Revista Sorria #19

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A natureza é feita de ciclos. Nosso corpo não foge à regra. Veja por que uma rotina organizada colabora para a saúde – e decida a melhor forma de montar a suatexto J é s s i c a M a r t i n e l iilustração F l a v i o M o r a i s

(do latim circa diem, “cerca de um dia”): a cada 24 horas, nosso organismo tende a seguir um roteiro-padrão, que envolve, por exemplo, liberação de hormônios, al-terações na temperatura e na pressão, estados de disposição e de sonolência.

Todos os seres vivos têm esse reló-gio interno. Ele é autônomo, mas funcio-na melhor com o auxílio de reguladores externos. O melhor exemplo é o sol. Por exemplo: quando anoitece, a retina per-cebe a diminuição da luz e informa o cé-rebro, que libera a melatonina, hormônio que causa uma sensação de relaxamen-to, nos preparando para o sono.

“Nos humanos, as atividades sociais também exercem essa função”, explica o médico Denis Martinez, no livro Como Vai Seu Sono?. “Qualquer atividade com horário !xo serve para ajustar nosso reló-gio interno. Quem almoça sempre às 12 horas informa esse horário ao corpo, que pode assim se preparar para o que vem a seguir”, acrescenta o especialista.

Ponteiros livresEssa é a regra geral. Mas nem todo mun-do se relaciona da mesma forma com esses ciclos. O paulistano Lex Blagus, de 32 anos, é um caso extremo. “Durmo quando dá sono, como quando dá fome. Não me prendo ao ponteiro do relógio, e sim ao que meu corpo pede e à carga

“POR CAUSA DE mais de 14 horas de trabalho por dia e muito fast-food, tive um princípio de infarto em setembro de 2010.” A con!ssão é do jornalista Wan-der Veroni, de apenas 26 anos, de Belo Horizonte. Além de se alternar entre dois empregos, ele ainda fazia extras nos !ns de semana. Não sobrava tempo para cui-dados básicos com a saúde. “Eu não me alimentava direito, era sedentário e dor-mia muito mal”, lembra. Um dia, o corpo não aguentou. O cardiologista de plantão não mediu palavras: Wander teria de re-organizar totalmente a própria vida.

O primeiro passo foi largar um dos empregos. E então estipular hora certa para acordar, comer, praticar exercícios e dormir. Em poucos meses, ele já está no-tando as diferenças. “Eu sentia dores por !car muito tempo sentado, além de uma fome enorme por não fracionar correta-mente o que comia durante o dia”, lem-bra. Dos 120 quilos que pesava, já perdeu 8, e projeta chegar aos 90 até junho. “Sin-to mais energia para acordar e trabalhar. A nova rotina se mostrou uma necessida-de para minha qualidade de vida.”

Tic-tac biológicoO organismo de Wander está agradecen-do a agenda regrada. E é fácil entender o porquê. Nosso corpo é regido por ritmos biológicos. O mais básico é o circadiano

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corpo, mente, alma

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hora certa

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que eu acho que ele deve ou consegue receber. E me sinto muito bem assim”, a!rma o arquiteto de sistemas.

Lex não tem um horário !xo de tra-balho e acredita que isso o ajude a pro-duzir melhor. “Quando a inspiração bate, tem de deixar a cabeça criar. Até mesmo o almoço eu corto nesses dias. Já quando não acordo inspirado, demoro mais na refeição, leio uma revista”, diz.

Para os especialistas, esse compor-tamento pode ser perigoso. “Precisamos de ciclos bem de!nidos”, a!rma Evan-dro Portes, médico da Sociedade Brasilei-ra de Endocrinologia e Metabologia. Se-gundo ele, dormir menos que o necessá-rio, não se alimentar nas horas certas e fugir a uma rotina de exercícios põe nos-so organismo em uma situação de es-tresse constante. “O corpo !ca em alerta, gastando energia para se manter funcio-nando fora do padrão”, explica.

Além de provocar descompasso com o relógio interno, uma agenda caó-tica é um convite a maus hábitos. Quem come só quando sente fome !ca propen-

so a engolir qualquer besteira. E, sem ho-rário marcado para praticar esporte, é muito mais fácil cabular a malhação. Lex sabe disso e se esforça para levar quali-dade ao seu desregramento de horários: “Uso bicicleta como meio de transpor-te e pratico esportes de aventura, como trekking. Também como muitas frutas e evito gordura e industrializados”, conta.

Balanço das horasEntre o total desregramento de Lex e o rígido tratamento de Wander existe um amplo meio-termo. É aí que Railídia Car-valho, de 39 anos, se encaixa. Para con-ciliar o trabalho como assessora de im-prensa, a vida de mãe e as tarefas de dona de casa, ela aposta em uma agenda organizada. “Não vivo de improviso. Os horários são bons para estabilizar”, diz.

Nosso relógio biológico é autônomo. Mas funciona melhor se realizamos as tarefas em horários-padrão, ajudando o corpo a se preparar para o que vem a seguir

Esse costume ela passa à !lha Iara, que tem hora para acordar, estudar e até para ver TV – atividade que não pode to-mar mais do que duas horas diárias.

Mas a disciplina cede ao bom-senso. Uma vez por mês, Railídia se dedica à sua segunda pro!ssão, cantora. Nesses dias, é inevitável dormir e acordar mais tarde. “Mas dá para organizar tudo dentro de um processo sem excessos”, diz.

O médico Alberto Ogata, presiden-te da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, lembra que horários são impor-tantes, mas não bastam para garantir o bem-estar. “A saúde depende de ques-tões físicas, como o sono, a alimentação e os esportes. Mas também de aspectos emocionais, sociais, pro!ssionais e até espirituais”, diz. O importante, como sempre, é buscar o equilíbrio.

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