II Curso de Capacitação Ministerial

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TEMA: O MINISTÉRIO DOS DIÁCONOS Pr. Alberto Simonton

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TEMA:

O MINISTÉRIO DOS DIÁCONOS

Pr. Alberto Simonton

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

03

I- O SIGNIFICADO DO TERMO DIÁCONO

04

II - A ORIGEM DO OFÍCIO DIACONAL

05

Análise de (At 6:1-6)

05

Análise de (1Tm 3:8-13)

06

III - A NECESSIDADE DE VOCAÇÃO PARA O OFÍCIO

07

Base Bíblica

07

Base Constitucional (Manual Presbiteriano)

08

IV - REQUISITOS PARA OS CANDIDATOS AO DIACONATO

09

V - O SERVIÇO DO MINISTÉRIO DIACONAL

11

Base Bíblica

11

Base do Manual Presbiteriano

12

VI- A QUESTÃO DA ORDENAÇÃO DE DIACONISAS

13

Resposta a Argumentos Feministas

13

Posição da IPB quanto a ordenação de Diaconisas

15

CONCLUSÃO

16

BIBLIOGRAFIA

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3

INTRODUÇÃO

Uma igreja para crescer bem e desenvolver sua vida espiritual deve lutar para ter bons oficiais em seu meio.

Todavia, nos tempos difíceis nos quais vivemos temos visto que cada vez mais as igrejas têm desprezado as orientações

das Escrituras quanto aos ofícios eclesiásticos. Vemos um afastamento daquilo que Deus ordenou na Sua santa Palavra,

tanto no que diz respeito ao tipo de serviço a ser realizado pelos oficiais, como no que diz respeito à escolha destes

oficiais.

É preciso mudar esta situação. Não podemos nos acostumar com esta deficiência da igreja, ou até nos agradar

dela! A volta aos padrões bíblicos é uma questão indispensável à vida da igreja. É por isto que este trabalho visa orientar

os membros das igrejas quanto à escolha dos oficiais ao diaconato, bem como explicar outros aspectos deste ministério.

Muitas são as opiniões acerca do que deve ser o serviço dos diáconos. Nós, porém, devemos aprender o que Deus revela

por meio de suas Sagradas Escrituras.

Lembremos que de forma alguma este estudo é exaustivo em seu conteúdo, mas intenciona tirar dúvidas essências

sobre o assunto. Cabe ao leitor retirar o restante de suas dúvidas em outras fontes. Todavia, aqui nós encontraremos

conteúdo suficiente para melhorar nossa visão a respeito do assunto proposto.

Deus abençoe seus estudos!

Pr. Alberto Simonton

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I- O SIGNIFICADO DO TERMO DIÁCONO

Durante o passar do tempo as palavras vão recebendo novos sentidos, e principalmente quando vemos que certas

palavras são originadas em outra língua, em outro tempo, e em outra cultura. É o caso da palavra diácono como a

estudaremos. Para uma correta compreensão do tema que estamos estudando devemos igualmente conhecer o significado

correto do termo diácono. Para tanto, devemos procurar o significado deste vocábulo na língua original (grego), e na

época original em que os escritores a utilizaram (50 - 100 d.C.). Por isto, antes de tudo, vamos esclarecer o significado do

termo ―diácono‖.

Quando olhamos para nossa época, língua, e cultura, a palavra diácono tomou um rumo de significado diferente

daquilo que originalmente significava. Em alguns dicionários de nossa língua, o termo é tomado com um significado bem

simples e não possuindo uma variação de sentidos. Vejamos os exemplos abaixo:

1. ―Clérigo que recebeu a segunda das ordens maiores‖;1

2. ―Clérigo cuja função é inferior à do padre‖;2

3. ―Clérigo que recebeu a ordem do diaconato.‖3

É claro que estes dicionários não esgotam o significado do termo como encontramos em várias das denominações

evangélicas deste país, contudo, estes exemplos já nos servem para demonstrar quão perigoso é firmar-se nos conceitos

aprendidos em nossa cultura. Devemos obrigatoriamente buscar o sentido na língua grega da época de Paulo.

Na língua grega da época de Paulo, a palavra diácono tinha vários significados. E foi assim utilizada nos textos

bíblicos:

a)Servo (Mt 20:26; 22:13; Mc 9:35);

b)Garçom (Jo 2:5,9);

c)Agente (Rm 13:4);

d)Auxiliar (2 Co 6:4; Ef 6:21; Cl 1:23,25; 1 Tm 4:6);

e)Oficial (Fp 1:1; 1 Tm 3:8,12).4

Como podemos observar, em todas as suas nuances de significados está presente a idéia de ―serviço a outro‖.

Entretanto, não queremos simplesmente saber os significados possíveis da palavra diácono, mas entender firmemente que

um dos significados do termo era ―ser um oficial da igreja‖. Vejamos a análise abaixo:

diakonos é achada 29 vezes no NT. Seu significado primário é ―aquele que serve à mesa‖ (Mt 22:13, onde

há uma nota escatológica; Jo 2:5, 9). Significa um ―servo‖ em um sentido mais amplo em Mt 20:26 par. Mc

10:43; cf. Lc 18:26; Mt 23:11, e um ―ajudante‖ em Ef 6:21; Cl 4:7... Em Fp 1:1 e 1Tm 3:8-13, diakonos é

usado para um homem que detém o cargo de diácono na igreja.5

Concluindo nossa primeira parte deste estudo, podemos dizer que há vários significados para a palavra diácono no

Novo Testamento, mas todos eles têm a ver com ―serviço a outra pessoa‖. E um destes significados, já na época da igreja

apostólica, era ―ser um oficial da igreja ao lado dos presbíteros‖.

