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PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DA SANGA PINHEIRINHO-MUNICÍPIO DE TOLEDO PR

Autor: João Batista de Souza1

Orientadora: Ms. Leila Limberger2

RESUMO

A possibilidade de uma educação ambiental para as novas gerações, além de um direito, constitui-se em uma necessidade para o pleno exercício da cidadania. Daí a motivação para o trabalho realizado, presentemente apresentado, que propõe reflexões por parte dos professores, alunos e comunidade do entorno do Colégio Estadual Senador Attílio Fontana, que se uniram para participar da discussão dos problemas ambientais e tentativa de minimização dos impactos ambientais detectados na Bacia da Sanga Pinheirinho, Toledo – PR. O estudo ora apresentado teve como objetivo contribuir com uma proposta de educação ambiental desenvolvida junto aos alunos do 1º Ano, tendo como foco a bacia hidrográfica da sanga Pinheirinho. Como estratégia de ação optou por trabalhos em grupo, pesquisas na internet, leituras e discussões de textos, trabalho em campo, observações, entrevistas com alguns moradores e pioneiros da cidade, apresentação e análise de vídeos, mapas, figuras e fotos para localização e caracterização da Bacia da Sanga Pinheirinho, mutirão para recolhimento do lixo nas proximidades da nascente da Bacia em estudo. Palavras-chave: Bacia da Sanga Pinheirinho; trabalho de campo; metodologia de ensino.

1 INTRODUÇÃO

O espaço geográfico não é algo estático, mas está em constante

transformação natural e antrópica. Embora o aparecimento da espécie humana seja

recente em relação ao surgimento da maioria dos seres, nenhuma espécie de ser

vivo causou tantas modificações e de tão grande intensidade na superfície do

planeta.

Ao longo da história da humanidade, o homem contribuiu para a extinção de

1 Graduado em Geografia. Professor da Rede Pública do Estado do Paraná. 2 Docente do curso de Geografia, Unioeste/MCR. [email protected].

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várias espécies. As ações humanas na natureza representam uma ameaça para os

seres vivos, inclusive, à sua própria sobrevivência. Nesse sentido, uma proposta de

educação ambiental na escola se faz necessária no sentido de contribuir para

motivar mudanças de hábitos, promovendo a adoção de uma nova escala de valores

para os escolares.

Não se pode ignorar o fato que as sociedades dependem da conservação do

meio ambiente sustentável para se desenvolver economicamente e, ao mesmo

tempo, cuidar dos recursos naturais para a sobrevivência das futuras gerações.

Em vista do exposto, o presente artigo intitulado “Preservação dos Recursos

Hídricos da Bacia da Sanga Pinheirinho-município de Toledo PR” é resultante da

implementação pedagógica no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),

da Secretaria do Estado de Educação do Paraná, realizada no período de 2010 e

2011 em parceria com a UNIOESTE.

A Bacia Hidrografia, objeto deste estudo situa-se no bairro Pioneiro, onde se

localiza o Colégio Estadual Senador Atílio Fontana; o curso hídrico desta bacia

localiza-se a, aproximadamente, 2 quilômetros da sede do Colégio. A bacia é poluída

e muito degradada pela ação da comunidade local. Grande parte dessa degradação

é causada diretamente pela própria comunidade escolar, ocorrendo impactos sociais

e econômicos negativos.

A pesquisa justificou-se em razão da necessidade de subsidiar fundamentos

teórico-práticos para minimizar a degradação ambiental no entorno, bem como a

ação antrópica na bacia hidrográfica da Sanga Pinheirinho, afluente do Rio Toledo,

uma vez que a nascente do rio situa-se na área urbana no bairro da Vila Pioneira e,

próximo ao afluente, existem ainda algumas propriedades rurais que trabalham com

suinocultura e avicultura.

Segundo Ross e Prette (1998), a bacia hidrográfica é considerada como a

unidade natural na qual o elemento integrador é representado pelos canais fluviais

ou de drenagem natural, cujo referencial é a água. Contudo, embora constituída de

um sistema natural complexo, não é um sistema ambiental único. Por isto, é

necessário considerar as questões sociais e econômicas regionais.

Portanto, o objetivo da proposta de implementação foi contribuir com uma

proposta de educação ambiental desenvolvida junto aos alunos do 1ª Ano do Ensino

Médio do Colégio Estadual Senador Attílio Fontana, tendo como foco a bacia

hidrográfica da sanga Pinheirinho.

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Acreditamos que contribuir com a preservação da Bacia da Sanga

Pinheirinho é a forma que o Colégio Estadual Senador Attílio Fontana encontra para

ter um ambiente mais equilibrado e favorável à vida do bairro Vila Pioneiro,

contribuindo, consequentemente, para o fomento da conscientização da comunidade

local no sentido de preservar esta riqueza natural da realidade da bacia da Sanga

Pinheirinho e sua vivência.

