Revista Hidrovia Alago

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HIDROVIA DO LAGO DE FURNAS REVISTA DA N° 1 / ABR2010 Novos caminhos para o desenvolvimento da região do Lago de Furnas

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Novos caminhos para o desenvolvimento da região do Lago de Furnas REVISTA DA DO LAGO DE FURNAS N° 1 / ABR2010 2 FURNAS REVISTA LAGO DO DE 3 FURNAS REVISTA LAGO DO DE Foto: Renato Soares

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HIDROVIADO LAGO DE FURNAS

REVISTA DA N° 1 / ABR2010

Novos caminhos para o desenvolvimento

da região do Lago de Furnas

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A imensidão do Lago de Furnas

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Perdemos o trem, mas ganhamos o mar

Editorial

As estradas na água são utilizadas des-de a Antiguidade. Afinal, as hidrovias têm a seu favor um

custo operacional muito baixo para transportar grandes quantidades de produtos por grandes distâncias. É especialmente vantajosa no caso de cargas de baixo valor em relação ao peso, como minérios. O uso adequado de uma rede hidro-viária exige a construção de uma in-fraestrutura que envolve a abertura de canais para ligação das vias flu-viais naturais, a adaptação dos lei-tos dos rios para a profundidade ne-cessária ao calado das embarcações, a correção do curso fluvial, vias de conexão com outras redes, como a ferroviária ou rodoviária, etc. Os custos desses investimentos e sua manutenção, no entanto, são amplamente compensados pela boa relação custo-benefício desse modo de transporte, adotado em todos os países desenvolvidos do mundo. De modo geral, seus custos são in-finitamente inferiores aos de outras alternativas de transportes.O Lago de Furnas nasceu para gerar energia, tendo como impacto ini-

cial o desaparecimento de tradicio-nais ligações entre os municípios de nossa região, principalmente ferroviárias. Perdemos o trem, mas ganhamos uma multiplicidade de usos: o reservatório da usina pode ser o leito ideal para uma hidrovia que nos permita transportar rique-zas e promover a convivência entre culturas que têm tanto em comum. Fazendo do “Mar de Minas” um eixo de integração e desenvolvi-mento para a nossa região. A criação da Hidrovia do Lago de Furnas é uma bandeira que tem como objetivo principal o incre-mento das atividades econômicas em todas as cidades de seu entorno. É um projeto que está se tornando realidade, na medida em que ganha o apoio de importantes instituições como a Antaq (Agência Nacional de Transporte Aquaviário), a Co-missão de Viação e Transportes da Câmara Federal, o Governo Federal e do Estado, prefeitos e lideranças dos 34 municípios às margens do Lago. Nossa luta está se fortalecen-do, mas ainda há muito o que fazer. Ter a sociedade ao nosso lado, neste momento, é condição fundamental para chegarmos à vitória.

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5Expediente Sumário

Associação dos Municípios do

Lago de Furnas - ALAGO

DIRETORIA Presidente Nelson Alves Lara (Prefeito de Guapé) Tesoureiro Jean Carlo Roupa Prado (Prefeito de Fama)SecretárioAluísio Veloso da Cunha (Prefeito de Formiga)Conselho FiscalClaudio Augusto Siqueira (Prefeito de Cabo Verde)Fábio Couto Araujo (Prefeito de Pimenta)Hamilton Resede Filho (Prefeito de Perdões)Secretário Executivo Fausto Costa

Revista da HIDROVIAEditada e produzida porVero Brasil ComunicaçãoDiretor/Editor responsável: Angelo Roberto de LimaCoordenador Editorial: João Henrique FariaDiretor de Criação: Pablo T. QuezadaEditora: Bianca AlvesReg. Profissional: MG 3466 JP Reportagem: Majô de SouzaMaterial cedido pelo Jornal dos Lagos e AntaqDiagramação e Projeto Gráfico: Paulo RodriguesRevisão: Tiago AzevedoArte Final: Luciano GarbazzaAtendimento: Renata WaniceProdução Gráfica: Raquel PachecoFotos: Renato SoaresTiragem: 200 exemplaresImpressão: Gráfica FAPI

Entrevista Nelson Lara .........................06

O transporte hidroviário no Brasil ............08

Entrevista Pompilio Canavez ................10

Furnas, o mar de Minas .....................14

Seminário de Formiga ........................20

Hidrovia: Primeiros Passos ................22

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Av. Prudente de Morais, 44 3º andar, Cidade JardimTel.: +55 31 3344 2844 - CEP: 30 380 000 - BH/MG

Brasilc o m u n i c a ç ã o

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O prefeito de Guapé, Nel-son Alves Lara, assumiu no ano passado a presidência da Asso-ciação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago) e abraçou com determinação a causa da hidrovia do Lago de Furnas. Se-gundo ele, esta é mais uma luta para defender o Lago e para o desenvolvimento sustentável da região, como a do tratamento de esgotos, drenagem e aterros sa-nitários em todo o entorno, que

já tem recursos para a elaboração dos projetos. “Queremos o Lago cheio, limpo, cuidado e produti-vo, pois é uma riqueza nossa, que tem que ser distribuída por toda a região”, diz o presidente.

Por que a Alago abraçou a luta pela Hidrovia de Furnas?

A Alago é uma associação

dos 34 municípios que estão às margens do Lago de Furnas, que atua principalmente em defesa do Lago. E a hidrovia, projeto do ex-prefeito de Alfe-nas e ex-presidente da associa-ção, o meu amigo Pompilio Ca-navez, vai beneficiar todos os 34 municípios, alavancando a nossa economia e fortalecendo

Nelson Alves LaraE N T R E V I S T A

Prefeito de Guapé e Presidente da Associação dos Municípíos do Lago de Furnas (Alago)

“A hidrovia é uma conquista

de todos nós”

7o turismo. Quando as águas vie-ram, praticamente desligaram um município do outro. A hi-drovia sinaliza a união, porque se não trabalharmos juntos, em parceria, a gente não consegue conquistar o que precisamos. E a hidrovia é mais uma conquis-ta nossa, de todos os dirigentes que passaram pela Alago nesses dez anos de existência da en-tidade, de todos os prefeitos e do povo da nossa região.

