O fim da monarquia em portugal

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O Fim da Monarquia em Portugal As razões que levaram ao fim de um regime com quase oito séculos

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Trabalho final apresentado na Fábrica da Pólvora a 21 de Maio de 2010 e em exposição até 11 de Junho.

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O Fim da Monarquia em Portugal

As razões que levaram ao fim de um regime com quase oito séculos

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Introdução

Este trabalho pretende expor as razões que levaram ao final da Monarquia Portuguesa, um regime quase com 800 anos de existência.

Tem por base a análise de jornais publicados no concelho de Oeiras, nos finais do século XIX e princípios do século XX.

A partir dessa imprensa local, testemunho de uma época, pretendemos comprovar, as razões que levaram ao fim da Monarquia Constitucional, em Portugal.

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A Monarquia Constitucional (breve historial)

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A Monarquia Constitucional começou, oficialmente, com a Constituição de 1822 que pôs um fim ao poder absoluto em Portugal, acabando com o domínio inglês e exigindo o regresso do rei a Portugal. Convocaram-se as Cortes Constituintes e fez-se a Constituição de 1822 que instaurava em Portugal a Monarquia Constitucional.

Revolução Liberal, Carta Constitucional e guerra civil

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Depois da morte D. João VI, D. Pedro, seu filho volta a Portugal. Tentando consolidar os interesses de liberais e de absolutistas, redige

a Carta Constitucional, considerada um recuo em relação à Constituição.Estabelece um acordo com D. Miguel, seu irmão, líder dos

absolutistas.

Contudo, nem a Carta, nem o acordo foram suficientes para satisfazer os absolutistas. D. Miguel faz-se aclamar Rei pelas antigas Cortes, à

maneiraabsolutista. Como resultado, estala uma guerra civil que opõe

absolutistas e liberais. Depois de confrontos violentos, os liberais acabam por triunfar .

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Governos da Monarquia Constitucional

Setembrismo Cabralismo

Os Setembristas eram adeptos da Constituição de 1822.

Aboliram a Câmara dos Pares prevista na Carta e restringiram o poder real. Os governos setembristas aplicaram o proteccionismo económico e investiram no desenvolvimento no ensino.

Restaurou a Carta Constitucional e promoveu a centralização

administrativa. Reforçou as relações com a Igreja (prejudicadas no Liberalismo). O seu fim foi ditado por um

conjunto de revoltas populares contra políticas do Governo.

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A Regeneração

Os governos da Regeneração governaram o país de 1851 até 1890. Têm o seu início com D. Maria II e só terminam no Reinado de D. Carlos.

O principal protagonista deste período foi Fontes Pereira de Melo que implementou uma política de obras públicas com vista ao desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação. Também investiu no desenvolvimento da indústria.Foi a época do “Fontismo” que, não obstante o crescimento da dívida externa, produziu resultados visíveis, no campo do desenvolvimento económico.

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1890-1910 Os anos que ditam o fim da Monarquia

D. Carlos é o novo rei, sucedendo a seu pai, D. Luís. O seu reinado e os seus governos são marcados por grande instabilidade, com muitos casos e escândalos. O rotativismo partidário revelava-se cada mais ineficaz. Surgem novos partidos como o Partido Republicano e o Partido Socialista que contestam os governos monárquicos e o próprio regime.

O regime monárquico caminha para o fim…

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Contexto e acontecimentos políticos que marcaram o reinado de D. Carlos

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1. Crise Económica

Foi um dos factores que mais contribuiu para o fim da monarquia, já que as más condições de vida da população fizeram com que várias camadas sociais se juntassem às fileiras republicanas.

“ Os homens de talento e a política”

A locomotiva ahi silva por todos os ângulos do paiz mas a agricultura definha, não temos pão – a industria quasi estacionaria não prevê as necessidades mais urgentes. A imigração toma proporções consideráveis. O credito perde-se o paiz não pode solver os seus compromissos. Que triste situação a de Portugal”

“ A Gazeta D´Oeiras”

(21 de Maio de 1893)

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“As finanças e a necessidade de novo regímen económico

O estado financeiro é mau, o governo vê-se nos maiores embaraços para satisfazer os seus Compromissos. (…) A despeza longe de diminuir ou pelo menos estacionar augmenta consideravelmente por mais esforços que façam os ministros da fazendapara estabelecerem o equilíbrio”.

