TRABALHOS APRESENTADOS · 4 Elisângela Karine Martins, Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia...
Transcript of TRABALHOS APRESENTADOS · 4 Elisângela Karine Martins, Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia...
1
Diferentes designs de ensino e de recursos didáticos:
Múltiplas possibilidades para a mediação pedagógica
ATAS DIGITAIS
IV Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula e
II Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras
TRABALHOS APRESENTADOS
ORGANIZADORES Arilson Sartorelli Ribas
Davi Marangon João Filipe Matos
Neuza Pedro
CURITIBA 4 de outubro de 2016
2
ORGANIZADORES
Arilson Sartorelli Ribas
Davi Marangon
João Filipe Matos
Neuza Pedro
CRÉDITOS
Título: Diferentes designs de ensino e de recursos didáticos: múltiplas possibilidades para a
mediação pedagógica.
Subtítulo: Atas do IV Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula e do II
Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras.
Curitiba, Paraná – Brasil
4 de outubro de 2016
Universidade Positivo
EDIÇÃO E COPYRIGHT
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa Alves Gonzati /CRB9-1584/Curitiba, PR, Brasil)
S 612 Seminário Nacional Investigando práticas de ensino em
sala de aula, 3. ; Seminário internacional de práticas pedagógicas inovadoras, 1. Anais [recurso eletrônico]. Organizadores Arilson Sartorelli Ribas ... [ et al. ]. São Paulo, 23 de out., 2015. - Curitiba : Positivo, 2016.
: il.
ISBN 978-85-467-1396-7
1. Educação - Currículos. I. Ribas, Adilson Sartorelli. II. Título. CDD 370
CAPA
Arilson Sartorelli Ribas
BLOG
www.editorapositivo.com.br/SNIPE
3
COMISSÃO ORGANIZADORA
Arilson Sartorelli Ribas, Doutorando em Educação: especialidade em Tecnologias de Informação e
Comunicação na Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Portugal;
Coordenador da área de Ciência da Natureza do Departamento Pedagógico da Editora Positivo,
Brasil.
Davi Marangon, Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil; Doutor em Educação pela
Universidade Federal do Paraná.
João Filipe Matos, Professor Catedrático do Instituto da Educação da Universidade de Lisboa,
Portugal; Doutor em Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Portugal.
Neuza Pedro, Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, Portugal; Doutora em Educação na
especialidade TIC e Educação pela Universidade de Lisboa (IEUL), Portugal.
COMISSÃO CIENTÍFICA
Arilson Sartorelli Ribas, Doutorando em Educação: especialidade em Tecnologias de Informação e
Comunicação na Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Portugal;
Coordenador da área de Ciências da Natureza do Departamento Pedagógico da Editora Positivo,
Brasil.
Carlos Henrique Wiens, Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Coordenador da área de Matemática do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Cassiana Beghetto, Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa
Catarina, Assessora de Língua Estrangeira do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Davi Marangon, Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná; Coordenador da área
de Educação Física e Arte do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Diogo Labiak Neves, Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná; Assessor de
Geografia do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
4
Elisângela Karine Martins, Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal
Tecnológica do Paraná; Assessora de Ciências e Biologia do Departamento Pedagógico da Editora
Positivo, Brasil.
Fernanda Souza, Doutoranda em Educação (Cognição e Educação Musical) pela Universidade
Federal do Paraná; Assessora de Arte do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Fernando Moreira Barnabé, Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo; Assessor da área
de Matemática do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Giselle Christina Corrêa, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná; Assessora de
Ciências da Natureza do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Juliana Assunção Fernandes, Mestra em Linguística Aplicada ao Ensino de Português pela
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal; Assessora da área de Língua Portuguesa
do Departamento Pedagógico da Editora Positiva, Brasil.
Jurema Ortiz, Mestre em Administração; MBA em gestão de negócios; Especialista em mercado
editorial pela Universidade Positivo; Coordenadora do Departamento do Núcleo da Educação a
Distância, Brasil.
Marileusa Guimarães Souza, Especialista em Gestão Escolar e Redes de Telecomunicações pela
Universidade Positivo; Coordenadora da área de Informática Educativa do Departamento
Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Norton Frehse Nicolazzi Junior, Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná;
Coordenador das áreas de Filosofia, História e Sociologia do Departamento Pedagógico da Editora
Positivo, Brasil.
Silvia Pandini, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná; Assessora da Educação
Infantil do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Simone Stival, Especialista em Gestão do Trabalho e graduada em Pedagogia pela Universidade
Federal do Paraná; Coordenadora das áreas de Educação Infantil, Língua Portuguesa e Língua
Inglesa do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
Walfrido Soares de Oliveira Jr., Mestre em História Social pela Universidade Federal do Paraná;
Assessor de História do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
5
Wilson Galvão, Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná; Coordenador da área de
Geografia do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil.
COLABORADORES
Amanda Melanie dos Santos
André Elias Emídio
Julia Padeski Rodoniski
Junior Ken Iti Obata
Lueinne Christinne Cipriano Santos
Luiz Antonio Gusi
Pamela Adrielle Calixto dos Santos
Roger Kelson Fortes
APOIOS E PATROCÍNIOS
Departamento Editorial e de tecnologias educacionais da Editora Positivo
Departamento Pedagógico da Editora Positivo
Departamento de Marketing da Editora Positivo
Universidade Positivo
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
6
PREFÁCIO
Esta ata digital reúne uma síntese da palestra inicial, do painel de encerramento e de alguns
dos trabalhos no formato de relato de experiência e pôster que foram aceitos para serem
apresentados e discutidos no IV Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala
de Aula e no II Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras, evento satélite do
Congresso Internacional de Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação
(ticEDUCA2016), que foi organizado pela Editora Positivo em parceria com o Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa, Portugal.
O processo de revisão dos trabalhos foi realizado pela comissão científica, de acordo com as
práticas correntes para este tipo de evento científico, tendo sido estas atas digitais compiladas pela
Comissão Organizadora.
O Seminário teve como tema “Diferentes designs de ensino e de recursos didáticos:
múltiplas possibilidades para a mediação pedagógica”. A relevância do tema é evidente, pois a
escola atual se constitui em um espaço de mediação pedagógica onde se fazem presentes novas
tecnologias, diferentes designs de ensino, multiplicidade de recursos didáticos e, também, novos
sujeitos que pensam, agem e se relacionam de maneiras diferentes.
Desta forma, a proposta temática geral marca a centralidade dos conceitos de design e
mediação pedagógica nos estudos inovadores, relacionados às práticas inovadoras de ensino em sala
de aula, condizentes com a realidade atual.
O conceito de design vinculado à prática educativa encontra-se nas ideias de vários autores,
entre eles, Donald Shön, principalmente quando discute pressupostos para a formação de
professores reflexivos. O ensino prático reflexivo proposto por Shön (2000) 1deve considerar o
conhecer-na-ação, a reflexão-na-ação e a reflexão sobre a reflexão-na-ação.
Neste contexto, o termo design é entendido como prática cultural e social, que vai além da
valorização exclusiva dos produtos concebidos pelos designers, revelando uma atitude em relação
ao processo de aprender. Assim sendo, a transposição da lógica do design para a prática pedagógica
propõe um ensino reflexivo que favorece aprendizagens relevantes de forma significativa para os
alunos.
Em outra perspectiva, Edgar Morin relaciona a ideia de design a um processo de concepção
que remete a criar configuração para novos modelos ou para novos objetos. Neste sentido, ela
também pode ser vinculada ao desenvolvimento de novas configurações de recursos didáticos e
modelos de mediação pedagógica para um ensino inovador.
1 SHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.
7
Moran, Masetto e Behrens 2 (2006) definem a mediação pedagógica como a atitude do
professor que se coloca como um motivador da aprendizagem; que ativamente colabora para o
sujeito para que ele atinja os seus objetivos; como a forma de se apresentar e tratar um conteúdo que
ajuda o estudante a coletar informações, relacioná-las, organizá-las, manipulá-las, discuti-las e
debatê-las nos espaços educativos, produzindo um conhecimento significativo para ele,
internalizado ao seu mundo; como as técnicas favorecedoras/facilitadoras da aprendizagem.
Acrescentamos a este conceito as novas possibilidades pedagógicas de aprendizagem quanto ao uso
de designs. Também é importante ressaltar que consideramos espaço educativo qualquer local onde
possa ocorrer a mediação das práticas de ensino escolares, seja ele presencial ou virtual.
Libâneo apud Libâneo, Suanno & Limonta3 (2011, p. 92) propõem a mediação entre o
sujeito e objeto do conhecimento numa dupla perspectiva: cognitiva − relacionando o aluno ao
objeto do conhecimento; e didática − assegurando condições e meios pelos quais essa relação
acontece. Uma didática nessa perspectiva é potencializada por diferentes designs de ensino,
promovendo e ampliando as capacidades dos sujeitos por meio da utilização de recursos didáticos
diversificados.
Nesse sentido, Vygotsky 4 (1987, 2007) embasa essa perspectiva de mediação porque
envolve a problematização por meio de instrumentos do contexto social (recursos didáticos e
designs de ensino), a interação como fundamental para o desenvolvimento humano, mediado por
signos, instrumentos e linguagens do meio, e a necessidade de considerar o outro, a sua experiência
de vida e os seus conhecimentos prévios no processo de ensino e aprendizagem para mediar práticas
de ensino.
Tendo como referência esta perspectiva teórica, o Seminário promoveu reflexões sobre as
possibilidades da mediação pedagógica com o uso de diferentes recursos didáticos, com diferentes
designs de ensino.
Os trabalhos foram apresentados, presencial e virtualmente, por professores de Portugal
(professores da Educação Básica e pesquisadores) e das escolas conveniadas à Editora Positivo, no
segmento privado (Sistema Positivo de Ensino) e público (Sistema Aprende Brasil de Ensino), e
organizados nos seguintes subtemas:
1. O uso de diferentes configurações de recursos didáticos e suas implicações na mediação
pedagógica da Educação Básica.
2 Moran, J. M., Masetto, M. T., & Behrens, M. A. (2006). Novas tecnologias e mediação pedagógica (10a. ed.). Campinas, SP,
Brasil: Papirus. p.18. 3 Libâneo, J. C. (2011). Didática e trabalho docente: a mediação didática do professor nas aulas. In Libâneo, J. C., Suanno, M. V. R., & Limonta, S. V. (Orgs.), Concepções e práticas de ensino num mundo em mudança: diferentes olhares para a didática. (pp. 85-100). Goiânia, GO, Brasil: CEPED/Editora PUC Goiás. 4 Vygotsky, L. S. (2007). A formação social da mente (7a. ed.). Rio de Janeiro: Martins Fontes.
_____________ (1987). Pensamento e linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes.
8
2. Projetos e designs de ensino interdisciplinares na integração curricular.
3. Designs de ensino em diferentes ambientes de aprendizagem.
4. Designs de ensino e recursos didáticos para os processos de alfabetização e letramento.
Enfim, o encontro procurou valorizar as práticas de ensino inovadoras apresentando novos
designs para utilização de recursos didáticos e/ou metodológicos com a função de auxiliar e
desenvolver a prática docente, possibilitando enxergá-la sob outras óticas, ampliando possibilidades
didáticas em sala de aula.
Agradecemos, na qualidade de membros organizadores destas Atas Digitais, a todos os que
direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste evento: autores, comissões,
patrocinadores, colaboradores e participantes.
Curitiba, 4 de outubro de 2016.
Arilson Sartorelli Ribas
Davi Marangon
João Felipe Matos
Neuza Sofia Guerreiro Pedro
Comissão Organizadora
9
Sumário PREFÁCIO .......................................................................................................................................... 6
Palestra inicial .................................................................................................................................... 10
Subtema 1 – O uso de diferentes configurações de recursos didáticos e suas implicações na mediação pedagógica da Educação Básica. ....................................................................................... 20
Subtema 2 – Projetos e designs de ensino interdisciplinares na integração curricular. ..................... 85
Subtema 3 – Designs de ensino em diferentes ambientes de aprendizagem. .................................. 131
Subtema 4 – Designs de ensino e recursos didáticos para os processos de alfabetização e letramento. .......................................................................................................................................................... 190
10
PALESTRA INICIAL
Os livros digitais da Editora Positivo: possibilidades para a integração curricular de tecnologias em práticas de ensino da Educação Básica
Resumo
Nesta palestra, apresentamos o desenvolvimento, a evolução e a implantação dos livros digitais da Editora Positivo no Ensino Médio, em escolas que utilizam o Sistema Positivo de Ensino. A sua primeira versão foi desenvolvida tomando como referência projetos ao redor do mundo e os editais do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Em 2014, ele foi implantado para 150.000 alunos dessas escolas no Brasil/Japão e, concomitantemente, foi desenvolvida uma investigação no Colégio Jardim Ambiental, na cidade de Curitiba, que durou até o final de 2015. O objetivo foi avaliar a integração curricular desta tecnologia às práticas de ensino e planejar a evolução da sua segunda versão, que será lançada em 2017. De natureza aplicada, com abordagem qualitativa/quantitativa e de caráter exploratório, a investigação registrou em campo 1.500 aulas de todos os componentes curriculares. Os dados tabulados e analisados por triangulação permitiram perceber limitações e necessidades da integração curricular do livro digital utilizado por alunos e professores em espaços educativos. Destacamos nesta investigação que docentes e estudantes apresentaram dificuldades técnicas, de infraestrutura e operacionais quanto ao uso desse recurso e observamos três situações de uso entre os seus participantes: somente o livro digital; híbrido (livro digital + livro impresso) e somente o livro impresso. Pelos aspectos levantados, salientamos a necessidade de investimento financeiro em infraestrutura, a oferta de modelos de cursos de formação docente que problematizem o uso do livro digital, e a produção de mais pesquisas na área que explorem essa temática. Por fim, em decorrência desses resultados, ressaltamos que está em desenvolvimento uma investigação de formação docente utilizando um modelo blended-learning na área de Ciências da Natureza, cujos resultados serão sistematizados no final de 2017.
Palavras-chave: inovação, livro digital, integração curricular, formação docente, educação
básica.
Abstract
In this Symposium we will present the development, evolution and implementation of digital books of Positivo Publisher in high school in schools using “Sistema Positivo de Ensino”. Its first
version was developed with reference to projects around the world and the edicts of the national plan of the textbook. In 2014 he was deployed to 150000 students in these schools in Brazil / Japan and, concomitantly, an investigation was carried out at the “Colégio Jardim Ambiental” in the city
of Curitiba, which lasted until the end of 2015. The aim was to evaluate the curricular integration of technology into teaching practices and plan the development of its second version, which will be launched in 2017. Applied nature, with qualitative / quantitative approach and exploratory, research registered in the field 1500 classes of all curriculum components. The data tabulated and analyzed by triangulation, allowed to identify limitations and needs of curricular integration of digital book used by students and teachers in educational spaces. We emphasize that this research faculty and students presented technical difficulties, infrastructure and operational on the use of this feature and observe three conditions of use among its participants: only the digital book; hybrid (digital book +
11
printed book) and only the printed book. The raised issues, we stress the need for financial investment in infrastructure, the supply of models of teacher training courses that problematize the use of the digital book, and the production of more research in the area to explore this theme. Finally, as a result of these results, we stress that is developing teacher training research using a blended-learning model in the natural sciences area whose results will be systematized at the end of 2017.
Keywords: Innovation, digital book, curricular integration, teacher education, basic education.
12
PALESTRANTES
JOÃO FILIPE MATOS (Portugal)
Minicurrículo
Professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, universidade em
que terminou o Doutoramento em 1991. É Diretor do Programa de Doutoramento FCT
“Technology Enhanced Learning and Societal Challenges”, do curso de Doutoramento TIC na
Educação e dos Mestrados em e-Learning e Formação a Distância e Ensino da Informática.
Coordena o Centro de Competência em Tecnologia e Inovação (C2TI) do Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa, vocacionado para o apoio a iniciativas de escolas e professores no domínio
das tecnologias digitais em colaboração com o Ministério da Educação.
CASSIANO JOSÉ NOVACKI (Brasil)
Minicurrículo
Formado em design gráfico pela Universidade Católica do Paraná. Cofundador da agência
de design gráfico Aliens Design, com mais de 12 anos de experiência na área editorial, atuou na
criação de projetos gráficos para livros didáticos em mídia impressa e digital. Atualmente é
supervisor de conteúdo digital da Editora Positivo, desenvolvendo livros digitais, sites e objetos
educacionais digitais para alunos de todos os níveis de ensino da educação básica.
13
ARILSON SARTORELLI RIBAS (Brasil)
Minicurrículo
Possui graduação em Licenciatura em Física pelo Centro Universitário Campos de Andrade
(2010), graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal do Paraná (1994) e mestrado
no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia pela Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (2012). Atualmente é coordenador da área de Ciências da Natureza na Editora
Positivo e doutorando do programa de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação
pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Possui experiência na educação básica, para
qual escreveu alguns livros didáticos, e atua com os seguintes temas: ensino de Física, Química e
Ciências; metodologia e didática de ensino e aprendizagem; práticas de ensino; uso de tecnologias
móveis na Educação; e modelos blended learning de formação para professores.
14
Os livros digitais da Editora Positivo: possibilidades para a integração curricular de tecnologias em práticas de ensino da Educação Básica
Arilson Sartorelli Ribas
Editora Positivo; Doutorando do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa [email protected]; [email protected]
Cassiano Novacki
Editora Positivo [email protected]
João Filipe Matos
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa [email protected]
1 INTRODUÇÃO
É inegável que as crianças e os jovens de hoje são diferentes das gerações que nos anos
1980 e 1990 frequentavam a escola. É verdade que as gerações sucessivas são sempre diferentes,
mas é consensual que as três ou quatro últimas gerações de jovens são muito diferentes das
anteriores. São diferentes na forma como interagem entre si e com os adultos, na forma como leem,
como escrevem, como organizam seu mundo social e como lidam com suas emoções. A literatura
de investigação mostra que essas diferenças na forma de organizar a experiência – visível nas duas
ou três últimas gerações de crianças – está intrinsecamente ligada à imersão em ambientes
tecnologicamente ricos, imersão que é estendida por continuidade às crianças.
