Trabalho Escolar e Teorias Administrativas

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Transcript of Trabalho Escolar e Teorias Administrativas

  • Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro da EducaoFernando Haddad

    Secretrio ExecutivoJos Henrique Paim Fernandes

    Secretrio de Educao BsicaFrancisco das Chagas Fernandes

  • Brasil. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Bsica.

    S725t Sousa, Jos Vieira.

    Teorias administrativas / Jos Vieira de Sousa. Braslia: Universidade de Braslia, 2006.

    100p. - (Profuncionrio - Curso tcnico de formao para os funcionrios da educao)

    ISBN 85-86290-68-8

    I. Ttulo II. Srie

    CDU: 371

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Diretor do Departamento de Articulao e Desenvolvimento dos Sistemas de Ensino Horcio Francisco dos Reis Filho

    Coordenadora Geral do Programa Nacional de Valorizao dos Trabalhadores em Educao Sirlene Alves dos Santos Pacheco Coordenao Tcnica do Profuncionrio Eva Socorro da Silva Ndia Mara Silva Leito Apoio Tcnico Adriana Cardozo Lopes

    Coordenao Pedaggica - CEAD/UnB Bernardo KipnisDante Diniz BessaFrancisco das Chagas Firmino do NascimentoJoo Antnio Cabral de Monlevade Maria Abdia da SilvaTnia Mara Piccinini Soares

    Equipe de Produo - CEAD/UnBCoordenao Pedaggica - Maria de Ftima Gerra de SouzaGesto Pedaggica - Maria Clia Cardoso LimaCoordenao de Produo - Bruno da Silveira DuarteDesigner Educacional - Fbio UltraReviso - Daniele Santos Capa e editorao - Evaldo Gomes e Tlyo NunesIlustrao - Ico Oliveira

  • Mensagem do Secretrio de Educao Bsica do Ministrio da Educao

    Prezado(a) funcionrio (a) cursista,

    Queremos manter o vnculo iniciado nos mdulos da Formao Pedaggica do Profuncion-rio, programa que tem usufrudo da Educao a Distncia e da formao em servio, para que seja possvel a sua profissionalizao h tanto tempo esperada e merecida, claro.

    No Profuncionrio, a educao vista como um processo permanente, que vai da vida para a escola e da escola para a vida, identificando conhecimentos formalmente estruturados e saberes adquiridos com a prtica. Enfatiza o carter histrico e cultural do conhecimento, possibilitando uma formao articulada com as necessidades sociais e, ao mesmo tempo, promove a auto-realizao e o desenvolvimento da educao brasileira.

    Nosso objetivo foi e continuar sendo poder unir o estudo ao seu trabalho, o que torna a for-mao mais significativa e interessante, uma vez que acontece no contexto da vida real e a motivao, com certeza, maior porque ocorre durante todo o processo educativo.

    A partir deste Mdulo, trataremos de questes mais especficas da sua rotina de trabalho sem, no entanto, deixar de considerar as informaes apreendidas nos Mdulos da Formao Pedaggica e Instrucionais, a troca de conhecimentos, a Prtica Profissional Supervisionada e acima de tudo, o fortalecimento da identidade profissional aps mais de duas dcadas de luta por este reconhecimento, que vai para alm dessa formao, refletindo de forma efetiva na qualidade dos servios prestados para a educao brasileira.

    O tutor continuar encarregado de fazer o acompanhamento sistemtico, proporcionando - lhe apoio na realizao das atividades, esclarecendo dvidas, motivando para o estudo, acompanhando e sempre procurando orient-lo quanto melhoria de sua atuao profis-sional, sobretudo a partir dos objetivos, contedos e experincias desenvolvidos em cada mdulo.

    Reconhecemos sua dedicao e reafirmamos nossa confiana no seu empenho demons-trado at o momento, pois acreditamos que concluir o curso acima de tudo valorizar uma conquista e se colocar disponvel para ir alm da formao, transformando seu cotidiano profissional por meio de novos horizontes prprio de um educador.

    Compartilhamos com voc este aprendizado e acreditamos na sua importncia para a edu-cao brasileira!

    Francisco das Chagas Fernandes Secretrio de Educao Bsica

  • ApresentaoEste o primeiro mdulo do Bloco III Formao Tc-

    nica e, ao estud-lo, voc, funcionrio e funcionria de escola pblica, tero a oportunidade de aprofundar conhe-

    cimentos, com ao objetivo de promover sua habilitao como Tcnico em Gesto Escolar.

    A preocupao bsica deste mdulo analisar diversas abordagens da prtica administrativa nas organizaes, focalizando em particular aque-

    las desenvolvidas na escola. verdade que a escola, como qualquer outra organizao, precisa ser administrada, visando a cumprir, da melhor maneira

    possvel, sua funo social. Todavia, tambm verdade que essa administra-o no deve ocorrer de forma igual quela exercida em outras organizaes,

    como, por exemplo, empresas e indstrias, devido natureza e finalidade mais ampla do trabalho da escola, o qual consiste em contribuir para o processo for-

    mativo dos indivduos, sistematizando, produzindo e veiculando um conhecimen-to que tem origem nas relaes sociais mais amplas. Nesse sentido, preciso reconhecer que a escola realiza aes que lhe confere grande especificidade!

    Por outro lado, importante que a escola considere, no desenvolvimento de suas atividades, elementos das diversas teorias administrativas, extraindo de cada uma delas aspectos que possam ajud-la a melhorar a organizao do seu prprio tra-balho. Veja que a anlise de questes como essa pode ampliar sua percepo a respeito da funo social da escola, bem como da contribuio do trabalho que voc realiza para a execuo dessa funo.

    De maneira semelhante ao que voc j vem estudando, tambm so apresentadas, ao longo da leitura do texto-base deste mdulo, fotos, gravuras, indicaes para pesquisar na internet e sugestes para aprofundar os temas abordados. So, ain-da, sugeridas atividades de estudo cujo objetivo lev-lo(a) a refletir e colocar em prtica, em seu prprio ambiente de trabalho, determinados contedos tratados em cada unidade. Particularmente, em relao a essas atividades destacamos a importncia de voc realiz-las, sempre articulando os contedos discutidos com suas experincias e vivncias no ambiente escolar.

    Lembramos isso porque acreditamos que, sem dvida, seus conhecimentos pr-vios e sua experincia no trabalho da secretaria da escola sero muito teis e re-levantes para acrescentar novos elementos ao dilogo que pretendemos construir com voc em todas as unidades a seguir. Lembre-se: muito importante articular teoria e prtica durante o estudo deste e dos demais mdulos do curso! Afinal, nossa vida , simultaneamente, ao e reflexo!

  • Esperamos, assim, poder ajudar na busca de novos caminhos para sua formao e atuao numa escola pblica, que seja tambm democrtica, participativa e preo-cupada, sobretudo, em construir uma educao com qualidade social para todos. Com certeza, este o desejo daqueles que vm, ao longo de nossa histria, lutando com o objetivo de conquistar uma escola para todos!

    Objetivo

    Apoiando-se na leitura do texto-base e na realizao das atividades propostas em cada uma das unidades, voc ampliar seus conhecimentos com o propsito de analisar a escola como organizao, considerando as contribuies das principais teorias administrativas e sua especificidade como organizao responsvel pela sistematizao do saber.

    A partir desse objetivo mais amplo, esperamos que voc reconhea a importncia de a escola orientar o seu trabalho para a transformao social. Para tanto, im-portante estabelecer uma relao crtica entre poltica, planejamento e legislao educacional, levando em conta as implicaes dessa relao no contexto da esco-la, compreendida em sua totalidade.

    Ementa

    Concepes de educao e relao escola-sociedade. Grupo e organizao: con-ceito, tipologia e caractersticas. Principais teorias administrativas: fundamentos conceituais e histricos da Administrao. Poltica, planejamento e legislao edu-cacional: conceitos, relaes e a questo dos meios e fins na educao. Planeja-mento escolar: diagnstico, execuo e avaliao. tica e transparncia no servio pblico.

  • Mensagem do AutorOl, meu nome completo Jos Vieira de Sousa, mas todos me tratam por Vieira. Nasci em uma pequena cidade do serto do Cear, chamada Ipueiras, no ano de 1962. Entretanto, desde os oito anos de idade resido em Braslia.

    Entre 1971 e 1981, fiz os antigos 1 e 2 graus hoje, respectiva-mente, ensino fundamental e ensino mdio em duas escolas p-blicas da cidade do Gama/DF. De 1982 a 1985, cursei Licenciatura em Pedagogia, em uma instituio particular de Braslia. Depois, entre 1989 e 1994, fiz Licenciatura em Letras, na Universidade de Braslia/UnB. Nessa mesma universidade, cursei o Mestrado em Educao (1992-1994) e, posteriormente, o Doutorado em Socio-logia (1999-2003).

    Venho trabalhando como professor em vrios nveis do sistema de ensino pblico do DF. Em 1986, comecei a lecionar na 4 srie e no Curso Normal, ajudando a formar professores para atuar na educa-o infantil e nas sries iniciais do ensino fundamental. A partir de 1988, passei a atuar tambm na educao superior. Desde ento, trabalhei com alunos desses trs nveis de ensino, aprendendo bas-tante com eles, com outros professores e tambm com profissio-nais de apoio escolar, como voc. Nesse aprendizado, tenho verifi-cado, na prtica, como cada escola nica, mostrando-se bastante diferenciada das demais. Em todos esses anos, tenho confirmado e aumentado o meu gosto em ser professor. Vale a pena!

