Revista Perfil

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Perfil Revista Perfil | Nº 1 - Dezembro 2009 De Cusco à Fortaleza, a trajetória de Carlos Gibaja. Seguindo Educação e política por Maria Lúcia Hitórico Como melhorar suas fotografias Dicas Maria Lúcia Carlos Gibaja

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Trabalho de faculdade.

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filRevista Perfil | Nº 1 - Dezembro 2009

De Cusco à Fortaleza, a trajetória de Carlos Gibaja.

Seguindo

Educação e política por Maria Lúcia

Hitórico

Como melhorar suas fotografias

Dicas

Maria LúciaCarlos Gibaja

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10PersonagemEm busca de novo ares

15Jogo rápidoDicas de como foto-

grafar bem

05PersonagemA dona da história

08EstiloDesconstruindo a arquite-

tura das coisas

03EstiloTudo começa pela

educação

Per

filExpediente

Jornalistas

Andrea Crisóstomo Jessika Thaís

Diagramação

Kelly Cristina

Fotos

sxc.hugoogle.com

Carlos GibajaJessika Thaís

Andrea Crisóstomo

Índice

Foto: Andrea CrisóstomoFoto: Carlos Gibaja

Foto: Carlos Gibaja

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Estilo^

Tudo começa pela EducaçãoSem perceber, a vida pública começou dentro das salas de aula, ultrapassou os muros do colégio e ganhou força na Assembléia Legislativa.

Num final de tarde de uma se-gunda feira, Maria Lúcia Maga-lhães Corrêa me recebeu em seu apartamento atendendo a um pedido meu. No sofá da sala ela já estava a minha espera quando cheguei.

Ela continuava do jeito que eu me lembrava, uma mulher vaido-sa e muito atenta a sua aparência pessoal. O sorriso se apresentava fácil como sempre, a gentileza em receber, e eterna memória de professora, que lembrou do meu nome assim que apareci em sua porta, ainda são características marcantes.

O estilo conservador ainda permanece presente. Dona de conduta austera, respeitadora da moral e dos bons costumes, ela mantém até hoje a disposição para ouvir e orientar a quem lhe pede por um conselho.

Dona Maria Lúcia, como é tra-tada por grande parte das pes-soas, veio da cidade de Senador Pompeu, no Sertão Central. Filha de família grande, tinha seis ir-mãos de sangue e outros quatro de coração. A exemplo de sua mãe, Dona Perpétua, teve filhos biológicos e adotou mais dois. Ao todo, são oito filhos que criou e educou ao lado do seu esposo já falecido, Danilo Dalmo da Rocha Corrêa.

Ainda muito jovem, iniciou o que considera hoje a preparação para a vida pública. Mesmo sem perceber, Dona Maria Lúcia, à

frente da administração do hospi-tal que hoje é a Maternidade Pau-lo Sarasate e depois na direção do Colégio Janusa Correa, os dois na cidade de Caucaia, começou a dar os primeiros passos de uma trajetória cheia de iniciativas pio-neiras.

Sinto muita saudade dos tem-pos que fui diretora do Colégio Janusa Corrêa em Caucaia. Par-ticipei de quase todo o processo de criação do colégio. Eu ainda trabalhava no hospital quando Paulo Sarasate, que tinha sido meu diretor quando eu estuda-va no Lourenço Filho, me desco-briu na administração e convidou para ajudar no projeto do colégio. Não tive muita escolha e acabei atendendo ao chamado e fui tra-balhar no colégio. Mas fui gostan-do da história!

Para os menos informados, é importante dizer que, dentre mui-tas outras contribuições sociais, Paulo Sarasate foi fundador jun-to com Antônio Filgueiras Lima, do Colégio Lourenço Filho, onde Dona Maria Lúcia estudou e o teve como seu diretor. Também foi alu-na do histórico Liceu do Ceará, de onde saiu para ingressar no curso de Filosofia Pura, na Faculdade de Filosofia Católica do Ceará. Sem saber, já naquela época, come-çou a desenhar os caminhos que iria percorrer no futuro.

