O PODER DA VOZ NA TOMADA DE DECISÕES

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DANIEL DE SOUZA GONÇALVES DA SILVA O PODER DA VOZ NA TOMADA DE DECISÕES PALHOÇA 2018

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

DANIEL DE SOUZA GONÇALVES DA SILVA

O PODER DA VOZ NA TOMADA DE DECISÕES

PALHOÇA 2018

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DANIEL DE SOUZA GONÇALVES DA SILVA

O PODER DA VOZ NA TOMADA DE DECISÕES: UMA PRODUÇÃO EM PODCAST SOBRE AS MUDANÇAS DO USO DA VOZ NA LOCUÇÃO

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Jornalismo, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito de Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo.

Orientadora: Prof. Dra. Vanessa Lehmkuhl Pedro.

Palhoça 2018

DANIEL DE SOUZA GONÇALVES DA SILVA

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O poder da voz na tomada de decisões: uma produção em podcast sobre as mudanças do uso da voz na locução

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Jornalismo, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito de Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo.

Palhoça, 04 de dezembro de 2018

Professora e orientadora Vanessa Lehmkuhl Pedro, Dra.

Professora Daniela Facchini Germann, Ma.

Professora Helena Iracy Cerquiz Santos Neto, Dra.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6

2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 7

2.1 MUDANÇA ..................................................................................................................... 7

2.2 MOTIVOS DA MUDANÇA ........................................................................................... 9

2.3 NOVOS ESTILOS .......................................................................................................... 9

2.3.1 Vozes Tradicionais .................................................................................................. 10

2.3.2 Vozes Femininas ..................................................................................................... 10

2.3.3 Vozes Jovens ............................................................................................................ 11

3 DESCRIÇÃO DO PRODUTO .................................................................................. 12

3.1 PERGUNTAS PARA OS PODCASTS ........................................................................ 12

4 PODCASTS ................................................................................................................. 14

4.1 PODCAST 1 .................................................................................................................. 14

4.2 PODCAST 2 .................................................................................................................. 14

4.3 PODCAST 3 .................................................................................................................. 14

4.4 PODCAST 4 .................................................................................................................. 14

5 OBJETIVO .................................................................................................................. 16

5.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 16

5.2 OBJETIVO ESPECÍFICO DO PROJETO .................................................................... 16

6 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 17

6.1 TEMA 1: A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO DOS ANÚNCIOS .................... 17

6.2 TEMA 2: A DIMINUIÇÃO DE LOCUTORES TRADICIONAIS EM

DOCUMENTÁRIOS ................................................................................................................ 17

6.3 TEMA 3: PODCAST COMO FERRAMENTA DE INOVAÇÃO ............................... 18

6.4 PROCESSO DE PRODUÇÃO ...................................................................................... 19

6.5 ABERTURA .................................................................................................................. 19

6.6 APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 19

6.7 ÁUDIO .......................................................................................................................... 19

6.8 ENTREVISTAS ............................................................................................................ 20

6.9 COMERCIAIS ............................................................................................................... 20

6.10 SPOTIFY ....................................................................................................................... 21

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6.11 CONTINUIDADE ......................................................................................................... 21

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 22

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 24

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1 INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso buscou levantar questões e encontrar algumas

respostas para mudanças ocorridas no estilo e nos usos da locução ao longo dos anos nos

campos do Jornalismo e da Publicidade. Fiz uma análise que passou por onde o rádio teve

grande destaque para a produção e para o público, com seus locutores de vozes empostadas e

leituras retas (ou seja, sem interpretação), até os dias atuais, onde novos estilos de locução

têm alcançado espaço no mercado. Busquei estudar o assunto para também saber o porquê de

algumas vozes serem consideradas melhores para certos tipos de conteúdos, públicos e

formatos e outros não. Parti da inquietação de que a voz é uma das forças utilizadas para o

convencimento do público para melhor apreender e compreender uma informação ou na hora

de escolher por consumir ou adquirir um produto. Outra característica da minha reflexão é a

escolha do formato, onde preferi refletir sobre este tema através da produção de um produto

sonoro de um debate com profissionais que vivem do uso da voz no seu cotidiano.

As novas tecnologias têm impacto nas mudanças ocorridas com o uso da voz. Os

podcasts, por exemplo, são produtos contemporâneos que utilizam recursos experimentados

longamente em programas de discussão de rádio para uma linguagem moderna, cotidiana e

que dá preferência a temas especializados (KUNZE, 2014). Por isso, propus utilizar esta

ferramenta em específico como produto de meu Trabalho de Conclusão de Curso para a

discutir o assunto proposto.

Conversei com vários locutores de renome nacional, fazendo do bate-papo o tipo de

interação, assim como os podcasts são feitos. Muitos deles são profissionais de 20, 30 e até 40

anos de experiência no meio.

