Geopolitica na Geografia no Brasil
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Presentado en el XIII Encuentro de Gegrafos de Amrica Latina, 25 al 29 de Julio del 2011 Universidad
de Costa Rica - Universidad Nacional, Costa Rica
Revista Geogrfica de Amrica CentralNmero Especial EGAL, 2011- Costa Rica
II Semestre 2011pp. 1-11
GEOPOLTICA NA GEOGRAFIA DO BRASIL, NOTAS SOBRE OPENSAMENTO DE BERTHA BECKER EM GEOPOLTICA DA AMAZNIA.
Eduardo Karol1
Resumo
O que se pretende com este trabalho refletir sobre a criao de um pensamento
geopoltico no Brasil, com nfase especial em Bertha Koiffmann Becker e analisar as
trajetrias de seu pensamento.
PalavrasChave: Bertha Koiffmann BeckerGeopolticaGeografia PolticaPensamento Geogrfico
Abstract
What we propose in this paper is to reflect on the creation of a geopoliticalthinking in Brazil, with special emphasis on Bertha Koiffmann Becker and analyze thetrajectories of his thought.
Key-words: Bertha Koiffmann Becker; Geopolitics; Political Geography; GeographicalThought
1 Professor Assistente da Faculdade de Formao de Professores da Universidade do Estado do Rio deJaneiro; Doutorando no programa de psgraduao em Geografia Humana da Universidade de So Paulo,[email protected]
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Geopoltica na Geografia do Brasil, notas sobre o pensamento de Bertha Becker em Geopoltica daAmaznia.Eduardo Karol____________________
Geogrfica de Amrica Central, Nmero Especial EGAL, Ao 2011 ISSN-2115-2563
Introduo
O que se pretende com este trabalho refletir sobre a criao de um pensamento
geopoltico no Brasil, com nfase especial em Bertha Koiffmann Becker e analisar astrajetrias de seu pensamento.
O aparente desaparecimento e o reaparecimento2 crtico da geopoltica como
campo de estudo acadmico tem singularidades na geografia poltica brasileira dos
ltimos trinta anos. Taylor e Flint (2002, 53-55) afirmam que a geopoltica foi
silenciada devido sua instrumentalizao como conhecimento a servio do totalitarismo.
Expem como conseqncia do desaparecimento da geopoltica a desvinculao da
geografia poltica da herana dos fundadores Ratzel, Mackinder e Bowman. Aquebra voluntria com o passado indica o profundo impacto que teve a geopoltica
alem dos anos trinta sobre a geografia poltica em particular e a Geografia em geral. A
Geopoltica se converteu em um terreno movedio que devia se distinguir da Geografia
Poltica. Esse quadro comea a ser modificado quando nos setenta, em decorrncia do
acirramento da guerra fria e do conflito no Vietnam, centros acadmicos nos Estados
Unidos recolocam o debate sobre poder e territrio. No Brasil vive-se, no mesmo
perodo, um Estado autoritrio sob tutela militar, que produz e divulga seu pensamento
estratgico sobre o territrio. Nas universidades pesquisas comeam a ser produzidas e a
Geografia experimenta uma renovao3 crtica. Os processos de renovao no
eliminaram continuidades de matrizes de pensamento e, de certo modo, sua presena foi
muito mais significativa e definidora de poltica de Estado, o que por si s justifica
2No Brasil, a retomada expressa em prefcio de Valverde (1982, 8), As pginas finais encerram umatentativa de recuperar a Geopoltica como campo de estudos para a cincia geogrfica. Aps seu totaldescrdito, a Geopoltica, promovida pelos nazistas, parece que s aceita e praticada por gegrafos e
militares ultradireitistas, ligados ao Pentgono norte-americano. Becker (1982, 10) tambm segue amesma orientao: ... incluo mais explicitamente o projeto poltico da geografia, recuperando, em novasbases, a geopoltica. Em passado recente, a conotao ideolgica e militarista de uma geopoltica em queo meio fsico determinava a ao do homem e do Estado imobilizou a contribuio da geografia que,ameaada, se esvaziou de seu contedo poltico , ou ainda, A retomada de interesse pela Geopoltca patente. Grupos de trabalho, livros, artigos se sucedem revelando revalorizao das relaes entrepoder, ou mais precisamente a prtica do poder, e o espao geogrfico, relao que constitui a
preocupao central da disciplina (Becker, 1995, 271). Por outro lado, o estudo de Miyamoto (1995,
139) que no faz considerao sobre desaparecimento ou reaparecimento aponta uma retomada deinteresse dos meios acadmicos pela geopoltica e seus temas.3O movimento de renovao, ao contrrio da Geografia Tradicional, no possui uma unidade; representamesmo uma disperso, em relao quela. Tal fato advm da diversidade de mtodos de interpretao ede posicionamentos dos autores que o compem. A busca do novo foi empreendida por variados
caminhos; isto gerou propostas antagnicas e perspectivas excludentes. O mosaico da GeografiaRenovada bastante diversificado, abrangendo um leque muito amplo de concepes. (Moraes,2007:107-108)
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analisar o contexto da produo geopoltica brasileira por gegrafos.