Que benefícios

o senhor acredita que a hidrovia pode trazer

para a região? No exterior, com qualquer

“corguinho” o pessoal faz uma hidrovia. Aqui nós temos esse mar, que pode trazer muita ri-queza e desenvolvimento, não só com o transporte de cargas, mas também atraindo novos turistas. O transporte de passageiros por hidrovia, passando por várias cidades, é uma coisa diferente,

atraente, as pessoas vão querer andar de barco como gostam de fazer percursos bonitos de trem.

Vocês têm feito vários encontros. Em que

estágio está o processo? O Pompilio, que é ex-presi-

dente da Alago, está à frente do projeto e foi eleito por nós o co-ordenador. Ele tem se reunido com os órgãos que representam o transporte aquaviário no país e está definindo uma agenda de encontros, seminários e ações

concretas pela hidrovia. Nós já recebemos um recurso, de 300 mil reais, para o projeto de viabilidade, já sentamos com a Antaq, com a Comissão de Transportes da Câmara Federal e, finalmente, realizamos um seminário em Formiga, onde fi-zemos uma carta de intenções, assinada por todos os prefeitos do Lago, que foi encaminhada ao Ministério dos Transportes.

Quais os

próximos passos?

Agora, nós vamos buscar os recursos para a obra. Temos condição de realizar o nosso so-nho, porque há interesse tanto do poder público – do governo federal e do estadual – quanto da iniciativa privada para que ela se torne realidade. A hidro-via é um grande avanço para a região, não só na questão eco-nômica, quanto na ambiental, pois promove o desenvolvimen-to sustentável da região.

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O Brasil possui 63 mil qui-lômetros de extensão total de águas, 40.000km de rios, lagos e lagoas potencialmente navegá-veis, 29.000km disponíveis, mas hoje só utiliza comercialmente pouco mais de 13 mil quilôme-tros. Ao todo, são nove grandes bacias, sendo que a principal delas, a Amazônica, conta com 18.300km de rios, formando um dos maiores patrimônios hídricos do mundo. Como se vê, grande parte desse patrimônio natural vem sendo desperdiçado como via de escoamento da produ-ção, com reflexos na corrente brasileira de comércio, na dis-tribuição de renda e na criação de empregos, especialmente no campo, onde o país perde com-petitividade por falta de uma lo-gística de transportes eficiente.

Atualmente, são transporta-das pelas hidrovias brasileiras

cerca de 45 milhões de toneladas de cargas/ano. Contudo, estima-se em 160 milhões de toneladas o potencial de carga que poderia ser transportada, se todas as hi-drovias estivessem plenamente implantadas. As vantagens do modal hidroviário, comparati-vamente aos demais modais de transporte, são expressivas. O gasto com combustíveis em um sistema hidroviário, por exem-plo, chega a ser vinte vezes menor do que o necessário para transportar igual quantidade de carga no transporte rodoviário. A emissão de CO2 com o maior uso da hidrovia também é conside-ravelmente menor; o transporte fluvial emite 90% menos CO2 na atmosfera do que o rodoviário. O transporte hidroviário é, ainda, o mais seguro; a ocorrência de aciden-tes é praticamente inexistente e a segurança no translado é total.

Transporte mais barato

Em um país de grandes dimen-sões como o nosso, a utilização de transportes, que representem menores custos deve ser incenti-vada. O meio hidroviário, ligado a investimentos baixos e custo de manutenção mínimo, responde a esta demanda. Estudos demons-tram que as hidrovias são o melhor modal de transporte para gran-des quantidades de carga, com a melhor relação custo-benefício. Seu emprego maciço contribui significativamente para a redução dos preços finais das mercadorias comercializadas por um país, em especial, no que se refere às suas exportações.

Um exemplo concreto está na capacidade de carga por veícu-lo em cada modal. Enquanto um

CaminhosINEXPLORADOS

9comboio hidroviário transporta em uma única viagem 6.000 toneladas de carga, seriam necessários para a mesma quantidade quase 3 com-boios no modal férreo ou 172 car-retas nas rodovias. Somente esta análise já explicaria o fato do frete hidroviário custar cerca de 30% do preço cobrado pelo rodoviário.

Em relação à economia de com-bustível, as hidrovias também são a melhor maneira de transportar cargas. Nas rodovias, para trans-portar mil Toneladas por Quilô-metro Útil - TKU, são necessários 96 (noventa e seis) litros de combus-tível. Nas ferrovias, esse número é de 10 (dez) litros. Já nas hidrovias, esse número cai ainda mais, para 5 (cinco) litros. O menor gasto com combustíveis representa me-nores custos no presente e a maior sustentabilidade no modal a longo prazo, visto que sua matéria prima básica é de recursos naturais não renováveis.

Outro fator que explica a eco-nomicidade das hidrovias são o fato dessas necessitarem de me-nos intervenções para a sua insta-lação, manutenção e maior dura-bilidade da infra-estrutura e dos equipamentos. Enquanto o custo médio para implantar uma hidro-via é de um dólar americano por quilômetro, para rodovias e ferro-vias este custo médio sobe para treze e quarenta e um dólares por quilômetro, respectivamente.

Além de todas as vantagens apontadas, é bom lembrar que a vida útil das embarcações é em média de cinquenta anos, enquan-to para vagões a média é de trinta e apenas dez anos para os cami-nhões, o que configura menores gastos com manutenção e reposi-ção de veículos.

Vantagens ambientais

O transporte hidroviário é re-conhecido como o mais ecologi-camente correto dentre os modais por diversas razões. Para começar, tem maior eficiência energética. O transporte de uma tonelada (1,6 km) por hidrovia necessita apenas de 20% da energia dispen-dida no mesmo transporte por ro-dovia e 64% da ferrovia. O menor consumo de combustíveis e ener-gia em geral é, além de uma ques-tão de economia, pois aumentará a competitividade de produtos brasileiros, uma questão ambien-tal. A diminuição do consumo de combustíveis fósseis, principal-mente de derivados de petróleo, é, cada dia, mais prioritária em termos mundiais, já que reduz a emissão de gases formadores de efeito estufa, causa principal das mudanças climáticas.

