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b o l e t i m d o c e n t r o r e g i o n a l d e i n f o r m a ç ã o d a s n a ç õ e s u n i d a s p a ra a e u r o p a o c i d e n t a l
BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70
Garantir acordo para combater a mudança
climática é prioridade máxima para a ONU
Agricultura familiar 2-3
Mudança climática 3
Entrevista Jorge
Sampaio 4-5
Conflitos em África 6
Comité dos Direitos
da Criança avaliou
Portugal
7
Área de Ny-Ålesund, no arquipélago Svalbard na Noruega onde os efeitos do aquecimento global ©UN PHOTO
O clima nos últimos meses em várias regiões
do mundo parece ter dado novo impulso ao
Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que
quer que os países cheguem a um acordo
sobre redução de emissões de carbono para a
atmosfera e outras medidas para combater a
mudança climática, que Ban Ki-moon chama
de “o maior desafio que a humanidade
enfrenta”. O Secretário-geral lembra que “não
podemos esperar mais”, porque resolver
todos os outros problemas depende deste.
Todos os olhos e esperança estão postos na
Cimeira de alto nível que vai ter lugar a 23 de
setembro na sede das Nações Unidas em
Nova Iorque. (Pag. 3)
Edi tor ia l
Um tardio Feliz 2014 a todos.
No UNRIC começamos o ano, a olhar para as nossas prioridades
de comunicação para este ano e dois assuntos destacam-se:
Mudanças Climáticas e Alimentação com a iniciativa do
Secretário-Geral Desafio Fome Zero. Nas semanas e meses que
se seguem, vamos trabalhar em ideias diferentes com o objetivo
de colocar as Alterações Climáticas de volta à linha da frente,
tanto dos decisores políticos como do público em geral. Todas
as ideias são bem vindas. Entre os projetos que estamos a
trabalhar de momento, eu gostaria de destacar o Fórum
Nacional de Redes da Sociedade Civil, em Portugal (http://
forumredesdasociedadecivil.wordpress.com/). Esta ambiciosa
iniciativa foi proposta pela Responsável pelo Desk Português do
UNRIC. Uma ideia muito necessária para reunir ONGs que estão
a trabalhar sobre os mesmos assuntos, mas não
necessariamente juntas, e para estimular o debate público
sobre a Agenda pós- 2015 para o Desenvolvimento Global. Este
evento terá lugar nos dia 20 e 21 de fevereiro no ISCTE-Instituto
Universitário de Lisboa.
2014 também marca o décimo aniversário da criação do UNRIC
e olhando para trás, o que conseguimos, pensamos nós que
tende a dar-nos um slogan que é: UNRIC@10 anos de
criatividade. Falando sobre criatividade, o UNRIC uniu forças
com a Comissão Europeia e lançou um concurso de vídeo no
qual é pedido às pessoas que digam como a Europa mudou as
suas vidas. Este concurso está aberto a todos os criativos que
acreditam na Europa (http://www.europeinaday.eu/en ).
Veja a este espaço para saber mais novidades sobre os nossos
planos e ser ainda mais criativo em 2014.
Afsane Bassir-Pour
Diretora do UNRIC
@ PHOTO UNRIC
Pág. 2 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR.