Devido a restrio do artigo, para atingir os objetivos propostos, vamos analisar
o captulo nove do livro Geopoltica da Amaznia; uma fronteira de recursos, publicado
no ano de 1982. Intitulado, O Estado e a questo da terra na fronteira: uma
contribuio geopoltica, expe as idias geopolticas que nos interessa e conclui a
produo de dez anos de Bertha informando as mudanas na renovao do seu
pensamento bem como da geografia.
Geopoltica da Amaznia um livro de dez anos
Geopoltica da Amaznia4
um livro que organiza a produo de dez anos deBertha Becker. Portanto, em conjunturas diversas que sinaliza modificaes no conjunto
de idias expostas no livro. Comea com base em autores da chamada geografia
quantitativa, avana para a teoria do desenvolvimento polarizado e para usar um termo
geogrfico, desgua na Geografia dialtica5. No vou me ater a esse percurso, dada a
quantidade de informaes que deveria expor. Vou expor e analisar as idias
geopolticas do captulo nove. Nele a autora objetiva analisar a atuao do Estado na
expanso da fronteira com uma perspectiva geopoltica. O capitulo pea chave, pois
apresenta os elementos geopolticos que a autora identifica no ttulo do livro.
A anlise se inicia com a exposio da estrutura do texto e a conjuntura em que
foi escrito Em um segundo momento, expe os elementos do discurso geopoltico. Por
fim, discute a construo de Cdigos Geopolticos no pensamento da autora.
O texto est estruturado em quatro partes: Proposies tericas e metodolgicas
para uma anlise geopoltica; Estado e Fronteira: articulao dos nveis internacional e
nacional; A Estratgia de apropriao da Amaznia Oriental e a estruturao do espao
regional; e O nvel local: o confronto entre dominadores e dominados na disputa pela
terra. O trabalho foi escrito para apresentao no Seminrio sobre Expanso da
Fronteira e Meio Ambiente na Amrica Latina realizado em Braslia em 1981. Ou seja,
4 Para uma anlise do livro, consultar MOREIRA, Ruy. O Pensamento Geogrfico Brasileiro: as matrizesbrasileiras. So Paulo: Editora Contexto, 2010. p. 95-98. Para uma anlise do conceito de espao emBertha K. Becker, consultar, BRZEKE, Franz Josef. A Inflao do Espao. Belm: Papers do NAEA001, 1992.5
Esse termo foi usado por Valverde no Prefcio. No h consenso sobre o melhor termo a ser usado paraexpressar a renovao do pensamento geogrfico no Brasil. Por isso no podemos concordar comBrzeke que rotula Bertha Becker como uma gegrafa dialtica.
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numa conjuntura6 de esgotamento dos projetos de desenvolvimento do regime ditatorial
sob tutela militar. A censura das idias j no estava to dura como em outros
momentos, porm o discurso da segurana nacional ainda se fazia presente nas relaes
entre Estado, Empresa e fora de trabalho analisadas pela autora.
