Revelação 272

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Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 09 à 15 de dezembro de 2003

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Newton Luís Mamede

2 9 a 15 de dezembro de 2003

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba ([email protected])

Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) Diretor doCurso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Karla Borges ([email protected]) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Neirimar deCastilho Ferreira ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Analista de Sistemas: Tatiane Oliveira Alves ([email protected]) • • •Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica ImprimaFale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected] - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Maria MontandonEspecial para o Revelação

No dia 9 de dezembro, terça-feira, a Uni-versidade de Uberaba (Uniube) estará fazen-do o lançamento da sexta edição da RevistaJurídica UNIJUS, periódico que edita em con-vênio com o Ministério Publico de Minas Ge-rais, por meio do seu Curso de Direito.

A UNIJUS foi criada com a aspiração dese tornar um espaço destinado à publicaçãode matérias jurídicas de teor acadêmico, dou-trinário e profissional. Mas sobretudo, com opropósito de dar visibilidade à produ-ção intelectual dos seus professores de Direitoem um diálogo juridico-teórico com os paresdo Ministério Publico, buscando um perfil depublicação diferenciado.

No lançamento, o reitor da Uniube, Mar-celo Palmério, apresentará o volume 6 da re-vista, convidando os seus parceiros para co-memorar a realização de um projeto pioneiroe que tem rendido muitos dividendos para asduas vertentes envolvidas

Lançamento da revista será realizadono Anfiteatro da Biblioteca Central,no dia 9 de dezembro (terça-feira), às 20h30

Uniube lança 6ª ediçãode revista jurídica

As relações humanas são regidas, sempre,por uma forte dose de subjetividade e deemoção, mesmo quando se trata de merasrelações de trabalho. Por mais objetivos quesejam, os interlocutores nunca perdem o traçoda subjetividade, pela simples razão de seremdois sujeitos interagindo, dois sujeitos falandoe ouvindo, emitindo e recebendo mensagens.Na condição de sujeito, cada interlocutor éum universo de sentimentos e de emoções.Ao emitir conceitos e interpretar os fatos, eleo faz conforme sua personalidade, suamentalidade, seus pontos-de-vista, suasemoções, isto é, conforme o seu eu. Por isso,a função da lingua-gem centrada noemissor é a funçãoemotiva, como o sa-bemos pela teoria dacomunicação.

Todavia, a subje-tividade ocorre tam-bém quando o mesmoemissor passa para acondição de receptor. Embora a funçãopredominante deixe de ser a emotiva, ela nãoestá ausente na forma de receber a mensagem,pois o interlocutor-receptor também o fazconforme o seu eu, de acordo com suamaneira pessoal de ver e sentir o mundo e oshomens. Nisso reside a complexidade dacomunicação humana.

O magistério é essencialmente umaprática de comunicação, de intercomunicação,de interlocução. Professor e alunos sãoemissores e receptores. São os sujeitos dacomunicação. No exercício do magistério, nauniversidade inclusive, a comunicação nãopode ser unilateral, com o predomínio apenasde um dos interlocutores, o professor. Mesmosendo o regente da aula, o seu responsávelprofissional, ele não pode quebrar a correntede comunicação entre ele e os alunos, ou daintercomunicação, tornando-se o únicoemissor. A comunicação unilateral não é aula,é palestra, ou conferência, ou informaçãonoticiosa de rádio e de televisão, em que

apenas um fala, apenas um emite. Na aula, aintercomunicação é uma constante alternânciade emissores e de receptores. O professor éemissor e receptor, o aluno é receptor e emissor.

Na aula, a complexidade da comunicaçãoaumenta sensivelmente, pois um dosinterlocutores, e também um dos emissores,não é apenas um indivíduo, apenas umapessoa: é o conjunto dos alunos, é a classetoda. Por isso, o professor não pode “criar”segmentos de alunos, priorizando uns epreterindo outros. A classe constitui-se dediferentes universos de emoções e desentimentos. Ao assumir a responsabilidade

de ministrar umadisciplina para deter-minada série, de de-terminado curso, oprofessor tem sob seucomando a classe in-teira, com uma com-plexidade enorme depessoas, de consci-ências, de mentali-

dades e, principalmente, de inteligências, comdiversificados níveis de compreensão e deprontidão para a aprendizagem. E a eficáciada intercomunicação, na sala de aula, somentese realizará de forma plena se atingir toda aturma, toda a classe.

A subjetividade de que tratamos logo noinício não pode ser direcionada nemsegmentada pelo professor, no trato com aturma, com a totalidade dos alunos. Nãofalamos da subjetividade no sentido afetivo ede preferência pessoal, ou de simpatia pordeterminados assuntos e por determinadaspessoas. Nesse caso, deixa de ser subjetivi-dade, para se tornar discriminação. A subjeti-vidade correta da comunicação, em aula, é ada interação de sujeitos, com igualdade deoportunidades e de atenção. Oportunidadesiguais para manifestar-se: para falar e paraouvir, para emitir e para receber mensagens.

Newton Luís Mamede é Ombudsman daUniversidade de Uberaba

Professor e aluno:sujeitos interlocutores

A comunicação unilateral não éaula, é palestra, ou conferência,ou informação noticiosa de rádioe de televisão, em que apenasum fala, apenas um emite

O Revelação desta semana aborda umainiciativa pioneira em Minas Gerais. OProjeto Veredas - Formação Superior deProfessores, planejado e implantado pelaSecretaria de Estado da Educação de MinasGerais (SEE-MG), tem como objetivocapacitar professores das séries iniciais doensino fundamental, da rede estadual emunicipal, que estão em efetivo exercício eainda não possuem curso superior. O Projetotem como lema “promover a educação para avida, com dignidade e esperança”.

O Veredas é um curso Normal Superiorministrado na modalidade de educação àdistância, com momentos presenciais, e estásendo desenvolvido em parceria cominstituições de ensino superior, denominadasAgências de Formação (AFORs). Acaracterística essencial da educação àdistância é o fato de o aluno e o professor nãose encontrarem juntos, face a face, como nasituação usual de sala de aula. Porém, alémdas atividades auto-instrucionais, há,periodicamente, encontros, oficinas, debates

e atividades culturais que propiciam odesenvolvimento de competênciasnecessárias para o trabalho coletivo e aampliação dos horizontes pessoais eprofissionais dos professores cursistas.

Para encerrar não poderíamos deixar decomentar neste editorial sobre duas notíciasque comoveram o curso de ComunicaçãoSocial da Uniube. Preparávamos esta ediçãoquando recebemos a notícia do falecimentode Gaspar Marcelino da Silva, pai daprofessora e supervisora da Central deProdução, Alzira Borges.

O segundo acontecimento foi muitoassustador. Trata-se da morte do aluno destauniversidade, Reginaldo Martins PradoJúnior, que foi brutalmente assassinado dentrode sua residência por sequestradores queraptaram o seu irmão, Fabrício.

Nós, alunos do 6º período de Jornalismo,deixamos nossas condolências aos familiaresdeste jovem assassinado assim como a nossaquerida professora Alzira. Que Deus ilumine-os com toda fraternidade divina.

