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Os benefícios da tecnologia BIM aplicada ao pós obra e engenharia diagnóstica. Dezembro/2016 1 ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 Os benefícios da tecnologia BIM aplicada ao pós obra e engenharia diagnóstica. Ricardo Francisco Szulczewski Campos –[email protected] Auditoria, Avalições e Perícias de Engenharia Instituto de Pós-Graduação - IPOG Porto Alegre, RS, 16 de abril de 2016 Resumo Utilizado basicamente na etapa de projetos, o BIM (Building Information Modeling ou Modelagem de Informação da Construção) pode ser aplicado diretamente no canteiro de obras facilitando as tomadas de decisão e agregando informações da obra ao modelo. A engenharia diagnóstica é baseada na investigação de informações colhidas para a identificação da causa e solução de um problema. Da mesma forma, profissionais de manutenção utilizam informações de terceiros para programação de rotinas e novos projetos. O presente trabalho busca relacionar a engenharia diagnóstica e a manutenção de edificações à tecnologia BIM e apresentar os possíveis ganhos e vantagens no uso destemétodo. Um bom modelo BIM agrega, em um único arquivo, todas informações desde a etapa de projetos, construção, até a operação de uma edificação. Pode ser aproveitado como base de dados para identificação de circunstâncias ou causas de manifestações patológicas ou sinistros ou ainda prova documental em perícias judiciais. Palavras-chave: BIM. Building Information Modeling. Engenharia Diagnóstica. Manutenção, pós obra. 1. Introdução Segundo Kehl e Isatto (2015) o processo de projeto não pode ser tratado como uma etapa isolada e estanque às demais atividades que compõem a produção de edifícios.Os especialistas devem ser colocados em contato com o caso o mais cedo possível. Isso deve ser feito de maneira orientada, a partir de um conjunto de diretrizes com a hierarquização das tarefas baseada nos objetivos do empreendimento e critérios voltados à qualidade. O setor da construção civil segue no caminho contrário ao de outros setores, a exemplo do automobilístico, e investe pouco na implantação de tecnologia (JUNIOR, 2013). Dessa forma diversos problemas que poderiam ser evitados, se constatados na etapa de projeto, são evidenciados na construção ou ainda na operação de uma edificação (CAMPOS, 2015). Entretanto, aos poucos, as empresas brasileiras de engenharia vem buscando o BIM (Building Information Modeling) ou Modelo de Informação da Construção como alternativa para a integração de projetos e maior qualidade de informações. Além dos diversos benefícios nas etapas de concepção e execução de projetos, segundo Eastman (2014) são observados ganhos na etapa de pós-construção como melhor gerenciamento e operação das edificações e integração com sistemas de operação e gerenciamento de facilities.

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Os benefícios da tecnologia BIM aplicada ao pós obra e engenharia diagnóstica.

Ricardo Francisco Szulczewski Campos –[email protected]

Auditoria, Avalições e Perícias de Engenharia Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Porto Alegre, RS, 16 de abril de 2016

Resumo Utilizado basicamente na etapa de projetos, o BIM (Building Information Modeling ou Modelagem de Informação da Construção) pode ser aplicado diretamente no canteiro de obras facilitando as tomadas de decisão e agregando informações da obra ao modelo. A engenharia diagnóstica é baseada na investigação de informações colhidas para a identificação da causa e solução de um problema. Da mesma forma, profissionais de manutenção utilizam informações de terceiros para programação de rotinas e novos projetos. O presente trabalho busca relacionar a engenharia diagnóstica e a manutenção de edificações à tecnologia BIM e apresentar os possíveis ganhos e vantagens no uso destemétodo. Um bom modelo BIM agrega, em um único arquivo, todas informações desde a etapa de projetos, construção, até a operação de uma edificação. Pode ser aproveitado como base de dados para identificação de circunstâncias ou causas de manifestações patológicas ou sinistros ou ainda prova documental em perícias judiciais. Palavras-chave: BIM. Building Information Modeling. Engenharia Diagnóstica. Manutenção, pós obra. 1. Introdução Segundo Kehl e Isatto (2015) o processo de projeto não pode ser tratado como uma etapa isolada e estanque às demais atividades que compõem a produção de edifícios.Os especialistas devem ser colocados em contato com o caso o mais cedo possível. Isso deve ser feito de maneira orientada, a partir de um conjunto de diretrizes com a hierarquização das tarefas baseada nos objetivos do empreendimento e critérios voltados à qualidade. O setor da construção civil segue no caminho contrário ao de outros setores, a exemplo do automobilístico, e investe pouco na implantação de tecnologia (JUNIOR, 2013). Dessa forma diversos problemas que poderiam ser evitados, se constatados na etapa de projeto, são evidenciados na construção ou ainda na operação de uma edificação (CAMPOS, 2015). Entretanto, aos poucos, as empresas brasileiras de engenharia vem buscando o BIM (Building Information Modeling) ou Modelo de Informação da Construção como alternativa para a integração de projetos e maior qualidade de informações. Além dos diversos benefícios nas etapas de concepção e execução de projetos, segundo Eastman (2014) são observados ganhos na etapa de pós-construção como melhor gerenciamento e operação das edificações e integração com sistemas de operação e gerenciamento de facilities.