Os elementos da geopoltica dita clssica, encontram-se no texto, ou seja, o
Estado, a populao e o territrio. Articulados e aplicados a realidade amaznica,
configuram a tentativa de atualizar o modo de abordagem da anlise geogrfica. Pode-se
perceber o esforo e necessidade de uma renovao do pensamento cientifico em geral e
da geografia em particular. Isso pode ser confirmado pela bibliografia utilizada pela
autora nesse capitulo: Lacoste (1976), Raffestin (1980), Lipietz (1977) e Lojkine
(1977)7. Experimenta-se uma nova relao da geografia com outras cincias sociais, o
que, de alguma maneira, enriquece o debate sobre polticas territoriais. O Estado como
indutor das polticas territoriais, incentiva empresas com projetos e produz mobilidade
da fora de trabalho na ocupao do territrio (Becker, 1982: 215). A mobilidade
produz conflitos que estabelece uma contradio fundamental para autora: como atrair
a fora de trabalho necessria e mant-la na regio, sem lhe dar o domnio efetivo e
duradouro da terra? (Becker,1982: 213)
Para resoluo dessa contradio, Bertha aplica os nveis de anlise, proposto
por Lacoste8. Aborda a determinao de um nvel internacional, que define o estilo de
desenvolvimento nacional que induzido do exterior9. Consagra o Brasil como uma
fronteira de recursos,
6 Conceito chave para a conjuntura a doutrina da segurana nacional que foi praticada por vriosregimes militares na Amrica Latina. Com a ideologia do nacional-desenvolvimentismo orientou a
industrializao no Brasil e em outros pases.da regio. A discusso e efetivao de um plano para oespao nacional produziu a idia de integrao nacional.7 Segundo bibliografia citada pela autora: Lacoste, Yves. La Geographie, a sert a faire la guerre, 1976.Unite et diversit dans le Tier Monde. Franois Maspero-Herodote, Paris, 1980. Lipietz, A. Le Capital etson espace. F. Maspero, 1977. Lojkine, Jean. LEtat, le marxisme et la question urbain. PressesUniversitaire de France, Paris, 1977. Raffestin, Claude Pour une Gographie du Pouvoir. LITEC, Paris,1980.8Para uma pesquisa do termo nveis de anlise ver: Lacoste, Yves. A Geografia, in: Chtelet , Franois(org.). Histria da Filosofia, idias, doutrinas; v. 7, A Filosofia das Cincias Sociais de 1860 aos nossosdias. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. Lacoste, Yves. A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer aguerra. CampinasSP: Papirus, 1988. Lacoste, Yves. Gopolitique; l alongue histoire daujourdhui. s.l.Larousse, 2006. Considero que nas trs obras citadas o leitor encontrar um rico material dedesenvolvimento do conceito de nveis de anlise.9
Ao assumir a tese, do desenvolvimento nacional induzido do exterior aproxima-se das teoriascepalinas para a industrializao to bem expostas por Wilson Suzigan no livro Indstria Brasileira:origem e desenvolvimento, publicado pela Brasiliense em 1986.
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As foras que operam na escala internacional determinam, emgrande parte, o estilo de desenvolvimento nacional, marcando os
perodos de transformao econmica e poltica, e as formas deapropriao do espao. A anlise nessa escala , pois, fundamental
para compreender-se que se trata de uma fronteira mundial num pascujo modelo de desenvolvimento induzido do exterior. Na escalamundial, o Brasil, como os demais pases da Amrica Latina, uma
fronteira de recursos, tendo sua histria vinculada sua insero nadiviso internacional do trabalho. Entendida como a vanguarda daexpanso territorial do modo capitalista de produo, a fronteira derecursos sempre adotou mais rapidamente inovaes geradas noexterior e recebeu massa considervel de investimentos.
Passa a um nvel nacional onde o Estado concebe estrategicamente a
viabilizao da fronteira10 e percebe e seleciona os espaos11 a serem apropriados.
Elaboram-se as estratgias e tticas especificas para a apropriao nas diversas regies.
A escala nacional define a posio e a extenso territorial das regies no conjunto do
espao nacional segundo a conjuntura. A estratgia global do Estado no Brasil tem sido
a de assegurar o monoplio da propriedade da terra representada pelo latifndio voltado
para a exportao de recursos (Bertha, 1982: 217).
No nvel regional expe a estratgia de apropriao da Amaznia Oriental e a
estruturao do espao. O conceito de posio estratgica articula a fronteira de recursoscom a bacia de mo-de-obra nordestina. Aborda a conexo entre o Centro-Sul com
Belm que, para ela, a primeira poro do espao a ser integrado (Bertha,
1982:218).
Por fim, chega ao nvel local, que caracteriza como espao vivido, aonde vai se
desenvolver o confronto entre dominadores e dominados na disputa pela terra.
Identifica como agentes dominadores da construo do espao, o Estado e a empresa
que determinam formas de operao na escala local. Os dominados so identificadoscomo pequenos produtores e assalariados. nesse nvel que se d o conflito entre as
diversas formas de produzir, a disputa pelo domnio do espao entre os vrios agentes.