D E S E NV O L V I M E N T O S U S T E N T ÁV E L
Discussão sobre técnicas, diversificação de culturas e
produtos em destaque no ano da Agricultura Familiar
D I R E I T O S H U M A N O S
Na 66ª sessão da Assembleia Geral das
Nações Unidas, o ano de 2014 foi
declarado “Ano Internacional da
Agricultura Familiar” (AIAF). Ligada a
várias áreas de desenvolvimento rural, a
agricultura familiar inclui todas as
actividades agrícolas de base familiar
integrando produções agrícola, florestal,
pesqueira, pastoril e de aquacultura,
que são geridas por uma família ou por
mão de obra familiar. Este ano é
dedicado especialmente a este tema de
forma a chamar a atenção mundial para
o papel que a agricultura familiar tem
na erradicação da pobreza, na provisão
da segurança alimentar e nutricional, na
melhoria dos meios de subsistência,
mas também na gestão de recursos
naturais, protecção do meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, sobretudo
das áreas rurais. O objectivo do AIAF é
recolocar este conceito de agricultura
no centro das políticas agrícolas,
ambientais e sociais a nível nacional,
identificando problemas, mas também
oportunidades para promover uma
mudança rumo a um desenvolvimento
mais equitativo e equilibrado. O plano
do AIAF apoia-se em quatro pilares
principais, não só dar a conhecer a
agricultura familiar e a sua importância,
como desenvolver formas de apoiar e
capacitar as famílias e os pequenos
agricultores. Forma predomintante de
agricultura tanto em países
desenvolvidos como em países em
desenvolvimento, a agricultura familiar
está presente em mais de 500 milhões
de propriedades em todo o mundo, mas
é sobretudo nas regiãos mais pobres
que este tipo de agricultura pode fazer a
diferença, contribuindo por um mundo
livre de pobreza e fome, uma vez que é
a principal produtora dos alimentos
consumidos. Numa altura em que o
desenvolvimento sustentável é uma das
prioridades da Organização das Nações
Unidas a agricultura familiar surge como
pilar fundamental, uma vez que este
tipo de cultivo emprega sistemas
agrícolas baseados na diversificação de
culturas e preservação dos produtos
alimentares tradicionais, o que não só
contribui para uma dieta equilibrada
como também preserva a
agrobiodiversidade mundial. Na
promoção e implementação deste ano
está a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e Agricultura (FAO),
que conta com vários parceiros como
Governos, Instituições Internacionais de
Desenvolvimento, organizações de
agricultores e outras organizações
relevantes do sistema das Nações
Unidas, bem como organizações não-
governamentais. Durante todo o ano
estão previstas discussões e
cooperações de ambito regional,
nacional e mesmo global de forma a
conciencializar os cidadãos dos desafios
que os pequenos agricultores enfrentam
e ajudam a identificar formas eficientes
de apoiar os agricultores familiares.
Poderá acompanhar todos os eventos
através do site oficial do AIAF em
www.fao.org.
Plantação de arroz em Madagáscar ©UN PHOTO
Pág. 3 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70
A M B I E NT E
Inundações nas Caraíbas, uma das regiões mais suseptíveis © UN Photo
2014 será um ano, onde as
mudanças climáticas continuam a ser
um dos principais focos da
Organização das Nações Unidas. A
preocupação deve-se, não só ao facto
das consequências directas que
acarreta, como também ao aumento
da temperatura no planeta e do efeito
estufa, mas também a consequências
mais indirectas que envolvem a
alimentação ou a qualidade da água,
colocando em causa o
desenvolvimento sustentável.
Em novembro de 2013, Varsóvia
recebeu os representantes de 20
países durante a Conferência da ONU
sobre Mundanças Climáticas, a
COP19. Apesar da dificuldade em
chegar a acordo entre os vários
países, desta saíram vários
compromissos como a criação de um
Fundo Financeiro para os Prejuízos
Ambientais dirigido a países que
estejam mais vulneráveis às
consequências das mundanças
climáticas, como fenómenos naturais,
anormais ou a subida das águas do
mar. Obteve também o compromisso
financeiro de longo prazo para
comparticiparem no Fundo Verde para
o Clima, um compromisso que permite
que vários países se adaptem às
alterações climáticas, mas que apoia
também o uso de tecnologias menos
poluentes e investimentos em
energias renováveis e eficiência
energética. Apesar de não ter ficado
decidido, há a possíbilidade deste
fundo ser participado pelos países
desenvolvidos com histórico de
emissões de gases responsáveis pelo
efeito de estufa e consequentes
aletrações climáticas, suportando
partes dos custos nos países em
desenvolvimento. A inciativa global
para criar um valor financeiro para o
carbono armazenado nas florestas, o
REDD+, também conseguiu um
compromisso de 206 milhões de
euros.
