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  • 8/12/2019 Relatorio Mestrado: Diversidade de Relaes Escola-Famlia e Mecanismos de Envolvimento nas Dinmicas Escola

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    INSTITUTO POLITCNICO DE SANTARM

    ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAO DE SANTARM

    Diversidade de Relaes Escola-Famlia e

    Mecanismos de Envolvimento nas Dinmicas

    Escolares

    Patrcia Sofia Rosa Valente

    Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico

    2014

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    II

    A educao um processo social,

    desenvolvimento.

    No a preparao para a vida,

    a prpria vida.

    (John Dewey)

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    III

    Agradecimentos: Ao longo da elaborao deste Relatrio Final contei com diversas

    pessoas que se tornaram um pilar pela fora, encorajamento, compreenso e apoio que me

    prestaram. Como tal no podia deixar de lhes fazer um sincero agradecimento pela importncia

    que tiveram para mim neste percurso, no s meu mas de todos os que o fizeram lado a lado

    comigo.

    Primeiramente, destaco o Professor Doutor Ramiro Marques e meu orientador deste

    Relatrio Final pela sua dedicao, orientao e contributo para o concluir, pelo feedback

    sempre construtivo e positivo, pela disponibilidade prestada sempre que necessrio e pela

    confiana no trabalho que fui desempenhando. Aspetos estes que se tornaram determinantes

    ao longo deste moroso, mas gratificante, percurso de elaborao do Relatrio, do qual retiro as

    maiores aprendizagens.

    Agradeo tambm educadora Rosa Montez, educadora Vera Marques e

    professora Adelina Rodrigues, assim como s instituies e comunidade educativa a que

    pertencem, pela admirvel receo e confiana demonstrada no incio e decorrer dos estgios

    de interveno, mas tambm pela colaborao e contribuio que tiveram para o

    desenvolvimento e implementao de atividades e projetos relativos minha investigao,

    onde incluo as sugestes e o auxilio prestado tal como o empenho com que responderam

    entrevista que lhe propus.

    s famlias, e respetivas crianas, com quem contactei na Creche, Pr-escolar e 1

    Ciclo, pelas opinies e feedbacks sempre enriquecedores acerca da minha prtica e pelo

    preenchimento dos Inquritos, indispensveis minha investigao.

    s minhas amigas, Ana Raquel Carvalho, Margarida de Bre, Diana Machado e Filipa

    Gonalves pela pacincia em dias de cansao, pelas tentativas de me abstrair das minhas

    preocupaes escolares e pela ateno que me proporcionaram em momentos mais difceis.

    Mas acima de tudo, um especial obrigado a elas por me acompanharem sempre nos bons

    momentos, pela partilha de conhecimentos e experincias e por me fornecerem diversos

    materiais e documentos orientadores para a elaborao do meu Relatrio Final.

    Um especial obrigado minha amiga e parceira dos trs estgios que integrei, CarolinaGregrio, uma das pessoas mais importantes durante este mestrado por estar sempre

    disponvel para me ajudar na implementao e prosseguimento da minha investigao em

    cada contexto que integrmos juntas. A ela devo muito da profissional que me fui

    progressivamente tornando e das aprendizagens feitas na prtica.

    No descurando todas as pessoas que por alguma razo marcaram e completaram a

    minha vida de forma positiva e feliz ao longo deste percurso, das quais destaco o meu

    namorado, Joo Valente.

    E por fim, minha famlia, e especialmente aos meus pais e irmo, as pessoas quemais acreditam nas minhas capacidades e me transmitem sempre um optimismo inestimvel

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    IV

    que me incentiva a conseguir sempre mais e melhor. O meu verdadeiro agradecimento pela

    excelente educao que me transmitiram e aprendizagens que me incentivaram a construir,

    assim como o carinho, amor incondicional, otimismo, fora e pacincia com que me

    presentearam ao longo do meu mestrado, mas essencialmente ao longo da minha vida. Devo-

    lhes toda a minha determinao, que at hoje sempre contribuiu para conduzir os meus

    objetivos pessoais a bom porto. Posto isto, no h como descrever tudo o que j fizeram por

    mim e quaisquer palavras reconhecimento e gratido seriam redutoras de tudo o sinto por eles.

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    V

    Resumo: O Relatrio Final Diversidade de Relaes Escola-Famlia e Mecanismos

    de Envolvimento nas Dinmicas Escolarestem como finalidade abordar a Relao Escola-

    Famlia numa vertente sociolgica, onde as variveis sociais que influenciam esta relao e

    parceria Gnero, Estrutura familiar, Profisso dos pais, Nvel socioeconmico, Classe social e

    Cultura e Etnicidade - so o enfoque primordial. Concludentemente, procura-se justificar e dar

    a conhecer os benefcios que as relaes positivas e colaborantes que se estabelecem entre

    famlias e instituies escolares, considerando igualmente os seus profissionais, podero ter no

    desenvolvimento de cada criana, tendo em conta as suas especificidades familiares, sociais,

    escolares, emocionais e cognitivas.

    Ao longo deste relatrio, que surgiu em torno da questo-problema - Como que a

    escola/professor lida com a diversidade de Relaes Escola-Famlia e quais os mecanismos

    que mobiliza e tem ao dispor para que os pais se envolvam nas dinmicas escolares? -

    apresento uma breve contextualizao e caracterizao dos nveis de ensino em que estagiei

    Creche, Pr-Escolar e 1 Ciclo do E.B - e a partir dos quais iniciei a minha investigao. Ainda

    a par disto, este relatrio complementado com um quadro terico de referncia, a partir do

    qual esto fundamentadas as vivncias, intenes, objetivos e dvidas despoletadas em cada

    contexto que integrei, aludindo ainda importncia da Relao Escola-Famlia, s modalidades

    de participao, legislao e programas que prevem este tipo de relao em cada nvel de

    ensino, tal como s variveis sociais determinantes ao estabelecimento ou no desta relao

    de colaborao entre a escola e as famlias. Para finalizar, o relatrio abaixo apresentado est

    assente num trabalho de investigao que procura dar a conhecer melhor a realidade vivida em

    trs contextos educativos distintos mas complementares onde a Relao Escola-Famlia

    ainda um mundo por explorar.

    Palavras-Chave: Crianas, Famlias, Relao Escola-Familia, Creche, 1 Ciclo,

    Educao Pr-escolar, Estratgias e modalidades de participao, Factores de participao ou

    no-participao, Variveis sociais, Planificao.

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    VI

    Abstract: The Final Report Diversity School-Family Relations and Dynamic

    Mechanisms of Involvement in School aims to address the school-family relationship in a

    sociological perspective, where social variables that influence this relationship and partnership -

    Gender, family structure, occupation of parents , socio-economic level, social class and Culture

    and Ethnicity - are the primary focus. Conclusively, seek to justify and publicize the benefits that

    positive and cooperating relationships established between families and school institutions,

    considering also their professional may have on the development of each child, taking into

    account their specific family, social , educational, emotional and cognitive. Throughout this

    report, which arose from the problem-question - How does the school / teacher deals with the

    diversity of School-Family Relations and the mechanisms that mobilizes and provides you so

    that parents are involved in school dynamics? - Present a brief background and characterization

    of levels of education where I interned Day care, Preschool and 1st cycle of basic education -

    and from which I started my research. Yet aware of this, this report is supplemented with a

    theoretical framework, from which the experiences, intentions, objectives and questions

    triggered are grounded in each context that I joined, even alluding to the importance of school-

    family relationship, the methods of participation, legislation and programs that provide this type

    of relationship at each level of education as determinants establishing social variables, or not,

    this collaborative relationship between the school and families. Finally, the report presented is

    based on a research project that seeks to better understand the reality lived in three distinct but

    complementary educational contexts where the school-family relationship is still a "world" to

    explore.

    Keywords: Children, Families, school-family relationship, Day care, 1st Cycle,

    Preschool Education, Strategies and forms of participation, factors of participation or non-

    participation, social variables, Planning.

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    VII

    ndice Geral:

    Agradecimentos III

    Resumo IV

    Abstract Vndice geral VI

    ndice de anexos VII

    ndice de figuras VIII

    Introduo 1

    Parte I Os Estgios de Interveno 3

    1. Descrio dos contextos e Autodiagnstico 3

    1.1. Educao Pr-escolar 3

    1.2. 1 Ciclo do Ensino Bsico 9

    1.3. Creche 16

    Parte II Reviso da Literatura e Estudo Emprico 26

    2. Definio do problema 26

    3. A Relao Escola-Familia 283.1. A importncia da participao das famlias nas instituies 28

    3.2. Legislao e programas referentes participao das famlias 30

    3.3. A planificao com vista participao das famlias 32

    3.4. Estratgias/Modalidades para a participao das famlias 33

    3.5. Variveis sociais implicadas na Relao Escola-Famlia e

    diferenas de relao entre nveis de ensino 36

    4. Caracterizao da amostra e instrumentos de recolha de dados 40

    5. Anlise de dados e Concluses 45

    5.1. Anlise dos Inquritos aplicados aos pais e famlias 45

    5.2. Anlise das Entrevistas aplicadas aos docentes 51

    Parte III Concluso Final 57

    6. Reflexo Final e Avaliao 57

    Referncias bibliogrficas 58

    Anexos 61

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    VIII

    ndice de Anexos

    Anexo A Calendarizao do trabalho de Investigao 61

    Anexo B Guio da entrevista s docentes 64

    Anexo C Inqurito aos pais e famlias 67

    Anexo D Grficos e tabelas relativos analise de dados 71

    Anexo E Reflexes individuais dos Estgios de Interveno CD

    Anexo F Projeto de Interveno em Creche CD

    Anexo G Projeto de Interveno em Educao Pr-Escolar CD

    Anexo H Projeto de Interveno em 1 Ciclo do Ensino Bsico CD

    Os anexos E, F, G e H encontram-se num CD, em formato digital, anexado ao Relatrio Final.