Então, em 1961 o Colégio Ja-nusa Corrêa foi concluído e Dona Maria Lúcia, junto com Paulo Sara-

sate organizou o primeiro exame de admissão com 21 alunos ins-critos. Começava aí sua trajetória como educadora, trabalhando voluntariamente, junto com outros professores.

Fiz de tudo dentro do colégio. Arrumei as carteiras na sala de aula, ajudei na organização da secretaria, dei aula de português, francês, história e ainda me aven-turei pelo inglês. Não sou profes-sora de formação, mas minhas experiências na vida acadêmica me deram um boa base. Mas a vontade de fazer e o amor que dediquei ao colégio foram deter-minantes para minha vida.

Quando quase ninguém sabia o que era “Construtivismo”, den-tro do colégio iniciava-se mais uma ação pioneira da educado-ra. Dona Maria Lúcia estimulava os alunos a aprender através da troca de experiências e de ativi-dades lúdicas. Houve uma vez, quando dava aula de História do Brasil, que propôs às crianças es-tudarem sobre etnias indígenas de forma diferente. Na aula seguinte, os alunos por conta própria, apa-receram na sala cada um fanta-siado de índio, representando as diversas tribos espalhadas pelo Brasil.

Determinação e boa vontade marcaram a vida de Dona Maria Lúcia. Apesar de se auto-intitular conservadora, sempre teve idéias inovadoras, o que contribuiu para desenvolvimento.

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Está à frente do Colégio Janusa Corrêa desde sua fundação em 1961. Hoje, 48 anos depois, fala do colégio com o mesmo entu-siasmo do começo. A felicidade parece aflorar nos olhos quando se lembra dos desafios e experi-ências que viveu como professora e diretora do Janusa Corrêa.

Quando pesquisava me prepa-rando para esse trabalho, procurei conversar com alunos, pais e pro-fessores da época que Dona Ma-ria Lúcia dedicava-se inteiramente ao colégio.

Perguntei a cada um deles como era a Dona Maria Lúcia, e a resposta parecia haver sido com-binada entre eles. A professora e diretora era muito presente e dinâ-mica, sempre com boa vontade e disposição para vencer desafios.

Déa Crisóstomo, funcionária da época da fundação do colégio que trabalhou na secretaria, e de-pois na biblioteca, disse que Dona Maria Lúcia era muito atenta a tudo o que acontecia na escola. Percebendo o jeito que a funcio-nária tinha com as crianças, ela convidou-a a participar do projeto de criação do “jardim da infân-cia”. Déa recebeu treinamento de “jardineira” com profissionais de outros estados e passou a dar aula. Essa iniciativa implantada pela diretora, tornou o colégio re-ferência em educação em todo o Ceará.

“Foi uma surpresa e tanto! Jamais esperei que aquele empurrãozinho fosse capaz de motivá-los daquela forma. Quem poderia imaginar que apareceriam caracterizados e com os no-mes dos povos indígenas na ponta da língua?”

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Personagem^

aAnos se passaram e em 1976 Danilo, seu esposo, foi eleito pre-feito de Caucaia pela extinta Aliança Renovadora Nacional – ARENA. Maria Lúcia, além de pri-meira dama foi merecidamente nomeada Secretária de Educa-ção do Município.

Quando assumi a Secretaria, me assustei com a situação em que estavam as escolas. Tudo completamente abandonado, prédios destruídos. Não havia nem diário de classe. Não sabia por onde começar.

Ao lembrar-se desse período, Maria Lúcia deixa transparecer toda tristeza que eu ainda não ha-via percebido desde o início da conversa. Ela passa a contar his-tórias num tom mais solene. O riso desaparece e a seriedade acen-tua as marcas da idade no rosto fechado e introspectivo.

Não havia memória nas esco-las. Não havia sequer crianças matriculadas, porque elas não ti-nham registro de nascimento. As crianças não existiam. Além do tra-balho como secretária de educa-

ção, era preciso fazer um trabalho social. A primeira dama do muni-cípio entrou em ação e o prefeito deu todo apoio necessário. Inicia-mos uma campanha para que to-dos os alunos tivessem registro de nascimento gratuitamente.

