Oásis - Brasil 24/7 · em nenhum pudor rasguei a seda, como se costuma dizer, para escrever sobre...

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OÁSIS #166 EDIÇÃO COMO TRANSFORMAR UM BEBÊ GENEROSO EM UM MONSTRO POLUIÇÃO ORBITAL Estamos transformando o espaço em lixeira SUCESSO, FRACASSO E A MOTIVAÇÃO PARA CONTINUAR CRIANDO PRIMA, UM PROJETO DE MÚSICA E VIDA A PARAÍBA DÁ O EXEMPLO E SAI À FRENTE

Transcript of Oásis - Brasil 24/7 · em nenhum pudor rasguei a seda, como se costuma dizer, para escrever sobre...

Oásis#166

Edição

Como transformar

um bebê generoso em um monstro

PoLuIÇÃo orbItaL

Estamos transformando o espaço em lixeira

suCesso, fraCasso e a

motIvaÇÃo Para ContInuar

CrIando

PRIMA, UM PROJETO DE MÚSICA E VIDA

A PArAíbA dá o ExEmPlo E sAi à frEntE

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por

Editor

PEllEgriniLuis

s em nenhum pudor rasguei a seda, como se costuma dizer, para escrever sobre o Projeto PriMa – Programa de inclusão através da Música e das artes – que acabo de visitar na Paraíba. Meu entu-

siasmo não é sem razão. diante do tsunami de notícias assustadoras sobre as coisas que acontecem em nosso país, é animador poder testemunhar que alguns arregaçam as mangas e trabalham seriamente para melhorar a situação. Por “alguns” me refiro ao atual governador daquele Estado, ri-cardo Coutinho, a Chico César, atual Secretário de Cultura da Paraíba, ao Maestro alex Klein e sua esposa Catalina, a Milton dornelas e a todos os que tiveram a feliz ideia – e a coragem – de lançar, implantar e desenvol-ver esse Projeto. o PriMa é um projeto paraibano de orquestras jovens, que também inclui corais e bandas, já está presente em nove cidades e ensina música instrumental a cerca de 1.200 crianças e adolescentes (com o objetivo de atingir 10 mil jovens nos próximos 5 anos!). todos os participantes estão

O fOcO principal dO prOjetO prima nãO é ser uma simples escOla de música. trata-se, muitO mais, de uma verdadeira escOla de vida, um trabalhO de inclusãO através da música, das artes e de uma

certa sabedOria existencial”, maestrO alex Klein

oásIs . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

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matriculados regularmente em escolas públicas. Seu foco principal, como informa o estruturador e coordenador geral do Projeto, Maestro alex Klein, “não é ser uma simples escola de música. trata-se, muito mais, de uma verdadeira escola de vida, um trabalho de inclusão através da música, das artes e de uma certa sabedoria existencial”. Foco que está sendo atingido plenamente, como pude perceber. Como isso está acontecendo é o que conto na matéria.

Escrevi esta reportagem, capa deste número de oásis, sobretudo pelo caráter exemplar da empreitada. tomara que outros – tanto da sociedade civil quanto autoridades de governos - se espelhem nela para fazer coisas análogas em seus respectivos nichos sociais. Confira.

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oPRIMA, UM PROJETO DE MÚSICA E VIDAA Paraíba dá o exemplo e sai à frente

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aestro Alex Klein pre-parava uma surpresa aguenta-coração quando me convidou para co-nhecer ao vivo, em cores e em sons as atividades do projeto que ele mon-

tou e dirige em João Pessoa, Cabedelo e ou-tras cidades da Paraíba. Trata-se do Progra-ma de Inclusão através da Música e das Artes (PRIMA), um projeto paraibano de orques-tras jovens, que também inclui corais e ban-das, já está presente em nove cidades e en-

sina música instrumental a cerca de 1.200 crianças e adolescentes (com o objetivo de atingir 10 mil jovens nos próximos 5 anos!). Todos os participantes estão matriculados regularmente em escolas públicas. PRIMA é um programa que utiliza a músi-ca como ferramenta para a inclusão social e disponibilização de oportunidades para crianças e adolescentes do Estado da Paraí-ba, especialmente aquelas de regiões caren-tes. E haja criança carente nessas regiões! O programa é coordenado pelo Maestro Alex Klein, responsável pela sua gestão e implan-tação, bem como pelo acompanhamento pedagógico, e tem como diretor executivo o músico e gestor cultural, Milton Dornelas. “O PRIMA é sonho antigo do atual governa-dor Ricardo Coutinho, e ele o implementou assim que assumiu o governo”, explica Alex Klein ao volante do seu carro quando me conduz à região de Cabedelo. O maestro – que também toca oboé e é considerado um dos melhores oboístas do mundo – não es-conde seu entusiasmo pela empreitada que dirige: “O programa hoje tem um corpo do-cente de 50 profissionais que ensinam mú-sica a cerca de 1.200 crianças e adolescen-tes. O foco principal não é ser uma simples escola de música. Trata-se, muito mais, de uma verdadeira escola de vida, um trabalho

