TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA: UMA … · Parte de um curso sobre Terapia Comportamental...

of 14 /14
TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE PERSPECTIVAS Dra. Rachel Rodrigues Kerbauy Departamento de Psicologia Experimental Universidade de São Paulo

Embed Size (px)

Transcript of TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA: UMA … · Parte de um curso sobre Terapia Comportamental...

TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA: UMA COMPARAO ENTRE PERSPECTIVAS

Dra. Rachel Rodrigues Kerbauy Departamento de Psicologia Experimental Universidade de So Paulo

R E S U M O

A Terapia Comportamental Cognitiva desenvolveu-se a partir de dados e maneiras de trabalhar da Terapia Cognitiva e da Terapia Com-portamental. Essas origens e as vrias influncias parecem determinar maneiras diferentes de conduzir a terapia o que se procurou analisar neste trabalho.

Optou-se pela apresentao do trabalho de trs autores: Ellis, Beck e Meichembaum como representativos da rea embora se reco-nhea que h diferenas entre algumas concepes e tambm unani-midade na explicao de comportamentos, especialmente emocionais.

Estudando comportamento e pressionados pela necessidade de ajudar eficientemente as pessoas, os psiclogos buscam constante-mente novas maneiras de atuar. A terapia comportamental desde seu incio tem sofrido alteraes, resultando em correntes diversas e bas-tante discrepantes entre si. Entre essas divergncias encontra-se a Terapia Comportamental Cognitiva com pressupostos prprios e novas abordagens, seno ao nvel de atuao, pelo menos quanto s inter-pretaes tericas.

Embora seja interessante fazer uma anlise comparativa da Tera-pia Comportamental e da Terapia Comportamental Cognitiva (TCC) nos limitaremos, neste artigo, a fazer uma exposio dos pressupostos e das maneiras de atuar dos terapeutas comportamentais cognitivos.

difcil levantar todas as causas das transformaes que resulta-ram na TCC pois estendem-se desde divergncias tericas, at pres-so do trabalho dos consultrios e das pesquisas que demonstravam a dificuldade em explicar certos dados dentro de um s referencial terico, especialmente no que se refere a estados internos serem tra-tados ou no como observveis e como regidos pelas mesmas leis do comportamento aberto (Meichembaum, 1977; Kerbauy, 1982).

Falando em TCC estamos aceitando cognies e mediaes. Pas-sa-se a aceitar cognies (percepes, pensamentos, crenas) como tendo uma influncia direta no comportamento (Bandura, 1969; Mei-chembaum, 1974; Ellis, 1966 e Beck, 1963). Efetivamente, ao se aceitar cognies decorre a aceitao da mediao na aprendizagem, com a incluso de processos simblicos como a percepo e interpretaes de eventos do meio em um sistema de crenas ou instrues verbais. De fato, para a TCC os indivduos fariam interpretaes estereotipadas, que seriam empregadas em vrias situaes, causando distrbios de comportamento. Nesse caso a anlise da interao dos processos cognitivos do indivduo com os eventos do meio que permite a com-preenso de muitos comportamentos.

Parte de um curso sobre Terapia Comportamental Cognitiva, ministrado em Maio de 1982, em Ribeiro Preto, a convite da Sociedade de Psicologia de Ribeiro Preto.

A nfase est na proposio de que a responsabilidade do indi-vduo, quando premissas irracionais orientam seu comportamento pre-missas essas, construdas a partir de observaes falsas e concluses errneas. Estaria, portanto, nas mos desse mesmo indivduo empre-gar tcnicas racionais para lidar com esses elementos perturbadores. a aceitao de que o indivduo pode corrigir suas interpretaes er-rneas que produzem distrbios emocionais.