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    IX

    ndice de Figuras

    Figura 1 Sexo dos inquridos Grfico 71

    Figura 2 Sexo dos inquiridos Grfico 71

    Figura 3 Sexo dos inquiridos Tabela 71

    Figura 4 Frequncia com que as famlias se deslocam instituio Grfico 72

    Figura 5 Frequncia com que as famlias se deslocam instituio Grfico 72

    Figura 6 Frequncia com que as famlias se deslocam instituio Tabela 73

    Figura 7 Circunstncias em que se desloca instituio Grfico 73

    Figura 8 Circunstncias em que se desloca instituio Grfico 74

    Figura 9 Circunstncias em que se desloca instituio Tabela 74

    Figura 10 Interesse do docente em comunicar com as famlias Grfico 75Figura 11 Interesse do docente em comunicar com as famlias Grfico 75

    Figura 12 Interesse do docente em comunicar com as famlias Tabela 76

    Figura 13 Meios disponibilizados para divulgao e envolvimento em projetos

    Grfico

    76

    Figura 14 Meios disponibilizados para divulgao e envolvimento em projetos

    Grfico

    77

    Figura 15 Meios disponibilizados para divulgao e envolvimento em projetos

    Grfico

    78

    Figura 16 Pertena a associaes de pais ou equivalente Grfico 79

    Figura 17 Pertena a associaes de pais ou equivalente Tabela 79

    Figura 18 Importncia da participao em atividades e projetos Grfico 79

    Figura 19 Importncia da participao em atividades e projetos Tabela 80

    Figura 20 Grau de envolvimento, colaborao e participao em

    atividades/projetos Grfico

    80

    Figura 21 Grau de envolvimento, colaborao e participao em

    atividades/projetos Grfico

    80

    Figura 22 Grau de envolvimento, colaborao e participao em

    atividades/projetos Tabela

    81

    Figura 23 Reao a convite para participar em atividades/projetos Grfico 81

    Figura 24 Reao a convite para participar em atividades/projetos Tabela 82

    Figura 25 Grau de integrao e interesse promovidos pela instituio

    Grfico

    82

    Figura 26 Grau de integrao e interesse promovidos pela instituio

    Grfico

    83

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    X

    Figura 27 Grau de integrao e interesse promovidos pela instituio Tabela 83

    Figura 28 Reao da instituio em caso de sugesto de uma

    atividade/projeto Grfico

    84

    Figura 29 Reao da instituio em caso de sugesto de uma

    atividade/projeto Tabela

    85

    Figura 30 Feedback recebido depois da participao Grfico 85

    Figura 31 Feedback recebido depois da participao Grfico 86

    Figura 32 Feedback recebido depois da participao Tabela 86

    Figura 33 Relao mantida com a instituio do educando Grfico 87

    Figura 34 Relao mantida com a instituio do educando Grfico 87

    Figura 35 Relao mantida com a instituio do educando Tabela 88

    Figura 36 Grau de importncia que os projetos e atividades apresentam Grfico

    88

    Figura 37 Grau de importncia que os projetos e atividades apresentam

    Grfico

    89

    Figura 38 Grau de importncia que os projetos e atividades apresentam

    Tabela

    89

    Figura 39 Aspetos pouco favorveis participao e envolvimento em

    atividades/projetos Grfico

    90

    Figura 40 Aspetos pouco favorveis participao e envolvimento ematividades/projetos Grfico

    91

    Figura 41 Aspetos pouco favorveis participao e envolvimento em

    atividades/projetos Grfico

    92

    Figura 42 Aspetos pouco favorveis participao e envolvimento em

    atividades/projetos Tabela

    93

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    Introduo

    O Relatrio Diversidade de Relaes Escola-Famlia e Mecanismos de

    Envolvimento nas Dinmicas Escolaresvisa abordar a Relao Escola-Famliano mbito de

    uma questo-problema formulada com o intuito de explorar e aprofundar este tema na prtica

    pedaggica centrada na famlia, na escola e na criana. Com base nisto , ainda hoje, inegvel

    que as relaes entre pais e professores sempre foram assunto polmico ao longo da histria

    do sistema educativo portugus (Lima, 2002:7). Segundo uma investigao feita por Macbeth

    an Ravn (1994), (...) os professores no desejam a participao dos pais nas aulas e

    suspeitam do envolvimento dos pais nas tomadas de decises (Marques, 1997:42).

    O que pretendo com a minha investigao compreender concees e formas de

    desmistificar esta relao entre a escola e (...) os pais e encarregados de educao, atores

    sociais anteriormente esquecidos no panorama legislativo (Lima , 2002:7). Neste mbito, o

    que se sucede com cada vez mais veemncia que (...) pais e mes querem envolver-se na

    vida escolar dos filhos, muitos no sabem como faz-lo, tm pouco tempo disponvel, ou esto

    face a uma escola que no estimula esse envolvimento (Marujo et al., 1998:148). A esta

    vontade por parte dos pais junta-se a vontade dos docentes, surgindo a ideia de que mais do

    que nunca pais e professores sentem hoje que necessitam trabalhar em conjunto para que as

    crianas tenham sucesso como pessoas e alunos (Marujo et al., 1998:149).

    De acordo com o que j foi abordado ao longo deste trabalho, os grandes objetivos em

    volta da questo-problema: Como que a escola/professor lida com a diversidade de

    Relaes Escola-Famlia e quais os mecanismos que mobiliza e tem ao dispor para que

    os pais se envolvam nas dinmicas escolares?, so compreender como que a relao

    entre a escola e a famlia feita dentro do contexto escolar e quais os fatores inseridos nesta

    mesma relao influenciando, positivamente ou no, o envolvimento e participao de pais e

    da comunidade envolvente e, acima de tudo, o correto e equilibrado desenvolvimento da

    criana. Deste modo, a resposta a esta questo visa auxiliar-me, enquanto futura professora e

    educadora, nas prticas pedaggicas centradas na participao e envolvimento das famlias naescola, procurando depreender como que esta dinmica se pode instituir numa sala e quais

    as atividades que se podem desenvolver, tornando-se enriquecedoras do ponto de vista

    cognitivo, da educao cvica, da socializao e do desenvolvimento pessoal da criana como

    membro e uma sociedade onde est inserida e onde deve ter uma participao ativa, nem que

    seja na escola.

    Porm, para que esta relao com os pais se estabelea fundamental que os

    profissionais que esto inseridos nas instituies (...) considerem a possibilidade de

    interveno dos pais, com as vantagens e desvantagens constatadas em experinciasanteriores, esclarecer as diversas funes que se podem desempenhar, as possibilidades de

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    progresso da relao, etc. (Correia & Serrano, 2000:169). O que aqui se impe que, em

    conformidade com a ideia defendida por Ramiro Marques (1997), ao abrir explicitamente as

    portas aos membros da comunidade, o modelo da escola cultural recusa a noo tradicional de

    escola como comunidade de professores e de alunos, alargando-a noo de comunidade

    educativa, onde tm lugar agentes formais e informais de educao (1997:14).

    No que concerne ao que j foi explicitado, segundo Rui Canrio (1992), uma efetiva

    abertura da escola comunidade define-se menos pela natureza e frequncia das interaes

    entre a escola e os pais e a escola e as instituies locais, e mais no modo como trata os

    alunos (2003:119) colocando-se a criana num lugar de destaque enquanto ser social. Aqui o

    ponto fulcral colocar esta relao ao dispor do desenvolvimento da criana e no dos adultos,

    procurando-se que as primeiras atuem e pensem autonomamente de acordo com os seus

    interesses e necessidades e se desenvolvam integralmente. Deste modo, segundo Juan Jos

    Diez (1989), a relao vital entre os pais e a entidade escola , pois, antes de mais, uma ao

    educativa que incide sobre cada uma das faculdades humanas de um educando, que se realiza

    a partir da prpria identidade (1989:89), colocando-se margem a tradicional conceo de

    (...) desenvolvimento das crianas como seres aprendentes dos saberes universais

    socialmente tidos como fundamentais, ficando muitas vezes de fora dimenses estruturantes

    do seu desenvolvimento global enquanto pessoas (Sarmento & Marques, 2006:77).

    Neste sentido, o que se pretende com este trabalho compreender que o

    aprofundamento da Relao Escola-Famlia constitui, pois, uma forma de aprofundamento da

    democracia (Lima, 2002:122), no qual esto envolvidos inmeros agentes influenciadores, tais

    como a etnia/cultura, classes sociais, estrutura familiar, entre outros aspetos que devem ser

    aprofundados e desmistificados, partindo-se do principio que instituies, famlias e docentes

    devem envidar esforos para que as relaes de participao e envolvimento das famlias seja

    equilibrada e favorea primordialmente a criana.

    Para concluir, o que no se pode esquecer que dentro de um espao onde contactam

    uma panplia de culturas, tipos de famlias, nveis sociais e socioeconmicos, entre outros

    fatores preponderantes, que a escola, como Ramiro Marques (1997) refere: (...) visapotenciar o desenvolvimento mximo de todos, em ordem de capacitar para o exerccio de

    cidadania, uma ocupao, o a aprender a apreender e a realizao da felicidade e bem estar

    pessoais (1997:12).

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    Parte I

    1. Descrio dos contextos e Autodiagnstico

    1.1 Educao Pr-Escolar

    No mbito da Prtica de Ensino Supervisionada em Educao de Infncia e ao longo do

    estgio de interveno, frequentei o Jardim-de-Infncia do Vale de Santarm, situado no

    concelho de Santarm. Este estabelecimento de ensino pertence ao Agrupamento Alexandre

    Herculano e dispe de um edifcio no qual funciona a escola de 1 Ciclo do E.B. e um outro

    dedicado Educao Pr-Escolar, onde esto inseridas duas turmas de Pr-escolar,

    abrangendo, esta valncia, um total de 45 crianas, geridas por duas educadoras de infncia.

    Ainda a par disto, o espao fsico do JI e, mais particularmente, o espao interior dispe de duas

    salas de atividades divididas por reas, uma sala de componente de apoio famlia (CAF), duas

    arrecadaes, uma sala de professores e, finalmente, uma sala onde as crianas lancham e

    onde esto inseridas as casas de banho. Relativamente organizao do espao de sala de

    atividades e fazendo referncia ao Projeto Curricular de Grupoo mesmo salienta que a sala

    est organizada em funo das crianas, de forma a proporcionar-lhes uma maior autonomia,

    isto , pondo os materiais sua disposio e facilitando o seu acesso. (...) Est organizada por

    espaos de atividades distintas que proporcionam s crianas experincias diversificadas e

    momentos ldicos e de aprendizagem (PCG, 2012/2013:10). Isto mesmo demonstra que a

    organizao e gesto do espao teve em vista a explorao livre das crianas por forma a

    facilitar a aquisio de aprendizagens e fomentar um desenvolvimento cognitvo, relacional e

    emocional.J o espao exterior usado em articulao com o 1 Ciclo do E.B., sendo um espao

    amplo onde esto inseridos dois parques infantis, um campo de futebol, um parque de

    merendas e dois telheiros, um para as crianas do JI e outro para as do 1 Ciclo. A meu ver

    este espao exterior no dispe de muita segurana, nomeadamente no que respeita ao

    pavimento. Neste mbito a criana que se desloca em cadeira de rodas necessita de constante

    ajuda para se movimentar.