O Horizon Report K-12 de 2015 (NMC, 2015) indica claramente como tendência, com
impacto a médio prazo, o aumento do uso de abordagens de aprendizagem colaborativa na escola a
partir de instrumentos tecnológicos em que o livro de texto digital ocupa um papel importante. Essa
tendência é consistente com os resultados da investigação que tem sido realizada por todo o mundo
e que aponta no sentido não apenas de um aumento da produção de livros digitais, mas também do
seu consumo pelas populações. Em países tão distintos como Singapura (OATES, 2014), Canadá
(STORY PLANET, 2015), Escócia (THE SCOTISH GOVERNMENT, 2015) ou China (CHEN;
GONG; YANG; HUANG, 2013), os resultados de estudos no domínio da utilização de livros de
texto digitais apontam para elementos importantes no desenvolvimento da compreensão conceitual
na leitura, no letramento digital e no envolvimento afetivo das crianças e dos jovens nas
aprendizagens escolares. Naturalmente, os estudos também apontam a necessidade de mais
investigação nesse domínio, não apenas porque as próprias tecnologias digitais estão em constante
evolução, mas também porque existem diversas variáveis que têm um papel central nos resultados
15
da utilização de livros de texto digitais. Referimos, em particular, às variáveis professor e à sua
abordagem pedagógica, à natureza das atividades que são propostas aos alunos, ao background
cultural e ao acesso que os alunos têm à tecnologia digital. Nos Estados Unidos, diversos estudos
preveem um aumento de 100% ao ano na utilização de livro digital, reconhecendo que em 2018
cerca de 50% das escolas o terão adotado.
Neste quadro, é fundamental que a formação dos professores para o uso de livros digitais
tenha enfoque nos aspectos pedagógicos – nomeadamente nas questões essenciais relativas àquilo
que desejamos que os alunos aprendam, à natureza das atividades que promovem essas
aprendizagens e às formas de respectivas avaliações. As tecnologias digitais – e, em particular, os
manuais escolares digitais – devem ser encarados como instrumentos de mediação e, desse modo,
tornar-se transparentes, permitindo uma relação direta dos alunos com o conhecimento.
Simultaneamente, é muito importante assegurar dois fatores: em primeiro lugar, a qualidade da
experiência dos alunos e dos professores com os manuais digitais na sala de aula, sendo essencial
que o fator tecnológico não constitua um constrangimento a um uso fluente por todos os
envolvidos; em segundo lugar, é fundamental considerar como chave o design das atividades de
aprendizagem dos alunos.
2 LIVRO DIGITAL DA EDITORA: DE ONDE PARTIMOS, ONDE ESTAMOS E
PARA ONDE VAMOS?
Para permitir a compreensão do cenário do qual partimos, onde estamos hoje e para qual
direção estamos seguindo, contextualizaremos de forma resumida a evolução da Editora Positivo no
desenvolvimento de seus materiais didáticos, em especial do livro digital.
A Editora iniciou as suas atividades em 1979, com foco na área privada, a partir da sua
experiência e atuação na Educação Básica. Surgia, assim, o Sistema Positivo de Ensino (SPE),
constituído de um livro (manual) impresso. Desde o início, para atender às necessidades de uma
sociedade em transformação e às expectativas dos professores das escolas que utilizavam o SPE, a
Editora acompanhou as mudanças sociais, ambientais, políticas, econômicas, educacionais e
tecnológicas. A cada nova reescrita, o SPE foi atualizado e, algumas vezes nesse processo, novos
elementos foram incorporados, permitindo que seu uso ampliasse as possibilidades de ensino e
aprendizagem e, também, auxiliasse os processos de gestão curricular. Outras soluções educacionais
(dicionários, livros didáticos, paradidáticos e de literatura) também foram criadas para ampliar a
atuação da Editora em outros segmentos da sociedade brasileira; atualmente a Editora Positivo atua
nos segmentos público e privado, atendendo aproximadamente a um milhão de alunos.
Saviani (2014) define sistema como a “unidade de vários elementos intencionalmente
reunidos, de modo que forme um conjunto coerente e operante” (p. 4) que no uso corrente assume
16
“a conotação de modo de proceder, de forma de organização, maneira de arranjar os elementos de
um conjunto, o que remete ao aspecto do método” (p. 4).
Apoiando-se nesse conceito, o Sistema Positivo de Ensino 5 foi evoluindo e hoje é
composto de diversos elementos (recursos didáticos e serviços de assessoria): um livro (manual)
impresso, um livro (manual) digital, objetos educacionais digitais6 (OEDs) num ambiente virtual de
aprendizagem na internet (Portal) e no livro digital, bem como assessoria pedagógica e de gestão
escolar (administrativo, financeiro, jurídico e de marketing).
Esses elementos demonstram o compromisso da Editora Positivo em relação à construção do saber,
à consciência ética, à força do trabalho e ao progresso humano (ARTUSO et. al, 2012), valores
preponderantes no Grupo Positivo.
No que se refere à evolução dos recursos didáticos do SPE, relacionados aos avanços
tecnológicos, além da tentativa de acompanhar as mudanças na sociedade, consideram-se como
estruturantes diversos aspectos que direcionam a agenda para a ação na área da educação:
Monitorização, através de pesquisa de satisfação e de expectativas das escolas que
utilizam algum tipo de solução educacional da Editora Positivo e da análise dos dados do
Comitê Gestor da internet no Brasil (2011, 2012, 2013, 2014, 2015) em relação ao uso de
tecnologias na escola brasileira e dos relatórios da Agência Nacional de Telecomunicações
(ANATEL, 2015).
Divulgação e informação, por meio de participação em feiras de livros (Frankfurt,
Bolonha, Bett Brasil Educar, Bienal do livro) e congressos internacionais e nacionais sobre
os usos da tecnologia em espaços educativos (TicEDUCA, ISTE).
Desenvolvimento conceitual e fundamentação teórica por meio de análise da literatura
(BOTTENTUIT JUNIOR; COUTINHO, 2007; DIAS, 2010; MARTIN; QUAN-HAASE,
2013) para entender e antecipar a evolução do conceito de livro digital e orientar a produção
de novos projetos.
Acompanhamento da implementação do uso do livro digital (primeira versão) em
escolas Positivo entre 2014 e 2015, para avaliar como ocorre a integração curricular do livro
nas práticas de ensino escolares e orientar projetos futuros (SOCHASCKI; SILVA, 2015).
Acompanhamento e análise da evolução da legislação que regula a integração curricular
de tecnologias: Constituição Federal (BRASIL, 2015a), Lei de Diretrizes e Bases da
Educação n.º 9.394/96 (BRASIL, 2015b), Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a
5 EDITORA POSITIVO. Sistema Positivo de Ensino. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EukRCKk1gw0>. Acesso em: 22 abr. 2016. 6 De acordo com o edital do PNLD 2015 (BRASIL, 2013b, p. 3), entende-se por objetos educacionais digitais vídeos, imagens, áudios, textos, gráficos, tabelas, tutoriais, aplicações, mapas, jogos educacionais, animações, infográficos, páginas web e outros elementos.
17
Educação Básica (BRASIL, 2013a), Plano Nacional da Educação (BRASIL, 2015d) e
Marco Civil da Internet (BRASIL, 2015c)
Análise dos documentos dos Programas Nacionais do Livro Didático (PNLD) de 2015
para o Ensino Fundamental e Ensino Médio (Brasil, 2013b, 2014, 2015e, 2015f), como
referências para orientar a produção dos novos projetos de livro digital.
Análise das tendências sinalizadas pelas DCN (Brasil, 2013a), pela Unesco (2013) e
pelo Horizon Report (e.g. NMC, 2015) quanto ao uso de tecnologias dentro dos espaços
educativos e às necessidades de formação continuada de docentes para ampliar as
possibilidades de integração curricular do manual digital.
Em termos prospectivos, considera-se que a efetiva integração curricular do manual digital
na Educação Básica tem ainda um longo caminho a ser percorrido, que passa pela concretização de
uma agenda que se foque em:
a) Aumentar a oferta e a diversidade de formatos de programas de formação continuada para
professores quanto ao uso do livro digital e o desenvolvimento das competências necessárias
a uma utilização consequente e relevante dessa tecnologia (NMC, 2015; BRASIL, 2013a;
UNESCO, 2013).
b) Aprofundar pesquisas sobre novos designs, novas propostas pedagógicas que sejam
sustentadas por ferramentas e práticas de ensino inovadoras para mediação dos conteúdos a
serem ensinados (PEDRO; MATOS, 2015).
c) Estimular o desenvolvimento de novos projetos com utilização de tecnologias adaptativas
sustentadas na integração do livro digital com recursos educacionais abertos e o uso de
objetos digitais que proporcionem uma aprendizagem personalizada e adaptativa (NMC,
2015).
REFERÊNCIAS
ANATEL. Relatório Anual 2015: ANATEL. Brasília, DF: Ministério das Comunicações, 2015. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br>. Acesso em: 11 jan. 2017.
ARTUSO, A. R.; WALESKO, A. M. H.; TRINDADE, A. F. P. da; LAPA, C. B.; MELLO, F. R.; SABINO, G. I. WUNSCH, W. J. Projeto Pedagógico Editorial. Texto não publicado. Curitiba: Editora Positivo, 2012.
BOTTENTUIT JUNIOR, J. B.; COUTINHO, C. P. A Problemática dos e-books: um contributo para o estado da arte. In: Memórias da 6.a Conferência Ibero-americana em sistemas, cibernética e informática (CISCI), v. 2. Orlando, 2007. p. 106-111. Disponível em: <https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6717/1/book.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017.
18
BRASIL. Câmara dos Deputados. Constituição da República Federativa do Brasil. 48 ed. (Série textos básicos; n. 109). Brasília: Edições Câmara, 2015a. Disponível em: <http://www.camara.leg.br/editora>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Câmara dos Deputados. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. 11 ed. (Série legislação; n. 159). Brasília: Edições Câmara, 2015b. Disponível em: <http://www.camara.leg.br/editora>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Câmara dos Deputados. Marco civil da internet. 2 ed. (Série textos básicos; n. 164). Brasília: Edições Câmara, 2015c. Disponível em: <http://www.camara.leg.br/editora>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Câmara dos Deputados. Plano Nacional de Educação 2014-2024. (Série legislação; n. 193). Brasília: Edições Câmara, 2015d. Disponível em: <http://www.camara.leg.br/editora>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília: MEC, 2013a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_con tent&view=article&id=12663&Itemid=1152>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Ministério da Educação. Edital de convocação 01/2013 – CGPLI. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2015. Brasília: MEC, 2013b. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-editais>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Ministério da Educação. Edital de convocação 02/2014 – CGPLI. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2016. Brasília: MEC, 2014. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-editais>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Ministério da Educação. Edital de convocação 02/2015 – CGPLI. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2017. Brasília: MEC, 2015e. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-editais>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. Ministério da Educação. Edital de convocação 04/2015 – CGPLI. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2018. Brasília: MEC, 2015f. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-editais>. Acesso em: 11 jan. 2017.
CHEN, G.; GONG, C.; YANG, J.; YANG, X; HUANG, R. The concept of eTextbooks in K-12 classes from the perspective of its stakeholders, Human-Computer Interaction and Knowledge Discovery in Complex, Unstructured, Big Data. Lecture Notes in Computer Science, v. 7947, 2013. p. 319-325.
COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Educação 2010: pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas brasileiras. São Paulo: CGI.br, 2011. Disponível em: <http://www.cgi.br/publicacoes/indice/pesquisas/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. TIC Educação 2011: pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas brasileiras. São Paulo: CGI.br, 2012. Disponível em: <http://www.cgi.br/publicacoes/indice/pesquisas/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
19
______. TIC Educação 2012: pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas brasileiras. São Paulo: CGI.br, 2013. Disponível em: <http://www.cgi.br/publicacoes/indice/pesquisas/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. TIC Educação 2013: pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas brasileiras. São Paulo: CGI.br, 2014. Disponível em: <http://www.cgi.br/publicacoes/indice/pesquisas/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
______. TIC Educação 2014: pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas brasileiras. São Paulo: CGI.br, 2015. Disponível em: <http://www.cgi.br/publicacoes/indice/pesquisas/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
DIAS, G. A. E-books: alguns insights. 2010. Disponível em: <http://wrco.ccsa.ufpb.br/wrco/?p=63>. Acesso em: 11 jan. 2017.
MARTIN, K.; QUAN-HAASE, A. Are e-books replacing print books? Tradition, serendipity, and opportunity in the adoption and use of e-books for historical research and teaching. In: Journal of the American Society for Information Science and Technology – JASIST, v. 64, n. 5, 2013. p. 1016-1028. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/asi.22801/pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017.
NMC. Horizon report K-12, 2015. Disponível em: <http://cdn.nmc.org/media/2015-nmc-horizon-report-k12-PT.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017.
OATES, T. Why textbooks count. Cambridge: The University of Cambridge, 2014. Disponível em: <http://www.cambridgeassessment.org.uk/images/181744-why-textbooks-count-tim-oates.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017.
PEDRO, N. S. G.; MATOS, J. F. Salas de aula do futuro: novos designs, ferramentas e pedagogias. In: III Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula; I Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras – ticEDUCA2016 – Evento Satélite. Curitiba, 2015. Disponível em: <https://investigandopraticasdeensino.wordpress.com/atas-digitais/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
SAVIANI, D. Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação: significado, controvérsias e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 2014.
SOCHASCKI, J. M.; SILVA, V. R. A implantação do livro digital em turmas do Ensino Médio: registros, desafios e algumas conclusões. In: III Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula; I Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras – ticEDUCA2016 – Evento Satélite. Curitiba, 2015. Disponível em: <https://investigandopraticasdeensino.wordpress.com/atas-digitais/>. Acesso em: 11 jan. 2017.
STORY PLANET. If we bild it, will they come? Digital Books in the Educational Landscape – Final Report. Ontario: MCG, 2015.
THE SCOTISH GOVERNMENT. Literature Review on the Impact of Digital Technology on Learning and Teaching. 2015. Disponível em: <http://www.gov.scot/Resource/0048/00489224.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017.
UNESCO. UNESCO policy guidelines for mobile learning. Paris, França: Unesco, 2013. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002196/219641e.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017.
20
Subtema 1 – O uso de diferentes configurações de recursos didáticos e suas implicações na mediação pedagógica da Educação Básica
21
POSTERES
22
Estratégias metodológicas e o processo de ensino-aprendizagem: diversificar para conquistar
Gabriel Mathias Carneiro Leão (1, 2); Marco Antonio Ferreira Randi (2)
(1) Instituto Federal do Paraná (IFPR); (2) Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
[email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Pôster
Resumo
O professor deve investigar os problemas de ensino e aprendizagem decorrentes de sua própria atividade docente. O questionamento e a avaliação de suas ações devem acarretar uma mudança conceitual, atitudinal e metodológica. Embora diversas metodologias educacionais tenham sido desenvolvidas e estejam disponíveis a professores e estudantes, as antigas continuam presentes. Em pleno século XXI, a aula expositiva ainda é a modalidade didática mais utilizada, com sua origem fortemente arraigada a um modelo de educação tradicional e tecnicista. As aulas expositivas colocam professores e estudantes em uma zona de conforto, mas, apesar das aparentes facilidades, o método tradicional pode dificultar a aprendizagem dos estudantes por não valorizar a diversidade de formas de aprendizagem existente na sala de aula. Além disso, a linguagem científica e o grande número de conceitos próprios de cada disciplina podem acentuar o desinteresse dos estudantes e aumentar a desmotivação dos professores, contribuindo para a evasão escolar.
O objetivo principal do trabalho foi analisar a possível correlação entre a aprendizagem de temas da Biologia e a utilização de diferentes estratégias pedagógicas, focadas em estudantes com diferentes características e habilidades. Para tanto, aulas envolvendo temas da Biologia foram desenvolvidas e aplicadas a estudantes regularmente matriculados no 1.º ano do Ensino Médio de escolas públicas, localizadas em diferentes cidades no Estado do Paraná.
Os estudantes foram organizados em grupos experimentais envolvendo aulas com as metodologias da aula expositiva, da aprendizagem cooperativa (envolvendo jogos colaborativos, elaborados de acordo com os temas propostos) e das representações não linguísticas (envolvendo a construção de modelos tridimensionais e a organização de cartazes relacionados aos temas propostos).
Para avaliar o desempenho de cada metodologia no aprendizado, os estudantes participaram de atividades avaliativas, realizadas através da aplicação de questões objetivas, discursivas e mapas conceituais, em dois momentos: 1) anterior às aulas (Fase I) e posterior às aulas, em curto prazo (Fase II). Estudantes e professores participantes também responderam a um questionário sobre as atividades desenvolvidas, de acordo com seu grupo experimental.
Comparando-se as notas obtidas nas avaliações da Fase I e da Fase II, percebe-se um aumento significativo no desempenho dos estudantes em todos os grupos experimentais. Os depoimentos colhidos nas entrevistas também demonstraram grande aceitação por estudantes e professores em relação às atividades diferenciadas realizadas. Os resultados sugerem que essas metodologias podem ser utilizadas como opções alternativas à aula expositiva, contribuindo para a diversificação de atividades, favorecendo a relação entre estudantes e professores, aumentando o interesse pela Biologia e diminuindo a evasão.
