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ESTUDO DE ESPAÇO LIVRE URBANO NO MUNICÍPIO DE CARIACICA/ES
- CASO: PRAÇA "VISTA DO MOCHUARA"
Eliana Cassia Rocon¹
Daiane Entringer Modesto¹ Malena Ramos Silva¹
Maria Lúcia Leite Silvano¹ Rubyana dos Santos Vieira¹
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES¹
Vitória- Espírito Santo
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RESUMO Baseando-se em Raquel Tardin que trata os espaços livres como sendo elementos de grande importância na composição da paisagem, e usando os parâmetros desta paisagista-urbanista para avaliação destes espaços, passamos ao estudo de um espaço livre para a construção de uma praça, em uma região plana sujeita a inundações no município de Cariacica. Este trabalho tem como objetivo o aproveitamento de um espaço livre, transformando-o em parque fluvial, adaptando a metodologia usada por Tardin para estes tipos de espaços e apoiando-se em projetos de parques fluviais, para transformar uma planície de inundação em área de lazer, contendo a ocupação irregular e desordenada do terreno, bem como a especulação imobiliária e de caráter industrial. PALAVRAS CHAVE: Espaço Livre; Mata Ciliar; Praça
ABSTRACT Based on Rachel Tardin, which consider free spaces as elements of great significance in the composition of the landscape, and using the parameters used by this landscape-urbanist in order to evaluate those spaces we start to think of a free space for the construction of a square, on a flat area subject to flooding in the municipality of Cariacica. This paper aims the study regarding the transformation of a free space into a riverside park, adapting the methodology used for Tardin for this type of space and relying on designs of river parks, to transform a flood plain in a recreation area avoiding the irregular and disordered occupation of land as the real estate speculation.
KEYWORD: Free Space; Riparian Forest; Square 1 – INTRODUÇÃO
O estudo para aproveitamento dos espaços livres, os quais são caracterizados por
espaços abertos e sem importância, vem sendo o foco de estudo de vários geógrafos,
urbanistas e arquitetos da atualidade. Considerando que a valorização dos espaços livres
e a ocupação urbana tornam-se o ponto de partida para a criação de novas oportunidades
e que através da intervenção urbanística, estes espaços são valorizados, ao serem
planejados, mantendo-os de forma sustentável, através da organização e formalização
destes espaços.
De acordo com Tardin (2008) “A análise destes espaços livres territoriais recai sobre
as superfícies não ocupadas, protegidas por lei ou não, de propriedade pública ou
privada, cobertos por vegetação ou não, que possam representar oportunidades para a
reestruturação do território.” Desta forma, as análises destes espaços estão
fundamentadas em áreas, geralmente não reconhecidas pelo planejamento e são
formados por espaços ameaçados pela ocupação urbana.
Em 2007, com o intuito de aproveitamento dos espaços livres ao longo dos rios e na
preservação de sua mata ciliar, o Estado do Rio de Janeiro, através da SEA (Secretaria
de Estado do Ambiente), lança o Programa de Parques Fluviais visando à preservação
dos rios, incentivando o lazer e ao ecoturismo, a partir da instalação de diversos
equipamentos urbanos e do plantio de milhões de árvores nas margens de importantes
rios do estado.
A arquiteta Raquel Tardin, em 2008, propôs na cidade do Rio de Janeiro um projeto de
valorização de seus espaços livres, onde buscou-se identifica-los, avalia-los e valoriza-
los com projetos inovadores. Sendo possível, conter a ocupação irregular e desordenada
do terreno, bem como a especulação imobiliária e de caráter industrial.
2 – OBJETIVOS
Neste contexto de aproveitamento de espaço livre e preservação da mata ciliar, estudou-
se um espaço livre em área urbana, para transformá-lo em área pública, onde seja
possível promover a conscientização ambiental e social na reconstituição, preservação e
manutenção da natureza existente, além de conter a ocupação irregular e desordenada, e
inibir a especulação imobiliária e industrial presente na região. Esta área urbana
encontra-se no município de Cariacica, sendo uma região plana sujeita a inundações, a
qual passa ser o objeto de estudo deste trabalho.
2.1 – ÁREA DE ESTUDO
Pertencente a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), o município de
Cariacica possui uma população de 348.738 habitantes, e contribuiu com cerca de
5,97% no PIB capixaba no ano de 2010 (IBGE, 2010).
De acordo com o PDM 2006 - Plano Diretor Municipal de Cariacica, o município foi
dividido em treze regiões para facilitar o planejamento do território. O objeto de estudo
está localizado na região 9 que é composto por 8 bairros, sendo o bairro Porto de
Cariacica o escolhido para esta pesquisa, este faz divisa com os bairros: Porto Belo,
Morada do Porto, Bubu, Lago Belo, Campo verde, Vila Prudêncio e Flexal II,
conforme Mapa de localização (Figura 1). No local encontra-se um espaço livre privado
de 13,6 ha e, segundo informações dos moradores, o mesmo está a venda, e se localiza
entre a rua São Luiz, a rodovia Governador José Sette (ES-080) e o córrego Cachoeira.
