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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 3 - Ano I - Belo Horizonte, julho de 2010 4 5 7 Página 3 T ese do Programa de Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto propõe modelo de classi- ficação de risco para tromboembolia hospitalar com apenas oito critérios e mesma eficácia do método tradicional. O sistema utilizado hoje no Brasil leva em consideração 60 variáveis. Com o novo método, a ideia é tornar mais fácil a identificação e otimizar o tratamen- to desse problema que é mais recorrente nos leitos que a infecção hospitalar. Ilustração: Ana Cláudia Ferreira ENSINO Reforma curricular deve priorizar for- mação generalista PESQUISA Estudo sobre absenteísmo por doença alerta gestores CENTENÁRIO Futebol e medicina lado a lado na histó- ria da Faculdade Método simples pode prever tromboembolia

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 3 - Ano I - Belo Horizonte, julho de 2010

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Tese do Programa de Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto propõe modelo de classi-

ficação de risco para tromboembolia hospitalar com apenas oito critérios e mesma eficácia do método tradicional. O sistema utilizado hoje no Brasil leva em consideração 60 variáveis.

Com o novo método, a ideia é tornar mais fácil a identificação e otimizar o tratamen-to desse problema que é mais recorrente nos leitos que a infecção hospitalar.

Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

ENSINOReforma curricular deve priorizar for-mação generalista

PESQUISAEstudo sobre absenteísmo por doença alerta gestores

CENTENÁRIOFutebol e medicina lado a lado na histó-ria da Faculdade

Método simples pode prever tromboembolia

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Memória e avanços

Nesta edição, o Saúde Informa

traz aos seus leitores a história da Faculdade de Medicina e a rela-ção que se estabeleceu nos primeiros anos de sua existência com o futebol, assunto que dominou boa parte das conversas em todo o mundo, no último mês.

São destaques pesquisas que trazem novas técnicas para a tromboembolia e o controle de hemor-ragias em vítimas de lesões provocadas por tiro na face. Uma dis-sertação na área de Saúde Pública apre-senta, ainda, pesquisa sobre absenteísmo por doença e alerta aos ges-tores.

Tema impor-tante que definirá no-vos rumos na forma-ção médica no Brasil, a Atenção Primária e a reformulação curri-cular de Medicina tam-bém estão nas páginas do boletim.

Boa leitura.

Editorial Saúde do português

Há dez mil anos atrás

No dia a dia da área da saúde, em várias situações, nos deparamos com o uso de

expressões do tipo “esse procedimento foi feito há dez anos atrás”. Pleonasmo. Vicioso, por sinal. Absolutamente dispensável, já que a utilização do pleonasmo deve ser guardada para os textos literários, com o intuito de con-ferir mais clareza ou ênfase à idéia que se quer expressar. Benedito Valadares, que o diga. Governador de Minas Gerais, o interventor Valadares tinha fama de homem de poucas letras. Um dia aguardava por uma audiência com o presidente Getúlio Vargas - que o no-meou -, quando chega Gustavo Capanema. Ministro da educação por 14 anos, homem letrado que tinha como seu chefe de gabinete ninguém mais do que Carlos Drummond de Andrade, Capanema nota que Benedito Vala-dares estava com os olhos inchados e indaga: “Governador, o que o senhor tem?”, e Bene-dito responde: “Ministro, é conjuntivite nos olhos”. Capanema não perdoa: “Governador, conjuntivite nos olhos é pleonasmo.” Nisso, o presidente chama Benedito Valadares para despachar. Ao entrar no gabinete, o presidente logo pergunta: “Governador, o que é isso nos olhos?” “Presidente, os médicos lá de Minas disseram-me que é conjuntivite nos olhos. Mas o Capanema, que é metido a saber tudo, disse que é pleonasmo. Já não sei mais nada!” Não sabia, mas entrou para o folclore. E isso foi há muitos anos ... Muitos anos atrás.

Washington Cançado de AmorimObra consultada: Histórias do Folclore Mineiro, Sebastião Nery

Contribua para a ‘Saúde do Portu-guês’. Envie sua sugestão ou opinião para [email protected].