Esse desenvolvimento da terapia comportamental, com o acrsci-mo do cognitivo, pode ser considerado por muitas pessoas como no

12

comportamental, pois, mesmo sem negar o papel dos princpios do condicionamento na aprendizagem, acrescenta-se o papel da mediao cognitiva. claro nesse movimento uma volta a mtodos mais tradi-cionais de terapia, como a anlise da atitude do cliente, da resistncia a mudana, e a aceitao de fenmenos menos observveis, embora mantendo o estilo claro de comunicao, caracterstico da terapia com-portamental.

importante salientar que, apesar da abertura que esse enfoque comportamental cognitivista permite, no uma aceitao irrestrita de noes psicodinmicas. Do antagonismo anterior, de duas maneiras de trabalhar que pareciam irreconciliveis, por estar uma enfatizando um determinismo interno e a outra um determinismo externo, um modelo mdico e um modelo psicolgico, parece estar ocorrendo uma recon-ciliao. possvel que os dois antigos opositores tenham percebido limitaes em suas concepes e alguns resultados prticos pouco sa-tisfatrios.

Embora seja possvel traar as raizes dessas concepes, talvez nos gregos e romanos, e seu caminho mais atual nos anos setenta, nos limitaremos a analisar maneiras diferentes de trabalhar em TCC, destacando trs terapeutas, advindos de formulaes tericas diver-sas, o que provavelmente poderia explicar algumas diferenas na ma-neira de trabalhar que apresentam: Ellis e Beck, oriundos da psican-lise, e Meichembaum, da terapia comportamental.

Analisando as trs maneiras de trabalhar propostas por esses autores, poderemos concluir como se trabalha em TCC, quais os pres-supostos que ligam esse trabalho, e, ainda, qual a abertura oferecida para inovaes.

A pergunta bvia a ser colocada : admitindo-se o comportamento como fruto de influncias, tanto cognitivas como ambientais, e as cren-as e expectativas como maneiras de explicar e predizer comportamen-tos, haver ou no diferenas entre terapias de reestruturao cogniti-va. De fato, ser possvel notar alguma diferena quando se fala em pensamentos irracionais, estilos falsos de pensamento, inadequao para solucionar problemas e assim por diante.

Segundo Meichembaum (1977, pg. 196} existe uma variao em alguns aspectos: 1) nfase relativa da anlise lgica (ao isolar e ava-liar as premissas); 2) diretividade com que apresentada a racional e os procedimentos e 3) confiana relativa nos procedimentos decor-rentes da terapia comportamental. A maior distino entre as vrias abordagens, estaria na nfase diferente colocada na anlise racional do sistema de crenas do cliente.

Provavelmente foi Beck que denominou Terapia Cognitiva, por considerar introspeco, insight, testar a realidade e aprendizagem como processos cognitivos. Para ele os problemas psicolgicos podem

ser resolvidos corrigindo concepes falsas, aguando discriminaes e aprendendo atitudes mais adaptativas. Com efeito, bastante pro-vvel que ele no se considere exatamente um terapeuta comporta-mental cognitivo, pois em sua obra faz uma distino ntida de seu trabalho e dos behavioristas, atribuindo o interesse de alguns deles pela terapia cognitiva a possibilidade de investigao que essa abor-dagem permite. Entretanto, TCC est sendo considerada como um dos desenvolvimentos da terapia comportamental, embora possa haver re-servas nessa aceitao por parte dos autores como Redd e col., 1979, por exemplo, que embora aceitando, esclarecem sobre as discordncias possveis.

O papel do terapeuta para Beck auxiliar o cliente a identificar seus pensamentos aberrantes e aprender maneiras mais realistas de formul-los. Atribue a aceitao fcil dessa premissa por parte do cliente sua experincia anterior em corrigir interpretaes errneas. O paciente estaria aplicando as mesmas tcnicas de resoluo de pro-blemas que anteriormente empregou em sua vida.

Na TCC o cliente identifica seus pensamentos errneos, que ocor-rem em situaes especficas e so responsveis pelos problemas emocionais. O cliente encorajado a perceber e, se necessrio, anotar os pensamentos anteriores ao seu comportamento. O autor admite mesmo ser esse tipo de terapia mais adequado ao cliente que est acostumado a fazer introspeco e a refletir sobre os seus pensamen-tos e fantasias.