    Tambm fui gestor de escola e de sistema de ensino, em nvel intermedirio. Nesse segundo caso, trabalhei como vice-diretor de um complexo de 70 (setenta) escolas pblicas de educao infantil, ensino fundamental e ensino mdio, da cidade de Tagua-tinga/DF, entre 1995 e 1998. Este foi outro momento de grande aprendizagem para mim, medida que me possibilitou acompa-nhar, mais de perto, o trabalho cotidiano das equipes gestoras, incluindo o dos secretrios escolares, desse grande grupo de es-tabelecimentos de ensino.

    Atualmente, trabalho na Faculdade de Educao da Universidade de Braslia, lecionando para estudantes da graduao e da ps-graduao. Muitos desses estudantes j so docentes e outros esto se preparando para tambm serem professores ou gesto-res escolares.

    Gostaria muito de conhec-lo(a) pessoalmente, mas como isso no possvel, espero que, por meio do material que agora lhe apre-sentado, possamos dialogar sobre questes que nos unem, uma vez que trabalhamos no mesmo espao a escola pblica. Afinal, atuamos na escola com o mesmo objetivo: contribuir para a demo-cratizao desse espao e para a formao de indivduos autno-mos e reflexivos, sem a perda dos laos de solidariedade social!

    Obrigado e bons estudos!

    Jos Vieira de Sousa

  • Sumrio

  • INTRODUO 12

    UNIDADE 1 Concepes de educao: a relao escola-sociedade como ponto de partida e de

    chegada 17

    UNIDADE 2 As organizaes como caracterstica fundamental da sociedade moderna

    organizaes sociais? 31

    UNIDADE 3 Teorias Administrativas: fundamentos conceituais e histricos da administrao 47

    UNIDADE 4 Poltica, planejamento e legislao educacional: conceitos e relaes 63

    UNIDADE 5 Planejamento escolar: diagnstico, programao e avaliao 79

    UNIDADE 6 tica e transparncia no servio pblico: compromisso de todos na construo

    da cidadania 89

    CONClUSO 98

    REFERNCIAS BIBlIOGRFICAS 99

  • INTRODUO

    Estamos iniciando o estudo do mdulo Trabalho escolar e teorias admi-nistrativas. Dando continuidade aos estudos j realizados no Bloco I Formao Pedaggica, neste primeiro mdulo, voc ter a oportunidade de aprofundar a discusso sobre diversos temas. Esse aprofundamento temtico ocorrer visando a ampliar sua compreenso sobre o proces-so de administrao escolar situando, nesse processo, o seu trabalho, como secretrio escolar. Porm, antes de comear a discutir os conte-dos nele propostos, gostaramos de retomar com voc algumas idias que fizeram parte do seu percurso no curso at agora.

    Certamente, ao longo dos vrios mdulos do referido bloco, voc teve a oportunidade de refletir sobre diversos temas, todos eles relevantes para uma melhor compreenso da funo social da escola. Nessa discusso, um dos pontos enfatizados foi a importncia de sua atuao como pro-fissionais de apoio escolar da educao bsica, educador e co-gestor do trabalho escolar para o pleno alcance das finalidades da ao pedag-gica, numa perspectiva democrtica, participativa e emancipatria.

    Em alguns casos, essa reflexo apoiou-se no debate da condio do fun-cionrio da escola pblica, como cidado, educador profissional e co-gestor dessa instituio; em outros, na discusso dos fundamentos da prtica educativa, como, por exemplo, aqueles de natureza psicolgica, antropolgica e histrica. Nesses dois casos, voc teve a oportunidade de, na abordagem de temas relativos formao pedaggica dos traba-lhadores da educao, discutir a gesto da educao e da escola, numa viso democrtica.

    De forma geral, foram analisadas questes importantes que devem orientar sua formao e atuao visando a fortalecer a democracia e a qualidade da escola pblica, bem como o estmulo ao desenvolvimento de um trabalho autnomo, reflexivo e solidrio. Foram muitas leituras que, apoiadas em sua experincia pessoal e profissional, contriburam para ampliar sua formao e, ao mesmo tempo, melhorar a educao pblica como um todo.

    Com o propsito de ampliar essa formao, o Bloco III Formao Tc-nica formado por dez mdulos, os quais, em seu conjunto, objetivam contribuir para ajud-lo(a) a refletir sobre os diversos outros espaos de atuao na escola, alm da docncia, da educao e da formao, pro-psito maior do curso que voc est realizando. Observe que a compre-enso adequada desses variados espaos pode concorrer para ampliar o entendimento sobre sua atuao como educador e co-gestor do trabalho coletivo desenvolvido na escola.

    A seguir apresentamos uma descrio bastante sinttica da discusso proposta nesses mdulos, lembrando que um detalhamento maior a res-peito voc encontrar no Caderno de orientaes gerais do curso. Esse Bloco III formando, ento, por:

  • Quatro mdulos que trataro de questes mais diretamente relacio-nadas administrao educacional e escolar, ressaltando seus pres-supostos tericos e legais, bem como a relao que a escola mantm com a sociedade e as demais instncias educacionais, como Gesto democrtica nos sistemas e na escola, Trabalho escolar e Teorias ad-ministrativas; Legislao escolar e Administrao de materiais;

    Quatro mdulos que abordaro contedos mais relacionados s vrias atividades desempenhadas pela escola, como Informtica aplicada educao; Estatstica aplicada educao; Noes de direito adminis-trativo e do trabalho; Contabilidade pblica;

    Dois outros mdulos que mantero uma proximidade entre si e, ao mesmo tempo, com o trabalho que voc j vem desenvolvendo h algum tempo na secretaria da escola, os quais so Produo textual na educao escolar, e Tcnicas de redao e arquivo;

    possvel que, em funo de sua experincia profissional, algumas ques-tes levantadas neste conjunto de textos j sejam de seu conhecimento. Caso isso se confirme, aproveite para aprofundar a reflexo a respeito dessas questes, relacionando-as sua prtica profissional. Afinal, teoria slida, prtica eficaz! Todavia, acreditamos que, mesmo isso ocorrendo, as discusses propostas podero ampliar o seu olhar sobre o trabalho da escola como um todo e, conseqentemente, sobre a sua atuao como secretrio(a) escolar.

    De uns anos para c, a busca pela profissionalizao dentro das organi-zaes tem sido intensificada, de forma a torn-las mais articuladas com as transformaes do mundo atual. No caso da escola, essa profissio-nalizao tem se feito notar na busca da melhoria da formao de todos aqueles que participam do seu trabalho, como, por exemplo, voc.

    Diante de tantas transformaes, a escola precisa refletir constantemen-te acerca de alguns conceitos, entre eles o de educao. Paralelamente, deve repensar-se, como organizao, considerando o alcance do traba-lho pedaggico que produz, o qual deve contar com a participao de todos. Afinal, a escola tem o seu trabalho melhorado quando o sentido deste compreendido e compartilhado por todos os membros que dela fazem parte.

    A propsito: voc j parou para refletir sobre o significado dos termos educao e organizao? Ser da discusso desses conceitos que nos ocuparemos nas prximas duas unidades, visando melhor situ-lo(a) quanto relao existente entre as teorias administrativas e o trabalho da escola como um todo. Comearemos refletindo sobre o conceito de educao, em diferentes abordagens. Vamos iniciar esse debate?

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    Como voc j discutiu em outros mdulos deste curso, como, por exemplo, Educadores e educando: tempos histricos Bloco II/Formao Pedaggica a educao varia de um lugar para outro, de um tempo para outro e de uma instituio para outra. Essa necessidade existe, fundamentalmente, em funo dos tipos de sujeitos que cada sociedade deseja for-mar e das condies concretas de cada realidade social.

    Partindo dessa idia, nesta primeira unidade, discutiremos di-ferentes concepes de educao que convivem tanto na so-ciedade quanto no interior da escola. A compreenso desse tema importante, sobretudo, para um entendimento mais amplo das vrias formas como a educao concebida como prtica social e de sua relao com os conceitos de organiza-o e teorias administrativas, temas abordados nas Unidades 2 e 3, respectivamente.

    Ao iniciar esta unidade, voc pode estar se perguntando: por onde comear a discusso sobre o conceito de educao? Veja: essa reflexo implica, antes de tudo, pensar a relao escola versus sociedade. Sabe por qu? Porque as diferen-tes concepes de educao no se encerram em si mesmas, mas decorrem de determinadas vises de homem, de mundo e de sociedade, como voc teve a oportunidade de estudar no Mdulo Educao, sociedade e trabalho: abordagem so-ciolgica da educao. Aqui buscaremos aprofundar esta re-flexo.

    O ponto de partida a reflexo sobre o sentido que a educa-o assume para os sujeitos em seu contexto social. Obser-ve como Carlos Rodrigues Brando, por meio da transcrio do extrato de uma carta de ndios, chama nossa ateno para essa questo:

    Em sua experincia de vida e profissional, voc j parou para pensar como a escola lida com diferentes vises de mundo presentes na realidade social, embora uma ou outra predomine sobre as demais?

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    [...] Ns estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para ns e agradecemos de todo o corao.

    Mas aqueles que so sbios reconhecem que diferentes naes tm concepes diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores no ficaro ofendidos ao saber que a vossa idia de educao no a mesma que a nossa.

    [...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e apreenderam toda a vossa cincia. Mas, quando eles voltavam para ns, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. No sabiam como caar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa lngua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inteis. No serviam como guerreiros, como caadores ou conselheiros.

    Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora no possamos aceit-la, para mostrar a nossa gratido oferecemos aos nobres senhores de Virgnia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens. (BRANDO, 1996, p. 8).

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    Que bela lio do que educao, no? As idias contidas no trecho apresentado nos mostram que cada grupo atribui um sentido educao, porque possui uma concepo pr-pria do fenmeno educativo. Em diferentes pocas, os povos adotam variadas formas de educao, valorizam diferentes mtodos de ensino e definem variadas funes para a esco-la. Afinal, a educao sempre ocorre com sujeitos que, como voc, so dotados de historicidade. Por isso, a escola precisa construir sua prpria Histria, a partir da ao conjunta dos seus atores.