Nesse momento seu rosto per-de um pouco da tensão e as pa-lavras voltam a fluir mais soltas, sem o peso da lembrança ruim que visivelmente a perturbou.

A campanha pelo registro de nascimento dos alunos deu tão certo, que passamos a atender os irmãos, os primos e quem mais nos procurasse. Centenas de crianças foram beneficiadas com essa iniciativa. Depois disso, começa-mos a cuidar das escolas públi-cas com a experiência de quem estruturou um colégio particular. Fomos criando pastas individu-ais para acompanhamento dos alunos, implantamos o diário de classe. Aos poucos e com muito trabalho a educação do municí-pio foi melhorando, até alcançar índices inimagináveis, se igualan-do em qualidade ao município de

Maranguape, que naquela época tinha o melhor índice educacional do Estado.

Durante a campanha eleitoral do marido e já na gestão como prefeito, vez por outra Maria Lúcia era convidada a falar em públi-co. Ora como Primeira Dama, ora como Secretária de Educação. A presença nos palanques foi fazen-do com que a timidez fosse supe-rada.

Foi então que a educadora iniciou na política. Seu sogro, o Tenente Edson da Mota Corrêa, nome conhecido e respeitado na região, desistiu da vida política e incentivou a nora assumir seu le-gado. Ela foi oficialmente apre-sentada pelo Tenente Edson e foi eleita deputada estadual pela pri-meira vez em 1978.

Para se dedicar integralmente à política e defender sua principal bandeira na Assembléia Legislati-va, que sempre foi a educação, Maria Lúcia deixou a direção do Colégio Janusa Corrêa. Nos anos em que foi deputada, sempre bri-gou pela melhoria da educação

A dona da históriaApesar de se considerar conservadora, sempre esteve à frente do seu tempo com ações pioneiras e inovadoras.

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“Não havia me-mória nas esco-las. Não havia sequer crianças matriculadas, porque elas não tinham registro de nascimento.”

no Estado. Em 1989, quando era elaborada a Constituição do Esta-do do Ceará, Maria Lúcia foi Depu-tada Constituinte, participando das propostas e redação dos artigos da atual Constituição Estadual, sobre-tudo os referentes à educação.

Houve um ano em que ela não conseguiu ser eleita Deputada Es-tadual. Era 1982, ano de copa do mundo de futebol. Na eleição an-terior, a primeira em que concorreu ao pleito, Maria Lúcia teve votação expressiva e desenvolveu grandes trabalhos que teriam continuidade com as eleições de 1982.

O que ninguém esperava acon-teceu. Mesmo com uma campa-nha eleitoral intensa e bons traba-lhos realizados nos anos anteriores, Dona Maria Lúcia não foi reeleita. Para os caucaienses em especial, aquele foi um ano de duas gran-des derrotas: o Brasil havia perdido o final da copa do mundo para Itá-lia, e o povo perdeu sua represen-tante na Assembléia Legislativa.

Foi um período da história que Dona Maria Lúcia fala pouco e com muita tristeza. Naquela épo-

ca eu era criança pequena, mas se bem me recordo, após a conta-gem dos votos as pessoas falavam muito em “fraude”, uma coisa que eu não sabia muito bem o que era, e só muito tempo depois vim en-tender o que talvez tivesse aconte-cido naquele ano.

Quando meu sogro me lançou candidata, em Caucaia a recepti-vidade foi muito boa. Eu já era co-nhecida pelo meu trabalho como diretora do Janusa Corrêa, os pais dos alunos gostavam do colégio e tinham simpatia por mim. Depois, tive a chance de assumir a Secre-taria de Educação do Município, onde tivemos muito trabalho para organizar tudo e fazer as coisas fun-cionarem. Foi um tempo de muita luta em parceira com os professo-res e a comunidade, mas que deu bons resultados. Isso também fez com que eu conseguisse respeito e credibilidade junto ao povo de Caucaia. Mas nas outras cidades, eu aparecer como candidata não foi fácil, começando pelo fato de eu ser mulher. Muita gente dizia que aquilo era coisa para homens.

