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UNIVERSIDADE DE VORA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL
HIDRULICA GERAL APONTAMENTOS DAS AULAS TERICAS
ENGENHARIA AGRCOLA
ENGENHARIA BIOFSICA
ENGENHARIA GEOLGICA
Maria Madalena V. Moreira Vasconcelos
vora, 2004
-
1
Captulo 1
FORAS EXTERIORES E PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
Objectivo: Reconhecer as foras exteriores que actuam sobre um
dado volume de fluido, as propriedades fsicas dos fluidos e
a sua importncia para o estudo dos escoamentos.
1.1 Definio de fluido
Denomina-se fluido a toda a matria que se deforma indefinidamente quando sujeita
aco de uma fora tangencial. Nos fluidos a resistncia deformao finita e por isso no
tm forma prpria, tomando a forma do recipiente que ocupam.
Na definio anterior podem enquadrar-se os lquidos e os gases. No entanto, estes
fluidos apresentam comportamentos muito diferentes.
1.2 Foras exteriores
Num dado volume de fluido podem actuar dois tipos de foras exteriores; as foras de
massa ou volume e as foras de contacto ou de superfcie.
As foras de massa ou volume so as foras que actuam directamente sobre cada uma
das partculas que constituem o fluido, no mbito deste estudo apenas considerada a fora
relativa aco da gravidade, denominada por peso prprio.
As foras de contacto ou superfcie so as foras que actuam no volume de fluido
atravs da sua superfcie limtrofe. Estas foras podem decompor-se na componente normal e
na componente tangencial superfcie. A componente normal da fora de contacto, por
unidade de superfcie designada por presso. A componente tangencial da fora de contacto,
por unidade de superfcie designada por tenso tangencial e s se manifesta quando os
fluidos esto em movimento.
-
2
1.3 Propriedades fsicas dos fluidos
1.3.1 Isotropia
Diz-se que um fluido goza da propriedade da isotropia se cada partcula que constitui o
fluido, possuir as mesmas caractersticas independentemente da direco da normal a cada um
dos planos que passa nessa partcula.
1.3.2 Massa, peso, massa volmica, peso volmico e densidade
Massa, m, a quantidade de matria que existe num dado volume de fluido e o peso, Pr
ou Gr
, a aco da fora atractiva exercida pela Terra (fora da gravidade) sobre essa massa.
Por definio, o peso obtido pelo produto da massa pela acelerao da gravidade.
Estas grandezas no apresentam grande interesse na Mecnica dos Fluidos se no
introduzirem uma referncia relativa ao volume. Assim, define-se massa volmica, , como a
massa que existe por unidade de volume do fluido e peso volmico, , como o peso da
unidade de volume do fluido. O peso volmico obtido pelo produto da massa volmica pela
acelerao da gravidade. Estas duas grandezas so caractersticas de cada fluido, podendo
variar mais ou menos com a temperatura.
As unidades destas grandezas no sistema internacional so apresentadas no Quadro 1.1.
Quadro 1.1 Unidades das grandezas no SI Grandeza massa peso massa
volmica peso
volmico Unidade
kg
kg m s-2 = N
kg m-3
kg m-2 s-2 = N m-3
No Quadro 1.2 so apresentados os valores da massa volmica e do peso volmico da
gua e do ar para diferentes temperaturas, presso atmosfrica normal. Verifica-se que a
gua apresenta o valor mximo da massa volmica para a temperatura de 4C e que diminui
cerca de 4,2% quando a temperatura varia entre os 4C e os 100C. No caso do ar, a massa
volmica diminui sempre com a temperatura e apresenta a diminuio de cerca de 26,8%
quando a temperatura varia entre os 0C e os 100C.
De um modo geral os gases apresentam maior variao da massa ou peso volmico com
a temperatura do que os lquidos.
-
3
Quadro 1.2 Valores da massa volmica e do peso volmico para diferentes temperaturas,
presso atmosfrica normal
massa volmica (kg m-3)
peso volmico (N m-3)
temperatura (C)
gua Ar gua ar 0 999,9 1,293 9809,0 12,68 4 1000,0 1,274 9810,0 12,50
10 999,7 9807,1 20 998,2 1,204 9792,3 11,81 30 995,7 9767,8 40 992,2 1,129 9733,5 11,08 50 988,1 9693,3 60 983,2 1,062 9645,2 10,42 80 971,8 1,009 9533,4 9,90
100 958,4 0,946 9401,9 9,28
Para simplificar esta caracterizao fsica dos fluidos aplica-se uma grandeza
adimensional que a densidade, d. Esta grandeza relaciona a massa ou peso de um dado
volume de fluido com a massa ou peso de igual volume de gua temperatura de 4C e
presso atmosfrica normal. A densidade de um dado fluido pode ser determinada pela relao
entre a massa volmica ou peso volmico desse fluido e a massa volmica ou peso volmico
da gua temperatura de 4C e presso atmosfrica normal.
No Quadro 1.3 so apresentados os valores da densidade relativos a diferentes lquidos e
gases temperatura de 15,6C e presso atmosfrica normal.
Quadro 1.3 Densidade de alguns fluidos temperatura de 15,6 C
e presso atmosfrica normal
fluido gasolina cido etlico (100%) azeite cido sulfrico (100%) mercrio densidade 0,68 a 0,74 0,79 0,912-0,918 1,83 13,6
fluido ar dixido de carbono oxignio hidrognio hlio densidade 1,22 E-3 1,87 E-3 1,35 E-3 0,085 E-3 0,17 E-3
A comparao dos valores da densidade dos lquidos e dos gases permite identificar a
primeira grande diferena entre estes fluidos, a quantidade de massa por unidade de volume
nos gases da ordem de grandeza de cerca de 1000 vezes inferior quantidade de massa por
unidade de volume nos lquidos.
-
4
1.3.3 Compressibilidade
A compressibilidade de um fluido manifesta-se na diminuio do volume de uma dada
massa de fluido quando sujeita aco de um aumento de presso. Neste caso verifica-se o
aumento da massa volmica do fluido.
Esta propriedade pode ser representada atravs do coeficiente de compressibilidade, ,
definido como a relao entre a diminuio relativa do volume e o aumento de presso que lhe
deu origem.
(1.1)
ainda usado o inverso deste coeficiente, o mdulo de elasticidade volumtrico, :
=
1 (1.2)
Tendo em conta a diferena entre a massa volmica dos lquidos e dos gases ser fcil
perceber que nos gases existe mais espao entre as molculas, permitindo uma maior
diminuio do volume para a mesma variao de presso.
O valor do coeficiente de compressibiliade da gua de 5,1 E-10 m2N-1.
1.3.4 Viscosidade. Lquidos perfeitos
A viscosidade uma das propriedades mais importantes para o estudo dos fluidos, que
se manifesta quando estes entram em movimento. Pode, de modo geral, definir-se como a
resistncia deformao, ou seja, a maior ou menor capacidade do fluido tomar a forma do
recipiente que ocupa. A comparao de duas situaes prticas em que se despeja uma
quantidade de mel ou gua de um jarro para um copo permite-nos concluir que o mel tem uma
viscosidade superior viscosidade da gua.
A quantificao da viscosidade facilmente entendida atravs da anlise do escoamento
unidimensional de um fluido em que se define um conjunto de camadas que se deslocam na
mesma direco, mas com velocidades diferentes, figura 1.1. A camada com maior velocidade
tende a exercer uma fora de arrastamento sobre a camada com menor velocidade, que por sua
vez exerce uma fora resistente sobre a primeira. Estas duas foras tm o mesmo mdulo, a
mesma direco e sentidos opostos. fora resistente por unidade de rea chama-se tenso
tangencial de atrito, , apresentando sempre o sentido contrrio ao sentido do escoamento.
pVV
=
-
5
Os fluidos estudados no mbito desta disciplina (gua, ar, leos) pertencem aos chamados
fluidos Newtonianos em que a relao entre a tenso tangencial de atrito e o gradiente da
velocidade, na direco normal ao escoamento, linear, figura 1.1:
(1.3)
Figura 1.1 Movimento unidimensional de um fluido Newtoniano (escala deformada)
O coeficiente de proporcionalidade a viscosidade dinmica, . Por simplificao, nos
desenvolvimentos hidrulicos normalmente usado um parmetro, designado por viscosidade
cinemtica, , relacionado com a viscosidade dinmica atravs da equao:
(1.4)
No Quadro 1.4 so apresentados os valores da viscosidade cinemtica para diferentes
fluidos.
Quadro 1.4 Viscosidade cinemtica para diferentes fluidos a 38C fluido mercrio gasolina azeite mel bruto
viscosidade cinemtica (10-6 m2/s)
0,11
0,40 - 0,71
43
74
A viscosidade dos fluidos Newtonianos varia com a temperatura, no entanto de forma
diferente nos lquidos e nos gases. A viscosidade nos lquidos diminui com o aumento da
temperatura por diminuio das foras tangenciais de resistncia. A viscosidade nos gases
manifesta-se pelo movimento das partculas, aumentando com a temperatura.
dydv =
=
-
6
No Quadro 1.5 e no Quadro 1.6 so apresentados os valores da viscosidade cinemtica
para diferentes temperaturas no caso da gua e do ar, respectivamente. possvel identificar a
diminuio da viscosidade na gua e o aumento da viscosidade no ar, com o aumento da
temperatura. Para variaes de temperatura entre os 0C e os 20C a variao da viscosidade
cinemtica de cerca de -43.3% e 8.5% para a gua e para o ar, respectivamente. A variao
da viscosidade cinemtica com a temperatura na gua muito mais importante que a variao
no ar.
Quadro 1.5 Viscosidade cinemtica da gua a diferentes temperaturas e
presso atmosfrica normal
temperatura (C)
0 4 10 20 30 40 50 80 100
viscosidade cinemtica (10-6 m2/s)
1,78
1,57
1,31
1,01
0,80
0,66
0,56
0,37
0,30
Quadro 1.6 Viscosidade cinemtica do ar a diferentes temperaturas e
presso atmosfrica normal
temperatura (C)
0 20 40 60 80 100 120 150
viscosidade cinemtica (10-6 m2/s)
11,7
12,7
13,6
14,7
15,7
16,6
17,5
19,3
Sendo a viscosidade cinemtica uma medida da resistncia entre partculas do fluido em
movimento, deve ser tomada em considerao a sua variao com a temperatura no estudo do
escoamento da gua. Na figura 1.2 representa-se a variao da viscosidade cinemtica da gua
com a temperatura num sistema de eixos, permitindo visualizar a importante variao da
viscosidade cinemtica dentro da gama de temperaturas da gua dos escoamentos em estudo
no mbito desta disciplina. ainda apresentada a curva de ajustamento calculada pelo Mtodo
dos Mnimos Quadrados, correspondente a um coeficiente de determinao igual unidade.