Além da mudança, me aprofundei sobre o futuro do mercado de locução, já que cada

vez mais atores e pessoas com vozes comuns têm ocupado espaços que antes eram de vozes

masculinas aveludadas e graves. Como trabalho neste mercado desde 1999, tenho percebido a

perda de espaço para essa parcela de locutores de vozes tradicionais. Entretanto, os melhores

cachês ainda são para eles.

Os locutores, tanto no jornalismo como na publicidade, têm demonstrado poder de

convencimento forte. Por que um estilo de voz ganha mais do que outro? Por que uma voz

pode influenciar tanto a tomada de decisão de outra pessoa? Qual o motivo? É um simples

fator cultural ou existe algo mais? Por fim, perguntei para os entrevistados sobre a história da

locução, sua mudança ao longo dos anos, o surgimento de novos estilos, qual o futuro do

mercado e qual o motivo para certas vozes serem mais escaladas para certos tipos de

campanhas.

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2 JUSTIFICATIVA

O ambiente sonoro dos tempos atuais marca a voz da locução, seja na televisão,

no rádio, na internet ou mesmo na rua através de um simples carro de som. Todos nós

ouvimos vozes, mas pouco entendemos como ela influencia a nossa vida. Por isso decidi

estudar esse assunto. Este projeto visa trazer uma reflexão sobre uma área da comunicação tão

presente no nosso dia a dia, mas tão pouco estudada.

O estilo de narração do jornalismo é um espelho para a locução publicitária ao

longo do tempo. Apesar de não ter muitos registros bibliográficos sobre o assunto, a locução

imita na forma de expressar e no tom de voz do seu irmão, o jornalismo. Os anúncios, sempre

com alguma encenação ou jingle, eram finalizados com a voz empostada de um locutor,

normalmente os de rádio. Esse locutor ainda tinha outras características do jornalismo, com

certas letras ressoadas de forma forte, como o “R” vibrado. “Aconchegante maciez e dura lã

para a sua família, cobertores Parahyba”, finalizava um locutor em anúncio da década de 1950

(COMERCIAIS ANTIGOS, 2018).

Outra característica na locução publicitária era a finalização de frases “para cima”,

deixando a última letra como em um eco vocal. A sensação de anúncio jornalístico era

evidenciada com pouco sorriso, como expressava o locutor ao falar “Compre para os seus

filhos as lindas lancheiras São Luiz”. A dicção era outro ponto de destaque, com cada letra

sendo pronunciada perfeitamente, além de poucas pausas para respirar.

Odayr Baptista é uma dessas vozes do passado que ainda hoje estão na ativa e tem

demonstrado um estilo no específico, quase uma caricatura dos locutores do século passado

que fizeram sucesso. Radialista de carreira, fez sucesso na década de 1970 com o programa

Show de Rádio da Jovem Pan, na capital paulista. Mas a partir da década de 1980 ele vem

atuando com mais força na publicidade com locuções para as principais empresas do país.

Caso não reconheça o nome, ele é possível ser lembrado nos atuais comerciais da cerveja Skol

com o case “desce quadrado e desce redondo”.

2.1 MUDANÇA

Ao longo dos anos a mudança é evidenciada na locução nacional e mundial.

Gradativamente o público começa a ouvir novas vozes e outros estilos. No Jornal Nacional,

por exemplo, Valéria Monteiro foi a primeira mulher a apresentar o principal telejornal da

Globo, e de todo o Brasil com seus 85% de audiência na época. Um marco ao ter uma voz

feminina e um padrão de modelo na tela do jornal. Os antigos locutores dão lugar a pessoas

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mais jovens e vozes mais menos graves. As notícias são lidas de forma mais leve, não tão

empostada. Seria um espelhamento da sociedade? Passam a ser vista como de mesma

credibilidade? Tons de vozes são diversificados com sorrisos e lamentos. O texto é mais

interpretado, contado e falado de forma coloquial e menos anunciado, empostado e como se

fosse um pronunciamento oficial.

No rádio, a mudança é ainda mais radical atualmente. Os antigos apresentadores,

ou leitores de notícias, dão lugar a pessoas com um estilo diferente ou, no mínimo,

diversificado. São jornalistas de formação que não apenas leem a notícia, mas também

comentam e participam. Eles conversam com seus ouvintes. O diálogo talvez seja a mudança

mais evidente, embora o radiojornalismo sempre tenha buscado intimidade com o ouvinte. A

aproximação pelo diálogo e pela diversificação de tom e vozes atuais também podem ter

relação com as mudanças no papel do próprio ouvinte, que se torna usuário na web e que

busca mais informações e produtos para consumo.

