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Literatura Metodologia do Ensino de Ana Lucia de Souza Henriques 2009

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LiteraturaMetodologia do Ensino de

Ana Lucia de Souza Henriques2009

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H519 Henriques, Ana Lucia de Souza. / Metodologia do Ensino de Literatura. / Ana Lucia de Souza Henriques. — Curitiba :

IESDE Brasil S.A. , 2009.240 p.

ISBN: 978-85-387-0800-1

1. Literatura – Estudo e Ensino I.Título.

CDD 807

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: Jupiter Images/DPI Images

Pós-Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Flumi-nense (UFF). Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Graduada em Português, Inglês e respectivas Literaturas pelo Instituto de Letras da UERJ.

Ana Lucia de Souza Henriques

Sumário

Metodologias no ensino e aprendizagem de literatura............................................... 11

Breve panorama da história do ensino de literatura no Brasil .................................. 11

Motivação para a leitura e para o conhecimento literário ......................................... 12

Adequação do estudo de literatura aos níveis de ensino ........................................... 19

A avaliação ................................................................................................................................... 21

A contextualização como método de abordagem ...... 29

A obra literária como produto do momento em que se insere ................................ 29

Contextualização da obra literária ...................................................................................... 31

Intertextualidade no texto literário: a paráfrase e a estilização ...................................................... 43

Breve conceituação de intertextualidade ........................................................................ 43

Paráfrase e estilização .............................................................................................................. 46

Estudos de casos de paráfrase e de estilização .............................................................. 49

Intertextualidade no texto literário: a paródia, a apropriação e o pastiche ............................... 59

Breve conceituação de intertextualidade ........................................................................ 59

Paródia, apropriação e pastiche ........................................................................................... 60

Estudos de casos de paródia, de apropriação e de pastiche ..................................... 69

Obras cinematográficas e sua relação com a literatura ... 77

Breves considerações sobre a relação entre obras cinematográficas e obras literárias ............................................................. 77

A obra cinematográfica como (re)leitura da literatura ................................................ 79

Estudos de casos de obras cinematográficas como (re)leituras de obras literárias ................................................................................... 83

A dramaturgia televisiva e sua relação com a literatura .............................................. 95

Breves considerações sobre a relação entre dramaturgia televisiva e obras literárias................................................................ 95

A dramaturgia televisiva como (re)leitura da literatura ............................................... 98

Estudo de caso de obra da dramaturgia televisiva como (re)leitura de obra literária ...................................102

Canções e sua relação com a literatura ..........................113

Breves considerações sobre canções e sua relação com a literatura ....................113

Letras de canções populares e o diálogo com poetas e poemas ..........................114

Estudos de casos de canções e a relação estabelecida com obras literárias .....119

Diálogos entre a literatura e a História ...........................129

Breves considerações sobre o discurso literário e o discurso histórico ...............129

A História no romance histórico ........................................................................................131

Estudo da relação entre discurso ficcional e discurso histórico em obras literárias ...........................................................................134

A periodização: o Barroco e o Neoclassicismo.............145

Breve conceituação de literatura e de história da literatura ....................................145

O ensino do Barroco e do Neoclassicismo .....................................................................147

Estudos de casos de obras barrocas e neoclássicas ....................................................155

A periodização: o Romantismo, o Realismo-Naturalismo e o Parnasianismo ...................165

Romantismo, Realismo-Naturalismo e Parnasianismo ..............................................165

O ensino da literatura a partir de obras românticas, realistas-naturalistas e parnasianas .............................................................166

Estudos de casos de obras românticas, realistas-naturalistas e parnasianas ....174

A periodização: o Simbolismo e o Modernismo .........185

Simbolismo e Modernismo ..................................................................................................185

O ensino da literatura a partir de obras simbolistas e modernistas......................186

Estudos de casos de obras simbolistas e modernistas ..............................................195

Metodologia de pesquisa: o projeto acadêmico ........203

O projeto acadêmico: conceituação, etapas e escolha do tema ............................203

A definição dos objetivos a serem alcançados .............................................................206

A apresentação e justificativa do trabalho a ser desenvolvido ..............................208