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PublicaçõesFenilcetonúria – Ta-belas com a Quantida-de de Fenilalanina dos Alimentos

Lançado pelo Nú-cleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medici-na da UFMG (Nupad), o guia facilita o controle

nutricional dos pacientes – base do tratamen-to para a fenilcetonúria. É organizado pelas nutricionistas Michelle Alves, Viviane Kanu-fre, Jacqueline Santos e Rosangelis Soares, que atuam no ambulatório do HC, e distri-buído durante as consultas para as famílias de pacientes acompanhados pelo Programa Estadual de Triagem Neonatal. Ed. Nupad.

Transplante Renal – o que os doadores pre-cisam saber

O livro é de au-toria dos professores Daniel Xavier Lima e Andy Petroianu, ambos do Departamento de Ci-rurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. A

obra busca sanar as dúvidas dos potenciais doadores de rins, trazendo esclarecimentos e orientações em relação ao processo da deci-são, e é também destinado aos pacientes que aguardam doação e aos seus familiares. Ed. Atheneu Rio.

Todo mineiro tem u m bom causo para posta r

A Faculdade de M edicin a qu er resgatar a sua história ao lo ng o

desses 100 an os. Juntar todo s aqueles causos que m arcaramépo ca e n em sem pre são lembrados.

Escreva para [email protected] e mande as suas foto s,textos e vídeos dos ano s em que você estu dava n a Faculdade

de M edicina .

O seu causo será contado no Blog do Centen ário e d ivid ido

com o mun do todo . Participe!

Blog do Cen tenár ioA nossa história é também a história da saúde mineira

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Pesquisa sugere novo método de previsão de tromboembolia

O modelo proposto é mais simples e procura facilitar a avaliação de risco entre pessoas hospitalizadas

Divulgação Científica

julho de 2010

Ficar de cama no hospital é algo que ninguém gosta. Mas, o tédio é o

menor dos problemas nessa situação. “A partir do 3º dia em que o paciente fica acamado, os riscos de trombose já são considerados altos”, afirma Marcos de Bastos, médico hematologista e pes-quisador da Faculdade de Medicina da UFMG.

Para enfrentar o problema, Bas-tos desenvolveu um modelo que reduz de 60 para oito as variáveis que classifi-cam pessoas com risco de trombose e embolia.

Trombose é o entupimento das veias por coágulos de sangue. Sua for-ma mais comum é chamada Trombose Venosa Profunda, ou TVP (ver quadro). Estatísticas internacionais comprovam que a TVP é responsável pela morte de 1 milhão de pessoas todos os anos no mundo. Estima-se que, a cada ano, uma em cada mil pessoas desenvolva essa for-ma de trombose ou suas consequências.

O entupimento, na grande maio-ria dos casos, não é letal. O problema se complica quando pedaços de coágulos migram para o pulmão através das veias, causando a embolia. O processo todo é chamado de tromboembolia. “Esse é um grande desafio médico que pode levar à morte. Um problema de saúde públi-ca maior até que a infecção hospitalar”, alerta Bastos.

Uma das maiores dificuldades de enfrentar essa complicação é que ela pode não apresentar sintomas. No caso dos pacientes hospitalizados a situação é pior, porque eles já estão com a saúde debilitada para enfrentar a aplicação de exames.

Os indivíduos com maior risco devem ser cuidados preventivamente. “Se esperarmos os resultados dos exa-mes para só então tratar, já enfrentare-mos o problema em desenvolvimento”, afirma Suely Rezende, orientadora da pesquisa e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade.

Muitos profissionais da saúde ain-

da não acreditam que esse é um problema grave. “Quando a pessoa está internada, os médicos se esforçam em combater a doença principal e acabam esquecendo-se da tromboembolia.”, explica o hematolo-gista.

Para fazer a pesquisa, Bastos ana-lisou os dados de 21.158 pacientes do Hospital Naval Marcílio Dias, na cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram reco-lhidos pelo programa de prevenção ao tromboembolismo do próprio hospital entre 1999 e 2001.

Com os perfis dos pacientes de 1995 a 2001, Bastos comparou os resulta-dos encontrados pelo método já utilizado (Caprini) com sua proposta.

“Conseguimos reduzir de três ou quatro categorias de risco, para duas. Ou a pessoa tem risco de desenvolver trom-boembolia ou não tem. Isso torna o pro-cesso mais simples para a equipe médica”, afirma o médico.

Fatores como imobilização, ci-rurgia prolongada, restrição prolongada no leito, presença de câncer, varizes de grosso calibre, presença de doença hema-tológica específica e tipo de clínica de in-ternação no hospital são sugeridos como indicadores de futura tromboembolia.