II - A ORIGEM DO OFÍCIO DIACONAL

Ao observarmos as denominações evangélicas (e até mesmo a Igreja Católica Romana), podemos ver a presença

de diáconos. Contudo, ao buscar descobrir suas funções, evidencia-se o fato de que o serviço diaconal não provém de uma

unanimidade de interpretação bíblica. Ou seja, o diácono em uma denominação possui determinadas atribuições, em outra

denominação possui outras. Tudo depende do modo como a igreja interpreta a visão bíblica do serviço diaconal. Sendo

1 Celso Pedro Luft, Mini Dicionário Luft. 3º Ed. São Paulo, Editora Scipione Ltda, 1991, p 212.

2 Aurélio Buarque de Holanda, Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4º ed. Rio de Janeiro, Nova

Fronteira, 2000, p 234. 3 Dic Michaelis UOL, 2001.

4 F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, Léxico do N.T. Grego/Português. São Paulo, Vida Nova, 2000, p 53.

5 K. Hess, “Servir, Diácono, Adoração” in Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol II. Editores, Lothar

Coenen e Colin Brown. São Paulo, Vida Nova, 2000, p 2343.

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assim, prova-se ser imprescindível ver nas Escrituras o modo como surgiu o ministério do diaconato e qual a visão

apostólica sobre ele, a fim de entendermos corretamente o serviço dos diáconos. Para esta análise vamos utilizar as

passagens bíblicas de (At 6:1-6; 1Tm 3:8-13).

Análise de (At 6:1-6)

Apesar de não haver no texto de (At 6:1-6) os termos diácono, ou ministério diaconal, ou ofício de diácono...

contudo, a passagem demonstra um serviço (v.2 – διακονειν τραπεζαις : “servir às mesas”) a ser realizado para o

benefício da igreja, o qual era relacionado com a assistência social aos pobres. Além disto, é muito significativo que os

homens escolhidos para esta obra foram investidos pelos próprios apóstolos (―... lhes impuseram as mãos‖ At 6:6). Isto

denota que aqueles homens foram consagrados a este serviço. Não eram mais somente ―membros comuns‖ da igreja,

tinham o aval e a autoridade provinda dos governantes da igreja, que neste caso eram os apóstolos.

Resumindo, (At 6) pode não ser explícito quanto a este assunto, todavia, analisando toda a revelação, vemos que

―os primórdios do diaconato formal, ou ofício formal de diácono, podem ser achados em At 6. Um problema na

distribuição dos bens destinados à assistência social causou nomeação de sete líderes que deixaram os apóstolos livres de

―servir a mesas‖ (diakoneõ, 6:2). O grupo elegeu os sete, que foram ordenados ao serviço pelos apóstolos (6.6).‖6Além

disto, esta interpretação do texto de (At 6) não é provinda de um só intérprete isolado. Observemos a explicação abaixo:

Segundo a opinião predominante, At 6:1-6 contém o registro da instituição do diaconato... com toda

probabilidade, At 6 se refere à instituição do diaconato, pois: (1) O nome diakonoi que, antes do evento

narrado em Atos 6, era sempre empregado no sentido geral de servo ou servidor, subseqüentemente

começou a ser empregado como designativo daqueles que se dedicavam às obras de misericórdia e caridade,

e, com o tempo, veio a ser usado exclusivamente neste sentido. A única razão que se pode atribuir a isto

acha-se em Atos 6. (2) Os sete homens ali mencionados foram encarregados da tarefa de distribuir bem as

dádivas trazidas para as agapae (festas de amor cristão), ministério que noutras partes é particularmente

descrito pela palavra diakonia, At 11:29; Rm 12:7; 2Co 8:4; 9:1, 12, 13; Ap 2:19. (3) Os requisitos para o

ofício, como são mencionados em Atos 6, são muito exigentes, e nesse aspecto, concorda com as exigências

mencionadas em 1Tm 3:8-10, 12. (4) Muito pouco se pode dizer em favor da acariciada idéia de alguns

críticos de que o diaconato só foi desenvolvido mais tarde, mais ou menos na época do aparecimento do

ofício episcopal.7

O Pr. Ewerton B. Tokashiki tem observações interessantes quanto ao texto de (At 6:1-6). Ele nos mostra pelo

menos quatro razões para o surgimento do diaconato:

1. Para evitar a desordem nos relacionamentos da Igreja. Surgia o grave problema da murmuração.

2. Para evitar que houvesse partidos dentro da Igreja. A omissão às mesas das viúvas enfatizava as

diferenças entre o grupo dos judeus helênicos e judeus palestinos.

3. Para evitar a injustiça na distribuição de alimentos e donativos aos necessitados.

4. Para que os mestres da Palavra sejam dedicados no ensino da mesma. É importante observarmos que os

apóstolos não estavam rejeitando o ―servir às mesas das viúvas‖. John R. W. Stott faz uma importante

contribuição ao entendimento deste assunto ao dizer que ―não há aqui nenhuma sugestão de que os apóstolos

considerassem a obra social inferior à obra pastoral, ou de que a achassem pouco digna para eles. Era apenas uma

questão de chamado. Eles não poderiam ser desviados de sua tarefa prioritária‖.8

Análise de (1Tm 3:8-13)

As cartas pastorais tinham como objetivo orientar os obreiros auxiliares do apóstolo Paulo que estavam em igrejas

de outras regiões. Duas destas cartas foram endereçadas ao jovem Timóteo, e uma foi endereçada a Tito. Na carta a Tito

nós não temos referência à eleição de diáconos, mas somente de presbíteros. Contudo, na primeira carta a Timóteo, Paulo

o orienta quanto a eleição de presbíteros (1Tm 3:1-7) e de diáconos (1Tm 3:8-13).

6 Gary M. Burge, “Diácono, Diaconisa” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. editor Walter A. Elwell. São Paulo,

Vida Nova, 2009, p 464. 7 Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 591.

8 http://doutrinacalvinista.blogspot.com/search/label/Teologia%20Sistem%C3%A1tica. Acessado em 09 08 2008.