Sem dúvida alguma o estilo de locução publicitária também mudou. Os antigos

locutores perderam espaço para novas vozes e novos estilos de locução. Cid Moreira, Odayr

Batista e Heron Domingues deram espaço para locutores versáteis e coloquiais. Exemplos:

Edinho Moreno, Edson Mazieiro, Jô Ferraz, Bob Floriano, Antônio Viviani, Mauro de

Almeida, Rafaela Puopolo, entre outros (CLUBE DA VOZ, 1992). Esses profissionais, alguns

vindos do teatro, trazem ao microfone uma nova interpretação, quase uma conversa. Pausas

longas, palavras ditas com pequenos defeitos e até erros propositais para passar a maior

naturalidade possível. Poucos conseguem manter um só estilo vocal e muitos precisam se

reinventar com vozes caricatas e novos tons.

Irineu Toledo, também locutor publicitário, se define como um profissional “Sem

estilo. Ou vários estilos” (CLUBE DA VOZ, 1992). Atua nos meios de comunicação desde

1978, atuando como jornalista e radialista nas principais emissoras, como Manchete FM,

Eldorado FM e Rede Transamérica Sat. Dono de uma voz aveludada, como os antigos

profissionais da voz que passavam credibilidade por meio de seu tom de voz grave, Toledo

renasceu no meio publicitário. Consegue fazer praticamente todos os tons de vozes que uma

voz masculina consegue, até as mais agudas, tanto que criou uma outra identificação nominal,

o Irineu Junior: “Eu posso ser Irineu Toledo, com uma voz aveludada, mas também [começa a

afinar a voz para um tom extremamente juvenil] o Irineu Junior”.

Com a democratização dos meios digitais, que implica inclusive num

barateamento dos custos de produção, os usuários, além de ganhar mais capacidade de

interferir nos conteúdos de profissionais, hoje também podem eles mesmos produzir. E esta

avalanche de produções caseiras trazem novas possibilidades de intimidade no texto, na fala e

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no uso da voz. A maior produção de vídeos na internet hoje é feita por crianças (SILVA,

2016).

2.2 MOTIVOS DA MUDANÇA

O mundo mudou nestes anos desde que o rádio apareceu e surgiram

influenciadores através da voz. Hoje o jovem é diferente. Seu linguajar é diferente através de

muitas gírias e palavras escritas de forma abreviada. Ter seus ideais é motivo de orgulho e

respeito perante a sociedade. E essa geração influenciou na mudança de vozes.

As Novas Tecnologias da Comunicação (NTC) também podem nos indicar

formas novas e novas influências que vêm ganhando espaço na utilização da voz. Inclusive se

pensarmos na passagem do uso da voz grave e empostada para a utilização de uma

diversidade de vozes numa diversidade de formatos dentro do meio digital. A internet abre

espaço para criação de novos programas de rádio, por exemplo. Os chamados podcasts

abraçam a internet com milhares de anônimos que conseguem discutir assuntos com outros

anônimos, tirando a necessidade de um veículo intermediador.

Para Bia Kunze, no livro “Reflexões sobre o podcast” (KUNZE, 2014), “O

podcast é uma mídia de áudio fortemente ligada à internet, mas que guarda muitas

semelhanças com uma brincadeira clássica dos anos 1980, quando as crianças usavam

gravadores de fita cassete para gravar seus próprios ‘programas de rádio’” (KUNZE, 2014).

Da brincadeira de criança, ganhou alcance mundial depois da revolução digital. “A diferença

é que agora o mundo inteiro pode ouvir esses programas e, ainda por cima, eles podem deixar

de ser uma simples ‘brincadeira’ e se tornarem uma profissão” (KUNZE, 2014).

O rádio, que mostrava sinais de desgaste dividindo a força da TV, ganha novo

fôlego nesta nova mídia. Além dos anônimos, as próprias emissoras descobrem na internet

uma forma de propagar seu conteúdo.

Um exemplo do uso dessa nova ferramenta pela antiga mídia (rádio), neste ano de

2018, o Troféu APCA (Associação Paulista de Críticas de Arte) premiou na categoria Rádio o

programa "Voz OFF". O programa não é veiculado em nenhuma emissora convencional,

apenas nas mídias digitais. Apresentado por Antônio Viviani e Nicola Lauletta, o podcast

entrevista personalidades do meio radiofônico, entre locutores e apresentadores.

2.3 NOVOS ESTILOS

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Durante todos esses anos, milhares de pessoas têm se moldado através do tom de

voz. Isso é evidenciado em análise do mercado publicitário. O Clube da Voz, agência com os

principais locutores do Brasil, sediado em São Paulo, mostra que a mudança de profissionais

aparece em seu leque de locutores. Quando se fala de credibilidade, por exemplo, a primeira

voz que se imagina é um tom grave, sério, quase imponente. Assim como foram os locutores

do Repórter Esso. Conhecidas vozes no Brasil saíram do telejornalismo para darem

contundência a marcas famosas. Tornaram-se locutores publicitários, convencendo o público

que produtos e políticos falam a verdade. Abaixo exemplos de campanhas de locutores deste

estilo.

2.3.1 Vozes Tradicionais

Ferreira Martins (ex-apresentador do Jornal Nacional): Bradesco, Bamerindus,

Ford, Hyundai, Antarctica (case uma paixão nacional), Petrobrás, Folha de São Paulo e

Campanhas eleitorais do PSDB.