    Relativamente ao grupo de crianas, este formado por vinte crianas, das quais onze

    so do sexo masculino e nove so do sexo feminino, abrangendo idades entre os dois e os

    sete anos. O grupo inclui uma criana com NEEs, frequentando o JI com sete anos de idade

    uma vez que, segundo informaes fornecidas pelo relatrio circunstanciado da criana,

    ingressou no ensino pr-escolar em maro de 2011, aps um longo perodo de internamento

    devido a um acidente (...) do qual resultou um traumatismo vertebro medular (). Ainda a pardisto, apresenta um quadro de tetraplegia, deslocando-se numa cadeira de rodas e sendo

    completamente dependente nas atividades da vida diria.

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    Quanto s caractersticas do grupo, este caracteriza-se pela heterogeneidade no s

    respeitante ao sexo, mas similarmente no que respeita faixa etria, sendo que o grupo

    abrange sete crianas com dois/trs anos, sete crianas com quatro anos, cinco crianas com

    cincos anos de idade e, finalmente, uma criana com sete anos. Contiguamente a isto, o grupo

    com o qual intervenho muito homogneo relativamente nacionalidade, porm, apresenta

    algumas particularidades ao nvel da etnia, uma vez que num universo de vinte crianas, trs

    so de etnia cigana, cultura esta que proeminente dentro desta instituio.

    Ainda no que respeita aos interesses do grupo, e segundo o que tenho tido

    oportunidade de presenciar, este demonstrou uma grande satisfao em realizar atividades

    ligadas s expresses (musical, plsticas, motora e dramtica). Aspeto que esteve bastante

    presente nas atividades que eram desenvolvidas quer pela educadora cooperante, quer por

    mim e pelo meu par de estgio ao longo da interveno. A acrescer a isto, e por lidar com um

    grupo extremamente ativo, surgiu a necessidade de optar por atividades que os mantivessem

    constantemente ocupados de uma forma ldica, nas quais pude incrementar a aceitao de

    regras de funcionamento e o desenvolvimento da linguagem ao nvel pragmtico, fonolgico e

    lexical do grupo, particularmente nas crianas mais novas. Isto foi tambm mencionado no

    PCG no que concerne aos pontos fracos, sendo referido que embora a maioria do grupo seja

    expressivo e goste de comunicar, ainda se revelam crianas com pouca expressividade e

    pouco vocabulrio (PCG, 2012/2013:9).

    Tambm o ensino diferenciado foi outro ponto a salientar, uma vez que as atividades

    de ensino e aprendizagem devem partir dos interesses e necessidades das crianas,

    organizando-as de maneira que haja um grau de dificuldade e complexidade crescente

    (Manual da Educao Infantil, 2002:161). Isto fundamental porque as crianas com que

    contactei tinham graus de desenvolvimento e idades dspares, o que levava necessidade de

    proporcionar experincias de aprendizagem distintas. A acrescer a isto tornou-se ento

    necessrio focalizarmo-nos na () estimulao do desenvolvimento da autonomia, da

    interajuda, da socializao, do sentido de responsabilidade e de cidadania atravs da vivncia

    de regras democrticas" (Santana, 2009:31).Tambm ao longo da observao em contexto de JI fui sempre destacando o facto de

    a educadora ter o horrio letivo distribudo por momentos do dia, dedicando, segundo o PCG

    (2012/2013), a manh ao Acolhimento, Reunio em grande grupo, Hora de Trabalho (escolhido

    pela educadora ou cada criana), Arrumao, Higiene e Lanche, Brincar no exterior e Hora de

    trabalho; e a parte da tarde Leitura de uma histria em grande grupo, Hora de trabalho,

    Arrumao e Sntese do dia. Sendo assim, desde logo defini, em conjunto com o meu par

    pedaggico, que as planificaes deveriam seguir as rotinas dirias da forma mais fidedigna

    possvel. Este aspeto est presente ao longo da elaborao da planificaes dirias esemanais, procurando-se criar ritmos estruturados que correspondessem a um quotidiano

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    dentro da sala, sem descurar a flexibilidade necessria a um contexto que se pode tornar

    imprevisvel. Logo, citando o PCG: esta rotina pode sofrer alteraes, existe essa liberdade.

    Isso pode depender de propostas da educadora ou das crianas, modificando-se, desse modo,

    o quotidiano habitual (2012/2013:10). Estas mesmas modificaes no so fortuitas, tendo

    como grande objetivo responder s necessidades e interesses das crianas. neste sentido

    que estou consciente de que a etapa da educao infantil, as expectativas de ensino-

    aprendizagem organizam-se de maneira que possam favorecer o desenvolvimento correto da

    criana. Embora cada sistema educativo disponha da sua prpria organizao, o objetivo

    consistir em oferecer espaos de aprendizagem globalizados, com grande diversidade e

    multiplicidade de estmulos. (Manual da Educao Infantil, 2002:317). Refletindo sobre este

    aspeto, no posso deixar de salientar o quo positivo ter uma rotina previamente

    estabelecida, ainda que relativamente flexvel, no sendo s importante para o

    desenvolvimento da criana mas tambm para quem planifica as atividades, tornando-se um

    suporte para criar momentos ldicos e articulados entre si, focando sempre a criana como a

    principal conhecedora e construtora das suas aprendizagens. Isto vai ao encontro da citao:

    Cabe ao docente a tarefa de organizar as condies de vida escolar das

    crianas e, ao mesmo tempo, oferecer a possibilidade de estimular e favorecer os

    processos de ensino-aprendizagem. () o educador dever interagir com elas (as

    crianas), oferecendo a cada uma os apoios e estratgias para que sejam protagonistas

    da sua prpria aprendizagem (Manual da Educao Infantil, 2002:267).

    J refletindo, analogamente, sobre as atividades que eram desenvolvidas dentro da

    sala de atividades, a maior parte das mesmas eram feitas em grande grupo, todavia, quando

    se tratava de realizar atividades focalizadas, optava-se por dividir o grupo em pequenos grupos

    de acordo com a faixa etria, nvel de desenvolvimento da criana ou predisposio/interesse

    em realizar determinada atividade, distribuindo as crianas pelas reas de brincadeira e/ou

    pela mesa grande (dedicado a um trabalho direcionado e diferenciado). Isto vai ao encontro do

    PCG: Fomenta-se o trabalho em pequeno e grande grupo como facilitador da construosocial, cognitiva, verbal e simblica. O trabalho dual educadora/criana tambm

    evidenciado (2012/2013:10). A par do que j foi referido para que possa haver uma

    aprendizagem significativa e funcional, importante ter em conta a intencionalidade, a

    possibilidade e a vontade do aluno (Manual da Educao Infantil, 2002:267).

    No que respeita minha integrao na comunidade escolar esta pautou-se pela

    positiva. Desde que iniciei o estgio, incluindo a observao, foi de minha principal inteno

    criar um ambiente favorvel de respeito, cooperao e afetividade com a comunidade escolar.

    Neste mbito o meu desempenho em contexto de estgio, considerei-o bastante positivo querpara a minha aprendizagem, quer para a das crianas. A relao que fui construindo com o

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    grupo e com cada uma das crianas em particular foi-se mostrando muito enriquecedora na

    medida em que se foi tornando mais fcil chegar ao grupo e integr-lo nas atividades. Pelo que

    tambm fui evidenciando, as crianas mostraram-se entusiasmadas aquando da realizao das

    diversas atividades o que tambm denotou a relao de afetividade e simpatia que o grupo, no

    seu todo, nutria por mim. O crescente interesse nas atividades proporcionadas e

    operacionalizadas foi outro ponto a destacar. No entanto, isto no se deveu apenas

    cumplicidade que tinha com o grupo de crianas, mas tambm com a boa relao que

    estabeleci com o meu par de estgio, que nos permitiu entreajudarmos e cooperarmos

    mutuamente quer na definio do Projeto, quer na planificao das atividades, quer na

    interveno.

    A acrescer a isto mesmo surgiu a relao que mantive com a restante comunidade

    educativa. Desde logo, foi de minha inteno criar um bom ambiente dentro do contexto em

    que estava a estagiar, mostrando-me disponvel para cooperar e interagir com a educadora

    cooperante, com as assistentes operacionais e com a educadora da outra sala pertencente ao

    Jardim-de-Infncia. Relativamente educadora cooperante tenho a destacar o modo como me

    recebeu e apresentou ao grupo quando visitei o local de estgio antes da observao e

    interveno ser iniciada. Ainda neste mbito, a mesma muitas vezes tambm me auxiliou, a

    mim e ao meu par de estgio, no controlo do grupo e transmitiu-me at algumas aprendizagens

    nesse sentido, o que considerei importante durante a minha interveno. Tambm o facto de

    me ter fornecido algumas sugestes para proporcionar um ambiente mais ldico e

    enriquecedor no implementar das atividades se tornou essencial, promovendo sentimentos

    segurana e progressiva autonomia. J no caso das assistentes operacionais, a relao

    construda revelou-se a partir do auxlio mtuo que subsistiu durante os intervalos e o horrio

    de almoo, assim como na organizao dos espaos exteriores sala e que no se interligam

    diretamente com as atividades da mesma. Debruando-me igualmente sobre a outra

    educadora a lecionar no JI, por vezes procurou-se integrar o seu grupo nas nossas atividades,

    o que a mesma aceitou com agrado. O acolher de todas as crianas do JI nas atividades

    planeadas por ns deveu-se ao facto de, a meu ver, haver atividades que se interligavam e porisso mesmo foi importante focar o princpio da igualdade de oportunidades dentro de um

    espao comum. Para alm do referido, sei que a entreajuda entre crianas neste contexto

    fundamental. Por ltimo e no menos importante, a relao com os Encarregados de Educao

    demonstrou-se benfica, uma vez que os mesmos faziam questo de conversar e partilhar

    informaes, sobre o seu educando, no sentido de perceberem o seu comportamento dentro

    do contexto escolar ou dando a conhecer breves acontecimentos que surgiam no meio familiar.

