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novas da número 3, Junho e Julho de 2002 distribuiçom gratuíta para para 5 5 umha umha motivos motivos 3 Formas de Viver o Dia das Letras Ramón Chao: Marcos em Paris Carlos Taibo: Chomsky nas alturas Efeito 11-S até no tabaco! ...

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novas danúmero 3, Junho e Julho de 2002

distribuiçom gratuíta

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3 Formas de Viver o Dia das Letras

Ramón Chao: Marcos em Paris

Carlos Taibo: Chomsky nas alturas

Efeito 11-S até no tabaco!

...

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2 segunda Junho - Julho 2002 novas da galiza

Em "O anjo exterminador", conta LuisBuñuel o caso de umhas dez ou quinzepessoas fechadas num andar do México.As salas estavam abertas, bem como aporta da rua. No entanto, umha força mis-teriosa impedia aos convidados sairem dorecinto. Passárom estes vários dias com assuas noites na mais abjecta promiscuidadee cenas de horror inigualável. Apenas umpar conseguiu evadir-se do inferno, movi-da pola força incontenível de uns senti-mentos surgidos do pavor. Figérom-nonormalmente. Apanhárom as escadas etrespassárom a porta da rua, li-bertados deentraves e preconceitos polo amor. Algoassim tem acontecido ao subcomandanteMarcos. Levava dezoito anos internado naselva Lacandona de Chiapas com poucamais companhia do que o cachimbo epassamontanhas e acaba de casar. Igualque os heróis do Buñuel, prévio abandonodesses dous atributos e na sua mao umpassaporte crivelmente falso, atravessoucom a sua mulher a fronteira inexistenteda Guatemala. Porven-tura esteja emParis, ou tenhem vindo à inauguraçom deumha mostra da arte chapaneca que secelebra no Parque da Villette. Estivemnessa inauguraçom na terça passada emais do que olhar fotografias, as escul-turas populares e os quadros de Toledo,reparei nos rostos da gente, esperandodescobrir os olhos de Marcos, reconhecê-lo polo olhar.Curioso, nom é?: os neozapatistas pu-gérom o passamontanhas para que afinalreparem neles, e agora o sub tira-o... paraque nom o reconheçam! Há uns oitos anosveu-me ver a Paris um enviado deMarcos. Mostrou-me uns vídeos dosrebeldes, deixou-me umha gravaçom doprimeiro discurso do subcomandante paraver se o emitíamos por Rádio França eassegurou-me que desde esse dia nosecreveríamos pola Internet. Pola Internet?O que é isso? Na rádio mais importante daFrança carecíamos de um meio de comu-nicaçom que estavam a utilizar na selva osfugidos!, como chamávamos os máquisna Galiza. Dei umha cópia da fita aosmeus filhos, e qual nom havia de ser aminha surpresa quando no ano passado aescuitei num concerto do Mánu emMilano perante cem mil espectadores,com mica em fundo e a banda firme erespeitosa. O Mánu tinha estado dez diascom Marcos na selva, tinham tocado jun-tos a guitarra, e dixo-lhe que conhecia oseu pai de ouvi-lo por onda curta nasemissons da Rádio França Internacional.Por isso fum esperá-lo no ano passadoquando no Zócalo do México concluiu asua longa marcha, de Chiapas à capital. Epor isso assistim a umha reuniom privadaonde nos recebeu a Danielle Mitterrand,Ignacio Ramonet, Bernard Cassen, JoséBové e Alain Touraine. A todos pediu asua opiniom sobre o zapatismo e a sua

luita pola dignidade dos povos indígenas.Por timidez, mantivem-me um bocadorecuado até ele me interpelar. E o que éque o Ramom Chao julga? Respondimque estava de acordo com os meus com-panheiros, mas que o mais importantepara mim era a qualidade literária dosseus comunicados. "É a melhor louvançaque me pode fazer", afirmou. No diaseguinte convidou-nos Jorge Castañeda,Ministro dos Negócios Estrangeiros doMéxico, a um colóquio na sua casa.Estávamos os mesmos que citei, e do ladogovernamental, além de Castañeda e entreoutros, o ministro do Interior. Em plenadiscusom, que foi longa e dura, eu argu-mentei que o subcomandante tinhareunido umhas cem mil pessoas noZócalo, o que nunca se tinha visto e queteriam de levá-lo em conta. Nom, dixo-me o ministro: há três meses cento ecinqüenta mil assistírom ao concerto doMánu Chao. Fiquei atónito e confuso. Oministro do Interior a esgrimir Mánu con-tra a minha argumentaçom! Procurei oolhar de Marcos por La Villette, mashavia muita gente no dia da inauguraçom.E se estivesse, nom havia de revelá-lo.

Traduçom: Maurício Castro

Marcos em Paris

segunda

“Há uns oitos anosveu-me ver a Paris um

enviado de Marcos.Assegurou-me que desde

esse dia nosecreveríamos pola

Internet. Pola Internet?O que é isso? Na rádio

mais importante daFrança carecíamos de

um meio de comunicaçom que

estavam a utilizar naselva os fugidos!, comochamávamos os máquis

na Galiza”

Ramón Chao

Editora: Minho media S.L

Director: José M. Aldea.

Redacçom: Chefia: Marta Salgueiro eMiguel Garcia / Redatores: RamomGonçálvez, Joam Peres, Carlos Barrose Maurício Castro

Correspondentes: Compostela, UgioCaamanho / Vigo, Xiana González /Ponte-Vedra, Álvaro Franco / Lugo,Ramom Gonçalves / Corunha,Armando Ribadulha / Ferrol, M.Castro / Ourense, Assier Rodrigues /Estrada, Marcos Paino / Ribeiro, BraisLeiro / Barbança, Joám Evans /Marinha, André Outeiro / Paris,J.Irazola / Madrid, José R.Rodríguez

Opiniom: Ignácio Ramonet, RamomChao, Carlos Taibo, Joám CarlosAnsia, Jorge Paços Meirol, JúlioDiegues Gonçales

Colaboraçons habituais:Tomé Martins, Xesus Serrano, ManuelAndrade, José R.Pichel, Lupe Cês,Ramom Pinheiro.

Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga,Arquivo Novas da Galiza

Humor Gráfico: Suso Sanmartim,Pestinho +1.

Publicidade: Ramom Gonçalves

Imagem corporativa: Paulo Rico

Maquetaçom: Miguel Garcia

Correcçom lingüística:Maurício Castro

NOVAS DA GALIZAApartado dos correios nº 227600 Sárria. Galiza. Tel: 609 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente aposiçom do jornalOs artigos som de livre reproduçomrespeitando a ortografia e citando pro-cedência. É proibida outro tipo dereproduçom sem autorizaçom expressado grupo editor.

Feche de Ediçom: 15-06-02Depósito legal: C-1250-02

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3editorialJunho - Julho 2002novas da galiza

Suso Sanmartim

sumário3 Formas de Viver o

Dia das Letras

Analisamos três formas diferentes de viver o

17 de Maio

5 Motivos para umhagreve geral

Entrevista a Suso Seixo, daCIG, e a Francisco Sébio, daCUT, analisando a greve geral

II Festival da Terra e da Língua

Um amplo dossier facilitará atua participaçom no II Festivalorganizado pola FundaçomArtábria

Le Pen: Como a televisom

fabrica um presidente

O nosso colaborador em ParisJoseba Irazola deita algo de luz

sobre o fenómeno Le Pen

Memória visual

Incorporamos nesta secçomcomo colaborador habitual ao

historiador Ramom Pinheiro

e ademais...

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Notícias.............................................página 4Foi dito..............................................página 9Campos Léxicos..............................página 14Opiniom...........................................página 15Astronomia......................................página 20Música.............................................página 18Conselhos em Rede.........................página 21Gastromania....................................página 22

Nós pagaremos mais para que nos contratem e osempresários pagarám menos por botar-nos. Éumha das chaves fundamentias da reforma deprestaçons por desemprego e da Lei Básica deEmprego. Umhas medidas -impostas por ...decre-taço- que no nosso país terám especial incidência.Quando o país volta a viver um novo processo deemigraçom e quando se fala do despovoamento dorural, as medidas impostas nesta nova reformanom servirám para assentar povoaçom. A quemfor da periferia do núcleo económico da Galizaainda mais. Longe da criaçom de empregos e dadinamizaçom social e económica, as comarcas dointerior seguirám despovoando-se avocadas àdesapariçom absoluta. Mas a emigraçom nom sóvai ser interior. Atendendo o novo conceiro deemprego adequado Ourense está a menos de 2horas de deslocamento de Samora. Ourense temumha das maiores taxas de desemprego do país.Muitas trabalhadoras e trabalhadores das comarcasourensanas terám que aceitar um trabalho nasprovíncias espanholas mais próximas. Nom lhessuporá mais de 20% do salario. Mas sim con-tribuirá para que a Galiza menos desenvolvidanom tenha possibilidade de progresso, e para queas trabalhadoras e trabalhoderes deste país tenhamde voltar a se despreender da sua língua, da

sua cultura e da sua terra para sobreviver eco-nomicamente. Num momento em que a juventude galega volta aemigrar, nesta ocasiom massivamente às Canárias,e em que o rural sofre umha das crises mais impor-tantes, nem se gera emprego, nem se possibilita oassentamento povacional. Mas o contrário. Numpaís onde muitos sectores como as conserveiras, oensino, os serviços de limpeza... que trabalham portemporada, verám de um pulo eliminados os seusdireitos a umha protecçom social. Umha reformaque trata as pessoas desempregadas como vadias,mentirosas, fraudulentas a quem cumpre espreitare punir, e que pola contra nom leva em conta afraude das empresas e empresários, nom pode maisque, quando menos, considerar-se injusta.Frente a isto, temos umha sociedade desmobiliza-da e umha classe trabalhadora que foi vendida emtantas ocasions que já nom recorda o que vale.Nom faltam razons para a greve, nom faltan razonspara a mobilizaçom. Resta por analisar a respostaque merecem as políticas neoliberais impostas.Reforma após reforma até o estrangulamento final.Nom será a derradeira. Atençom às conclusons dacimeira europeia de Barcelona. Resta o seguintepasso: a reforma da negociaçom colectiva e orecorte de salários e direitos.

editorial

Umha greve geral polofuturo do nosso país

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Redacçom

Ausência de debate político defundo, congelaçom das con-tradiçons polarizadas entre obeirismo e sectores da UPGassim como da polémicasucessória e irrupçom na cenados independentes críticos pode-ria ser o resumo telegráfico da XAssembleia Nacional do BNG,cita congressual na que desem-bocava a crise aberta com osresultados eleitorais de Outubrode 2001 e que a própria TesePolítica a debater na Corunhaqualificava como “decepçom”.Previamente à reuniom do Paçode Congressos, a direcçom dafrente tinha já alcançado o queela própria qualificou comopacto de donas e cavaleiros, des-tinado fundamentalmente aencerrar semanas de polémicapública, garantir umha Assem-bleia sem sobressaltos e colocara organizaçom na lançadeira daseleiçons locais de Junho de2003. Ficava assim adiado o quediversos meios de difusom qual-ificam já como a transiçom doBNG.

Sem divergências de fundo

Apesar da importante polémicadesatada na segunda quinzena deMarço, concentrada nas figurasde Francisco Rodrigues e JoséManuel Beiras, a escassa partici-paçom da filiaçom nacionalistanas assembleias comarcais pré-vias à X AN e o carácter anedóti-co das emendas apresentadas aesta indicavam, se nom um re-duzido interesse por parte da fi-liaçom no processo assemblear,sim a existência dum consensoformal e a ausência de elementospolítico-ideológicos de fundonos debates fundamentais. Osrelatórios fôrom aprovados pormaioria esmagadora e velhaspalavras-de-ordem, como “ gan-har introduçom social” ou “ terumha maior dedicaçom ao tra-balho político”, refrendavam-sesem maiores problemas nemconcreçons . Os desencontros entre beirismo eUPG saldárom-se transitoria-mente com a confecçom de listasconjuntas tanto à Executiva

como ao Conselho Nacional(órgaos nos que UPG continuamantendo um peso político tamtradicional como determinante)e com umha trégua que nomaborda os temas em debate e temnas Municipais o seu transfondo.Igualmente ficava posposta atéumha Assembleia ou Conferê-ncia Nacional a realizar-se ameados da actual legislaturaautonómica (2004) a eleiçom dopróximo candidato à presidênciada Xunta.

Eleiçons dos órgaos nacionais

O domingo 28 os compromis-sários elegêrom os 50 membrosdo Conselho Nacional que cor-responde votar à AssembleiaNacional, e que posteriormentese complementárom com os 43eleitos em Junho polas assem-bleias comarcais. Ante a impos-sibilidade de pactuar umha únicacandidatura ao Conselho, con-corrérom duas listas: a oficial,encabeçada polo portavoz JoséManuel Beiras e na que repetiamos 90% de membros do anteriorConselho –dado aparentementecontraditório com o facto de a XAssembleia Nacional projectar-se como a da renovaçom- obtive1025 votos (71.34% dos emiti-dos). A alternativa, lideradapolo concelheiro do Condado

Roberto Mera, obtive 378 votos(26.34%) e situava no ConselhoNacional 13 independentes críti-cos, desbancando um númeroidêntico de membros da lista deBeiras -sete independentes ofi-ciais, 2 de Unidade Galega e umde UPG, EN, PNG e CS, respec-tivamente-.A eleiçom da única candidaturaà Executiva Nacional concitouno entanto um consenso pratica-mente unánime (91.10% dos vo-tos emitidos). O órgao desvela opeso fundamental que UPG con-tinua a manter em todas as áreasestratégicas do BNG através demilitantes ou simpatizantes e acontinuidade do seu papel comopeça-chave do BNG. Responsa-bilidades nacionais como Orga-nizaçom (Francisco Garcia), Ac-çom Social (Olaia Fernandes),Programas (Francisco Rodri-gues), Acçom Institucional (Suá-rez Canal), Municipal (CecíliaPeres), Mocidade (Ana Pontom),etc., ficam nas maos da UPG,en-quanto aquelas responsabili-da-des que implicam maior pro-jec-çom externa mas tenhemumha incidência política menor -Co-municaçom (Xavier Macias),Fi-nanças (Fernandes Leizeaga),Internacional (Camilo Noguei-ra) ou Emigraçom (SaloméÁlvares) som para o beirismo.

Quais som os objectivos da candidatura que apresentastes?Corrigir os vícios internos emque tinha caído o BNG.Fundamentalmente, o condicio-namento dos partidos dentro dafrente, polos que a maior parte damilitáncia ficava fora das tomasde decisom. Criamos um movi-mento de coordenaçom entre amilitáncia nom adscrita, parafazer valer o nosso peso. Somosum grupo heterogéneo, nomorganizado, mas todos compartil-hamos o projecto político doBNG. Ainda que fosse possível,nom cairíamos na técnica da dis-ciplina de voto e do mandatoimperativo. No entanto, acordá-mos manter a coordenaçom apósa Assembleia.

Como valorizas o resultado daAssembleia Nacional?Foi um êxito nom só o resultado,senom o facto de apresentarmos acandidatura, demonstrarmos queo BNG é umha organizaçom quetem esses canais internos e que sepodem usar. Mostramos que oBNG nom é umha organizaçomfechada nem monolítica, mas quese pode participar.

A moderaçom é a soluçom aosproblemas do BNG?O BNG deve ter o seu próprioespaço político, perfeitamente

definido. Nom temos que renun-ciar ao nosso ideário, porqueestamos convencidos de que éassumível pola maior parte dasociedade. Se a moderaçom deforma leva à moderaçom defundo a gente nom vai perceberumha alternativa diferenciada.

Reivindicar a autodeterminaçom?A autodeterminaçom é um direitobásico e irrenunciável. Renunciara isso seria renunciar à nossacondiçom de força nacionalista.Nom há que acomplexar-se àhora de dizê-lo, mas há que cen-trar o debate no que se consideraimportante para a cidadania nestemomento.

E a independência?Desde um ponto de vista románti-co, apostaria claramente por essaopçom. Outra questom é o mo-mento, e que seja o conveniente.Nesse sentido, quem tem claroque a independência é a soluçompara os problemas deste país, temque fazer o esforço de comunicá-lo à sociedade para que o assuma.Se a independência da Galizachega algum dia a ser realidadeserá porque o povo galego odemande, e nessa situaçom, nomhá estado nem constituiçom quevalha para frear umha decisomcolectiva dessa envergadura.

4 notícias Junho - Julho 2002 novas da galiza

notícias

Assembleia do BNG resolve-sesem mudanças da linha política

O BNG celebrou em 27 e 28 de Abril pas-sados a sua X Assembleia Nacional à queassistiam 1500 compromissárias e compro-missários. Trás um convulso processo pre-assemblear, a cita desenvolveu-se baixo osigno dumha "renovaçom" nom concretiza-

da finalmente nos relatórios aprovados,nem na composiçom dos novos órgaos dedirecçom, e dum sólido consenso estratégi-co alicerçado na aceitaçom do quadroestatutário e a reivindicaçom da plurina-cionalidade do Estado.

