Revista Petrópolis

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Vitral [] + Tesouros da Cidade Entrevista Maestro Paulo Afonso Raphael Rabello Dia das Crianças Petrópolis Rio de Janeiro Outubro 2012 Distribuição Gratuita Nº 41 Confira a Programação Cultural Programe-se Sylvia Orthof 80 anos

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Edição 41 - Outubro de 2012

Transcript of Revista Petrópolis

Vitral

[ ]+Tesouros da Cidade

Entrevista

Maestro Paulo Afonso Raphael Rabello

Dia das Crianças

PetrópolisRio de JaneiroOutubro 2012Distribuição Gratuita

Nº 41Confira aProgramação Cultural

Programe-se

Sylvia Orthof 80 anos

“o melhor violonista que já ouvi, em anos”

ultrapassou as limitações

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verde renovado

“Mozart do Chorinho”

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de sua alma, diretamente para os corações

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Neste mês em que os dias azuis e o verde

renovado se instalam definitivamente na

Petrópolis Imperial, homenageamos duas “flores

raras” que nos brindaram com seu talento, anos

atrás: o músico Raphael Rabello, conhecido como

o “Mozart do Chorinho”; e a atriz, diretora de teatro

e escritora Sylvia Orthof, a nossa eterna “Fada

Fofa”.

Ter apenas um deles entre os artistas locais já

engrandeceria qualquer cidade. Sylvia é,

reconhecidamente, uma das mais importantes

escritoras da nossa literatura infantil. Em meio

século dedicado à arte, semeou alegria,

brilhantismo e criatividade em tudo o que tocou.

Hoje, 15 anos após a sua morte, seu estilo

originalíssimo e diálogos sonoros são “voz

corrente” nas bocas de pais, professores,

contadores de histórias, atores e, claro, crianças

de todo o Brasil. As homenagens aos seus 80 anos

estão por toda parte. E gente que entende muito do

que diz – como, por exemplo, a escritora,

pedagoga e crítica de arte Fanny Abramovich –

insiste em afirmar: Sylvia é a melhor autora de

livros infantis do Brasil e a única capaz de ombrear

com outro gênio da literatura nacional, Monteiro

Lobato. Assim, para nós, petropolitanos, é uma

honra recordar que muitos de seus mais de 100

livros foram escritos aqui mesmo, em sua casa

aconchegante, numa ladeira do Centro Histórico:

localidade mágica cheia de bonecos, escritos

inéditos e quadros do amor da maturidade, Tato,

sensível ilustrador que emprestou seu traço ágil a

muitas de suas obras-primas.

Já o violonista e compositor Raphael Rabello foi

um fulgurante meteoro que, ao longo de uma

trajetória breve, porém brilhante, deixou uma

marca indelével na MPB. Violonista virtuose,

mestre do violão de sete cordas, Raphael, que

nasceu em Petrópolis, nos brindou com seu talento

espetacular até os 33 anos, quando sua chama se

apagou. Antes disso, porém, deixou registrado o

talento estonteante em discos de Turíbio Santos,

Ney Matogrosso, Jacques Morelenbaum, Paulo

Moura e do Maestro Tom Jobim. Nada demais para

aquele que foi definido como “o melhor violonista

que já ouvi, em anos” por outro monstro sagrado,

Paco de Lucia: para este, “Raphael ultrapassou as

limitações técnicas do violão, e sua música vinha

progressivamente de sua alma, diretamente para

os corações de quem o admirava”.

Assim, nada mais justo do que esta nossa

merecida reverência. E o abrir das nossas

páginas, em aplauso vibrante, a estes que

enobreceram ainda mais nosso sempre-

riquíssimo canteiro cultural, para festejar e

preservar a riqueza de suas vidas – e para mitigar

as saudades, deixadas pelas suas ausências.

A Fada e o Menestrel

SUA AGENDA DE CULTURA E TURISMO

Vale ressaltar que além de exímio intérprete, Raphael foi um

compositor de qualidade, sendo parceiro de grandes músicos

como Paulo Cesar Pinheiro e Aldir Blanc.

Sua carreira foi marcada por inúmeros prêmios, sendo quatro

vezes vencedor do Prêmio Sharp. A crítica especializada e músicos

brasileiros e estrangeiros o apontaram como um dos maiores

violonistas de todos os tempos: “Pela precocidade, talento e

fragilidade, foi o Mozart do choro”; declarou Luis Nassif.