A elaboração da metodologia adequada ao tema selecionado ............................209

A inserção de citações e referências bibliográficas .....................................................212

Gabarito .....................................................................................221

Referências ................................................................................229

Anotações .................................................................................239

Apresentação

Este livro pretende apresentar, de maneira clara e objetiva, metodologias para o ensino de literatura. Diferentes abordagens do texto literário são discutidas e exemplificadas. Contexto histórico, estilos literários, canções, filmes, documentá-rios, novelas e minisséries são alguns dos pontos de que partem as abordagens metodológicas propostas.A obra se divide em doze capítulos, sendo onze deles dedicados ao trabalho com a literatura em sala de aula. O último capítulo é voltado para uma detalhada ex-plicação sobre a elaboração de um projeto acadêmico e visa auxiliar o professor que planeja ingressar em um Programa de Pós-Graduação. Daí podermos enfati-zar que nossa principal intenção foi apresentar um trabalho inteiramente voltado para o professor.O foco maior do estudo da obra literária é o de estabelecer relações com o mo-mento em que ela se insere e com os diálogos intertextuais que ela estabelece. Essa maneira de trabalhar o texto literário em sala de aula está de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (2006) que orientam o ensino de língua e litera-tura de nível médio. Fazer conexões entre a literatura e outras artes ou disciplinas tem inúmeras vantagens, e essa maneira de trabalhar o texto literário, além de ampliar a visão de mundo do aluno, contribui para tornar ainda mais enriquece-dor e prazeroso o estudo da literatura.O trabalho docente com a literatura é, na verdade, uma fonte de descobertas e de rica troca de experiências entre professor e aluno. Contribuir para esse objetivo foi o que nos moveu na produção dos capítulos deste volume.

Ana Lucia de Souza Henriques

Metodologias no ensino e aprendizagem de literatura

O objetivo deste capítulo é apresentar a relevância da escolha de me-todologia adequada no ensino e na aprendizagem de literatura.

Breve panorama da história do ensino de literatura no Brasil

No Brasil ainda colônia, o ensino esteve sob a responsabilidade da Igreja Católica, mais precisamente sob os cuidados da Ordem Jesuítica. Os padres jesuítas se orientavam por um conjunto de regras bastante rígido, a Ratio Studiorum, para que houvesse uniformização na educação recebi-da em seus colégios tanto na Europa quanto no Novo Mundo.

Tratava-se de um ensino que oferecia uma formação humanística aos alunos, visando à formação integral do homem cristão.

Vejamos a definição do termo humanismo, de acordo com a Enciclopé-dia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa:

Movimento intelectual que se espalhou pela Europa no final do século XVI, reunindo aspectos filosóficos e artísticos e pondo ênfase no desenvolvimento das qualidades do homem, que seria o centro da civilização (antropocentrismo). O método particular empregado pelos chamados “humanistas”, que deram a fisionomia especial ao Renascimento, foi a valorização dos estudos dos textos antigos, gregos e romanos, sobretudo estes últimos. (HUMANISMO, 2001, p. 840)

Gramática, Humanidades e Retórica eram as disciplinas que figuravam no currículo dos colégios da Companhia de Jesus. E, em nível universitário, eram ministradas as disciplinas Filosofia, Matemática e Ciências Naturais.

Ao discutir o papel do ensino da área de Letras no Brasil, Roberto Acízelo de Souza, em o Império da Eloquência (1999), ressalta que durante o período colonial e o século XIX as Letras ocuparam um lugar de destaque no ensino básico. Souza (1999, p. 21-30) lembra ainda que a inexistência de um curso superior nessa área fizera com que o ensino de Letras no antigo curso se-cundário atingisse um perfil universitário, tendo sido esse o caso do ensino de Letras no Colégio Pedro II, onde predominavam as disciplinas humanís-

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ticas nas séries mais elevadas. Essa instituição de ensino tornou-se a principal re-ferência na área de Letras. Aos alunos formados por ela, era concedido o título de bacharel em Letras. A implantação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras só viria acontecer na década de 1930, marcando o início da profissionalização de nível universitário nessa área.