Quando estava em campanha pelo interior do estado, fui visitar a cidade de Mombaça. Senti uma resistência muito grande, princi-palmente por parte dos homens. Ele diziam que era muita audácia minha, uma mulher de fora, ir na cidade deles pedir voto.

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Muito observadora, Maria Lúcia prestava atenção nos outros candi-datos mais experientes e ia apren-dendo a falar com as pessoas. Mas uma coisa fazia a diferença entre ela e os outros candidatos. Jamais fez um discurso lido ou decora-do. Ela falava para cada público e para cada situação específica, transformando seus comícios em grandes conversas, falando de for-ma clara, como se estivesse dentro de uma enorme sala de aula.

Foi esse jeito de conversar com as pessoas, que a levou de volta à Assembléia Legislativa como a Deputada Estadual com votação bastante expressiva, inclusive no nas cidades de interior.

Teve uma vez que fui fazer um comício, lá em Mombaça mes-mo. Havia muitos velhos. Lembro bem deles. Nunca tinha visto tan-tos olhos azuis na minha vida. Eles estavam muito resistentes a minha candidatura. Quando percebi isso, passei a falar da minha origem, contei pra eles que nasci lá perto, na cidade vizinha de Senador Pom-peu e que havia sido batizada na Igreja da Glória, em Mombaça. Fui falando da minha vida, da minha

família que ainda morava naquela região e o comício se transformou numa conversa amistosa. No final, pude perceber que muitos daque-les olhos azuis, brilhavam um pou-co mais, umedecidos por lágrimas. Foi uma ocasião que jamais me esquecerei.

Dona Maria Lúcia sempre con-servou seu ar pacifista, mesmo no calor das campanhas eleitorais em Caucaia, um município conheci-do pela “rincha” política acirrada. É verdade que havia um certo es-tremecimento entre os políticos do município e ela estava inclusa nis-so. Ela lembra, que quando acon-tecia dos candidatos de oposição se encontrar, um cumprimento de cabeça muitas vezes era o máxi-mo de comunicação entre eles. Já na Assembléia Legislativa, a re-lação era mais amigável, inclusive com a oposição.

Além de seu interesse pela edu-cação e vida política, Dona Maria Lúcia até hoje, desenvolve junto com a família um trabalho social de grande importância para as crianças com necessidades es-peciais de Caucaia. A Fundação Perpétua Magalhães, que leva o

nome da sua mãe, foi criada há 30 anos. Presta amparo e auxilia jo-vens e crianças com Síndrome de Down e deficiência auditiva.

Um outro ponto que merece destaque na vida de Maria Lúcia, são os anos dedicados à saúde do município. Há 53 anos ela se mantém trabalhando no Hospital Paulo Sarasate, e em 1998 reassu-miu a presidência da entidade. A preocupação com a infância e a maternidade fizeram com que o hospital crescesse e conquistasse status de referência materno-infan-til em 2004.

Atualmente com 78 anos, Ma-ria Lúcia mora com filho mais novo em um apartamento em Fortaleza, mas todos os dias ela vai para Cau-caia, onde trabalha na administra-ção do hospital. Nunca se afastou completamente do Colégio Janusa Corrêa, sua maior paixão. Também acompanha de perto os trabalhos da Fundação Perpétua Magalhães, que considera um sonho realizado. A política, essa é uma outra história que preferiu deixar o legado para a geração mais jovem.

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Desconstruindo a arquitetura das coisasFotógrafo de carteirinha, professor, conhecedor de documentários e filmes pouco conhecidos, visionário, grande apoiador de novas linguagens. Além de simples, preocupado, dedicado e por vezes atrapalhado. Apresento-lhes Carlos Gibaja.

Você acredita em amor à pri-meira vista? Dizem que as grandes paixões surgem assim, mas, não nesse caso. Mesmo já gostan-do de fotografia foi sua segunda professora, fotógrafa autoral, que o incentivou a evoluir o seu olhar. Desconstruindo formas, usando texturas, cores misturas e o cru. Foi assim que Carlos Enrique Gibaja Melgar entrou de corpo e alma neste mundo de tantos olhares, ângulos e desconstruções.

