Quarta edição do Campus 2/2009

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BRASÍLIA, 9 de novembro a 22 de novembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR | ANO 39, EDIÇÃO 342 Campus Desperdício no RU Problemas na Colina Ceilândia faz cinema Orçamento desigual Meia tonelada de comida deixada nos pratos vai para o lixo do Restaurante Universitário todos os dias Por decisão da reitoria, estudantes de intercâmbio estão morando em apartamentos destinados a professores e colaboradores da Universidade Produtora sediada na satélite leva realização local ao Festival de Brasília Planejamento para 2010 tentará amenizar diferenças na distribuição de verbas entre unidades da UnB 3 5 Ao final do primeiro dos quatro anos de mandato de José Geraldo, o Campus faz um balanço das promessas aos estudantes. “Não prometi nada para um ano”, afirma ele p. 4 e 5 3 Reitor cumpre 2 de 15 metas 7 Rafaela Felicciano

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O Campus é o jornal laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, produzido pelos alunos do sexto semestre. O jornal é feito pensando nos leitores. Ajudem-nos a melhorá-lo. Mandem suas críticas e sugestões para o email [email protected]

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BRASÍLIA, 9 de novembro a 22 de novembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR | ANO 39, EDIÇÃO 342

Campus

Desperdício no RU

Problemas na Colina

Ceilândia faz cinema

Orçamento desigualMeia tonelada de comida deixada nos pratos vai para o lixo do Restaurante Universitário todos os dias

Por decisão da reitoria, estudantes de intercâmbio estão morando em apartamentos destinados a professores e colaboradores da Universidade

Produtora sediada na satélite leva realização local ao Festival de Brasília

Planejamento para 2010 tentará amenizar diferenças na distribuição de verbas entre unidades da UnB3 5

Ao final do primeiro dos quatro anos de mandato de José Geraldo, o Campus faz um balanço das promessas aos estudantes. “Não prometi nada para um ano”, afirma ele

p. 4 e 5

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Reitor cumpre 2 de 15 metas

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Rafaela Felicciano

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Carta do leitor

Duzentos anos de-pois de a família real chegar ao

Brasil trazendo a ilumi-nação pública, chegou à UnB o Reuni, programa de Reestruturação e Ex-pansão das Universidades

Federais. As ruas, à época, foram iluminadas com a-zeite de peixe, luz fraca e mal cheirosa. Os nobres trouxeram algum dinhei-ro, um punhado de boas intenções e muitas expec-tativas de ganho fácil.

O Reuni também veio com seu azeite de peixe e aumentou o número de

cursos noturnos na UnB. Fundou a imprensa régia entre nós, plebeus (Comu-nicação Organizacional é um dos cursos noturnos abertos), deu uma lampa-rina para os construtores de chafarizes (Arquitetu-ra e Urbanismo é outro) e alardeou as boas no-vas: estamos investindo

na Universidade. Porém, comparando os preços, ampliar as vagas só acen-dendo as luzes é bem ba-ratinho.

A UnB passou mais de uma década sem abrir novos cursos noturnos e isso precisava ser feito. Tínhamos 15 no semestre passado e teremos 26 no próximo. São cursos como Engenharia de Produção, Música, Ciências Farma-cêuticas e Serviço Social. É pouco, no entanto. O Reuni trouxe expectativas de maiores investimentos na universidade.

É importante que a so-ciedade participe das de-cisões. Lá no império, um emissário do rei escrevia PR (Príncipe Regente) nos prédios a serem confisca-dos à nobreza que estava para chegar. O PR de hoje (programa Reuni) tem que estar ligado a necessida-des sociais. Por enquanto, “nunca antes na história deste país” se fez o tão pouco parecer tanto.

Escolhas certas e erradasCAMILA GUEDES

ANDRÉA MOURA BATISTA

CLÁUDIO VICENTE

Ombudskvinna*

*Ombudskivinna, feminino de ombudsman. Na imprensa, pes-soa que analisa o jornal do pon-to de vista do leitor

Carta do editor-chefe

Expediente Opinião

Editora-chefe: Alessandra WatanabeSecretária de Redação: Vanessa VieiraDiretora de Arte: Laís MirandaDiagramação: Fabiana Closs, Gabriel de Sá, Mel Bleil Gallo, Lucas Leon, Tiago PadilhaFotografia: Camila Santos (editora), Ludmilla Alves, Mariana Tokarnia, Priscila Crispi, Verônica HonórioPerspectiva: Cláudio Vicente (editor)Cotidiano: Luana Richter (editora), Heitor Albernaz, Maíra Morais, Manuela Marla, Marina Marquez Contexto: Juliana Reis (editora), Marcela Ulhoa, Rafaela Felicciano, Rafaella Vianna, Renata Zago Laboratório: Ana Clara Martins (editora), Marcella Cunha, Luana RichterBloco C: João Paulo Vicente (editor), Igor Miguel Pereira, Isabela Horta, Marina RochaContraCapa: Mariana Niederauer (editora), Mariana de PaulaProjeto Gráfico: Ana Clara Martins, Heitor Albernaz, Juliana Reis, Laís Miranda, Marcella Cunha, Marcela Ulhoa, Marina RochaRevisão: Ana Carolina Seiça, Bárbara Lopes. Guilherme Oliveira, Mariana Haubert, Plácida LopesProfessor responsável: Solano NascimentoJornalista: José Luiz SilvaMonitor: Leonardo MunizSuporte Técnico e assistência em Fotografia: Pedro FrançaIlustrações: Luísa Malheiros

Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte.Contato: (61) 3307-2519 Ramal 207/241 – Caixa Postal 01660CEP: 70910-900 - [email protected]

O Campus já entrevistou vários reitores. Uma das entrevistas mais célebres foi a com o reitor da ditadura, o Capitão de

Mar e Guerra José Carlos Azevedo, no número 65, de setembro de 1984. No final dos seus 16 anos de mandato, ele tratou até de política, coisa da qual não gostava de falar. “Eu nunca respon-do a perguntas políticas e só faço, em parte, pela insistência”, disse, antipático, mas interessado em afirmar sua preferência por Paulo Maluf nas eleições presidenciais indiretas de 1985, que se aproximavam.

Na entrevista, os então repórteres Carlos Pen-na e Lavina Ribeiro passaram algumas horas ou-vindo o capitão reitor, o homem escolhido pela ditadura para “pacificar” a Universidade. Ape-sar de dizer que diálogo era coisa de demagogo, desafiou quem o tenha visto correndo atrás de aluno ou professor “para dar uma monumental surra”. “Se eu passar o dia inteiro perambulando pelo campus dialogando, vai dar um angu do ta-manho do mundo”, reclamou.