As análises estatísticas foram realizadas através de testes pareados utilizando o programa GraphPad Prism, versão 6.00 para Windows, GraphPad Software. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
Palavras-chave: metodologias de ensino-aprendizagem, aulas expositivas, jogos colaborativos, representações não linguísticas, educação em biologia celular.
23
Abstract
Teachers should investigate the problems of teaching and learning resulting from its own teaching activity. The questioning and evaluation of their actions should lead to a conceptual, attitudinal and methodological change. Although several educational methodologies have been developed and are available to teachers and students, the old still present. In the twenty-first century, the lecture is still the most used didactic mode, with its origins deeply rooted in a model of traditional and technicist education. The lectures put teachers and students in a comfort zone, but despite the apparent simplicity, the traditional method can hinder student learning by not valuing the diversity of existing forms learning in the classroom. Furthermore, the scientific language and the large number of very concepts of each discipline can accentuate the lack of interest of students and increase motivation of teachers, contributing to evasion.
The main objective of this work was to analyse the possible correlation between learning subjects of biology and the use of different teaching strategies focused on students with different characteristics and abilities. Therefore, classes involving subjects of biology have been developed and applied to students enrolled in the 1st year of high school public schools located in different cities in the state of Paraná.
Students were organized into experimental groups involving classes with the methodologies of lecture, cooperative learning (involving collaborative games, prepared in accordance with the proposed themes) and non-linguistic representations (involving the construction of three-dimensional models and the organization of posters related the proposed themes).
To evaluate the performance of each methodology in learning, students participated in evaluation activities, carried out through the application of objective, discursive and conceptual maps issues, in two stages: 1) prior to class (Phase I) and later to school, in short period (Phase II). Students and participating teachers also answered a questionnaire about the activities, according to their experimental group.
Comparing the marks obtained in the assessments of Phase I and Phase II, it is clear that the significant increase in student performance in all experimental groups. The testimonies collected from the interviews also showed great acceptance by students and teachers in relation to different activities. The results suggest that these methodologies can be used as alternatives to the lecture, contributing to the diversification of activities, favoring the relationship between students and teachers, increasing interest in Biology and reducing evasion.
Statistical analyses were performed using paired tests using GraphPad Prism version 6.00 for Windows, GraphPad Software. The project was approved by the Ethics Committee on Human Research of the Federal University of Parana Hospital de Clinicas.
Keywords: teaching and learning methodologies, lectures, collaborative games, nonlinguistic representations, cell biology education.
REFERÊNCIAS
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 32 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2012. DICARLO, S. E. Cell biology should be taught as science is practised. In: Nature Reviews. Molecular Cell Biology, n. 7, 2006, p. 287-90. LABURÚ, C. E.; ARRUDA, S. de M.; NARDI, R. Pluralismo Metodológico no Ensino de Ciências. In: Ciência & Educação, v. 9, n. 2, 2003, p. 247-260. MARZANO, R. J.; PICKERING, D. J.; POLLOCK, J. E. O ensino que funciona: estratégias baseadas em evidências para melhorar o desempenho dos alunos. Porto Alegre: Artmed, 2008. VESELINOVSKA, S. S.; GUDEVA, L. K.; DJOKIC, M. Applying appropriates methods for teaching cell biology. In: Procedia – Social and Behavioral Sciences, 15, 2011, p. 2837-2842.
24
RELATO DE EXPERIÊNCIA
25
A cidade maravilhosa além da paisagem
Lucienne Lautenschlager
Editora Positivo
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O objetivo desta pesquisa é analisar o léxico que enaltece a cidade do Rio de Janeiro, conhecida como cidade maravilhosa, em vinte e duas canções compostas entre as décadas de 1930 e 1960. Parte-se do pressuposto de que os sentidos que cada palavra possui só são revelados quando estudados dentro de um determinado contexto, seja histórico, político, social e/ou geográfico. O léxico, quando atualizado no discurso, reflete o pensamento de um indivíduo ou de um grupo, que nada mais é do que a materialização da ideologia que é determinada pelos enunciadores, ao fazerem suas escolhas lexicais. Ao optarem por essa ou aquela palavra, eles indicam suas crenças, valores e /ou experiências acumuladas. Utilizam-se como bases teóricas para os estudos do léxico autores como Pottier (1972), Vilela (1979), Biderman (2001) e Van Dijk (1997; 2003; 2004; 2012; 2013) para analisar as relações entre discurso, cognição, sociedade e contexto. A partir disso, é feita a organização das unidades lexicais – lexias – em campos semânticos, para identificar subtemas que estão relacionados à composição do tema “cidade maravilhosa”. Foram encontradas, nas letras
das canções, temáticas relacionadas à mulher, à música, aos espaços urbanos e à cidade do Rio de Janeiro, idealizada como a própria mulher. Os campos semânticos mostram que esses temas influenciaram, fortemente, a composição ideológica “cidade maravilhosa” e que, por meio da interface cognitiva, criaram a
contextualização desse espaço brasileiro.
Palavras-chave: análise crítica do discurso, lexicologia, cidade maravilhosa, Rio de Janeiro.
Abstract
The objective of this research is to analyze the lexicon that emblazons Rio de Janeiro, known as “the
wonderful city”, through twenty-two songs written during the so-called “Golden age of radio”. To
accomplish such task, one begins with the assumption that the sense each word has, reveals itself when studied within a given context, being it historical, political, social or geographical. Lexicon, when applied in discourse, reflects individual or collective thought, which is nothing more than the materialization of the ideology that is determined by enunciators, once their lexical choices have been made. By selecting a word over another, beliefs, principles and/or lifetime experiences are conveyed. This research has, as its theoretical basis, Pottier (1972), Vilela (1979), Biderman (2001) and Van Dijk (1997; 2003; 2004, 2012) for the analysis of the relationship between discourse, cognition, society and context. From this point forward, the lexical units are divided – lexias – into semantic fields to identify subthemes related to the larger theme “wonderful
city”. Lastly, themes linked to women, music, urban spaces, and the notion of Rio de Janeiro being idealized
as a woman itself are found in the lyrics of the songs in question. The semantic fields indicate that such themes have deeply influenced the ideological constitution of the term “wonderful city” and thus, through a
cognitive interface, have shaped the contextualization of this Brazilian space.
Keywords: critical discourse analysis, lexicology, wonderful city, Rio de Janeiro.
26
1 INTRODUÇÃO
Conhecida como cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro é, muitas vezes, sinônimo de Brasil. As
praias, as mulheres, o clima e a beleza natural associados a essa cidade, eleita como Patrimônio
Cultural da Humanidade pela Unesco, servem de cenário a muitas novelas, clipes, desenhos,
seriados e filmes nacionais e internacionais.
Abriga o Cristo Redentor, considerado a sétima maravilha mundial, e o Pão de Açúcar –
morro de formação rochosa com 396 metros de altura – que ajudaram a cidade a ser reconhecida no
exterior desde o seu aparecimento no filme 007 Contra o foguete da morte, estrelado pelo ator
Roger Moore, na década de 1970. O teleférico, que dá acesso ao Cristo, foi o terceiro a ser instalado
no mundo e o primeiro no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, o que ajudou a atrair os olhares para
o espaço carioca.
Somado ao aparecimento nesse filme, o Rio de Janeiro, ex-capital federal, ganhou maior
visibilidade e atraiu a atenção de toda a nação brasileira no período pós-Proclamação da República,
pois, devido ao “fato de ter sido o novo regime proclamado por movimento que se desenrolara
totalmente na capital”, as expectativas da população cresceram em relação à economia, à política e
à cultura da cidade (CARVALHO, 1987, p. 16).
Pela expectativa despertada, por razões vinculadas à política, por lutas sociais iniciadas, a
cidade começou a receber uma exacerbada população de imigrantes – a maioria advinda de Portugal
e de migrantes de várias regiões do Brasil, em sua maioria, formada por “ladrões, prostitutas,
malandros, desertores do Exército, da Marinha e dos navios estrangeiros, ciganos, ambulantes,
trapeiros, criados, serventes de repartições públicas, ratoeiros, recebedores de bondes, engraxates,
carroceiros, floristas, bicheiros, [...] pivetes” (CARVALHO, 1987, p. 18). Como consequência
desse crescimento populacional, a cidade passou a ser um verdadeiro espaço urbano marginalizado,
cheio de conflitos de etnias e classes, nos quais as contravenções, como desordem, vadiagem,
embriaguez ou jogo, eram constantes. Também apareceram problemas com habitação (tanto em
qualidade quanto em quantidade), abastecimento de água, saneamento e saúde, os quais foram a
causa da febre amarela, da varíola, da malária e da tuberculose.
Nessa época, a cidade era foco das atenções de todo o país, não só por sua beleza natural,
nem pela sua aparição na sétima arte, mas também pelo novo regime ter sido proclamado em terras
cariocas e, posteriormente, pelos seus problemas sociais, como confirma Carvalho (1987, p. 22) ao
sublinhar que “acontecimentos [na cidade do Rio de Janeiro], por banais que fossem, assumiam
importância desmedida [...] pelo país inteiro”.
Era preciso, então, civilizar a antiga Capital Federal (DINIZ, 2006), não apenas em termos
políticos e econômicos, mas também em termos culturais. A cidade necessitava de uma reforma nos
27
aspectos que envolviam tanto a higiene quanto a urbanidade. Os governantes, na época, cederam a
um movimento elitista que considerou importante a retirada da pobreza e de todos os traços de
africanidade dos centros, deslocando para as favelas e aos subúrbios do Rio de Janeiro, que, então,
iam se constituindo.
Paralelamente a essa política governamental, iam surgindo novas tendências, novos gostos,
lideranças intelectuais, culturais e políticas. Uma dessas tendências foi o encontro dos sambistas em
casas de mulheres baianas e festeiras, para festejar, compor e interpretar a história da cultura negra
do samba. Tia Ciata era uma dessas mulheres, uma das mais famosas e importantes. Cedia a casa
para fazer festa e a dividia do seguinte modo: “baile na sala de visita (choro), samba de partido-alto
nos fundos da casa e batucada no terreiro (samba-de-umbigada)” (DINIZ, 2006).
Essa divisão era retrato da interação social, pois permitia que diversas pessoas participassem
de diferentes momentos de descontração, boemia, e muito mais que isso, momentos de composição
de canções com implicações não apenas estéticas, mas também ideológicas, a partir de um encontro
de classes e grupos sociais heterogêneos: negros, mestiços, brancos, pobres e ricos. Assim, o samba
nunca foi um gênero puro – sem interferências ou misturas de ritmos – já que “as classes populares,
sobretudo os ‘negros pobres’ do Rio de Janeiro e mestiços do Nordeste [que migraram para lá] já
tinham a sua leitura do mundo branco e da cultura hegemônica. [...] ela [a música urbana brasileira]
já nasceu como resultado de um entrecruzamento de culturas” (NAPOLITANO, 2002, p. 48).
À medida que os grupos foram crescendo e as composições musicais aumentando, houve a
necessidade de difundi-las. As pessoas, de modo geral, queriam conhecer essas experiências
musicais e participar delas, mesmo que só ouvindo, bebendo e se divertindo, reflexo de um
crescimento urbano que demandava a criação de diferentes espaços de entretenimento e que fazia
surgir teatros, salas de cinema, bares, entre outros.
Com o tempo, a tecnologia foi incorporada aos espaços de lazer. Diniz (2006, p.16) destaca
que “o telefone, o bonde elétrico e o automóvel encurtaram as distâncias e redimensionaram o olhar
dos indivíduos sobre a cidade [do Rio de Janeiro]”. Em 1920, apareceram os gramofones e o rádio.
Entretanto, só em 1930, o rádio consolidou-se como o meio de comunicação pelo qual pessoas,
independentemente do gênero ou da classe social, conseguiam ter acesso às mesmas informações.
A primeira transmissão feita pelo rádio aconteceu na cidade do Rio de Janeiro e, com isso,
todas as experiências musicais acumuladas nessa cidade vão, de uma forma ou de outra, se fazer
presentes no conhecimento de uma grande parcela da população, principalmente, daquela que já
estava ávida pelo entretenimento (DINIZ, 2006, p. 18).
Já reconhecida nacional e internacionalmente, a cidade é saudada, em 1935, por André
Filho, com a composição “Cidade Maravilhosa”, cujo título se consagra como epíteto desse local. A
cidade maravilhosa “foi comentada, criticada e saudada por intermédio da música, seja com a
28
alusão a suas ruas e seus bairros, seja por meio da crônica de seus personagens” (MOUTINHO,
2009, p. 17).
Para investigar as razões que justificam a perpetuação do epíteto “cidade maravilhosa”, esta
pesquisa pretende analisar o léxico que enaltece o Rio de Janeiro em vinte e duas canções
brasileiras, compostas entre as décadas de 1930 e 1960.
2 OBJETIVO
O léxico, quando atualizado no discurso, reflete o pensamento de um indivíduo ou de um
grupo, que nada mais é do que a materialização da ideologia que é determinada pelos enunciadores,
ao fazerem suas escolhas lexicais. Ao optarem por essa ou aquela palavra, eles indicam suas
crenças, valores e/ou experiências acumuladas. Calcada nessa evidência, a obra pretende desvelar
os mecanismos linguísticos que aprisionam a expressão “cidade maravilhosa” sob campos
semânticos.
Ao organizar este trabalho, a autora teve como propósito oferecer elementos de reflexão
linguística, de pesquisa e de análise crítica do discurso, além da clara noção de que apenas
reproduzir uma palavra, frase ou expressão não é mais suficiente nos eventos comunicativos de
hoje.
3 METODOLOGIA
O levantamento lexical das canções será organizado em campos semânticos, tendo como
base os critérios e os conceitos de lexia propostos por Pottier (1978). O campo semântico ou campo
lexical – como alguns autores preferem chamar – são “um paradigma lexical formado pela
articulação e distribuição de um contínuo de conteúdo lexical por diversas unidades existentes na
língua e que se opõem entre si por meio de simples traços de conteúdo” (Vilela, 1979, p. 60).
As interligações de sentido podem ser feitas, de acordo com Ullmann (1964, p. 133) com
base em duas perspectivas: onomasiológica e semasiológica. A primeira “parte do sentido e procura
identificar o nome, ou nomes” que estejam ligados a um termo estabelecido; e a segunda “parte do
nome e procura identificar significados”. Biderman (2001, p. 199) acrescenta que o campo
onomasiológico “compreende todos os significantes (designações, nomes) de um dado significado”,
enquanto o campo semasiológico “compreende todos os significados possíveis que possam traduzir
um determinado significante (nome)”.
Para a composição do campo semântico utilizaremos a perspectiva onomasiológica, já que
buscamos reunir conjuntos de lexias – unidades lexicais atualizadas no discurso – em forma de
significados. Henriques (2011) afirma que “lexias são unidades de características complexas cuja
29
organização enunciativa é interdependente”, o que significa que, de acordo com a necessidade
discursiva, elas podem obedecer a diferentes combinações.
Pottier (1978, p. 269) as divide em quatro tipos:
a) lexia simples: “corresponde à palavra tradicional”. Ex: “carioca”.
b) lexia composta: “é o resultado de uma integração semântica”, é reconhecida, sem
dificuldade, por falantes de uma língua e obedecem a um padrão linguístico. Ex: “samba-
canção”.
c) lexia complexa: “é uma sequência [de palavras] em vias de lexicalização”. Essas
palavras correspondem a uma sequência já utilizada e, semanticamente, reconhecida dentro
do discurso. Ex: “batida de bombo”.
d) lexia textual: “é uma lexia complexa que alcança o nível de enunciado ou texto”. Ex:
“gosto de quem gosta desse céu, desse sol, dessa gente feliz”.
Borba (2003) atribui às lexias apenas duas classificações: as simples e as complexas. “São
simples as lexias formadas por uma única forma livre e são complexas as que combinam mais de
uma forma livre ou uma forma livre e uma ou mais de uma forma presa”.
Para esse autor, as lexias complexas são intuitivas a um falante nativo. Porém, para um
falante estrangeiro, elas não são tão facilmente captadas. Percebe-se que alguém domina uma
língua, quando consegue captar, apreender e entender uma lexia complexa.
Biderman (2001), que também as divide em simples e complexas, concorda que nem sempre
um linguista sabe ou consegue traçar os limites de uma lexia.
Embora Pottier (1978) afirme que nenhum teste é suficiente, por si só, para determinar as
lexias, é Biderman (2001) que apresenta dois testes para detectar as lexias complexas: o primeiro é
o teste da substituição, no qual, diante de uma sequência específica, podemos tentar trocar um dos
vocábulos e tentar perceber se há um sentido lexicalizado, tanto para a sequência original quanto
para a sequência trocada. Para ilustrar, observe a sequência “cidade maravilhosa” em comparação à
“cidade admirável”: a primeira combinação é uma forma reconhecida, de imediato, por muitos
indivíduos, ao passo que o mesmo não acontece com a segunda combinação.
O próximo teste é o da inserção, que compreende a colocação de uma palavra no meio de
alguma sequência identificada para perceber o grau de lexicalização que já existe, ou não, no
conhecimento linguístico do usuário de uma determinada língua. Na mesma sequência “cidade
maravilhosa”, se acrescentarmos uma ou mais palavras nessa expressão, a naturalidade se esvazia.
Exemplo, “cidade de gente maravilhosa”. Percebe-se que, nesse último caso, a expressão perde seu
30
valor dentro da intuição ou do conhecimento do leitor, que para de pensar na cidade do Rio de
Janeiro para imaginar qualquer outra cidade que tenha essa característica.
É importante analisar o grau de coesão entre os constituintes da lexia complexa e o contexto
no qual ela se encontra inserida, pois só dessa forma consegue-se distinguir o que já está
cristalizado na língua e o que ainda não está (BIDERMAN, 2001).