Projeto inova na formaçãode professores

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Gasto anual médio por aluno no BrasilRede Pública Municipal (ensino fundamental) R$718,00Rede Pública Estadual (ensino fundamental) R$622,00Rede Pública Estadual (ensino médio) R$609,00Rede Pública Federal (ensino médio) R$2.240,00Universidade Estadual R$8.566,00Universidade Federal R$11.992,00Bolsista da CAPES no exterior US$22.1* Gastos não incluem pagamentos a inativos/pensionistas (dados 1999)Fonte: Documento do 9º Fórum Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

É necessário discutir os “famigerados200 dias letivos”, cuja estrutura levaprofessores a se desdobraremfora do horário de serviço parapreparar aulas e corrigir provas

Naturalização da desigualdadeé o que há de mais escandalosona História. E infelizmente,essa distribuição de migalhaspersiste nas políticas públicas

Simpósio discuteeducação para a cidadania

André Azevedo da Fonseca4º período de Jornalismo

“Ninguém ensina nada a ninguém; todosaprendemos juntos em um processo”. Comesta frase atribuída a Paulo Freire, o deputadoestadual Adelmo Carneiro Leão (PT) abriu oPrimeiro Simpósio de Educação para aCidadania, realizado no dia 1º de dezembrono Centro Cultural Cecília Palmério.

Nesse dia, estudantes, educadores e po-líticos do Partido dos Trabalhadores (PT)discutiram formasde transformar aspráticas de educa-ção para que pos-sam, de fato, cons-truir um país livree soberano. Adel-mo defendeu que,se o crime organi-zado conseguiu se infiltrar em todos ossegmentos sociais, como na política, nojudiciário e na polícia, a sociedade é igual-mente capaz de se organizar em redes desolidariedade. E evidentemente, a educaçãose coloca como um instrumento fundamentalpara o desenvolvimento da consciência críticae consolidação plena da democracia.

A primeira rodada de discussões analisouo tema “a democracratização da educaçãobrasileira: da educação básica à superior –novos tempos em tempo presente”. Ogeógrafo e professor universitário, RenatoMuniz Barreto de Carvalho, iniciou os debateslançando uma série de questões: “Que escolaqueremos? Quando podemos dizer que oaluno aprendeu? O professor tem o poder deabrir a cabeça do aluno?” Para ele, deixar deidentificar os problemas inviabiliza o avançodas políticas educacionais.

Renato Muniz observou que adminis-tradores chegaram a atribuir o fracasso do sis-tema de ensino à falta de espaço físico (salas,

prédios), de materiais básicos (cadernos,uniformes), de merenda, ou até mesmo aopróprio desinteresse dos alunos. No entanto,apesar de todas essas questões seremimportantes, ele acredita que o problemacrucial “é a desvalorização do educador”.

Ele lembrou que há anos os professoresnão têm mais a primazia sobre a formaçãointelectual do cidadão. Hoje as informaçõescirculam sobretudo na imprensa, nas ONGse nos novos meios de comunicação. Mas sepor um lado essa profusão de conhecimento

é importante, aomesmo tempo le-vou ao fortaleci-mento de uma cul-tura extremamenteindividualista. As-sim, para ele, umdos papéis funda-mentais dos educa-

dores – profissionais cuja atribuição inerenteé pensar o conhecimento junto aos alunos – éfortalecer a concepção comunitária doconhecimento. “A essência do professor é umprojeto coletivo”, defendeu.

O geógrafo afirmou que os professores sãohoje uma categoria profissional extremamentedesvalorizada. Os currículos disciplinares, porexemplo, são elaborados em instânciasnacionais, de forma que os educadores nãoparticipam, ou sequer são ouvidos nos pro-cessos de decisão. Diante as diretrizes total-mente impostas, ao professor de hoje restaapenas obedecer. Além disso, essa usurpaçãode sua autonomia em relação aos própriosconteúdos de sala-de-aula o desqualifica e oaliena.

Muniz acredita que é urgente colocar empauta as discussões sobre os “famigerados200 dias letivos”, cuja estrutura leva profes-sores a se desdobrarem em casa, fora dohorário de serviço, para preparar aulas,elaborar provas e corrigir trabalhos. Para ele,

escola “não é extensão do lar, nem igreja”,da mesma forma que professores “não são tiosou tias, e nem estão nos colégios por sacer-dócio”. Ele defendeu que professores devemter consciência de seus direitos de trabalha-dores e lutar por condições de emprego quenão os desqualifiquem como profissionais.

Educação eapartheid socialO assessor espe-

cial do Ministério daEducação (MEC),Edson Pistori, contouum caso que presen-ciou em Brasília parailustrar o grau de desi-gualdade da sociedade e, consequentemete,da educação brasileira: dois jovens de classemédia-alta compraram um lanche noMcDonald’s e saíram no carro importado,vagarosamente. Dois garotos pobres, quemendigavam na porta da lanchonete, pedirama eles algumas batatinhas fritas. Os quedirigiam passaram então, divertidamente, ajogar as batatatinhas no chão, uma a uma,fazendo uma trilha no asfalto, enquanto ospequenos mendigos, feito dois cães, seguiam

o carro, recolhendo-as do chão e comendo.Algumas pessoas que viam a cena lamen-tavam a falta de dignidade dos quatro envol-vidos. Outras se divertiam com o caso. Osgarotos pobres pareciam aceitar a humilhaçãocom naturalidade, pois toparam a“brincadeira” e prosseguiram recolhendo emastigando as batatas do asfalto. Para Pistori,

a naturalização dadesigualdade é o quehá de mais escan-daloso na história. Einfelizmente, essa dis-tribuição de migalhaspersiste nas políticaspúblicas.

Segundo ele, naformação educacional de um jovem de classemédia alta, do primário ao ensino superior,gasta-se em média, entre despesas públicas eparticulares, 200 mil reais. Para jovens pobres,a média de gasto é de 8 mil reais, na maioriarecursos públicos. Esse é outro dado do quePistori chama de “apartação”, que, como oapartheid da África do Sul, divide de formabrutal as oportunidades entre as classes.

O representante do MEC afirmou que oMinistro da Educação, Cristóvão Buarque,

Estudantes, educadores e políticos debatem estratégias para a construção da escola democrática

Inclusão social

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tem lutado por verbas e defendido a idéia deque “sem escola é impossível um país sedesenvolver”. [A propósito, no decorrer doano, o ministro já se pronunciou diversasvezes sobre o contingenciamento de verbasrealizado pelo próprio governo Lula, que tempriorizado metas de superávit primário,adiando investi-mentos na educa-ção e outras áreassociais. Alguns dospronunciamentoscausaram incômo-do no chamado nú-cleo duro do go-verno.]

Pistori contouque, nos anos 70, a Espanha, a Irlanda e aCoréia tinham patamares educacionais muitosemelhantes ao Brasil. No entanto, em ummomento de sua história, os políticos dessespaíses decidiram fazer um “pacto nacionalpela educação”. Isto significava que, adespeito das discordâncias partidárias ouideológicas, todos os governantes e legis-

ladores concordariam com a premissa de queo investimento em educação é prioritário.Assim, comprometeram-se a aumentargradativamente os gastos, independente dasalternâncias de poder, e a prosseguir naspolíticas de educação, encarando-as comoquestão de Estado. Hoje, os três países são

considerados de-senvolvidos, comestruturas educa-cionais avançadase populações alta-mente escolari-zadas.

“O Brasil pre-cisa fazer um gran-de pacto pela edu-

cação”, afirmou. Ele acredita que esse pactopode ser realizado em Uberaba. Pistorisugeriu que os políticos da cidade, de todosos partidos, se reúnam, reconheçam a urgênciaem aumentar os gastos com educação eacertem planos para os próximos 15 anos.Uma utopia e tanto, haja visto o nível dedisputas políticas entre lideranças regionais,

mesmo entre companheiros da mesmalegenda, como é o caso do próprio PT local.Um pacto assim não sai do papel se nãohouver pressão popular.