Para fins ilustrativos, se 1% da safra agrícola brasileira (2006-2007) fosse transportada por hi-drovia e não por caminhões, dei-xariam de ser emitidos 188.640 toneladas de CO2 na atmosfera. Atualmente, cerca de 5% da pro-dução agropecuária nacional é transportada por hidrovias. Se 30% da produção rural fosse trans-portada por hidrovias, 5.659 mil toneladas de dióxido de carbono deixariam de ser lançados na at-mosfera.

Outra característica favorá-vel das hidrovias é a menor área de utilização do solo. Enquanto a construção de ferrovias e rodo-vias envolve a destruição de fau-na e flora, o uso das hidrovias não compete pelo uso do solo. Mesmo

que os impactos ambientais do transporte hidroviário mudem de acordo com as condições naturais de cada rio e do projeto a ser im-plementado, normalmente o meio ambiente não é perceptivelmente afetado pela utilização da hidro-via. Nos locais onde há impactos negativos, estes são mínimos, es-pecialmente se analisados com-parativamente com os demais modais.

Além de todas as vantagens co-merciais e ambientais, os ganhos sociais advindos da maior utili-zação das hidrovias na matriz de transportes são perceptíveis tanto nas metrópoles quanto nas áreas mais isoladas. Nos grandes cen-tros urbanos, as melhorias decor-rem do menor número de cami-nhões trafegando em vias urbanas, o que implica em menos conges-tionamento, em menores índices de poluição atmosférica, visual e sonora, além da diminuição no nú-mero de acidentes de trânsito.

Há de se destacar que no trans-porte hidroviário a ocorrência de acidentes é praticamente inexis-tente e a segurança no translado é total.

Outros grandes benefícios são obtidos para a irrigação de plan-tações, maior controle de enchen-tes, manutenção de ambientes naturais, suprimento público de água e desenvolvimento econô-mico. Em suma, a utilização do sistema de transporte aquaviário representa uma alternativa segura e a baixos custos, exercendo um papel importante na economia das indústrias e da vida dos cidadãos.

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Há mais de dois anos a pa-lavra “hidrovia” passou a ser pronunciada de forma consis-tente e insistente pelo então prefeito de Alfenas, Pompilio Canavez (PT). Em reuniões da Associação dos Municípios do Lago de Furnas e do Co-mitê de Bacia do Entorno do Lago de Furnas, além de con-versas com prefeitos e empre-sários da região, ele ampliou a discussão do assunto, conven-cido de que a hidrovia entre Alfenas e Formiga iria ligar não apenas dois municípios, mas duas regiões importantes do Estado.

Por que o senhor resolveu assumir a luta

por uma hidrovia no Lago de Furnas?

Desde a construção da barra-gem, o povo da região vivia uma sensação de perda. Perda da fer-rovia, das estradas, da ligação fácil entre uma cidade e outra, as terras férteis, enfim, tudo aquilo que foi coberto pelas águas do Lago. Eu sempre acreditei, porém, que o Lago teria um grande potencial de desenvolvimento para a região. Lembrando que a região do lago é grande produtora de café, leite, cana-de-açúcar e calcário e que tem uma indústria promissora, era necessário olhar para o Lago e ver nele não a perda, mas os ganhos

que nossas cidades podem ter explorando-o devidamente, não só para o turismo, mas também para transportar a nossa produção a custos muito mais competitivos. Foi com isso na cabeça que fui atrás de quem pudesse nos ajudar a transformar em realidade o pro-jeto de uma hidrovia para o Lago.

Como se deram as negociações para a

implantação da Hidrovia? Em que pé estão?

Antes a ideia estava só na minha ca-beça, foi preciso muita perseverança para convencer os governos estadual e federal da viabilidade da hidrovia. Estive na Holanda conhecendo a experiência deles com transporte

Pompilio CanavezE N T R E V I S T A

Coordenador do Projeto da Hidrovia do Lago de Furnas

“Temos que ver no Lago o

desenvolvimento”

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11aquaviário, fui também na hidrovia Tietê-Paraná e estudei muito o as-sunto. Inicialmente, fui conversar com o Governo de Minas, Governo do presidente Lula e com Furnas. Nessas conversas iniciais, ficou cla-ro que teríamos que nos mobilizar, unindo os municípios da região em torno da proposta. E foi o que acon-teceu: todos os prefeitos têm cons-ciência do que uma hidrovia pode representar para o crescimento de nossas cidades e estamos lutando juntos. Procuramos a Agência Na-cional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Comissão de Transpor-tes da Câmara Federal, através do deputado Federal Jayme Martins, nossas lideranças em Brasília e já estamos colhendo os primeiros re-sultados dessa batalha. Já temos a verba para os estudos de viabilidade e o Governo Federal já anunciou um PAC de Hidrovias para o ano que vem, que naturalmente contempla-rá o nosso projeto.

Quanto custará a obra e

quando ela ficará pronta? O custo da hidrovia, em sua

primeira fase, é de cerca de R$ 10 milhões, necessários para fazer a li-gação entre Formiga e Alfenas. Este trecho e suas ramificações deverão ficar prontos em 2014. Serão ne-cessários portos em diversos muni-cípios, afim de que a carga trans-portada, seja ela qual for, possa ser embarcada e desembarcada mais facilmente. Mas a nossa proposta vai além. No futuro, queremos ver o Lago de Furnas interligado à hi-drovia Tietê-Paraná, um modelo de sucesso neste setor, o que ligará o sul de Minas com estados do sul e centro-oeste do nosso país e até com outros países vizinhos. A li-

gação intermodal da hidrovia com ferrovias e rodovias da nossa região também trará muito mais competi-tividade para nossos produtos

Quais os benefícios que a

região terá com a implantação da Hidrovia?