Conclui com a idia de que o estudo geopoltico da fronteira deve ser feito com a
articulao de diferentes nveis de anlise, pois se trata de uma fronteira de recursos
10A fronteira expressa o modelo de crescimento econmico do pas, o modelo tecnolgico intensivo decapital, com forte industrializao, que comanda inclusive a modernizao da agricultura, malgrado aforte concentrao de renda, o acentuado autoritarismo poltico e a internacionalizao da economia.
(Becker, 1982: 212)11O espao a um tempo produto da articulao de relaes sociais e, como espao concreto, tambmprodutor de relaes sociais. (Lipietz, 1977 apud Becker, 1982:214).
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mundial, espao de expanso territorial do modo de produo capitalista.
Em nenhum momento a autora opta por uma anlise baseada no conceito de
imperialismo12, to recorrente na renovao do pensamento geogrfico que estava sendo
produzida poca da edio do livro. Opta por uma insero de elementos tericos para
enriquecer e movimentar seu pensamento. Porm comete ato falho ao escrever bacia de
mo de obra que denota a relao do pesquisador com as populaes locais que diz em
seu memorial proteger (Becker, 1993). A geopoltica abordada com os mesmos
elementos de outrora, o poder do Estado na apropriao espacial/territorial
privilegiada, a mobilidade de populao para a produo, os conflitos entre agentes de
apropriao espacial que decorre da mobilidade. Os agentes so separados por suas
prticas, ao Estado um papel, a empresa outro, aos dominados cabe resistir aos
anteriores. No concebe estratgias de grupos de agentes, como por exemplo Estado e
empresa como grupo articulado para um propsito de apropriao territorial, nem as
alianas dos dominados com a Igreja, para resistir a expropriao. Homogeneza os
agentes dominados no expondo suas diferenas, classificando-os como pequenos
produtores e assalariados e imputando uma viso de fora do processo. Silencia sobre as
mortes na rea estudada13.
As cincias sociais possuem instrumentos de anlise que nos do a relao
dialtica entre dominadores e dominados, aos quais a autora apresenta de maneira
formal. Ou seja, tem-se uma ao de poder sobre dos dominados que parecem no ter
nada a fazer, s resta aceitar a dominao. Aquilo que julga ser uma anlise crtica de
um movimento de apropriao territorial acaba se transformando em elemento de
conhecimento do territrio para a integrao nacional. A valorizao de um discurso
que esconda o objetivo de produzir uma viso hegemnica na geografia, sobre a regio
amaznica pode ser aproximada daquilo que Latour (2000) chamou de caixa-pretaidias que se cristalizam em um campo cientfico e so repetidas a exausto sem
necessidade de comprovao. Bertha na melhor tradio da cincia de sntese mescla
geopoltica com Amaznia e passa a obter as glrias de um estudo condensado para
12 Pode-se consultar: Gonalves, C.W.P.; Azevedo, N. M. de. A Geografia do Imperialismo: umaintroduo. Nmero Especial do Boletim Paulista de Geografia n 59 1982. p. 23-41. Oliveira, A.U.Reflexes sobre o imperialismo: a incorporao do Brasil ao capitalismo internacional. Nmero Especialdo Boletim Paulista de Geografia n 59 1982. p. 59-113. Moreira, Ruy. O Que Geografia? SoPaulo: Brasiliense, 1981.
13 Almeida lista 568 mortes no estado do Par de 1964 a 1992. Se considerarmos os anos de 1964 at1982 so 126 mortes listadas. p. 276-282.
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cumprir um papel de continuidade com a tradio geogrfica da qual faz parte e
descontinuidade quando incorpora elementos novos da anlise das cincias sociais,
entre elas a geografia.
Existe um silncio do que fora produzido sobre a Amaznia14 mostrando um
vazio tambm terico da regio. Isso fortalece uma viso exterior, apesar de se propalar
uma unidade terico-emprica embasada em trabalhos de campo. Em realidade, ao no
dialogar com uma bibliografia produzida pelos locais, fica impossibilitada de ter uma
viso mais real do processo de incorporao da regio ao sistema mundial
(internacional) reforando um esteretipo da Amaznia a partir do centro-sul.
A criao de cdigos geopolticos a caixa preta.