Nascido em, Cusco no Peru, vir-giniano, na casa dos 30, calmo, simplista, sotaque ainda carrega-do de um portunhol por vezes in-compreensível. Olhos pequenos e mesmo com cabelos grisalhos mantém as brincadeiras quase infantis com os mais queridos. Pai, marido, filho, professor, amigo e parceiro de viagem. É requisitado por onde passa faculdade, es-túdio, cursos e palestras. Mesmo assim, continua receptivo a todos àqueles que dele precisam, para qualquer coisa. Seja tirar uma dú-vida sobre os intermináveis traba-lhos passados em suas aulas, seja sobre filmes, fotos, fotógrafos, do-cumentários ou um simples bate-papo entre corredores e portas das salas.

Veio para o Brasil pela primeira vez quando ainda cursava comu-nicação social no Peru, mas foi no final de 2000 que veio para o Brasil participar de um curso no Centro dragão do Mar de roteiro

de audiovisual e acabou fican-do, constituindo família, amigos... uma vida.

Sua primeira oportunidade de entrar no mundo das artes foi quando terminou o ensino mé-dio, ainda na cidade de Lima, no Peru, ganhou uma bolsa para estudar artes plásticas em São Pe-tesburgo. Contudo, a viagem era inviável e se tornou apenas uma oportunidade que deixara passar, é como se esperasse algo melhor, mais oportuno. Enquanto estuda-va para o vestibular de arquitetura decidiu fazer, em seu tempo livre, um curso técnico de rádio e TV. Onde teve seus primeiros contatos com a fotografia.

Na mesma época começou a trabalhar em uma ONG era ci-negrafista e parte da equipe de produção. Participava de uma sé-rie de documentários sobre a rea-lidade social da juventude dessa época.

Seu sonho era ser arquiteto, mas, oito concorrentes o impedi-ram de conseguir a vaga na fa-culdade, resolveu então, continuar na área da comunicação, saindo do curso técnico e indo para o en-sino superior. Entrou para o curso de publicidade e propaganda e focou seus estudos nos trabalhos relacionados ao audiovisual.

Durante o período acadêmico fotografava amadoristicamente, e mesmo assim, com dois anos de curso recebeu uma bolsa para

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“Ou são as cores como com-posição, como trabalho, ou uma coisa agressiva, crua, que enjoe, que choque, não gosto de fazer nada bonito!”

estudar no Brasil, em Juiz de Fora. Mesmo a fotografia não sendo, ainda, uma opção de futuro aca-bou amadurecendo mais o seu olhar, por ser uma cidade nova. Após um ano voltou para o Peru.

Entre idas e vindas, esbarrou mais uma vez nesse mundo de imagens. Na sua volta teve mais um contato com a fotografia foi durante a disciplina de foto, dentro da faculdade, a partir daí assumiu seu verdadeiro prazer em fotogra-far. Durante a disciplina mostrou a que veio e se destacando na tur-ma, no mesmo período foi monta-do um grupo de estudos pela pro-fessora que ministrava a disciplina, o qual ele participava.

O grupo discutia assuntos re-lacionados à fotografia, trocava experiências e fazia ensaios foto-gráficos juntos. Foi a partir daí que recebeu o convite para se tornar técnico do laboratório de foto. E ainda na faculdade começou a dar aulas particulares, continuou como técnico de laboratório e ajudava a professora em trabalhos autorais. Assim ficou até o final dos estudos. Desde sempre foi uma pessoa ativa e ainda conseguia ministrar seu tempo entre os traba-lhos e laboratórios da faculdade com o curso de cinema dentro do próprio curso de comunicação.

Seu primeiro emprego, após a faculdade, foi como professor de fotografia do curso técnico pro-fissionalizante do instituto toulou-

se lautrec de fotografia no qual a professora titular era sua antiga professora de fotografia da facul-dade. Além de dar a aulas rece-beu um convite para trabalhar como responsável do laboratório de fotografia do curso e ainda entrou como chefe de prática fo-tográfica da Faculdade Católica - PUC - PERU.