O modelo sugerido pela pesquisa conseguiu chegar aos mesmos resultados do método Caprini, mas ainda são neces-sários novos meios de aplicação das me-didas profiláticas. “Criamos duas novas categorias de pacientes então não pode-mos usar as mesmas sugestões de pre-venção que o Caprini usa. Outros estudos são essenciais para tornar a aplicação do modelo viável”, esclarece Bastos.

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Título “Estratificação de risco e profilaxia de tromboembolismo venoso em pacientes hospitalizados“Autor Marcos de BastosNível DoutoradoPrograma Pós-Graduação em Ciências Apli-cadas à Saúde do AdultoOrientadora Professora Suely Meireles RezendeDefesa 23 de junho de 2010

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O que há por trás do absenteísmoFalta ao trabalho por motivo de doença é um sinal para gestores e empregados

agirem, sugere estudo da UFMG

julho de 2010

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Formandos em Medicina devem suprir carência por profissionais generalistas

A reformulação curricular do curso de Medicina possibilitará melhor formação de profissionais de saúde em acordo com as necessidades sociais do país

“Um sistema de saúde devidamente hierarquizado, com Unidades Básicas de Saúde (UBS) eficien-

tes, possibilita a promoção eficaz da saúde com custos significativamente menores”. É o que afirma a subcoor-denadora do Colegiado do curso de Medicina da UFMG, professora Luciana de Gouvêa Viana. Para ela, o foco em Atenção Primária, principal eixo estruturante do Progra-ma Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, do Governo Federal, é um grande desafio na educação médica.

Ela ressalta que, hoje, as unidades de urgência e emergência hospitalares ainda são a principal entrada para o sistema de saúde, o que delata a ineficiência da Aten-ção Primária. “Vivemos uma realidade hospitalocêntrica. A maioria das pessoas busca, primeiramente, estas uni-dades, mesmo nos casos menos graves. Além de sobre-carregar os centros de urgência, não é possível realizar um trabalho adequado de controle das doenças junto aos pacientes. Isto implica em custos elevadíssimos e danos irreversíveis, que poderiam ser evitados”, observa.

“A orientação é que os profissionais médicos de-senvolvam, ainda na graduação, competências e habilida-des para atuar de maneira resolutiva nas UBS, e torná-las, de fato, o primeiro destino dos pacientes e ponto de apoio, não somente para a recuperação, mas, principal-mente para ações de promoção em saúde e prevenção de agravos. Isto é uma quebra de paradigmas”, explica a

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Unidades de Urgência e Emergência Hospitalares

Devem receber pacientes graves que necessitam

de cuidados especializa-dos, que tenham sido encaminhados pelos pro�ssionais das UBS

UBS - Unidades Básicas de Saúde

Devem ser o primeiro destino de pacientes. Também devem ser

acionadas para controle e recuperação efetivos

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professora Luciana.Ela salienta que, apesar dos incentivos federais, não

há médicos suficientes com este perfil para atender à de-manda. “O Governo desenvolve políticas públicas de saúde da família e comunidade e fomenta a Atenção Primária, in-clusive, com aportes financeiros. Mas não se vê a formação de profissionais capacitados para o contexto das UBS. O nosso papel é apresentar este espaço aos alunos e provocar talentos, durante a graduação. Alguns deles perceberão a vocação para trabalhar em Atenção Primária”, reflete.

De acordo com a professora, o novo perfil dos egres-sos será pautado em uma formação generalista, reflexiva, humanista e crítica. “É preciso que o médico seja capaz de apreciar determinantes sociais, culturais e psicológicas no processo saúde-doença, e atue como agente integral da saú-de. Para tanto, além de aumentar o contato dos estudantes com estes cenários, a proposta é implantar disciplinas obri-gatórias de conteúdo humanista”, esclarece.

Ela relembra que a participação de toda a comuni-dade acadêmica é muito importante durante o processo de construção do novo currículo. “É necessário que haja um envolvimento efetivo de alunos e professores porque será uma mudança da realidade de todos nós. Mais que realizan-do um ajuste curricular, estaremos cumprindo com a res-ponsabilidade social de uma universidade pública, oferecen-do à sociedade o perfil de médicos que ela anseia”, atenta.