O relevante papel para o ensino de Letras no Brasil desempenhado pelo Co-légio Pedro II e a questão relativa ao fato de que as aulas tinham de ser ministra-das por um profissional de uma outra área, devido à inexistência de curso supe-rior que formasse professores em Letras, podem ser observados no que afirma Haroldo Lisboa da Cunha (1981, p. 63-65), no ensaio intitulado “Ramiz Galvão, de Aluno a Mestre do Colégio Pedro II”:

Ramiz Galvão (Benjamin Franklin, Barão de Ramiz Galvão), gaúcho de Rio Pardo, ainda mal saído da primeira infância, ingressou no Colégio Pedro II, isto nos idos de 1855. E, de uma turma com cerca de trinta alunos, foi dos três que conseguiram, ao cabo de sete anos de curso, o almejado título de Bacharel em Ciências e Letras. [...]

Foi, em 1861, um dos sete fundadores do Instituto de Bacharéis em Letras, depois, Instituto Brasileiro de Ciências e Letras, centro cultural estudantil que, por longo tempo, despertou vocações entre alunos do Colégio Pedro II. E, como acadêmico de Medicina, escreveu para o primeiro número da revista da entidade que ajudara a fundar um pequeno ensaio [...].Regeu com brilho e projeção a cátedra de Literatura Nacional e a de Grego, no Colégio onde fizera seu curso médio; e a de Botânica, na Faculdade que lhe dera o diploma de médico.

O exemplo apresentado ilustra o fato de que o ensino de literatura, por não haver cursos de habilitação nessa área específica, esteve nas mãos de profissio-nais de outras áreas, cuja excelente formação humanística recebida no ensino secundário lhes permitia assumir o papel de professores de letras.

Motivação para a leitura e para o conhecimento literário

Muitos são os caminhos que podem ser trilhados pelo professor de literatura com vistas a obter êxito na motivação de seus alunos para a leitura prazerosa do texto literário. Sabemos que esses caminhos são vias de mão dupla, que o sucesso dependerá do empenho e da dedicação de professores e alunos. Nessa jornada, o desempenho do professor em sala de aula será fundamental para des-pertar ou aumentar a motivação para o conhecimento literário.

Comecemos pela ideia de que nossos objetivos serão alcançados com êxito se nos lembrarmos de que nossos cursos são formados por uma sucessão de unidades a que chamamos de aula, e que cada uma delas cumpre um papel único. Daí que cada uma dessas unidades deve ser tomada como a aula, pois

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toda aula deve ser bem preparada. Estarmos conscientes dessa nossa responsa-bilidade constitui o primeiro, e talvez o mais importante, passo para que tenha-mos resultados positivos no que diz respeito à motivação de nossos alunos.

Mas como fazer para que os alunos sintam prazer em ler obras literárias? A res-posta apresentada a seguir mostra alguns dos passos que consideramos funda-mentais para que nossos alunos possam se conscientizar de que a literatura nos oferece universos a serem explorados, verdadeiras redes que se entrelaçam, am-pliando nossos horizontes e nos oferecendo novas visões de mundo. Do presente em que se inserem, obras literárias (re)escrevem o passado e profetizam o futuro.

Nesse sentido, leituras literárias devem ser encaradas como descobertas a serem feitas nas malhas do texto, seja ele em prosa ou verso. Por isso, o estudo de textos literários pode e deve seguir caminhos variados.

As obras que selecionarmos para leitura nos indicam quais as nossas possibi-lidades de escolha. O esquema abaixo apresenta duas dessas possibilidades:

Descobrindo relações, entrelaçando mundos:

DA � obra literária PARA o contexto

DO � contexto PARA a obra literária

Selecionamos uma passagem do roman-ce O Cortiço (publicado em 1890), de Aluísio Azevedo, para exemplificar a preparação de uma aula segundo as abordagens sugeridas acima.

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada de sete horas de chumbo. Como que se sentia ainda na indolência da neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loira e tenra da Aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. [...]

Entretanto, das portas surgiam cabeças congestio-nadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente de café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras pala-vras, os bons-dias; [...]