    H ainda que aludir origem do tema do Projeto de Interveno. Depois da primeira

    semana de observao, em conjunto com o meu par de estgio, apercebi-me que a grandemaioria das crianas se envolvia muito bem nas atividades relacionadas com o Domnio das

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    Expresses, sendo desta forma uma potencialidade a aproveitar e a desenvolver nas crianas.

    A acrescer a isto mesmo, o crescimento foi outro aspeto que desde logo quisemos abordar,

    primeiro porque contactvamos com crianas muito ativas do ponto de vista motor e depois

    porque os hbitos de vida saudveis no que respeita a uma alimentao saudvel e os hbitos

    de higiene precisavam de ser predominantemente trabalhadas, por se relacionarem com

    fragilidades do grupo. Tambm os valores e afetos foram trabalhados com as crianas para

    que se consciencializassem de aspetos inerentes ao desenvolvimento emocional e vida em

    sociedade. A partir disto mesmo houve a necessidade de criar, planificar e dinamizar um

    conjunto de atividades que fossem ao encontro das reas das expresses e do conhecimento

    do mundo, procurando focar quer as fragilidades quer as potencialidades do grupo, com vista

    ao integral desenvolvimento de cada criana em particular. Neste sentido desenvolvemos ainda

    atividades sobre as questes de gnero ou explorao de obras de arte de pintores.

    De acordo com o diagnstico que fao da minha interveno e mais particularmente

    sobre os aspetos relativos s minhas competncias cientficas, curriculares, pedaggico-

    didticas e relacionais que considerei dominar melhor, penso que consegui chegar bem ao

    grupo do ponto de vista da sensibilidade e dos afetos, isto porque como futura educadora julgo

    ser fundamental ter em ateno aspetos como a afetividade com que lidamos com cada uma

    das crianas ou o acolhimento/acompanhamento que transmite sentimentos de segurana e

    por sua vez ajuda no desempenho do meu trabalho como transmissora de aprendizagens

    essenciais ao desenvolvimento da criana.

    Quanto aos aspetos que julgo precisarem de melhoria tenho a destacar o facto de

    muitas vezes no conseguir controlar/orientar, tanto como desejava, o comportamento do

    grupo. No obstante, estou ciente de que este aspeto se deve ao facto do grupo ser bastante

    ativo e por vezes no acatar as ordens primeira interveno, precisando de um

    acompanhamento constante da minha parte.

    Debruando-me agora sobre o grupo e a minha prpria atuao, tambm julgo

    importante focar o facto de inicialmente estar muito direcionada para uma vertente mais ligada

    aprendizagem em detrimento que me focalizar igualmente nos aspetos ldicos que podemacompanhar cada uma das atividades, mesmo tendo um carcter mais formal. Com isto no

    digo que descurei os momentos de ludicidade. Apenas me focava com maior veemncia na

    vertente mais ligada aprendizagem de contedos em vez de equilibrar os momentos de

    brincadeira aliados a momentos de aprendizagem. No obstante disto mesmo, estou

    empenhada no sentido de aprofundar e melhorar este aspeto num futuro prximo, isto porque

    o grande desafio que se coloca atualmente o de deixarmos de estar to preocupados em

    ensinar e o de criarmos, pelo contrrio, condies efetivas para que os alunos aprendam

    (Santana, 2009:30). Outro facto que me tem suscitado algumas dvidas e que pretendoaprofundar refere-se motivao. Apesar de estar ciente de que as crianas so diferentes,

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    reajustes das planificaes dirias e mais particularmente dos seus objetivos, indicadores de

    avaliao e atividades que levaram ao alargamento das aprendizagens significativas e ao

    desenvolvimento das crianas a diversos nveis (emocional, cognitivo, relacional, etc.).

    1.2. 1 Ciclo do Ensino Bsico

    No mbito do estgio de interveno em 1 Ciclo, frequentei uma turma do 2 ano de

    escolaridade do Centro Escolar Salgueiro Maia. Esta escola situa-se no concelho de Santarm e

    mais particularmente na freguesia de Jardim de Cima, sendo que esta freguesia da cidade de

    Santarm uma zona predominantemente habitacional e urbana, com boas acessibilidades e

    espaos comerciais, nas zonas perifricas.

    Este estabelecimento de ensino pertence ao agrupamento de Escolas S da Bandeira,

    acolhendo crianas de diversos pontos do concelho. A acrescer a isto, segundo o ProjetoCurricular de Escolas do Agrupamento, este centro escolar compreende quatro salas de jardim-

    de-infncia e oito salas de 1 ciclo do E.B.

    Quanto s instalaes interiores, para alm das salas 1 ciclo e Pr-escolar, inseridas

    num edifcio comum mas separadas por reas de ensino, este estabelecimento de ensino de

    Pr-escolar e 1 Ciclo do Ensino Bsico dispe ainda de uma biblioteca, um refeitrio, uma sala

    de computadores, elevador, casas de banho, uma sala de ensino especial/apoio educativo, um

    ginsio, uma receo, uma entrada ampla, uma sala de professores, uma para as assistentes

    operacionais, uma outra para a diretora da escola e ainda diversas salas de arrecadaes. J

    relativamente ao espao exterior, as crianas de Educao Pr-escolar tm uma zona de recreio

    distinta das de 1 Ciclo. Estas ltimas tm disposio uma rea ao ar livre nas traseiras do

    Centro Escolar, que inclui campos de jogos, uma zona de arcadas, bancadas e espaos verdes

    com relva e com pavimento cimentado. Na mesma linha de ideia, a grande maioria das reas

    oferece segurana no entanto alguns equipamentos no esto adequados altura das crianas.

    Tambm o facto das salas no terem ar condicionado e da sala ser bastante abafada perturba a

    concentrao das crianas.

    De acordo com informaes retiradas do PCE, o 1 ciclo do Centro Escolar Salgueiro

    Maia abrange um total de 164 alunos, dos quais vinte integravam a turma de 2 ano de

    escolaridade com a qual contactei. Este grupo incorporava dez crianas do sexo feminino e dez

    do masculino, sendo analogamente uma turma multietria, pois todos tm sete anos de idade,

    excepo de uma criana que tem oito anos, frequentando o 2 ano de escolaridade pela

    segunda vez consecutiva, isto porque, segundo o Projeto Curricular de Turma, esta criana

    apresentava falta de autonomia, dificuldades de ateno e concentrao e de reteno e

    aplicao dos conhecimentos. (...) com muitas dificuldades de ateno, concentrao, e no

    cumprimento das regras. Muita falta de autonomia (PCT, 2012/2013:7), requerendo apoio

    educativo por parte de um professor, ensino diferenciado e apoio individual com a professora

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    cooperante. A acrescer a isto mesmo, a turma integrava duas crianas do sexo feminino com

    Necessidades Educativas Especiais, uma com Spina Bfida, (desloca-se numa cadeira de

    rodas) e uma outra com hiperactividade e dfice de ateno. No que concerne criana com

    Spina Bfida , esta beneficia do art. 16 2 Dec. Lei 3/2008: a) Apoio pedaggico personalizado;

    b) Adequaes Curriculares Individuais; c) Adequaes no processo de avaliao (PCT,

    2012/2013:11).

    Dos pontos fortes destaco que todos os alunos integrantes da turma frequentaram o

    ensino Pr-escolar, tal como a maioria pertence a famlias com estrutura biparental (dezasseis

    alunos) sendo que apenas quatro esto integradas numa famlia monoparental. Em

    conformidade com os pontos mais favorveis, refere-se o interesse de algumas famlias quer

    pelo aproveitamento, quer pelo comportamento dos seus educandos; A maioria dos alunos so

    participativos, interessados e empenhados; Interesse pelas reas de Expresses; Interesse

    pela escola (PCT, 2012/2013:11). J os pontos fracos mais salientes pela professora

    cooperante so: Dificuldades que decorrem de fatores exteriores ao aluno e principalmente

    inerentes ao ambiente familiar; Alguma dificuldade, num pequeno grupo, em cumprir as regras,

    alguma falta de autonomia e de interesse e lentos na execuo das tarefas; Dificuldades de

    acompanhamento do processo educativo por parte da famlia (PCT, 2012/2013:11).

    Ainda no que respeita aos interesses e potencialidades da turma, de acordo com

    observaes e partindo de conversas informais quer com o meu par de estgio quer com a

    professora titular, esta evidencia bastante empenho e interesse em participar nas atividades

    que exigem participao oral em grande grupo. Tambm o Estudo do Meio uma rea de

    grande interesse, que foi aproveitada favoravelmente sempre em articulao com as restantes

    reas de contedo. A acrescer a isto mesmo o grupo evidencia-se por ser bastante ativo e

    interessado, demonstrando timas capacidades cognitivas, relacionais e afetivas. Este aspeto

    est percetvel nas atividades que foram propostas no decorrer do estgio, nas quais se

    procurou ir ao encontro dos interesses ao mesmo tempo que lhes importou proporcionar

    atividades ldicas, contextualizadas e estimulantes do ponto de vista cognitivo,

    essencialmente. Partindo disto mesmo e fazendo aluso s metas decretadas no PCT surge a(....) necessidade de desenvolver, nos alunos, um crescente domnio no mbito das tcnicas

    de trabalho individual, das quais destacamos: tcnicas de linguagem oral; de leitura e escrita;

    resoluo de problemas; hbitos e tcnicas de estudo. Esta preocupao visa incrementar nos

    alunos maior autonomia, esprito crtico e eficincia na resoluo das suas tarefas. Com o

    desenvolvimento de competncias de estudo, possvel aumentar a auto-estima e melhorar o

    processo educativo dos alunos (2012/2013:12). A minha atuao foi ao encontro de procurar

    que as crianas se desenvolvessem equilibradamente e construssem uma imagem positiva da

    escola baseada em aprendizagens significativas e com as quais se identificavam, no apenasem contexto escolar mas principalmente nas vivncias quotidianas. Isto passou por respeitar o

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    seu ritmo de aprendizagem e os seus conhecimentos prvios adquiridos num contexto prximo

    e familiar, adaptando-se a interveno a cada criana em particular, isto porque importou

    primordialmente levar a criana a construir as suas prprias aprendizagens com mediao e

    orientao. Ao j referido incluem-se algumas estratgias referidas no PCT: (...) incutir nos

    alunos um esprito de abertura e clima de vontade, aumentando os seus interesses e

    motivao pelas atividades escolares a desenvolver, tornando-os assim, membros ativos e

    participativos (...) (2012/2013:16).