Entra no Conselho Nacional um grupo de independentes críticos

Carlos Barros

Roberto Mera Covas encabeçou a candidatura de independentes queobtivo 13 representantes no Conselho Nacional do BNG. Nascido em1972 na vila de Ponte-Areias, dá começo à actividade social com afundaçom do grupo ecologista ADENCO, no qual participa activa-mente. Fai parte da criaçom do grupo local do BNG, que tenta cons-truir umha alternativa ao PP desde o trabalho social e a mobiliza-çom cidadá. Com 23 anos, foi cabeça de lista da frente nacionalistaem Ponte-Areias, atingindo mais de 1500 votos. No ano passado foieleito Responsável Comarcal do Condado, zona que re-presenta noConselho Nacional, enquanto está por decidir se mantém estaresponsabilidade ou fica como membro eleito na direcçom do Bloco.

Tras um processo pre-assemblear caracterizado pola encenamentomediático dos debates internos e com dolorosas contradiçons detodo o tipo agindo em parte das bases do BNG (inassumíveis políti-cas municipais, falta de democracia interna, partitocracia, gestospolíticos incompreensíveis para umha parte da filiaçom e eleitora-do nacionalistas,...), era relativamente esperável a eclosom dumfenómeno como o acontecido. Essa contestaçom difusa, que hojenom questiona a orientaçom autonomista do Proxecto Común, masapenas as consequências mais perceptíveis e intragáveis desta (aponta do icebergue), traduzia-se numha considerável represen-taçom por parte da lista crítica. Os plumíferos de sempre, com asimplicidade e a vocaçom de titulares altisonantes que os caracte-rizam, nom duvidárom em qualificar o ocorrido como “sublevaçomdas bases nacionalistas” ou inventar-se o Seismo Mera como factorexplicativo. A imagem do BNG, como força original, (ainda) capazde oferecer este tipo de surpresas e na que “as bases som as quedecidem”, sai notavelmente reforçada e dalgum modo coesiona emfalso as capas que podam estar sofrendo algumha erosom, mas queainda acreditam, majoritária e resignadamente, fazer parte do úniconacionalismo possível.

"Desde um ponto de vistaromántico, apostaria pola

independência"

Roberto Mera, membro do Conselho Nacional do BNG

Renovaçom?Joám Peres

A pé de página

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5notíciasJunho - Julho 2002novas da galiza

Redacçom

O máximo mandatário doConcelho de Mondariz, JuanReboreda Enríquez (PP), vemde aumentar o soldo desde asua entrada na Deputaçomprovincial. Actualmente ganhaanualmente 82.120 euros(13.632.000 pts.), dos que50.000 (8.300.000 pts.) corres-pondem ao salário como rege-dor municipal. Com base nosdados do orçamento da Junta,o soldo de Reboreda supera ode Fraga em 1.360.000 pts.cada ano (8.175 euros), e o deAznar em 310.000 pts. (1.875euros). As retribuiçons deMariano Rajoi e Rodrigo Ratosom anualmente ultrapassadaspor Reboreda em 1.110.000pts. (6.870 euros), enquanto oresto de ministros ganha1.880.000 pts. (11.485 euros)menos que o Presidente dacámara de Mondariz, conheci-do popularmente como oRabicho.Juan Reboreda Enríquez regeo Concelho desde o franquis-mo, posiçom que simultaneoucom a direcçom da sucursalem Mondariz de Caixa Rural.Quando a oposiçom municipallhe demandou dedicaçomexclusiva, Juan aceitou,exigindo cobrar o mesmosalário que percebia com asduas ocupaçons. Desde entom,veu aumentando o salário pro-gressivamente. Agora, acres-centa ao seu estipêndio as ren-das obtidas como deputadoprovincial: pola assistência aosplenos da Deputaçom, por sermembro de cinco comissons

informativas e por fazer parteda Comissom de Governo,segundo dados facilitados poloBloco Nacionalista Galego. Oporta-voz nacionalista deMondariz, Alberte Reboreda,qualifica a quantidade querecebe Reboreda Enríquezcomo "astronómica, indecentee imoral", e denuncia a cam-panha de intimidaçom em-preendida polo dirigente mu-nicipal contra os membros daoposiçom.Mondariz é umha pequena vilado Condado, onde que moramperto de 5.000 pessoas. O

décimo-terceiro concelho dopaís com menos ingressosfamiliares, segundo dadospublicados polo InstitutoGalego de Estatística. É o mu-nicípio que perdeu mais habi-tantes na comarca (13,6%),segundo o Instituto Nacionalde Estatística. Nos últimosquatro anos, abandonáromMondariz mais de setecentaspessoas. Neste contexto, sur-preende a resposta de Rebo-reda Enríquez à oposiçom nopleno em que se discutia asuba do seu salário: "Vós oque tendes é inveja" (sic).

Presidente da cámara de Mondarizsupera em salário a Aznar e a Fraga

A Assembleia Nacional da FPGaposta pola continuidade

Mondariz é um dos concelhos commenor renda per cápita do país, e o quemais habitantes tem perdido nos últimosquatro anos na comarca do Condado.Isto nom é, porém, obstáculo algum

para que o presidente da sua cámaramunicipal, do Partido Popular,resolvesse auto-adjudicar-se um salárioastronómico, que supera tanto o deFraga Iribarne quanto o de Aznar

Juan Reboreda ganha 6.843 euros ao mês polo Concelho e a Deputaçom

Rua de Sam Pedro 16Compostela

o dadoSalários anuais recebidos polos

cargos públicos do PP

nome

Juan Reboreda EnríquezJosé María AznarMariano RajoyRodrigo RatoManuel Fraga IribarneResto dos ministros

82.120,00 80.246,00 75.248,52 75.248,52 73.944,00 70.636,00

Fonte: A PENEIRA / Orçamentos da Junta

euros/ano

Redacçom

Umha sucursal bancária doSCH e outra do BBVA fôromatacadas com artefactos incen-diários em Vigo na madrugadaprévia ao 1 de Maio. Segundofontes policiais, um grupo dedesconhecidos furou a vidreirablindada das oficinas, intro-duzindo no seu interior cócteismolotov que causárom danos dediversa consideraçom. Quinzedias antes, na noite de 15 para16 de Abril, o carro particulardum cabo da polícia deSantiago ficava completamentecalcinado como conseqüênciadumha sabotagem. O estado docarro após a intervençom dosbombeiros nom permitiu encon-trar mais do que restos do quepoderia ser umha garrafa elíquido inflamável, polo que ahipótese é que o veículo ardeuapós ser atacado com cócteismolotov. Na passada noite do13 para o 14 de Junho, era umhasucursal da empresa de trabalhotemporal ADECCO a que,novamente em Vigo, rematavacalcinada como conseqüênciada sabotagem perpetrada-segundo testemunhos presenci-ais- por um grupo de indivíduosencarapuçados que, previa-mente, realizárom umha pinta-da com a legenda “20-J GreveGeral”

Autoria independentista

Todos os indícios apontam paraque as três sabotagens obede-cem a motivos políticos. No pri-meiro dos casos um comunica-do anónimo enviado através daInternet esclarecia que se tratoudumha "resposta contundenteàs políticas de recortes prati-cadas polo governo espanholdo PP", despedindo-se cum"Viva Galiza ceive e socia-lista!". Quanto ao ataque aocarro particular do políciamunicipal, as hipóteses baral-hadas fôrom duas: dumhabanda, o facto de este agente terparticipado poucos dias antesnumha carga contra trabal-hadores em greve da empresaCESPA, fijo pensar em que asabotagem se inscrevesse noconflito laboral. Porém, o PPapontou a possibilidade de setratar dumha represália de inde-pendentistas, já que a acçom seproduziu poucas horas depoisde ser detido o terceiro membroda AMI em duas semanas, eeste movimento leva mesesdenunciando o papel repressivoda polícia local da cidade.Finalmente, a legenda emprega-da na pintada feita polos autoresdo ataque à ETT, aponta tam-bém cara independentistas.

Intui-se a autoriaindependentista

de sabotagens emVigo e Santiago

Redacçom

A IV Assembleia Nacional daFrente Popular Galega (FPG),que se celebrou nos passadosdias 11 e 12 de Maio em Com-postela sob a legenda "PolaRepública Galega", concluiucom umha aposta clara polacontinuidade e o reforçamentoorganizativo. Assim, MarianoAbalo e os 75% dos postos deresponsabilidade fôrom re-eleitos, e a organizaçom inde-pendentista reafirmou-se nas

suas linhas ideológicas eestratégicas fundamentais.A FPG aproveitou a cele-braçom da sua AssembleiaNacional para valorizar oprocesso de unidade do inde-pendentismo desenvolvido nosúltimos anos. Desta maneira, omáximo órgao da FrentePopular Galega coincidiu emqualificar de "fracasso" odenominado Processo Espiralpor quanto nom contou com aadesom desta própria forçaque, se bem estivera presente

nas primeiras fases da unidade,finalmente declinou participarna constituiçom de NÓS-Unidade Popular. Em palavrasde Ricardo Lourenço, membroda nova direcçom nacional, aFPG desligou do processo aonom concordar com os ritmospropostos polo resto das forçase duvidar do carácter deesquerdas e "nom circunscritoa Compostela" da AMI, as As-sembleias Populares de Co-runha, o Noroeste e Compos-tela, e Primeira Linha.

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6 notícias Junho - Julho 2002 novas da galiza

16 de AbrilAparece queimado em Com-postela o carro particular dopolícia municipal J. C. CovasPrieto.Reporteiros de TVG som balea-dos por soldados israelitas naPalestina

18 de AbrilA Guardia Civil escolta váriosfura-greves em Cangas doMorraço quando recolhiam olixo durante umha greve dalimpeza.Detido Alexandre Fernandes,membro do Conselho Nacionalde AGIR, dentro da campanharepressiva contra a esquerdaindependentista.

19 de AbrilUgio Caamanho, militante daAMI, é denunciado por "ame-aças" polo alcalde de Ames aoter introduzido no Concelhoumha petiçom assinada defechamento do cuartelillo daGuardia Civil para ser tratadapolo pleno municipal.

20 de AbrilFai-se público que a perda depopulaçom ameaça a continui-dade dos serviços públicos bá-sicos em 75 concelhos galegos

21 de Abril25 pessoas participam na ter-ceira ediçom da marcha a pé emhomenagem aos Mártires deCarral na paróquia teense deCacheiras

22 de Abril Anxo Quintana declara a escas-sos dias da X AssembleiaNacional do BNG que o paísprecisa dum novo contrato como Estado espanhol "no ámbitodo Estatuto de Autonomia e daConstituiçom"

24 de Abril200 trabalhadores atingidospola asbestose manifestam-seante a delegaçom da Junta emFerrol. Exigem a criaçom dumcentro de doenças profissionaise maior atençom por parte doSERGAS

25 de Abril30 estudantes som processadospor ocuparem a Reitoria daUSC dentro da campanha demobilizaçons contra a LOU.Concentraçom de solidariedadediante dos julgados

28 de AbrilMariscadoras boicotam as elei-çons à presidência da sua asso-ciaçom em Cabo de Cruz

1 de Maio53000 pessoas mobilizam-se naGaliza no Primeiro de Maionum clima de preparaçom paraa Greve Geral. Em Vigo, apare-cem queimadas dus sucursaisbancárias do SCH e do BBVA,como conseqüência dumha sab-otagem com cócteis molotov.

2 de MaioVários percebelheiros pen-duram-se com cordas no edifí-

As eleiçons das cámaras agrárias evidencia aperda de poder do Partido Popular no campo

XX.AA governara a cámara de Ourense mentras que SLG e UUAA repartirám-se as três restantes

Centros escolares das duas beiras do Minho fôrom os impulsionadores da ideia

Tomadas polo PP como um teste da per-manência da sua força social no ruralgalego, as primeiras eleiçons dascámaras agrárias em 25 anos rema-tárom com surpresas. Apesar da forte

intervençom deste partido no processoeleitoral -fundamentalmente através darede caciquil e dos seus governos muni-cipais- o seu sindicato afim, XóvenesAgricultores, só conseguiu a presidência

da cámara de Ourense, como conse-qüência dos pactos realizados nas ou-tras três entre Unións Agrárias e oSindicato Labrego Galego. A forçanacionalista presidirá a cámara de Lugo

Redacçom

Apesar do apoio da adminis-traçom e dos alcalde do PartidoPopular a Xovenes Agricultores,as eleiçons às Cámaras Agrárias,após 25 anos, revelárom queXX.AA nom contou com a maio-ria dos votos dos labregos e labre-gas. Só em 81 dos 178 municipioso sindicato do PP alcançou a ma-ioria. UU.AA governara a Co-runha e Ponte-Vedra: XX.AA temmaioria em Ourense mentresLugo, bastiom popular e ondemais censados existem, terápresidência do SLGAs eleiçons às cmaras agráriasservírom para comprovar que oslabregos e labregas continuam aconfiar em XX.AA com um 48%dos votos o governo nas cámaras.Para tal, contou com o apoio dosalcaldes dos concelhos que emmuitas ocasions, como no caso deRogelio Martinez, alcalde deArnoia ou Senén Pousa, alcalde deBeade e presidente de XX.AA,tivérom umha actuaçom activa afavor do sindicato agrário popular.Porém, XX.AA só atingiu 50%dos votos em 81 dos 178 municí-pios em que os labregos e as labre-gas estavam chamados a consulta.Este facto possibilita o pacto emtrês das quatro cámaras agráriasgalegas entre o SLG e UUAA.

Umha possibilidade de pacto quefoi considerada polo coordenadorda campanha de XX.AA como“fraude electoral”. UU.AA obtivo no convite elei-toral 27,3% dos votos, o que lhepermitiria governar Ponte-Vedra eCorunha juntamente com o SLG.Roberto Garcia, secretário geralde UUAA, manifestou que sem oapoio dos alcaldes do PP, XovenesAgricultores “nom teria chegado a10% dos votos”. Por sua vez, o

Sindicato Labrego Galego con-seguiu no passado 26 de maio24,6% dos sufrágios. Lídia Senrareconheceu que o resultado afastao sindicato labrego do que tinhacomo meta: converter-se naprimeira força do agro do país.O pacto com UUAA permitirá oSLG governar a cámara de Lugo,umha província gadeira porexcelência e que conta com omaior número de recenseados daGaliza. Lídia Senra estava relati-

vamente satisfeita polo facto de“os labregos nom terem dado oapoio maioritário aos represen-tantes dos empresários”.O reparto do poder, depois destaseleiçons agrárias, as primeiras em25 anos, situa portanto XovenesAgricultores governando emOurense, Unións Agrarias emPonte-Vedra e na Corunha, e oSindicato Labrego Galego emLugo.

Interesse político

Os alcaldes do Partido Populartivérom durante toda a campanhaeleitoral umha posiçom activa deapoio a XX.AA. Tanto que, nocaso de Arnoia, o seu alcaldeRogelio Martínez estivo vigiandode tal jeito a votaçom que tivéromque colocar um biombo paragarantir minimamente o segredodo voto.Outra das provas que teriam evi-denciado que o PP tinha estaseleiçons no rural galego como umteste ante as municipais, teria sidoo facto de o próprio Conselheirode Política Territo-rial, JoséCuinha, reunir-se com o titular deAgricultura Juan Miguel DizGuedes antes de fazer públicos osresultados das eleiçons as Cá-maras Agrárias.

