Ges«ntes de almada

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MESTRADO LÍNGUA E CULTURA PORTUGUESA (LE/L2) gentes de Almada Expressão e construção social da realidade Gramáticas sistémico - funcional e do design visual GRAMÁTICA E COMUNICAÇÃO Orientação: Professor Doutor António Avelar Maria Adelaide Paredes da Silva 25-05-2011

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MESTRADO LÍNGUA E CULTURA PORTUGUESA – (LE/L2)

gentes de Almada Expressão e construção social da realidade Gramáticas sistémico - funcional e do design visual

GRAMÁTICA E COMUNICAÇÃO

Orientação: Professor Doutor António Avelar

Maria Adelaide Paredes da Silva

25-05-2011

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Índice

Índice ..................................................................................................................................... 2

Nota introdutória .................................................................................................................. 4

Referência para o estudo – Documentos e sua pertinência ............................................... 5

Almada – terra de encontros / expressão e construção social da realidade ..................... 6

Para uma visão crítica da cultura nas sociedades multiculturais ....................................... 9

Referencial teórico-metodológico – breve apresentação ................................................. 11

A semiótica e os textos multimodais ................................................................................. 12

Gramática do Design Visual ................................................................................................ 13

Semiótica social da comunicação – categorias de análise ................................................ 13

Conceitos essenciais: texto e género ................................................................................. 14

Discurso e metafunções ...................................................................................................... 15

Significados Composicionais ............................................................................................... 16

Leitura e análise do discurso “Almada, terra de diversidade” .......................................... 16

Leitura de imagens – leitura do mundo ............................................................................. 22

Leitura do cartaz de divulgação da exposição gentes de Almada .................................... 24

Enquadramento e leituras da vida de um emigrante ........................................................ 25

Leitura de imagens fixas - Fotografias documentais ......................................................... 26

Considerações finais ........................................................................................................... 30

Referências Bibliográficas e Webgráficas .......................................................................... 31

Anexos ................................................................................................................................. 34

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A cultura pode ser definida como um “conjunto de sistemas semióticos, um conjunto de sistemas de significado, os quais se relacionam entre si” (Halliday & Hasan, 1985) A língua é um entre um número de sistemas de significado, que junto com os visuais ”constituem a cultura humana” (Hasan, 1984)

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Nota introdutória

“ (…) a função do intelectual não é tanto a de modificar a realidade (…), mas a de modificar o olhar dos outros e o seu próprio olhar sobre a realidade.”

(Lourenço, 2009)

Para compreender as representações institucionais do poder político local sobre “as gentes de Almada” e numa perspetiva de leitura e análise reflexiva dos contextos de produção de sentidos, partimos de exemplos − evidências comunicativas textuais e gráficas – apresentando interpretações de textos e imagens de referência como modos diversos de ver, ler e significar a “paisagem humana” do território multicultural que é o concelho de Almada.

Pretendemos fazer uma análise interpretativa das representações socioculturais − centrada sobre o território, as práticas e a sua significância que reflita as funções sociais dos usos da linguagem escrita e visual, modos de comunicação, produtores de significado.

Com este propósito, recorremos aos instrumentos metodológicos da Gramática sistémico-funcional e aos contributos da Gramática do Design Visual, adotando o referencial da Semiótica Social.

Partimos da conceção de texto e género, numa perspetiva multimodal, de modo a compreender e a apreender a abrangência dos seus significados.

Questionamos a diversidade linguística e cultural, para tomar consciência das dinâmicas de integração sociocultural das minorias étnicas residentes em Almada, de modo a objetivar outras leituras sobre a realidade, participando na construção de novas abordagens educativas e formativas, potenciadoras de outros olhares, de outras leituras do Outro, de outras visões do Mundo.

Deste modo − e tendo como objeto de estudo o discurso da Presidente Câmara Municipal de Almada, texto inaugural da Exposição Gentes de Almada e três das imagens da referida exposição − foi nossa intenção procurar ler a cidade, na sua escrita e imagética, visando analisar os significados sociais construídos.

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Referência para o estudo – Documentos e sua pertinência

António Avelar refere que a investigação, acerca do mundo físico, se estabelece,

por via de um método científico que, de forma canónica, dá lugar a um processo que assenta faseadamente, na enunciação de um problema, na formulação de uma hipótese, na recolha e análise de dados, e nas respetivas conclusões (Avelar, 2007).

É nossa intenção procurar interrogar, encontrar ou conceber respostas a questões levantadas pela curiosidade das vivências quotidianas. Procurar relacionar a capacidade de leitura e compreensão de textos de referência, identificar problemas, apresentar e avaliar argumentos baseados em evidências e aplicar apropriadamente as conclusões assentes nesses mesmos argumentos (DeBoer, 2000).

A base de referência para o estudo, que nos propomos apresentar, é constituída pelos documentos:

Gentes de Almada, brochura concebida e organizada para divulgar a exposição Gentes de Almada. (Anexo 1)

Entrevista de um indivíduo imigrante, estruturada em função de critérios estabelecidos, por parte do Museu da Cidade, na qualidade de entidade que a concebeu e aplicou com o objetivo de conhecer o processo imigratório da Guiné - Bissau para Portugal, Almada, centrado no agregado familiar e em aspetos sócio - económicos. (Anexo 2)

O corpus do trabalho é constituído pelos documentos:

“Almada, terra da diversidade” texto de abertura assinado pela Senhora Presidente da Câmara Municipal de Almada que consta da brochura de divulgação da exposição Gentes de Almada; (Anexo 3)

Cartaz de divulgação da referida exposição que consta da Agenda de Almada, edição 96 de Maio de 2010; (Anexo 4)

Fotografias (2) de um indivíduo da Guiné – Bissau, fixado, num dos bairros do Monte da Caparica, com o respetivo agregado familiar que constam da brochura de divulgação da exposição Gentes de Almada. (Anexo 5)

Os documentos referenciados fazem parte do espólio documental da Câmara Municipal de Almada, Museu da Cidade de Almada e foram produzidos e editados, no âmbito da exposição temporária Gentes de Almada, que esteve aberta ao público, no referido museu, de 7 de Maio a 16 de Outubro de 2010, inserida nas comemorações dos 500 anos do nascimento do autor da Peregrinação, Fernão Mendes Pinto.

Os documentos revelaram um elevado interesse e importância para o estudo, tendo feito apelo a outros textos que não só esclareceram, como permitiram organizar e construir sentido, de forma mais consistente e científica.

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Almada – terra de encontros / expressão e construção social da realidade

Almada, uma das principais praças militares árabes a sul do Tejo, foi conquistada

pelas forças cristãs de D. Afonso Henriques em 1147 e, em íntima relação com a História e os povos que a habitaram, guarda o topónimo de raiz árabe (transliteração:al-ma'adan), «a mina». 1

Os diferentes textos da brochura Gentes de Almada confrontam o leitor com um concelho que tem vindo a acolher um mundo de gentes, em sucessivos períodos de migrações em contextos diferenciados e, por esse facto, se dimensionou, como terra de acolhimento. Desenvolveu, para o efeito, novas competências, de intercompreensão e de aprendizagem multicultural, visando reorientar e traçar caminhos em pluralismo social, segundo princípios criteriosos de valorização e respeito pela diversidade das gentes que a escolheram como destino. Almada tem procurado construir, em espírito de cidadania, as respostas fundamentais à integração das comunidades que aqui vivem e que aqui pertencem.

Como atraiu as gentes do mundo, esta margem esquerda, tornou-se um viveiro de saberes e experiências de vida, de culturas, partilhadas pelos mais diversos povos que aqui se localizaram e aqui se desenvolveram, tendo guardado, cultivado e projetado os seus conhecimentos, as suas tradições e memórias.