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O fundamento do BIM é um modelo coordenado e rico em informações, que permite a prototipagem virtual, análises e a construção virtual de um projeto. Essas ferramentas ampliam largamente as capacidades do CAD (Computer Aided Design ou Desenho Assistido por Computador). Nesse aspecto, o proprietário pode obter um retorno de seu investimento em decorrência da melhoria do processo de projeto, no qual o valor da informação é aumentado e o esforço necessário para produzi-la é reduzido (EASTMAN, 2014). Em outras palavras, tem-se melhores projetos, sem incompatibilidades entre disciplinas e construções mais baratas e velozes em decorrência desta melhora.

Conforme a geração e manutenção de um modelo BIM, no pós-obra, a gestão de uma edificação é facilitada pois toda a documentação gerada é guardada em um único arquivo. Lá podem ser encontradas informações das etapas de projeto, obra e operação de uma edificação. Caso a edificação sofra algum tipo de sinistro ou manifestação patológica, o acesso às informações é de grande importância para solução de um problema (IBAPE-SP, 2015). Principalmente a anamnese é simplificada pois todas as informações de interferências passadas estarão contidas no modelo e a tomada de decisão é agilizada e também adicionada ao histórico da edificação.

Após a identificação de uma anomalia e receitada a terapia correta pelo perito ao imóvel, o orçamento da solução tende a ser mais preciso devido ao levantamento exato de quantitativos no próprio modelo BIM. Desta forma é possível a realização de cotações de manutenção de imóveis balizadas por quantitativos exatos e valores mais justos.

2. Building Information Modeling (BIM) Siviero (2010) define o BIM ou a Modelagem de Informação da Construção como informações sobre todo o edifício e um conjunto completo de documentos de projetos armazenados em um banco de dados integrado. E segue afirmando que todas as informações são paramétricas e, assim, interligadas. Discorre ainda que o projeto é elaborado em três dimensões e, havendo quaisquer alterações a um objeto dentro do modelo, essas são refletidas instantaneamente em todo o resto do projeto em todos os pontos de vista. “Em um mesmo desenho é possível colocar informações para desenhos, tomadas de decisão, produção de documentos, previsões de desempenho de construção, estimativas de custos, planejamentos de construção” (SIVIERO, 2010:17). O Caderno Bim do Governo de Santa Catarina (2014) vê o BIM como um processo baseado em modelos digitais, compartilhados, integrados e intereroperáveis. Dessa forma o Building Information Modelingpode ser definido como um processo que permite a gestão da informação por todo o ciclo de vida da edificação. Os modelos BIM são o conjunto de modelos compartilhados, digitais, tridimensionais e semanticamente ricos que formam a espinha dorsal do Building Information Modeling, conforme a Figura 1.

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Figura 1 – O BIM e o ciclo de vida da edificação

Fonte: Governo de Santa Catarina apud Manzione (2014)

Ainda, de acorno como Caderno BIM do Governo de Santa Catarina (2014), as características dos modelos BIM podem ser definidas como:

1) Orientado a objetos; 2) Ricos em dados e abrangentes: os modelos são ricos em dados e abrangentes enquanto

cobrem e mantém as características físicas e funcionais e os estados dos elementos do edifício;

3) Tridimencionais: os modelos representam a geometria do edifício em três dimensões; 4) Espacialmente relacionados: as relações espaciais entre os elementos do edifício são

mantidas nos modelos de maneira hierárquica; 5) Semanticamente ricos: os modelos mantém uma grande quantidade de informação

semântica sobre os elementos do edifício; 6) Modelos capazes de suportar vistas: as vistas do modelo são subconjuntos ou

instantâneos do modelo que podem ser gerados com base no modelo principal. Essas vistas podem ser automaticamente geradas resguardando as necessidades do usuário.