Cdigos15 Geopolticos so, por definio, um conjunto de premissas
estratgicas que produz um governo sobre outros Estados, para orientar sua poltica
externa. Um conjunto de premissas estratgicas est diretamente relacionado com
imagens mentais dos padres de ao (imagem-ao). Representa a avaliao
operacional, tais como sua importncia estratgica e ameaas potenciais em lugares que
esto no interior e ou alm das fronteiras do Estado. A orientao da poltica externa
traduzida em imperativos imediatos e aes, que definem os atos especficos dos
Estados. So compostos e podem ser calculados, a) identificao dos aliados atuais e
potenciais; b) identificao dos inimigos atuais e potenciais; c) definio dos meios de
manter os aliados atuais e fomentar novos; d) definio dos meios de enfrentar inimigos
existentes e emergentes. Os itens a e d devem ser representados com prticas visveis
para a sociedade nacional e mundial. Esse quadro s expe a complexidade geopoltica
de definir cdigos, portanto no so absolutos na criao de padres de aes.
14Podemos constatar a ausncia de autores como: TOCANTINS, Leandro.Amaznia: natureza, homem etempo; uma planificao ecolgica. 2. ed., Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1982. 177 p. e REIS,Arthur Cezar Ferreira A Amaznia e a cobia internacional. 5. ed., Rio de Janeiro-Manaus, CivilizaoBrasileira-Superintendncia da Zona Franca de Manaus, 1982. 213 p. BENCHIMOL, Samuel. Amaznia:Um Pouco-Antes e Alm-Depois. Manaus: Editora Umberto Calderaro, Edio Universidade doAmazonas e Codeama, 1977, 840p.
15 Para uma discusso do termo cdigo ver SOUSA, Rodrigo Pina de. Territorializao Militar em Rede eo Imperialismo Estadunidense na Amrica Latina: Um Novo Cdigo Geopoltico? 2007. p. 97-107.
Dissertao (Mestrado em Geografia) Instituto de Geocincias. Universidade Federal Fluminense,Niteri, 2007.
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A classificao escalar dos cdigos geopolticos de nvel local, regional e
global. O nvel local envolve uma avaliao da situao interna do Estado e a relao
com os Estados vizinhos . O nvel regional diz respeito aos Estados que querem
projetar seu poder para alm de seus vizinhos imediatos, est ligado ao que podemos
chamar de potncias regionais. Tm cdigo global os Estados que projetam seu poder de
forma abrangente numa extenso geopoltica mundial. So poucos os que tm o cdigo
global, j no nvel local todos tm e alguns no regional.
Para esse artigo interessa os nveis local e regional dada a conjuntura da poca
apresentada no texto da Bertha Becker. preciso concordar com CAIRO, 2008, p. 222,
Na conformao da imaginao geopoltica de cada era, asuniversidades e os institutos de pesquisa desempenham um papel
fundamental. a geopoltica terica que, junto geopoltica prticados intelectuais do Estado, como diplomatas e militares, conformam aviso geopoltica de cada Estado. Os modelos geopolticos no s
proporcionam uma representao do espao perfeitamente ordenada,mas tambm so um lcus de enunciao muito mais poderoso que ode outras representaes do espao. Os modelos so cientficos, ouseja, so considerados verdadeiros e neutros ignorando- se,
freqentemente, seu carter interessado , diferentemente doconhecimento formulado por diplomatas e militares que, obviamente,respondem a uma determinada viso do Estado.
Considero que Bertha Becker desempenha papel fundamental quando expe um
conjunto de idias que ajuda a conformar um cdigo local e regional. Vejamos.
No livro Geopoltico da Amaznia: uma nova fronteira de recursos a autora
afirma categoricamente que a integrao deve ser continental dado que s a integrao
nacional no dar conta do problema de abastecimento dos centros de poder.
"[...] uma vez que a poltica de integrao nacional no vemsolucionando plenamente o problema da escassez do mercadointerno, recorre-se poltica de integrao continental incentivandoinicialmente as exportaes de manufaturados, e hoje, igualmente, aexportao de minerais e produtos agrcolas. A Transamaznica,mediante suas ligaes com o Acre, permitir alcanar a Bolvia e aCarretera Marginal de la Selva no Peru, assegurando a presena do
Brasil no mago do continente, e qui, no Pacfico" (BECKER,
1982, p.30).
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Na melhor tradio da doutrina de segurana nacional, muito difundida poca
da produo da autora16, pelos escritos de Golbery do Couto e Silva, afirma-se a
projeo continental do Brasil como imagem e ao do Estado sob tutela militar.
Assumir o cdigo geopoltico do governo militar configura adeso ao que foi criticado e
chamado recentemente de produo de uma geopoltica ideolgica. necessrio que se
faa uma reviso das idias que a universidade consagrou como modelo de anlise.