A região do Lago de Furnas, no

sul de Minas, é uma das mais férteis do Brasil, a produção agropecuária e industrial dos municípios de Furnas é muito grande e a hidrovia vai re-duzir enormemente os custos, pois este tipo de transporte é muito mais barato e eficiente. Muitos empre-sários estão convencidos de que a criação da hidrovia e a consequente redução dos custos com transporte farão com que todos saiam ganhan-do. Uma indústria do ramo de cal-cário nos procurou para iniciarmos um trecho de 60 km entre Carmo do Rio Claro e Alfenas, o mesmo vai

acontecer em diversos municípios. Empresas de café, do setor sucro-alcooleiro, todas elas vão poder transportar com mais segurança e menor custo - inclusive ambiental. Isto porque a hidrovia oferece maior eficiência energética, gasta menos combustível e polui muito menos. Há um estudo indicando que qua-se 50% dos caminhões viajam va-zios pelo Brasil, porque levam uma mercadoria e voltam sem carga. Na hidrovia, por exemplo, poderemos receber calcário da região de Arcos e as barcas voltarem para lá cheias de fertilizantes. Mas, além de cargas, o Lago deve transportar também pes-soas, em especial turistas, que terão mais um acesso às belezas do Mar de Minas. Ou seja, é quase como se criássemos repentinamente mais de 500 km de novas estradas na região, e todos sabem que o desenvolvi-mento, o progresso, vem através de bons meios de transporte.

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Hidrovias são caminhos pré-determinados para o tráfego aquático. São bastante utilizadas em países desenvolvidos para transportes de grandes volumes a longas distâncias, pois é um meio de transporte mais barato que rodovias e ferrovias.

No Brasil, apesar das grandes bacias hidrográficas existentes, as hidrovias não são muito utiliza-das. Ao longo de sua história, o país optou por privilegiar a malha rodoviária, construindo grandes rodovias, boa parte delas paralelas a locais navegáveis que diminu-iriam o custo dos transportes.

Grande parte das bacias brasileiras são perfeitamente navegáveis, mas em alguns trechos há a necessidade de correções para a utilização, além de investimen-tos como a construção de eclusas e portos. As hidrovias com maior potencial do país são:

Amazonas-Solimões - A Am-

azonas-Solimões é uma hidrovia natural com potencial de trans-porte de cargas gerais, passageiros, grãos e minérios. Pela hidrovia do Amazonas, são realizados o trans-porte de derivados de petróleo refinados, a importação de compo-nentes e mercadorias destinadas à Zona Franca e as exportações do distrito industrial e Manaus. Ela é a mais importante do país, tanto em termos da quantidade de carga transportada (62% do total transportado em hidrovias) quanto da produção de transporte (70% da produção de transporte hidroviário).

Paraguai-Paraná - A parte brasileira desta hidrovia, ou seja, o trecho do rio Paraguai compreen-dido entre Cáceres e a confluên-cia com o rio Apa, conta com 1.270 km de extensão. Serve principal-mente como uma das alternativas para o escoamento da produção de Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul. No trecho em funciona-mento, que liga Corumbá-MS até Porto de Nueva Palmira - Uruguai, a soja é o principal produto trans-portado

Parnaíba - A hidrovia do Par-naíba, com uma extensão aproxi-mada de 1.600 km e localizada na Bacia Hidrográfica do Nordeste, é constituída pelos rios Parnaíba e das Balsas. A área de influência da hidrovia do rio Parnaíba abrange as seguintes regiões/polos agrícolas: sudeste do Maranhão; sudoeste do Piauí; noroeste da Bahia; e nor-deste do Tocantins, totalizando uma área agricultável de aproxim-adamente 8 milhões de hectares. A produção agrícola é constituída, principalmente, pelas culturas de soja, cana, arroz e milho.

São Francisco- O Rio São Fran-cisco conhecido como o “Velho Chico” é o maior rio presente totalmente no Brasil. Por sua im-portância para a economia de uma

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ampla região do país, já foi chama-do de rio da integração nacional. O principal trecho navegável do rio possui 1.300 km de extensão e passa entre as cidades de Pira-pora (MG) e Juazeiro (BA). O São Francisco tem um enorme poten-cial subutilizado, que poderia ala-vancar as economias e diminuir os custos de transporte das empresas instaladas nas regiões por onde passa. A vocação natural do rio é para o escoamento de grãos, mas há potencial para o transporte de combustíveis e até de veículos.

Sul - As Hidrovias do Sul são apresentadas como uma impor-tante estratégia para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e para o País, pelo poten-cial das hidrovias interiores na redução de custos e economia de combustível no transporte de car-gas, especialmente as de grande volume unitário, O trecho for-mado pelos rios Jacuí, Taquarí, Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim possui extensão navegável de 1.300 km, e na bacia do Uruguai, abrangendo o rio Uruguai e Ibicuí, potencial para 1.200 km de vias navegáveis. Ali circulam produtos como insumos para fertilizantes, grãos, carvão, areia, óleo vegetal, cavaco de madeira, combustíveis e produtos químicos.

Tapajós-Teles Pires - A hidrovia Tapajós-Teles Pires possui 1.043 km de extensão, sendo 851 km no rio Tapajós entre Santarém (PA) e a confluência dos rios Teles Pires e Juruena e 192 km no rio Teles Pires entre sua foz e a cachoeira Rasteira. É considerada rota prin-cipal para a exportação de grãos de todo o centro norte do estado de Mato Grosso, com importante incremento no comércio exte-

rior, assim como, via interior de transporte de cargas advindas da região norte do País em direção ao centro do estado do Mato Grosso. Há previsões de que será possível transportar até 5 milhões de tone-ladas por ano nessa hidrovia.

Tietê-Paraná - É a maior hidro-via em extensão e volume - ligan-do Conchas-SP a São Simão-SP (2.400 km e 5,7 milhões de tone-ladas de cargas transportadas) ao longo dos rios Paraná e Tietê. Esta hidrovia é muito importante para o escoamento da produção agrí-cola do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e parte de Rondônia, Minas Gerais e Tocantins. Possui um trecho de 1.250 km navegáveis sendo 450 km no rio Tietê e 800 km no rio Paraná.

Tocantins-Araguaia - E s t a hidrovia conta com aproximada-mente 3.000 km de vias potencial-mente navegáveis. Sua implanta-ção possibilitará o escoamento da produção agrícola dos estados do Mato Grosso, Goiás, Tocantins e oeste da Bahia, transportando com agilidade e grande econo-mia no custo de frete dos produ-tos agrícolas, minérios, insumos para atividades de agricultura e pecuária, produtos siderúrgicos, combustíveis e seus derivados.

