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TECNOCR ATA - O BOBO DA COBTE MENSÂRIO CULTURAL RIO DE JANEIRO NOVA FASE ANO 2 N. c 19 Era PORTUGAL 25 Escudos VIOLÊNCIA UNDERGROUND BASTA DE TANTA INSENSATEZ LEI COHEN DE EXCLUSÃO DE CACHORROS

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TECNOCR ATA - O BOBO DA COBTE

MENSÂRIO CULTURAL — RIO DE JANEIRO — NOVA FASE — ANO 2 — N.c 19 — Era PORTUGAL 25 Escudos

VIOLÊNCIA UNDERGROUND

BASTA DE TANTA INSENSATEZ

LEI COHEN DE EXCLUSÃO DE CACHORROS

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Página 2 ABERTURA CULTURAL ANO 2 N? 19

FRAKTIONDERSPD BUNI AG

EN

Seção de Cartas Escreva para Caixa Postal 12.193 — ZC-07 — 20.000, Rio — RJ)

Herrn

Otto Buchsbaura

Caixa Postal 12,193" Ze-07

Rio de Janeiro

Braslllen

Sehr geehrter Herr Buchsbaum,

TitntptKÉtu 11/ 2S96 D'* WaM dme. Rutnumrn»' wmttMH o.- g.wúntffiien HBu»nMfilu6. Komtnl eln *n*cfiiu6 ruCTH lu.Und*. bitte Ni 161 (S^nfleSlaJO-VfcmMtllunft!

5300 BonnBundeshaus

*" 51-. 5. 1976

der Vorsltzende der SPD-BundestagsfraktlOn, Herr Herbert Vehnèr^ãB,

hat mlch gebeten, Ihnenfür Ihre Zuschrlft vom Ç. V,S.rz 1976, In dem

Sle ihre tlefe Besorgnis über dle zunehmende frledliohe Nutzuhg

der Kernenergle zum Ausdruck brlngen, herzlloh zu. danken,

Wle In der GesamtbevOlkerune dle Melnungen über ále Rlslken der

Kernenergle auseinandergehen. so glbt es auch ira Rahmen elner

groBen Volkspartel, dle dle SPD darstellt, durchaüs dlfferenzlerte

und nuanclerte Ansichten zü dlesem Probleni, Der letzte ordentllche

Parteltag der SPD hat In Mannhelm gegen elne Stlrirae elnen .Antrag

angenommen, In dem es u.a. helBt:

"Der verstíinãliche Wlderstand der Jewells betroffenen

BevSlkerung gegen Kernkraftwerke Ist zu elnem politlschen

Faktum geworden. Wenn das GesprSch mlt dlesen Bürgern ver-

sachlioht vierden soll, gelingt das nur, wenn das Pro und

und Kontr»/mlt den Bürgern nüchtern und reohtzeitlg aus-

gebreltet, dlskutlert und gewertet wird, und wenn alies

getan wlrd, um der Energleverschwendung zu begegnen.

Tradução do extrato da carta que a bancada do SPD no parlamento alemão (isto é a bancada que junto com o Par- tido Liberal forma o governo) dirigiu a Otto Buchsbaum. A carta tem cinco pá- ginas e os anexos, especialmente as con- tribuições do Professor Doutor Frank Haenschke, tanto suas Intervenções nos debates do parlamento, como seu artigo "Perigos e riscos no uso da Ener- gia Nuclear" são muitos esclarecedores. Trata-se de um^ demonstração como um goverrto demoerátièo e um partido go- vernamental democrático, sempre assu- me e mantém o hábito de debater para esclarecer. Agora vamos pois à tradução do trecho acima, que já dá uma ligeira Idéia da atual posição alemã com rela- ção s energia nuclear.

"o lider da bancada parlamentar do SPD, Sní". Herbert Wehner, pediu-me agradecer calorosamente a sua carta de 5 de Março de 1976, na qual o Snr. ma- nifesta a sua profunda preocupação com o uso crescente da energia nuclear pací- fica .

Da mesma maneira como na popula- ção alemã em geral há diferenças de opinião sobre os riscos'da energia nu- clear, assim também dentro de um gran- de partido popular como é a SPD, há as mais diferentes opiniões a respeito deste

problema O último congresso do SPD em Mannhelm, aprovou contra um voto, uma moção, na qual entre outras coisas se estabeleceu o seguinte:

"A resistência compreensível da po- pulação atingida contra as usinas nu- cleares, tornou-se um fato político. Se o diálogo com estes cidadãos deverá se tornar concreto, isto será só bem suce- dido, se o Pró e o Contra forem discuti- dos com os cidadãos previamente de

maneira criteriosa, levando tudo em con- sideração neste debate, e se tudo for feito para evitar desperdícios de ener- gia".

Como contribuição a este debate que também deve ser travado no Brasil, com absoluta liberdade e não com esta men- talidade predominante nos círculos polí- ticos, que sempre dependem do governo e por causa disso sempre dizem SIM, vamos publicar no próximo número o trabalho de Frank Haenschke, professor universitário, parlamentar da bancada go- vernamental e presidente da comissão "Segurança de Reatores e Proteção con- tra Radiações".

Publicaremos o trabalho, que é muito equilibrado, não só por seu valor intrín- seco, mas também para mostrar como se debate, age e vive num estado democrá- tico.

Correspondência para: CAIXA POSTAL 12.193 ZC-07 RIO

EXPEDIENTE: ABERTURA CULTURAL Teatro ao Encontro do Povo Publicação mensal da ABERTURA CULTURAL EDITORA LTDA. Diretor responsável: ANDRÉ DELANO BUCHSBAUM Órgão do movimento TEATRO AO ENCONTRO DO POVO dirigido por OTTO e FLORENCE BUCHSBAUM RIO DE JANEIRO — ANO 2 — N? 19 — 1976

Composto e impresso na Gráfica Castro Ltda. Rua Pedro Ernesto, 85 - Tel.: 243-8565 Distribuído em todo território nacional. Distribuído em Portugal, Ilhas, Angola, Moçambique, restante Europa, África e Ásia — AGÊNCIA PORTUGUESA DE REVIS- TAS — Rua Saraiva de Carvalho, 207 — Lisboa 3 — PortugíH Em Angola: Rua de Malanga, 83 LUANDA. República Popular do Moçambique: Prédio Negrão 2? andar n? 7 Maputo

Lydia Amaral Bender (Rio) Tenho se- guido com atenção, o caminno de ABtRTURA CULTUHAL desde o primeiro número, muitas vezes reielo números an- tigos e tenho observado que há várias fases. Os números iniciais lem corres- pondido plenamente ao título do jornal, desde que "cultural" tenha o sentido de cultura humanistica, como geralmente se aceita. Com imensa admiração acompa- nhei a guinada do jornal com sua luta anti-nuclear, enfrentando os poderosos e falando cada vez mais a linguagem áspe- ra da verdade. Mas os novos assuntos em parte muito técnicos, roubaram uma parte do espaço, de outros temas muito importantes, observei também, que há cada vez mais contos de autores estran- geiros, em detrimento do autor, do con- tista nacional...

— Lydia, você não é a único que se tem manifestado neste sentido e nós pre- cisamos dar razão a você. Nós pretende- mos tão logo que seja possível aumentar o número de páginas para poder cuidar dos diversos ângulos da ABERTURA CULTURAL com o mesmo empenho. Quanto a contos de autores estrangei- ros... Você conhece um contista na- cional que escreveu algo com um tão profundo sentido ecológico e humano, como "O homem que plantava árvores" de Jean Glono? E se você conhece, você pode convencê-lo de abrir mão do seu cópyright em favor do nosso jornal? No exterior, através de toda imprensa alter- nativa e das publicações de caráter eco- lógico e humanístico, existe uma verda- deira corrente de solidariedade de escri- tores, jornalistas, artistas gráficos que abriram mão dos seus direitos autorais, em prol de publicações que lutam por ideais.

Nossa realidade cultural, você bem sabe, é outra. Convida para as torres de marfim, para a alienação, para as pa- nelinhas fechadas. Isto não significa que você e os outros leitores precisam dizer adeus, ao conto nacional, de ma- neira alguma, alguns contistas que são nossos companheiros, de luta e colabora- dores constantes, voltarão à liça, outros surgirão e neste Brasil, a luta cultui-ai será travada em todas frentes e ABER- TURA CULTURAL está aí, para ser o veículo.

Aríete Souza Dantas (Rio) Como sem- pre ABERTURA CULTURAL traz contri-

FIM DO FUTURO-

Manifesto Ecológico Brasileiro elabo- rado por José A. Lutzenberger, apare- cerá brevemente sob o patrocínio da AGAPAN — Associação Gaúcha de Pro- teção ao Ambiente Natural e do movi- mento RESISTÊNCIA ECOLÓGICA, além de outras organizações empenhadas nes- ta luta comum.

O Manifesto Ecológico Brasileiro, será uma plataforma válida na luta que in- contestavetmenle se vai travar, entre a sociedade industrial desvairada, atraída pelo abismo e todos aqueles que estão dispostos em lutar em defesa da vida.

Aguardem: FIM DO FUTURO? José A, Lutzenberger é engenheiro

agrônomo e presidente da AGAPAN As- sociação Gaúcha de Proteção ao Am- biente Natural — Caixa Postal 1996 — 90.000 — Porto Alegre — RS.

ABERTURA CULTURAL é o único jornal em língua portuguesa filiado ao ALTERNATIVE PRESS SYNDICATE, P.O. Box 777 Cooper Station New York, NY, 1003 USA sendo igualmente ligado ao setor do Sindicato acima que coordena a América Latina INDOU-ASP — Sin- dicato de Ia Prensa Alternativa c/o Eco Contemporâneo — C.C. Central 1933 — Buenos Aires — Argentina. Em am-;. bos locais (Nova York e Buenos Aires), poderão ser obtidos tanto os números atrasados como o atual de ABERTURA CULTURAL.

Pela presente fica estabelecido que OTTO BUCHSBAUM assume expressa- mente a responsabilidade com relação a todo conteúdo deste jornal, tanto com relação aos artigos assinados, quanto as matérias sem assinatura.

bulções do mais alto significado. "OS REBELDES DO PACÍFICO" é alguma coisa que vem de tão longe, e que e tão nosso. Colonização cultural é um tema com muitas variantes, mas eu não sabia que os problemas da colonização cultu- ral na Oceania poderiam atingir-me com tanto impacto. Parabéns à grande equi- pe de ABERTURA CULTURAL que em cada número nos prova que vivemos num mundo só...

— Sim, na Oceania eles tem seus pa- palagis, nome que dão aos ocidentais, que lá querem impor seus padrões cul- turais, sua arquitetura de canis, como Albert Wendt diz. Nós temos aqui os nos- sos papagaios humanos, que de grossos tratados econômicos escritos em países superindustrializados, querem extrair a nossa realidade e nossas regras de tra- tar com nossos próprios problemas, e que para ordenhar uma vaca recorrem a altas elocubrações matemáticas, gráfi- cos e cálculos de probabilidade. Estes papagaios vivem nas dachas de Brasília, papam altos ordenados, e repelem in- sistentemente que eles são a NOVA CLAS- SE de Milovan Djilas. Mais uma prova (desta vez negativa) que vivemos num mundo só.

Antônio Feldmann (São Paulo SP> Vocês tem dado nos mais diversos nú- meros um grande destaque à África, à sua luta de libertação, sua literatura, sua poesia, seus problemas. Um desta- que merecido, que multo nos tem dito de importante. Porque não dedicam uma reportagem examinando sob todos ân- gulos, esta personagem controvertida, pitoresca e conforme dizem também sanguinolenta de IDI AMIN DADA. Com os acontecimentos do aeroporto de En- tebe, ele ficou ainda mais no foco do interesse geral...

— Veja Antônio, nós acreditamos que Idi Amin já tem sido assunto de tantas reportagens, herói de um filme etc, não acreditamos que podemos contribuir com algo novo. Além disso considera- mos Idi Amin um dos maiores propagan- distas (de si mesmo) que tem apareci- do. Não, reportagem neca. Como ma- téria paga talvez. Que tal um anúncio REMEMBER IDI AMIN com endereço e telefone em Kampala. Sugira isso a ele e nós mandaremos a tabela de preços da publicidade.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 19 Página 3

Olá Gente Para um observador não envolvido em

nossa estranha vida cotidiana, nem con- dicionado por nosso estapafúrdio siste- ma de ensino, e também não triturado e torcido pelas teorias econômicas e polí- ticas em voga, o mundo, visto de maneira global deve parecer um imenso hospício.

Em toda parte obsorva-se frenéticas atividades humanas, um ritmo de trabalho que cresce ao lado das maquinarias mo- dernas que deveriam substituir e facilitar os esforces humanos. Este avanço geral na produção, no consumo, no desperdí- cio, não leva nunca em conta que os re- cursos gastos são em grande parte muito limitados e insubstituíveis.

Progresso e desenvolvimento não são apenas slogans, palavras de ordem, não, tudo isso tornou-se uma espécie de pseudo-religião que adora estes moder- nos ídolos.

A idéia do crescimento constante da produção, do progresso e desenvolvi- mento a todo custo é um vício profunda- mente ancorado não só entre as chama- das classes produtoras, mas muitos dos próprios cientistas sociais e especial- mente os economistas, consomem, respi- ram, injetam-se com Idéias de cresci- mento ilimitado, como os toxicômanos dependentes da heroina.

Não importa nem muito qual o cresci- mento, o Produto Nacional Bruto é um deus com parâmetros quantitativos.

Mais embalagens, mais transporte, mj.s publicldaoe para desbancar mu- tuameme os concorrentes, mais outomó- veis para estradas já super-entupidas, mais l.xo para jogar fora, para queimar ou para poluir os rios, mais indústrias que poluem e mais instalações anti-po- luentes ,mais armas para possibilitar ma- tar toda humanidade 100 vezes, em vez das modestas 20 vezes atuais, maiores distâncias entre as moradias e o trabalho, pois o transporte também engrossa o Produto Nacional Bruto, mais caixões pa-: ra os mortos de fome, mais remédios, mas também mais epidemias a conse- quentemente mais medidas para prevenir as epidemias, artigos menos duráveis, pois e economia precisa aquecer — e a alta rotatividade ajuda, um terremotozi- nho para dar trabalho à indústria de re- construção, uma boa enchente, uma grande seca — e as medidas contra a seca — tudo isso é bem-vindo, pois engrossa as estatísticas, firma o progres- so, serve cemo medida da felicidade hu- mana — é DESENVOLVIMENTO.

Hcmens de negócios, multimilionários, trabalham 1'5, 16 ou às vezes 18 horas por dia, para manter todas as engrena- gens funcionando e se orgulham ainda disso, pois isso é o seu tributo ao ídolo do crescimento econômico.

Num estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) constatou-se que com uma racional reorganização do sistema poderia-se satisfazer todas ne- cessidades nacionais dos Estados Unidos com um trabalho de apenas duas horas por dia de cada um. E ao mesmo tempo, sem quaisquer medidas especiais iria-se reduzir substancialmente os atualmente já insuportáveis níveis de poluição.

Mas a insanidade manifesta da econo- mia mundial não se resume apenas nisso.

Observamos como nos Estados Unidos cerca de 70% da população se empan- turram diariamente com um tremendo excesso de comida pesada, que causa constanles perturbações no aparelho di- gesilvo, leva à gordura excessiva, a en- fartes, todo tipo de perturbações do me- tabolismo e da circulação e, sem dúvida, encurta a vida. Nos mesmos Estados Uni- dos há ainda famintos aos milhões, que morrem à mingua.

Os gastos nos Estados Unidos com re- gimes de emagrecimento, produtos dieté- ticos e outros problemas relacionados com a superalimentação alcançam tão enormes somas, que este dinheiro faria a felicidade de qualquer país.

No mundo todo as áreas de fome são enormes manchas que acompanham prin- cipalmente as regiões equatoriais e o hemisfério sul, são manchas de fome que tem mostrado a tendência de crescer e que preocupam cada vez mais as orga- nizações que se ocupam com isso.

Há qualquer racionalidade nisso? Des- perdício desenfreado ao lado da Escas- sez e da Fome! E tudo continua cami- nhando, como se isto fosse natural, e nin- guém resolve parar e pensar.

E aqui no Brasil?

Nós adotamos um grotesco modelo econômico dé exportação e importação, repetindo religiosamente todos os erros que as nações industrializadas comete- ram, sem a mínima preocupação de exa- minar realmente, efetivamente os proble- mas nacionais.

Estas manchas de fome e desnutrição do mapa do mundo, encontramos também no Brasil. São manchas que englobam o Nordeste todo e se infiltram em todos os Estados e ocupam mesmo as perife- rias das cidades mais prósperas.

Como é possível que tantas regiões do interior, em lugares de comprovada fertilidade, são áreas de fome, de subnu- trição, de falta de proteínas e de calo- rias, para parturientes, crianças e adul- tos, causando danos físicos, mentais e morais irreparáveis a nossa população?

Fome e subnutrição não são apenas fatos estatísticos, números frios em lon- gos relatórios, são destinos humanos que es.ão em jogo, são dor, sofrimento e morte.

A produção de alimentos do Brasil não permite alimentar toda a sua população?

Ora se permite I Desde Pero Vaz de Caminha já sabemos que aqui "... em se plantando tudo dá."

Mas o Brasil exporta alimentos para custear este tipo de industrialização que os tecnocratas inventaram e para reali- zar o seu "modelo econômico". Ora, qualquer criança sabe que estes 200 mil carros que a FIAT vai produzir anualmente e estes cigarros Mariboro se instalaram no Brasil igualzinho como a Fiat com dinheiro e créditos nossos, são coisas das quais temos tanta necessi- dade como de um buraco na cabeça. Mas para nossos bitolados tecnocratas representa uma nova contribuição ao Produto Nacional Bruto, não levando em consideração que estes produtos só con- tribuem para mais importação de gaso- lina e mais câncer do pulmão.

Fala-se muito em direitos humanos ultimamente. Direitos humanos que tem sido tão espezinhados na América Lati- na e em tantas partes do mundo.

Mas estes direitos de que se fala, e que sem dúvida são muito importantes, re- ferem-se ao tratamento de presos, res- peito à pessoa humana, liberdade de im- prensa, liberdade de palavra, liberdade de ir e vir, abolição da censura etc.