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Nestas orientações nós podemos ver claramente que já existia neste tempo (62-64 d.C.) a instituição de oficiais. E

que estes oficiais eram de duas classes diferentes: Presbíteros e Diáconos. Esta diferença também é evidente quando

Paulo escrevendo aos Filipenses, em sua saudação ele se refere a ―todos os santos em Cristo Jesus‖, aos ―presbíteros‖, e

aos ―diáconos‖, fazendo deste modo clara distinção entre estes três destinatários (Fp 1:1). Esta distinção fica mais

evidente ainda quando observamos diferentes traduções do mesmo texto:

1. ―Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que

vivem em Filipos‖9 (Almeida Revista e Atualizada);

2. ―Eu, Paulo, e Timóteo, servos de Cristo Jesus, escrevemos esta carta para todos os moradores da cidade de Filipos

que pertencem ao povo de Deus e que crêem em Cristo Jesus e também para os bispos e diáconos da

igreja‖10

(Nova Tradução na Linguagem de Hoje);

3. ―Paulo e Timóteo servos de Cristo Jesus a todos os santos em Cristo Jesus os que estão em Filipos com bispos e

diáconos‖11

(tradução literal em português)

Pois bem, chegamos a conclusão de que o texto de (At 6:1-6) descreve como ocorreu a origem do ofício de

diácono. Já neste texto de (1Tm 3:8-13), vemos que esta instituição continuou a existir nas igrejas apostólicas mesmo

depois daquela ocasião em particular em Jerusalém, sendo assim, uma instituição que deveria permanecer na era pós-

apostólica.

Resumindo, nesta passagem nós tiramos a seguintes conclusões: 1º - A instituição do ofício não foi uma

instituição particular, pertencente somente àquela igreja de Jerusalém, e somente para aquela ocasião; 2º - Paulo

distingue claramente o ofício de diácono do ofício de presbítero. Os dois foram chamados para serviços eclesiásticos

diferentes. Por isto, onde tiver uma igreja do Senhor que tenha a oportunidade de eleger diáconos, estes devem ser eleitos

e ordenados para seu ofício a fim de beneficiar o povo de Deus.

III - A NECESSIDADE DE VOCAÇÃO PARA O OFÍCIO

Agora que já conhecemos o significado do termo diácono, e a origem do ofício diaconal, podemos partir para a

questão da vocação para este encargo eclesiástico. Ora, se vamos colocar homens na igreja que exercerão este importante

ministério, então, que eles sejam vocacionados por Deus para tal obra!

Base Bíblica

Devido ao fato de os diáconos constituírem um ofício da igreja, é de suma importância que a igreja reconheça sua

vocação para tal serviço. A Bíblia não fala explicitamente que os candidatos ao ofício devam sentir ou perceber sua

vocação quando fala de eleição para o ofício (1Tm 3:8-13). Entretanto, seguindo toda revelação bíblica, podemos perceber

que há indícios que mostram a necessidade de capacitação para a obra. Apresentamos as seguintes razões para se exigir

evidências de vocação naqueles que são candidatos ao ofício de diácono da igreja:

1. A Bíblia fala que somos todos capacitados por Deus para diversos serviços dentro do corpo de Cristo. Ora, se

temos que colocar alguém para o serviço ministerial, nada mais lógico do que colocar aquele que se mostram

capacitados para tal obra ministerial;

2. Partimos do entendimento de que o Deus que capacita com dons espirituais para o ministério é também o mesmo

Deus que direciona o crente a querer, projetar, ou aceitar o ministério diaconal. Como os teólogos geralmente

concordam: Um modo de descobrir os nossos dons é olhando para aquilo que nós desejamos fazer, gostamos de

fazer, e nos vemos capazes de fazer. Quem não se vê deste modo em relação ao ofício de diácono, não deveria se

considerar apto ou vocacionado para tal serviço;

A Teologia Reformada ensina que com respeito à vocação dos ofícios da igreja podemos distinguis dois aspectos

interligados e indispensáveis. São eles: A Vocação Interna e a Vocação Externa. A Vocação Interna diz respeito ao

chamado que Deus faz no interior do vocacionado. A Vocação Externa diz respeito à aprovação do Povo de Deus quanto

9 A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2º Ed. Barueri – SP:

Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 210. 10

Bíblia Sagrada: Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri (SP): Sociedade Bíblica do Brasil, 2000, p 161. 11

Novo Testamento interlinear grego-português. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004, p 728.

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ao chamado do indivíduo. Ou seja, a vocação para o ofício tem duas características: a confirmação subjetiva no interior do

servo de Deus, e a confirmação objetiva por meio da aprovação e eleição da igreja de Deus. Para melhor compreensão

apresentamos abaixo o conceito destas duas vocações:

1- Vocação Interna

―Às vezes se pensa que a vocação interna para um ofício na igreja consiste numa indicação extraordinária de Deus

do fim para o qual o indivíduo é chamado -- uma espécie de revelação especial. Mas não está certo. Consiste, antes,

em certas indicações providenciais ordinárias dadas por Deus, e inclui principalmente três coisas: (a) a consciência

de estar sendo impelido a alguma tarefa especial no reino de Deus, por amor a Deus e Sua causa; (b) a convicção

que o indivíduo tem de que está, pelo menos em certa medida, intelectual e espiritualmente qualificado para o

ofício em vista; e (c) a experiência de que, evidentemente, Deus está pavimentando o caminho que leva à meta.‖12

2 - Vocação Externa

―Esta é a vocação que chega à pessoa pela instrumentalidade da igreja. Não é emitida pelo papa (conceito católico

romano), nem por um bispo ou colégio de bispos (episcopal), mas, sim, pela igreja local. Tanto os oficiais como

os membros comuns da igreja tomam parte nela. Que os oficiais têm parte em sua direção, não, porém, com a

exclusão do povo, é evidenciado por passagens como At 1:15-26; 6:2-6; 14:23. O povo foi admitido, mesmo à

escolha de um apóstolo, segundo At 1:15-26. O que se vê é que, na era apostólica, os oficiais guiavam a escolha

que o povo fazia, chamando a atenção para as qualificações necessárias que se exigiam para o ofício, mas

deixavam o povo tomar parte na escolha propriamente dita, At 1:15-26; 6:1-6; lTm 3:2-13.‖13

Com estes dois aspectos da vocação nós podemos evitar os seguintes erros: a) O de eleger pessoas que não são

chamadas interiormente por Deus (vocação interna); b) O de eleger homens que dizem ser chamados interiormente, mas

que não são aprovados e reconhecidos em sua vocação pelo povo de Deus (vocação externa).