Para Eastman (2014) é um dos mais promissores desenvolvimentos na indústria relacionada à arquitetura, engenharia e construção. Um modelo virtual preciso de uma edificação é construído de forma digital. Esse modelo contém a geometria exata e os dados necessários

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para dar suporte à construção, à fabricação e ao fornecimento de insumos necessários para a realização da construção. Quando implementado de maneira apropriada, o BIM facilita o processo de projeto e construção e resulta em melhor qualidade e com custo e prazo de execução reduzidos (EASTMAN, 2014).A tecnologia BIM pode dar suporte e incrementar muitas práticas do sector. Quando comparado às práticas tradicionais em CAD 2D ou baseadas em papel, ganhos significativos já foram alcançados apesar da indústria de AEC (arquitetura, engenharia e construção) e gestão de facilities encontrarem-se no início do uso BIM (Eastman, 2014).

Os benefícios observados por Eastman (2014), Campos (2015) e Blanco (2011) verificam-se desde a etapa de projetos até a etapa de pós-construção e operação de uma edificação. 2.1 Pré-construção Desenvolver um modelo esquemático antes de criar um modelo detalhado de uma construção permite uma avaliação cuidadosa da proposta para determinar se ela cumpre os requisitos de funcionalidade e de sustentabilidade da construção. Avaliações de alternativas de projetos realizadas com antecedência com o uso de ferramentas de análise e simulações incrementam a qualidade da construção como um todo. 2.2Etapa de projetos O modelo BIM é gerado em três dimensões desde o início de sua concepção. Desta forma tem-se uma visualização antecipada e precisa em qualquer etapa do desenvolvimento de um projeto. Quando os objetos de um projeto são controlados por regras paramétricas, uma alteração é realizada e essa modificação é replicada automaticamente a todas as vistas, cortes e plantas do modelo. Desenhos precisos podem ser extraídos para qualquer conjunto de objetos ou vistas específicas. Isso reduz consideravelmente o tempo e o número de erros associados com a geração de desenhos para todas as disciplinas de projeto. A tecnologia BIM facilita o trabalho simultâneo de múltiplas disciplinas de projeto. É possível trabalhar com um ou mais modelos 3D coordenados onde o controle de modificações pode ser gerenciado. Desta forma, o tempo de projeto é reduzido, assim como erros de projeto e por omissão. A qualquer tempo é possível extrair uma lista precisa de quantitativos e espaços que pode ser utilizada para estimar o custo de um empreendimento. É possível manter todos os participantes conscientes das implicações dos custos associados com dado projeto antes que ele progrida para o nível de detalhamento requerido para uma contratação. Como resultado, é possível tomar decisões de projeto envolvendo custos melhor informadas usando o BIM do que os sistemas usuais de levantamento de dados em papel. Vincular o modelo da construção a ferramentas de análise energética permite a avaliação do uso de energia durante fases mais preliminares do projeto. Isso não é possível utilizando ferramentas 2D tradicionais que requerem uma análise de energia separada seja realizada ao

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final do processo de projeto, reduzindo e dificultando as oportunidades de modificações que poderiam incrementar o desempenho energético da construção. 2.3Construção e fabricação O planejamento da construção pode ser vinculado ao modelo 3D aliando a variável tempo à forma do modelo. Assim é possível simular o processo de construção e aparência da obra a qualquer tempo. Essa simulação gráfica proporciona compreensão considerável sobre como a construção será realizada dia a dia e revela fontes de potenciais problemas e oportunidades para melhorias.

Figura 2 – Simulação de construção do modelo vinculado ao planejamento

Fonte: Autor (2015) No modelo 3D BIM é possível modelar todas as disciplinas envolvidas em um empreendimento. Assim, a compatibilização de projetos por detecção de conflitos é uma realidade. Problemas não verificados com antecedência a partir de plantas e desenhos 2D são identificados e os problemas podem ser solucionados antecipadamente ao canteiro de obras. Desta forma é possível antecipar-se aos erros e adiantar as tomadas de decisão.