Com Henrique Filho (Reco do Bandolim), Ruy Fabiano e Carlos

Henrique criou o projeto da Fundação Escola de Choro, em Brasília

– DF que, atualmente, leva seu nome e oferece aulas de música

para mais de 800 alunos.

Estimulado pelo amigo e violonista Laurindo de Almeida, muda-se

em 1994 para os Estados Unidos, onde gravou discos e deu aulas

na Universidade de Música de Los Angeles.

Com o objetivo de concretizar o projeto “Orgulho do Brasil” - uma

coletânea de discos de compositores brasileiros - retorna ao país

em 1995. Infelizmente, Raphael Rabello grava apenas o primeiro

disco Mestre Capiba, lançado somente em 2002, para arrecadação

da Campanha Ação e Cidadania de Betinho.

A última gravação do artista reuniu Chico Buarque, Paulinho da

Viola, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Milton

Nascimento, Alceu Valença, Ney Matogrosso, João Bosco, Paulo

Moura e Claudionor Germano – o maior intérprete de Capiba.

Raphael nos deixou precocemente aos 33 anos, no dia 25 de abril

de 1995. Mas sua trajetória é resumida pelo próprio artista em um

trecho de entrevista concedida à jornalista Bia Reis no Programa

Choro Livre da Rádio Nacional/ DF em 1994: "Eu vim com a missão,

a que me propus, de botar o violão no lugar merecido, porque a

música brasileira e o violão se confundem."

Para celebrar os 50 anos de Raphael Rabello, a gravadora Acari

Records, lança este mês, um Cd em sua homenagem. A iniciativa

do violonista Rogério Caetano conta com a participação de grandes

nomes do violão brasileiro. Uma celebração bem ao estilo deste

gênio da música brasileira.

que define um tesouro? Segundo o Dicionário

Aurélio, Tesouro, entre outros significados é

“Coisa ou pessoa de muita valia”. Baseada nesta

definição simples, mas muito precisa, a Revista

Petrópolis se fundamenta para trazer ao leitor tudo

àquilo que reconhecemos como Tesouro da Cidade. Bens

materiais ou imateriais que agregam valor histórico e cultural para a

nossa Petrópolis.

Por esta razão não poderíamos deixar de prestar uma homenagem

a um petropolitano ilustre - “uma pessoa de muita valia” -, um

verdadeiro tesouro da música: o violonista Raphael Rabello.

Nascido em uma família musical, em 31 de outubro de 1962,

Raphael Rabello recebeu a primeira influência de seu avô materno,

o violonista José de Queiroz Baptista. Aos sete anos já tocava de

maneira autodidata e aos quatorze formou seu primeiro grupo de

choro: Os Carioquinhas.

Entre seus professores estiveram Dino,

mestre do violão de sete cordas e Jayme

Florêncio, o Meira, que também teve entre

seus alunos, Baden Powel.

Com apenas 17 anos fez parte da primeira

formação do conjunto Camerata Carioca,

onde passou a conviver com o maestro

Radamés Gnattali, se tornando um de

seus maiores intérpretes. Em 1982, grava

ao seu lado o disco Tributo à Garoto.

Durante sua trajetória musical, Raphael

Rabello gravou 16 discos - alguns com

as brilhantes parcerias de: Dino

Sete Cordas, Elizeth Cardoso,

Paulo Moura, Armandinho, Déo

Rian, Ney Matogrosso, entre

tantos outros. E participou de cerca

de 600 discos de artistas nacionais

e internacionais.

o que foi e é destaque em Petrópolis

A terceira edição da Serra Serata – A Festa Italiana de Petrópolis - realizada de 03

a 09 de setembro, registrou mais um sucesso de público. Cerca de 50 mil pessoas

prestigiaram os cinco dias de evento realizado na Praça da

Liberdade. Segundo dados da Fundação de Cultura e Turismo, o

impacto na economia local foi de cerca de R$ 8 milhões. O feriado

prolongado contribuiu com a presença maciça de turistas que

ocuparam 94% dos hotéis e pousadas do Centro Histórico e 90%

nos distritos.

PEC PosseO projeto de implantação da PEC - Praça dos Esportes e da Cultura, que

chega a 400 municípios através do PAC - Programa de Aceleração do

Crescimento-, já está em andamento no Distrito da Posse. O que diferencia

sua construção de uma simples praça é a efetiva participação dos agentes

locais numa gestão compartilhada, para definição de regras, plano e

execução das ações de necessidade e interesse da população. A Oficina de

Capacitação da Comunidade já foi iniciada e os módulos se estendem até

março de 2013, quando a praça deverá ser concluída. Aberta à

comunidade, a oficina é realizada no CIEP Gabriela Mistral.