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AS ORIGENSDA USINA

Conta a história que foi o enge-nheiro da Cemig Francisco Noro-nha quem descobriu as Corredei-ras das Furnas, quando saiu para pescar a convite da família Men-des Júnior. Diante de um cânion longo e profundo, o engenheiro, impressionado, tirou fotos, dese-nhou barragens e calculou a pro-fundidade do reservatório e, em Belo Horizonte, apresentou seus estudos à Cemig, que já plane-java fazer uma barragem no Rio Grande.

Corriam os anos 50 e o país de Juscelino Kubtscheck, querendo crescer cinquenta anos em cinco, precisava de energia para susten-tar o crescimento e atender à de-manda dos três principais centros socioeconômicos do país: São Pau-lo, Rio de Janeiro e Belo Horizon-te, evitando um possível colapso energético.

Em 28 de fevereiro de 1957, JK, no Palácio do Rio Negro, re-sidência de verão do Governo em Petrópolis, assinou o decreto 41.066, que autorizava a cons-trução da Usina Hidrelétrica de Furnas – primeira de grande por-te no Brasil, com capacidade para

gerar 1.216 MW e obra essencial do Plano de Metas do então pre-sidente. A construção foi iniciada em 1958 e a primeira unidade entrou em operação em 1963. Por ironia do destino, sua inaugu-ração, em 1965, não teve a presen-ça de Juscelino, cujos direitos po-líticos tinham sido cassados pelo regime militar.

O LAGODE FURNAS

O Lago de Furnas é a maior ex-tensão de água do Estado de Mi-nas Gerais. Com cerca de 1.500 m2

17e tem outros números expressivos: cobre uma superfície de 1.457,48 km²; acumula represados cerca de 23 bilhões de metros cúbicos de água; seu perímetro mede por volta de 3.700 km de extensão (quase metade da costa marítima brasileira); banha 34 municípios, onde moram aproximadamente 1 milhão de pessoas; é cinco vezes maior do que a Baía da Guanabara; compõe a maior extensão de água no Estado de Minas Gerais; é um dos maiores lagos artificiais do mundo; pode produzir até 1.216 megawatts de energia.

Assim é o Lago de Furnas, cari-nhosamente chamado de Mar de

Minas. Os principais rios que for-mam o Lago de Furnas são o Rio Grande e Sapucaí. Além desses dois rios, o Lago de Furnas é tam-bém alimentado por nascentes e rios menores que ali deságuam, alguns deles formando belas ca-choeiras.

CIRCUITOSTURÍSTICOS

Equidistante das principais ci-dades da região sudeste, o Lago de Furnas tem também localização privilegiada para o turismo, envol-vendo diretamente 36 municípios,

pertencentes ao chamado “Circui-to do Lago”. A região é belíssima. As águas do lago refletem o azul do céu, emoldurado pelas monta-nhas de Minas. Destaque para os Canyons, formações rochosas com mais de 20 m de altura que reve-lam cenários surpreendentes e be-líssimas cachoeiras, como a Lagoa Azul, perfeita para um mergulho e muita diversão.

Outras atrações da região são o Balneário Furnastur e Escarpas do Lago, um condomínio de alto pa-drão de luxo que possui uma das maiores marinas de Minas Gerais e infraestrutura completa para seus moradores e visitantes. Além

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de produtos turísticos específicos, a região oferece também uma boa es-trutura hoteleira que pratica a tradi-cional hospitalidade mineira, tempe-rada pela mais saborosa gastronomia.

São oito os circuitos turísticos que possuem pelo menos uma cidade lin-deira ao Lago de Furnas: Circuito Ca-minhos Gerais, Circuito da Canastra, Circuito Grutas e Mar de Minas, Cir-cuito Lago das Gerais, Circuito Lago de Furnas, Circuito Nascentes das Gerais e Circuito Vale Verde e Que-das D’água.

Com maior ou menor intensida-de, todos os 34 municípios banhados pelo Mar de Minas foram beneficia-

dos com a formação do lago. A nova e surpreendente paisagem – onde não faltam cânions, deliciosas praias, belas cachoeiras e pesqueiros – trouxe para a região investimentos em infraestru-tura e em instalações voltadas para o turismo, como pousadas, hotéis, quios-ques, restaurantes e marinas.

Além da natureza privilegiada, é pos-sível encontrar ali desde manifestações culturais expressivas da mais autêntica tradição mineira até locais para a práti-ca de esportes náuticos, pesca e trilhas ecológicas. O Mar de Minas constitui-se, desta forma, num inesgotável ma-nancial de oportunidades de exploração econômica e turística.

Algumas de suas atrações – como os muito balneários, as escarpas rochosas, cachoeiras e praias – e as de seu entorno, emol-durado por serras e montes, soma-das àqueles atrativos oferecidos por inúmeras cidades banhadas pelo Lago – como o artesanato, a gastronomia, as festas e tradições populares – levaram à formação da Alago – Associação dos Municípios do Lago de Furnas, uma entida-de que desenvolve ações voltadas para a sustentabilidade econômica e a preservação ambiental dos mu-nicípios ribeirinhos.

A Alago divulga os atrativos

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Etapa Fama

19turísticos da região, descobre trilhas, institui roteiros, orien-ta empreendimentos e trabalha pela preservação dos recursos naturais na área de abrangência do Mar de Minas, com o intuito de fazer daquela região um dos melhores circuitos turísticos do Estado.

PARAÍSO DA PESCA

O Lago de Furnas é um paraí-so para quem gosta de pescar. São quase 1.500 quilômetros

quadrados de águas piscosas, onde nadam espécies como dou-rado, tucunaré, traíra, tilápia, lambari, bagre, mandi e outros. Diante de tal imensidão, rapi-damente a pesca esportiva virou atividade obrigatória no local. A Alago criou em 2006 o I Circuito de Pesca Esportiva, com várias etapas e a maior premiação em sua categoria no país.

Muitas festas movimentam o Lago de Furnas o ano todo, como o Carnafurnas, Julifest e Okto-batuque, Expocapitólio e o ani-mado Carnapitólio . Um lugar de paisagens maravilhosas para se

conhecer, com inúmeras opções de hotéis e pousadas às margens da represa de Furnas.