O Cortiço é um dos romances mais im-portantes do estilo realista-naturalista.

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Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio d´água que escorria da altura de uns cinco palmos. [...]

O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já não se falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. [...]

E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. Apareceram os tabuleiros de carne fresca e outros de tripas e fatos de boi [...]. Vieram os ruidosos mascates, com suas latas de quinquilharia, com as suas caixas de candeeiros e objetos de vidro e com o seu fornecimento de caçarolas e chocolateiras de folha-de-flandres. [...] (AZEVEDO, 1997, p. 30-31)

Vejamos a seguir os passos sugeridos para a abordagem:

Texto ContextoLeitura do texto: os alunos leem em silêncio o texto selecionado sem �que nenhuma informação sobre ele seja fornecida; a seguir, pelo me-nos, duas leituras em voz alta devem ser realizadas, de preferência, por voluntários. É importante que a leitura em voz alta seja incentivada. A leitura não deve ser interrompida, nem para a explicação de vocabu-lário. O objetivo, nesse momento, não consiste em compreender cada palavra, mas a formação de uma ideia geral do texto.

Conversando sobre o texto lido: cada aluno escreve até cinco palavras �que expressem o assunto de que trata o texto; a seguir, de preferên-cia em pares, comparam as palavras que escreveram justificando suas escolhas para o(s) colega(s); depois disso, o professor pede a cada um dos grupos que leia e justifique as palavras por eles selecionadas, en-quanto o professor as anota no quadro.

A partir da listagem elaborada pela turma, o professor irá trabalhar, por �meio de perguntas, o assunto de que trata o texto selecionado. Se ne-cessário, incentivando o acréscimo de novas palavras à listagem inicial.

Uma outra leitura é feita pelo professor: ritmo, sons e imagens presen- �tes na narrativa devem ser motivo de perguntas que agucem a atenção dos alunos para a riqueza de detalhes na descrição da vida no cortiço, procurando mostrar os recursos linguísticos utilizados pelo escritor para compor a descrição tanto do ambiente quanto dos personagens.

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A seguir, o professor situa o período da história brasileira a que a nar- �rativa se reporta.

A partir daí, a feição realista-naturalista do romance em questão deve �ser focalizada pelo professor, que auxilia os alunos para que eles tam-bém possam fazer suas próprias descobertas nas malhas do texto.

Sugerir aos alunos que tracem um paralelo entre o comportamento �dos moradores do cortiço e o ambiente em que vivem os persona-gens. A seguir, partindo da relação estabelecida pelos alunos, o profes-sor chamará a atenção para características desse tipo de obra literária, ressaltando, dentre outros aspectos, que:

o autor observa a vida social no momento histórico em que ele se �insere, reproduzindo o mais fielmente possível a sociedade;

o meio em que vivem os personagens determina seu comporta- �mento;

os personagens muitas vezes agem de forma quase animalesca, �sendo movidos mais por instinto do que pela razão.

Para finalizar, após revelar o título da obra, seu ano de publicação, o �nome do autor e o estilo de época, o professor deve incentivar seus alunos a estabelecer relações com a história do período em questão, lembrando e discutindo com eles principalmente a relevância das cor-rentes filosóficas do evolucionismo, do determinismo e do positivismo no contexto da segunda metade do século XIX.

A partir daí, já com o embasamento adquirido sobre a obra e o contex- �to em que ela se insere, os alunos iniciam a leitura do romance.

Como atividades complementares, podem ser desenvolvidas pesqui- �sas dentro de recortes variados sobre temas motivadores, tais como:

a vida e a obra do escritor; �

o estilo realista-naturalista e o contexto sócio-histórico-cultural; �

a obra literária e suas possíveis versões para o cinema e/ou para a �televisão.

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Metodologia do Ensino de Literatura

Vejamos os passos sugeridos para a segunda abordagem:

Contexto TextoA partir de imagens e frases ou textos curtos, introduzir a discussão,

sempre por meio de perguntas, sobre aspectos marcantes do contexto histó-rico em que o escritor e a obra se inserem. Como nosso exemplo é o romance O Cortiço, o período a ser focalizado é o da segunda metade do século XIX.