-
7
= 3E-14T4 - 9E-12T3 + 1E-09T2 - 5,5E-08T + 1.7765E-06R2 = 1
00.20.40.60.8
11.21.41.61.8
2
0 20 40 60 80 100T (C)
(10-6 m2s-1)
Figura 1.2 Variao da viscosidade cinemtica da gua com a temperatura
Designa-se por fluido perfeito ou ideal aquele que, sendo homogneo e isotrpico, se
apresenta sem viscosidade. Naturalmente que este fluido no existe na natureza, tornando-se
um conceito terico. Existem, no entanto fluidos que, em certas circunstncias, se comportam
como perfeitos, o caso de fluidos com elevadas aceleraes em que as foras entre as
partculas que o constituem so desprezveis. Para as mesmas condies geomtricas,
medida que a velocidade de escoamento do fluido aumenta, menor a influncia da
viscosidade.
1.3.5 Tenso de saturao do vapor de um lquido
Define-se como tenso de saturao do vapor de um lquido a presso absoluta para a
qual o lquido passa ao estado gasoso. Os lquidos, presso atmosfrica local, apresentam
gases dissolvidos. Quando a presso toma valores abaixo da presso atmosfrica local ocorre a
libertao parcial dos gases dissolvidos e se a presso continuar a diminuir e atingir o valor da
tenso de vaporizao o lquido passa ao estado gasoso.
A tenso de saturao do vapor da gua varia com a temperatura atingindo o valor da
presso atmosfera normal temperatura de 100C e ao nvel mdio da gua do mar. No
Quadro 1.9 so apresentados os valores desta grandeza para diferentes temperaturas.
Quadro 1.9 Tenso de saturao do vapor da gua a diferentes temperaturas Temperatura (C) 0 4 10 20 30 40 50 80 100 Tenso de saturao do vapor da gua (N/m2)
608
814
1226
2345
4248
7387
12341
47392
101367
-
8
-
9
0Ferr
=
Captulo 2
HIDROSTTICA
Objectivo: Perceber a deduo da Lei Hidrosttica de Presses,
calcular a resultante das foras (mdulo, direco, sentido
e ponto de aplicao) de um lquido em repouso
sobre uma fronteira slida.
2.1 Introduo Hidrosttica o captulo da Hidrulica que estuda os fluidos em repouso. Qualquer
fenmeno hidrulico em que a temperatura constante, o fluido incompressvel e a
velocidade das partculas nula, tem como incgnita a presso. Para caracterizar o
comportamento do fluido em repouso necessrio determinar a relao entre os valores da
presso nas diferentes partculas da massa fluida.
2.2 Lei Hidrosttica de Presses
A Equao Fundamental da Dinmica, equao 2.1, aplicada a um dado volume de
fluido anula a resultante das foras que actuam sobre esse volume de fluido.
amFerr= ou 0amFe =
rr (2.1)
A resultante das foras exteriores que actuam sobre o volume de fluido igual em
mdulo, tem a mesma direco e sentido contrrio fora de inrcia desse volume ( amr ).
No caso de um fluido em repouso a acelerao nula, obtendo-se:
(2.2)
As foras exteriores que actuam sobre um dado volume de fluido em repouso e sujeito aco
da gravidade so, equao 2.3:
- a fora de massa ou volume (peso prprio, Gr
) e
- as foras de contacto ou de superfcie (resultante da componente normal, r
).
-
10
A resultante da componente tangencial das foras de contacto ou de superfcie no se
manifesta porque o lquido est em repouso.
(2.3)
Esta equao vectorial aplicada a um dado volume de fluido e resolvida atravs das
suas componentes num sistema de eixos cartesianos.
A componente segundo um eixo cartesiano permitir determinar a variao da presso a
que esto sujeitas as partculas localizadas sobre esse eixo, devendo porm a presso ser
constante segundo as outras direces do sistema de eixos. Assim, o volume de fluido a
considerar um cilndrico com o eixo longitudinal coincidente com o eixo cartesiano da
componente em estudo, altura igual distncia entre duas partculas localizadas nesse eixo e
base com rea elementar. A presso na base considerada constante e igual presso no seu
centro de gravidade, coincidente com a presso da partcula a localizada. A equao
resultante relaciona a presso das partculas localizadas nas bases do cilindro. No sendo
imposta a altura do cilindro, a equao pode ser aplicada a quaisquer duas partculas sobre o
eixo cartesiano em estudo.
Estudo da variao da presso segundo o eixo oy:
Aplicando a componente segundo o eixo oy da equao 2.3 ao volume representado na
figura 2.1, verifica-se que o peso prprio do cilindro e as componentes normais das foras de
contacto que actuam sobre a parede lateral do cilindro no tm componente segundo o eixo
oy. A fora de contacto normal (com o sentido da superfcie premida) sobre cada base do
cilindro igual ao produto da presso na partcula localizada no centro de gravidade dessa
base pela rea da base, obtendo-se a seguinte equao simplificada:
0dApdAp 21 = (2.4)
Dividindo pela rea elementar finita, dA, obtm-se:
21 pp = (2.5)
Tendo sido as partculas 1 e 2 localizadas sobre o eixo oy sem restries relativamente
ao seu afastamento, possvel generalizar o resultado: a presso constante em todas as
partculas localizadas sobre o eixo oy, equao 2.6.
0yp=
(2.6)
0Grrr
=+
-
11
Figura 2.1 Aplicao da componente segundo o eixo oy, da equao fundamental da dinmica
Estudo da variao da presso segundo o eixo ox:
Este estudo, com as mesmas caractersticas do anterior, permite concluir que a variao
da presso segundo o eixo ox igual a zero, ou seja a presso constante em todas as
partculas localizadas sobre o eixo ox:
0xp=
(2.7)
Tendo em conta que o eixo ox e o eixo oy definem um plano horizontal, que a presso
constante nas partculas localizadas sobre o eixo ox e constante nas partculas localizadas no
eixo oy, ento a presso constante em qualquer partcula localizada sobre um plano
horizontal.
Estudo da variao da presso segundo o eixo oz:
Aplicando a componente segundo o eixo oz da equao 2.3 ao volume apresentado na
figura 2.2, verificamos que as foras de contacto normais que actuam sobre a parede lateral do
cilindro no tm componente segundo o eixo oz. O peso prprio determinado pelo produto
do peso volmico do fluido pelo volume do cilindro. A fora de contacto normal (com o
sentido da superfcie premida) sobre cada base do cilindro igual ao produto da presso na
partcula localizada no centro de gravidade dessa base pela rea da base, obtendo-se a
seguinte equao simplificada:
0dApdApdA)zz( 6565 =+ (2.8)
Dividindo a equao (2.8) pela rea elementar finita dA, vem:
0pp)zz( 6565 =+ (2.9)
-
12
!!!!!
"
!!!!!
#
$
=%%&
'(()
*
+
=
=
0pzz
0yp
0xp
Figura 2.2 Aplicao da componente segundo oz, da equao fundamental da dinmica
Isolando, em cada membro, os termos relativos a cada partcula, obtm-se:
+=
+ 66
55
pz
pz (2.10)
em que z a cota topogrfica relativamente a um dado plano horizontal de referncia, energia
potencial de posio por unidade de peso do fluido, e p/ a altura piezomtrica, energia
potencial de presso por unidade de peso do fluido. A soma Z+p/ chama-se cota
piezomtrica.
Tendo em conta que a localizao das partculas 5 e 6 foi definida sem restries sobre o
eixo oz, possvel generalizar o resultado:
0pzz
=%%&
'(()
*
+
(2.11)
Para os trs eixos cartesianos, verificam-se as seguintes relaes:
a presso constante para qualquer valor de x;
a presso constante para qualquer valor de y;
a cota piezomtrica constante para qualquer valor de z.
Sabendo que a deduo apresentada se aplica ao domnio de um fluido homogneo com
peso volmico constante, que a cota topogrfica das partculas localizadas sobre um dado
plano horizontal constante, que a presso constante para as partculas localizadas no plano
-
13
horizontal, conclui-se que a cota piezomtrica tambm constante para qualquer partcula
localizada no plano horizontal.
Fica, assim deduzida a Lei Hidrosttica de Presses que se enuncia: a cota piezomtrica
constante em qualquer partcula de um fluido em repouso, sujeito aco da gravidade.
2.3 Aplicaes da Lei Hidrosttica de Presses
- Relao entre a presso do ar e a presso em partculas localizadas em diferentes
posies de um domnio lquido
Quando se estuda o comportamento de dois meios fluidos diferentes em repouso, um
gasoso e um lquido pode concluir-se que, dada a relao entre pesos volmicos do lquido e
do gs ser da ordem de mil, se pode desprezar o peso volmico do gs. Neste caso, a presso
em qualquer partcula do domnio fluido gasoso constante. A presso das partculas de um
lquido localizadas na superfcie livre esto sujeitas a uma presso igual presso do gs. No
caso particular da figura 2.3 a presso da partcula localizada na posio E igual presso
do ar.
Conhecida a presso de uma partcula contida num dado domnio fluido, possvel
determinar a presso em qualquer outra partcula do mesmo domnio fluido.
Figura 2.3 Reservatrio que contm um lquido em repouso em contacto com a atmosfera
A aplicao da lei hidrosttica de presses entre partculas do mesmo domnio fluido,
representado na figura 2.3, permite calcular a presso nas partculas localizadas em A, B, C e
D a partir do valor da presso da partcula localizada em E, atravs das seguintes relaes:
( ) ( )321OHEDOH
E321
OH
D
OH
EE
OH
DD hhh pp
phhhp0 pzpz2
2222
+++=
+++=
+
+=
+
-
14
- Diagrama de presses sobre uma superfcie slida, fronteira de um domnio fluido
Para determinar a resultante das foras que actuam sobre uma dada fronteira slida do
domnio fluido necessrio conhecer a variao de presso das partculas que se encontram
em contacto com essa fronteira slida. Chama-se diagrama de presses sobre a fronteira
slida representao da variao de presso dessas partculas.