Seminário de Atenção PrimáriaDurante o seminário “O Profissional Médico e suas

Competências na Atenção Primária”, realizado em 17 e 18 de junho, a Faculdade de Medicina da UFMG deu mais um importante passo para a congruência das Diretrizes Curriculares Nacionais, recomendadas pelo Governo Fe-deral, com a formação oferecida aos graduandos do curso de medicina.

Segundo a coordenadora do evento, professora Cláudia Lindgren, cerca de 250 participantes, entre profis-

sionais da rede básica de saúde do Município, professores e alunos de Medicina, debateram as propostas apresentadas pela Comissão de Sistematização da Reforma Curricular da Faculdade de Medicina.

“Houve concordância sobre a necessidade de am-pliar a inserção dos estudantes nas Unidades de Atenção Primária, já que as aptidões necessárias ao profissional al-mejado estão para além da competência clínica e é impossí-vel desenvolver esta série de outras habilidades em apenas um período”, pondera Cláudia.

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O que há por trás do absenteísmoFalta ao trabalho por motivo de doença é um sinal para gestores e empregados

agirem, sugere estudo da UFMG

A análise de informações sobre a ausência ao trabalho por motivo de doença pode ajudar a identificar e pre-

venir problemas maiores de saúde. A afirmação é de Jorge da Matta Machado Safe, médico mineiro que defendeu, em março de 2010, dissertação de mestrado em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da UFMG, na área de Epide-miologia.

Segundo o autor, a duração dos afastamentos pode ser um indicador de condições que influenciam tanto o bem-estar como a capacidade produtiva dos trabalhadores. Ele cita como exemplo o impacto negativo das longas ausências: “Os empregados podem ter o rendimento reduzido, se deprimir e ter dificuldades para retornar ao trabalho”, analisa.

A pesquisa estudou a ocorrência da falta ao trabalho (absenteísmo) por doença em 3.226 trabalhadores de uma indústria si-derúrgica mineira de grande porte. Para isso, foram utilizados dados levantados por um inquérito de saúde realizado pela empresa em 2006, contendo 178 questões sobre há-bitos de vida, comportamentos de risco, uso de serviços de saúde, doenças e outros.

Por meio dessas informações, o pes-quisador obteve um perfil da saúde de cada um dos participantes. Estes perfis foram comparados aos dados de afastamento por doença, vindo dos atestados médicos entre-gues no ano seguinte ao inquérito. A pes-quisa identificou os principais fatores que estariam influenciando os afastamentos de longa duração entre os operários.

Fatores relacionadosSer fumante ou ex-fumante, não

praticar atividades físicas, consumir bebida alcoólica em excesso, estar empregado há menos de 15 anos na mesma empresa, ser separado, divorcia-do ou viúvo e ter baixo controle sobre o processo de trabalho são os fatores que a pesquisa identificou como principais res-ponsáveis pelo maior absenteísmo por doença na população estudada.

Do total analisado, 56% dos participantes tiveram ao menos um dia de afastamento por doença. Em um ano, 18,4% estiveram afastados por sete dias ou mais Em compa-ração com os não-fumantes, os trabalhadores tabagistas e ex-tabagistas tiveram 49% e 36% maior chance, respectivamente, de estarem no grupo dos que mais se ausentaram por motivo de doença.

Os sedentários apresentaram 71% a mais de probabi-lidade de estarem entre os mais faltosos do que os pratican-tes de atividade física regular. Já os empregados que relataram consumir bebida alcoólica em excesso apresentaram 58% a

mais de chance de estarem dentre os mais ausentes por do-ença.

PrevençãoAs informações sobre absenteísmo podem servir de

referência para melhorias na saúde do empregado. Elas po-dem ser usadas para criar programas de promoção de saúde e prevenção a doenças, direcionar benefícios sociais, priorizar as áreas que necessitam de maior investimento e melhorar o próprio processo de trabalho.

A pesquisa mostra que quem tem menor controle sobre seu processo de tra-balho tem 6% a mais de chance de estar en-tre os faltosos em relação aos colegas com maior poder de decisão. “Os trabalhadores com menor possibilidade de decidir como realizar suas atividades, com menor reco-nhecimento e apoio dos colegas, são os que estão sob maior risco de adoecimento”, sinaliza o pesquisador. “É necessário que empresas e empregados atuem juntos para melhorar os processos e o ambiente de tra-balho. Os indicadores de absenteísmo dão pistas de por onde começar”, conclui.