Redacçom

A evidência de que a Galiza ePortugal tenhem umha cultura etradiçom comuns desde as mes-mas origens da história levou aexperiência inter-escolar e radio-fónica "Pom-te nas ondas" a pro-mover a candidatura das suas ter-ras minhotas para serem recon-hecidas dentro do patrimónioimaterial intangível da catalo-gaçom que para tal fim possui aUNESCO."Pom-te nas ondas", é o projectoeducativo inter-escolar e com for-mato radiofónico que um nu-

meroso grupo do alunado e pro-fessorado de liceus de Salvaterra,Tui, Melgaço, Monção, VilaNova de Cerveira, Gondomar,Mondariz, As Neves, Nigrám,Porrinho, O Rosal, e Salzeda deCaselas, venhem impulsionandodesde 1994. Ao todo, participamna ediçom deste ano quarenta equatro escolas, contando com acolaboraçom da Rádio Galega daDeputaçom de Ponte-Vedra, doConcelho de Vigo, ou da própriaUNESCO.A sua novidosa petiçom baseiam-na na forte identidade comum e acosmovisom particular que deulugar a umha cultura diferenciada

que se manifesta na prática dosritos, nos símbolos ou na mitolo-gia; chegando a manifestaçonsmais concretas como cantos detrabalho, jogos populares, festasou romarias. Todo este acervocultural está, segundo os promo-tores, em sério perigo de desa-parecer polas modificaçons soci-ais e culturais dos tempos actuais.O tema de trabalho e estudo nosliceus integrantes do projecto"Pom-te nas ondas" para este anofoi o património oral ou, segundoa definiçom da UNESCO, oPatrimónio Imaterial Intangível.Mas os organizadores som cons-cientes de que o labor a desen-

volver é importante e nomdepende exclusivamente deles,senom da sociedade das duasbeiras do Minho.Agora esta iniciativa deve rece-ber o apoio de associaçons,colectivos e instituiçons daGaliza e Portugal, países onde seinclui o território delimitado.A própria UNESCO, na sua pági-na web, tem abundante infor-maçom relativa a este tema: www. unesco.org/culture/herita-ge/intanxibleTambém é possível encontrarinformaçom da iniciativa naprópria página da organizaçomwww.pontenasondas.org

Oralidade galego-portuguesa candidatada a património da UNESCO

O SLG empregou a internete na campanha das primeiras eleiçons agrárias em 25 anos

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7notíciasJunho - Julho 2002novas da galiza

cio da Junta em Ferrol parademandarem permissos deexploraçom.Dados oficiais reconhecem17000 galegas e galegos aviverem em situaçom deextrema pobreza. Apenas 4250cobram a Renda de IntegraçomSocial da Galiza (RISGA).Membros da Assembleia deEstudantes de Compostela con-tra a Repressom ocupam o Cla-ustro universitário em solida-riedade com @s repressariad@se sabotam o debate entre os can-didatos à Reitoria.

7 de MaioDiversas organizaçons sindicaise de emigrantes retornados con-vocam umha caçolada contra oencerramento da embaixadaargentina na Galiza.O Parlamento da CAG rechaçacom os votos do PP a iniciativade limitar a publicidade devideojogos violentosHomenagem em Baldaio aosparticipantes na luita contra aextracçom de areia das praias no25 aniversário daqueles acon-tecimentos.

12 de Maio BNG rechaça a reforma da Leide Partidos Políticos.Sob a legenda “Pola Repúblicagalega”, FPG celebra a sua IVAssembleia Nacional em Com-postela.

14 de MaioPP e PSOE pactuam definitiva-mente a reforma da Lei dePartidos Políticos que permitiráa ilegalizaçom de forças políti-cas nom constituicionalistas.

18 de MaioCelebraçom da primeira sessomda Real Academia Galega emVila Franca do Berço.

20 de MaioTabicam a entrada aos gabinetesde vários decanos da USCimplicados na repressom de 53participantes nas protestas con-tra a LOU.Processados 12 trabalhadores deLa Unión acusados de reali-zarem destroços na frota duranteo conflito laboral mantido em2001. Exigem-se-lhes 53 mil-hons de pesetas.

23 de MaioFraga Iribarne declara publica-mente estar a favor da instalçomdumha central de energianuclear na Galiza.

26 de MaioEleiçons a cámaras agrárias nocampo galego. A organizaçomagrária vinculada ao PartidoPopular perde a hegemonia emtrês das quatro circunscriçons

29 de MaioA reforma da Política PesqueiraComum (PCP) poderia supor odesmantelamento de 600 pes-queiros galegos e a desapariçomde 3000 postos de trabalhodirectos e 15000 indirectos.

Fraga Iribarne impulsiona a instalaçomdumha central nuclear na Galiza

Concelhos do PP proponhem-se para acolher umha hipotética central

Redacçom

Seguindo os passos da vice-presi-denta da Comissom EuropeiaLoyola de Palacio, que recente-mente afirmava o carácter "im-prescindível" da energia nuclearpara cumprir o Protocolo deQuioto sobre a reduçom do efeitoestufa, o presidente do Executivoautonómico assegurava em 23 deMaio a disposiçom da adminis-traçom da CAG para instalarumha central atómica no nossoterritório, ao tempo que vaticina-va a fim da moratória nuclearvigente desde 1986. Além disso,Fraga Iribarne descartava que talprojecto se vaia desenvolver "acurto prazo", mas clarificava que"nom se trata dumha hipótese deciência-fiçom, já que mais cedoou mais tarde há de estabelecer-seem toda a parte", e incidia em quetal decisom terá que ser "nacionale europeia". Indagaçons realiza-das por NOVAS DA GALIZAconfirmárom que a aceitaçom porparte do Ministério de Economiada solicitude que eventualmentelhe puder apresentar umha com-panhia eléctrica seria suficientepara proceder à construçom dum-ha central nuclear no nosso país.Neste sentido avondam as decla-raçons realizadas por José Fol-gado, Secretário de Estado de

Economia, que confirmava aintençom do Ministério de dar luzverde a futuros projectos.

Contestaçom unánime

A reacçom ao globo sonda infor-mativo lançado pola Xunta nomse fixo esperar. A prática totalida-de de grupos políticos parlamen-tares e extraparlamentares, sindi-catos, associaçons ambientalistas,etc., afirmárom em dias posterio-res à declaraçom institucional asua frontal oposiçom a um even-tual projecto nuclear na Galiza e adisposiçom a impulsionar umhadinámica de contestaçom social seeste se concretizar. Pola sua ban-da, o Bloque Nacionalista Galegoinstou à Xunta reclamar do Go-verno espanhol a declaraçom daCAG como "zona desnucleariza-da", umha iniciativa com nula via-bilidade dada a sintonia existentehoje entre as duas administraçons.O próprio alcalde ferrolám afir-mava em declaraçons a La Voz deGalicia que "O que transmite Fra-ga nom parece um convencimentoindividual, mas as conclusonsdum debate havido no seu Go-verno ou na organizaçom do PP".

Seguidismo municipal

Vários regedores municipais daGaliza, maioritariamente de con-

celhos marcados por umha duraproblemática sócio-laboral etodos vinculados ao PP, apro-veitárom a ocasiom parademostrar a sua inquebrantáveladesom pessoal ao primeiro man-datário autonómico. Declaraçonscomo "Fraga nunca se equivoca",ou "Eu sempre estou do lado dopresidente", expressárom a dis-posiçom dos alcaldes de Ames,Antas de Ulha, Arnoia, Barro,Beariz, Cea, A Estrada, Forcaréi,Friol, Mugia, Santa Comba eVerim a oferecer os seus respec-tivos concelhos aos planos dequalquer companhia eléctrica dis-posta a impulsionar a construçomdumha central nuclear, com inde-pendência da disposiçom dasrespectivas populaçons locais. Apossibilidade de que UniónFenosa se encontre detrás destaoperaçom é mais do que umhamera especulaçom, toda vez queas declaraçons do presidente daXunta se produzem após umhareuniom com o novo home forteda transnacional eléctrica,Honorato López Isla, e polo signi-ficativo facto de esta empresa terdeclarado recentemente "nomestar fechada a nengumha possi-bilidade" quanto ao emprego daenergia nuclear na Galiza.

Vinte anos depois de que a histórica batalhade Jove conseguisse afastar da Galiza ofantasma da nuclearizaçom, Fraga Iribarnevaticina a próxima revogaçom da moratóriaexistente, e manifesta o seu apoio à energianuclear como alternativa a aquelas que pro-duzem o "efeito estufa". Galiza é exceden-

tária em energia limpa, e será-o ainda maisdepois da construçom dos centos de moín-hos eólicos e minicentrais projectadas até o2010. Mas o PP volta ver neste país oemprazamento óptimo para assumir os cus-tos e os riscos do abastecimento energéticode Espanha.

Redacçom

Um vizinho da Corunha de proce-dência brasileira foi a ultima víti-ma dos ataques racistas que sevenhem vivendo nesta cidade. AAssembleia local de NÓS-Unida-de Popular condenava esta agres-som assegurando que se estám aincrementar ultimamente os ata-ques de cariz racista e xenófobo.Desde a organizaçom independen-tista denunciam a falta de sensibi-lidade das autoridades a esterespeito. Indicam que tanto o al-calde quanto o governo espanholtenhem demostrado "a sua totalfalta de sensibilidade ante os pro-blemas de violência que afectam agrupos humanos marginais" quesofrem ataques de cariz fascista. Oalcalde da Corunha, FranciscoVázquez manifestou que nom setrata dum problema global senom"de casos isolados". NÓS-Unida-de Popular reclama da corpora-çom municipal umha declaraçomgenérica contra as condutas vio-lentas de cariz discriminatóriodirigidas a homossexuais, pessoasindigentes, pessoas minusválidas,imigrantes ou minorias étnicas,onde se declare "pessoas nomgratas àquelas que protagonizemou instiguem actos desse tipo".

Redacçom

O Sindicato Labrego Galego asse-gura que "devido à progressivaperda de variedades locais" daGaliza estám a elaborar unha Redede Sementes de Variedade locaisgalegas com o objectivo de evitara perda destas sementes e fomen-tar o seu cultivo. O produtor ouprodutora de fruta, hortaliças ouforragem de sementes e que queiracolaborar conm esta rede deveregistar-se no sindicato comoguardador ou guardadora destavariedade agrícola. Do mesmojeito quando umha labrega preci-sar dalgumha destas sementesdeverá ligar para a rede para lheser facilitado o acesso às mesmas.A central da rede é o número detelefone 981 55 41 47.Paralelamente, o SLG está a elab-orar umha base de dados de pro-dutores e produtoras de horta, caraumha futura juntança nacional dahorta e a vertebraçom do sector.

Agressomxenófoba contraum brasileiro na Corunha

O SLG elaboraumha rede desementes devariedadeslocais da Galiza

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8 notícias Junho - Julho 2002 novas da galiza

Redacçom

A campanha eleitoral de DomCelidónio Cocho Marrao nom pudosuperar nem a de Seném Barro nema de X. M. Sabucedo em meios eorçamento, mas si o fixo em origi-nalidade e sinceridade. Como afir-mava o seu programa, do que fôromdistribuídas milhares de cópiasentre todos os estamentos da comu-nidade universitária, "CochoMarrao será muitas cousas, masnom um mentireiro. nom pretendeenganar ninguém. Ao contrário queo resto dos candidatos, ele declaradesde um princípio o seu nulo inte-resse polo bem comum, a prosperi-dade e toda essa mangachada dehipocrisias que enchem os progra-mas eleitorais habituais". O inte-resse egoísta e anti-democráticonom foi em nengum momento,porém, obstáculo para recabar osapoios dos sectores mais críticos daUniversidade de Santiago de Com-postela, quem -conscientes de queestes valores subjaziam implicita-mente também nas outras candida-turas- soubérom apreciar a sinceri-dade do cocho.A campanha de Dom CelidónioCocho Marrao, em cujo currículo

constam títulos da importáncia deCatedrático de Ciências do Untopola Real Universidade espanholada Corte e o Cortelho ou DoutorFedoris Causa pola universidade doBandulho, desenvolveu-se duranteduas semanas sob a legenda "Umcocho por outro. vota Celidónio!".Além de percorrer a prática totali-dade das faculdades do campuscompostelano repartindo a suaprópria propaganda eleitoral -sobrea que a Reitoria ditou umha ordemde retirada, ao considerá-la "ofensi-va" para com os outros dous can-didatos- Celidónio Cocho Marraoculminou a sua campanha cumgrande comício eleitoral na facul-dade de Arte, Geografia e História,ao que assistírom mais de 150 pes-soas. Ao longo deste comício,importantes representaçons do OpusDei, a Guarda Civil, o PartidoPopular, a tuna e o folclore espanholamostrárom o seu apoio à campanhado marrao.A campanha de Dom Celidónio, quefinalmente foi capaz de atingir pertodos 700 votos, foi apoiada e susten-tada por organizaçons estudantiscríticas com o processo eleitoral,como AGIR ou a recém constituídaMARE.

A candidatura dum porcoà Reitoria da USC recebe674 votos do estudantado

As eleiçons ao Claustro da Universidade de Santiago deCompostela (USC) contárom com um candidato imprevisto.

Celedónio Cocho Marrao chegou a ser o preferido emalgumhas faculdades

Cada dous meses estamos nas tuas maos, igual que tu mais de 4000pessoas recebem informaçom através de NOVAS DA GALIZA.Consideramo-nos um organismo vivo, que evolui e cresce número anúmero como proposta alternativa de comunicaçom.A nossa prioridade é ter a máxima difussom possível, por isso contamoscom umha rede de voluntariado que nos distribui por todo o país.Conforma tu também esta rede. pom-te em contacto com nós e solici-ta o número de exemplares a distribuir na tua zona.

A nossa aposta informativa e o compromisso cultural tem um comple-mento no compromisso económico. Nom devemos permitir que se pa-ralisem ideias e iniciativas por esse motivo. Este projecto colectivonecessita portanto de contribuintes que o substentem. Animamos-vos aque cada quem assuma a colaboraçom económica como mais umha fa-ceta do seu apoio.Domicília o teu contributo e farás parte do grupo de colaboradores ecolaboradoras que recebem NOVAS DA GALIZA na sua morada, alémde ser os primeiros em conhecer os seus conteúdos, com certeza rece-berás mais dumha surpresa.

O teucompromisso

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12 euros

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9notíciasJunho - Julho 2002novas da galiza

Foi dito..."Sharon é um homem de paz"

George Bush, presidente dos USA, 19 de Abril

"A ella le gusta preparar buenos pescados. Mis hijos y yo estamos de acuerdo:

como la comida de casa no hay ninguna"Domingo do Campo Amoedo,

Reitor da Universidade de Vigo, 22 de Abril

"A mí me salen muy ricos los caracoles picantes" Senén Barro, Reitor da Universidade de Compostela, 6 de Maio

"Tenho o coraçom partido" Afirmaçom atribuída a Encarna Outeiro por La Voz de Galicia

no 25 de Abril, ante a proximidade da X Assembleia Nacional do BNG

"Nunca deixei de estar em primeira linha"Cacharro Pardo, presidente da Deputaçom de Lugo,

no 29 de Abril, antes do congresso provincial do PP.

"No va a entrar una muñeca en casa, pero vamos a tener muchos balones"

Iñaki Urdangarin, ex-jogador de andebol casado com umha das infantasreais ante o nascimento do seu terceiro filho, no 1 de Maio

"Aznar é um fascista chamemos-lo polo seu nome:fascista", "Disse 'fascista', mas talvez deveria

chama-lo 'falangista', ainda que este movimento eraum movimento demasiado nobre, enquanto que

Aznar tem fedor de caserna marroquina de Franco" Francesco Cossiga, presidente emérito da República italiana, após

Aznar riscar de “perversom moral e intelectual” a pastoral dos bispos bascos. Periódico “Il Nuovo”, 6 de Junho.

"Los vecinos de Santiago son los españoles que más se cepillan los dientes"

Titular de La Voz de Galicia, 25 de Abril

"Los niños saharauis crecen y engordan en Santiago"

Titular de El Correo Gallego, 16 de Maio

"Yo conocí una Galicia con muchos niños y muchos y buenos curas"

Fraga Iribarne na recepçom dada em Compostela ao arcebispo de Madrid Rouco Varela no 25 de Abril

Redacçom

O passado 23 de Maio era detidoem Gasteiz o independentista ga-lego Alfredo Santos Conde. Se-gundo informaçons procedentesde fontes policiais difundidas porvárias agências, Santos Condeteria sido capturado trás anos depesquisas policiais relacionadascom a sua suposta participaçom navoadura com explosivos do chaléparticular de Manuel Fraga em 27de Maio de 1988, acçom que rei-vindicara o Exército Guerrilheirodo Povo Galego Ceive (EGPGC).O independentista encontra-se naactualidade encarcerado na prisomde Langraitz.Fontes próximas ao preso galegoàs que acedeu este periódico re-velárom umha crónica dos factossubstancialmente distinta da emi-tida polas agências: Santos Condejá fora detido em Maio de 1988como consequência da sua vincu-laçom com o EGPGC junto a setecompanheiros mais. Torturado eencarcerado naquela altura, cum-priu dous anos de prisom até serposto em liberdade em 1990 poresgotarem-se os prazos legais deprisom provisória. Em 1991 San-tos Conde era julgado na Audiên-cia Nacional espanhola e condena-do a seis anos de prisom porcolaboraçom com banda armada,sentença que recorreu e que nomfoi confirmada até 1993. Para essemomento, o independentista emi-grara a Euskal Herria, onde faziaumha vida absolutamente públicasendo facilmente localizável, semque até o passado 23 de Maio,nove anos depois da emissom desentença em firme, lhe fossecomunicada a ordem de ingressoem prisom.Frente as infomaçons aparecidasnos meios de difusom, quegavárom a perícia policial polacaptura do "perigoso terroristafugido", há que sinalar queAlfredo Santos Conde era loca-lizável permanentemente no seudomicílio particular ou posto detrabalho habituais. Igualmente éinexacta a vinculaçom do inde-pendentista com a voadura dochalé de Manuel Fraga Iribarne,facto do que nom está acusado nosumário polo que se lhe encarcera.Diversas organizaçons indepen-dentistas galegas, entre elas NÓS-Unidade Popular e a Assembleiada Mocidade Independentista(AMI), emitírom comunicados dedenúncia da montagem mediático-policial e reivindicárom a liber-dade de Alfredo Santos Conde,sinalando este processo repressivocomo um outro mais na campanhade criminalizaçom do MLNG.Também o portal galizalivre.orgdesenvolveu um intenso labor deinformaçom e solidariedade.