Campus 40 anos

O artigo Aventura dos CA´s (número 340) mos-trou de maneira cômica e divertida uma discussão que está presente no nos-so cotidiano: a constante luta pelos CA’s, um espaço legítimo onde possam ser desenvolvidas atividades culturais e acadêmicas. A ocupação tem sido um instrumento dos alunos para a resolução de ques-tões em pauta pelas lutas

A dúvida que não quer calar: por que a matéria sobre as

prostitutas não foi a man-chete da última edição? Ela de longe é a que cha-ma mais atenção do leitor. Afinal, a reportagem Mi-noria da UnB vem de es-colas públicas, apesar de ter dados inéditos, já não é novidade para ninguém. Além disso, os números 64% e 31% estampados na capa do jornal, mesmo sendo explicados depois,

dão a impressão de que ninguém no Campus sabe somar. Nem adianta dizer que a escolha foi baseada na proposta do jornal. Por favor, gente, liberte-se! É claro que quando se está preso a matérias “mais ou menos”, o que acaba defi-nindo o que ficará em evi-dência é o direcionamen-to do jornal, mas se você está com uma bomba na mão, o melhor é colocá-la para explodir na cara do leitor. Além disso, de onde vocês tiraram que o fato de alunas estarem se tornando prostitutas de

Só entra o que tem que estar no jornal. Nosso foco é a UnB, mas com abertura para o externo que

valha a pena ser publicado. Esses foram dois grandes objetivos dentre os vários que nos propomos a alcançar quando concebemos o Campus deste semestre. Nesta edição, acredito que os atingimos. Isso me pareceu cla-ro já no momento em que tivemos dificuldade para es-colher o que entraria. Eram muitas opções. E o melhor, boas opções. Se antes sofríamos com a falta de relevân-cia de alguns assuntos, desta vez pudemos escolher.

Um balanço do primeiro ano do reitor José Geraldo traz um acompanhamento das propostas de campanha. Uma rotina de desperdício do Restaurante Universitá-rio e a presença de moradores inesperados na Colina mostram nossa busca pelo que está tão perto e que é de fato relevante. Ao mesmo tempo, não nos restringimos à UnB. Reportagens como a produção de filmes em Ceilândia e uma escola de samba no Varjão trouxeram o inesperado e o curioso. Você também encontrará uma pesquisa comportamental que afeta todos nós. Tenta-mos colocar aquilo que você não pode deixar de saber.

Gráfica Guiapack - 4000 exemplares

A UnB acende as luzes

Mande sua opinião para o Campus: [email protected]

fac.unb.br/campusonline

Acesse o

luxo é um assunto “um pouco distante” da UnB, como afirma a carta do editor-chefe? A reporta-gem vai muito além de um babado fortíssimo, é de extrema relevância, sim.

Outro problema da matéria principal foi o fato de ela e da reporta-gem Planaltina, a exceção tratarem do mesmo assun-to. Ficou parecendo que vocês precisaram tapar um buraco e decidiram cortar a matéria em duas.

Quanto à editoria ContraCapa, erramos a mão novamente. Possuir

personagens interessan-tes não faz de um texto uma reportagem e mui-to menos de um episódio algo relevante para o pú-blico. Quem pararia para ler uma matéria dessas? A verdade é que o lei-tor ficou perdido mais uma vez e quase ninguém chegou ao ponto final.

Correção

Na reportagem Planaltina, a exceção (edição 341, de 27/10/2009), as lengendas do gráfico foram publi-cadas com as cores invertidas. A cor identificada como “egressos de escola pública” se referia, na verdade, aos de escola privada, e vice-versa.

estudantis. No entanto, quando feita de maneira desordenada, sem uma discussão prévia da temá-tica, torna-se esvaziada. Podemos notar essa con-tradição na fala de muitos alunos que demonstram estar revoltados com as ocupações. Consideram uma luta que deveria ser enriquecedora para o de-senvolvimento do curso como uma “baderna”, sem entender a lógica que existe por trás de uma ocupação legítima.

Estudante do 6º semestre de Serviço

Social da UnB

Jean-Baptiste Debret, 1834.

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Perspectiva

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A invasão da Colina

Há cerca de três meses, estudantes de intercâmbio,

vindos de universidades estrangeiras, moram na Colina, destinada à mora-dia de professores e fun-cionários da UnB e dis-putada atualmente por mais de 500 servidores na lista de espera. São 19 alu-nos espalhados por cinco apartamentos, nos blocos C, E, G e I.

A UnB dispõe de qua-se 700 imóveis funcionais. A Resolução 30/2004, do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Brasília (FUB), afirma que esses apartamentos “servem à finalidade de atração e fixação de qua-dros diferenciados de ser-vidores docente e técnico-administrativo.”

A proximidade dos prédios e o campus Darcy Ribeiro facilita a rotina dos jovens que desconhe-cem a língua e a região. “Às vezes temos aulas até às 21h e, se não morásse-

UnB descumpre normas alugando para estudantes imóveis destinados a servidores e colaboradores

Prato cheio. De sobras

No balcão, comida à vontade. Nas mesas, pra-tos cheios de sobras. Essa é a realidade do Res-taurante Universitário (RU) da UnB, onde são

desperdiçados, em média, 12% dos alimentos servidos, o que equivale a cerca de 500 quilos por dia. O preço barato, de R$ 0,50 a R$ 5,00 , que atrai quem não pre-tende gastar muito, pode ser um estímulo ao exagero. “No RU, (o sistema) é por pessoa e dá a sensação de que a gente tem que aproveitar”, confessa o estudante de Computação Flávio Gomes.

O auxiliar de cozinha Edílson Vital trabalha rece-bendo os pratos com os restos. Ele conta que o desper-dício é algo constante, apesar de as pessoas se envergo-nharem disso. “Tem gente que chega constrangida e se justifica falando até que não comeu porque a comida estava muito quente.”

As explicações não param por aí. Para o estudante de Biblioteconomia Jamerson Pires, o problema está na qualidade da comida. “O frango, por exemplo, tem um aspecto ruim, é mal feito. E, mesmo com fome, perco a vontade de comer.” Apesar disso, no dia em que foi entrevistado, seu prato estava vazio. “Hoje foi uma ex-ceção, pois estava muito bom”, justifica.

A estudante de Ciência Política Mayara Bandeira diz que, com frequência, coloca mais do que consegue co-mer. “Sempre deixo um pouquinho no prato, mas bem mais no RU do que em casa. A comida daqui é pesada e me satisfaço mais rápido do que imagino.”

A nutricionista-chefe do restaurante, Jamilie Mora-

es, acredita que a falta de conscientização é o maior problema. “As pessoas não percebem que aquele pouco que elas deixam no prato tem um impacto grande no final.” Pelo RU, passam em média quatro mil pessoas por dia. “Dá para imaginar o que aconteceria se todo mundo deixasse um pouquinho”, afirma Jamilie.

Os nutricionistas do RU estimam que cada pessoa consome aproximadamente 800 gramas por refeição. Levando-se em conta esse número, a média das sobras (500 quilos diários) poderia servir mais 625 indivíduos. O destino do que fica nos pratos, porém, é outro.