Carlos Henrique Corrêa (ex-apresentador do Jornal Hoje): Brahma, Petrobrás,

Vale, Prefeitura de São Paulo, Varig, Banco do Brasil, HSBC e Volkswagen.

Edson Mazieiro: General Motors, Itaú, Ninho, Chrysler, Mercedez, Tim Celular,

Chevrolet e LG.

2.3.2 Vozes Femininas

As vozes femininas dominam os comerciais de empresas que desejam passar

suavidade e sentimento materno. São atrizes ou locutoras de rádio com vozes macias que

transferem a credibilidade de uma forma diferente, passando conforto ao ouvinte. As marcas

procuram essas vozes para dar representatividade e inclusividade ao produto. Para Carolina

Mânica (SACCHITIELLO, 2018), locutora publicitária, essa mudança está vinculada a um

cenário de libertação: "Estamos vivendo um cenário de libertação feminina e a luta pela

igualdade de reconhecimento. É inevitável que a publicidade se adeque a essa realidade

abrindo mais espaço para o feminino com uma voz atuante”, analisa a locutora, que já

emprestou a voz para campanhas de Renner, Sadia, Coca-Cola, Faber-Castell, Danone e

outros anunciantes. Há outros exemplos de vozes femininas que ganham destaque no mercado

como Simone Kliass, que faz as campanhas do Aeroporto de Guarulhos, Serasa, Avast,

Danone, Airbnb, Downy e Hipoglós; Helen Helene, da Palmolive, HBO Family, Avon;

Regina Bittar: Leroy Merlin, Dove, Kinder Chocolate, Ferrero Rocher e Johnson & Johnson.

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2.3.3 Vozes Jovens

Portfólios de vozes jovens estão direcionados a comerciais que desejam passar

dinâmica e jovialidade ao produto. Alguns locutores jovens têm sua voz associada a grandes

marcas como é o caso de Eric Santos e as campanhas do Beach Park, canal Discovery World,

Casas Bahia, Listerine, Oral B e Cultura Inglesa; de Edgard Piccoli e as marcas Porto Seguro

Auto Jovem, Motorola, Instituto Triângulo, Nokia, Vivo e Montilla Cola; e Reinaldo

Rodrigues para a Faculdade Mackenzie, Skol, Sadia, Red Bull, Cinemark, I-Best e Coca-cola.

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3 DESCRIÇÃO DO PRODUTO

Nos podcasts discuti essa mudança no estilo de locução dos dias atuais. Procurei

os profissionais de locução do Brasil. Eles foram fundamentais para ter uma opinião e

referências sobre o assunto. Meu trabalho foi de diálogo, com o desafio e talvez facilidade de

eu mesmo ser parte do meio, ser locutor. Dividi o material em quatro programas, totalizando

1h20min de conteúdo editado e mais de 4 horas de material captado.

Conversei com os principais locutores do Brasil. Meu objetivo inicial era

entrevistar profissionais locais, estaduais e alguns locutores nacionais. Entretanto consegui

resposta positiva dos principais locutores do Brasil, o que fez o projeto ganhar corpo e espaço

para esses profissionais. Entrevistei pessoas que estão há 10, 20, 30, 40 anos comunicando ao

público através da locução jornalista e publicitária.

No decorrer do processo fui caminhando para a parte publicitária, como é

percebido nos podcasts. A locução jornalista e publicitária se assemelham em alguns aspectos

e também nessa tendência de transformar a locução. O jornalismo fez a base da locução no

mundo e isso eu espelhei no produto final. Conversei primeiro sobre a locução jornalística e

fui para o viés publicitário, que norteia todo o mercado, assim como o meu produto.

Consegui um bom ambiente para debater a locução de forma geral e no Brasil.

Um ponto forte do produto é extrapolar os limites locais e acessar entrevistados que dão voz a

marcas nacionais (Parmalat, Banco do Brasil, Unilever, Latam, Chevrolet, Casas Bahia, entre

outros). Os podcasts também conseguiram o êxito de receber histórias de vida desses

profissionais, com registros de memória da área que que serão guardados e registrados para a

posteridade. Uma mistura de memória e também de estudo da profissão. Aos poucos os

profissionais foram se soltando e falando sobre suas vidas, mas para isso precisei conversar

por muito tempo com eles, com gravações de um profissional, por exemplo, de quase uma

hora.

3.1 PERGUNTAS PARA OS PODCASTS Como era o estilo de locução no início do rádio?

Qual mudança ocorreu?

Para você, qual o motivo desta mudança?

Qual a importância da voz na tomada de decisão de outras pessoas?

Como é a locução hoje?

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Há espaço para o antigo estilo?

Para o futuro, com a diminuição de locutores com voz graves, qual a tendência do

meio?

Qual o papel das novas tecnologias na locução publicitária?