M“O foco principal do prima não é ser uma simples escola de música. trata-se, muito mais, de uma verdadeira escola de vida, um trabalho de inclusão através da música, das artes e de uma certa sabedoria existencial”, maestro alex Klein

RepoRtagem: Luis peLLegRini Fotos e vídeo: voRtex mundi

de inclusão através da música, das artes e de uma certa sabedoria existencial”. Alex Klein não exagera em suas expectativas. Pude ve-rificar, logo depois, sobretudo ao conversar com vários alunos integrantes do PRIMA, as transformações que esse trabalho provoca na mente e nos corações daqueles jovens. Sem dúvida, o projeto abre portas para futuros cidadãos paraibanos e no meio surgem alguns talentos musicais, jovens que um dia poderão decidir cursar fa-culdade de música, por exemplo. Mas isso está longe de ser tudo: o PRIMA rapidamente se transformou numa segunda família – às vezes a única família - para muitos de seus integrantes. Dando apoio, compreensão e prote-ção a seus jovens membros, o PRIMA automaticamente lhes insere no caminho da conquista de uma identida-de própria que, passo a passo, à medida que a iniciação

musical avança, mais e mais se amplifica, se aprofunda e adquire contornos próprios. Ouçam este depoimen-to dado por um garoto estudante de trompa. Quando o Maestro Klein o chamou para conversar comigo, in-formou: “Aos sete anos, esse menino estava numa feira aqui em Cabedelo, ao lado do pai, quando este foi assas-sinado durante uma rixa. O garoto entrou para o PRI-MA logo depois. Ganhou uma trompa e desde então ele a carrega para todos os lugares onde vai. Não larga dela nunca”. Tô começando a virar gente “Como eu era antes de entrar para o PRIMA? Não era ninguém. Era uma sombra que passava pela rua”. Foi

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nas duas fotos, alex Klein posa com crianças do projeto pRima

exatamente assim que aquele garoto res-pondeu a minha pergunta. “E como sou hoje? Acho que tô começando a virar gen-te”, completou, puxando a trompa para bem perto de si. Por causa desse e de outros pequenos po-rém grandíssimos episódios digo que ir à Paraíba para conhecer o PRIMA foi uma viagem aguenta-coração. É mole? Ouvir de um órfão de 9 anos que se via apenas como uma sombra que passa na rua, que agora, graças a uma trompa dourada, e tudo que ela representa, ele já se sente um pouco gente?! Confiram no final desta reportagem, no ví-deo caseiro que fiz, outros depoimentos de jovens membros do PRIMA. Os polos do PRIMA em João Pessoa estão instalados em escolas públicas estaduais nos bairros de Alto do Mateus e Bairro dos Novais. Em Cabedelo existem po-los nas comunidades do Jacaré, Renascer e Fortaleza de Santa Catarina. Com três anos de funcionamento o PRI-MA também já instalou polos em Santa Rita, Guarabira, Campina Grande, Itaporanga, Patos, Catolé do Rocha e Cajazeiras.

Carmina Burana? Isso é coisa que gostaria de ver Dentro do roteiro de visitas, Alex Klein me conduziu a

uma sala de aula de escola situada em um dos polos. Lá dentro estava Catalina Guevara Klein, sua esposa, dando aula para um pequeno grupo de meninas. A mais velha delas certamente ainda não completara 10 anos. “Queremos montar um trecho da cantata Carmina Bu-rana, de Carl Orff, e precisamos de um mini coral de vo-zes infantis muito agudas. Por isso estamos preparando essas garotas. Em seis meses elas deverão estar prontas para entrar em cena”, explicou Alex Klein. “Carmina Burana? Isso é coisa que gostaria de ver”, pensei, imagi-nando o tremendo desafio que a empreitada representa.

Sentei numa cadeira de estudante, atrás das garotas,

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Catalina guevara Klein ensina os segredos da primeira oitava a suas jovens alunas

e me concentrei na aula de Catalina. No quadro-negro ela desenhara, com giz, a tradicional escadinha de uma oitava: dó, ré, mi, fá, sol, la, si, dó. E Catalina apontava para o primeiro dó, o mais grave, cantando o som cor-respondente: “Dooooooó! Repitam: Dooooooó! Agora, no primeiro andar: Reeeee-eé! E no terceiro andar do prédio: Miiiiii! E voltem para o andar térreo: Doooooó! Pulem direto para o terceiro: Miiiiii!” Isso durante horas, de dó a dó, até que cada nota estivesse bem implantada nas memórias sonoras das garotas... Professora Catalina, tiro o chapéu. Haja paciência e de-dicação! Ainda mais quando Catalina Guevara Klein, que nasceu e se formou musicista em seu país natal, a Costa Rica, é uma fagotista que poderia estar tocando