Já estabilizado sem seus em-pregos e prestes a assumir novas turmas conheceu Orlando Sena, diretor do Curso de Dramaturgia do Centro Dragão do Mar, foi ao Peru e os Dois acabaram se co-nhecendo e trocando figurinhas. Foi então q ele viu a oportunida-de de voltar para o Brasil para fa-zer o curso de roteiro de cinema. Até porque, o curso no Brasil era uma espécie de curso intensivo do oferecido em San Antonio de los Baños, Escola de Cinema de Cuba e pensava também que no Brasil teria mais oportunidades de trabalhos que em Cuba. Mes-mo com a idéia de montar estú-dio juntamente com um amigo e com local já havia sido escolhido, materiais de trabalho prontos para serem adquirido, enfim, estava tudo esquematizado. Decidiu sair de seu país por um tempo e dei-xou até mesmo seus trabalhos fo-tográficos para trás. P

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Em busca

de novos aresHá nove anos adotou esta terra como sua e constituiu família, amigos e uma gama de trabalhos.

depois de decidir voltar para o Brasil convenceu o amigo, tam-bém formado em televisão e ci-nema a vir junto. Vendeu o carro, juntou dinheiro e vieram os dois para cá. Os dois começaram a estudar e trabalhar aqui. Estudou o 1º ano de dramaturgia enquanto isso fazia trabalhos autorias, nada mais que isso. A descoberta que o mercado de audiovisual de For-taleza era pobre foi uma decep-ção que o fez pensar em tentar emprego em outro estado ou vol-tar para seu país de origem assim que terminasse o curso.

E foi durante uma conversa com Silas de Paula, o então diretor do Centro Cultural Dragão do Mar, fotógrafo e professor de fotogra-fia da UFC – Universidade Federal do Ceará, que recebeu o convite para dar aula. O convite foi decisi-vo para que continuasse no Brasil, já que seu curso estava terminan-do e não tinha previsão de cres-cimento profissional aqui. O Curso Livre de Fotografia do Dragão do mar tinha seu mais novo profes-sor.

O trabalho era, por vezes, acom-panhado pela coordenadora do

curso, mas, ela morava no Rio de Janeiro e enquanto a mesma via-java Gibaja ficou responsável pelo bom andamento do planejamen-to das aulas. Foi no próprio Dragão do Mar que conheceu sua esposa e mãe de sei filho. Angélica era a coordenadora do curso de Design e vez por outra trabalhavam juntos e se esbarravam pelos corredores do centro cultural.

A partir de então as portas co-meçaram a se abrir. A amizade com Silas lhe trouxe bons contatos e aos poucos conseguiu se inse-rir no mercado fotográfico forta-lezense. Começou a conhecer os fotógrafos locais, fez parte do início do Ifoto, o Instituto de Foto-grafia de Fortaleza, e começou a fazer trabalhos com eles. E em 2003 fez sua primeira exposição com fotos de Fortaleza teve como tema Corpos – Nus Femininos e foi exposto na Aliança Francesa. Daí em diante ele viu na área acadê-mica um caminho a seguir e vol-tou a ser professor. Trabalhou em várias faculdades e, por desventu-ra, deixou seu trabalho autoral um pouco de lado, mas nunca parou completamente.

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“Eu enveredei para a área acadêmica por um tem-po, mas eu sempre pro-duzi. O traba-lho autoral, eu nunca deixei de fazer com-pletamente, já o comer-cial eu aban-donei por muito tempo.”

O motivo pelo qual abandonou o lado comercial da fotografia se deu principalmente pela questão de cultura. No Peru se consome muito mais cultura fotográfica que em Fortaleza. Então o mercado aqui acaba se tornando restrito, fechado.

A tranquilidade de acadêmi-ca só foi conseguida na Fanor – Faculdades Nordeste, por conta dos horários preenchidos. Acabou sobrando-lhe tempo para se dedi-car a outros projetos, tanto dentro da faculdade como fora. Depois de conseguida uma estabilidade acadêmica decidiu montar nova-mente seu estúdio fotográfico.

“Como eu já fazia trabalhos da área prática, nuca fui da área de formação eu estava sentindo fal-ta de trabalhar de novo. Foi então que eu decidi montar de novo o estúdio fotográfico. E já estou aqui com estúdio há um ano, ainda es-tou tentando ver como funcionam as coisas. Mas os trabalhos conti-nuam acontecendo.”