O mercado também mudará em breve dentro deste novo contexto?

O que é locução natural?

Apesar da mudança, locutores com vozes aveludadas têm sido utilizados. Por que

isso?

Mas por que isso acontece? O aspecto de timbre é o único argumento? As mudanças

na sociedade têm papel nas mudanças da locução? E quais mudanças têm acontecido

ao longo dos anos?

Por que, apesar dessa mudança, ainda há uma diferença grande de valores pagos aos

locutores de vozes mais graves e aveludadas?

Qual o grau de importância de um tom de voz para convencer outra pessoa? No

mercado existe essa diferença, mas o motivo é cultural ou o tom vocal faz alguma

diferença no cérebro do indivíduo?

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4 PODCASTS 4.1 PODCAST 1

Trabalhei a história da locução. Como era o estilo mais empostado. Quais outras

características são marcantes. Como foi o início dessa mudança. E quem fez essa mudança,

conversando com dois profissionais do Brasil que participaram dessa mudança e outro

profissional americano que fala sobre o estilo nos Estados Unidos.

Os entrevistados foram Bob Floriano, Carlos Henrique Corrêa (chamado pelos

profissionais de KK) e Jason Bergmingham. Os dois primeiros saíram do jornalismo para a

locução publicitária, mas não antes sem auxiliar na mudança da locução e do jornalismo como

um todo. Eles falam detalhes das alterações e como sofreram para impor a novidade. Os

profissionais salientam também a fonte dessa mudança, o programa americano Good

Mornning America (CBS). Por isso, busquei um locutor americano para dar sua opinião como

era feita a locução nos Estados Unidos.

4.2 PODCAST 2

Como é o atual estilo de locução e narrativa? Esse é o tema da conversa neste

podcast. Converso com Paulinho Ribeiro, Eric Santos e Edson Mazieiro. O primeiro mostra

como ele próprio mudou seu estilo de locução e a versatilidade para se encaixar no novo

mercado. Já Eric Santos tem como estilo a voz jovem, tão em alta atualmente. E por fim

Edson Mazieiro faz um apanhado do assunto e salienta os perigos que ocorrem com os novos

profissionais.

4.3 PODCAST 3

Porque aconteceu essa mudança na locução? Para responder essa questão

conversei com dois profissionais. O primeiro é Irineu Toledo, que falou sobre a estética na

locução, suas mudanças devido ao mundo atual, entre outros assuntos. Na sequência falamos

com Simone Kliass, profissional gabaritada por ser uma das vozes mais requisitadas no

mercado, que explicou na prática como funciona essa nova mudança na locução.

4.4 PODCAST 4

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Neste podcast falamos sobre o futuro da locução, destacando o papel de cada

estilo, a importância da tecnologia e os novos mercados de trabalho. Para isso, repetimos três

convidados: Edson Mazieiro, Carlos Henrique Corrêa e Jason Bergmingham.

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5 OBJETIVO 5.1 OBJETIVO GERAL

Procurei trazer uma reflexão sobre o uso da voz ao longo dos anos, que vão desde o

timbre até o estilo de leitura, e suas mudanças. Procurei entender o motivo das mudanças

apresentadas nos últimos anos e como isso irá interferir no futuro. Entretanto também analisei

alguns aspectos que não mudam na locução ainda hoje.

Mais que conclusões definitivas, construí reflexões para boas perguntas sobre essa mudança.

5.2 OBJETIVO ESPECÍFICO DO PROJETO

a) Entrevistei profissionais;

b) Editei todos os podcasts;

c) Analisei as mudanças;

d) Instiguei um estudo de como será o futuro do meio da locução.

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6 REFERENCIAL TEÓRICO

6.1 TEMA 1: A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO DOS ANÚNCIOS

Como foi analisado anteriormente, é possível ver a mudança de comportamento

no tipo de locução de comerciais e anúncios publicitários. Para Marshall McLuhan, “essa

mudança faz parte do surgimento de novas tecnologias e a procura por “criar anúncios cada

vez mais à imagem dos motivos e desejos do público” (MCLUHAN, 1964). Por isso, a

participação do público no que ouve é destacada. O público não apenas ouve, mas também

começa a fazer parte do anúncio.

McLuhan continua lembrando que o produto e o público se unem. O que é

destacado não é mais utilidade, mas sentimento. Os anúncios fazem a pessoa sentir o produto.

“Um exemplo extremo é o da série de anúncios dedicado ao espartilho, onde se afirma que ‘o

que você sente... não é o espartilho’”. Ou seja, a necessidade essencial não é mais o principal

foco dos anúncios, mas sim um contexto de sensação. São novas formas de divulgação são

criadas, ou trazidas do cotidiano, para vender melhor. Então surgem novos estilos de locução

que hoje amplamente dominam o mercado publicitário.

