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Carlos Drummond de Andrade

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo tortodesses que vivem na sombradisse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. (...)

DISTINO

O Pai se escreve sempre com P grandeem letras de respeito e de tremorse Pai da gente. E Me, com M grande.

O Pai imenso. A Me, pouco menor.Com ela, sim, me entendo bem melhor:Me muito mais fcil de enganar.

(Razo, eu sei, de mais aberto amor.)

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma famlia de fazendeiros em decadncia, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesutas no Colgio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinao mental". De novo em Belo Horizonte, comeou a carreira de escritor como colaborador do Dirio de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Jos

E agora, Jos?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, Jos?e agora, voc?voc que sem nome,que zomba dos outros,voc que faz versos,que ama, protesta?e agora, Jos?

Est sem mulher,est sem discurso,est sem carinho,j no pode beber,j no pode fumar,cuspir j no pode,a noite esfriou,o dia no veio,o bonde no veio,o riso no veio,no veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofou,e agora, Jos?

E agora, Jos?Sua doce palavra,seu instante de febre,sua gula e jejum,sua biblioteca,sua lavra de ouro,seu terno de vidro,sua incoerncia,seu dio e agora?

Com a chave na moquer abrir a porta,no existe porta;quer morrer no mar,mas o mar secou;quer ir para Minas,Minas no h mais.Jos, e agora?

Se voc gritasse,se voc gemesse,se voc tocassea valsa vienense,se voc dormisse,se voc cansasse,se voc morresse...Mas voc no morre,voc duro, Jos!

Sozinho no escuroqual bicho-do-mato,sem teogonia,sem parede nuapara se encostar,sem cavalo pretoque fuja a galope,voc marcha, Jos!Jos, para onde?

Ante a insistncia familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmcia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veculo de afirmao do modernismo em Minas. Ingressou no servio pblico e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educao, at 1945. Passou depois a trabalhar no Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manh e, a partir do incio de 1969, no Jornal do Brasil.

Inocentes do Leblon

Os inocentes do Leblonno viram o navio entrar.Trouxe bailarinas?trouxe imigrantes?trouxe um grama de rdio?Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,mas a areia quente, e h um leo suaveque eles passam nas costas, e esquecem.

O modernismo no chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontrao sinttica pareceriam revelar o contrrio. A dominante a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidao, ainda que sempre, e fecundamente, contraditrias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detm num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melanclico e ctico. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satrico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo comunicao esttica desse modo de ser e estar.

Vem da o rigor, que beira a obsesso. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilao cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em Jos (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lanou-se ao encontro da histria contempornea e da experincia coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitao de sua mais ntima apreenso para com a vida como um todo. A surpreendente sucesso de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedrano meio do caminho tinha uma pedra.Nunca me esquecerei desse acontecimentona vida de minhas retinas to fatigadas.Nunca me esquecerei que no meio do caminhotinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhono meio do caminho tinha uma pedra.

Vrias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, ingls, francs, italiano, alemo, sueco, tcheco e outras lnguas. Drummond foi seguramente, por muitas dcadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo tambm publicado diversos livros em prosa.

Nem eu posso com Deus nem pode ele comigo.Essa peleja v, essa luta no escuroentre mim e seu nome. No me persegue Deus no dia claro.Arma, noite, emboscadas.Enredo-me, debato-me, invectivoe me liberto, escalavrado.De manh, hora do caf, sou eu quem desafia.Volta-me as costas, sequer me escuta,e o dia no creditado a nenhum dos contendores.Deus golpeia traio. Tambm uso para com ele tticas covardes.E o vencedor (se vencedor houver) no sentir prazerpela vitria equvoca.

Combate

Em mo contrria traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relaes perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), Garca Lorca (Doa Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), Franois Mauriac (Thrse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molire (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admirao irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias aps a morte de sua filha nica, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

(...) Pois de tudo fica um pouco.Fica um pouco de teu queixono queixo de tua filha.De teu spero silncioum pouco ficou, um pouconos muros zangados,nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudono pires de porcelana,drago partido, flor branca,ficou um poucode ruga na vossa testa,retrato.(...) E de tudo fica um pouco.Oh abre os vidros de looe abafao insuportvel mau cheiro da memria.(Resduo)

Equipe:

Keilla freitas 29

Jean Ferreira 25

Breno Araripe 13

Vanessa Kelly 20

Bruno Andrey 14

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