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Figura 3 – Exemplo de compatibilização 3D a partir de modelagem BIM

Fonte: Autor (2015) Diversos outros benefícios podem ser obtidos na etapa de construção de um empreendimento quando utilizado um modelo BIM para os fins que se desejam. Por exemplo: reação rápida a problemas de projetos ou de canteiro; uso do modelo de projeto como base para componente fabricados. É possível realizar o projeto, controle de fabricação, rastreio de entrega e lançamento em obra através da tecnologia BIM; melhor implementação e técnicas de construção enxuta; e sincronização da aquisição de materiais com o projeto e a execução. 2.4 Pós-construção Um modelo BIM proporciona uma fonte de informações (gráficas e de especificações) para todos os sistemas usados em uma construção. Análises prévias usadas para determinar equipamentos mecânicos, sistemas de controle e outras aquisições podem ser fornecidas ao proprietário, como um meio de verificação de decisões de projeto quando a edificação estiver em uso. Essa informação pode ser usada para verificar se todos os sistemas funcionam apropriadamente depois que a construção está completa. O modelo fornece um ponto de partida muito útil para o gerenciamento e a operação da construção. Um modelo BIM suporta o monitoramento de sistemas de controle em tempo real e proporciona uma interface natural para sensores e operação remota de gerenciamento de

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facilities. Essa capacidade ainda não foi desenvolvida em sua totalidade ou plenitude, mas o BIM permite seu desenvolvimento (EASTMAN, 2014). Os dados da construção do edifício, do projeto à obra, poderão ser, a partir da consolidação do BIM, facilmente coletados e analisados para manutenção e gestão do edifício durante sua vida útil. O modelo BIM também poderá alimentar os departamentos de pós-obras com informações consistentes em relação ao desempenho do empreendimento e de seus sistemas e materiais. Assim, no caso de uma reclamação de um consumidor, por exemplo, a assistência técnica poderá acessar o projeto e verificar o histórico do item reclamado, obtendo informações sobre a execução e as necessidades de manutenção e desempenho. Por conta disso, o BIM servirá também para balizar perícias no caso do aparecimento de falhas construtivas e melhorar a relação da empresa com seus consumidores. 3. Engenharia diagnóstica O perito em engenharia, de acordo com Gerolla (2011) é aquele que investiga, analisa informações colhidas e apresenta conclusões sobre as condições técnicas de um imóvel, de uma máquina, ou de qualquer outro produto da engenharia.Ele deve avaliar as causas de um acidente, manifestações patológicas, anomalias ou qualquer desempenho insatisfatório da edificação decorrente de má-execução, erro de projeto ou problema com material. O Ibape de São Paulo define perícia como atividade técnica realizada com o propósito de averiguar e esclarecer fatos, verificar o estado de um bem, apurar as causas que motivaram determinado evento, avaliar bens, seus custos, frutos ou direitos (IBAPE-SP, 2015). O perito em engenharia pode atuar em três tipos de atividade:

a) Avaliação: Análise técnica para identificar valores, custos ou indicadores de viabilidade econômica para um determinado objetivo, finalidade e data, consideradas determinadas premissas, ressalvas e condições limitantes; b) Exame: Constatação de fatos ou desenvolvimento de processo analítico fundamentado que permita extrair conclusões acerca de causas e conseqüências, ainda que no âmbito da probabilidade, tendo por objeto pessoas, semoventes e bens móveis. c) Vistoria: Constatação de fatos ou desenvolvimento de processo analítico fundamentado que permita extrair conclusões acerca de causas e conseqüências, ainda que no âmbito da probabilidade, tendo por objeto bens imóveis; (IBAPE-SP, 2015)

A inspeção predial é a atividade que possui norma e metodologia própria, classifica as deficiências constatadas na edificação, aponta o grau de risco observado para cada uma delas e gera lista de prioridades técnicas com orientações ou recomendações para sua correção. Isto é, atesta a segurança e valoriza a aplicação de recursos financeiros com a boa manutenção predial (IBAPE-RS, 2014). Os conceitos e ferramentas da engenharia diagnóstica são: a) Sintomatologia: Constatações eanálises dos sintomas e condições físicas das anomalias construtivas e falhas de manutenção. b) Etiologia: Determinação dos efeitos, origens, causas, mecanismos de ação, agentes e fatores de agravamento das anomalias construtivas e falhas de manutenção.