    Ao longo do tempo, a educao tem sido objeto de muita dis-cusso, motivo pelo qual foram surgindo diversas teorias para explic-la. Todavia, aqui o nosso interesse analisar apenas algumas das principais concepes de educao, as quais, em linhas gerais, esto vinculadas a dois grandes paradigmas: o paradigma do consenso e o paradigma do conflito.

    Mas, o que um paradigma? O terico Thomas Kuhn (1996) nos ajuda a pensar a respeito

    desse conceito. Para ele, os paradigmas so [...] as realizaes cientficas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e solues

    modelares para uma comunidade de praticantes de uma cincia (p. 13).

    Considerando sua experincia profissional, cite por que importante conhecer diferentes concep-es de educao. Apresente, no mnimo, trs justifi-

    cativas.

    1.1 O discurso conservador do paradigma do con-senso

    Como enfatizamos, anteriormente, as concepes de educa-o so decorrentes de determinadas vises de homem, mun-do e sociedade. Por isso, iniciaremos nossa discusso sobre o que educao exatamente por esses conceitos.

    Um paradigma representa uma estrutura de pensamento para a explicao e compreenso de certos aspectos da realidade. Em funo disso, o surgimento de um novo paradigma resulta de um processo evolutivo que envolve uma anlise da realidade presente e a busca de novas alternativas para os problemas existentes. O paradigma representa, assim, uma viso de mundo ou um sistema de idias construdo por um certo grupo social.

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    TERegistre em uma folha de papel o que voc

    entende por educao. Aps a leitura desta unida-de, retorne ao que voc redigiu e veja de qual concepo de educao estudada o seu conceito se aproxima. Por

    ltimo discuta os resultados disso com o seu tutor.

    Dentre as vrias teorias que explicam o fenmeno educativo, destaca-se aquela vinculada ao funcionalismo. Vejamos, en-to, como o funcionalismo encara a sociedade.

    Mostrando-se conservador, o funcionalismo percebe a socie-dade como similar a um organismo vivo, composto de vrias partes interdependentes que, desempenhando funes es-pecficas, devem ajudar na manuteno do equilbrio social. Nesse sentido, a sociedade preservada medida que a har-monia reina entre os indivduos, sendo as diferenas sociais percebidas como decorrncias naturais das caractersticas pessoais desses mesmos indivduos.

    O funcionalismo defende a necessidade da ordem social, bem como a reproduo das regras sociais pelos indivduos, a fim de a sociedade perpetuar-se. Veja que, nessa lgica, vm, em primeiro lugar, as estruturas sociais e no o indivduo.

    A partir dessa viso de sociedade e de homem, como o fun-cionalismo encara a educao? Podemos dizer que, nessa vi-so, a educao concebida como fator de equalizao so-cial. Vinculada ao paradigma do consenso, essa concepo ganhou fora nas primeiras dcadas do sculo XX, vendo a educao escolar como salvadora de todos os problemas da sociedade, sejam eles sociais, polticos ou econmicos.

    O funcionalismo uma tendncia que ressalta a funo dos elementos culturais em detrimento de sua forma. Essa perspectiva terica considera que a todo elemento cultural deve ser atribuda uma funo, e que a estrutura existe em si mesmo, como um todo funcional.

    possvel a escola ser a redentora dos problemas presentes na sociedade?

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    Um dos principais representantes dessa forma de pensar mile Durkheim (1858-1917). Para esse terico, a educao, em princpio, pode at ser estabelecida pelo indivduo ou gru-po de indivduos, a partir de seus interesses ou habilidades. Porm, ela s alcanar seus objetivos plenos se for realiza-da de acordo com os interesses que a sociedade estabelece como condies necessrias sua prpria manuteno.

    Considerando o homem como resultado do coletivo, o referi-do autor defende que a educao deve se resumir ao que as geraes mais velhas (adultas) exercem sobre as geraes mais novas, visando incorporao, por parte destas, de de-terminados estados fsicos, intelectuais e morais necessrios reproduo da prpria sociedade.

    Na viso funcionalista, a educao reduzida a um mecanismo adaptativo do homem sociedade,

    restringindo-se mera transmisso de conhecimentos, fazendo com que tradies e regras sociais sejam defendidas, por exemplo, pela escola, com o objetivo de

    manter o equilbrio social.

    Tambm inserido na viso funcionalista encontra-se Karl Man-nheim (1893-1947) que, defendendo a necessidade de tcnicas sociais para o planejamento de uma sociedade democrtica, v a educao como uma dessas principais tcnicas. Para ele, a educao escolar elemento-chave para o progresso social, devendo preparar o indivduo para viver numa sociedade que seja o resultado de um planejamento democrtico e racional.

    Para esse autor, a racionalidade humana deve ser usada para assegurar a harmonia social. Todavia, a capacidade de utilizar a racionalidade no estaria em todos os homens; apenas al-guns teriam o conhecimento e a competncia para planejar a sociedade democrtica.

    Mas, com diz o poeta Cazuza, o tempo no pra, no verdade? As transformaes polticas, econmicas e sociais pelas quais pas-sou o mundo nas duas primeiras dcadas do sculo XX fizeram com que a educao fosse pensada e vivida de forma diferente. As novas perspectivas apresentadas, principalmente em funo da 1a Grande Guerra Mundial (1914-1918), repercutiram intensamente nos vrios setores da vida social. O contexto era de uma civiliza-o em mudana, um mundo de grandes mudanas sociais.

    mile Durkheim (1858-1917)

    Durkheim nasceu em Epinal, na Alscia, descendente de uma famlia de rabinos. Realizou estudos filosficos na Escola Normal Superior, de Paris (Frana) e na Alemanha. Esse terico acreditava ser a cincia o modelo de pensamento ideal, rigoroso e eficaz, capaz de levar definio de uma moral com base cientfica.

    Mannheim foi um socilogo alemo de origem hngara, tendo desenvolvido muitos estudos de filosofia e sociologia. Foi brilhante professor de Sociologia em Frankfurt (Alemanha) a partir de 1930. Em 1933, com a ascenso do nazismo, Mannheim deixou a Alemanha para tornar-se professor em Londres (Inglaterra). Mannheim concebe as tcnicas sociais como todo e qualquer mtodo que possa influenciar na conduta do homem, visando lev-lo a adaptar-se s normas e aos padres de interao e organizao social vigentes.

    Para saber mais sobre as contribuies de Mannheim para a discusso do conceito de educao acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Mannheim.

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    TEParticipe de um conselho de classe em sua

    escola e procure identificar que concepo(es) de educao esto presentes na discusso realizadas nes-

    se conselho.

    Surge, assim, outra concepo educacional, a Escola Nova que, propondo uma pedagogia ati-va, ter no americano John Dewey (1859-1952) seu representante mximo. Esse autor parte do princpio que educao no preparao para a vida, mas a prpria vida. Para ele, o indivduo se educa atravs do processo ativo de construo e reconstruo da experincia, o que caracterizaria a educao como um pro-

    cesso fundamentalmente social.

    Em geral, na viso escolanovista, a democracia percebida, primeiramente, no mbito da escola e no no contexto das relaes sociais, o que leva os seus defensores a no discutirem a diviso e a luta de classes em sua maneira de conceber a educao. Dentre seus princpios orientadores, destacam-se:

    educao que equilibre as necessidades individuais ao meio atravs de experincias que satisfaam, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as exigncias sociais;

    valorizao da criana e respeito sua liberdade, iniciativa e interesses. O que importa a atividade que vale por si mesma e no pelos resultados e prticas sociais que produz;

    nfase na metodologia, deixando em segundo plano o contedo, de forma que este ltimo pouco importa: qualquer um serve, desde que leve o aluno a aprender a aprender;

    bases cientficas na educao, levando defesa da incorporao do desenvolvimento tecnolgico-cientfico ao ato educativo.

    John Dewey(1859-1952)

    A participao um dos elementos constitutivos da democracia. Ento, a at que ponto democrtica uma sociedade planejada apenas por alguns, para ser vivida por todos?

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    No incio da dcada de 1960, o pensamento conservador na educao assume uma nova roupagem, por meio dos progra-mas de educao compensatria. Partindo da idia da defici-ncia cultural, segundo a qual o aluno das classes trabalha-doras portador de deficits socioculturais, a educao com-pensatria no questiona se as diferenas sociais decorrem das caractersticas dos sujeitos ou se so resultados diretos da diviso social do trabalho.

    Em linhas gerais, a educao compensatria veicula o discurso da necessidade de a escola compensar as deficincias resul-tantes do ambiente pobre em que vivem as crianas da clas-se trabalhadora. Assim, defende o papel da educao como agente equalizador das desigualdades sociais, de deficincias que vo desde questes de sade, nutrio e familiares at outras de natureza emotiva, cognitiva e lingstica.

    Como podemos ver, at aqui, em maior ou menor grau, as concepes educacionais discutidas mantm sua filiao ao paradigma do consenso.

    Monte um quadro comparativo das vrias concepes de educao discutidas at aqui.

    Identifique os pontos comuns entre elas. Em seguida, justifique em que medida todas elas relacionam a educao reproduo das condies sociais

    vigentes.

    Todavia, nenhuma viso de mundo absoluta, nem existe so-zinha em um momento da histria; sempre h outras que se manifestam, de forma conflitiva. Por isso, importante per-ceber outras formas de perceber a educao na sociedade e na escola, espao no qual voc desempenha o seu trabalho. Vejamos, ento, outras possibilidades de se conceber o fen-meno educativo?

    A diviso social do trabalho corresponde diferenciao e distribuio de atividades entre indivduos e/ou grupos de indivduos da mesma sociedade.