Detido emEuskádi ogalego AlfredoSantos Conde

Centos de pessoas manifestam-se em Santiagocontra a reforma da Lei de Partidos Políticos

Redacçom

Perto de médio milhar de pessoassecundárom a convocatória dasorganizaçons AGIR, AMI, ERVA,"Francisco Villamil", FPG,MARE, MNG, NÓS-UP ePrimeira Linha contra Lei dePartidos Políticos. A manifes-taçom, que tivo lugar o passadodia 15 de Junho, percorreu as ruasda cidade sob a legenda "Galizapola liberdade e a democracia.

Paremos o fascismo. Contra a Leide Partidos Políticos".O comunicado final da mobiliza-çom, ao que deu leitura o poetaRafa Vilhar, incidiu no carácteranti-democrático da reformaimpulsionada polo PP e o PSOE,declarando que " a nova Lei dePartidos, de aplicaçom potencialem qualquer dos territórios doEstado Espanhol, representa anegaçom mais descarada dademocracia formal e das liber-

dades políticas que dizem funda-mentar o Estado de Direito. Nomé exagerar dizermos que é a ante-sala do fascismo. A exigência depleno acatamento do quadro con-stitucional e assunçom das suasfronteiras (a opressom nacional, amonarquia, o capitalismo) ou aobriga de potencializar e defendera normalidade institucional e apaz social, constituem cláusulascom um evidente sesgo políticopara umha lei que se nom situa

apenas frente o independentismo,senom também frente um amploabano de organizaçons comu-nistas, anarquistas, ambientalis-tas radicais, nacionalistas mode-radas, feministas, republicanas,sindicatos de classe e um longoetcétera de movimentos comba-tivos e anti-sistema".A manifestaçom nacional desen-volveu-se frente um consideráveldispositivo policial, embora nomse registárom incidentes.

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10 Dia das Letras Junho - Julho 2002 novas da galiza

Miguel Garcia

Gerardo, Nerea , Júlia, Paco e Adelaida som cinco galegos e galegas de idades elugares diferentes. Para nengum deles este Dia das Letras foi um dia corrente;desde diferentes perspectivas, situaçons e histórias particulares, a celebraçomdo17 de Maio por parte destas cinco pessoas achega-nos aos actos convocadospara o efecto polas diferentes organizaçons normalizadoras, e exemplifica asdiferentes expectativas, reacçons e ilusons com que a sociedade galegófonaenfrenta a encruzilhada em que se acha o nosso idioma.

Às doze do meio-dia do 17de Maio, o Gerardo estavapronto na Alameda de

Compostela. "O Dia das Letrasnom é para ficar na casa vendo os

especiais da TVG", di-nos convencido; "oidioma defende-se saindo à rua". OGerardo volveu fazê-lo neste ano assistin-do à multitudinária manifestaçom quetradicionalmente convocam a MESA ediferentes organizaçons nacionalistas daórbita do BNG. Acompanhou-no a Nerea,a meninha de 7 anos deste trabalhadorsocial de Fene que nom acaba de com-preender "que é o que temos que fazerpara contrarrestar umha força social tampoderosa como para conseguir que umharapariga que na vida ouviu na casa outracousa que galego, seja obstinadamentemonolíngüe em espanhol". Se calharporque casos como o de Nerea som cadavez mais freqüentes, a manifestaçom doDia das Letras deste ano quijo incidir naimportáncia estratégica que o ensino temactualmente como factor espanholizador,e potencialmente como elementogaleguizador. As organizaçons de defesada língua denunciam que o EnsinoPrimário está a se converter numha dasforças des-normalizadoras mais selvagensdo país, e nom entendem que a própriaConselharia de Educaçom poda recon-hecer que o Decreto 247/1995 (que regu-lamenta a obrigatoriedade do emprego dogalego nos diferentes níveis de ensinonom universitário) é incumprido em46,3% dos casos no Ensino Médio, e con-tinue sem tomar medidas drásticas aorespeito. Mais, se cabe, quando um estudo

recente da CIG vem de pôr demanifesto que o incumprimentoreal multiplica o reconhecidooficialmente pola Conselhariade Celso Currás.A manifestaçom nacional queeste 17 de Maio voltou areunir milhares de pessoas emCompostela foi encabeçadapor umha faixa portada porcrianças, exigindo que "nomlhes espezinhem a língua".À Nerea deu-lhe vergonhasujeitá-la: havia muitodesconhecido, e demasia-dos meios de comuni-caçom à volta. A miúdacaminhou e berrou acarom dos mani-festantes e, à altura da Rua doHórreo, falou ao seu pai emgalego para lhe dizer queestava cansa. "Actos comoeste som um reforço impres-sionante para um neno -comenta Gerardo enquantosobe a Nerea aos seusombros- O melhor ali-ciente que se pode terpara falar um idioma éver-se rodeado dereforços positivos e deiguais que o falamcom segurança e nor-malidade. Tenho acerteza de que, como aminha filha, umhagrande parte destas cri-anças falam espanhol naescola.".

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formas de viver o3 Dia das LetrasDia das Letras

A Júlia é de Ponte-Vedra, masestuda Pedagogia em Santiago.Tem por costume assistir no Diadas Letras aos actos que a as-sociaçom reintegracionista NHcelebra tradicionalmente na suacidade, mas neste ano ficou emCompostela, coincidindo com acelebraçom da festa que serviude apresentaçom da recém cons-tituída Assembleia da Língua. AJúlia tem 19 anos e, como futurapedagoga, está profundamentepreocupada pola situaçom dogalego no ensino; porém, nomsecundou a convocatória damanifestaçom que partia daAlameda enquanto ela ajudava amontar um balcom de cerveja naPraça de Maçarelos. "Nom é quediscrepe dos motivos da mobi-lizaçom, senom que ano apósano essa vem sendo umha con-vocatória sectária. Tanto as orga-

nizaçons reinte-g r a c i o n i s t a squanto numerososcolectivos políticos e sociais quedefendem o idioma som sistem-aticamente excluídos da convo-catória.".Ainda que o tempo nom estavapara festas, a Júlia estivo emMaçarelos desde o meio-dia atébem entrada a noite. A organiza-çom, previsora, dispujo umhacarpa sobre todo o espaço dafesta e o cenário das actuaçons.Nom foi possível celebrar,porém, o carnavalesco com quese tinha previsto abrir a festa,mas abaixo da carpa nomfaltárom actividades alternativas:jogos populares, comida e bebida, postos de venda de livros ematerial diverso, gaitas e pan-deiretas, matraquilhos, conta-contos, poesia e, finalmente, um

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11Dia das LetrasJunho - Julho 2002novas da galiza

Paco é de Veiga deEspinhareda, e tra-balha como guarda

florestal nos Ancaresbercianos. Fala galego

desde neno numha regiom do paísem que o idioma se está a perder aum ritmo ainda mais vertiginosodo que na ComunidadeAutónoma. Tem 38 anos enengum filho, "ainda que gostariade ter algum, mesmo que fossepolo prazer e o acto de rebeldia deeducá-lo em galego".Este Dia das Letras quadrou nasexta-feira, polo que Paco nompudo deslocar-se até Compostela."Mas o de este ano sim que era umDia das Letras para ficar noBerço". A dedicaçom do 17 deMaio a Frei Martinho Sarmientofoi vivido como umha pequenavitória polos galeguistas bercianosque, como ele, levam anos dese-jando e reivindicando que esteseja também um dia de cele-braçom e reivindicaçom nos ter-ritórios galegos excluídos poloEstatuto. Por diferentes razons,Paco tampouco pudo achegar-se odia 18 a Vila Franca e assistir aosactos institucionais organizadospola RAG; mas sim estivo lá no19, a participar no ambicioso fes-tival que, sob a legenda "Pola lín-

gua que nos une", dez colectivosrelacionados com a defesa doidioma aquém e além da fronteiraautonómica organizárom na vilanatal de Sarmiento. Possivelmente para Paco, comopara tantos bercianos desejosos deque a sua galeguidade poda serafirmada, reconhecida e respeita-da, a assistência relativamentefraca ao Festival músico-poéticonom foi senom umha notasecundária. É certo que aguardavaque da comunidade autónomachegassem algo mais das cinqüen-ta pessoas trazidas num autocarrofretado de graça polas organiza-çons, e que o gesto de ligeiradecepçom foi manifesto quandoalguém procurou explicar aresposta tímida dada à convo-catória por parte de amplos sec-tores normalizadores afirmandoque "bastante gente marchou aofestival de solidariedade comCuba que havia em Madrid". Maseste ligeiro desgosto nom tivocomparaçom com a emoçom dever a praça de Vila Franca "toma-da" polo galego. Nem com a sur-presa de ver lá, bailando ao somda gaita e expressando-se emgalego, a mestra da infáncia, DonaAdelaida, quem 30 anos atrásensinara a Paco o castelhano.

concerto que se prolongou, fôromo reclamo para os centos de pes-soas que ao longo de todo o diaparticipárom desta Festa daLíngua. Como os da Júlia, os argumentosda maioria dos presentes bas-culárom sem dificuldade entre ocompromisso e a diversom.Quando, no meio-dia, a encon-tráramos ajudando na montagem ena decoraçom do recinto da festa,a estudante insistia na importánciae no significado da aposta lançadapola Assembleia da Língua: "Eunom som umha militante da lín-gua nem de nada, por isso em dias

como hoje gosto de botar umhamao onde melhor me pareça. O daAssembleia da Língua parece-meum projecto ilusionante, ecomeçar com um festival destecalibre é toda umha declaraçomde intençons. A ver se desta vez écerto que o reintegracionismo seune todo". Quando já nos retiráva-mos, contra as duas da madruga-da, Júlia ficava dando brincosfrente ao cenário: "Cansaço? EuSkárnio nom o perdo por nada!Olha que ambiente, este Dia dasLetras sim vai ser difícil de esque-cer! A nossa língua é mundial!!".

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12 reportagem Junho - Julho 2002 novas da galiza

reportagem

Os motivospara umha

Marta Salgueiro

“Galiza contra a reforma”. “Poloemprego e a proteçom social”.Sob este epígrafe, o país secunda agreve deste 20 de Junho. Umhagreve na qual já se tenhem denun-ciado a pressom a que estiveromsometidos alguns trabalhadores etrabalhadoras. Em Ourense, nopolígono de San Cibrao de Vinhas,a Guardia Civil perguntava nasempresas quem ia secundar agreve deste de 20-J. Noutrasempresas galegas os empresáriosdirigiam-se ao pessoal laboraldesacreditando a convocatória.Umha convocatoria para a qual jáse solicitou o amparo do Valedordo Povo com a intençom de que aAdministraçom nom empregue osserviços mínimos como arma con-tra a greve e nom se produzamsituaçons como as denunciadasno 15-J de serviços mínimosabusivos.As medidas impostas polo gover-no através de decreto som consi-deradas polas centrais sindicaisgalegas como um pacote laboral esocial que sob a ideologia neoli-beral imperante na Europa dis-porám o desmantelamento dosdireitos sociais e laborais. A eliminaçom da prestaçom dodesemprego para as pessoas con-sideradas como fixas discontínuasatinge na Galiza a muitos sectoresfundamentais da nossa economia:desde as conserveiras e o trans-porte até também a hotelaria, ostrabalhos florestais, a limpeza ouos serviços escolares. Milhares detrabalhadores e trabalhadorasgalegas que estivérom primeiroluitando para que fossem consi-derados trabalhadores fixos dis-

As centrais sindicais galegas CIG e CUT secun-dam a greve geral deste 20 de junho sob criteriosdistintos. A CIG valoriza a unidade sindical, naspalavras do seu secretário geral Suso Seixo,como muito positiva. As políticas de reformasneoliberais do Partido Popular precisam dumharesposta maioritária. Nisso é que fundamentam a

convocatória de greve com CCOO e UGT. SusoSeixo mantém que o papel fundamental da cen-tral sindical nacionalista será informr nasempresas e contribuir para a campanha que

implica a aposta “das três centrais sindicaisconvocantes”. Da Central Unitaria de Traballadores, Paco

Sébio indica que pretendem servir de “cata-lizador da unidade de classe”. Confluem numhamesma data, numha mesma convocatória, mascom postulados e propostas distintas. Os doussindicalistas lembram a greve galega do passado15 de junho.

greve geral

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13reportagemJunho - Julho 2002novas da galiza

contínuos em lugar de eventuais eque agora se verám seriamenteprejudicados polas novas medi-das. No país, o desemprego femi-nino duplica o masculino e os sec-tores antes mencionados estámformados basicamente por trabal-hadoras. Umha circustáncia queterá especial incidencia negativano emprego femenino e na pro-tecçom social das trabalhadoras.O desemprego em Galiza é umproblema da mocidade, ainda queseja entre os maiores de 45 anosque se dam as situaçons maisextremas dum punto de vistasocial. A percentagem do desem-prego entre as mulheres duplica ados homens. A Lei Basica do Emprego esta-belece as obrigas e sançons aostrabalhadores e às trabalhadorasdesempregadas, mas nada se dinela para vigiar que as empresasnom cometam fraude nas con-trataçons.

O papel das centrais sindicais galegas

Num país em que a filiaçom sindi-cal está um pouco por cima de 7%,nengumha cental sindical podeerigir-se como representativa daclasse obreira. Esta é a argumen-taçom da CUT, que acode à con-vocatoria de greve no mesmo diaque a estatal porque considerou“suicida” umha data em solitáriocomo acontece em Euskádi. Acentral considera que a greve éumha demonstraçom de que omovimento dos trabalhadoras etrabalhadores continua vivo.Acusa também os sindicatos insti-tucionais de ter dado fôlegos àdireita para impor umha políticade eliminaçom dos direitos con-quistados.A CIG acha que o seu papel deveser o de mobilizaçom, nomeada-mente naquelas empresas onde acentral sindical tem a maioria.Esta central considera que depoisdo demonstrado na anterior con-vocatoria do 15 de junho passado,luitarám porque esta greve sejarealmente importante.

5 motivos paraa greve geraldo 20 de Junho

Fixos discontínuos: elimina-se o direito a desemprego (nesta situaçom estám milhares de trabalhadoras e trabalhadores por exemplo das conserveiras)

Emigrantes retornados: Elimina-se o pagamento único. Assim, agora o que se pretende é subsidiarmensalmente as quotas da Segurança Social daqueles beneficiários de prestaçons contributivas queformarem umha cooperativa. Os emigrantes retornados necessitarám seis anos de cotizaçom frenteaos seis meses estabelecidos agora.

Emprego adequado: considera-se adequada qualquer oferta de emprego se a actividade ofertadafoi desenvolvida durante mais de 6 meses ou foi a última que realizou a pessoa desempregada.Também qualquer outra que se ajustar às aptitudes físicas e formativas. A distáncia nom é impedi-mento se a oferta estiver num raio inferior a 30 quilometros ou nom superar as três horas de deslo-camento e nom supuger o gasto superior a 20% do salário neto. Nom aceitar por três ocasions umemprego que o INEM connsiderar adequado será motivo de suspensom das suas ajudas.

Despedimento fácil e barato: diminui o dinheiro da indemnizaçom por despedimento e o dinheirode cotizaçom. Suprimem-se os chamados salários ee tramitaçom

Desequilíbrio territorial e emigraçom: Os critérios territoriais para a definiçom do que é umemprego adequado incidem de forma especialmente negativa no nosso país. Dumha banda, poten-cializará o processo de despovoamento que já estám a sofrer aquelas zonas do interior economica-mente mais deprimidas. Doutra, obrigará à emigraçom ao estrangeiro a muitas pessoas que moram amenos de duas horas de Espanha

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A CIG julga que o decretoaprovado polo governo vemengrossar um pacote antissocialcom um recorte de dereitos quese assanha com aquelas perssoasque estám em pior situaçom.Suso Seixo, secretário confederalda CIG, valorizou para NGZ aunidade sindical como “positiva”sempre que exista umha respostacoerente a política neoliberalimposta polo Governo espanhol.

Depois da greve de 15 de Junho,onde centrará a CIG o trabalhonesta convocatória estatal?O nosso papel será fundamental-mente informar nas empresas econtribuir para a campanha deinformaçom que implica a convo-

catória das três centrais. Naquelasempresas onde a CIG tem maioria,trabalhará por umha respostamaioritaria a greve. Depois dodemonstrado na anterior convo-catória do 15 de Junho do passadoano onde se conseguiu umhaimportante resposta tentaremosque nesta greve seja realmenteimportante.