Figura 1: Mapade localização – Fonte: Organizado pelos autores.
Ressalta-se que no entorno da área de estudo há uma paisagem urbana com casas,
galpões destinados a atividades de importação/exportação e frigoríficos; nas ruas ainda
falta infraestrutura como calçamento e rede de esgoto.
2.2 – ESPAÇOS LIVRES
Para identificar se o espaço livre escolhido está adequado para compor o projeto que se
pretende estruturar, buscou-se aplicar 4 parâmetros de avaliação e análise de
identificação, os mesmos propostos por Tardin para a cidade do Rio de Janeiro.
a) suporte biofísico:
Este parâmetro trata-se das dinâmicas e processos naturais, fundamentais para a
manutenção e o equilíbrio ambiental do território. Observa-se na região pouca cobertura
vegetal, presença de cursos d’água e uma declividade baixa. O terreno apresenta
característica planas, e está suscetível a inundações constantes. É constituído
principalmente por gramíneas e árvores espaçadas de pequeno porte, sua utilização
consiste no lazer de crianças do bairro e pastagem para o gado dos proprietários da terra,
bem como descarte de materiais inutilizados, conforme apresentada na Figura 2.
Figura 2: Imagem da área do projeto. – Fonte: Google Earth ,organizado pelos autores.
Segundo Tardin (2008) as áreas de inundações fazem parte dos espaços livres e são
vulneráveis, merecendo proteção e organização de sua ocupação. Torna-se necessário a
intervenção para sua recuperação, preservação e manutenção, pois a proteção dos
ambientes hidrológicos é de extrema importância para a sustentação dos processos
naturais nos espaços livres
b) Atributo perceptivo
Está relacionado à forma de como o lugar possibilita a criação de uma imagem da
paisagem, de sua identidade visual, o reconhecimento de suas partes e interrelação. E
neste projeto, destaca-se a presença de elementos cênicos representados por um relevo
baixo e singular, onde sobressai o Monte Mochuara e o rio Bubu (Figura3),
considerados dois ícones da história municipal.
Figura 3: Elementos cênicos - rio Bubu e o Monte Mochuara. Fonte: Autores
c) acessibilidade
A acessibilidade é outro atributo importante, pois, é ao mesmo tempo um fator que
tende a evidenciar se um espaço tem maior ou menor probabilidade de sofrer
intervenções antrópicas, ou o favorecimento de atividades no espaço livre.
O local está próximo ás Rodovias do Contorno (BR 101) e Governador José Sette(ES-
080), com bons acessos a outras regiões do município e do Estado. As vias que
circundam o terreno recebem diversos meios de transporte como carros, caminhões e
ônibus. Porém, apresentam uma infraestrutura deficiente algumas estão sem
pavimentação.
d) Vínculos de planejamento
A área em questão classifica-se como macrozona de expansão urbana, que são áreas
sujeitas a inundações, deslizamentos e/ou desmoronamentos ou outras alterações que
podem afetar sua estabilidade.
2.3 – Mata Ciliar
O rio Bubu, considerado afluente do rio Santa Maria da Vitória, nasce na Reserva
Biológica Estadual de Duas Bocas, a 600m de altitude, e deságua na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Municipal do Manguezal de Cariacica, na Baía de
Vitória, após percorrer um curso de 18 km de extensão. Consideravelmente estreito na
maior parte do seu curso, esse rio alarga-se ao se aproximar da foz. Segundo a Agenda
Cariacica (2012), atualmente o rio Bubu, é um dos mais poluídos do município, onde,
dos 146.47ha de Área de Preservação Permanente (APP) é necessário ser reconstituído
69.26ha.
O rio Bubu passa pela área do projeto, ocupando uma extensão de aproximadamente
592.6m, nesta região encontrando-se assoreado e necessitando reconstituir 0,85ha da
mata ciliar (Figuras 3 e 4), assim como do córrego Cachoeira na divisa da área, também
necessita ser reconstituída, totalizando assim 1,62 ha de mata ciliar a ser reconstituída.
Figura 4: Vegetação de gramíneas e árvores espaçadas, ausência da mata ciliar – Fonte: Os Autores
3 – METODOLOGIA
A partir das análises dos dados levantados através destes estudos, foi proposto o projeto
de construção de uma praça denominada “Vista do Mochuara”. Aproveitando o espaço
livre encontrado no local.