    Voc acredita que, de fato, a escola deve assumir e possui o poder de compensar as desigualdades sociais dos indivduos que a ela tm acesso?

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    TE2.1 Denncias e propostas do paradigma do conflito

    Opondo-se ao modelo discutido anteriormente, o paradigma do conflito entende que toda sociedade possui contradies internas fortes o suficiente para levar sua prpria superao. Nesse sentido, os conflitos so vistos como necessrios or-ganizao social, pois eles esto presentes nas relaes que os homens estabelecem entre si, no mundo social.

    Essa forma de perceber a sociedade tem como base o marxis-mo e, adota o homem como o centro do mundo e como pro-cesso de suas aes. Considerando que os humanos partici-pam de determinadas relaes sociais, defende que o mundo social deve ser compreendido a partir de seus condicionantes histrico-econmicos e da diviso e luta de classes. Este nvel de percepo da realidade social influencia todas as concep-es educacionais do paradigma do conflito. Abordaremos aqui duas dessas grandes concepes.

    a) Educao como fator de reproduo cultural

    Um grupo das teorias educacionais marxis-tas denominado de crtico-reprodutivistas e, em geral, percebe a educao como fator de reproduo cultural. Dessas teorias, uma das mais debatidas a de Louis Althusser (1918-1990), para quem o tra-balho da escola es-colher um saber nico e pass-lo a indivduos concebidos isolados de suas condies de classe. Para esse autor, como poderoso Apare-lho Ideolgico do Esta-do/AIE, a escola veicula a ideologia burguesa e a impe classe trabalhadora, negando-lhe quaisquer possi-bilidades de expressar sua prpria viso de mundo.

    Karl Marx (1818-1883)

    O marxismo um conjunto de doutrinas sociais e filosficas cuja origem est relacionada ao pensamento de Karl Marx. Embora possua diversas vertentes, como sistema ideolgico, o marxismo critica radicalmente o capitalismo e defende a emancipao dos homens numa sociedade sem classes.

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    Para Althusser (1985), a ideologia se materializa na sociedade por meio dos

    Aparelhos Ideolgicos de Estado/IES, os quais funcionam como aparelhos de reproduo e

    alienao ideolgica da classe dominante do poder de Estado. Diversos so esses AIE: religioso (sistema

    das diferentes igrejas); escolar (sistema de diferentes escolas pblicas e particulares); familiar; jurdico; poltico (diferentes partidos); sindical; da informao (imprensa, rdio, TV); cultural (Letras, Belas Artes, desportos etc.). Ainda de acordo com o mesmo autor, h uma diferena entre o Aparelho Repressivo de Estado e o Aparelho Ideolgico de Estado: o

    primeiro funciona primeiramente pela violncia e secundariamente pela ideologia enquanto o

    segundo age de forma inversa.

    De forma semelhante, pensam outros tericos, como Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean-Claude Passeron para quem a escola age pela violncia simblica. Para eles, a violncia sim-blica da educao manifesta-se quando a escola leva o aluno a destruir sua viso de mundo para assumir a da classe do-minante, levando-o a responsabilizar-se pelas conseqncias desse processo. Em funo disso, os padres culturais, est-ticos e artsticos valorizados e privilegiados so os daqueles grupos privilegiados na sociedade. Observe, caro (a) cursista, que esses autores conseguem identificar a contradio bsica do funcionamento da escola na sociedade capitalista: favore-cer os j favorecidos e excluir os j excludos.

    Outra abordagem crtico-reprodutivista a expressa por Christian Baudelot & Roger Establet, para quem a principal funo da escola capitalista inculcar a ideologia burguesa na classe trabalhadora, contribuindo, assim, para a reprodu-o das desigualdades sociais. Esses autores admitem que os alunos trabalhadores tm uma ideologia prpria, mas en-tendem tambm que, ao ingressar na escola, esses alunos tm destruda sua viso de mundo. Tal processo se desen-volve medida que a escola procura torn-los submissos e sem foras significativas para manifestarem-se e fazer valer sua ideologia de classe.

    Louis Althusser(1918-1990)

    Pierre Bourdieu(1930-2002)

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    TEA forma com que esse grupo de vises

    tericas encara a ao educativa tem provocado, nas ltimas dcadas, muitas crticas por se mostrarem, por exemplo:

    reducionistas, medida que apresentam o fator econmico como determinante das outras dimenses da vida social;

    prximas ao funcionalismo, por defenderem total passividade dos sujeitos sociais;

    pessimistas e derrotistas, por no levarem em conta o carter poltico das aes dos indivduos visando a processos de transformao social;

    imprecisas na anlise da realidade social, por no conseguirem captar o funcionamento contraditrio dessa realidade.

    b) Educao como fator de resistncia e transformao social

    As limitaes das teorias crtico-repro-dutivistas levaram necessidade de elaborao de outra abordagem mais recente do paradigma do conflito. Essa nova abordagem trabalha com a idia da resistncia, elemento desconsidera-do pelas teorias da reproduo cultural, discutidas anteriormente. Henry Giroux um dos mais importantes representan-tes desta teoria crtica em educao, que apresenta certa esperana emancipatria do trabalho da

    escola. Quanto relao escola-sociedade, essa te-oria inspira-se no pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937), terico segundo o qual todos os homens so intelectuais embora, devido s condies materiais e ideo-lgicas da organizao da cultura, s alguns efetivamente desempenhem essa funo. Para ele, no h nenhuma ati-vidade humana totalmente desprovida do elemento inte-lectual. Sem dvida, extremamente importante perceber essa relao entre o pensar e o fazer na ao humana, afi-nal todos somos, ao mesmo tempo, homo faber e o homo sapiens. Veja ao lado como Gramsci nos ajuda a entender esta relao:

    Antonio Gramsci (1891-1937)

    Em linhas gerais, teoria da resistncia parte do princpio de que o processo de reproduo cultural nunca total, existindo sempre germes de resistncia nas prticas escolares dos grupos.

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    Releia a idia apresentada acima e redija um texto de, no mnimo, vinte linhas, analisando

    a importncia da relao teoria e prtica no trabalho que voc realiza na escola. Depois, troque idias a res-peito do seu texto com o(a) tutor(a) e os colegas de cur-so. Por ltimo, registre os resultados dessa discusso

    em seu Memorial.

    Como voc sabe, o conhecimento que possibilita distingir a realidade social, pondo em perigo as verdades at ento tidas como absolutas e inquestionveis. Veja, ento, que a educao pode ser considerada como fator de transformao social, j que uma classe social s pode impor-se sobre outra fazendo valer sua viso de mundo e seus interesses. Nesse contexto, que a prtica educativa assume um carter politi-zador, capaz de ajudar a rever o carter classista que tem se manifestado, historicamente, na funo da escola.

    Na relao escola versus sociedade, ocorrem processos de desgaste e renovao das concepes de

    educao. Assim, possvel encontrarem-se elementos repetitivos de um lado e inovadores do outro, conforme

    voc j deve ter verificado em sua atuao profissional.

    Esperamos que a discusso realizada ao longo desta unida-de, sobre a relao escola versus sociedade, tenha servido para ajudar a perceber a escola como um espao educativo no qual convivem diferentes concepes de educao. Essas concepes so expressas pelos diversos atores que, como voc, participam e contribuem para a realizao do trabalho escolar.

    Para encerrar esta unidade, reiteramos a idia de que tais con-cepes decorrem de certas vises de homem, mundo e socie-dade. Portanto, devemos compreend-las considerando o mo-mento histrico em que cada uma delas elaborada, difundida e transformada dentro das organizaes sociais. Mas, o que so as organizaes? Analisaremos esse conceito na prxima unidade, partindo do elemento que o constitui: o grupo.

    Para aprofundar a discusso sobre a concepo de educao como fator de transformao social acesse o site do Instituto Paulo Freire: http://www.paulofreire.org

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    TELocalize no Projeto Poltico-Pedaggico

    (tambm chamado de Proposta Pedaggica) de sua escola a concepo de educao expressa no

    documento. Feito isso, comente, em um ou dois par-grafos, essa concepo. Depois, comente com seu tutor e colegas de curso a concepo identificada por voc, indicando pontos de aproximao e/ou distanciamen-tos entre ela e as demais levantadas pelo grupo. Por l-

    timo, registre os resultados dessa atividade em seu Relatrio de Estgio.

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    Na unidade anterior, examinamos algumas das principais con-cepes de educao, partindo da idia de que elas tm ori-gem nas vises de mundo, homem e sociedade. Vimos que algumas delas enfatizam o carter conservador do ato educa-tivo e outras, numa perspectiva contrria, seu carter transfor-mador. Como voc pde constatar, embora tenham surgido obedecendo a uma determinada cronologia de tempo, essas concepes convivem simultaneamente na sociedade, de ma-neira geral, e na escola, em particular, ainda que uma delas predomine sobre as outras, em determinados momentos da histria.

    Esperamos que essa discusso tenha ajudado voc a identi-ficar, na escola onde atua, a concepo educacional que vem se destacando em relao s demais. Afinal, como co-gestor de uma organizao educativa, fundamental voc ter clareza dessa questo para que, juntamente com os demais grupos da escola, oriente o trabalho pedaggico para a mudana.

    Na verdade, a escola concretiza o seu trabalho contando com a participao dos diversos grupos que a compem, visto que ela como organizao precisa desempenhar um papel de grande importncia no mundo moderno: formar indivduos numa viso crtica, democrtica e emancipatria. Para tanto, o trabalho que voc realiza, como profissional de apoio escolar da educao bsica, tambm indispensvel para o alcance desse objetivo.

    Mas o que podemos entender por organizao, no contexto da sociedade moderna? Ser a discusso desse conceito que nos ocuparemos a seguir.