    A associar a isto, surgiu a necessidade de escolher atividades estimulantes, nas quais

    se incrementaram a aceitao de regras de funcionamento, o respeito pelo prximo e pelas

    suas capacidades e caratersticas, o fomento do raciocnio lgico-matemtico, a motivao

    para participarem em atividades, a autonomia, a crescente aquisio e construo de

    conhecimentos e o desenvolvimento da linguagem ao nvel pragmtico, fonolgico e lexical,

    particularmente nas crianas com mais dificuldades cognitivas e/ou relacionais. Tudo isto vai

    igualmente ao encontro das metas definidas no PCE do Agrupamento S da Bandeira.

    Fazendo, ainda, referncia ao ensino diferenciado, o acompanhamento individual a trs

    crianas foi fundamental, dado apresentarem um baixo grau de autonomia na realizao da

    maioria das atividades e tendo dificuldade em acompanhar o restante grupo (principalmente a

    criana com Spina Bfida). Todavia, parte significativa do trabalho desenvolvido com estas

    crianas foi feita em articulao com professores de Ensino Especial ou exclusivamente por

    eles.

    No que respeita a minha integrao na comunidade escolar penso que esta se pautou

    pela positiva, uma vez que desde que integrei este contexto, o meu objetivo foi criar um

    ambiente favorvel de respeito, cooperao e apreo para com os intervenientes nesta

    instituio. Tambm h que referir que desde que integrei este estgio (particularmente na

    semana observao) interessei-me por explorar os espaos e recursos fsicos e humanos

    disposio, com vista a melhorar a minha integrao e possvel aproveitamento das

    potencialidades educativas dos mesmos.

    Desta integrao posso salientar a relao que construi com a professora titular deturma, que especialmente se pautou por ser favorvel e benfica para mim futuramente. Na

    mesma linha de ideia, aludo s estratgias que a docente disponibilizou para melhorar a minha

    interveno, havendo um suporte e uma preocupao pela minha aprendizagem. Ainda o facto

    de estarmos em constante contato, quer dentro da sala, quer fora, deu-me uma crescente

    confiana e ajudou-me a refletir sobre os aspetos bons e menos bons da minha interveno.

    Relativamente a isto, a meu ver a docente teve um papel bastante importante na

    ultrapassagem de alguns problemas ou dilemas decorrentes da minha prtica. Outro aspeto a

    salientar a comunicao que foi bastante pertinente para me auxiliar e orientar, com oobjetivo de me tornar progressivamente mais autnoma.

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    J no que concerne minha relao com as crianas julgo que s tive aspetos

    favorveis a referir isto porque as mesmas demonstraram perante mim bastante apreo,

    carinho e respeito, procurando-me sempre que surgia algum problema ou dvida e tentando

    sempre conquistar a ateno. Quanto ao trabalho desenvolvido, constatei que a adeso foi

    extremamente positiva, conseguindo-se depreender que a grande maioria aprendia e

    identificava-se com o que aprendia.

    Relativamente relao com os E.E., daqueles com que tive oportunidade de contactar,

    obtive um feedback bastante positivo, demonstrando interesse em tomar conhecimento das

    atividades desenvolvidas, assim como estiveram presentes quando convidados a assistir

    apresentao do projeto e do trabalho feito na Horta, para a qual alguns pais contriburam ao

    longo do estgio. Tomei, ainda, conhecimento numa das reunies de pais a que assisti que as

    crianas falavam com as famlias sobre as atividades implementadas, demonstrando a sua

    satisfao por as concretizar e, mais positivo ainda, comprovando que as aprendizagens que

    foram construindo eram significativas e que elas conseguiam-se rever nas mesmas.

    Em concluso, quanto s assistentes operacionais e restantes professoras, apenas

    contactei com as mesmas durante os intervalos. Tambm sempre que era necessrio algum

    tipo de auxilio, as mesmas mostravam-se disponveis e colaborativas, informando-nos do que

    eventualmente observavam.

    Fazendo referncia minha integrao nas rotinas da sala, o horrio dedicado a cada

    rea de contedo estava estruturado por perodos do dia e semana escolar. Partindo disto

    mesmo foi de minha inteno respeitar as rotinas da turma, o que a meu ver foi bastante

    pertinente, estando consciente de que houve necessidade de flexibilizar os horrios

    estabelecidos porque o grupo, e cada criana em particular, evidenciavam um ritmo trabalho

    caracterstico e algumas atividades, para resultarem como desejava, implicavam a dispensa de

    algum tempo extra para proporcionarem as aprendizagens significativas.

    Neste mbito, h que clarificar que a interveno se baseou quer nos interesses das

    crianas quer nos contedos programticos a desenvolver. Como tal, no se pde descurar o

    quo fundamental foi proporcionar um ambiente educativo sustentado, que fizesse sentido paraa criana no s dentro da escola, mas tambm nos diversos meios com que contactava e que

    a influenciavam. neste sentido que as planificaes elaboradas foram primordiais para refletir

    sobre o que se iria desenvolver, pensar que estratgias utilizar para uma melhor

    aprendizagem, como conduzir as atividades e o que se pretende desenvolver com as mesmas.

    Neste sentido a definio de objetivos foi fundamental, havendo sempre um encontro com o

    que estava previsto quer no PCT, quer nos Programas e Metas de Aprendizagem.

    No que concerne ao diagnstico que fao da minha interveno e mais particularmente

    sobre os aspetos relativos s minhas competncias cientficas, curriculares, pedaggico-didticas e relacionais que considerei dominar melhor penso que me mostrei uma pessoa que

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    do ponto de vista relacional consegui interagir bem com as crianas, transmitindo-lhes

    sentimentos de confiana e afetividade e procurando que elas se sentissem vontade aquando

    da realizao das atividades mas que ao mesmo tempo compreendessem e soubessem

    adequar o comportamento ao contexto onde estavam inseridos. Tambm outra caracterstica

    focada foi o facto de planificar atividades que conjugassem e aliassem o ldico a uma vertente

    mais formal da aprendizagem, o que para mim essencial para que as crianas se empenhem

    e se identifiquem com as atividades e respetivos contedos, sentindo prazer em realiz-las e

    conseguindo, ao mesmo tempo, articul-las com situaes reais e vividas. A meu ver este

    equilbrio fundamental.

    Debruando-me, tambm, sobre os aspetos menos positivos no posso deixar de referir

    a questo da gesto do tempo que tentei continuamente aprimorar. Refletindo sobre a minha

    interveno, tive bastantes dificuldades em gerir o tempo porque para alm de no conseguir

    avaliar como desejava o ritmo de trabalho de cada criana, acabei sempre por planificar

    atividades em demasia o que me deixa frustrada por no conseguir ainda ajustar a quantidade

    de atividades planeadas ao ritmo real da turma. Todavia, estou consciente de que esta

    fragilidade ultrapassvel com o tempo e experincia, medida que for conhecendo melhor os

    grupos/turmas com os quais contactarei futuramente. Como estratgia para resolver este

    dilema adotei fichas de trabalho complementar para as crianas que acabavam uma

    determinada atividade antes das restantes.

    Perspetivando atuaes futuras, tambm julgo que o facto de organizar as crianas por

    grupos de nvel me ajudar a ultrapassar esta questo, planificando-se atividades semelhantes

    para cada grupo mas adequadas ao seu ritmo de trabalho e de forma a que as crianas

    desenvolvam todas as mesmas competncias. Ainda relativamente aos pontos fracos, julgo

    que a minha timidez influenciou o modo como controlei e orientei a turma. No entanto, este

    outro aspeto que pretendo aperfeioar enquanto futura professora/educadora noutro contexto

    e, acima de tudo, quando a experincia me permitir refletir e analisar as situaes de uma

    forma mais crtica e fundamentada.

    Quanto aos aspetos concretos da realidade observada que me tenham suscitadoquestes e que considere que devo aprofundar, posso referir o trabalho individualizado e o

    modo como se articula a necessidade de estarmos individualmente com uma criana, que por

    exemplo tenha dificuldades ou NEEs, enquanto as restantes esto a realizar uma atividade,

    necessitando igualmente de apoio e ateno. Aqui surge outra questo que no posso

    descurar e que devo promover a autonomia. Decorrente da minha prtica pedaggica, posso

    afirmar que a falta de autonomia na realizao das atividades foi uma constante, qual dei

    enfoque e procurei operacionalizar estratgias que permitissem criana fazer o que era

    proposto autonomamente, sem solicitar constantemente a presena de um adulto que a auxiliee a faa sentir confiante na realizao das atividades.

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    Outro aspeto que creio ser importante refletir o facto de as crianas sentirem

    necessidade de se levantarem e movimentarem sem razo aparente e em momentos menos

    oportunos das atividades e tarefas que foram sendo desenvolvidas. Para colmatar isto

    considerei necessrio a busca e implementao de estratgias reguladoras do comportamento

    das crianas, o melhoramento do modo como implementava as atividades e a viso e

    interpretao que eu tinha desses mesmos comportamentos. Isto para no sentir a

    necessidade de abolir algumas atividades que a meu ver resultavam menos bem devido

    postura que adotavam, mas que tm bastante potencial e se podem tornar bastante

    enriquecedoras. Neste sentido, penso que (...) a aprendizagem pela ao fundamental ao

    completo desenvolvimento do potencial humano, e (...) a aprendizagem ativa ocorre de forma

    mais eficaz em contextos que providenciam oportunidades de aprendizagem adequadas do

    ponto de vista do desenvolvimento (Hohmann & Weikart, 2011:19).