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A hidrovia Lago de Furnas está saindo do campo das conversas e partindo para a prática. Tanto que já existe até uma data prevista para que o trecho entre Formiga e Alfenas esteja funcionando: 2014. Um processo que começa com a liberação de recursos de R$ 300 mil para a realização de um estudo completo de viabilidade econômi-ca, ambiental e técnica.

O anúncio da liberação foi feito durante o Seminário sobre a Hi-drovia do Lago de Furnas, reali-zado no mês de abril em Formiga, pelo deputado federal Jaime Mar-tins. O objetivo principal foi dis-cutir o aproveitamento econômico do lago por meio do transporte de cargas e pessoas. O deputado fe-deral falou das primeiras reuniões em Brasília e elogiou a persistên-cia do coordenador do projeto, o ex-prefeito de Alfenas Pompilio Canavez e outros prefeitos.

Segundo ele, a ideia da hidro-via não é nova, “mas nunca antes havia avançado tanto, ao ponto de

virar um projeto”. Ele lembrou que este modal tem maior capaci-dade de transporte e menor cus-to operacional. Mas, enfatizou, é preciso unir todos os esforços para viabilizar uma hidrovia, como Fur-nas Centrais Elétricas, Governo Federal, Governo Estadual e Pre-feituras.

Martins disse que a hidro-via Lago de Furnas vai colaborar para a expansão do turismo na re-gião e servir de ligação com pon-tais de ferrovia e rodovias para o transporte de cargas. “O trecho entre Formiga e Alfenas poderá ser concluído em quatro anos. A longo prazo, cerca de uma déca-da, queremos unir esta hidrovia à hidrovia Tietê-Paraná. Este prazo tem de ser maior, porque serão necessárias eclusas – mecanismo que permite descida e subida de embarcações em locais de grande desnível”, explicou. O deputado estadual Antônio Carlos Arantes ressaltou que a região não explora o seu potencial hidroviário. Como

exemplo de produto a ser trans-portado, citou o calcário, que hoje viaja por rodovias.

Potencial hidroviário

O gerente de desenvolvimen-to e regulação da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviá-rios) do Ministério dos Transpor-tes, Adalberto Tokarski, afirmou que o Brasil ocupa hoje o 10º lugar na economia mundial, mas che-gará ao 5º e será responsável pela produção de 50% de todo o ali-mento produzido no mundo. Por isso, precisará usar de forma mais madura seus modais de transpor-te. Ele ressaltou que, atualmente, o transporte hidroviário, incluindo hidrovias e transporte marítimo, responde por 13% de toda a car-ga transportada, mas a proposta é que chegue a 29%.

“Esta região tem condições para ter sua hidrovia. Para isto, a

SEMINÁRIO EM FORMIGA ABRE CAMINHO PARA HIDROVIA

21Alago é fundamental, porque é composta de prefeitos de todos os partidos. Estes prefeitos não podem perder este momento. O Pompilio é um homem teimoso. Pediu, pediu e agora conseguiu”, destacou Tokarski.

Ele lembrou que a Antaq é uma agência reguladora, que não realiza obras mas pode ajudar na articulação. “O principal papel é regular, criar normas e fazer a fiscalização federal, mas a Antaq tem um papel de fomento de hi-drovias”, disse, lembrando que a agência promoveu diversos semi-nários sobre hidrovias, inclusive internacionais. “Perguntamos na Bélgica como eles faziam para re-duzir os danos ambientais causa-dos pelas hidrovias e eles ficaram sem entender nada, porque lá fazem hidrovias justamente para reduzir estes danos.”

Para o gerente da Antaq, é me-lhor ter dois motores ligados de uma embarcação do que 50 de ca-minhões. “Uma hidrovia tira cami-nhões de grandes percursos, pois por ela passam justamente cargas de grande volume e baixo valor agregado. Com isso, haverá mais segurança, vão morrer menos pes-soas, rodovias ficarão menos estra-gadas. Se houver um transporte de baixo custo entre as cidades, todos ganham”, finalizou.

Pedra fundamental

O coordenador de manuten-ção de hidrovias do Departamen-to Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Flávio Nu-nes citou números que compro-

vam a eficiência das hidrovias. Se-gundo ele, o custo por quilômetro rodado é de US$ 0,025 na hidro-via, enquanto na ferrovia é de US$ 0,064 e na rodovia US$ 0,084. “A vida útil de uma rodovia é de ape-nas 10 anos. Já a ferrovia tem vida útil de 30 anos e a hidrovia de 50 anos”, acrescentou.

Para Flávio Nunes, o seminário em Formiga é a pedra fundamen-tal da hidrovia. Ele lembrou que o Lago de Furnas não é federal – por ficar totalmente dentro apenas do Estado de Minas Gerais - mas que o Dnit pode auxiliar com sua experiência e até mão-de-obra. Ele ressaltou que o momento é o mais oportuno para a implantação da hidrovia, pois o país começa a investir neste tipo de transporte. “Em todos os comparativos, seja na emissão de gases poluentes, de preservação de vida humanas, volume de carga, emissão de po-luentes, a hidrovia, entre todos os modais, é a mais democrática e a

mais sustentável ambientalmente falando”, afirmou.

Nunes ressaltou que os estu-dos batimétricos vão identificar as profundidades da água ao longo do traçado da hidrovia e identificar se haverá necessidade de grandes obras, mas a princípio, como as hidrovias se utilizam de embar-cações de baixo calado, em torno de 2,5 a 3 metros, tudo indica que não serão necessárias grandes in-tervenções.

Protocolo de intenções

Ao final do seminário, foi assi-nado um Protocolo de Intenções para a implantação da hidrovia Lago de Furnas. Pompilio Canavez reiterou o avanço representado pela reunião em Formiga, segundo ele, “fruto da luta e da perseve-rança de todos que acreditaram na ideia da hidrovia”.

Ele lembrou que a região do lago é grande produtora de café, leite, cana-de-açúcar e calcário e que tem uma indústria promisso-ra. Reforçou que o trecho Formiga-Alfenas e ramificações deverá ficar pronto em 2014 e que a ligação com a hidrovia Tietê-Paraná tem previsão para funcionar em 2019.