Em cima da mesa ficou a questão da
Plataforma de Durban para a ação
Fortalecida, cujo grupo de trabalho
quer ver adoptado um acordo pós
2020, em 2015 e segundo o qual a
primeira proposta deve ser negociada
na próxima Conferência sobre
Mudanças Climáticas, em 2014. Para
esta Conferência, que terá lugar em
Nova Iorque, a 23 de Setembro, o
Secretário-Geral, Ban ki-moon
convidou Chefes de Estado e de
Governo, mas também lideres locais e
sociedade civil, de forma a que todos
façam parte de um esforço global para
mobilizar acções sobre as mudanças
climáticas. Além da negociação sobre
a Plataforma de Durban, é esperado
que a conferência deste ano finalize o
processo do Quadro da Convenção
das Mudanças Climáticas tendo em
conta o progresso sustentado através
da redução de emissões e estratégias
de adaptação às mundanças
climáticas.
http://www.un.org/climatechange/
Mudanças climáticas no topo da agenda da ONU em
2014: é esperado consenso na Cimeira de setembro
XXXXXXXXXXXXXX
Pág. 4 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70
E N T R E V I S T A
Advogado de profissão, Jorge Sampaio foi
Presidente da República Portuguesa durante
10 anos, em 2006 foi nomeado pelo
Secretário-Geral das Nações Unidas Enviado
Especial para a Luta contra a Tuberculose.
Em 2007 foi nomeado Alto Representante
da ONU para a Aliança das Civilizações pelo
Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-
moon. Em entrevista à Rádio Onu conta
como foi desempenhar os dois cargos e fala
sobre os novos projectos intenacionais em
que está envolvido.
Depois de ter sido presidente de Portugal
como é que define a experiência com as
Nações Unidas?
Foi uma experiência rica e fiquei muito feliz
quando o então Secretário-geral, Kofi Anan,
me telefonou em abril de 2006 para eu ser
o enviado especial das Nações Unidas e
dele, especialmente, para a luta contra a
tuberculose, esse mandato ocupou-me até
2012. Isto foi importante, porque na
perspetiva de Kofi Annan permitiu às
Nações Unidas dar uma voz política à luta
contra a tuberculose que era uma
reivindicação que o sector dos cientistas,
investigadores e trabalhadores de saúde
reclamavam. Visão política no sentido de
que é uma questão de saúde pública, de
direitos humanos, obviamente, com certeza
de luta contra a pobreza e de luta a favor do
desenvolvimento. Esse envolvimento
permitiu-me ver do início, esta coisa
espantosa que eram no fundo as pessoas
muito simpáticas que preparavam as
delegações dos G8 e G20 e tutti quanti, mas
que não sabiam bem que a tuberculose
continua a ser uma grande pandemia do
século XXI, que mata mais de 1.4 milhões
de pessoas por ano. Há progressos
importantes, porque a mortalidade caíu 40%
em todo o mundo desde 1990, a incidência
anual vem diminuindo, mas há imensos
desafios para serem vencidos e em especial
porque a tuberculose continua a afectar
sobretudo comunidades pobres, as mais
afectadas pela doença e se for ver os
números da OMS, esta declara que 95%
dessas mortes ocorrem em países de baixo
rendimento e é por isso que a luta contra a
tuberculose é também uma forma de luta
contra a pobreza e também uma questão de
desenvolvimento. Isto, animou-me muito, a
voz foi ouvida e significa que não pode parar
sobretudo, porque a ligação entre a
tuberculose e a sida são crescentes e isso
pode beneficiar a forma de atacar uma e
outra porque quem está vulnerável, mas
vive com o HIV Sida às vezes vai-se embora
pela tuberculose porque está frágil do ponto
de vista físico. Mas, o importante para mim
e julgo que para o meu trabalho foi procurar
aumentar a conciência pública sobre esta
doença, porque é uma doença escondida,
as pessoas não falam disto, a tuberculose
que mata tanta gente como já lhe disse é
uma coisa mais desconhecida que tantas
outras, não tem a reprecussão que tantas
doenças têm, como por exemplo a Sida e a
Malária. Este trabalho também se destinou
a aumentar a consciência pública desta
doença junto do grande público, das
populações de risco e dos jovens.