O diagrama de presses define-se no espao, mas em alguns casos pode ser bem
representado pelo seu corte, atravs de um figura geomtrica plana. No caso de uma
superfcie premida rectangular com dois lados horizontais (exemplo da parede lateral de um
reservatrio paralelipipdico) o diagrama de presses ter uma forma prismtica com base
igual figura geomtrica plana (corte do diagrama de presses) e com a altura igual largura
da superfcie premida rectangular (na perpendicular folha de papel).
Na figura 2.4 apresenta-se um exemplo do traado do diagrama de presses sobre a
parede lateral esquerda do reservatrio da figura 2.3, considerado como um reservatrio
apoiado. A face exterior da parede est sujeita presso do ar. Na face interior em contacto
com a gua, a presso aumenta linearmente, sendo o coeficiente de proporcionalidade igual ao
peso volmico do lquido que constante.
a) b)
Figura 2.4 Diagrama de presses sobre a parede lateral esquerda de um reservatrio apoiado
a) diagrama de presses interior e exterior; b) diagrama de presses resultante
( ) ( ) ABOH
B32
OH
A32
OH
BB
OH
AA pp
phhphh pzpz2222
=
++=
++
+=
+
( ) 2OHCAOH
C3
OH
A32
OH
CC
OH
AA h pp
phphh pzpz2
2222
=
+=
++
+=
+
3OHDCOH
D
OH
C3
OH
DD
OH
CC h pp
p0ph pzpz2
2222
=
+=
+
+=
+
-
15
Se a largura da superfcie premida, segundo a direco perpendicular ao papel, no for
constante o diagrama de presses no ser prismtico. Como exemplo refere-se o caso
particular de uma superfcie premida circular na posio horizontal, a presso constante na
superfcie premida e o diagrama de presses um cilindro; se a mesma superfcie estiver num
plano no horizontal o diagrama de presses um cilindro cortado por um plano oblquo ao
eixo desse cilindro. Neste caso a representao do diagrama de presses atravs do seu corte
no suficiente.
- Presses absolutas e presses relativas
No diagrama de presses traado na figura 2.4 b), a presso na superfcie livre do
lquido representada como sendo nula e a variao da presso com a profundidade linear
(coeficiente de proporcionalidade igual ao peso volmico do lquido). Este diagrama de
presses equivalente a uma representao relativa presso atmosfrica local, considerada
como nula. Definem-se, assim a escala de presses absolutas que tem como origem o vcuo e
a escala de presses relativas que tem como origem a presso atmosfrica local, figura 2.5.
Figura 2.5 Escalas de presses absolutas e presses relativas
A relao entre a presso absoluta e a presso relativa pode ser representada pela
seguinte equao:
(2.12)
Em Hidrulica, identifica-se o termo presso com a presso relativa.
- Manmetros de lquidos, medio de presso
A medio da presso num ponto, relativamente presso atmosfrica local feita
atravs da instalao de um manmetro simples.
local atmrelativaabsoluta ppp +=
-
16
O manmetro simples mais elementar o tubo piezomtrico, figura 2.6, que permite
medir a presso da partcula localizada no ponto onde foi instalado.
Figura 2.6 Tubo piezomtrico
Em casos especiais podem ser aplicadas diferentes solues de manmetros simples,
como as representadas no Quadro 2.1.
Quadro 2.1. Exemplos de manmetros simples medio de presses com valores baixos:
medio de presses negativas: medio de presses com valores elevados:
A medio da diferena de presses entre duas partculas pode ser feita com a instalao
de dois manmetros simples, figura 2.7, ou pela aplicao de manmetros diferenciais, figura
2.8.
Figura 2.7 Manmetros simples aplicados na medio da diferena de presses
entre duas partculas
hppA sup += ( ) 221sup h - ' hhppA ++=
( )BABABB
AA
hhpphpphpp
''
sup'
sup'
=
+=
+=
h sup = ppA
>> '
-
17
( )( ) ( )( ) ( )
( )( )ABBABAABBA
BABA
AB
BB
AA
hhpphhhhpphphppp
hhpphpphpp
=
+=
++=
+=
+=
+=
12''
12''
1211''
221
12'
11'
Os manmetros diferenciais permitem medir a diferena de presses entre duas
partculas. Na figura 2.8 a) representada a soluo para o caso de presses muito elevadas
em A e B, atravs da introduo de ar comprimido e na figura 2.8 b) representada a
soluo para o caso de diferena de presses muito elevada entre A e B, atravs da
utilizao de um lquido com maior densidade.
a)
b)
Figura 2.8 Manmetros diferenciais
2.4 Impulso hidrosttica
Conhecida a presso de uma partcula que est em contacto com uma fronteira slida
possvel determinar a fora de presso que essa partcula exerce sobre a mesma fronteira
slida. A fora de presso calculada pelo produto da presso pela rea elementar da
superfcie slida centrada na partcula, dA, em que a presso se considera constante. Chama-
se impulso hidrosttica resultante das foras de presso que actuam sobre uma superfcie
(quando exista essa resultante). Designando por fora elementar de presso a fora normal
sobre a rea elementar, as foras de presso tm resultante nica se as foras elementares so
concorrentes ou paralelas, o que acontece no caso de superfcies premidas planas ou
superfcies premidas curvas cilndricas ou esfricas.
( )BABABarB
AarA
hhpphpphpp
''
'
'
=
+=
+=
-
18
A impulso hidrosttica s pode ficar bem definida quando determinados: o mdulo, a
direco, o sentido e o seu ponto de aplicao.
2.4.1 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie plana qualquer
No caso mais geral de uma superfcie plana qualquer, que faz um ngulo com o plano
horizontal, a presso p num dado ponto da superfcie premida pode identificar-se com a
presso numa rea elementar, dA, com centro no ponto referido. A fora elementar de
presso que actua sobre essa rea elementar determinada por, figura 2.9:
(2.13)
O valor de dF representa fisicamente o volume de um prisma com base igual a dA e
altura igual ao valor da presso na partcula que est em contacto com o ponto localizado no
centro da rea elementar, ou seja o volume do diagrama de presses correspondente rea
elementar.
Figura 2.9 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie plana qualquer,
fora elementar de presso
A integrao desta equao rea total da superfcie premida permite obter a impulso
total sobre a superfcie premida:
(2.14)
que ser representada fisicamente pelo volume total do diagrama de presses, figura 2.10.
==AA
dA pdF
dA pdF =
-
19
A impulso hidrosttica pode ser calculada com base no diagrama de presses: o
mdulo igual ao volume do diagrama de presses, a direco normal superfcie premida
plana, o sentido de compresso e o ponto de aplicao, denominado centro de impulso,
dado pela intercepo entre a linha de aco da impulso que passa no centro de gravidade do
diagrama de presses e a superfcie premida, figura 2.10.
Figura 2.10 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie plana qualquer,
corte do diagrama de presses
No entanto, s fcil determinar a impulso hidrosttica atravs do diagrama de
presses no caso de uma superfcie premida rectangular com dois lados horizontais. Para os
outros casos aplicada a equao deduzida, analiticamente, de seguida.
A deduo analtica da equao que determina a impulso hidrosttica considera as
seguintes hipteses simplificativas: a superfcie livre do reservatrio est presso
atmosfrica local e dentro do reservatrio o peso volmico do fluido constante, ou seja
existe apenas um fluido que exerce foras normais sobre a fronteira slida. Na representao
grfica foi considerado um sistema de eixos no plano da superfcie premida, definido de modo
a que o eixo ox coincida com a direco de maior declive do plano da superfcie premida, a
passar no centro de gravidade da superfcie premida e o eixo oy normal ao eixo ox e
coincide com o trao (intercepo) dos dois planos definidos pela superfcie livre e pela
superfcie premida, figura 2.9.
O valor da presso num ponto da superfcie premida determinado por:
-
20
(2.15)
e a fora elementar de presso que actua sobre a rea elementar dA com centro de gravidade
no ponto referido determinada por:
(2.16)
A resultante das foras de presso sobre toda a superfcie obtida pela integrao da
equao anterior a toda a rea:
(2.17)
se const= ,
(2.18)
A relao entre a profundidade h e a abcissa x de uma dada posio da superfcie
premida, figura 2.9, dada por:
senx h = (2.19)
que substituda na equao anterior, permite obter:
(2.20)
Por definio de centro de gravidade de uma superfcie plana, o momento da rea total
relativamente a um eixo qualquer igual ao somatrio dos momentos de todas as reas
elementares relativamente ao mesmo eixo. Tratando-se de um nmero infinito de reas
elementares a definio de centro de gravidade pode ser apresentada como a igualdade entre o
momento da rea total relativamente a um eixo qualquer e o integral do momento da rea
elementar a toda a seco relativamente ao mesmo eixo.
Matematicamente a definio de centro de gravidade pode ser representada pela equao
2.21 em que os momentos so determinados relativamente ao eixo oy.
(2.21)
que, substitudo na equao (2.20), permite obter:
(2.22)
Tendo em conta que GG hsen X =
dAh dA pdF ==
==AA
dAh dF
==AA
dAh dF
===AAA
dAx sen dA senx dAh
A X sen dAx sen G == A
h p =
A XdAx GA
=
-
21
(2.23)
e sendo GG ph =
(2.24)
A anlise da equao 2.24 permite concluir que a impulso hidrosttica, sobre uma
superfcie plana qualquer, igual ao produto do valor da presso no centro de gravidade da
superfcie premida pela rea da superfcie premida. Do ponto de vista numrico este resultado
equivalente situao em que a presso constante em toda a superfcie premida, que s
acontecer se a superfcie premida for horizontal; em todos os outros casos a presso aumenta
medida que a profundidade aumenta. Fisicamente possvel verificar que se cortarmos um
diagrama de presses com um plano paralelo superfcie premida e a passar no valor da
presso no centro de gravidade, o volume destacado igual ao volume necessrio para
completar o slido definido pelo corte, figura 2.11.