Qual é a medida que salientaria aCIG como a mais prejudicialpara os trabalhadores e as tra-balhadoras na Galiza?Além da eliminaçom dos salariosde tramitaçom, que afectarámmuito aos trabalhadores e trabal-hadoras vítimas de despedimentosimprocedentes, talvez a mais

importante seja a perda da presta-çom dos fixos discontínuos. Por-que som muitos os sectores atingi-dos no país. Desde as conservas, oensino, os comedores ou a limp-eza. Evidentemente todas as medi-das afectam fortemente de formaprejucial, mas se houvesse que sa-lientar umha, a perda da prestaçompara estos trabalhadores e trabal-hadoras influirá especialmente.

Como valoriza a convocatóriaconjunta com UGT e CCOO?A unidade sindical valorizamo-la

muito positivamente. As políticasde reformas neoliberais do PartidoPopular requerem umha respostaampla. E esta unidade tem queservir para que essa resposta seja

maioritária. Sempre que haja umharesposta coerente à política neoli-beral do Partido Popular, a CIGavaliará a unidade sindical comoalgo positivo.Servirá a convocatória de grevepara serem retiradas as medidasda reforma do desemprego?Essa é a nossa intençom, mas nomse sabe qual vai ser a resposta.Também temos claro que a pre-potência ditatorial do PartidoPopular pode impedir a retiradadestas medidas. Se existisse umgoverno com sensibilidadedemocrática, ante a resposta dostrabalhadores e trabalhadoras queeu creio vai ser massiva, pensariamna reforma.

“Sempre que haja umha resposta coerente à política do PP, a CIG valorizará como postiva a unidade sindical”

Suso Seixo, secretário confederalda CIG

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14 reportagem Junho - Julho 2002 novas da galiza

A CUT descartou finalmente aconvocatória da greve numhadata distinta a estabelecida porCCOO, UGT, CIG.Estivemos a analizar umha con-vocatoria diferente, mas conside-ramos bastante suicida esta cir-cunstáncia. Assim que confluímosnumha data, numha mesma con-vocatória, mas com postulados epropostas distintas. A reforma dodesemprego nom é mais do queumha volta de porca contra osdereitos das trabalhadoras e tra-balhadores. Mas também há queter em conta os antecedentescomo a greve de 15 de Junho con-tra a reforma laboral. E cumprelevar em conta também a políticadas centrais sindicais, porquealguém deu fôlegos à dereita paraimpor umha política de elimi-naçom dos deritos conquistados.

Como valorizades o papel joga-do por CCOO,UGT e CIG ?A greve é umha arma muitoperigosa. CCOO, UGT e CIG ten-hem esta arma como muitoperigosa. O decreto do desem-prego é um passo qualitativo naerosom dos nossos dereitos.Incluso o chefe dos patrons,Cuevas, dixo que isto senta umprecedente. Durante muito tempo,a política foi a argalhada entre oschamados agentes sociais,patronato e governo. Ante a ofen-siva insitucional, os sindicatos

estatais correm o risco de nomserem ninguém, umha vez quenem sequer os chamam para asnegociaçons. Umhas centraissindicais que alimentáron a vis-cosa massa burocrática de vadios.E a quem nom resta outra alterna-tiva mais do que convocar agreve. Mas é umha arma perigosa,como dizia antes, porque aliástenhem que controlar o movimen-to, já que as trabalhadoras e ostrabalhadores nom agüentavammais. Quer dizer, de um lado ten-hem que convocar a greve porquea classe trabalhadora nom aturavamais, mas além disso tenhem quecontrolá-lo. A CUT, que é umhacentral com aspiraçons assem-bleares, está fora desse movimen-to espartilhado. A greve é umhalibertaçom, umha demonstraçomde que o movimento das trabal-hadoras e trabalhadores continuavivo. Enquanto houver batalha,continua vivo. Se nom houverpeleja, está perdido. A CUT con-corre numha mesma data, mas saià rua questionando os que es-tivérom avalizando esta política.

Quais som os aspectos funda-mentais da greve num paíscomo o nosso?Os mesmos que os do EstadoEspanhol em geral. Eviden-temente, num país como o nosso,em que temos as taxas mais ele-vadas de desempregados e desem-

pregadas, com maior incidência.A reforma laboral afecta máis láonde menos possibilidades dedesenvolvimento e menos estabi-lidade laboral houver. E esse é onosso caso. O Partido Popularestá tomando como modelo deSistema de prestaçom social omais precário de toda a Europa.Os países onde menos desem-prego há, como Inglaterra, som osque maior prestaçom social damtambém. O PP trata as trabalhado-ras e os trabalhadores como vadi-os, mentirosos e defraudadores.

Qual será o papel da CUT nagreve?A CUT pretende servir de cata-lizador da unidade de classe. Aunidade da classe trabalhadoragalega. Umha posiçom quedemonstra todos os dias por cimadas siglas. Os sindicatos institu-cionais vivem dos subsídios. Oelemento número um é a políticalaboral do PP, mas também doscorpos sindicais, dos profissio-nais, dos sindicatos cobrando dosfundos do Estado. Num país comoeste, em que a filiaçom nom ultra-passa os 7% já nom se pode dizerque representam a massa dos tra-balhadores e trabalhadoras. Nomregatearemos esforços polaunidade e a resposta que necessitaa classe trabalhadora.

*CIG e UGT convocam a greve na Galiza contra o pacto das pensons

*CCOO permanece na retaguardaa e em muitas empresas boicota a greve

*Suso Seixo e Xesús Mosquera denunciavam a atitude de CCOO por ir a reboque dos interesses do PP e da patronal

*A greve obtém resposta massiva só nos grandes centros industriais

*Cándido Méndez e Suxo Seixo salientam o êxito da greve. O secretário geral daUGT manda aviso a CCOO para recuperarem “a unidade sindical”.

*100.000 pessoas manifestam-se nas cidades galegas. O PSOE desmarca-se da convocatória e nom acode às mobilizaçons.

*Número de manifestantes há um ano:

Vigo:50.000Corunha:10.000Ferrol:7.000Ponte-vedra:6.000

Santiago:5.000Ourense:4,000Lugo: 2,500Vila-Garcia:2.000

O precedente: 15-06-01

“Cumpre sair à rua e contestar,mas também questionar os que

avalizárom os passos qualitativosna erosom dos nossos dereitos”

Francisco Sébio,dirigente da CUT

Quando há greve, nom deve haver folga

Maurício Castro

Campos Léxicos

Aproveitando que temos à nossa frente umha nova greve geral, nom virámal repassarmos brevemente alguns termos próprios do campo semánti-co político-sindical, corrigindo a abundante degradaçom lingüística comque o espanhol nos abafa.

Comecemos por explicar a afirmaçom do título: quando há greve, nomdeve haver folga. O referente extralingüístico da interrupçom do trabal-ho como acçom de força da classe trabalhadora nom existia, com a suadimensom moderna, na Galiza tradicional. Tampouco em Portugal e noBrasil, onde se adoptou o galicismo greve para etiquetar o referido con-ceito. Em Espanha, como sabemos, optou-se por habilitar semantica-mente o termo patrimonial huelga, algo que os países lusófonosevitárom para assim manter a distinçom entre a tradicional folga e amoderna greve. Em Portugal, no Brasil e na Galiza, a folga mantinhae mantém pleno vigor como sinónimo de descanso. Dado que a grevenom se caracteriza, ou nom deve caracterizar-se, polo desafogo e o lazer,o nosso idioma, ao contrário do que o dos nossos vizinhos, coloca a cadaacçom a etiqueta que corresponde. Deveremos, portanto, reservar a folgapara denominar os domingos e dias feriados ou, em geral, os dias em quenom nos corresponde trabalhar. Quer dizer, o dia de folga é aquele emque folgamos, correspondendo-se com o que os espanhóis denominamlibrar ou descansar (día de descanso). Reconhecendo a opçom lusistaque greve implica, achamo-la indispensável se quigermos evitar oespanholismo semántico (nom lexical) que implicaria a escolha de folganesse mesmo contexto. De normalizar-se, a folga referida ao conflitolaboral provavelmente implicasse a perda das acepçons patrimoniais queacabamos de explicar, algo que em boa parte já está a acontecer entre agente nova. Além do dito, é evidente que desta maneira favorecemos aharmonizaçom com as outras variantes do galego faladas no mundo,argumento de peso de umha óptica reintegracionista como a que defen-demos. Seguro que agora se compreenderá por quê começamos afir-mando que, quando há greve, nom deve haver folga.

Em relaçom com a greve, apontamos umha palavra derivada e umhaoutra composta, como som grevista (quem promove ou participa nagreve) e fura-greves (trabalhadora ou trabalhador que se enfrenta aosseus companheiros e recusa participar na greve). Os piquetes, em queparticipam operários e operárias normalmente filiados aos sindicatos,encarregam-se de evitar o boicote de patrons, fura-greves e polícias. Acamaradagem no seio do piquete serve para que a classe obreira, aclasse operária, afirme a sua unidade durante a jornada de luita que re-presenta a greve. Graves problemas laborais, como a massa de desem-pregados e desempregadas que engrossam a estatística do desemprego(paro é um espanholismo, parado/a também), ou o aumento dos contra-tos a prazo e, em geral, o trabalho precário, bem como as dificuldadescrescentes para aceder à protecçom da segurança social, costumam an-dar por trás de convocatórias como a actual. Claro que o patronato (or-ganismo que agrupa patrons e empresários) prefere falar de “flexibili-dade laboral e racionalidade económica”, para denominar a exploraçomlaboral nua e crua que implica a nova vaga neoliberal que vivemos. Por último, e para além do léxico, apontamos dous traços morfo-sintác-ticos caracterizadores da nossa língua que podem ser generalizados apartir destas mesmas linhas:

- Ao contrário do que se fai em espanhol, em galego nom devemosempregar a preposiçom a antes de objecto directo referido a pessoas:“O patronato agrupa patrons e empresários”, e nom ”O patronato agrupaa patrons e a empresários”

- Reparemos nos infinitivos pessoais que podemos ler nesta página ounoutras deste mesmo jornal. Como critério geral, o infinitivo galegoconjuga-se sempre que o seu sujeito nom coincidir com o do verboprincipal. Assim, temos: “nom virá mal repassarmos...”; “Para con-cluirmos, reparem nalguns traços...”. Neste segundo caso, à regracomentada une-se a tendência do infinitivo que aparece antes doverbo principal a ser conjugado, nomeadamente se antes vai umhapreposiçom, como acontece no último exemplo.

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Impóluto, honorável e bem bar-beado. O fiscal entra no seuescritório e esquiva, um a um, osexpedientes que se amontoampor toda a dependência. Pontual,educado e afável.A sua cavalheirosidade e alturade olhares ficou demonstrada,mais umha vez, uns minutosantes, ao deixar sari do elevador,cedendo-lhes a passagem, duasfuncionárias que, aliás, sominterinas em postos de nívelmínimo. Jurista, gastrónomo edefensor meticuloso da legis-laçom apostólica e románica. Docadeirom, domina toda a están-cia, tem-no na posiçom maiselevada, justo para ter umhavisom em picado de todos aque-les feixes a amontoarem desdetempos imemoriais sob a juris-

diçom da fiscalia. Cafeinómano,coleccionista de incunábulos emediano perito em Riojas.É tempo de pôr-se a trabalhar. Afazer justiça. Será que hoje é avez do Frei Rosendo Salvado,confesso introdutor das se-mentes do eucalipto que tantomal tenhem feito? Será o turnodo Filgueira, acusado de serresponsável da instalaçom daCelulose na Ria de Ponte-Vedra? Se calhar tem quecomeçar polo Ramom CoresOtero, presidente da comissomcidadá que promoveu nomearcomo del Caudillo a cidade deFerrol, com o novo código penalentra bem no terreno da apolo-gia do terrorismo. Ainda quepior é o delito de feísmo cometi-do por aquele ministro de

Franco, Fernández de la Mora,que deixou em doaçom, ao Mu-seu de Ponte-Vedra, umha maça-dora colecçom de salvas e enfei-tes de prata que os e as visitantesdo lugar tenhem que aturar, dis-simulando a antipatia por ter ohomem este o atenuante de pro-jectar o Plano de Acessos àGaliza, que tantos madrilenosfijo chegar às nossas praias.O fiscal fai umha bolinha de pa-pel e atira-a ao chou. Ergue-securioso e vai ver onde é quecaiu. Vamos lá ver. Um talCuinha Crespo, José. Natural deLalim. Fi-lho de... nom continu-ou a ler. Fechou a pasta,primeira dum vo-lumoso expe-diente, e sentenciou: O lança-mento nom é válido, este é dosnossos e ainda nom morreu.

O bom fiscal

15opiniomJunho - Julho 2002novas da galiza

opiniom

.Chomsky nas alturasCarlos Taibo

Que é o que celebram?

Joám Carlos Ánsia

Jorge PaçosA FENDA

O leitor que der uma olhadela àslistas de livros de ensaio mais ven-didos em todo o mundo ocidentaldescobrirá de contado que emtodas elas, e amiúde em lugarprominente, aparece o texto queNoam Chomsky tem dedicado ao11 de Setembro e às suas conse-qüências. O feito de que um livroradicalmente crítico com a hege-monia norte-americana, e com omercado e as suas misérias,alcançasse semelhante sucessoilustra com claridade que entre noshá segmentos importantes depovoaçom, nom precisamentemarginais, que estám fartos de dis-cursos mediáticos monocordes,publicitárias ditaduras e omnipre-sentes lixos televisivos. Ainda que neste caso provavel-mente nom só se trata disso: esta-mos assistindo, antes bem, a umamutaçom na percepçom de factoscomplexos à respeito da que se fijovaler nas semanas posteriores aocitado 11 de Setembro. Entom oque ganhou foi, quase sem contes-taçom, o discurso oficial que,articulado nos Estados Unidos,nom duvidava em assinalar que oprincipal problema planetário erao terrorismo. Com o passar dotempo, porém, e em boa parte danossa opiniom pública, tem-seinstalado uma dupla percepçom:se de umha parte hoje som evi-dentes as simplificaçons queincorpora o discurso mencionado,da outra cada vez som mais sóli-dos os argumentos que convidam arecear da eficácia e da moralidadeda resposta militar desenvolvida.De resultas tem abrolhado comforça uma visom que sublinha queos Estados Unidos nom estám a

luitar, como parece, contra umhasuposta ou real ameaça terrorista.O seu objectivo é, polo contrário,o de sempre: aproveitar a situaçominternacional para asfixiar aindamais os que contestam a sua hege-monia. Assim os factos, e conforme estaemergente percepçom, cada vezsom mais, mesmo no ámbito dosmeios de incomunicaçom, os queaceitam de bom feitio o que nosdias imediatamente posteriores ao11 de Setembro teria produzidorápidas estigmatizaçons: a afir-maçom de que o principal proble-ma do mundo contemporáneo é apobreza, um fenómeno que comfreqüência é umha explicaçom derelevo quando chega o momen-to de relatar por que existe oterrorismo. Talvez o anterior é um dado deci-sivo para entender o que, noutrascircunstáncias, teria sido incom-preensível: a atitude aberta comque muitos meios de comuni-caçom tratárom o debatido, emJaneiro, no Foro Social de PortoAlegre. E é que cada vez som maisnumerosas as gentes, leitoras ounom de Chomsky, que percebemque, se o que demanda o ForoSocial pode, naturalmente, se dis-cutir, o que sustenhem os vozeirosde instáncias como o FondoMonetário, o Banco Mundial, aOrganizaçom Mundial doComércio ou o "grupo dos oito"merece cada vez menos creto. Aíestám, para o confirmar, os tresmil milhons de pobres que mal-vivem no planeta e tantos anos deoportunidades desaproveitadas.