A obra de Ellis, Terapia Emotiva Racional (RET), provavelmente a mais conhecida, devido s inmeras obras de divulgao que escre-veu, alm do impacto que sua concepo de neurose exerce sobre o cliente e o leigo em geral. Originalmente era um psicanalista, que alte-rou sua maneira de trabalhar no decorrer de sua atividade clnica, chegando a uma formulao prpria. Admite que as reaes emocio-nais, e os comportamentos so resultantes no do evento em si, obje-tivo, mas da viso que a pessoa tem do mesmo. Alm de assumir que as reaes emocionais so mediadas por sentenas internas, Ellis su-pe que as respostas emocionais desadaptadas refletem um rotular a situao de maneira indiscriminada e automtica. Nesse sentido, a res-posta emocional pode ser adaptada crena ou rtulo que a causou, mas o rtulo foi atribuido erroneamente.

O responsvel por essas crenas e rtulos nem sempre a pes-soa, no processo de socializao, em uma cultura especfica, uma s-rie de crenas irracionais podem ser transmitidas. A palavra irracional aqui aplicada porque os dados objetivos no confirmam a crena.

Com base na sua experincia clnica Ellis levantou 12 crenas mais comuns, nmero esse que poder ser aumentado. Entre essas crenas, as que mais ocorrem parecem ser: 1) a crena de que ne

cessrio ser amado no importa o que se faa. A noo oposta seria de que cada pessoa nica e valiosa e digna de ser amada, mesmo que algumas pessoas no reconheam esse fato. 2) A idia de que se deve ser competente em todos os aspectos da vida, opondo-se ao pen-samento mais racional de que todos tem limitaes. 3) a noo de que uma catstrofe quando as cousas no so da maneira como gos-taria que fosse, em vez de aceitar a realidade e empenhar-se para melhorar as situaes e deixar de ficar aflito diante das prprias im-perfeies. Essas crenas no so verbalizadas deliberadamente pela pessoa e, talvez pela sua natureza de super-aprendizagem, parecem in-voluntrias.

Em sua atuao teraputica, Ellis emprega tcnicas comportamen-tais, como tarefas a serem realizadas, controle de estmulos, grficos, mas tambm emprega tcnicas oriundas de outras abordagens tera-puticas e tericas, como exerccios de grupos de encontro, de ges talt-terapia e procedimentos de psicodrama, alm da aceitao incon-dicional do cliente.

Meichembaum faz parte de um grupo de terapeutas comportamen-tais que enfatiza a natureza voluntria e adaptativa dos processos cog-nitivos, tornando-os um domnio legtimo dos terapeutas comportamen-tais. Em seu treino de auto-intrues preocupa-se com os padres idiossincrticos do indivduo e procura prover o cliente com uma ba-gagem que possibilite enfrentar, com auto-afirmaes, as situaes ansigenas que encontrar.

Em decorrncia das formulaes tericas subjacentes, a maneira de trabalhar desses trs autores difere em termos de grau de direti vidade com que conduzida a sesso teraputica.

Ellis disputa com o cliente, debate, desafia-o para que descubra as crenas irracionais e as destrua. bastante diretivo, chegando a denominar os pensamentos do cliente de tolos ou doentes, combaten-do energicamente os pensamentos irracionais e induzindo o cliente a experimentar novos comportamentos e atitudes.

Beck ensina auto-observao, para que o cliente passe a notar a relao entre pensamentos e emoes, e a reconhecer quais pensa-mentos esto desviados. pouco diretivo, e esse sentido tem uma postura semelhante de Meichembaum e bastante distante de Ellis. Acha que o papel do terapeuta trabalhar com o paciente, contra seus problemas, e postula caractersticas do terapeuta que facilitam o sucesso do trabalho como aceitao, empatia e calor genuno.

Esses trs terapeutas trabalham com sujeitos diferentes. Ellis eminentemente o psiclogo clnico, fazendo seu trabalho em consult-rio, geralmente com o cliente denominado neurtico. Beck conhecido no mundo acadmico por seus trabalhos com depressivos alm de outros distrbios clnicos. Postula que pacientes depressivos sofreram

com um fato que os sensibilizou, no incio de suas vidas ou viveram circunstncias desfavorveis que os predisps a uma reao exagera-da a problemas. Meichembaum desenvolveu seu trabalho estudando inicialmente psicticas, em sua tese de doutorado, e posteriormente crianas impulsivas. Faz mais um trabalho de pesquisa clnica, com vrios distrbios de comportamento.