naipe de trumpetes em pleno ensaio

erenilson e daiane, duo de clarinetas sob o olhar do maestro Klein

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em qualquer grande sinfônica do mundo. Em vez disso, prefere, como o marido, usar parte considerável do seu tempo e energia para resgatar crianças e adolescentes brasileiros carentes, através do aprendizado teórico e prático da música... Dizem os grandes mestres que apenas as histórias exem-plares merecem ser contadas. A história do Projeto PRI-MA é, sem dúvida, exemplar... A tal ponto que chamou a atenção do secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do MinC, Henilton Menezes. A visita foi feita em Cabe-delo, e se fez a pedido da ministra da Cultura Marta Su-plicy. A ministra, por seu lado, fora apresentada ao pro-jeto pelo secretário de Cultura da Paraíba, Chico César,

em maio do ano passado. Marta Suplicy demonstrou interesse em conhecer me-lhor os fundamentos do programa e assim estudar as possibilidades de alargar o projeto, tido como caso de grande sucesso no estado. O interesse é natural: o PRI-MA é especial, e não apenas por causa do seu objetivo de fazer com que jovens carentes estudem música e tenham a possibilidade de se profissionalizar na área, sempre com vistas à inclusão social. Ele é especial tam-bém na forma como atua e nos efeitos benéficos ime-diatos que acarreta. A essência do projeto consiste em aulas com professores de música em classes diárias e no

horário oposto ao da escola. Com isso o jovem é retirado das ruas, ou de um convívio muitas vezes difícil no seio da família, para ser inserido num grupo que recebe um ensinamento musical indivi-dual e coletivo. Essa vivência mu-sical e social traz bons resultados imediatos no rendimento escolar e até mesmo na convivência fami-liar. Como funciona o programa O PRIMA é inspirado no Sistema de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela, criado nos anos 70 pelo maestro José Antônio Abreu. Atende a jovens estudantes da rede pública de ensino e funciona

em parceria com os municípios e prefeitura do estado. Está distribuído em polos de ensino localizados em áre-as carentes e que funcionam em escolas públicas, asso-ciações e prédios históricos. Cada polo de ensino oferece aos seus alunos a oportuni-dade de aprender instrumentos orquestrais e participar em grupos que variam entre orquestras jovens e infantis até bandas e corais, incluindo adultos, onde se envol-vem também as famílias dos jovens atendidos. Além de ter os ensinamentos dos professores, os alunos vão aprendendo e passando aos colegas o que já

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sabem. Os mais experientes e dedicados passam a atu-ar como verdadeiros professores, recebendo inclusive uma ajuda de custo e pequenos salários. Foi assim que o jovem Erenilson Ferreira se tornou o regente da Jovem Orquestra de Cabedelo (JOC). Ele faz parte do PRIMA há cerca de três anos. Apesar de ter pouco tempo na or-questra, Erenilson já lidera a equipe de músicos e vê um futuro promissor para si e os demais jovens que fazem parte do programa. “O projeto resgatou os meus sonhos e me dá novas oportunidades. Aprendi a querer mais da vida e também a trazer as pessoas que estão andando por caminhos tortos para o caminho da música”, contou Erenilson. Para Chico César, o PRIMA “é empoderamento” Para o secretário de Cultura da Paraíba, Chico César, é

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preciso perceber o papel transformador e revolucionário que o PRIMA carrega. “Esses instrumentos são armas de uma conquista muito forte para esses jovens. É em-poderamento”, afirma. É, sobretudo, um exemplo poderoso de responsabili-dade social, sobretudo para cidadãos individualmente, bem como para empresas e organizações e para gover-nos e administrações que, embora tendo condições de fazer mais e melhor para o resgate da cidadania de mi-lhões de crianças e adolescentes brasileiros literalmente jogados às traças, preferem permanecer de braços cru-zados e nada fazer.

Como no caso do FEMUSC – Festival de Música de Santa Catarina, também dirigi-do pelo Maestro Alex Klein, que acontece todos os anos em Jaraguá do Sul, reunindo durante 15 dias cerca de mil estudantes de música nacionais e estrangeiros, e que foi criado e é mantido pela comunidade civil de Jaraguá do Sul, o PRIMA paraibano decidiu que é preciso agir, aqui e agora, se quiser-mos que este país, através da música, das artes ou de qualquer outro meio educativo válido, realmente tenha um futuro.

Na última etapa da visita, Alex Klein con-duziu-me a uma grande sala de aula. Lá dentro, os alunos mais adiantados estavam reunidos para ensaiar nada menos que a Trepak - Dança Russa, da suite Quebra--Nozes, de Tchaikovsky. Com regência do jovem maestrino Erenilson. E então para mim ficou claro o que Chico César quis dizer quando afirmou que o Projeto PRIMA é empoderamento. Pois se não é poder a força capaz de tirar da rua um menino pa-raibano para fazê-lo tocar Tchaikovsky, então nada mais é poder na face deste planeta Terra.