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MEIO AMBIENTE

O planeta Terra é o único do universo onde, até o momento, sabe-se da

existência de vida. Esse fato é decorrente da combinação de diferentes fatores,

como: água, atmosfera, oxigênio e outros gases, distância em relação ao sol,

permitindo calor na intensidade adequada, etc. A humanidade passou por um

processo de evolução tecnológica que lhe garantiu a possibilidade de modificar o

chamado espaço natural. Tais modificações variaram segundo as épocas e segundo

as regiões. Dansereau e Sassim (1978, apud DEMANGEON, 2001, p. 70)

distinguem cinco etapas pelas quais passou a humanidade, no que se refere à sua

capacidade de modificar o espaço, através do desenvolvimento tecnológico:

- Primeira Etapa: descoberta de instrumentos para a prática da caça e pesca, ocorrida no Paleolítico. - Segunda Etapa: domesticação de animais ocorrida no Paleolítico Superior e Neolítico. - Terceira Etapa: invenção da agricultura, ocasionando a sedentarização do homem e estruturando as sociedades rurais, ocorridas no Neolítico ao Século XVII no hemisfério ocidental. - Quarta Etapa: invenção da indústria, com amplo desenvolvimento das técnicas, naquilo que se convencionou chamar de Revolução Industrial, ocasionando, entre outras coisas, o fenômeno da urbanização entre os Séculos XVIII. - Quinta Etapa: surgimento da Revolução Cibernética, no momento em que o homem se mostra pronto para conquistar outros espaços externos da terra, a partir de 1968.

É importante saber determinar o nível de intervenção antrópica, uma vez que

o meio deixa de ser natural. Até a fase em que o homem passa a ser sedentário e

descobre a agricultura, cultivando espécies aclimáticas, com técnicas não poluentes,

o meio natural é reconhecido. Logo, o meio ambiente já não é mais natural

(DEMANGEON, 2001).

A separação homem-natureza é uma característica marcante do

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pensamento ocidental, que é a capacidade que a humanidade tem para dominar a

natureza. Os problemas ambientais e sociais atingiram proporções globais através

da expansão da cultura ocidental, que tem no sistema capitalista e na religião

monoteísta seus principais pilares de sustentação como afirma Garaudy (1983):

Se considerarmos o Ocidente, não sob o ponto de vista geográfico, mas, um estado de espírito que se orienta para a dominação da natureza e dos homens, tal visão do mundo irá remontar à primeira civilização conhecida, a que veio à luz do delta do Tigre e do Eufrates, na Mesopotâmia, hoje Iraque [...] Em repouso, a visão de mundo que chamamos Ocidental data de mais de 3.000 anos antes de nossa era. Configura-se fora da Europa, no Egito e na Mesopotâmia. Aí já se encontram os traços característicos da atitude ocidental: o homem se opõe à natureza, de que aspira ser senhor absoluto, e contra a qual forja sua individualidade e seu pensamento abstrato (GARAUDY, 1983, p. 09).

O modo ocidental de pensar no mundo originou-se na Europa. A tradição

cristã levou a refletir sobre a corrente científica e religiosa que distinguia o bem e o

mal, vinculado às especulações de conhecimento das origens e do fim da

humanidade. Desta forma, o aspecto fundamental deste pensamento é o

relacionamento entre o homem e o resto da natureza. O homem foi dotado de uma

inteligência superior aos outros seres vivos e, por isso, pode subjugá-los; “as ações

humanas formaram o meio ambiente no qual as gerações seguintes e as diferentes

sociedades viveram se utilizando dos recursos naturais, sem considerar suas

necessidades de preservação” (PONTING, 1995, p. 236).

Os diferentes modos de produção criados durante a existência da

humanidade promovem a organização e a produção do espaço geográfico. As

civilizações que se baseavam nos modos de produção que valorizavam mais o “ser”

do que o “ter”, formam menos agressivas a natureza e ao ser humano.

Para Marx (apud CASSETI, 1991), a natureza separada da sociedade não

possui significado. O homem, por sua vez, não é apenas um habitante da natureza;

ele se apropria e transforma as riquezas da natureza, e apresenta a sociedade como

um conjunto de ligações e relações fundamentais no trabalho. Esse trabalho

encontra-se vinculado aos recursos oferecidos pela natureza.

Outras civilizações, conhecidas como os orientais, geralmente, são

matriarcais, politeístas e se inspiram em valores totalmente diferentes aos da

civilização acidental, como a solidariedade e igualdade social, respeitando a

natureza e o ser humano promovendo equilíbrio e harmonia ambiental.

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A ruptura do Ocidente com suas fontes orientais conduz a um empobrecimento do homem, o contraste torna-se brutal comparado a visão oriental de mundo, que une amor da natureza e piedade para com os homens, rejeitando o individualismo ilusório para tentar fundir-se com a natureza (GARAUDY, 1983, p.10).

O valor simbólico do meio ambiente está contido na topofilia, definida como

“o elo afetivo entre as pessoas e o lugar, onde a memória cultural e a inteligência

emocional se fundem” (TUAN, 1980, p.106). A Fenomenologia é um ramo da ciência

que valoriza a questão da percepção, assim, é conhecida como:

[...] a filosofia que descreve o fenômeno geográfico a partir da percepção dos indivíduos que convivem com o fenômeno, no tempo e no espaço, e o interpretam segundo as leis do seu conhecimento ou da sua consciência. Estuda a essência sem a preocupação de analisá-la ou solucioná-la, valorizando, dessa maneira, a essência e a percepção do indivíduo, voltada a particularidade em cada um que percebe e compreende o mundo em sua volta (TUAN, 1980, p.106).

Desta forma, paulatinamente, a questão da percepção ambiental ganha

relevância para compreensão das atitudes dos grupos sociais sobre o ambiente.

Vale colocar que o sistema capitalista, que se baseia na propriedade privada e no

lucro, tendo como característica a sociedade de classes, que se divide entre os

donos dos meios de produção (capitalistas) e os que só têm sua própria força de

trabalho para vender (trabalhadores), é sem dúvida o mais agressivo dos modos de

produção que já surgiram (CUNHA; GUERRA, 2005).