O representante do MEC falou tambémsobre os programas e projetos do ministério,como o Escola Ideal, que promete prestarassistência especial,primeiramente a 100municípios, paraque sejam efetiva-das políticas deensino exemplares,com todas as crian-ças das cidades naescola e todos osadultos alfabeti-zados. Segundo Pistori, a promessa dogoverno é estender o programa a milmunicípios, até o final do governo Lula.

Em relação à valorização dos professores,Pistori falou sobre três planos do governo. Oprimeiro trata-se da criação do ExameNacional de Certificação, uma provavoluntária que os professores podem fazer e,

se alcançarem boa pontuação, recebemautomaticamente um bônus mensal no salário.A segunda é uma linha de crédito da CaixaEconômica Federal que, a partir de fevereiro,promete financiar casa própria paraprofessores, com juros subsidiados pelogoverno. A terceira será um programa de

turismo facilitadopara a categoria.

Metas deeducaçãoO professor e

deputado federalGilmar Machado(PT-MG) lembrou daimportância da valo-

rização de todos os profissionais envolvidoscom a educação, que vão de professores esupervisores aos técnicos e zeladores. Elelembrou também que a educação é um direitosocial garantido constitucionalmente. Assim,cabe ao legislador fiscalizar as políticaspúblicas, sobretudo as metas do PlanoNacional de Educação (PNE), sancionado em

Para guardar e cobrar dos governantes

Cabe ao legislador fiscalizar aspolíticas públicas, sobretudo asmetas do Plano Nacional de Educação,sancionado em 2001, e que em9 de janeiro completa três anos

Metas educacionais do Brasil1. 100% das crianças até 14 anos na escola até 20062. 100% das crianças até 17 anos na escola até 20103. Abolição do trabalho infantil até 20064.Abolição da prostituição infantil até 20065.O Brasil alfabetizado até 20066.Toda criança alfabetizada até os dez anos de idade até 20067.95% das crianças terminando a 4ª série até 20108.80% das crianças terminando a 8ª série até 20109.80% dos jovens até 17 anos concluindo o ensino médio até 201510.O Brasil ocupando posições de destaque noPrograma Internacional de Avaliação dos Estudantes até 201511.Toda escola de ensino fundamental com horário integral até 201012.Toda escola de ensino médio com horário integral até 201513.Novo ensino profissionalizante implantado até 200414.Garantia de matrícula para toda criança a partir dos 4 anos até 200615.Toda criança de 0 a 3 anos com apoio nutricional e assistência pedagógico até 200616.Todo professor com formação adequada até 200617. Implantação do Programa de Valorização e Formação do Professor até 200318.Duplicação do salário médio do professor até 200719.Definição de piso salarial do professor até 200320.Criação do Fundeb até 200421.Ampliação do valor do Fundef até 200322.Implantação do Sistema Brasileiro de Formação do Professor até 200423.Toda escola recuperada nas suas instalações físicascom o prédio em boa qualidade até 201024.Toda escola equipada com equipamentos modernose totalmente incluida digitalmente até 201025.Definição de um novo projeto para a universidade brasileira até 200326.Ampliação da autonomia das universidades federais até 200327.Criação do PAE, o novo FIES até 200328.Recuperação do Sistema de Hospitais Universitários até 200529.Preenchimento das vagas ociosas e aumento

do número de vagas nas universidades até 200330.Implantação da Universidade Aberta do Brasil até 200331.Abolição de toda desigualdade da renda, de classe, de gênero,de região, de raça e de deficiência física no acesso à educação até 2015

Disponível em: <http://www.mec.gov.br/acs/pdf/metas.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2003.

Pistori sugeriu que se discutissemfuturamente a união entre a UFU ea Universidade de Saúde, criandoassim, em vez de duas, umagrande universidade regional

Cada ano a mais na escolarida-de de uma pessoa aumenta seusalário em 12%, em média. Setodos os brasileiros tivessemum ano a mais de escolarida-de, em poucos anos o PIB po-deria crescer entre 6% e 8%

Fonte: Documento do 9º Fórum Nacionaldos Dirigentes Municipais de Educação

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A segunda rodada de discussões tevecomo tema “a educação como mobilidadesocial e a construção da cidadania”. O doutorem Educação e professor da Faculdade deEducação da UFU, Marcelo Soares PereiraSilva, questionou os obstáculos que a atualestrutura econômica oferece ao exercício dademocracia. Observando que dez empresassozinhas controlam a exploração de petróleono planeta; que apenas quatro dominam aprodução mun-dial de pneus; eque apenas umadetém a patentedas caixinhastetrapark (aque-las de leites tipol o n g a - v i d a ) ,questionou: “co-mo pensar na ci-dadania numa sociedade transnacio-nalizada?”, ou seja: “quando o cidadão podemesmo influenciar e participar de formaefetiva dos rumos da cidade?”.

Para ele, é preciso que as reivindicaçõessuperem os interesses individuais e passem avislumbrar os direitos coletivos, “ou corremoso risco de ver os direitos sendo colocadoscomo benefícios”. Para ele, é fundamentalfazer a distinção, pois possibilitar a todos avivência plena da cidadania é um dever doEstado, uma premissa básica da democracia,e não um benefício adicional.

Além disso, afirmou que a educação nãopode ser tratada como um comércio cujoobjetivo é simplesmente “atender às neces-sidades da clientela”, fazendo dos estudantesmeros fregueses. Ele defendeu que garantiros direitos de cidadão não consiste apenas na

transformação do indivíduo em consumidor,mas vai muito além disso. Para ele cidadaniasignifica “o direito de sermos agentes daprópria história”, ou seja, sujeitos plenamentecapazes de participar dos rumos da sociedade.

Assim, Marcelo Soares acredita que parase construiur uma educação cidadã éfundamental trabalhar para o fortalecimentodas instâncias colegiadas e dos conselhosmunicipais de educação.

Os colegia-dos são órgãosformados pordiversos repre-sentantes dainstituição deensino. Suasatribuições in-cluem parece-res sobre as-

pectos relativos ao curso, tais como alteraçõescurriculares, critérios de avaliação, etc. Já osconselhos municipais são formados por re-presentantes do governo e da sociedade, e têm

entre seus objetivos o estabelecimento de umfórum de discussão para influir na elaboraçãodo plano municipal de educação. Além disso,os conselhos também acompanham efiscalizam a aplicação dos recursos públicosda área. Portanto, a idéia é que a democraciase fortale quando são abertos os canais departicipação para a comunidade: ao convidaro cidadão a participar e assumir respon-sabilidades nas políticas de educação, cria-seuma cultura propíciaao desenvolvimentoda cidadania.

No entanto, opróprio Soares obser-vou que os pais dei-xam de participardas reuniões porquemuitos colegiadosviraram “espaços dereferendar aquilo que á foi deliberado”. Paraele, é preciso recuperar o sentido das orga-nizações coletivas.

O ex-secretário municipal de educação e

Cidadania não significa apenas o direito de consumir

2001, e que em 9 de janeiro completa trêsanos. “Como anda o cumprimento dessasmetas?”, questionou (veja as metas no quadroda pág. 4). “Para ele, essa cobrança deve sefeita por toda a sociedade. “É precisoconhecer a legislação e fazer com que ela sejacumprida”.