Constituiu-se caixas pretas que jamais foram abertas. comum ouvirmos no meio
acadmico que Bertha Becker influenciou quase que de maneira absoluta a idia de
nova fronteira de recursos. Transitou por muitos governos desde a ditadura sob tutela
militar at recentemente. Isso pode ser constatado nos inmeros documentos e relatrios
que produziu, sem falar na regncia da cadeira de geografia poltica no Instituto Rio
Branco dos anos de 1966 a 1975.
No nvel local assegurar o processo de ocupao da Amaznia, famoso no lema
Integrar para no Entregar o objetivo mais imediato. H de se produzir estudos que
permitam a execuo dos projetos geopolticos do governo para consolidao de uma
estrutura que garanta no s o domnio do territrio mas tambm a resoluo de
problemas nacionais. Deste modo a autora expe que,
"[...] a elaborao de um sistema espacial no privilgio do Brasil.Tambm nos pases vizinhos da Amrica do Sul, esse processo est emandamento, ainda que com menor intensidade. Tambm na Venezuela,Colmbia e Peru formam-se centros dinmicos, periferias deprimidase excedentes demogrficos que se vo dirigindo para suas respectivas'Amaznias', num movimento espontneo ou sob direogovernamental. As grandes rodovias em construo a esto paraexpressar esse movimento de interiorizao do povoamento [...] Surgedai a necessidade de assegurar a integrao das regies fronteiriasao sistema nacional e presena do Brasil na valorizao da
Amaznia Sul-Americana (BECKER, 1972, p. 113).
Existe, poca, um interesse em amenizar as presses nos grandes centros
urbanos como tambm reativar regies internas que so chamadas de periferias
deprimidas.
O pensamento geopoltico tomado como ferramenta para produzir idias
generalizantes que permitam criar um conhecimento sobre a regio amaznica e o Brasil
e mesmo escamotear uma situao de explorao e dominao vigentes numa sociedade
16 O texto do ano de 1972.
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que comea a dar sinais de vitalidade e luta, da qual a autora passa ao largo. Ao no
produzir uma crtica ao status quo que est inserida, pode ser identificada como
colaboradora das polticas territoriais do Estado sob tutela militar.
Consideraes Finais
H muito o que se explorar no pensamento geopoltico produzido por gegrafos
no Brasil. Especialmente o de Bertha Becker. Pode-se discordar ou concordar com suas
premissas, entretanto no se pode desconsider-lo numa avaliao da geopoltica no
Brasil. Tem-se que aprofundar o estudo e entend-lo numa perspectiva de renovao do
pensamento geogrfico que se quer crtico. Perceber as continuidades e descontinidadesem uma poca que necessita de reviso terica para criticar um certo pensamento sobre
a renovao da geografia no Brasil que j est se sedimentando e produzindo suas
ideologias.
Referencias Bibliogrficas
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Carajs: a guerra dos mapas. Belm: Falangola,1994. 329 p.
BECKER, Bertha K. . Geopoltica da Amaznia: A Nova Fronteira de Recursos. Rio deJaneiro: Zahar Editores, 1982. 233 p.
BECKER, Bertha K. Memorial Bertha Becker. Memorial que acompanha orequerimento de inscrio em concurso para provimento de cargo de professortitular no Departamento de Geografia da UFRJ. 1993
BOMFIM, Paulo Roberto de Albuquerque. Notas sobre geografia, planejamento
regional e desenvolvimento. In: Anais do II Encontro Nacional de Histria doPensamento Geogrfico. So Paulo: FAPESP; FFLCH USP; GEOPO-USP;CAPES, 2010.
CAIRO, Heriberto. A Amrica Latina nos modelos geopolticos modernos: damarginalizao preocupao com sua Autonomia. In: CADERNO CRH,Salvador, v. 21, n. 53, p. 221-237, Maio/Ago. 2008
LATOUR, Bruno. Cincia em Ao: como seguir cientistas e engenheiros sociedadeafora. So Paulo: UNESP, 2000.
MIYAMOTO, Shiguenoli. Geopoltica e Poder no Brasil. Campinas, SP: Papirus, 1995.257 p.
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MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia; pequena histria crtica. 21 ed. SoPaulo: AnnaBlume, 2007. 152p.
TAYLOR, Peter J.; FLINT, Colin. Geografa Poltica: Economa-mundo, Estado-Nacin y Localidad. Madrid: Trama Editorial, 2002. 2 ed., 447 p.
VALVERDE, Orlando. Prefcio. In: BECKER, B. K. . Geopoltica da Amaznia: ANova Fronteira de Recursos. Rio de Janeiro: Zahar Editores