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A Evolução Humana, teoria proposta por Charles Darwin.

Apresentar a imagem da evolu- �ção humana, guiando a discus-são para o nome do naturalista Charles Darwin.

Ilustrar a discussão com a foto �do naturalista e do navio em que ele viajou durante suas pesquisas.

Charles Darwin (1809-1882), naturalista inglês, autor do livro Origem das Espécies.

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ínio

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lico.

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Dom

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púb

lico.

O Beagle, navio em que Charles Darwin viajou de 1831 a 1836 coletando dados para sua pesquisa.

Escrever ou projetar texto curto com informação básica sobre o natu- �ralista, comentar de forma breve o impacto causado pela publicação do livro A Origem das Espécies.

Charles Darwin – naturalista inglês que formulou a teoria da evolução pela seleção natural. O livro, A Origem das Espécies, que apresenta o re-sultado de sua pesquisa, foi publicado em 1859.

O professor deve ressaltar que pesquisas científicas realizadas nessa �época partiam da observação para a teoria.

Apresentar a influência da teoria da evolução pela seleção natural nos �estudos dos fenômenos humanos e sociais, conduzindo a discussão para o conceito de darwinismo social.

Escrever ou projetar texto curto com informação básica sobre � darwi-nismo social.

Darwinismo social – Herbert Spencer foi o principal teórico dessa escola de pensamento, tendo aplicado o modelo biológico da evolução das espécies às sociedades humanas, defendendo a ideia de que só os mais fortes sobrevivem.

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Ressaltar a relevância da corrente filosófica conhecida como Positivis- �mo dentro do contexto sócio-histórico-cultural dos oitocentos.

Escrever ou projetar texto curto com informação básica sobre o Positi- �vismo.

Positivismo – corrente filosófica surgida no século XIX, que se caracte-riza por considerar como único tipo de conhecimento legítimo o que se encontra nas ciências naturais, baseado na observação, experimen-tação e matematização. Os positivistas criticam como falso e enganoso o pensamento religioso e metafísico [...]. Com relação às ciências hu-manas, advogam a tese de que elas somente podem se desenvolver como verdadeiras disciplinas científicas na medida em que adotem a metodologia das ciências naturais. (CIVITA, 1977, p. 1.031)

A seguir, o professor relaciona o contexto à literatura do período rea- �lista-naturalista. Para tal, chama a atenção dos alunos para o fato de que, por influência do contexto em que se insere, a literatura do pe-ríodo focaliza a realidade social ou biológica do homem, sendo que este é apresentado como produto do meio em que vive. Isso se deve à influência das ciências naturais (Física, Química e Biologia). O homem é visto como um ser sujeito às leis da natureza, e por elas condiciona-do. Da mesma forma que a pesquisa científica parte da observação dos fenômenos para chegar à teoria, a literatura do período, que se pretende fiel aos fatos, procura, através da observação, apresentar, da forma mais detalhada possível, o homem no ambiente em que vive (JOBIM; SOUZA, 1987, p. 174).

Após mostrar a influência do contexto na literatura, o professor pede �aos alunos que leiam silenciosamente a passagem selecionada do ro-mance O Cortiço.

A seguir, são feitas, pelo menos, duas leituras em voz alta. Como afir- �mamos anteriormente, essas leituras devem ser realizadas, de prefe-rência, por alunos voluntários.

O próximo passo consiste em pedir aos alunos que trabalhem em gru- �pos pequenos, de dois ou três membros, para realizarem a tarefa de

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traçar paralelos entre o contexto estudado e o texto literário, procu-rando destacar passagens do romance que justifiquem suas afirma-tivas. Para isso, devem seguir os tópicos determinados pelo professor (por exemplo, “o comportamento animalesco do homem”, “a descrição minuciosa” etc.).

A etapa seguinte diz respeito ao debate sobre o texto, com base nas �observações anotadas por cada grupo de alunos.

Com o embasamento adquirido, os alunos iniciam a leitura do roman- �ce na íntegra.