O deputado defendeu a regularização dofluxo escolar, argumen-tando que a atual dis-torção na relação entreidade e série cursadadeve ser resolvida. Deacordo com o docu-mento É possível umBrasil bem educado,divulgado no 9º Fórumnacional dos dirigentes municipais deeducação, citando dados do Inep, se nenhumacriança fosse repetente (em 2002 foram 8milhões), o Brasil pouparia cerca de R$8bilhões por ano. No entanto, Machado disseque o atual modelo de promoção automática

não funcionou, e deve ser discutido.O deputado defendeu também que a futura

Universidade Federal de Saúde do TriânguloMineiro, uma ampliação da atual Faculdadede Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM),cujo projeto já chegou na Câmara dosDeputados, tem o dever de servir toda aregião, e não se ater apenas a comunidade de

Uberaba. O assessorespecial do MEC, EdsonPistori, sugeriu quefuturamente se discutis-sem a união entre a Uni-versidade Federal deUberlândia (UFU) e aUniversidade Federal deSaúde, criando assim, em

vez de duas, uma grande universidaderegional – provavelmente a segunda maior dointerior do país. Adelmo disse que essadiscussão é válida, mas desde que não criequalquer obstáculo para o atual estágio detransformação da FMTM em universidade.

É preciso que as reivindicações superemos interesses individuais e passema vislumbrar os direitos coletivos,“ou corremos o risco de ver os direitossendo colocados como benefícios”

Se nenhuma criança fosserepetente (em 2002 foram8 milhões), o Brasil poupariacerca de R$8 bilhões por ano

Para se construiur uma educaçãocidadã é fundamental trabalharpara o fortalecimento das instânciascolegiadas e dos conselhosmunicipais de educação

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Para alfabetizar todos os adultos analfabetos, o custo será de R$450 milhões/ano durante quatroanos, e a renda brasileira crescerá em R$5 bilhões por ano daí para frente

Fonte: Dados do PNAD e estudo de Ricardo Paes de Barros

Estudantes não devem ser tratados como clientes ou fregueses, mas como cidadãos plenos

A pesquisa Perfil social, racial e degênero das 500 maiores empresas do Brasil,coordenada pelo Instituto Ethos, mostra queo mundo empresarial ainda é dos homensbrancos e com alto grau de instrução.Mulheres e negros não têm a mesmaequivalência no mercado de trabalhoempresarial brasileiro. Em cargos de altahierarquia, a situação é ainda maisdisparatada. Apenas 1,8% dos negros e 9%das mulheres estão em cargos de diretoria.

atual secretário dos direitos da cidadania daprefeitura de Belo Horizonte, Antônio Davidde Souza Júnior, alertou que ainda prevaleceno senso comum a idéia de cidadania comouma construção que só será materializada nofuturo. Mas para ele, a cidadania deve serexercida como uma ação já no presente. É aprópria experiência da instalação de um espaçode convivência democrático que promove acultura cidadã.

A professora ecoordenadora doprograma de Edu-cação à Distânciada Universidade deUberaba (Uniube),Ivanilda Barbosa,disse que o pro-cesso de educação émuito mais com-

plexo que a educação escolar. Para ela, épreciso pensar de que forma a uni-versalização do ensino vai respeitar asespecificidades regionais. “Não vejo outraalternativa a não ser despir de pre-conceitos”. Com isso, ela quis dizer quepercebe na comunidade acadêmica umclima de preconceito por parte dosprofessores de instituições públicas emrelação aos do ensino privado.

Em relação à diversidade, a professoratambém não deixou de mencionar que, nopróprio Simpósio de Educação para aCidadania, ela era a única mulher convidadaentre sete homens, contrastando com aporcentagem de mulheres do público, que eravisivelmente bem maior. Isso mostra queainda há muito a se fazer pela universalizaçãoda cidadania.

A pesquisa mostra que a quase totalidadedos diretores (97,2%) e a maioria absolutados gerentes (81,5%) possuem formaçãosuperior. “Apesar da clara correlação entrenível hierárquico e grau de formação,verifica-se que há 2% dos diretores e 14,5%dos gerentes no nível médio e 0,8% dosdiretores e 4% dos gerentes no fundamental.”Por outro lado, mais da metade dossupervisores e um quarto do quadro funcionaltêm formação superior.

Homens brancos dominam mundo empresarialQuase totalidade dos diretores (97,2%) possuem formação superior

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Fábio Luís da Costa3º Período de Jornalismo

Os professores de 1ª a 4ª série do ensinofundamental que não possuíam formação su-perior contam há aproximadamente dois anoscom a possibilidade de adquirirem uma espe-cialização.

Através do Projeto Veredas – FormaçãoSuperior de Professores,14 mil professores dasredes municipal e estadual de ensino se forma-rão no curso de Normal Superior.

O curso teve início no dia 25 de fevereirode 2002, com a aula Magna do Secretário daEducação Murílio Hingel, realizada no Gran-de Teatro do Palácio das Artes, em Belo Hori-zonte, com a presença de dois mil cursistas.

Durante a aula, o secretário fez um brevepanorama do contexto histórico do país e asperspectivas da Educação para o século 21,citando o escritor colombiano Gabriel GarcíaMarquez: “ não esperamos nada do século 21,é o século 21 que espera tudo de nós” e com-pletou reforçando a idéia de que, “se quere-mos um mundo melhor, uma sociedade semexclusões, respeito às diferenças étnicas e re-ligiosas, nós temos que construí-los.”

Além de outras reflexões feitas, o secretá-rio terminou sua apresentação com um recadopara os professores cursitas do Veredas: “aEscola Sagarana se preocupa com o ser huma-no que precisa aprender a viver e a conviver,ser um cidadão consciente de sua dupla rela-ção com o regional e o global. E o que se espe-ra do educador deste novo século é que ele aju-de a formar um cidadão que compreenda omundo em que vive.”

Uniube e VeredasDiante dessa precisão em formar profissi-

onais, a Uniube fez parceira com o governo doEstado para formar os professores. Para os en-contros mensais, astutoras viajam até ascidades de Betim,Contagem e Ibirité– todas pertencentesa grande Belo Hori-zonte. Além disso, acada seis meses, o Veredas realiza um encon-tro especial com duração de uma semana. Ati-vidades lúdicas, palestras, mesas redondas ediscussão faz-se presentes nos encontros.

A tutora Gláucia Resende Araújo, enfatizaa importância desses encontros. “ É um encon-

tro árduo, cansativo, no entanto, compensató-rio, pois é mais um obstáculo que nós conse-guimos superar”, concluiu.

Esses encontros têm o intuito de sanar aspossíveis dúvidas que os cursistas tenham, alémde verificar os trabalhos e exercícios feitos. A

Uniube conta com41 tutoras que ge-renciam essas cida-des, com cerca de615 alunos selecio-nados para participa-rem do programa.

O Revelação acompanhou alguns encon-tros com as tutoras e cursistas do dia 20 ao 23de novembro. A felicidade dos cursistas ao nosreceber para analisar os trabalhos realizadoscom os alunos foi fantástica. A cada cidade vi-sitada, histórias e casos diversos. Foram vári-

os trabalhos desenvolvidos. Na cidade deBetim, houve uma mostra a partir da releiturade alguns pintores consagrados como Picasso,Portinari, Tarcila de Amaral, entre outros.

Esta releitura foi executada com os alunoscom o objetivo de melhorar a socialização. Asobras de artes realiza-das em escolas de bair-ros periféricos da cida-de teve um grande re-conhecimento por par-te da comunidade. Ascursistas da cidade deContagem escolheram homenagear CândidoPortinari que comemora seu centenário nestemês.