Neste modo de produção, para obter lucro, todos os elementos da natureza

são vistos como recursos a serem explorados e não como meios essenciais para

manter o equilíbrio e a vida no planeta e, até a humanidade, são transformados em

mercadorias e explorados, com a criação de uma cultura que possui uma escala de

valores e que as pessoas valem aquilo que consomem, relacionando a qualidade de

vida com a quantidade que consomem, é conhecida como “sociedade de consumo”.

Com objetivo de promover o crescimento econômico, são inventados

produtos que não tem utilidade e às vezes são até prejudiciais. As pessoas passam

a viver em função do consumo e, quem não tem poder de consumo, é visto como

inútil no sistema. Na sociedade de consumo, os conceitos se modernidade de vida

estão vinculados a quantidade de produtos, oferecido pela indústria, que cada

indivíduo pode consumir (CUNHA; GUERRA, 2005).

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O consumismo não deve servir de referencial a ser seguido pela sociedade,

pois pode levar a exaustão dos recursos naturais e a extinção de vida sobre planeta.

Compreendermos a modernização como um processo de mudanças na qual determinada sociedade ('progresso”) ou, melhor, sobrepõe estruturas tradicionais, criando novas formas de produção em que a urbanização e a industrialização e o desenvolvimento tecnológico, dos sistema de comunicação de massa e transportes são alguns dos fenômenos característicos desse processo. Essas mudanças, constituintes nos diferentes espaços urbano e rural, direcionam-se para a formação das sociedades modernas, mercadologizadas tanto em escala regional, quanto em escala nacional e global, impulsionadas por um modelo desenvolvimentista, com características inerentes de degradação ambiental. O modelo em questão prima pelos interesses privados (econômicos) frente aos bens coletivos (meio ambiente), consubstanciando-se em uma visão antropocêntrica de mundo gerador de fortes impactos socioambientais (CUNHA e GUERRA, 2005, p. 84).

Os automóveis que foram criados para servir de meio de transporte passam

a ser objeto de ostentação de poder e prestígio. A cada ano a indústria muda alguns

detalhes para motivar a venda de um veículo novo. Os eletrodomésticos que

poderiam ser usados durante décadas, são fabricados para durar o mínimo possível

e em pouco tempo já estão ultrapassados e são substituídos por novos. Este

processo culmina na produção de lixo.

Como se não bastasse transformar em mercadorias, os minerais, vegetais, solos, a ganância própria do capitalismo procura transformar em mercadorias os elementos naturais como já acontece com a água, em muitos lugares do planeta. Todos os elementos naturais são importantes sendo difícil determinar qual o mais ou menos importante, mas merecem destaque o ar e a água, por serem vitais. Embora estes recursos sejam considerados abundantes no planeta, a água não está distribuída na mesma proporção sobre toda superfície do planeta e apenas uma pequena parte é de consumo humano. Verifica-se que 97,5% do volume total da água da Terra são de água salgada, formando os oceanos, e somente 2,5% são de água doce. Ressalta-se que a maior parte dessa água doce (68,7%) está armazenada nas calotas polares e geleiras. A forma de armazenamento em que os recursos hídricos estão mais acessíveis são rios, o que corresponde a apenas 0,27 do volume de água doce da Terra e cerca de 7% do volume de água total (SETTI, 2001, p. 63).

As estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas) apontam que a

população mundial em 2050 será de 9,3 bilhões de pessoas. Assim, as questões de

saúde, saneamento, educação, transporte, moradia, criminalidade serão desafios a

vencer. “Acréscimos do emprego dado às águas, sua poluição, degradação e

desperdício que, comprometem ainda mais a sua quantidade e qualidade”

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(BERBERT, 2003, p. 81). Dessa maneira, as evidências de escassez da água

passam por discussões nas instituições e nos diversos níveis da sociedade, e novas

iniciativas devem ser implementadas a fim de promover a proteção e conservação

dos recursos naturais.

Dentre essas, estão as Conferências Mundiais de Estolcomo, realizada em

1972, e a do Rio de Janeiro, em 1992. Nesta última produziu-se a Agenda 21.

Merece destaque o capítulo 18 da referida agenda, ao estabelecer as bases para

ações referentes aos recursos hídricos, tais como: água para produção de alimentos

e desenvolvimento rural sustentável; a água e o desenvolvimento urbano

sustentável; abastecimento de água potável e saneamento; proteção dos recursos

hídricos, da qualidade da água e dos ecossistemas; avaliação dos recursos

hídricos; desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos.

O manejo integrado dos recursos hídricos baseia-se na evidência da água,

como um recurso natural e um bem econômico social. A água doce, um recurso finito

altamente vulnerável de múltiplos usos, deve ser gerida de modo integrado, o que

exige mecanismos eficazes de coordenação e implementação.

Ao desenvolver e usar os recursos hídricos para promover a satisfação das

necessidades básicas do ser humano deve-se considerar a proteção dos

ecossistemas. Esse manejo integrado deve ser feito considerando o nível de bacia

ou sub-bacia de captação (AGENDA 21, 1992).

Vale destacar que a Política Nacional de Gerenciamento dos Recursos

Hídricos, Lei 9.433/97 é a materialização da tentativa brasileira de cumprimento da

Agenda 21, e tem como objetivo assegurar a sustentabilidade dos corpos d'água,

além de estabelecer uma gestão integrada, descentralizada e participativa.

A lei 9.4433, promulgada em 8 de janeiro de 1997, institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, regulamentando o inciso XIX do art. 21 da Constituição

Federativa Brasileira e altera o art.1 da lei 8.001 de 13 de março de 1990, que

modificou a lei 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Em seu Art. 4 estabelece que a

União articular-se-á com os estados, tendo em vista o gerenciamento dos recursos

hídricos de interesse comum.

A referida lei é pautada na gestão integrada, descentralizada e participativa.