Base Constitucional (Manual Presbiteriano)

Em nosso Manual Presbiteriano também vemos a importância e indispensabilidade de que os oficiais demonstrem

vocação para o ministerial que irão desempenhar. Abaixo nós relacionamos três artigos da nossa Constituição que falam a

respeito da vocação para o ofício. Cada um deles nos ensina um aspecto deste assunto:

1. A vocação deve ser reconhecida exteriormente, e não depender somente de impressões subjetivas do

indivíduo: CI/IPB - Art. 28 - A admissão a qualquer ofício depende: a) da vocação do Espírito Santo,

reconhecida pela aprovação do povo de Deus;

2. A vocação é direcionada a um dos dois ofícios. Ela não é “toda abrangente ministerialmente”. CI/IPB - Art.

29 - Nenhum oficial pode exercer simultaneamente dois ofícios nem pode ser constrangido a aceitar cargo ou

ofício contra a sua vontade.

3. A vocação abrange o lado interno (testemunho interno do Espírito Santo) e externo (aprovação do povo de

Deus) do indivíduo. CI/IPB - Art. 108 - Vocação para ofício na Igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito Santo,

mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a aprovação do povo de Deus, por intermédio de um

concílio.

Além destas evidências, entende-se que o oficial deve ser alguém doutrinariamente sadio, e submisso às

autoridades constituídas da igreja: Art. 114 – ―Só poderá ser ordenado e instalado quem, depois de instruído, aceitar a

doutrina, o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil, devendo a Igreja prometer tributar-lhe honra e

obediência, no Senhor, segundo a Palavra de Deus e esta Constituição.‖

Resumindo, quem não evidencia um chamado interno do Espírito para a obra (vocação interna), a aprovação do

povo de Deus (vocação externa), e concordância quanto ao governo e doutrina da igreja, não satisfaz os requisitos para o

ofício por deixar de mostrar evidências suficientes de seu chamado ministerial, o qual deve abranger todos estes aspectos.

12 Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 591.

13 Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 592.

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IV - REQUISITOS PARA OS CANDIDATOS AO DIACONATO

Da mesma forma que o apóstolo faz uma lista de qualidades exigidas dos candidatos ao presbiterato, ele faz agora

para a escolha dos diáconos (1Tm 3:8-12). Abaixo damos uma breve explicação do significado destas qualificações

oferecidas pelo teólogo William Hendriksen14

:

Qualificações requeridas Significado

“Respeitáveis...”

Isto se refere não só ao decoro necessário ou à decência de

atitude e conduta, mas também ao fato de seus

pensamentos e atitudes interiores revelarem que são

homens de honradez e respeitabilidade operadas pelo

Espírito Santo.

“De uma só palavra...”

Ele não diz uma coisa a uma pessoa e algo diferente, a

outra.

“Não inclinados a muito vinho...”

Moderado em seu uso do vinho, se porventura quiser

beber algum.

“Não cobiçosos de sórdida ganância...”

Aquele que faz desfalque ou larápio e o homem que

abraça uma boa causa por amor de alguma vantagem

material. É o homem de espírito mercenário que se

entrega totalmente à busca de riquezas, ansioso por

aumentar suas possessões sem importar os métodos, sejam

justos ou espúrios.

“Conservando o mistério da fé

com a consciência limpa...”

Um bom diácono, portanto, é atento ao dever por amor a

Cristo... Por amor a Cristo, o diácono apto vigia a si

mesmo escrupulosamente, fazendo tudo a seu alcance

para permanecer na mais íntima união possível com ele,

ou seja, com o mais sublime dos mistérios divinamente

revelados, a saber: ―Deus manifestado na carne‖ para a

salvação, em termos iguais, de judeus e gentios.

“Marido de uma só mulher...”

Em sua relação conjugal deve ser exemplo para os demais

na fidelidade para com sua esposa... seja inteiramente fiel

e leal à sua única e exclusiva esposa

“Governe bem os filhos e o lar...”

Deve ser dotado com a habilidade de supervisionar,

presidir, administrar... Essa capacidade de administrar ou

governar bem sua própria família se faz evidente quando o

pai mantém sua prole em submissão.

Ainda no (v.10) encontramos a seguinte expressão ―E também estes sejam primeiro provados, depois exercitem o

diaconato, se forem irrepreensíveis.‖ Ora, o que significa esta provação dos candidatos? É o que veremos nos comentários

abaixo:

O que se diz aos bispos vale também para os diáconos. Não deve ser eleito nenhum neófito. Devem servir

somente homens provados nessa capacidade. Isso não significa que o futuro diácono deva antes de tudo

viver um período de prova, mas, antes, mediante uma vida consagrada, deve ele dar testemunho de seu

caráter. Deve estar em condições de sustentar a prova tendo os olhos de toda a igreja (e dos de fora!)

focalizados nele. Se passar no teste com êxito, então é irrepreensível .15

E também:

14

William Hendriksen, 1Timóteo, 2Timóteo e Tito. São Paulo Cultura Cristã, 2001, p 160, 165-167. 15

William Hendriksen, 1Timóteo, 2Timóteo e Tito. São Paulo, Cultura Cristã, 2001, p 167.