Sem querer diminuir uma vírgula se- quer na importância do respeito a todos estes direitos humanos citados e a mais outros que estai profundamente ancora- dos na consciência de cada um, quero lembrar mais um direito humano, que é dos mais fundamentais:

O DIREITO DE CADA UM SE ALIMENTAR CONDIGNAMENTE!

Se a fome não tem poder de compra para absorver os chamados "excedentes de alimentos" que são exportados — então que a sociedade crie este poder de compra ou providencie a total e ir- restrita descemercialização de todos ali- mentos básicos.

Que se faça isso já — pois os famin- tes são muitos e não podem esperar.

Não podemos susientar uma política de exportação de alimentos para custear as importações que nossos tecnocratas consideram indispensáveis à industriali- zação do país. Há no caso prioridades definidas. Com a fome, com a subnutri- ção, que aleija as nossas crianças, não se comercia.

Um teonocrata afoito, que sofre da in- digestão das fórmulas matemáticas con- tid; s nos seus tratados econômicos, po- de ainda tentar bradar esta famosa pa- lavra com a qual se procura encerrar qualquer debate antes de começar; "Isto é comunismo!"

Não! Está errado, meu caro teonocra- ta pré-histórico! Isto é humanismo in- tegral. — Isto é o cumprimento dos pre- ceitos do Evangelho!

Quem não concorda que a prioridade absoluta é alimentar condignamente toda

TECNOCRATA - O BOBO DA CORTE

a população — não pode ser cristão, e também não pode ser judeu, muçulmano, budista ou seguidor de qualquer outra doutrina religiosa ou ética.

A prioridade, sem dúvida alguma é ali- mentar toda população, cuidar da sua saúde, do seu bem-estar e da sua ins- trução.

Não adianta macaquear os processos industriais alheios, nem importa berrar que assim o Brasil fica industrial e tec- nologicamente na retaguarda.

Estudos muito sérios como "Dynamics of Growth In a Finite World" de Dennis e Donella Meadows e equipe, elabora- dos com base no modelo mundial de Jay Forrester do Instituto Tecnológica de Massachusetts (MIT.) e multes e muitos outros trabalhos de Edward Goldsmith, Robert Allen, Paul Ehrlich, Barry Com- moner, Michel Bosquet, Sicco Mansholdt e tantos, tantos outros que não dá para relacionar, pois abrangem praticamente toda a comunidade científica mundial, provam que o Industrialismo, as socie- dades de consumo e desperdício, são apenas um erro trágico das sociedades superdesenvolvidas e de seus imitado- res, um erro que precisará ser corrigido rapidamente, senão levará fatalmente à catástrofe.

Se os outros países, que são os nos- sos modelos de desenvolvimento estão no caminho errado, estão caminhando para um beco sem saída onde o conjunto de escassez das matérias primas desper- diçadas, com a avalanche crescente de todo tipo de poluições — infalivelmen- le vai dar um BASTA, então não fica- remos na retaguarda de maneira algu- ma, apenas evitaremos a seguir os erros alheios.

E no caso nosso, no caso do Brasil, não há realmente nenhuma alternativa. Trata-se de uma questão moral, na qual não existem opções.

Depois de reconhecer que nós esta- mos realizando o nosso estropiado mo- delo de "progresso" industrial a custa da fome e da miséria dos nossos coci- dadãos, dos nossos irmãos — não há mais alternativa!

Ou cumprimos a nossa obrigação co- mo seres humanos, com padrões éticos e convicções humanitárias ou afundare- mos no lamaçal da indignidade, ende a vida humana é apenas um valor quantita- tivo para estatísticas, onde a mortalida- de infantil é apenas uma figura geomé- trica, uma curva, infelizmente sempre ascendente— e toda nossa vida, nossos sonhes, nossos ideais, nossas convic- ções, nossa busca do absoluto —■ tudo isso cabe numa fórmula fria, de um In- tegral diabólico de alfa a omega.

Neste instante, se admitirmos isso, os tecnocratas da nossa economia se tor- nam os Frankensteins da nossa época, e diante deste perigo só cabe um último chamado:

SERES HUMANOS DE TODOS OS PAÍ- SES DO MUNDO UNI-VOS!

OTTO BUCHSBAUM

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Página 4 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 W 19

D rama Nô- O Teatro do Japão Medieval

OTTO BUCHSBAUM O "vento sagrado", que no fim do século 13, des-

truiu, já nas costas japonesas, a frota de invasores mongóis de Kubiai Khan, salvando o solo do Japão, da poluição por conquistadores estrangeiros, foi o começo duma nova era.

O Japão medieval, habituado às lutas Internas en- tre os diversos shoguns (comandantes militares) das províncias, ficou abalado com a ameaça externa, e depois de salvos pela tempestade oportuna, houve uma Intensa exaltação nacional e religiosa.

Exatamente neste período de reafirmação fanática dos valores tradicionais, surge o drama, nô, como re- sultado duma síntese de danças rituais dramáticas e de poesias épicas.

A origem do nô, examinada por cronistas da épo- ca, apresenta uma fusão de lendas com história.

De acordo com estas crônicas antigas as danças sagradas de Kagura surgem a partir duma prolo-dan- ça, contada nas sagas japonesas do Kojiki, onde Uzu- me dança diante da deusa do Sol, da qual, de acordo com a tradição, Shintó, descendem os Imperadores japoneses.

Outra fonte, esta já histórica, são as influências chinesas, que chegaram ao Japão através da Coréia. Por esta via, chegaram ao Japão no século 7 D.C. junto com a escrita chinesa, com o budismo, com a filosofia, a ética e as idéias administrativas confu- cianas, também as danças dramáticas chinesas. Sob influência destas surgiram no Japão a dança Bugaku e a dança de máscaras Gigaku.

A poesia era a expressão literária mais Impor- tante do Japão antigo. Escrever poesias era uma ca- racterística Indispensável ao nobre, podendo aplai- nar para o cortesão os caminhos do sucesso. Os re- citais de poesia épica são uma forma de arte muito próxima da teatral, boa parte do conteúdo épico e re- ligioso, que encontramos nos dramas nô, vem direta- mente da poesia waka predominante nos tempos mi- tológicos japoneses. Os espetáculos mímicos Saru- gaku, que no século 13 já tinham assimilado elemen- tos de dança, contribuíram, para em combinação com as outras fontes já mencionadas, produzir a síntese que levou ao nô e ao interiúdio cômico, o kioguen, que acompanha o mesmo.

As peças nô dividem-se em cinco categorias de acordo com o assunto que versam.

19) Kami-nô — Sobre Deuses e Demônios. 29) Shuguen-nô — Peças congratulatórias em

homenagem a uma personalidade importante, espe- cialmente o imperador.

3?) Yurei-nô — Sobre guerreiros, tanto como homens vivos, como em forma de espíritos.

4?) Onnamono-nô — Que tem como figura central uma mulher, geralmente bela e elegante.

59) Guenzai-nô — Que trata de problemas da vida comum.

O teatro nô, como todo teatro oriental, é anti-ilu- sionista e simbólico. Não há cenário no sentido que nós damos a esta palavra.

Os espectadores ficam sentados dos dois la- dos do palco que é apenas um estrado retangular de madeira bem polida, com um dossel sustentado por

quatro varas. Uma passarela, ornada com pinheiros estilizados, liga o palco com a saída. No fundo do palco tem um teia com um pinheiro retorcido. Numa parte lateral do estrado, oposto à passarela tomam posição os membros do coro, enquanto os músicos ficam sempre junto à tela no fundo do palco. O elenco das peças nô é geralmente composto por dois ato- res principais e alguns secundários, além dum coro formado por oito cantores e duma orquestra compos- ta por quatro elementos. O ator principal, protagonis- ta, é o único que usa máscara, geralmente de madeira.

Inicialmente utilizava-se só dois atores, o shite, que é o pratagonista, e o wa!.', que corresponde ao deuteragonista da tragédia grega. Com a evolução, houve a Introdução de outros personagens, que giram em torno dos principais. Os tsure acompanham co- mo séquito os personagens principais que se cha- mam, de acordo com isso shlte-tsure waki-tsure. A evolução do drama japonês neste sentido mostra tais analogias com a dramaturgia grega, que muitos já se sentiram tentados a especular sobre eventuais In- fluências gregas na evolução do teatro do Japão. Tal idéia nem se pode recusar liminarmente, pois sa- bemos que Eurípedes e outros autores gregos, foram encenados na Pérsia e em alguns países do espaço Índico, que hoje corresponderiam geograficamente ao Paquistão. Sabemos também que o teatro grego exer- ceu influência sobre o teatro sânscrito, e que ao me- nos os grande autores do teatro sânscrito como Ka- lidasa conheciam tanto as tragédias greqas, como a comédia nova de Menandro e Filemon. Considerando que a índia, na Ásia, teve um papel mais ou menos eoulvalente à Grécia na Europa, fecundando com suas Idéias religiosas e filosóficas e com suas concepções artísticas, um imenso espaço que abrange toda a Ásia sul e oriental, não podemos por de lado a idéia, de que o teatro do Japão, através da índia, tenha re- cebido Influências gregas.

O drama japonês é um espetáculo total no qual música, poesia, mímica e dança contribuem harmonio- samente para criar um conjunto estético indivisível, onde os efeitos vocais e mímicos alcançam sutilezas extraordinárias. As convenções e os símbolos são um lado básico do espetáculo. Os trajes, por exemplo, obedecem rigorosamente aos modelos convencionais. O espectador familiarizado com seu teatro, pelo tra- je já reconhece quem é o personagem, qual seu ca- ráter, qual seu modo de agir, qual seu destino na peça. Isto é particularmente fácil porque o desen- volvimento é determinado com absoluta segurança e lógica pelas Idéias religiosas dominantes, e pelo bushido, o código de honra dos samurais.

A linguagem do nô é poética e muitas vezes obs- cura, o que se deve atribuir à influência do budismo Zen, com sua ênfase na compreensão intuitiva. A po- sição das diversas tendências budistas, parece resul- tado dum compromisso entre as Inclinações das clas- ses dominantes, profundamente influenciadas pela doutrina Zen, e as razões de Estado, que favoreciam mais o amidismo, seita budista de caráter popular, florescente no Japão medieval, e especialmente na época de Kamakura, na qual surgiu o nô. Por Isso a

filosofia, as cerimônias e as Idéias fundamentais qu» as peças nô divulgam, são claramente provenientes do amidismo, enquanto o estilo e a linguagam são nitidamente Zen.

Os homens que transformaram o primitivo Sa- rugaku-nô numa forma dramática das mais nobres e evoluídas, foram Kanamf, Kiyotsugu (1333-1384), er

' mais ainda do que este, seu famoso filho Seami, Mo- tokiyo (1363-1443). A Importância de Seami pode-sa avaliar pelo fato de que do moderno repertório do nô, constituído por 240 peças, 124 são de sua autoria. Uma das peças de Seami atualmente mais apresenta- das é "Atsumori". A peça é um Yurei-nô que trata da figura do guerreiro Atsumori, personagem que se re- pete num grande número de peças da época, e que Inclusive reapareceu no teatro kabuki, tão em voga no Japão até hoje.

Nas peças nô, o texto é apenas um dos elemen- tos. Sem a complementação dos outros fatores cê- nicos, pode parecer ingênuo e sem profundeza psi- cológica, porque quando se lê "Atsumori caminha len- tamente", não se consegue Imaginar quanta espiri- tualidade, quanta expressão mímica e quantos efeitos musicais podem acompanhar este caminhar, e quan- ta satisfação estética o espectador pode tirar duma cena, que lida parece não ter nenhuma complexidade.

Os espetáculos geralmente são compostos de quatro ou cinco peças tiradas das diversas catego- rias, nas quais o nô se divide. Nos intervalos, apre- senta-se peças kyoguen que são inlerlúdios humorís- ticos.

Muitas vezes, o kyoguen mantém estreita relação com a peça nô que lhe antecede. Assim depois da peça "Tristes pássaros" de Seami, que contém uma lírica exaltação dos pássaros, cuja vida deve ser pre- servada, vem o kyoguen de autor anônimo de "Ca- çador de passados no Inferno", no qual o caçador alcança honras e recompensas. O kyoguen com sua tendência de inverter os princípios religiosos e morais, é uma pausa amena entre as peças nô, geralmen- te multo intensas e dramáticas.

O drama nô, desde o início era um espetáculo di- rigido às elites. Com o tempo tornou-se excessiva- mente esquemático e hermético e dele surgiu o ka- buki, o qual com o aproveitamento dos mesmos ele- mentos tornou-se o grande teatro popular do Japão, onde nos últimos 250 anos é o preferido das grandes massas, mantendo ao mesmo tempo um alto padrão artístico.

Mas o teatro nô continua existindo no Japão de hoje, contando com uma platéia reduzida e refinada para a qual este gênero não é apenas uma remlnls- cência histórica, uma recordação de tempos glorio- sos. Este público de escol continua se deleitando com a finura, a melancolia, o lirismo, a poesia e o simbo- lismo deste maravilhoso gênero, contemporâneo dos mistérios e moralidades da Europa medieval.

O presente artigo tem como base a obra em ela- boração "HISTÓRIA DO TEATRO MUNDIAL" de OTTO BUCHSBAUM, a série prosseguirá no próximo nú- mero com o destaque de outros aspectos do teatro medieval.

De Quebrangulo ao Leblon ReSiStêflCiâ d MlldâlUâ

Maria Júlia. Do Leblon e de Oxum. Cheia de dengues e, o que é quase

conflitante (que me desculpem as libe- radas), com uma Inteligência profunda das coisas da vida.

Não é atoa que é mulher de Pai Oxalá.

Júlia é técnica na cidade e gente no Leblon. E joga bem. Intensamente bem, nas duas posições.

Júlia, levada (e deixando-se levar) pelas circunstâncias, anda fazendo In- cursões altamente existenciais na área do folclore. Tem corrido roda de ca- poeira, jogo de búzios, partido alto, tu- do ao som de um "galope à beira mar".

Encantando-se e a todos encantan- do até agora nada cobrou. Não fala em futuro, nem mesmo no amanhã. Do seu passado sim, com muito amor e visão sociológica — "meu passado é nordes- tino..."

E, por trás de um aoarente fatalísmo, de um aparente estoicismo, vai contan-

ANDRÊ LACE

do uma história muito sua e que agora, começa ser minha também.

Quanto ao dia de hoje, o que está acontecendo está acontecendo, "se está comigo é porque está gostando", se não vem ou vai embora é porque teve "pre- cisão".

Não é fácil, Júlia, e nós sabemos disto. Esta sua fibra eu conheço, foi forjada no nordeste. Esta fibra encobre um cora- ção de menina sobrevivendo — e fa- zendo sobreviver — no sul maravilha.

Vamos lá, Maria Jú, vamos sair para uma "vorta do mundo", como fazem na capoeira. E nunca haverá vencedor ou vencido. Vamos usar a tecnologia da cidade para Intensificar nossa amizade. De fora, entretanto, deverá ficar o con- fronto .

Veja, por exemplo, o que está acon- tecendo com a selvagem da praia de atalaia. Rendeu-se ao confronto e ago- ra não busca mais o amor, busca um "stalus".

O que há é que sou, no fundo, um mo- ralista (sei que não estou falando nada de novo para você).

Um homem pode mudar de trabalho. Um homem pode mudar de residência. Um homem pode mudar de mulher. Há quem entenda que ele não só po-

de como deve. A maioria, entretanto, discorda, pelo

menos, parcialmente. Está se tornando cada vez mais difícil

seguir a maioria. Isto é o que a maioria diz. Muito mais difícil, no entanto, é se opor

a ela abertamente. Em que pese o esforço "hippie". Para não estourar, o homem torna-se

um animal político. Para garantir sua vitrine moral, além

da mentira e da omissão, o "animal po- lítico" descobriu um terceiro elemento que passou a contribuir, enormemente,

ANDRÉ LACE

para a sobrevivência de sua alma urba- na: o hotel de alta rotatividade.

Neste excitante esporte de tirar "surfs" existenciais contra a onda "caixote" dos bons costumes só existe uma proibição: AMAR.

Aproveito até este momento e este es- paço para sugerir a aprovação de uma lei que obrigue a todos hotéis Incluírem um artigo no clássico regulamento que fica atrás das portas:

Art. X — é expressamente proibido o relacionamento platônico mesmo noa Intervalos.

Realmente, cada vez mais, a Identifica- ção do elemento amor está se tomando uma grave falta técnica nas relações se- xuais.

Afinai, qual a perspectiva de um amor nascido em alta rotatividade? Produzir um piloto para o fórmuia-1?

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N"? 19 Página B

Usina Nuclear

Desvaloriza a Propriedade Alerta Para Angra dos Reis

Na complexidade da vida econômica e social <Ja atualidade, o fator segurança, tanto com relação a empates de capital, como em relação a proprieda- de privada, torna-se cada vez mais relativo.

As sociedades capitalistas garantem na teoria o •direito à propriedade de cada um, Na prática esta garantia é lotérica.

Quantos patrimônios acumulados através de uma vida inteira de trabalho, não foram literalmente atro- pelados e esfrangalhados pela construção do metrô do Rio e de São Paulo? Sim, há indenizações, mas -estas nunca correspondem aos valores do mercado e nem levam em conta pontos de comércio e transtor- nos com mudanças.

E a passagem de elevados do segundo ou ter- ceiro andar de prédios? Aí não há prejuízo aparente, mas a poluição sonora e visual desvalorizam todos os imóveis consideravelmente. E mais ainda, estes apartamentos com vista para os elevados são muito difíceis de vender. O infeliz proprietário permanece Já, contempla os automóveis que passam, curte o ruído do "progresso" e respira o ar dos canos de descarga.

Dentro de poucos anos devemos contar no Bra- sil com um fator novo, a presença de usinas nucleares.

Qual será o efeito destas usinas nas áreas cir- cunvizinhas?

Vamos deixar desta vez totalmente de lado os perigos da poluição radioativa e os riscos de catás- trofe. Vamos nos concentrar apenas nos fatores eco- nômicos, na influência da presença de usinas nu- cleares sobre o valor dos imóveis na região.

Para isso teremos que recorrer naturalmente às experiências de outros países, que já sofreram este Jmpacto. Principalmente as experiências dos Estados Unidos neste setor, são de grande utilidade.

Qualquer corretor de Imóveis norte-americano já sabe que o simples boato que se pretende construir uma usina nuclear, em determinadas áreas, já reduz o valor de todas as propriedades.