Lugar privilegiado de encontros de diferentes gentes e culturas, de factos, instituições e políticas favoráveis ao seu desenvolvimento, reconhece-se na diversidade inspiradora de pessoas e de sensibilidades. Integradora, esta cidade cosmopolita desenvolve um projeto educativo e cultural de cidade que visa incluir no respeito pela diferença.

A sua localização geográfica, entre o rio Tejo e o Oceano Atlântico e Lisboa, constituiu, desde sempre, forte atrativo para a aproximação e fixação de pessoas, ao longo dos tempos, desde a pré-história até à atualidade.

Da história recente sabemos que foram vários e representativos os fluxos de migrações, nacionais e internacionais. Em direção a Almada, ganhou sentido a viagem, a procura, o encontro e a vida de gentes de todo o Portugal, em particular, das Beiras ao Algarve, de gentes dos países africanos de língua portuguesa, PALOP, de gentes do Brasil, de gentes do leste da Europa, de gentes da Ásia.

O novo sistema mundial que integra componentes culturais, económicas, sociais e políticas, intensificou e promoveu mudanças estruturais, favoreceu e estimulou fortemente o encontro e a aprendizagem dos humanos a conviver uns com outros à escala global, através de movimentos estratégicos, na busca de conhecimento, empregabilidade e de desenvolvimento pessoal, profissional e social. A eterna diáspora.

Em demanda, movidos uns e outros pela procura incessante de melhores condições de vida; alguns outros, por alterações do curso da história e da ordem política

1 pelo motivo de que, aquando do domínio árabe da Península Ibérica, os árabes procediam à

exploração do jazigo de ouro da Adiça, no termo do Concelho.

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mundial. São factos relevantes a descolonização, a dissolução das comunidades integrantes da antiga união das repúblicas soviéticas socialistas e a integração de Portugal na Comunidade Europeia.

Já desde a década de 70 e no contexto de uma globalização crescente que os intensos fluxos mundiais − de informação, tecnologia, capital, bens, serviços e pessoas – se tornaram uma realidade quotidiana.

Neste contexto de mudança estrutural das sociedades, Almada organiza-se, como espaço central de um fluxo migratório continuado no tempo, reflexo da sua particularidade, num contexto de diáspora nacional e transcontinental mais alargado. (Cf. Figura 1)

Figura 1: Gráfico Concelho de Almada, habitantes estrangeiros residentes

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A Cidade de Almada, terra da diversidade, afirma-se singularmente pela sua profunda e estruturante multiculturalidade que lhe confere a sua identidade própria, plural e universal.

A diversidade linguística e cultural tem sido determinante e estratégica para mobilizar e contextualizar saberes culturais, científicos e tecnológicos, visando compreender a realidade e abordar as situações e os problemas emergentes.

Uma rede de parcerias competentes e de referência, nomeadamente, instituições internacionais, nacionais, de poder local, universidades, escolas, associações culturais, profissionais, e outras, têm contribuído para desenvolver o conhecimento e a reflexão sobre este território multicultural, um Concelho que se tem afirmado, como “dinâmico, competitivo, moderno, próspero e universal”, referências que constam do programa de ação da Câmara Municipal de Almada (Câmara Municipal de Almada)

As políticas sociais que organizam e regem o concelho, segundo se interpretou, pretendem responder a um compromisso com todos os cidadãos, sendo que entre outros destacamos os eixos da Participação e Governança, da Cultura e Solidariedade, de modo a compreender a Visão de Almada que se estrutura e consubstancia na promoção “de uma cultura participativa e solidária, incentivadora do diálogo social nos processos de pensamento sobre a cidade, recursos fundamentais à edificação de uma terra construída por todos e à medida de todos” (Câmara Municipal de Almada)

Almada enquanto membro da rede portuguesa das Cidades Educadoras fundamenta e sustenta muita da sua ação política, social e cultural nos princípios da Carta Universal das Cidades Educadoras, em interação permanente com o seu saber conscientemente adquirido, através da reflexão profunda sobre as diferentes áreas da vida da cidade, das suas características, pontos sensíveis, potencialidades e oportunidades, cuja essência emerge do diálogo imprescindível dos habitantes com o território.

Almada procura evidenciar, através dos diferentes órgãos de comunicação e informação do poder local, da autarquia, que (se) pensa, age e ousa ter uma política social interventiva. Torna-se evidente e de interessante análise, a estratégica difusão das suas políticas, através de formas multimodais de comunicação, textos, imagens, cores, sons e movimentos da cidade, várias fontes, apostando nos cidadãos, enquanto leitores/recetores e atores sociais. Os meios informativos e jornalísticos são variados, adequados e complementares, servindo as intenções dos seus dirigentes políticos, de modo a permitir leituras e dinâmicas compreensivas, a nível dos contextos local e nacional em particular, inseridos, contudo, em dimensões europeias e mundiais.

O site (Cidade Educadora) revela-se um potencial meio de informação e de comunicação social, de conhecimento e de participação, meio que serve, como tribuna para apresentar Almada e proclamar as suas políticas, medidas e estratégias em curso.

Em estreita articulação com o site, a comunicação impressa – revista de Almada e a Agenda Cultural − regista, partilha e pontua o sentido do caminho da governança e da cultura que se vive e reflete nos projetos, atividades, obra feita e obra a fazer, com publicação mensal gratuita, difusão domiciliária e nas instituições públicas e privadas. Uma política editorial estratégica, significativa aposta na interação entre o poder autárquico e a comunidade local, propiciando a construção de unidades de significados

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socioculturais, abordagens semióticas, multimodais, marcadas por uma profusão de blocos de textos e de imagens, cores e títulos apelativos, para sensibilizar e motivar a atenção e o interesse dos seus leitores.

De referir também uma permanente e avisada galeria de comunicação visual, através de eloquentes outdoors que, no espaço público, e em zonas de proximidade, veicula mensagens portadoras de significação, relativamente à importância da pessoa do munícipe, como agente ativo na transformação positiva do território que, como é dito, é seu e se organiza intencionalmente para o seu bem-estar. Propõe um dos conselhos “Almada tem− Centros de Cultura− Use o que é Seu”.

Para Kress e van Leeuwen a comunicação visual não só representa o mundo, como estabelece uma interação social, com ou sem o acompanhamento do texto escrito, tornando-se um tipo de texto reconhecível e dotado de uma unidade significativa.

Questionar e refletir sobre a cultura e a identidade cultural, à luz da atual globalização, do ponto de vista de uma antropologia crítica e científica é um dos objetivos deste estudo.

Para uma visão crítica da cultura nas sociedades multiculturais

Na perspetiva da Antropologia clássica, do início do século XX, a ideia de cultura é “localizada, homogénea e estática, designada de essencialista, ou culturalista” (Stolcke, 1995). Este autor refere ainda que os conceitos de cultura e de identidade cultural “foram apropriados pelas retóricas políticas dos estados europeus a fim de legitimar estratégias de exclusão de determinados grupos sociais dentro das suas fronteiras”.

Terence Turner, reforçando a aceção antropológica clássica de Stolcke, considera a cultura e a identidade cultural “como unidades autónomas e isoladas, sistemas estruturados e significados e símbolos relativamente independentes dos processos materiais, sociais e políticos que os contextualizavam (Turner, 1993).

Na segunda metade do século XX, como resultante da interação entre os múltiplos movimentos sociais e a crescente globalização, tornou-se necessário problematizar a ideia de cultura e identidade cultural, no âmbito de uma antropologia crítica.

Deste modo, o antropólogo Fredrik Barth lançou um novo paradigma de análise construtivista das identidades étnicas, no qual se atribui significado às noções de contexto, interação, atores sociais, processo, diferenciação, fronteiras, mudança e construção - chaves interpretativas para a problemática das identidades culturais.