Foi importante para a comunidade médica,
foi importante para a investigação,
nomeadamente, porque são precisas novas
vacinas são precisos medicamentos novos.
Esta tónica da necessidade do investimento
é muitíssimo importante. Para passar de
uma fase de investigação para uma fase de
aplicação médica é muito dificíl porque as
pessoas que se ocupam destas coisas
querem o lucro rapidamente, e temos aí um
problema. Foi uma experiência muito rica e
portanto tem de ser continuada por alguém.
Como foi ocupar outro papel na ONU,
ficando a exercer os dois cargos ao mesmo
tempo, um deles na Aliança das
Civilizações?
Isso começou ligeiramente mais tarde já foi
Ban Ki-moon que me nomeou como Alto
Representante para a Aliança das
Civilizações, em fevereiro de 2007. Foi um
mandato mais extenso, o relatório inicial de
50 páginas ainda foi pedido por Kofi Annan,
um trabalho que juntou várias
personalidades de todo o mundo, esse
relatório era sobre a Aliança e foi com base
nele que Ban ki-moon me convidou para ser
Alto Representante para a Aliança das
Civilizações. Foi preciso jogar com estas
duas coisas, embora a partir de uma certa
altura tenha havido muito tempo com
interesse pela Aliança.
Dava para conciliar os cargos, por exemplo
numa cidade onde estivesse fazia dois
eventos?
Às vezes dava para conciliar, fazia-se uma
coisa da tuberculose e aproveitava-se para
fazer outra da Aliança, mas a conciliação
convenhanos que é difícil e numa primeira
fase mais intensa na perspectiva da
tuberculose e depois uma fase mais intensa
com a Aliança, sem dúvida nenhuma era
dificil. Mas, enfim, houve momentos em que
isso é que tornou as coisas duras, embora
no caso da tuberculose existisse um
aparelho de apoio em Genebra,
nomeadamente a parceria na luta contra a
tuberculose que funcionava muito bem e
obviamente os serviços da OMS. Aqui neste
caso concreto (Aliança), era mais criar uma
espécie de secretariado, foi tudo a partir do
zero, embora sempre desde o início até ao
fim eu tivesse tido apoio dos membros das
Nações Unidas, nas reuniões anuais que
faziamos, mais do que uma, uma durante a
Assembleia Geral e outra antes com os
pontos fulcrais, sempre tive o apoio dos
membros da Aliança, que chegaram a um
número significativo, mais de metade dos
membros das Nações Unidas. Qual era o
Jorge Sampaio sobre a sua experiência na ONU: “Foram anos de grande exigência”
Pág. 5 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70
E N T R E V I S T A
Youth Summit August 2013@ UN Photo
objectivo? Como existiu um relatório de 50
páginas sobre a Aliança das Civilizações
com um ponto muitíssimo significativo
depois do 11 de setembro, a ideia é como
se fomenta o diálogo, como se fomenta a
cooperação intercultural e interreligiosa não
só no seio das sociedades, mas também
entre os povos na sequência desse terrível
facto e num contexto de enorme polarização
cultural e religiosa que se instalou depois
disso e pelos vistos, obviamente, tem hoje
incidências de uma enorme gravidade. Esta
missão como alguém designou na altura,
era uma missão infinita porque os meios à
disposição foram sempre poucos, mais do
que exíguos, inexistentes, mas pouco a
pouco passou-se de facto de uma missão no
papel, para uma missão assumida pelos
governos. Muitos governos deram
totalmente o seu apoio, vê-se pala presença
massiva dos membros da Aliança durante
as reuniões, em paralelo com a Assembleia
Geral das Nações Unidas e não só, ao nível
dos representantes permanentes em Nova
Iorque e depois com os pontos focais que
cada país tinha como elemento de ligação
entre nós, eu, o secretariado e o seu próprio
país. Criaram-se procedimentos, porque se
desenvolverem intrumentos para esta