Na Espanha democrática, opovo também é protagonista.Houvo alvoroço, auto-satis-façom escassamente comedida eum supostamente sao orgulhonacional pola esmagadora coin-cidência (ou consenso) diantedos meios frente o novo circomusical articulado desde umprograma chamado OperaciónTriunfo. Novos e velhos, neoli-berais e progres, meios amare-los, presuntos meios e meioscom altas pretensons intelectua-listas, lá estavam todos aaplaudir umha televisominteligente e um país virtual a sevolcar com humildes figuras saí-das do chao e convertidas polaengenharia mediática em símbo-los inocentes e vácuos dum mo-derno estado europeu.De pano de fundo, poucas vezeso poder afiara com tanto deleitee descaro as armas do submeti-mento, o despotismo torpe, aEspanha burda de sempre e opisoteio aos párias; disque somEuropa, presidem-na, e a maodura da direita explícita e obsce-na complementou-se com aresde festa e banhos de massas quetraziam um arrecendo de antes,fétido, que o moderníssimodesplegamento de altas tecnolo-gias nom dava ocultado. Algumingénuo –e ingénuo galego-aplaudiu a suposta heroínanacional, pois até era pessoapopular e pobre que mereciareconhecimento. Como se asocializaçom da miséria, o

encumbramento da ignoráncia eo aplauso do gregarismo idioti-zante fosse progresso, como se,por riba de ser a nossa umha cul-tura agónica e em crise, reduzidaa valioso património regionalpara o mercado, ainda tivesseque reconhecer umha exibiçomde chovinismo agressivo comtantos (e tam negros) prece-dentes. O discurso de sempredesceu do púlpito à televisom,das aulas a internet; substituiu avelha iconografia nacional-católica pola estética do vergon-zante JASP ou polo inocenteculto ao desporte, todo elo porobra e graça dumha mui pluralindústria mediática. Quijo gan-har frescura e inocência, dis-farçar de jogo a consigna, e

assim muito cidadao dança ecanta em rojigualda enquantodiz orgulhoso: a mi no me hablesde política.Nom é nada novo que a fachen-da dos espanhóis nas suas glóriasdesportivas, culturais e militaresse desinche aginha, pois bemsabemos que o mundo leva maisdum século sem reconhecer,soberbo, o que eles aportam. Daía ênfase quase histérica em le-vantar heróis nacionais de palha,chamem-se Camacho, Rosa ou,em versom ilustrada, CamiloJosé Cela, para ver se dumha vezvai e esse país que é materdolorosa (como vem de explici-tar um conhecido historiador)pom os factos à altura desmedidadas suas palavras.

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16 opiniom Junho - Julho 2002 novas da galiza

A discussom sobre o nome donosso país evidencia o máximograu de desidentificaçom históri-ca a que os galegos podíamos terchegado. Nom nos parece que sepoda invocar o argumento dapossível "galeguidade" originalda forma Galizia: "A terminación-cia é patrimonial na metadeoriental do galego (pacio, cansa-cio, andacio, etc.)"; o facto deexistir umha zona de Paço e outrade Paçio ou que vocábulos comoforça tenham variantes do tipo"forcia" ainda vivas em falaresactuais galegos nom nos permitecolocar no mesmo plano a formaGaliza, em que temos, inequivo-camente, a consoante sonora, quecorresponde ao resultado maispopular do cj/tj latino; estaria nomesmo plano do castelhanorazon, nom no de raçion, formaclaramente semiculta, que emgalego-português perde tambémo "i": raçom. Formas comopácio, cansácio, andácio alter-nam com paço, cansaço, andaço(com Ç), e estam no mesmo casoque raçom/raçion mas, quesaibamos, nom existem casos dealternância quando o resultado docj/tj latino é sonoro (Z), que surgeevidentemente em palavras maispopulares. O facto de que nomtenhamos uma explicaçom satis-fatória para a origem do /i/ deGaliza (a partir de Callaecia oesperável seria Caleza), nom nosautoriza a considerá-la palavrasemi-culta, sobretodo porque estasuposiçom nom explica o "Z". Opróprio fonema inicial é pro-blemático quanto sua justifi-caçom histórica; segundo assi-nala Menéndez Pidal "Gallaeciaen vez de Callaecia, sonorizaciónexplicable [tratamento de c- ini-cial como intervocálico porfonética sintáctica], aunque tam-bién pudo influir la analogia deGallia, como creen Hübner(Monum. Ling. Iber., 1893) yCarnoy (Le Latin D'Espagne,1906), o bien pudo influir la dis-

imilación, como prefiere Leite deVasconcelos (Liç es de Philo-logia, 1911)". O debate sobre onome da Galiza fai parte de outromais importante que tem a vercom o futuro do próprio país.Esse parece ser o verdadeiro dile-ma, perante o qual as questonsfilológicas som peccata minuta.Ninguém discute que Galiza sejaa forma original galego-por-tuguesa e a mais usada nos docu-mentos medievais redigidos nalíngua própria. Afonso X usasempre Galizia/Galliziaescrevendo em cas-telhano e sem-pre Gali-za em

g a l e -g o - p o r -tuguês. O queserá preciso discutiré a suposiçom de que ogalego-português tenha tidoumha situaçom "normal" naGaliza da Idade Média. Dependedo que se considera normal: sabe-mos que a nossa língua ficou sub-ordinada ao castelhano muitocedo. Os castelhanismos apare-cem nos documentos em quanti-dade crescente no final do perío-do: pessoa é subtituído por per-sona, testemunha por testigo, etc.Claro que o nome da Galiza, comuso institucional intenso, terásofrido a pressom castelha-nizadora desde o primeiromomento. Ainda que tivesse sidoautóctone numha área oriental

galega umha variante Galizia, oque é inverosímil, a sua expan-som até extinguir a forma origi-nal Galiza só pode dever-se aocastelhano. Hai castelhanismosobjectivos e subjectivos. O usoactual revela que quanto maisinstruído seja o falante maior é apreocupaçom por distinguir códi-gos: o espontáneo di carretera(=estrada) sem detectar a falta deum ditongo ei que revela, para oinstruído, a presença do castel-hanismo; do mesmo modo

aparece gasolinera na oralidade,mais é gasolineira a formapreferida polo falante culto. Apercepçom do locutor sobre o queé língua própria e o que é castel-hano está condicionada polo uso,mais nom é fiável, como é óbvio;para o locutor ingénuo pai é lín-gua própria, padre castelhano;tolo, língua própria, louco, formainventada (!!) -a partir do castel-hano- por alguém que nom sabiagalego; na consciência do utenteespontáneo lindo é palavra castel-

hana, mais nom som silla[cadeira], malo [mau]

ou carretera[estrada].

A per-

c e p ç o mvaria por áreas

geográficas, pois oque nalgumhas é queijo, ou

martelo, noutras é já "queso","martillo", formas usadas comopróprias. Buenos días, bueno,ojalá som fórmulas que o falanteespontáneo di naturalmente semmudar de código, mais um locu-tor instruído substitui-nas porBôs dias, "bueno" (aqui nom!),oxalá, no de língua própria. Aindiferença do locutor ingénuoperante os problemas da interferncia de códigos é absoluta; nomlhe importa se Bueno! se deve ounom deve dizer: só sabe que sedi; nom se preocupa de se é ounom é castelhano, mais é galego,porque se di. Isto sucede no

momento presente: é verosímilque tenha ocorrido de formamuito mais radical na IdadeMédia. O falante ingénuo podeaté pensar que chouriço é hiper-enxebrismo porque na sua terra oque se di é chorizo. Sabemos queaier nom é correcto, mais muitosnenos aprendem já aier comoforma "galega": sempre será umcastelhanismo objectivo, mesmose subjectivamente nom é. Voste-de ou vosté, ou o indefinido cal-quera som, na percepçom espon-tánea, formas próprias, mais somcastelhanismos decalcados deVuestra merced, e cualquieracomo demonstra o Prof. José Lu-ís Rodríguez. Ocorre que a fron-teira entre o que é galego e o queé castelhano tem que ser estabe-lecida com critérios objectivos,nom por sublimaçom da per-cepçom de fronteira que tem ofalante ingénuo. As línguasrecebem empréstimos, mais somelementos superficiais; quandoo empréstimo afecta o nome do

próprio país e da própria línguaataca o espaço simbólico; entomo que está em jogo já é a própriacondiçom de língua. A subordinaçom ao castelhano,embora seja antiga, nom pode sernormal, e os castelhanismos nompor an-cestrais deixam de sê-lo.Podem evitar-se todos? Talveznom, mais parece que o nomedo País deve fixar-se, irrenunci-avelmente, na forma própriagenuína e insuspeita. Ninguémreconhece ao castelhano direitode "paternidade" sobre a línguaprópria, os castelhanismos sópodem ser periféricos: se inva-dem a estrutura, o núcleo duro,nasce um crioulo, o que, nestee noutros casos, é o princí-pio do fim. Galiza é um lusismo? Exac-tamente igual que Deus, igre-ja, povo e outros termos res-taurados a partir da consciên-cia da unidade lingüística galego-portuguesa.

O nome da Galiza? GALIZAJúlio Diegues Gonçales

Júlio Diegues é professor de Filologia na USC

“O debate sobre onome da Galiza fai

parte de outromais importante

que tem a ver como futuro do

próprio país”

enderezo electrónico:[email protected] Rua Nóreas 5

Lugo

GZ

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17internacionalJunho - Julho 2002novas da galiza

J.Irazola. PARIS

Assistimos estes últimos dias aogrande circo eleitoral na França.Os inquéritos davam por feitoumha luita entre Jacques Chirac(dereita bem dereita) e LionelJospin (esquerda um bocadotorta) na carreira à presidênciada República Francesa.Encontramo-nos na segundavolta com Chirac, e um tal JeanMarie Le Pen (direitaextremadamente direita), xenó-fobo, totalitário, demagogo…Umha jóia !A França é a quinta economia domundo. A cultura do consumis-mo e o capitalismo puro e duroformam já parte dos valores dasociedade francesa. O pais de daRevoluçom e da Comuna, olhacomo os sindicatos perdempoder de vagar, como a esquerdase achega perigosamente ao"centro", adoptando de quandoem vez medidas populistas, parajustificar o nome de "esquerda" ,medidas com forma muito boni-ta mas vazias de conteúdo pelasua difícil ou quase impossívelaplicaçom.Logo de conhecer os resultadosda primeira volta das eleiçons,as ruas de París encherom-se degente com cartazes que amos-travam o lema "J'ai honte", estouavergonhado, traduzido aogalego.As portadas dos jornais france-ses foram muito significativas.O jornal de direitas "Le Figaro"escolhe como titular "Le seismeLe Pen", o sismo Le Pen. O"Libération", de esquerdas,amostra um simples "NON",com foto de Jean Marie Le Pende costas para pôr ambiente. Omundo inteiro tem um olhoposto na França e o mundopolítico nom acredita no quevem de acontecer. Todo o mundoanda à procura dumha razomcoma se nom for a culpa deninguém, como se a abstençomfor a causante de tamanha des-graça. Os culpáveis som sempreos mesmos, esses radicais quevotam à extrema esquerda e nomrespeitam a disciplina do votoútil, mas todo mundo esquece oformidável trabalho da televi-som em favor da direita.A chuva de desinformaçom àque fomos submetidos todos oshabitantes da França durantetodo o ano, sobre tudo naprimeira cadeia de televisom,TF1, a de maior audiência, deucomo resultado a eliminaçom na

primeira volta do candidato dopartido socialista. A TF1 vemfazendo desde há um ano, apro-ximadamente, um excelente tra-balho de desgaste com um lemamuito claro, um lema que criamedo, que impacta e que chegaao mais fundo do subconscienteda gente: a insegurança cidadá. Os ataques contra o governo deLionel Jospin (PartidoSocialista) ganham em virulên-cia após a entrada em vigor dalei das 35 horas semanaislaboráveis, algo que resulta umtanto suspeitoso. A aprovaçomda lei marcou o começo dumhaguerra sem quartel na que a TF1jogou um rol fundamental. Sebem é certo que a política levadaa cabo polo governo "Jospin"nom foi o suficientementeesquerdista, também é certo quefoi esse mesmo governo o quereduziu o tempo de trabalho, oque eliminou taxas arcaicas eabusivas (fazer o passaporte cus-tava na França um olho da cara e

a metade do outro), o que baixouo imposto da renda para ospequenos salários, o que baixouo imposto da contribuiçom, tam-bém para os pequenos salários…um grande sector da esquerdanom se sentiu identificado comum governo pouco claro, comum executivo que se achegou emdeterminados momentos peri-gosamente à direita.Europa nom é que vaia muitomelhor. Berlusconi saca acamisola preta da caixa das lem-branças para governar em Itália,a direita sobe ao poder noPortugal da Revoluçom dosCravos, o partido nazi ganhaforça na Alemanaha, um partidode estrema-direita vem de criar-se na Finlándia pela primeira vezda sua história, os restos do fran-quismo jogam a ser Sheriff noEstado Espanhol, a festejada ter-ceira via de Tony Blair resultouser umha via de água que leva apique à esquerda nas ilhasBritânicas… Nom sei vós, mas

eu nom vejo um futuro muitoprometedor.Ninguém mencionou em nen-gum momento que a campanhaeleitoral de Le Pen se baseou naantiglobalizaçom, na supressomdo imposto sob a renda, na plenasoberania da França contra oinimigo europeu anti-francês, noapoio aos trabalhadores, nadefessa das classes populares…Ninguém falou da perigosa mes-tura que estamos a viver entre asdireitas e as esquerdas, do pre-ocupante pulo que estám a tomaras ideias e as organizaçonsfascistas e/ou totalitárias.Ninguém falou de que Le Penganhou obtivo quase um milhomde votos mais na segunda voltaque na primeira (18% dos votosna primeira volta e en torno ao20% na segunda). Jean-Marie Le Pen, definiu-se asim mesmo um dia como"socialmente de esquerdas, eco-nomicamente de direitas, masante todo, francês". Somespecímenes como este os quedam umha imagem patética donacionalismo.Co galho do primeiro de maio,umha semana após da primeiravolta eleitoral, a maioria dasorganizaçons e os partidospolíticos tentaram fazer umhademonstraçom de força. A recei-ta é simples : a prioridade é adefessa da República. O objecti-vo é converter o primeiro demaio numha manifestaçom con-tra o fascismo e contra os va-lores totalitários de Le Pen. Amobilizaçom foi enorme, quasemeio milhom de pessoas nasruas de París e perto de um mil-hom em todo o estado francês.Quando vi as imagens pelaprimeira vez fiquei comovidoante tal resposta. Logo, umhavez superado o choque, penseiem que mais de um 1 800 000pessoas estiveram nos CamposElíseos festejando a vitória daFrança no mundial de futebol em1998, ( quase dois milhons e sóem París !), lembrei que"Monsieur Jacques Chirac" é opresidente que em discursopúblico afirma : "é normal queos franceses estejam fartos detanta imigraçom, os imigrantesnom trabalham, vivem das aju-das do estado e ainda por ribatemos de aturar os seus ruídos eo seu fedor". Apaguei a tele e fuidormir.Caros companheiros, quando asbarbas do vizinho vejas pelar…

A TF1 vem fazendodesde há um ano,aproximadamente,

um excelente trabalho de desgastecom um lema muitoclaro, um lema que

cria medo, queimpacta e que chega

ao mais fundo dosubconsciente dagente: a insegu-

rança cidadá.

Le Pen: Como a Televisom fabrica um presidente

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18 ideias Junho - Julho 2002 novas da galiza

Nova convocatória do Festival da Terra e da Língua. Nestaediçom, continua-se na linha do ano anterior, apostando porum acto festivo e solidário.Com esta proposta, contribui-se para reforçar a nossa lín-gua e cultura popular, e difundir valores solidários.Mais um ano, aposta-se por um Festival variado: música,poesia, teatro, exposiçons, magia, jogos, debate... Este anocom maior atractivo, ao organizar-se também umFestivalzinho, um micro festival de duas horas feito por epara as crianças. O lugar volta a ser O Moinho de Pedroso,em Narom, Terra de Trasancos. A cita desenvolverá-se nosdias 28 e 29 de Junho, última sexta-feira e sábado do mês.O sentido de ser da Artábria vai imerso no conteúdo do fes-tival, reivindicamos... que um outro mundo é possível, masseguindo umha proposta zapatista, nascida na SerraLacandona de Chiapas, reivindicamos um outro mundo noqual caibam outros mundos.Estaremos à beira do movimento internacionalista, contra a

globalizaçom neoliberal e mercantil, no crisol da resistên-cia. Fazendo especial finca-pé no rejeitamento das agres-sons militares dos governos dos estados imperialistas e odireito de existir dos povos. Palestina, Colômbia e o SaraOcidental terám umha dedicaçom especial no nossoFestival.No Festival celebramos a diversidade entendida como avivência da DIFERENÇA, que inclui a aceitaçom do multi-culturalismo e da mestiçagem. Reivindicaremos a diversi-dade como um arco da velha imenso, cheio de cor, a diver-sidade étnica e cultural, a diversidade lingüística e a defesadas línguas minorizadas, a aceitaçom do diferente... orespeito polo direito de autodeterminaçom dos povos. Porumha civilizaçom mundial da solidariedade e da diversi-dade. Da Artábria temos a conviçom de que um outromundo, no qual entrem outros mundos, é possível.

Novas da Galiza falou comalgumhas das pessoas quecomponhem a comissomorganizadora do II Festival daTerra e da Língua. Esta novaediçom dum dos projectosmais ambiciosos daFundaçom Artábria, tem portrás umha pequena equipa,que nestes dias afronta a rectafinal de mais de seis meses detrabalho e, portanto, duplicaesforços e nervos para ofere-cer duas jornadas onde todo orelacionado com a cultura e asolidariedade criam umespaço de liberdade.