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Um requerimento ainda deve ser observado – um que também ressaltará quão alto é o padrão para os

diáconos. Lemos em 1 Timóteo 3:10: ―E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem

irrepreensíveis‖. Já examinamos a idéia do diácono ser irrepreensível.4 Mas como sabemos se um homem é

irrepreensível ou não? A resposta é: prove-o! Somente após ser provado, e encontrado irrepreensível, ele

poderá ser instalado no ofício como um diácono... Ora, o Espírito Santo em nosso texto requer que a igreja

prove homens para o ofício de diácono. Há muitos homens na igreja; mas não pense que todos eles estão

qualificados para serem diáconos! Um processo de provação deve acontecer, a fim de sabermos quem está

preparado para ser um diácono. Alguns homens, quando provados, não se mostrarão como irrepreensíveis.

Eles não podem ser colocados no ofício. Outros se mostrarão irrepreensíveis; eles estão qualificados... A

melhor forma de cumprir o requerimento que um diácono deve ser primeiro provado é simples: os concílios

devem avaliar cada homem cujo nome aparece para o ofício, se ele está verdadeiramente preparado ou não.

Os homens do concílio devem discutir a pessoa entre si, em confidencialidade, mas também em verdadeiro

amor por essa pessoa e a igreja. A questão deve ser aberta e honestamente encarada: ―Existem razões que

possam ser apresentadas para o motivo pelo qual tal homem não está qualificado para o ofício?‖16

A igreja deve levar muito a sério estes requisitos par o ofício do diaconato. O que se vê muito acontecer por aí é

escolherem pessoas nas quais se tem afinidade, amizade, posição social elevada, nível cultural privilegiado... Enquanto

que os requisitos ordenados por Deus, dia-a-dia estão sendo esquecidos. É indispensável cumprir as exigências divinas

quanto a este serviço, a fim de podermos ter oficiais capazes de beneficiar e abençoar a igreja de Cristo, e não somente

homens preenchendo cargos.

V - O SERVIÇO DO MINISTÉRIO DIACONAL

Tendo visto a origem do ministério diaconal, o significado do termo diácono, suas qualificações necessárias para

o ofício, agora, devemos responder à pergunta: O que o diácono deve fazer especificamente? Há muitas diferenças de

interpretação quanto a este aspecto do ofício de diácono. Já vimos anteriormente que há diferenças quanto ao que é um

diácono. Ora, se há diferenças de interpretação quanto ao que é um diácono, é muito natural que também haja divergência

quanto ao seu serviço específico! Desta forma, continuaremos a pesquisar biblicamente para ver qual é o serviço que cabe

a estes oficiais.

Base Bíblica

Pelos registros que encontramos nas Escrituras nós não encontramos muitas passagens relatando ou descrevendo

explicitamente o serviço diaconal. Vemos muitos textos falando do serviço dos presbíteros da igreja, mas não se fala

abundantemente sobre o que o diácono deve fazer no corpo de Cristo. Todavia, podemos concluir qual seja seu serviço

por meio dos poucos testos que se referem de alguma forma a estes homens. Abaixo colocamos algumas explicações a

respeito do serviço de diácono de acordo com a posição reformada:

1. ―À luz de Atos 6 aprendemos que os diáconos foram eleitos porque os presbíteros não tinham tempo e energia

para tomar sobre si o encargo dos pobres e necessitados, além da realização de sua outra obra: governar a igreja,

pregar a Palavra, administrar os sacramentos, guiar a congregação na oração, etc. Conseqüentemente os diáconos

foram eleitos para ―servir às mesas‖. Sua tarefa específica é recolher as ofertas do povo de Deus traz como sinal

de gratidão ao Senhor, distribuir esses donativos no espírito adequado a todos os que estão necessitados, para

prevenir a pobreza onde quer que seja possível fazê-lo, e por meio de suas orações e palavras baseadas nas

Escrituras consolar e animar os angustiados.‖17

2. ―Os diáconos tinham a responsabilidade de servir à igreja em vários papéis suplementares, mas não desfrutavam

de autoridade para o ensino, reconhecida pela igreja, semelhante àquela detida pelos presbíteros.‖18

3. ―... Ofício eclesiástico dos diáconos (―servo, ajudadores‖), que tem a ver com as questões materiais, seculares da

vida diária das igrejas, sobretudo a ministração de atos caridosos...‖19

16

Douglas J. Kuiper, As Qualificações dos Diáconos (7): Sua Provação. Fonte: www.monergismo.com. 17

William Hendriksen, 1Timóteo, 2Timóteo e Tito. São Paulo, Cultura Cristã, 2001, p 165. 18

D.A.Carson, “Autoridade na Igreja” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. editor Walter A. Elwell. São Paulo,

Vida Nova, 2009, p 294.

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4. ―Diáconos não são governantes, mas uma classe subordinada de oficiais que servem sob a direção dos presbíteros.

Os diáconos assistem aos presbíteros, aliviando-os especialmente das perturbações ocasionadas pelas atividades

temporais da Igreja.‖20

Talvez devido aos poucos informes bíblicos, ou por causa da negligência de muitos líderes, o serviço diaconal nas

igrejas foi sendo cada vez menos compreendido. Muitos deles ficam até sendo responsáveis por coisas triviais e simples,

deixando de resolver as questões mais importantes e significativas:

Os presbiterianos quase sempre mostram pouco entendimento da natureza do ofício diaconal.