    Aludindo s situaes pedaggico-didticas em que me senti mais -vontade e

    confiante, posso referir que me sinti particularmente vontade na rea da matemtica e na

    implementao de atividades experimentais. Refiro-me a estas ltimas por fomentarem nas

    crianas uma motivao acrescida decorrente do fator surpresa e do grau de praticidade que

    as atividades experimentais suscitavam, promovendo um crescente sentido de

    responsabilidade, competncia e autonomia.

    J refletindo sobre as minhas experincias prvias posso destacar a Expresso Plstica

    que uma rea que me suscita interesse em trabalhar. Tambm a rea de Estudo do Meio,

    nesta turma em concreto, foi relevante na medida em que se tornou uma rea para as quais as

    crianas sentiram a necessidade de exporem os seus conhecimentos prvios para contriburem

    para as conversas em grande grupo, por exemplo. Desta forma as atividades relacionadas com

    esta rea de contedo tiveram um grau de aceitao bastante elevado, fazendo-me por si s

    sentir mais vontade. neste sentido que me propus, durante as minhas intervenes, a

    alimentar esta motivao que as crianas tinham para aprender, envolvendo e articulando as

    reas e contedos pelos quais no nutriam tanto interesse com as que mais gostavam, com

    vista a integrar cada criana nas atividades planificadas e ao mesmo tempo motivando-as aparticiparem e construrem aprendizagens enriquecedoras.

    Ao invs das situaes pedaggico-didticas em que me senti mais -vontade, surgem

    aquelas em que senti mais dificuldade. Estas relacionaram-se especialmente com a gesto do

    tempo, acerca do qual fui pensando e definindo estratgias para ultrapassar esta dificuldade,

    primeiro elaborando fichas com uma menor quantidade de exerccios propostos e depois

    tentando contabilizar o tempo necessrio para cada atividade, fazendo-a eu tambm

    previamente. Relativamente s atividades que exigiam participao oral, estas no impunham

    muitos problemas na gesto do tempo, no entanto nas que eram referentes a um nvel depraticidade mais elevado (ex. reas das Expresses), procurei distribuir as tarefas por grupos,

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    rodando-as para que todas as crianas pudessem participar em todos os momentos. Outro

    aspeto a ressalvar foi o trabalho em pequenos grupos ou a pares que no 1 Ciclo no tm tanta

    relevncia em comparao com outros nveis de ensino. Isto aconteceu na minha prpria

    prtica ao elaborar fichas de trabalho sobre os contedos a serem trabalhados. No entanto, e

    como a meu ver o processo de ensino-aprendizagem exige a partilha de conhecimentos e uma

    reflexo conjunta, procurei sempre definir estratgias que visassem isto mesmo, ou seja, que

    levassem as crianas a serem (...) capazes de estabelecer relaes eficazes com outras

    crianas e com os adultos, e de trabalhar em grupo (Siraj-Blatchford, 2007:157). Neste mbito

    no posso deixar de citar Perrenoud, sobre a importncia da escola como um espao

    fundamentalmente social e construtor de aprendizagens:

    (...) insistir sobre a construo progressiva dos conhecimentos e do saber-fazer

    (...) atravs das interaes sociais (...) privilegiar competncias funcionais e globais por

    oposio s aquisies conceptuais e aos saberes fragmentados (...) abrir a escola

    vida, assentar as aprendizagens escolares em experincias do quotidiano, das

    vivncias dos alunos (...) atribuir uma maior importncia aos aspetos cooperativos do

    trabalho escolar e ao funcionamento do grupo-turma, por oposio s tarefas

    estritamente individuais (...) atribuir uma maior importncia educao e ao

    desenvolvimento () " (Perrenoud, 1995:128).

    Evidenciando a minha capacidade de planificar a interveno pedaggico-didtica, posso

    destacar que deste cedo consegui organizar e definir as planificaes como ambicionei e como

    a professora titular me foi solicitando. Antes de mais porque procurei definir objetivos que

    fossem ao encontro das necessidades e interesses das crianas e depois porque as

    estratgias incluram quase tudo aquilo que era suposto fazer, contemplando os aspetos mais

    importantes e prevendo possveis situaes decorrentes da prtica. Deste modo, o que importa

    que (...) os alunos tenham a oportunidade de viver situaes estimulantes de trabalho

    escolar que vo da atividade fsica e da manipulao dos objetos e meios didticos,

    descoberta permanente de novos percursos e de outros saberes (Ministrio da Educao,2004:23). Tambm a consulta dos documentos orientadores, como os programas, as metas de

    aprendizagem, o PCT e o PCE foram essenciais para a definio e ajustamento do que

    pretendi desenvolver nas crianas e com as crianas.

    Abordando igualmente os critrios de avaliao, estes adequaram-se realidade que vivi e

    aos objetivos curriculares definidos pelos documentos orientadores (como os programas,

    metas curriculares, etc.), partindo-se do pressuposto de que dificilmente consegui avaliar tudo

    o que pretendia e a que muitas vezes me prupunha. Isto tambm vai ao encontro da seguinte

    citao: Um planeamento e uma avaliao eficazes so interdependentes. O planeamento temvalor quando influenciado por uma avaliao sistemtica do que foi aprendido e ensinado e a

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    avaliao sobretudo importante quando influencia o que planeado (Siraj-Blatchford,

    2007:21).

    Em jeito de concluses finais e fazendo uma breve avaliao minha interveno penso

    que adequei, de forma positiva e sustentvel, as atividades, os contedos e os objetivos

    pedaggicos s aprendizagens, capacidades e interesses das crianas, procurando no s

    proporcionar uma construo do conhecimento baseada em aspetos que sejam significativos e

    passveis de ser vividos noutros contextos pela criana mas tambm integrados numa vertente

    de cidadania e democrtica na qual as crianas tinham uma palavra a dizer sobre o que

    gostavam ou no e porqu, podendo igualmente sugerir atividades e dialogar sobre as

    mesmas. Neste sentido, houve sempre um interesse em (...) estabelecer um modelo de

    enquadramento aberto, flexvel e operacional que apoie uma educao apropriada do ponto

    de vista desenvolvimentista em diversos contextos e ambientes (Hohmann & Weikart,

    2011:18-19). Mas, em articulao com isto mesmo, tambm possam desenvolver-se a si

    mesmas enquanto seres sociais, defendendo-se a ideia de que (...) o processo de

    desenvolvimento pessoal e social das crianas , essencialmente, interativo, envolvendo

    relaes e interaes com outras pessoas (Siraj-Blatchford, 2007:144). Isto esteve muito

    presente nas atividades em grande grupo, que se relacionavam quase sempre com temas

    pelos quais as crianas nutriam interesse e que exigiam uma participao partilhada e uma

    troca de ideias, fomentando-se igualmente o respeito pela opinio dos outros. A partir disto

    mesmo o meu trabalho de interveno, partiu do que as crianas j sabiam para lhes alargar os

    conhecimentos a outros nveis mais alargados, pois, as atividades de ensino e aprendizagem

    devem partir dos interesses e necessidades das crianas, organizando-as de maneira que haja

    um grau de dificuldade e complexidade crescente (Manual da Educao Infantil, 2002:161).

    1.3. Creche

    No decorrer do estgio de interveno em Creche estive integrada na sala de um ano,

    do Jardim Infantil do Milagre do Centro Social Inter-Paroquial de Santarm.

    Este Jardim-de-Infncia localiza-se na freguesia de Marvila e pertence ao concelho deSantarm, situando-se na zona histrica desta cidade, junto igreja do Milagre. A par disto, este

    encontra-se numa zona predominantemente urbana, dispe de excelentes acessibilidades e

    servios. Este estabelecimento de ensino pertence a uma entidade denominada Centro Social e

    Inter-Paroquial de Santarm (CSIS), de carcter religioso, de solidariedade social e sem fins

    lucrativos, tendo cinco unidades disseminadas pela cidade de Santarm e periferia, sendo uma

    delas o Jardim Infantil do Milagreou Unidade Padre Manuel Francisco Borges.

    A unidade educativa onde estive inserida abrange crianas de diversos pontos do

    concelho de Santarm, mas principalmente das reas habitacionais mais centrais ou contguas.A acrescer a isto mesmo, esta escola abarca crianas em idade Pr-escolar e de Creche, ou

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    seja dos 0 aos 6 anos inclusive. Desta forma, no que respeita valncia de Creche, esta

    incorpora duas salas de Berrio, duas salas de 1 ano, duas salas de 2 anos e uma sala

    heterognea (de 1 e 2 anos). J o Pr-escolar inclui duas salas de 3 anos, duas salas de 4 anos

    e duas salas de 5 anos. J as salas de Creche tm cada, uma educadora responsvel e uma

    ajudante de Ao Educativa.

    Quanto ao nmero de crianas, esta unidade abarca 241 crianas nas diversas

    valncias que faculta, das quais dezoito se encontram no Berrio, 79 so de Creche e, para

    finalizar, 144 crianas so do Pr-escolar.

    J no que diz respeito s instalaes interiores, para alm das salas de Berrio/Creche

    e Educao Pr-escolar, inseridas num edifcio comum mas separadas por valncias, situadas

    em andares dispares, este estabelecimento compreende ainda uma biblioteca, uma cozinha

    que confeciona as refeies, um refeitrio, diversas casas de banho, uma sala para os

    elementos da direo, um ginsio, uma entrada ampla, duas salas de refeies para a creche e

    salas de arrumao para os funcionrios. J quanto ao espao exterior, as crianas de

    Educao Pr-escolar tm duas zonas de recreio exclusivas para essa valncia, uma vez que

    as crianas de Creche no se deslocam ao exterior.

    Ainda de acordo com os recursos materiais e reas que a Unidade ministra, a grande

    maioria oferece segurana. Tambm os materiais didticos e a organizao dos mesmos na

    sala e dos espaos so um ponto forte a destacar, uma vez que estes se adequavam aos

    interesses das crianas e ao seu nvel de desenvolvimento cognitivo e motor. Por isto mesmo,

    estes ambientes deveriam refletir as necessidades desenvolvimentais das crianas no tocante

    sua segurana e adaptao aos objetivos, e deveriam refletir tambm a necessidade que as

    crianas tm de brincar sem interferncia abusiva dos adultos (Spodek, 2010:713). Tambm o

    espao disponvel e o facto da sala ser ampla e relativamente desocupada, facilita a criana que

    est a aprender a deslocar-se no espao e a observar o que se vai passando sua volta

    proporcionando a explorao e a aquisio da marcha (objetivo desta faixa etria). A acrescer a

    isto, o facto de ter acesso visual a tudo o que a rodeia permitia-lhe fazer escolhas sociais mas

    tambm pessoais, procurando os seus pares, elegendo onde e com quem quer estar e fazendouma seleo do que quer utilizar para brincar e explorar.