Integrada, pois institui a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, deixando

clara a ideia de que o cuidado com a água não está centralizado na água em si, mas

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em todos os componentes da bacia, ou seja, devem ser considerados os aspectos

físicos, sociais, econômicos, políticos, etc. É descentralizada, pois o Governo

Federal e Estadual passaram a dividir suas responsabilidades com os usuários, e

todas as decisões concernentes à gestão de águas em uma bacia hidrográfica

serão decididos em uma nova instância: o comitê gestor da bacia. É participativa, em

razão de que todos os usuários e a sociedade civil organizada farão parte do comitê,

além do poder público, e as decisões deverão ser tomadas de forma conjunta.

Segundo Barth (2002), a importância do uso múltiplo e integrado dos

recursos hídricos e as condições para a sua viabilização exigem o rateio de custos e

a institucionalização das decisões colegiadas. No que se refere à descentralização

e participação. O autor destaca a necessidade de que haja a descentralização do

processo decisório, para contemplar as diversidades e peculiaridades, tanto

regionais como estaduais e municipais. Faz-se necessário a democratização deste

processo para fazer com que a comunidade civil tenha voz no processo dinamizando

os resultados.

A instituição da bacia hidrográfica como unidade de planejamento na lei

9433/97 foi uma ação muito inovadora. Discute-se na Geografia a importância desta

unidade nos estudos ambientais, concluindo que ela é ideal para os estudos

integradores. Rodrigues e Adami (2000, p.147) definem bacia hidrográfica como um

sistema que abarca um volume de materiais, predominantemente sólidos e líquidos,

próximo à superfície terrestre, delimitado interna e externamente por todos os

processos que, a partir do fornecimento de água pela atmosfera, interferem no fluxo

de matéria e de energia de um rio ou de uma rede de canais fluviais. Inclui, portanto,

todos os espaços de circulação, armazenamento, e de saídas da água e do material

por ela transportado, que mantêm relações com esses canais.

A escassez de água não é uma previsão pessimista para o futuro da

humanidade, mas um fato já vivenciado por mais de 15% da população mundial, na

atualidade. De acordo com Setti (2001) estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas

não dispõe de água suficiente para o consumo doméstico e em 30 anos este número

poderá chegar a 5,5 bilhões. Além do consumo humano, a água é indispensável

para as atividades econômicas e a sustentação das outras formas de vida no

planeta, tanto que o autor destaca que a água é:

Essencial à vida, a água constitui o elemento necessário para quase todas as atividades humanas, sendo, ainda, componente da paisagem e do meio

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ambiente. Trata-se de bem precioso, de valor inestimável, que deve ser, a qualquer custo, conservado e protegido. Presta-se para múltiplos usos: Geração de energia elétrica, abastecimento doméstico e agricultura, piscicultura, pesca e também para assimilação e afastamento de esgotos (SETTI, 2001, p. 43).

Nestes aproximadamente duzentos anos de industrialização no planeta, a

produção de bens materiais e seu consumo, vêm desrespeitando a dinâmica dos

elementos componentes da natureza, ocorrendo uma considerável degradação do

meio ambiente. Essa degradação tem comprometido a qualidade de vida da

população de várias maneiras, sendo mais perceptível na qualidade da água.

Os rios têm sido transformados em verdadeiro esgoto de céu aberto nas cidades, nas áreas agrícolas, acumuladores de agrotóxicos [...] Isso tem elevado os níveis alarmantes das poluições das águas, e dessas águas é o que os homens servem até para alimentação (MENDONÇA, 1997, p. 15).

Neste início de século, a população em geral é desafiada a encontrar novos

rumos para construção do presente e do futuro. E, no âmbito científico e intelectual,

o desafio se constitui em repensar a ontologia da epistemologia da ciência a partir de

questionamento de paradigmas (MENDONÇA, 1997).

Numa sociedade desigual na sua essência, transformar os elementos

naturais em mercadoria significa permitir que eles estejam à disposição apenas para

quem tem dinheiro. Contudo, uma das alternativas para alterar a rota de colisão que

o ser humano estabelece durante os últimos séculos é a mudança de

comportamento das sociedades humanas. Tal mudança só é viável quando as

comunidades locais e globais passarem a respeitar de modo efetivo os limites

ecossistêmicos. Nesse sentido, a educação ambiental tem se mostrado um

importante instrumento de revalorização da natureza.

Tundisi (2003) comenta que a bacia hidrográfica consolidou-se como a

unidade mais adequada de gerenciamento e passou a ser adotada nas últimas

décadas em várias regiões e países, por apresentar certas características essenciais

que tornam uma unidade muito caracterizada que permite a integração

multidisciplinar entre diferentes sistemas de gerenciamento, estudos e atividades

ambientais.

Todavia é fundamental nas investigações científicas e educativas

desenvolver atividades para integrar não só a unidade física, mas incorporar a

dimensão econômica e social ao planejamento ambiental. Segundo Tundisi (2003), a

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escolha da bacia hidrográfica como espaço de preservação as legislações vigentes

têm permitindo uma melhor gestão ambiental nos níveis locais permitindo à

população atuar de forma responsável e participativa na preservação dos corpos

hídricos visando a sustentabilidade.