Está de cara nova o portal da Biblioteca

Central Municipal Gabriela Mistral. A atual

versão do portal disponibiliza o acervo

bibliográfico cadastrado a partir de 1992,

resultando em mais de 70 mil volumes, entre

livros, artigos periódicos, vídeos e outros,

incluindo a midiateca. É um convite ao leitor,

que pode interagir fazendo, inclusive,

solicitação de compra, que o setor de

aquisições irá analisar. O endereço é

www.petropolis.rj.gov.br, no link Biblioteca

Online, ou bnweb.petropolis.rj.gov.br/bnportal.

Biblioteca tem nova versão em portal

FotoS: Isabela Lisboa

Reprodução

Serra Serata é sucesso de público

Foto: Divulgação

Festa de São Pedro de AlcântaraEm homenagem ao padroeiro de Petrópolis, acontece a Festa de São Pedro de

Alcântara, nos dias 18 e 19 de outubro, em torno da Catedral S. Pedro de Alcântara. No

dia 18 haverá missa às 18h, em seguida a abertura e benção das barracas/restaurantes

de comidas típicas de países como Alemanha, Portugal, Itália, Líbano, além de Minas

Gerais e Rio Grande do Sul. A novidade é a barraca dos Estados Unidos coordenada

pelo setor juventude da paróquia. A diversão ficará por conta da barraca Diverlândia e

haverá também a do artesanato da cidade. No dia 19, às 8h será celebrada a missa das

crianças, com a participação do Coro Modelo do Programa Canta Petrópolis, Coral Dó

Ré Mi, da Escola S. Judas Tadeu, sob a regência do maestro Leonardo Randolfo, além

da exibição de bandas marciais da cidade.

Pelo quarto ano consecutivo, a APPO – Associação Petropolitana de

Pacientes Oncológicos promove o Outubro Rosa, para conscientização

sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama. Na

programação deste ano haverá: Jantar Beneficente no Castelo de Itaipava,

dia 04 às 20h; Desfile das Vitoriosas do Câncer de Mama, no Baile da Feliz

Idade, dia 10 às 16h, no Petropolitano F.C. e Caminhada: “Saúde da Mama,

Uma Nova Caminhada”, no dia 27, saindo da Catedral às 15h. Até

novembro a APPO promove também palestras nas comunidades.

Informações: (24) 2242-0956 / (24) 2244-2005 R: 225 / e-mail:

[email protected].

Outubro Rosa

Petrópolis nas principais feiras de turismoPetrópolis tem marcado presença nas principais feiras de

turismo do país. Em setembro a Fundação de Cultura e Turismo

de Petrópolis participou da Brite – Brazil Internacional Tourism

Exchange, realizada em conjunto com o Salão Estadual do

Turismo, no Rio de Janeiro. Lá foram promovidas as belezas

históricas e naturais da cidade, bem como sua rede hoteleira,

seus polos de moda e cervejeiro, além dos grandes eventos da

cidade. O mesmo vai acontecer na Feira de Turismo das

Américas, a ABAV – Associação de Agentes de Viagem que está

em sua 40ª edição, de 24 a 26 de outubro, também no Rio de

Janeiro.

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Foto: Isabela Lisboa

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Uma vida dedicada à arte

Sylvia nasceu em 1932, no Rio de Janeiro, filha única de judeus austríacos. Seu pai era artista plástico; o tio materno,

compositor; o marido da avó paterna, letrista de operetas vienenses e a avó materna, pintora e ceramista. Nesta família tão

artística, a infância teve o sabor de mangueira no quintal e de contos de Grimm, em alemão, e de Monteiro Lobato, em

português. Também data desta época a relação com Petrópolis, que Sylvia conheceu aos sete anos como aluna do Liceu

Fluminense, localizado na Casa da Princesa Isabel. Consta que seu talento literário desabrochou, na época, mas foi logo

reprimido: a vizinhança com a Catedral S. Pedro de Alcântara, ainda sem a torre, fez com que a menina rabiscasse sua

obra inaugural, a Incrível História da Catedral sem Cabeça. Ameaçada pelas colegas com um inferno escaldante, pela

heresia, Sylvia queimou o manuscrito: mas guardou a insubordinação contra toda e qualquer intolerância.