“ A Gazeta D´Oeiras” (30 de Julho de 1893)

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2. Crise e descontentamento social

O país estava cada vez mais pobre e endividado. A vida tornava-se cada vez mais difícil, com a subida dos preços. Trabalhava-se 12 a 14 horas por dia nas cidades, com baixos salários. E de sol a sol, nos campos, com salários de miséria.

A tuberculose atingia números elevados. A classe média, os operários, e os trabalhadores rurais enfrentavam grandes

dificuldades. Só os ricos viviam bem. Crescia o descontentamento social e com ele as acções de rua. Sucediam-se as greves, as manifestações, os tumultos.

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“Augmenta de uma maneira assombrosa a miséria na capital do Reino. A câmara municipal despende todos os annos em socorros a pobres mais de cinccenta contos de reis. Em todas as freguezias existem comissões de beneficência que gastam avultadas quantias em esmolas. (…) milhares de famílias não teem com que alimentar-se e por habitação um triste cubículo cheio de emanações pestilentas onde dia a dia se estiolam a saúde e a vida (…). Os impostos sobre a alimentação publica devem ser extinctos; tributar o pão, a carne, o peixe, o sal e o vinho é a maior das barbaridades. E nós temos usado e abusado desse imposto”

A “Gazeta D´ Oeiras”, de 9 de Julho de 1893 fala-se sobre a pobreza em Lisboa:

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3. O Ultimato inglês em 1890

O ultimato inglês foi um sinal inequívoco da fragilidade e decadência da

Monarquia Constitucional, no reinado de D. Carlos.

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Dizia “ A Gazeta D´Oeiras”, de 17 de Setembro 1893

“A questão inglesa

Há uns dias dissemos que a inhabilidade da nossa diplomacia deve delimitações o ter-se sustentado a questão com a Inglaterra por causa das fronteiras na província de Moçambique”. (…) Foi um grande ensinamento para nós todo aquele conflito diplomático, a medida com que bem se afferio a insufficiencia dos nossos estadistas.”

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4. Revolta de 31 de Janeiro de 1891

Na sequência do descontentamento provocado pela reacção do rei ao ultimato inglês, dá-se a revolta de 31 de Janeiro de 1891, o primeiro movimento revolucionário que teve por objectivo o derrube da monarquia e a implantação do regime republicano em Portugal .

João ChagasTeófilo de Braga

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Revolta de 31 de Janeiro de 1891

“Dos seus erros [da monarquia] nasceu a desgraçada revolução de 31 de Janeiro e a não menos desgraçada questão ingleza as qaes abriram tao profundas feridas que tarde cicatrisarão e se não fora o bom senso do nosso povo acarretariam consigo a perda da nossa independência.”

Dizia “ A Gazeta D´Oeiras”, de 11 de Junho de 1893, sobre aquela revolta:

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5. A questão dos «Adiantamentos» Descrédito do Rei e da Monarquia

Outro exemplo de descrédito do rei e da Monarquia foi o caso dos «adeantamentos à Casa Real».

“Fora!

A hora em que escrevemos ainda é ministro da Fazenda o primeiro reo confesso dos andeantamentos illegaes à casa real. (…) No entretanto nós extrahimos d´este facto a moralidade monarchica e pasmamos, como em pleno século de civilização e de progresso ainda existe um parlamente, representante do povo e da nação que azorragou o primeiro réu confesso de delapidar os dinheiros do povo”.

Dizia Pátria Nova, de 28 /6/ 1908:

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6. Falhanço do RotativismoO rotativismo partidário ( Regeneradores e Progressistas) que marcara a Monarquia Constitucional revelava-se cada vez mais ineficaz.

