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O que os elementos de uma homepage dizem sobre o ativismo virtual?
Monique Alves Vitorino1 (UFPE) Resumo: Tendo em vista que a internet apresenta-se, cada vez mais, como uma ferramenta para a mobilização social na discussão de questões que envolvem decisões de cunho ambiental, político e social, neste trabalho objetivamos descrever e analisar a homepage do grupo ativista Avaaz a fim de caracterizar sua ação. Seguimos os pressupostos da análise de gêneros textuais orientados, principalmente, por Swales (2009), Bazerman (2006) e Bezerra (2007). Palavras-chave: homepage, análise de gêneros, ativismo virtual. Abstract: In view of that the internet presents itself increasingly as a tool for social
mobilization in the discussion of issues that involve decisions of nature environmental, political and social, this paper aims to describe and analyze the homepage activist group Avaaz, in order to characterize its action. We follow the assumptions of the genre analysis guided mainly by Swales (2009), Bazerman (2006) and Bezerra (2007). Keywords: homepage, genre analysis, virtual activism.
Introdução
A internet se caracteriza como um meio que oferece variadas oportunidades
para a criação de novos canais e configurações de comunicação. A possibilidade de
formação de uma teia infinita de debates, a velocidade da circulação das
informações e o baixo custo dessa circulação que a internet favorece viabilizaram o
surgimento dos novos movimentos políticos que se multiplicam pelo mundo.
Organizações Não Governamentais (ONG) e representantes de diversas
comunidades, dedicados à luta pela mudança ou manutenção de uma dada
situação, potencializaram o alcance de suas reivindicações pelo politicamente
1 Monique Alves VITORINO, Doutoranda
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós-Graduação em Letras [email protected]
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correto, pelo cumprimento dos direitos humanos, pela retidão das ações etc. Nesse
sentido, incorporada às atividades diárias de 1,9 bilhões de pessoas (XAVIER, 2011),
a internet apresenta-se, cada vez mais, como uma ferramenta para a mobilização
social na discussão de questões que envolvem decisões de cunho ambiental,
político e social. O ativismo virtual, ou ciberativismo, se tornou uma das principais
tendências da rede.
“Se em seus primeiros anos de massificação a internet foi uma fronteira
comercial, cultural, comportamental, os últimos tempos vêm desenhando uma
grande rede, cada vez mais consciente do seu potencial político” (NOGUEIRA, 2013,
p. 64) a partir da livre conexão de pessoas e da livre, e virtualmente infinita,
distribuição de informação. As pessoas são provocadas a assumirem um lado em
questões de diversas naturezas; são chamadas à intervenção. Por sua vez, os
internautas têm ao seu alcance de suas mãos a chance de poder intervir na ordem
das determinações políticas e sociais. Pensando na emergência dessa mais nova
potencialidade da internet, neste artigo, objetivamos descrever e analisar a
homepage do grupo ativista Avaaz2 a fim de caracterizar sua ação. Tomamos, pois
os pressupostos da análise de gêneros textuais orientados, principalmente, por
Swales (2009), Bazerman (2006) e Bezerra (2007).
Avaaz é uma plataforma virtual que dá suporte para petições on-line3. Nossa
escolha por esse veículo se justifica por este ser o maior site com essa
característica, com mais de 20 milhões de membros no mundo todo (NOGUEIRA,
2013). Além disso, conforme Bezerra (2007), estudar a homepage como gênero
textual é uma forma de compreender um dos tantos eventos comunicativos
possibilitados pela internet.
2 Na versão em português: http://www.avaaz.org/po/
3 As petições on-line ou abaixo-assinados digitais são disponibilizadas e divulgadas por e-mail e redes sociais e medem o
respaldo popular para as mais diferentes causas (ambientalistas, políticas e sociais).