Apesar de serem importantes, os dados de absenteísmo são pouco usados pelos gestores na hora de direcionar suas ações. “Talvez por desconhecerem sua uti-lidade ou não terem uma rotina de registro adequada destas informações. Outro pro-blema é a falta de estudos sobre o tema no país”, alerta Safe.

Curiosamente, fatores como pres-são alta, diabetes ou problemas do coração não contribuíram significativamente para explicar o padrão de afastamentos por do-ença nesta população, provavelmente devi-do ao fato dos participantes serem, na sua

maioria, trabalhadores jovens e saudáveis.Isso demonstra que em cada empresa os fatores po-

dem ser diferentes. Muitos aspectos interferem no absenteís-mo, incluindo fatores que vão além da área da saúde. Na avaliação do pesqui-sador, é necessário ampliar os estudos sobre o tema no Brasil.

“Complexidade não significa impossibilidade, mas a necessidade de um maior investimento e cuidado metodológico. É essencial para o país que empresas e pesquisadores invis-tam em trabalhos sobre absenteísmo e saúde do trabalhador, que estes sejam cada vez mais robustos e de maior du-ração”, conclui.

Divulgação Científica

Título Características de Saúde e Trabalho Associa-das ao Absenteísmo em uma Coorte de Trabalha-dores SiderúrgicosAutor Jorge da Matta Machado Safe Nível MestradoPrograma Pós-Gradu-ação em Saúde Pública, ênfase em EpidemiologiaOrientadora Professora Sandhi Maria Barreto Defesa Março de 2010

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A técnica de “cirurgia para controle de danos”, desen-volvida pelo professor João Baptista de Rezende Neto,

do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, pode garantir a vida de vítimas de traumatismos, in-clusive ferimentos gerados pela violência do tráfico de dro-gas.

A técnica mostrou-se eficaz no controle de hemor-ragias em pacientes vítimas de lesões provocadas por tiro na face. Realizada no Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves (HRTN), é utilizada quando há hemorragias graves, nas quais o controle do sangramento não é conseguido e o paciente apresenta risco de morte.

“A cirurgia de controle de danos no trauma é com-posta de três etapas: na primeira, tratam-se os problemas que provocarão a morte imediata do paciente e interrompe-se a cirurgia. Posteriormente, o paciente é encaminhado ao cen-tro de tratamento intensivo para melhorar as condições clíni-cas. Na terceira fase, a cirurgia é terminada definitivamente. Nesses pacientes graves, quando a cirurgia é realizada em uma única etapa, a vítima geralmente morre”, conta o tam-bém coordenador do Setor de Cirurgia e Trauma do Hospital Risoleta Tolentino Neves.

O procedimento foi descrito no artigo Damage Con-trol Principles Applied to Penetrating Neck and Mandibular Injury (Princípios de Controle de Danos Aplicados para Penetrar Lesões no Pescoço e Mandibular), publicado no Journal of Trauma em 2008.

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Técnica reduz risco de morte em vítimas do tráfico de drogasPerfil dos pacientes

Segundo o professor, os pacientes atendidos com tiros na face são, geralmente, homens entre 20 e 40 anos, envolvidos no tráfico de drogas. No “código” do tráfico, usa-se atirar na boca como forma de represália, o que não é raro. Esses trau-matismos causam hemorragias de difícil contenção, além de obstruir as vias aéreas, impedindo a passagem de ar. Por esse motivo, os pacientes apresentam um risco eminente de morte, o que torna impossível a cirurgia de reconstrução da face.

A técnicaPara conter a hemorragia, são introduzidos na cavidade

da ferida cateteres do tipo Foley, existentes em qualquer hos-pital. Segundo o professor João Baptista, as sondas têm um balão na extremidade que, quando colocado dentro da ferida e inflado com soro fisiológico, faz pressão nos vasos sanguí-neos, estancando a hemorragia. “Após 24 a 36 horas, o balão é esvaziado, a sonda é retirada e o sangue já está completamente estancado”, comenta.