Figura 2.11 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie plana qualquer,
equivalncia do diagrama de presses
Verificamos, assim que a nica restrio que se mantm na deduo da equao da
impulso a superfcie premida estar em contacto, em toda a sua rea, com o mesmo lquido.
A h A X sen GG ==
A pG=
-
22
A substituio de Gh por Gp (passagem da equao 2.23 para a equao 2.24) permite
aplicar a equao 2.24 qualquer que sejam as condies de distribuio de presso acima do
ponto de maior cota da superfcie premida, incluindo a presso superfcie.
A direco da impulso perpendicular superfcie premida.
O sentido da impulso de compresso, ou seja sempre no sentido da superfcie
premida.
O ponto de aplicao, chamado por centro de impulso, fica bem definido se so
conhecidas a sua abcissa e a sua ordenada relativamente ao sistema de eixos usado, figura 2.9.
Estas coordenadas podem ser determinadas com base na definio de resultante de um sistema
de foras, igualando o momento da resultante (impulso hidrosttica) relativamente a um dado
eixo com o somatrio dos momentos das foras elementares de presso relativamente ao
mesmo eixo. Por se tratar de um nmero infinito de foras elementares necessrio igualar o
momento da resultante relativamente a um dado eixo com o momento da fora elementar de
presso integrada a toda a superfcie, relativamente ao mesmo eixo.
Determinao da abcissa do centro de impulso, Xci
Para determinar a abcissa do centro de impulso igualamos o momento da impulso
relativamente ao eixo oy com o momento da fora elementar de presso integrado a toda a
rea relativamente ao mesmo eixo oy, figura 2.12.
Figura 2.12 Centro de impulso. Determinao da sua abcissa
-
23
O momento da fora elementar relativamente ao eixo oy :
(2.25)
e a igualdade de momentos :
(2.26)
Substituindo dF e na equao anterior, por:
"#$
A sen X dA sen x dF
G =
=
e admitindo as hipteses simplificativas:
"#$
.const.constsen
=
=
obtm-se:
ciA
G2 XA X sen dA x sen = (2.27)
(2.28)
em que o momento de inrcia da superfcie plana premida relativamente ao
eixo oy.
No Quadro 2.2 so apresentados os momentos de inrcia de figuras geomtricas planas
relativamente a um eixo, paralelo a oy, que passa no centro de gravidade.
O momento de inrcia da figura plana relativamente a um eixo qualquer oy relaciona-se
com o momento de inrcia da figura plana relativamente ao eixo paralelo a oy que passa no
centro de gravidade, atravs da seguinte equao:
2GGG'oy XA II += (2.29)
permitindo obter a equao geral da abcissa do centro de impulso:
(2.30)
A aplicao da equao 2.30 ao caso particular de uma superfcie premida horizontal,
em que a abcissa do centro de gravidade infinita, anula a segunda parcela do membro direito
A XI XX
G
GG'Gci +=
ciX dFx =A
A XI
A X
dA x X
G
oy
G
2
ci ==A
dFx
=A
dA xI 2oy
-
24
e a abcissa do centro de impulso coincide com a abcissa do centro de gravidade. No caso
geral de uma superfcie plana no horizontal, o centro de impulso localiza-se sempre abaixo
do centro de gravidade, j que o segundo termo do membro da direita sempre positivo.
Quadro 2.2 Momento de inrcia de figuras geomtricas planas
Figura plana e posio do centro de gravidade
Momento de inrcia relativamente ao eixo GG
rectngulo
12baI
3
GG' =
tringulo
36baI
3
GG' =
crculo
4R I
4
GG'
=
semicrculo
4
GG' R1098,0I =
Determinao da ordenada do centro de impulso, Yci
Para determinar a ordenada do centro de impulso seguir-se-ia o mesmo procedimento,
sendo os momentos determinados relativamente ao eixo ox. No entanto, normalmente as
superfcies premidas a estudar so simtricas relativamente ao eixo ox tornando-se a
ordenada do centro de impulso nula, ou seja o centro de impulso encontra-se sobre o eixo
ox .
-
25
2.4.2 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie curva
Sendo, neste caso, muito difcil a determinao da impulso hidrosttica atravs do
volume do diagrama de presses ser estudado o mtodo analtico mais expedito.
O sistema de foras de presso elementares que actuam sobre uma superfcie curva
qualquer normalmente no admitem resultante, com excepo de formas regulares como
superfcies cilndricas ou esfricas. Em Hidrulica, as superfcies curvas aplicadas em
comportas ou outras estruturas como paredes de reservatrios so de forma regular.
Para clculo da impulso hidrosttica sobre uma superfcie curva, as foras elementares
de presso so decompostas na componente vertical, e numa componente horizontal que ser
a resultante de todas as foras horizontais. A resultante das componentes horizontais a
impulso hidrosttica horizontal, h e a resultante das componentes verticais a impulso
hidrosttica vertical, v .
Figura 2.13 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie curva, fora elementar de presso
No caso mais geral de uma superfcie curva, a presso num dado ponto da superfcie
premida pode identificar-se com a presso numa rea elementar plana, dA, com o centro de
gravidade coincidente com o ponto referido. A fora elementar de presso que actua sobre
essa rea elementar, figura 2.13, determinada por:
(2.31)
Considerando as hipteses simplificativas de que a superfcie livre do reservatrio est
presso atmosfrica local e que dentro do reservatrio o peso volmico constante, ou seja
dA pdF =
-
26
existe apenas um fluido a comprimir a superfcie slida, o valor da presso num ponto da
superfcie premida determinada por:
(2.32)
e a fora elementar de presso que actua sobre a rea elementar dA com centro no ponto
referido determinada por:
(2.33)
Determinao da componente vertical:
A componente vertical da fora elementar de presso, figura 2.13, dada por:
(2.34)
O factor cosdA representa a projeco vertical da rea elementar sobre um plano
horizontal e designa-se por VdA .
(2.35)
O factor VdAh representa o produto de uma rea horizontal por uma altura do lquido,
ou seja o volume do lquido acima da projeco, sobre um plano horizontal, da rea
elementar. Considerando a rea elementar plana (dimenses muito pequenas) o volume
referido atrs coincide com o volume de lquido acima da rea elementar premida.
A componente vertical da fora elementar de presso pode associar-se ao peso do
volume do lquido limitado pela rea elementar, a superfcie livre do lquido e as projectantes
verticais que passam no contorno da rea elementar.
(2.36)
A resultante da componente vertical das foras de presso sobre toda a superfcie
obtida pela integrao da equao anterior a toda a rea:
(2.37)
Considerando a hiptese simplificativa de que const= :
(2.38)
dAh dA pdF ==
cosdA h cos dFdFV ==
VV dAh cosdA h dF ==
h p =
VV dAh dF =
dAh dFA
vA
vv ==
dAh A
vv =
-
27
O integral da equao (2.38) igual ao volume do lquido limitado pela superfcie
premida, a superfcie livre do lquido e as projectantes verticais que passam no contorno da
superfcie premida.
A componente vertical da impulso sobre a superfcie curva igual ao peso do volume
do lquido referido.
(2.39)
Na figura 2.14 representada a componente vertical da impulso sobre a superfcie
curva.
Figura 2.14 Componente vertical da impulso hidrosttica sobre uma superfcie curva
Determinao da componente horizontal:
A componente horizontal da fora elementar de presso, figura 2.13, dada por:
(2.40)
O factor representa a projeco horizontal da rea elementar sobre um plano
vertical designada por hdA .
(2.41)
O factor hdAh representa o produto de uma rea vertical (projeco da rea elementar
sobre um plano vertical) pela distncia do centro de gravidade dessa rea a um dado eixo.
A resultante da componente horizontal das foras de presso sobre toda a superfcie
curva obtida pela integrao da equao anterior a toda a rea, com const= :
(2.42)
Vol V =
cosdA
cosdA h cos dFdFh ==
hh dAh cosdA h dF ==
dAh dFA
hA
hh ==
-
28
A comparao desta equao com a equao da impulso sobre uma superfcie plana,
equao 2.18, permite concluir que a componente horizontal da impulso hidrosttica sobre
uma superfcie curva calculada do mesmo modo que a impulso sobre uma superfcie plana
sendo essa superfcie plana a projeco da superfcie curva sobre um plano vertical. O integral
da equao 2.42, aplicando o conceito de centro de gravidade, corresponde ao integral na rea
da superfcie premida do momento da projeco horizontal da rea elementar relativamente a
um eixo que a intercepo entre o plano vertical onde feita a projeco da superfcie
premida e a superfcie livre e igual ao momento da rea projectada sobre o plano vertical
relativamente ao mesmo eixo.
(2.43)
Na equao anterior hG a profundidade do centro de gravidade da projeco horizontal
da superfcie curva sobre um plano vertical e Ah a rea da projeco horizontal da superfcie
curva sobre um plano vertical.
A componente horizontal da impulso sobre uma superfcie curva dada por:
(2.44)
Na figura 2.15 so representados os parmetros envolvidos na determinao da
componente horizontal da impulso sobre a superfcie curva.
Figura 2.15 Determinao da componente horizontal da impulso hidrosttica sobre uma
superfcie curva
Impulso hidrosttica sobre a superfcie curva:
Tratando-se de uma superfcie curva cilndrica ou esfrica que admite resultante nica, o
mdulo da impulso hidrosttica sobre a superfcie curva determinado por: 2
h2
v += , (2.45)
hGh A p =
A p A h dAh hGhGA
hh ===
-
29
a direco determinada atravs do ngulo formado com o plano horizontal:
h
varctg
= , (2.46)
o sentido de compresso e o ponto de aplicao tal que a linha de aco da impulso
hidrosttica passa no centro geomtrico da superfcie curva, j que a linha de aco de todas
as foras elementares de presso, por serem perpendiculares superfcie premida, passam no
centro geomtrico da superfcie curva, figura 2.16.