Por muitos anos, a solução encontrada para os resí-

duos foi destiná-los a uma criação de porcos particular na cidade de Sobradinho. O responsável pelo recolhi-mento das sobras precisou parar com a atividade há cerca de três meses. A alternativa foi um acordo com a Fazenda Água Limpa (FAL), da própria UnB - loca-lizada no Núcleo Rural Vargem Bonita, no Park Way -, onde os restos são transformados em adubo por um processo de compostagem.

O criador do plano de manejo e ex-estagiário técnico da FAL, Juan Sugasti, conta que já produzia adubo a partir das sobras do restaurante da fazenda. “Era dife-rente, pois o resíduo vinha da produção, como cascas de batatas. No RU, o alimento já foi preparado e, por isso, tem muito óleo, o que dificulta a decomposição.”

O diretor da FAL, José Mauro Diogo, ressalta outro problema. “Nós estávamos acostumados a lidar com uma quantidade menor e não temos muitas condições para realizar o processo.” Segundo Diogo, os restos não são apropriados para a alimentação dos bovinos e ovi-nos da fazenda, por isso tudo é destinado à produção de adubo.

Resto Zero

A Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, implantou em 1999 o projeto Resto Zero. Naquele ano, o índice de desperdício no RU baixou de 12% para 5% após a campanha de conscientização. Em 2009, as sobras representam 4,5% da quantidade servida.

A diretora do RU da UnB, Cristiane Costa, conta que o restaurante possui planos para diminuir o des-perdício. O projeto, também denominado Resto Zero, será implementado em 2010, quando a reforma do lo-cal estiver pronta. Seu principal foco será alertar os fre-quentadores sobre o grande prejuízo que o desperdício causa, além de procurar diminuir as perdas dentro da própria cozinha, aprimorando o preparo dos alimentos com máquinas melhores.

A nutricionista Jamilie Moraes afirma que é preciso ter autoconhecimento com relação à alimentação. “As pessoas têm que fazer uma observação diária do quanto conseguem comer e do quanto desperdiçam. Só assim elas aprenderão a colocar só o necessário no prato”, afirma a nutricionisa do RU. •

Meia tonelada de alimentos é desperdiçada todos os dias no RU. O suficiente para alimentar 625 pessoas

MAÍRA MORAIS

MARINA MARQUEZ

Yana Papyan, estudante de intercâmbio, ocupa um dos apartamentos de reserva técnica do reitor

Verõnica Honório

HEITOR ALBERNAZ

MANUELA MARLA

O que é deixado nas mesas é transformado em adubo na FAL

Mariana Tokarnia

Não seria melhor construir um espaço específico para eles?

‘mos perto, seria bem mais complicado”, diz a portu-guesa Yana Papyan, de 21 anos, de Relações Inter-nacionais. Cada estudan-te paga R$ 600 mensais.

“Estranhamos, mas nos disseram que em Brasília era muito caro mesmo”, conta Antônio Valdés, de 21 anos, chileno e estu-dante de Administração.

Como alguns apar-tamentos têm até cinco moradores, a FUB chega a receber até R$ 3 mil mensais por apartamento ocupado pelos alunos. Se um professor ou servidor estivesse morando ali, o valor máximo pago seria de R$ 526 por mês.

Domingas Carneiro, servidora no Departa-mento de Serviço Social, espera há 18 anos por um imóvel da UnB. Por en-quanto, vive em um apar-tamento pequeno, com o aluguel bem superior ao de um funcional. “Do

jeito que as coisas estão, não tenho mais esperan-ças de conseguir a vaga”, lamenta. Miguel Ângelo Montagner, professor da Faculdade de Saúde, con-

corda. “Os estudantes de-veriam entrar em uma lis-ta também ou morar em um alojamento.” Alguns chegam a brincar com a longa espera. “Vou vencê-los pelo cansaço. Não saio de teimosa!”, garante Gi-sele Maria Passos, secretá-ria no Instituto de Letras, na lista desde 1993.

À espera

A autorização para que os intercambistas mo-rassem na Colina foi dada pela reitoria, em agosto deste ano. Ajudar os estu-dantes a encontrar mora-dia provisória é uma das responsabilidades do con-vênio de intercâmbio da Universidade, pois é mais complicado para um es-

trangeiro conseguir alugar um imóvel. Responsável pelos estudantes, a Asses-soria de Assuntos Interna-cionais (INT) encaminhou um pedido à Secretaria de Gestão Patrimonial (SGP) para que apartamentos fossem disponibilizados.

A decisão tomada pela reitoria, sem consultar os conselhos representantes dos servidores, não a-gradou. A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) che-gou a enviar uma carta pedindo esclarecimentos.

“Não somos contra dar moradia aos estudantes, mas faltou transparência no processo”, argumenta o presidente da ADUnB, Flávio Botelho. O coorde-nador-geral do Sindicato dos trabalhadores da Fun-dação Universidade de Brasília (Sintifub), Cosmo Balbino, sugere outra al-ternativa: “Não seria me-lhor construir um espaço específico para eles?”

De acordo com Paulo César Marques, assessor de Comunicação da rei-toria, os apartamentos

ocupados não são imóveis funcionais e fazem parte de uma reserva técnica do reitor. “Dos nossos 25 apartamentos, somente 16 estavam ocupados. É uma decisão provisória do rei-tor”, garante Marques. A Resolução 30/2004, que trata da moradia comu-nitária, diz que os aparta-mentos da reserva técnica do reitor são destinados ao uso provisório de pro-fessores visitantes e co-laboradores da Adminis-tração Superior. Não cita estudantes. •

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Cotidiano

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O primeiro anoO reitor José Geraldo de Souza, eleito

graças ao peso dos votos dos estudantes, completa no dia 18 de novembro o pri-

meiro dos quatro anos de mandato. Com base em um panfleto distribuído durante a campanha, o Campus analisa como está o cumprimento das promessas feitas aos alunos. De um total de 15 metas, duas foram totalmente cumpridas e du- as foram parcialmente realizadas. Das demais, uma é, inclusive, ilegal.

RAFAELA FELICCIANO

RAFAELLA VIANNA

RENATA ZAGO

Aumentar os recursos para o Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Pibex)Com os recursos do Reuni, o número de bolsas do Pibex passou de 169 para 291. O total de projetos subiu de 150, em 2008, para 200 este

ano. O valor da bolsa continua R$ 300. Garantir a manutenção do preço do Restaurante Univer-sitário (RU), visando a redu-ção dos custosO valor da refeição no RU permanece o mesmo. Estu-dantes, funcionários, profes-sores e visitantes pagam entre

R$ 0,50 e R$ 5, conforme o grupo a que pertençam.

Viabilizar o funcionamento do RU durante os fins de se-mana e as férias, bem como a expansão do horário de a- tendimentoO horário e os dias de atendi-mento continuam os mesmos: somente de segunda a sexta-

feira, das 11h às14h e das 17h às 19h. Não existe nem previsão de ampliação desse período. “Com os 180 ser-vidores que tenho, não dou conta de abrir nos finais de semana”, afirma a diretora do RU, Cristiane Moreira.