3 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

A proposta de intervenção foi desenvolvida junto aos alunos do 1ª Ano do

Ensino Médio do Colégio Estadual Senador Atílio Fontana, tendo como foco a bacia

hidrográfica da sanga Pinheirinho, por meio de estudos teóricos e trabalhos de

campo. A execução das atividades seguiu os seguintes procedimentos

metodológicos:

Os conteúdos sobre a bacia hidrográfica, hidrografia, clima, vegetação, solo,

poluição, degradação ambiental e necessidade de preservação foi explicado com a

utilização de Power Point, leitura e reflexão de textos, discussões em grupos. Para

tratar da organização do histórico de ocupação do bairro, no qual se localiza a Bacia

da Sanga Pinheirinho, realizamos pesquisas na internet e entrevistas com alguns

moradores e pioneiros da cidade. Para abordar a localização da bacia Sanga

Pinheirinho apresentamos vídeos, mapas, figuras e ida a campo para observar e

fotografar o local. Para o recolhimento do lixo nas proximidades da nascente da

Bacia sanga Pinheirinho realizamos um mutirão que envolveu a comunidade do

entorno, com a participação da Prefeitura Municipal que recolheu todo o lixo

encontrado nas proximidades.

As atividades desenvolvidas não visaram apenas a preservação da área,

mas o envolvimento da comunidade escolar e da circunvizinhança no processo de

percepção e construção de uma educação ambiental consciente, propositiva e

duradoura.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades propostas abordaram a problemática da poluição das águas

dos rios, mais especificamente, da Bacia Sanga Pinheirinho, com a intenção de

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contribuir com a educação ambiental e, simultaneamente, utilizar a educação

ambiental como foco para abordar os assuntos curriculares da disciplina de

Geografia.

Ao considerar a Educação Ambiental como um processo educativo

permanente e contínuo, com vistas a desenvolver uma filosofia de vida ética e moral

em consenso e respeito com a natureza entre os alunos, considerou-se a

necessidade de contemplá-la no espaço escolar de maneira significativa, por meio

de uma relação crítica e consciente dos alunos com um meio ambiente sustentável.

Para estudar os aspectos topográficos do município de Toledo – Paraná,

discutimos alguns aspectos do histórico do Município, a partir de um texto. Para

melhor compreensão da temática foram utilizadas diferentes estratégias, em

situações variadas, como leitura oral, coletiva, compartilhada, individual e silenciosa,

com o intuito de propiciar a interação dos alunos com o conteúdo e entre si,

considerando que os objetivos dos leitores (alunos e professor) em relação a um

mesmo texto podem ser distintos.

Sobre o histórico do Município refletimos sobre alguns aspectos importantes

enfatizando que o município de Toledo desde o seu início no de 1946. Comentou-se

que no ano de 1949 foram iniciados os trabalhos de topografia e levantamento,

efetuando-se o traçado da pequena Vila de Toledo. Em 1951 houve a colonização de

Toledo, com a fundação de Vilas, como as de General Rondon, Novo Sarandi,

Quatro Pontes, Dez de Maio e Nova Santa Rosa. Sem chegar a ser Distrito, o

povoado foi elevado diretamente a Município em 1951. A denominação do Município

é originária do Rio Toledo, que corta o seu território.

Foi explicado que a urbanização de Toledo encontra-se diretamente

associada ao êxodo rural do oeste do Paraná. Em 1970, o município concentrava

apenas 21,76% da sua população no meio urbano; em 1980 este contingente

populacional aumentou para 52,89%; em 1991 para 76,30%; e, no ano 2000 para

87,49%. Grande parte do rápido crescimento urbano local deve-se ao deslocamento

da população rural para a cidade, à expansão do setor industrial do município e à

reacomodação do setor de comércio e de serviços que atuou como agente de

atração de mão-de-obra regional.

Após a leitura e comentários gerais sobre o histórico do município, os alunos

assistiram um vídeo intitulado “Viaje por imagens panorâmicas de Toledo – Paraná

com fotos impressionantes". Na sequência, em duplas refletiram sobre as seguintes

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questões importantes sobre a história do Município de Toledo.

Você gosta de morar nessa cidade? Você acha que a cidade evoluiu desde o

período da sua colonização? A cidade apresenta uma boa paisagem ambiental? O

meio ambiente é sustentável? Quais os principais problemas relacionados?

Alguns comentários dos alunos a respeito do assunto merecem destaque:

É muito bom conhecer um pouco mais da história da cidade onde a gente vive. Agora eu sei que Toledo teve origem quando a Indústria Madeireira e Colonizadora Rio Paraná S/A – Maripá comprou as terras da Fazenda Britânia, depois disto vieram os colonos do Rio Grande do Sul. Essas pessoas trabalhavam na extração de madeira. As pessoas que vieram para cá, vinham para trabalhar em propriedades rurais, que tinham mais ou menos 10 alqueires, o que fazia que muita gente morasse no campo, mas isso mudou muito, hoje a maioria das pessoas vivem na cidade. Depois da década de 60 e 70 aconteceu um desenvolvimento rápido da agricultura e por causa disso teve uma concentração da propriedade nas mãos de poucas pessoas, o que fez que muita gente fosse embora para a cidade. A criação de porcos se desenvolveu na década de 50, que ajudou a criar a Sadia, a maior empresa do nosso município. Eu acho que o maior evento da nossa cidade é o porco no rolete, é muito bom e todo mundo gosta (Aluno 1). Eu gosto muito da minha cidade e acho que a gente tem que respeitar muito a sua história, os colonos que vieram do Rio Grande do Sul para colonizar a nossa cidade trabalharam muito para ajudar a nossa cidade a crescer, mas eles trabalhavam mais no campo que na cidade, só depois de algum tempo é que eles mudaram para a cidade, por causa das dificuldades que eles encontravam para viver no campo e se o governo não fizer nada para ajudar as pessoas que vivem no campo cada vez mais vão embora para a cidade (Aluno 2). Nossa cidade é muito bonita, tem a festa do porco no rolete e a Sadia é uma grande indústria que ajuda as pessoas a viverem no campo e na cidade. Mas o que a gente tem que ver é se essa indústria e as outras têm cuidado do meio ambiente, isso é importante, não adianta produzir um monte e não cuidar do meio ambiente (Aluno 3).