melhor governação da diversidade cultural,
a diversidade cultural tem de ser uma coisa
de bottom up e up down, é um movimento
de interação muito grande, os governos, as
entidades regionais, as entidades locais e
organizações internacionais. Nós
proposemos e avançou em muitos casos,
espero que possa continuar, a ideia dos
planos nacionais que cada país deve ter
sobretudo quando há questões de diálogo
intercultural. Esta é uma maneira de
avançar positivamente mobilizando os
recursos nacionais a todos os níveis para ter
propostas sobre esse terreno, porque pode
ter um grande impacto junto de
organizações da sociedade civíl, com
iniciativas várias dos meios de comunicação
com os jovens, por exemplo. O pilar mais
significativo anualmente foi o Fórum da
Aliança, houve fóruns em Madrid, na
Turquia, no Brasil, no Qatar, na Áustria e no
Brasil. Foram anos de grandes exigências,
eu acho que fiz uma boa semeadura, mas
também devo dizer que ao fim de seis anos
muito intensos sabia que era a altura de
passar o testemunho para uma nova
liderança, para que se pudesse obter uma
visão renovada. Eu não sou partidário de
uma pessoa ficar muito tempo, quase seis
anos é muito tempo em condições de
exigência muito grandes e portanto a ideia é
excelente e necessária veja os conflitos
existentes e a base ideológica e sobretudo
religiosa e cultural de identidade que estes
conflitos actuais têm. Muitas alianças são
necessárias, muitas soluções nacionais e
regionais, os tais planos regionais que nós
também fizemos, tudo isto são coisas que
foram semeadas e precisam de ser
desenvolvidas de uma forma ou de outra.
Quais são as diferenças entre trabalhar
como Presidente da República e depois
como Enviado Especial do Secretário Geral?
Pesa mais numa negociação pelo facto de
ter sido chefe de estado?
Não. Confesso-lhe que sou uma pessoa
modesta de temperamento, não me ponho
em bicos dos pés, mas não há dúvida que
um estatuto de presidente abre portas em
vários sítios e tem uma respeitabilidade
significativa, disso não há dúvidas.
É um trabalho diferente de ser presidente?
O presidente da república tem a sensação
que tem o país às costas e acorda de noite
a pensar, o que acontece amanhã aqui no
meu país por isto e por aquilo, aqui o
horizonte é mais vasto. Há todo um nível
completamente diferente e a
responsabilidade que se assume não é
exactamente a mesma é uma
responsabilidade forte como é obvio mas
está partilhada, ao passo que um presidente
de um país embora tenha muitos orgãos
institucionais, tem uma responsabilidade
pessoal muito directa, sobretudo quando é
eleito, como é o caso de Portugal e de
outros países, por sufrágio directo e
universal.
Quando ocupou a pasta da tuberculose teve
uma grande relação com África, presenciou
um encontro entre o presidente Clinton e o
presidente Guebuza...
Foi em 2007 ou 2008 numa reunião
integrada na Assembleia Geral das Nações
Unidas, uma daquelas special sessions
onde eu procurei chamar chefes de estado e
participantes na luta contra a tuberculose e
também contra a Sida e a esse momento a
que o presidente Clinton deu a sua presença
e Ban Ki-moon também. Foi um momento
de grande troca de experiências e de grande
chamamento de atenção para a luta contra
a tuberculose e sobretudo para os testes,
medicamentos, serviços de saúde, uma
conjugação evidente do trabalho de
despiste e de luta no tratamento da Sida
com a detecção precoce da tuberculose e
isso pode ter vantagens imensas. A todos os
pontos de vista essa reunião foi também um
pouco a abertura e a solidificação desse
caminho, posso dizer que contribuiu para
uma a abordagem mais clara e obviamente
que agradeço a todos que tornaram essa
reunião possível.