Aos 15 anos, Hamlet a tomou de assalto: e o palco a seduziu. A opção

determinou as décadas seguintes, numa prolífica carreira iniciada no

Teatro dos Estudantes, sob a direção de Paschoal Carlos Magno,

juntamente com Sérgio Britto, Sérgio Cardoso, Maria Fernanda e Bárbara

Heliodora. Aos 18 anos, juntou armas e bagagem e passou um período em

Paris, onde leu textos de Racine e Verlaine no Educatión par Le Jeu

Dramatique e teve aulas com o mímico Marcel Marceau, que lhe disse: “É

preciso ser um bom escritor de sentimentos, para poder fazer mímica”.

Retornando, Sylvia se vê às voltas com a nascente TV brasileira, que lhe

abre outra porta: o TBC - Teatro Brasileiro de Comédia. Ali, ela brilha com

Fernanda Montenegro e Rubens de Falco, guiada pelas estrelas maiores

de Cacilda Becker e Ziembinsky. Está no TBC quando o poeta Manoel

Bandeira profetiza, após uma apresentação de Maria Stuart: “Sylvia, você

ainda vai acabar escrevendo. Você tem sensibilidade para a palavra, sinto

que você gosta de poesia!”

Anos mais tarde, Sylvia se casou com o médico Sávio Lima e foi morar, por

dois anos, no interior da Bahia. Nesta experiência, forjaria sua brasilidade

radical, o gosto pelos folguedos, mitos e modas do folclore nacional. Amiga

Em 2012, Sylvia Orthof comemoraria 80 anos. Para muitos, porém, esta atriz, escritora e diretora

teatral jamais nos deixou: continua pulsando, em cada detalhe de uma arte única. Passados

quinze anos de sua morte, é fácil constatar que Sylvia permanece, humana e artisticamente

inestimável: e que revisitá-la é essencial à preservação de nossa herança cultural.

do mambembe, faz teatro de bonecos atrás de lençóis, enquanto

cuida da primeira filha, Cláudia. Logo, o casal volta a Petrópolis,

onde nasce o filho Gê, até a nova reinvenção: a mudança para

Brasília, onde nasce Pedro, terceiro filho do casal.

Na capital recém-nascida, Sylvia forma o Teatro do

Candanguinho, na TV Brasília; conta histórias na Rádio MEC; e

dá aulas de teatro na Universidade de Brasília. Depois, torna-se

coordenadora do Teatro do SESI e monta Morte e Vida Severina,

quando é aplaudida de pé pelo então ministro Jarbas Passarinho:

admirador que, mais tarde, a livraria das perseguições da

Ditadura Militar.

Em 1972, Sávio falece e Sylvia retorna ao Rio. Os colegas Carlos

Kroeber e Tonia Carreiro reabrem-lhe as portas do teatro: mas ela

recusa. Compreende que aquele não era o momento de se

afastar, em longas temporadas, dos filhos. Aos poucos, porém, a

vida e a alegria vão tecendo novamente os fios rompidos pela dor.

Ela reencontra um velho amigo, o arquiteto Tato Gostkorzewicz,

também viúvo, e eles se casam. Começa, então, uma nova fase

em que a literatura e o teatro também se unem em sua vida, para

serem “felizes para sempre”.

Em 1975, ela escreve e dirige “A Viagem de Um Barquinho”, que

ganha o primeiro lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia

Infantil do Teatro Guaíra. A peça é encenada no MAM: toda a

família participa do elenco. Ela funda a Casa de Ensaios Sylvia

Orthof, dedicada exclusivamente a espetáculos infantis. Quatro

anos depois, seu conto “O Pé Chato e a Mão Furada” foi

premiado no 1º Concurso Nacional de Contos Infantis do Banco

Auxiliar de São Paulo. E surge a “porta mágica”: um concurso de

histórias infantis promovido pela revista Recreio, da Editora Abril.

Sylvia manda 20 histórias de uma vez – e as 20 são aprovadas.

Mais tarde, elas dariam origem aos seus primeiros livros.

Sylvia nos legou preciosidades: dentre eles, o Teatro do Livro

Aberto, herdeiro de suas travessuras cênicas. E dezenas de

personagens inesquecíveis, sempre prontos a compartilhar livro

e lembrança. É assim que podemos conhecer a galinha que dá

um basta na hegemonia do galo-machão; bem como uma fada

negra, com lindas tranças de pixaim. Defensora do direito infantil

à imaginação e à diversão por meio da leitura, Sylvia sempre

propugnou que o mais importante era a arte de “palavrear” a

brincadeira. Por isso, em seus livros moram criações como o ovo

Claro-Gemão “meio metido a machão, que já nasceu, vê se

pode, usando bigode!”. Ou o Calo-Calígula. Ou o inexplicável

Pio-Olho, habitante dos cabelos de uma estrela, e que de vez em

quando solta purpurina no infinito, por conta da pressão... Do

pente fino!

