Ferramentas para a gestão operacional

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Ferramentas para a gestão de sistemas de colheita altamente mecanizados. Eng. Edson Leonardo Martini Brisa Consulting Eng. José Ronaldo O. Silva Veracel Celulose S/A. Trabalho publicado no XII Seminar on Harvesting and Wood Transportation;Curitiba – PR Brasil; set/2003 Resumo Este trabalho demonstra os conhecimentos adquiridos com o desenvolvimento dos sistemas de planejamento e controle da colheita mecanizada da Veracel Celulose S/A. As ferramentas de gestão incluem 5 diferentes níveis de planejamento: estratégico, macro e micro- planejamento operacional, projeto de estradas e orçamento anual. Também inclui o Sistema de Fluxo de Madeira (SFM), que controla toda a produção e a dinâmica do estoque de madeira de todo o processo. Abstract Management tools of high mechanical harvesting systems. This paper explain the knowlegements acquired with the developing of the planning and control systems of mechanical harvesting of Veracel Celulose S/A. The management tools include five diferent levels of planning: strategic planning, macro operational planning, micro operational planning, roads project and a annual operational budget. And also include the Wood Flow System (SFM), that control all the production and wood stock at the harvest process. Introdução A necessidade de obter padrões internacionais de competitividade e, principalmente, de sustentabilidade, tem exigido pesados investimentos das empresas brasileiras detentoras de florestas plantadas, tanto do gênero Eucalyptus quanto do Pinus. Nos últimos anos pode-se observar uma significativa evolução dos fatores de produção dessas florestas, por um lado devido ao desenvolvimento das técnicas operacionais, de manejo e fertilização na silvicultura, pelo aprimoramento dos cuidados com os impactos ambientais, pela evolução das tecnologias de melhoramento genético e clonagem, e por outro pela mecanização das atividades de colheita e baldeio. Dentre essas áreas, a que tem recebido a parcela mais significativa dos investimentos é a área de colheita, baldeio e transporte, onde máquinas modernas e caras vem substituindo os tradicionais sistemas de toras curtas que usam intensivamente a mão-de-obra, por sistemas com toras longas e altamente mecanizados. O desempenho desses equipamentos e consequentemente de seus custos dependem de um conjunto de variáveis que precisam ser gerenciadas para proporcionar os resultados exigidos para viabilizá-los economicamente.

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Ferramentas para a gestão de sistemas de colheita altamente mecanizados.

Eng. Edson Leonardo Martini Brisa Consulting

Eng. José Ronaldo O. Silva Veracel Celulose S/A.

Trabalho publicado no XII Seminar on Harvesting and Wood Transportation;Curitiba – PR Brasil; set/2003

Resumo

Este trabalho demonstra os conhecimentos adquiridos com o desenvolvimento dos sistemas de planejamento e controle da colheita mecanizada da Veracel Celulose S/A.

As ferramentas de gestão incluem 5 diferentes níveis de planejamento: estratégico, macro e micro-planejamento operacional, projeto de estradas e orçamento anual.

Também inclui o Sistema de Fluxo de Madeira (SFM), que controla toda a produção e a dinâmica do estoque de madeira de todo o processo.

Abstract

Management tools of high mechanical harvesting syst ems.

This paper explain the knowlegements acquired with the developing of the planning and control systems of mechanical harvesting of Veracel Celulose S/A.

The management tools include five diferent levels of planning: strategic planning, macro operational planning, micro operational planning, roads project and a annual operational budget.

And also include the Wood Flow System (SFM), that control all the production and wood stock at the harvest process.

Introdução

A necessidade de obter padrões internacionais de competitividade e, principalmente, de sustentabilidade, tem exigido pesados investimentos das empresas brasileiras detentoras de florestas plantadas, tanto do gênero Eucalyptus quanto do Pinus.

Nos últimos anos pode-se observar uma significativa evolução dos fatores de produção dessas florestas, por um lado devido ao desenvolvimento das técnicas operacionais, de manejo e fertilização na silvicultura, pelo aprimoramento dos cuidados com os impactos ambientais, pela evolução das tecnologias de melhoramento genético e clonagem, e por outro pela mecanização das atividades de colheita e baldeio.