Soma-se aos tipos de lexias citados a discursiva, que é “um enunciado lexicalizado que
compõe seu sentido em uma atualização discursiva única” (GIL, 2012, p. 9). É no discurso que as
lexias se atualizam e revelam traços culturais, sociais e históricos. É nele que se “organizam as
redes [ou os leques] de significados lexicais ou campos semânticos” (GIL, 2012, p. 7).
Após definidos os campos semânticos, será possível analisá-los à luz da orientação
sociocognitivista de Van Djik (2010), que propõe a inter-relação entre sociedade-cognição-discurso.
Para representar essa inter-relação, Van Dijk (2003) define um triângulo, que aqui
preferimos representar por um ângulo agudo – reunião de dois segmentos de reta orientados a partir
de um ponto comum. Como se representa um ângulo utilizando três letras – por exemplo ABC –
consideraremos a letra do meio, B, representando o vértice e, portanto, a cognição; a primeira letra,
A, como um ponto do primeiro segmento de reta representando o discurso e a terceira letra, C,
como representação de um ponto do segundo segmento de reta e denotando a sociedade:
Figura 1: Relação discurso-cognição-sociedade, adaptada de Van Dijk (2003):
Nessa perspectiva, considera-se a Cognição na posição angular; o Discurso, em uma ponta;
e a Sociedade, na outra, pois não há relação entre esses dois últimos elementos. Ambos estão
relacionados por intermédio da Cognição. Para o autor, não existe uma explicação social, sem
pensar em aspectos cognitivos; e não há uma explicação da Cognição, sem pensar em aspectos
sociais.
4 PRINCIPAIS RESULTADOS
A
B
C
COGNIÇÃO
DISCURSO
SOCIEDADE
31
Analisar a cidade maravilhosa, a partir do léxico, é perceber como as unidades lexicais são
atualizadas no discurso por meio de uma interface cognitiva e reconhecer o conhecimento
partilhado que se revela na constituição de sentidos, que são revelados por meio das palavras-
testemunha – que são aquelas em torno das quais se organiza um conjunto de lexias, por
aproximação semântica.
Neste trabalho, revelam-se quatro palavras-testemunha: a mulher no Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro é mulher, Rio de Janeiro é música e Rio de Janeiro é espaço urbano. Em torno dessas
palavras criaram-se esferas conceituais que são compartilhadas pelos enunciadores e que fazem a
cidade do Rio de Janeiro ser maravilhosa por compor um espaço urbano composto pela mulher
linda, feminina e amável; pela música, que representa alegria, união e entretenimento; pelo espaço
urbano marcado pela natureza e por diversos locais interessantes. Vê-se a cidade do Rio de Janeiro
como a própria mulher, com curvas naturais (compostas pela paisagem natural) e uma bela “face”
(percebida pela exposição da cidade), onde moram pessoas sempre felizes, divertidas e de várias
etnias.
REFERÊNCIAS
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Teoria linguística: teoria lexical e linguística computacional. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BORBA, Francisco da Silva. Organização de dicionários: uma introdução à lexicografia. São Paulo: Editora UNESP, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
GIL, Beatriz Daruj. A mulher no léxico da canção de consumo: um discurso polarizado. In MELO, Iran Ferreiro de (Org.). Introdução aos estudos críticos do discurso: teoria e prática. Campinas-SP: Pontes Editores, 2012. p. 189-202.
HENRIQUES, Claudio Cezar. Léxico e semântica: estudos produtivos sobre palavra e significação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
Instituto Memória Musical Brasileira (IMMUB). Disponível em: <http://www.memoriamusical.com.br/>. Acesso em: 12 jan. 2014.
LÖWI, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 2008.
MOUTINHO, Marcelo (Org.). Canções do Rio: a cidade em letra e música. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.
32
NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
POTTIER, Bernard. Linguística geral: teoria e descrição. Rio de Janeiro: Universidade Santa Úrsula, 1978.
RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SILVA, Lúcia. A cidade do Rio de Janeiro nos anos 20: urbanização e vida urbana. In: FENELON, Déa Ribeiro (Org.). Cidades. São Paulo: Olho D’água / PUC-SP, 1999. p. 55-84.
TATIT, Luiz Augusto de Moraes. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
______. O século da canção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
TINHORÃO, José Ramos. Música popular: um tema em debate. São Paulo: Ed. 34, 1997.
TRIGUEIRO, Nelson; BELANDI, Oscar. Meu Rio de Janeiro. Disponível em: <http://services.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/dick-farney/meu-rio-de-janeiro/319881>. Acesso em: 12 maio 2013.
ULLMANN, Stephen. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1964.
VAN DIJK, Teun Adrianus. Cognição discurso e interação. São Paulo: Contexto, 2004.
______. Discurso, cognición y sociedade. Revista Signos, Valparaíso, v. 22, out.-dez. 1997. p. 66-74. Disponível em <http://www.discursos.org/oldarticles/Discurso%20cognicion%20y%20sociedad.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2013.
______. Discurso e contexto: uma abordagem sociocognitiva. São Paulo: Contexto, 2012.
______. La multidisciplinaridad del análisis crítico del discurso: un alegato en favor de la diversidad. Campinas-SP: Pontes Editores, 2003.
______. Política, Ideologia e Discurso. In MELO, Iran Ferreiro de (Org.). Introdução aos estudos críticos do discurso: teoria e prática. Campinas-SP: Pontes Editores, 2012. p. 15-51.
VILELA, Mário. Estudos de lexicologia do Português. Coimbra: Livraria Almedina, 1994.
______. Estruturas léxicas do Português. Coimbra: Livraria Almedina, 1979
33
Capa de revista: um convite à leitura crítica de imagens
Luma Dittrich de Oliveira
Colégio Dinâmico
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Mudanças significativas ocorreram no cenário da linguagem nos últimos tempos. Como resultado do avanço tecnológico, os textos passaram a aliar imagens ao seu conteúdo verbal. No entanto, os multiletramentos necessários para realizar uma leitura crítica de imagens ainda têm baixo nível. Nesse sentido, foi realizado um trabalho sistematizado de leitura de imagens, especificamente de capas de revista, no Colégio Dinâmico, em turma de 9.º ano do Ensino Fundamental II. Como embasamento teórico tomou-se Rojo (2012), que versa sobre a questão dos multiletramentos, e Kress & Van Leeuwen (2006), idealizadores da Gramática do Design Visual. Por meio da metodologia de análise de imagens proposta pelos autores, cuja abordagem foi qualitativa, diversas atividades de leitura e de produção de capa de revista foram realizadas. Como resultado, percebeu-se maior consciência, por parte dos alunos, de que as informações que compõem uma imagem transmitem diversos efeitos de sentido ao leitor, de acordo com o objetivo de cada texto. Isso demonstrou a necessidade de a escola incluir em seu planejamento um trabalho sistematizado com os textos que apresentam em sua composição diferentes recursos semióticos, a fim de contribuir mais eficazmente para a promoção dos níveis de letramento dos alunos.
Palavras-chave: multiletramentos, leitura, gêneros multimodais, capa de revista.
Abstract
Significant changes have happened in the language scene in recent times. As a result of the technological advance, the texts began to mix images with their verbal content. However, the multiliteracies required to perform a critical reading of images still have low level. So, a systematized work of reading images, specifically magazine covers, was carried out at the Colégio Dinâmico, in the 9th grade class, of Elementary School II. As a theoretical it was studied Rojo (2012), which addresses the issue of multiletrations, and Kress and van Leeuwen (2006), authors of the Visual Design Grammar. Through the author’s methodology of analysing images, whose approach was qualitative, several activities of reading and
magazine cover production were performed. As a result, there was a greater awareness from the students concerning the critical reading of images. They learned that the information that compose an image transmits several effects of meaning to the reader, according to the purpose of each text. This demonstrated the need for the school to include in its planning a systematized work with the texts that present in its composition different semiotic resources, in order to contribute more effectively to the promotion of the literacy levels of the students.
Keywords: multiliteracies, reading, multimodal genres, magazine cover.
34
1 INTRODUÇÃO
Com o desenvolvimento tecnológico, os gêneros textuais multimodais – textos que são
compostos por diferentes recursos multissemióticos – tornaram-se recorrentes nos diversos suportes
em que são veiculados. A internet, o computador e a televisão, principalmente, e todas as
ferramentas que esses suportes possibilitam, causaram uma mudança nos modos de produção e
divulgação da escrita. O texto veiculado hoje não é mais estritamente linear, pois apresenta diversos
recursos interligados, como cor, som e movimento.
Os gêneros multimodais exigem do leitor novas competências leitoras e, para isso, é preciso
que, no ensino, se pense na promoção de letramentos múltiplos. A pesquisa teórica acerca dos
letramentos múltiplos é recente e ainda escassa, porém, os resultados que as acompanham
denunciam o baixo grau de letramento da população brasileira. Em 2005, apenas 26% da população,
segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), foi considerada alfabetizada em nível
pleno.
Se na leitura do texto verbal os números já são baixos, quando se trata de textos multimodais
ou multissemióticos esse número diminui, pois, geralmente, no processo de escolarização, não se
trabalha de modo sistemático com a leitura de tais gêneros. Os materiais didáticos apresentam
textos multimodais, no entanto, não há um trabalho sistematizado para o ensino de leitura de outras
linguagens; por isso, os alunos acabam realizando apenas leitura intuitiva, o que não lhes permite a
compreensão dos textos num nível mais crítico.
Assim, refletindo sobre a necessidade de se promover letramentos que capacitem os
indivíduos no que se refere à leitura e à compreensão de gêneros multimodais, verificou-se a
necessidade de realizar um trabalho mais sistematizado de leitura de imagens.
Esse trabalho embasa-se em publicações que versam sobre três campos de estudo: a)
letramento e o ensino de línguas; b) gêneros textuais; e c) análise crítica de imagens, com enfoque
na sintaxe da imagem, e não apenas em seu conteúdo temático. Os estudos do letramento explicitam
a importância de a escola promover um ensino de leitura e escrita que contribuam para a
participação efetiva dos cidadãos nas práticas sociais que envolvem a língua escrita; os estudos
sobre gêneros textuais fornecem subsídios para que se possam apreender as características
principais do gênero capa de revista, bem como o modo como esse texto funciona socialmente; já os
estudos sobre linguagem imagética constituem suporte para análise semiótica do componente não
verbal dos gêneros que combinam diferentes semioses.
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
35
2.1 Letramentos múltiplos e multimodalidade
O termo “letramento” adquiriu novo sentido quando, em 1986, foi usado pela primeira vez para
referir-se a uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Esse conceito surgiu da
necessidade de se compreender novos fatos, novas ideias, novas formas de expressão. O letramento
tem como objeto de reflexão, de ensino e de aprendizagem os aspectos sociais da língua escrita.
Assumir esse conceito como direcionamento no contexto escolar implica adotar uma concepção
global e significativa, em oposição à tradicional que considera a aprendizagem de leitura e escrita
de textos como aprendizagem de habilidades individuais.
Assim, de acordo com Rojo (1998), letramento não é pura e simplesmente um conjunto de
habilidades individuais, mas o conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os
indivíduos se envolvem em seu contexto social. Considerando-se que a sociedade se apresenta de
modo heterogêneo, é possível preconizar que os letramentos também sejam plurais.
Os conceitos de letramentos múltiplos e multiletramentos podem apresentar ambiguidade ou
mesma valoração. Porém, Rojo (2012) contrasta os dois afirmando, que letramentos (múltiplos)
apenas apontam para a multiplicidade e variedade das práticas letradas, sejam elas valorizadas ou
não; já o conceito de multiletramentos aponta para dois tipos específicos e importantes de
multiplicidade presentes em nossa sociedade, principalmente urbana, na contemporaneidade: a
multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por
meio dos quais ela se informa e comunica. Rojo faz a ressalva de que os letramentos múltiplos
possuem um viés multicultural, o que seria, segundo a autora, os multiletramentos. Assim,
diferentes culturas, nas diversas esferas, terão práticas de texto em gêneros dessa esfera também
diferenciados.
O que se pode perceber nos últimos tempos é que as práticas cotidianas opõem-se à tradição
de valorização excessiva da língua escrita e oral, testemunhando em favor da imagem como forma
de comunicação mais eloquente. Kress e Van Leeuwen (2006) fortalecem esse pensamento ao
defender que, mesmo que a escrita tenha sido o meio de comunicação mais valorizado até então, é
inegável que outros recursos semióticos estejam em coexistência com ela. Eles enfatizam que
sempre houve interação multissemiótica, assim as mudanças ocorridas nos textos são apenas uma
alteração de foco. De fato, isso é perceptível, principalmente na publicidade, que lança mão de
recursos como imagem, movimento e som (publicidade televisiva) e economiza no slogan –
linguagem verbal.
2.2 A Gramática do Design Visual
36
Como os estudos sobre multimodalidade e multissemiose foram iniciados por conta de uma
necessidade de compreender os recursos semióticos em textos que aliam linguagem verbal e não
verbal para construção de sentidos, Kress e Van Leeuwen (2006) elaboraram a Gramática do
Design Visual. Eles não foram os primeiros a abordar a semiótica visual, no entanto, os estudos de
imagens feitos até então tinham seu foco apenas nas pessoas e lugares representados na imagem, ou
seja, tinham ênfase no “léxico”. E foi com o intuito de ampliar esses estudos que os autores criaram
um conjunto de categorias para analisar a “sintaxe” das imagens, ou seja, a forma como os vários
elementos se combinam para causar efeitos de sentido no leitor.
Segundo Kress e Van Leeuwen (2006), as estruturas visuais, assim como acontece com as verbais,
também sinalizam interpretações. Nesse sentido, as categorias de análise formuladas por esses
autores são uma ferramenta para que o leitor tenha condições de fazer leitura dos gêneros
multimodais de modo crítico. Como defendem Araújo et al (2012), a composição de determinados
elementos nas imagens não é produzida de modo aleatório, mas está ancorada em posicionamentos
ideológicos e nos objetivos dos produtores. Assim, omitir ou explicitar determinados elementos
produz efeitos de sentido no leitor.
Os autores da Gramática do Design Visual, portanto, defendem que quando se escolhe
representar algo por meio de imagens, essa decisão afeta a produção de significados. Isso indica que
os produtores dos textos multimodais decidem qual o modo mais conveniente para representar os
significados pretendidos em cada texto.
Como apresenta Fernandes (2011), a Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen
(2006) se organiza em três níveis que são realizados simultaneamente: o nível da representação do
mundo e de tudo o que há nele (metafunção representacional), o nível das interações e identidades
possíveis (metafunção interacional) e o nível da organização de elementos que compõem uma
imagem, na relação de tais elementos para formar um todo coerente (metafunção organizacional). A
função representacional indica o que está sendo mostrado, o que está acontecendo; já a função
interacional posiciona o expectador em relação à cena (ex. intimidade, distância, superioridade,
subordinação). E a função organizacional trata da composição dos elementos da imagem, como
cores e textura. Essa fundamentação teórica fornece subsídios para uma leitura mais crítica e
sistemática dos diversos gêneros multimodais disponíveis na sociedade.
2.3 O projeto no Colégio Dinâmico
O trabalho foi realizado no Colégio Dinâmico, conveniado ao Sistema Positivo de Ensino,
na Lapa-PR, em uma turma de 9.º ano, disciplina de Língua Portuguesa. Configurou-se uma
37
ampliação do conteúdo presente no Livro Integrado, que já propunha a caracterização, a leitura e a
produção do gênero capa de revista.
Então, primeiramente, partiu-se do trabalho já presente no Livro Integrado de Língua
Portuguesa. As atividades do livro já levavam em conta a leitura de imagens, mas apenas quanto ao
seu conteúdo temático. Assim, verificou-se a necessidade de desenvolver atividades que atingissem
o nível técnico da imagem.
Partiu-se do problema: que recursos visuais as capas de revista utilizam para persuadir o
leitor? E, então, os objetivos delineados foram: conhecer o gênero capa de revista, analisar os
recursos visuais presentes no texto, reconhecer a capa de revista como texto ideológico e, por fim,
contribuir com o nível de letramento dos alunos.
A metodologia utilizada foi a análise de imagens em diferentes tipos de atividade, com
abordagem qualitativa. O corpus foram capas de revistas de diversos tipos e públicos. Uma das
atividades realizadas foi a produção de cartazes com análise de capas de revista, baseada na
Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen (2006):
Figura 1 – Atividade de ampliação
Fonte: A autora (2016)
A figura 1 representa a produção de um dos grupos da turma, que realizou a análise
consultando os critérios básicos da GDV. Por fim, cada grupo apresentou sua análise para a turma e
tirou uma conclusão sobre a importância da leitura crítica de imagens.
3 RESULTADOS
Como resultado, os alunos demonstraram consciência de que as informações que compõem
uma imagem transmitem diversos efeitos de sentido ao leitor, de acordo com o objetivo de cada
38
texto. No momento de feedback do projeto reconheceram como suas famílias e as pessoas que
conhecem, em geral, são ingênuas na leitura de imagens e acabam sendo facilmente influenciáveis.
Esse projeto revelou a necessidade de a escola incluir em seu planejamento um trabalho
sistematizado com os textos que apresentam em sua composição diferentes recursos semióticos, a
fim de contribuir mais eficazmente para a promoção dos níveis de letramentos dos alunos.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, C.; RIBEIRO, V.; ARAÚJO, A. Mafalda no mundo das desigualdades: uma análise sistêmico funcional de um gênero multimodal e suas implicações no desenvolvimento do sentido crítico da criança. In: Revista Caminhos em Linguística Aplicada, v. 6, n. 1, UNITAU, 2012. Disponível em: <http://periodicos.unitau.br/ojs2.2/index.php/caminhoslinguistica/article/viewFile/1543/1089>. Acesso em: 13 mar. 2016.