Conseqüentemente o diaconato degenera-se facilmente num serviço de zeladoria em prol da congregação

local. Embora os diáconos, nesta situação, estejam servindo sob direção dos presbíteros, dificilmente

estarão desempenhando o nobre papel do ofício. Resumindo, qual deve ser o papel dos diáconos? Eles são

ministros de misericórdia em favor dos membros carentes da congregação (Rm 12:8); visitam os aflitos e

provêem recursos para aliviar os necessitados.21

Resumindo podemos dizer que biblicamente o serviço do ofício diaconal consiste em: Recolher as ofertas do povo

de Deus traz como sinal de gratidão ao Senhor, distribuir esses donativos no espírito adequado a todos os que estão

necessitados, por meio de suas orações e palavras baseadas nas Escrituras consolar e animar os angustiados, seu ofício

tem a ver com as questões materiais, seculares da vida diária das igrejas, sobretudo a ministração de atos caridosos, seu

serviço é de assistência aos presbíteros, aliviando-os especialmente das perturbações ocasionadas pelas atividades

temporais da Igreja. Eles são ministros de misericórdia em favor dos membros carentes da congregação (Rm 12:8);

visitam os aflitos e provêem recursos para aliviar os necessitados.

Base do Manual Presbiteriano

A IPB entendeu desta forma o serviço do ofício diaconal, tanto é assim que na CI/IPB Art. 25, ela divide

claramente as funções de doutrina, governo e beneficência entre os oficiais: ministros, presbíteros e diáconos,

respectivamente. E também na CI/IPB Art. 53 declara que o diácono deve se dedicar especialmente às seguintes obras: a)

à arrecadação de ofertas para fins piedosos; b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos; c) à manutenção da ordem e

reverência nos lugares reservados ao serviço divino; d) ao exercício da fiscalização para que haja boa ordem na casa de

Deus e suas dependências.

Assim como no caso do presbítero regente, o diácono exerce suas funções durante um período de cinco anos.

Após este período ele poderá continuar no exercício de seu cargo, desde que seja novamente eleito pela igreja (CI/IPB -

Art. 54). Dentro deste período de cinco anos há alguns fatores que podem impedi-lo de continuar a exercer o ofício até o

fim do mandato de cinco anos. São eles: (CI/IPB - Art. 56 - b) mudar-se para lugar que o impossibilite de exercer o

cargo; c) for deposto; d) ausentar-se sem justo motivo, durante seis meses, das reuniões do Conselho, se for presbítero, e

da Junta Diaconal, se for diácono; e) for exonerado administrativamente ou a pedido, ouvida a Igreja. Se alguma destas

situações ocorrerem dentro do período de cinco anos em que ele foi eleito, o exercício de sua função no ofício cessa.

A IPB considera o exercício do diaconato algo muito sério. Por isto exige deles que sejam homens de conduta

exemplar na igreja, exerçam o serviço de forma fiel, e promovam o bem da igreja: (CI/IPB - Art. 55) - “O presbítero e o

diácono devem ser assíduos e pontuais no cumprimento de seus deveres, irrepreensíveis na moral, sãos na fé, prudentes

no agir, discretos no falar e exemplos de santidade na vida.”; (PL/IPB - Art. 29) -“Prometerão cumprir com zelo e

fidelidade o seu ofício e também manter e promover a paz, unidade, edificação e pureza da Igreja”. E além disto, devem

tanto possuir uma crença sadia, quanto mostrarem-se submissos às autoridades da igreja: (PL/IPB - Art. 28) – ―Os

presbíteros e diáconos assumirão compromisso na reafirmação de sua crença nas Sagradas Escrituras como a Palavra

de Deus e na lealdade à Confissão de Fé, aos Catecismos e à Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil”.

A IPB orienta em seu Manual Presbiteriano que os diáconos componham a Junta Diaconal da igreja, a qual será

regida por um regimento aprovado pelo Conselho local (CI/IPB - Art. 58 - A Junta Diaconal dirigir-se-á por um

regimento aprovado pelo Conselho).

19

Robert H. Gundry, Panorama do Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 2001, p 244. 20

Kevin Reed, Governo Bíblico de Igreja. São Paulo, Os Puritanos, 2002, p 24. 21

Kevin Reed, Governo Bíblico de Igreja. São Paulo, Os Puritanos, 2002, p 24, 25.

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11

Além de seu trabalho ordinário os diáconos podem ser chamados pelo Conselho a fim de opinar sobre questões

administrativas da igreja (CI/IPB - Art. 8º, § 1º - “O Conselho, quando julgar conveniente, poderá consultar os diáconos

sobre questões administrativas, ou incluí-los, pelo tempo que julgar necessário, na administração civil”).

VI- A QUESTÃO DA ORDENAÇÃO DE DIACONISAS

Durante o passar dos anos a igreja sempre teve que enfrentar dois perigos: A heresias externas vindas do

paganismo que querem entrar na vida da igreja, e heresias surgidas de dentro da própria igreja. Isto aconteceu com

respeito a vários temas doutrinários como a doutrina de Cristo, a doutrina da trindade a doutrina da salvação, a doutrina

dos sacramentos... Todas elas enfrentaram problemas e desafios tanto externos quanto internos. Seguindo estes mesmos

acontecimentos, a doutrina do governo da igreja também tem ―sofrido‖ com algumas investidas heréticas. Dentre elas a

questão da ordenação feminina.

Não nos deteremos aqui sobre a questão histórica que explica como a visão da ordenação feminina surgiu dentro

da igreja de Cristo, mas nos deteremos somente no âmago da questão: É da vontade de Deus que as mulheres sejam

ordenadas para o ofício diaconal? É com esta pergunta que nos preocupamos, pois todas as demais questões não vão

resolver a situação de forma alguma, pois toda nossa argumentação tem que ser fundamentada nas Escrituras. Por isto, não

nos deteremos nos argumentos sociológicos ou filosóficos dos intérpretes feministas, nem utilizaremos os argumentos

históricos ou tradicionais dos conservadores. Utilizaremos as Escrituras, que são a verdade de Deus e a autoridade última

para qualquer questão, e utilizaremos também as decisões da IPB quanto a ordenação de diaconisas, por entender que suas

decisões refletem sua posição teológica (e conseqüentemente sua interpretação) sobre o assunto.