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c) Terapêutica: Estudos das reparações das anomalias construtivas e falhas de manutenção. d) Patologia: Estudo das condições físicas ou funcionais produzidas pelas anomalias construtivas ou falhas.

Figura 4 – Diagrama de engenharia diagnóstica

Fonte: IBAPE-RS (2014) O laudo é odocumento técnico elaborado por profissional habilitado no qual são relatadas constatações, análises e conclusões de perícias, exames, vistorias e avaliações.É o perito quem traduz a questão técnica num laudo, versando-a numa linguagem que faça um leigo no assunto técnico como juiz e advogados das partes do um processo, por exemplo, entenderem exatamente o que está acontecendo. O laudo técnico orienta a decisão de um juiz numa ação judicial. O trabalho é de grande responsabilidade e exige senso ético para não se deixar influenciar por interesses particulares. O perito não perderá de vista que a verdade técnica é uma só, e deve prevalecer sempre (TÉCHNE, 2011). Os requisitos a serem observados na elaboração de um laudo pericial estão condicionados à abrangência das investigações, à confiabilidade e adequação das informações obtidas, à qualidade das análises técnicas efetuadas e ao grau de subjetividade empregado pelo perito. O nível de detalhamento e o grau de aprofundamento de uma perícia estão diretamente relacionados com a natureza, o objetivo e a finalidade do trabalho. A Norma Básica para Perícias de Engenharia do IBAPE-SP (2015) elenca os requisitos essenciais para um trabalho de boa qualidade: a) Levantamento e descrição de todos os elementos que permitam ao perito fazer seu estudo e fundamentar sua convicção e conclusão devendo constar, quando for cabível, a anamnese do caso, apresentada cronologicamente, identificando as datas de ocorrência dos eventos, relatóriofotográfico e desenhos elucidativos. b) Análise e fundamentação, expostas de forma clara, objetiva, inteligível, devendo contemplar tudo quanto necessário para o perfeito entendimento da matéria, apoiadas em referênciastécnicas pertinentes, dentre outras: normas técnicas, bibliografia, projetos, especificações, memoriais, regulamentos, manuais, legislação, contratos, cronogramas, orçamentos, pareceres especializados, ensaios, testes e procedimentos técnicos consagrados.

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c) Verificar não conformidades com as prescrições das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT pertinentes, através de inspeção visual, testes e ensaios, quando forem necessários. d) Caracterizar, classificar e quantificar a extensão de todas as anomalias e danos observados, com todas as informaçõesnecessárias e suficientes para permitir a respectiva estimativa dos custos de reparação, distinguindo-se quando de origens distintas, tais como: vícios construtivos; falhas de manutenção; avarias; mutilações, decrepitude, etc. e) Identificar-se a relação de causa e efeito (nexo causal) das ocorrências analisadas. O Manual de Inspeção Predial do Ibape-RS (2014) indica as principais etapas para a elaboração de uma inspeção predial. A primeira é o levantamento de dados e documentos, passando por entrevista com o síndico (histórico de intervenções), inspeção ou vistoria dos sistemas, verificação das deficiências, classificação quanto a seus graus de risco, ordem de prioridades técnicas, recomendações ou orientações técnicas, avaliação da qualidade da manutenção, avaliação do uso da atividade da edificação, avaliação da segurança e pânico e por fim, elaboração do laudo. Um laudo de inspeção predial deve seguir como um guia para realização da manutenção de uma edificação. Além de determinar as irregularidades prediais e verificar o estado de conservação e condições gerais da edificação, o laudo deve informar subsídios e orientar os usuários na ordem de prioridades dos serviços de manutenção. 4. Manutenção Predial Segundo Neves (2007), existem dois tipos de manutenção: a preventiva e a corretiva. A manutenção preventiva envolve a conservação e a preservação. Conservação designa todos os processos de cuidado para um bem. Preservação significa manter um bem em seu estado de conservação atual e retardar a sua deterioração Já a manutenção corretiva envolve a reparação e se divide em duas linhas: a restauração e a reconstrução. Restauração significa retornar um bem existente a um estado físico anterior conhecido sem adição de novos materiais. Reconstrução também se caracteriza pelo retorno do bem ao estado anterior de conservação, porém com introdução de novos materiais. A NBR 14037 (ABNT, 1998) descreve a manutenção como o conjunto de atividades a serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes de atender as necessidades e segurança dos seus usuários. De forma geral, Marcelli (2007) e Perez (1988) definem a manutenção como medidas necessárias e cuidados técnicos indispensáveis para garantir boas condições de segurança e conforto e que cumpra satisfatoriamente as funções para as quais seus elementos foram projetados, garantindo a vida útil desejada. Marcelli (2007) e Perez (1988) afirmam que no Brasil, os trabalhos de manutenção foram, por muito tempo, negligenciados e tratados como atividades de pouco prestígio, sem atrativos e sem muita importância. Porém, analisando o assunto de forma internacional, nota-se que existe uma grande preocupação, por parte dos países desenvolvidos em se tornarem eficientes quanto à conservação das edificações existentes e por desenvolver projetos que permitam reduzir ou eliminar os custos de manutenção.

