cobertura mais intensa que aquelas que não o

utilizam. Parece clara a necessidade, para uma empresa que deseja possuir uma

cobertura intensa no mercado brasileiro, a necessidade de ter seus produtos expostos

neste canal, que possui grande capilaridade.

123

Além disso, estas empresas tendem a possuir um número maior de clientes

ativos e de funcionários. A explicação para a base mais extensa de clientes parece estar

claramente vinculada à própria pulverização do mercado varejista. No entanto, ao

analisarmos a questão do maior porte destas empresas, é possível encontrar justificativas

na necessidade de uma estrutura mais complexa para o atendimento do mercado

(incluindo estrutura comercial e de distribuição) e na dificuldade que muitas empresas

de menor porte encontram (inclusive por não possuir reputação no mercado) para

conseguir espaço nas gôndolas dos grandes varejistas.

Quadro 4.2.10Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 2

(Utilização de Varejistas)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 335 656 915 649 -0,28230 (4º)

Nº de Clientes 2.607 3.022 10.362 2.461 0,82709 (2º)Nº de Estados 15 21 09 08 -0,18428Nº de Itens 1.383 1.557 4.189 3.694 0,08708Estratégia deCobertura 1,48 2,56 0,66 0,64 -1,04888 (1º)Crescimento domercado 1,61 1,59 0,94 1,05 0,14908

Estágio do CVP 3,00 2,96 0,60 0,44 0,08803Quantidadecomprada 3,17 2,41 1,64 0,69 0,51561 (3º)Freqüência decompra 3,22 2,89 1,54 1,09 0,19289Forma decompra 4,39 3,37 1,16 1,39 0,20450 (5º)Necessidade decrédito 3,52 2,41 1,41 1,55 -0,12097Necessidade deassistênciatécnica

3,13 1,93 1,49 1,38 -0,04009

124

A quantidade comprada pelo consumidor final e o seu comportamento de

compra (planejada versus por impulso) também discriminam as empresas usuárias do

canal varejista. Este canal tende a ser usado por empresas cujos consumidores compram

em menores quantidades e de forma menos planejada que os consumidores das

empresas que não o utilizam. Se levarmos em consideração que uma das funções do

varejista é a de quebrar os pedidos em lotes menores para viabilizar a aquisição por

parte dos consumidores finais, parece lógico que ele seja mais utilizado por empresas

cujos clientes compram em lotes menores. Da mesma forma, compras de menor volume

tendem a ser feitas de forma rotineira, com pouco planejamento e esforço por parte do

consumidor final.

Através da análise da correlação de Spearman, podemos verificar ainda que a

utilização de varejistas está positiva e significativamente associada à utilização de

atacadistas (r = 0,635), que provavelmente atuam como intermediários no

relacionamento destes com a indústria, e negativa e significativamente associada à

utilização de força de vendas própria (r = -0,372), cuja manutenção provavelmente se

torna antieconômica quando a base de clientes se torna muito extensa.

Utilização de Franquias

As franquias são utilizadas como canais de distribuição por 7,9% das empresas

que compõem a amostra. Seu uso limitado pode estar associado à maior complexidade

gerencial que este modelo requer, bem como à necessidade de maior investimento na

construção de marcas capazes de atrair o interesse de possíveis franqueados.

125

O teste da sub-hipótese 3.3 permitiu rejeitar a hipótese nula, com lambda de

Wilks de 0,7476, qui-quadrado de 13,819, com probabilidade de 0,0002 de rejeição

errônea da hipótese nula. As empresas usuárias de franquias podem ser diferenciadas,

portanto, das não usuárias a partir de suas características e das de seus mercados de

atuação.

As principais variáveis discriminantes para as empresas que utilizam este canal

são, em ordem decrescente de poder discriminante, a extensão da linha de produtos da

empresa, a estratégia de cobertura de mercado, a quantidade comprada pelo consumidor

final, a necessidade de assistência técnica e manutenção do consumidor final e o número

de clientes ativos da empresa. É possível perceber, no entanto, que os grupos de

usuários e não-usuários não apresentam diferenças muito expressivas na maior parte das

variáveis. O quadro 4.2.11 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes

discriminantes utilizados na análise.