Em relação a algumas das atividades complementares que motivem �o aluno a aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto estudado, sugerimos, por exemplo, que sejam desenvolvidas pesquisas sobre temas motivadores relacionados ao contexto, tais como: a Revolução Industrial, o cientificismo, o determinismo. Além dessa, também são possíveis as atividades já sugeridas para o primeiro tipo de aborda-gem apresentada.

Adequação do estudo de literatura aos níveis de ensino

Acreditamos que a sensata adequação do estudo de literatura em qualquer que seja o nível de ensino dependerá principalmente da escolha feita pelo professor quanto às obras a serem lidas, ao volume de leitura e, obviamente, às abordagens a serem adotadas em sala de aula para cada autor/obra a trabalhar. Lembramos que defendemos o estudo prazeroso da literatura, pois gostar do que estudamos é fundamental. Geralmente, gostamos do que entendemos, do que faz sentido para nós, e, quando isso acontece, nosso estudo passa a ser um grande compa-nheiro, aquele que vai apontando caminhos e iluminando a nossa jornada.

Mas que aspectos considerar para que, ao prepararmos nossas aulas, possa-mos fazer escolhas mais acertadas? As reflexões aqui sugeridas devem ser nor-teadas pelo programa da disciplina ministrada.

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Metodologia do Ensino de Literatura

Como decidir quais e quantas obras literárias devem ser estudadas?

A escolha das obras literárias é uma etapa muito importante na preparação de uma aula de literatura.

As obras escolhidas devem ser bastante representativas para o estudo de �cada período literário, pois isso permitirá ao professor traçar relações que contribuam para que seus alunos possam formar uma visão mais sólida e profunda do assunto estudado, estreitando e fortalecendo a rede de seu conhecimento literário. Ler obras em sua íntegra é o ideal. Contudo, a so-lidez do estudo literário desenvolvido em sala de aula não está necessa-riamente ligada a um elevado número de obras lidas, mas sim a estudos conduzidos com critério e bom senso.

Ressaltamos que, em alguns casos, só é possível a escolha de uma obra, �principalmente quando se trata de romances. Isso pode ser causado muitas vezes pelo tempo escasso, quer seja devido a um programa apertado, quer seja pelo fato de a maioria dos alunos em sala ser forma-da por estudantes que trabalham.

Professores e alunos devem caminhar sempre juntos. Daí que essa escolha �precisa ser a mais cuidadosa possível, pois muitas vezes é mais produtivo selecionar para análise não obras em sua íntegra, mas capítulos represen-tativos dessas obras, que nos permitam discutir aspectos fundamentais do assunto tratado. Daí que um estudo literário de qualidade não depende necessariamente de uma longa lista de obras como leitura obrigatória.

Capítulo de romances, contos, poemas ou atos de uma peça de teatro �bem analisados (lidos, declamados, encenados) valem muito mais do que leituras de obras inteiras que não serão discutidas devidamente.

O acervo precário de muitas das bibliotecas das escolas de nosso país �pode dificultar a escolha de obras. É certo que a compra de livros por parte dos alunos deve ser incentivada, mas não se pode esquecer que eles nem sempre têm condições financeiras para fazê-lo.

Decisões sensatas, que partam de um planejamento organizado, certamen- �te contribuirão para o sucesso do estudo do texto literário, de acordo com

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o que estabelecem os programas das disciplinas, e em consonância com as condições de trabalho nas escolas onde a disciplina será ministrada.

A avaliaçãoA avaliação de literatura deve estar voltada para o que efetivamente foi discu-

tido em relação às obras trabalhadas e também, sempre que possível, funcionar como um elemento motivador de pesquisa, de estudo, de novas descobertas. O objetivo é fazer com que exista uma expectativa positiva em relação a provas e trabalhos realizados em sala ou em casa, individualmente ou em grupo.