Além do embasamento teórico de Tardin (2008), para a escolha da área de estudo,
utilizou-se também a metodologia dos Parques Fluviais, a qual se aplica a terrenos
propícios a inundações e são considerados instrumentos de conservação e preservação
de bacias hidrográficas, como afirma o Ministério do Meio Ambiente (2001). Esses
parques foram projetados para: prevenir a ocupação desordenada das margens dos rios;
recuperar a vegetação e preservar os recursos naturais de uma região, favorecendo o
desenvolvimento de diversas atividades culturais, lazer, esporte e turismo. Trata-se de
um projeto executável e democrático. A ideia de Parque Fluvial deve estar sempre
relacionada a uma estratégia para uso e proteção das margens de um rio e no Brasil
difundiu-se inicialmente no Rio de Janeiro a fim de coibir a degradação das margens
dos rios fluminenses, causada principalmente pelas ocupações ao longo dos mesmos.
Ressalta-se que devido à extensão da área e sua condição, optou-se pela construção de
uma praça adequada para suportar possíveis inundações e para isso serão adotadas as
intervenções a seguir:
3.1 – Técnicas de melhorias do espaço
� Melhorias da rede de esgoto;
� Dragagem do rio para favorecer o escoamento das águas fluviais;
� Utilização dos sedimentos retirados da dragagem para elevação das passarelas;
� Reconstituição da mata ciliar.
� Implantação de equipamentos de lazer em plataformaselevadas.
3.2 – Atividades e Infraestrutura
Figura 4: Projeto praça “Vista do Mochuara” – Fonte: Organizado pelos autores
Quanto às atividades, a praça pode oferecer contemplação de vista panorâmica,
caminhadas e passeios de bicicletas, fotografias da paisagem e interpretação da
natureza, estudos do meio, participação em atividades conservacionistas, piqueniques
familiares, recreação infantil, leitura, celebração. Além de ser um importante
instrumento para a reabilitação da mata ciliar de toda margem do rio Bubu e seus
contribuintes, sendo seu início nas imediações da praça proposta, deslocando-se até a
nascente e a foz. (Figuras 4 e 5)
A infraestrutura contempla estacionamento, centro de visitantes, sede administrativa,
sanitários coletivos, bebedouros, abrigos com mesas de piquenique, áreas de uso diário,
placas ilustrativas e interpretativas (contendo a história do bairro, informações
ambientais), academia popular, postos de guarda, cestas de lixo para coleta seletiva,
postes de iluminação, herbário vertical, sistema de circulação e sistema de sinalização,
rampas adaptadas e calçada cidadã.
Figura 5: Pergolado com mesas fixas com vista direta para o Mochuara Fonte: Organizado pelos autores
Além de estimular o convívio e lazer, a praça funcionará como um sistema de proteção
ambiental, conservação e preservação do rio Bubu. A construção do herbário terá a
função de produzir as mudas que serão utilizadas para a reconstituição da margem do
rio e de seus contribuintes, criando assim corredores florestais. Inicialmente as mudas
serão espécies nativas da mata atlântica e algumas árvores que estão ameaçadas de
extinção como: araçá do mato, o pau d’alho, o cobi da terra o jequitibá e o jeriquitim e
cobi da pedra. Essa ação será em conjunto com a população incentivando a
conscientização, associada a uma educação ambiental e consciência ecológica,
valorizando também a eficácia de uma parceria entre todos os envolvidos (Figura 6).
Também a área servirá como um reduto para a manutenção do ecossistema valorizando
a fauna e a flora, bem como a recuperação dos habitats aquáticos e a possibilidade de
melhorar a qualidade e drenagem das águas fluviais.
Figura 6: Herbário suspenso utilizando sementeiras e garrafas pets para mudas. Fonte: Organizado pelos autores.
4 – RESULTADOS PRELIMINARES
Não houve resultados alcançados por estar ainda em fase de projeto preliminar sem
expectativas futuras. Porém, o intuito deste artigo, é apresentar outras perspectivas para
os diversos espaços vazios presentes nos centros urbanos, e ao mesmo tempo tão
esquecidos ou “mal vistos” pelas pessoas.
Percebe-se que construções em áreas de planícies de inundação são viáveis e possíveis,
ao contrário do que se pensam, para tanto é necessário a adoção de procedimentos que
agreguem valores não só econômicos, mas de cunho social e ambiental, em prol da
comunidade local e dos atributos físicos e visíveis existentes.
O projeto da praça visa os poucos ambientes de recreação e lazer que o município
oferece aos cidadãos, adaptando a mesma aos moldes de um parque fluvial, com
herbário para criação das mudas para a reconstituição da mata ciliar e construção de
áreas de lazer para a população local. A praça poderá ser custeada e mantida a partir de
verba estadual e do município de Cariacica, podendo também receber doações de
organizações governamentais e não governamentais bem como celebrar convênios.
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