Michel Agier corroborando Barth resume assim a nova abordagem de cultura como sendo um: “vasto celeiro de significações” construído pelas pessoas ao longo do tempo e do qual se utilizam de acordo com as seleções situacionais, o que pode tornar os componentes do celeiro cultural diversos e mesmo contraditórios. O caminho que vai da cultura à identidade, e vice-versa, não é único, nem transparente e tão pouco natural. Ele é social, complexo e contextual “

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A dimensão cultural da globalização “tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-históricas” (Hall, 1997).

Deste modo, tem sido objeto de grande estudo e reflexão, por parte dos antropólogos, cujas diferentes abordagens: construtivista, situacional, relacional, processual, discursiva, apresenta propostas radicais do ponto de vista teórico e político, porque colocam a tónica na ação dos sujeitos e na sua capacidade de criar diferenciações e identificações, recriando, dessa forma a cultura.

A relação dialética entre a cultura e identidade – das identidades culturais às culturas identitárias – mostra que as pessoas não são detentoras passivas de uma cultura e de uma identidade “dentro” das quais vivem, mas sim atores sociais que jogam no “jogo da cultura”, de forma competitiva e estratégica, e por isso política (Agier, 2001).

Segundo alguns autores de referência, uma política multicultural crítica deverá promover nos atores sociais:

Descentramento cultural, com ênfase nas relações sociais como relações de poder e a autoconsciência dos valores partilhados, por forma a gerar uma capacidade coletiva criadora e emancipadora que tome a diversidade cultural como um meio e não como um fim (Turner, 1993)

Capacidade de questionar, relativizar e contextualizar a diversidade cultural presente em determinado contexto por forma a permitir a criação de identidades coletivas mais conscientes das suas diversas referências e componentes e orientar a sua ação política mais pelo que querem do que pelo” lugar” de onde vêm (Wade, 1995)

Visão mais ampla das identidades culturais, em que as diferenças não sejam apenas diversidade, mas recursos para o questionamento sobre o tipo de sociedade que desejam e para a construção de bases comuns que permitam o antagonismo, a incerteza, a discussão e a negociação entre interesses múltiplos (Bulmer & Solomos, 1998)

Tomada de consciência das suas ações e limitações culturais e da sua capacidade de as manipular, questionando fronteiras culturais reificadas e relativizando as diferenças, por forma a saírem do paradigma culturalista e passarem a um paradigma multi-relacional que incorpore os outros e gere processos de convergência (Baumann, 1999)

Contacto, comunicação e atenção aos diferentes pontos de vista, reconhecendo as diferenças culturais mas também as suas transformações, associadas à preocupação de contrariar as desigualdades e a injustiça social (Wieviorka, 2002)

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Referencial teórico-metodológico – breve apresentação

Numa breve síntese, abordaremos as três escolas que se dedicaram ao estudo da

linguística, com o objetivo de adaptar a linguística aos modos não-verbais da comunicação (Kress & van Leeuwen, 1996).

Escola de Praga, entre 1930 e 1940, caracteriza-se por desenvolver trabalhos no campo da arte, utilizando um método "científico" para estudar a linguagem, contrapondo-se às abordagens tradicionais psicológica e histórico - cultural. Jakobson distingue-se entre outros, a partir da base linguística estudada pelos formalistas russos.

Escola de Paris, entre1960 e 1970, expandiu as ideias de Saussure a diversas áreas e estudos em moda e fotografia, cinema e música entre outras. Com Saussure nasce o estruturalismo linguístico e a teoria dos signos, ampliando, assim, o conceito de semiologia. Centrou-se muito no estudo da língua e definiu-a pela dicotomia de significante e significado para compor o signo. Os conceitos de significante e significado, signos, arbitrário e motivado, eixos sintagmáticos e paradigmático, respeitam a linguagem e comunicação, e designam-se por semiologia.

Escola de Semiótica Social teve início na Austrália, em 1980 e assenta nos pressupostos da Linguística Sistémico-Funcional, proposta teórica de Michael Halliday, que implicou o questionamento das teorias dos grandes linguistas: Ferdinand de Saussure e William Lavob, uma vez que nenhuma das duas propostas permitia um estudo acabado do binarismo "língua"/"fala": ou tratava a opção sistémica (língua) ou a opção funcional (fala). Halliday aprofunda um novo modelo para o estudo da linguagem, integrando a componente sociocultural como chave para a sua compreensão.

Hodge e Kress inspirados no modelo de Halliday teorizaram sobre a semiótica social aplicada a textos multimodais, propondo levar em consideração todos os modos semióticos que compõem o modo verbal. Nesta perspetiva, contrapõem as bases da semiótica tradicional que não permitia a integração dos usos e funções sociais dos sistemas semióticos, impossibilitando uma prática analítica consistente que viabilizasse a descrição e interpretação das estruturas e processos através dos quais os significados sociais são construídos (Kress & Hodge, 1988) . Hodge e Kress propõem, assim, integrar a dimensão social para entender a estrutura e o processo da linguagem, partindo da premissa que nenhum modo semiótico pode ser estudado isoladamente, uma vez que o significado é composto pela integração de vários modos semióticos (visual, sonoro, gestual, entre outros).

O enfoque é dado ao processo de produção do signo e não ao próprio signo, como preconizava a semiótica tradicional. O signo resulta, assim, de um processo de produção, no qual os estratos de significante e significado são relativamente independentes um do outro, porque o significado é construído a partir do interesse e da opção do produtor do signo, o qual adequa o modo semiótico ao respetivo contexto social específico.

Hodge e Kress caracterizam a abordagem semiótica, como “ (…) o estudo geral da semiose, isto é, dos processos e efeitos da produção e reprodução, receção e circulação dos significados em todas as suas formas, utilizadas por todos os tipos de agentes de comunicação (…). A semiótica social focaliza a semiose humana, compreendendo-a como

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um fenómeno inerentemente social nas suas origens, funções, contextos e efeitos (…). Os significados sociais são construídos por meio de uma série de formas, textos e práticas semióticas de todos os períodos da história da sociedade humana” (Hodge & Kress, 1988).

Kress e van Leeuwen ao estabelecerem as premissas para uma teoria que se centra nas relações entre comunicação e sociedade propõem o estudo da semiótica social para contemplar todas as formas de significação, entendidas como atividades sociais marcadas pela política e pelas estruturas de poder. Pode-se inferir que a produção de signos está, nesta lógica, diretamente relacionada com os meios formais de comunicação e representação (Kress & van Leeuwen, 1996).

“A comunicação requer que os participantes produzam as suas mensagens para que sejam entendidas com sucesso, num contexto específico. Torna-se necessário, portanto, que estes participantes escolham formas de expressão que acreditem ser as mais transparentes para outros participantes. Por outro lado, a comunicação toma lugar em estruturas sociais que são inevitavelmente marcadas por diferenças de poder e isso reflete em como cada participante entende uma determinada mensagem (…).

“A representação presume que a produção do significado escolha formas para a expressão que os seus produtores têm em mente, ou seja, a forma considerada como a mais apta e pertinente num dado contexto. Essa lógica aplica-se também ao interesse das instituições sociais nas quais as mensagens são produzidas, e assim os modos de representação tomam a forma das histórias das convenções” (Kress & van Leeuwen, 1996).

Os jornais, revistas, livros e cartazes publicitários envolvem hoje uma inter-relação entre texto escrito, imagens e outros elementos gráficos que, se combinam num design visual, o chamado layout, que associa elementos de diversas fontes e técnicas visuais, norteados por objetivos e funções específicas (Kress & van Leeuwen, 1996).

O conceito de multimodalidade torna-se indispensável para entender o significado construído por esses textos.