FERNANDES, Alessandra Coutinho. Lula na Veja: uma representação multimodal do discurso do medo. In: Cadernos de Linguagem e Sociedade, Brasília, 2011.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Reading images: the grammar of visual. 2. ed. London: Routledge, 2006.
ROJO, Roxane. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
39
De carta em carta... Encontrando caminhos
Meire Cristina Fiuza Canal
E. E. Prof.ª Ephigênia Cardoso Machado Fortunato; E. M. Prefeito Modesto Masson e E. M. Prof.ª Joseane Bianco
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo O projeto foi desenvolvido com alunos do Ensino Fundamental do Ciclo II, nas escolas públicas do
município de Bariri, estado de São Paulo, possibilitando a interação entre alunos de outras cidades brasileiras. A experiência tem sido realizada sistematicamente desde 2005 e consiste na produção de textos motivada pela troca de correspondência entre alunos com a faixa etária aproximada. O principal foco do projeto é mediar atividades de escrita e reescrita em sala de aula, por meio da produção de carta familiar, estimulando a reflexão sobre a língua portuguesa, a partir da análise de seus usos e convenções. Com a finalidade de aprimorar as habilidades de escrita dos alunos, considerando e respeitando suas experiências anteriores com a língua portuguesa, parte-se do princípio de que a língua materna é um patrimônio cultural e os alunos têm o direito de dominá-la em sua melhor forma. A prática do trabalho leva em conta os aspectos formais, contextuais e expressivos da língua, conduzindo os alunos a explorarem o uso desses conhecimentos na vivência da troca de cartas, o que torna a atividade significativa, pois, uma vez que há um leitor real, potencializa-se a motivação para a escrita; nesse momento, a escrita adquire sentido, oferecendo a oportunidade de os alunos compreenderem a necessidade de valorizar a modalidade padrão e desejarem aprender suas normas. O fato de o projeto ser repetido anualmente revela o quanto seus resultados surpreendem e estimulam sua continuidade. Em cada conclusão de uma edição do trabalho foi feita uma avaliação na qual foram analisados os resultados obtidos, os aspectos que não corresponderam às expectativas iniciais e as dificuldades surgidas no percurso. Assim, possibilidades de alterações são planejadas para versão seguinte do projeto, considerando as adequações que possibilitam o constante desenvolvimento de habilidades escritoras das turmas. Anualmente, os impactos do projeto na aprendizagem da língua demonstraram que os avanços no aprimoramento da escrita foram importantes e decorrentes do estudo sobre a linguagem e da necessidade de buscar a melhor palavra.
Palavras-chave: língua, aprimoramento, escrita, carta.
Abstract
The project was developed with elementary school students Cycle II, in public schools in the city of Bariri, São Paulo, allowing the interaction between students from other cities. Experience has consistently been held since 2005 and is the production of texts motivated by the exchange of correspondence between students with the approximate age. The project's main focus is to mediate writing activities and rewritten in the classroom, through the familiar letter production, stimulating reflection on the Portuguese language, from the analysis of its uses and conventions, in order to improve skills writing students considering and respecting their previous experiences with the Portuguese language, assuming that the mother tongue is a cultural heritage and the students have the right to dominate it at its best. The practice of work takes into account the formal, contextual and expressive aspects of language, leading students to explore the use of this knowledge in the experience of an exchange of letters, which makes significant activity, because once there is a real player potencializa- the motivation for writing; at that time the writing makes sense, offering the opportunity for students to understand the need to upgrade the standard mode and want to learn its rules. The fact that the project be repeated annually reveals how their results surprise and stimulate its continuity. In each completion of a work issue an assessment was made in which the results were analyzed, aspects that did
40
not meet initial expectations and the difficulties encountered along the way. Thus, change possibilities are planned for the next version of the project, considering the adjustments that allow the constant development of writers skills classes. Annually, project impacts on language learning demonstrated that advances in writing improvement were important and resulting from the study of the language and the need to seek the best word.
Keywords: language, improvement, writing, letter.
41
1 INTRODUÇÃO
Com a democratização da educação, o número de alunos frequentando os bancos escolares
aumentou consideravelmente desde o início da década de 1990. Tal fato tem demonstrado uma
grande capacidade dos educadores, intelectuais e autoridades brasileiras no sentido de oferecer
oportunidades para todos os brasileiros adquirirem escolaridade suficiente para exercerem sua
cidadania. Contudo, tal advento não foi o suficiente para realizar de fato a inclusão acadêmica de
todos esses brasileiros que tiveram acesso à escola. Foram muitos fatores que contribuíram para que
parte deles desistisse dos estudos ou fizesse parte do grande grupo composto pelos alunos que não
obtiveram sucesso na escola.
Nesse contexto de universalização da escola, cabe destacar a importância de democratizar
também a qualidade do ensino oferecido. Um dos grandes entraves desse objetivo é em relação ao
estudo da língua materna; por isso, este texto visa analisar os impactos dos projetos de escrita no
ensino da língua portuguesa, refletindo sobre a importância do planejamento desse ensino, de sua
contextualização e, sobretudo, de seu significado para o aluno.
Isso se faz necessário e útil diante do grande questionamento por parte dos professores de
como ajudar os alunos a aprimorarem sua escrita, depois que adquirirem os conhecimentos do
funcionamento desta; ou do processo que os leva a conhecer os mecanismos que estruturam a
escrita da língua portuguesa.
Efetivamente, conhecer maneiras de como facilitar aos alunos o percurso para encontrar sua
melhor palavra contribui considerável e diretamente na prática do professor, uma vez que a leitura
deste texto procura motivá-lo a repensar sua ação pedagógica, reelaborando-a ou, simplesmente,
alimentando-a.
Logo, é de grande importância analisar as principais dificuldades de aprendizagem
encontradas pelos alunos enquanto estudam e se aprofundam no uso da língua portuguesa.
Muitos professores desejam incentivar a prática de atividades de escrita com a finalidade de
aprimorar o uso da língua, por isso, as modalidades de ensino são diversificadas e cada vez mais
buscam utilizar novas tecnologias. Todas elas são muito bem-vindas na sala de aula, no entanto, a
comunicação por meio de cartas veio mostrar que ainda é possível interagir por esse veículo e que,
na sala de aula, a vivência de troca de correspondências contribui significativamente na
aprendizagem dos alunos.
Neste texto, as possibilidades de interferir na aprendizagem dos alunos, de modo que
diminuam a distância entre a vontade de aprender a língua materna e o seu aprendizado efetivo, são
discutidas a partir do relato de uma experiência simples e eficaz.
42
Todo esse esforço procede do interesse em contribuir na inclusão de todos os aprendizes em
seu processo de sua aprendizagem, e colaborar com a efetivação de sua cidadania, considerando que
o domínio da língua materna é um dos principais caminhos para essa conquista (GERALDI, 2004).
É bom destacar que discutir esse tema sob uma perspectiva científica corrobora com os
estudos já realizados acerca dos fatores emocionais, biológicos, culturais e sociais que implicam nas
dificuldades de aprendizagem da língua e, sobretudo, no interesse em seu aprendizado. Isso
acontece em decorrência do quanto essas pesquisas existentes já influenciaram nas atuais
metodologias e o quanto elas podem indicar a necessidade de os professores repensarem novos
métodos.
Os avanços alcançados nas últimas décadas em relação à aprendizagem da língua escrita
levam em conta as individualidades dos alunos e o contexto em que estão inseridos; assim, os
estudos que surgem após essas constatações são extremamente relevantes no processo de
compreensão das atuais dificuldades e para indicar novos caminhos para superá-las.
Portanto, não há como desprezar um tema que possivelmente indicará outras perspectivas
para novas práticas que atendam às necessidades de alunos com e sem dificuldades de
aprendizagem; além de criar oportunidades a reflexões relevantes que implicam em descobrir
caminhos que facilitem a aprendizagem da língua portuguesa.
Assim sendo, este trabalho será um grande apoio às considerações sobre as práticas
pedagógicas significativas, que atendam necessidades individuais e coletivas, influenciando tanto a
vida escolar como a vida social dos alunos, uma vez que seu desempenho no uso da língua será
mais eficiente quando gerar impactos diretos no exercício da cidadania.
2 OBJETIVO
O projeto teve como objetivo aprimorar a escrita dos alunos, conduzindo-os a refletir sobre
sua escrita: escolher o “como” escrever e elaborar “o que” escrever (GERALDI, 2004). Com essa
finalidade, algumas habilidades leitoras e escritoras foram trabalhadas para que os alunos também
tenham competência para investigar os aspectos expressivos da língua portuguesa.
Em todas as fases do projeto é possível dedicar momentos de reflexão e discussão, tanto
linguísticas como epilinguísticas, desenvolvendo na sala de aula um ambiente altamente motivador
e instigador ao pensamento sobre a estrutura da língua portuguesa e suas possíveis articulações,
realizadas por seus falantes.
Enquanto tais objetivos são explorados, os alunos envolvem-se cada vez mais em seu
processo de aprendizagem, pois o desejo de escrever bem, e melhor, aos poucos é estimulado.
Assim, mais um objetivo incorpora-se às metas do projeto: o aluno preocupar-se com o seu
43
aprender, não somente nas aulas de língua portuguesa, mas de modo geral, em sua formação
acadêmica. Dessa maneira, os alunos descobrem que é bom aprender e que depende de seu interesse
o sucesso desse processo.
3 METODOLOGIA
“De carta em carta... Encontrando caminhos” desenvolveu-se com base em estratégias de
diálogo, interação, investigação e prática. Após a programação de uma sequência didática
norteadora das ações pedagógicas, professores e alunos iniciaram a troca de cartas, cujo processo
priorizou escritas, revisões e reescritas de textos.
A metodologia simples, a qual consistiu em estimular a produção de texto nas aulas,
obedeceu o seguinte encadeamento de procedimentos:
1. Apresentação do projeto: um convite foi feito aos alunos, explicitando as fases do
trabalho e como seria sua participação em cada uma delas.
2. Levantamento de conhecimentos prévios sobre o gênero carta e sobre a experiência
em escrever ou receber cartas. De modo informal, uma conversa conduziu a descobrir quais
conhecimentos os alunos possuíam sobre o gênero carta familiar.
3. Indicação dos correspondentes: nos moldes de um amigo secreto, os nomes dos
amigos correspondentes são sorteados.
4. Escrita da primeira carta (primeira versão, revisões, reescritas e versão final): com
base na orientação do professor sobre os procedimentos de escrita, que abarca desde a
estrutura do texto até as sugestões de assuntos, os alunos iniciam a primeira escrita, são os
rascunhos. Tais textos são revisados pelo professor durante o processo de escrita e depois
dele; só então se disponibilizam aos alunos para que os reescrevam, produzindo a versão
final. Algumas cartas foram reescritas coletivamente, privilegiando uma necessidade pontual
da turma.
5. Acesso ao blog do projeto <http://decartaemcarta.blogspot.com>: todas as fases do
projeto são divulgadas no blog homônimo, onde os alunos acessam de casa e ou da escola.
Ao contrário do que muitos imaginam, o fato de os alunos conhecerem virtualmente seus
correspondentes por meio do blog ou das redes sociais não diminui seu interesse pelo
projeto, na verdade, é mais um estímulo para a interação. Novos assuntos surgem quando a
imagem pessoal pode ser divulgada nas mídias; no entanto, caso essa visualização
antecipada não aconteça, não há alterações no rumo do projeto. Nessa fase, as cartas já têm o
seu espaço na rotina das turmas. O blog também serve como registro do projeto, como
44
motivação para as novas turmas participarem e para a avaliação do trabalho feita pelo
professor.
6. Preparo do envio das cartas: com muito carinho, as cartas são enviadas. Os
envelopes são confeccionados pelos alunos e nem sempre a carta precisa ir pelo correio; isso
depende de onde moram os correspondentes e qual é o grau de interação dos professores.
Muitas vezes, eles mesmos fazem a entrega, ou outras pessoas da cidade o fazem. Nessa
etapa, é possível contar com a colaboração de terceiros, que passam a fazer parte do projeto
também.
7. Leitura da resposta: momento emocionante e difícil de descrever, que confirma aos
professores como é grande a expectativa criada sobre a carta e o amigo. Há uma efusão de
leitura; compartilham trechos das cartas; divertem-se; intrigam-se. E, por fim, preparam-se,
ansiosamente, para a escrita da resposta. Os mais empolgados começam a escrever na
mesma aula, sem aguardar o momento planejado. A escrita da resposta segue os mesmos
passos da primeira escrita, mas é necessário um pouco mais de tempo, já que o momento da
leitura consome boa parte da aula.
8. Escrita da resposta: utilizam-se os mesmos procedimentos da primeira escrita, e
deve-se considerar que nesse momento os alunos já possuem mais assunto para a carta, por
isso, o “o que” escrever tem outra conotação.
9. Realização de um encontro: um encontro é planejado para que os correspondentes se
conheçam, após realizar aproximadamente quatro trocas de cartas por turma. Geralmente é
feito um piquenique em uma área verde da cidade, onde os alunos podem jogar bola, dançar,
brincar e conversar. Tudo também é registrado e divulgado no blog.
10. Avaliação do projeto: ao terminarmos, refletimos sobre os impactos do projeto na
aprendizagem dos alunos e quais são as necessidades de mudança para a próxima edição.
4 PRINCIPAIS RESULTADOS
Para avaliar a aprendizagem de meus alunos, utilizei como instrumentos todas as suas
produções: as primeiras redações para um diagnósticos de produção escrita, os textos de opinião, as
narrativas, as cartas, os relatos sobre o projeto, as participações nas análises, os comentários no
blog, as perguntas e os comentários durante o processo de escrita; considerei que todo o processo de
aprendizagem deve ser analisado e investigado, na perspectiva de utilizar esses dados para realizar
as intervenções apropriadas (VASCONCELLOS, 2010). Registrei esse material em um caderno de
anotações, organizando-o em relatos orais, produções escritas e fatos observados. Digitalizei muitas
cartas que foram trocadas e guardei alguns rascunhos.
45
Constatei que os alunos aprenderam a elaborar o plano de texto; produziram conteúdo
significativo nas cartas; desenvolveram o hábito de reescrever o texto para aprimorá-lo fazendo
revisões; demonstraram melhor domínio da norma padrão; preocuparam-se em adequar a linguagem
à situação de uso; e passaram a refletir sobre o “como dizer”.
Meus alunos aprimoraram a escrita a partir das discussões, conquistando o domínio das
competências e habilidades necessárias para o ano em que se encontravam, com exceção daqueles
que estavam recebendo acompanhamento pedagógico de um especialista em alfabetização. No
entanto, vale ressaltar que estes últimos participaram das ações do projeto e se sentiram mais
encorajados a aprender a escrever.
O que contribuiu muito para que eles desenvolvessem a escrita de maneira adequada foi a
intensa atividade de redigir e revisar. Constantemente voltavam ao texto para reescrevê-lo,
buscando a melhor palavra. Isso foi possível graças à consciência de que existe uma norma padrão e
ao desejo de querer utilizá-la; os alunos recorriam, então, às minhas intervenções e às colaborações
dos colegas. Também foram muito produtivas as atividades de escrita coletiva. Aprendi que mostrar
como se faz é muito importante para que os alunos conheçam procedimentos e tenham capacidade
de selecionar qual será adotado ou, até mesmo, de inovar com autonomia.
Dessa forma, notei que meus alunos lançaram um novo olhar para a língua portuguesa.
Deram a ela o status de instrumento para diversificar no uso das linguagens. Mostraram ter
consciência de que quanto mais eficiente for o uso da língua, melhor a comunicação e o alcance de
seus objetivos. Isso foi observado na insistência em escolher a maneira mais adequada de transmitir
seu pensamento, na preocupação em ser mais criativo no uso de diversas formas e, com isso, adotar
um estilo próprio.
Felizmente, as mudanças no âmbito da aprendizagem foram muito significativas. Uma delas
é a prática de revisar textos e aprimorá-los até atingir a “melhor palavra”. O “dizer bem” tem sido
uma preocupação constante enquanto escrevem; e sabem que a apresentação dessa escrita deve ser
feita com cuidado e perfeição.
Tudo isso foi possível graças à dedicação de todos que participaram. Reconheço que meus
estudos foram fundamentais, pois muitas vezes recorri a textos para buscar apoio, bem como o
preparo cuidadoso da sequência didática e, principalmente, o investimento na minha atuação em
sala de aula. Realmente, acompanhar o passo a passo da escrita de cada aluno é muito bom. Quando
estabeleci essa rotina de consultor direto, os alunos começaram a pensar para escrever. E era isso
que eu queria ensinar.
5 BREVE DISCUSSÃO
46
De fato, o trabalho de ensinar a língua portuguesa é fantástico, especialmente quando são
oferecidas oportunidades ao aluno para aprimorar a sua escrita e ampliar o domínio que possuí
sobre a língua, com base em situações de aprendizagem que enriquecem a aula, o saber do aluno e a
prática do professor.
Aulas ricas e significativas são produzidas quando o contexto de produção é valorizado e os
anseios e as perspectivas dos alunos são levados em consideração. Desse modo, selecionar bons
textos como modelos, priorizar o ensino da língua a partir das próprias redações dos alunos e deixá-
los cientes da importância de sua intervenção como escritores para infinitos interlocutores pode
promover ações pedagógicas de grande impacto na aprendizagem de cada um dos alunos.
Nessa perspectiva, todo o saber do aluno em relação à língua pode ser ampliado com estudos
sobre o que ele escreve, realizando análises sobre o “como escreve”. Análises linguísticas a partir
de textos da turma constituem-se como material fundamental na reflexão de aspectos estruturais da
língua (PASSARELLI, 2001). Uma vez que a meta de todo professor é contribuir nos avanços de
seus alunos, não há nada mais motivador para ele e para sua turma do que observar e registrar esse
progresso; e, em se tratando de escrita, o aprimoramento dessa prática é visível quando o trabalho
do professor é de intervenção e motivação constantes. Esse ainda é o melhor caminho para
professor e aluno encontrarem a sua melhor palavra.