Figura 2.16 Impulso hidrosttica sobre uma superfcie curva cilndrica ou esfrica
2.4.3 Impulso sobre corpos imersos
No caso de um corpo estar totalmente imerso aplicam-se os conceitos estudados no
subcaptulo anterior, sendo no entanto necessrio dividir a superfcie premida de modo a
determinar as componentes verticais de cima para baixo e de baixo para cima e as
componentes horizontais da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.
Aplicados estes conceitos, a um corpo imerso num fluido, verifica-se o Teorema de
Arquimedes que enuncia que todo o corpo mergulhado num fluido em repouso recebe da
parte deste uma impulso vertical, de baixo para cima, igual ao peso do volume do fluido
deslocado.
-
30
-
31
Captulo 3
HIDROCINEMTICA
Objectivo: Identificar as variveis envolvidas no estudo do movimento
dos fluidos, classificar o movimento dos fluidos e
perceber a deduo da Equao da Continuidade
e a sua aplicao ao estudo do escoamento dos fluidos .
3.1 Introduo
Hidrocinemtica o captulo da Hidrulica que estuda o movimento dos fluidos. No
mbito desta disciplina, o estudo feito atravs da descrio do comportamento das partculas
de fluido que ocupam as diferentes posies de um determinado domnio, em cada instante.
As hipteses simplificativas a considerar so a temperatura constante e o fluido
incompressvel.
3.2 Variveis a considerar no estudo do fluido em movimento
Qualquer problema de dinmica dos fluidos pode ser estudado se conhecidas as
seguintes grandezas relativas s partculas que ocupam cada posio do domnio fluido, ao
longo do tempo:
- presso p = p(P,t)
- massa volmica = (P,t)
- temperatura T = T(P,t)
- as trs componentes do vector velocidade kji vvvv zyx ++=r
Na maioria dos problemas prticos de Engenharia Hidrulica, no entanto, os processos
so considerados isotrmicos, ou seja em que a variao de temperatura desprezvel em
termos de resultados obtidos.
O fluido mais estudado na Hidrulica a gua que, embora seja um fluido pouco
compressvel com coeficiente de compressibilidade igual a 5,1 E-10 m2N-1, em certas
-
32
circunstncias do escoamento manifesta a sua compressibilidade exigindo um estudo mais
aprofundado. No mbito desta disciplina, a gua considerada incompressvel.
Neste caso o nmero de variveis a estudar fica reduzido a quatro: a presso e as trs
componentes da velocidade de escoamento em cada ponto do domnio fluido.
3.3 Noes e parmetros de carcter hidrocinemtico
3.3.1 Representao do vector velocidade em Variveis de Euler
O vector velocidade ser representado atravs das Variveis de Euler, ou seja so
caracterizadas as velocidades das partculas que passam nas diferentes posies do domnio
fluido, ao longo do tempo. Em cada instante, interessa determinar a velocidade das partculas
que esto nas diferentes posies do domnio fluido.
A nomenclatura usada , figura 3.1 :
- ( )t,Pvv rr = velocidade da partcula M que est na posio P no instante t;
- ( )tt,Pvv += rr velocidade da partcula N que est na posio P, no instante t+t.
Figura 3.1 Representao da velocidade em Variveis de Euler
3.3.2 Trajectria de uma partcula. Linha de corrente num domnio fluido
Os conceitos de trajectria e linha de corrente tm grande importncia no estudo
analtico dos escoamentos.
Designa-se por trajectria de uma partcula o lugar geomtrico das posies que essa
partcula ocupa, ao longo do tempo. As trajectrias so representadas no tempo e no espao,
figura 3.2. A partcula M est na posio P no instante t e na posio Q no instante t+t. O
vector velocidade da partcula em cada posio que ocupa tangente trajectria nesse ponto.
-
33
Figura 3.2 Traado da trajectria da partcula M
As linhas de corrente definem-se no domnio fluido, para um dado instante. So as
linhas que, em cada ponto, tm como tangente o vector velocidade da partcula localizada
nesse ponto, figura 3.3. A partcula M est na posio P no instante t1 e a partcula N est na
posio Q no mesmo instante t1.
Figura 3.3 Traado da linha de corrente relativa s posies P e Q do domnio fluido,
para o instante t1
Com base na definio de trajectria de uma partcula e de linha de corrente no domnio
fluido podem deduzir-se as seguintes propriedades:
1 - As linhas de corrente, para um dado instante, so tangentes s trajectrias das partculas
no ponto onde esto as partculas nesse instante.
explicao: as linhas de corrente, definidas para um dado instante, cruzam em cada ponto a
trajectria da partcula que ocupa essa posio, se o vector velocidade tangente em cada
ponto trajectria e linha de corrente, num dado instante e na posio que a partcula ocupa
a linha de corrente tangente trajectria.
2 - No caso de escoamentos com velocidade constante no tempo, as trajectrias das
partculas coincidem com as linhas de corrente.
explicao: se a velocidade das partculas que ocupam, ao longo do tempo, cada posio do
domnio fluido constante, as linhas de corrente tambm so constantes ao longo do tempo e
as partculas que passam numa mesma posio do domnio tero a mesma trajectria.
-
34
3.3.3 Tubo de fluxo
Seja uma linha fechada no coincidente com uma linha de corrente, faa-se passar por
cada posio dessa linha fechada uma linha de corrente. A superfcie geomtrica formada
pelas linhas de corrente apoiadas no contorno fechado denomina-se por tubo de fluxo, figura
3.4.
A propriedade principal do tubo de fluxo que as suas paredes no so atravessadas
pelo fluido, j que a velocidade de todas as partculas de fluido localizadas na parede s tm
componente tangencial.
Figura 3.4 Tubo de fluxo, para um dado instante
A vantagem da utilizao do tubo de fluxo est em que qualquer conduta impermevel
de qualquer material se comporta, do ponto de vista hidrulico, como um tubo de fluxo, pois
atravs das suas paredes tambm no se verifica o escoamento. Este conceito apresenta uma
grande importncia no estudo global dos escoamentos.
3.3.4 Caudal. Velocidade mdia de escoamento
Na caracterizao do comportamento hidrulico de um tubo de fluxo define-se por
caudal, representado por Q, o volume de fluido que atravessa a sua seco transversal por
unidade de tempo. Seja S uma superfcie em estudo e dS a superfcie elementar onde a
velocidade considerada constante e igual velocidade da partcula que ocupa a posio do
centro de gravidade da superfcie elementar, vr . S a componente da velocidade normal
superfcie contribui para o caudal atravs dessa superfcie, figura 3.5.
As partculas que no instante inicial esto localizadas na superfcie, percorrem durante o
intervalo de tempo dt a distncia vndt em que vn = v cos a componente da velocidade
segundo a direco normal superfcie. O volume do fluido que atravessa a superfcie dS com
a velocidade vr no intervalo de tempo dt, figura 3.5, :
-
35
dS vdtdtdSv
dtdVoldQ nn ===
===SS S
n dSvdS nvdQQrr
S
dS nv
SQU
== S
rr
dS nv dS vdQ nrr==
(3.1)
Figura 3.5 Caudal elementar
O caudal elementar, atravs da rea elementar dS, :
(3.2)
Aplicando o conceito de produto interno entre o vector velocidade e o versor normal
superfcie, o caudal elementar pode ser representado por:
(3.3)
O caudal atravs da superfcie S igual ao integral do caudal elementar, a toda a
superfcie:
(3.4)
Para calcular o caudal num tubo de fluxo necessrio conhecer a lei de variao da
velocidade na sua seco transversal que, de modo geral, no est disponvel tornando
impossvel o clculo. Para ultrapassar esta dificuldade foi definida uma grandeza designada
por velocidade mdia e que a velocidade fictcia, constante na seco, que transporta o
mesmo caudal num tubo com iguais caractersticas geomtricas. A velocidade mdia
determinada pela equao:
(3.5)
dSdt vdVol n=
-
36
3.4 Classificao do movimento dos fluidos
3.4.1 Nota introdutria
A classificao do escoamento dos fluidos pode ser feita de acordo com diferentes
critrios, sendo cada uma delas independente das outras. Apresentam-se a classificao quanto
variao das grandezas no tempo; a classificao quanto variao das grandezas no espao
e a classificao quanto ao comportamento relativo entre as partculas.
3.4.2 Classificao quanto variao das grandezas no tempo
Os escoamentos em que todas as grandezas envolvidas no variam com o tempo
designam-se por escoamentos permanentes. Se alguma das grandezas dependente do tempo
o escoamento chama-se varivel. No mbito desta disciplina apenas sero estudados os
escoamentos permanentes.
No caso de um escoamento permanente as grandezas envolvidas so apenas funo da
posio que ocupam, no variando de instante para instante. As derivadas parciais em ordem
ao tempo anulam-se:
0t =
(3.6)
As linhas de correntes mantm-se ao longo do tempo, coincidindo com as trajectrias
das diferentes partculas, uma vez que a velocidade em cada posio se mantm qualquer que
seja a partcula que a ocupa e qualquer que seja o instante.
Na prtica, teremos um escoamento permanente no caso do abastecimento a partir de
um reservatrio de grandes dimenses. Diz-se que um reservatrio se comporta como um
reservatrio de grandes dimenses quando o volume dentro do reservatrio muito grande
relativamente ao volume que entra ou sai do reservatrio, desprezando-se a variao do nvel
no reservatrio. Mantendo-se constante o nvel no reservatrio o caudal e a velocidade de
abastecimento so constantes ao longo do tempo.
Por outro lado, se o reservatrio de abastecimento se comporta como um reservatrio de
pequenas dimenses, em que o abastecimento implica a diminuio do nvel dentro do
-
37
reservatrio, o caudal e a velocidade sada variam com o tempo, classificando-se como um
escoamento varivel.
3.4.2 Classificao quanto variao das grandezas no espao
Relativamente variao das grandezas no espao os escoamentos classificam-se em
uniformes ou variados.
Escoamento uniforme aquele em que as grandezas tomam o mesmo valor qualquer
que seja a posio que as partculas ocupam no meio fluido para um dado instante, ou seja, em
cada instante a derivada parcial em ordem ao espao nula:
0s = (3.7)
No escoamento variado o valor das grandezas varia de acordo com a posio que as
partculas ocupam, num dado instante.
Na prtica, teremos um movimento uniforme se as caractersticas geomtricas de uma
dada conduta de transporte de um lquido se mantiverem constantes ao longo do seu
comprimento. Caso contrrio ser variado.