A semiótica e os textos multimodais

Na atualidade, Kress e van Leeuwen estudam e teorizam sobre as profundas transformações da comunicação visual pública, evidenciadas, sobretudo, nas formas e características dos textos, que se apresentam, multimodais, ou seja, textos nos quais coexistem mais de um modo semiótico (visual, sonoro, gestual, entre outros). Esta mudança reclama novas abordagens interpretativas e compreensivas. Neste sentido, os referidos autores esclarecem e evidenciam a importância de ler e interpretar os textos, de forma sistémica, a partir da conjugação de todos os modos semióticos neles inscritos (Kress & van Leeuwen, 1996).

O modo verbal, detentor de centralidade, na perspetiva tradicional, integra-se, assim, como um modo entre outros modos produtores de significado, na abordagem semiótica e multimodal da comunicação.

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Cumpre-nos conhecer e adquirir competências, no âmbito da análise dos principais modos de representação em função dos quais um determinado texto é produzido e realizado, para compreender o potencial de origem histórica e cultural utilizado para produzir o significado de qualquer modo semiótico, que integra e combina dimensões portadoras de sentidos.

Gramática do Design Visual

Com o objetivo de desenvolver uma metodologia adequada para a análise de

textos multimodais, Kress e van Leeuwen propõem a gramática do Design Visual (Kress & van Leeuwen, 1996), que visa o estudo da comunicação visual.

Segundo Kress e van Leeuwen gramática congrega em si a ideia de regras e normas socialmente convencionadas e aceites. A gramática do design Virtual − GDV - contraria essa ideia prescritiva e normativa, porque se centra na descrição e explicação de como os recursos semióticos são usados nos domínios particulares. Com efeito, a finalidade da GDV prende-se com descrever o modo como os indivíduos, coisas e lugares combinam e dimensionam a produção de sentido, através de expressões visuais de maior ou menor complexidade e extensão.

Na GDV as formas gramaticais são concebidas como recursos cuja função é codificar interpretações da experiência e formas de inserção social. Nesta abordagem, os especialistas pretendem criar novos recursos ou utilização inovadora dos recursos já disponibilizados, concorrendo para a produção e interpretação da comunicação visual.

Semiótica social da comunicação – categorias de análise

A semiótica social da comunicação visual é funcionalista.

Esta noção decorre do trabalho de Halliday que destaca três tipos específicos de trabalho semiótico – as chamadas metafunções, sempre realizadas simultaneamente, a saber: a metafunção ideacional, relacionada com o tipo de atividade em curso, a metafunção interpessoal, decorrente do tipo de relação entre os participantes, a metafunção textual, o modo como o texto organiza as metafunções ideacional e interpessoal (Halliday, 1994) (Kress & Hodge, 1988)

A teoria metafuncional de Halliday integra e organiza a Gramática do Design Visual proposta por Kress e van Leeuwen (2000), assim, a organização metafuncional realiza os seus significados através das mesmas funções: representacional ou ideacional, significados representacionais, interativa ou interpessoal, significados interativos e composicional ou textual, significados composicionais.

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Segundo Kress e van Leeuwen os significados representacionais são realizados de modo concreto ou abstrato pelos participantes descritos, (indivíduos, lugares ou coisas), e podem ser subdivididos em duas estruturas: a narrativa, relacionada a representações e eventos; e a conceitual referente à representação da “essência” dos participantes, podendo ser classificacional, analítica ou simbólica. Os significados interativos expressam-se pelo tipo de interação estabelecida entre os participantes representados, os produtores da imagem e os espectadores destas mensagens visuais, através dos seguintes recursos: o sistema do olhar, o enquadramento e a perspetiva. Os significados composicionais através do conceito de composição, como a forma pela qual os recursos representacionais e interativos são integrados para estruturar os elementos do layout, conferindo - lhes coerência e unidade de significação, através de três sistemas inter-relacionados: valor informacional, saliência e moldura.

Conceitos essenciais: texto e género

A noção de texto “ (…) refere-se a uma unidade de uso linguístico, sendo texto tudo o que produzimos quando comunicamos, podendo o mesmo ser falado ou escrito, produzido num contexto de uso específico das linguagens e das línguas (…) com as funções que tem de cumprir (…), manifestando-se em dois níveis distintos (…). Um texto ocorre sempre em dois contextos, um dentro do outro: o contexto de situação e o contexto de cultura” (Gouveia, 2008).

A produção de um texto, escrito ou oral, vai depender sempre do contexto de situação, e do contexto de cultura. Deste modo, as escolhas linguísticas são socialmente determinadas pela interação do contexto de cultura e do contexto de situação.

O texto caracteriza-se pelos traços internos e linguísticos e o género caracteriza-se por critérios externos ao texto, determinados pelo contexto social onde o texto se insere e realiza uma função reconhecida pela comunidade (Paltridge, 1996), (Marcuschi, 2002).

A teoria do género foi desenvolvida como um prolongamento dos trabalhos iniciais da Linguística Sistémico-funcional de Halliday.

Como já referido, a teoria Linguística Sistémico-funcional concebe a linguagem como um sistema de escolhas e de funções sociais, exercidas, num determinado meio social, pelos respetivos utilizadores. A estrutura de uma narrativa pressupõe a escolha de um género.

A noção de género refere-se a um lugar onde o significado é construído, onde os indivíduos interagem, dão forma aos seus pensamentos através da forma que dão à língua que usam, do contexto em que interagem, da cultura onde é usado e que o influencia (Bazerman, 1997) (Paltridge, 2004) (Bonini, 2004).

Assim, “ um género compreende uma classe de eventos comunicativos em que os membros da comunidade compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da comunidade discursiva original e constituem a razão do género. Esta racionalidade modela a estrutura

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esquemática do discurso e influencia e restringe as escolhas de conteúdo e estilo. O propósito comunicativo, além de ser um critério privilegiado, também opera para sustentar o escopo de um género, mantendo-se enfocado estreitamente em determinada ação retórica compatível com o género. Além do propósito, os exemplares de um género exibem vários padrões de semelhança em termos de estrutura, estilo, conteúdo e audiência” (Swales, 1990).

Discurso e metafunções

Entenda-se “discurso” como (…) “conjuntos de declarações sistematicamente organizadas que expressam os significados e valores de uma determinada instituição. Para além disso, os discursos definem, descrevem e delimitam aquilo que pode ou não ser dito com relação à área referente àquela instituição” (Kress, 1985).

Os significados composicionais do discurso expressam e integram os recursos representacionais e interativos. Com foco no valor informacional, que atribui significado aos elementos em função do seu lugar no texto, segundo Kress e van Leeuwen existe uma direção de leitura da esquerda para a direita e de cima para baixo nas sociedades ocidentais. Cada um dos espaços abordados pode adquirir significações particulares em determinados contextos.

O discurso realiza-se também por critérios externos ao texto, determinados pelo contexto social onde o texto se insere e realiza uma função reconhecida pela comunidade.

Numa perspetiva de semiótica social, partimos do entendimento de que as metafunções de Halliday, adotadas por Kress e van Leeuwen, coexistem com denominação equivalente – representacional ou ideacional, interativa ou interpessoal, composicional ou textual – e com funções próprias para a realização dos seus significados representacionais, interativos e composicionais. As designadas estruturas constroem respetivamente: a natureza dos eventos, objetos e participantes envolvidos e as circunstâncias em que ocorrem; a natureza das relações de quem vê e o que é visto; a distribuição do valor da informação ou ênfase relativa entre os elementos da imagem, organizando o texto e conferindo-lhe coerência e unidade de significação.

Os significados composicionais, recursos da nossa análise discursiva, expressam-se, como já referido, através da integração dos recursos representacionais e interativos, interrelacionando valor informacional, saliência e moldura.

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Significados Composicionais

Segundo a abordagem teórica de (Kress & van Leeuwen, 1996) os significados composicionais organizam - se, em relações de polarização − de esquerda e direita − topo e base – e de centralização − centro e margem.