Mais informações:

primaparaiba.blogspot.com/

www.paraiba.pb.gov.br/.../projeto-prima

Vídeo: Projeto PRIMA de música e vida, produção Vortex Mundi

Vídeo: “Mourão”, de Guerra Peixe, pelo Projeto PRIMA

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Família Klein reunida: Catalina, alex e o pequeno Frederico

COMO TRANSFORMAR UM BEBÊ GENEROSO EM UM MONSTRO EGOÍSTA

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m nossa sociedade, estamos per-dendo empatia e compaixão ao lidar com as outras pessoas”, afir-ma Graham Music, conhecido au-tor e psicoterapeuta de crianças e adolescentes nas clínicas Tavis-tock e Portman, em Londres. Em

seu novo livro The Good Life: Wellbeing and the new science of altruism, selfishness and immorality (A boa-vida: O bem-estar e a nova ciência do altruísmo, egocentrismo e imorali-dade) que será lançado na Inglaterra no final de maio, Graham Music sugere que as mudan-

ças sociais e comportamentais atualmente em curso, bem como a mudança do próprio sentido da relação humana no seio de uma sociedade cada vez mais injusta e desigual produz, como primeira consequência, o es-friamento do coração das pessoas.

Segundo esse psicoterapeuta, todos nós te-mos propensão para nascer dotados de um coração grande e gentil, mas, muito cedo, le-vados pela educação e os condicionamentos, somos mais e mais empurrados para sermos egoístas e frios.

“Existe uma grande quantidade de evidên-cias de que a velocidade insana da vida de hoje, e a ansiedade dela resultante, tem um enorme impacto sobre a forma como lida-mos com as outras pessoas. Nós todos sabe-mos disso, mas parecemos não nos dar conta da gravidade do problema. Vivemos em um mundo homem-lobo-do-homem e temos de nos manter perpetuamente vigilantes para não sermos devorados. Mas o preço dessa vigilância incessante é o estresse. E com o estresse ocorrem mudanças realmente fun-damentais em nosso comportamento. Os resultados desse processo são muito empo-brecedores, em todos os sentidos, sobretudo no que diz respeito à saúde, à expectativa de vida e à felicidade”, alerta Graham Music.

Esomos todos, desde o nascimento, dotados de altruísmo. mas esse instinto natural está sendo destruído pelas exigências da vida moderna – com destaque para o consumismo e a produtividade insustentáveis. é o que afirma um novo livro do psicoterapeuta britânico Graham music

poR: Luis peLLegRini

Reality-shows exercem péssima influência

No ano passado, um estudo levado a cabo pela Universi-dade de Michigan demonstrou que adolescentes expostos às crueldades apresentadas nos reality-shows hoje leva-dos ao ar pelas televisões em todo o mundo, tornam-se socialmente ainda mais agressivos. Programas como Big--Brother, X Factor, Britain Got Talent, e muitos outros da mesma linha, são famosos por transformar em entre-tenimento situações de brigas, conflitos e discussões vul-gares e fúteis, bem como os julgamentos cruéis e muitas vezes humilhantes de outras pessoas.

Graham Music afirma que essas situações explícitas de maldade apresentadas em programas televisivos do gê-nero é um exemplo claro de como e o quanto estamos nos tornando frios em relação ao sofrimento alheio.

Este novo livro de Graham Music será o mais recente de uma série de publicações que sugerem a ocorrência na atualidade de um sério desequilíbrio sócio-comporta-mental no Reino Unido. Tais obras reúnem décadas de pesquisa experimental social e baseiam-se na experiên-cia de seus autores que, como Music, são sociólogos ou psicólogo-sociais. Mas, extrapolando os limites da Grã--Bretanha, suas conclusões pintam um quadro sombrio da sociedade ocidental como um todo: Um mundo que vê a cada dia mais minada a sua tendência natural para a empatia, ao mesmo tempo em que caminha a passos lar-gos para a sordidez social.

Em seu livro, Music contesta a noção – defendida por al-gumas escolas de psicologia - de que as crianças nascem

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egoístas. Ele aponta uma série de experimen-tos realizados no Instituto Max Planck, na Alemanha , quando dois grupos de crianças de 15 meses foram colocados em salas onde um adulto fingia precisar de ajuda. Em um dos grupos, as crianças foram avisadas que ganhariam uma recompensa se fossem aju-dar o adulto necessitado. Para o outro grupo nada foi dito, não havendo portanto nenhu-ma recompensa em questão. Nos testes, no entanto, a imensa maioria das crianças dos dois grupos correram igualmente para aju-dar o adulto em apuros, mostrando que o es-tímulo do prêmio era desnecessário. A crian-ça corre em ajuda do outro obedecendo a um simples e natural instinto de solidariedade. Ela não precisa ser “comprada” para que isso ocorra.