Imediatamente se acumulam as ofertas de imó- veis à venda nos escritórios dos corretores. De ou- tro lado, especialmente se o boato foi muito divul- gado, diminui radicalmente o número de compradores.

Todo corretor de imóveis norte-americano já sa- be que qualquer região sob ameaça de construção de uma usina nuclear, praticamente não oferece pers- pectivas de qualquer transação. De um lado os ven- dedores diante de um simples projeto, diante de um boato, não querem se sujeitar a uma substancial re- dução do preço, de outro lado, os compradores já querem comprar por preços de pechincha, como se a existência da usina nuclear já pesasse como hi- poteca sobre toda região.

Com uma usina nuclear em construção as coisas desandam. Como os Estados Unidos já tem vasta ex- periência do assunto, já se connece perfeitamente os fatores principais que determinam o grau da desva- lorização. Residências e chácaras muito próximas da usina tornam-se praticamente invendáveis. O fator psicológico também influi muito, por isso todo ponto do qual se avista a usina nuclear, mesmo quando bem mais distante, torna-se ponto ruim e sofre desvalori- zação acentuada.

Há um outro fator que tem grande importância: Todo local tem normalmente uma determinada dire- ção preferencial dos ventos.

No caso de usinas nucleares, ninguém quer mo- rar num local atingido pelos ventos que vem do lado da usina. Isto é muito compreensível: em caso de catástrofe, a morte radioativa caminha com o vento. E mesmo com o chamado "funcionamento normal" é na direção do vento que se movimentam quaisquer partículas radioativas que escapam durante o funcio- namento normal. A mudança de coloração de flores nas zonas atingidas pelos ventos que vem da usina, muitas vezes numa distância de 10, 16 ou 20 km, tem assustado muita gente. Assustados com razão, em- bora as mutações genéticas observadas nas plantas, não necessariamente afetam também os homens.

Aqui no Brasil o primeiro complexo termo-nu- clear que deverá entrar em funcionamento se situa em Angra dos Reis.

Deixando de lado todos aspectos de saúde e as conseqüências genéticas eventuais nos moradores da região e concentrando-se unicamente no aspecto eco-

OTTO BUCHSBAUM

nômico e no valor das propriedades, temos os se- guintes ângulos a levar em conta.

Angra dos Reis é uma estância marítima, privi- legiada pela paisagem e pela profusão de ilhas, ver- dadeiros paraísos tropicais junto a sua orla marítima.

Um dos esportes em voga, que tem celebrizado o nome de Angra é a pesca submarina, para a qual existem muitos pontos ideais.

A experiência norte-americana, francesa, alemã, japonesa, etc, tem demonstrado que exatamente lo- cais de recreio, estâncias, sofrem o impacto da cons- trução de usinas nucleares com mais violência.

Ninguém, nem o mais fanático defensor do "pro- gresso", a todo custo, nem o partidário mais otimis- ta da energia nuclear quer passar suas férias e seus momentos de lazer, junto a uma usina nuclear.

E mesmo se quisesse. Uma usina nuclear trans- forma em média 31,2% da energia térmica produzida em eletricidade, os outros 68,8% se transformam em poluição térmica, que no caso de Angra dos Reis vai ser descarregada totalmente no mar.

Naturalmente procura-se tranqüilizar as popula- ções: O mar é imenso e facilmente absorve a des- carga de água quente.

Em relação ao Oceano Atlântico isto é verdade. Mas a Bahia junto a Angra dos Reis já não é tão grande assim. As águas quentes circularão nas cor- rentes marítimas causando efeitos ecológicos impre- visíveis.

E há a poluição radioativa, que é tão insidiosa que mesmo o carioca precisará ficar de sobreaviso quando os ventos vierem de Angra.

Numa distância de mais de 60 km da usina nu- clear de Tarapur na índia, tem-se pescado peixes radioativos, e o número de pessoas que morreram devido à ingestão de peixes contaminados na região de Tarapur é um segredo ciosamente guardado pelo governo indiano, que não permite a presença de jor- nalistas perto de Tarapur por questões de "segu- rança".

Quanto ao nosso tema inicial, o da desvaloriza- ção das propriedades próximo a usinas nucleares, o impacto em Angra dos Reis será mais lento.

O público brasileiro em contraste com o norte- americano e europeu não tem ainda a plena cons- ciência que uma usina nuclear é algo totalmente di- ferente de outra qualquer instalação industrial.

Mas a tomada de consciência virá. Haverá em Angra dos Reis uma série de fatores

que depois da primeira usina começar a funcionar, rapidamente causarão um ambiente de alerta.

Os pescadores notarão as modificações na fauna marinha.

Os hotéis e restaurantes constatarão a ausência de freqüentadores mais informados e mais precavidos.

Os proprietários de imóveis e os eventuais com- pradores dos mesmos, verificarão espantados que to- das companhias de seguro excluem dos seus contra- tos, os eventuais danos causados pelo funcionamen- to ou por uma catástrofe da usina nuclear.

Com a confluência destes fatores começará uma verdadeira degrincolada dos preços das propriedades em Angra dos Reis.

Nos Estados Unidos, conforme o local, verificam- se desvalorizações de 30,50 ou as vezes 80% .

Isto apesar do fato de se tratar de um país já vacinado contra ameaças a'ômicas, conforme de- monstra o grande número de abrigos anti-atômiccs que a alta classe média instalou no subsolo de suas casas.

Aqui no Brasil é difícil avaliar a reação do pú- blico. Mas temos ainda muitas outras praias e en- seadas livres da indústria nuclear.

Até que ponto haverá uma fuga de Angra dos Reis?

Para o turista, o excursionista, o pescador. Angra poderá ser a nova praça XI, que já sabemos que vai desaparecer.

O mar diante de Angra dos Reis, a bahia da Ilha Grande, com estas muitas ilhas que imitam os mares do Sul poderá se tornar um vasto lençol de águas solitárias, um pouco mais quente e levemente radio- ativa ,

E coroando tudo — construída em holocausto ao "progresso" a usina nuclear tronará em Angra — qual castelo do diabo.

Usinas nucleares são bons vizinhos — diz um cartaz da usina de Point Beach em Wis- consin. Verifica-se que Goebbeis, o chefe da propaganda de Hitler, fez discípulos, quando afirmou: A mentira audaciosa, sempre repetida, acaba sendo aceita como verdade.

Contra os riscos radioativos por feijão, arroz, rapadura e cultura

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Página 6 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 W 4d

Á Trilha dos Filhos-do-Sol [pãjppis _ ^—■

TACK LONDON General Roca, 858 - D - Tel. 288-3497 V. Pirajá. 444 - L. 123 - Tel. 227-0782

SITKA CHARLEY fumava o seu cachim- too e olhava pensativamente a Ilustração da Koiice (jia2.eue penaurada na parede. Há uma boa meia nora que a observava com a máxima aien^ao, e há uma boa meia hoia que eu o escudava dlsfarçada- men^e. Algo se processava naquela ca- beva de índio e, tosse Ia o que tosse, va- lia a pena Investigar.

Chegáramos àquela choupana deser- ta após um dia duro na trilna. Os cães já unnam sido alimentados, a louça da janta lavada, as camas teitas, e nós dois saboreávamos a mais deliciosa hora do dia e que ocorre apenas uma vez em cada vinte e quatro horas na trilha do Alaska — hora em que nada intervém emre o corpo fatigado e a cama, salvo a cachimbada da noite. Algum anterior habitante da choupana decorara-lhe as paredes com ilustrações arrancadas de revistas e jornais e uma delas prendera a atenção de Silka Charley desde que chegáramos, duas horas atrás. Ficara a observá-las atentamente, passando de uma para outra, e percebi que hesitava mentalmente.

— E então — disse eu quebrando o silêncio.

Ele tirou o cachimbo da boca e retru- cou com simplicidade:

— Não compreendo. Tirou nova bai orada e afastou o ca-

chimbo dos lábios, usando-o para apon- tar para a ilustração da Police Gazette.

— Aquele quadro... que representa ele? Não compreendo.

Oihei para o quadro. Um homem, com a maldade gravada no rosto, a mão direi- ta dramaticamente premida contra o coração, caia de'costas para o chão. Diante dele, com um rosto misto de an- jo vingador e Adonis, se achava outro homem a segurar um revólver fumegan- te.

— Um homem está matando outro ho- mem — respondi.

— Por que? — perguntou Sitka Char- ley.

— Não sei — confessei. — Esse quadro é só fim — disse ele

— Não tem começo. — É a vida — repliquei. — A vida tem começo — protestou

ele. — Não, não entendo auaHros O desapontamento de Sitka Charley era

patente. Gostaria de entender tudu que o homem branco entendia, e agora, na- quele assunto, fracassava.

— Os quadros são pedaços de vida — procurei explicar. — Nós pintamos a vida como a vemos. Por exemplo, Charley. Você vem vindo pela trilha. É noite. Avista a choupana. A luz está scesa. Espia pela janela por um segundo, vê algo, e contínua o seu caminho. Tal- vez surpreenda um homem a escrever uma carta. Viu algo sem começo nem fim. Nada aconteceu. No entanto é um pedaço de vida. Lembra-se dela mais tarde. Fica como um quadro na sua me- mória. A janela é a moldura do quadro.

Durante muito tempo Sitka Charley fu- mou em silêncio. Abanou a cabeça re- pentinamente, grunhiu uma ou duas ve- zes. Depois sacudiu as cinzas do ca- chimbo, reencheu-o com todo cuidado e, após uma pausa, sempre mergulhado nos seus pensamentos, acendeu-o outra vez.

— Neste caso também eu vi muitos quadros da vida — começou ele — qua- dros não pintados, mas vistos com os meus olhos. E vi como pela janela veria o homem a escrever uma carta. Vi muitos pedaços da vida, sem começo nem fim, sem compreender.

Com uma repentina mudança de posi- ção, voltou cs olhos para mim e me en- caro" pensativo.

— Você, por exemplo — disse ele — você é pintor. Como pintaria isso que eu vi, um quadro sem começo e cujo fim não compreendo, um pedaço de vida tenda por vela as luzes do norte e por moldura o Alaska?

— É uma tela enorme — murmurei. Porém ele não me deu atenção; o qua-

dro de que falava se achava aqora dian- te dos seus olhos e via-o novamente.

— Existem muitos nomes para este quadro — disse ele. — Mas no quadro existem muitos "filhos-do-sol", por isso me ocorre chamar o quadro de "A Trilha dos Filhcs-do-Sol". Aconteceu há mui- tos anos, no outono de 97, quando vi a mulher pela primeira vez. No lago Lin- derman tive uma canoa, uma excelente canoa. Vim a Chilkoot Pass com duas mil cartas para Dawson. Era carteiro. Todo mundo corria para Klondike naque- le tempo. Inúmeras pessoas cruzavam a trilha. Inúmeras pessoas abatiam árvo- res e faziam barcos. Última água, neve no solo, gelo no lago, gelo nas margens do rio. Cada dia mais neve, mais gelo. Talvez um, dois, seis dias e tudo ficaria gelado. Tudo gelo, todo mundo cami- nhando. Dawson fica a seiscentas mi- lhas, muito longe para ir a pé. O barco vai ligeiro. Todos queriam ir de barco. E me diziam: "Charley, duzentos dólares se me levar na sua canoa", "Charley trezentas dólares". "Charley quatrocen- tos dólaren". E eu negando sempre. Pois não sou o carteiro?

"Pela manhã chequei ao lago Linder- man. Caminhei a noite inteira e me sen- tia muilo cansado. Preparei o café, to- mei-o, depois dormi na praia umas três horas acordei às dez. A neve continua- va caindo. O vento soprava forte. Ao longe avistei uma mulher sentada na ne- ve. Uma mulher branca, jovem, bonita, de vinte a vinte e cinco anos. Ela me olhou, eu olhei para ela. Parecia muito cansada. Não era mulher de botequim. Isso vi logo. É uma boa mulher e está muito cansada — pensei.

— 'Você é Sitka Charley' — disse ela. Levantei ligeiro e enrolei os cobertores para não se encherem de neve. — 'Vou para Dawson e na sua canoa. Quanto é?'

"Eu não queria ninguém na minha ca- noa, mas não gosto de dizer não. Por isso respondi: 'Mil dólares' só por brin- cadeira, para que ela não fosse comigo; melhor do que dizer não. Ela me olhou firme e depo^ perguntou: — 'Quando pretende partir?' Respondi: — 'Agora mesmo'. Aí ela me disse que me daria os mil dólares.

"Que podia eu responder? Não queria levar a mulher, porém dissera que por mil dólares iria comigo. Fiquei surpreso. Tal- vez ela também brincasse, por isso pe- di: — 'Deixe ver os mil dólares'. E aque- la mulher jovem, sozinha na trilha, con- tou uma porção de notas e me botou mil dólares na mão. Oihei o dinheiro. De- pois para ela. Que podia dizer? Em todo o caso arrisquei: 'Minha canoa é muito pequena. Não há lugar para utensílios'. Ela riu. — 'Sou de pouca bagagem. Eis tudo o que tenho. E jogou com o pé um pacotinho na neve. Dois agasalhos de pele proiegidos por um pedaço de lo- na e alguma roupa de mulher. Peguei no pacote. Pesava uns quinze quilos. Ela me tirou o pacote das mãos. — 'Vamos de uma vez'. E foi largar tudo na canoa. O que é que eu podia dizer? Larguei os cobertores na canoa e começamos a via- gem.

"E foi assim que vi a mulher a primei- ra vez. O vento era bom. Levantei uma vela. A canoa avançava ligeiro, corlan- do como um pássaro as ondas alias. A mulher tinha muito medo. — 'Por que veio para o Klondike se tem tanto medo? — perguntei. Ela riu, mas continuou com medo. Também estava muito can- sada. Conduzi a canoa por entre os rá- pidos para o lago Bennett. A água estava ruim e a mulher gritava assustada. Des- cemos o lago Bennett, neve, gelo, venta- nia, mas a mulher pegou no sono.

"Naquela noite acampamos em Windy Arm. A mulher sentou junto da fogueira e comeu o seu jantar. Olhei para ela. Era muito bonita. Arrumou o cabelo. Um cabelo castanho que à luz do fogo pa- recia dourado. Os olhos eram grandes e castanhos, às vezes quentes como uma vela atrás de uma cortina, às vezes bri- lhantes e duros como gelo partido, quan- do o sol brilha em cima dele.

"Por que teria vindo para Klondike so- zinha e com tanto dinheiro? Impossível adivinhar. No dia seguinte perguntei. Ela riu e respondeu: — 'Sitka Charley, isso não é da sua conta. Dei-lhe mil dólares para me levar a Dawson. Só isso lhe diz respeito.' Um dia depois perguntei como se chamava. Ela riu e respondeu: — 'Mary Jones é o meu no- me'. Eu não sabia como se chamava, mas sabia que Mary Jones não podia ser.

"Na canoa fazia muito frio e por Isso às vezes ela não se sentia bem. Mas em geral estava alegre e cantava. Tinha a voz de um sino de prata e ouvir o seu canto era como ir à igreja na Missão Santa Cruz; por isso eu recobrava forças e remava como o diabo. Com uma risa- da ela perguntou: — 'Você acha que chegaremos a Dawson antes que gelem as águas, Charley?' Por vezes ficava sen- tada na canoa com o olhar muito longe, pensando, pensando. Não via Sitka Charley, nem o gelo, nem a neve. E aí não era bom lhe ver o rosto.

"O último dia de viagem foi muito ruim. Gelo em todos os redemoinhos, gelo na correnteza. Não podia remar. A canoa parecia feita de gelo. Impossível chegar à praia. O perigo era grande. Descemos todo o Yukon com dificuldade. Naquela noite ouvimos muito ruído de gelo. Depois o gelo parou, a canoa pa- rou, tudo parou. — 'Vamos desembarcar' — disse a mulher. — 'Não' — respondi — 'é melhor esperar'. Pouco a pouco tudo recomeçou a descer a corrente. A neve era grande nesta altura. Não via nada. Pelas onze da noite tudo parou. A uma da madrugada tudo começou ou- tra vez. Às três parou de novo. A ca- noa foi esmagada como casca de ôvo, mas não afundou porque estava em cima do gelo. Ouvi cães uivando. Esperamos. Dormimos. Pouco a pouco a manhã sur- giu. Não havia mais neve. Só gelo em toda parte. E lá estava Dawson. A canoa ficara imprensada bem na frente de Daw-. son. Sitka Charley chegara com duas mil cartas nas úliimas águas.

"A mulher alugou uma cabana no mor- ro e durante uma semana não lhe pus os clhos em cima. Um dia ela me procurou. — 'Charley, você não gostaria de traba- lhar para mim? Conduzirá os cães, pre- parará acampamento e viajará comigo'. Respondi que ganhava muito dinheiro conduzindo cartas. Ela insistiu; — 'Char- ley, eu lhe darei ainda mais dinheiro'. Fiz ver que um trabalhador nas minas ga- nhava quinze dólares por dia e ela re- plicou: — 'Quatrocentos e cinqüenta dó- lares por mês'. — 'Mas Sitka Charley não é cavador de minas' — protestei. E ela: — 'Compreendo, Charley, eu lhe darei setecentos e cinqüenta por mês. Era um bom preço e fui trabalhar para ela. Com- prei cachorros e trenós. Subimos o Klondike, atravessamos Bonanza, o El- dorado, o Indian River, o Sulphur Creek, fizemos uma enorme volta e acabamos em Dawson. Ela passou todo o tempo procurando alguma coisa, não sei dizer o que. Eu vivia intrigado. — 'O que é que procura?' — perguntava. 'Será ou- ro?' Ela ria. 'Não é da sua conta, Char- ley'. E depois disso nunca mais fiz per- guntas.

"Ela carregava um pequeno revólver na bolsa. Por vezes, na trilha, praticava o tirc-ac-alvo. Eu ria. — 'Do que é que está rindo, Charley?' — perguntava ela. — 'Para que brincar com isso? Não ser- ve de nada, é muito pequeno. Parece de criança'.

"Ao voltarmos para Dawson ela me pe- diu que comprasse um bom revólver. Comprei um Colt, 44. Arma pesada, po- rém ela a carregava sempre na cintura.

"Em Dawson surgiu o homem. Como foi dar lá não sei. O que sei é que era che-cha-quo — o que vocês costumam chamar de novato. Tinha umas mãos ma- cias como as dela, que jamais pegaram no pesado. A princípio julguei que fosse marido dela, porém era jovem demais. Além disso, à noite faziam duas camas.