No início dos anos 1980, com Tato – já, então, o ilustrador

predileto - Sylvia elegeu Petrópolis como pouso definitivo. Daí

por diante, viveu entre nós, com seu “companheiro de vida e

amor”, numa casa confortável onde as almofadas se largavam

pelos sofás, como gatos, e as paredes explodiam em quadros.

Recebeu vários prêmios, dentre eles, o Moliére; o Jabuti e o da

Associação Paulista de Críticos de Arte pelo melhor texto infantil

para teatro de 1990, “O Cavalo Transparente”. Hoje, toda uma

nova geração de autores “assumidamente orthofianos” – como

Léo Cunha e Rosamanda Strauss – continuam honrosamente o

ofício deixado para trás pela nossa “fada fofa”, e insistem em

explodir jabuticabas estreladas no céu da boca da noite.

Enquanto eles existirem, Sylvia viverá. E com ela a gargalhada,

a imaginação desembestada – e os gnomos atrás das portas

das mais vetustas salas de jantar.

“Há uma diferença entre se acriançar na alma, o que é muito bonito; e se infantilizar, o que é

péssimo. Eu escrevo para a criança inteligente que existe dentro da gente.”

“Como eu escrevo? Sei lá... A minha religião, que eu inventei, é uma religião de crença: por isso

acho que ninguém pode escrever para crianças se não acreditar em si, perdendo

toda a autocrítica. E também não se deve nem imaginar quem vai ler. Quer dizer:

para escrever naquele mundo de fantasia da criança é necessário se entregar ao

folguedo da palavra. É a palavra que me leva!”

“Sou contra a moral em histórias porque, para mim, isso é jogar o velho para o

novo. Todo conselho que me deram em criança não me serviu de nada, e eu só

descobri isso muito tarde.”

(Trechos retirados de entrevista concedida ao Jornal Cultural Obelisco, em abril de 1991)

m 1985, Sylvia Orthof esbanjou travessura: e criou, em

Petrópolis, uma trupe de teatro. Ou, como ela definia,

um “mambembe organizado, porque a gente pode ser

alternativo, criativo, mas sem pecar por falta de seriedade!”.

Assim, com vocação de andarilho – e sólida base profissional -

a Cia Teatro Livro Aberto vem, desde então, eternizando nos

palcos o casamento perfeito que Sylvia costurou entre a poesia

e a coxia; a música e a literatura; a interpretação e a

imaginação. Uma alquimia traduzida em trabalhos premiados

internacionalmente como O Cavalo Transparente, A Viagem de

Um Barquinho, Se as Coisas Fossem Mães, e o inspirador (e

absolutamente orthofiano) Ponto de Tecer Poesia.

A companhia já “produziu” grandes profissionais. O mais antigo

deles (espécie de “guardião-mor” da obra teatral de Sylvia), é o

ator petropolitano Fernando Vianna, remanescente da

formação original do Livro Aberto. É ele quem lembra que a

proposta de Sylvia era criar uma companhia de repertório,

capaz de transformar qualquer lugar em palco: “Queríamos

carregar nossos cenários em caixas e malas repletas de

encanto”, lembra ele.

O que foi feito, com Sylvia ainda como diretora, quando a trupe

exerceu sua proposta com disposição incrível para se

aventurar. Certa ocasião, em 1991, eles acompanharam a

escritora na Jornada Literária de Passo Fundo, onde

apresentaram três peças: Luana Adolescente Lua Crescente,

Se as coisas fossem Mães e Deu a Louca em Ervilina.

Acabaram recebendo tantos convites que a temporada se

estendeu por quase dois meses. Foi assim que, quase sem

notar, cruzaram dez anos de estrada, de Petrópolis ao interior

de Minas, mapeando as fronteiras do Brasil e fazendo,

inclusive, uma temporada na Alemanha, onde a brasilidade foi

aplaudida de pé.

Com a morte de Sylvia, a trupe assumiu a responsabilidade de

manter viva a sua obra marcante, cheia de musicalidade,

originalidade e lirismo. Pela generosidade de Tato, segundo

marido e também ilustrador de seus livros, e dos herdeiros da

autora, Fernando teve acesso a vários textos inéditos, alguns

dos quais compõem o trabalho mais recente do grupo,

Historietas Cantadas.