NGZ.- "Um outro mundo épossível" era o mote do ano

passado, este ano especifi-cades mais esse lema "Umoutro mundo no qual entreoutros mundos, é possível".Inácio Martínez.- Preten-demos reflectir no Festival omodelo social que representae defende Artábria. Um mod-elo de defesa da nossa culturae língua nacionais e dos nos-sos direitos históricos mastambém dos valoressolidários. No ano passadoJoám López assistiu em rep-resentaçom da nossaFundaçom ao Foro SocialMundial em Porto Alegre.Decidimos que a mesma leg-enda lançada desde o Brasilpara unir todas as vontades de

transformaçom social seria olema do nosso primeiro festi-val. Este ano queremosdedicá-lo à diversidade comovalor em si mesmo. Aindaque nom consigamos nonosso festival ter represen-tadas todas as sensibilidades,todas as opçons e vontades,queremos transmitir que omundo novo que se está aconstruir nom pode sermonocor e deverá fazer-secomo soma de todas as con-tribuiçons, de todos os movi-mentos que o impulsam edesde o respeito à diversi-dade. Nós como povo sabe-mos muito bem o que issosignifica.

No festival da Terra e da Língua“o esforço vai a poleiro”

O ABREVADOIRO

Sabucedo - A Estrada

O 5, o 6 e o7 de Junho naRapa das Bestas

Vem à Zona dosVinhos da Estrada

As Catro Veigas

A Cantoleira do Belbo

Santa Sede

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19culturaJunho - Julho 2002novas da galiza

Duas das primeiras referências de um novo selodiscográfico galego, umha banda de gaitas e o carteldefinitivo de um dos mais emblemáticos festivaisgalegos do verao formam o conteúdo neste número.

Abe Rábade Trío "Babel de Sons". XingraGravado ao vivo durante o Festival de Jazz deGetxo do ano 2000, sai à luz o interessante primeirotrabalho do pianista compostelano Abe Rábade,acompanhado polo contrabaixista Paco Charlín e obaterista Ramón Ángel. Moito swing num percursomusical aberto com Dicotomía, primeira com-posiçom de Abe no ano 92, e no qual podemosdestacar a composiçom de Tete Montoliu Don´tSmoke me anymore, bem como referências aoexcelso García Lorca num disco que reflecte adiversidade musical que temos nas músicas de raizno nosso país. Nom só há gaitas.

Dómine Cabra "Luminaria". XingraMuitos som os discos onde se misturam as músicasde raiz com estéticas vanguardistas, com maior oumenor acerto. Excelentes misturas com as músicaelectrónica chegam desde o Reino Unido (TalvinSingh é um dos de mais êxito); com o rock, nosnoventa, conseguimos abraiar-nos com os gruposnórdicos (Hedningarna, Garmarna,,...), e as maisconhecidas som as misturas com música céltica,com Wolfstone como principal referente.Chegando-se mais desta última estética, apareceeste disco de Dómine Cabra, grupo que denomina"música pagá" a que realiza, tentando evitar a cata-logaçom habitual nos meios a que som submetidosos gupos. Infelizmente, nom o conseguirám. No ref-erente ao disco, será rapidamente esquecido por uti-lizar modos já conhecidos e escassamente ino-vadores, num resultado de escassa releváncia, acargo de umha formaçom que conseguiu chamar aatençom através de diferentes concertos ao longodos últimos anos.

Banda de gaitas do Concelho de Barco "Sons deCalúbriga"Parte da Escola Municipal do Concelho do Barco, aBanda de Gaitas nasceu no ano 1989, estando dirigi-da por Manuel Prada Ramos, autor da maior partedos temas aparecidos num disco correcto quereflecte o ensino da música à gente nova, mas porquê é necessária a apariçom de percussons comarume a uisque de malta? Porventura estejamos afalsear o nosso passado musical com contributosalheios à nossa cultura, por umha questom estética

de duvidoso gosto. As highlands nom estám naGaliza. Ou isso pensávamos.

Festival de OrtigueiraJá tomou corpo umha nova ediçom do Festival deOrtigueira, com umha composiçom definitiva abso-lutamentea abraiante e engaiolante, que terá lugarnos dias 12, 13 e 14 de Julho, e do qual falamos semmais demora. Ao igual que sucedeu nos últimosanos, as actuaçons terám lugar em dous cenáriosdiferentes, um para grupos mais ou menos novéis,num pequeno cenário polas tardes, e o principal paraas formaçons mais consagradas. Polas tardes, actuarám Lume Fatuo, La HermanaCruel, Rare Folk e Brandania no dia 13, e Birimbao,Rapabestos, MacFlec no dia 14.No que é habitualmente todo um acontecimento,com umha massiva presencia de público, as actu-açom no porto de Ortigueira, o festival vai iniciar-sena sexta-feira 12, com a presença do grupo deCiudad Real Akelarre Agrocelta, já presentes emanteriores ediçons do festival; dos madrilenos de LaMusganha, umha das melhores bandas estatais, comum perfeito domínio do directo; e do banjista BêlaFleck, um excepcional intérprete capaz de todo otipo de registos musicais. Desde Davy Spillane atéKepa Junquera, muitos fôrom os músicos quegozárom da sua companhia., sendo esta a primeiravez que actuará na Galiza; e do grande gaiteiroviguês Carlos Núñez, que actuará junto de difer-entes convidados ainda nom confirmados.No dia 13, actuarám o Grupo de Gaitas do Igaem, osquebecois La volée d`Castors, praticamente descon-hecidos no nosso país, o gaiteiro irlandês LiamO´Flynn, o Afrocelt Sound System, umha das pro-postas mais interesantes, excitantes e inovadorasque podemos topar, onde a electrónica, a músicaafricana, os ritmos célticos e muitos mais matizesmarchan juntos em perfeita harmonia, e osBerrogüeto, que interpretarám temas do seu últimodisco "Hepta". O fim de festa terá lugar no domingo 14, com asactuaçons dos romenos Taraf de Haiduks, que farámdançar o pessoal a base de frenéticas composiçons,as harmonias vocais dos Gaiteiros de Lisboa, umhadas mais importantes bandas portuguesas, do bil-baíno Kepa Junquera, mestre da trikitixa, acompan-hado de convidados nom confirmados, e Anubía,pandereteiras acompanhadas dum fondo musicalcom claras lembranças aos fineses Värttina.Em definitivo, um dos melhores cartazes vistosnunca no nosso país. Vemo-nos em Ortigueira.

De Xingra a Ortigueira 2002Xesus Serrano

MÚSICAFestival da Terra e da Língua

28 de JunhoSexta-feira, Noite de Teatro com a companhia "Fridom Spik Treatro" O Mago Teto que nos deleitará com o seu espectáculo: A magia dos sonhos. Actuaçons musicais: Fora Tristeza, Servando e Contradança

29 de JunhoSábado, alvorada e animaçom musical por parte da Agrupaçom de MúsicaTradicional: Gaitas de Artábria. Circo popular de Circusfusión, da associaçomde malabares e novo circo de Ferrol.

Jantar Popular. Pode levar a comida quem quiger, no toldo da Artábriaservirám-se comidas a bebidas a preços populares.A Asociación de Deporte Rural Galiciano será a que correrá com a organizaçomde jogos e desportos populares.Campeonato de Matraquilho

Festivalzinho terá lugar no Sábado 29 de Junho. Música, Teatro, jogos... Feitopolas próprias crianças..

Conferências: a Palestina, a Colómbia e o Sara Ocidental. Com a participaçomde Safa Mohamed [da OLP], Javier Orozco [Sindicalista exilado] e FatmedMohamed [Delegada da Frente POLISARIO para a Galiza]. Exposiçom rela-cionada principalmente com os temas de debate, que abrirá às 12 do meio-dia.Certame poético Reivindicando a diversidade e um outro mundo. Marta da Costa, Ramiro Alvarinho, Miro Vilhar e Alexandre Nerium.

Pregom a cargo da activista feminista da Coordenadora Nacional da MarchaMundial das Mulheres, da associaçom de ajuda às pessoas presas e da CasaEncantada de Compostela, Sandra Garrido.Balom Artábro, um balom de papel de 5 m de altura.

Festival musical: BATUKO TABANKA (Cabo Verde), AMACUCA (Ferrol,folc-fusom), BETAGARRI (Eusal Herria, ska), Alberto MBundi e a TurmaAngolo Galega (melodias afro-galegas)Postos de exposiçom e venda de Artesanato Popular e postos de organizaçonspolíticas, sociais, populares e alternativas.

Programa

Festival da Terra e da Língua

Como chegar?Celebra-se à beira do rio Grande de Júvia, no Moinho de Pedroso.Recentemente, o Concelho de Narom tem condicionado o lugar comozona recriativa, mas com a possibilidade de realizar campismo. Háserviços no Moinho e zona de banho no rio. Pode-se fazer lume paracozinhar nas zonas habilitadas para tal. O lugar tem um merendeirocom mesas e bancos de muita capacidade. A organizaçom do festivaltem habilitado umhas zonas de estacionamento de carros e comcerteza um toldo onde se poderá comprar comida e bebida a preçospopulares. O campismo e o estacionamento som gratuitos. O lugar decelebraçom do Festival será nos campeiros das redondezas doMoinho de Chao, zona recriativa da paróquia de Pedroso, noConcelho de Narom.É umha paragem formosa, a poucos quilómetros de Ferrol [15, aprox-imadamente]. Há umha estaçom de FEVE [Pedroso] que está a 2 Km do lugar ondese celebra o Festival.Na estrada que vai da Carreira a Sam Sadurninho, há que apanhar,mesmo em Pedroso, frente a estaçom, um desvio à esquerda que estámuito bem sinalizado.

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20 ideias Junho - Julho 2002 novas da galiza

Estão prestes a chegar as noitesmais cálidas do ano, aquelas em quea contemplação do firmamento nosleva, numa viagem através dotempo, a esplêndidas visões dosnossos mais longínquos arredores.Poucas experiências há tão fantásti-cas como observar o gradual triunfoda sombra sobre a luz que o sol-pôrnos oferece desde o alto de ummonte. Ver os astros aparecer deva-gar, primeiro os mais brilhantes, noténue azul dos longos crepúsculos, edepois os mais fracos, quando aescuridão é quase total.Conhece-se com o nome deTriângulo do Verão o vasto triânguloque domina o céu do hemisférionorte nesta época e que vemdefinido pelas brilhantes estrelasVega, Deneb e Altair. Porém, oTriângulo do Verão não é uma con-stelação oficial, de facto, cada umadestas estrelas pertence a diferentesconstelações. Na da Lira temosVega que, por causa da precessãodos equinócios, será estrela polardentro de 12000 anos. Na mesmaconstelação localiza-se a duplaEpsilon, cujas componentes sepodem separar com uns binóculos. A

supergigante azul Deneb, cujodiâmetro é sessenta vezes maiorque o do Sol, está na do Cisne; etambém Albireo, um dos mais espec-taculares sistemas binários - a princi-pal é dourada e a sua companheiraazul turquesa. Altair, situada apenasa dezasseis anos-luz da Terra, dápor extensão nome à constelaçãoem que vive - a Águia, do árabealThair.Prolongando o arco descrito pelacauda da Ursa Maior topamos com aquarta estrela mais brilhante do céu,Arcturus, uma gigante vermelha situ-ada a 34 anos-luz da Terra na con-stelação do Boieiro, a qual tem formade pára-quedas com Arcturus comopára-quedista.Como presente de casamentoDioniso deu a Ariadne uma coroaque ficou no firmamento em formade constelação, a Coroa Boreal.Está composta por sete estrelas emforma de círculo. A mais brilhantedelas fora designada pelos latinoscomo Gemma - a Pérola. Contudo, aestrela mais estudada desta conste-lação é a variável R CoronaeBorealis, devido às grandes vari-ações de brilho que apresenta.

Se unimos Arcturus com Gemma, aprolongação desta linha atravessaum quadrilátero formado por quatroestrelas no centro da constelação deHércules, o filho de Zeus. Nelapoderemos observar um dos cúmu-los globulares mais formosos dohemisfério norte, M-13, uma peque-na esfera que contém mais de cemmil estrelas.Durante as possivelmente melhoresnoites do ano para a observaçãoastronómica, as de Setembro, é pos-sível descubrir a vasta, mas pobre,constelação de Pégaso e a sua com-panheira Andrómeda. Nesta última,

por cima do pescoço do cavaloalado, situa-se M-31, mais conheci-da como a Galáxia de Andrómeda. A2.2 milhões de anos-luz, é o objectoceleste mais afastado que podemosobservar a olho nu.

Estes são apenas uns exemplos doque podemos descobrir no céudurante os próximos meses. Muitorecomendável é, aliás, a observaçãodos planetas e de fenómenos comoa chuva de meteoros das Perseidas,que terá lugar o 12-13 de Agosto.Bom céu!

CONSELHOS PARA A OBSERVAÇÃO:Aguardarmos durante uns vinte min-utos a que os nossos olhos sehabituem à escuridão.Cobrirmos o nosso farol com umpapel vermelho para iluminarmos omapa celeste.Dispormos de um assento cómodoou de um cobertor.Levarmos roupa de abrigo.

Carlos Barros

Um novo espectro percorre oMundo. Dizque anda à procura daencarnaçom do mal (Bin Laden),mas para isso tem que lidar com oseu contorno, leia-se povo afegao,palestiniano ou iraquiano, entre out-ros malignos empenhados, sobdesígnio de Alá, em acabar com omundo livre. Pois bem, o nossoespectro já chegou aos maços detabaco e a iniciativa partiu da com-panhia norte-americana JT (produc-tora de Camel), que quer vender esabe cumprir os seus deveres nacruzada contra o mal.

O que antes dizia ser mistura detabaco turco e americano, escondeagora a sua origem, lembrando-nosno seu lugar o bem que sabe. E éque a Turquia, ainda sendo colegana OTAN, é-che terra de mouros, etodo o mundo sabe que ser mouroimplica proximidade do terrorismo.

Nisto do marketing olha-se tudo, dá-se especial atençom à identidadevisual, polo que nom parece coin-cidência que as mudanças naimagem de Camel se centrem noselementos simbolicamente árabes.

Ao olhar o desenho do antigo e donovo maço, percebemos a actualiza-çom gráfica para a nova etapa (pós-onzedesetembro). Tudo o quecheirasse a mussulmano foi retiradoda composiçom do maço, ficando odesventurado dromedário reduzido esozinho no deserto. Já nom pode iraos paços árabes que tinha na partede atrás, e quando o quer fazer,encontra-se com um clone seu aindamais pequeno. Já nom pode apoiar-se nas colunas islámicas dos lateraisdo velho maço... coitadinho. Seráque a inquisiçom americana querreduzir o mundo árabe a deserto?Nom. O deserto nem produz nemconsome.

Efeito11-S. Até no tabaco!

Um relance deolhos ao céu deVerão

AstronomiaManuel Andrade

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21ideiasJunho - Julho 2002novas da galiza

Pois nom. Google é o deus dosciberateus. Tudo é encontrado.Tudo é explorado, embora tambémtenha truques, porque Google simjoga aos dados. O relativismoexiste só nos filmes sobre Einstein,Google pesquisador que encontra.E isto é com certeza um detalhe. Aquestom fundamental é que estepesquisador na rede, contribuigrama a grama, à nossa felicidadecolectiva. Sempre achei que nomundo há dous tipos de pessoas:os que procuram e os que já encon-traram. Google democratiza-os atodos/as. Todos procuramos, todosa procurarmos. O segredo do Google nem está sóna "massa". O sucesso do Googlenem está só na máquina mas nalógica. Lógica que ganha amáquina. Indexando, indexando,passo o tempo indexando, comoum grande mecano, construindoperto de mil cem milhons de pági-nas indexadas, utilizando a tec-nologia chamada PageRankTMque cria mais um nome original,tecnologia para ordenar os resulta-dos devoltos numha procura.Sistema singelo mas complexo. Sepágina 1 tem ligaçom com página2, página 2 emite voto, a 100 pági-nas 2 100 votos. A página commais votos é a primeira em seapresentar em sociedade. O

Google nom ganharia naEurovisom.PageRankTM (essa tecnologia)tem em conta proximidade entre aspalavras procuradas. Vaiamos aum exemplo de pesquisa: se procu-rarmos "o Koala gosta dos li-quidambar" nada encontramos,nom porque nom haja muita ver-dade na oraçom mais por ser apágina muito pouco votada, mas seprocuramos "Koala liquidambar"pois aparecera o "all about koalas,todo sobre koalas, how they com-municate, como ... " o portal do

koala, o que todo koala deve sabere comer, antes de ir dormir.Além disso, Google tem mais ca-racterísticas de animal escalador,só devolve páginas que contenhamtodos ou cada um dos termos daprocura. Como bom armazena-mento da informaçom tambémtem Caché, para que se umha li-gaçom dos resultados apresenta-dos nom funciona correctamenteautomaticamente pom o da caché. Google como bom cam-caça tam-bém se instala na nossa memória, ena do browser. Introduz 3 botonsGoogle Search onde procuramospáginas relacionadas com o textoque salientamos no browser,Google Scout (NENHUMBROWSER SEM SCOUTS), ondeamostra páginas similares à quevemos, e Google.com, que leva àsorigens, e leva à homepage deGoogle. Google nom dá a felicidade embo-ra nom a tire. Google é o melhorpesquisador da Internet. Googleencontrou, os demais continuamosa procurar.