Sua rotina lhe possibilita fazer vários trabalhos autorais, inclusive viajar com seus amigos fotógrafos para prosseguir com seus traba-lhos autorais.

“A menos de um mês fui a Jua-zeiro do Norte com mais quatro fo-tógrafos para fazermos um registro das passeatas, procissões e roma-rias que por lá acontecem além de fotografar cemitérios. Tenho o planejamento de irmos para o peru, o mesmo grupo ou maior, entre outros lugares que possamos a vir visitar.”

É com seus amigos do Ifoto que trabalha, pensa, curte e discute sobre imagem e ainda conse-gue fazer roteiros para realizarem pequenas excussões fotográficos como as que já aconteceram em juazeiro, Canindé, e locais em For-taleza também. Ocasionalmente ocorrem as sugestões do grupo.

“No caso de Juazeiro é a cida-de natal do Thiago Santana ele já tem casa lá além de ter sido uma viagem boa. Nós fomos no dia dos finados, fotografamos cemi-tério, romaria... A gente aproveita mais essas viagens com alguém que nos complementando infor-mação, como em Juazeiro. E te-mos também o planejamento de ir para o Peru.”

O Ifoto não serve somente como ponto de encontro para amigos que gostam de fotogra-

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fia, mas também como local de reunião de grandes fotógrafos e de onde saem muitos dos concur-sos e eventos fotográficos de For-taleza, exposições e saídas para grupos fotografarem. Um bom exemplo é o DeVERcidades, con-curso para novos e velhos fotó-grafos mostrarem seus trabalhos. Carlos sempre está correndo atrás de imagens com seus trabalhos paralelos no maracatu, trabalho com prostitutas, na parada pela diversidade sexual em locais com muitas cores e movimentos.

Neste momento seu tempo é dividido entre a faculdade, como as aulas de fotografia – básica, fo-tojornalismo e publicitária -, a dire-ção do núcleo de comunicação, a ajuda paralela com os trabalhos audiovisuais com seus alunos e a coordenação do Projeto Pé na Es-trada, onde leva alunos de comu-nicação para viagens afim de tirar produtos audiovisuais.

Saindo do âmbito acadêmico ele cuida de um estúdio fotográfi-co, o qual ainda está crescendo e aparecendo. Participa da curado-ria de concursos como o DeVERci-dades, Nóia, júri do Prêmio BNB de Jornalismo e quando tem tempo

ainda ministra palestras e mini cur-sos. Consegue tempo ainda para ser pai, marido, professor presente e amigo de saídas fotográficas.

Um dos maiores problemas en-contrados por eles e outros fotó-grafos é a insegurança. Eles aca-bam deixando de fazer coisa por excesso de violência. Alguns fotó-grafos utilizam de seguranças par-ticulares para realizarem alguns trabalhos. Mas nem sempre isso é possível e é necessário confiar na boa vontade dos moradores e transeuntes dos locais escolhidos.

Conta também de certa vez ter saído com vários amigos para fo-tografar um prostíbulo, saindo em grupo dificulta o trabalho dos ban-didos.

“Quando vamos em grupo te-mos um certa segurança, uma cinco seis pessoas, um acaba co-brindo as costas do outro. Um vez fomos em um prostíbulo fotografar eram uns 10 fotógrafos todo mun-do sentado na mesa, bebendo, as meninas fazendo strip tease foi até engraçado. Um curtindo com a cara do outro enquanto foto-grafava ameaçando contar para a mulher do outro, foi um barato, fez até um exposição com esse

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material, dentro do próprio DeVER-cidade.”

Quando perguntado sobre seu tema preferido a ser fotografado ele desconversa, diz gostar foto-grafar de um tudo, mas acaba confessando ter uma paixão por corpos humanos.