Atualmente reunindo um elenco de 17 pessoas – além de

Fernando, Renata Garcia, Renato de Resende, Vania Moreira,

Rosa Muller, Simone Gonçalves, William Esteves, Guto

Menezes, Marcio Negócio, Fabio Branco, Cristiane Carvalho,

Luciana Fortunatto, Bernardo Passos, Fred Justen e Felipe

Cardoso - o Teatro Livro Aberto é um manancial

constantemente abastecido pela obra de Sylvia, que é

bastante para qualquer grupo teatral. E certamente tem muita

“matéria-prima” para pensar em mais 30 anos de andanças, a

julgar pelos 152 textos infanto-juvenis deixados pela autora:

produção frenética que mantém um inacreditável padrão de

qualidade.

Atualmente envolvido nas muitas homenagens que Sylvia oreceberá este ano, pelo seu 80 aniversário, a trupe do Livro

Aberto certamente vai emocionar muita gente quando recitar

alguns de seus últimos versos, feitos já ao final da batalha

contra o câncer. Como o poema-epitáfio que define a leveza

desta alma lúdica e lírica, até o “fim sem fim de sua vida

sempre-viva”:

Texto: Eliane Maciel l Fotos: Divulgação

herança teatral de Sylvia Orthof

Texto: Isabela Lisboa | Fotos: Isabela Lisboa, Alexandre Peixoto e divulgação

Conheça as opções de turismo e lazer para o feriadão

Concedida a: Marilízia de Azevedo | Fotos: Isabela Lisboa

Revista Petrópolis – A música já estava presente no

convívio familiar; em que idade ela passou a fazer

parte do seu cotidiano?Maestro Paulo Afonso - Sou de uma família de seis filhos.

Meus pais sempre nos envolveram com o conhecimento,

através da história geral, da música, tanto de

compositores do Brasil como do mundo. E perceberam

que a música erudita me encantava mais. Assim, me

inscreveram na Escola de Música Santa Cecília e, aos 9

anos de idade, comecei a ter aulas de teoria e solfejo,

harmonia e piano. Por outro lado, meu pai era também o

comandante da Banda Marcial Wolney Aguiar (conhecida

como Banda do CENIP) e eu ingressei no naipe de

pífaros, depois passei para a percussão.

m petropolitano realizado por ter finalmente optado pela música, depois de experimentar outros caminhos... Ele

quase se tornou um jurista, mas as notas musicais, desde criança, enlevaram sua alma e conquistaram seu coração.

Assim tem sido a vida e a carreira do maestro Paulo Afonso Filho, Regente e Diretor Artístico do Coral Municipal de Petrópolis.

A educação que recebeu dos pais Teresa e Paulo Affonso dos Santos - baterista e comandante da Banda Marcial Wolney

Aguiar-, aliada à sensibilidade e talento que desde cedo ele expressava, além da perseverança, o levaram a ser um grande

maestro, alguém que vê no ensino musical um caminho muito além dos palcos. Ele enxerga a música como a estrada que

pode levar alguém a encontrar novas formas de se relacionar com a vida. Entre os prêmios recebidos, estão o Destaque na

Cultura do Estado do Rio de Janeiro/1998 – Lions; Personalidade Petropolitana/1997, 1998, 1999; Prêmio Maestro Guerra-

Peixe de Cultura/2011; Qualidade Brasil/2011; Gente que Faz/2011.

Neste mês de outubro ele dirige o espetáculo “Clássicos do Rock”, com o Coral Municipal, orquestra e banda, já na 3ª edição,

garantindo repetir os sucessos anteriores.

RP– Quem foram seus primeiros

mestres?MPF- Fui aluno do professor Amadeu

Guimarães, que foi um diferencial na minha

vida. Ele era um educador muito sensível,

um musicalizador, que me deu a

oportunidade de experimentar vários

instrumentos. Ele copiava os manuais

numa linguagem mais acessível à minha

idade e isso me marcou muito. Duas

professoras de piano também foram

determinantes em minha iniciação musical:

dona Mariazinha Chaves Aguiar, diretora da

Escola de Música Santa Cecília e Regina

Rabaço.

RP – A partir dessas experiências, sua

adolescência também foi marcada pela

música? E o que o motivou a fazer

Faculdade de Direito?MPF - Sem dúvida! Com todo esse

incentivo nunca parei. Estudei depois no

Conservatório Brasileiro de Música em

Petrópolis e mais tarde no Rio de Janeiro.

Aos 18 anos ingressei no Coral Municipal

de Petrópolis como cantor e já trabalhava

na Celma com eletromecânica. Havia o

famoso conceito de que música era hobby e

não profissão, então decidi fazer Direito

porque me atraía ter conhecimento das leis.