Baseado na sua experiência nas Nações
Unidas se recebesse um convite para voltar,
voltava?
Uma pessoa a partir de uma certa altura
tem de ser moderada nas coisas que pode
fazer. O Presidente Fernando Henrique
Cardoso convidou-me para aquela iniciativa
global sobre as drogas, eu a isso disse que
sim, mas também não quero dizer que sim a
mais coisas, porque há sempre coisas
pequenas, conferência em vários sítios, uma
global draft comission que tem muitas
pessoas. Esta é uma comissão que está a
pugnar por uma abordagem mais virada
para o doente sem prejuízo da repressão,
que é preciso continuar a manter contra os
criminosos, mas tem uma abordagem
relativa às questoes da saúde pública do
doente, daquele que consome mas não é
traficante e que precisa de ter uma
prespectiva de tratamento de reinserção. É
esta nova abordagem que começa a
despontar e que se tem visto agora na
América Latina.
O que vai fazer na prática, vai focar-se em
Portugal?
Não, isto é à escala global, é no fundo como
a reunião global das Nações Unidas em
2016, que normalmente termina com uma
votação de uma grande resolução sobre o
combate à droga e aos pacientes. Tentar ver
se este movimento a consegue influenciar
na perspetiva de ter uma abertura maior
sobre as várias coisas que se podem fazer
em simultâneo com as tradicionais.
Sabemos que já trabalhou muito, também
aqui na ONU teve uma agenda bastante
intensa, mas continua a cooperar para o
que nós chamamos, aqui na ONU, de
avanço da humanidade e está agora
envolvido num projecto de assistência
humanitária urgente a estudantes sírios...
Perante a catástrofe da Síria e tendo
acabado os meus anteriores mandatos já
referidos nas Nações Unidas, entendi que
era útil ver como é que se poderia mobilizar
uma plataforma global para apoio aos
estudantes sírios e estudantes
universitários, porque não há nada criado
especialmente para isso e por isso
montamos a plataforma com os vários
parceiros internacionais o American Institute
International of Education, que é uma
associação americana que trata das bolsas,
o Conselho da Europa, o Instituto das
Migrações da AIOM, a União para o
mediterrâneo e a Liga dos Estado Árabes.
Para fazermos a plataforma solicitamos
junto dos estabelecimentos de ensino a
possibilidade de haver lugares e bolsas ou
as duas coisas para estudantes refugiados
sírios ou estudantes refugiados de outras
proveniências, houve uma surpreendente
adesão das universidades e Institutos
politécnicos dos países que mencionei,
Portugal, Turquia, Líbano, Iraque, Egipto, etc
e apareceram de repente perto de 900
bolsas possíveis ou vagas possíveis nas
universidades.
“Foi uma experiência
muito rica. (…) Eu acho
que fiz uma boa
semeadura”
Capacetes azuis chegaram a Juba, Sudão do Sul vindos do Haiti © UN PHOTO
Pág. 4 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70
P A Z E S E G U R A N Ç A
Os recentes acontecimentos no Centro de África, nomeadamente
nos vizinhos da República Centro-Africana e Sudão do Sul,
escalaram em verdadeiras crises humanitárias: vagas de
refugiados, graves violações dos direitos humanos e outras
atrocidades, ataques a pessoal da ONU e uso de crianças soldado.
No Sudão do Sul, um cessar-fogo foi assinado a 23 de Janeiro e
logo a seguir violado várias vezes. As negociações continuam. No
entanto, “a violência étnica que foi acendida, poderá não ser tão
fácil de resolver” – afirma Ivan Simonovic, Secretário-Geral
Assistente das Nações Unidas para os Direitos Humanos num
artigo de opinião sobre a situação naquele que é o mais recente e
193º membro da Organização.