Ele devia ter uns vinte anos. Olhos azuis, cabelo louro e um pequeno bigode da mesma cor. Chamava-se John Jones. Talvez irmão dela. Não sei, pois já não fazia perguntas. Mas duvido que se cha- masse John Jones. Outras pessoas o chamavam de Mr. Girvan. Mas não acre- dito que fosse verdadeiro tampouco. Também não acreditava que ela fosse Miss Girvan, como outros a chamavam. Para mim ninguém sabia ao certo a ver- dade.

"Uma noite eu dormia em Dawson quando ele me acordou. — 'Prepare os cães pois vamos partir' — ordenou. Co- mo já não fazia perguntas preparei os cães e partimos. Descemos o Yukon em novembro, época da noite, com um frio de cinqüenta e cinco abaixo de zero. Ela era pouco resistente e ele também, e o frio cortava. Estavam os dois muito fa- llgados. E gemiam baixinho. Sugeri muitas vezes que parássemos, porém ambos insistiam em continuar. Por três vezes eu quis armar acampamento e descansar, mas eles sempre preferiam tocar para diante. Aí eu me calei. E dia após dia assim continuamos. Mas eles não agüentavam. Ficavam gelados e os pés lhes doíam horrivelmente. Coxeavam, cambaleavam como se estivessem bêbe- dos, choravam, mas queriam sempre to- car para a frente.

"Pareciam doidos. Por que avançavam- eles? Eu não sabia. Que procurariam?" Sei lá. Ouro é que não era, pois gastavam; muito dinheiro.

Deixamos o Yukon. Dobramos para o» oeste e descemos para Tanana Country. Novas escavações se faziam por lá. Po- rém não encontraram o que buscavam.

A jornada foi dura. Dezembro já es- tava no fim. Os dias cada vez menores. E o frio, nem se fala. — 'Acho bom não viajarmos hoje' — disse eu —' pois a frio pode não se aquecer com a respira- ção e gelar as beiras dos nossos pul- mões. Aí pegaremos uma tosse medonha e na próxima primavera teremos pneu- monia'. Mas eles eram che-cha-quo e- não compreendiam a trilha. Estavam mortos de Cansaço, mas diziam sempre:: — Toquemos para diante. Não pode- mos parar'. E assim era. O frio lhes. atingiu os pulmões e começaram a tossir. Tossiam até as lágrimas lhes escorrerem; rosto abaixo.

Parte do rosto também gelou e a pele ficou preta e gretada. O homem teve o polegar enregelado, o que o obrigou a usar um dedo maior na luva para ver se o aquecia um pouco. Às vezes era obri- gado a colocar o polegar entre as coxas,, junto à pele, para impedir que se enre- gelasse por completo.

"Avançamos lentamente até Circle Ci- ty e até eu, Silka Charley, me sentia esgo- tado. Era véspera de Natal. Dancei, be- bi, e me diverti bastante porque o dia seguinte seria dia de descanso. Mas qual — às cinco da manhã, tendo eu dormido apenas duas horas, o homem parou ao lado da minha cama. — 'Vem, Charley, atrela os cães. Nós vamos partir'.

"Já não disse que eu não fazia mais perguntas? Eles me pagavam setecentos e cinqüenta dólares por mês. Portanto, tratei de atrelar os cães e começamos a descer o Yukon. Onde íamos, não me disseram. Interessava apenas tocar para a frente, sempre para a frente.

"Já tinham viajado muitas centenas de milhas e estavam esgotados; a tcsse pio- rava dia a dia, uma tosse seca que obri- gava os homens fortes a praguejarem e os fracos a chorarem. Mas iam sempre para diante. Não davam descanso nem a si mesmos nem aos cães. Viviam com- prando novas matilhas. Em cada acam- pamento, em cada posto, em cada vila de índios, compravam novos cães. Ti- nham muito dinheiro, dinheiro que nunca se acabava e que gastavam como água. Seriam doidos? Às vezes eu pensava que sim, pois havia neles um demônio que os arrastava sempre para diante. Que pro- curariam encontrar?

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N"? 19 Página 7

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"Passamos pelo Fort Yukon. Passa- mos por hort hamllton. Passamos por NinooK. Janeiro viera e quase se fora. Os dias eram muito curtos. As r\cne apa- recia a luz. As três chegava a noite. E o frio cada vez pior. Continuaríamos assim sem parar jamais? Não saoia di- zer. Mas eu vivia de olho na tnlna à procura daquilo que eles buscavam. Por vezes andávamos cem milnas sem en- contrar sinal de vida. Nem um ruído. Por vezes nevava e nós parecíamos uns fantasmas perdidos na face da terra. Por vezes o tempo clareava e ao meio-dia o sol ncs encarava por um momento, por cima dos morros ao sul. As luzes do nor- te brilhavam no céu e os filhos-do-sol dançavam no ar gelado.

"Eu sou um homem forte. Nasci e me criei na trilha. Porém aqueles dois me deixavam muito cansado. Se eu estava magro como um gato esfomeado, eles pareciam uns gatos que nunca tinham comido e já tinham morrido. Os olhos andavam fundos nas órbitas, brilhantes de febre por vezes, ofuscados e embaciados de outras, como os olhos dos mortos. As faces encovadas como cavernas numa montanha. De vez em quando era a mu- lher quem dizia pela manhã: — 'Não pos- so me levantar. Não posso me mexer. Daixa-me morrer.' — Porém o homem se parava junto dela e retrucava: — 'Vamos tocar para diante'. E lá íamos nós. De outras vezes era ele que não podia le- vantar e aí a mulher insistia: — 'Vamos tocar para diante'. E assim avançávamos sempre sem parada nem descanso.

"Às vezes nos postos de troca o ho- mem e a mulher recebiam cartas. Não sei o que vinha nas cartas. Mas era o faro da caça que seguiam. Um dia um índio lhes entregou uma carta. Falei com ele em particular. Disse que um homem caolho é quem lhe entregava as cartas, um homem que viajava rápido pelo Yukon. Eis tudo.

"Chegou fevereiro e já viajáramos mil e quinhentas milhas. Estávamos perto do mar de Bering e lá encontramos tem- pestade e nevasca. O avanço se torna- va cada vez mais difícil. Chegamos a Anvig. Não sei ao certo, mas acho que receberam uma carta em Anvig, pois fi- caram muito agitados e disseram: — 'Va- mos, depressa, não devemos parar'. Eu, porém, respondi que precisávamos comprar provisões, mas eles queriam via- jar com poucos fardos para andar mais ligeiro. Achavam que encontraríamos o necessário no armazém de Charley Mc- Keon. Aí percebi que queriam ir pelo grande atalho, pois é lá que Cha'ley Mc- Ke:n mora, junto da Rocha Negra ao longo da trilha.

"Antes de nos pormos a caminho falei uns dois minutos com o padre de Anvig. Sim, havia um homem caolho que passa- ra por ali e viajava depressa. E eu sabia pelo ar deles que devia haver alguma ligarão com este homem.

"Deixamcs Anvig com poucas provi- sões, viajando leve e ligeiro, compramos três cães novos em Anvig, e assim au- mentamos a velocidade. O homem e a mulher pareciam doidos. Saiamos mais cedo todas as manhãs e andávamos até tarde da noite. Por vezes julguei que os veria morrer, porém resistiam sempre. Não morriam.

. "Até eu, Sitka Charley, me senlia ar- rasado e os setecentos e cinqüenta dó- lares pareciam pouco pelo que eu fa- zia. Chegamos ao grande atalho e en- contramos trilha recente. Os filhotes de lobo baixaram rs focinhos para a neve e gritaram: — 'Deoressal' — e era só o que diziam: — 'Depressa!' Depressa!'

"Os pobres cães mal agüentavam a puxada. Não trazíamos muita comida e o que lhes dávamos era pouco, por isso foram enfraquecendo. Além disso traba- lhavam demais. A mulher tinha muita pe- na deles e muitas vezes lhe vi láorimas nos olhos por causa dos animais. Porém o demônio aue a emnurrava para a fren- te não a deixava parar para dar descan- so PóS cães,

"E então esbarramos com o homem caolho. Estava parado na neve com a perna quebrada. Assim mal oudera armar um acampamento e há três dias iazia es- te^rlMo sobre os cnheiiores, mantendo uma foqueira acesa. Quando o encontra- mos oraineiava c~mo o diabo. Nu^ca ©u ouv^a alouém praaueiar assim. Mas fi- quei contente. Agora que encontráramos

o que eles buscavam descansaríamos um pouco. Mas a mulher disse: — 'A ca- minho! Depressa!'

"Fiquei surpreendido. Mas o homem caolho falou: — 'Não se preocupem co- migo. Deixem a comida que trouxeram. Poderão comprar suprimentos no arma- zém de McKeon amanhã. E mandem Mc- Keon me buscar. Vocês, porém, toquem para diante'.

"Ali estava outro lobo, um lobo velho, cujo único pensamento era também tocar para diante. Deixamos, pois, tudo o que trazíamos, e que não era muito, cortamos lenha para alimentar sua fogueira e lá nos fomos. O homem caolho ficou na neve e lá morreu, porque McKeon nun- ca o foi buscar. Quem era aquele homem e o que fazia ali não cheguei a saber. Porém acho que era muito bem pago pelo homem e pela mulher, como eu, pa- ra trabalhar para eles.

"Naquele dia e naquela noite não ti- vemos o que comer, e todo o dia seguin- te palmilhamos a estrada, fracos de fo- me. Aí chegamos à Pedra Negra que se levanta a quinhentos pés de altura acima da trilha. O dia findava. A escuridão caía aos poucos e não se podia encon- trar o armazém de McKeon. Dormimos com fome e pela manhã procuramos o armazém. Não estava no mesmo lugar, o que era muito estranho, pois todo mundo sabia que McKeon ocupava uma cabana junto da Pedra Negra. Estávamos perto da costa onde o vento sopra forte e há muita neve. Em toda parte se avistavam pequenos cumes de neve que o vento empilhara. Uma idéia me ocorreu e an- dei cavando em alguns dos montes de neve. Encontrei as paredes da Choupa- na e consegui cavar até a porta. Entrei. McKeon estava morto. Talvez há duas ou três semanas. Uma doença o abatera não lhe permitindo deixar a cabana. O vento e a neve tinham-lhe coberto a casa. Procurei o depósito mas nele não havia provisão alguma.

"— 'Vamos para a frente' — disse a mulher. Tinha os olhos cheios de fome e levava a mão apoiada no coração, co- mo que a conter uma dor interior. Os- cilava scbre os pés como uma árvore sacudida pelo vento.

"— 'Sim, vamos para a frente' — dis- se o homem. Falava com voz cava, co- mo o crocitar de um velho corvo, e a fo- me o deixava meio transtornado. Os olhos brilhavam de febre e seu corpo se agitava sacudindo-lhe até a alma.

"E também eu falei: — 'Vamos tocar para a frente'. — Pois tal idéia imposta palmo a palmo das mil e quinhentas mi- lhas vencidas na jornada acabara por ficar gravada a fogo na minha alma, e creio que aié eu estava louco. Afinal, só po- díamos prosseguir, pois não havia mais comida. E assim continuamos, sem deter o pensamento no homem que lá ficara es*e?dido na neve.

"Uma noite, no fim de fevereiro, matei três perdizes com o revólver da mulher e nos fortalecemos um pouco. Porém os cães nada tinham para comer. Tentaram comer cs arreios que os prendiam e ti- ve de enfrentá-los a cacete, pendurando, à noite, os arreios numa árvore. E toda noite eles uivaram e brigaram em volta daquela árvore. Mas nós não nos impor- tamos. Dormíamos como mortos e pela manhã nos levantávamos como mortas das tumbas, continuando o caminho pela trilha.

"Na manhã de primeiro de março avis- tei o primeiro sinal daquilo que os filhotes de lobo procuravam. O tempo estava claro e frio. O sol se demorava mais no céu lavado e puro. A neve já não caía na trilha e vi o sinal recente de cães e trenós. Um homem os acompanhava e percebi que não devia estar muito for- te. Também ele ia sem comer. Os jo- vens lobos viram os sinais frescos e muito excitados. — 'Depressa!' — dis- seram eles. — 'Depressa! Apure, Char- ley, apure!'

"Nós nos apressávamos muito deva- gar. O homem e a mulher caíam cons- tan'emente. Quando tentavam subir nos trenós, caíam os cães que estavam mui- to fracos. Além disso o frio ainda era tão intenso que, se andassem no trenó, dentro em pouco ficariam enregelados. Ê muito fácil um homem faminto se enre- gelar.

"Naquela noite apanhei uma perdiz e nós tínhamos uma fome terrível. E na- quela noite o hrmem perguntou: — 'A que horas sairemos amanhã, Charley?'

— era como que a voz de um fantasma. — 'Sempre saímos às cinco' — respon- di. — 'Pois amanhã sairemos às três.'

'Eu ri com amargura e repliquei: — 'Pode-se dar por morto'.

"Porém ele insistiu: — 'Amanhã sai- remos às três.'

"E saímos mesmo, pois eu era empre- gado deles e a vontade do patrão tinha de ser respeitada. O tempo estava cla- ro e frio, sem sombra de vento. Quando o dia surgiu vimes um longo trecho de caminho à frente. Tudo estava mui- to silencioso. Ouvíamos apenas o bater dos nossos corações e no silêncio tais batidas parecem muito fortes.

As vezes, caminhando como que em sonhos, estranhos pensamentos me ocor- riam. Por que viveria Sitka Charley? — eu me perguntava. Por que Sitka Chaley trabalha duro, passa fome e sofre tama- nhas dores? Porque lhe pagam setecen- tos e cinqüenta dólares por mês — era a resposta, e eu sabia que era uma res- posta tola. Mas também não deixava de ser verdadeira. Depois disso nunca mais liguei dinheiro.

"Pela manhã deparamos com o acam- pamento da véspera, deixado pelo homem que ia à nossa frente. Um pobre acam- pamento, feito por um homem cheio de fome e de cansaço. Sobre a neve encon- tramos pedaços de lona e tiras de cober- tores e eu logo vi o que estava aconte- cendo. Os cães dele tinham comido os arreios e ele fizera novos arreios dos cobertores. O homem e a mulher olha- ram tudo com atenção e ao observar os dois senti um frio me correr pela espinha, como se um vento gelado me tocasse. Os olhos de ambos espelhavam loucura e queimavam como brasas nos seus ros- tos consumidos.

"— 'Vamos andando' — disse o ho- mem. Mas a mulher começou a tossir e caiu sobre a neve, Uma tosse seca cria- da pelo frio que lhe mordera os pul- mões. Tossiu longo tempo e como uma mulner a sair de gaiinhas da tumba, con- seguiu ela levantar-se. As lágrimas se lhe enregelavam nas faces e respirava com dificuldade, ao dizer: — 'Vamos an- dando'.

"Prosseguimos. Caminhamos como que em sonho em silêncio, avistando a neve, as montanhas e as marcas recen- tes deixadas pelo homem à nossa fren- te, repassando outra vez todas as nossas dores. Chegamos a um ponto em que a vista se estendia longe na neve. Uma milha adiante manchas pretas se desta- caram na brancura da paisagem. As manchas pretas se moveram. Com os olhos enfraquecidos precisei recorrer a um grande esforço para ver melhor. Lá ia um homem com cachorros e um tre- nó. Os filhotes de lobo também o viram. Mal podiam falar, mas sussurraram: — 'Vamos, vamos, depressa!'

"E caem, mas tocam sempre para a frente. Os arreios do homem à frente, feitos de cobertores, rebentam com fre- qüência, obrigando-o a parar. Os nos- sos são bons pois eu os pendurei no al- to das árvores todas as noites. As onze horas o homem se encontra a meia mi- lha adiante. A uma hora, está a um quarto de milha. Devia andar profunda- mente enfraquecido. Vemo-lo cair mui- tas vezes na neve. Um dos seus cães já não pode andar e ele o desliga dos ar- reios. Porém não matou o animal!. Eu é que o matei ao passar por lá, como matei um dos nossos que perdera as pernas e não pôde mais andar.

"Agora apbiidti trezentos metros nos separam. Avançamos lentamente. Talvez se vencesse uma milha em duas ou três horas. Não caminhávamos. Apenas ar- rastávamos os pés, caindo e levantando. Mal se ficava em pé para cair dois pas- sos adiante. E eu tinha de ajudar cons- tantemente o homem e a mulher. Por vezes eles se apoiavam nos joelhos mas emborcavam para a frente, isso umas quatro ou cinco vezes até conseguirem pôr-se de pé e dar uns passos camba- leantes para cair de novo. Mas sempre caíam para a frente. De pé ou ajoelha- dos, sempre caíam para a frente, avan- çando na trilha pelo comprimento dos seus corpos.

"De quando em quando engatinhavam auxiliados por pés e mã?s, como ani- mais numa floresta. Avançávamos como cob-as moribundas, porém mais depres- sa do que o homem que ia à frente. Pois também ele caía freqüentemente e não contava com Sitka Charley para levanta-

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Io. Agora estava a uns 200 m. de dis- tância. E decorrido muito tempo, apenas cem metros nos separavam.

"Era uma corrida de homem e cachor- ros mortos. Tinha até desejos de rir, de tão engraçada que era a situação.

"O estranho à frente deixa os cachor- ros e avança sozinho pela neve. Muito tempo depois alcançamos os animais. Estavam derreados na neve, as correias de lona e de cobertores ainda a pren- dê-los, o trenó mais atrás. Ao nos ve- rem passar uivaram e choraram como crianças famintas.

"Aí também nós abandonamos os nos- sos cães e avançamos sozinhos pela ne- ve. O homem e a mulher gemiam e so- luçavam, mas caminhavam sempre. Eu também avançava. Um único pensamen- to me animava: alcançar o estranho. Só aí descansaria, mas então dormiria mil anos, de tão cansado.

"O estranho estava a cinqüenta me- tros, sozinho na brancura da neve. Cai e engatinha, tropeça, cai e engatinha outra vez. Parecia um animal mortalmen- te ferido, tentando fugir do caçador. Po- rém avançava de gatinhas, sem não mais se levantar. O homem e a mulher tam- bém já não se punham de pé. Engati- nhavam apoiados nas mãos e nos joe- lhos. Mas eu me levantava. Por vezes caia, mas sempre tornava a levantar.

"Uma coisa estranha de se ver. Tudo em volta era neve e silêncio, e lá avan- çam de gatinhas o homem e a mulher, e o estranho à frente a olhar por cima do ombro de quando em quando.