O objetivo da terapia para Meichembaum, est muito ligado a uma proposta comportamental. Embora inicialmente d uma explicao ao cliente sobre a origem cognitiva de sua ansiedade, procura detectar as auto-afirmaes do cliente, posteriormente d nfase a um processo de adaptao, construo de alternativas individuais de enfrentar pro-blemas. O cliente aprende e treina maneiras de atuar e auto-afirma-es que estaro disponveis quando enfrentar situaes problem-ticas.

O objetivo da terapia para Ellis levar o cliente a um padro ra-cional mais adaptativo controlando eficazmente as emoes e impe dindo-se de viver uma vida neurtica. Coerente com sua proposio terica, admite que o homem pode viver uma vida criativa, emocional-mente gratificante, organizando e disciplinando inteligentemente seu pensamento.

O objetivo da terapia para Beck desenvolver padres de pensa-mentos mais adaptativos. Supe que, conhecendo como aborda os pro-blemas emocionais, o homem mude de perspectiva sobre ele prprio e seus problemas, vendo-se, no mais como uma criatura sem espe-ranas, mas como uma pessoa capaz de corrigir ou reaprender noes. A terapia no somente livraria esse homem dos problemas originais, mas, atravs das mudanas psicolgicas apresentadas o prepararia para novas situaes.

A maneira de conduzir a terapia para esses trs autores bas-tante semelhante no que concerne estruturao da terapia. Como j foi especificado, a diferena est mais em relao maior ou menor diretividade na conduo das sesses. Geralmente inicia-se o trabalho explicando ao cliente a racional de que os pensamentos afetam os sentimentos.

Quando se trabalha na linha de Ellis, aquelas crenas por ele le-vantadas so explicadas e discutidas com o cliente, distinguindo-se en-tre o "pode" e "deve", e como seria interessante que a crena discu-tida fosse verdadeira. Depois do cliente ter concordado, pelo menos em princpio, com as crenas possveis, passa-se a analisar os problemas do cliente em termos de suas auto-afirmaes que poderiam estar ge-rando respostas emocionais, e nesse sentido as trs maneiras de tra-balhar se assemelham. Em resumo elas poderiam ser sintetizadas em analisar se a interpretao dada pelo cliente situao de fato rea-lista, e quais so as implicaes de rotular a situao dessa maneira.

O passo seguinte talvez o mais difcil, e consiste em ensinar o cliente a modificar suas sentenas internas. Conhecer a causa no considerado suficiente para diminuir o problema, mas pode auxiliar o cliente a deliberadamente fazer atividades diferentes quando sentir-se aborrecido. Na realidade, a emoo serviria de dica para que o cliente parasse e comeasse a questionar os prprios pensamentos. O cliente dever interromper esse pensamento e iniciar outro mais adequado. O procedimento inicialmente no fcil, e com o decorrer da terapia torna-se menos tedioso. O cliente aprende a colocar as cousas em uma perspectiva mais real, e a aprender a interromper uma reao an-teriormente automtica.

Meichembaum trabalha em trs fases. A primeira tambm, como os demais autores, fornecendo uma conceituao cognitiva da ansie-dade, seguindo-se uma formulao de um plano inicial de tratamento. Em seguida o cliente ajudado a detectar as afirmaes incorretas que faz e consolidar a conceituao do problema. Mas, diferentemente de Ellis, ao invs de discutir os irracionais exaustivamente e refut-los, na terceira fase, Meichembaum fornece ao cliente um conjunto de ta-refas para sobrepujar as auto-afirmaes que situaes de ansiedade podem evocar. O cliente treinado nessas novas afirmaes, para tornar-se apto a empreg-las nas situaes ansigenas que apaream. nesta terceira fase que o cliente comea realmente a mudar; as duas primeiras so uma preparao para a mudana.

Na terceira fase, de mudana propriamente dita, Meichembaum sugere o emprego de diferentes tcnicas comportamentais, modifica-das de maneira a incluir componentes de instrues de auto-afirmaes. Por exemplo, no procedimento tradicional de dessensibilizao foi in-cludo por Meichembaum um tipo de imagem de proficincia, de ima-ginar-se sobrepujando a ansiedade, dominando-a. O cliente ao detectar

ansiedade, visualizando uma cena, passa a imaginar-se dominando a ansiedade com respiraes lentas e vagarosas, relaxando e se auto-instruindo. Na dessensibilizao clssica o cliente ho recebe suges-

tes sobre como experimentar ansiedade na situao real, pois o pressuposto que com o emprego daquele procedimento a ansiedade naquelas situaes no ocorrer, portanto, uma formulao diversa da proposta pelo treino em auto-afirmaes, e tem consequentemente objetivos terapeuticos diferentes.