Participaram do encontro os prefeitos de Alfenas, Formiga, Aguanil, Iguatama, Estrela de In-daiá, Carmo do Rio Claro, Córrego Fundo, Pimenta, Candeias, Ca-macho e Moema, representantes dos prefeitos de Capitólio, Cris-tais, Campo Belo e Boa Esperan-ça, vereadores, representante da Universidade Federal de Itajubá, Benedito Cláudio dos Santos e empresários.

Pompilio Canavez,Coordenador do Projeto Hidrovia

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PRIMEIROS PASSOS Hidrovia

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23A criação da hidrovia do Lago

de Furnas, como eixo de integra-ção econômica e cultural dá seus primeiros passos. Um deles é o es-tudo de viabilidade do empreen-dimento, para o qual foi liberada a verba de R$ 300 mil pelo Ministé-rio dos Transportes. Inicialmente, a hidrovia terá um percurso de 250 quilômetros, além de rotas alter-nativas, e ligará Alfenas a Formiga, com diversos portos ao longo do percurso, o que beneficiará, direta ou indiretamente, cerca de 50 ci-dades. O custo inicial da obra é de R$ 10 milhões, que poderá contar com a participação da iniciativa privada.

Para o ex-presidente do Comi-tê de Bacias da Região do Lago de Furnas, Pompilio Canavez, a hidrovia trará novos caminhos para o crescimento econômico da região. “Contamos com um ver-dadeiro mar e precisamos nave-gar por ele, ligando comunidades, culturas, economias e promoven-

do o turismo”, diz. Ele acredita também que o empreendimento impulsionará o potencial turístico do Circuito do Lago. “Nós quere-mos o uso múltiplo dessas águas. Um deles seria o transporte de mercadorias e pessoas, que in-fluenciaria diretamente o turis-mo”, aponta Canavez.

“A hidrovia, na verdade, já exis-te. Só é preciso criar os mecanis-mos para utilizá-la, como carta náutica e sinalização”, afirma Ca-navez, apontando as vantagens de sua utilização: “é uma manei-ra mais barata de transportar a forte produção agropecuária dos municípios às margens do lago. E também um modo de desafogar as rodovias da região, que já não comportam o tráfego intenso de veículos pesados”.

Só para se ter uma ideia, o cus-to para transportar mercadorias no sistema hidroviário pode chegar a um terço do preço médio do trans-porte rodoviário. Para transportar

mil toneladas/ quilômetro úteis (TKU), são consumidos 5 litros de combustível na hidrovia, con-tra 10 litros na ferrovia e 96 litros na rodovia.

A hidrovia é uma maneira mais barata de transportar a grande produção agropecuária da região, na qual se destaca a cana de açúcar, o café, batata inglesa, mandioca, feijão, arroz, milho, tangerina e gado bovino. Outros produtos, como o calcário, também teriam efetivos ganhos no custo final de transporte.

Pompilio Canavez destaca ainda o incremento que a hidrovia traria aos atrativos já existentes na região, como a pesca esportiva, esportes náuticos o trekking e o t u r i s m o r u r a l .

Hidrovia

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“A hidrovia traz consigo uma grande capacidade de incrementar o turismo. A construção de uma marina, por exemplo, revitaliza a área urbana e se complementa com empreendimentos como hotéis, pousadas e parques, o que representa benefícios reais para a comunidade local com a criação de novos empregos e novos serviços, que melhoram seu padrão de vida”.

O prefeito de Formiga, Alu-ísio Veloso, acredita no poten-cial de desenvolvimento de hidrovia, ao aproximar regiões que foram afastadas pelo reser-vatório. “Nossas cidades eram próximas. A distância entre elas cresceu com a construção da represa. A hidrovia levará a uma reaproximação, o que vai gerar desenvolvimento econô-mico, cultural e social para re-gião”, ressalta.

O prefeito de Alfenas, Luiz Antônio da Silva, destaca ganhos na segurança. “Com a obra, as rodovias estaduais e federais fi-carão menos sobrecarregadas. As estradas terão menos movimen-to. Serão menos buracos e menos acidentes”, afirma.

Ideia ganhaapoio

O projeto da hidrovia do Lago de Furnas está ganhando corpo e apoio, e vem mobilizando, cada vez mais, não só as lideranças polí-ticas, mas também o setor privado. O prefeito de Guapé e presidente da Alago (Associação dos Municí-pios do Lago de Furnas), Nelson Alves Lara (PT), afirma que a hidrovia “é um sonho da Alago, um sonho de todos os prefeitos da região e será um fruto do trabalho de todas as lideranças da região”, afirma.

Para ele, a hidrovia vai possi-bilitar o crescimento econômico da região do lago e incrementar o turismo. “Antes, somente nós falávamos nisso, principalmente o ex-presidente da Alago, Pom-pilio. Agora, os Governos já estão mostrando interesse. Prova disso é que o governo do Estado também está discutindo isso”, diz Lara.

Aluísio Veloso (PT), prefeito de Formiga, afirma que “a hidro-via é necessária e importante, principalmente por unir dois ex-tremos do lago. Embora ainda

sejam necessários estudos de via-bilidade, profudidade e existência de obstáculos como pontes, por exemplo, seria excelente para o transporte de cargas e pessoas.” Segundo Veloso, um dos produ-tos que poderiam ser transporta-dos pela hidrovia é a cal virgem de Formiga para Alfenas e outros municípios vizinhos, “mas seria uma via de mão dupla. Há mui-tos produtos a serem transporta-dos por embarcações aquáticas”, ressalta.

Veloso também acredita que o assunto hidrovia está ganhando força. “A Alago está ajudando nes-ta luta e sei que o Ministério dos Transportes já está discutindo o

Aluísio Veloso, prefeito de Formiga

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assunto. Isto mostra que a hidro-via pode sair do sonho e se tornar realidade”, informa. O prefeito de Formiga destaca ainda o baixo custo do transporte aquaviário e o baixo índice de poluição. “Isto é algo importante. Temos de procu-rar alternativas menos poluentes.”