A importância de trabalhar no subconsciente também é mencionada pelo autor. A

sensação de bem-estar do ouvinte, ou espectador, fica cada vez mais forte ao longo dos anos e

por isso novos estilos de narração são trazidos para os meios de comunicação: “Os anúncios

não são endereçados ao consumo consciente. São como pílulas subliminares para o

subconsciente, com o fito de exercer um feitiço hipnótico”.

Por fim, o investimento fica muito maior conforme o tempo passa. O objetivo é

dar uma experiência de sucesso ao cliente, e a locução é inclusa nisso. “As equipes de

publicidade possuem milhões para gastar anualmente na pesquisa e na testagem das reações, e

seus produtos são magníficas acumulações de materiais sobre as experiências e os

sentimentos partilhados por toda a comunidade”. 6.2 TEMA 2: A DIMINUIÇÃO DE LOCUTORES TRADICIONAIS EM

DOCUMENTÁRIOS

Neste tópico me refiro a “locutores tradicionais” para aquele estilo de locução do

início do rádio, onde uma voz impostada e um tom reto se sobressaiam.

Para Consuelo Lins, documentarista e professora do programa de Pós-Graduação

da Escola de Comunicação da UFRJ, no artigo “O Ensaio no Documentário e a Questão da

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Narração”, na década de 1950 o movimento chamado “documentário moderno”

problematizou a voz dominante, ou "Voz de Deus", chegando a tirar de muitos documentários

a locução padrão. “Para muitos jovens documentaristas do pós-guerra, abolir a voz de

autoridade em proveito de um universo sonoro variado era crucial; tratava-se de respeitar

tanto o material filmado quanto o espectador, evitando a imposição de uma visão única dos

acontecimentos mostrados”. Ela acrescenta sobre a voz tradicional: “Na França, nos Estados

Unidos, no Canadá, a crítica a essa voz do saber foi radical e decorreu, entre outros fatores, de

uma reação à tradição documental inglesa, dominante no cinema desde o início dos anos 30”

(LINS, 2006).

A narração em off, incluindo no Brasil, é quase abolida nos anos de 1990 e 2000

em documentários, visto isso inclusive em canais de televisão do segmento. A entrevista é

destacada. “O que verificamos...é o privilégio à entrevista em detrimento desse recurso

estético e narrativo, a ponto de configurar uma espécie de senso comum documental

brasileiro" (LINS, 2006).

6.3 TEMA 3: PODCAST COMO FERRAMENTA DE INOVAÇÃO

Para Tom Webster “Podcasting é o conceito de fazer downloads de vários tipos de

programas em vídeo e áudio, na forma de arquivos digitais que você pode ouvir a qualquer

momento que quiser. Podcasting não se refere ao download de arquivos individuais de MP3

ou músicas. Podcasting se refere ao download de programas online de áudio ou vídeo (como

talk shows ou um programa de apresentação de músicas), geralmente com um download

automático que pode ser ouvido de acordo com a conveniência do usuário” (LUIZ, 2010).

Nesta análise é possível ver o espaço que os podcasts têm entre os ouvintes,

principalmente nas novas gerações. O espaço é viabilizado por grupos ignorados pelas mídias

tradicionais e que se identificam com os assuntos abordados. Podcasts como do site Jovem

Nerd estão entre os mais propagados, gerando receita semanal em todos os seus programas,

fruto do conteúdo e dos mais de dez anos de produção ininterrupta. Um público fiel e grande

cerca de 500 mil downloads por mês.

O podcast é resultado das novas tecnologias e das mudanças na sociedade. Um

paralelo da locução. Enquanto a locução adicionava novos estilos de narração, o rádio

conhecia os podcasts. Essa novidade traz um estilo mais natural e pessoal, assim como na

locução. Para Luiz, a interatividade com os ouvintes chama a atenção do público: “A forte

interatividade com os ouvintes e a possibilidade sólida de um ouvinte se tornar um podcaster

sem dificuldades subverte o conceito tradicional de receptor passivo das mídias de massa,

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ampliando o conceito de receptor ativo das mídias digitais para se tornar ao mesmo tempo

potencialmente receptor e emissor”. Exatamente como acontece na locução publicitária, o

ouvinte se torna ativo e tem voz (LUIZ, 2010).

Por essa base selecionados o podcast como ferramenta de mídia para o projeto

proposto.

6.4 PROCESSO DE PRODUÇÃO 6.5 ABERTURA

A abertura nos quatro programas foi conscientemente planejada. Primeiro a trilha

sonora tem um estilo de TV, como abertura de programa televiso, e até o som de uma TV

ligada está ao fundo. Os comerciais inseridos têm um crescente cronológico: Ford Galaxy,

década de 50; Repórter Esso, década de 60/70; Mastercard, anos 90/2000; e SKY, nos tempos

atuais. Junto a essa cronologia, há também uma mudança gradual no estilo da locução de cada

locutor, remetendo a proposta do Trabalho de Conclusão de Curso.