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Gênero e sua análise
Na interação social do dia a dia, os usuários da língua se constituem não
apenas como falantes, ouvintes, escritores ou leitores, mas, sobretudo, como
membros de grupos sociais, ou seja, “pertencem a organizações, profissões,
comunidades e culturas diversificadas” (SILVEIRA, 2005, p. 34). Essa interação se
dá, essencialmente, por meio de gêneros textuais, os quais “moldam as intenções,
os motivos, as expectativas, a atenção, a percepção, o afeto e o quadro
interpretativo” (BAZERMAN, 2006, p. 102) em que se inserem. Nesse sentido,
compreendemos que um gênero não indica apenas uma forma específica de texto,
mas evoca processos particulares de produção, distribuição e consumo desses
textos – isto é, práticas discursivas nas quais estão incluídos indivíduos que
constroem sentidos e conhecimentos que alteram a vida diária, a prática social. Por
isso, acreditamos que o estudo do gênero textual inserido em seu contexto de
produção e circulação é útil para a compreensão do discurso das esferas que
orientam a interação social, contribuindo para uma melhor apreensão de como as
pessoas operam na sociedade e na cultura.
Neste artigo, o gênero é definido como classe relativamente estável de
“eventos” linguísticos e retóricos tipificados pelos membros de uma comunidade
discursiva a fim de atender e realizar objetivos comunicativos compartilhados
(SWALES, 2004). Além disso, tomamos o gênero como ação social, compreensão que
está atrelada a um posicionamento teórico-metodológico específico, o qual não
deve se furtar a ver o gênero como: i) modos tipificados de agir em situações
recorrentes; ii) artefatos culturais que dizem muito sobre como determinada
cultura configura situações e modos de agir; iii) objetos culturais complexos; iv)
formas de cognição situada (BAWARSHI & REIFF, 2010a).
Quanto mais complexas as relações se tornam com os avanços tecnológicos,
mais “generificada” se torna a vida. Deixando de lado a visão do gênero como
recurso comunicativo isolado, a pesquisa em gêneros textuais se insere numa rede
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complexa, no interior da qual o gênero transita entre diversificadas formas de
expressão pela linguagem. Segundo Bazerman (2006, p. 114), “mudanças na
tecnologia caminham de mãos dadas com os usos mais amplos de novos canais da
comunicação escrita”. Assim, identidades e formas de vida são construídas dentro
dos espaços sociais em desenvolvimento, identificados por atos comunicativos
reconhecíveis.
Nesse contexto, nossa investigação, de caráter qualitativo-interpretativo,
tem como ponto de partida a análise de gêneros de John Swales, para quem
comunidade discursiva, propósito comunicativo e movimentos retóricos norteiam o
estudo. Partimos, portanto, da caracterização da comunidade discursiva conforme
a proposta de Swales (2009), já que, de acordo com Bazerman (2006, p. 118),
grupos ativistas têm seu próprio sistema interno de gêneros, “como também formas
de advocacia pública, formas para a criação e distribuição de informação e formas
de comunicação com o governo”, o que qualifica suas ações em torno de objetivos
comuns. Após esse passo, analisamos os propósitos comunicativos e os moves
realizados pela homepage segundo o modelo proposto por Bezerra (2007), baseado
em Askehave e Nielsen (2004 apud BEZERRA, 2011; 2007), que amplia a análise
swalesiana de gêneros impressos para abranger os gêneros digitais. Destacamos,
contudo, o interesse de Swales no ensino do Inglês especializado para falantes não
nativos em contextos acadêmicos e profissionais, salientando que desvincularemos
os seus conceitos trabalhados aqui desse cenário, com ênfase apenas no quadro
teórico de linha sociorretórica.
Caracterização da comunidade discursiva
Um dos conceitos que delineia a perspectiva de estudos de gêneros de John
Swales é o de comunidade discursiva, que é definida como uma rede sociorretórica
que deve atuar em torno de objetivos comuns. Tais objetivos comuns são a base
para os propósitos comunicativos compartilhados, que são realizados por meio dos
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gêneros textuais. De acordo com Bawarshi e Reiff (2010), as convenções
esquemáticas, sintáticas, lexicais, bem como a lógica subjacente ao gênero são
definidas sob o pano de fundo dos objetivos compartilhados pela comunidade
discursiva.
Swales (2009) apresenta uma reformulação dos critérios que descrevem uma
comunidade discursiva, desenvolvidos por ele nos anos 1990. Segundo o autor, os
critérios foram modificados depois de receberem críticas e sugestões de outros
estudiosos da área, os quais indicavam a ausência da participação individual, dos
papéis sociais, do relacionamento entre as próprias comunidades discursivas.