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    TEO homem um ser social e, portanto,

    tem necessidade de socializar-se. Alm disso, possui suas limitaes e, para garantir o cumprimento dos seus objetivos em sociedade, levado a cooperar com seus pares. Dessa interao entre os homens surgem as organizaes. Porm, para compreendermos melhor esse processo importante discutir, primeiro, o conceito de grupo, pois este o elemento bsico da organizao.

    Inicialmente, importante destacar que o grupo constitui a estrutura mais elementar do mundo social. Porm, nenhum grupo nasce pronto, mas construdo, sendo essencial para o processo de aprendizagem, a convivncia e as relaes, como voc estudou no Mdulo Relaes Interpessoais abordagem psicolgica, Bloco I Formao Pedaggica.

    Na sociedade h dois tipos de grupos: primrios e secundrios. Os grupos primrios, como por exemplo a famlia, possuem maior grau de interao, intimidade e coeso. Esse tipo de grupo requer mais tempo para desenvolver graus de interao e sentimentos comuns aos seus membros. Por sua vez, os grupos secundrios mostram-se menos coesos, menos ntimos, mais formais e com normas de convivncia mais explcitas. Esses grupos, como, por exemplo, aqueles formados por pessoas que assistem a uma sesso de cinema, revelam dificuldades de se sustentar por um longo perodo de tempo.

    No interior desses grupos, h uma relao diferenciada de poder. Assim, quanto mais primrio for um grupo, maior a sua fora sobre o indivduo. Em outra direo, os membros dos grupos secundrios moldam as condutas do indivduo, embora persista a influncia dos membros dos grupos primrios.

    Dentro das organizaes, os grupos convivem e constroem determinadas relaes que do, de certa forma, sustentao a essas mesmas organizaes. Por isso, a estruturao dos

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    grupos um elemento fundamental para o surgimento e evo-luo das organizaes.

    2.1 Como surgiram as organizaes no mundo mo-derno?

    Com efeito, a resposta a esta pergunta no simples e nem pode ser apresentada sem situ-la em relao prpria evo-luo humana. Assim, importante compreender como as organizaes apareceram e em funo de que necessidades humanas. Isso importante, entre outros motivos, para ajudar a compreender os momentos histricos que influenciaram o surgimento das principais teorias administrativas, que sero discutidas na Unidade 3.

    Em tempos remotos, os homens viviam em bandos, os quais podem ser considerados como o primeiro estgio da evolu-o poltica da vida humana. Nesse momento da histria, ha-via uma organizao mnima entre os humanos, valendo a lei do mais forte sobre o mais fraco. Portanto, nesse contexto, o poder estava bastante associado prpria fora fsica dos

    indivduos, aspecto que determinava, em grande parte, a forma como eles viviam no coletivo.

    Em um momento poste-rior dessa evoluo, os homens j viviam em tri-bos ordenadas a partir de

    Voc j se perguntou como surgiram as organizaes, como, por exemplo, aquelas de natureza educacional?

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    TEreferncias de parentesco, sexo e idade. Todavia, ainda no se

    organizavam em uma comunidade estruturada social e eco-nomicamente, nem conseguiam exercer um poder coercitivo sobre os indivduos, pois todos decidiam tudo ao mesmo tem-po. Voc pode imaginar como isso gerava, freqentemente, a desunio entre os homens?

    Na Pr-Histria perodo compreendido entre o aparecimen-to do homem sobre a Terra h, aproximadamente, 2 milhes de anos, e o da escrita, por volta do ano 4.000 a. C. surgi-ram comunidades humanas formadas por grupos que viviam da coleta de alimentos e da caa. Como voc estudou no Mdulo Informtica Bsica, a Pr-Histria pode ser dividida em trs perodos: Paleoltico, Neoltico e Idade dos Metais. Lembra-se disso?

    Depois, os povos comearam a cultivar a terra e cuidar de rebanhos, vivendo como agricultores e pastores. Consideran-do esse novo estgio de evoluo humana, estima-se que os homens comearam a fixar residncia h cerca de 10.000 a 12.000 anos.

    Na Antigidade Clssica longo perodo da Histria da Euro-pa que se estende aproximadamente do sculo VIII a. C., at a queda do Imprio Romano do ocidente no sculo V d. C. (476) , os humanos comearam a perceber que s o Estado pode-ria lhes dar proteo para a realizao de seus ideais polticos, ticos e morais. Como voc sabe, nesse perodo da Histria da humanidade as duas civilizaes mais marcantes foram a Grega e a Romana.

    J na Idade Mdia (476-1.453 d.C.), a caracterstica predomi-nante do pensamento humano era a religiosidade. Isso levou as teorias polticas da poca a explicarem a ordem social es-tabelecida a partir da idia de que todo o poder vinha de Deus e no dos homens.

    Voc sabia que, antes de chegar espcie atual, o homo sapiens, o homem passou por uma srie de transformaes, inclusive fsicas?

    Etimologicamente, o vocbulo Estado tem sua origem no latim status, que significa estar firme, aparecendo pela primeira vez na obra O Prncipe, escrita em 1513, por Maquiavel (1469-1513), um dos primeiros pensadores a se dedicar ao estudo sistemtico do Estado. As primeiras anlises a respeito do Estado surgem, de forma mais sistemtica, ainda na Antigidade nos escritos dos filsofos gregos Plato, Aristteles e Ccero. Porm, o Estado, com sua organizao poltica, jurdica e sua finalidade repressiva e ideolgica, algo criado no mundo moderno, visto que, em momentos anteriores da histria da humanidade, a fragilidade nas relaes polticas no permitia que tal concepo fosse elaborada. Nessa perspectiva, deve-se considerar que somente no final da Idade Mdia e incio da Idade Moderna (1789 em diante), ocorrem mudanas nas condies histricas do mundo europeu, as quais passaram a exigir uma forma de organizao poltica como a do Estado.

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    Porm, medida que a humanidade foi evoluindo, intensifi-caram-se as formulaes tericas sobre o Estado, cuja estru-turao deu-se entre os sculos XIII e XVIII, na Europa. Par-ticularmente, neste ltimo chamado sculo das luzes o Estado caracterizou-se como poderoso, absoluto e soberano, como voc estudou no Mdulo Educao, sociedade e traba-lho: abordagem sociolgica da educao, Bloco I Formao Pedaggica.

    A complexidade das relaes entre os homens ocorre, de forma bastante acentuada, nas primeiras dcadas do sculo XVIII. Porm, antes da Revoluo Industrial, cujo incio se deu na segunda metade do referido sculo, na Inglaterra, as prticas administrativas nas organizaes possuam outras caractersticas daquelas que assumem a partir do sculo XIX.

    Nessa poca, onde cresceu substancialmente o nmero de organizaes industriais, a realidade mostrou aos propriet-rios das fbricas, que cada vez mais eram criadas, que iso-lados eles no conseguiriam conduzir, nem controlar todo o trabalho produtivo de seus prprios estabelecimentos. Na verdade, essa dificuldade poderia comprometer inclusive o prprio lucro. Todavia, mesmo enfrentando essa dificulda-de, o mundo ainda no contava com teorias sistematizadas sobre o ato de administrar.

    importante ressaltar, caro(a) cursista, que, a partir do mo-mento em que a sociedade se mostrou mais complexa, ela foi sentindo necessidade de procurar outras formas de os seus membros viverem. Nesse momento histrico, os ho-mens j mostravam a necessidade de desenvolver proces-sos visando administrao dos recursos e das relaes criadas pelos grupos formados por eles.

    Com o acelerado crescimento industrial no sculo XIX, o mundo passou a sentir necessidade de conhecimentos mais aprofundados sobre como administrar as empresas, inds-trias e fbricas, que continuavam a surgir. Tempos depois, so construdas as teorias que fortaleceram as principais caractersticas das organizaes da sociedade industrial, as quais sero discutidas na prxima unidade. Veja, ento, que as organizaes surgem no contexto da Revoluo Indus-trial do sculo XIX quando as relaes econmicas, sociais e culturais entre os indivduos mostraram-se acentuada-mente complexas.

    A Revoluo Industrial teve incio na segunda metade do sculo XVIII, na Inglaterra, com a mecanizao dos sistemas de produo. Antes da industrializao, a tribo, a Igreja, o Exrcito e o Estado correspondiam s organizaes bsicas mais freqentemente observadas na sociedade.

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    TEAs muitas transformaes verificadas no

    mundo no ltimo sculo, particularmente, aquelas relacionadas tecnologia, fizeram com que as organizaes, como, por exemplo, as escolares tambm sentissem a necessidade de procurar acompanhar essas mudanas.

    Faa um resumo das principais idias abordadas neste primeiro item da unidade. Caso prefira, traduza suas idias por meio de desenhos. Analise-os com o tu-

    tor.

    2.2 Uma primeira aproximao do conceito de or-ganizao

    Como voc sabe, o mundo contemporneo caracteriza-se por um perodo de grandes e rpidas transformaes em to-das as reas da vida humana. Nesse cenrio, as organizaes surgiram com o objetivo de contribuir para que os indivduos buscassem solues coletivas para os seus problemas, per-cebendo que, dessa forma, sua fora poderia ser maior para resolv-los. Lembre-se do que acabamos de discutir sobre a crescente complexidade na evoluo hu-mana!

    Mas, a partir da evoluo his-trica que propiciou o seu surgimento, como podemos definir organizao? Antes de responder a essa pergun-ta, que tal pensar sobre o que significa organizar? Recorren-do a um dicionrio, verifica-se que organizar possui diversos sentidos, como, por exemplo, tornar apto para a vida, estabe-lecer as bases, formar, dispor para funcionar, arranjar etc.

    Agora sua vez: consulte no dicionrio o que significa organizao.