"Mas de repente o estranho se imo- biliza. Lentamente se levanta e fica ba- lancanHo o corpo para diante e para trás. Despe uma das luvas e espera de revólver na mão, a balançar o corpo en- quando espera. Seu rosto é pele sobre cs ossos, enegrecidos pelo frio. Os olhos estão fundos e os lábios arrega- nhados em fúria. O homem e a mulher também se levantam e lentamente avan- çam para ele. Enquanto em volta nada mais há além da neve e do silêncio. E no céu três sóis que enchem o ar com uma poeira de brilhantes.

"E foi assim que eu, Sitka Charley, vi os filhotes de lobo matarem a presa. Não se pronunciou uma palavra. Rosna- va apenas o estranho com o seu rosto gelado. A balançar o corpo, ombros caídos, cs joelhos curvados, as pernas bem separadas para lhe impedir a que- da. O homem e a mulher pararam a uns cinqüenta pés de distância. As pernas bem separadas para melhor equilibrar- se,sacodem o corpo para lá e para cá. O estranho está muito fraco. Seu braço treme tanto que, quando atira a bala vai enterrar-se na neve. O homem não po- de despir a luva. O estranho torna a

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Página 8 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 19

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atirar contra ele e desta vez a bala per- de-se na ar. O homem prende a luva nos dentes e arranca-a da mão. Mas tem os dedos gelados e não pode em- penhar o revólver que vai cair na neve. Olhei para a mulher. A luva despida, ela aperia o grande Colt na mão.

"Atirou por três vezes rapidamente, sem pensar.

A face faminta do estranho continua rosnando enquando ele cai para a fren- te e se espicha na neve.

"Eles não clham para o morlo. — 'Vamos embora' — dizem. E lá nos va- mos. Mas agora que encontiaram o que buscavam, esião como mo/tos. A úl ima gola de energia os abandonou. Já não podem continuar de pé. E tampuco pensam em engatinhar. Querem apenas fechar os olhos e dormir. Vejo, não muito longe um lugar para acampar. Com um pontapé procuro despertá-los. Tenho o chicote na mãD e não hesito em bater ne- les. Ambrs gritam alto, mas preesam avançar anda que de galinhas. E assim vão para o lugar do acampamento. Pre- paro um fogo para que não se enrege- ;em. Depois volto em busca do trenó. Também maio os cãss do estranho para que tenhamos o que comer. Enrolei o h mem e a mulher em cobertores e eles dormem. Por vezes os sacudo e hes dou um bocado de alimento. Eles não acor- dam, mas aceitam a comida. A mulher

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d"rmiü um dia e meio. Depois abriu os olhes e voltou a dormir. O h mem dor- miu dos dias, acordou e tornou a pegar no sono.

"Depois d sso descemos a costa rumo a St. Michaels. E quando o gelo deixou o mar de Be-ing, o homem e a mulher tomarem um navio. Mas primeiro me pa- garam os setecentos e cinqüenta dó- lares mersais. Também me fizeram pre- sente de mil dólares. E foi naquele ano que Sitka Cha/Mev deu muito dinheiro à Missão Santa Cruz".

— Mas por que mataram o homem? — perguntei.

Siíka Charley primeiro acendeu o ca- chimbo antes de responder. Olhou a Ilustração da Police Gazette e sacudiu a cabeja num oes^o fanvliar. Depois disse lenta e ponderadamente:

— Pensei muito e rão sei. Foi algo que aconteceu. Um quadro que me ficou ra lembrança. É como olhar pela jane- la e ver o homem escevendo a carta. O quadro, como eu disse, não tem come- ço e terminou sem compreensão.

— Você pinlou inúmeros quadros ao contá-lo — disse eu.

— Sim — concord:u ele com um gesto

de cabeça. — Mas todos sem começo nem fim.

— O último deles tinha um fim — pro'esíei.

— Que fim?

— Era um pedaço de vida.

— Sim — replicou ele — um pedaço de vida.

O conto de Jack London "A Trilha dos Filhos-do-Sol", publicado neste número, apresenta-nos o Atesca d 3 passado, da época quando a corrida de ouro de Klon- dike, trouxe a primeira grande avalan- che humana.

Alasca passou relativamente incólume por es.a primeira grande invasão de bár- baros. Sua natureza selvática, suas tun- dras geladas, suas montanhas abruptas, suas costas recortadas cheias de gelo, a vida das tribos esquimós, a vida ani- mal e vegetal de toda região, c nseguiu conviver, com danos relativamente pe- quenos, com as poveações, com a inci- piente vida urbana e com as indústrias pesqueiras que vieram junto com os emi- grantes dos Estados Unidos e do Canadá.

O descoberta de petróleo no Alasca e nas ilaas polares do Canadá mudou a situação totalmente. As empresas pe- trolíferas avançaram com todo este ím- peto, que sempre distingue os empreen- dimentos das multinacionais. Todos os obstácul s são removidos, gente, paisa- gem, natureza, equilíbrio ecológico, são tras'es inúieis, que são pos os da lado. Qual lobos famintos, os gigantes pe ro- líferos avançam em direção ao lucro, às realizações estatísticas e à depredação da natureza.

A palavra de crdem da revista norte- amer.cana Iníerccntinental Press "Capi- talism fouls things up" (O capitalismo apodrece as coisas) confirma-se nestes casos em toda plenitude: Seja no Alas- ca, seja na Amazônia, nos mares de co- ral ou nas florestas da Indonésia, onde semnre houver riquezas para rapinar, pa- ra d lapidar .psra consumir em detrimento dos mais fracos ru das ge-ações futu- ras, as grandes empresas avançam, com uma brutalidade sem limites.

A descoberta de petróleo no Alasca significeu uma imediata agressão às co- munidades esquimós. Sim, os esquimós estavam no caminho, estavam atrapalhan- do o progresso: Então remove-se estes Intrusos( que vivem lá há milênios). O "progresso" atropelou e avil ou mui- tas tribos, expulsendo-as do seu habi- tat e destruindo a fauna marinha da qual tiravam seu sustento'

Para completar este quadro de destrui- ção do ambiente natural, da rude beleza -das paisagens do Alasca, concebeu-se

a construção de um oleoduto com 1.300 km de extensão, com custo esti- mado em 7 bilhões de dólares que de- verá cortar o Alasca todo de Norte a Sul.

O projeto foi aprovado em novembro de 1S73, ainda no tempo da malfadada administração Nixon. Nixon e Agnew, a mais famigerada dupla presidencial da história n rle-americana, apresenaram o proje'o do oleoduto como a respos'a da América, na busca da sua indepen- dência energética.

A presidente Ford tornou-se outro en- tusiástico defensor do projeto que está sendo executado por oito grandes fir- mas de engenharia.

A construção de obras desastrosas que engolem recursos imensos e que se transiormam em verdadeiros escândalos e demonstrações de incompetência não é rem de longe um privilégio brasileira. Casos cemo a Ponte Rio-Niterói, Transa- mazônica e agora a Ferrovia do Aço, acontecem no mundo todo, onde a ga- nância, a visão estreita e a incompetên- cia das empresas, as vezes sã 1 encober- tas por largas cortinas de propinas, co- mo foi o caso da Lockheed, que com avices de construção falha, verdadeires assassinos do ar. conseguiu quebrar re- cordes de venda.

O oleoduto de Alasca está senda cons- truído neste esíilo tão conhecido e di- fundido de uma engenharia previamente apodrecida.

O sempre equilibrado Wall Street Journal, na sua edição de 11 de Junho sugeriu que quando o oleoduto come- çar a funci nar terá mais buracos do que um queijo suiço.

De acordo com o projeto, o oleoduto deve-á transportar diariamente 600 mil barris de óleo. Toda linha, por operar em região extremamente fria, ao norte do Círculo Ártico, será aquecida e de- verá operar numa temperatura de cerca de 60oC. Será o primeiro oleoduto que cruzará três cadelas de montanhas, nu- merosos rios, cinco áreas tectonicamen- te ins áveis sujeitas a terremotos e que passará além disso junto a quatro ge- leiras em considerável atividade.

O New York Times de 22 de maio aler- tou cem relação aos Imensos perigos ecológicos que o oleoduto representará, diante da fragilidade das Imensas tun- dras árticas, que o oleoduto atravessa e onde os vazamentos de óleo poderão le- var a desastr sas modificações ambien- tais irreversíveis, podendo inclusive afe- tar profundamente toda região dos mares árticos. Da mesma maneira o New York Times apontou o perigo de transborda- mentos nos rios e as grandes dificul- dades de realizar quaisquer reparos nes- te cleeduto, que ficará profundamente enterrado na tundra gelada.

Exames de material feitos no oleoduto por intermédio de ralos X, já apontaram 1.105 pontos críticos.

Mas as empresas construtoras, que r.ão podem estourar demasiadamente os orçcment s e que tem que pro'eger seus lucros, passam por cima de tudo isso.

Peter Kelley que dirigia o setor de exames de raio X de uma das compa- nhias construtoras, sugeriu algumas mo- dificações. Responderam que ela dave- ria pensar do pescoço para baixo — e o despediram.

No próximo ano o oleoduto de Alasca — tipo quelo suiço — deverá entrar em funcionamento, como mais um aten- tado contra a natureza e contra a pre- servação da vida na terra.

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Página 10 ABERTURA CULTURAL 8- ANO 2 N? 19 ABERTOfiA CULTURAL — ANO 2 N? 19- Página 11

Dezenas de milhões de crianças dos países pobres estão tendo o seu desenvolvimento cerebral seriamente prejudicado pela falta de proteínas es- senciais em sua aiimentação. Talvez seja esse o crime mais d-loroso de nossa época, apesar de não ser o mais espetacular nem o mais conhecido. A continuarem as desigualdades atuais na distri- buição de alimentos muitos milhões de crianças so- frerão de subdesenvolvimento cerebral nas próxi- mas décadas.

Aqueles que vêm se opondo à limitação da natalidade, e que ainda repelem certas formas de anticoncepção como o aborto nos primeiros está- gios da gravidez, assumem sem querer grande par- te da responsabilidade por essa situação intolerá- vel. Mas não são os únicos. A culpa é também de todos os que contribuem para perpetuar uma situação social inadmissível.

A tragédia é que as fontes de proteínas exis- tentes no mundo seriam suficientes para atender às necessidades mínimas de todas as crianças de hoje, se essas substâncias fossem distribuídas de maneira racional e equânime. O que acontece é que elas são distribuídas quase que unicamente na proporção dos recursos financeiros, o que re- sulta em desperdícios astronômicos.

O leite em pó, por exemplo, é uma das melhores fontes de proteínas mas a maior parte dele é des- tinada à alimentação de animais. Mais de 30% dos peixes capturad-s são transformados em fa- rinha — e a porcentagem está crescendo — cuja maior parte vai para a alimentação de animais. Uma boa vaca leiteira consome seis gramas de proteína vegetal por grama de proteína de leite que produz. O desoerdício na produção de carne bovina é ainda maior.

Assim, como as reservas minerais e de petró- leo que também são limitadas, as fontes de pro-

teínas semi-raras estão sendo esbanjadas pelos países ricos em detrimento dos países pobres.

Se as proteínas fossem distribuídas de ma- neira mais justa haveria o suficiente para todos, mas para isso era preciso que houvesse certa par- cimônia nos hábitos alimentares dos ricos, o que por sua vez pressupõe uma revolução social mais ou menos nos moldes da revolução da China.

Um especialista em nutrição da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura mostrou que se quiséssemos combater a subnu- trição simplesmente aumentando a produção, sem alterar a distribuição, teríamos que aumentar a produção de víveres seis vezes entre 1970 e o ano 2000 nos chamados países em desenvolvi- mento, meta evidentemente impossível de ser al- cançada.

A primeira conclusão é esta: se quisermos mesmo acabar com a desnutrição, é absolutamen- te necessário melhorar a distribuição de víveres fa- zendo com que ela não dependa mais do poder aquisitivo individual. Calculou-se que a produção atual de víveres no mundo só daria para alimen- tar — ou melhor dizendo empanturar — um bilhão de pessoas se todos comessem tanto como a maioria das pessoas comem nos Estados Unidos, e a população do mundo iá está em quatro bi- lhões! Por outro lado, a produção industrial atual só atenderia às necessidades de 600 milhões de consumidores ávidos como aqueles.

Nosso mundo endrvdeceu. perdeu o contro- le de seu crescimento demográfico e de suas téc- nicas de produção. Em elauns luqares as pessoas trabalham demais, enquanto cresce o número de jovens desempreoados no Terceiro Mundo. A so- ciedade de consumo cresce desordenadamente, e tem como exemplo mais alucinado o culto do au- tomóvel.

Cada automóvel que se produz—significa uma redução nas disponibilidades de aço para a produção de arados para os lavradores dos trópicos, que tanto necessitam deles para ali- viar o seu trabalho e aumentar a produtividade

Não bastam as tentativas de aumentar ape- nas a produção de alimentos, que no entanto con- tinua sendo uma necessidade absoluta. Esse é aliás o trabalho de agrônomos como eu.

Em seu Plano Indicativo Mundial, terminado em 1969-1970, a FAO calculou que os países "atra- sados" teriam que alcançar uma taxa de cresci- mento agrícola de 3,8% por ano para poderem ei.minar a sua desnutrição em 1985, quando se encerra o período abrangido pelo estudo.

Desde então aqueles países se atrasaram mais ainda. É difícil fazer uma avaliação precisa, mas parece mais do que provável que os países po- bres estejam agora, em média mais desnutridos do que estavam antes da II Guerra Mundial. E parece provável até que as classes mais pobres da índia, de Bangladesh e da maioria das regiões montanhosas dos Andes e também de outras re- giões da América Latina, da África e da Ásia, es- tejam menos alimentadas do que estavam no sé- culo XVIII.

Em 1970, ano inicial da Segunda Década do Desenvolvimento, calculou-se que seria necessária uma taxa de incremento de 4% por ano na pro- dução de vivqres para se poder compensar o dé- ficit acumulado. Mas no fim de novembro de 1972 o Sr. A.H. Boerma, Diretor-Geral da FAO, mos- trou que nos primeiros dois anos da década o au- mento na produção de víveres mal excedera a 1% por ano, ao passo que a população havia aumen- tado mais de 2,5% ncs países em causa.

Se não fosse feito um esforço extraordinário, concluía ele, se não ocorresse um milagre, a Se- gunda Década do Desenvolvimento já estaria con- denada ao fracasso na agricultura. Milagres não são especialidades dos agrônomos; eles são muito realistas para pensar em tais possibilidades.

O que um agrônomo pode fazer é lançar uma advertência aos demógrafos que ainda consideram impossível conseguir uma rápida redução no cres- cimento demográfico e vêem mais perigo no en- velhecimento da sociedade do que na superpo- pulação. O agrônomo pode também enviar uma mensagem oportuna aos governos responsáveis pela educação cívica, instrumento que não está sendo utilizado como devia.

Se os especialistas não conseauem preoarar um programa coordenado para deter o cresci- mento demográfico, a perspectiva que se abre é uma série de catástrofes cuja natureza não po- demos precisar nesta etapa. Todos temos respon- sabilidade nesse assunto.

É verdade que a Revolução Verde prometeu milagres, e não devemos subestimar seus resul- tados. Novas sementes de cereais tropicais, in- clusive trigo, arroz e milho têm agora um poten- cial comparável ao de suas congêneres de zonas temperadas — avanço importantíssimo em rela- ção à situação de 20 anos passados.

Do México ao Paquistão e ao noroeste da índia o chamado trigo mexicano, cultivado em teras irrigadas e oeralmente em larga escala por lavradores que contam com suporte financeiro e com novas técnicas, tem alcançado enorme su- cesso. Só na índia a produção tritícola passou de 12 milhões para 26 milhões de toneladas em seis anos.

A chamada Revolução Verde mostrou no en- tanto também sua outra face. Beneficiando ape- nas os grandes agricultores, que dispõe de re- cursos e créditos para utilizar a nova tecnohqia, tem contribuído para uma marginalização crescen- te das massas das regiões agrícolas. Chegamos ao absurdo que o aumento na produção de trigo e milho tem sido acomoanhado, oasso a passo, per um aumento da fome, da miséria, do aban- dono.

Nos arrozais o quadro não é claro. Nas Fi- lipinas a taxa de crescimento da produção rizí- cola ainda é incerta. Em Java, Sri Lsnka (Cei- lâoV Bangladesh e na índia o rendimento das se- mentes criadas no Instituto Internacional de Pes- onipa dr, firn^y em LOS Bafios (Filipinas) tem si- do desapontador.

No Pannladesh a situarão é especialmente tráoica. Cerca da metade da população é com- posta por lavradores sem terra ou proprietários

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de tão minúsculas áreas, que é impossível tirar das mesmas o indispensável para sobreviver.

Todos estes conseguem arranjar trabalho as- salariado apenas durante oito meses por ano, nos outros quatro meses comem uma vez por dia quando podem.

Como mobilizar o trabalho perdido dessa me- tade da população enquanto a parte maior dos lucros continuar beneficiando o proprietário, o ca- pitalista, o comerciante? Quando a tradição pren- de a mulher em casa e no quintal e a proíbe de ir ao campo, sob pena de cair em desgraça? Na China, no Vietnam e na índia as mulheres traba- lham no plantio, na limpa e na colheita.

No norte do Senegal, na região de Louga, com os métodos tradicionais de cultivo a terra descansava por longos períodos e com isso a es- trutura do solo era mantida em boas condições. Com o aumento desordenado da popuíação e da área destinada ao cultivo do amendoim, foi redu- zida a área de terras em descanso, com conse- qüente redução da quantidade de húmus do solo. (Na já superpovoada região habitada pelos Serer não existe mais terra em descanso.)

Em conseqüência os componentes menos só- lidos, como areia fina e marga, não ficam presos no solo e são levados pelo vento. O que fica é a areia grossa, incapaz de reter a água das chu- vas, irregulares e infreqüentes. Situação seme- lhante ocorre na faixa semi-árida que vai da Mau- ritânia ao Chade e ao Sudão, e ao sul da Tan- zânia.

A seca dos últimos anos nessas regiões cau- sou a mortandade geral do gado. O regime de superpastagem havia destruído toda a vegetação na proximidade.dos poços. Longe daí ainda exis- te capim seco, mas não há água. 0: gado está portanto condenado a morrer ou de fome ou de sede. Os habitantes dessas regiões estão passan- do por grandes privações e morrendo em grande número.