Assim, “para representar um mundo mais complexo e um tanto obscuro”, Swales
(2009, p. 207-8) diz que uma comunidade discursiva:
1) possui um conjunto perceptível de objetivos. Esses objetivos podem ser formulados pública e explicitamente e também podem ser, no todo ou em parte, aceitos pelos membros; podem ser consensuais; ou podem ser distintos, mas relacionados [...]. 2) possui mecanismos de intercomunicação entre seus membros (não houve mudanças nesse ponto; sem mecanismos, não há comunidade). 3) usa mecanismos de participação para uma série de propósitos: para prover o incremento da informação e do feedback; para canalizar a inovação; para manter sistemas de crenças e de valores da comunidade; e para aumentar seu espaço profissional. [...] 4) utiliza uma seleção crescente de gêneros para alcançar seu conjunto de objetivos e para praticar seus mecanismos participativos [...]. 5) já adquiriu e ainda continua buscando uma terminologia específica.
6) possui uma estrutura hierárquica explícita ou implícita que orienta os processos de admissão e de progresso dentro dela.
De acordo com Swales (2009), o papel da comunidade discursiva é o de
ajudar no ingresso, sobrevivência e progresso do participante novato. Serve
também como auxiliar da investigação de “como e por que o discurso assume as
formas que assume no contexto institucional” (p. 213-4). Portanto, seguindo tais
definições a fim de classificar os ativistas virtuais, particularmente os membros do
Avaaz, como parte de uma comunidade discursiva, identificamos algumas das
características dessa nova concepção, explicitadas na homepage em questão.
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Figura 1: Trecho da Homepage do Avaaz
Fonte: www.avaaz.org/po/. Acessado entre os dias 16 e 17 de julho de 2013
Sobre os objetivos perceptíveis da comunidade discursiva, é possível
localizá-los, explicitamente descritos, no item “Quem somos” do site. Dentre os
principais, está a mobilização on-line para “uma guinada decisiva em momentos de
crise e oportunidade”, em que são destacados valores como união, força,
independência, ética e liderança. Na homepage, a síntese dos objetivos da Avaaz é
vista na definição que é estampada do lado direito da página, no interior de um
quadro cor-de-rosa (Figura 1): “Avaaz é a comunidade de campanhas que leva a voz
da sociedade civil para a política global” (grifo acrescido). Ou seja, o anseio
individual ganha alcance público e global reais, sem bandeiras partidárias ou
sindicais, democraticamente.
Os mecanismos de participação da comunidade são, sobretudo, as petições
de apoio às mais diversas causas, as quais são hospedadas e divulgadas pelo site.
Há, ainda, o link “inicie uma petição”, que garante que qualquer causa será
ouvida. Este recebe saliência considerável na homepage, isto é, localizando-se no
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canto superior direito (Figura 1), pondo em destaque o caráter livre da entrada na
comunidade. Outros links encontrados na homepage que funcionam como
mecanismos de participação são “doação”, “contato” e “conecte com a Avaaz”,
que dispõe o acesso às páginas da comunidade nas redes sociais Facebook e
Twitter. A própria homepage é um ambiente que agrega os participantes,
concentrando os membros e os canais de informação, intercomunicação e
feedback.
Outro importante mecanismo de participação é o cadastramento dos novos
membros. O visitante é convidado a fazer parte de uma comunidade crescente, que
possui filiados em toda parte do globo. Fato evidenciado pela disponibilidade de
versões do site em diversos idiomas e pela contabilização ininterrupta dos
“membros ao redor do mundo”, sempre mostrados em números, de forma
crescente, no quadro rosa do lado direito, logo na abertura da homepage (Figura
1). “Participe agora”, localizado abaixo do número total dos adeptos, transmite a
mensagem de que você não está sozinho, encorajando o cadastramento por meio
do seu endereço de e-mail.