Outra tcnica bastante empregada por Meichembaum a modela-o, na qual o terapeuta tem oportunidade de modelar para o cliente maneiras de lidar com suas tenses e imperativos, exercendo auto-controle. Na realidade a tcnica ensina habilidades cognitivas e com-portamentais, mostra como o outro resolveu o problema, o refora mento que esse fato produziu e ainda d ao cliente dica muito clara sobre o estilo que pode adotar. Vejamos um exemplo, no caso de co-mer excessivo, verbalizaria algo assim: "l vou eu mais uma vez... S esse pedao de po e paro. Eu sabia que esse tratamento no iria me ajudar, no consigo me controlar mesmo... Pare com isso! Voc sempre arranja desculpas. Respire fundo, devagar... relaxe. Pense em voc indo experimentar uma roupa e s entrando em manequim 48. Que elegn-cia!!! Comece a pensar em cousas mais interessantes para fazer... Respire... relaxe... Pense em...".

O treino em auto-instrues visa influenciar a natureza do dilogo interno do cliente. No entanto, nenhuma lista de auto-afirmaes fornecida ao cliente. O tratamento planejado para: 1) tornar o cliente consciente do seu estilo de afirmaes negativas, que impedem o de-sempenho e conduzem a distrbios emocionais. 2) produzir, com a ajuda do terapeuta, um conjunto de afirmaes, regras e estratgias incompatveis. 3) aprender habilidades comportamentais e cognitivas adaptativas.

As tcnicas empregadas por Meichembaum so as da terapia com-portamental, acrescidas das auto-afirmaes e maneiras de resolver o problema. Usa o recurso de imaginar no consultrio, passar tarefas para casa, emprega video-tapes para que o cliente se veja atuar.

Meichembaum primeiramente um pesquisador, e seus dados so colhidos primordialmente na situao de pesquisa; nessa situao, com problemas comuns, seus clientes podem obter bons resultados e passar pelas trs fases de sua terapia em 8 sesses, mas admite que em terapias individuais as sesses possam chegar a 40, sendo que o tempo de cada fase depende do problema que o cliente apre-senta, da habilidade e estilo do terapeuta, do objetivo da terapia e de outros fatores. Pode ser considerado o iniciador da Terapia Compor-tamental Cognitiva, preocupado com a fuso da terapia comportamen-tal e da terapia cognitiva, aqui entendida como a de Beck e Ellis. So-freu a influncia direta de Dollar e Miller com sua preocupao de en

tender o processo teraputico, e de Skinner, e posteriormente Somme, na anlise do comportamento verbal encoberto. Aos poucos afastou-se das propostas, especialmente dos ltimos autores citados, formulando a TCC, em poca paralela das formulaes de Mahoney (1974).

Beck tenta mudar o estilo de pensamento do cliente, tornando-o consciente dos processos de maxi-generalizao, raciocnio dicotmico, inferncia arbitrria, etc. Identificou alguns desses estilos, tais como: Maxi-generalizao, que a tendncia de tirar concluses baseando-se em poucas experincias; por exemplo, ao saber que o namorado saiu com outra moa, "no se pode confiar em homens". Minimizao, que consiste em descontar as cousas positivas, que ocorrem, desvalorizan-do sua capacidade: "essa nota, com uma prova to fcil!...". Maximi-zao, geralmente aparece junto com minimizao, e consiste em exa-gerar os problemas at transformarem-se em catstrofes. Raciocnio dicotmico pensar nas cousas em termos de extremos: um evento pssimo ou excelente. Esses estilos so detectados e explicados ao cliente, aos poucos, durante a terapia. Beck discorda de Ellis dizendo que as idias apresentadas pelo cliente no so irracionais, mas extre-madas, amplas e personalizadas, sendo empregadas arbitrariamente para ajudar o paciente a manter as exigncias da vida.