Os países ricos comem muita carne produzi- da à base de cereais, por isso não podem pres- tar ajuda satisfatória aos países mais pobres. Está iminente também uma crise mundial de açúcar, e a crise da carne vai tornar ainda mais gritante as desigualdades entre ricos e pobres.

Na América Central vem se tentando desde 1960 criar gado nos latifúndios onde os pastos naturais tinham rendimento incrivelmente baixo. No oeste do estado venezuelano de Guárico, que fica nos Manos do Rio Orinoco, calculei em 1959 que um hectare produzia cinco quilos de carne (boi em pé) por ano!

Daí para cá as grandes propriedades, prin- cipalmente na Guatemala, melhoraram seus pastos e instalaram matadouros para exportar carne de- sossada e congelada para os Estados Unidos, onde o consumo pelas camadas ricas (a maior parte da população) está em ascensão.

A exportação naturalmente elevou o preço da carne no mercado interno e conseqüentemente à queda do consumo, que passou a ser de 11 a 15kg por pessoa por ano em países onde a grande maioria já era bastante pobre. A disparidade do consumo de proteínas entre os poucos privilegia- dos e os muitos pobres, ou os que estão ficando pobres, vai se ampliando constantemente.

Como se vê, esses novos recursos não cons- tituem, como se esperava, um trampolim para o desenvolvimento agrícola e conseqüentemente pa- ra toda a economia nacional. Onde a terra é mal distribuída, as propriedades são na maioria muito pequenas para sustentar os animais que elas de- vem ter. Os pequenos criadores possuem 15% do gado do país, mas apenas 3% das terras de pas- tagem e lhes faltam recursos para melhorá-las.

Assim o enorme potencial agrícola das vas- tas pastagens naturais subutilizadas da América "índia" (em contraposição à "Latina") fica em sua maior parte esterilizado.

O "ex-milagre" brasileiro, como a Revolução Verde na índia, tem servido apenas para enrique- cer mais os ricos e empobrecer mais os pobres, pois não deixa a esses últimos o mínimo de po- der aquisitivo que estimularia o aumento da pro-

dução de víveres e conseqüentemente a revitali- zayao geral da agricultura. As Américas Central e do Sul, tão ricas em possibilidades, não podem sequer manter a produção de víveres em ritmo com o crescimento da população. A reforma agrária do Peru é uma tentativa de recompor a situação, mas seus resultados até agora têm sido modestos.

Em 1950 pensava-se que a educação era a chave do desenvolvimento, e que o seu papel era ainda mais importante que o da acumulação de capital. É claro que a boa utilização do capital requer conhecimentos.

Mas o crime dos crimes foi o cometido quan- do as escolas começaram a ensinar — ou a ins- tilar nos alunos — o desprezo pelo trabalho ma- nual, principalmente pelo trabalho do lavrador, que se "sujava" de lama e terra, dependendo da estação. Em uma sociedade tradicionalmente es- tratificada o trabalho na terra já era considerado "degradante".

Desejosos de ascender na escala social os filhes do lavrador procuravam — e em certo sen- tido com razão — escapar a essa "degradação" pela via da escola. Por isso é que as escolas dos trópicos estão aumentando as fileiras das pessoas inadequadas ao trabalho.

O modelo chinês oferece mais interesse. Na China todas as crianças começam a estudar em um ambiente que mistura trabalho com estudo, e isso, somado à instrução cívica, acaba inculoan- do nelas o respeito pelo trabalho e pelos que tra- balham.

As diferenças de salário são reduzidas ao mínimo, o que impede a importação de artigos de luxo. "Contando só com suas forças" e "ca- minhando com seus pés" a China está moderni- zando a sua tecnologia mas só na medida em que isso não cause desemprego nem exija muita im- portação. Por necessidade todos os subprodutos são aproveitados, e com Isso a China desperdiça muito menos do que outros países.

Isso não quer dizer que eu considere a China perfeita, política e economicamente. Sua taxa de expansão agrícola pareceu-me baixa, mais baixa mesmo do aue eu esperava em decorrência da total reorganizarão da estrutura agrária e do con- trole generalizado da água.

Mais de dois terços dos campos chineses são irrigados, quando na índia apenas pouco mais de uma quarta parte dos campos recebe irrigação; mas a produção da China foi o dobro da produ- ção indiana, mesmo em um ano de seca (1972), para cerca de 750 milhões de habitantes. E no- te-se que a China está desenvolvendo sua agri- cultura sem ajuda externa e sem desemprego.

Reconheço não ser aconselhável a reprodu- ção exata do modelo chinês em outro pais. É pre- ciso levar em conta as diferenças históricas, de mentalidade, de estrutura social e principalmente a história política recente: tudo isso conta.

A China não é um país ou uma nação no sen- tido ocidental desses termos. É um continente bem maior e bem mais populoso do que a Europa. Possui imensos recursos naturais — hoje perfei- tamente localizados e em processo de aproveita- mento — e vive alheia a influências externas.

Não obstante, muitos princípios adotados na China merecem ser estudados para ver se podem ser adaptados a outres países, e em que medida. Mas que ninguém se engane em um ponto: todos eles exigem como condição primeira a abolição de privilégios, e conseqüentemente uma revolução social genuína — e isso jamais ocorrerá sem luta.

Mesmo sem uma revolução em moldes chi- neses, há muitas maneiras de se transformar com- pletamente a educação, condição essencial para que haja, uma mudança geral de mentalidade co- mo primeiro passo para uma sociedade mais justa.

René Dumont é professor do Instituto Agro- nômico de Paris, mundialmente famoso como pio- neiro da ecologia. É autor de L'Utopie ou Ia Mort (A Utopia ou a Morte), Nous allons à Ia Famine (Nos caminhamos para a fome) etc. O presente crtiao foi extraído de O Correio da Unesco, cm acréscimos e modificações, de acordo com dados fornecidos pelo próprio autor.

A imprensa alternativa é hoje incontestavel- mente uma realidade mundial, com a qual se pre- cisa contar. Não é fácil em muitos casos definir os limites onde começa e onde acaba a imprensa alternativa, marginal, ou como outros preferem de- nominar, a imprensa underground. A base deste tipo de imprensa é a informação diferenie, os ân- gulos de visão diferentes, a expressão de idéias novas e a sustentação de campanhas que não encontram espaço nas publicações estabelecidas. Entre a imprensa estabelecida e cs interesses dos sistemas governamentais ou comerciais e indus- triais há sempre vínculos definidos. Mesmo quan- do a imprensa estabelecida almeja alcançar a ob- jetividade, trata-se sempre de uma objetividade es- tabelecida, bem-comportada, normificada.

Os jornais alternativos do mundo todo cons- tituem hoje um componente essencial e indispen- sável da liberdade de informação. Como disse muito bem A.J. Liebling "Freedom of the press is guaranteed only to fhose who own one" (A li- berdade de imprensa é garantida somente àque- les que tem um jornal). Fazer um jornal alterna- tivo mimeografado e de circulação irregular, como é o caso de muitos, é algo que praticamente está ao alcance de qualquer pequeno grupo, que tem algo a dizer.. . e que através do seu pequeno jor- nal encontra o meio de se fazer ouvir, ao menos dentro do circuito da sua circulação. A imprensa alternativa do mundo todo é muito vasta e englo- ba certamente alguns milhares de publicações, que abrangem toda gama de temas, assuntos, orientações e campanhas. As publicações de maior expressão do mundo todo reuniram-se no ALTERNATIVE PRESS SYNDICATE, com sede em Nova York e subsedes em Londres, Buenos Aires e Hong-Kong.

Dentro da imprensa alternativa há vários jor- nais de grande expressão, qive em matéria de cir- culação, esquema publicitário e influência concor- rem perfeitamente com a Imprensa estabelecida. Para nestes casos localizar os limites é preciso estabelecer alguns pontos fundamentais: A im- prensa estabelecida é acima de tudo uma empre- sa, que aceita todo tipo de publicidade, venha de

onde vier, que mantém com seus funcionários tan- to da redação como dos serviços burocráticos, uma nítida relação patrão-empregados. Os jor?- nais alternativos, mesmo os maio.es, estão orga- nizados principalmente em torno de um ideário comum, assumem forma de empresa para fins te^- gais, mas não tem objetivos comerciais predomi- nantes, cestumam recusar todo tipo de publici- dade que não se coaduna com a linha dos res- pectivos jornais, e mesmo quando dispõe de um staff pago, ou parcialmente pago, regem-se pelos princípios de um trabalho coletivo e de uma de- mocracia interna.

O único jornal do Brasil, e mesmo o único jornal em língua portuguesa que é filiado ao Al- ternativo Press Syndicate, é o nosso — ABER- TURA CULTURAL, que além da sua circulação na- cional e da circulação em toda área de língua por- tuguesa, conseguiu ultrapassar todas estas limi- tações e tornar-se um veículo de idéias de ex- pressão internacionaí, inclusive através da tradu- ção para as mais diversas línguas a pedido de parlamentos e órgãos governamentais e culturais de vários países.

No Brasil existem ainda vários jornais alter- nativos, em parte mantendo contato conosco, cujos endereços temos divulgado. Quaisquer outros jor- nais publicados nesta linha podem tomar conta- to conosco e contar com nossa contribuição para divulgá-los.

A imprensa alternativa do mundo ocupa cada vez mais um lugar de destaque, tanto na veicula- ção de notícias e idéias, como na crescente cir- culação. Calcula-se que atualmente mais de 150 milhões de pessoas no mundo todo costumam ler jornais alternativos, que geralmente são guarda- dos, colecionados, e que por causa do seu vín-* culo especial de fé e confiança jornal-leitor, tor- nam-se cada vez mais indispensáveis para atra- vés da publicidade atingir determinadas camadas do público.

O endereço do Alternative Press Syndicate é; Box 777, Cooper Sta, New York, N. Y. 10003 — USA.

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Página 12 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 W 19

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N° 19 Página 13

LEI COHEN DE EXCLUSÃO DE CACHORROS STEVEN SCHRADER - Tradução; ANDM; DELANO BUCHSBAUM

Fumaça, cheiro, incineradores e automóveis não são CS únicos problemas do meio-ambienie uroano. Para alguns um s.mples passeio pelas ruas da cidade faz nascer uma biquie.an^e pergurns: Se,á que o melhor amigo do homem é ainda o melhor amigo do homem?

Os médicos do ms-ituio es^ão satisfeitos com as~mP nhas melhoras. O tratamento me acalmou. Eles já falam até em de,xar-me ir para casa n,s fms de semana. Só que eu não tenho para onde ir. O que é muito cha^o. Vocês podem pensar que a prefei.ura deve.ia pagar meu aluguel, ou en.ão arranjar-me um lugar para morar, agora q^e logo devo ser solto. E afinal de con.as pres.ei uma relevan.a contribuirão â c-muniüade, senão responsável pelas gran- des maüan^as q^e se seguuam. Bem, talvez eu exagerei em cercos aspectos do meu plano. Mas olhando pa.a trás eu não vejo maneira de ter conseguido realizar as mudan- ças, sem recorrer a ações radicais e até bizarras.

Sacrifiquei m.nha liberdade por uma cat-sa jus.a. O go- verno, naturalmente, não esia interessado em tanto heroís- mo. Eles são in.ernacionalis.as. Fale de Sjpe.populaião ou ecologia e eles imediatamen.e organizarão um jantar em sua homenagem; pesa licença para organizar uma passea- ta pela paz mundial e você a terá ames de terminar o re- querimento. Mas tente algo mais concreto, mais próximo, como por exemplo, melhorar a qual.dade de vida na cida- de, e você verá como surgirão facilmente obstáculos na sua frente, como logo a política local se vai intrometer. Assim é a democracia. Chefes de governo, como todos os outros, esão inieressad:s principalmente em seu próprio bem-es- tar. O povo que vá para o inferno. Bem, grandes idéias como a minha são simples e se tornam óbvias depois de realizadas. Mas se você é o primeiro a por em prática uma idéia, já sabe o que te espera. Você será chamado de pe- rigoso, jogado na cadeia, ou como eu, será como louco trancado em Long Island. Mas felizmente tenho minha fa- çanha para me confortar. A Lei Cohen de Exclusão de Ca- chorros foi aprovada pela Câmara de Vereadores. Meu úni- co pesar é que não a chamaram de Lei Seymour Cohen de Exclusão de Cachorros, pois estou certo que os outros Cohen estão nesse momento afirmando serem responsáveis pela lei, lutando pela honra, assumindo o crédito, enquanto eu apodreço em Long Island, Impossibilitado de divulgar a seqüência de acontecimentos de maneira correta.

Os cachorros sempre me perturbaram muito. Eu es- crevia cartas para todos os chefes de departamentos. De al- guns até recebia respostas. Obrigado por seu interesse. Nós iremos examinar sua queixa, e será informado ime- diatamente, se algo respltar da nossa investigação ou se precisarmos outros detalhes de sua parte. Mas por favor, não entre de novo em contato conosco, a não ser quando solicitado. Os assuntos oficiais da cidade requerem tanto tempo e esforço, que novas cartas a respeito de tópicos não solicitados representam um fardo Insuportável para o nosso tão limitado quadro de funcionários. Sinceramente, seu Comissário Platz.

As condições no entanto pioravam cada vez mais. Para onde se olhava havia merda de cachorro. De manhã, jovens senhoras que moravam em diversos prédios de minha rua, andavam com os seus pastores alemães pelas calçadas, praças e ruas. Alguns dos cachorros corriam soltos, outros estavam presos pela corrente, mas todos eles, o tempo to- do, farejando, latindo, cagando e mijando. As donas fica- vam fcfocando, e certos homens, tenho certeza, compra- vam cães com o único propósito de encontrar garotas. Eu podia até imaginar seus papos agradáveis, enquanto seus cachorros soltavam montinhos malcheirosos aos seus pés. Mas eu não sou hipócrita. Nã^ posso esconder meus sen- timentos. Não consigo compreender como pessoas tagare- lam animadamente enquanto seus cachorros cagam em torno.

O quarteirão onde eu morava começava a ter um cheiro caraclerístico, um cheiro que predominava na cidade toda — o fedor cole:ivo de me:da de cachorro, mas parecia-me que minha rua tinha um odor próprio, inconfundível, que nossos cachorros comiam uma certa ma-ca de comida ca- nina ou sofriam de um cerio tipo de neur.se que resultava num adocicado, bolorento e nojento fedor.

Eu tomei contato com gente da minha rua. Primeiro com Wooíer, o psiquiatra, que metido num largo terno cin- zento e despersonalizado, andava pelo quar eirão todas as manhãs, sempre junto com seu pastor alemão.

— Como você pode supori.ar is.o? — perguntei. — Teu cachorro cagando à vontade. Bosta por toda parte. Não é revoltante? Imagine se eu fizesse a mesma coisa.

— Você tem um complexo merdal — disse ele, e com- pletou:

— Com fixação anal. Relaxe. Livre-se da sua cole- ção de moedas. Aprenda a aceitar sua própria merda e a merda dos animais.

— Nunca! Deve haver outra alternativa. Um lugar para levá-los. Em cima dos telhados. To.letes. Mictórios ca- ninas.

Woofer riu. E continuou andando, puxado por seu enor- me cachorro.

Eu tentei aproximar-me de algumas jovens proprietárias de cães, mas elas coravam e não me davam resposta. Uma, num suéter amarelo e saia de couro, magra com uma ca- rinha b ba, mandou sua fera em cima de mim.

— Atacar, Ringo. — Ela ordenou e eu fugi em desa- balada carreira, conseguindo fechar a porta de casa no nariz dele.

Todo santo dia pisava em bosta canina. Até sonhava com isto. No trabalho me preocupava, tentando achar uma saída. Um dia, depois da pausa para o café ter terminado,

eu estava indo ao banheiro para re'.ardar um pouco mais a chatice do trabalho, e neste ins.ante achei a solução tanto esperada. Eu iria mijar no chão como um cachorro. Eu imaginei todos fazend i is.o. Nós prec,seriamos de um fa- xine.ro com um esfregão e balde.

— Ei, rapaz. — nos grua,íamos e um homem de uni- forme brarxo v.ria diligeniemen.e correndo. Finalmente fui ao banheiro. O esc.-uór.o não era o lugar certo. A rua era melhor, mais dramática. Todcs iriam ver. Pensei c m meus botces. Uma imensa campanha. Verdadei.os comícios no Madison Square Garden.

Na manhã seguinte saí de casa às 8 horas, no auge da atividade canina. Eles já lá eslavam passeando, cagando, mijando, latindo, brincando, caçando bolas e pedaços de pau. Fui para uma árvore no meio da quadra e abaixei minha calça, tirando em seguida a cueca, e me abaixei na posição adequada. Uma garota por perto arregalou os olhos.

— Saia daí, Fang. — ela chamou. Cabeças despontaram das janelas gritando: — Pare com isto, pervertido. Uma menininha eni:e risos falou: — Mamãe, o h-mem está fazendo cocô. Eu não me apressei. Continuei agacVado. Um carro

policial virou a esquina, chegando tão rapidamente como se eu tivesse matado um policial. A garota que me viu pri- meiro, toda consternada, contou o que tinha acantecido. Woofer também estava lá. "Neurose anal", disse ele para a polcia e sacudiu a cabeça.

Os tiras correram em minha direção. Eu estava neste momento enfiando a camisa dentro da calça. Os dois po- liciais usavam bigodes, longas ccstelelas e tinham um ar de cultivada urbanidade. Certamente tinham freqüentado cursos de relações humanas.

— Foi o senhor quem fez isto? — perguntou-me um dos policiais polidamente, sua mão indicando o montinho de bosta.

— Eu não o nego. — Ora, ora, isto é contra a lei, cavalheiro. Vejo-me

forçado a lhe dar uma intimação. Ele olhou para o seu colega: — Que motivo devo dar? Escândalo, perturbação da

ordem, obscenidade? — Ponha tudo isso — disse o outro. Ele preencheu a intimação e a estendeu para mim. — Não faça isto de novo. O senhor arranjará encren-

cas. Atendi prontamente a intimação comparecendo no tri-

bunal, e lá distribui declarações xeroxadas explicando mi- nha pcsição. Eu tinha preparado isto secretamente no meu escritório. SE CACHORROS PODEM, PORQUE HOMENS NÃO?

A sala do tribunal estava totalmente cheia. O juiz se parecia com Woofer, mas era mais imponente devido à toga. Contudo, eu adivinhava que por baixo daquele manto, havia um terno largo.