A variável que melhor distingue as empresas que utilizam franquias das que não

utilizam é a amplitude da linha de produtos da empresa. As empresas que utilizam

franquias tendem a possuir linhas de produtos quase dez vezes mais amplas do que as

empresas que não utilizam este canal. A utilização de franquias, então, pode estar

associada a uma preocupação de certas empresas em garantir maior comprometimento

(inclusive contratualmente) de seus intermediários no esforço de vendas de toda a sua

linha de produtos.

As empresas que utilizam franquias tendem a possuir uma base de clientes

ligeiramente maior que as das empresas que não utilizam este canal. Do mesmo modo,

seus consumidores finais tendem a comprar lotes maiores e a necessitar de maior

126

assistência técnica e manutenção, embora suas médias não sejam elevadas. Suas

estratégias de cobertura também tendem a ser mais intensivas que as de empresas não

usuárias do canal.

Quadro 4.2.11Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 3

(Utilização de Franquias)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 493 757 802 666 0,18236

Nº de Clientes 2.828 2.867 7.380 2.802 -0,24875 (5º)Nº de Estados 18 22 09 08 0,05706Nº de Itens 988 9.133 2.778 9.972 0,94111 (1º)Estratégia deCobertura 2,02 2,67 0,85 0,58 0,49230 (2º)Crescimentodo mercado 1,57 2,00 0,99 1,00 -0,13512Estágio doCVP 3,00 2,67 0,51 0,58 -0,18914Quantidadecomprada 2,74 3,00 1,29 1,00 0,34460 (3º)Freqüência decompra 3,04 3,00 1,33 1,00 -0,20018Forma decompra 3,85 3,67 1,38 1,53 0,10016Necessidadede crédito 2,94 2,67 1,59 1,53 -0,23257Necessidadede assistênciatécnica

2,47 2,67 1,57 1,15 0,33789 (4º)

Utilização de Supermercados

O supermercado é utilizado por 30,2% das empresas pesquisadas. A participação

mais reduzida deste método de distribuição por parte das empresas provavelmente está

associada ao escopo mais restrito de linhas de produtos comercializadas através dele.

Este argumento é evidenciado no quadro 4.3.4, onde vemos que as empresas que

127

utilizam supermercados tendem a possuir linhas de produtos mais estreitas do que as

que não o utilizam.

No que se refere ao teste da sub-hipótese 3.4, foi possível rejeitar a hipótese

nula, obtendo-se lambda de Wilks de 0,4092, qui-quadrado de 37,256 e probabilidade

de 0,0002 de rejeição errônea da hipótese nula. Assim, pode-se afirmar que as empresas

que utilizam supermercados se diferenciam de suas congêneres que não os utilizam em

função de suas características e de seus mercados de atuação.

As variáveis que melhor discriminam as empresas que o utilizam são o número

de clientes ativos da empresa, a estratégia de cobertura do mercado, o número de

funcionários da empresa, a quantidade comprada pelo consumidor final e o número de

estados atendidos pela empresa. O quadro 4.2.12 apresenta as médias, os desvios-padrão

e os coeficientes discriminantes obtidos na análise.

A estratégia de cobertura mais intensa por parte das empresas que utilizam

supermercados é coerente com a base mais ampla de clientes que estas empresas

possuem e com o maior número de estados atendidos, assim como o já verificado uso

simultâneo de outros métodos de distribuição.

As empresas que utilizam supermercados têm um número de funcionários mais

que duas vezes maior que as empresas que não os utilizam, sugerindo que as empresas

de menor porte podem enfrentar aqui as mesmas barreiras já discutidas na análise do

uso de varejistas para escoar seus produtos.

A quantidade comprada pelo consumidor final tende a ser menor que a

comprada pelos consumidores de empresas que não utilizam supermercados. Embora a

128

variável taxa de crescimento de mercado não tenha apresentado um dos maiores

coeficientes discriminantes nesta análise, é possível perceber que as empresas que o

utilizam tendem a estar situadas em mercados com crescimento mais acelerado, embora

este crescimento seja inferior a 5% ao ano.