As unidades de sentido do texto estruturam-se, tendo por base diferentes enquadramentos, com funções específicas: Esquerda-Direita, um espaço detentor de significações que envolvem juízos de valor e dimensões ideológicas e ontológicas.

Neste domínio, a estrutura Dado-Novo, configura e relaciona os elementos colocados à esquerda do texto e à direita do texto, designados respetivamente, como Dado, referências já conhecidas, do senso-comum, ponto de partida para a leitura da mensagem, que faz parte da cultura geral da sociedade; e como Novo, referências não conhecidas, que implicam uma especial atenção à mensagem, cuja informação é mais elaborada, eventualmente, problemática, discutível e suscetível de ser posta em questão ou discussão.

Esta estrutura pode ser marcada ideologicamente, pelo valor informacional conferido a cada elemento do texto, potenciador de diferenças ideológicas entre os que não comungam dos mesmos valores veiculados.

As unidades de sentido do texto organizam-se, tendo por base o enquadramento específico: Topo-Base, um espaço que respeita a condição da informação.

Neste domínio, a estrutura Ideal-Real, configura e relaciona os elementos colocados na parte superior do texto e na parte inferior do texto, designados respetivamente, como Ideal. Esta dimensão é portadora de ideologias, de valores mais abstratos, propiciando tensões e emoções. Perspetiva-se na visão do possível, das hipóteses e dos ideais, votados de mais poder e sucesso, e com extensão temporal, quer seja no passado como no futuro; a dimensão Real configura informações mais específicas, e realistas, de caráter simples e prático, direcionadas para a ação. Carateriza-se por deter menos poder e por se associar a situações concretas e experimentais, com possibilidades de realização, num tempo presente.

Nesta complexidade de funções e significações, se define um espaço vital, um foco, de dimensão simbólica, designado como Centro, porque unifica as informações em torno de um significado principal. Funciona como núcleo da informação atribuindo-se-lhe alto nível de saliência. Em relação se configuram as Margens, como elementos de menor destaque, subservientes e em relação de dependência com o Centro.

Leitura e análise do discurso “Almada, terra de diversidade”

O discurso em análise evidencia e cumpre, de forma surpreendente, as configurações referidas na teoria acima apresentada.

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O texto apresenta, segundo se apurou, as estruturas − Centro e Margem, Dado e Novo, Ideal e Real − observando-se a configuração de uma cruz, símbolo espacial muito expressivo da nossa cultura. (Cf. Figura 2)

A partir do enquadramento teórico e das relações enunciadas e, tendo como referência uma abordagem polarizada − de esquerda e direita − topo e base − e centralizada − centro e margem, apresentamos o nosso estudo.

Com efeito, da leitura focada, no lado esquerdo do texto, no sentido do topo para a base, verificámos um conjunto de informações familiares, conhecidas, de compreensão comum, “(…) Quando se comemoram os quinhentos anos; Peregrinação; o nosso Museu da Cidade apresenta-nos; a diversidade cultural como traço incontornável; contributo para o património comum; os almadenses orgulham-se do seu passado; de diferentes origens e culturas; comércio e convergência de rotas de escravos; cultural promovida pela excelência da sua localização (…)”veiculadas por uma utilização remissiva de recursos textuais, a par da imagem, saliência visual, de grande importância, tendo em conta a sua contextualização e conexão textual. Efetivamente, a inclusão de uma única, mas significativa imagem, contribuiu para a produção de significados representacionais e interativos. (…)“as estruturas constroem visualmente a natureza dos eventos, objetos e participantes envolvidos, e as circunstâncias em que ocorrem favorecendo o reconhecimento social, a natureza das “relações de quem vê e o que é visto” (Unsworth, 2000).

Os participantes são confrontados com uma imagem, uma figura feminina conhecida, que encabeça o discurso, a presidente da Câmara de Almada.

A saliência é de máxima importância, pela potencialidade da sua significação. Disposta, nos domínios Dado - Ideal, a imagem cruza referências do senso-comum, da dimensão do conhecido, do adquirido, do déjà vu, por um lado e, por outro, comunga da essência da informação, de um potencial ideológico, de maior emotividade, e de valores de efeitos mais positivos e dotados de mais poder. Desta forma se potenciam as significações, através da associação e interação das representações, visando a melhor comunicação social dos desígnios políticos do poder local.

O texto, construído de forma coerente, concisa e precisa, dá visibilidade à entidade que o subescreve, patente na assinatura e na informação do cargo funcional do emissor do discurso. Esta é também uma norma própria da especificidade do género jornalístico que, segundo julgamos, caracteriza este texto.

Em absoluto contraponto constatamos que os elementos da direita são portadores do novo “ (…) nascimento de Fernão Mendes Pinto, autor; apresenta-nos a exposição Gentes de Almada. Esta sublinha; identidade almadense; os que fizeram deste Concelho a sua terra; marcado pelo contacto, presença, e fixação das populações; testemunhos fenícios, romanos, muçulmanos; navegadores, soldados e mercadores, numa amálgama; localização geográfica na relação com o Tejo e com a capital”, de ideias com carga simbólica, mensagens polémicas e discutíveis, do ponto de vista de grupos sociais contrários ao valor informacional dos eventos e à ideologia das referências.

O processo discursivo orienta-se, no sentido do topo para a base, comprovadamente do domínio do Ideal para o domínio do Real − de um tempo do passado longínquo para um tempo atual, presente, hoje, de uma maior abstração para

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situações mais concretas e conformes à realidade. A ordem dos factos da história dá lugar à ordem da história de vida das Gentes de Almada, da aventura de ilustres portugueses, propõem-se oportunidades para todos. Valoriza-se a participação, a intervenção social. Disponibilizam-se condições para o desenvolvimento e integração social em Almada, terra da diversidade, que se afirma ser e fazer acontecer. Todas as pessoas são convocadas a tomar parte, no movimento, na construção da mudança. No final do texto, no espaço do Real, nas estruturas Dado-Real/Novo-Real, os elementos informacionais compõem a ideia de construção de futuro, feito por Pessoas ativas e empenhadas, dotando a realidade social e coletiva de uma consciência transformadora e atuante.

O termo exposição adquire e assume funções e dimensões simbólicas.

Exposição, 1º parágrafo, no espaço Dado-Ideal, significa evento, facto para ver a diversidade cultural de Almada; exposição, 6º parágrafo e último, no espaço Dado-Real, significa representar e ser (vista como) mais uma valiosa oportunidade de perceber o que somos hoje.

No domínio do Novo-Real, a assinatura manuscrita e a designação do cargo da presumível autora do discurso conferem estatuto e responsabilidade civil ao sujeito, revelando-se, como saliência prestigiada e muito representativa, em conexão com a imagem feminina, saliência de grande visibilidade e intencionalidade, no topo do texto, domínio Dado-Ideal.

Ver e ler a exposição Gentes de Almada – torna-se pretexto cultural para ver e ler a cidade, para ver e ler na cidade, o mundo plural que a habita. Questionamento identitário individual e coletivo.

Quem somos? Como somos ou podemos ser parte da diversidade que escreve a história singular e comum de Almada?

O texto funda-se e move-se, em função de um Centro, que congrega ideias de dimensão política e social, valorizadas pelo sentido da experiência ao longo dos tempos, e reforçadas pelo projeto de construção coletiva de cidadania.

O Centro revela-se e afirma-se, como uma saliência de grande ilustração de ideias fulcrais de ação, significância estruturante e vital da essência do discurso, exemplificando:

“(…) esta massa imigrante encontra um interesse partilhado no associativismo (…) em torno de movimentos e de projetos de intervenção social, de luta e resistência, (…) tornando o associativismo popular um traço de identidade almadense (…) o Município tem vindo a afirmar a construção de uma Cidade que contribua para a autoestima e felicidade de todos, (…) como contexto para a ação e o pensamento, (…) como incentivo para o desenvolvimento, a imaginação e a criatividade dos cidadãos, como centro de oportunidades para a educação, o emprego, o lazer e a saúde.