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A previsão de vida útil de materiais e componentes é muito difícil de ser avaliada em virtude dos inúmeros fatores que são responsáveis pela sua deterioração. Para avaliar de forma correta a vida útil de um produto, deve-se levar em consideração o comportamento de degradação e acrescentar a influência dos serviços de manutenção que deverão ser executados. Marcelli (2007) exibe a situação totalmente distinta quando passa-se a realizar a manutenção preventiva ou corretiva de forma correta, usual e planejada, obtendo-se uma maior vida útil dos materiais e componentes. A manutenção de edificações visa preservar ou recuperar as condições ambientais adequadas ao uso previsto para as edificações (ABNT, 1999).

Figura 4 –Influência da manutenção na vida útil de uma edificação

Fonte: MARCELLI, (2007) Para se fazer um planejamento de manutenção preventiva, é importante conhecer a curva característica de perda de desempenho do material analisado. Para isso, porém, deve-se desenvolver e implantar o sistema de manutenção, envolver e treinar pessoas e obter os recursos financeiros necessários. Sendo assim, o programa de manutenção deve garantir o retorno dos investimentos e se mostrar vantajoso financeiramente a médio e longo prazo. Também é uma importante ferramenta para a alimentação de um possível banco de dados, onde poderá conter o levantamento cadastral da edificação e das falhas existentes, determinando-se, por exemplo, as origens, as causas e os mecanismos de formação de forma que se possa prescrever o tratamento mais adequado do ponto de vista técnico e econômico. Além da possível criação, conforme a NBR 14037 (ABNT, 1998) de um manual para uso e manutenção da edificação. A respeito da manutenção preventiva, pode-se dizer que cuidar no presente para não precisar tratar no futuro, a fim de minimizar os gastos com a manutenção corretiva. A manutenção preventiva feita de forma eficiente e bem planejada resultará em enormes benefícios financeiros, além de aumentar a segurança, tendo em vista que qualquer problema será detectado em sua fase inicial (MARCELLI, 2007). A manutenção preventiva eficiente inicia-se nas fases de projeto, buscando formas e materiais que prolonguem a vida útil do imóvel. Deve-se também buscar soluções conjuntas a outras áreas como estrutural, hidráulica e elétrica a fim de criar projetos inteligentes beneficiando a