Analisar os quadros, fazer comentários etextos para expressar o sentimento erudito decada criança, foi uma das formas encontradas

pela professora cursista Cássia Cristina. Segun-do Cássia, trabalhar Cândido Portinari é umaforma de retratar a preocupação que o pintortinha com a injustiça social, o que está muitopresente no nosso tempo. “ Trabalhamos a sub-jetividade a partir das obras de Portinari. Com o

tema Idosos, as crian-ças retrataram a respon-sabilidade de cuidarbem dessas pessoas”

A concepção queos alunos tiveram apartir das obras de

Portinari foi a visão que o pintor retratava, amiséria do Brasil: os retirantes, a desigualda-de e a injustiça social. Cássia diz ainda que aauto-estima das crianças melhorou, pois elasnão sabiam que eram capazes de criar verda-deiras obras primas, além de proporcionar um

Vanguarda na educaçãoMinas Gerais inova com formação superior de professores no ensino fundamental

Veredas

“Se queremos um mundo melhor,uma sociedade sem exclusões,respeito às diferenças étnicas ereligiosas, nós temos que construí-lo”

“O que se espera do educadordeste novo século é que eleajude a formar um cidadão quecompreenda o mundo em que vive”

Da esq. p/ dir.: Brígida Madel (coordenadora do processo de avaliação) , Marisa, Lêda, Sônia (cursistas), Edna Luz (tutora),Regina e Mariazinha (cursistas) Ao fundo, trabalhos das cursistas realizados sob inspiração da obra de Portinari

Fábio Luís da CostaFábio Luís da CostaFábio Luís da CostaFábio Luís da CostaFábio Luís da Costa

4 9 a 15 de dezembro de 2003

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trabalho em grupo, o que foi um diferencialpara a concretização dos trabalhos, completa.

Para uma das cursistas do Veredas, o traba-lho de releitura foi árduo, pois os seus alunoscom idade de 10 e 11 anos, não conheciam al-guns pintores. Ansiedade e medo atormenta-vam os alunos. “ Eles ti-nham medo de copiar asobras, e nosso intuito eraesse. E ao final do traba-lho, percebemos que osalunos captaram os proces-sos e começaram a admi-rar as obras de artes comsensibilidade e também começaram a criar cominspiração nesses pintores suas próprias obras.E para complementar o trabalho e dar mais ên-fase, levamos os alunos até a cidade de OutroPreto para eles constatarem as verdadeirasmagnitudes criadas nos séculos passados”, diza professora, enfatizando que as expectativasforam alcançadas e surpreenderam a todos,além de notáveis mudanças comportamentais.

Os trabalhos também levam os alunos aterem consciência da responsabilidade socialdesde pequenos. Materiais reciclados, foramusados para mostrar-lhes a importância de in-serir a reciclagem no cotidiano dessas crian-ças, e a inserção da preservação do meio am-biente. E com isto, vários produtos foram cria-dos com materiais que iam direto para o lixo.

Esses encontros servem para as tutorasanalisarem, orientarem e facilitarem as práti-cas pedagógicas das cursistas. E também ava-lia e intervém – quando necessário - nos Ca-dernos de Avaliação de Unidade (CAU) quesão elaborados pela Secretaria de Educaçãodo Estado.

Segundo Ana Sbrissa, uma das tutoras doprojeto, as coordenadoras têm notórios papéispara analisar as práticas pedagógicas realiza-das pelas cursistas. “Visitamos as escolas paraavaliarmos os trabalhos que são realizados e,assim analisar com profundidade o desempe-nho das cursistas com seus alunos. A supervi-são e direção das escolas que visitamos nosajudam a pesquisar e avaliar o crescimento dascursistas”, completa.

Sistema de avaliaçãoA forma processual de avaliação é compos-

to por um Sistema Institucional e pelo Sistemade Avaliação de Desempenho dos Professores-cursistas. O primeiro, busca garantir o aperfei-çoamento do Projeto, avalia a qualidade dos

Professoras de ensino fundamental se encontraram na escola Estadual Gyslaine de Freitas Araújo, na cidade de Ibirité

Fábio Luís da CostaFábio Luís da CostaFábio Luís da CostaFábio Luís da CostaFábio Luís da Costa

Parceria serve paracontribuir na melhoriaquase imediata da qualidadedo ensino fundamental

cursos desenvolvidos pela Agência Formado-ra e coordena o fluxo das atividades de verifi-cação da aprendizagem.

O segundo avalia o aprendizado dos pro-fessores-cursistas, diagnosticando possíveisfalhas e oportunizando novas reflexões e ações

sobre o processo.De acordo com a co-

ordenadora de avaliação,Brígida Madel de Olivei-ra Gonçalves, a Avalia-ção de Desempenho per-mite verificar a aquisiçãodos conteúdos das áreas

específicas de conhecimento, por meio dasavaliações feitas em casa e de uma avaliaçãosemestral individual e sem consulta.

Luciana Salomão, coordenadora doProjeto Veredas, considera que a parce-ria feita com o Governo, serve para con-

tribuir com a melhoria quase imediata naqualidade do ensino fundamental por serum curso de formação de professores emserviço.

Ela enfatiza que a Universidade permiteoferecer subsídios à educação básica, a par-

tir da atuação dos professores-cursistas, emseu real contexto de trabalho. “A promoçãode democratização do ensino, uma é ofere-cida na modalidade a distância, e permite queo professor-cursista estude em casa”, con-clui Luciana.

Formação superior contribui para a qualidade do relacionamento entre professoras e alunos

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“Sempre gostei muito de estudar, enri-quecer minha formação profissional, sem-pre me interessei pelos assuntos rela-cionados à Educação.

Quando surgiu a oportunidade concre-ta de crescimento e de auto-realização, defazer o curso em nível superior gratuito, oVeredas, não hesitei em esforçar-me parapassar no vestibular e ingressar-me nocurso.

Ao iniciar o Ve-redas, senti ansiedade,medo, incerteza, ale-gria, sentimentos quese embaralhavam, poishavia conseguido o quesempre pleiteei, fazerum curso superior.

Fiquei alguns anos sem estudar. Comeceipor duas vezes o curso superior e não pudeconcluí-lo por motivos financeiros.

No início, tive muitas dificuldades parame ambientar, organizar e conciliar o estudocom todas as responsabilidades que me ca-bem como membro de uma família, comoprofissional em exercício e como cidadã,mas encontrei recursos diversos que meajudaram a prosseguir e vencer osobstáculos: minha família, a tutora Clélia,colegas e amigos.

Estou vivenciando uma série de experi-ências que me ajudam a compreender me-

lhor meu papel de professora, além de am-pliar e aprofundar meu domínio dos conteú-dos do ensino fundamental, refletir sobre osfundamentos do trabalho pedagógico,buscando elementos para ressignificar mi-nha prática.

Tenho consciência de que cada texto queestudo em cada unidade é muito importan-te para mim, pois participo ativamente domeu próprio aperfeiçoamento profissional,

refletindo sobreminha prática, apri-morando-a e criandoestratégias para en-frentar as situaçõesdiversificadas do co-tidiano escolar. Acada dia, minha auto-

estima é renovada e me sinto cada vez maiscapacitada, repleta de novas idéias e ati-tudes.

Espero continuar a vencer os desafios e,em julho de 2005, concluir o meu cursosuperior, o que me abrirá novas perspectivase oportunidades, além de me tornar umapessoa mais politizada, uma leitora crítica,com bagagem suficiente para atenderplenamente meus alunos, em todas as suasnecessidades.”

Maria Cristina da Silva MesquitaCursista do Veredas - Pólo Betim

Estou vivenciando uma sériede experiências que meajudam a compreender melhormeu papel de professora

Reginaldo Martins Prado Júnior “Fabiano”

Um amigo é exatamente como o sol.Não precisamos vê-lo todos os dias para saber que ele ainda existe.