Na sequência, foram trabalhados aspectos relevantes sobre a topografia e

clima do Município de Toledo, com destaque na sua localização, tipos de vegetação,

solo, poluição, degradação ambiental e a necessidade de preservação. Para tal, foi

apresentado um texto intitulado “Perfil Topográfico e Climático de Toledo-Paraná",

proposto por Gaspar (2003), para leitura e reflexão. Sobre a localização do

município os alunos foram levados a compreender que a cidade de Toledo-PR

localiza-se na região do extremo oeste paranaense, no chamado terceiro planalto

paranaense, a 549 Km de Curitiba – PR, abrangendo uma superfície de 23.128 km2,

que corresponde a 11, 44% da área total do Estado do Paraná.

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Explicamos que a existência de vertentes e declives, associada ao terreno

ondulado, requer práticas conservacionistas intensivas para controle da erosão e

preservação ambiental. A ondulação não muito pronunciada do relevo de Toledo-

Paraná torna a localidade excelente para a prática da suinocultura, pois favorece a

criação intensiva, com os animais constantemente confinados, bem como o sistema

extensivo, no qual os suínos são mantidos em piquetes (geralmente pela

degradação da biomassa. Há uma grande disponibilidade de água, oriunda da bacia

hidrográfica e apresenta bom índice de precipitação pluviométrica que contribui para

o manejo da agricultura e criação de animais, que necessitam de grande quantidade

de água, seja nos bebedouros, seja para lavar as edificações de confinamento.

Na sequência (em duplas) os alunos socializaram os conhecimentos sobre a

localização, relevo, tipo de solo, tipo de clima e rede hidrográfica. Em conjunto

refletiram a respeito das consequências da degradação ambiental para o município.

O município de Toledo fica na região oeste do nosso estado, a 549 km da capital (Curitiba) e tem um clima que é quente no verão e que chove muito e no inverno faz muito frio, podendo até gear. O solo do município é muito rico, plano e fértil, o que contribuiu para a produção agrícola desde a colonização, investindo também na criação de animais, principalmente suínos. A nossa cidade fica na região oeste do estado do Paraná, é uma cidade muito importante para o estado e para o Brasil, pois tem uma produção agrícola e de animais muito boa, por isso muitas indústrias vieram para cá, como a Sadia. Pesquisando na internet para saber mais sobre o solo de Toledo eu descobri que o nosso município é parte do Terceiro Planalto Paranaense e que os tipos de solo que a gente encontra por aqui são o Latossolo roxo, Terra roxa estruturada e Litólicos. Eu vou estudar mais para saber sobre esses tipos de solo (Aluno 2).

As considerações sobre a historicidade do município foram pertinentes e

abriram caminho para o conteúdo relativo ao bairro da Bacia da Sanga Pinheirinho.

Na oportunidade, comentamos sobre a localização da bacia hidrográfica da Sanga

Pinheirinho. Esta encontra-se localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III e

tem sua nascente no bairro Pinheirinho, nas coordenadas de 24° 44'05'' latitude sul e

53° 42'24” longitude oeste com 554,43m de elevação. Nela se encontram as

localidades do Jardim Maracanã, Europa, América e Concórdia.

A foz da Bacia da Sanga Pinheirinho está localizada no Rio Toledo, a 24°

44'05” oeste, 53° 42'54” sul, com elevação de 484,93m, no parque Frei Eusébio

Ferreto, no Jardim Europa da cidade de Toledo-Paraná. No que se refere ao uso e

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ocupação do solo da bacia, destacamos que isso aconteceu com a organização da

colonização do município que iniciou nas imediações da Bacia do Rio Pinheirinho.

Comentamos sobre a existência de uma esterqueira bem próxima

(aproximadamente 20 metros) da nascente da Bacia Hidrografia. Além disso,

mencionamos a existência de um grande acúmulo de lixo jogado na bacia que

contribui para a degradação ambiental, prejudicando diretamente toda comunidade

moradora da bacia hidrográfica. Este lixo é depositado pela própria população,

muitas vezes por desconsiderar o impacto que tal ação trará ao ambiente, e outras

vezes pela displicência do poder público.

Após as considerações feitas sobre a localização e situação atual da Bacia

do Sanga Pinheirinho, os alunos assistiram um vídeo intitulado “Planeta Água:

poluição. Após as discussões sobre o vídeo, os alunos refletiram sobre algumas

questões relevantes sobre a problemática apresentada: Quais as principais causas

da degradação dos rios? Quais as consequências da degradação dos rios? Quem

são os responsáveis pela degradação do meio ambiente? A seu ver porque é

importante contribuir para a preservação da mata ciliar? Como contribuir para a

preservação do meio ambiente?

Os alunos descreveram os principais problemas advindos da degradação

ambiental e, especialmente, sobre a Bacia da Sanga Pinheirinho do município de

Toledo.

Nem sempre as indústrias se preocupam com o cuidado com o meio ambiente e isso é muito importante. Tem indústria que trabalha com abate de animais e nem sempre elas cuidam das águas que jogam nos rios e isso polui as nossas águas (Aluno 1).

As pessoas e as indústrias precisam cuidar do meio ambiente, porque não adianta a cidade crescer e as pessoas ganharem dinheiro, também é importante cuidar das nossas matas e da água da nossa cidade (Aluno 2).