Todos os mecanismos de participação descritos estão ligados, como não
poderia ser diferente, a gêneros que, imbricados, formam o sistema de gêneros do
ativismo virtual. As petições on-line, as notícias e reportagens acessadas através do
link “mídia”, os formulários para cadastramento e criação de campanhas, os
depoimentos, os termos da política de privacidade, entre outros, congregam os
objetivos da comunidade discursiva e capacitam os seus usuários a alcançá-los e a
realizar ações sociais consequentes, sequenciando as atividades e determinando o
modo como os membros se relacionam e atribuem papéis uns aos outros
(BAZERMAN, 2006).
De acordo com Swales (2009), as convenções de gênero dentro da
comunidade discursiva encorajam as pessoas a agir e a falar de determinada
maneira. Pensando na terminologia específica e nos hábitos linguísticos com os
quais os membros se identificam, é fácil constatar na homepage da Avaaz a
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predominância de expressões e verbos performativos com caráter pragmático e
imediatista, como apoie, mobilize-se agora, assine já, participe, salvar, mudar etc.
Além disso, nos depoimentos de participantes que são estampados na página
(Figura 2), os quais mudam a cada atualização ou novo acesso à homepage,
palavras como luta, poder, coletividade, mundo melhor, desafios, idealismo etc.
compõem a atmosfera do novo ativismo, num diálogo com o internauta em que a
indignação, o inconformismo e a união são o motores da organização pela rede
mundial de computadores.
Figura 2: Depoimentos de membros da comunidade Avaaz
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Fonte: www.avaaz.org/po/. Acessado entre os dias 16 e 17 de julho de 2013
Conforme Swales (2009), os hábitos de uma comunidade discursiva revelam
filiação e compromisso. Embora haja objetivos não explicitados ou opacos que
também definem tais hábitos, sabemos que, por meio do gênero, indissociável da
comunidade discursiva (uma forma de vida, nas palavras de Bazerman, 2006),
leitores e escritores se engajam num tipo familiar de interação:
À medida que os participantes se orientam para esse espaço social comunicativo [o gênero], eles adotam o humor, a atitude e as possibilidades de ação daquele lugar – eles vão àquele lugar para fazer as coisas que ali são feitas, para desenvolver as ideias que ali são pensadas, para se sentir como ali se sente, para satisfazer o que ali pode ser satisfeito e para se transformar no tipo de pessoa que ali se pode tornar
(BAZERMAN, 2006, p. 101).
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Moves da homepage
Tomando-se o propósito comunicativo como exatamente “aquilo que os
gêneros realizam na sociedade, admitindo-se, porém, que o propósito de um
gênero não é necessariamente único e predeterminado” (BEZERRA, 2006, p. 70), é
possível constatar, junto a Bhatia (2009) e Askehave e Swales (2009), que há usos
mais ou menos típicos de formas léxico-gramaticais e discursivas que denotam
propósitos comunicativos localizados na estrutura da situação retórica. O propósito
comunicativo determina, portanto, a estrutura e as escolhas de conteúdo e estilo
em gênero textual.
O conceito de movimento retórico (move) está ligado ao de propósitos
comunicativos na medida em que o move serve a um propósito do gênero e
funciona como um bloco de informação do texto que contém um propósito
comunicativo particular menor, que pode ser expresso numa sentença, num
parágrafo ou em mais de um, usando estratégias “que ajudam a construir a rede
argumentativa no nível mais próximo ao micronível” (SILVEIRA, 2005, p. 124). O
movimento retórico serve para veicular os propósitos comunicativos do produtor do
texto, sendo “a chave para se analisar a estrutura retórica do gênero e, assim,
chegar-se a evidências de sua recorrência” (SILVEIRA, 2005, p. 126).