Ele deixou no coração de cada um de nós uma lembrança viva do seu sorrisoe uma afeição que jamais se extinguirá

Uma homenagem de seus amigos de Uberaba

Práticas pedagógicas aprendidas no Veredas são utilizadas no ensino dos alunos de ensino fundamental.Estudantes acompanham professoras a Ouro Preto em atividade complemetar à sala-da-aula

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ipalWanderley Pedrosa2ª período de Serviço Social

“... é dever da família, da sociedade e doPoder Público assegurar ao idoso, o direito àvida, à saúde, à alimentação, à educação, aolazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,ao respeito, à liberdade e à convivência familiare comunitária, além de colocá-los a salvo detodas as negligências, discriminação, explora-ção, violência, crueldade e opressão. (Lei Orgâ-nica do Município de Uberaba, cf artigo 161)

No Brasil, há três maneiras distintas paradefinir pessoa idosa. Para assegurar o transportecoletivo urbano, a Constituição Federal no artigo230, § 7°, diz que o idoso é aquele que tem 65anos. A Lei Orgânica da Assistência Social(LOAS) preconiza que idoso, para fins dereceber benefício de um salário mínimo mensal,é quem tem 70 anos ou mais. E, por fim, a lei8842/94 que define a Política Nacional do Idoso(PNI), diz que pessoa idosa é quem tem maisde 60 anos de idade. Em Uberaba, a Unidade deAtenção ao Idoso (UAI) considera idosa apessoa com mais de 55 anos de idade.

De acordo com documento da ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil (CNBB, p. 16),de 2002, no Brasil, a população com 60 anosaumentou de 4% , em 1940, para 8,6% em 2000.E até o ano 2025, estima-se uma população de22 milhões de idosos.

Um dos fatores que levará o país a se tornaridoso em 2025 deve-se à baixa taxa denatalidade. Pode-se prever esse fenômeno pelascondições socioeconômicas que vêem passandoo país desde a década de 70, e pela descoberta eincentivo dos métodos anticoncepcionais.

Em Uberaba, de acordo com umlevantamento populacional realizado pelacomissão de estudo para criação do ConselhoMunicipal do Idoso, (CMI) aqui vivemaproximadamente 30 mil pessoas com mais de60 anos, considerando que a população total domunicípio é de 252.051 habitantes.

Mas percebe-se que em Uberaba a políticade atendimento ao idoso ainda não oferece bonsresultados, uma vez que está em discussão,desde 4 de janeiro de 1994, a Lei n° 8.842 quetrata da política nacional do idoso. Com isso,não temos ainda o Conselho Municipal do Idosoefetivado no município.

A partir de um pequeno grupo de pessoaspresentes à Conferência da Assistência Social,foi possível trazer o assunto em plenária. Éimportante, portanto, que os profissionais daUAI e demais instituições que trabalham com oidoso se mobilizem, juntamente com toda asociedade, reivindicando das autoridadescompetentes a criação do Conselho Municipaldo Idoso, a fim de viabilizar políticas públicas

mais amplas e abrangentes para os idosos nacidade de Uberaba.

Estamos com o Estatuto do Idoso san-cionado pelo Presidente da República LuizInácio Lula da Silva desde o dia 1° de outubrodeste ano, através de decreto lei n° 10.741, eque entrará em vigor a partir de 1° de janeirode 2004. A falta do Conselho Municipal, comcerteza irá dificultar o seu cumprimento nomunicípio, uma vez que o Conselho é o órgãofiscalizador da política do idoso.

O idoso deve ser o principal agente e odestinatário das transformações dessa políticaa ser efetivada a partir de janeiro de 2004.Segundo o presidente da republica, “a partirde agora a dignidade dos idosos passa a serum compromisso de toda a sociedade e que épreciso a adesão de todos para que este estatutoseja cumprido e os direitos das pessoas daterceira idade sejam respeitados”.

A participação do idoso na vida e nosacontecimentos da sociedade é fundamental. Éa partir dessa participação que os idosos se dãoconta de que são valorizados e amados. Os idososprecisam experimentar a realidade de seremdesafiadas a colaborar com o bem estar de todosda faixa etária.

O Serviço Socialé um dos fomenta-dores das discussõessobre a implantaçãodo Conselho Muni-cipal do Idoso, aler-tando a população idosa para essa discussãojunto às autoridades competentes de Uberaba.É preciso mobilizar a opinião pública e trazer oassunto para um grande debate.

A implantação do Conselho Municipal doIdoso no município é uma exigência do próprioEstatuto do Idoso que o rege no artigo 53 §único: “as entidades governamentais e não-governamentais de assistência ao idoso ficamsujeitas à inscrição de seus programas juntoao órgão competente da Vigilância Sanitária eao Conselho Municipal do Idoso e na faltadeste, perante o Conselho Estadual ouNacional”. Segundo o mesmo Estatuto, noartigo 51, a política de atendimento à pessoaidosa será articulada através de açõesgovernamentais e também não-governamentais,entre União, Estados, Distrito Federal eMunicípios, que são linhas de ações daspolíticas sociais básicas.

Cabe, então, ao Assistente Social, junta-mente com os demais responsáveis da área levarà população idosa a uma reflexão sobre apolítica desenvolvida no município embeneficio dessa parcela da população, que porlongos anos de vida chegaram a melhor idade.

O trabalhador deve ser preparado para a suaaposentadoria, pelo menos um ano antes com o

objetivo de estimular novos projetos sociais, deseu próprio interesse, bem como tem o direitode ser informado dos seus direitos sociais. Comisso, o trabalhador precisa ser muito bem pre-parado para o momento de sua aposentadoria,uma vez que o sistema neoliberal aos poucosvai afastando do mercado de trabalho aquelesconsiderados menos capazes bem como os quetêm mais tempo de serviço na mesma empresapor terem-se tornado mais dispendiosos. Sendoassim, não é o conflito de gerações que excluios idosos, mas a própria dinâmica do sistemasocioeconômico vigente na atual sociedade (cf.artigo 31 do Estatuto do Idoso § II).

No Brasil, as pessoas vêem o envelheci-mento, erroneamente, como um período em queas mesmas devem descansar, não fazer maisnada, nem mesmo praticar atividades físicas eesforços; mas quanto mais forem ativas, mais

terão um envelheci-mento saudável e commais qualidade devida.

Pois, ser plena-mente feliz em qual-quer idade é o melhor

caminho para a longevidade. No entanto, opadrão e a qualidade do envelhecimento estãointimamente relacionados com a saúde e aeconomia da população enquanto sociedade.

Para muitas pessoas envelhecer com osfamiliares e amigos é uma das maiores con-quistas que o ser humano pode obter. Mas, paramuitos essa conquista é negada. São pessoas queficam esquecidas nos asilos, em casa, abando-nados, nas ruas...

O idoso é vítima de discriminação social.Sente-se excluído e, como conseqüência, perdea iniciativa e a motivação para buscar novosprojetos para sua vida.

Em virtude dos aposentados terem umaaposentadoria baixa que muitas vezes não dápara prover o seu sustento e ao mesmo tempobuscar uma qualidade de vida melhor atravésde lazer, cursos e outros, cabe ao município,família e toda sociedade de Uberaba, desen-volver políticas que venham favorecer essaparcela da população de idosos.

Diante dessa realidade social, as atividadesdesenvolvidas na Unidade de Atenção ao Idoso(UAI) contribui a favor das necessidades dapopulação idosa; são atividades na área dasaúde, lazer, educação e atividades físicas, lazer,alfabetização, oficinas de trabalhos manuais,

assistência médica, psicológica, terapia ocupa-cional, canto e coral, teclado, datas comemo-rativas e viagens.

De acordo com os Bispos do Brasil, “uma daspreocupações em relação aos idosos e à sociedadeque envelhece deve ser a valorização dos talentosda terceira idade” (CNBB, 2002, p. 19).