Provas escritas devem incluir questões com suportes elaborados com clareza sobre obras estudadas e/ou leituras extras recomendadas pelo professor. Devem ser evitadas questões cujas respostas dependam apenas de memorização, pois não revelam a compreensão do texto estudado. As perguntas elaboradas devem dar aos alunos a oportunidade de mostrar que estão aptos a discutir aspectos relativos às obras estudadas com argumentos bem fundamentados, baseados no conhecimento por eles construído durante todo um processo de trabalho com a literatura, no qual cada uma das etapas – apresentação, leitura, debate e pesquisa – exerce papel de destaque.

A atividade de pesquisa deve ser tomada como uma ferramenta a mais a ser utilizada pelo professor para motivar seus alunos a fazerem suas descobertas. Para isso, é fundamental que seja bem orientada e que os objetivos estejam bem definidos. É preciso deixar claro qual recorte do assunto estudado o aluno deve pesquisar. É necessário também auxiliar o aluno informando-o a respeito de obras críticas ou teóricas que ele poderá utilizar para iniciar a sua pesqui-sa. Convém alertar o aluno para a pesquisa feita na internet. Ela é válida desde que as páginas consultadas sejam escolhidas com cuidado. Em caso de dúvida, convém recorrer a endereços de instituições sérias, como, por exemplo, a Aca-demia Brasileira de Letras (ABL), que disponibilizam textos informativos confiá-veis, escritos por especialistas nos assuntos consultados. Além disso, os alunos devem ser informados da importância de indicarem corretamente as fontes pes-quisadas em seus trabalhos. Há excelentes manuais de redação acadêmica que podem ser recomendados para orientá-los nesse sentido.

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Texto complementar

O Cortiço: um romance-clímax(PROENÇA FILHO, 1999, p. 259-262)

A plenitude da realização do ficcionista vem com O Cortiço.

São vinte e três capítulos que colocam em confronto dois conjuntos anta-gônicos: o cortiço, uma habitação coletiva povoada de uma população pro-letária, e o espaço menor do sobrado, habitado por uma família burguesa bem-sucedida. Esses conglomerados culminam por funcionar como blocos- -síntese, aglutinadores.

Nessa aglutinação, entretanto, os indivíduos não aparecem confundidos. Seguem presos ao seu grupo social, mas são nomeados e vivem seus dramas particulares na promiscuidade e na identificação dos problemas que lhes marcam a vida em comum. São esses liames comuns que os impessoalizam.

No cortiço, move-se uma população numerosa e ativa que, com poucas exceções, permanece em ação naquela coletividade. Nela predominam pretos e mestiços, empregados, e assalariados, imigrantes de várias origens, com destaque para os portugueses. Com regras de convívio próprias, à luz da pobreza e da miséria como elementos niveladores. Nele, um personagem sobreposto aos demais: o português João Romão.

No sobrado, o grupo familiar chefiado por Miranda, negociante portu-guês de fazendas por atacado: sua mulher, Dona Estela, “senhora pretensio-sa e com fumaças de nobreza”, a filha Zulmirinha, dolorosa interrogação em termos de paternidade, Henrique, filho de um fazendeiro mineiro, freguês do Miranda, a criadagem: o protegido moleque Valentim, a mulata Isaura, a Leonor, virgem e obscena, e um parasita, o Botelho. Normas de convivências ditadas pelos costumes portugueses da época.

Entre os dois espaços, o muro, concreto e simbólico.

No curso da trama, o jogo de ações num e noutro conglomerado, o fio condutor central identificado no percurso social do cortiço e, em paralelo, do personagem João Romão. Na linha do progresso. A qualquer custo ético.

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Simultaneamente, o percurso do Miranda. No desfecho, a ultrapassagem do muro por João Romão, a leve ascensão de Miranda, o fim do cortiço.

O texto evidencia equilíbrio entre retrato de coletividade e estudo de tem-peramentos. O primeiro centrado no personagem coletivo dominante, o se-gundo centralizado na figura de João Romão. São instâncias rigorosamente integradas na estrutura romanesca: o cortiço ganha destaque como titular da narrativa. João Romão emerge do cortiço e ganha relevo como titular na ação. O romance constitui um vasto painel em que predomina a bipolaridade.

A dimensão duplicada paraleliza-se e multiplica-se nos conflitos que emergem das reentrâncias dos blocos-síntese.