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    Aps a consulta solicitada, possvel que voc tenha encon-trado um significado prximo a este: modo pelo qual as par-tes que compem um ser vivo esto dispostas para cumprir certas funes (LAROUSSE, 1980, p. 606). De incio, o con-ceito apresentado chama nossa ateno para algumas idias, como, por exemplo, partes, composio e cumprir certas funes. Na realidade, dentro das organizaes, os homens agem de forma estruturada para buscar alcanar a meta maior da prpria organizao: sua sobrevivncia.

    Considerando essa e outras idias, muitos autores tm refle-tido sobre o conceito de organizao, ampliando-o a partir do sentido geral do que organizar, que acabamos de ver. Para um desses autores, Etzioni (1989), as organizaes podem ser entendidas como unidades sociais, orientadas para o alcance de objetivos e metas.

    As organizaes constituem sistemas complexos que interagem constantemente com um nmero

    significativo de outros sistemas, tambm com grande complexidade. Em funo disso, uma organizao no se encontra isolada, nem auto-suficiente. Ao contrrio, existe ao seu redor todo um contexto que deve ser considerado em sua existncia e estudo: o

    ambiente. Dessa forma, as organizaes, como os seus ambientes, so dinmicas.

    Conceitue, com suas prprias palavras, o que voc entende por organizao.

    2.3 Classificao das organizaes

    Em funo de sua experincia pessoal e profissional, voc j sabe que, na sociedade moderna, as organizaes assumiram um papel muito importante, sendo uma das principais carac-tersticas do mundo atual. Sendo bastante diversificadas, elas podem ser, por exemplo:

    Em linhas gerais, as organizaes correspondem a formaes sociais articuladas com um nmero necessrio de membros. Elas possuem funes internas definidas e apresentam, de forma consciente, fins e objetivos especficos tambm estabelecidos.

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    As organizaes podem ser classificadas, de diversas formas, conforme a proposta dos autores que as discutem. Etzioni (1989), por exemplo, as classifica como coercitivas, utilitrias ou voluntrias. Vejamos como pode ser compreendida esta classificao.

    As instituies voluntrias so aquelas nas quais os membros podem livremente entrar e sair delas, com finalidade espec-fica. Os membros desse tipo de organizao no so remu-nerados, embora caso elas cresam consideravelmente, seja possvel, dentro dela, o aparecimento de um grupo que possa vir a ser remunerado. Dentre essas instituies, podemos des-tacar igrejas, clubes recreativos e as organizaes no-gover-namentais (ONG), que vm crescendo consideravelmente no Brasil, a partir da dcada de 1980.

    Identifique as organizaes no-governamentais que existem em seu municpio. Liste as reas em que

    essas organizaes atuam. Alguma delas atua junto sua escola? O que voc pensa da atuao das ONG em

    servios pblicos como sade e educao?

    As organizaes coercitivas so aquelas em que a coero constitui-se na principal forma de controle sobre os membros. Esse nvel de coero tende a resultar em considervel ao dos membros em relao organizao, o que garantida, em nveis variados, pela fora e rgida disciplina. So exem-plos de organizaes coercitivas as prises, entidades que abrigam menores infratores e hospitais destinados a atender pacientes psiquitricos.

    ORGANIZAES

    pblicas e privadas;pequenas, mdias e grandes;de participao obrigatria ou voluntria;

    econmicas, polticas, religiosas, educacionais etc.

    de produo ou de servio;de associaes de benefcio mtuo e/ou empresas comerciais etc.

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    J as instituies utilitrias so aquelas que tm como princi-pal forma de controle sobre os seus membros a recompensa, a qual pode ser de naturezas diversas. Nesse grupo, temos como exemplos: fbricas, bancos, reparties governamen-tais, empresas mdicas etc.

    Agora que discutimos duas classificaes de organizaes, pense na realidade do seu

    municpio e identifique nele exemplos dos tipos de organizaes estudados.

    Tambm as caractersticas das organizaes mudam, confor-me o autor consultado. Para Schein (1982), essas principais caractersticas seriam:

    constante interao com os ambientes; mltiplas funes e objetivos; presena de vrios subsistemas interdependentes em inte-

    rao dinmica; existncia dentro de um conjunto de meios ambientes din-

    micos; presena de vrios elos entre a organizao e seus ambientes; ausncia de auto-suficincia e de independncia nas orga-

    nizaes; realidade construda.

    Por um outro critrio o de modelo organizacional as organizaes podem ser classificadas como: militares, cuja nfase

    recai sobre a hierarquia de autoridade, como o caso das Foras Armadas (Aeronutica, Exrcito, Marinha etc.);

    filantrpico, que conta com uma diretoria prpria, profissionais e pessoas que recebem certo atendimento, como entidades que atendem comunidade gratuitamente;

    corporao, por possurem acionistas, diretores, gerentes etc., como no caso de empresas e indstrias em geral;

    familiar, quando pessoas ligadas por laos de sangue e casamento possuem uma empresa com fins lucrativos, como, por exemplo, grandes redes de lojas e/ou de supermercados.

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    TEA escola nossa de cada dia, que tipo

    de organizao ? Veja que, tomando como critrio de classificao os objetivos das organizaes, a escola uma organizao formal de servios. Consider-la dessa forma implica reconhecer, como beneficirio dos seus servios, um pblico que possui contato direto com ela, e para quem os seus membros trabalham. Em funo disso, importante que todos que atuam na escola desenvolvam suas atividades com tica e transparncia, como discutiremos, de forma mais detalhada, na Unidade 6 deste mdulo. Para tanto, importante considerar que, dentro das organizaes, os indivduos possuem diferentes nveis de participao.

    2.4 Nveis de participao dentro das organizaes

    Conforme veremos na Unidade 3, as teorias administrativas concebem a participao dos indivduos dentro das organiza-es de formas bastante variadas. Todavia, possvel, mesmo sem termos analisados essas teorias, refletir sobre esse nvel de participao, a partir do esquema apresentado a seguir, proposto por Bordenave (1995).

    Informao Consulta Facultativa Consulta Obrigatria Elaborao/Recomendao Co-gesto Delegao Auto-gesto

    CONTROlE DIRIGENTES MEMBROS

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    Como voc percebe o esquema apresentado? Vejamos em que medida sua percepo assemelha-se quela que passamos a explicitar adiante. Como voc j deve ter observado em sua prtica profissional, o menor grau de participao das pesso-as em uma organizao o da informao, pois esta implica os dirigentes apenas informarem os membros da organizao sobre as decises que, tomadas por instncias superiores, de-vem apenas serem acatadas por todos. Nesse nvel de partici-pao, comportamentos como, por exemplo, o debate sobre as decises tomadas mostra-se, praticamente, inexistente.

    Em um segundo nvel est a consulta facultativa, que corre quando os dirigentes podem, se quiserem e quando deseja-rem, consultar os subordinados, solicitando destes crticas, sugestes ou informaes visando a soluo de determinado problema. No caso de a consulta ser obrigatria, embora os subordinados sejam consultados em certas ocasies, a deci-so final continua sendo exclusiva dos superiores na adminis-trao da organizao.

    Em um grau mais avanado de participao que o anterior, est o da elaborao/recomendao. Nesse caso, os subordi-nados formulam propostas e sugerem medidas em relao a determinado problema, as quais a administrao pode acatar ou rejeitar.

    Ainda de acordo com o esquema apresentado, o nvel de par-ticipao da co-gesto mostra-se superior aos anteriormente apresentados, medida que, nele, a administrao da orga-nizao compartilhada por meio de mecanismos de co-de-ciso, o que acontece, geralmente, via colegiados nos quais todos tm poder de voz e voto. No caso da escola, um desses colegiados pode ser, por exemplo, o conselho escolar, que deve contar com representante dos vrios segmentos da es-cola, ou ento, a associao de pais e mestres/APM.

    Por sua vez, a delegao um grau de participao mais ele-vado, que permite aos subordinados um considervel nvel de autonomia em relao a determinadas reas e/ou campos da organizao da qual fazem parte.

    Por ltimo, temos o grau mais alto de participao a autoges-to em que o grupo estabelece os objetivos da organizao, os meios que julga os mais adequados para alcan-los e os mecanismos de controle pertinentes. Quando assegurado esse grau de participao na organizao, tende a desapare-cer as diferenas entre os dirigentes e os subordinados.

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    Pense na forma como vem se dando a partici-pao dos vrios segmentos que formam a escola

    nas tomadas de decises relativas ao trabalho na ins-tituio onde voc atua. Aps analisar essa realidade, faa um texto de, no mnimo, vinte linhas, discutindo em que nvel do esquema apresentado se encontra a participao em sua escola. Procure apresentar, no tex-to solicitado, os motivos e as conseqncias desse

    nvel de participao.

    Ao analisar esses graus de participao, importante considerar que cada organizao e, por conseqncia, cada escola nica, de forma que o grau de participao dos seus membros varia de acordo com sua prpria dinmica.

    2.5 Mas, por que a escola diferente das demais organizaes sociais?

    Sem dvida, a resposta a esta questo merece um debate mais demorado. Entretanto, como nas Unidades 4 e 5 tratare-mos da natureza e especificidade do trabalho na organizao escolar, sinalizaremos essa resposta, neste item, de uma for-ma mais breve.

    Certamente, fundamental que todos aqueles que, como voc, participam do trabalho da escola, possam responder, com clareza, questo levantada. De forma sinttica, pos-svel afirmar que a escola se distingue das demais organiza-es, entre outros fatores, por:

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    promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas e sociais dos alunos, por meio de contedos sis-tematizados;

    propiciar condies para fortalecer a subjetividade e iden-tidade cultural das pessoas;

    preparar para o trabalho e formar para a sociedade tecnol-gica e do conhecimento;

    formar para a cidadania crtica sujeitos que interfiram na realidade, visando transform-los e no apenas integr-los ao mercado de trabalho;

    desenvolver a formao dos indivduos para valores, ticos, qualidades morais, traos de carter, atitudes e convices humanitrias de solidariedade.