Enquanto o procedimento é realizado, o paciente res-pira por meio de traqueostomia, método pelo qual o ar entra direto na traquéia, utilizado quando não é possível respirar pelo nariz ou pela boca. Após esse procedimento o paciente pode ser levado para fazer a cirurgia de reconstrução da face. Em todos os pacientes, o resultado foi satisfatório e a face pode ser completamente reconstruída pelo cirurgião plástico Aluísio Marques, da equipe de cirurgia plástica do HRTN.

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Novas Técnicas

Cateter ou Sonda do tipo Foley

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Memória

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Médicos em campo

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Em vez do jaleco branco, camisa, calção e chuteira. So-brava até para o estetoscópio, instrumento símbolo da

medicina, substituído pela bola. Por várias décadas, muitos estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG dividiram o aprendizado com a maior paixão dos brasileiros, o futebol. E o América Futebol Clube tem grande participação nisso. “A gente saía da Medicina e já estava praticamente dentro do campo”, lembra o professor Paulo Kleber Avelar Araújo.

O Estádio Otacílio Negrão de Lima, conhecido como Estádio da Alameda, que se localizava muito próxi-mo ao prédio da Medicina, onde hoje está o supermercado Extra, teve importância fundamental no envolvimento dos alunos com o mundo da bola.

“Da sala de parasitologia, olhava o campo e quando o treino ia começar eu descia para jogar”, relembra o professor Paulo Kleber Avelar Araújo, que jogou no América de 1958 a 1962. Já aposentado, ele sente saudades daquele tempo, mas revela que na época, não conseguia vislumbrar um bom futuro no futebol.

“O portão principal do América dava de frente para uma saída que havia próxima ao Ambulatório Bias Fortes”, conta Paulo. “Fui jogador até o meu terceiro ano de curso. Um dia o técnico do time, Dorival Knippel, o Yustrich, me perguntou qual era realmente o meu negócio: jogar bola ou ser médico? Eu escolhi a medicina e não me arrependo”, afirma.

O envolvimento com o esporte não era só dos alu-nos. Paulo se lembra que os professores também entravam em campo. E na arquibancada, alunos, funcionários e outros professores assistiam a campeonatos e comemoravam jun-tos os títulos conquistados pelo Coelho.

“O América era um parceiro da escola. Muitos jogos universitários aconteciam lá. Os professores nos apoiavam e vibravam com a gente. Conseguíamos até remarcar algumas provas, dependendo do professor, em função dos jogos”, revela Paulo.

O médico se formou em 1965 e assistiu com tristeza a demolição do campo do América já como professor da Faculdade. “Foi o pior negócio que o time fez em toda a sua história. Se o América não tivesse vendido aquele estádio, a situação hoje do clube seria bem diferente”, afirma.

Outro que também passou pelos campos do América

foi Pedro Raso, professor emérito da UFMG. “Não cheguei a ser profissional. Joguei no juvenil e cheguei a aspirante”. Ele jogou até janeiro de 1949 e conta que também pendurou as chuteiras para dedicar aos estudos médicos.

Coincidência ou não, ele também atribui a sua saída do time ao técnico Yustrich. “Certo dia estava jogando bola sozinho em uma quadra de basquete da Alameda. De repen-te, surge próximo a quadra o novo time do América, que disputaria o campeonato daquele ano de 1948. Eles fariam o primeiro exercício físico e estavam sendo comandados por um homem grande, forte, de voz grossa que eu, até então, não conhecia. Ele se aproximou e me pediu a bola, obedeci e lhe entreguei. Ele chutou a bola sobre o alambrado na dire-ção da piscina. Sem pestanejar eu xinguei. Ele saiu correndo atrás de mim, cheguei a ouvir o braço dele zunindo nos meus ouvidos. Corri como nunca e escapei pelo portão principal. Desse dia em diante, jamais joguei no América”, relembra Pedro.

“A ligação do time com a escola era enorme. A maio-ria dos médicos daquela época torciam para o América. Era o segundo clube de Minas. E a proximidade do estádio tam-bém foi fundamental para que muitos alunos frequentassem as suas dependências”, diz Pedro, com saudades.

Ele comenta ainda que naquela época o esporte era uma das poucas opções de lazer na cidade. “Não havia muita coisa para fazer. Não era como hoje, não havia shoppings cen-ters, bares e essas coisas. O esporte era a nossa diversão, e que diversão gostosa”.