    Quanto aos pontos mais desfavorveis h que referir que o facto das salas de Creche se

    encontrarem no primeiro andar do edifcio sem elevador, isto dificultou e, at, inibiu os

    intervenientes educativos de conduzirem as crianas aos espaos exteriores de recreio, pois o

    seu transporte e acompanhamento tornava-se perigoso e propicio a acidentes.

    O grupo com o qual contactei, pertencente a uma das salas de um ano, incluia

    dezasseis crianas, dos nove eram do sexo feminino e os restantes sete do sexo masculino,

    tratando-se um grupo unitario. Apesar disto, o grupo era bastante heterogneo, tendo

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    crianas com nveis de desenvolvimento bastante diferenciados de acordo com a estimulao

    recebida em casa e com a discrepncia de meses.

    No mbito da caracterizao do grupo tambm delimitei alguns pontos menos

    favorveis ao desenvolvimento equilibrado de cada criana podendo-os destacar como a falta

    de autonomia e de motivao observada em algumas crianas e, ao nvel da famlia, a falta de

    acompanhamento do processo desenvolvimental e consequentemente a carncia de estmulos

    sensrio-motores, lingusticos e cognitivos e oportunidades de explorao das suas reais

    capacidades e do meio que a rodeia, sendo estes aspetos exteriores criana mas que

    interferem diretamente sobre ela e no seu processo de ensino-aprendizagem. Neste mbito,

    enquanto futura educadora, proponho me a ter um desempenho profissional que favorea o

    envolvimento das famlias no desenvolvimento dos filhos, tal como refere Gabriela Portugal

    (2012), so necessrios:

    Educadores sensveis e calorosos, estimulantes e promotores de autonomia,

    com formao especifica sobre o desenvolvimento e caractersticas da criana muito

    pequena, que compreendam a importncia das relaes precoces e sejam capazes de

    estabelecer verdadeiras parcerias com as famlias (2012:7).

    Ainda no que respeita aos interesses e potencialidades do grupo, este demonstrou ser

    interessado em atividades de explorao e aliadas ao ldico, quer livres, quer dirigidas,

    evidenciando ser ativo e de fcil motivao, demonstrando boas capacidades cognitivas,

    relacionais e afetivas. As atividades dirigidas tinham por parte das crianas mais velhas um

    elevado grau de aceitao e envolvimento e as livres eram, particularmente, do interesse mas

    mais novas que gostavam de explorar e observar tudo o que as rodeava, alheando-se um

    pouco s intervenes do adulto.

    A minha atuao foi, assim, no sentido de procurar que as crianas se desenvolvessem

    equilibradamente e construssem uma imagem positiva de si mesmos, sentindo confiana para

    explorarem o meio envolvente, para adquirirem progressivamente a marcha e aperfeioarem a

    preciso dos movimentos (desenvolvimento motor) e que atingissem novas conquistas nalinguagem, tendo confiana para explorar e praticar os sons da lngua. Por isto mesmo

    interessou-me, reverenciar o seu ritmo de aprendizagem e os seus conhecimentos prvios

    adquiridos no seu contexto mais prximo e familiar. Na mesma linha de ideia irrefutvel que,

    nestas primeiras idades, o acompanhamento e o proporcionar de experincias a titulo individual

    esteja patente, devido discrepncia existente no grupo no que concerne ao nvel de

    desenvolvimento em que cada criana ou grupo de crianas se encontram. Por isto mesmo, a

    autora Gabriela Portugal refere que as prticas pedaggicas devem acima de tudo assentar em

    (...) atitudes de respeito, compreenso e empatia, muita flexibilidade para responder s

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    Tambm a vinda de alguns pais sala foi um momento importante. O envolvimento e

    relao que demonstraram ter com todas as crianas (no s com os seus filhos) foi um aspeto

    que eu destaquei como positivo. Estas atividades tornaram-se fundamentais para os pais

    conhecerem as dinmicas de sala e para depositarem confiana em mim, e no meu par de

    estgio, enquanto estagirias e futuras educadoras, que tinham a importante funo de cuidar

    e educar os seus filhos fora do contexto familiar.

    Para concluir, a divulgao final do nosso projeto, atravs de uma manh aberta onde

    expusemos fotografias, atividades, trabalhos elaborados e construes foi o culminar de uma

    interveno que considerei primordial para a minha formao e construo profissional. A

    presena da grande maioria dos pais (e com isto destaco a presena de ambos os membros do

    casal em diversos casos), foi algo que me deixou bastante satisfeita e com o sentimento de

    que no podamos ter terminado da melhor maneira. Este final feliz, levou-me a construir um

    nova imagem dos pais, tambm influenciados pelo modo como me relacionei com as famlias

    no dia-a-dia (nomeadamente durante o acolhimento) e como os integrei na vida da creche,

    destacando sempre que estas conquistas foram feitas com o meu par de estgio. O -vontade

    em que falavam sobre os seus educandos, o interesse crescente por observarem o que estava

    exposto, no qual integrmos no s resultados mas tambm processos, atravs de fotografias

    do desenrolar das atividades.

    Segundo o Projeto Toddler (2012):(...) os centros educativos para a infncia, e em particular no contextos de

    creche em que a questo do envolvimento parental se torna ainda mais evidente,

    deveriam poder adotar uma perspetiva em que todos os participantes (famlias,

    crianas, educadores) so efetivamente envolvidos e igualmente valorizados num

    verdadeiro dilogo construtivo e emancipador da criana (2012:140).

    Aludindo minha integrao nas rotinas do grupo, posso referir que estas estavam

    bastante presentes neste contexto educativo e nas prticas quotidianas por isto mesmo surgiu

    a necessidade de as cumprir com algum afinco, uma vez que nesta faixa etria a maioria serefere satisfao das necessidades bsicas como a higiene, o repouso e a alimentao.

    Flexibilizar difcil devido ao ritmo institudo no contexto familiar e na creche, que por vezes

    dissemelhante. Post & Hohmann defendem que:

    As equipas de educadores infantis procuram fazer uma programao diria

    que seja previsvel organizada e consistente e, no entanto, suficientemente flexvel

    para se acomodar s necessidades de cada criana. Os educadores, semelhana das

    crianas precisam de saber o decurso do dia em termos genricos (o que acontecer a

    seguir) e de ter a capacidade de modificar a sucesso geral dos acontecimentos parase adaptar s diversas necessidades de sono, alimentao e higiene (2011:197).

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    O diagnstico que fao da minha interveno e mais concretamente dos aspetos

    relativos s minhas competncias cientficas, curriculares, pedaggico-didticas e relacionais

    que considerei dominar melhor, tenho a referir que, na valncia Creche, me vejo como uma

    pessoa que do ponto de vista relacional consegui interagir de forma benfica e bastante

    positiva com o grupo. Isto revelou-se ao nvel da sensibilidade, do respeito pelas suas reais

    capacidades e afabilidade que fui transmitindo a cada criana, fomentando-lhes uma crescente

    confiana em mim, enquanto adulto que lhes proporciona momentos de explorao e

    aprendizagem. Desta relao com as crianas julgo que s tive aspetos compassivos a apontar

    dado as mesmas demonstrarem um sentimento de confiana, afetividade e respeito por mim,

    solicitando a minha ateno e interveno quando tinham necessidade. Neste sentido

    considerei fundamental (...) oferecer atividades s crianas que apoiem a autonomia e

    autoestima, sem esquecer que na sua procura por independncia e autoconfiana as crianas

    necessitam de oportunidades para fazerem escolhas significativas, necessitando da ateno e

    compreenso de adultos carinhosos (Portugal, 2012:11). Por isto mesmo, as atividades

    dinamizadas gozaram de uma excelente adeso, especialmente por parte das crianas mais

    velhas.

    Deste modo, e mais uma vez por me relacionar com um grupo de crianas com um forte

    mpeto exploratrio e, na sua maioria, motivadas e estimuladas no seu contexto familiar, surgiu

    a necessidade de selecionar atividades que fomentassem o respeito pelos pares, a motivao

    para participarem nos diversos momentos, a crescente autonomia e o desenvolvimento da

    linguagem (ao nvel pragmtico, lexical, sinttico e fonolgico) e motor.

    Ainda quanto minha relao com cada criana irrefutvel que houve a criao de

    um vnculo adulto-criana, favorvel, no s, realizao das atividades propostas e dirigidas

    mas, acima de tudo, bastante benfico para o desenvolvimento da criana a nvel pessoal e

    social, durante a interao com os pares e a explorao livre do espao. Isto encontrou-se

    patente na procura constante que a grande maioria das crianas evidenciou face a mim,

    procurando o conforto e afeto em situaes de conflito ou carncia de ateno mas tambmaquando de dinamizar as atividades onde as crianas demonstraram interesse em interagir

    comigo e mostrar-me as suas conquistas e descobertas para alm da grande maioria das

    mesmas gostar de observar e participar nas atividades que apresentei, mediei ou dinamizei, o

    que, significa que as crianas gostavam e lhes atribuam sentido.

    Outro aspeto a evidenciar o facto de planificar e dinamizar atividades que apelaram

    ao fator surpresa. Por isso, neste contexto importou o aproximar do que palpvel, existente e

    visvel para a criana em detrimento das aprendizagens escolarizantes que apelam a um grau

    de abstrao que no acessvel nestas idades. As atividades que fui propondo tinham assimcomo propsito a articulao com aspetos e elementos do quotidiano da criana que fossem

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    vividas pela mesma no s no contexto de creche mas tambm familiar. Isto porque as

    crianas:

    Adquirem conhecimento experimentando ativamente o mundo sua volta

    escolhendo, explorando, manipulando, praticando, transformando, fazendo

    experincias. A amplitude e a profundidade da compreenso que a criana tem do

    mundo est em constante mudana e expande-se como resultado das suas interaes

    do dia-a-dia (Post & Hohmann, 2011:1).