A recompensa não torna ninguém feliz

Outros estudos mostram que as crianças se sentem mais felizes dando do que recebendo, diz Music. “Temos evi-dências de que adolescentes que se propuseram a prati-car pelo menos uma boa ação por dia tornam-se menos ansiosos e deprimidos. Nós evoluímos para sermos úteis, para não negarmos ajuda ao próximo carente e para aju-dar sem expectativa de recompensa. A recompensa não torna ninguém feliz. Algo de muito fundamental é per-dido quando recompensamos certas atitudes e compor-tamentos. Todos nós sabemos disso, mas perdemos esse fato de vista quando nos deixamos sugar para dentro do ethos consumidor, quando nos deixamos convencer por

essa insistência profunda de que necessitamos de um novo iPhone ou de uma nova cozinha para sermos feli-zes. Quando nos tornamos prisioneiros dessa convicção errônea, tendemos a repetir o gesto e a consumir mais e mais. Os vetores do capitalismo pós-industrial em prol do consumismo, bem como os apelos constantes da mí-dia, trapaceiam nossas necessidades tornando-as falsas. A verdade é que não se pode vender – nem comprar – bem estar e felicidade”.

Music também aponta o estresse que vivemos quando nos mantemos num estado permanente de conflito re-presentado pelo “lutar ou fugir”. “Não faz nenhum sen

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tido interessar-se pelos outros, por aquilo que os outros sentem ou pensam, se o nosso sistema nervoso está em permanente estado de fluxo e de agitação”, ele diz.

O livro detalha também diversas experiências sociais, incluindo uma de 1973, quando estudantes de teologia foram informados de que tinham de dar uma palestra so-bre a parábola do Bom Samaritano. À metade foi dito que deveriam fazê-lo imediatamente, e ao resto foi dado um tempo de preparação. Quando, todos juntos, os alunos saíram da sala, eles passaram por um ator que simulava estar necessitando de ajuda. Os alunos que tinham de dar a palestra quase em seguida passaram pelo homem e pra-ticamente o ignoraram. Mas os outros, que dispunham de mais tempo, pararam para ajudar.

“A velocidade da vida exerce um impacto sobre o nosso

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altruísmo”, diz Music. “Isso também está acontecendo nas escolas. O estresse está se infiltrando em nossas escolas, dominadas por currículos pesados e acadêmicos, consti-tuindo uma verdadeira cultura de auditoria. Estou muito preocupado com isso, porque diariamente testemunho seus efeitos nefastos nas crianças que atendo em minhas clínicas”.

Music afirma que existe hoje uma necessidade desespe-radora de repensar nossas tendências materialistas. “Este mundo ocidental cada vez mais monetarizado está nos fazendo perder o contato com nossas obrigações sociais”, ele conclui.

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POLUIÇÃO ORBITAL Estamos transformando o espaço em lixeira

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té 1957, quando o pioneiro satélite soviético Sputnik foi lançado ao espaço, as redon-dezas orbitais da Terra eram tão limpas quanto as águas de um rio livre da ação humana. Cinquenta e sete anos e cerca de 5 mil lançamentos espaciais depois, registra-se em torno

do planeta uma quantidade tão grande de aparelhos, de pedaços e de fragmentos de-les, que ações urgentes já são necessárias, alertam especialistas da Agência Espacial

Europeia (ESA). O tema é tão candente que virou gancho para um dos mais cele-brados filmes de 2013, a ficção científica Gravidade.

A 6ª Conferência sobre Lixo Espacial, re-alizada em abril do ano passado em Dar-mstadt, na Alemanha, anunciou que quase 29 mil objetos de comprimento maior do que 10 centímetros – pedaços de satélites desativados, restos de foguetes, ferramen-tas deixadas por astronautas – estão gi-rando ao redor da Terra, a uma velocida-de média de 25 mil quilômetros por hora, quase 28 vezes a velocidade de um jato comercial. Já os escombros menores de 10 centímetros seriam mais de 170 milhões, segundo a ESA.

Nessas condições, fragmentos peque-nos podem perfeitamente danificar – e até destruir – espaçonaves e satélites em funcionamento. Para piorar o quadro, a movimentação desses dejetos pode cau-sar impactos em série, multiplicando o número de detritos ao redor da Terra. O prejuízo, no fim das contas, é sério: as comunicações e os sistemas de navegação que dependem de satélites podem ficar comprometidos. O custo de substituir os atuais 1 mil artefatos ativos em órbita é estimado em cerca de US$ 130 bilhões.

A

um recente relatório da agência espacial europeia revela que a órbita do planeta já tem mais de 170 milhões de escombros de objetos lançados ao espaço, um volume que ameaça as comunicações e sistemas de navegação por satélite e torna inevitáveis missões futuras para remover o lixo espacial

poR eduaRdo aRaia

a ESA, a cada semana uma dúzia de objetos se aproxima a menos de dois quilômetros de um satélite.