As atividades desenvolvidas pela UAIobjetivam levantar a auto-estima dos idososque muitas vezes não se encontram em umrazoável estado de bem-estar. Dentro dosdiversos programas são atendidos, por ano,14.465 idosos.

A prática de exercícios leva também a ummelhor estado de ânimo com melhora dadisposição física e do humor dos idosos levando-os a um aumento da média de vida. Propor-cionam também aos idosos mecanismos quevenham favorecer sua forma física, propor-cionando bem estar a todos, uma vez que o idosotende por si próprio acomodar-se e deixar depraticar atividades físicas. Essas atividades de-senvolvidas na UAI têm então por objetivo tirá-los do sedentarismo e levá-los a exercíciosdiários de 30 minutos.

O Serviço Social precisa ficar atento quantoao que dispõe o Estatuto do Idoso, para que essapopulação não tenha os seus direitos tolhidospela sociedade como um todo, que de uma formaou outra exclui o idoso de seus direitos achandoque eles não os conhecem. Por isso, a vida longaé um prêmio.

A velhice pode e deve ser para todos osidosos um tempo de intenso desenvolvimentosocial. Mesmo diante dos desafios, devemospropor uma transformação na sociedade paraque possamos assegurar os direitos sociais daspessoas idosas conquistados ao longo da nossahistória. E acabar com essa cultura que exclui oidoso. Muito embora a experiência deenvelhecer seja profundamente pessoal, cada umtem uma maneira diferente de envelhecer e deser dentro da sociedade.

“A velhice é uma etapa da vida, é a mais longada vida. E viver muito bem é um direito do serhumano. Todos querem viver mais, mas ninguémquer ser velho, porém quando alcança, passa aser uma questão social”. (CNBB, 2002, p. 20).

Enfim, notamos claramente a neces-sidade de um maior respeito, valorização eatenção para com os idosos, pois só assimo processo de isolamento e marginalizaçãoque os atinge poderá ser eliminado dacidade de Uberaba.

Os idosos e oconselho municipal

Artigo

O trabalhador deve ser preparadopara a sua aposentadoria, pelomenos um ano antes com o objetivode estimular novos projetos sociais

Mark Hunt (reprodução)

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Alécio Freire6º período de Jornalismo

Conceitos como preservação da natureza,meio ambiente, ecologia, responsabilidadeambiental, atualmente, denotam uma progres-siva mudança de mentalidade e evolução dahumanidade.

Estamos tomando consciência de quefazemos parte de um todo e que é precisoconservar a ordem natural das coisas e dosseres para o bem viver neste planeta, nossacasa comum. Tudo se interliga para o bem detodos.

Em Uberaba, desde a década de 60, maisprecisamente, desde seis de fevereiro de 1966,por força de decreto municipal sob a lei de nº1423, criou-se o Zoológico Municipal Parquedo Jacarandá, que se encontra na VilaOlímpica, à rua João Luiz Alvarenga, nº 546,destinado à educação ambiental, à pesquisa eao lazer.

Com uma área de 33.519 m2 (3,35 ha.),toda murada, lá encontra-se mata nativa, comfrondosas árvores do tipo jacarandá (de folhasbem miúdas) – que deu o nome ao parque –jequitibá, ipê, cedro, peroba, tamboril, alémda introdução de outras variedades da florabrasileira.

A fauna é basicamente composta deespécies do cerrado e conta com aproxima-damente 40 espécies diferentes, entre répteis,aves e mamíferos, em ambientes que simulamseu habitat natural. São mais de 200 animais.

Entre os répteis, os destaques ficam parao jacaré-coroa, o menor da espécie, e para asjibóas cinzas e a vermelha – recém-chegadaao zoo e que provavelmente esteja prenha,além do distante jacaré-do-papo-amarelo;entre as aves, o pequeno tamanho e o charmeda corujinha caburé chama a atenção, bemcomo os olhos bem vermelhos do gavião-pombo, a elegância da plumagem do pavão-azul e a gritaria das maritacas araguari.

Entre os animais, destaca a imponência etranqüilidade das quatro fêmeas suçuaranas,a esperteza do casal de veadinhos que semprese escondem, e a vociferação do macho-emaà semelhança de um trovão que está seacasalando.

É possível ainda observar, caso a sorte opermita, para uma curta visita, animais soltospelo parque como cutias, teiús, tucanos,curicacas etc. Entre as espécies ameaçadas deextinção estão resguardadas no parque o lobo-guará, o jacaré-do-papo-amarelo, a jaquatirica(de hábito noturno), a suçuarana e o socó-boi.

Na represa, resultado das duas nascentes

do parque, nota-se muitos peixes graúdos, queservem de alimento fresco para os felinos,como os gatos mouriscos, ou gatos-do-mato,mais popularmente conhecidos.

As espécies chegam ao Zoo de Uberabapor doações de pessoas da comunidade, pelapolícia florestal ou ainda por trocas entrezoológicos, como aconteceu recentementecom a troca de duas suçuaranas macho queforam para a zoobotânica de Belo Horizonte,vindo uma fêmea de lá para cá.

A limpeza das jaulas e viveiros, bem comoa alimentação balanceada, atendendo asnecessidades de cada espécie, é feita todas asmanhas das 7h às 10h pelos tratadores doparque. O cardápio: rações, frutas, legumes ecarnes.

Para manter toda esta bicharada, o parqueconsome aproximadamente 14 mil reais pormês, ou de 180 a 200 mil por ano, entrealimentação, medicamentos, pessoal – são 28funcionários, água, luz e telefone. Todos osgastos são mantidos pela PrefeituraMunicipal.

Desde novembro de 1991, o Zoo deUberaba está classificado no InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosRenováveis – IBAMA – na categoria C pelaportaria de nº 1/31/96/0004-0. É o único dointerior do Estado de Minas que atende àsexigências mínimas nesta categoria, a saber:que possua, biólogo (Paulo César) eveterinária (Jussara Tebet) em tempo integral,tratadores permanen-tes, seguranças (cinco:3 diurnos e 2 notur-nos), escritório admi-nistrativo e cozinhados animais no local,placas informativas,passarelas, setor extrae a quarentena (locaisonde ficam os animais excedentes ou emperíodo de reprodução; os doentes emachucados, os que estão em fase deadaptação, os filhotes, ou seja, é o berçário, ohotel, o hospital, o motel dos animais),convênios com laboratórios, fichas biológicasdos animais, bebedouros e sanitários para opúblico, e que 40% da fauna seja brasileira.

Mas o zoológico de Uberaba possui aindaoutras características que se enquadram nacategoria B dessa classificação do IBAMA,como ter um ambulatório veterinário no locale desenvolver programas de educaçãoambiental, tais como o Sala Viva e o CidadeViva Criança.

Projetos que resultaram recentemente

numa melhoria das dependências do parque,pois foram construídos prédios em miniaturaspara reproduzir uma cidade como a prefeitura,o posto de saúde, a capela, a sala de aula, alanchonete, as praças de alimentação e oauditório para breves palestras para osvisitantes; tudo com o adjetivo comunitário,ou seja, apelando para o sentimento decomunidade.

Para o biólogo Paulo César, “a educaçãoambiental resgata arelação homem-natu-reza, o aspecto dacidadania para con-tribuir com a for-mação do indivíduoem qualquer idade, epode ser aprendidoem qualquer área pre-

parada para discutir as questões ambientais,pois esta é uma maneira sábia de educar aspessoas.”

Estima-se que o número de visitantes aoParque do Jacarandá chega-se aproxima-damente aos 12.500 por mês.