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manutenção. A seguir, é necessário buscar também em obra elevados níveis de qualidade utilizando-se da boa técnica seguindo as normas. No entanto, apenas seguir o que foi apresentado não garante sucesso e menores gastos futuros. São necessárias inspeções periódicas com o propósito de identificar possíveis falhas e manifestações patológicas em suas fases iniciais para seus imediatos reparos, realizar um plano de manutenção com previsões orçamentárias, definir projetos e assessorar e supervisionar os serviços. Posteriormente, será possível definir e implementar um sistema de gestão da qualidade de manutenção (ABNT, 1999). Portanto, todas as edificações necessitam de uma eficiente manutenção preventiva e uma adequada manutenção corretiva para terem uma longa vida útil proporcionando conforto e segurança a seus usuários com o menor custo possível. 4. Análise e Conclusões Neste artigo foram apresentados sucintamente princípios e conceitos básicos a respeito da tecnologia BIM, engenharia diagnóstica e manutenção predial. Os dois últimos relacionam-se naturalmente enquanto que o Building Information Modeling parece destoar dos assuntos mencionados. Isso ocorre porque, quando utlizado no Brasil, o BIM é quase exclusivamente aplicado na etapa de projetos devido a sua alta eficácia na gestão e tomada de decisão. Entretanto, aos poucos, o Modelo de Informação começa a ser utilizado também dentro dos canteiros seja na etapa de planejamento, coordenação de obra, medições ou as-built. Como o próprio nome já diz: BIM é informação. E essa informação pode ser tanto criada ou agregada a um modelo na etapa de projetos, na execução de obras ou a qualquer tempo da vida útil de uma edificação. Mas toda essa informação centralizada podee deve ser utilizada no futuro como base para intervenções de manutenção ou melhoramentos diversos da edificação. Se bem administrado, todas informações a respeito de todos os projetos estarão presentes em um único modelo. É possível esclarecer o tipo de concreto, alvenaria, tubulações, vidros e tantas outras especificações dos diversos projetistas. Da mesma forma, na etapa de obras pode-se agregar informações a respeito resistência de ensaios realizados, equipes que trabalharam em determinada etapa e lotes de materiais e locais onde foram empregados, por exemplo. É possível obter um mapeamento da obra desde datas de desforma de lajes e vigas até relatórios de qualidade.O mais interessante que todo esse montante de informação estará acessível em um único arquivo e disponível de forma visual em três dimensões. Evidentemente que o caminho natural para que o BIM seja usado na engenharia diagnóstica e em manutenção de edificações cotidianas ainda é longo. O caminho natural é o que já vem ocorrendo: primeiramente uso em projetos, depois em obras e só então será observado seu uso no pós obra e operação. Para atalhar esse caminho é preciso modelar todos os projetos existentes em um software BIM para usufruir seus benefícios como já ocorre em alguns hospitais, fábricas e universidades como no estudo de Siviero (2011), por exemplo. Conforme mencionado anteriormente, um profissional da área de engenharia legal ou perito é aquele que investiga, analisa informações colhidas e apresenta conclusões sobre as condições técnicas de um imóvel. Um modelo BIM bem resolvido tem um valor inestimável para o

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estudo de um sinistro ou ocorrência de uma manifestação patológica. Da mesma forma, o modelo poderá ser apresentado como prova documental em um laudo pericial. Do ponto de vista da manutenção predial o modelo auxilia na tomada de decisão já que pode ser combinado a softwares para criação de rotinas de manutenção e acompanhamento de orçamento. Também, ao constatar a necessidade de uma intervenção ou obra, a orçamentação é muito mais ágil pois pode-se retirar informações sobre os materiais utilizados e quantitativos exatos do objeto dos trabalhos.

Figura 4 –Interface de um software de manutenção baseado em um modelo BIM

Fonte: Engeworks (2016) Um programa de manutenção deve garantir o retorno do investimento inicial e se mostrar vantajoso financeiramente, a médio e longo prazo. Além disso, será um instrumento valioso, visto o retorno de informações importantes, para subsidiar o desenvolvimento de novos projetos (MARCELLI, 2007). Fica claro que tanto o perito que utiliza as informações produzidas anteriormente por outros profissionais, quanto os profissionais de manutenção que agregam informação, desfrutam das vantagens que o Modelo de Informação proporciona. Mesmo com todos os tipos de ganhos descritos, o modelo BIM é apenas uma ferramenta e uma base de dados para o desenvolvimento de um trabalho específico. Com um bom projeto BIM, é necessário segui-lo em obra, verifica-lo e realizar o as-built para documenta-lo. Daí então poder gozar as vantagens no pós obra. Ainda que possua qualquer tipo de automação ou programação atrelada, o profissional é imprescindível para extrair, interpretar os dados de um modelo e propor soluções que se apresentem financeiramente vantajosas. Também, o modelo não deve ser estanque, assim como uma edificação sofre modificações ao longo do tempo, o modelo também deve ser alimentado e estar sempre atualizado para o seu melhor aproveitamento.

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Referências ABNT, Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 14037: Manual de operação, uso e manutenção das edificações – conteúdo e recomendações para elaboração e apresentação. Rio de Janeiro, 1998. BLANCO, Miriam. VANTAGENS DE NEGÓCIO. Construção Mercado. 2011. http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/115/artigo283862-1.aspx

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