Quase da mesma idadeO professor Pedro Raso conta que as coincidências

entre o América e a Faculdade de Medicina começam desde o início do século XX, quando ambos estavam nascendo. “A Faculdade foi fundada em março de 1911, e o América nasce pouco mais de um ano depois, em abril de 1912. Contemporâ-neos, os dois cresceram juntos e bem próximos”.

E não é só a data que aproxima o clube da Medicina. “Três dos fundadores do América Futebol Clube: Afonso Sil-viano Brandão, Mário Pena e Lucas Machado foram médicos. Na época em que fundaram o clube, deviam ser estudantes ainda, mas os três foram médicos. Afonso Silviano Brandão, inclusive, foi o primeiro presidente do clube”, relembra Raso.

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ObservaPED Acontece

Estudar, analisar e debater a infância e ado-lescência, com olhar atento e abrangente

e visando contribuir para melhorias no Siste-ma Único de Saúde. É com esse objetivo que o Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG criou e desenvolve o Observatório de Saúde da Criança e do Ado-lescente (ObservaPED), apresentado oficial-mente à comunidade acadêmica no dia 23 de junho.

Por meio de coleta de dados, revisão bibliográfica, análises, pesquisas e discussões, o projeto pretende disponibilizar uma fonte atualizada de informações a respeito de temas relacionados à saúde da criança e do adoles-cente. O material poderá ser consultado por profissionais e pelo público leigo, e auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas. A pági-na eletrônica do projeto possibilita a interação entre público e equipe do projeto por meio de fórum online.

A equipe que desenvolve o projeto é composta por professores, médicos e universi-tários de várias áreas. A professora Maria Apa-

recida Martins, chefe do Departamento de Pe-diatria e coordenadora do Projeto, afirma que o ObservaPED inova ao focar-se na área da saúde da criança e do adolescente.

Já a professora Cleonice Mota, chefe do Departamento quando o projeto foi idealiza-do, em 2006, considera o Observatório como um olhar extramuros do Departamento, com a vantagem de ser coletivo, integrador. Krisley Christiane de Castro, aluna do 6º período de Medicina e bolsista do projeto, acredita na im-portância do projeto por voltar-se para a saúde pública e ser aberto a toda a comunidade.

O projeto do ObservaPED tem apoio financeiro da Secretaria de Estado da Saúde e é parceiro do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (Nescon), da Liga de Telessaúde e do Centro de Tecnologia em Saúde, todos da Fa-culdade de Medicina da UFMG, entre outros.

Departamento de Pediatria apresenta projeto

O Observatório de Saúde da Criança e do Adolescente produzirá conteúdo que poderá subsidiar políticas públicas de saúde

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Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura (Reg. Prof. MG 04961JP) – Editora: Mariana Pires – Redação: Jornalistas: Maíra Lobato e Mariana Pires – Estagiários: Ennio Rodrigues, Estefânia Mesquita, Michelle Lessa, e Renata Ferreira. Projeto Gráfico e Diagramação: Leonardo Lopes Braga - Estagiária: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Janaína Carvalho – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 1 mil exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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Semana da Saúde De 26 a 28 de julho em Diamantina, acontece a IV Semana da Saúde 2010, integrando. a programação do 42º Festival de Inverno da UFMG e coordenada pelo Núcleo de Educa-ção em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina da UFMG, com oficinas educati-vas, parada da Dengue e da Influenza e Cine Saúde.

AvaliaçãoEstá aberto o proces-so anual de avaliação de desempenho para servidores técnicos e administrativos em educação da UFMG. A partir do acesso ao portal MinhaUFMG, todos os servidores e chefias devem realizar o preenchimento on-line do formulário de autoavaliação até 13 de agosto.

BolsasA ProRH recebe, pelo seu portal eletrônico, inscrições de servi-dores candidatos aos Programas de Bolsas Pré-Vestibular (até 28 de julho) e Ensino Su-perior (até 6 de agos-to). Acesse a página www.ufmg.br/prorh.

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Acesse o site e participe do fórum: www.medicina.ufmg.br/observaped

Eixos ObservaPED:- Mortalidade perinatal da criança e do adoles-cente- Caderneta de saúde da criança- A criança, o adolescente e a violência- Eventos adversos e segurança da criança e do Adolescente- Prevenção da obesidade e doenças associa-das- Saúde e educação- Educação em saúde baseada em tecnologia- Prevenção em saúde cardiovascular