Por fim, os locutores que fazem a vinheta “O Poder da Voz” são todos

entrevistados dos podcasts. Para se ter uma ideia do valor financeiro somente dessas falas, se

cada profissional cobrasse o valor de mercado para uma veiculação nacional de um mesmo

tempo de fala nós teríamos algo em torno de 5 mil reais para pagar. Entretanto conseguimos

gratuitamente. 6.6 APRESENTAÇÃO

No começo de cada programa eu iniciei com uma fala geral, explicando sobre o

que o ouvinte iria ouvir nos próximos minutos. Falei dos entrevistados daquele bloco e os

assuntos mais profundamente abordados. Entretanto tomei uma decisão: a de fazer tudo de

forma improvisada, para assim dar mais aspecto informal, como é um podcast. Relutei para

fazer isso, mas os testes que fiz (improvisação x roteiro lido) foram realmente diferenciados. 6.7 ÁUDIO

Para as entrevistas uma inquietação me pairava: qualidade. Sou profissional da

área desde 1999 e gostaria de ter qualidade no áudio das entrevistas. Não queria som de

telefone. Por isso, a princípio, pretendia viajar para cada cidade para levar o meu equipamento

e gravar com os locutores. Mas o custo seria alto e inviável. Por isso optei por uma

abordagem escalonada: primeiro eu entrava em contato por e-mail, explicando o projeto

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acadêmico e o convite para a entrevista; depois confirmar, eu esclarecia que para manter a

qualidade da voz do entrevistado eu gostaria que ele gravasse seu áudio paralelamente.

Como funcionava: Eu ligava por telefone para cada profissional, gravava minha

voz em meu estúdio e o locutor do outro lado gravava em seu estúdio. Ao final, eu recebia o

áudio dele e juntava com minha parte. Cada locutor eu entrevistei separadamente em longas

conversas de até 50 minutos e retirei apenas pequenas partes para os podcats.

Um detalhe importante é que, como estávamos pelo telefone, em muitas conversas

o áudio do celular vazava no microfone de alta definição em ambos os estúdios. Nesses

momentos eu tive que tirar manualmente, trecho por trecho. Infelizmente em alguns

momentos não consegui retirar a interferência sem comprometer o produto.

Ainda regulei cada volume, comprimindo os arquivos para melhor equalização.

Mas como cada voz tem uma frequência diferente, fiz o ajuste manualmente para cada

profissional. Foram horas fazendo esses ajustes.

Por fim, é possível ouvir um material limpo, com altíssima qualidade sonora. 6.8 ENTREVISTAS

Eu conversei sobre a maioria dos assuntos com cada entrevistado, seguindo o

roteiro pré-definido no projeto. Mas não fiz as perguntas lidas, para dar um aspecto de bate-

papo mesmo, igual nas aberturas. Minha intenção era dar um ar de conversa entre amigos,

com risadas, brincadeiras e pequenos questionamentos sérios.

Vale ressaltar que não apresentei cada entrevistado como se faz no rádio, falando

o currículo de cada pessoa. Como é um podcast, eu normalmente comecei falando um aspecto

pessoal do locutor para dar mais intimidade na conversa. Eu tratei a pessoa como uma

conhecida do ouvinte e esse é um aspecto rotineiro dos podcasts. Os podcasts focam em

segmentos específicos e teoricamente as pessoas que ouvem já conhecem abrangentemente

sobre o assunto.

6.9 COMERCIAIS

Apesar de não explicar quem é cada entrevistado, prezei por colocar comerciais

dos profissionais durante os podcasts. Foi uma forma de relembrar produtos feitos por eles,

mas também de quebrar um pouco o ritmo da entrevista. Sem os comercias percebi que as

conversas poderiam ficar cansativas para quem não conhece bem os locutores. Por isso, ao

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inserir os comerciais dos locutores eu atendi todos os públicos, sem abrir mão do estilo

informal dos podcasts.

6.10 SPOTIFY

Qual é hoje a principal ferramenta de streaming do mundo? Spotify. Por isso, no

meio do processo de edição eu tive a ideia de publicar os podcasts nesta ferramenta. O

problema era como fazer isso? Para a minha alegria o Spotify começou recentemente (junho

2018) a disponibilizar, além das músicas, podcasts na sua plataforma.

Entretanto ainda havia um problema. A opção de podcasts “caseiros” (alguns

podcasts renomados estão sendo pagos para hospedar seus matérias no Spotify) só dá direito a

ser encontrado nas buscas da plataforma, mas a hospedagem precisaria ser em um servidor

externo compatível com eles. Eu tenho um servidor para meu site profissional, mas seria

necessário mexer com programação para ter sucesso nisso. Um tempo precioso que eu não

tinha para estudar programação WEB. Depois de muita pesquisa encontrei uma um site

chamado Speaker, compatível com o Spotify e de grande capacidade gratuita. E então

consegui publicar na plataforma.