A ONU respondeu ao grande fluxo de refugiados, estabelecendo
campos nos países vizinhos. Até 17 de Janeiro mais de 86,000
pessoas tinham deixado o país, segundo dados do Alto
Comissariado Para os Refugiados (ACNUR). No entanto,
relativamente às pessoas que permaneceram no país, a situação
é urgente não só a nível da falta de alimentos, água e espaço para
colocar as pessoas tal como pela sua própria segurança física.
Durante o conflito, pequenos complexos da ONU foram atacados e
os funcionários da missão em Juba (UNMISS) ameaçados.
Ainda no seu Op-Ed, Ivan Simonovic afirma que o país permanece
impune relativamente aos crimes cometidos anteriormente,
relembrando o conflito que assolou o país há duas décadas atrás,
fazendo com que retrocedesse dez anos a nível de
desenvolvimento. A UNICEF, relata também que crianças possam
ter sido usadas como soldados no conflito. Situação que também
aconteceu na República Centro Africana, havendo cerca de 6,000
crianças a participar no conflito armado. Estima-se que milhares
de pessoas tenham sido mortas no conflito da República Centro-
Africana, quase 1 milhão foram expulsos das suas casas e 2,2
milhões, cerca de metade da população, precisam de ajuda
humanitária num conflito que irrompeu quando rebeldes
muçulmanos Séléka iniciaram ataques há quase um ano atrás. O
Conselho de Segurança, em forma de resposta estendeu a missão
de paz no país (BINUCA) até 31 de Janeiro de 2015. Na sua
resolução também foi autorizada uma intervenção por parte da
União Europeia e outras medidas coercivas como sanções,
classificando a situação no país como “uma falta total de ordem,
de Estado de Direito, motivados por assassinatos e crimes
religiosos“.
A extensão da missão em Bangui visa apoiar a implementação de
um processo de transição para acelerar o restabelecimento da
ordem constitucional e implementar os acordos de 2013 de
Libreville, que resultaram num cessar-fogo temporário, criando um
governo de unidade em que figuras da oposição receberam postos
-chave. No que concerne à missão da União Europeia, cuja
operação durará 6 meses, há “permissão para tomar quaisquer
medidas necessárias”, que se traduz na possibilidade do uso da
força. A aprovação da resolução vem após Ban Ki-moon,
Secretário-geral da ONU ter classificado a crise no país como “ de
proporções épicas”. Um novo regime de sanções será aplicado ao
governo, como o congelamento de ativos financeiros, embargos
de viagem, embora não tenham especificado na resolução as
partes destinadas.
O Programa Alimentar Mundial, anunciou que conseguiu relocar
10 camiões carregados de alimentos para Bangui, através de uma
missão de cooperação entre a MISCA (Missão Internacional de
Apoio Africana à RCP), Camarões e oficiais da República Centro-
Africana. A resolução foi aprovada por unanimidade pelos 15
membros do Conselho de Segurança.
http://www.un.org/en/sc/
Conselho de Segurança autoriza missão da UE na República Centro-Africana, Sudão do Sul assina acordo de cessar-fogo
Pág. 5 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70
D I E R E I T O S H U M A N O S
Youth Summit August 2013@ UN Photo
Comité dos Direitos da Criança diz que recessão económica em Portugal é obstáculo à implementação da Convenção
Ao ratificar a Convenção dos Direitos da Criança, Portugal
comprometeu-se a implementar as medidas presentes na
mesma, que visam a sua proteção e garantia de direitos e
aceita submeter-se a avaliações periódicas. Portugal foi
submetido recentemente a uma avaliação por parte do
Comité da Convenção, tendo este lançado o relatório no dia
5 de fevereiro de 2014.
O relatório reconhece a implementação de algumas
medidas legislativas por parte do Estado Português, dando
como exemplos a proibição de castigos físicos, proteção
social materna, paternidade e adopção, medidas
educativas especiais para crianças portadoras de
deficiência, tais como a garantia de asílio, proteção ou
estatuto de refugiado para crianças não acompanhadas.