Crescimento retomado

Se nenhuma ação corretiva for toma-da, o lixo espacial tende a voltar para a Terra, pela ação da gravidade, e ser destruído no atrito com a atmosfera. Porém, quanto mais alto ele estiver, mais demorado será esse retorno, e a velocidade que desenvolve pode tornar esse tempo ainda maior. Al-guns especialistas estimam que vá-rios objetos poderão passar milhares de anos em órbita. Por enquanto, a destruição de lixo pela atmosfera contrabalança a geração de novos es-

combros. Em 2055, entretanto, mantendo-se o atual ritmo de lançamento de objetos espaciais e de frag-mentação dos que estão em órbita, a quantidade de detritos voltaria a aumentar.

“Dentro de algumas décadas poderá haverá colisões entre grandes objetos que criarão fragmentos ca-pazes de fazer estragos posteriores”, afirma Heiner Klinkrad, chefe do Escritório de Escombros Espaciais da ESA. “A única maneira de evitar isso será subir lá em cima e removê-los. Quanto mais você esperar, será mais difícil e muito mais caro resolver o proble-ma.”

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Para consolo dos astronautas, o problema não os afe-ta muito, pois a maior parte do lixo está situada entre 880 km e 1.000 km de altitude, em órbitas polares, as áreas que concentram vários satélites de observa-ção. A Estação Espacial Internacional, por exemplo, gira ao redor da Terra a 400 km de altura, e os ônibus espaciais aposentados pelos americanos chegavam a no máximo 600 km acima da superfície do planeta. Mesmo assim, a cada ano a Estação Espacial Interna-cional deve fazer em média uma manobra para evitar o risco de colisão com um desses escombros. Segundo

De acordo com a ESA, cerca de dois terços dos pedaços conheci-dos de lixo espacial foram cria-dos por explosões em órbita ou colisões. Dois episódios exempli-ficam essas possibilidades. Em 2007, a China destruiu intencio-nalmente um de seus velhos saté-lites meteorológicos, convertido em mais de 2.500 pedaços de lixo espacial. Dois anos depois, a colisão de um satélite militar Cosmos, da Rússia, já desativa-do, e um satélite de comunica-ções Iridium, dos Estados Uni-dos, despedaçou as duas naves e criou uma enorme quantidade de destroços.

Casos como esses mostram aos pesquisadores e ope-radores de satélites a urgência de se lidar com a sus-tentabilidade no espaço, mas deve-se reconhecer que a preocupação com o tema já existia na década ante-rior. Ainda em 1995, a Nasa, agência espacial norte--americana, lançou uma série de diretrizes de mitiga-ção do lixo espacial, ampliadas dois anos depois pelo governo dos EUA. Na sequência, a ESA e vários outros países, como Rússia e Japão, passaram a estabelecer suas próprias políticas para o assunto.

Em 2002, depois de um esforço que consumiu alguns anos, o Comitê de Coordenação de Escombros Espa-ciais Inter-Agências definiu por consenso um conjun-

to de orientações destinadas a mitigar o crescimento da quantidade de lixo espacial em órbita. Com algu-mas mudanças, elas estão presentes no plano multia-nual preparado em 2007 pelo Subcomitê Científico e Técnico do Comitê das Nações Unidas sobre Usos Pacíficos do Espaço Exterior, endossado pela ONU em janeiro do ano seguinte.

Remoção obrigatória

A conferência de Darmstadt reiterou a premência do problema várias oitavas acima, e os especialistas apontaram dois caminhos básicos para lidar com ele. O primeiro é fabricar foguetes que limitem a quan-tidade de destroços gerada em um lançamento, uma providência que já está sendo tomada pelos princi

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pais programas espaciais. O outro, bem mais comple-xo, é dar uma destinação adequada ao que já está lá em cima.

“Medidas de mitigação do lixo especial, se forem im-plementadas apropriadamente por projetistas de saté-lites e operadores de missão, poderão restringir a taxa de crescimento da população de escombros”, afirma Klinkrad. “Mas a remoção ativa de fragmentos tem-se mostrado necessária para reverter o aumento de lixo.”

O assunto estimula a cooperação entre agências es-paciais na pesquisa sobre o lixo espacial. O programa Clean Space, lançado em 2012 pela ESA, é dedicado especificamente a desenvolver tecnologia para remo-ver os detritos forma segura. De acordo com Klinkrad, estão sendo estudados diversos métodos de recolher

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o lixo, como o uso de redes e arpões, feixes de laser e pacotes de propulsão.

Mas qualquer decisão a esse respeito, assim como a maneira de pagar a conta (previsivelmente salgadíssi-ma) pelo método escolhido, só será definida a partir de um grande consenso. “Como essa é uma tarefa global, a remoção ativa é um desafio que deveria ser assumido por esforços de cooperação com as agências espaciais do mundo e a indústria”, ressalta Thomas Reiter, dire-tor de voos espaciais humanos e operações da ESA.

Nessas condições, os especialistas acreditam que a pri-meira missão de faxina orbital não será realizada antes de 2023.

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Pequenas manchas de tinta – O calor ou impactos com outras pequenas partículas geralmente fazem fragmentos de tinta desprender-se das naves e ficar girando ao redor da Terra. São o tipo mais comum de lixo espacial.