Viabilizar a criação de linhas gratuitas de transporte coleti-vo intercampi, que atendam às necessidades da comunida- de universitáriaNão houve licitação para compra de ônibus, mas já foram definidos o percurso,

os horários e os locais das paradas. O reitor disse ao Campus que os ônibus deveriam começar a circular no começo do próximo semestre. Dois dias depois da en-trevista, a Secretaria de Comunicação (Secom) anunci-ou que a circulação começaria na primeira semana de novembro.

Trabalhar em conjunto com o GDF para ampliar o número de linhas e paradas de ônibus na/para a UnBNão mudou o número de linhas (30) nem o de para-das. Segundo a Secretaria de Transportes, não há acordos

ou convênios com a UnB. A única mudança no último ano foi a ligação rodoviária-UnB. Segundo Paulo César Silva, assessor da reitoria, o itinerário ficou mais curto.

Implantar a rede cicloviária no campus Darcy Ribeiro, integrada à rede do Plano Pi-loto, e incorporar os demais campi às redes cicloviárias das respectivas cidadesNão há ciclovias em nenhum dos campi da UnB. Em uma

conversa, o reitor e o governador José Roberto Arruda discutiram a construção de uma a ciclovia ligando a via L2 à L4. A Secretaria de Obras do DF e o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) afirmam não haver ain-da nenhum projeto sobre isso.

Criar linhas circulares inter-nas e racionalizar os horários e itinerários das demais linhas de ônibus no interior do cam-pus Darcy RibeiroNão foram criadas novas li-nhas. Os horários da linha gratuita já existiam e o núme-

ro de viagens passou de dois para oito por dia.

Projeto Renovação BCE: am-pliar a compra de livros e pe-riódicos, de modo a garantir progressiva atualização do a- cervoO número de livros compra-dos aumentou de 8.542, em 2008, para 10.948 este ano.

Já a compra de periódicos caiu pela metade. No ano passado, foram 76, mas neste ano, apenas 38 entraram no acervo até outubro. A chefe do setor de Seleção da biblioteca, Néria Lourenço, explica que o processo de compra é lento e os exemplares demoram de três a seis meses para chegar às mãos do usuário.

Reformar a CEU, de modo a garantir condições de dignida-de de vida e de sociabilidade juvenilA reforma não foi feita. A pre-visão é gastar R$ 2,2 milhões com a obra nos dois blocos, mas a remoção dos estudan-

tes pode dobrar esse valor. A negociação está truncada. Moradores não aceitam ficar todos juntos em um dos blocos enquanto o outro é reformado, nem ir para um albergue, mesmo com transporte pago. Querem que a UnB alugue apartamentos no Plano Piloto, o que, para a decana de Assuntos Comunitários, Rachel Nunes, “é in-viável”. Além de ser muito caro, as imobiliárias relutam em alugar apartamentos para grupos de estudantes. A solução deve ficar para a mesa de negociação, que ainda não foi instalada por falta de indicação de representan-tes dos próprios estudantes e da administração.

Reformular a bolsa-perma-nência de modo a vinculá-la às atividades de pesquisa, ex-tensão ou estágio na área de conhecimento/fomação do es- tudante, com duração de, no máximo, 20 horas semanais Não houve reformulação pa-

ra redirecionamento da bolsa, e o benefício continua abrangendo as mesmas atividades de antes. O valor foi de R$ 300 para R$ 350 mensais, e há planos de novo reajuste.

Renovar os computadores do Projeto Quiosque e cri- ar centros de informática com acesso à internetHouve a renovação dos computadores, mas os centros não foram criados. Os computadores estão

disponíveis para uso desde o primeiro semestre deste ano. Um projeto para instalação de centros de informá-tica com pontos de energia e acesso à internet no Ceubi-nho e Udefinho está sendo estudado. Segundo o diretor do Centro de Informática (ex-CPD), Marcelo Ladeira, a previsão é que os centros fiquem prontos no segundo semestre de 2010.

Construir creche gratuita para filhos de professores, estudantes e técnico-adminis-trativosA creche não foi construída. Nem poderia. O decreto n° 977/93, da Presidência da Re-pública, proíbe a criação de

novas creches dentro de órgãos públicos. O que existe é o Programa Infanto-Juvenil (PIJ), criado por profes-sores da UnB e mantido com ajuda da Associação dos Servidores da Fundação Universidade de Brasília (As-fub) há 25 anos. O programa recebe crianças com ida-des entre dois a dez anos e funciona como uma espécie de complemento ao ensino formal, com mensalidade de R$ 150 para associados da Asfub e R$ 280 para não-associados. A sede própria do PIJ ficou pronta em de-zembro do ano passado, mas o programa só se instalou seis meses depois. Questionado pelo Campus, o reitor admitiu ter conhecimento do decreto. Diante da insis-tência sobre a inclusão de algo ilegal na lista de promes-sas feitas durante a campanha eleitoral, o reitor afirmou que “creche” é uma expressão “simbólica”.

Criar um Centro Cultural e de Vivência na UnBNão foi criado. “A ideia é criar vários centros de cultu-ra e vivência, pelo implemen-to de uma política de cultura e de vivência social”, esclare-ce o reitor. Existe um projeto

que prevê a revitalização de algumas áreas de vivência já existentes na Universidade, como o Teatro de Arena e a Praça Maior.

Liberar a promoção de festas nos campiAs festas que estavam vetadas antes da eleição do novo rei-tor continuam vetadas. Des-de uma resolução de 2003, as dependências acadêmicas só podem ser utilizadas para

confraternizações que proporcionem a integração entre os segmentos da Universidade, como a abertura da se-mana de calouros. Uma nova proposta, que trata tam-bém dos outros campi da UnB, está em discussão na Câmara de Assuntos Comunitários, mas a comissão que abordará o tema ainda não foi formada. Churrascos e festas de CAs continuam sendo feitos fora dos campi.

Reformar a parte externa do CO para permitir o uso da á-rea por toda a comunidadeNão houve reforma no Cen-tro Olímpico, apenas pe-quenos reparos para manu-tenção da área. As piscinas estão fechadas desde 2007, e

as obras de recuperação ainda não começaram. O rei-tor está instalando uma comissão para preparar uma reforma geral do Centro Olímpico. Ele quer estimular a participação da Universidade na preparação de gran-des eventos. A ideia é que o espaço seja “inserido como um campo potencial para atuar na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016”, afirma José Geraldo. •

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Contexto

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Redistribuiçãode verbas Orçamento da UnB para 2010, de quase R$ 1 bilhão, tenta diminuir

a desigualdade no repasse de recursos a faculdades e institutos

MARCELA ULHOA

O projeto de lei orçamentária, em fase de aprecia-ção no Congresso, prevê recursos de quase R$ 1 bilhão para a Universidade de Brasília. Valor

cerca de 20% maior do que o aprovado para 2009. Na proposta, o orçamento para as atividades acadêmicas ganha um importante reforço: aumentará de R$ 6,7 milhões para R$ 7,5 milhões. Nos institutos e faculda- des, serão investidos 38% desse valor. O restante será distribuído entre unidades administrativas, centros, de-canatos, assessorias e órgãos complementares.