— Seymour, o senhor cometeu um ultraje à moral pú- blica — disse ele.

Eu lhe estendi minha circular. — Maldição, o senhor é maluco. Da próxima vez vai

para a cadeia. Ele me multou e bateu o martelo. A assis'ência começou a brigar e gritar. Lá fora, na

escadaria, as pessoas vieram ao meu encontro. — Nós estamos com v-cê — eies gritavam. Eles ma

elegeram presidente. Na manhã seguinte minha rua estava cheia de jornalis-

tas e cpe adores de televisão. Uma dúzia do meu grupo se colocou diante de árvores, puseram-se de cócoras e co- meçaram a cagar. Carros de policia vieram de todos os lados. Os flashes espccaram fixando a ação.

— Peguem o Cohen — ordenou o capitão. Eles me algemaram e puseram dentro do carro policial. Em Belle- vue, Woofer preencheu os papéis.

— Vocês não nos podem parar — grilei. — Isto está fora de controle.

— Paranóico anal — ele gritou raivoso. Eu li a respeito na biblioteca do hospital em números

airasados de Tne Times. Dois dias depois de minha prisão The Times publicou um editorial sobre o problema da mer- da de cachorras. Provou que havia evidente relação com câncer, asma e c ime. Milhares de participantes de uma demonstração cagaram no Central Park. A disputa cresceu com cada vez mais gente tomando partido. Ambos os la- dos usavam distintivos. Um mostrava um homem cagando, O outro, a slhuela de um Scotty.

O movimento para banir cs cachorros estava ganhando, e o Prefeito veio ver-me no hospiial. Ele lembrava Woofer, apesar de ser maior e mais simpático. Seu terno era bem cortado, mas ainda assim era um pouco largo.

— Minha carreira está ameaçada — disse ele. — Você é o único que me pztíe salvar, Cohen. Abjure o que você fez e eu não precisarei tomar posição. Posso indcar você para as Nações Unidas. Qualquer coisa que você quiser.

Eu lati para ele, tirei meu uniforme de hospital e co- mecei a cagar.

Ele renunciou ao cargo antes da lei ser aprovada. Os poI;cia:s estão prrcurando cachorros o melhor que

podem. Uns mil homens tre:nados foram acrescentados pa- ra a Corporação Policial. Naturalmente, esta é umq tarefa lmposs:vel. Alguns cachorros sempre serão escondidos pe- los donos mais teinrsos. Mas assim os cachorros ficarão denfo de casa. Nai vai haver mais merda de cachorro na cidade. Eu quase não posso esperar para sair daqui e ver isto com meus próprios olhos.

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A violência é um'tema eterno. Dois terços do noliciário dss jornais diários mais conspícuos tratam nas suas seções políticas, comerciais, policiais e esporti- vas — direta ou indiretamente — da vio- lência como traço fundamental de nossa sociedade.

E esta violência cresce com a mesma rapidez, ou quem sabe mais depressa ainda, que os avanços nos campos da cultura e da ciência.

O surto de violência crescente provo- cou muitas explicações sociológicas, psicológicas, etc, provocou inclusive muitas explicações muito pouco lógicas. Em artigo anterior já firmei meu ponto-de-vista de que a violência se ex- pande, acompanhando em curva violenta, a expansão populacional, por ser em boa parte (não é motivo exclusivo) conse- qüência de elevada fricção social das áreas superpovoadas.

Superpopulação é um termo relativo, pois cada estágio social comporta certo e determinado optimum.

Assim no estágio do homem primi- tivo, que vive da caça, pesca e coleta, em região de fertilidade média, é neces- sário dispor de cerca de 10 km2 per ca- pita, para uma tranqüila satisfação das necessidades.

Qualquer aumento populacional co- meça a induzir os caçadores a ultrapas- sar os limites tribais, o que ocasiona fricções, combates, lutas e mortes.

Quanto maior o crescimento populacio- nal, maior o número de incidentes. Ve- jam bem, não quero afirmar que o au- mento da população é causa única da violência, existem outras causas de con- flitos de natureza biológica, psicológica e social. Mas o crescimento populacio- nal é o fator mais constante, mais fácil de medir e relacionar e afinal a causa primordial da violência. Porque mesmo para que quaisquer outras causas pos- sam agir, a presença física, o encurta- mento das distâncias entre as pessoas, é indispensável.

Mas vamos examinar a questão ini- cialmente, numa situação padrão de uma sociedade de caçadores primitivos, onde cada grupo familiar de déz. componentes

tem uma disponibilidade de 100 km2, is- to é do tal optimum de 10 km2 per capita.

Nâ situação inicial, como todos grupos pcpulacionalmente estáveis e dispondo do território necessário para suas neces- sidades, haverá uma violência padrão in- tergrupal, uma violência resultante dos mais diversos motivos, que nós, na aná- lise matemática seguinte denominaremos de a.

Com o aumento populacional, há em escala crescente uma violação mútua dos territórics tribais, o que de acordo com fórmula criada por Arthur Ronald de Vallauris leva à seguinte progressão:

10 hab/100 km2 violência a

11 hab/ a.1,23

12 hab/ a.1,52

13 hab/ a.1,87

14 hab/ a.2,28 15 hab/ a.2,75

16 hab/ a.3,28

17 hab/ a.3,87

18 hab/ a.4,52

19 hab/ a.5,23

20 hab/ a.6,00

Quer dizer, quando a população do- bra, a taxa de violência se multiplica por seis.

Existe pouca estatística sobre as in- ter-relações de sociedade primitivas, mas tod:s os estudos feitos em sociedades modernas de caçadores confirmam apro- ximadamente estes números.

A pergunta que resta é até que ponto este mesmo raciocínio se adapta às so- ciedades modernas. Será que dentro dos nossos ambientes urbanos, o dobrar da densidade populacional também corres- ponde a um sextuplicar da violência? Evidentemente o assunto não é tão sim- ples. Não é possível transpor sem mais nem menos, os raciocínios que aplica- mos às sociedades primitivas para as comunidades urbanas modernas.

Mas a inter-relação densidade popu- lacional — viclência incontestaveimente continua, e pelos fatos conhecidos, a re- lação numérica não deve ser muito di- ferontQ

Julgou-se há algum tempo, que nas sociedades desenvolvidas a melhoria das condições sociais e econômicas seria o suficiente para a criação de sociedades pacíficas e condições de segurança co- letiva favoráveis.

Os surtos de violência que varrem o mundo e do qual participam cada vez mais jovens das classes chamadas mé- dias, desmentem estas previsões.

A história parece ensinar que a pres-

são populacional leva a conflitos e que estes conflitos só se resolvem quando se consegue alcançar um novo estágio de convívio social. Só aí, a fricção so- cial diminui e a temperatura social se normaliza — só aí há paz e segurança.

A busca desta era pós-industrial, onde o convívio pacífico de elevadas con- centrações humanas seja possível, é uma das imposições do momento. É o desafio para as próximas décadas.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 .¥f9 1í Página 16

FANDANGO O Brasil, com seus sete mil quilômetros de costa, é um

país de escassa consciência marítima. São raros os países do mundo, que proporcionalmente à sua extensão costeira, utilizam tão pouco o mar.

Diante desle fato é de estranhar que mesmo nos ser- tões longe da orla marítima conseguiu sobreviver um auto de marujos.

Este auto de marujos é nosso Fandango de antigas tradições e que existe, ou ao menos existia no Brasil todo, de norte a sul.

Este auto de marujos tem diversos nomes: No Sul, co- nhece-se sob o nome de Fandango, um baile gauchesco, é o Fandango-dança, enquanto o auto de Marujos é cha- mado Marujada. Na Paraíba tem o nome de Barca. No res- to do Brasil o Fandango-auto confunde-se com a chegada de marujos ou até com a chegada de mouros.

A origem do Fandango reiaciona-se com a Nau Cata- rineta, do romanceiro de tradições portuguesas.

A Nau Catarineta de acordo com Pereira da Costa é um navio que partiu em 1565 do Norte do Brasil rumo a Lisboa. Outros transferem este episódio para bem antes, relacionado ainda com o começo das navegações portu- guesas, antes da descoberta do Brasil.

De qualquer maneira, neste auto de marujos com 24 jornadas, conforme a tradição medieval, aparece quase sem- pre como uma das partes centrais, a história da Nau Ca- tarineta, a partir da sua partida e com todos os contratem- pos da viagem, neste navio que se perdeu pelas ondas:

Ora, da Nau Catarineta Dela vos quero contar: Sete anos mais um dia Andou nas ondas do mar Não tinha lá que comer Nem mais que para manjar Deitaram-se solas de molho Para ao domingo jantar. A sola era tão dura Não a puderam tragar. Deitam sortes à aventura.

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Pra ver quem se há de matar. Logo foi cair a sorte No capitão general.

I Sobe, sobe, marujinho, Àquele topo real. Vê se vês terras de Espanha Ou praias de Portugal.

Geralmente nos Fandangos, há uma série de cenas ma- rítimas, que muitas vezes culminam com um assalto dos mouros. Em outros Fandangos e no próprio episódio da Nau Catarineta há já modernizações, transferindo o episó- dio para a Marinha Imperial, citando inclusive Tamandaré.

Quando se inicia um espetáculo de Fandango numa praça pública do interior, chegam os atores puxando a mi- niaiura dum navio a velas e cantam algo deste tipo:

Marinheiros somos Marujos do mar Suspende o ferro, força nas velas é a ordem do capitão.

Uma das figuras principais do auto é o gajeiro, cuja função é vigiar da gávea, os mares em torno e as eventuais terras a surgir no horizonte. Nos Fandangos completos de 24 jornadas, o número de figuras que aparecem é muito grande, pois cada jornada conta um novo episódio.

Mas a Nau Catarineta continua sendo tema central e as próprias personagens deste famoso romance de origem portuguesa, reaparecem mais tarde em outras aventuras.

Nos Fandangos há também episódios cômicos, onde aparecem como figuras principais Vassoura e Ração, dois marujos que prestam serviços na limpeza e na cozinha res- pectivamente. Estes declamam versos e contam pilhérias animando o espetáculo.

Neste nosso processo de formação de um novo teatro nacional e popular, o Fandango é mais uma fonte a ser usada. Este renascer de um Fandango literário dentro do nosso teatro, poderá inclusive coincidir com a nova cons- ciência marítima que está nascendo, com esta nossa de- cisão de tomar pcsse dos nossos mares costeiros e dos seus recursos naturais.

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A nossa finalidade no caso, não é só conseguir novos assinantes, mas tam- bém lançar sementes, espalhar o nosso Ideário, porque embora nosso jornal ho- je esteja presente em milhares de bancas do Brasil e do mundo, quanta gente não passa indiferente diante das coisas e nem enxerga o que está diante do seu nariz. Ou enxerga, e lê — ABERTURA — e acha que está na hora do fecha- mento, vai fechar o escritório para to- mar uma caipirinha — ou perdão — um uisqui on the rock.

Então gente vamos ne^ta — e se vo- cês quiserem aproveitar e dizer algo so- bre o jornal umas críticas construtivas ou destrutivas, uns elogios rasgados, estão convidados para esta também. A me- lhor pixação e a melhor loa serão pre- miados cada uma com um pacoíão de livros! Tá?

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Página 18 ABERTURA CULTURAL ANO 2 N? 19

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MONANGAMBA Naquela roça que não tem chuva é o suor do meu rosto que rega as plantações.

Naquela roça grande tem café maduro e aquele vermelho-cereja são gotas do meu sangue feitas seiva.

O café vai ser torrado pisado, torturado, vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam, aos regatos de alegre serpentear e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo? quem vai à tonga? Quem trás pela estrada longa a tipóia ou o cacho de dendêm? Quem capina e em paga recebe desdém fubá podre, peixe podre, panos ruins, cinqüenta angolares porrada se refilares?

Quem?

ANTÔNIO JACINTO (ANGOLA)

Quem faz o milho crescer e cs laranjais florescer — Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar máquinas, carros, senhoras e cabeças de preto para os motores?

Quem faz o branco prosperar, ter a barriga grande — ter dinheiro? — Quem?

E as aves cantam, os regatos de alegre serpentear e o vento forte do sertão responderão:

— Monangambéée...

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

Deixem-me beber maruvo, maruvo e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

— Monangambéée...

Para Além

da Desespere OVÍDIO MARTINS

(Cabo Verde)

Para além do desespero... Apenas a criança Numa paisagem de nada.

A sua boca não ri (Nunca soube que uma boca de criança foi feita para rir)

Os seus olhos não choram (Não há lágrimas para além do desespero)

Os seus pés não correm atrás de borboletas e as suas mãos não abrem covas na areia. (Não há borboletas nem areia numa paisagem de nada).

Para além do desespero... Também minha revolta com cadeados nos pulsos.

Madrugada HAMILTON CARVALHO DE MELO

(Goiânia GO)

Madrugada. Vazio. Apenas grilos remotos e o tique-taque do relógio me abordam. Frio. Em suspenso meu grito. Sob o forte silêncio nada me acontece. Grilos e o relógio na estampa da loucura. (Há outros ruídos mas não os defino. Acontecem por si, e longe.)

Visa ao HELENO MOTTA

(Pouso Alegre MG)

CAMPOS FRANCISCO IGREJA

(Rio de Janeiro)

o trigo os campos os campos sem trigo de concentração as áreas de revolução

o louco louro a lâmina que ceifa o louro dos rostos no páíido dos campos no cálido dos ventos de cheiro do norte com tantos, cheio mortos sem cantos

Trago nos olhos o ódio do pai, no ventre a melancolia da mãe. Nos músculos o deslumbramento da criança que acordou vendo a luz. No cérebro lenho a dor de ver que a luz é o chiqueiro; e o ser humano é o barro, mole e pegajoso. Tenho nos olhos a visão da sujeira, no ventre no chiqueiro do mundo. ficou a negação de um futuro barro

O RIO CARLOS AA DE SÃ

Lá vai o rio levando a canoa que leva a rede pro peixe buscar.

Lá vem o rio i trazendo a prancha que traz a farinha torrada e carolo, que traz das ilhas os latões de leite pro povo graúdo que pode comprar.

Lá vai o rio levando a boiada pras ilhas verdinhas o robalos em cardume que voltam ao mar após desovar.

Lá vem o rio trazendo mulheres de peitos caídos de bocas sem dentes que trazem seus filhos de ventres crescidos de cera amarela sem sangue, sem riso, pra ver o doutor.

Lá vai o rio arrastando o barro que trouxe do sul lá de onde as mulheres de peitos empinados tem filhos corados que sabem sorrir.

Lá vem o rio trazendo afogados de olhos parados voltados pro céu.

Lá vai o rio brincando com as lanchas que embandeiradas conduzem São João.

Lá vai o rio lá vem o rio sempre o mesmo nunca o mesmo eternamente a passar.

Do livro "CANTO TENTADO" de Car- los AA. de Sá.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 19 Página 17

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RE NUDO

Extraído da revista RE NUDO, filiada ao APS — Sindicato da imprensa Alternativa. Endereço de RE NUDO: CP. 1526 — MILANO — Itália.

Minha Piscina Minha Bunda tfS*

Vandré INÊS MAFRA

(BRUSQUE, SC)

As luas canções foram as sementes Que flutuaram no campo Para um dia florir (Malditos serão os que pisam nas flores!) As tuas canções foram os sonhos Que marcaram mil passos Em mil diferentes ruas Em busca do mesmo chão (Malditos serão os que pisam nas flores!) As tuas canções foram as estrelas Que iluminaram na noite negra O caminho dos homens tristes (Malditos serão os que pisam nas flores!)

As tuas canções são tão belas! As tuas canções são tão tristes! As tuas canções são tão fortes! As tuas canções são flores eternas!

(De um anjo simples) Malditos serão os que pisam nas flores! Para sempre malditos!

Inês Mafra é co-editora do COGUMELO ATÔ- MICO, o pequeno-grande jornal alternativo de Brus- que para o Brasil e o Mundo.

Tomem contato com o COGUMELO ATÔMICO — Caixa Postal 179 — 88350 — Brusque — SC.

Quietud ERNESTO FLORES (BUENOS AIRES)

Mis ilusiones despejan Ia plenitud dei dia, y los aspectos se apropian de Ia dulce calma.

Mientras, crecen los nidos, cubiertas de paz, testlgos dei tlempo mágico.

Abro Ia ventana vertical de Ia esperanza, y veo a Ias hadas reposar, sobre Ia múltipla Intención de los encuentros.

Qulén saldrá a Ia medianoche para canlarle ai silencio hasta que desplerta ei sol?

Tal vez manana se sucedan naturales bautismos de ternura, entre un amanecer Inédito de liberdades totales.

Tal vez, entonces, descubra a mis duendos ebrios de alegria y bailando desnudos sobre Ia vida misma.

Extraído do jornal CAMINANDO (APS) Casula de Correo Central 625 — 7600 — MAR DEL PLATA — ARGENTINA.

Papo de Marginal (BALADA PARA A PRISÃO DOS SONHOS)

LUÍS (BRUSQUE, SC)

^^sr-' mp% '^ i Suporta negro (mais negro que Hendrix) o pesadelo de sentir uma cela que nem ratos se metem a besta de passar perto Guardiões das chaves Duro destino lavar as mãos com sangue de irmãos Música triste o bater da porta de ferro

Ao longe os sinos anunciando (soam como cantigas de ninar) a chegada de um caixão conduzindo alguém que escapou do calabouço

Em nome do Pai, do Filho e do... Podem baixar o caixão Sete palmos apenas.

O COGUMELO ATÔMICO fixou o nome de Brus- que no mapa da Imprensa Alternativa do Mundo. Luis — o autor do poema acima — é um dos luta- dores do Cogu. Avante COGU — continue mostran- do a garra e a penetração da Imprensa marginal.

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de o futuro da humanidade. RESISTÊN- CIA ECOLÓGICA é uma associação de âmbito nacicnal, liderada por Otto Bu- chsbaum, Florence Buchsbaum, Bastos Mello, Ruiz Llabrés, Tales Lima e outros, que se propõe defender o nosso meio- ambiente, do avanço rapinante do pseu- do-progresso.

Vamos salvar a natureza, a espécie hu- mana, e o conjunto das espécies vivas. A agressão da poluição, a enxurrada de produtos químicos, pesticidas, aditivos aos alimentos, ameaça envenenar o ar, a água, a terra e todos os organismos vivos.