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O que suja o espaço

Confira a seguir uma lista de exemplos de lixo espacial segun-do o Escritório do Programa de Escombros Espaciais da Nasa:

Espaçonave abandonada – Quan-do deixam de funcionar, as naves ou partes delas ficam flutuando indefinidamente na órbita terres-tre, até caírem de vez ou colidi-rem com outro lixo espacial.

Estágios superiores de veículos lançadores – Muitas espaçonaves são, na verdade, foguetes encai-xados uns sobre os outros. Até o módulo principal partir de vez para o seu destino, os outros estágios vão sendo acio-nados – e descartados. Os estágios superiores, acio-nados por último, são os que ficam em órbita, e estão entre os maiores tipos de lixo espacial.

Efluentes sólidos dos motores dos foguetes – Os fo-guetes de alguns ônibus espaciais funcionam com combustível sólido. Depois de acionados, pode sobrar algum resto de combustível, que flutuará ao redor do contêiner de onde escapou. A Nasa salienta que esse tipo de lixo está entre os mais perigosos, pois uma ex-plosão pode dar origem a mais lixo espacial.

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SUCESSO, FRACASSO E A MOTIVAÇÃO PARA

CONTINUAR CRIANDO

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lizabeth Gilbert era uma “garçonete que nunca tinha publicada nada”. Vivia deso-lada pelas cartas de rejeição dos editores a quem mandava seus originais. E mesmo as-

sim, no despertar do sucesso de seu livro ‘Comer, Rezar, Amar’, ela estava se iden-

E

elizabeth Gilbert, autora do bstseller “comer, rezar, amar”, reflete nesta palestra sobre como o sucesso pode ser tão confuso quanto o fracasso e oferece um jeito simples, porém difícil, de continuar, independente dos resultados

vídeo: ted – ideas WoRth spReadingtRadução: gustavo RoCha. Revisão: JuLiana satti

tificando fortemente com a pessoa que era antigamente. Até que fez uma bela descoberta.

25/29eLizabeth giLbeRt

Vídeo integral da palestra de Elizabeth Gilbert

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Tradução integral da palestra de Elizabeth Gilbert

Há alguns anos, eu estava no aeroporto JFK um pouco antes do meu voo, quando fui abordada por duas mulheres que não acho que ficariam ofendidas se fossem descritas como peque-nas velhas ítalo-americanas duronas.A mais alta, que chega até aqui, mais ou menos, veio corren-do até mim e disse: “Querida, preciso te perguntar uma coisa. Você tem a ver com aquela coisa do ‘Comer, Rezar, Amar’, que aconteceu ultimamente?”

E eu disse: “Sim, tenho”.

Ela então cutucou sua amiga e disse: “Viu, não falei? Falei que era ela. A moça que escreveu aquele livro baseado naquele fil-me.” (Risos)

Essa sou eu. E acreditem, sou extremamente grata por ser essa pessoa, porque toda aquela coisa do “Comer, Rezar, Amar” foi algo bem grande para mim. Mas também me deixou numa posição difícil para avançar como autora, tentando entender como diabos eu escreveria outro livro que agradasse alguém, porque eu sabia com grande antecedência que todo mundo que tinha adorado “Comer, Rezar, Amar” ficaria extremamente de-cepcionado com qualquer coisa que eu escrevesse depois, por-que não seria “Comer, Rezar, Amar”, e todo mundo que tinha odiado “Comer, Rezar, Amar” ficaria extremamente decepcio-nado com qualquer coisa que eu escrevesse depois porque seria evidência de que ainda estou viva.

Então eu sabia que não tinha como ganhar, e saber que não tinha como ganhar me fez considerar seriamente por um mo-mento pendurar as chuteiras e me mudar para o campo para criar cachorros da raça corgis. Mas se eu tivesse ido e desistido de escrever, eu teria perdido minha querida vocação, e eu sabia

que eu tinha que encontrar um jeito de arranjar inspira-ção para escrever o próximo livro, independentemente do inevitável resultado negativo. Eu tinha que achar um jeito de garantir que minha criatividade sobreviveria a seu próprio sucesso. E eu encontrei, afinal, essa inspira-ção, mas a encontrei no lugar menos provável e menos esperado. Encontrei-a em lições que havia aprendido precocemente na vida sobre como a criatividade pode sobreviver a seu próprio fracasso.

Só para voltar um pouco e explicar, a única coisa que eu sempre quis ser em toda minha vida era escritora. Eu sempre escrevia quando criança, adolescente. Na minha adolescência, eu enviava minhas histórias ruins ao The New Yorker, esperando ser descoberta. Depois da facul-dade, consegui emprego como garçonete, continuava tra-balhando e escrevendo, esforçando-me muito para con

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Tradução integral da palestra de Elizabeth Gilbert

seguir publicar algo, e fracassando. Fracassei em publicar algo por quase seis anos. Então, por quase seis anos, todo dia, eu só tinha cartas de rejeição à minha espera na caixa de correio. E era sempre devastador, e eu sempre tinha que me perguntar se deveria parar enquanto estava atrás e desistir e me poupar des-sa dor. Mas eu achava minha resolução, e sempre do mesmo jeito, dizendo: “Não vou desistir, vou para casa.”