Pensando na homepage enquanto gênero textual, Bezerra (2007) afirma que
a sua análise deve passar tanto pelo modo de leitura, ou seja, vista essencialmente
como texto, quanto pelo modo de navegação, em que é vista como meio. Segue-se,
pois, por uma caracterização do gênero em termos de propósitos comunicativos,
unidades funcionais – moves e links como correspondentes dos moves – e
estratégias retóricas. Nesse sentido, assumimos com o autor que os propósitos
comunicativos da homepage seriam: i) centrais: introduzir/apresentar o site e
possibilitar o acesso ao site; ii) secundários: consolidar/criar uma imagem e
apresentar notícias. E consideramos, ainda, os moves classificados por Askehave e
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Nielsen (2004 apud BEZERRA, 2007, p. 07) para o modo de leitura da homepage,
identificando-os na página da Avaaz, conforme o quadro a seguir:
Quadro 1: Moves, funções e análise na homepage Avaaz
Move Função Homepage Avaaz
Atrair a atenção Configurações que chamem a atenção do leitor ao entrar na
homepage.
Imagens de impacto, principalmente na abertura, em que se vê uma espécie de
painel que exibe alternadamente onze fotos relacionadas às campanhas “em cartaz”. (Cf. Figura 1). Verbos no imperativo e expressões imediatistas: mobilize-se, assine já, chegou a hora da ação.
Saudação Cria uma sensação de boas-vindas. Não há uma saudação explícita. O internauta é chamado à participação imediata: “acontecendo agora”, “assine já”, “mobilize-se agora!”
Identificação do proprietário
Orienta o usuário sobre seus próprios interesses na web.
Logotipo acompanhado do slogan “o mundo em ação”, localizado no canto superior esquerdo da homepage; cores predominantes branco, azul e rosa.
Indicação do conteúdo
Normalmente corresponde ao menu principal.
Links do menu principal: “início” (retorna à homepage), “quem somos”, “destaques”, “mídia”, “doação”.
Detalhamento (selecionado) do conteúdo
Provê informação mais detalhada sobre alguns tópicos listados no menu principal.
Não há.
Estabelecimento de credenciais
Procura estabelecer uma imagem confiável do proprietário.
A contabilização dos membros contínua e crescente; o depoimento positivo de membros desconhecidos e de líderes famosos pelo seu engajamento político (Cf. Figura 2); disponibilização dos termos de uso e da política de privacidade.
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Estabelecimento de contato
Possibilita que o leitor entre em contato com o proprietário.
Link “contato”. Dá acesso a espaço destinado ao envio de mensagens contendo dúvidas, sugestões de campanhas, problemas de acesso etc.
Estabelecimento da comunidade (discursiva)
Permite que usuários frequentes criem uma relação de pertencimento com o site.
Possibilidade de cadastramento, com senha e login a partir da entrada “participe agora” e “inicie uma petição”.
Promoção de outras organizações
Promove outras companhias ou produtos.
Não há.
Bezerra (2007) alerta que tal estrutura de moves não é estanque nem
obrigatória, como podemos ver na análise da homepage da Avaaz. O fato de não
haver, por exemplo, promoção de outras organizações, já é esperado em sites de
teor ativista, como os de organizações como a Avaaz. O movimento é sustentado,
pois, não por publicidade, mas por doações feitas por qualquer pessoa que
simpatize com as causas. Para o autor, mais do que oferecer o sumário do conteúdo
do site, a homepage também pretende despertar o interesse do leitor. Faz isso a
partir do seu conteúdo geral, da configuração das unidades retóricas e dos valores
informativos relacionados com a localização dos elementos, recorrências que
pretendem tornar a navegação “mais amigável”.
Segundo Bezerra (2011, p. 132), “o hipertexto não é algo dado no mundo, mas
o resultado de uma aproximação cognitiva, mais ou menos possibilitada pelas
tecnologias utilizadas na exibição do texto”. Em hipertextos, os propósitos
comunicativos são realizados por meio dos hiperlinks, que devem ser tomados pelos
moves, ou seja, como as unidades funcionais que relacionam entre si as porções
textuais presentes no site.