Como se tentou analisar, os elementos textuais e visuais, decorrentes da função, do lugar, das conexões, e relações de polarização e de centralização que desenvolvem, produzem sentidos essenciais de intervenção social e aposta estratégica no futuro.

A simbologia emanada da projeção visual da figura da mulher, presidente, investida de poder, e de potencial ideológico, permite leituras polémicas e interessantes.

Do nosso ponto de vista, coloca interpelações positivas, confiantes e mesmo revolucionárias, na medida em que interfere no questionamento de estereótipos e

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preconceitos. A imagem, única, assumida, de topo, interage com a assinatura personalizada, assumida, de base, no final do discurso. Este registo manuscrito, clássico apontamento de honra e palavra, configura uma vez mais a ideia de que se pode acreditar na preponente do discurso e no valor da mensagem que constrói. Pelos mesmos argumentos de verdade e autenticidade, se poderá reportar e inserir este discurso, na tipologia de textos do género jornalístico.

Com efeito, o princípio da assunção de responsabilidade civil pelos atos de comunicação, na esfera pública, releva, intencionaliza e confere credibilidade ao discurso, registado e difundido, como memória futura, a preservar, no museu da cidade de Almada.

O próprio contexto social, nas suas relações espaciais e temporais, joga com uma multiplicidade de significações, de leituras e interpretações positivas.

A reconhecida senhora da imagem, mostra-se e enfrenta as palavras e os seus leitores, crente no poder agregador da imagem e da mensagem e das suas significações sociais − garantia do poder dos seus desígnios.

Os géneros textuais estão presentes em todas as práticas sociais e “devem ser vistos na relação com as práticas sociais, os aspetos cognitivos, os interesses, as relações de poder, as tecnologias, as atividades discursivas e no interior da cultura. Eles mudam, fundem-se, misturam-se para manter a sua identidade funcional com inovação organizacional.” (Marcuschi, 2002).

No discurso “Almada, terra da diversidade”, enquanto texto multimodal, assinala-se um certo espaço visual que associa significações regulares a partes do seu espaço. Verificamos a existência de um elemento fulcral, localizado em primeiro plano, à esquerda, cruzando os domínios - Dado e Ideal. O espaço do Ideal caracteriza-se pela informação de maior prestígio e saliência. Nesta situação configuram-se interações significativas, entre informações já conhecidas dos leitores, como ponto de partida para a leitura das mensagens, que se afirmam culturalmente estabelecidas e/ou se perfilam como ideologias a suscitar o necessário debate e confronto de ideias.

A harmonia, o sorriso e o olhar afirmativo, que a imagem propõe, em cores suaves e em conexão visual, encimam e distinguem o forte símbolo cultural e político, representado numa figura feminina investida de poder, ator social de referência.

Este elemento designado por Saliência tem como finalidade atrair a atenção do leitor. Apresenta-se na sua máxima importância, uma vez que salienta um elemento de elevado estatuto, a nível político e social, a presidente da Câmara Municipal de Almada, gerando, por isso, relações de hierarquia e poder entre os elementos informacionais, interferindo na produção de sentido e da análise discursiva.

O discurso apresentado, objeto do nosso estudo, revela a produção de linguagem de agentes inseridos numa rede de relações sociais, representantes do poder político, com representações locais do mundo. Trata-se de um texto marcado pelos contextos de situação e o contexto de cultura, produzido por uma instituição social, de interesse público, a Câmara Municipal de Almada.

O referido discurso, cuja fonte emissora está perfeitamente identificada, Presidente da Câmara Municipal de Almada, organiza-se a partir da necessidade de informar, contextualizar e difundir uma notícia, sobre um acontecimento cultural, de âmbito local, a exposição Gentes de Almada.

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Compõe-se de blocos textuais e visuais que expressam informações e referências – notícias, factos, reflexões, argumentações, imagens – modos de comunicação verbal e visual, de representação do mundo, de interação social. As características que apresenta são próprias e comuns ao género jornalístico.

Tratando-se de uma produção socialmente construída, com objetivos políticos e culturais, de fundo, organiza-se na projeção das representações sociais, a partir da compreensão das identidades culturais e sociais dos leitores.

O discurso em apreço realiza-se, num texto visualmente estruturado, com características marcantes do género jornalístico, presentes, na forma como os recursos representacionais, interativos e composicionais se integram para produzir significados.

Organiza-se, sob o signo da dualidade e em função de elementos dispostos a par, vinte e seis linhas, em seis parágrafos, emparelhados, quanto ao número de linhas que os constituem (4,4,/6,6,/3,3), de igual modo espaçados, compondo uma unidade formal, convergente com os traços internos, linguísticos e visuais do texto.

Ostenta no topo e na base do texto, nas estruturas Dado-Ideal e Novo-Real em lugar de destaque, e em saliências de prestígio, duas referências de grande valor comunicativo e expressivo verbal e visualmente, a imagem da presidente e a sua assinatura, com averbamento da função que desempenha.

O discurso goza de legitimidade e promove as ideias mestras de uma cidade educadora.

Assume dois nomes próprios, que se interpenetram de visões e representações impressionistas, marcadas pelo género, (Homem – Mulher), funções, (Liderança – Política), dimensões – (humanista – universalista), migrações, (Montemor o Velho - Algarve). À distância de 500 anos, Fernão Mendes Pinto e Maria Emília Guerreiro Neto de Sousa: um par que a exposição encontrou, na terra da diversidade. Um encontro de mundos a conhecer, por esse rio acima, por tanto mar adentro. Almada, lugar de criação, realização e de representações visuais.

Profundamente centrado no devir dos tempos e das gentes, este discurso, potencia o enquadramento histórico de Portugal e, em particular, de Almada.

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Figura 2: Discurso da Presidente da Câmara Municipal de Almada, Exposição Gentes de Almada

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Sob a inspiração fabulosa de Fernão Mendes Pinto continuamos a acompanhar o fluir dos acontecimentos de outros lugares e olhares que se cruzam com os traços: (…) “das Gentes de Almada, Almada estrangeira: a cidade como mosaico de culturas … gente tanto portuguesa como da terra e de outras muitas nações … do que achámos por este rio acima até chegarmos a uma vila… do caminho que fizeram até à cidade … e da diversidade de gentes e nações que nelas vimos … pergunta a essa gente do cabo do mundo …como se chama a sua terra.” (vários, 2010)

Muda-se a cena, a narrativa histórica, coletiva, anónima, dá palco à história de vida autêntica, feita por atores sociais, com nome, com rosto, com família, com experiências e mundividências próprias e representativas do conjunto das famílias de Almada.

Dezasseis indivíduos entrevistados e fotografados contam a sua história, que se torna a história da própria cidade, na forma como as pessoas dela se apropriam e a reinventam diariamente, história comum a todos, unidade na diversidade cultural das gentes de Almada, no entendimento do poder local.

Leitura de imagens – leitura do mundo

Camila Watson é a fotógrafa britânica que, segundo as suas palavras, teve o privilégio de ser convidada a entrar nas casas e nos corações de tantas pessoas com que conviveu e trabalhou, no projeto Gentes de Almada.

Com efeito, esta fotógrafa imigrante, também ela, concentrou-se na tarefa de captar e representar, o sentir da vida de muito dos imigrantes almadenses, através do registo fotográfico, nos espaços do quotidiano, contribuindo para a recolha significativa do património imaterial do concelho de Almada. Dezasseis famílias fotografadas e entrevistadas, a conhecer simbolicamente em nome de tantas outras, que em três grandes movimentos migratórios, se tornaram almadenses convictos, merecendo o reconhecimento público, da sua Comunidade, através da Exposição Gentes de Almada.