Cuidar do ambiente é como cuidar da casa da gente, se a casa não for limpa e se a gente não cuidar de tudo fica uma sujeita só. Por isso, as pessoas e as indústrias precisam se preocupar com o ambiente e não deixar destruir a natureza, porque a gente faz parte da natureza (Aluno 3).

Após as considerações realizadas pelos grupos, os alunos fizeram uma

pesquisa com alguns pioneiros da cidade sobre o histórico de ocupação do bairro

onde está localiza a Bacia da Sanga Pinheirinho. Na oportunidade, os alunos foram

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divididos em grupos com até 04 (quatro) alunos para facilitar o desenvolvimento das

atividades e possibilitar que todos os alunos se envolvessem no diálogo. As tarefas

foram delineadas pelo professor com a participação dos grupos que opinaram

quanto à distribuição das atividades. Desta forma, alguns alunos ficaram

encarregados de apresentar o grupo aos pioneiros; outros conduziram as

entrevistas; outros registraram os dados; outros agradeceram o(os) pioneiro(os) em

relação à sua presença, entre outros dados importantes.

As atribuições das tarefas foram rotativas. Essa estratégia permitiu que cada

aluno(a) assumisse diferentes papeis, dificultando que o grupo fosse dominado por

alguns alunos(as), excluído outros(as) mais tímidos(as), por exemplo. Os alunos(as)

fizeram as entrevistas com os (os) pioneiros(os) presentes a partir das seguintes

questões: Quando chegaram à cidade de Toledo? Por que vieram? Como era o

bairro onde está localiza a Bacia da Sanga Pinheirinho quando aqui chegaram?

Como era o ambiente do entorno? Havia poluição? O que mudou nesses anos,

quanto à paisagem do meio ambiente? Outras conforme a criatividade dos grupos.

A partir das entrevistas, de volta à sala de aula, os alunos fizeram uma

síntese das entrevistas, com a elaboração de um texto coletivo que foi ilustrado no

jornal mural da escola, conforme registro:

Os pioneiros disseram que quando eles chegaram na cidade de Toledo todo mundo tinha que derrubar a mata para poder plantar, porque as pessoas viviam das coisas do campo. Não tinha esse pensamento que tem hoje de proteger o meio ambiente e cuidar da água do nosso planeta. O município foi se desenvolvendo e as propriedades rurais foram aumentando de tamanho, os mais pequenos iam vendendo as suas terras para os mais grandes e assim muita gente foi mudando para a cidade. O que ajudou muito o município foi a indústria que deu emprego para muita gente, daí a cidade foi crescendo ainda mais. Hoje não tem muita mata na nossa cidade e os nossos rios não têm mata em volta, o que ajuda a poluir a água. Ainda tem o esgoto das cidades e das indústrias que ajudam poluir a água, por isso é importante proteger o meio ambiente. O rio Toledo e o Sanga Pinheiro são os mais importante da cidade e a gente tem que cuidar dele, porque é dele que tira a água para a gente beber. Também é importante cuidar do horto florestal da cidade. Nós aprendemos que é importante cuidar do meio ambiente da nossa cidade, tem que achar um jeito da cidade continuar crescendo e se desenvolvendo, mas cuidando do meio ambiente (Texto Coletivo).

Na sequência, os alunos saíram a campo para fotografar o espaço onde está

localizada a Bacia da Sanga Pinheirinho. De acordo com Cavalcanti (1998), a

participação do aluno na vida adulta na sua comunidade, no trabalho ou no lazer,

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será de melhor qualidade caso ele consiga pensar sobre o seu espaço de forma

mais crítica e abrangente.

Figura 1 - Recolhimento de lixo na nascente da Bacia da Sanga Pinheirinho. Autor - ROCHA, Everton (2012).

Para a organização dos trabalhos de ida a campo, os alunos foram divididos

em 03 (três) grupos, com a distribuição das seguintes tarefas: o primeiro grupo de

alunos elaborou questões para entrevistar pessoas encontradas no local; o segundo

grupo discutiu de forma organizada, o registro fotográfico, visando obter uma melhor

imagem da paisagem; o terceiro grupo discutiu a respeito de alguns procedimentos a

serem utilizados para a realização das filmagens, observando o ângulo, a posição da

câmara, a utilização do zoom e outros.

Os grupos tiveram o olhar sempre atento do professor que os orientou no

decorrer de todas as atividades propostas, alertando-os quanto ao procedimento

adequado para as filmagens. De posse do material coletado, foi organizada a edição

de um áudio e das imagens no laboratório de informática “Paraná Digital” Power

Point. O docente utilizou os materiais produzidos pelos alunos como recurso

didático-pedagógico na sala de aula, para abordar as condições do bairro.

No estudo do espaço geográfico, a utilização da pesquisa de campo foi um

recurso viável, pois possibilitou capturar as imagens observadas, com o uso de

máquinas fotográficas digitais, telefones celulares e filmadoras. As imagens

possibilitaram leituras para interpretar as condições do local e a consequente

interação com o meio ambiente.

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Para que a questão do lixo seja tratada na escola, Castro (2011) aponta a

necessidade de que os alunos sejam levados a compreender os aspectos que

interage na natureza e a complexidade ambiental, para interpretar a interconexão

entre os diversos elementos que a compõem, como as dimensões sociopolíticas,

socioeconômica, histórica, cultural, biofísica e psicológica

Com atividade complementar foi realizado um mutirão e apresentação de

propostas para a revitalização da Bacia Sanga Pinheirinho. O objetivo da proposta

foi mostrar que o lixo é uma problemática que envolve a todos. Os alunos foram

levados a repensar suas atitudes frente ao meio ambiente, reconhecendo que a

excessiva geração de lixo pelo homem tem agravado os problemas ambientais.

na

nas

Figura 2 - Recolhimento de lixo na nascente da Bacia da Sanga Pinheirinho. Autor - ROCHA, Éverton (2012).