    Referindo-me aos aspetos menos positivos h que aludir ao controlo do grupo. Com isto

    quero dizer que focar a ateno de algumas crianas em determinada atividade dirigida por

    vezes tornou-se complicado. Refletindo um pouco sobre isto, o que depreendi foi que a criana

    ou no se identificava com o que estava a ser feito ou a estratgia e o tipo de atividade no era

    a mais adequada. Ambas as hipteses foram viveis pois contactei com um grupo que

    apresentava nveis de desenvolvimento bastante dispares entre si. Estando consciente de que

    nem sempre possvel chegar a todos, o meu esforo focou-se na busca de estratgias que

    se adequassem ao maior nmero de crianas e das quais elas pudessem tirar aprendizagens e

    experincias benficas. Por isto mesmo, estou consciente de que embora seja um desafio

    organizar um programa destinado a vrias crianas, os benefcios que da resultam so

    imensos (Post & Hohmann, 2011:195).

    Ainda no que respeita ao controlo do grupo mas por um lado antagnico, foi-me difcil

    realizar as atividades de carcter individual com as restantes crianas a querem interferir nessa

    mesma atividade para participarem. Implementei diversas estratgias como dialogar,

    explicando que era a vez do amigo ou cantar para o grupo, contudo julgo que este tipo de

    regras nestas idades ainda no faz sentido pois as crianas esto mais focadas em fazer o que

    lhes suscita interesse.

    Tambm o adequar das minhas intervenes ao nvel de desenvolvimento foi um ponto

    que fui aprimorando. O primeiro impacto foi, a meu ver, descontextualizado e apercebi-me

    desde cedo que no iria resultar como tinha pensado. Refletindo posteriormente sobre a prticaapercebi-me de que tinha planificado algo desfasado das capacidades das crianas, por isso

    mesmo a ateno das mesmas dispersou-se e precisei de pensar num recurso para colmatar a

    situao. Esta situao levou-me e, futuramente, ir levar-me a definir melhor as minhas

    estratgias e a pensar no que realmente importante do ponto de vista da criana, em

    detrimento de considerar apenas o que eu quero executar.

    Quanto a mim, enquanto estagiria, julgo que tenho que me tornar progressivamente

    mais confiante nos meus desempenhos. A par disto, o que se sucede que s vezes penso

    sobre a prtica e questiono-me se o que implementei fez sentido para cada criana, pois osfrutos da prtica, nesta faixa etria, no so visveis no imediato, na maioria das crianas.

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    Porm com o tempo fui-me sentindo mais segura de mim mesma e para colmatar este meu

    conflito interno, procurei, durante a brincadeira livre ou as rotinas, dialogar com as crianas

    com o intuito de perceber o que reteram, ainda que nem sempre o feedback fosse o que

    pretendia.

    Debruando-me ainda sobre os aspetos da realidade observada que me tenham

    suscitado questes e que considere que devo aprofundar futuramente, julgo que a gesto de

    conflitos entre os pares um bom ponto de partida para perceber o desenvolvimento da

    criana, no s a nvel pessoal mas tambm individual. Quando expus este assunto numa

    reunio de superviso, fui alertada para o facto dos conflitos que se iam sucedendo por causa

    do egocentrismo normal nestas idades, no poderem ser vistos apenas como algo negativo

    mas tambm como algo que nos remete para uma evoluo na maturidade da criana, pois

    demonstra terem a capacidade de se afirmar e evidenciar vontade prpria. Devido a isto

    mesmo num clima apoiante os adultos sabem que os desejos das crianas esto ligados a

    conflitos e que os incidentes como estes so ocorrncias naturais (Hohmann & Weikart,

    2011:89). Por esta questo ser dilemtica, proponho-me a aprofundar esta questo durante a

    prtica, a partir da experincia que vou ganhando em contacto com o meio e a partir de

    reflexes com outros intervenientes educativos.

    Debruando-me sobre as situaes pedaggico-didticas em que me senti mais -

    vontade e confiante, posso aludir s atividades que se referiam as coisas simples do quotidiano

    da criana, que esta pudesse sentir/manipular e com o qual contactasse com frequncia.

    volta disto surgiu a preservao do fator surpresa durante as intervenes, o que favoreceu a

    motivao e o interesse pelo que estava a ser feito e dinamizado. Tambm as atividades feitas

    individualmente em que o fruto destas fosse visvel, so promotoras de competncia e

    autonomia. Exemplo disto so as atividades expresso plstica/artstica, onde, quase sempre,

    a criana tinha uma participao singular e pde observar o que resultou o seu trabalho,

    apreciando-o e sentindo-se responsvel pela sua produo artstica. Posto isto, a Expresso

    Plstica foi uma rea que me interessou desenvolver com alguma regularidade. A acrescer, a

    expresso motora foi uma rea de desenvolvimento a que as crianas reagiam bem edemonstravam motivao para participar. exceo disto, esta rea acarretou bastantes

    aspetos favorveis ao desenvolvimento integral e equilibrado da criana, pois para alm de a

    ajudar a adquirir um conjunto de competncias prprias do seu estdio de desenvolvimento e

    da sua faixa etria como a aquisio da marcha, a preciso e agilidade nos movimentos, a

    coordenao motora, o desenvolvimento da motricidade fina e global, etc., pode ainda

    socializar com outras crianas e compreender a importncia do respeito pelo prximo. Para

    ultimar, s reas de maior interesse para as crianas foi de minha inteno articular as

    restantes reas de desenvolvimento, mesmo apesar de no haver reas que as crianas no

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    gostem ou no se empenhem, dependendo, sim, da dinamizao e estratgia utilizada por

    parte do adulto.

    Em detrimento das situaes pedaggico-didticas em que me senti mais segura e

    confiante, existem aquelas em que senti mais relutncia aquando da prtica. Destas posso

    referir especialmente as atividades que fomentavam a ateno das crianas e que as

    motivavam a participar. O que se sucedia que quase sempre as crianas iam observando e

    at demonstravam algum interesse durante as atividades dirigidas, porm quando interpeladas

    retraiam-se o que me levou a crer que provavelmente uma metodologia mais individualizada e

    assente num momento mais informal como a brincadeira livre se tornava mais benfica.

    Tambm a adequao das atividades em grande grupo a todas as crianas foi algo que me

    suscitou alguns dilemas e dificuldades. Pensar em atividades, definir estratgias e implement-

    las com o intuito de agradar ao grupo no seu todo (que por sinal se caracteriza por ser bastante

    dispare ao nvel do desenvolvimento) foi algo que me provocou algumas interrogaes e por

    vezes frustraes, pelo menos nas primeiras intervenes individuais. O que fui fazendo para

    melhorar este aspeto foi pensar em atividades que tivessem um carcter misterioso ou at

    mgico e diferente daquilo a que esto habituadas, para que o interesse fosse

    constantemente estimulado e as crianas retessem e relembrassem o que haviam observado

    em creche, para mais tarde interligarem com as aprendizagens mais formais feitas noutros

    contextos escolares posteriores. O que aqui estava implicado que as atividades propostas

    fizessem sentido para cada criana e que se interligassem a aspetos do quotidiano ou que

    correspondam s necessidades e interesses.

    Quando a aspetos a focar e a progredir enquanto futura profissional, menciono o

    desenvolvimento da linguagem no-verbal e verbal com as crianas que ainda no conseguem

    articular os sons da lngua para vocalizar palavras mas tambm alargar o reportrio lingustico

    das crianas que j falam e fazem-se compreender a partir da linguagem verbal. Este um

    aspeto que quero incrementar com maior veemncia e melhorar na minha prtica futura e

    inclusive durante as rotinas e as atividades dirigidas, pois tornam-se importantes para cada

    criana e para mim enquanto profissional progressivamente mais competente nos meusdesempenhos. Para atingir isto, partindo deste estgio, conclui que os momentos de higiene

    so bastante propcios ao dilogo com cada criana individualmente tal como as atividades

    (mediadas ou livres) de explorao de objetos e sentimentos imediatos e/ou que faam parte

    das vivncias das crianas. Para finalizar, tambm foi do meu interesse alargar as formas de

    organizao do grupo a outros nveis. At ao momento, as atividades em grande grupo e

    individuais tinham tido um grande relevo, porm experimentar outras formas de organizao do

    grupo como selecionar grupos de interesse ou por nveis de desenvolvimento foi algo que

    experimentei, posteriormente, com bastante sucesso.

  • 8/12/2019 Relatorio Mestrado: Diversidade de Relaes Escola-Famlia e Mecanismos de Envolvimento nas Dinmicas Escola

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    Salientando a capacidade de planificar a interveno pedaggico-didtica, tenho a

    referir que, mais uma vez, consegui organizar e definir as planificaes como ambicionei,

    procurando no descurar os parmetros que poderiam guiar as minhas prticas. Ao invs do

    que aconteceu em planificaes de outros contextos, eu e o meu par de estgio, sentimos a

    necessidade de acrescentar mais dois parmetros que faziam todo o sentido nesta valncia: o

    seguimento da atividade e o apoio do adulto. Estes permitiram-nos pensar melhor sobre as

    nossas estratgias, ajudando tambm a definir objetivos adequados ao grupo, dado estes

    estarem em conformidade com as suas reais capacidades, interesses e necessidades. Ainda

    de acordo com isto mesmo, segundo Siraj-Blatchford (2004), para criar e desenvolver um

    currculo slido, os docentes tm de estar bem informados no que diz respeito ao

    desenvolvimento e cultura infantis e tambm relativamente s matrias e s formas

    apropriadas de ensinar crianas pequenas, de modo a que todas as crianas, no seu prprio

    contexto, possam ter acesso ao currculo (2004:10).

    Como no existem documentos oficiais orientadores da prtica pedaggica para esta

    valncia, a psicologia e a pedagogia tiveram um papel fundamental a acrescer aos documentos

    referenciados pela segurana social. Todavia o que fui experienciando na prtica e o contexto

    onde me inseri tiveram um papel fundamental na definio dos objetivos a atingir e dos

    parmetros a avaliar. Mais uma vez estes objetivos e parmetros no foram estanques e

    imutveis, carecendo de modificaes de acordo com as