Dentre essas áreas, a que tem recebido a parcela mais significativa dos investimentos é a área de colheita, baldeio e transporte, onde máquinas modernas e caras vem substituindo os t radicionais sistemas de toras curtas que usam intensivamente a mão-de-obra, por sistemas com toras longas e altamente mecanizados.

O desempenho desses equipamentos e consequentemente de seus custos dependem de um conjunto de variáveis que precisam ser gerenciadas para proporcionar os resultados exigidos para viabilizá-los economicamente.

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A escala de produção e a sensibilidade dos sistemas mecanizados às variáveis que afetam as operações requerem que os possíveis problemas e alternativas operacionais sejam antecipados nos planejamentos ou planificações, e que o dia-a-dia disponha de um processo de controle abrangente, ágil e confiável.

A implantação dessas ferramentas não é tão simples, e este trabalho apresenta a experiência na implantação das mesmas na VERACEL CELULOSE S/A.

1. Histórico

A Veracel Celulose S/A, empresa localizada município de Eunápolis, no sul do Estado da Bahia, Brasil, possui atualmente 60.000 ha de florestas de Eucalyptus spp., que tem como objetivo o suprimento de uma unidade industrial de celulose que será implantada nos próximos anos, e cuja produção prevista é de 750.000 t/ano.

Devido à maturação dos primeiros plantios, a operação de colheita foi iniciada em setembro de 2001, sendo que 3.5 milhões de m³ sem casca serão destinados à Aracruz Celulose até o final de 2004.

Por meio de um convênio com o Senai e a Setras – Secretaria do Trabalho do Estado da Bahia, a Veracel vem recrutando e formando operadores para os 16 harvesters, plataforma Volvo e cabeçote Partek, e 9 forwarders Partek 890, que compõe a sua frota.

Por se tratar de uma região com solos argilosos e incidência de chuvas freqüente, situação que, aliada à uma rede viária ainda em formação, aumenta a preocupação com a continuidade do fluxo de produção e transporte da madeira.

Desde o princ ípio da operação, a empresa vem investindo no desenvolvimento de um conjunto de ferramentas que possibilite uma gestão eficiente do processo “suprimento de madeira”, cujos objetivos podem ser resumidos em:

1. Atingir altos índices de produtividade.

2. Manter o nível de eficiência operacional.

3. Manter estoques no limite mínimo.

4. Garantir o fluxo cont ínuo de transporte.

5. Minimizar os impactos ambientais da operação.

6. Elevar continuamente o padrão de qualidade.

7. Atender aos critérios de sistemas de certificação.

8. Operar com custos competitivos.

9. Promover o desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores.

10. Atender às expectativas de seus clientes e fornecedores.

Evidentemente não se trata de tarefa fácil, mas de um grande desafio, que, com planejamento e ações adequadas vem sendo superado.

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2. Ferramentas de apoio à gestão

As ferramentas de apoio à gestão do sistema de colheita estão representadas no fluxograma abaixo:

Inventário Cartografia Planeja mento

Micropla nejamento

Macropla nejamento

Orçamento

BDP Produção

Plano de Estradas

SFM SAP

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2.1. Planejamento Estratégico

Trata-se do sistema de planejamento de longo prazo. Nele são definidas as metas de produção de longo prazo e, com a ajuda do software Planflor, vários cenários são estudados, todos com otimização econômica do processo de suprimento de madeira.

A partir da definição das estratégias de produção de longo prazo, o programa de colheita dos primeiros três anos é utilizado para se estabelecer um plano tático, onde as unidades de manejo são ajustadas operacionalmente e, principalmente, é definido o plano de estradas para aquele período.

2.2. Cartografia

Os principais recursos cartográficos utilizados são o Arcview e o ArcInfo, sistema de informações geográficas onde são emitidos os mapas planialtimétricos, em escalas que variam de 1:3.000 a 1:50.000, que servirão como informação básica para elaboração de todos os planejamentos que serão realizados: micro, macro e estradas.