De acordo com Jacobi (2003), a educação ambiental voltada para cidadania

é um elemento determinante para um mundo mais sustentável. Para o autor, a ação

humana no ambiente com interesses egoístas e individuais, em busca, sobretudo, do

lucro fácil, tem instigado grandes alterações ambientais, trazendo prejuízos para o

solo, a água e o ar. Contudo, a perda maior tem sido para o próprio homem.

Ao tratar da questão do lixo priorizamos a importância da reciclagem e

tratamento, ampliando o nível de conscientização dos alunos. Os alunos assistiram

dois vídeos significativos para tratar da problemática do lixo nas águas dos rios. O

primeiro vídeo intitulado “Lixo jogado no rio" disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=QhUmfuvyGhk; e o segundo, intitulado “Água. A

contaminação dos rios poluídos pelo lixo, disponível em:

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<http://www.youtube.com/watch?v=2RByZ1dUY_A">.

Os vídeos apresentados retrataram atitudes inadequadas frente ao meio ambiente,

sobretudo, no que se refere à poluição das águas dos rios. Em duplas, os alunos refletiram

sobre: O que você achou de significativo nos vídeos? O que mais chamou a atenção? O

que fazer para evitar que as pessoas poluam as águas dos rios?

Na sequência, dicutiram e deram sugestões para a revitalização da bacia da

Sanga Pinheirinho e do meio ambiente de Toledo, podendo-se destacar as seguintes:

É importante limpar as beiradas do rios de Toledo; Precisa-se ver como está sendo tratado o esgoto da cidade; É preciso ver como as indústrias estão jogando o esgoto nos rios da cidade e se eles estão tratando antes de jogar; Tem que limpar e cuidar do Horto Florestal da cidade; A população precisa cuidar da trilha ecológica no Rio São Francisco, o parque ecológico Diva Paim Barth, que fica no centro da cidade e são pontos de encontro da população de Toledo.

Para recompor o equilíbrio ecológico, cabe aos educadores contribuir para

ajudar os alunos a avaliarem as suas atitudes, com o propósito definido de evitar a

degradação do meio em que vivem. Com tal propósito os alunos foram divididos em

equipe para a realização de um mutirão para o recolhimento de lixo nas

proximidades da nascente da Bacia da Sanga Pinheirinho. Contamos com o auxílio

da Prefeitura Municipal para dar a destinação final ao lixo recolhido pelos alunos.

O aspecto principal da proposta de educação ambiental desenvolvida está

ligado ao trabalho educacional que envolveu o esclarecimento a respeito da

importância de preservar o meio ambiente. As atividades desencadearam reflexões

a respeito dos critérios ecológicos, socioambientais e éticos necessários para a

preservação, com a finalidade de construir novas formas de pensar e compreender a

complexidade das interrelações entre o meio ambiente e a realidade, no caso

específico a Bacia do Sanga Pinheirinho com as suas implicações ambientais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a educação ambiental tem como finalidade integrar o homem

com o ecossistema, facultando-lhe melhores condições de vida pelo equilíbrio do

meio ambiente, abrangendo todas as áreas onde se registra a presença do ser

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humano, a presente proposta de intervenção objetivou contribuir com uma proposta

de educação ambiental junto aos alunos do 1ª Ano do Ensino Médio do Colégio

Estadual Senador Attílio Fontana, tendo como foco a bacia hidrográfica da sanga

Pinheirinho desenvolvemos diferentes estratégias de ensino e aprendizagem que

contribuíram para a compreensão dos alunos.

A construção dos conhecimentos na escola está diretamente relacionada com

as práticas sociais cotidianas. Desta forma, ao docente cabe considerar que os

alunos estão imersos em um mundo de ciência e técnica, e as exigências da

sociedade atual passam por um conhecimento já preenchido pela ciência. Os

encaminhamentos propostos contribuíram para assegurar a interatividade no

processo de ensino e aprendizagem, levando os alunos a construírem conceitos de

forma contextualizada.

A opção por diferentes estratégias de ensino e aprendizagem para a

abordagem do conteúdo, como os trabalhos em grupo, pesquisas na internet,

leituras e discussões de textos, trabalho em campo, observações, entrevistas com

moradores e pioneiros da cidade, apresentação e compreensão de vídeos, mapas,

figuras e fotos para localização e caracterização da Bacia da Sanga Pinheirinho

contribui para um trabalho pedagógico de qualidade.

Consideramos que a apropriação da uma educação ambiental pelas novas

gerações, além de um direito, constitui-se em uma necessidade para o pleno

exercício da cidadania. Daí a importância do trabalho realizado ao propor reflexões

por parte dos professores, alunos e comunidade do entorno, que se uniram para

participar da solução/minimização do impacto ambiental na Bacia da Sanga

Pinheirinho.

Acreditamos que à escola também cabe, enquanto organização social e

educativa, o papel de contribuir para a identificação de problemas ambientais,

promovendo possíveis mudanças de atitudes na relação ser-humano/natureza. Com

esse entendimento, o professor pode contribuir para um ensino em educação

ambiental que atribua sentido de cidadania aos questionamentos que orientam a

prática pedagógica, na tentativa de compreender os processos envolvidos na

aprendizagem dos alunos, pautando-se em saberes que, dentro da área pedagógica,

possam ajudar na construção de uma consciência ambiental.

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