3.4.4 Classificao quanto ao comportamento relativo das partculas
Distinguem-se dois tipos de escoamento no que diz respeito ao comportamento relativo
das partculas: o escoamento laminar e o escoamento turbulento. Na passagem de regime
laminar para regime turbulento define-se o regime de transio.
O movimento laminar caracteriza-se por um deslocamento regular de todas as
partculas, mantendo estas uma posio relativa bem definida entre si. O movimento
turbulento caracteriza-se por um deslocamento desordenado das partculas, em que as suas
trajectrias se cruzam e em que a velocidade das partcula varia de modo muito irregular.
Nos movimentos turbulentos s faz sentido falar no valor mdio das grandezas, dado
que os valores instantneos variam de instante para instante. A caracterizao dos
escoamentos turbulentos e as equaes que os representam aplicam os valores mdios das
grandezas.
A Experincia de Reynolds permite visualizar os diferentes tipos de regime de
escoamento. No escoamento de um dado fluido incolor, em estudo, injectado um lquido
colorido com a mesma densidade e no miscvel. Para velocidades muito baixas o escoamento
-
38
do lquido corado faz-se segundo uma linha recta, bem definida, ocupando sempre a mesma
posio relativa na seco transversal do escoamento, est-se perante um regime laminar. O
aumento da velocidade de escoamento gera alguma perturbao na linha de escoamento do
lquido corado apresentando uma ligeira curvatura, entrou-se no regime de transio.
Aumentando ainda mais a velocidade a linha relativa ao escoamento do lquido corado rompe
e as partculas coradas passam a misturar-se com as partculas do fluido em estudo, neste caso
difcil acompanhar o comportamento das partculas coradas, identifica-se o regime
turbulento.
Tendo sido verificado que, em tubos de seco circular, a ocorrncia dos diferentes
regimes de escoamento eram funo da velocidade de escoamento, do dimetro do tubo e da
viscosidade do lquido foi deduzido um parmetro adimensional designado por nmero de
Reynolds que permite classificar o regime de escoamento:
UD
=Re (3.8)
No escoamento em presso num tubo circular o regime laminar mantm-se para Re at
aproximadamente 2000, entra em regime turbulento para o valor de Re de 3000 e estar em
regime de transio para n de Reynolds entre 2000 e 3000. Estes valores podem variar na
diferente bibliografia disponvel, pois so determinados experimentalmente e dependem das
condies de ensaio.
fcil verificar que, no caso do fluido ser gua, o regime de escoamento quase sempre
turbulento pois a gua tem uma viscosidade cinemtica muito baixa (para a temperatura de
20C a viscosidade cinemtica aproximadamente 10-6m2s-1). Apresentamos como excepo
o incio ou paragem do escoamento, em que a velocidade da gua passa por valores muito
perto do zero. Tambm em regime varivel pode acontecer o regime laminar sempre que
exista inverso do sentido de escoamento, atravs da anulao da velocidade.
Relativamente ao diagrama de velocidades, verifica-se que no caso dos regimes
turbulentos existe uma menor variao da velocidade na seco transversal porque as
partculas ocupam aleatoriamente posies diferentes na seco transversal, as partculas
podem passar da posio perto da parede do tubo para uma posio perto do centro de
gravidade da seco, existindo, por isso maior uniformidade no diagrama de velocidades. Em
regime turbulento, o diagrama de velocidades caracteriza-se por um elevado gradiente perto as
paredes do tubo e uma pequena variao no centro do tubo. Em regime laminar a variao em
-
39
toda a seco superior. Na figura 3.6 so apresentados esquemas dos diagramas de
velocidade em regime laminar e em regime turbulento.
a) b)
Figura 3.6 Diagrama de velocidades a) regime laminar; b) regime turbulento
3.5 Equaes gerais da Mecnica dos Fluidos
As equaes que representam o comportamento do fluido podem apresentar-se na forma
local ou na forma global. As equaes locais representam o que se passa com cada partcula
que ocupa uma dada posio do domnio fluido; as equaes globais representam o
comportamento das partculas que ocupam regies do domnio fluido.
Nos problemas de Mecnica dos Fluidos, mbito desta disciplina, necessrio
determinar quatro variveis, sendo, para tal, aplicadas quatro relaes entre as variveis:
- equao da continuidade que representa o princpio da conservao da massa;
- equao do equilbrio dinmico aplicada a um dado volume de fluido (como equao
vectorial ser representada pelas suas trs componentes).
Na maioria das aplicaes em Hidrulica, interessa a determinao de grandezas
globais.
No estudo global do comportamento dos fluidos, resultado da aplicao a uma dada
regio do domnio fluido, so deduzidas as seguintes equaes:
- Equao da continuidade na forma global que representa o princpio da conservao da
massa;
- Teorema de Bernoulli generalizado para um tubo de fluxo que representa o princpio da
conservao da energia;
-
40
- Teorema de Euler ou Teorema da Quantidade de Movimento que representa o equilbrio de
foras aplicado a uma dado volume de fluido.
No prximo sub-captulo ser deduzida a equao da continuidade por introduzir apenas
conceitos da cinemtica, j que no considera as causas do movimento dos fluidos. Nos
captulos quatro e cinco apresentam-se a deduo e aplicao do Teorema de Bernoulli e do
Teorema da Quantidade de Movimento, respectivamente.
3.6 Equao da continuidade
3.6.1 Nota introdutria
Esta equao representa o Princpio da Conservao da Massa aplicado a um dado
volume do domnio fluido, V, dentro de um tubo de fluxo e limitado por duas seces
transversais, figura 3.7. No caso mais geral, o volume de controle tem uma forma tronco-
cnica em que se considera a variao da seco transversal ao longo do eixo do tubo.
A aplicao do princpio da conservao da massa ao volume definido anteriormente
permite deduzir a Equao da Continuidade na sua forma global.
Figura 3.7 Volume de controlo a aplicar o princpio da conservao da massa
O fluxo de massa d-se atravs das seces transversais do escoamento, A1 e A2. A
superfcie lateral do tubo de fluxo por coincidir com um feixe de linhas de corrente no
permite passagem de partculas fluidas atravs dela.
O princpio da conservao da massa pode, neste caso, ser escrita do seguinte modo:
(3.9) intA1A2 m mm =
-
41
A massa que sai do volume de controlo considerado pela seco A2, por unidade de
tempo, menos a massa que entra no mesmo volume pela seco A1, por unidade de tempo
igual variao de massa dentro do volume em estudo, por unidade de tempo.
Convencionou-se que a sada de massa atravs da superfcie de controle ter o sinal
positivo, sendo neste caso a variao de massa dentro da superfcie de controle tambm
positiva.
A massa que entra no volume de controle, por unidade de tempo :
1A Qm 1 = (3.10)
e a massa que sai do mesmo volume de controle atravs da seco A2, por unidade de tempo:
2A Qm 2 = (3.11)
A massa que, no instante inicial, est dentro do volume considerado de forma tronco-
cnica, :
dsA ds2
A V 21 =+= A (3.12)
e a variao da massa que acontece dentro do volume na unidade de tempo, no caso de a
conduta ser indeformvel e o fluido incompressvel, igual a zero:
(3.13)
Substituindo as equaes 3.10, 3.11 e 3.13 na equao do balano, equao 3.9, obtm-
se:
(3.14)
ou seja: const Q =
Se o fluido incompressvel, a massa volmica constante ao longo do eixo do tubo, a
Equao da continuidade aplicada a um lquido incompressvel representa-se por:
(3.15)
Exemplos de aplicao:
const UAconst Q ==
0m int =
0QQ 12 =
-
42
No escoamento permanente de um lquido incompressvel, atravs de uma conduta com
seco constante ou variada, possvel relacionar a velocidade mdia em duas seces dessa
conduta, aplicando a equao da continuidade:
a) b)
212211 U U AUA Uconst Q ===1
2212211 A
AU U AUA Uconst Q ===
-
43
Captulo 4
TEOREMA DE BERNOULLI E SUAS APLICAES
Objectivo: Perceber a deduo do Teorema de Bernoulli
e a sua aplicao ao estudo do escoamento dos fluidos.
4.1 Introduo O Teorema de Bernoulli representa o Princpio da Conservao da Energia e relaciona
as diferentes formas de energia mecnica ao longo de um escoamento: a energia de posio, a
energia de presso e a energia cintica. Permite calcular o caudal de um escoamento ou a
variao de presso ao longo do escoamento.
A Equao de Bernoulli pode ser deduzida atravs da aplicao da equao de equilbrio
dinmico a um dado volume de controlo, por no serem consideradas as variaes de
temperatura.
Tendo em conta que a equao de equilbrio dinmico vectorial sero estudadas as
suas componentes. escolhido um sistema de coordenadas cilndricas permitindo o estudo da
componente da equao da dinmica segundo uma linha de corrente, que relaciona a variao
das diferentes formas de energia mecnica ao longo da linha de corrente Teorema de
Bernoulli ao longo de uma linha de corrente, e segundo a normal a essa linha de corrente, que
estuda a variao na seco transversal do escoamento das grandezas envolvidas, permitindo
obter Teorema de Bernoulli na forma global aplicado ao longo do tubo de fluxo.
De modo simplificado aplicar-se- a deduo para o caso particular de lquido perfeito,
generalizando-se de seguida para os lquidos reais.
4.2 Deduo do Teorema de Bernoulli ao longo de uma linha de corrente, para o caso particular de lquido perfeito
Para o caso particular de lquidos perfeitos, aplica-se a Equao Fundamental da
Dinmica a um dado volume de lquido escolhido, criteriosamente, com base no interesse em
-
44
determinar a variao da energia mecnica total ao longo de uma linha de corrente. O volume
tem a forma de um cilindro com altura ds, eixo longitudinal segundo a direco da linha de
corrente e seco transversal elementar, dA, de modo a que as grandezas envolvidas no
escoamento possam considerar-se constantes nas bases do cilindro.
Figura 4.1 Domnio de lquido para aplicao da Equao Fundamental da Dinmica,
componente segundo a direco da linha de corrente
A aplicao da Equao Fundamental da Dinmica ao volume de lquido considerado,
permite escrever:
(4.1)
A resultante de todas as foras exteriores aplicadas sobre o volume e a fora de inrcia
( amr ) nula.