Já pouco diferenciava uns de outros. Padeciam dos mesmos vícios e da ambição do poder. Disputavam o poder, a direcção do Ministérios e os cargos de ministros. Os interesses do partido sobrepunham-se aos interesses do país e da própria monarquia.

Luciano de Castro P. Progressista

Hintze Ribeiro P. Regenerador

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Falhanço do RotativismoOs dois partidos monárquicos subdividiam-se em vários grupos.Disputavam o poder e rivalizavam entre si, indiferentes à fragilidade do próprio regime monárquico, alvo do ataque dos republicanos.

Parlamento

4 partidos monárquicosPartido Republicano

Português

• Partido Regenerador (Ernesto Hintz Ribeiro)• Partido Regenerador Liberal (João Franco)• Partido Progressista (José Luciano de Castro)• Dissidentes Progressistas (José Maria de Alpoim)

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O jornal A Gazeta d’Oeiras dá, em dois artigos, testemunho dessa alternância dos partidos no poder, apoiados em maiorias fabricadas em eleições gerais e que acabavam sempre pela dissolução do governo e do Parlamento, devido à incompetência de quem governava.

“Ainda a Dissolução

Está pois decretada a dissolução das cortes tendo dentro em breve de se proceder a eleições geraes”. (…) quem governa, governa e não pode estar à mercê das exigências, dos caprichos, e das vaidades dos chefes dos agrupamentos e das individualidades dos diferentes corrilhos políticos”

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“Governantes e governados”

Segundo o jornal, muitos votos são também por conveniência, vota-se para o partido e para as pessoas que iram satisfazer os seus interesses pessoais e não para resolver os problemas do país.

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Cresciam as sociedades secretas e outros partidos políticos , fora do sistema, que lutavam pelo fim da monarquia:

• Maçonaria• Carbonária• P.R.P. (Partido Republicano Português) • Partido Socialista

Aproveitavam todos os casos políticos e escândalos do reinado de D. Carlos e dos seus governos para atacarem a Monarquia e defenderem a urgência da República.

7. Crescimento das sociedades secretas, do P.R.P. e de outros partidos

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A Maçonaria e a Carbonária

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A Maçonaria

Associação secreta iniciática e filosófica, de carácter universal, cujos membros cultivam a humanidade, os princípios da liberdade, igualdade, fraternidade, e da democracia, assim como o aperfeiçoamento intelectual.

Em Portugal, a loja maçónica mais conhecida e antiga é o “Grande Oriente Lusitano”, fundada em 1802.

A Maçonaria teve uma grande influência na revolução liberal de 1820, na abolição da pena de morte em 1867, e na implantação da República, em 1910.

«Irmãos»

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A Carbonária

Sociedade secreta e revolucionária, fundada na Itália por volta de 1810. A sua ideologia assentava nos princípios da liberdade, igualdade e

fraternidade. Integrava sobretudo membros das classes populares.

Era mais radical que a Maçonaria, defendendo princípios libertários e assumindo um forte anticlericalismo. Defendia o uso da violência no derrube da Monarquia.

« Primos »

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Em Portugal, a Carbonária foi fundada em 1896, por Luz de Almeida. Desenvolveu alguma actividade no domínio da educação popular e esteve envolvida em diversas conspirações antimonárquicas. Teve um papel muito activo no Regicídio e na Revolução de 5 de Outubro de 1910, associada a elementos da Maçonaria e do Partido Republicano Português.

Manuel Buíça

António Maria da SilvaLuz de AlmeidaMachado Santos

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8. A Ditadura de João Franco

(…) esse decreto odioso e pérfido, obra de panteras ministeriais, permitia a expulsão do reino ou o transporte para as províncias ultramarinas dos inimigos da ditadura (…).Era um decreto de morte. Apavorava. (…) Ele vinha de Vila Viçosa, e vinha assinado.O rei de Portugal (…) assinara tranquilamente, com mão segura e consciência firme, esse papel-atentado e esse decreto-ameaça.

Raul Proença, A Vanguarda, 1 de Fevereiro de 1909

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9. O Regicídio

A 1 de Fevereiro de 1908, a família real regressou a Lisboa. A carruagem real ao chegar ao Terreiro do Paço foi atingida por disparos vindos da multidão. Morreram o rei D. Carlos e o herdeiro do trono.