2.3. Inventário

Os dados de inventário são utilizados em duas fases distintas: na primeira os resultados do último inventário de cada talhão é fornecido para que se possa montar uma sequência cronológica das operações de corte e baldeio.

Na segunda fase, que inicia logo após a definição da sequência, os volumes são prognosticados para as datas previstas para corte, propiciando então um ajuste mais preciso daquela data prevista inicialmente.

As informações do inventário também possibilitam que a produtividade das máquinas sejam estimadas em função da árvore média, o que melhora a estimativa da produtividade do corte.

Para a elaboração do inventário e de suas prognoses, é utilizado um sistema de cadastro e inventário florestal.

2.4. Vistoria de Campo

O macroplanejamento da colheita é iniciado em campo, através de vistoria nas áreas programadas para corte, com o apoio de mapas planialtimétricos 1:10.000, onde são avaliadas e quantificadas as seguintes necessidades:

• Revisão do traçado planejado para o escoamento da produção.

• Retificação de estradas.

• Corte de galhos nas bordaduras.

• Roçada pré-corte.

• Alargamento de estradas.

• Construção de ramais para baldeio.

• Construção de viradouros.

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• Retificação de curvas.

• Construção de pontes, bueiros e saídas d’água.

• Cascalhamento.

• Localização dos pontos de estacionamento das oficinas volantes.

• Localização dos pontos com restrições ambientais para corte ou baldeio.

• Localização dos pontos adequados para lavagem e reparos hidráulicos dos equipamentos.

Também são identificados pontos que exigem atenção especial durante a operação como restrições para estocagem de madeira, cercas, redes elétricas, abelhas, ou locais onde existe risco de incêndio devido ao tipo de ocupação das áreas lindeiras.

A primeira fase do macroplanejamento também é indispensável para a elaboração do orçamento anual.

2.5. Microplanejamento

Consiste das definições que envolvem as operações dentro do talhões, estabelecendo principalmente:

• sentido do corte;

• a direção do baldeio;

• construção de ramais;

• obras de drenagem na área de domínio do talhão;

• identificação de pontos restritivos para a operação;

• definição dos volumes e locais de estocagem da madeira, etc....

As planificações, que são elaboradas em ambiente Arcview serão utilizadas pelos operadores das máquinas para orientar suas atividades dentro dos talhões.

Após a conclusão da planificação, cujo trabalho é iniciado a partir da vistoria da campo do macroplanejamento, novas vistorias são realizadas nos talhões para corrigir e consolidar os planos traçados para a operação.

2.6. Macroplanejamento

Consiste das definições que envolvem as operações fora dos talhões, principalmente as restrições ambientais e ou operacionais, a sequência de corte, o posicionamento dos módulos, o fluxo do transporte, as retificações da malha viária, os pontos de estacionamento da oficina volante, os pontos indicados para lavagem dos equipamentos, a localização de experimentos com restrição ao corte, etc...

Também é definido um plano para o fluxo de tráfego dos caminhões que irão transportar a madeira, indicando os pontos de carga onde há mudança no sentido do transporte.

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O macroplanejamento, que também é elaborado em ambiente Arcview, servirá como ferramenta para a gestão do transporte da madeira, pois contém uma estimativa do volume disponível nos diferentes graus de dificuldade para transporte.

2.7. Plano de Estradas

A rede viária talvez seja o fator de maior importância no planejamento da colheita em sistemas altamente mecanizados pois possibilita o acesso às máquinas para manutenção e abastecimento, sendo também uma das melhores maneiras de garantir um fluxo cont ínuo no escoamento da produção.

A reavaliação do traçado e das suas alternativas é um esforço válido pois pode significar economia significativa de recursos e ou também, melhoria das condições de transporte.

Por isso, durante a elaboração das vistorias do micro e do macro planejamentos o item estradas recebe atenção especial da equipe envolvida.

No plano de estradas são definidas as informações necessárias para a elaboração do orçamento anual, como estimativa de custos, cronograma e traçado das estradas que serão construídas ou melhoradas.