É justamente quanto ao repasse dessas verbas para as unidades acadêmicas que existe uma complicada dis-cussão. Pelo quarto ano consecutivo, a faculdade que mais receberá recursos de custeio é a de Comunicação (FAC), com verba estimada em quase R$ 200 mil. Em

seguida, estão o Instituto de Exatas (IE), R$ 188 mil, e a Faculdade de Saúde (FS), com R$ 183 mil. No extremo oposto, a Faculdade de Educação (FE) ficará com pouco mais de R$ 50 mil, e a de Direito receberá R$ 79 mil.

Segundo Hélio Neiva, secretário de Planejamento da UnB, o principal peso para distribuição dos recursos tem sido o desempenho de cada unidade, o que abrange a existência de laboratórios, a relação entre o número de alunos e o de professores, a titulação dos docentes e o conceito de programas de pós-graduação junto à Capes. “A tendência é que os institutos e faculdades com um porte maior sempre cresçam. Já aquelas que são meno-res permanecem sempre menores”, diz Neiva.

Na tentativa de amenizar as diferenças no repasse de verbas, a novidade no orçamento de 2010 é que será da-do mais peso ao chamado Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), no qual as unidades acadêmicas e administrativas incluem no planejamento todos os an-

seios de investimento, como mais professores, melhores instalações e maior incentivo à pesquisa. O secretário de Planejamento afirma que, com o PDI, as unidades atual-mente menos favorecidas podem crescer também, pois o modelo permite que novas demandas sejam atendidas.

Para o próximo ano, serão ainda propostas mudan-ças na avaliação do desempenho. Uma comissão foi no- meada pelo Conselho de Administração (CAD) para re-ver esse modelo, que já tem 10 anos desde sua última atualização. “O perfil da Universidade hoje é bem dife- rente e necessita de novas perspectivas para mensurar suas atividades”, afirma Maria Ângela Feitosa, diretora do Instituto de Psicologia e membro da comissão.

Todas as propostas apresentadas para 2010 têm de ser aprovadas ainda pelo CAD e pelo Conselho Superi-or Universitário (Consuni).Enquanto não passar por to-das as instâncias de aprovação, o projeto orçamentário ainda poderá sofrer alterações. •

“Temos que caminhar com

Tomando chá de hortelã à frente de uma imagem budista e outra católica, José Geraldo recebeu o Campus na manhã

do dia 28 de outubro, em seu gabinete. Na quase uma hora e meia de conversa, entre risadas, queixou-se do tratamento que recebeu do jornal logo após sua eleição e especulou qual seria a manchete caso houvesse um atropelamento. “O Campus publicaria: ‘Reitor não deu assistência ao homem morto’”. A seguir, os principais trechos da entrevista.

RAFAELA FELICCIANO

RAFAELLA VIANNA

RENATA ZAGO

JULIANA REIS

Campus: Como o senhor avalia este primeiro ano de mandato?José Geraldo: De forma muito positiva. Neste primei-ro ano, o ponto político definido pela gestão, que é o compartilhamento, permitiu que se resgatasse o espaço deliberativo nos principais colegiados da Universidade. Dentro desta ideia de gestão compartilhada, eu me in-cumbi da função de estabelecer canais eficientes e per-manentes de interlocução com a comunidade. Campus: Como é administrar a UnB?JG: Eu não quero ser arrogante. Administrar uma uni-versidade não é fácil, mas não foi tão difícil quanto se poderia esperar. A UnB é uma estrutura complexa que emergia de uma crise que dividiu a comunidade. Havia uma disposição de convergência em torno do resgate da instituição para seu destino, seu futuro. Eu não sou um aventureiro, não cheguei aqui agora, eu já tenho um diálogo antigo com a Universidade. Campus: E a reforma da CEU, sai?JG: Sai, ela é parte do programa e, se dependesse de mim, já teria sido feita (a reforma depende da negocia-ção com os estudantes, que ainda não chegaram a um acordo quanto à moradia durante as obras). É como a gente faz quando reforma a própria casa, passa um pouco de desconforto, mas define uma atuação nos cô-modos da casa com a gente dentro. Então, por que não modificar um prédio, depois modificar o outro? Parece razoável, não é assim que nós faríamos em casa? Ou is-so, ou algo que tenha esse grau de razoabilidade, consi-derando os custos que outras alternativas têm. Não vejo por que não se chega a uma solução.

Campus: O senhor também prometeu liberar as festas nos campi...JG: Sim, mas não é liberação sem ordenação. Não é pos-sível uma comunidade em que se preveja uma vivência que não passe por festas. Precisa ter festa. Acho que a-qui as pessoas são muito sisudas. Se tivessem mais fes-tas, além de serem mais felizes, produziriam melhor e interpretariam melhor o mundo. Mas não pode haver desvios de objetivo. A celebração não pode se transfor-mar em uma atividade belicosa. Você vai ali para a ale-gria e para a afetividade e não para a hostilidade e para a raiva. Campus: As comissões para decidir sobre essas festas e outros temas ainda não foram formadas. Como o se-nhor explica essa demora?JG: Tem um ritmo aqui. Meu ritmo é até forte. Como diz Boaventura de Sousa Santos, a gente tem que cami-nhar junto com os que andam mais devagar. Há uma parte da Universidade que caminha até mais depressa. Mas para que toda a UnB caminhe numa única direção é preciso andar no ritmo dela. Em algumas coisas eu caminho mais depressa, em outras, mais devagar. Em algumas eu sou ousado, em outras, sou prudente. Campus: O senhor se reuniu com o governador do Dis-trito Federal no início do ano. O que ficou decidido so-bre o transporte para a UnB?

JG: Não houve acordo formal. Eu pedi que se colocasse no planejamento do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) uma linha para a UnB e pedi também uma melhor plani-ficação do transporte rodoviário. Ele concordou. Quan-to ao metrô, não é para se concretizar no meu mandato, mas eu preciso lançar essa questão para o GDF. Campus: E as ciclovias? O GDF construiria as pistas, e a UnB, os banheiros e vestiários, mas até agora eles não existem...JG: Nem a ciclovia. O acordo já existe, o percurso na UnB faz parte do projeto de implantação de ciclovia. Nós pedimos prioridade, mas (autoridades do GDF) não deram prazos. Campus: De suas 15 propostas, duas foram totalmente cumpridas até agora. Ao final de 2012, teremos todas as metas prontas?JG: 100%, ainda que eventualmente eu não inaugure al-gumas delas. Eu não prometi nada para um ano. Entre as atividades que eu já realizei neste primeiro semestre está, por exemplo, inaugurar algumas obras. Fui eu que realizei essas obras? Não, é continuidade institucional. Campus: O senhor pensa em reeleição?JG: Não. O meu objetivo é cumprir o meu mandato. Penso no compromisso que assumi com o programa (de metas) e nele não está escrito reeleição. •

José Geraldo garante que até 2012, no final de seu mandato, cumprirá todas as metas. Mesmo assim, diz que não pensa em reeleição

os que andam mais devagar”Rafaela Felicciano

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Contexto

Page 6: Quarta edição do Campus 2/2009

Fora da lixeira

Cultura incubada

Pesquisa revela que quase um terço dos brasilienses descarta lixo na rua. O desconhecimento da lei pode explicar o hábito, também frequente no trânsito

MARCELLA CUNHA

LUANA RICHTER

Dados coletados no centro de Brasí-lia apontam que

31,1% das pessoas jogam lixo no chão. A sujeira da cidade, o baixo número de lixeiras e a garantia do serviço de limpeza urbana são formas de justificar a atitude e transferir a res-ponsabilidade para o Es-tado. Essa é a conclusão da pesquisadora do La-boratório de Psicologia Ambiental da UnB Clei-de Sousa, que conversou com 148 pessoas. “É um deslocamento da culpa. O indivíduo atribui seu comportamento a razões externas”, explica.