Resposta a Argumentos Feministas

Certamente seria contraproducente nos delongar respondendo a todas as alegações dos intérpretes feministas. Por

isto, abordaremos somente alguns argumentos mais fortes, e que se fundamentam em textos da Sagrada Escritura. Para

tanto, exporemos abaixo algumas respostas que o teólogo Augustus Nicodemus dá a respeito de dúvidas sobre a

ordenação feminina22

:

1. Febe não era uma diaconisa, conforme Romanos 16:1-2? Isto não prova que as mulheres podem exercer

autoridade eclesiástica na Igreja?

Resposta: Temos de considerar os seguintes aspectos.

(1) Não é claro se Febe era realmente uma diaconisa. Muito embora no original grego Paulo empregue o

termo ―diácono‖ para se referir a ela, lembremos que este termo no Novo Testamento nem sempre significa o

ofício de diácono. Pode ser traduzido como servo, ministro, etc. Portanto, nossa tradução ―Recomendo-vos a

nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia‖ é perfeitamente possível e não é uma tradução

preconceituosa.

(2) Mesmo que houvesse diaconisas na Igreja apostólica, é certo que elas não exerceriam qualquer autoridade

sobre as igrejas e sobre os homens – a presidência era dos presbíteros, cf. 1Tm 5:17; o trabalho delas seria

provavelmente com outras mulheres (Tt 2:3-4) e relacionado com assistência aos pobres. É interessante que a

primeira referência que existe na história da Igreja sobre o trabalho de mulheres, diz assim: ―A mulher deve servir

às mulheres‖ (Didascalia Apostolorum). Isto queria dizer que elas instruíam as outras que iam se batizar,

ajudavam no enterro de mulheres, cuidavam das pobres e doentes. Não há qualquer indício de que tais mulheres

eram ordenadas para o exercício da autoridade eclesiástica.

2. Se as mulheres recebem os mesmos dons espirituais que os homens, não é uma prova de que Deus deseja que elas

sejam ordenadas ao ministério?

Resposta: Não. As condições para o oficialato na Igreja apostólica estão prescritas em 1Timóteo e Tito 1.

Percebe-se que o dom do ensino é apenas um dos requisitos. Há outros, como por exemplo, governar a própria

22

Augustus Nicodemus Lopes, “Pastoras, Presbíteras, Diaconisas: Uma Perspectiva Bíblica” in Série Cadernos Bíblicos.

Volume I. Primeira Igreja Presbiteriana do Recife. Recife, jul/2002, p 18, 19, 20, 21.

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casa e ser marido de uma só mulher, que não podem ser preenchidos por mulheres cristãs, por mais dons que

tenham.

3. Paulo escreveu suas cartas para atender a problemas locais e específicos. Como podemos aplicar hoje o que

Paulo escreveu, se a situação e o contexto são diferentes?

Resposta: Quase todos os livros do Novo Testamento foram escritos em resposta a uma situação específica de

uma ou mais comunidades cristãs do século I, e nem por isto os que querem a ordenação feminina defendem que

nada do Novo Testamento se aplica às igrejas cristãs de hoje. A carta aos Gálatas, por exemplo, onde Paulo

expõe a doutrina da justificação pela fé somente, foi escrita para combater o legalismo dos judaizantes que

procuravam minar as igrejas gentílicas da Galácia, em meados do século I. Ousaríamos dizer que o ensino de

Paulo sobre a justificação pela fé não tem mais relevância para as igrejas do final do século XX, por ter sido

exposto em reação a uma heresia que afligia igrejas locais no século I? O ponto é que existem princípios e

verdades permanentes que foram expressos para atender a questões locais, culturais e passageiras. Passam as

circunstâncias históricas, mas o princípio teológico permanece. Assim, o comportamento inadequado das

mulheres das igrejas de Corinto e de Éfeso, às quais Paulo escreveu determinando que ficassem caladas na Igreja,

foi um momento histórico definido, mas os princípios aplicados por Paulo para resolver os problemas causados

por estas atitudes permanecem válidos. Ou seja, o ensino de que as mulheres devem estar submissas à liderança

masculina nas igrejas e na família, sem ocupar posições de liderança e governo, é o princípio permanente e válido

para todas as épocas e culturas.

4. Havia uma mulher chamada Júnias que Paulo considera como apóstola, em Romanos 16:7. Se havia apóstolas,

por que não pastoras, presbíteras e diaconisas?

Resposta: A passagem diz o seguinte: “Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e companheiros de prisão,

os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim” (Rm 16:7). Não é tão simples assim

deduzir que Júnias era uma apóstola. Há várias questões relacionadas com a interpretação deste texto. Júnias é um

nome masculino ou feminino? Existe muita disputa sobre isto, embora a evidência aponte para um nome

masculino. Outra coisa, a expressão ―notável entre os apóstolos‖ significa que Júnias era um dos apóstolos, já

antes de Paulo, e um apóstolo notável, ou apenas que os apóstolos, antes de Paulo, tinham Júnias em alta conta? A

última possibilidade é a mais provável. Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos

16:7, que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por Paulo, e que ajudou o apóstolo

em seu ministério. Não se pode afirmar com segurança que era uma mulher, nem que era uma ―apóstola‖, e muito

menos uma como os Doze ou Paulo. A passagem não serve como evidência bíblica para a ordenação feminina no

período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de que Jesus não escolheu mulheres para serem

apóstolos. Não há nenhuma referência indisputável a uma ―apóstola‖ no Novo Testamento.

5. Em 1Timóteo 3:11, ao descrever as qualificações do diácono, Paulo se refere às mulheres: “Da mesma sorte,

quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo”. Este

versículo não prova que havia diaconisas nas igrejas apostólicas?