Quadro 4.2.12Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 4

(Utilização de Supermercados)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 332 884 761 741 -0,90256 (3º)

Nº de Clientes 2.468 3.602 8.553 2.497 1,22911 (1º)Nº de Estados 17 20 09 09 0.62908 (5º)Nº de Itens 1.807 774 4.554 1.733 0,44025Estratégia deCobertura 1,65 2,94 0,69 0,25 -1,22738 (2º)Crescimentodo mercado 1,44 1,94 0,96 1,00 -0,51836Estágio doCVP 3,00 2,94 0,55 0,44 -0,00703Quantidadecomprada 2,91 2,44 1,44 0,73 0,74222 (4º)Freqüência decompra 3,00 3,13 1,37 1,20 -0,12228Forma decompra 4,15 3,19 1,21 1,52 0,32745Necessidadede crédito 3,44 1,81 1,35 1,47 -0,12456Necessidadede assistênciatécnica

2,91 1,56 1,52 1,15 -0,24201

Utilização de Representantes Independentes

No que se refere ao teste da sub-hipótese 3.5, não foi possível rejeitar a hipótese

nula, não se tendo atingido o nível de significância de 0.05. Desta forma, não é possível

afirmar que as empresas que utilizam representantes independentes se diferenciem das

129

que não utilizam em função de suas características próprias e das de seus mercados de

atuação.

Utilização de Lojas Especializadas

As lojas especializadas são utilizadas como métodos de distribuição por 36,5%

das empresas que compõem a amostra, sendo que 17,5% das empresas afirmaram fazer

uso intenso deste canal.

O teste da sub-hipótese 3.6 permitiu rejeitar a hipótese nula, com uma

probabilidade de 0,0006 de rejeição errônea da mesma, o que sugere que as empresas

usuárias de lojas especializadas em seus canais de distribuição podem se diferenciar das

que não utilizam essa modalidade.

As variáveis que melhor discriminam as empresas que utilizam este canal são,

nesta ordem, a estratégia de cobertura de mercado, a forma de compra do consumidor

final, a necessidade de crédito do consumidor final, o número de clientes ativos da

empresa e a quantidade comprada pelo consumidor final. O quadro 4.2.13 apresenta as

médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise.

É possível perceber que, embora as empresas que utilizam lojas especializadas

possuam uma estratégia de cobertura de mercado mais intensiva, elas possuem menos

clientes cadastrados que as não usuárias deste canal. Este fato talvez possa ser explicado

pelo uso simultâneo de mais de um canal de distribuição. O consumidor final dos

produtos comercializados através das lojas especializadas tende a comprar volumes

menores, a necessitar de menos crédito e a comprar de forma menos planejada que os

consumidores das empresas que não usam lojas especializadas.

130

Embora estas variáveis tenham menor poder discriminante, foi possível verificar

que as empresas que utilizam as lojas especializadas possuem maior cobertura

geográfica (consistente com a estratégia de distribuição mais intensiva) e uma linha de

produtos mais extensa que as não-usuárias. Esta última variável pode influenciar o uso

de lojas especializadas na medida em que essa modalidade pode fornecer maior apoio

de vendas.

Quadro 4.2.13Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 6

(Utilização de Lojas Especializadas)Médias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

Grupo 01Não-

Usuários

Grupo 02Usuários

CoeficientesDiscriminantes

Nº deEmpregados 447 601 869 668 -0,10391

Nº de Clientes 2.972 2.618 9.143 2.242 -0,37195 (4º)Nº de Estados 15 23 09 06 0,31637Nº de Itens 820 2.460 1.616 5.772 0,33556Estratégia deCobertura 1,80 2,45 0,85 0,69 0,80405 (1º)Crescimento domercado 1,63 1,55 0,93 1,10 -0,20878

Estágio do CVP 2,93 3,05 0,52 0,51 0,26515Quantidadecomprada 3,00 2,40 1,36 1,05 -0,34594 (5º)Freqüência decompra 3,20 2,80 1,40 1,15 0,04845Forma decompra 4,33 3,10 1,06 1,48 -0,68667 (2º)Necessidade decrédito 3,07 2,70 1,64 1,49 0,37879 (3º)Necessidade deassistênciatécnica

2,73 2,10 1,68 1,25 0,14668

131

Verificou-se, ainda, utilizando-se o índice de correlação de Spearman, que o uso

de lojas especializadas está associado ao uso de atacadistas (r = 0,352), varejistas (r =

0,495), supermercados (r = 0,259), catálogos (r = 0,252) e telemarketing (r = 0,335). Ele

também está inversamente associado à utilização de força de vendas própria (r = -

0,274).

H4. O uso de estratégias de multi-canais por empresas brasileiras

localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas

características das próprias empresas e de seus mercados de atuação.

A quarta hipótese foi testada através de análise discriminante, método direto. As

empresas foram divididas em dois grupos: as que utilizam estratégias de multi-canais e

as que não utilizam tal estratégia.