Os trabalhos de Beck (1963, 1976) sobre distrbios emocionais, especialmente depresses, esclarecem sua maneira de trabalhar, o pa-pel do dilogo socrtico e da demonstrao emprica na modificao de crenas. Mostra que com a colaborao do paciente e do terapeuta possvel organizar situaes experimentais nas quais as afirmaes so testadas e uma resposta imediata obtida. Um esquema de ativi-dades planejado com atividades graduais, para o cliente obter suces-so: e a sucesso terapia. Outras tcnicas so tambm empregadas para modificar padres inadequados de pensamentos com vrios passos, desde a identificao das sequncias entre cognies e motivaes, at o exame, a avaliao e modificao dessas cognies, identificao dos estilos de pensamentos e modificao das premissas bsicas. En-tre essas tcnicas ocupam posio de destaque as tarefas de casa e o treino cognitivo no qual o cliente se imagina em situaes introduzidas gradualmente e com atividade especificada nas quais os obstculos para realizar e conflitos possveis, so detectados e discutidos me-dida que surgem. O interessante que Beck chega a propor uma ta-bela (1976) para o tratamento de depressivos em que especifica a rea do problema, as razes fornecidas pelo paciente a abordagem tera-putica. Por exemplo, no item VII dessa tabela analisando a atribuio exagerada a demandas externas, problemas e presses, as razes for-necidas pelo cliente seriam: estou sobrecarregado, h muito para ser feito, e nunca poderei faz-lo. A abordagem teraputica seria 1) reso-luo de problemas: listar as cousas para fazer, determinar prioridades, verificar as cousas j feitas, concretizar e separar problemas externos. 2) treino cognitivo.

Essas maneiras de trabalhar so muito semelhantes. Apresentam em comum, como j especificamos, a aceitao da premissa de que fenmenos cognitivos explicariam o comportamento, e iniciaram-se aproximadamente na mesma poca, tendo um desenvolvimento seme-lhante. Podemos pois, coment-las em conjunto, ignorando as pequenas diferenas.

Os trabalhos experimentais que fundamentam essas tcnicas cog-nitivas, ou a concepo que as embasa, so poucos e sujeitos a crticas. Essas crticas so semelhantes s feitas para terapia comportamental. De fato, os sujeitos dos estudos so geralmente estudantes voluntrios que desejam melhorar algum problema especfico. Essa populao bastante diferente de um cliente real com problemas s vezes inde-finidos para ele prprio.

Outra crtica que muitas vezes os critrios para selecionar os sujeitos que apresentam, por exemplo, um nvel de ansiedade espec-fico, so talvez definidos abaixo de um ndice clinicamente relevante, portanto no se pode saber o efeito real do procedimento. Acrescenta-se ainda, que s vezes as causas de certos tipos de comportamentos no esto claramente relacionadas com sentimentos em estudos con-trolados, embora o cliente possa relatar melhora e esta ser real. O prprio Beck diz (1976) que tcnicas comportamentais so eficientes por produzir mudanas comportamentais e cognitivas. Tomando essa afirmao como verdadeira, fica a pergunta: as mudanas produzidas por essas formas de terapia so resultantes de seus componentes comportamentais ou cognitivos, ou ento o prprio questionamento de se haveria ou no um sistema conceptual e princpios de terapia que pudessem explicar de maneira mais abrangente todos os eventos cl-nicos ou fossem mais eficazes como procedimento.

Na crtica dessas maneiras de atuar em terapia, precisamos fazer uma distino proposta por Rachman e Wilson (1980) quanto base para as afirmaes tericas de um lado e, a anlise dos resultados que determinam a eficcia clnica por outro.

Avaliando os dados sobre os experimentos clnicos da Terapia Emotiva Racional, vemos que nem sempre descrita a natureza do mtodo empregado; o prprio Ellis apresenta uma descrio pouco de-finida daquilo que constitue seu tratamento, seus resultados clnicos relatados so responsveis pela fundamentao e divulgao de sua tcnica. Rachman e Wilson concluem que os estudos por eles analisa-dos, em sua reviso das terapias cognitivas, no fornecem informao adequada sobre a eficcia de RET como mtodo de tratamento sendo, no entanto, mais eficiente que no tratamento ou placebo em algumas medidas e em alguns estudos. impossvel no entanto concluir se RET um mtodo alternativo de tratamento para dessensibilizao siste-mtica, exposio prolongada ou treino comportamental.