De todas formas de poluição, a mais perigosa, mais definitiva, mais mortífe- ra, é a poluição radioativa. Esta afeta a vida como um todo, através dos efei- tos genéticos ameaça a nossa própria condiçãD humana, atacando diretamente nosso organismo, pode causar câncer, leucemia, e acelera o processo biológi- co do envelhecimento. Além disso as usines nucleares são uma constante ameaça de enormes catástrofes.

Contra todas estas ameaças a RESIS- TÊNCIA ECOLÓGICA organiza a sua ação. É um combate sem tréguas. Pre- tendemos intervir decisivamente neste processo de degradação do ambiente natural e também degradação da vida humana.

É uma luta em favor da vida. E esteja certo — vamos fazer história.

Nesta luta necessitamos da colabora- ção de todos.

Inscreva-se você também! PARTICIPE! Tem quatro categorias diferentes de

sócirs: Sócio Militante Sócio Contribuinte Sócio Fundador Sócio Correspondente (para quem re-

side no exterior) Informe-se com relação às modali-

dades Tenha você também sua carleiri- n^n HQ memb-o da RESISTÊNCIA ECO- LÓGICA — seja você também um parti- cipante na luta por um mundo melhor.

A humanidade está numa encruzilhada. A hora é de participar. Escreva para: Caixa Postal 12.193 —

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 19 Página 19

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ENERGIA NUCLEAR: Reatores Atômicos Ameaçam Segurança

Este tipo de construção deveria, no entanto, set de especial significação para todos os aspectos de segurança, caracterizados com alguma reserva como "influências de fora", como quedas de avião, ativi- dades terroristas e implicações bélicas.

Naturalmente, é possível fazer o concreto do in- vólucro de segurança tão forte que um avião não pos- sa provocar um dano sério em caso de acidente. Os outros dois problemas proporcionam, todavia, mui- ta dor de cabeça aos responsáveis. Especialmente a capacidade de defesa de uma Alemanha Federal co- berta de uma densa rede de reatores é constante- mente posta em dúvida. Recentemente, a comissão consultiva do Ministério da Pesquisa © Tecnologia exigiu que se examinasse acuradamente a compatibi- lidade entre a estratégia de reatores e a estratégia militar.

As usinas nucleares parecem-se a modernos ca- valos de Tróia, «om os quais o agressor, com o uso de armas convencionais, pode provocar conseqüên- cias semelhantes às de uma guerra nuclear.

O presente artigo foi publicado originalmente no jornal alemão "Die Welt" (O mundo) de 6 de abril de 1976 e posteriormente reproduzido no número de maio da "TRIBUNAL ALEMÃ — RESENHA MENSAL DA IMPRENSA ALEMÃ, uma publicação oficiosa do governo da República Federal da Alemanha. Trata- se no caso de um artigo munto "moderado", que nem de longe reflete as condenações e as profundas res- trições dos círculos científicos mundiais contra a energia nuclear. O fato que o próprio Ministério de Ciências e Tecnologia da República Federal e também o próprio SPD que é o partido do governo, ter nos fornecido amplo material pró e contra a construção de usinas nucleares, demonstra claramente a Inten- ção de manter livres todos circuitos de informações e de tratar mesmo de um assunto científico, com tão amplas implicações políticas, com isenção de ânimo e espírito democrático. Queremos aqui ressaltar nova- rnente o nosso reconhecimento a Herbert Wehner, lí- der da maioria no Bundestag (Parlamento alemão) que coerente com suas convicções democráticas e sua profunda vocação humanística, tem nos dado a máxima e mais cordial atenção, apesar de tão sobre- carregado com assuntes relacionados com as próxi- mas eleições parlamentares. Quero também agrade- cer as atenções de Herbert Gruhl, também membro do parlamento alemão, que milita na oposição democra- ta cristã e que é autor de um livro muito Importante "EIN PLANET WIRD GEPLUNDERT" (Um planeta é saqueado) — Editora Fischer 1975. Não estende- mos estes agradecimentos a outros deputados do parlamento alemão, nem queremos citar seus nomes, pois trata-se de amigos pessoais em parte de amigos de infância e juventude do nosso editor Otto Buchs- baum. pois como Otto sempre diz: A amigos não se agradece, a solidariedade e o atendimento mútuo é algo totalmente natural. Inscrito com letras indelé- veis na nossa alma.

O governo alemão, o parlamento, o SPD, a co- missão "Reaktorslcherheit und Strahlenschutz" (Segu- rança dos Reatores e Proteção contra as Radiações) e outras entidades alemãs que tem nos fornecido ma- terial que reflete a profunda preocupação com rela- ção aos reatores, e mesmo em certos casos uma opo- sição forte e decidida contra todo tipo de energia nu- clear, é especialmente significativa, pois todos tem consciência que o movimento RESISTÊNCIA ECOLÓ- GICA é fronlalmente contrário a energia nuclear e ao acordo Brasil-Alemanha a respeito. Apesar de sa- berem que este acordo é de considerável Importância para a Indústria e a exportação alemã, tendo já rece- bido o apelido de "Geschaeft des Jahrhunderts" (ne- gócio do século), todas estas entidades alemãs fazem

questão em manter com RESISTÊNCIA ECOLÓGICA um contato em alto nível. Até que ponto esta cola- boração democrática, chega, nossas leitores poderão avaliar por um artigo de caráter muito incisivo e es- clarecedor do Dr. Frank Haenschke, cientista, profes- sor universitário e parlamentar no Bundestag da ban- cada do SPD, artigo este que recebemos da Alema- nha de fonte governamental e que publicaremos no próximo número.

O significativo é como este conjunto de atitudes da Alemanha Federal, contrasta com as posições da alta direção da Nuclebrás. Nas declarações esta- pafúrdias do presidente da mesma, ignora-se total- mente qualquer risco ambiental, qualquer possibilida- de de catástrofe. E ainda mais: Para o presidente da Nuclebrás não há nem necessidade de construir em terno dos reatores as tradicionais cúpulas de cimen- to armado, pois ele acredita que no Brasil não há ris- cos de segurança relacionados com terrorismo, guerra ou queda de aviões. Ele ignora no caso que as tais cúpulas de cimento armado também se destinam a diminuir as radiações que atravessam a blindagem além de outros fatores de poluição. Para o presiden- te da Nuclebrás, a hora é de economizar, que os ris- cos cuidem dos riscos. Com estas "economias" a al- ta direção da Nuclebrás quer adequar os custos de construção dos reatores e do KWH produzido a suas fantasiosas previsões, há muito ultrapassadas pela realidade. Há no caso duas eventualidades: Ou a Nuclebrás e suas sôfregas subsidiárias querem cons- cientemente enganar o público ou esião totalmente e catastroficamente mal informadas. Temos a impressão que os dirigentes da Nuclebrás, na sua inocência, vivem dentro de uma nuvem cor de rosa de um otimis- mo lírico. Num ambiente dos "Sonhos de uma Noite de Verão". No Brasil é regra que "o hght man on the right place" (o homem certo no lugar cento), ra- ras vezes se transforma em realidade. A equipe diri- gente da Nuclebrás talvez estaria muito Indicada pa- ra dirigir com invulgar sucesso uma ÓPERA, onde poderiam continuar a sonhar e transmitir estes so- nhos a um público, igualmente enfadado com a rea- lidade cinzenta.

Só que os sonhos dos dirigentes da Nuclebrás são extremamente perigosos para a população. Angra des Reis, que deverá ser a primeira vítima do delí- rio nuclear, fica em linha reta a apenas 100 km do Rio de Janeiro.

Agora, bem de mansinho, como quem não quer nada, a Nuclebrás comunica que em Sepetiba será instalada uma usina que vai preparar o combustível nuclear. A distância de Sepetiba já é apenas de cer- ca de 50 km até o centro do Rio. Todas fases do ciclo da energia nuclear, desde a mineração, bene- ficiamento de minerais, separação dos isótopos, pre- paração do combustível nuclear, operação, dos rea- tores, reciclagem dos resíduos, guarda dos resíduos etc, etc. oferecem os seus perigos bem reais. O pró- prio complexo nuclear de Angra dos Reis, se entrar em funcionamento, representará um perigo potencial, sempre presente mesmo para a população carioca. Instalar uma usina de preparação do combustível nu- clear em SEPETIBA, significa aproximar-se das áreas densamente povoadas do Rio com bota de sete léguas. De Sepetiba às áreas muito habitadas d© Santa Cruz e Campo Grande há mal 10 quilômetros.

As almas de artistas (apreciamos muito estas voca- ções artísticas quando atuam no lugar certo) que di- rigem a Nuclebrás, deveriam desconfiar, que as ad- vertências, que vem do mundo inteiro, que todas Ins- talações atômicas tem que fugir das concentrações urbanas, devem ser levados em conta.

(Continuação da última página)

Não adianta querer dirigir uma empresa de cará- ter tecnológico, como a Nuclebrás, ao som sem dú- vida inspirador da V Sinfonia de Beethoven, A rea- lidade tem que ser levada em conta. Será que a Nu- clebrás já está pensando na viabilidade de uma eva- cuação da cidade do Rio de Janeiro, se algo aconte- cer no complexo termo-nuclear de Angra dos Reis? E no caso de eventuais transtornos na projetada usina de Sepetiba? Sem dúvida a manipulação do combus- tível nuclear é bem menos perigosa do que os reato- res em funcionamento. Mas sempre pode haver es- capes radioativos, infelizmente o homem é falível e suas obras, mesmo as mais bem feitas, são falíveis também. Já pensaram que medidas devem ser toma- das para proteger as populações nas áreas próximas que incluem Santa Cruz e Campo Grande? Isto são questões concretas, que não podem ser enfrentadas nem com trlunfalismo, nem com o A.l 5, nem com os lindos "Sonhos de uma Noite de Verão".

Outro aspecto não pode ser deixado de lado: Em contraste com a total Abertura ao debate da República Federal da Alemanha, que encara todas posições de um prisma de participação pública, de concórdia, de uma democracia real — temos a posição nacional — o regime autoritário se infiltra em todos os poros da vida no país. Apesar da natural vocação do nosso povo para a liberdade, os debates sobre os perigos da questão nuclear, estão sendo restringidos de cima para baixo, e muita gente pergunta, bem baixinho, se este tema, que constitui uma decisão do executivo, em geral pode ser posto em discussão.

O debate em torno da chamada utilização "pa- cífica" da energia nuclear, tem que ser travado a res- peito disso não há dúvida, em escala nacional. E não se trata de um tema que possa ficar restrito a discus- sões em círculos fechados, científicos, políticos e de grupos de pressão. O debate em torno da energia nuclear. Isto já se descobriu nos países que já so- frem as conseqüências desta techologia, tem que abranger a nação como um todo, com a participação não só do cidadão individualmente, mas das igrejas, das comunidades culturais, das universidades, das or- ganizações estudantis e sindicais. O assunto é muito mais moral do que científico. Que os riscos existem ninguém, nem o mais fanático defensor da indústria nuclear a tedo custo, ousa negar. Predizer o volume das conseqüências e as taxas de risco, é praticar fu- lurologia com dados muitíssimo insuficientes. Os ris- cos alcançam as gerações presentes e futuras, os efeitos das radiações podem permanecer por centenas de milhares de anos. O caminho do átomo é um ca- minha sem volta, pois uma vez criada a radioativi- dade, esta não pode ser eliminada por nenhum proces- so atualmente ao nosso alcance.

Nenhum governo, nenhum parlamento, nenhum ti- po de representação dos cidadãos pode assumir uma responsabilidade que transcende todos os parâmetros costumeiros. Pelo certo, a própria decisão a respei- to, por parte das gerações atuais, é do ponto de vista moral extremamente temerária. Pois a não ser que haja um ciclo de catástrofes atômicas totais no de- correr da nossa existência, o grosso do fardo da ra- dioatividade será suportado pelas gerações futuras, pelos que ainda não nasceram, pelos nossos filhos, netos, por longínquos descendentes, que infelizmen- te não podemos chamar para participar do debate, mas com relação aos quais temos uma Indeclinável responsabilidade.

1 I Chamamos a todos para acordar para a realidade. Isto é uma luta em defesa da vida. AVANTE RESIS- TÊNCIA ECOLÓGICA! Participem: Escrevam para Cai- xa Postal 12.193 — ZC-07 — Rio de Janeiro.

Page 19: TECNOCRATA - O BOBO DA COBTE - cpvsp.org.br filegebreltet, dlskutlert und gewertet wird, und wenn alies reportagem getan wlrd, um der Energleverschwendung zu begegnen. Tradução do

0 ^ CULTURAL ^.

ENERGIA NUCLEAR

Reatores atômicos ameaçam segurança HEINZ HECK

Edward Teller, a quem se atribui a invenção da bomba de hidrogênio e que realmente não está entre os contemporizadores em questões de energia nu- clear, teve, há alguns anos, uma controvérsia com o seu empregador, a então Comissão Americana de Energia Atômica: já que era preciso implantar uma indústria nuclear civil, dever-se-ia, segundo Edward Teller, transferir os grandes reatores de usinas o mais rápido possível para o subsolo.

Entrementes, no entanto, o desenvolvimento da indústria nuclear, amplamente visível e fortemente controvertido, se verificou acima do solo. O respeito dos especialistas em armas diante dos grandes reato- res de usinas parece justificado. O inventário das substâncias de fusão radioativas ultrapassa em mais de mil vezes, após alguns anos de funcionamento, a radioatividade liberada na explosão de uma bomba atômica. Segundo o relatório de prestação de contas do Ministério do Interior sobre a segurança de insta- lações técnico-nucleares, a liberação de uma parte deste inventário radioativo teria como conseqüência, nas regiões densamente povoadas da Alemanha Fe- deral, "que poderiam ser atingidas 100.000 ou mais pessoas e ocorrer danos de bilhões de marcos pela contaminação radioativa do ambiente".

Entretanto, a técnica de 'reatores atingiu tal pa- drão que semelhantes casos de verdadeira catástrofe, embora não possam ser excluídos são considerados extremamente improváveis. Em todo casa tão impTO- váveis que o "risco restante" parece aceitável para governos e autoridades de controle.

Ao mesmo tempo, na roleta nuclear dos cálculos de probabilidade, permanece um resto de mal-estar. Pois, após a ocorrência eventual de uma catástrofe, dificilmente a idéia de sua raridade servirá de conso- lo. Este mal-estar é também a linha diretriz para a escclha da localização, na qual se deveria atentar para escassa densidade populacional — um em- preendimento difícil, na Alemanha Federal. No perí- metro de 20 quilômetros das usinas nucleares de Bí- blís e Mülheim-Karlich, a densidade populacional é mais elevada que na média da Alemanha Federal, e as planejadas localizações em Ludwigshaven e Berlim Ocidental são verdadeiros formigueiros humanos.

Uma vez que seria extremamente difícil melhorar de forma decisiva os atuais sistemas de segurança de um reator para o afastamento de uma catástrofe e preencher as atuais lacunas de conhecimento, have- ria a alternativa de uma estratégia que diminuísse as conseqüências de um acidente através de medidas

que" não dependem do funcionamento de sutis insta- lações técnicas. Uma das alternativas atualmente discutidas pelo especialistas de segurança do Mi- nistério do interior e vista também como desejável 'para o estágio final de uma concepção de reator"

é a forma de construção subterrânea.

Ela já foi usada nos anos 60 em algumas caver- nas rochosas, ligadas por galerias com o mundo ex- terior. Assim, os franceses mantêm uma usina em Chooz perto da fronteira belga, no rochedo de uma montanha. O reator experimental norueguês "Hal- den" e uma pequena usina térmica, entrementes pa- ralisada, nas proximidades de Estocolmo, estão alo- jados de forma semelhante.

A construção em caverna mostrou-se especial- mente frutífera numa pequena usina de oito mega- watts em Lucens, na Suíça francesa. O reator, de um modelo entrementes abandonado, sofreu a 21 de ja- neiro de 1969 um grave acidente, caracterizado no jargão das catástrofes como um "super-gau": uma parte do núcleo do reator se havia derretido, e maté- ria radioativa evaporava para a caverna. Os efeitos do acidente limitaram-se, no entanto, à caverna, não ocorrendo danos pessoais ou matérias. Mas a usina de construção semelhante, incomparavelmente maior, em Niederalchbach, na Bavlera, sofreu um terrível abalo: as tristes experiências em Lucens tornaram necessários tantos aperfeiçoamentos que em breve se perdeu o gesto por este modelo. Niederalchbach só é usada ainda como campo de treinamento para a desmontagem de reatores.

Apesar das grandes vantagens de uma caverna rochosa compacta, na Alemanha Federal será neces- sário procurar outras possibilidades, porque nas lo- calizações realmente interessantes (vales atravessa- dos por rios) praticamente não existe o rochedo ade- quado. Por isto, um grupo de trabalho do Centro de Pesquisa Nuclear de Jülich examina como se po- deria assentar os reatores inteira ou pelo menos par- cialmente na terra.

Isto, no entanto, não será possível sem consi- deráveis deslocamentos de terra. Para a total imer- são é necessária uma profundidade de 50 a 70 me- tros. Nesta perfuração introduz-se então um cilindro de concreto, fechando-se todo com uma tampa a pos- terior camada de terra. As vantagens, no entanto, são de novo diminuídas pelo perigo da contaminação de água do subsolo em caso de grande acidente.

Numa outra variante, a da construção numa mon- tanha, abrir-se-ia o fosso só até o ponto de não

STOp

Nuclear Power ameaçar a água do subsolo. Depois, o reator é ins- talado com seu invólucro de segurança de concreto, de conformação hemisférica, e depois tudo é soterra- do numa imponente colina. Somente as torres de refrigeração, a chaminé, a casa das turbinas e as ga- lerias de acesso, talvez também um lago artificial co- mo reservatório de água, haveriam de testemunhar a existência de uma usina atômica.

As vantagens de segurança destas modificações relativamente modestas no conceito tradicional de construção subterrânea são avaliadas de forma bem otimista por alguns especialistas. Se num acidente a caldeira de segurança se romper, dez metros de terra acumulada suavizariam consideravelmente as conse- qüências do acidente. Uma grande parte das subs- tâncias de fusão, como iodo, césio e estrondo, fica- ria retida na terra, e as quantidades ainda emergentes alcançariam a atmosfera com um retardamento de alguns dias ou mesmo semanas. Para os pesados ga- ses radioativos nobres, como criptônio este tempo de retardamento é avaliado até em alguns anos.

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