Só que, estudando na UCP, logo passei a

cantar no coral da universidade. Aí não teve

jeito, a música me escolheu!

RP– Foi difícil essa decisão? Afinal você

já era pai ... Conte como foi essa virada. MPF - Eu jamais parei de estudar música,

mesmo trabalhando com eletromecânica e

estudando Direito. Aos 35 anos de idade

percebi que esse era o meu caminho.

Decidi então assumir a carreira musical

como profissão. Minha família é meu esteio

e me deu apoio incondicional. Agradeço a

paciência da minha filha, pelas horas

roubadas de seu convívio com os ensaios,

muitos dos quais ela assistiu. Optei por

começar pelas escolas e criei o primeiro

coro infantil no Instituto Metodista, depois

fiz um novo coral no Colégio Werneck, que

dirigi durante muitos anos, participando de

festivais e eventos dentro e fora da cidade.

Passei a viver da música.

RP – Fale de sua formação daí em diante

e como foi sua ascensão de cantor a

regente do Coral Municipal de

Petrópolis.MPF - Como expliquei, nunca parei de

estudar música, e fiz inclusive Faculdade de

Pedagogia, a fim de complementar minha

formação como regente nas escolas. Fiz

curso técnico de percussão na UFRJ,

também sou timpanista e toquei em

algumas orquestras. Fiz especializações

em Regência Coral com Ernani Aguiar,

Carlos Alberto Pinto Fonseca, com o

americano Henry Leck e Eaphy Eely, o

inglês Bob Chilcot e ainda música afro-

americana com André Thomas. Continuei

como cantor no Coral Municipal até a

década de 90, até que outros trabalhos me

impediram de continuar. Em 1999 criei o

Coral Pro Tempore, com integrantes da

terceira idade, até que no ano de 2000, o

então regente, maest ro Gi lber to

Bittencourt, me convidou para assumir seu

lugar à frente do Coral Municipal. Em 2004

criei o Quartifuza Ensemble com minha

esposa, a cantora Cristina Carlos, para

interpretar a música da Renascença e do

Barroco.Também dirijo outros grupos:

Coral Quartifuza desde 2006, Coral dos

Parkinsonianos desde 2000, Coral Juvenil

João Carlos desde 2009 e Banda Marcial

José Lopes de Jesus desde 2011(ambos

da Escola Lucia de Almeida Braga); a

Petrópolis Rock Orchestra e Orquestra de

Câmara de Petrópolis, criadas para o

espetáculo “Clássicos do Rock” em 2010,

do Coral Municipal.

RP – Conte como o “Clássicos do Rock”

surgiu no universo do Coral Municipal e

como será a edição 2012.MPF - À frente do Coral Municipal, continuei

desenvolvendo a mesma linha com a

música erudita. Este ano participamos do

Congresso de Organistas e Organeiros na

Catedral, em Petrópolis, com a estreia da

obra “Officium Defunctorum” de Lobo de

Mesquita, com o organista Benedito Rosa.

Participamos do CD comemorativo da

Orquestra Petrobras Sinfônica em parceria

com o Coral da UCP e gravamos o CD do

Coral Municipal de Petrópolis, com

repertório de música secular, registrando a

capacidade técnica do grupo. Importante

registrar também, a Master Class de

Regência Coral com o maestro Hans Peter

Schursz, realizado em 2010 no Instituto

dos Meninos Cantores de Petrópolis. Mas

nos últimos anos, estamos também

envolvendo os coralistas com a MPB

através de ricos arranjos, imprimindo a

esse trabalho uma identidade vocal.

Desenvolvendo uma vertente mais atual,

surgiu a ideia do “Clássicos do Rock”,

dentro do próprio coral, na busca de um

repertório mais próximo da realidade dos

cantores. A primeira edição em 2010 já foi

um grande sucesso! Estamos na terceira,

com duas apresentações dias 13 e 14 de

outubro, no Theatro D. Pedro. Serão 32

cantores acompanhados de 13 músicos,

banda e orquestra. O espetáculo deste ano

está imperdível e em 2013 queremos nos

programar para viajar com ele.

RP- Além de instrumentista, regente,

arranjador, você também compõe? Qual

a sua referência como maestro?MPF - Sim. Compus algumas missas

como: São Pedro de Alcântara; “Pro

Hominis” para coro masculino; Missa

Femina para coro feminino; Missa Pro

Tempore e Quartifuza. Entre tantos

profissionais que admiro, procuro seguir a

linha de formação e pensamento do

maestro Ernani Aguiar.