O trabalho de Camila Watson beneficiou das suas múltiplas experiências, mundividências e vivências, nas favelas de S. Paulo, Brasil, dos musseques de África, de S.Tomé e Príncipe, dos velhos bairros típicos de Lisboa, da Mouraria onde, atualmente vive e trabalha com as crianças e idosos.

Neste espaço dedicado à leitura de imagens, leitura do mundo, visamos aproximarmo-nos da diversidade cultural de Almada e tentar compreender a sua integração no concelho; refletir sobre as questões que se colocam à escola, aos professores, ao poder local. Tentar equacionar Quem somos? Como somos ou podemos ser parte da diversidade que escreve a história comum e singular de Almada?

Focámos o nosso olhar nos olhares do cartaz de divulgação da referida exposição e em duas fotografias de maior intimidade e afetividade de um imigrante guineense. E que vimos? Que sentimos? Que aprendemos? Como se construiu a comunicação visual?

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As imagens são e servem como “janelas do mundo”, (…) com elas “uma cultura, uma moral, uma imaginação (Kress & van Leeuwen, 1996)

Figura 3: Museu da Cidade – Cartaz da Exposição Gentes de Almada

“ (…) Um olhar sobre as cores que a gente do mundo Que aqui chegou deu à cidade, Postas em histórias de itinerários e fotografias de quotidiano.”

RTP-Programa Nós

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Leitura do cartaz de divulgação da exposição gentes de Almada

O cartaz de divulgação da Exposição Gentes de Almada, como espaço visual de comunicação, pretende sensibilizar os leitores, e estimular o seu interesse, para participarem na exposição Gentes de Almada.

Numa abordagem naturalista e/ou sensorial vemos e lemos uma profusão de sinais, de imagens, cores e formas diversas, sentidos e modos de estar e viver em família, um conjunto diferenciado de gentes, culturas e identidades.

A apresentação visual assume um papel cada vez mais preponderante na comunicação social. Como é que este cartaz organiza, escreve e inscreve visualmente as representações sociais que pretende veicular?

O conceito de “modalidade”, que deriva da linguística tem em atenção a verdade e a credibilidade das declarações que são produzidas verbalmente. Segundo Kress e van Leeuwen o conceito de “modalidade” pode ser igualmente válido para a comunicação visual, no que respeita a veracidade das imagens, de indivíduos, coisas e lugares e dos modos das suas representações, no domínio do real ou do imaginário.

Os padrões de modalidade existentes são quatro a saber: padrão naturalístico o que visualizamos, de forma natural, padrão técnico ou científico, o que exige recurso a métodos científicos, padrão sensorial, definido pela representação dos aspetos sensoriais e afetivos do objeto, padrão abstrato, representação abstrata do objeto (Kress & van Leeuwen, 1996)

A avaliação do grau de modalidade atribuído às representações visuais pode ser feita com base em seis marcadores de referência: a cor, a contextualização, a representação, a profundidade, a iluminação, e o brilho.

Verificamos que o cartaz da exposição resulta de uma construção, em mosaico, através de uma amálgama de fotografias do quotidiano, objeto de uma seleção criteriosa, cujo interesse se releva importante refletir. As imagens da exposição representam gentes de todos os continentes que vivem em Almada. A produção do cartaz redimensionou o mundo, privilegiando apenas cinco países, as suas gentes e culturas.

Segundo a teoria dos significados composicionais, focámos a nossa análise no centro do texto visual que revela ilustrações portadoras de uma multiplicidade de sentidos desencadeados pelas particularidades essenciais da representação, contextualização, cor e iluminação das imagens.

Com efeito, numa postura digna, um ilustre representante africano, sobe a escada em caracol, saliência metafórica da vida, que desde 25 de abril de 1994 vive em Almada, porque nasceu lá na bandeira portuguesa e veio para cá, é português na mesma.

África − S. Tomé e Príncipe e Guiné − afirma-se imponente, no topo e base do texto, no domínio do Dado-Ideal e Dado-Real, três imagens de referência, cujo contexto situacional e cultural, remete para a velhice e a infância, ciclos de gerações diferentes, mas igualmente acolhidas, com condições favoráveis de habitabilidade e integração social.

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Portugal em íntima conexão e equilíbrio apresenta-se em três imagens de informação corrente e familiar, no espaço do Dado - Real, onde famílias numerosas e tradicionais, migrantes do sul e do norte, mostram e pontuam a força dos laços que os unem à sua terra adotiva, Almada. No espaço do Novo-Real inscreve - se luz e energia, concentrada no menino, que simbolicamente segura um balão amarelo, um mundo luminoso suspenso.

A China e o Brasil ocupam espaços diferentes. No Dado em situação divertida e franca está representado um casal jovem chinês na intimidade do sofá; no Novo, envolto em verde, marca cultural do ser brasileiro, uma varanda de rostos sorridentes e fraterna cheia de boas intenções. No Ideal se aproximam estes cidadãos de países antípodas, aqui vizinhos, apesar das economias emergentes.

Do Novo - Real ressalta a juventude em cor e profundidade representativa de uma família moldava que se encontra e sente feliz.

Todos os sinais são reveladores de respeito profundo, de bem-estar e reconhecimento. A escrita visual sublinha a ideia de que Almada é uma terra integradora, com uma identidade própria, assente no cruzamento de saberes, culturas e origens diversas, únicas e plurais.

Enquadramento e leituras da vida de um emigrante

Os imigrantes dos países africanos de língua oficial portuguesa - PALOP chegaram

a Almada em maior número, a partir de finais da década de 1970. Reportamo-nos em especial às populações de origem cabo-verdiana, guineense e são-tomense porque estas apresentam um índice de escolaridade reduzido e procuram no país de acolhimento a estabilidade económico-social, investindo para isso, na rede alargada de parentesco e conterraneidade, nos destinos para onde se deslocam, numa estratégia de subsistência enraizada coletivamente em conjunturas sócio - históricas específicas.

No seio da comunidade guineense escolhemos conhecer o Duarte Artur Mendes, que mora no Monte da Caparica e que afirma claramente ser Almada, depois de conhecer outros espaços e outras vivências, em Portugal, o lugar de eleição, da sua escolha, do seu futuro. A propósito diz que “pensa ficar em Almada porque é uma cidade que eu escolhi há seis anos e gostaria de continuar a viver cá; (Brochura Gentes de Almada) (…) gosto porque desde que vivi aqui, sinto-me bem… não tenho razão de queixa, não tenho”. (Anexo 2)

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Leitura de imagens fixas - Fotografias documentais

Figura 4: Exposição Gentes de Almada

Leituras naturalistas e sensoriais da figura 4 Questionámos doze adultos, de ambos os sexos, sobre o que vê e o que lê na imagem

Leitor 1

Realce da ternura que passa através da imagem.

Leitor 2

Demonstração de afetividade e de tranquilidade.

Leitor 3

Evidência de amor, ternura e segurança na expressão da criança ao colo do pai.

Leitor 4

Realce do afeto, da confiança e da relação carinhosa entre o homem e a criança.

Leitor 5

Transmite tranquilidade, harmonia, amor e confiança.

Leitor 6

Transmite momentos de ternura, carinho, confiança e proteção, a criança descansa a mão no peito do Pai.

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Leitor 7

Realce para o olhar de cansaço do adulto e o olhar de ternura da criança.

Leitor 8

A expressão de calma da criança, o amor traduzido na relação de pai e filha através do colo.

Leitor 9

Centralidade à imagem humana, pai protetor, realce para as cores fortes vermelho, rosa.