    Estas e outras idias convergem para a caracterstica principal da escola como organizao:

    sua atuao no processo de socializao das pessoas, de modo a form-las, com autonomia, crtica e reflexo

    para desenvolver os papis que elas assumiro em outras organizaes e na sociedade como um todo, na perspectiva de contribuir para a transformao dessa

    mesma sociedade.

    Devido sua importncia, a especificidade da organizao educacional tem sido tratada, nos ltimos anos, por diversos autores que discutem a administrao escolar. Particularmen-te, dois desses autores Bourdignon e Gracindo (2001) res-saltam que essa especificidade definida por alguns fatores que tornam a escola singular, diante de quaisquer outras orga-nizaes sociais. Para esses autores, tais fatores so:

    a) a finalidade;

    b) a estrutura pedaggica da escola;

    c) as relaes internas e externas que decorrem dessa mesma estrutura;

    d) o resultado de sua produo, o qual se diferencia da produ-o em srie, caracterstica de outras organizaes, como, por exemplo, as industriais e comerciais.

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    Visando reiterar a distino da escola, em relao s demais organizaes sociais, apresentamos a seguinte idia dos mes-mos autores:

    Dessa forma, a produo da escola, diferentemente de outras organizaes, no tem sua qualidade definida na padronizao, mas na produo de seres emancipados, autnomos, no-autmatos (dimenso individual) e a na produo da equidade, da justia social (dimenso social). (BOURDIGON & GRACINDO, 2001, p. 155).

    Reflita acerca do mundo das organizaes e da forma como a escola nele se insere. Em seguida, des-

    creva trs situaes ocorridas no interior da escola que, no seu entendimento, diferenciam esta organizao das

    demais organizaes sociais no mundo atual.

    Ao finalizar esta unidade, vale uma ltima observao: os fa-tores apresentados anteriormente chamam a ateno para a necessidade de a escola ser administrada de forma diferen-ciada de outras organizaes, ainda que o seu trabalho, como qualquer outro produzido no interior das organizaes, preci-se ser planejado, executado e avaliado. Nas unidades seguin-tes trataremos, de forma mais detalhada, dessa questo.

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    Como estudamos na unidade anterior, no mundo moderno, as organizaes surgiram em funo da necessidade de o ho-mem atender suas necessidades, constituindo-se em uma das mais marcantes caractersticas da sociedade contempornea. Vimos tambm que a escola uma organizao diferenciada das demais organizaes sociais, em funo da natureza e es-pecificidade do trabalho que produz.

    Nesta unidade, discutiremos outro tema muito importante, visando a ampliar seu entendimento sobre a natureza das or-ganizaes. Trata-se das teorias administrativas, muitas vezes tambm chamadas de teorias das organizaes ou teorias organizacionais, cujo objeto de preocupao mais geral so as prticas desenvolvidas nas organizaes. Elaboradas em momentos histricos distintos e para serem aplicadas em di-versas organizaes, como empresas, essas teorias acabaram repercutindo sobre a administrao escolar.

    Todavia, importante reiterar que as teorias administrativas no devem ser aplicadas sem uma anlise crtica escola, em funo da especificidade que esta ltima apresenta, em rela-o s demais organizaes (empresas), como foi enfatizado na unidade anterior.

    Da mesma forma que as concepes de educao discu-tidas na Unidade 1 vm evoluindo ao longo da histria, as teorias administrativas tambm passaram por um processo semelhante, havendo uma variedade grande dessas teorias. Porm, focalizaremos aqui apenas algumas delas com o ob-jetivo de ressaltar sua importncia para as organizaes no mundo moderno. Para alcanar esse objetivo, as agruparemos em duas grandes abordagens: teorias de natureza prescritiva e normativa, e teorias de natureza explicativa e descritiva.

    Vrios so os motivos que justificam a importncia da compre-enso das teorias administrativas. Dentre estes, destacamos o consenso entre os historiadores de que mundo moderno , sobretudo, o mundo das organizaes. Alis, bem possvel que voc, em seu trabalho cotidiano, lide com princpios de algumas dessas teorias, embora nem sempre tenha consci-ncia disso ou no consiga relacion-los s teorias das quais eles decorrem.

    As teorias administrativas tambm podem ser identificadas pelo nome de estilo de administrao. Sendo este o conjunto das prticas de planejamento, organizao, direo e controle. Esse estilo corresponde aos padres comportamentais habitualmente adotados no trabalho pelas diversas prticas administrativas.

    A administrao de empresas desenvolve teorias sobre a organizao do trabalho das empresas capitalistas, enquanto a administrao escolar formula proposies tericas sobre a organizao do trabalho na escola e no sistema escolar. Em funo de terem sido criadas para as empresas, as teorias administrativas apresentam alguns conceitos que precisam ser repensados, quando tentamos aplic-los realidade da escola, pois esta uma instituio que possui certa especificidade em relao s demais organizaes sociais.

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    TEListe, pelo menos, quatro diferentes orga-

    nizaes sociais das quais voc participa no dia-a-dia, em sua vida pessoal. Em seguida, aponte outras

    das quais voc depende para realizar bem as suas ativi-dades profissionais. Por ltimo, registre as concluses

    desta atividade em seu Memorial.

    Por outro lado, se voc parar para pensar, ver que participa e depende, ao mesmo tempo, de diversas organizaes eco-nmicas, polticas, culturais, religiosas, educacionais etc. Por isso, ao estud-las, importante ter em mente que elas pos-suem alguns princpios:

    so produtos de um determinado contexto histrico;

    mostram-se dinmicas e com grande possibilidades de adaptao a situaes diversas;

    possuem, simultaneamente, um carter ideolgico e prtico;

    adaptam-se a contextos histricos diferentes, mas preservam determinadas idias bsicas;

    revelam, em maior ou menor grau, o elemento da burocracia.

    3.1 Abordagens prescritivas e normativas das teo-rias administrativas

    Abordaremos neste item trs das principais teorias que fazem parte das abordagens prescritivas e normativas: Administra-o cientfica, Teoria clssica das organizaes e Escola das relaes humanas.

    Inicialmente, saiba que essas teorias so assim classificadas por apresentarem um ponto comum: em maior ou menor grau, revelam elementos de natureza prescritiva e normativa para explicar o funcionamento das organizaes, como vere-mos mais adiante. Cabe tambm destacar que essas teorias, apesar de serem do sculo XIX, ainda hoje podem ser encon-tradas em muitas organizaes, inclusive algumas de carter educativo.

    Embora as teorias administrativas ou organizacionais sejam elaboradas em funo das transformaes decorrentes da Revoluo Industrial como vimos na Unidade 2 possvel identificar, ao longo da histria, importantes fatos na evoluo da humanidade, que tiveram como base determinados princpios defendidos e utilizados at hoje por tericos da administrao. Dentre esses acontecimentos, destaca-se o caso dos egpcios, que planejaram e executaram uma diversidade de atividades visando construo de suas famosas pirmides.

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    a) Teoria da administrao cientfica

    A Teoria da administrao cientfica recebeu esta denomina-o devido ao seu carter altamente tcnico. Enfatizando as tarefas dentro da organizao, essa abordagem procurava, ao mesmo tempo, reduzir o desperdcio e elevar o ndice de produtividade. Taylor, seu fundador, era um engenheiro norte-americano que influenciou um nmero muito grande de segui-dores, cuja principal preocupao, nas organizaes, era de-terminar o modo mais eficiente de realizar tarefas repetitivas. De forma geral, esses pensadores defendiam que o salrio do trabalhador deveria ser proporcional sua produo.

    Fatores como os mencionados acima mostravam que as ne-cessidades bsicas do trabalhador no eram consideradas, e que o principal interesse dos patres eram lucro e acumulao de capital. Esse cenrio desanimador despertou o interesse taylorista para o estudo cientfico das prticas administrativas visando a orientar o trabalho das organizaes.

    O taylorismo uma doutrina econmica e tecnocrtica sobre a organizao do trabalho,

    destinada a obter o mximo de rendimento com o mnimo de esforo e no menor espao de tempo.

    Estabelecida no incio do sculo XX por Taylor, essa doutrina defende a especializao de funes em detrimento de fatores humanos, sociais ou psicolgicos. Alm disso, d nfase s tarefas que foram simplificadas e padronizadas, com o objetivo de

    permitir a especializao do trabalhador e o aumento dos ndices de produtividade.

    O taylorismo utilizou o estudo de tempos e movimentos como o principal mtodo para padronizar as atividades dentro das or-ganizaes. De forma sinttica, podemos dizer que essa abor-dagem considerava o homem apenas como uma mquina que, se regulada adequadamente, teria a capacidade de realizar atividades de maneira repetitiva e igual. Taylor preocupava-se com a anlise metodolgica do trabalho, defendendo que cada pessoa dentro da organizao chefe e subordinados deve saber exatamente o que fazer, e faz-lo muito bem.

    Outro aspecto fortemente defendido por Taylor a separao entre o planejamento e a execuo. Veja que esse aspecto

    Frederick Winslow Taylor (1856-1915) nasceu nos Estados Unidos e comeou sua carreira profissional como aprendiz de operrio de uma oficina mecnica. Sua ascenso profissional foi bastante rpida: em apenas seis anos j era engenheiro-chefe de oficinas. Preocupado com a desorganizao administrativa, buscou encontrar maneiras de reverter isso, estudando, por exemplo, o uso do tempo dentro das organizaes.

    Voc sabia que, no contexto histrico de surgimento da Administrao Cientfica final do sculo XIX e incio do sculo XX as condies de trabalho eram desumanas, os salrios bastante baixos e as jornadas de trabalho muito longas?