6.11 CONTINUIDADE

Como cada entrevistado resultou em um longo bate-papo, pretendo nas próximas

semanas publicar as conversas na íntegra. Ainda desejo continuar entrevistando outros

profissionais e fazer desse produto um material de longo prazo, levando o conceito acadêmico

para além da sala de aula.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em todo o processo procurei colocar o entrevistado no papel de protagonista, sem

deixar de lado minha vontade de aprender mais e ter uma conversa franca. Não há material

bibliográfico deste conteúdo específico, apenas pequenas pontas ou tópicos em trabalhos

acadêmicos, por isso, minha percepção aumentou ainda mais ao entender que poderia estar

colaborando significativamente para a profissão que tanto tenho apreço.

Nas entrevistas segui a temática deste trabalho acadêmico e obtive resultados

interessantes. Respostas que me surpreenderam e me deram uma nova visão de mercado. São

profissionais, pessoas individuais, mas que trazem uma carga de história grande e por isso

essas opiniões são valiosas. Muitos desses locutores dificilmente concedem entrevistas e por

isso seus relatos são preciosidades que poderão ser estudadas por muito tempo.

Destaco algumas frases:

“A escola de jornalismo [locução] era aquela coisa fechada, onde você não podia

sair daquele padrão. No entanto, com o Fala Brasil na década de 90, nós trouxemos um

jornalismo interativo, conversado, rápido, natural...E isso fez com que todo o jornalismo da

TV brasileira se modificasse por conta disso. Claro que seguindo o modelo americano Good

Mornning America. Alguém precisava fazer essa transformação e nós fizemos com o Fala

Brasil”, Bob Floriano.

“Na Globo (TV) foi uma experiência muito trágica. Aquela mania de perfeição e

também uma pressão muito grande de colocar você como ‘se você não trabalhar na Globo

você não é ninguém’. Isso pelo menos na minha época. Quando você errava era uma coisa

complicada. Não faltava gente para se encher o saco. Aí quando eu fui para a Cultura (TV)

pude colocar meu lado espontâneo. Eu sou um dos precursores dessa maneira de ser mais

solta no jornalismo [locução]”, Carlos Henrique Corrêa.

“A voz natural, a voz comum, o não locutor que se pede hoje em dia tem a

intenção de aproximar o cliente, o ouvinte daquilo que se está falando, da marca. Por isso

muitas vezes a gente ouve um briefing assim: ‘fala como se tivesse falando com um amigo’.

Por isso, ainda hoje, se o vozerão cumpre esse papel, ele é o mais indicado para a peça

[publicitária]”, Eric Santos.

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“Não mudou por causa de uma evolução. O que mudou foi o mundo. O que

mudou foi a tecnologia. Quando você muda a tecnologia, você muda os suportes, muda a

qualidade de tudo aquilo que se usa de equipamento. Então você passa a ter que ter outros

recursos artísticos. Por exemplo, a gente só foi ter stereo quadrifônico, quatro canais, no final

dos anos 60. Existiam microfones bons na época, mas exigia-se que tivesse vozes fortes, com

energia. Mas a partir dos anos 70 isso foi mudando”, Irineu Toledo.

“A voz conversada é muito trabalhada. Tem muita gente que diz ‘pega sua vizinha

que tem uma voz legal’ para gravar, mas quando essa pessoa for colocada em frente a um

microfone ela não sabe fazer conversado, natural. Ela trava. Eu acredito que uma voz

conversada e natural tem muito trabalho por traz. É como os atores de filmes. Quando você

acredita na história dele é porque ele está natural. Imagina quanto trabalho tem nesse ator?”,

Simone Kliass.

Alcancei algo maior do que pretendia. Foi além do que planejei. Conversei com

profissionais do Brasil e quem tem um tempo valioso financeiramente e culturalmente. São

locutores, tanto jornalistas quanto publicitários, que cobram valores de pelo menos mil reais

para um pequeno áudio de cinco segundos e tem anos de conhecimento. Eles desenvolveram

técnicas e perceberam a realidade da área mudando. Mudando-os também. Foi interessante,

para não dizer fantástico, ter esse conteúdo registrado em um processo acadêmico,

valorizando o aspecto de relevância da universidade para o estudo da sociedade.

Tenho a certeza que esses podcasts serão ouvidos com atenção por outros

profissionais da área. E isso não é uma conclusão minha, mas uma constatação. Durante esse

semestre estive em São Paulo para um curso de locução e ao ir conversar com o locutor

Edinho Moreno (voz do Mastercard, canais Fox), ele me perguntou: “Você é o estudante que

está entrevistando meus colegas? Se quiser, eu posso conceder uma entrevista para você

também”, comentou. Isso mostrou que o material causou repercussão interna no meio,

abrindo portas, inclusive profissionais.

Sou locutor há 20 anos e procurei neste período um material como esse, para

ouvir, estudar e aprender. Tenho a certeza que alcancei, através dos depoimentos dos

entrevistados, um pouco deste desejo.

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