Resposta: Não necessariamente. Esta passagem tem sido entendida de diferentes modos: (1) Paulo pode estar se

referindo às mulheres dos diáconos (Calvino). Porém, ele emprega para elas a expressão ―é necessário‖

(1Tm 3:11), que foi a mesma que empregou para os presbíteros (3:2) e os diáconos (3:8), ao descrever suas

qualificações. Logo, não nos parece que o apóstolo se refira às mulheres dos diáconos. (2) Paulo pode estar se

referindo à todas as mulheres da igreja; entretanto, é bastante estranho que ele tenha colocado instruções para

todas as mulheres bem no meio das instruções aos diáconos! (3) Paulo pode estar se referindo às assistentes dos

diáconos, mulheres piedosas, que prestavam assistência em obras de misericórdia aos necessitados das igrejas

(Hendriksen). (4) Paulo se referia à diaconisas. Porém, é no mínimo estranho que Paulo não empregou o termo

apropriado para descrever a função delas (diaconisas), já que ele vinha falando de presbíteros e diáconos. A opção

3 nos parece a melhor e mais provável: havia mulheres piedosas nas igrejas apostólicas, não ordenadas como

―diaconisas‖, que ajudavam os diáconos nas obras de misericórdia, trabalhando diretamente com as mulheres

carentes e necessitadas. É a estas que Paulo aqui se refere.

Além destes argumentos, nós podemos ainda falar que o próprio texto exclui as mulheres do diaconato ao exigir

como pré-requisito que sejam ―maridos de uma só mulher (1Tm 3:12):

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[...] O versículo 12 não diz meramente que um diácono deve ter um cônjuge, deixando aberta a

possibilidade que o diácono seja uma mulher, mas diz que os diáconos devem ser ―maridos‖ de uma esposa.

A palavra traduzida como ―maridos‖ refere-se claramente a um homem. Uma mulher não pode ser um

marido. Assim, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, ensina explicitamente que um diácono deve ser um

homem. Se o versículo 11 permite as mulheres serem diaconisas, então Paulo se contradiz, e o próprio

Espírito também.23

Posição da IPB quanto a ordenação de Diaconisas

A IPB ao longo de sua jornada aqui no Brasil certamente teve que se deparar com muitos líderes que desejaram (e

muitos ainda desejam) a ordenação de mulheres ao diaconato. Contudo, desde há muito tempo sua posição continua sendo

a mesma: As mulheres não devem ser ordenadas para o ofício do diaconato. Vejamos as decisões que os concílios da IPB

tomaram acerca deste assunto:

1 - AG-1930-037 - Diaconisas - 1) Uma senhora não pode ser eleita e ordenada diaconisa. Todavia, constitucional

a eleição, pelo Conselho, de senhoras para cargos piedosos e de caridade, na Igreja. AG-1930-037. 2) O L/O Art.

51º, faculta às igrejas e não às Assembléias eclesiásticas eleger ou nomear mulheres piedosas para cuidarem dos

enfermos, etc., não significando isso, que se deve ordená-las. AG-1936-044.

2 - SC-74-058 - Doc. XXXV - Quanto ao Doc. 39 - Consulta Sobre a Possibilidade de Eleição de Diaconisa - O

Supremo Concílio resolve: responder que de acordo com a legislação vigente na Igreja Presbiteriana do Brasil,

não se admite a eleição de diaconisas.

3 - SC-78-091 - Presbitério de Londrina - Proposta para instituição do Diaconato Feminino - Doc. XCI - Quanto

ao Doc. 38 - proposta para a instituição do Diaconato Feminino - O Supremo Concílio resolve: deixar de apreciar

a proposta em virtude de o assunto em foco já estar plenamente regulamentado pelas resoluções nº 37 da

Assembléia Geral de 1930 e nº 44 da Assembléia Geral de 1936. Além do mais, a Constituição vigente não

contempla o Diaconato Feminino.

4 - CI/IPB - Art. 25 - § 2º - Para o oficialato só poderão ser votados homens maiores de 18 anos e civilmente

capazes.

Resumindo, não há espaço para a ordenação de acordo com uma fiel interpretação das Escrituras. Portanto, quem

ainda luta por isto, rebela-se contra a Suprema Autoridade da Palavra de Deus. E ainda que as Escrituras abrissem espaço

para tal procedimento, a nossa denominação IPB não aprova atualmente a questão. Portanto, seria insubmissão ordenar

mulheres ao diaconato.

23

Douglas J. Kuiper, As Qualificações dos Diáconos (3): Recipientes Masculinos da Graça de Deus. Fonte: www.monergismo.com.

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CONCLUSÃO

Tendo aprendido várias verdades acerca do ministério diaconal, agora só resta à igreja colocar em

prática o que conheceu. Como vimos, o serviço dos diáconos não deve ser menosprezado ou desvalorizado. Os

diáconos são instrumentos importantes na vida eclesiástica da igreja. E seu serviço traz benefícios espirituais ao

povo de Deus.

Além disto, é preciso resgatar o devido respeito aos diáconos como autoridades ordenadas da igreja. Não

se deve tratar os diáconos como simples ―servos‖ do povo, mas dispensar também respeito e consideração. Eles

são representantes de Cristo, mesmo que não sejam autoridades na esfera da Palavra e no governo como são os

presbíteros.

Quanto aos diáconos, cabe a eles atenciosamente observar o que diz as Escrituras a seu respeito a fim de

cumprir seu ministério com fidelidade no temor do Senhor. Não devem descansar no fato de seres oficiais

ordenados. Devem se preocupar diariamente com o ministério entregue por Deus em suas mãos!

Deus abençoe a Igreja!

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BIBLIOGRAFIA

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www.monergismo.com.

— ________, Douglas J., As Qualificações dos Diáconos (7): Sua Provação. Fonte: www.monergismo.com.