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“Em volta d´um cadáver!”

«Estes o que pretendem? [referindo-se a alguns cronistas] Divinisar D. Carlos?Fazer com que tenhamos saudades doseu reinado? (…) Eu não encontrosequer uma razão honesta para osdesculpar, para sentir por elles respeito, para d´eles ter compaixão (…) Leio «D. Carlos o desventuroso», leio «O Rei D. Carlos o martyrisado» (…)Parece um memorial! Parece uma representação de creados deServir recciosos de serem postos na ruapelo filho do patrão que morreu”.

Ainda o Regicídio …

Um mês e meio depois do regicídio, diz o jornal republicano Pátria Nova

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10. D. Manuel II, o último Rei de Portugal

D. Manuel II, filho de D. Carlos I de Bragança e de D. Amélia de Orleães, foi coroado em 1908, depois da morte do pai e do irmão no Regicídio.

Demitiu João Franco.Instaurou o período da Acalmação.Visava apaziguar os ânimos, unir os monárquicos e salvar a Monarquia.

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“A Canalha

“Um bando d´aquelles que percorreu as ruas da cidade aos vivas a D. Manuel e ás instituições (…). Quem eram eles, sabemos: eram os filhos famílias, cujos papás metteram garras aduncas nos cofres da Nação; eram essa corte de parasitas, enluvados (…) Era, enfim, a “jaunesse dorée” que se embebeda no Silva e vende a esposa n´uma barraca de monte (…). Eram essa multidão de imbecis enftuados e ridículos”

17 de Maio de 1908

Quem anda a gritar vivas a D. Manuel II, segundo o periódico oeirense, Pátria Nova

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Os últimos dias da Monarquia D. Manuel não conseguia resolver as várias crises. O descontentamento continuava.Os monárquicos continuavam divididos, indiferentes ao perigo que ameaçava a Monarquia.O P.R.P. , a Maçonaria e a Carbonária conspiravam.A agitação nas ruas crescia com tumultos populares.O Governo monárquico respondia com violência e repressão.

Por baixo do título

pode ler-se:

“O reinado de D. Manuel II nascido de

um crime, mantém-se no

sangue do povo.”

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O jornal “Pátria Nova” de 1909, num artigo intitulado “Monarchia Vermelha” fala-nos desses tumultos, reprimidos violentamente pelas forças da autoridade.

«Governo de sangue

Á hora em que escrevemos (…) voltam a haver tumultos no Rocio que abrangem todas as ruas da baixa (…) A responsabilidade dos factos não cabe pois ao exercito portuguez que mantém mais uma vez a honrada sua farda; a responsabilidade vae única e exclusivamente para o governo”.

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Conclusão

• Foi um trabalho baseado na análise de alguns jornais do concelho de Oeiras dos finais do século XIX e inícios do século XX.

• Durante esta apresentação, pudemos ver quais os factores que levaram ao fim do regime monárquico, que terminou com D. Manuel II. Pudemos ver aspectos da realidade que conduziram à morte de um rei e à deposição de outro. Que levaram ao fim de um regime de quase oito séculos.

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BibliografiaJornais do concelho de Oeiras

• A Gazeta D´Oeiras, 21 de Maio de 1893 11 de Junho de 1893 9 de Julho de 1893 30 de Julho de 1893 17 de Setembro 1893 17 de Dezembro de 1893 24 de Dezembro de 1893 7 de Fevereiro de 1909

• Pátria Nova 20 de Março de 1908 17 de Maio de 1908 28 de Junho de 1908 1909

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Sites da Internet

http://www.enciclopedia.com.pt/images/articles/Batalha%20Cabo%20de%20S.%20Vicente%20-%20large.jpg

www.wikipedia.org

http://purl.pt/93/1/iconografia/imagens/e481p/e481p_3.jpg

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Daniela Major

Nair Diogo12ºC

Inês Correia

Ano Lectivo

2009-2010