E vocês têm que entender que ir para casa não significava vol-tar para a fazenda da minha família. Para mim, ir para casa sig-nificava voltar a escrever porque escrever era o meu lar, porque eu amava escrever mais do que odiava fracassar escrevendo, o que significa dizer que eu amava escrever mais do que amava

meu próprio ego, que finalmente significa que eu amava escrever mais do que a mim mesma. E foi assim que eu passei por isso.

Mas o estranho é que 20 anos depois, durante a louca jornada de “Comer, Rezar, Amar”, eu me identifiquei no-vamente com aquela jovem garçonete sem nada publica-do que eu era, pensando nela constantemente, e sentindo como se eu fosse ela novamente, o que não fazia qualquer sentido racional, pois nossas vidas eram muito diferen-tes. Ela fracassou constantemente. Eu tive sucesso além da minha expectativa mais ousada. Não tínhamos nada em comum. Por que eu me sentia como se fosse ela nova-mente?

E foi somente quando eu tentava desenrolar isso que eu finalmente comecei a entender a conexão psicológica es-tranha e improvável em nossas vidas no jeito como per-cebemos o fracasso e no jeito como percebemos sucesso. Pensem nisso assim: Durante a maior parte de nossas vidas, vivemos fora da existência aqui, no meio da cor-rente da experiência humana onde tudo é normal, recon-fortante e regular, mas o fracasso nos joga de repente, aqui bem longe, na escuridão ofuscante da frustração. O sucesso nos joga tão de repente e tão longe também aqui bem longe no brilho igualmente ofuscante da fama, do reconhecimento e do louvor. E um desses destinos é visto objetivamente pelo mundo como ruim, e o outro é visto objetivamente como bom, mas nosso subconsciente é completamente incapaz de discernir a diferença entre ruim e bom. A única coisa que é capaz de sentir é o valor absoluto dessa equação emocional, a distância exata em que fomos atirados de nós mesmos. E há um perigo real e

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igual em ambos os casos de se perder lá fora no interior da psi-que.

Mas em ambos os casos, verifica-se que há também o mesmo remédio para a auto-restauração, e é que precisamos encontrar o caminho de volta para casa o mais rápido e suave possível, e se estão se perguntando qual é seu lar, aqui vai uma dica: o seu lar é o que quer que você ame nesse mundo mais do que ama a si mesmo. Pode ser criatividade, pode ser a família, pode ser a invenção, a aventura, a fé, o serviço, pode ser criar corgis, não sei, seu lar é aquela coisa a qual você pode dedicar suas ener-gias com tal devoção única que o resultado final se torna incon-sequente.

Para mim, esse lar sempre foi escrever. E depois do sucesso estranho e confuso de “Comer, Rezar, Amar”, eu percebi que o que tinha que fazer era exatamente a mesma coisa que eu costumava fazer sempre quando era um fracasso igualmente confuso. Eu tinha que voltar ao trabalho, e foi o que fiz, e foi assim que, em 2010, consegui publicar a temida sequência de “Comer, Rezar, Amar”. E sabem o que aconteceu com esse li-vro? Foi muito criticado, e eu estava tranquila. Eu me sentia à prova de balas, porque eu sabia que tinha quebrado o feiti-ço e tinha achado o caminho de volta para casa para escrever simplesmente pela devoção. E eu fiquei em meu lar da escrita depois disso, e escrevi outro livro que saiu ano passado e esse foi recebido muito bem, o que é muito bom, mas não meu ob-jetivo. Quero dizer que estou escrevendo outro agora, e vou escrever outro e outro e outro e outro e muitos vão fracassar, e alguns deles podem ter sucesso, mas eu sempre estarei segura dos tornados aleatórios dos resultados, contanto que eu nunca esqueça do meu lar verdadeiro.

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Vejam, não sei onde é o lar de vocês, mas sei que há algo nesse mundo que amam mais do que a si mesmos. Algo valioso, aliás, vício e paixão não contam, porque todos sabemos que esses lugares não são seguros para viver. Certo? O truque é que vocês têm que identificar a melhor coisa, a mais valiosa que vocês mais amam, e construir sua casa sobre isso e não se mudar dali. E se forem, al-gum dia, de algum jeito alojados fora do seu lar seja por grande fracasso ou grande sucesso, daí seu trabalho é lutar para voltar para aquele lar e o único jeito de fazê-lo é abaixar sua cabeça e trabalhar com diligência e devoção e respeitar e reverenciar a tarefa para que o amor estiver lhes chamando em seguida. Só façam isso, e continuem fazendo repetidamente, e eu posso prometer-lhes, por longa experiência pessoal em todas as direções, posso garantir que tudo vai ficar bem. Obrigada. (Aplausos)

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