2.8. Orçamento anual

A riqueza das informações que são obtidas durante a elaboração do micro e do macro planejamento, proporciona condições muito boas para que as estimativas do orçamento sejam muito precisas.

Todas as informações operacionais estimadas no micro e no macroplanejamento são consideradas na sua elaboração, da disponibilidade mecânica à produtividade mensal da equipe que opera o equipamento.

Dessa forma, o orçamento passa a ser uma poderosa ferramenta de gestão dos custos, e também do planejamento financeiro da empresa.

2.9. Apontamentos da produção

Os apontamentos da produção são o meio pelo qual se controla toda a dinâmica operacional:

• Produções diárias dos módulos, máquinas, turnos, operadores.

• Produtividades dos módulos, máquinas, turnos e operadores.

• Movimentação dos estoque de madeira: em pé, cortada, disponível para transporte em áreas fáceis e difíceis.

Os apontamentos são realizados nos Boletins Diários de Produção (BDP), que além de controlar a produção do equipamento, também permitem o controle das paradas e de seus motivos.

Esses dados, que são transferidos para um programa denominado Sistema de Fluxo de Madeira (SFM).

2.10. Sistema de Fluxo de Madeira

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O SFM, programa integrado ao sistema de Cadastro Florestal, controla todo o processo de produção.

Através dele é possível administrar o histórico da produção e da produtividade das máquinas e operadores individualmente, além da dinâmica dos estoques de madeira.

Além desses controles o sistema SFM também gera as informações necessárias para o controle de embarque da madeira, permitindo o rastreamento dos lotes até os talhões de origem.

O projeto desenvolvido na VERACEL prevê que a geração de informações será totalmente efetuada por meio eletrônico, a partir do computador de bordo das máquinas. A necessidade de customização no software daqueles computadores por seus fabricantes está postergando a conclusão desse objetivo.

3. Principais dificuldades da implantação Apesar do relato deste trabalho ter apenas uma abordagem resumida do processo de desenvolvimento das ferramentas de gestão, inúmeras são as dificuldades encontradas para implantá-lo, e entre elas destacamos as mais importantes:

• comunicação precária entre a frente operacional e os ambientes onde estão instalados os sistemas de controle;

• freqüência de erros de apontamento pelos operadores, principalmente pela pouca experiência dos mesmos;

• ênfase insuficiente na cobrança da qualidade de informações de produção;

• falta de atenção das empresas prestadoras de serviço no fornecimento de boletins de produção;

• inadequação dos softwares dos computadores de bordo dos equipamentos;

• demora dos fabricantes de máquinas para atendimento das solicitações do cliente para customização de seus sistemas de bordo;

• processo de implantação e treinamento demorado.

4. Conclusão

Apesar das dificuldades encontradas durante o processo de implantação, consideramos de grande importância o desenvolvimento dessas ferramentas, principalmente do processo de planejamento operacional, onde inúmeros eventos que iriam tornar-se obstáculos operacionais, são previamente estudados, e antecipadamente resolvidos.

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Entre as principais vantagens do processo podemos destacar:

• Planejamento detalhado de todas as fases da produção, evitando soluções improvisadas e desconectadas com a estratégia de produção.

• Menor dependência dos operadores ao apoio dos supervisores na determinação de tarefas.

• Melhor planejamento da dinâmica dos estoques, permitindo que o baldeio possa ser adequado às restrições climáticas, aumentado o estoque dos locais sem restrição para transporte.

• Melhor controle da disponibilidade mecânica e do rendimento operacional.

• Melhor controle do desempenho individual dos operadores, possibilitando priorizar os treinamentos de reciclagem.

• Melhor precisão orçamentária.

• Maior controle do processo como um todo, permitindo simular alternativas para eventuais correções de rumos.

Autores:

Edson Leonardo Martini

Engenheiro Florestal, Diretor da Martini & Kaehler Ltda. e da Brisa Consultoria e Informática Ltda. email: [email protected].

José Ronaldo O. Silva

Engenheiro Mecânica, Gerente de Logística e Suprimento de Madeira da Veracel Celulose S/A. Email: [email protected].