RP – Você quase se tornou um

profissional da magistratura. Mas optou

por ser um músico por excelência,

deixando que a arte rompesse limites na

sua vida. Valeu a pena?MPF - Valeu e muito! Valeram as horas sem

dormir para estudar. A satisfação de ver o

progresso dos alunos, perceber que algum

está mais sociável porque a música lhe fez

bem, isso é maior! É emocionante ver o

Coral dos Parkinsonianos participar dos

concertos de Natal com os outros corais. É

a integração da sociedade. Por tudo isso

que contei aqui, sou um homem realizado.

Mas há muito a fazer, quero cursar

Faculdade de Composição e tenho em

mente inúmeros projetos.

O Maestro à frente do Coral Municipal

Texto: Maria Luísa Rocha Melo**

Mais para frente, a preocupação

era a de analisar e contextualizar os

brinquedos, demonstrada em estudos

como Indústria Cultural. Editado em 1986, o

livro defendia a ideia de que o brinquedo

industrializado é “suporte e agente da ideologia

capitalista” e que o mesmo é influência direta na

formação da criança. Termos como “adultocentrismo” e

“videojogos” são introduzidos neste ensaio. Aí, o brinquedo é

tratado como coisa séria.

A partir da década de 1990, a literatura passa a se preocupar com

a institucionalização da brinquedoteca, enfatizando seu papel

educativo, pedagógico e psicológico, que preserva, classifica e

divulga a importância do brincar. É a necessidade de sistematizar

uma ação que passa a ser considerada como primordial na

infância, norteadora da fase adulta de um indivíduo.

Chegamos aos anos 2000 e a mudança de preferência da criança

pelos jogos eletrônicos gera polêmicas e preocupações. E esta

transformação, claro, vem se refletindo no acervo da Biblioteca:

revistas que se dedicam aos lançamentos de “games”, com toda a

sorte de ilustrações, dicas e outras modernidades tecnológicas,

não param de chegar, tomando seus lugares nas estantes que

vivenciam uma enorme produção de artigos sobre o que há de

mais atraente no mercado dos jogos eletrônicos.

Na Biblioteca, o ritmo próprio daquele mencionado livro dos anos

50, perpetua e convive pacificamente ao lado de outro, mais

frenético, da nova geração de crianças e seus novíssimos

brinquedos virtuais. Com isso, forma-se a linha do tempo que

define a evolução de todo um comportamento humano, da

indústria de brinquedos, da educação, dos valores de uma

sociedade, da economia de um povo. Afinal, é isto que impulsiona

o trabalho das bibliotecas.

** Gerente da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral

o m ê s d a s c r i a n ç a s ,

percorrendo as estantes da

Biblioteca Municipal, descobrimos um rico

registro da história dos jogos e brinquedos

infantis ao longo de várias décadas.

Foi assim que achamos a obra Brinquedos para os dias

de folga, escrita nos anos 1950 por Marianne Jolowicz (Ed.

Melhoramentos), que prometia à petizada momentos de

diversão e lazer. Nele, é criada uma perfeita ambientação para

que sejam iniciadas as brincadeiras: “Dia de vento, dia de

satisfação para a criançada que está de folga, à espera do jantar

que ainda demora”. E aí, todos se reúnem “em torno da mesa de

jantar, pondo em movimento o material de trabalho: uma tesoura,

uma régua, um esquadro, lápis e borracha”. Um mundo de

orientações e receitas convida a criança a exercer sua

habilidade de criar, executar, reaproveitar e, acima de tudo,

brincar.

São registros como este, guardados cuidadosamente nas

estantes da Biblioteca, que vêm garantindo a preservação e o

resgate dos costumes de uma época, de um país, de um povo.

Nessa linha, um livro escrito, cerca de vinte anos depois, Como

fazer brinquedos com arame, meias, ovos, feijão, rolhas, latas

etc., por Maria Barros (Ed. Ediouro), direcionado às donas de

casa e mães da meninada, propunha “abrir-lhes novas

perspectivas para suas horas de lazer e estimular de maneira útil

e prática sua criatividade”. E prometia: “Você vai ficar encantada

ao perceber-se capaz de criar brinquedos originalíssimos para

as crianças se divertirem e peças graciosas para decorar sua

casa. E tudo isto quase sem despesa alguma”. Boa pedida numa

época de “vacas magras” e em que não era comum encontrar

mães inseridas no mercado de trabalho.