Porém aponta que a recessão económica e financeira está
contrair os investimentos na proteção social, afetando as
famílias e dessa forma expondo as crianças ao risco de
pobreza, tal como o usufruto de outros direitos relacionados
com saúde, educação e segurança social, presentes na
Convenção.
De forma a combater estes riscos, o Comité encoraja a
implementação de uma estratégia nacional à
implementação da Convenção que inclua objetivos e metas
mensuráveis de forma a acompanhar a execução dos
direitos da criança.
“O impacto das medidas de austeridade afeta os benefícios
e serviços sociais que são oferecidos às famílias com
crianças, especialmente Roma e com a falta de dados
sobre um orçamento destinado á implementação da
Convenção, achando que dessa forma que um orçamento
com objetivos especiíficos deve ser concebido,
especialmente numa época de contenção económica.
No que concerne a discriminação, é recomendado que o
Estado continue a integrar os assuntos dos direitos das
crianças nos programas escolares, tal como crie mais
programas de consciencialização. Embora reconheça os
esforços tomados pelo Estado, nomeadamente O Plano
Nacional de Integração Para as Comunidades Roma 2013-
2020 e outras medidas anti discriminatórias, o Comité
demonstra preocupação pela discriminação prática que
algumas pessoas vivem no acesso à habitação, emprego,
educação, salários iguais, serviços de sáude e públicos,
especialmente por pessoas de descendência africana,
imigrantes e comunidade Roma. Aponta ainda preocupação
por uma conduta discriminatória, de maus-tratos e
estereótipos por parte das autoridades em relação a
imigrantes, estrangeiros, minorias e adoloscentes LGBT.
Outras medidas positivas incluem o “Princípio do Melhor
Interesse” da Criança, tendo em conta a sua aplicação
legal.
O Comité também demonstrou preocupação com o bem-
estar físico e psicológico das crianças envolvidas na
visualização ou participação em Touradas, sugerindo uma
eventual proibição das crianças nesse tipo de eventos,
apelando ao Estado que tome as medidas necessárias para
as proteger. Sugere a idade mínima de 12 anos para poder
participar em touradas, e no mínimo 6 para poder assistir,
sublinhando que a violência fisíca e mental das touradas
pode ter impacto nas crianças.
Relativamente às crianças portadoras de deficiência o
Comité reconhece a implementação de políticas e leis, em
particular contra a discriminação, acesso à educação,
inclusão social tal como mecanismos especializados de
apoio a essas mesmas medidas. Porém não deixa de referir
o impacto da austeridade na Estratégia Nacional Para a
Deficiência.
Os cortes na educação, também são referidos como um
constrangimento à implementação da Convenção.
Por fim, o Comité recomenda que o Estado, de forma a
fortalecer o cumprimento dos direitos das crianças,
ratifique os instrumentos dos quais ainda não faz parte,
particularmente da Convenção Internacional de Proteção de
Todos os Trabalhadores Migrantes e das Suas Famílias.
O Próximo Relatório da Convenção dos Direitos da Criança
terá que ser submetido pelo Estado Português até dia 20
de Outubro de 2017. http://is.gd/HHWes5
Em breve…
20-21 Fevereiro—Forum nacional das redes da socie-
dade Civil em Lisboa
8 de março—Dia Internacional da Mulher
20 de março 2014—Lançamento do Relatório Mundial
sobre Água e Energia, em Tóquio
Abril 2014:- Forum Mundial Urbano, Medellin, Colombia
Maio 2014—Encontro de Juventude no Parlamento Eu-
ropeu em Estrasburgo. 5 mil jovens vão poder partici-
par.
Ficha técnica
Direcção: Afsane Bassir-Pour
Edição: Júlia Galvão Alhinho
Redação: Júlia Galvão Alhinho, Ricardo Oliveira e Inês Honorato
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E M P O R T U G A L
Pág. 8 BRUXELAS, FEVEREIRO 2014, EDIÇÃO NR. 70