Por meio dos projetos de escrita, principalmente, alunos e professores aproximam-se mais
de situações reais de comunicação, tornando a prática de escrita e análise de textos na escola uma
atividade menos didática e mais prática (JOLIBERT, 1994). Para os alunos fazerem uso, em outros
espaços, dos conhecimentos sobre a língua de que se apropriam na escola, será muito mais fácil e
significativo, já que em sala de aula eles vivenciaram experiências concretas de comunicação.
Educadores de todo o país buscam caminhos para diminuir a grande distância entre o que se
pretende ensinar e o que os alunos realmente aprendem. É nesse contexto que surgem metodologias
amparadas em teorias que privilegiam uma prática pedagógica que parte daquilo que o aluno já sabe
e elenca o que se pretende ensinar, ou seja, por meio de diagnósticos, os projetos surgem como
alternativas de trabalhos sérios e bem planejados.
Assim, na contemporaneidade, falar sobre os impactos de práticas pedagógicas significativas
e realistas no aprendizado dos alunos só tem contribuído para que todos os envolvidos no processo
de ensino-aprendizagem sejam estimulados, criando nas salas de aula brasileiras espaços dinâmicos,
atrativos e essencialmente produtivos.
Por meio dessas práticas, tem-se observado o quanto alunos e professores desenvolvem
potencialmente suas habilidades, corroborando para a transformação de realidades. No entanto, a
maior vantagem dessas práticas pedagógicas está inserida na forma como o domínio da língua
47
materna confere aos indivíduos a autonomia necessária para que todos se tornem, de fato, cidadãos
críticos e autores de sua história.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Claudinéia B.; TARDELLI, Marlete C. Escrevendo e falando na sala de aula. In: GERALDI, João Wanderlei; CITELLI, Beatriz Helena Marão (Org.) Aprender e ensinar com texto de alunos. São Paulo: Cortez, 2004.
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Alfabetização, leitura e ensino de Português: desafios e perspectivas curriculares. Revista Contemporânea de Educação – Faculdade de Educação, v. 6, n. 12, 2011. Disponível em: <http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/articl e/view/1400>. Acesso em 12 jan. 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ensino fundamental – Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1996.
BRITTO, Luiz Percival Leme. Em terra de surdos-mudos: um estudo sobre as condições de produção de textos escolares. In: GERALDI, João Wanderlei. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2008.
CANAL, Meire Cristina Fiuza. De carta em carta. São Paulo: Dedo de Prosa, 2011.
CITELLI, Beatriz Helena Marão (Org.). Aprender e ensinar com texto de alunos. São Paulo: Cortez, 2004.
______.; BONATELLI, Ivanhoé Robson Marques. A escrita na sala de aula: vivências e possibilidades. In: João Wanderlei;
DOLZ-MESTRE, Joaquim; GAGNON, Roxane; DECANDIO; Fabricio Roberto. Produção escrita e dificuldades de aprendizagem. Campinas-SP: Mercado de letras, 2010. p. 110.
FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Linguística textual: introdução. São Paulo: Cortez, 2008.
GERALDI, João Wanderlei. Da redação à produção de textos. In: CITELLI, Beatriz Helena Marão (Org.). Aprender e ensinar com texto de alunos. São Paulo: Cortez, 2004.
JOLIBERT, Josette. Formando crianças produtoras de texto. Tradução: Walkiria Maria Franke Settineri e Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
PASSARELLI, Lilian Maria Ghiuro. Ensinando a escrita: o processual e o lúdico. São Paulo: Olho d’ Água, 2001.
SECUNDES, Maria Madalena Iwamoto. Ensinando a escrever. In: GERALDI, João Wanderlei; CITELLI, Beatriz Helena Marão (Org.). Aprender e ensinar com texto de alunos. São Paulo: Cortez, 2004.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança por uma práxis transformadora. São Paulo: Libertad- Centro de pesquisa, formação e assessoria pedagógica, 2010.
48
Uso do Minecraft para o ensino de história da Grécia Antiga Nilton Maurício Martins Torquato
Colégio Padre João Bagozzi
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O presente relato de experiência trata da utilização do jogo Minecraft no processo de produção de maquetes que tratam da Grécia Antiga entre alunos de 6.º ano do Ensino Fundamental do Colégio Padre João Bagozzi. O instrumento foi aplicado em junho de 2016, em seis turmas de 6.º ano do Ensino Fundamental, de aproximadamente 30 alunos cada. A apresentação final deveria contar com uma filmagem na qual o aluno daria uma aula sobre o prédio reproduzido.
Compreender a mentalidade dos gregos antigos sempre demonstra ser um grande desafio para crianças entre dez e doze anos de idade. Mesmo a aproximação causada pela série Percy Jackson muitas vezes acaba por descontextualizar o pensamento grego, deslocando-o para o mundo contemporâneo. Buscar a mentalidade grega acaba sendo, portanto, um desafio a ser perseguido pelos professores desta faixa etária. Dessa forma, o processo de produção das maquetes visava à aquisição de grande quantidade de conhecimento contextualizado por parte dos alunos, objetivando a construção dessas maquetes. A pesquisa deveria ser demonstrada tanto na construção em si, como na narração gravada no vídeo que acompanha a entrega do trabalho. Nessas narrativas, a compreensão da construção e sua funcionalidade eram imprescindíveis.
Os alunos logo perceberam que uma pesquisa aprofundada garantia maquetes de melhor qualidade de detalhamentos e diferenciadas em relação à dos colegas. Vários deles optaram por solicitar que os colegas opinassem em seu trabalho, permitindo visitas virtuais ao que estavam construindo. Com isso, a qualidade do produto final incorporou o compartilhamento do conhecimento e das fontes de pesquisa usadas por cada aluno. O conhecimento foi, então, fomentado tanto pelas relações coletivas como pela individualidade. No entanto, destaca-se que o aprendizado desenvolvido na interação entre os alunos superou, em muito, aquele que foi desenvolvido na individualidade. Outro ponto percebido é que o conhecimento adquirido apresentava nexo e relevância para os alunos que os desenvolveram, facilitando a assimilação e aplicação do mesmo.
Palavras-chave: Minecraft, maquete, video game, ensino de história.
Abstract
The present experience report deals with the use of Minecraft in the process of production of models about Ancient Greece among students of the sixth year of elementary School in Colégio Padre João Bagozzi. The instrument was applied in June 2016, in six classes, approximately 30 students each. The final presentation should have a filming in which the student would give a lesson about the building reproduced.
Understanding the mentality of the ancient Greeks always proves to be a major challenge for children between ten and twelve years of age. Even the approach brought about by the series Percy Jackson often ends up decontextualizing the Greek thought shifting it to the contemporary world. Understanding Greek mentality is therefore a challenge to be pursued by the teachers of this age group. In this way the production process of these models aimed at the acquisition of a great amount of contextualized knowledge on the part of the students aiming the construction of the models. The research should be demonstrated both in the construction itself, and in the narration recorded in video that accompanies the delivery of the work. In these narratives the understanding of the construction and its functionality was indispensable.
The students soon realized that in-depth research guaranteed mockups of better detail and differentiated quality compared to colleagues. Several of them opted to ask colleagues to give their opinion on their work, allowing virtual visits to what they were building. In this way the quality of the final product
49
incorporated a sharing of knowledge and research sources used by each student. Knowledge was then both in relationships and in individuality. In this way it was perceptible that the learning developed in the interaction with the other far surpassed that which was developed in the individuality. Another perceived point is that the acquired knowledge presented nexus and relevance for the students that developed them, facilitating the assimilation and application of the same.
Keywords: Minecraft, model, video game, history teaching.
50
1 INTRODUÇÃO
Ensinar história para alunos entre dez e doze anos traz consigo grandes desafios. Visitar o
passado para estes alunos é um desafio quase impossível de ser alcançado, principalmente se o
educador tiver como objetivo que os seus alunos não apenas adquiram informações, mas que as
interpretem e busquem compreender a mentalidade dos povos estudados.
No caso da Grécia Antiga, com sua filosofia, este desafio mostra-se ainda mais complexo.
Os gregos foram um dos primeiros povos a incorporarem em sua existência várias áreas de
conhecimento, padronizando-os dentro de uma experiência urbana. Esta urbanidade, não apenas a
dimensão espacial, mas a compleição da humanidade em si. “A palavra ‘cidade’ incorpora duas
dimensões, a polis e a urbs. Por polis (grego) ou civitas (latim) a cidade é entendida como a reunião
das pessoas num agrupamento coletivo, em torno de um Bem comum e de uma origem, um presente
e um destino que se quer compartilhados.” (BRANDÃO, 2013, p. 38). Dessa forma, a compreensão
dos gregos passa por seus edifícios e sua constituição urbana, tornando óbvia a escolha de maquetes
para facilitar a compreensão de sua mentalidade. Dentro dessa premissa, este professor e
pesquisador tem utilizado o Minecraft como dispositivo educacional (BRUNER, 1999) em forma de
caixa de areia com cubos (DIKKERS, 2015) que permite ao aluno interagir virtualmente com a
maquete construída. Dessa forma, ele recria as histórias (PINSKY, 2005) que permeiam a
construção, permitindo uma aprendizagem qualitativamente relevante (LIMA, 2008).
2 OBJETIVOS
O presente trabalho busca relatar a aplicação de um recurso de jogo em ambiente escolar
visando um melhor processo de aprendizagem do conteúdo de história da Grécia para alunos do 6.º
ano do Ensino Fundamental.
Para facilitar o processo de aprendizagem foi utilizado um video game, o Minecraft, que será
descrito posteriormente. O objetivo geral desta aplicação era fomentar nos alunos o desejo de
aprender a mentalidade grega por meio de vivência virtual dos espaços arquitetônicos que
compunham sua cidade (polis). Esta vivência virtual ocorreria pela montagem de maquetes,
preferencialmente virtuais. A preferência pelo ambiente virtual desenvolvido em Minecraft se deveu
a dois fatores, o grande número de alunos que possuem acesso ao jogo e a possibilidade de
interação com a construção reproduzida. Esta interação segue um processo por meio do qual os
estudantes “sentem como se seus corpos tenham sido estendidos para dentro do mundo virtual”.
Para facilitar esta aplicação foram estabelecidos objetivos específicos que deveriam ser
seguidos pelos alunos para que o resultado atendesse o objetivo geral. Todos estes objetivos
51
específicos foram entregues aos alunos sob a forma de um documento que conduzia o processo de
criação da maquete em questão. Apenas os alunos que demonstraram atender a todos estes objetivos
foram considerados como tendo atingido o objetivo desta atividade. Foram escolhidas três
construções para esta atividade: o templo de Zeus Olímpico, o Erecteion e o Teatro de Dionísio.
Todas as construções têm em comum seu caráter religioso, estruturante do modo de pensar grego.
O primeiro objetivo específico era a pesquisa. O aluno, antes de construir, deveria
desenvolver uma pesquisa que possibilitasse descobrir as especificidades da construção: como a
utilizavam, sua história e o motivo de sua construção. De posse destas informações os alunos
seguiram para a segunda fase do processo.
O segundo objetivo específico envolvia a construção propriamente dita. O aluno precisava
desenvolver a construção da maquete virtual usando a versão de plataforma de Minecraft que
possuía acesso. Neste ponto surgiu a primeira dificuldade com a turma, facilmente contornada. Nem
todos os alunos possuíam acesso ao video game em questão e a escola não dispunha de exemplares
para franquear nos seus laboratórios. Dessa forma, foi liberado a estes a possibilidade de fazer suas
maquetes físicas usando materiais como isopor, papelão e papel machê. Como não é objetivo deste
relato, não serão analisadas as maquetes físicas, mesmo porque acabou sendo adotada por uma
pequena minoria dos alunos.
O terceiro objetivo era a construção de um vídeo no qual o aluno poderia descrever a
construção e as suas descobertas com ela. Este foi o material finalmente entregue ao professor,
permitindo a análise dos resultados do processo.
Um objetivo não demonstrado diretamente, mas perseguido por este educador, era a questão
ecológica. Com a maquete virtual buscava-se reduzir os rejeitos provocados pela confecção de
maquetes físicas, muito comuns nas escolas, diminuindo o impacto sobre o meio ambiente.
3 BREVE DISCUSSÃO
Não há como negar a presença dos video games na vida da sociedade contemporânea.
Mesmo sem serem usados, eles se perpetuam em todas as plataformas informatizadas, desde
computadores e dispositivos móveis até em relógios digitais. No entanto, ainda que tenham essa
penetração social, ainda encontram grande dificuldade para serem inseridos nos ambientes
educacionais. Os motivos vão desde o medo até o desconhecimento e a própria dificuldade de
acesso aos meios tecnológicos em sala de aula.
Os jogos fazem parte do cotidiano humano desde a pré-história (HUIZINGA, 2007), porém
um novo fenômeno, chamado video game, surgiu desde a década de 1958 por meio do físico Willy
Higinbotham, conforme Alves e Carvalho (2011). Somente cerca de 10 anos mais tarde, graças aos
52
avanços da informática, Ralph Baer patenteou o primeiro video game. A Atari, na década de 1970,
criou o primeiro console de video game, facilitando o acesso aos jogos eletrônicos.
Na visão de Lima (2008), o jogo e a educação sempre estiveram atrelados a escolhas
políticas e econômicas. Ele adverte que, assim como qualquer outra atividade pedagógica, é
necessário que o educador faça uso do jogo como um recurso, não como o próprio conteúdo. Cabe
ao educador a utilização deste como ferramenta. O jogo precisa ser visto pelo educando como uma
atividade pedagógica intencional, um recurso capaz de facilitar a apreensão de informações
complexas como o simbólico nas relações sociais.
A abordagem deste educador e pesquisador usada para o video game é a de dispositivo.
Vários autores tratam desta questão, mas, por motivos de coerência teórica, citaremos Bruner
(1975). Vários são os tipos de dispositivos listados e trabalhados por Bruner, desde um livro até um
vídeo. Quando pensa em um dispositivo, o autor percebe que este deve ser usado apenas como
auxílio do educador. Tal dispositivo não pode estar em primeiro plano, serve como suporte e
depende da habilidade de quem o construiu e de quem o utiliza. Dessa forma, sempre que um
dispositivo é prejudicial à educação, deve ser removido, já que o objetivo em sala deve ser sempre o
aprendizado. Os dispositivos existem para “auxiliar o professor a estender o âmbito da experiência
do aluno” (BRUNER, 1975, p. 81). O autor indica que vários são os dispositivos ou artefatos que
podem ser usados na educação, mas, sem a intencionalidade do educador, a ação pedagógica acaba
por não ocorrer. Outra questão essencial tratada por Bruner diz respeito ao próprio professor que,
embora esteja no ambiente de aprendizagem com o aluno, deve ter a visão sobre o todo para evitar o
desvio de seus objetivos. Dessa forma, o professor deve “apoiar-se no uso sensato de grande
variedade de dispositivos que expandem a experiência, esclarecem-na e dão significação pessoal.”
(BRUNER, 1975, p. 86).
O video game escolhido acabou sendo o Minecraft. Vários foram os fatores que conduziram
a este jogo. Em primeiro plano, percebeu-se a paixão que os alunos nutriam por ele. Outros pontos
essenciais foram a quantidade de alunos com acesso ao jogo e sua potencialidade em tornar-se uma
base muito boa para a construção de maquetes interativas, nas quais o aluno pode entrar e apossar-
se do conhecimento adquirido. “Parte do apelo de um jogo em formato de caixa de areia (como o
Minecraft), em particular, é que os permite um rápido desenvolvimento de ambientes bastante
complexos com mínimas programações.” (DIKKERS, 2015, p. 142).
Vários estudos têm sido levados a cabo tanto no Brasil como no exterior quanto ao uso deste
video game, lançado em maio de 2009 por Markus Persson, conhecido como Notch
(GALLAGHER, 2015). No verão de 2011, mesmo sem investimento algum em propaganda, ele
chegou a três milhões de cópias vendidas e dez milhões de jogadores registrados, representando
algo em torno de 60 milhões de dólares de receita (LASTOWKA, 2011). Atualmente, este video
53
game pertence à empresa Microsoft, que o adquiriu por uma quantia de 2,5 bilhões de dólares. Hoje
a Suécia o adotou como matéria obrigatória em todas as suas escolas públicas. Vários países
percebem neste jogo uma excelente oportunidade no ensino das mais diversas matérias, desde
Geografia, História, Literatura e Letras, até mesmo Matemática e Artes.
4 METODOLOGIA
A metodologia usada acaba percorrendo um caminho muito próximo do que foi descrito nos
objetivos específicos. Neste momento espera-se, contudo, demonstrar os passos tomados para que o
objetivo específico fosse corretamente alcançado.
Em primeiro plano, é importante pontuar que o uso do video game não é o ponto central do
trabalho realizado em sala de aula. Vem se buscando a implantação de quatro fases no processo de
ensino, visando uma aprendizagem relevante. Essas quatro fases são: a apresentação da matéria por
meio de contação de histórias, no intuito de despertar o interesse dos alunos e inseri-los no contexto
do que será estudado; a sistematização do conhecimento mediante marcação de apostila e confecção
de guia de estudos voltados a facultar ao aluno perceber o que é essencial na aprendizagem; a
vivência com o objeto estudado usando teatro, festa à fantasia, video games, histórias em
quadrinhos, entre outros; a última fase envolve a avaliação dentro das normas estabelecidas pela
instituição de ensino em que trabalho. Com isso, percebe-se que o uso do Minecraft ocupou apenas
uma das partes deste processo, embora seja essencial para que o aluno internalize os conhecimentos
desenvolvendo o nexo necessário à aprendizagem.