As foras exteriores que actuam sobre o volume considerado so (ver cap.1):
fora de massa ou volume: peso prprio, Gr
normais, r
foras de contacto ou superfcie
tangenciais, tFr
Substituindo as foras na equao 4.1, obtm-se:
(4.2)
linha de corrente
amFerr
=
####
$
####
%
&
0amFG t =++rrrr
-
45
O peso prprio tem a direco vertical e sentido de cima para baixo, as foras de
contacto normais (foras de presso) actuam sobre toda a superfcie fronteira do volume, de
fluido, figura 4.2.
Figura 4.2 Sistema de foras exteriores aplicadas ao volume de fluido considerado. Plano da folha de papel, definido por s e n, corresponde a um plano vertical
A presso considerada constante na rea elementar, sendo a fora normal sobre as
bases do volume determinada pelo produto entre a presso e a rea. Considerou-se que a
presso na base de montante p e que, ao longo da linha de corrente, se verifica uma variao
de presso dada por s/p sendo por isso o valor da presso na base de jusante dada pelo
soma entre a presso a montante e a variao correspondente ao deslocamento ds:
dsspp
+ (4.3)
As foras de contacto tangenciais nas bases do cilindro no se manifestam por o vector
velocidade no ter componente segundo a direco tangente s bases. O vector velocidade
como tangente linha de corrente s tem componente segundo a linha de corrente, Esta a
simplificao que justifica a deduo do Teorema de Bernoulli ao longo da linha de corrente.
Nas paredes laterais do volume em estudo as foras normais no tm componente sobre
a direco da linha de corrente, no sendo por isso consideradas, as foras tangenciais no tm
componente segundo a direco do eixo do cilindro por se considerar o lquido perfeito. No
caso de um lquido perfeito no existem foras resistentes entre as partculas.
Relativamente fora de inrcia, necessrio estudar o vector acelerao, derivada da
velocidade em ordem ao tempo. A acelerao igual soma da acelerao local (variao da
velocidade no tempo considerando uma dada posio no espao) com a acelerao convectiva
(variao da velocidade com o espao, segundo a direco da linha de corrente, s, a direco
dAdss pp "
#
$%&
'
+
z
-
46
s2
v
tv
dtdv
vs
vt
vdt
dv
2s
sss
sss
""#
$%%&
'
+
=
+
=
normal linha de corrente, n, e a direco normal, , ao plano definido pelas direces s e n,
aqui representado pelo plano da folha de papel e coincidente com um plano vertical):
dtdv
dtdn
nv
dtds
sv
tv
dtvda
+
+
+
==
rrrrrr (4.4)
A componente segundo a linha de corrente do vector acelerao dada por:
(4.5)
ou seja:
(4.6)
como as componentes do vector velocidade segundo a direco n e segundo a direco so
nulas, tendo em conta a definio de linha de corrente, obtm-se:
(4.7)
A componente da equao (4.2) segundo a direco da linha de corrente :
(4.8)
(4.9)
Dividindo a equao anterior por dA ds e multiplicando por -1, vem:
(4.10)
dtdv
dsdA dsdAspcos dsdA s =
dtdv
dsdA dAdsspppdAcos dsdA s ="
#
$%&
'
++
acelerao local acelerao convectiva
dtdv
dtdn
nv
dtds
sv
t
v
dtdv sssss
+
+
+
=
+
+
+
= v
v v
nv
vs
v
tv
dt
dv sn
ss
sss
""""""
#
$
%%%%%%
&
'
""
#
$
%%
&
'
+
=
+
s
2v
tv
g1
sp1cos
2s
s
-
47
Tendo em conta que:
cos representa a variao da cota topogrfica com a variao da distncia segundo a
direco da linha de corrente, aumentando z medida que s aumenta, pode ser substitudo
por: s/z cos = ;
vs a componente da velocidade segundo a direco da linha de corrente e pela
definio de linha de corrente coincide com o vector velocidade, podendo ser substituda
por: vvs = ;
a substituio destes parmetros na equao 4.10, permite obter:
(4.11)
A acelerao da gravidade e o peso volmico (tendo em conta que se trata de um lquido
incompressvel) ao longo da linha de corrente so constantes:
(4.12)
e como a soma das derivadas igual derivada da soma, obtm-se a equao seguinte:
(4.13)
Esta a equao de Bernoulli, aplicada ao longo de um linha de corrente e para o caso
particular de lquidos perfeitos.
Significado fsico dos parmetros:
s/ - variao ao longo da linha de corrente;
z - cota topogrfica relativamente a um dado plano horizontal de referncia, a
energia potencial de posio por unidade de peso do fluido;
/p - altura piezomtrica, a energia potencial de presso por unidade de peso do
fluido;
g2/v2 - altura cintica, a energia cintica por unidade de peso do fluido;
s2
v
g1
tv
g1
sp1
sz
2
$$%
&''(
)
=
+
tv
g1
s2gv
s
p
sz
2
=
$$%
&''(
)
+
$$%
&''(
)
+
tv
g1
g2vpz
s
2
=$$
%
&''(
)+
+
-
48
+ /pz - cota piezomtrica relativamente a um dado plano horizontal de referncia;
g2vpz 2++ - energia mecnica total por unidade de peso do fluido ou carga,
relativamente a um dado plano horizontal de referncia, representa-se por H;
tvg1 - fora de inrcia local por unidade de peso do fluido, variao da quantidade de
movimento por unidade de tempo.
Para um escoamento permanente, a variao no tempo anula-se e a equao de Bernoulli
aplicada ao longo de uma linha de corrente e lquido perfeito, representa-se por:
(4.13)
4.3 Linha piezomtrica e linha de energia. Significado fsico.
Definem-se como linha piezomtrica a representao da cota piezomtrica e como linha
de energia a representao da energia mecnica total por unidade de peso do fluido.
Identificando o plano horizontal de referncia, figura 4.3, a linha de corrente obtida
atravs da representao das cotas topogrficas das diferentes posies, ao longo da linha de
corrente, a partir do plano horizontal de referncia. A linha piezomtrica obtm-se somando a
altura piezomtrica cota topogrfica e a linha de energia pela soma da altura cintica linha
piezomtrica.
No caso particular do escoamento permanente de um lquido perfeito, a linha de corrente
coincide com a trajectria e como a carga total se mantm constante, a linha de energia uma
recta horizontal, figura 4.3.
Figura 4.3 Escoamento permanente de um fluido perfeito, ao longo de uma linha de corrente
Representao da linha de corrente, linha piezomtrica e linha de energia.
0g2
vpzs
2
=$$%
&''(
)+
+
-
49
Significado fsico da linha piezomtrica e da linha de energia
A linha piezomtrica pode ser representada fisicamente pela linha que une a superfcie
livre em tubos piezomtricos instalados ao longo da linha de corrente, figura 4.4. O tubo
piezomtrico instalado perpendicularmente linha de corrente, de modo a no alterar o
comportamento do fluido, numa dada posio dessa linha de corrente permite medir, atravs
da cota da superfcie livre, a cota piezomtrica da partcula localizada na base do tubo
piezomtrico. Dentro do tubo piezomtrico o fluido est em repouso sendo a cota
piezomtrica constante em qualquer ponto do fluido dentro do tubo piezomtrico (lei
hidrosttica de presses). A cota piezomtrica na base do tubo piezomtrico igual cota
piezomtrica da posio da linha de corrente onde o tubo foi instalado e por outro lado igual
cota piezomtrica superfcie do tubo que, por a presso ser nula, coincide com a cota
topogrfica da superfcie livre.
Figura 4.4 Tubo piezomtrico. Transferncia de energia.
Do ponto de vista de transferncia de energia no domnio fluido dentro do tubo
piezomtrico verifica-se que na base do tubo piezomtrico a energia potencial de posio e a
energia potencial de presso so iguais energia potencial de posio e energia potencial de
presso na posio da linha de corrente onde foi instalado o tubo piezomtrico. medida que
a energia potencial de posio aumenta dentro do tubo piezomtrico, a energia de presso
diminui at anular superfcie livre.
A representao fsica da linha de energia serve-se de um equipamento que ainda no foi
apresentado e que se denomina por Tubo de Pitot, figura 4.5. A linha de energia
representada pela linha que une a superfcie livre de Tubos de Pitot instalados ao longo da
linha de corrente.
O Tubo de Pitot tem dimenses transversais semelhantes ao tubo piezomtrico e
apresenta a forma de L. Sendo instalado paralelamente linha de corrente permite que a carga
BA
A zpz =
+
0p como B =
-
50
sua entrada seja igual carga no ponto da linha de corrente onde foi instalado. O fluido est
em repouso dentro do tubo, fazendo com que a energia cintica do fluido na linha de corrente
se transforme em energia potencial de presso, dentro do Tubo de Pitot, que por sua vez se
transformar em energia potencial de posio na superfcie livre do tubo de Pitot, com base na
aplicao da Lei Hidrosttica de Presses entre a seco de entrada no Tubo de Pitot e a
superfcie livre no mesmo tubo.
Figura 4.5 Tubo de Pitot. Transferncia de energia.
A associao do Tubo Piezomtrico com o Tubo de Pitot, instalados na mesma posio
da linha de corrente, permite determinar a altura cintica da partcula do escoamento
localizada nessa posio. Conhecida a altura cintica possvel determinar a velocidade de
escoamento da mesma partcula.
4.4 Deduo do Teorema de Bernoulli ao longo de uma linha de corrente, para lquidos
reais
Os lquidos perfeitos no existem na natureza. Os lquidos reais comportam-se como
perfeitos quando fortemente acelerados, tornando-se desprezveis as tenses tangenciais.
No caso de lquidos reais, fazem-se sentir as foras resistentes ao escoamento entre as
partculas e necessrio acrescentar o trabalho realizado por essas foras ao longo da linha de
corrente, por unidade de peso do fluido e por unidade de comprimento, designado por perda
de carga unitria e representado por j.