Empresários apoiam ideia

Benedito Staut, da Café Brasil, acredita que por se tratar de um transporte de custo muito me-nor em comparação ao rodoviário “seria muito interessante para a região. Traria crescimento e novas oportunidades. Hoje, muitos dos empreendimentos que Alfenas e toda a região poderiam ter, são in-viabilizados pelo custo do frete”, ressalta. Se a hidrovia Alfenas/Formiga for implantada, expli-ca, a matéria-prima para diversos produtos poderia vir para cá em barcas e estas levariam de volta outros produtos. Como exemplo, citou a Mosaic e a Bunge – duas das maiores empresas produtoras de fertilizantes do mundo – que possuem unidades em Alfenas.

Para Staut, com a implantação

da hidrovia Alfenas/Formiga, a re-gião se tornará mais competitiva nos mais variados setores produ-tivos, como café, cimento, cal e calcário, apenas para citar alguns. “Ou seja, este tipo de transporte irá revitalizar os negócios já exis-tentes e possibilitar a criação de outros”, observa. “ Só vejo vanta-gens na hidrovia: o custo do frete é menor, gasta menos combustí-vel, polui menos, não detona as es-tradas. Se implantarmos o sistema de hidrovia, seremos pioneiros, pois isto ainda não existe no Lago de Furnas”, completa.

Segundo o presidente da Coo-xupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé), Car-los Alberto Paulino da Costa, a via-bilidade da implantação de uma hi-drovia no lago depende de estudos que devem ser realizados. Mas se a hidrovia se tornar realidade, todo tipo de produto será beneficiado, inclusive o café, que em sua maio-ria é transportado via rodovias.

Perspectivasde expansão

O grupo empresarial Adeco-agro participa de vários projetos de usinas de açúcar e álcool no Brasil, entre elas, uma unidade em Monte Belo, sul de Minas: a usina Monte Alegre. Com produ-ção atual de 900 mil toneladas de cana, projeta um crescimento de 40% nos próximos três anos, com expansão da produção em mais 400 mil toneladas.

“O Grupo Adecoagro está pre-parado e disposto a investir nessa expansão, a exemplo dos investi-mentos já realizados em geração de energia elétrica, a partir da

sobra do bagaço da cana”, explica o gerente geral da Usina, Ronaldo Duarte Pereira. “No entanto, te-mos uma grande dificuldade em encontrar áreas de expansão com topografia apropriada à cultura mecanizada da cana de açúcar, dentro de distâncias viáveis eco-nomicamente”, observa.

A cultura mecanizada é hoje uma exigência ambiental, regula-mentada recentemente pelo Go-verno de Minas Gerais, exigindo que toda expansão seja feita em áreas sem a necessidade da quei-ma da cana. “Por essas razões, a Hidrovia de Furnas nos abre a perspectiva de uma expansão em novas áreas até então inacessíveis e inviáveis, pela volta que terí-

amos que dar para transportar a cana”, aponta Pereira, que acena com uma perspectiva ainda me-lhor para a região. “Com a hidro-via, poderemos implantar uma segunda unidade da Usina Monte Alegre na região, em terras apro-priadas, com capacidade de moa-gem de três milhões de toneladas de cana/ano, o que irá ampliar consideravelmente a geração de empregos e renda”, revela.

Nelson Larapresidente da Alago

Luiz Antonio da Silva,prefeito de Alfenas

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Hidrovia, aquavia, via navegá-vel, caminho marítimo ou cami-nho fluvial são diferentes desig-nações para a mesma coisa: um caminho sobre a água, cujas vias navegáveis que foram balizadas – com boias que demarcam o canal de navegação - e sinalizadas para o tráfego seguro de determinada embarcação, suas cargas, passagei-ros ou tripulantes e que dispõem de cartas de navegação – os mapas delimitadores das rotas de nave-gação.

No caso de Furnas, a inunda-ção da área do lago se deu sem a retirada dos elementos físicos que poderiam atrapalhar uma navegação futura. Casas, pontes, igrejas e árvores foram simples-mente abandonadas no processo de alagamento, criando obstácu-los a uma navegação comercial regular.

Justamente por isso, a utili-zação da hidrovia exige uma cui-dadosa análise batimétrica para a demarcação desses obstáculos, que podem atrapalhar a passa-gem das embarcações. “É desta

maneira que definiremos um canal de navegação, com baliza-mento e sinalização, para uma navegação comercial e turística’, explica o consultor de logística Ronan Gouveia.

“Definidas as rotas, terminais e cargas, nós encontraríamos a “embarcação tipo” capaz de oti-mizar o transporte, com melhor rendimento e menor custo ope-racional. Além de definir itens de infraestrutura, como termi-nais, pontos de transbordo, tipos de acondicionamento de cargas e sazonalidade”, completa.

No Lago de Furnas, as im-plicações geoambientais e o desenvolvimento regional rela-cionam-se diretamente com a implantação eficiente de uma Hidrovia. “Temos que começar imediatamente os mapeamentos básicos que permitam diagnós-ticos e projetos específicos para sua implantação”, diz Ronan.

“Eles incluem a avaliação das cartas existentes e o levan-tamento de dados para novas cartas, a definição das áreas de

expansão urbana, das áreas de plantio e estimativa de produ-ção e os dados para um diagnós-tico da dinâmica microrregional e suas implicações socioeco-nômicas, com destaque para a atividade turística. Além de es-tudos geológicos e geomorfoló-gicos, entre outros”, completa.

O governo de Minas já tem, através da Secretaria de Estado de Transportes e obras Públicas, um estudo sobre o transporte hidrovi-ário em Minas Gerais, com um ca-pítulo dedicado ao Lago de Furnas. Entre as ações propostas estão a realização de um estudo para iden-tificação do potencial econômico e turístico dos municípios situados na área de influência do lago; le-vantamento das condições da ma-lha viária de acesso ao Lago; iden-tificação dos elementos físicos que impedem a navegação regular, tais como pontes e obstáculos submer-sos e entrevistas com potenciais usuários da modalidade, verifican-do total da carga, origem, destino, custos atuais por rota e empecilhos à navegação.

Providências necessárias

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Hidrovia em números

Gráfico: Adriana Corrêa

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