Confrontos e interações se dão no âmbito de cada um e se fazem também entre eles.

No cortiço, ressaltam as duplas João Romão e a negra Bertoleza; um casal de portugueses, Jerônimo e Piedade, tem sua contrapartida no casal mestiço brasileiro, Firmo e Rita; juntos caminham Alexandre, o guarda, mulato e a branca Augusta Carne-Mole; Bruno, o ferreiro, se liga a Leocádia, portuguesa. Esse jogo vai além da singularidade dos personagens e se configura ainda em nível de grupos dentro do grupo, com o confronto entre os Carapicus e os Cabeças de Gato.

A numerosa galeria abriga ainda a prostituta Leonie, Leandra, a macho-na feroz, e suas duas filhas, Ana das Dores, casada e separada do marido, Neném, a donzela, e mais Agostinho, o filho; Paula, cabocla velha, meio idiota, rezadeira e “bruxa”; Marciana, mulata asseada e sensual, e filha Flo-rinda, virgem resistente, de “olhos luxuriosos de macaca”; dona Isabel, velha senhora comida de desgostosos, mãe de Pombinha, Albino, o lavadeiro efeminado, os mascates italianos, sempre marginalizados da ação central: Delporto, Pompeo, Francesco, Andrea; os garções da venda de João Romão, Domingos e Manuel.

Nos rumos da interação destacam-se movimentos dentro do cortiço, como, por exemplo, o envolvimento do português Jerônimo com Rita Baiana e a relação homossexual entre Leonie e Pombinha, e nuclear, a ascensão de João Romão. Nos rumos da interação, o sobrado figura como contraponto do cortiço, o Miranda como contraponto de João Romão.

Por outro lado, as dissensões polarizadoras terminam por substituir-se

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por congraçamentos integradores, sobretudo diante da ameaça comum, ex-terna, caso da união dos dois cortiços, inicialmente antagônicos.

A trama acompanha a evolução da habitação coletiva em destaque que segue paralela à biografia de João Romão. E todos os personagens são envolvidos.

[...]

Em termos de linguagem ficcional, O Cortiço é um romance altamente representativo, sobretudo no âmbito da realidade em que é produzido.

O texto traduz equilíbrio entre a dimensão documentária, a dimensão imaginária e a intenção naturalista de retrato social e denúncia. Configura um microcosmo convincente e personagens-tipo significativos do quadro social que pretende representar: o português ambicioso que pretende as-cender na escala social, o seu conterrâneo, já absorvido socialmente, mas ainda movido pela ambição, o português trabalhador que resiste à absorção e acaba absorvido, a escrava falsamente livre, a mulata emergente, os grupos “marginais” na realidade econômica de então, levados à proletarização, o es-pírito de solidariedade e a estagnação dos grupos menos favorecidos. Vale dizer: instâncias de segmentos sociais importantes no processo de constru-ção da sociedade brasileira.

Dicas de estudoA Redação de Trabalhos Acadêmicos � : teoria e prática, organizado por Clau-dio Cezar Henriques e Darcília Marindir P. Simões, Editora da UERJ.

A obra orienta de maneira clara e objetiva a escrita de trabalhos acadêmicos.

Filme: � O Cortiço, baseado na obra de Aluísio Azevedo, roteirizado por Fran-cisco Ramalho Jr., com Betty Faria, Armando Bogus e Beatriz Segall, tendo sido produzido pela Argos Filmes. O filme é uma luxuosa adaptação do romance para as telas do cinema.

Metodologias no ensino e aprendizagem de literatura

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Atividades1. Elabore uma atividade de pesquisa cujo objetivo principal é o de fazer com

que os alunos comentem aspectos do Realismo-Naturalismo presentes numa versão cinematográfica de um romance representativo desse estilo literário.

2. Selecione uma passagem de um romance realista-naturalista e prepare uma atividade de leitura anotada que focalize a “fidelidade ao real”.

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3. Prepare uma questão dissertativa que tenha por objetivo fazer com que o aluno escreva sobre o ensino das Letras no Brasil Colônia.

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