A avaliação do produto do video game levou em conta a observação do produto final
buscando identificar neste o cumprimento de todos os objetivos estabelecidos no início do processo.
Desta forma, não se analisa apenas a maquete virtual, analisa-se também sua descrição gravada em
vídeo. Esta descrição permite perceber a profundidade da pesquisa desenvolvida pelo aluno que, na
maior parte das maquetes, superou as expectativas.
5 PRINCIPAIS RESULTADOS
O principal resultado foi a própria aprendizagem significativa e o desenvolvimento de um
aluno pesquisador, essencial para a construção de um futuro promissor em nossa nação.
Mesmo durante as aulas, foi possível perceber que os alunos desenvolviam uma atitude
crítica quanto ao conhecimento, questionando até mesmo informações constantes na apostila
quando pareciam contrastar com o que haviam pesquisado.
A pesquisa dos alunos que fizeram as maquetes virtuais demonstrou ser, em média, muito
melhor qualitativa e quantitativamente do que aqueles que a fizeram de forma física. Outro ponto
54
relatado pelos pais refere-se ao interesse dos alunos pelos conhecimentos estudados. Desde a
adoção deste dispositivo, embora seja apenas uma parte do processo, tem sido observada a redução
drástica do número de alunos presentes nos processos de recuperação (cerca de 50% menos alunos
em recuperação). Isso indica que os alunos têm estudado mais e com mais afinco a matéria em
questão.
Um dos resultados não esperados no início do processo, mas que precisa ser pontuado neste
momento, é que um dos alunos acabou tornando-se youtuber. Para aqueles que não sabem o que
isso significa, ele criou seu próprio canal no site Youtube, onde posta os resultados de suas
construções. As construções desenvolvidas por este aluno atendem à evolução da própria matéria. A
cada passo da matéria ele pesquisa e constrói maquetes virtuais, postando-as pelo canal de vídeo por
puro prazer. Desta forma, incentivado não apenas pela nota, ele atinge outro patamar na educação
que é a capacidade de se automotivar. Percebo, assim, que o objetivo central de qualquer educador
foi alcançado: fornecer ao aluno condições para que se torne agente de seu próprio aprendizado.
Como diz Gee (2004): “A única maneira de aprender é ver alguns exemplos e viver com eles
concretamente”.
Abaixo, é possível observar alguns exemplos do trabalho realizado pelos alunos. Veja a
complexidade e a proximidade com a construção original que foi copiada.
Teatro de Dionísio
55
Erecteion
Templo de Zeus Olímpico
REFERÊNCIAS
ALVES, Luciana; CARVALHO, Alysson M. Videogame: é do bem ou do mal? Como orientar os pais. In: Psicologia em Estudo, Maringá, v. 16, n. 2, p. 251-258, abr./jun. 2011.
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Um homem livre, uma cidade feliz. Revista UFMG, v. 20, n. 1,
56
jan./jun. 2013, p. 36-53.
BRUNER, J. S. The Process of Education - A Landmark in Educational Theory. Cambridge,
London: Harvard University Press, v. 25, p. 1–97, 1999.
DIKKERS, S. Teachercraft: how teachers learn to use minecraft in their Classrooms. 1. ed. Pittsburg: ETC Press, 2015.
GALLAGHER, C. Minecraft in the Classroom. 1. ed. Berkley: Peachpit Press, 2015.
GEE, J. P. Situated language and learning. 1 ed. New York: Routledge, 2004.
HUIZINGA, J. Homo ludens. Fernández Ciudad: Alianza Editorial, 2007.
LASKOWKA, Greg. Minecraft as web 2.0: amateur creativity & digital games. Out. 2011. <http://ssrn.com/abstract=1939241>; <http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1939241>. Acesso em: 13 jan. 2017.
LASTOWKA, G. Minecraft as Web 2 . 0: Amateur Creativity in Digital. Draft, n. January, p. 1–
19, 2012.
LIMA, José Milton. O jogo como recurso pedagógico no contexto educacional. São Paulo: UNESP, 2008.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. Por uma história prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005. p. 17-36.
57
Contribuições do uso do livro didático digital nas práticas docentes no ensino de
Química
Ricardo Augusto Marques da Costa; Lucia Scott F. C. A. Collet
Instituto Federal de São Paulo (IFSP-SP)
[email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Este projeto investigou possíveis mudanças nas práticas dos professores frente ao uso do livro didático digital (LDD). Cada vez mais presente nas salas de aula, devido ao avanço tecnológico atual, o LDD apresenta características peculiares que, com vantagens e desvantagens inerentes, propicia diversos recursos metodológicos e aproxima-se mais da realidade tecnológica do aluno. Entrevistou-se professores de Química de Ensino Médio de escolas particulares da cidade de São Paulo, Brasil, por meio de entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas. Adotou-se como referencial metodológico a análise textual discursiva em que a estrutura textual é elaborada por meio de categorias resultantes da análise de entrevistas. As transcrições foram unitarizadas, categorizadas e, posteriormente, formaram um corpo de texto. Percebeu-se que os professores têm papel central para que o LDD seja bem-sucedido. O desconhecimento das ferramentas do LDD, a superficialidade ao se analisar o livro que será adotado e a imposição pela adoção deste geram sua subutilização. Além do mais, a mobilização dos alunos para a utilização do livro depende muito dos comandos dados pelos professores. A partir destas percepções foram propostas maneiras de atuação na formação continuada dos professores, destacando o papel da escola como lugar de formação de grupos de trabalho, discussão e promoção de oficinas, além do papel das editoras na capacitação e discussão permanente sobre o uso do LDD.
Palavras-chave: livro didático digital, TIC, formação de professores, ensino de Química.
Abstract
This project investigated how the use of digital textbook has been changing teachers’ work.
Increasingly present in classrooms due to current technological advances, the digital textbook presents peculiar characteristics with inherent advantages and disadvantages provides several methodological resources and it is much closer to students´ technological reality. High school chemistry teachers of private schools in São Paulo city, Brazil, were interviewed using semi-structured interviews, recorded and transcribed. It was adopted as the methodological reference the discursive textual analysis which elaborated categories resulting from analysis of the interviews. According to the discursive textual analysis, categories were made and subsequently forming a body of text. It was noticed that teachers play a central role for the successful of digital textbook. Lack of knowledge of all digital textbook tools, superficiality when analyzing the book to be adopted and the imposition to adopt this kind of book generate its underutilization. Moreover, the mobilization of students for using the book relies on commands given by teachers. As a conclusion, this paper proposed some actions in the continuing education of teachers, in order to make full use of digital textbook in classrooms.
Keywords: digital textbook, ICT, teachers´ continuing professional development, Chemistry teaching.
58
1 INTRODUÇÃO
O mundo tem vivenciado um avanço incomparável das tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC), bem como a sua disseminação por todos os setores da sociedade. Não poderia
ser diferente nas instituições de ensino. Elas enfrentam hoje novas concepções e percepções no
sentido de ensinar numa sociedade com enorme quantidade de informações disponíveis a qualquer
momento, em qualquer lugar, nunca antes visto. Segundo Kenski (2007) a tarefa de ensino-
aprendizagem não é mais exclusiva da escola, hoje são múltiplas as agências que possibilitam
informações e conhecimentos a que se pode ter acesso. Em uma visão simplificada, percebe-se que
apenas a presença de computadores com alguns softwares ligados à internet na sala de aula já é o
suficiente para que ocorra uma mudança na aprendizagem dos alunos e que as práticas dos
professores sejam alteradas. Moran, Masetto e Behrens (2013) acreditam que não são só os recursos
que definem a aprendizagem e, sim, as pessoas, o projeto pedagógico, as interações e a gestão.
O livro didático é um dos principais meios pelo qual o professor exerce sua prática
pedagógica, contribuindo no desenvolvimento das atividades em sala de aula e, muitas vezes,
constituindo o meio pelo qual o currículo é organizado. No Brasil cabe ao Programa Nacional do
Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), a avaliação rotineira daqueles livros
que serão distribuídos nas escolas públicas, mostrando a real importância da participação ativa e
democrática dos professores na hora da seleção dos mesmos. Com os avanços tecnológicos das
últimas décadas, o livro didático ganhou suporte e formato digital. Inicialmente, eram simples
conversões digitais dos livros em papel. Com o tempo foram modificados, tornando-se instrumentos
promissores no processo de ensino-aprendizagem. Estes livros, segundo Park, Seo e Lee (2012), são
materiais educacionais com a combinação de livros didáticos, referências de livro, livros de
atividades, dicionários e conteúdos multimídias como vídeo clipes, animações e realidade virtual.
Os estudantes podem acessá-los em casa ou na escola, sem limitações de tempo e espaço, muitos
dos quais são acessíveis via internet. A partir de 2015, o livro didático digital (LDD), começou a ser
distribuído às escolas públicas de Ensino Médio no Brasil. O MEC determinou que o LDD deverá
ser utilizado sem necessidade de conexão com a internet, a não ser no primeiro acesso para fazer
download do material disponível. Devido ao tempo e investimento gastos pelas editoras na
elaboração de um livro didático, espera-se que seja possível que estes materiais sejam revisados e
publicados novamente a cada cinco anos, pelo menos. Pensando na rapidez e quantidade de
informação na sociedade atual, o livro impresso torna-se desatualizado em pouco tempo. Além
disso, os livros impressos não conseguem conter todo o volume de informação específico para um
curso. Assim, os LDD surgem com os grandes benefícios da atualização instantânea na internet e a
capacidade de armazenamento de dados. Os LDD, de acordo com Kang, Kim, Yoon e LIm (2011),
59
são capazes de serem atualizados rapidamente, fornecendo informações e recursos multimídias
atualizados constantemente.
O professor vê-se diante deste descompasso entre a realidade tecnológica a ele
disponibilizada e, por muitas vezes, não familiarizado, com aquela que o aluno conhece e lida todos
os dias. Bingimlas (2009) estudou as dificuldades encontradas na ação de integração das tecnologias
de comunicação e informação no processo de ensino-aprendizagem que ele chamou de barreiras.
Segundo este autor, as principais barreiras encontradas pelos professores em termos pessoais são:
falta de confiança, falta de competência, resistência às mudanças e atitudes negativas frente ao uso.
As principais barreiras encontradas pelos professores no ambiente escolar são: falta de tempo, falta
de efetivo treinamento, falta de acesso aos recursos tecnológicos e falta de suporte técnico. O autor
conclui que a presença de todos os fatores anteriores citados aumenta a possibilidade de uma
excelente integração do uso das tecnologias de informação e comunicação com o processo de
ensino-aprendizagem. Além das barreiras descritas por Bingimlas, Rodrigues (2010) alerta em sua
pesquisa que nem os cursos de formação inicial, nem a formação continuada ofertada pela escola
estão promovendo as habilidades ideais para o uso das TDIC no espaço escolar. Kenski (2007)
sugere que os professores tenham tempo e oportunidades para interagir com tais tecnologias e que é
importante suas escolhas e usos, e que nos cursos de graduação, os futuros professores tenham
contato inicial com estas tecnologias, aprofundando seus conhecimentos, sobretudo pedagógicos.
Considerando os saberes necessários que os professores mobilizam para realizarem seu trabalho,
Tardif (2002) mostra a importância dos saberes experienciais, que representam saberes específicos
adquiridos durante o trabalho cotidiano do professor e do conhecimento adquirido do meio.
Segundo Mercado (1998), a formação de professores em novas tecnologias permite que cada
professor perceba como as tecnologias podem ser necessárias a ele a partir da sua própria realidade,
interesses e expectativas, Mercado acredita que o uso efetivo da tecnologia por parte dos alunos,
passa primeiro por uma assimilação desta pelos professores.
Pensando que cada vez mais os avanços tecnológicos dão suporte aos materiais didáticos e
que se torna imprescindível conhecer como estes estão afetando a prática do professor em sala de
aula, esta pesquisa visou contribuir para melhor conhecer a utilização do LDD pelos professores. Há
poucas pesquisas neste sentido.
2 METODOLOGIA
Em um primeiro momento foram levantados os dados das escolas que adotaram o LDD
escolhido. A lista continha mais de 20 escolas e, por meio de telefonemas e e-mails, todos foram
contatados no mínimo duas vezes. Como se trata de uma plataforma recentemente adotada no
60
Brasil, que começou nas escolas particulares, apenas três professores e dois coordenadores de área
se propuseram a dar entrevistas. Porém, foram entrevistas reveladoras e consistentes. Tanto os
professores como os coordenadores possuem mais de 15 anos de atuação na profissão, com larga
experiência em sala de aula e/ou coordenação.
Optou-se por uma pesquisa qualitativa com entrevistas semiestruturadas, gravadas e
transcritas posteriormente. Segundo Bogdan e Biklen (1982 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 13) a
pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do
pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em
retratar a perspectiva dos participantes. A entrevista semiestruturada “se desenrola a partir de um
esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as
necessárias adaptações”. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 34). Entrevistas piloto foram feitas
inicialmente para posterior reelaboração destas. As perguntas levaram em conta, principalmente, a
relação do professor com o material didático, como ele utiliza os recursos apresentados pelo livro,
como ocorreu o processo de escolha deste livro, se houve participação efetiva do professor nesta
escolha e como os professores avaliaram os pontos fortes e fracos do LDD utilizado. Os
coordenadores foram questionados sobre o processo de escolha do livro pela escola, se ela já
possuía instalações e materiais necessários à adoção do LDD, o porquê da opção por um LDD pela
escola, se houve momentos de discussão sobre seu uso, se houve treinamento e troca de
experiências entre os pares.
Após transcritas, lidas com atenção e analisadas, as respostas foram tratadas de acordo com
os princípios da análise textual discursiva. Segundo Moraes e Galiazzi (2007, p. 32) “a análise
textual discursiva visa à construção de meta textos analíticos que expressem os sentidos lidos num
conjunto de textos. A estrutura textual é construída por meio de categorias e subcategorias
resultantes da análise. Meta textos são constituídos de descrição e interpretação, representando o
conjunto um modo de teorização sobre os fenômenos investigados”.
3 RESULTADOS
Por meio da leitura das entrevistas com professores e coordenadores, procurou-se identificar
as unidades de sentido que, juntas e organizadas, criassem categorias de análises.
Exemplos de respostas das entrevistas Categoria
emergida Percepções
P3: “Eu acabei escolhendo o livro sozinho. Eu
queria, sim, um livro digital na escola”. P2: “Eu não participei da escolha do livro. Na
verdade, foi uma imposição da editora que nos avisou que tínhamos que migrar para o LDD”.
Participação do professor na escolha do
LDD
Os professores tiveram liberdade na escolha do livro ou houve imposição por parte da editora. Escolha relacionada com a insatisfação com o livro anterior, a vontade de se adotar um livro didático no
61
P1: “O livro que a escola adotava já era digital. Tanto que eu não vejo muita diferença entre ambos, praticamente igual. Mudou apenas a editora”.
formato digital, por gostar do autor do livro ou da boa relação dos coordenadores com a editora.
P3: “O treinamento foi muito rápido, pouco tempo.
Os divulgadores ficam esperando a gente procurar do que eles podem oferecer mais treinamento”. C1: “Foi questão de uma hora, não mais que isso,
foi muito rápido e não acredito que os professores tenham se apropriado das ferramentas como deveria ser. Com certeza não”. P1: “Acho que veio aqui uma vez e ficou uma hora
com a gente e veio uma segunda vez e acho que ficou uma hora também. Eu acho que ele era técnico em informática”. P2: “Talvez se tivéssemos meio ano para ir
utilizando o livro, dúvidas surgiriam e poderia usar o livro melhor”.
Capacitação para
utilização do LDD
Houve pouco tempo dispendido para capacitar os professores que adotaram o livro. Houve uma demonstração dos recursos disponíveis nele, não tendo sido levado em conta a necessidade de um tempo maior para a apropriação e utilização destes recursos durante o ano letivo. Essa capacitação foi dada por técnicos da editora que não são professores da área de Química ou de alguma disciplina específica. Os encontros foram realizados dentro do horário de trabalho dos professores, em reuniões de área. Relatou-se que a editora esteve sempre disponível aos chamados das escolas e que ela esperava que os professores demonstrassem essas dúvidas ao longo do ano, conforme a utilização do livro.
P3: “Hoje não está tendo nenhuma contribuição”. P2: “De interessante teve um ou outro vídeo que eu
usei para ensinar pilhas, para os alunos entenderem ânodo e cátodo. Para lidar com os recursos do livro tinha que aprender mais e demoraria um certo tempo”. P3: “O off-line ajudou, imagens e esquemas. Quando se consegue transpor isto para apresentações é fundamental. No começo do ano eu utilizei mais, mas depois vem as provas e a gente acaba voltando para o tradicional”.
Contribuições do LDD na
prática docente
Pouca contribuição houve do LDD nas práticas dos professores. Percebeu-se que apenas alguns poucos recursos foram utilizados, citando-se alguns vídeos, alguns recursos multimídias e algumas imagens colocadas nos slides. Relatou-se também que a frequência da utilização dos recursos foi baixa, sendo utilizados principalmente nos primeiros meses do ano letivo, abandonados logo depois e utilizando-se mais os recursos multmídias disponíveis na web. Acredita-se que a preparação de aulas com o LDD culmina em horas digitais trabalhadas fora do horário de aula e não pagas.
P3: “O LDD ainda está longe de ter uma bagagem
digital muito grande ao ponto do aluno olhar e falar que ele aprende mais aqui do que em outro tipo de livro”. P1: “Não consegui elaborar os slides que o livro proporciona. Não sabia nem mesmo como usar isso. Talvez eu até tivesse essa função de saber, mas eu não consegui usar aquilo”. P2: “O digital não tem tantos recursos como você
imagina que tenha. Eu acho que as editoras querem vender o “moderno”, vender o digital, mas eles têm
um produto que ainda não é bom”.