“Eu gosto de fotografar tudo, na realidade, eu gosto de desconstruir o que estou vendo, eu não gosto de mostrar as coisas de um pon-to de vista comum tento procurar mostrar um mundo desse ponto de vista que eu enxergo, desde ângulos distintos, velocidades dis-tintas, diafragma distinto, claros e escuros. Na realidade não são fo-tografias figurativas no qual você consegue enxergar o produto fa-cilmente, ou o fato você ter um trabalho maior para conseguir ver o que está na sua frente, ou por outro lado, são olhares mais crus, são mais agressivos. De qualquer

maneira não são fotos fáceis de serem vistas, de serem trabalha-das.”

“Tenho dois trabalhos que eu faço de composição com textura, movimentos, cores que para isso utilizo o maracatu, reizado, pe-dras, luzes. Na verdade, eu faço uma pintura com cores e luzes e outras com corpo que eu gosto muito de fotografar o corpo hu-mano, masculino, feminino, nu, semi-nu. É uma área que eu curto, o corpo humano ele por si já é bo-nito, independente de ser magro, gordo, preto ou branco, não é cor de pele nem o formato que me chama atenção e sim o corpo em si.”

Palavras como estas mostram que mesmo com semblante cal-mo e singelo do professor e fo-tógrafo Carlos Gibaja ele tenta manter vivo a parte primitiva e um tanto irracional que tem dentro de

“Sou doido para fotografar, mas ainda não con-segui é a festa de comemoração de Iemanjá, na Praia do Futuro. Os fotógrafos que foram nos últimos três anos foram roubados, todos eles.”

si. Sobre seus projetos futuros tem vontade de montar um grupo e viajar até o Peru para fotografar, tem feito trabalhos com retratos do cotidiano além de visitar um matadouro.

“tenho planejado de ir pra um matadouro municipal em uma ci-dade aqui próximo. Eu quero foto-grafar, mas não quero mostrar só ele sendo abatido e sim as cores, já é uma justificativa para continu-ar fazendo essa linha de trabalho e ao mesmo tempo se tiver imun-do, se tiver sangue espirrando na lente eu adoraria também.”

Para ser encontrado não é mui-to difícil, mas fazê-lo parar é uma tarefa quase impossível. Mesmo assim é uma pessoa atenciosa e receptiva, pronta para atender qualquer chamado de ajuda. Esse é Carlos Enrique Gibaja Melgar. P

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Jogo rápido^

Algumas dicas1

Procurar se alimentar de referências visu-ais de diversos tipos e assuntos não só de fotografia e comprar o equipamento que supra suas necessi-dades atuais, tendo em conta que a câ-mera te permita me-xer os recursos de ela em modo manual.

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O equipamento é de uso pessoal e delicado a manu-tençao correta e o manuseamento darão uma durabili-dade maior (restrita ao número máximo de disparos que o equipamento pos-sua de fábrica uma média de 100.000)

Cuidar da superfície da lente da câmera como se fosse seu próprio olho, caso esteja suja ou ara-nhada ela vai com-prometer a qualida-de da imagem.

De preferência não levar o equipamento para praia e se levar cuidar dele e mante-lo sempre longe da área ou água salga-da , lembrar que sa-linidade acaba com os circuitos do equi-pamento.

Fotografar no máximo de resolução que seu equipamento possibi-lita. Se tiver a opção Raw, melhor, mas isso depende do uso final. Se é para internet ou álbum familar verifi-car o tamanho e re-solução necessárias para o mesmo.

Nunca armazenar em JPG as opções DNG, RAW ou TIFF, o JPG elimina informação e vai tirando qualidade da foto cada vez que abre e a salva nova-mete.

Compor as imagens utilizando a regra dos terços, duas li-nhas verticais imagi-nárias que dividam o enquadramento em três partes iguais e duas linhas hori-zontais. A interces-são destas linhas formam os quatro pontos de maior in-teresse na imagem.

Quando encontrar um objeto, pessoa ou situação a ser fo-tografada esgote as possibilidades que ela te dá para foto-grafar, vários pontos de vista. A altura da câmera , o diafrag-ma, a velocidade o foco, até achar que a cena fotografada não te dá mais infor-mações.

Fotografe com mais consiência, a câ-mera não pensa. Cada foto tem que ser imaginada an-tes, utilize a câmera para concretizar a foto e seja econômi-co e produtivo nos disparos.

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Carlos Gibaja

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