Quanto ao trabalho de Beck, para esses autores, citados, im-possvel estabelecer a eficcia da terapia cognitiva pois mesmo dados positivos precisam ser replicados e com maiores populaes e outras que no de depressivos. Os dados da SIT, de Meichembaum, so tam-bm contraditrios, as generalizaes pouco medidas e analisadas. Os resultados so pouco conclusivos, claros em algumas reas como a superioridade de terapia cognitiva para tratar com medo em prova, por exemplo.

Talvez o grande impasse para analisarmos a TCC seja o mesmo todas as demais terapias. Ao localizar a dificuldade talvez a encontra-remos entre "satisfao do cliente" e a "validade cientfica". Muitas abordagens teraputicas sequer colocariam o problema de avaliao, ou melhor, no admitiriam que fosse de uma maneira proposta em cincia, por questes tericas e/ou filosficas. De fato, poderamos aceitar essas crticas e admitir que no temos ainda mtodos satis-fatrios na pesquisa tradicional para medir resultados de terapia. Tal-vez esses resultados sejam de difcil verbalizao e expressos em termos de ajuda, apoio, tranquilidade, para pessoas com problemas prementes ou ainda na aceitao de uma crena, crena essa que pode variar de acordo com a abordagem terica, desde "eu me conheo muito bem", "eu tenho condies pessoais", ou "eu posso alterar o meio em que vivo e alterar meu comportamento" ou " aquilo que penso e creio que est fazendo com que eu haja assim" ou a combi-nao de todas essas ou outras crenas. Para Rachman e Wilson (1980) ponto pacfico que h elementos no especficos que produ-zem benefcios em quase todas as formas de tratamento. Esse fato, mais a remisso espontnea de vrios distrbios psicolgicos, faz com que seja difcil isolar a contribuio especfica do processo teraputico.

Embora nosso objetivo no seja criticar a TCC, mas apresentar sua maneira de trabalhar, pois se nos apresenta como um caminho em terapia, importante enfatizar a necessidade de estudos nos quais sejam descritos detalhadamente os procedimentos empregados, ilus-trados com sequncias de atuao do terapeuta e cliente, bem como: relatos sobre explicaes de fatos obtidos, feitas pelo cliente e tera-peuta, e transformaes dessas explicaes no decorrer da terapia; os resultados apresentados no decorrer da alta, e um seguimento v-lido de pelo menos um ano, com descries minuciosas aps um, trs ou seis meses. Estudos mais rigorosos deveriam incluir um seguimen-to de pelo menos dois anos.

Trabalhos com esses cuidados possibilitaro uma discusso de te-rapia em nvel em que se possa sair de "eu acho" para "os dados demonstram", e especialmente menos exposto a crticas.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BANDURA, A. Principles of Behavior Modification. New York: Holt, Rinehart e Winston, 1969.

BECK, A. T. Thinking and depression. Arch. Gen. Psychiatry, 1963, 9o: 324-333. BECK. A. T. Cognitive Therapy and Emotional Disordes, New York: New American

Library, 1976. ELLIS, A. e HARPER, R. A. A quide to rational living. Englewood Cliffs, N. J.:

Prentice Hall, 1961. KERBAUY, R. R. Terapia Comportamental Cognitiva: mudanas em algumas tc-

nicas. Cadernos de Anlise do Comportamento, 1982 no prelo. MAHONEY, M. Cognition and Behavior Modification. Cambridge, Mass.: Ballinger,

1974. MEICHEMBAUM, D. Self-Instructional Methods. In F. H. Kanfer e A. P. Goldstein

(eds.). Helping people change. New York: Pergamon Press, 1975. MEICHEMBAUM, D. Cognitive - Behavior Modification: an integrative Approach.

New York: Plenun Press, 1977. RACHMAN S. J. e WILSON G. T. Cognitive Behavior Therapy. In The effects of

psychological therapy. Oxford: Pergamon Press, 1980. REDD. E. H. PORTERFIELD A. L. e ANDERSEN B. L. Behavior modification: beha-

vioral approaches to human problems. New York: Random House, 1979.