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    TEcompromete e dificulta a

    articulao teoria e prti-ca nas atividades desen-volvidas pelos membros de qualquer organizao, como, por exemplo, a escola. Essa rgida sepa-rao divide as pessoas em dois grupos dentro das organizaes: umas poucas que pensam o que ser feito e determinam as tarefas, bem como a forma de realiz-las e outras que constituem a maioria, que se limitam a obedecer as ordens que recebem.

    O modelo de homem defendido pela administrao cientfica o do homo economicus, que considera serem os indivduos motivados exclusivamente por interesses materiais e salariais.

    verdade que a validade da Teoria cientfica da administra-o tem sido bastante questionada nas ltimas dcadas, em funo de suas limitaes para explicar a complexidade das organizaes e a presena das pessoas dentro delas. Todavia, apesar de seus entraves, essa teoria trouxe grandes contri-buies organizao da produo, medida que mostrou que o trabalho humano pode ser estudado sistematicamente. Vamos analisar uma outra teoria?

    b) Teoria clssica das organizaes

    A segunda corrente da administrao clssica a Teoria clssica das organiza-es, desenvolvida em 1916 por seu fun-dador, o engenheiro francs Jules Hen-ry Fayol (1841-1925). Essa abordagem surgiu frente necessidade da definio de estratgias para administrar as orga-nizaes complexas. Diferentemente de Taylor, Fayol concentrou-se nos elemen-tos da administrao superior das orga-nizaes, fato que contribuiu para sua adeso aos princpios administrativos definidos numa viso

    Assista ao filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Neste filme so apresentadas crticas diversas ao funcionamento das organizaes na perspectiva da Administrao Cientfica.

    Para saber mais sobre essas e outras teorias administrativas acesse http://www. pt.wikipedia.org.wiki/administra

    Jules Henry Fayol (18411925)Embora Fayol tenha realizado suas pesquisas ao mesmo tempo que Taylor, eles no conheciam os estudos um do outro. Taylor iniciou suas pesquisas a partir do operrio, elevando-o at a gerncia, enquanto Fayol fez o contrrio, comeando pela administrao superior, concentrando-se nos problemas da administrao geral.

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    de universalidade. Para ele, o gerenciamento poderia ser ensi-nado, com base no pensamento administrativo mais geral.

    Ao longo do tempo, muitas crticas foram sendo amadurecidas tambm em relao Teoria clssica da administrao. Uma delas refere-se ao fato de essa teoria ter sido concebida em um momento da Histria em que o ambiente no qual as organiza-es existiam mostrava-se relativamente estvel e previsvel. Seus princpios revelam-se incompatveis com as organizaes complexas de hoje em dia, quando os ambientes so muito mais dinmicos, em funo das grandes transformaes so-ciais, polticas e econmicas das ltimas dcadas.

    As teorias administrativas clssicas da primeira metade do sculo XX tendiam a no considerar o

    ambiente externo, preocupando-se somente com o ambiente interno das organizaes. Nesse sentido, tratavam a organizao como um sistema fechado, o

    que era possvel naquela poca, visto que o ambiente externo era mais estvel e previsvel.

    Como voc pode perceber, os autores das duas teorias que acabamos de analisar evidenciaram uma preocupao funda-mental com a construo de um modelo de administrao ba-seado na racionalizao e no controle das atividades humanas.

    Assim, deram pouca ateno s relaes dos indivduos nas organizaes, bem como

    sua participao.

    c) Escola das relaes humanas

    Vimos que a Administrao clssica enfa-tizou bastante o estudo cientfico da orga-

    nizao do trabalho nas organizaes. Essa limitao e as mudanas sociais pelas

    quais passou o mundo no incio do s-culo XX fizeram com que uma nova

    teoria administrativa fosse criada: a Escola das relaes hu-

    manas, a qual se mostrou pre-ocupada com o ser huma-no no interior

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    TEdas organizaes. Seu principal representante foi Elton Mayo

    (1880-1949).

    A Escola de relaes humanas percebia o homem como um ser mais complexo do que supunham os pensadores da Ad-ministrao Clssica, tendo como princpios bsicos:

    a) necessidade de uma viso mais elaborada a respeito da na-tureza da motivao humana;

    b) o ambiente social externo da organizao deve receber ateno;

    c) a organizao se caracteriza por ser um sistema social aberto;

    d) valores, sentimentos e atitudes possuem papel importante sobre o processo de produo.

    Dentre as vrias concluses a que a Escola das relaes huma-nas chegou, a partir dos estudos que desenvolveu, destacam-se aquelas que mostram que elementos como, por exemplo, a especializao de funes e uma rgida superviso podem contribuir na diminuio da produtividade dos trabalhadores dentro das organizaes. Como voc percebe, essa nova teo-ria mostra-se contrria aos princpios da Administrao cient-fica, vista anteriormente.

    Veja que o surgimento da Escola de relaes humanas foi uma forma de oposio ao pensamento de Taylor e Fayol, j anali-sados, por entender que, dentro das organizaes, as pessoas so os elementos mais importantes. Nessa lgica, buscou-se demonstrar que o modo como os indivduos se comportam nas organizaes no pode ser ignorado. Por isso, uma ca-racterstica marcante dessa teoria sua nfase nas pessoas, tentando humanizar as prticas administrativas da poca, de-fendendo a valorizao dos grupos sociais, a motivao, a li-derana, a participao e, sobretudo, a preocupao com a satisfao no trabalho.

    Voc j deve ter chegado concluso que cada teoria admi-nistrativa possui aspectos positivos e negativos. No caso da teoria ora analisada, verdade que ela contribuiu com novas formas de se estudar as relaes dos grupos dentro das or-ganizaes. Entretanto, para alguns dos seus crticos, embora mudando a viso sobre o trabalhador dentro da organizao em relao aos defensores da Teoria clssica da adminis-trao os humanistas procuravam justar os indivduos aos contextos de trabalho, e no o seu crescimento individual. De-

    Elton Mayo(1880-1949)A Escola das Relaes Humanas teve como fato marcante, para sua instalao, as experincias feitas numa fbrica em Hawthorne, realizadas por Elton Mayo e seus colaboradores. Essas experincias foram desenvolvidas entre 1927 e 1932 e visavam a analisar os efeitos do cansao e da monotonia no ambiente de trabalho. Seus resultados mostraram que os fatores sociais e psicolgicos relacionados aos trabalhadores podem estar mais ligados produtividade que s condies objetivas de trabalho, como iluminao ou o prprio salrio.

    Na Escola de Relaes Humanas, o papel dos chefes associado ao trabalho com as necessidades das pessoas como seres sociais, visando ao alcance dos objetivos da organizao. Assim, defende o homo social, por entender que o trabalhador motivado, principalmente, por recompensas sociais e simblicas, e no pela necessidade de ganhar mais dinheiro.

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    correm dessa crtica mais geral, outras duas:

    tentativa de eliminar os conflitos, ao invs de administr-los;

    idealizao de uma viso ingnua e romntica do trabalha-dor, como se este fosse feliz, produtivo e completamente envolvido na organizao.

    Para concluir a primeira parte desta unidade, apresentamos, a seguir, um quadro-sntese com os principais aspectos das teorias administrativas que estudamos at aqui.

    Aspectos principaisAbordagens prescritivas e normativas

    Administrao clssicaTeoria das relaes humanas

    nfaseNas tarefas e na estrutura organizacional

    Nas pessoas

    Abordagem da Administrao

    Organizao formal Organizao informal

    Principais representantes

    Taylor e Fayol Elton Mayo e Lewin,

    Conceito de homem homo economicus homo social

    Comportamento organizacional do indivduo

    Ser isolado que reage como indivduo dentro da organizao

    Ser social que reage como membro de um grupo social

    Sistema de incentivosIncentivos materiais e salariais

    Incentivos sociais e simblicos

    Objetivos organizacionais versus objetivos individuais

    Identidade de interesses, no havendo conflito perceptvel

    Identidade de interesses, devendo todo conflito ser evitado

    Resultados almejados Mxima eficincia Satisfao do trabalhadorFontes: CHIAVENATO, I. (1993) e GIBSON, J. L et all. (2000).

    3.2 Abordagens descritivas e interpretativas das teorias admi-nistrativas

    Como vimos no item anterior, a Administrao cientfica, a Teoria clssica das organizaes e a Escola das relaes hu-manas revelam, em menor ou maior grau, elementos prescri-tivos e normativos do comportamento dos indivduos dentro das organizaes. Neste segundo item, trataremos de outras teorias administrativas, as quais buscam entender o compor-tamento dos indivduos dentro das organizaes numa pers-pectiva descritiva e interpretativa.

    a) Teoria comportamental

    A Teoria comportamental surgiu com uma abordagem um pouco diferenciada das analisadas antes, ainda que tenha se

    Alm das teorias vistas at aqui, nas abordagens prescritivas e normativas, h a Teoria neoclssica cujo princpio fundamental o de que o homem um ser racional e social voltado para o alcance de objetivos individuais e organizacionais. Para tanto, defende que, dentro das organizaes, os homens precisam tanto de incentivos materiais (salrio, por exemplo), quanto sociais (valorizao do seu trabalho). Essa teoria entende tambm que, visando uma melhor administrao, a organizao deve procurar associar os seguintes elementos bsicos: (a) satisfazer as necessidades dos seus funcionrios; (b) possuir um processo participativo de tomada de decises; (c) ser flexvel; (d) buscar sempre se atualizar com novos conhecimentos. Entre seus principais representantes, encontra-se Peter Drucker.

    A Teoria Comportamental tambm camada de Teoria Behaviorista da Administrao, e est baseada no comportamento nas organizaes. Sua origem encontra-se nas cincias comportamentais, mais especificamente, na Psicologia Organizacional, cuja preocupao fundamental tratar do comportamento humano no ambiente organizacional. O principal eixo de preocupao behaviorista o exame do efeito das organizaes sobre