Leitor 10

Afetividade, confiança, traduzidas na linguagem corporal do adulto e da criança; expressões faciais contrastantes: confiança da criança - preocupação do adulto.

Leitor 11 Afetividade comum entre pais e filhos.

Leitor 12

Destaque para a calma e tranquilidade do momento de intimidade no seio da família.

As leituras naturalistas e sensoriais visualizadas, de forma natural e através da representação dos aspetos sensoriais e afetivos do objeto de análise, congregaram-se, em torno de unidades de sentido positivo, e integrador, com destaque para uma relação familiar exemplar, traduzida em amor, ternura, afeto, tranquilidade e confiança.

Esta fotografia revela uma relação empática com a família fotografada. Para captar esta imagem, a fotógrafa deve ter procurado integrar-se no ambiente familiar, de modo a conseguir captar uma imagem de intimidade familiar num clima de natural afetividade entre pai e filha. O que ressalta não é propriamente o enquadramento da imagem, mas a centralização do tema que sobressai da linguagem corporal e da forma como os corpos das duas figuras estão unidos, de onde resulta um impacto estimulante para o recetor que, quase imediatamente, lê e perceciona sentimentos de ternura e cumplicidade entre pai e filha.

De referir, a conexão do jogo de cores (vermelho da gravata da figura masculina e vermelho da saia da menina), que confere equilíbrio e harmoniza a fotografia, cujo contexto é privado e familiar. Como fator surpreendente, a formalidade do vestuário de ambos os atores num contexto informal, de repouso, no seio de uma família africana.

Assim, nesta fotografia, por um lado, capta-se a ternura e a naturalidade das vivências e das relações entre pai e filha, elemento de conexão, por outro, curiosamente, perceciona-se uma certa encenação do instante captado, elemento de desconexão.

Como saliência de máxima relevância, sentimos, no centro da imagem, o aconchego da cabeça da menina ao coração do pai, cujo pulsar traduz a coexistência de modos semióticos, como o visual, sonoro, gestual, entre outros.

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Figura 4: Exposição Gentes de Almada

Leituras naturalistas e sensoriais da figura 5

Questionámos doze adultos, de ambos os sexos, sobre o que vê e o que lê na imagem

Leitor 1

Olhar muito pensativo de duas crianças;

Leitor 2

Duas crianças que brincam; Olhares interrogativos

Leitor 3

Duas crianças brincando; Olhares atentos e curiosos; Contraste da cor das roupas e do triciclo com o escuro do chão;

Leitor 4 Olhares atentos;

Leitor 5

Duas crianças, a sua inocência, a sua esperança no olhar;

Leitor 6

Brincadeiras entre duas crianças; Coisas simples fazem as pessoas felizes;

Leitor 7

Duas crianças que brincam; Olhares que acreditam …

29

Leitor 8

A expressão das duas meninas;

Leitor 9

Olhar… busca de realidade… procura de resposta;

Leitor 10

Crianças expressivas, vivas que acreditam; Destaca-se o olhar de esperança;

Leitor 11 Destaca-se o equilíbrio de manchas/cores; Cor do chão cinzento que aumenta o contraste com as figuras que emergem do fundo/centro;

Leitor 12

A cor de fundo valoriza a ideia de espaço urbano, cria volume e dimensiona a elevação do olhar;

As leituras naturalistas e sensoriais percecionadas e visualizadas, de forma natural e através da representação dos aspetos sensoriais e afetivos do objeto de análise, focalizaram-se, no espaço central da imagem, que funciona como ilustração simbólica, agregadora das informações em torno de um significado principal.

O Centro da imagem, onde as significações se desencadeiam e interagem, está codificado, como núcleo da informação, atribuindo-se-lhe uma saliência de alto nível em torno das referências produtoras de Olhar (es) multifacetado, multimodal, expresso, nos modos semióticos de comunicação visual, sonora, gestual, sinestésica. Enfoque para a pluralidade de interpretações e significações produzidas, sentimentos e atitudes de curiosidade, atenção, esperança, crença, busca, questionamento.

O Centro em conexão com a Margem, espaço urbano, mancha de cor cinzenta, contrasta com as figuras coloridas que emergem da linha que atravessa o centro, dimensão simbólica que confere equilíbrio e perspetiva a elevação do olhar.

Fotografia bem-feita, estética, segundo a técnica do plongé, que resulta num efeito expressivo de realce do olhar das meninas apresentadas na imagem. Vista de qualquer ângulo ou perspetiva realça, de forma assumida, o foco central que representa as meninas que brincam no triciclo rosa, que contrasta com o cinza, quase negro do chão, espaço urbano, fundo que enquadra toda a fotografia. No entanto a centralização das personagens, o seu olhar dirigido para um plano superior remete para um universo de expectativa, admiração ou até de ingenuidade face ao desconhecido.

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Considerações finais

(…) Do caminho que fizeram até à cidade … e da diversidade de gentes e nações que nelas vimos … pergunta a essa gente do cabo do mundo …como se chama a sua terra.”

O caminho que este estudo me proporcionou fazer foi longo, prazentoso, muito interessante, muito aliciante, por vezes angustiante. Decididamente curto e incipiente ainda, a necessitar ser continuado e aprofundado, perante a dimensão consciente da complexidade dos desafios do conhecimento, na área da Gramática e Comunicação.

Podemos tecer breves considerações, relativamente, a três eixos de reflexão:

Abordagens teóricas, gramático sistémico - funcional, e gramática do design visual

Representações institucionais do poder político local sobre as gentes de Almada

Identificação de necessidades de formação contínua de educadores e professores

O estudo apresentado permitiu equacionar e refletir, entre outros aspetos, sobre a importância da literacia visual, no sentido da sua pertinência, como uma questão de cidadania, especialmente, no que diz respeito ao espaço público, devendo, por isso, ser impulsionado o seu estudo e conhecimento, no âmbito da comunicação pública.

Justifica-se, deste modo, a necessidade de investigar e produzir conhecimento específico sobre a nova paisagem semiótica, promovendo estudos em semiose humana, no domínio da comunicação e da representação.

Neste sentido, considera-se que o sistema educativo nacional, e a escola, através do curriculum devem promover o ensino aprendizagem dos alunos, em articulação com a formação contínua, de educadores e professores, de forma a potenciar novos espaços de aprendizagem interdisciplinares e multimodais, adotando práticas pedagógicas e diferentes estratégias, centradas em perspetivas discursivas e pragmáticas, promotoras de literacia visual, desde o início da escolaridade.

Como organizadora e gestora de dispositivos de formação contínua, e, necessariamente sensibilizada para as questões da gramática e da comunicação, cumpre-nos conceber e promover ações que proponham abordagens sistémico-funcionais, da gramática da experiência, designação que colocará grande parte dos professores, a aprender a aprender.

Novos conceitos de transitividade, de participantes e circunstâncias, de processos materiais, mentais, relacionais, comportamentais, verbais e existenciais, relacionados com as ações do mundo físico, com o nosso mundo interior, estabelecendo relações entre entidades separadas no discurso, construindo o comportamento humano, processos semióticos, de simbolizar, e existenciais, de ser.

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Ler e interpretar a cidade de Almada, na diversidade das suas gentes e na produção das suas significações e representações sociais e políticas, como forma de melhorar a comunicação, a educação e a formação em cidadania.

Ler e interpretar a cidade de Almada, como forma de construir novas perspetivas de compreensão da cultura identitária, e de desenvolver novas abordagens e metodologias de desenvolvimento integrado na vida da cidade educadora.

Ler e interpretar a cidade de Almada, como forma de mobilizar modelos discursivos e visuais e utilizar géneros textuais adequados às situações comunicativas reais.

Desenvolver, atualizar e aprofundar o conhecimento e as competências científicas, técnicas e relacionais são condições absolutamente necessárias para compor um perfil de professor aprendente e reflexivo.

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