Para Paulo César Franco, chefe da Seçãode Preservação e Conservação de ParquesEcológicos do Departamento de Áreas Verdesda Secreteria Municipal do Meio Ambiente,o Zoo de Uberaba enfrenta alguns problemascomo o da depredação e da agressão aosanimais (paulada, pedrada, barulho excessivo,alimentação inadequada) por parte de algunsvisitantes.

Franco destaca ainda que o problema do

lixo deixado por algumas pessoas no parquecomo copos plásticos, latas, fraldas des-cartáveis e outros tipos de embalagens,podem cair nos recintos dos animais e podemvir a ser ingeridos por eles, além de deixarum aspecto de descuido e desleixo.

Lembrou ele ainda que os visitantes nãodevem alimentar os animais, pois qualqueralimento diferente do habitual (pipoca,skini, bala, frutas) pode acarretar sériosdanos à saúde dos animais. Daí anecessidade de despertar a consciênciaecológica dos visitantes para que,conscientes, mudem seus hábitos edesenvolvam boas atitudes e até se tornemmultiplicadores dessas informações úteis atoda comunidade.

Então para muitas pessoas de Uberaba quenão conhecem esse laboratório de harmoniacom o meio ambiente, vale a pena ir paraconferir. Quem sabe os tucanos, os sabiás, osperiquitos-do-encontro-amarelo, os carcarás,as jandaias, os papagaios-boiadeiros, asmarias-faceiras, as seriemas, as corujasburaqueiras, as das torres, os frangos-d’água,as asas-branca, os mutuns-de-penacho, osfaisões-coleira, os canários-da-terra, ospássaros-preto, os curicacas, os gaviões-de-rabo-branco, coleira, carijó, caboclo, bemcomo o bugio, as tartarugas e jabutis, oscatetos, os mãos-peladas, os quatis, osmacacos-pregos, as raposa, os cahorros-do-mato não lhe façam bem ao coração, ao corpoe a alma integrando-o ao universo, ao planeta,à vida!

Zoológico Municipal

Natureza, sombra e água fresca!Em meio a mata nativa, frondosas árvores se integram a animais dediferentes espécies, formando no Parque do Jacarandá um habitat ideal

A fauna é basicamente compostade espécies do cerrado e contacom aproximadamente 40espécies diferentes

Fabiano Oliveira - www.uberaba.mg.gov.br/meioambiente (reprodução)

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Luiz Flávio Assis Moura3o Período de Jornalismo

-Mãe, por que eu tenho que tomaresses remédios?

Despertava ali uma noção sem formae levemente umedecida de algummistério. O menino se mexia sem medo,familiar com o próprio corpo comotivesse feito-o sozinho. A mãe afagavacarinhosa mas intangível os cabeloslevemente ruivos dacriança, obser-vando-o em umamescla clara de en-canto e angústia.Sem esforço levan-tava a voz para dizer, mas pouco poderiafazer para aproximar-se. Todo o resto doque desenrolava-se existiria somentecomo palavra falada.

-Pra você não ter crise, filho.-Crise? Eu não tenho crise!-Filho, se lembra daquele dia em que

você dormiu na sala no meio da novela?-Ahhh... acho que sim! Eu achei

estranho, sabe. Eu não tava com sono.-Você não dormiu. O que houve foi

que você teve uma crise.-Mas crise de quê?-Acho que você não vai entender

muito bem, querido. Só toma osremédios, eles vão te fazer bem.

-Mas por quê? O gosto é ruim!-Eu sei, filho, mas toma. Você precisa.-Mas eles me deixam com a boca

seca. E eu fico com sono.-Melhor. Só assim mesmo pra ti dormir

antes das dez.-Mas eu não gosto de dormir!

-Filho, tu precisa! Essa insônia te fazmuito mal... ela balbuciou o fim da frasee seu sentido perdera-se do nada; elaera um espaço constrangido e condenadoà liberdade.

-Dormir é que me faz mal! Eu sempreacordo ruim depois de dormir. Ele disse,ele disse e estava cruelmente certo. Nãosabia ainda daquele instinto suicida quetodo mundo manifesta em algummomento de desespero ou lucidez

terrível, tampoucoque aquilo sempreexistiria entre suasveias e a água novae suja que trespassao mundo e trans-

forma em sangue a dor.-Isso é porque você dorme de mau

jeito, filho.-Mas foi assim que eu aprendi a

dormir.-E quem te ensinou a dormir, menino?-Com ninguém. Aprendi de mim

mesmo.-Ah, filho. Pára com isso. Você não

tem jeito mesmo, tem?-Ué, eu não tô quebrado.-Não é isso, filho. É que você tem

hábitos terríveis.-E daí?-E daí que isso te faz mal.-Ué, mas isso passa. Além disso, eu

não tenho medo.-Mas medo de que, menino?-De morrer, ué.A mãe estacou e suspirou assustada,

esperançosa. A carne que batia na tábua,usando um martelo de ferro morno esaciado, aturdia-se irônica, sábia como

um pássaro à beira da morte. Os olhosdo menino cresceram e tornaram-seínfimos em não mais que um átimo, umanoção de já e o mundo passou a diminuirsua tensão e ritmo estonteantes com arespiração do garoto, compreendendosurdamente a tristeza quieta daqueleinstante. A mãe parou por um instante,subitamente entendedora daquilo.Olhou-o nos olhos, balançou a cabeça efalou com calma:

-Morrer.-É.-Sabe, filho... talvez seja um pouco

de medo. Mas... eu nunca pensei quevocê pudesse falar da morte com tantapropriedade. Você não sabe como é isso?

-Ué, eu não sei. Mas acho que o meuavô deve saber. Ele morreu ano passado,não é?

-Ah... papai... – a lembrança doía umpouco, mas ele não tinha culpa... – ...acho que sim, filho. Mas ele não vaivoltar simplesmente pra te dizer. Emboraeu quisesse tanto, quisesse tanto, suamente refluiu com um gosto de salsufocado.

-É. E você, sabe?-Não. Não sei como é. Mas sei como

é quando alguém querido morre, filho.Você também.

A mãe, o filho e os remédios

-Não é a mesma coisa...-Eu sei que não. Filho, escuta...

podemos parar de falar sobre isso? Eu...-Não precisa explicar, mãe. Escuta,

se você tem tanto medo, eu vou tomaros remédios. Mas... mãe?

-O quê, querido?-Quando eu puder saber o que esses

remédios fazem comigo...-Não te preocupa. Eu conto. Filho...-O que foi, mãe? ele sorriu sem

alegria, já dando as costas e indo vivercom aqueles medicamentos.

-Eu queria... ao menos saber comonão ter tanto medo... não quero teperder nunca, tá bom? As lágrimasdisfarçavam-se ao som de um bifeamassando-se e cebolas cortadas. Aquelafelicidade parecia tão crua e dolorosaque tinha vergonha de assumi-la deforma tão rasgada, em carne viva... masera mãe.

-Eu tô aqui, mãe. Eu vou ficar aquienquanto não morrer. Prometo.

-... Obrigada, filho. Uma lágrima caiue abafou-se na carne.

-Por que tanto, mãe?-É que... ah, nada, filho. Vai brincar

enquanto eu faço o almoço.-Tá bom. E ele saiu, quase feliz e

pouco se lembrando.

CADERNO LITERÁRIO

- Eu queria... ao menos sabercomo não ter tanto medo... nãoquero te perder nunca, tá bom?

Ato Ecumênico de Ação de Graças"Temos mais motivos para agradecer do que para nos queixar"

Dia: 11/12/03 - Quadra 03Campus Aeroporto

PARTICIPE! TRAGA A SUA FAMÍLIA!

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