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Figura 3: Trecho da Homepage do Avaaz
Fonte: www.avaaz.org/po/. Acessado entre os dias 16 e 17 de julho de 2013
Assim, observando-se a homepage em questão, ao descermos a barra de
rolagem (Figura 3), encontramos as campanhas que convidam à mobilização4,
seguidas de uma elaboração explicativa como o lide de uma notícia, convidando à
intervenção. Dispostas em colunas, vemos a porção de texto verbal acompanhada
de uma imagem, do rótulo “mobilize-se”, na coluna da esquerda, do título da
campanha e da expressão “chegou a hora da ação”. Estes três últimos elementos,
escritos com fonte cor-de-rosa, mais a imagem, são todos objetos clicáveis e
4 Acessada entre os dias 16 e 17 de julho de 2013, as campanhas disponíveis eram as seguintes: “A democracia que
queremos”, “Escola para todas as crianças”, “Voto aberto já”, “30 meses para salvar o planeta”, “Em defesa de Edward Snowden”, “Uma chance de um trilhão de dólares”, “Monsanto vs Mãe Terra”, “Poucas horas para barrar a terrível lei contra gays em Uganda”e “Apoie os Masai”.
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direcionam sempre para a mesma página da ação correspondente, seja a
mobilização para arrecadar doações para salvar o Ártico, ou a petição “Em defesa
de Edward Snowden”. Aqui, podemos tomar a cor da fonte destes elementos como
uma estratégia retórica que serve de guia para o leitor. Assim, a informação dada
introduz o tema da campanha/petição, antecipando-a parcialmente, que só será
conhecida de fato se o leitor aceitar a sugestão das imagens ou dos links
encontrados nas palavras cor-de-rosa. O leitor decide se vai tomar conhecimento
ou não da informação completa, clicando.
Acerca da leitura em hipertextos, Bezerra (2007, p. 4) diz que “uma vez que
cada usuário da rede acessa os textos de um modo particular, explorando os
recursos próprios do hipertexto (links), os papéis de autor e leitor também diferem
bastante em relação aos papéis convencionais”. Isto quer dizer que, mesmo
seguindo uma disposição linear, a orientação da leitura de uma homepage é livre. A
disposição das campanhas em colunas e a cor da fonte dos links que dão acesso a
elas (cor-de-rosa) são convenções do gênero que podem ajudar, mas não
determinar a ordem da leitura. Por outro lado, tais convenções servem para impor
uma aparência de credibilidade e confiabilidade às informações, no intuito de
convidar o leitor a se engajar numa cultura da indignação.
Considerações Finais
O ativismo tem oferecido um lugar privilegiado para a formação de cidadãos.
Com o alcance que a internet oferece e as suas potencialidades, qualquer um pode
ser ativista, desde que sua causa seja exibida em algum veículo que vai garantir o
suporte e a circulação necessários. O resultado disso é que pode ser um tanto
obscuro. A análise da homepage da Avaaz revelou que, mais importante do que os
resultados é a própria mobilização. A ausência, na homepage, de links que
direcionem o leitor para acessar outros espaços e informações sobre os eventos
motivadores das mobilizações e para os resultados alcançados por campanhas
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antigas coloca em evidência a unilateralidade dos pontos de vista postos em
questão.
De acordo com Bazerman (2006, p. 115),
A regularidade da lei significou que a cidadania foi definida cada vez mais em termos do compromisso com regras abstratas e em obediência a essas normas – obediência às leis, às responsabilidades, aos direitos e aos privilégios – em vez do compromisso pessoal com os líderes individuais e
familiares.
Esta é a realidade baseada na ética e nas ações altruístas individuais
pregadas pelas comunidades de ativistas, cada vez mais acessíveis. Assim, o ato de
acessar uma petição, lê-la (ou não), assiná-la e compartilhá-la torna o internauta
membro de uma crescente comunidade discursiva com objetivos bem definidos,
ligados à expressão da cidadania e à conquista de novos membros.
Porém, o exercício de tal cidadania precisa ser não só incentivado como mais
bem discutido, para que as ações não se tornem vazias e sejam mais do que um
simples click. Pensando em como promover isso, é importante que, no contexto
educacional para uma alfabetização virtual, seja elevado o nível dos debates
surgidos na internet ou levados para o seu interior, perguntando-nos: o que os
alunos andam lendo e reproduzindo? Sobre petições e campanhas com teor político-
social, eles se informam antes de assinar/se engajar? Eles comentam sobre os temas
em questão? Como é possível melhorar a participação dos nossos alunos na onda
ativista? Essas e outras questões podem desempenhar um papel fundamental na vida
política do futuro.
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Referências
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