Já aqueles que afir-maram colocar o lixo somente em local apro-priado acreditam que é uma questão de educação, consciência e conexão

com o meio ambiente, ou seja, consideram o indiví-duo responsável pelo que produz. Além disso, quem vê a cidade limpa tende a mantê-la assim e vice-ver-sa. “Quando o ambiente está sujo, há maior proba-bilidade de jogarem lixo no chão porque, inconsci-entemente, você entende que uma regra foi violada e que nada aconteceu com o infrator”, argumenta Cleide.

No trânsito, a porcen-tagem dos que não utili-zam a lata de lixo dobra. Dentre os 52 motoristas que participaram de outro estudo também realizado por Cleide, 60,4% admi-tem já terem atirado resí-duos pela janela do carro. A professora de inglês Marcela Amaral foi víti-ma de um objeto inusita-do. “Uma fralda, cheia de cocô mole de nenê, acer-tou em cheio o meu pá-ra-brisa, e eu estava sem

água para limpá-lo. Fui até um posto com o car-ro fedendo a azedo, com muita dificuldade para di-rigir porque eu tinha que colocar a cabeça pra fora para conseguir enxergar”, conta, rindo, a motorista.

De acordo com a assis-tente de Comunicação So-cial do Detran-DF, Socor-ro Ramalho, esse tipo de infração pode levar outro condutor a perder o con-trole do veículo e gerar graves danos. “Os obje-tos mais comuns lançados pela janela, segundo nossa fiscalização, são pontas de cigarro e latas de cer-veja ou refrigerantes que, dependendo da velocida-de, podem até quebrar o pára-brisa de outro veícu-lo”, relata Socorro.

Quase um terço dos que admitem o descarte inadequado ainda assu-mem que o praticam com frequência. Esse hábito sai caro para os cofres públi-

cos. O lixo que é jogado no chão é o mais oneroso para ser tratado, segundo a pesquisadora Cleide de Sousa. “Ele só pode ser capturado pela varrição. Custa caro disponibilizar mão-de-obra para varrer o dia todo.”

Lei desconhecida O estudo também indi-

ca que 38% dos motoris-tas já viram lixo ser des-cartado de automóveis. A prática é uma infração prevista no artigo 172 do Código Brasileiro de Trân-sito (CBT) e tem como penalidade multa de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira. Para a psicólo-ga, o desconhecimento do CBT é uma das causas do alto número de violações. O estudo comprovou que, de fato, 35% dos brasili-enses entrevistados não sabem da lei.

Segundo o Detran, é

difícil detectar esse tipo de infração, pois é neces-sário o flagrante. Por essa razão, desde janeiro deste ano apenas 108 multas foram aplicadas a esses condutores. Para a pesqui-sadora Cleide, mais difícil

do que penalizar os infra-tores é educá-los, e esse encargo é do governo. “O lixo tem dono. Ele é dos municípios. Como conse-quência disso, é responsa-bilidade do Estado cons-cientizar a população.” •

Iniciativa pioneira do CDT vai apoiar projetos artísticos e culturais no DF

MARINA ROCHA

Os setores de arte e cultura do DF contarão com

uma iniciativa pionei-ra do Centro de Desen-volvimento Tecnológico (CDT) da UnB. A Incu-badora de Arte e Cultura do Distrito Federal e En-torno, que tem implanta-ção prevista para dia 15 deste mês, apresentou seu projeto-piloto durante a IX Semana de Extensão da UnB. Na ocasião, hou-ve exibição do Batucadei-ros - projeto que trabalha percussão corporal com crianças e jovens de 5 a 21 anos. O Batucadeiros foi desenvolvido pelo Ins-tituto Batucar, uma Or-ganização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), e é a única enti-dade já em trabalho dire-to com a incubadora.

Conhecidas por hos-

pedar empresas e projetos com potencial de desen-volvimento, as incubado-ras dão assessoramento e consultoria, além de cursos, workshops e pa-lestras. Tudo para que o projeto ou empresa não venha a falir no início das atividades e possa entrar no mercado de forma só-lida. Dados de 2006 da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inova-dores (Anprotec) apon-tam que no Centro-Oeste existem 28 incubadoras em operação. O número só não é menor que o da Região Norte, onde exis-tem 14.

A partir do lançamento da incubadora, a iniciati-va será a única direciona-da especificamente para arte e cultura no DF, já que as outras entidades sócias da Anprotec concentram suas atividades em tecno-logia, ciência, educação e

genética. A Secretaria de Cultura do DF e o Minis-tério da Cultura (MinC) não têm conhecimento da existência de mais incuba-doras culturais na região.

As articulações para montar a iniciativa co-meçaram há oito anos. Gustavo Pereira Vidigal, aluno de Relações Inter-nacionais da UnB e coor-

denador da incubadora, explica que 19 entidades já demostraram interesse em ser incubadas e que o processo de seleção de no-vos projetos será em janei-ro de 2010. A meta é abrir um edital para iniciar o trabalho com oito empre-endimentos. Vidigal conta que, para o lançamento, “só falta um fortalecimen-

to da incubadora junto à comunidade universitária e a conclusão das negocia-ções de verba”.

Até agora, nenhum aporte financeiro foi apli-cado, mas os organizado-res trabalham com diálo-gos junto ao MinC e à Secretaria de Cultura do DF. O CDT entraria com a infraestrutura. Com o apoio econômico desses organismos, a incubadora poderá prestar assistência sem cobrar pelos serviços. “A ideia inicial é não pre-cisar de dinheiro dos em-preendimentos, já que so-mos uma empresa sem fins lucrativos”, explica Vidi-gal. A incubadora conta também com a aprovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (Sebrae).

Gilberto Amorim, pre-sidente do Instituto Batu-car, foi atrás da incubado-ra por um único motivo: organizar a OSCIP. “A gente não sabia como ad-ministrar a situação”. Des-de o final de julho deste ano, a incubadora traba-lha com o Batucar na re-visão de todos os contra-tos, organização da comu-nicação interna e externa, reformulação do cadastro dos alunos, repaginação do site e desenvolvimento de estudos de marca, além

da verificação de projetos.