O teste de hipótese não permitiu rejeitar a hipótese nula. Obteve-se um lambda

de Wilks de 0,614, qui-quadrado de 20,497 e significância de 0,058, ligeiramente

superior, portanto, ao nível adotado de 0,05. Os resultados obtidos no teste são

apresentados no quadro 4.2.14.

Quadro 4.2.14Teste de Hipótese H4

Função Lambda de Wilks Qui-Quadrado Significância01 0,614 20,497 0,058

Embora os resultados não tenham atingido o nível de significância estabelecido,

a proximidade com o mesmo sugere a provável existência de uma associação entre o

uso ou não de estratégia de multi-canais e as características das empresas, de seus

132

mercados de atuação e suas políticas de distribuição. É possível que o tamanho da

amostra tenha dificultado a obtenção de resultados significativos.

Com o propósito de refinar a análise, realizou-se uma análise discriminante

passo a passo, que permite lidar melhor com as restrições relativas ao tamanho da

amostra. Nessa análise são selecionadas apenas as variáveis que melhor discriminam

entre os grupos. As demais variáveis que estejam correlacionadas com essas são

suprimidas da análise.

Os resultados obtidos com a análise passo a passo permitiram rejeitar a hipótese

nula, obtendo-se um lambda de Wilks de 0,744, qui-quadrado de 13,868, com 2 graus

de liberdade e probabilidade de 0,001 de rejeição errônea da hipótese nula (ver quadro

4.2.15).

Apenas duas variáveis foram selecionadas: número de estados de atuação da

empresa e políticas de distribuição, nesta ordem. As empresas que utilizam estratégias

de multi-canais tendem a atender maior número de estados. Seu coeficiente

discriminante, contudo, é ligeiramente inferior ao da segunda variável, políticas de

distribuição. As empresas que utilizam estratégias de multi-canais, de forma consistente,

utilizam mais políticas de distribuição intensiva do que as que não utilizam essas

estratégias.

133

Quadro 4.2.15Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Hipótese 4

Método passo a passoMédias Desvios-Padrão

VariávelDiscriminante Grupo 01

Multicanal

Grupo 02Não

Multicanal

Grupo 01Multicanal

Grupo 02Não

Multicanal

CoeficientesDiscriminantes

Nº de Estados 20 12 08 08 0,630Estratégia deCobertura 2,27 2,19 0,84 2,36 0,661

H5: A intensidade percebida dos conflitos entre os canais de distribuição às

características a determinadas características das próprias empresas, de seus

mercados de atuação e de suas políticas de distribuição.

Das empresas pesquisadas, 42 (66,7%) afirmaram que existe algum tipo de

conflito entre seus canais diretos e intermediários. Destas, apenas 14 (22,2%) afirmaram

que os conflitos entre seus canais são intensos.

O teste de hipóteses, realizado através de analise discriminante com método

direto, não permitiu rejeitar a hipótese nula (ver quadro 4.2.16). Logo, a intensidade

percebida dos conflitos entre os canais diretos e intermediários não parece estar

associada às políticas de distribuição adotadas pelas empresas.

Quadro 4.2.16Teste de Hipótese H5

Grupos Lambda de Wilks Qui-Quadrado Significância01 0,3273 42.440 0,151802 1,7415 11.367 0,7863

134

Quadro 4.2.17Síntese dos Testes de Hipóteses – Principais Variáveis Discriminantes

Hipótese Sub-Hipótese Descrição Variáveis DiscriminantesNecessidade de Assistência Técnica