Palavras chave (GOOGLE): www.google.com/intl/pt/

Encontravamos qualquer cousa antes do Google?

José Ramom Pichel [email protected]

Sempre achei queno mundo há doustipos de pessoas: os

que procurame os que já

encontraram.Google democratiza-os atodos/as. Todos

procuramos, todos aprocurarmos.

http://indymedia.org

http://www.galizalivre.org

http://sindominio.net

Indymedia. Nascido com os protestos de Seattle, espalha-se internaciona-l-mente como bandeira informativa das luitas antiglobalizaçom, com presença

em numerosos países. Um projecto ambicioso que está a crescer a partir dum"colectivo de redacçom aberto e horizontal, manejado polo consenso e respei-

tando a diversidade de opinions e achegas", com o fim de criar um órgaointernacional de contrainformaçom que esteja presente nos conflitos

que agitam o Mundo.

Indymedia's de interesse:

Portugal: http://pt.indymedia.orgBrasil: http://brasil.indymedia.org

Palestina: http://jerusalem.indymedia.orgBarcelona: http://barcelona.indymedia.org

Galizalivre. Portal de referência para o independentismo galego. Oferece con-trainformativos semanais, pesquisador e serviços de Internet. Secçons de lín-gua, mocidade, formaçom... Permite enviar comunicados de imprensa desde

as páginas e dispom de catálogo de material, além dum amplo arquivo.

Sindominio. Espaço de comunicaçom livre, com informaçom sobre movi-mentos sociais. Oferece espaço para páginas e correio electrónico, além dum

arquivo de textos, ferramentas da Internet e ligaçons. Aproveita os resursos darede, como "ferramenta da comunicaçom alternativa" para reunir "projectos,

luitas, desejos e realidades". Aloja vários sítios de colectivos galegos.

Apresentamos-vos ligaçons a meios de comunicaçom livres que,como Novas da Galiza, trabalham com o fim de "cumprir umhafunçom essencial do jornalismo: o exercício do contrapoder".

Conselhos na RedeCarlos Barros

[email protected]@terra.es

M. Rajo Consulting

www.mrajo.com

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22 ideias Junho - Julho 2002 novas da galiza

CereijasJosé M. Aldea

GASTROMANIA

Numha das suas "Cousas",Castelao punha em boca de umcasposo médico a descoberta dosegredo da morte da condesinha.Nom falescera por mal de amores,senom por umha enchenta decereijas. Deduziu-no o doutor aotopar no seu sartego entre pó,ossos e lenço "...carabunhas decereijas para encher duas cuncas".As cereijas e outras frutas tambémservírom a Blanco Amor paradescrever os seus protagonistasliterários indo às "arrasadeiras",saltando valados e paredes quandopintavam as cereijas nas datasprópicias dos meses de Maio, ouJunho. Actualmente é de suporque nom há quem invada pro-priedades para conseguir estafruta. A gente miúda está entretidacom a última versom da GameBoy ou outras modernices deauto-ócio. Mas se este artigo servede arenga, afinal vai algo de praxeem forma de compota, para gentedecidida, com umha mais quefácil execuçom. Quando no século passado se fala-va da Galiza profunda, semprepensávamos numha aldeia isoladanas montanhas orientais. Hoje emdia nestes lugares existe umhaqualidade de vida incluso superiorà das cidades, tanto no ambientalquanto no gastronómico. Onde

sim pervivem os usos da Galizaprofunda é nalguns lugares per-ifericos da denominada beiraatlántica, desenvolvida industrial-mente e densamente povoada. Nassuas aldeias e lugares podemosencontrar vestígios do passado: osderradeiros carros com rodas deautomóveis puxados por vacaspintas ou a matança feita commétodos rudimentares e em totaldesuso no interior do país. Arespeito do gado, bastante gentepossui umha ou duas vacas emregime de autoconsumo ou prati-camente como terapia ocupa-cional. Nesta descriçom podeencaixar Beade, umha paróquia noextrarrádio da grande urbe vigue-sa, a cavalo entre a paróquia-dor-mitório e a aldeia da beira atlánti-ca. Além dumha maravilhosa igre-ja románica, há umha interessantecelebraçom, que é o caso que nosocupa, para exaltar a Cereija. Na Galiza das mil festas gas-tronómicas também temos outrasfestas à volta deste fruto própriodos começos do verao:"Degustaçom de Cereijas" naBarqueira - Cerdido a celebrar noprimeiro domingo de Julho ou"Feira da Cereija" no Paiosaco emLaracha também no mesmo dia.Mas Beade é a de mais sucesso;conta incluso com ampla presença

televisiva. Levam louvando esaboreando em acto público acereija desde 1986. Existe umconcurso de sobremesas com tamsensorial fruto e também premiama sua presentaçom e enfeite emcestos. Celebra-se esta festa osegundo fim de semana de Junho.A cerdeira, pode produzir doustipos de fruto, um doce (Prunusavium) e um amargo (Prunus cera-sus). O primeiro é a cereija propri-amente dita e o segundo é a guin-da ou ginja, também com interes-sante uso culinário. Emprega-se aginja para fabricar um afamadolicor espirituoso de alta gradu-açom que polo seu uso e abusocompartido, em noites de invernosem a perceptiva mesura, tem oca-sionado proveitosas relaçonsinterpessoais. A sabedoria popularinclui entre os seus benefícios cor-porais e espirituais o alívio sin-tomático das dores de estômago eo ser favorecedor de boas dige-stons.Daqui recomendamos o abuso dascereijas ao natural, preferivel-mente procedentes de"arrasadeiras" sem chegar aoextremo da condesinha de Cas-telao e das guindas em licor empequena dose como sobremesa.

-Quem é Marisol Malfurada?

-Nom podes entrar-me doutraforma?. Marisol Malfurada som eu.Essa que vedes nas fotinhos mais oumenos.

-E porque Malfurada?

-E por quê nom. Polos abatares davida. Porque o meu pai sempre medizia que nom poupava nada, que eraumha gastadora. Por viver nestemundo sempre em precário. E tam-bén polo tema que tenho deMalfurada onde falo dum mundodominado pola banca que impedesair do furado. Porque nom é quegaste moito, é que o furado nunca seultrapassa, é dificil.

-Marisol carimbou o termo de Djda palavra. Por quê?

-A música de djs é umha arte queconsiste em apanhar distintas músi-cas, misturá-las. Nom é a soma detodas. O meu jeito de escrever tam-bém é um pouco assim. Nom desco-bro nada. As palavras estam aí. Eutento conjugar o presente e passadopara dar umha visom de tuturo.

-Como vê a situaçom da mulher namúsica?.

-Achicada. Como em todos-osámbitos. A situaçom da mulher namúsica como manifestaçom culturalestá como no resto da sociedade.Reflexa a realidade. Nosoutras temosmuito caminho que andar. Por isso háque animar as raparigas, dar-lhes fol-gos para fazerem esse caminho.

-E como anda Marisol Malfuradaeste verao de actuaçons?

-De concertos benéficos. Agora dospagos pouco. Aliás, está a questomdo repertório. Eu fago poesia musi-cada. E por isso quando toco em fes-tivais de música marchosa vou sem-pre de primeira. Pido eu também irde primeira porque eu como públicotambém entendo que se estou numfestival com um grupo de rock ou deHip-Hop, aí, com a cerveja, e saiMarisol Malfurada a falar-me daproblemática do mundo nomgostaria. Assim que de primeira sem-pre. Mas a situaçom dos concertos éde todos os grupos galegos. Aos deRock ou de Hip-Hop estám namesma. Temos umha grande ater-ragem e nom resta sítio para nós. Porisso também montamos a Amelga,precisamente para aunar esforços.No passado ano, com a progra-maçom de As Nossas Músicas, poisfoi bem. Mas tem que ser isso, pro-gramas de festivais concretos. Eu, detodos os jeitos, espero sementar erecolher. Ainda que eu nestesmomentos estou mais para dentro,quero dizer, que vou onde mechamam mas tampouco ando aprocurar, porque estou mais paradentro. Espero preparar umhamaqueta nova, produzir algo, gravarpara rodar mais.

Atençom ao Sam Joám, Sardinhadaspopulares por toda a geografia costeira,recomendável especialmente a deCombarro 23-06-02.Feira do Vinho. Barro. 16-06-02Festa da Lagosta. A Guarda. 23-06-02Festa do Queijo. Cotobade. Terceirofim de semana de JunhoFesta do Cordeiro. Poio. Sábado ante-rior ao Sam JoámDia da Empanada. Muros. 01-07-02Festa da Rosquilha. Gondomar.Primeiro domingo de Julho

Festa do Pam. Cea. Primeiro domingode JulhoFestra da Solha. Catoira. Segundosábado de JulhoFesta da Amêijoa. Carril. Domingoanterior ao Carme.Festa do Polvo. Mugardos. Fim desemana próximo ao Carme.Festa do Polvo. Ribadeu. Último sába-do de JulhoFesta do Polvo. Carvalhinho. PrimeiroDomingo de AgostoFesta da Xouva. Rianxo. 25 de Julho

Festa do Churrasco. Covelo. 25 deJulhoFesta da Bica. Castro-caldelas.Segunda quinzena de JulhoFesta da Bica. Trives. ÚltimoDomingo de Julho Feira do Vinho. O Rosal. Terceiro fimde semana de JulhoFesta do Mexilhom. Aldam, Cangas.Último sábado de Julho Festa do Carneiro ao Espeto.Moranha. Último Domingo de Julho

Compota deCereijasIngredientes:1 Kg. de cereijas sem pés nemosso1 Kg. de açúcar

Preparaçom:Ponhem-se as cereijas ao lumecom o açúcar e a água (a quanti-dade precisa para as cobrir).Umha vez reduzida a calda ametade, retiram-se as cereijascom umha escumadeira edeitam-se, bem escorridas, nofrasco da compota. A restantecalda deixamo-la ao lume atéque tome um ponto bem firme.Conseguido isto, deitará-se sobreas cereijas.

Som de muitos tempos. De Santo André de Teixido em 59. De Londres em80. Da Galiza da transiçom nos 90. Muito minha em 2000! Lembro o can-dil de carburo na cozinha de terra, as feiras quando ainda havia mercados,a chegada das salas de banho, e o despejo da vaca!. Fum filha de emi-grantes, mamei de Fuxan os Ventos, de Rosalía, de Castelao, de CelsoEmílio...¡Falei galego outra vez! Vim os Clash ao vivo. Vivim a movida declubes e músicas alternativas londinenses. Conhecim o funk, o rap, a poe-sia comprometida do norte-americano Scott-Heron e dos Dub Poetsjamaicanos afincados em Londres, Linton Kwesí Johnson e BenjaminZephaniah. Vim a VI SUBVERSSA -emblemática cantante do grupo femi-nino de punk The Slits (As Fendas)- cumprim 50 anos no cenario rodeadade rapazolas eufóricas. Conhecim o feminismo e fígem-me mulher. O meumundo é Galiza e com Galiza estou no mundo. Nom lhe demos mais voltas!.A ideia, a palavra, a música. O ritmo, a compreensom, a empatia. Assim seapresenta Marisol Malfurada na página web da Associaçom de Músicas emLíngua Galega (Amelga) e com a licença de Marisol assim quigemos apre-sentá-la em NGZ.

femininoemfe

noemfemininoMarisol Manfurada:

A ideia, a palavra, a música,

o ritmo, a compreensom,

a empatia.

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Os herdeiros do conhecimento

23ideiasJunho - Julho 2002novas da galiza

Tomé Martins

A Tradiçom Hermética (III)

memória visual

Fotografia: Eliseo Alonso. Treboada. Col particular. c.1970

O primeiro local a que me estou areferir encontra-se na localidadeourensana de Augas Santas, pertoda localidade de Alhariz. A loca-lização sempre tivo muito sucessoaté o ponto de ser reconhecidopolas suas supostas qualidadescurativas além das fronteiras gale-gas. Quaisquer que tiver dúvidasao respeito só tem que dar umavolta pola romaria no dia 18 deJulho. A ela acodem gentes detodo o sul do país, norte dePortugal, Astúries, Samora emesmo de França. Os romeirosvisitam santa com a ideia de lhepregar favores de saúde além deoutros desejos. Assistem ao missale vão de processão e após a visitaao carvalho sacro alguns acodem àconstrução templaria conhecidacom o nome de "Forno da Santa".

Segundo as tradições orais, o tem-plo começou-se a eregir por voltado século XII, mas nunca sechegou a rematar pola presão queos monges templarios tiveram porparte da autoridades inquisitoriais.O primeiro que chama a atençãodo pesquisador é a presença-incompreensível para alguns- doque semelha ser uma espécie decódigo glíptico gravado nasrochas externas e internas do tem-plo. O código a que estamos areferir-nos está relacionado comas letras própias do alfabetoberber e com uma espécie dezodíaco astrológico. Qual aorigem deste fenômeno? Os mes-mos desenhos vemo-los reflecti-dos nas rochas da igreja de SantaMaria A Nova, em Noia. Conta alenda que foi aqui onde arrubou

Noé após o dilúvio. Sabe-se tam-bém que Noia é etapa obrigadapara os que fam a peregrinagem aCompostela, especialmente aque-les cuja profissão estava rela-cionada com a construção dosgrandes templos románicos.Testemunhas daquela "outramaneira de fazer a pregrinação"são as inquietantes lajes gravadasque se atopam no interior do tem-plo. Todas elas possuem gravaçãesàs vezes evocadoras da arterupestre pré-histórica. Seja comofor, provavelmente muitas destastumbas no serviram para selarsepulcro nenhum, mais bem servi-ram a outros propósitos menosprofanos. Segundo esta tese, aslajes eram um símbolo empregadopor certos iniciados nas artes her-méticas do gravado em pedra

medieval. Mas este não é a únicomistério de Noia. Perto ao acessoprincipal, acha-se um formososepulcro de pedra com a figurajacente dum homem com o típicochapeu do século XVI. Diz atradiço que o homem esculpido napedra foi um produtor de vinhosfelizmente casado, até a suamorte, com a mesma dona, denome Maria Oaenes. Agora bem,reparou o leitor?.Nesta história há dois factosestranhos. A cabeça do "colhei-teiro de vinhos" repousa sobreuma almofada de pedra. Nela foiredigido o seu nome, Ioam deEstivadas, mas com uma pecu-liaridade: ao revés. Noé foi,segundo a Bíblia, vendimador e oapelido Oanes corresponde-se,paradoxalmente, com o nome de

um deus aquático, o verdadeiroNoé babilónico do que partiu alegenda judeu-cristã e cujo objec-tivo foi o de civilizar novamente omundo. Esta significação não éimaginação. Os que idearam estaadivinhança de pedra fizeram-noconscientemente. Acredito naideia de que estes símbolos escon-dem na verdade o recordo dachegada às nossas costas dosprincípios da civilização em dataspré-históricas. Essa lembrançachegou até os canteiros herméti-cos medievais, herdeiros directosdos sobreviventes de um dilúvioque não só existe na mitologiasenão também na antropologiamais profunda do nosso povo.

Ramom Pinheiro Almuinha

Na infáncia das culturas, os intrumentos percutivos, funcio-nando essencialmente como barulhentos, foram usados comfins mágico-sagrados, para chamar ou celebrar a chuva e osol, afastar tempestades ou maus espíritos em ritos deincantação, propiciatórios ou profilácticos em celebraçõesdos ciclos estacionais como as noites do ano bom, de SãoJoão ou do carnaval. Dessa natureza restam hoje escassos

vestígios na Galiza, destacando-se nomeadamente o casodas Treboadas do Baixo Minho. O grupo da fotografiatomada polo jornalista, escritor e etnográfo Eliseo Alonso(Goiám, 1924-1996) amostra-nos a treboada de "Os beira-minho" de Tomilho a última formação continuadora destatradição. ainda que já desde há muitos anos a sua actividadeseja reclamada fundamentalmente para acompanhar a

comissão de festas a jeito de alvorada. Os grandes bombosminhotos preferentemente de madeira de nogueira e compele de cabra ou cabrito mortos em lua velha e com mais de80 cm de diámetro gozam de melhor saúde no norte por-tuguês, onde continuam a soar nas terras trasmontanas deBasto, na Serra de Montemuro ou no próprio Minho demãos dos populares Zés-pereiras.

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