Contribuição

Magno Assis, chefe do Serviço Artístico e Cultu-ral da Diretoria de Espor-te, Arte e Cultura (DEA) da UnB, vê vantagens na iniciativa. “A incubado-ra pode ser útil para im-plementar novas ações de ponta”. Para Assis, o principal é que o projeto seja compartilhado com a Universidade. “A incuba-dora não deve se tornar mais uma linha de ação sozinha. Ela tem que ca-minhar com propostas junto à comunidade”. É o que Gustavo Vidigal de-seja. “Esperamos também nos tornar um projeto de ação contínua, junto ao DEX (Decanato de Ex-tensão)”.

O chefe da DEA acre-dita que a incubadora, da forma em que foi plane-jada, poderá trazer uma colaboração para o setor, com o desenvolvimento de um censo, por exemplo, para mapear o que é pro-duzido em arte e cultura na Universidade de Brasí-lia e identificar o que po-de ser feito em relação à área. “Assim, vamos mo-bilizar a comunidade aca-dêmica e trazê-la à socie-dade”, diz Magno Assis. •

Jovens do Batucadeiros: trabalho em parceria com a incubadora

Contar com serviço de garis é justificativa para jogar lixo no chão

Priscila Crispi

Ludmila Alves

Bloco

Laboratório

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JOÃO PAULO VICENTE

Livro

Álbum

Filme

A Voz do Fogo (1996)

In The Aeroplane Over the Sea (1998)

O Balconista (1994)Um dia na vida de dois empregados de lojas de conveniência. O trunfo do diretor Kevin Smith são os diálogos, recheados de referências, entre eles as imperdíveis discussões so-bre os filmes do universo Star Wars.

Conhecido por suas HQ’s, aqui Alan Moore usa da li-teratura para contar 6 mil anos de história da sua ci-dade natal, Northampton, Inglaterra. Cada capítulo é um fragmento escrito em estilo que remete à época retratada.

DicasDireto de Ceilanwood Filme Dias de greve divulga trabalho de produtora da

Ceilândia no Festival de Cinema de Brasília

Sushi e tamborinsProfessor com formação em música erudita mistura batucada com aulas de japonês e cria no Varjão a escola de samba Gigante da Colina, que se prepara para estrear no Ceilambódromo em 2010

Mesmo sem uma sala de cinema, Ceilândia já po-

de se orgulhar de seus ci-neastas. O novo filme da produtora local Ceicine, Dias de greve, concorrerá ao Prêmio de Melhor Cur-ta-metragem em 35 mm no 42º Festival de Cinema de Brasília, que será rea-lizado no final deste mês. Adaptação do livro Os mudos, de Albert Camus, o filme ceilandense retrata a história de uma greve de serralheiros da cidade.

Essa é a terceira produ-ção da Ceicine, que desde 2006 faz videoclipes de artistas da cidade e, recen-temente, ganhou um edital da TV Brasil para filmar o documentário Fora de Campo, sobre o futebol brasiliense. Tudo é feito na Ceilândia por artistas e produtores locais. “Não somos ONG. Somos um grupo de onze pessoas se articulando para fazer ci-nema na periferia”, define o diretor Adirley Queirós.

Todos os atores de Dias de Greve são estre-antes no cinema. Ao pre-

pará-los para encenar, o diretor de atores Welling-ton Abreu ministrou ofici-nas de interpretação. Ele queria que cada um bus-casse suas próprias ideias para o personagem. Elias Rodrigues, funcionário da Embrapa, soube do curso por meio de uma notícia de rádio e resolveu ir a uma aula. “Desde o início, eu percebi que não seria só um filme. Vou continuar atuando, já estou até len-do outros roteiros”, conta Rodrigues, que interpreta o personagem Vetonho no filme.

Durante as aulas, Queirós discutia os scripts e levava câmeras e outros equipamentos para que, aos poucos, as pessoas pudessem se familiarizar com o cinema. “Isso aju-dou a dar mais naturali-dade para a encenação”, explica Abreu. A curiosi-dade levava moradores a aglomerarem-se nas ruas para ver as filmagens, e a orientação do diretor para o cinegrafista foi de que continuasse gravan-do mesmo se as pessoas olhassem para a câmera. “Isso pode parecer ama-dor, mas não nos preocu-

pamos.”A recomendação está

ligada à estética do filme “Quase tudo é improvisa-do. Buscamos isso como linguagem”, afirma Quei-rós. Ele diz não gostar de filmes como Cidade de

Deus, que, em sua ava-liação, se distanciam da realidade da periferia. “É filme pra gringo ver. Não acrescenta nada para a co-munidade”, pondera o di-retor. Em Dias de greve, o meio não é só cenário. Pa-

Rodrigues (E), Abreu e o diretor Queirós (D): cinema na Ceilândia

ISABELA HORTA

“Alguém sabe o que é zen zen tigau? Era a expressão que mi-

nha sogra mais usava: ‘de jeito nenhum’.” Alguns ri-sos percorrem a pequena sala no Centro Cultural do Varjão. Logo silenciam, dão lugar às expressões compenetradas que assis-tem a um cumprimento

sem toques, com palavras ainda não conhecidas. Para conseguir a pronún-cia exata, o professor Fa-biano Duarte luta contra a rouquidão, efeito de um samba-enredo repetido à exaustão. É a aula de japonês das noites de do-mingo, que ocorre sempre após os ensaios da bateria do G.R.E.S Gigante da Colina.

A ideia de fundar uma

escola de samba ocorreu a Duarte assim que ele vol-tou do Japão, país onde passou três anos traba-lhando como operário. Além de um bom pé-de-meia, trouxe o encanta-mento com a disciplina, o perfeccionismo e a corte-sia característicos daquele país. “Queria montar um projeto social que difun-disse esses valores, mas precisava de algo que atra-

ísse a população”, conta. Optou pelo samba.

Vascaínos

Até então, pouco sabia do assunto. Músico eru-dito, fã de Tchaikovsky, seu conhecimento de ba-tuques limitava-se à mam-bembe bateria que anima-va os jogos do Vasco no DF. Foi buscar apoio entre os companheiros daquela torcida. Logo aprendeu que para fazer uma esco-la de samba com beleza é preciso um pouco de tris-teza. A ideia só ganhou força após a queda do time para segunda divisão do Campeonato Brasilei-ro. A ata de fundação e o estatuto da nova escola foram assinados no dia 11 de abril de 2009 por 11 torcedores do Vasco da Gama.