Nº de EstadosNº de Clientes

Necessidade de CréditoH1 03

Estratégias ExclusivasX

Estratégias IntensivasFreqüência de Compra

Nº de ClientesFreqüência de Compra

Nº de ItensNecessidade de Crédito

H2 03 Utilização de Telemarketing

Nº de Estados

Quantidade CompradaNº de Itens

Forma de CompraCiclo de Vida do Produto

H2 04 Utilização de Catálogos

Necessidade de Crédito

Necessidade de CréditoNº Empregados

Crescimento do MercadoEstratégia de Cobertura

H2 05 Utilização de Mala-Direta

Nº de Itens

Estratégia de CoberturaNecessidade de Assistência Técnica

Nº de ClientesNº de Estados

H3 01 Utilização de Atacadistas

Necessidade de Crédito

Estratégia de CoberturaNº de Clientes

Quantidade CompradaNº Empregados

H3 02 Utilização de Varejistas

Forma de Compra

Nº de ItensEstratégia de CoberturaQuantidade Comprada

Necessidade de Assistência TécnicaH3 03 Utilização de Franquias

Nº de Clientes

Nº de ClientesEstratégia de Cobertura

Nº EmpregadosQuantidade Comprada

H3 04 Utilização de Supermercados

Nº de Estados

Estratégia de CoberturaForma de Compra

Necessidade de CréditoNº de Clientes

H3 04 Utilização de LojasEspecializadas

Quantidade Comprada

135

5. CONCLUSÕES

Esta dissertação teve como objetivo estudar as estratégias de canais diretos e

intermediários utilizadas por empresas do setor industrial brasileiro, em especial no que

diz respeito à adoção de estratégias de multi-canais, ou seja, a utilização simultânea de

mais de um método de distribuição.

A pesquisa procurou identificar de que forma as características das empresas e

de seus mercados de atuação influenciam a formulação de estratégias e o gerenciamento

de seus canais diretos e intermediários, inclusive no caso das estratégias de multi-canais.

Algumas conclusões gerais puderam ser alcançadas a partir da pesquisa:

# A escolha de estratégias de distribuição está associada a determinadas

características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. As

empresas que adotam estratégias de cobertura intensiva diferem

significativamente das que possuem estratégias de cobertura exclusiva. Tais

empresas se diferenciam por variáveis como o número de clientes e estados

atendidos, assim como a freqüência de compra, a necessidade de crédito e a

necessidade de assistência técnica de seus consumidores finais. Tais

diferenças indicam que as empresas que utilizam estratégias de cobertura

intensiva tendem a ser aquelas que atuam em mercados de bens de consumo

de massa, enquanto que aquelas que adotam estratégias de cobertura

exclusiva tendem a ser aquelas que atuam em mercados industriais,

conforme verificado na revisão da literatura.

136

# A seleção de determinados canais diretos e intermediários está associada a

determinadas características das empresas e de seus mercados de atuação.

Algumas dessas características, como o número de clientes, a estratégia de

cobertura de mercado, a necessidade de crédito do consumidor final e a

quantidade comprada pelo consumidor final, foram observadas com grande

freqüência como variáveis com maior poder discriminante entre as empresas

usuárias e as não-usuárias dos canais diretos e intermediários.

# Apenas a utilização de força de vendas própria, representantes

independentes e Internet não parece estar associada às características das

empresas estudadas e de seus mercados de atuação. Curiosamente, a força de

vendas própria (71,4%) e os representantes independentes (63,5%) foram os

métodos de distribuição mais utilizados pelas empresas, enquanto que a

Internet (15,9%) foi o método mais adotado nos últimos cinco anos. Tal fato

pode indicar uso indiscriminado de tais métodos por empresas com as mais

variadas características.

# A estratégia de multi-canais é utilizada pela maioria (65%) das empresas

pesquisadas. Os resultados da pesquisa permitem afirmar que as empresas

que adotam estratégias de multi-canais são aquelas que atendem grande

número de estados e que utilizam políticas de distribuição intensivas.

# Também não foi possível identificar qualquer associação entre as

características das empresas e de seus mercados de atuação e a percepção da

existência de conflitos entre os canais diretos e intermediários.

137

# O ritmo de adoção de novos métodos de distribuição parece ser bastante

intenso no Brasil. Quase metade (42,9%) das empresas pesquisadas declarou

ter adicionado algum novo método nos últimos cinco anos, sendo que a

internet e o telemarketing foram os mais citados pelos respondentes.

# A quantidade de empresas que declarou ter abandonado algum método de

distribuição foi bastante limitada, tornando difícil identificar variáveis

discriminantes.

O presente estudo abre oportunidades para futuras investigações sobre as

estratégias e o gerenciamento de canais de distribuição no Brasil.

# A intensidade de adoção de novos métodos de distribuição sugere a

necessidade de novos estudos para detectar o impacto que os mesmos podem

trazer para a estratégia de distribuição das empresas brasileiras.

# Estudos de caso podem ajudar a identificar como as empresas brasileiras

vêm gerenciando arranjos de multi-canais e os resultados que elas vêm

alcançando.

# Estudos similares podem ser realizados junto a empresas localizadas em

outros Estados brasileiros para verificar se os resultados atingidos nesta

pesquisa podem ser generalizados.

138

139

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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