A Equao de Bernoulli ao longo de uma linha de corrente aplicada a lquidos reais e
escoamentos variveis, toma a seguinte forma:
(4.14)
j
tv
g1
g2vpz
s
2
=##
$
%&&'
(+
+
+=+
+ BB
2AA
Apz
2gvpz
0 vcomo B =
0p como C =
CB
B zpz =
+
-
51
A perda de carga unitria afectada pelo sinal negativo considerando que a carga
diminui medida que s aumenta ao longo da linha de corrente.
Para o caso particular de escoamento permanente, a variao da velocidade com o tempo
anula-se e a Equao de Bernoulli aplicada a lquidos reais escreve-se da seguinte forma:
(4.15)
A integrao entre dois pontos 1 (a montante) e 2 (a jusante) da linha de corrente,
permite obter:
(4.16)
(4.17)
O membro da direita da equao 4.17 representa a perda de carga total entre os pontos 1
e 2 da linha de corrente. Para o seu clculo deve ser conhecida a variao da perda de carga
unitria ao longo da linha de corrente.
A representao da linha de energia, no caso de lquidos reais deixa de ser uma recta
horizontal e passa a ser uma recta descendente, se a perda de carga unitria constante ou
uma curva se a perda de carga unitria variar ao longo da linha de corrente, figura 4.6.
Figura 4.6 Linha piezomtrica e linha de energia no caso particular do escoamento
permanente de um fluido real, ao longo de uma linha de corrente
jg2
vpzs
2
=""#
$%%&
'+
+
=""#
$%%&
'+
+
2
1
22
1
ds jds2gvpz
s
=""#
$%%&
'+
+""
#
$%%&
'+
+
2
11
2
2
2
ds jg2
vpzg2
vpz
-
52
4.5 Teorema de Bernoulli no aspecto global. Aplicao a um tubo de fluxo. Caso
particular do escoamento permanente.
Para representao do Teorema de Bernoulli ao longo de um tubo de fluxo necessrio
estudar a componente segundo a direco normal linha de corrente da equao fundamental
da dinmica aplicada a um dado volume de fluido criteriosamente escolhido. Sabendo que
interessa o estudo da variao das grandezas ao longo da normal ser considerado um volume
cilndrico com o eixo definido ao longo da direco normal linha de corrente, em que as
bases so reas elementares, dA, e a altura do cilindro dn. As grandezas envolvidas no
escoamento so consideradas constantes na base do cilindro, figura 4.7.
A aplicao da Equao Fundamental da Dinmica ao volume de fluido considerado na
figura 4.7 permite escrever, equao 4.2:
(4.2)
Figura 4.7 Domnio do fluido para estudo da componente segundo a direco normal linha
de corrente da Equao Fundamental da Dinmica
O peso prprio tem a direco vertical e sentido de cima para baixo. As foras de
contacto normais (foras de presso) actuam sobre toda a superfcie fronteira do volume,
figura 4.7, no entanto s interessam as foras de presso sobre as bases do volume definido,
pois s estas tm componente segundo a direco normal. As foras tangenciais nas bases do
cilindro no tm componente segundo a direco normal e a tenso tangencial na parede
lateral do cilindro no existe por a velocidade no ter componente segundo a direco normal
linha de corrente.
linha de corrente
normal linha de corrente
0amFG t =++rrrr
z
-
53
A componente, segundo a direco normal linha de corrente, da equao 4.2 pode
escrever-se do seguinte modo:
dtdvdAdn dAdn
npppdAsendn dA n =$
%
&'(
)
++ (4.18)
dtdvdndA dndA
npsendn dA n =
(4.19)
A componente segundo a direco n do vector acelerao (equao 4.3) dada por:
(4.20)
A acelerao local anula-se por se tratar de um escoamento permanente e a acelerao
convectiva representada apenas pela primeira parcela por as componentes da velocidade
segundo a normal linha de corrente, dtdnvn = , e segundo a direco
perpendicular, dtdv = , serem nulas.
Tendo em conta que na equao 4.19:
nzsen
= (4.21)
rv
sv sn = (4.22)
svdtds
= e vs=v (4.23)
obtm-se:
rv
dAdndndAnp
nzdn dA
2s=
(4.24)
Dividindo a equao 4.24 pelo peso do fluido contido no volume, dAdn, vem:
rv
g1
np1
nz
2
=
+
. (4.25)
dtdv
dtdn
nv
dtds
sv
tv
dtdv nnnnn
+
+
+
=
-
54
Tratando-se de um fluido incompressvel e igualando a soma de derivadas derivada da
soma, obtm-se:
(4.26)
A equao 4.26 representa a variao da cota piezomtrica segundo a normal s linhas
de corrente, no caso de escoamento permanente.
Significado fsico dos parmetros:
n/ - variao ao longo da normal linha de corrente;
z - cota topogrfica relativamente a um dado plano horizontal de referncia, a
energia potencial de posio por unidade de peso do fluido;
/p - altura piezomtrica, a energia potencial de presso por unidade de peso do
fluido;
+ /pz - cota piezomtrica relativamente a um dado plano horizontal de referncia;
r - raio de curvatura da linha de corrente
rvg1 2 - componente segundo a direco normal linha de corrente da fora de inrcia
convectiva por unidade de peso do fluido.
Casos particulares para aplicao da equao 4.26, para escoamento permanente.
Tratando-se de escoamentos permanentes as linhas de corrente coincidem com as trajectrias:
Trajectrias rectilneas, figura 4.8:
Figura 4.8 Trajectrias rectilneas
rv
g1pz
n
2
=%%&
'(()
*
+
-
55
No caso de trajectrias rectilneas o raio de curvatura infinito e o membro direito da
equao 4.26 nulo, ou seja a cota piezomtrica constante segundo a direco normal a
linhas de corrente rectilneas, segundo a seco transversal do tubo de fluxo:
(4.27)
Integrando entre os pontos 1 e 2 localizados na direco normal linha de corrente,
figura 4.8, obtm-se:
(4.28)
(4.29)
No caso de trajectrias rectilneas e paralelas entre si a cota piezomtrica constante na
seco transversal. No caso de trajectrias convergentes ou divergentes a cota piezomtrica
constante na superfcie que, em cada posio, seja normal s trajectrias.
Trajectrias curvas (cncavas ou convexas), figura 4.9:
Figura 4.9 Trajectrias cncavas e trajectrias convexas
Neste caso, o raio de curvatura na equao 4.26 toma um valor finito. Integrando a
equao 4.26 entre os pontos 1 e 2 de uma seco transversal, no sentido positivo da
curvatura, obtm-se:
0pzn
=!!"
#$$%
&
+
0pz pz 12
=!!"
#$$%
&
+!!
"
#$$%
&
+
0dnpzn
2
1
=!!"
#$$%
&
+
-
56
(4.30)
O membro da direita sempre negativo, dado que g positivo, o quadrado da
velocidade sempre positivo e o raio de curvatura sempre positivo :
(4.31)
No caso de trajectrias curvas (cncavas ou convexas) a cota piezomtrica diminui no
sentido da curvatura, de 1 para 2.
A aplicao da componente segundo a normal linha de corrente da Equao
Fundamental da Dinmica permitiu estudar a variao da cota piezomtrica numa seco
transversal do tubo de fluxo, no entanto, para deduo da Equao de Bernoulli aplicada ao
longo de um tubo de fluxo necessrio conhecer a variao da carga total segundo a normal
s linhas de corrente.
No caso de escoamento permanente, se o tubo de fluxo de eixo rectilneo, as linhas de
corrente so rectilneas e paralelas entre si, podendo concluir-se que a cota piezomtrica
constante em cada seco transversal. Normalizou-se que a cota piezomtrica na seco
transversal de um tubo de fluxo seja calculada no centro de gravidade dessa seco. Existe
uma linha piezomtrica nica para as diferentes linhas de corrente que constituem o tubo de fluxo, figura 4.10.
Figura 4.10 Tubo de fluxo. Linhas de energia e linha piezomtrica
=##$
%&&'
(
+##
$
%&&'
(
+
2
1
2
12
dnr
vg1pzpz
1212
pzpz 0 pzpz ##$
%&&'
(
+
-
57
Na Equao de Bernoulli, aplicada ao longo do tubo de fluxo, os dois primeiros termos
do membro da esquerda so a cota piezomtrica no centro de gravidade da seco transversal
que representam a cota piezomtrica na seco transversal.
Como a velocidade varia de linha de corrente para linha de corrente existe uma linha de
energia para cada linha de corrente, figura 4.10.
No , no entanto, possvel representar as linhas de energia correspondentes a todas as
linhas de corrente definidas no tubo de fluxo. assim definida uma linha de energia, com
base na velocidade mdia do escoamento no tubo de fluxo, tal que a energia cintica por
unidade de tempo em cada seco transversal seja igual energia cintica por unidade de
tempo do escoamento real, na mesma seco.
A energia cintica por unidade de tempo (potncia cintica) do escoamento, numa rea
elementar da seco transversal dA, em que existe uma partcula, localizada no centro de
gravidade, com velocidade v dada por:
dA v21
dt1dA v vdt
21
dt1 vVol
21
dt1mv
21 3222 === (4.34)
A potncia cintica na seco transversal do tubo de fluxo determinada pela integrao
da equao anterior rea total da seco transversal, obtendo-se:
=A
3
A
3 dA v21dA v
21
(4.35)
No escoamento fictcio com velocidade mdia, U, a potncia cintica na seco
transversal do tubo de fluxo ser:
A U21dA U
21dA U
21 3
A
3
A
3 == (4.36)
Definiu-se Coeficiente de Coriolis, representado por , como a relao entre a potncia
cintica do escoamento real numa dada seco e a potncia cintica do escoamento fictcio na
mesma seco:
(4.38)
AU
dA v
A U21
dA v21
3A
3
3
A
3 =
=
-
58
O valor do Coeficiente de Coriolis funo do diagrama de velocidades, sendo que
quanto menor a variao de velocidade mais perto de um o seu valor. Com base nos
diagramas de velocidade em regime laminar e em regime turbulento, figura 3.6, conclui-se
que o Coeficiente de Coriolis toma valores superiores em regime laminar do que em regime
turbulento. Este coeficiente apresenta o valor de =2,0 em regime laminar e 1,15 em
regime turbulento.
Com a introduo do Coeficiente de Coriolis possvel substituir a potncia cintic