Conseguiram o espaço para os ensaios no Centro Cultural do Varjão, usado

também para as oficinas de teoria musical e aula de japonês. Interrompen-do um outro ensaio, o da banda de metais Tocando Sonhos, encontraram os primeiros alunos da comu-nidade. “Gosto de samba, mas não tocava nada de percussão”, conta Liliane Santos, destaque no trom-bone e no surdo. Atraí-dos pela batucada e pela possibilidade de conhecer idioma e cultura diferen-tes, os novos integrantes ignoraram as rivalidades com o clube dos fundado-res. Até mesmo os flamen-guistas ostentam a camisa da escola, com a cruz de malta bordada no peito. A estreia no Ceilambódro-mo será em 2010, com parcerias com a Unidos da Tijuca e a Universida-de do Carnaval, do Rio de Janeiro. A intenção é usar disciplina oriental e teoria musical para conseguir o título do terceiro grupo. •

IGOR MIGUEL PEREIRA

Nenhum dos atores ganhou nada: eles vieram, ralaram e gastaram do

próprio bolso ’

ralelamente ao enredo dos grevistas, está a cidade di-vidida pelo metrô. “Que-remos retratar também essa nova visão da cidade que é estranguladora.”

As gravações de Dias de greve foram finan-ciadas com recursos do Fundo de Apoio à Cultu-ra e do Fundo Nacional da Cultura. O orçamento total de R$ 130 mil será usado somente para pagar os equipamentos aluga-dos e a equipe da produ-ção da Ceicine. “Nenhum dos atores ganhou nada: eles vieram, ralaram e gas-taram do próprio bolso. Mas vão sair com uma experiência de cinema pa-ra o currículo”, assegura Abreu.

Para Adirley Queirós, “o cinema brasileiro é po-bre, não só o da Ceilân-dia”. Ele quer traduzir os filmes da produtora para inglês, espanhol e francês, para que possam ser distri-buídos em festivais inter-nacionais. Enquanto isso, na cidade onde cresceu e que nunca teve um cine-ma, seu filme será exibido no dia 21 de novembro, na estação Ceilândia Nor-te, do metrô. •

Ludmila Alves

Com caixa, surdo e tamborim, a bateria da Gigante da Colina ensaia no Centro Cultural do Varjão

Mariana Tokarnia

Site

VBS.tvA TV online é uma ini-ciativa conjunta da MTV com a revista Vice. Os te-mas abordados vão desde o sexo até a poluição mun-dial, tudo com um forma-to que fica no meio termo entre o documentário e um jornalismo informal.

A banda Neutral Milk Hotel encontrou Bob Dylan no meio do cami-nho entre o folk e o rock e por lá ficou. Neste álbum, violões desafinados e ins-trumentos de sopro velhos dão o tom.

Bloco C

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ContraCapa

mão, Jairo da Silva Barbosa, 17, já são conhecidos nas feiras e festivais da cidade.

Quase todo domingo na Feira da Guariroba, em Ceilândia, eles vão cantar seus

versos improvisados. Depois da aula sempre cantam, escrevem e dedicam-se a pes-

quisas. Da Bíblia à internet, todo conhecimento serve de inspiração. Até o metrô é

motivo para versos. Jairo escreveu, sob encomenda, sobre a inauguração de uma das

estações de Ceilândia. “Escrevo quando é preciso. Eles me dão o tema e eu faço”.

Foi ouvindo os discos da mãe goiana que João Santana, 30, conheceu o repente e

percebeu sua facilidade para criar versos. “Ouvi e comecei a cantar. É uma coisa que

brota mesmo de dentro”. Santana canta e escreve profissionalmente. Faz versos por

encomenda e divulga a arte nas escolas. “A produção de cordel está em pleno vapor”.

Nobres históriasQuem não gosta de ouvir histórias? Ainda mais se forem contadas de forma envol-

vente, em versos que reescrevem o mundo. No cordel, o que antes era banal vira um

grande acontecimento. Para o professor João Bosco, é ainda mais do que isso, o cordel

retoma a nobreza das narrativas. “Histórias são as coisas mais comuns e o que as pes-

soas mais gostam. O que os jornais fazem todos os dias é repetir histórias, mas o cor-

del, quando repete uma história, valoriza, reumaniza, colocando aquilo em versos.”

Para João Santana, “Brasília é um caldeirão cultural”, tem lugar para tudo. E se

o cordel está buscando espaço e reconhecimento, nada melhor do que vir para cá

divulgar a arte. Foi isso que o paraibano Fernando Rocha, 47, veio fazer em Brasília.

Interpretando o personagem Macambira, um nordestino de 92 anos, ele divulga o

cordel e não esconde a paixão pela arte. “É necessário que a gente leve esse instru-

mento tão importante, para que amanhã ou depois essa literatura, que é rica, não

venha a morrer”. Nenhum tema passa despercebido. Macambira traz para os versos de seus cordéis

a prevenção da gripe suína, o amor incondicional por Querindina, sua esposa, e até as

Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. “O que fascina e o que faz com que a gente

levante essa bandeira de ser divulgador da literatura de cordel é um amor pela arte, é

a esperança de ver um mundo melhor”. •

MARIANA DE PAULA

MARIANA NIEDERAUER

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Verônica Honório

Mariana de Paula

Mariana de Paula

Seus curtos versos carregam o mundo, dos contos de cavalaria à

vida no sertão. Vindo das feiras de Portugal no início da coloni-

zação, encontrou solo fértil nas violas do Nordeste. Como mui-

tos nordestinos, o cordel migrou e ganhou outros estados. Chegou

à nova capital na época da construção, pegando carona nas mentes

inquietas dos trabalhadores que viajavam em paus-de-arara. Hoje é

escrito por novas mãos, impresso por novas máquinas, lido e ouvido

pelos jovens, novos consumidores da herança histórica. O cordel está

sendo reinventado.

As capas com as tradicionais xilogravuras dão lugar a desenhos e

ilustrações para atrair as crianças. Os pequenos folhetos são substitu-

ídos por grandes livros ilustrados, que ganham espaço no mercado.

Até na internet a produção é vasta e rica. “O movimento nos últimos

anos é de revalorização do cordel e transmutação para outras mí-

dias”, concorda o estudioso e escritor de cordel João Bosco, 48.

A raiz cearense influenciou a paixão pelo cordel, mas Brasília foi o local

escolhido para desenvolver sua arte. Aqui, ele escreveu uma tese de dou-

torado sobre o assunto e até perdeu o sotaque. Bosco aposta na adapta-

ção de histórias famosas para o cordel. Em seus versos, os personagens

ganham toques nordestinos. Nem o Soldadinho de Chumbo escapou.

Dessa forma, ele busca atrair o público infantil e levar a literatura para

as escolas. “Hoje, o nosso desafio é formar leitores de cordel, e mos-

trar que ele tem valor porque é uma coisa essencialmente brasileira”.

Novas mãos, novos versos

Dois piauienses chegam a Brasília ainda crianças. Olhando, nin-

guém imaginava que ali, além do pouco tamanho, houvesse também

o talento para o cordel e para o repente - versos feitos de improviso

que se assemelham ao texto escrito do cordel. “A profissão é bonita.

É dom”, diz Jeferson da Silva Barbosa, hoje com 13 anos. Ele e o ir-

João Bosco Bezerra Bonfim

Jairo da Silva Barbosa

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