Percepções dos
professores sobre os
recursos do LDD
Não se vê o LDD como uma ferramenta que se diferencia bastante do formato impresso. É visto tão estático como este último e que não apresenta tantos recursos como pode parecer. É demonstrado, contudo, um desconhecimento da maioria dos recursos disponíveis, não tendo sido citado outros infográficos e simuladores. Na visão dos professores o livro não é interativo, não motiva os alunos a interagir, ficando atrás de outros recursos disponíveis na web, que têm um apelo maior.
C1: “O professor não vê utilidade na tecnologia em sala de aula, não faz parte da cultura dele em sala de aula. É uma coisa que ele não acredita, não vê
Relação do coordenador, do professor e
Os professores consideram que possuem um tempo reduzido para cumprir o conteúdo programático da disciplina e
62
utilidade”. C2: “Os professores são de outra geração e não são
tecnológicos. Eles não têm essa formação para ir atrás, pelo menos os professores aqui desse colégio”. C2: “O colégio teria que investir numa formação
desse professor para fazer com que ele não tenha medo da tecnologia, porque isto é uma realidade”.
do aluno com o LDD
realizar as atividades interativas do LDD. Além disso, há um desconhecimento por parte dos professores das atividades que o livro pode proporcionar. Os coordenadores enxergam, por sua vez, os professores pouco entusiasmados com o uso da tecnologia em suas aulas, vistos como de outra geração, não preparados para ela. Os alunos não retornam comentários aos professores sobre o que estão achando do livro e, aparentemente, não se aprofundam nos recursos do livro.
C1: “São muitas demandas no colégio e não há
momentos específicos para que haja discussões com os professores”. C1: “Os alunos são muito bons na tecnologia, mas
eles gostam de fazer as coisas deles, não é uma questão acadêmica para aprender. Eles gostam de ficar no Facebook, vídeos, etc”. C2: “Os alunos estão pagando por um direito, um
acesso, uma animação que não tem no livro didático impresso. Eles têm acesso a isso por um ano, depois fecha-se este acesso”.
Discussão entre
professores e seus pares e
com a coordenação, em momentos
específicos, sobre o LDD
Percebeu-se que o professor tem plena autonomia na sua utilização, não sendo questionado sobre a satisfação ou as dificuldades encontradas. Os coordenadores deixam a cargo do professor a utilização plena do livro. Não há momentos específicos em reuniões para discussão sobre o assunto, pois considera-se como prioridade outros assuntos. Reconhece-se que o colégio tem a missão de investir na formação dos professores, de promover horários para capacitação e discussão do tema.
QUADRO 1 – Entrevista, categorias e análise que emergiram. 4 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS
Percebe-se claramente que não foram significativas as contribuições do LDD nas práticas
dos professores de Química. Eles utilizaram poucos recursos como alguns vídeos, algumas fotos e
raro uso dos slides. Houve preferência substancial pelo uso de materiais didáticos já preparados ao
longo da sua vida profissional, somando-se à falta de experiência para utilização didática dos
recursos disponíveis e, também, à falta de motivação para tal uso.
O LDD parece ter sido escolhido por falta de opção de outros formatos no mercado com o
mesmo autor, além do apelo de modernidade que ele traz. A coordenação pouco interferiu nesse
processo, deixando ao professor a missão de analisá-lo e escolhê-lo. Também pouco se discutiu
antes e depois da escolha, remetendo a uma provável falta de vontade de incluir o livro ao conteúdo
pedagógico proposto no planejamento. Stone e Baker-Eveleth (2013) concluíram que existe uma
relação significativa entre a percepção de utilidade do LDD pelos estudantes e suas intenções em
continuar sua adoção.
63
Algumas contradições são percebidas quando os professores indicam que tiveram
consciência na escolha do LDD, porém não fazendo uso pleno dos recursos e possibilidades por ele
oferecidos. Maynard e Cheyne (2005) indicam que é necessário mudanças no papel do professor
frente ao uso do LDD. O professor é um grande motivador para o uso do livro e ele pode, em sala,
cativar os estudantes para um melhor uso deste.
Percebe-se pouco tempo investido no entendimento do LDD. A editora se mostrou
disponível para esclarecimento de dúvidas após um treinamento inicial, porém sem uma
proximidade maior com os professores que adotaram o LDD. A escola também promoveu pouca
discussão e momentos para tal. Miranda (2007) considera que inovar a integração da tecnologia na
escola requer reflexão e modificação de concepções e práticas de ensino, mas parece que grande
parte dos professores não está disponível para tanto.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
À escola cabe um importante papel na promoção do uso das tecnologias de informação e
comunicação seja na própria estruturação de equipamentos, como no auxílio aos professores pela
formação e estímulo. A escola pode ser um lugar de formação de grupos de trabalho e discussão que
promoverão, além da troca de ideias entre os pares, o desenvolvimento de competências no uso
destas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.
Às editoras cabe o papel de capacitação e discussão permanente sobre a utilização de
recursos do livro, mantendo o contato direto com os professores, durante um bom tempo, para que
estes se sintam confiantes no desenvolvimento das atividades em sala de aula.
O professor tem a missão de uma escolha criteriosa do livro a ser adotado, bem como o
coordenador que necessita se posicionar diante da escolha do professor e, juntos, são incumbidos de
tomarem decisões ao longo do ano letivo para real utilização do livro. O professor tem, também, um
importante papel no envolvimento do aluno com o livro que foi adotado.
Nota-se que as atitudes dos professores devem ser alteradas quando se utiliza o LDD,
utilizando atividades engajadoras e desafiadoras no processo de ensino-aprendizagem. O papel
central na utilização dele se dá quando o professor acredita e pratica o seu uso.
Quanto mais debates, críticas, sugestões, compartilhamento de ideias, mais chances de se
utilizar efetivamente o LDD em sala de aula.
REFERÊNCIAS
BINGIMLAS, K. A. Barriers to the successful integration of ICT in teaching and learning environments: a review of the literature. Eurasia Journal of Mathematics, Science & Technology Education, v. 5, n. 3, 2009, p. 235-245.
64
BRASIL. Ministério da Educação. Guia de livros didáticos PNLD 2015: Química. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/item/5940-guia-pnld-20155>. Acesso em: 4 jun. 2015.
______. Ministério da Educação. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático – PNLD 2015. Brasília: MEC, 2013. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/simposio26/1comunicacoes/LucimaraDelPozzoBasso-ComunicacaoOral-int.pdf>. Acesso em: 16 maio 2014.
KANG, M.; KIM, M.; YOON, S.; LIM, H. Investigating the predicting variables of the learning outcomes when using digital textbooks. In: BASTIAENS, T.; EBNER, M. (Eds.). Proceedings of world conference on educational multimedia, hypermedia and telecommunications 2011. p. 160-169. Chesapeake, VA: AACE, 2011.
KENSKI, V. M. Tecnologias também servem para fazer educação. In: ______. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 3 ed. Campinas: Papirus, 2007. p. 43-62.
LÜDKE, M.; ANDRE, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986.
MAYNARD, S.; CHEYNE, E. Can electronic textbooks help children to learn? The Electronic Library, v. 23, n. 1, 2005. p. 103-115.
MERCADO, L. P. L. Novas tecnologias e formação de professores. In: IV CONGRESSO Iberoamericano de Informática Educativa. Anais do IV Congresso Iberoamericano de Informática Educativa, Brasília-DF, 1998.
MIRANDA, G. Limites e possibilidades das TIC na educação. Sísifo – Revista de Ciências da Educação, v. 3, 2007, p. 41-50.
MORAES, R.; GALIAZZI, M. do C. Análise textual: discursiva. Rio Grande do Sul: Editora Unijuí, 2007.
MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21ed. Campinas-SP: Ed. Papirus, 2013.
PARK, Y.; SEO, Y.; LEE, Y. Practice and implications of digital textbook project. In: World conference on educational multimedia, hypermedia and telecommunications, 2012. p. 237-242.
RODRIGUES, N. C. Tecnologias de informação e comunicação na educação: um desafio na prática docente. Fórum Linguístico, v. 6, n. 1, 2010. p. 1-22.
STONE, R. W.; BAKER-EVELETH, L. J. Students’ intentions to purchase electronic textbooks. Journal of Computing in Higher Education, v. 25, n. 1, 2013. p. 27-47.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
65
Percepções dos estudantes do ensino regular sobre o uso de blogs em sala de aula
Rodrigo Bravin1; Márcia de Freitas Vieira2
1Instituto Federal do Espírito Santo; 2Universidade Aberta de Portugal
[email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo investigar as percepções dos estudantes do 2.º ano do Ensino Médio, Técnico em Meio Ambiente, de uma escola em Viana, Espírito Santo – ES, sobre a utilização de blogs como ferramenta pedagógica durante o último trimestre de 2014, na disciplina de Sociologia. Utilizou-se como delineamento metodológico a pesquisa-ação, sendo sua abordagem quanti-qualitativa. Foram aplicados questionários semiestruturados contendo perguntas abertas e fechadas com todos os sujeitos da pesquisa (23 alunos). Para conhecer melhor as percepções dos estudantes foram realizadas seis entrevistas em profundidade com alunos sorteados previamente. Pode-se concluir, com a prática pedagógica, que os blogs estimularam a autonomia dos estudantes e o desenvolvimento de competências como a autoria, a socialização e a colaboração, possibilitando uma integração entre a escola e outros espaços da sociedade. Porém, entendemos que essa experiência precisa ser repetida para haver um maior aprofundamento da avaliação. Ao mesmo tempo, muitas escolas e profissionais da educação precisam repensar suas práticas pedagógicas reconhecendo que os estudantes chegam à escola trazendo diversos conhecimentos que precisam ser incorporados aos conteúdos trabalhados nas aulas e que as Tecnologias da Informação e Comunicação estarão cada vez mais presentes na vida das pessoas.
Palavras-chave: educação, tecnologias digitais, blog, escola colaborativa.
Abstract
This study aimed to investigate the perceptions of students of 2nd year of high school, Technician Environment, a school in Viana. Holy Spirit – ES, on the use of blogs as a teaching tool during the last quarter of 2014 in the discipline of sociology. It was used as a methodological design action research, and its quantitative and qualitative approach. They were applied semi-structured questionnaires with open and closed questions with all the subjects (23 students). To better understand the perceptions of students were conducted six interviews with students drawn previously. It can be concluded with the pedagogical practice that blogs stimulated the autonomy of students and the development of skills such as authorship, socialization and collaboration enabling integration between school and other areas of society. But we understand that this experience must be repeated to be more thorough evaluation. At the same time, many schools and education professionals need to rethink their teaching practices recognizing that students come to school bringing diverse knowledge that need to be incorporated into the contents worked in class and that Information and Communication Technologies will be increasingly present in the lives of people.
Keywords: education, digital technologies, blog, collaborative school.
66
1 INTRODUÇÃO
Cada vez mais a internet tem se popularizado no Brasil. São inúmeras as ferramentas que
surgiram e surgem encurtando as distâncias e modificando a forma como as pessoas se socializam.
Tal cenário exige das instituições escolares práticas pedagógicas conectadas com esses novos
tempos, nos quais os estudantes adquirem conhecimento a partir dos mais variados meios
tecnológicos como: celulares, computadores, tablets, smartphones, televisão, etc.
Dentro desse contexto destacam-se os blogs que podem ser ferramentas que possibilitam, ao
mesmo tempo, a construção do conhecimento, a interação e o compartilhamento de ideias entre
estudantes e professores. Essa socialização oportunizada pelos blogs estimula uma aprendizagem
ativa, o que coloca em xeque muitas práticas escolares bancárias que consideram o estudante um
depósito de saber que é preenchido pelo professor. Essas práticas mutilam a capacidade de criação
dos alunos, condicionando-os a serem reprodutores.
A escola enquanto espaço formal de educação precisa levar em consideração a diversidade
dos estudantes para que as relações não ocorram somente por obrigação. Compreender a
heterogeneidade do corpo discente pode ajudar a transformar o cotidiano escolar propiciando
encontros mais prazerosos nos quais todos se sintam respeitados, representados e ouvidos.
Nesse sentido, esta pesquisa pretendeu investigar os limites e as possibilidades da inclusão
de blogs nas aulas de Sociologia de uma turma de 2.º ano do Ensino Médio durante o último
trimestre de 2014, numa escola de Viana – ES. Para isso, buscou-se conhecer as percepções de 23
estudantes sobre a experiência de utilizar blogs na realização das atividades, durante todo o referido
trimestre.
A perspectiva adotada nesse trabalho é a de que produzir blogs dentro do ambiente escolar
precisa ter como objetivo estimular um uso crítico e criativo que dê condições para que os
estudantes sejam efetivamente autores e colaboradores entre si. Como consequência, espera-se que
essa experiência contribua para a socialização das ideias, a interligação da escola, da comunidade,
dos alunos, e a sensibilização de gestores e professores.
Nesse sentido, a problemática que queremos responder com esse trabalho é: a utilização de
blogs como ferramenta pedagógica nas aulas de Sociologia pode estimular a autoria, a reflexão, a
produção de conhecimento colaborativo e a superação do que Freire (2005) chama de “educação
bancária”?
2 CIBERCULTURA, BLOGS E EDUCAÇÃO
67
O contexto atual apresenta uma nova escola que precisa ser apropriada pelos professores.
Nela o conhecimento não é mais construído a partir das limitações geográficas, mas das tecnologias
digitais que se mostram cada vez mais perto da população comum. Não se trata somente de inserir
novos meios tecnológicos na prática escolar, mas de compreender a influência desses instrumentos
nas formas de pensar, aprender e lidar com o conhecimento (ARRUDA, 2009).
Lévy (2010) enfatiza a necessidade de pensar o futuro dos sistemas da educação, a partir da
reflexão sobre as mudanças ocorridas na relação dos seres humanos com o saber. Ele constata que
vivemos em uma época acelerada na qual os saberes se renovam constantemente. Como
consequência disso, boa parte dos conhecimentos que uma pessoa adquiriu durante a vida estará
defasada no fim da sua carreira profissional.
Neste sentido, Arruda (2009) defende que numa era fundada nas facilidades oferecidas pelas
tecnologias, os professores não têm que somente mudar sua postura frente ao conhecimento, mas
romper completamente com as formas anteriores de ensino e aprendizagem.
Lévy (2010) nos convida a aproveitarmos todas as potencialidades do que ele chama de
cibercultura e enfatiza que não devemos nos prender aos discursos que dicotomizam as novas
tecnologias como totalmente boas ou totalmente más.
Não quero de forma alguma dar a impressão de que tudo o que é feito com as redes digitais seja “bom” [...]. Peço apenas que permaneçamos abertos, benevolentes, receptivos em relação à
novidade. Que tentemos compreendê-la, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural (LÉVI, 2010, p. 12).
Usando a metáfora do “dilúvio”, Lévy (2010) ressalta que as novas formas de comunicação
valorizam o indivíduo quando possibilitam uma interconexão entre nações, culturas, idades, apesar
das diferenças. As telecomunicações estimulam a ampliação da visão, a percepção do outro, a
cooperação e a associação mesmo com a existência de múltiplos pontos de vista.
Morin (2003) faz severas críticas à forma como se constroem os conhecimentos, destacando
que quando se enfraquece as possibilidades de uma visão global, limitamos o senso de
responsabilidade e solidariedade. Conforme Meirieu (2005), a escola precisa diferenciar suas
pedagogias para que os alunos possam construir conhecimento e se apropriar dos saberes a partir
das suas demandas e interesses. Ao mesmo tempo, Freire (2005) defende a importância da interação
entre professores e estudantes quando afirma que o diálogo é uma necessidade existencial e não
pode estar fundamentado em hierarquias.
Freire (1996, 2005) se opõe radicalmente ao modelo tradicional de educação, mostrando que
a construção do mundo é um processo em que educador e educando realizam em conjunto. À
medida que constrói o mundo, o educando se descobre responsável por sua história. Por isso, supor
68
que o estudante é desprovido de qualquer conhecimento, como atesta a educação “bancária”, além
de limitar os sujeitos, produz cidadãos sem autonomia, sem crítica, que ignoram a reinvenção e a
busca inquietante de construir e desconstruir o cotidiano.
Vygotsky (1991) reforça a importância da interação entre os seres humanos e o meio. O
autor defende que a construção dos sujeitos ocorre num constante contato com a sociedade e um dos
principais temas da sua teoria é a mediação. Para pensar a importância da socialização ele
desenvolveu um conceito chamado de “Zona de Desenvolvimento Proximal” (VYGOTSKY, 1991).
A partir dele, qualquer sujeito possui dois níveis de desenvolvimento. Um se refere ao que a pessoa
pode fazer sozinha, e o outro nível é o potencial daquilo que o sujeito pode aprender com a ajuda
(mediação) de outras pessoas.
À medida que interage com os outros, a criança vai desenvolvendo seu pensamento e
construindo de acordo com esses contatos o momento que experiencia. Todos os seres humanos
nascem em um mundo construído e com a mediação dos mais velhos vão desenhando uma história
de sentidos e significados. A “estrutura humana complexa é o produto de um processo de
desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social
(VYGOTSKY, 1991, p. 24).
Nesse sentido, os blogs se mostram como ferramentas que podem integrar a escola e a
comunidade. São espaços virtuais onde os estudantes podem debater, questionar e construir o
conhecimento de forma colaborativa. Por todas essas possibilidades, os blogs oferecem caminhos
para que os educadores construam relações de parceria com os alunos.
Para Marinho (2007), o blog contribui para o desenvolvimento de um pensamento crítico,
criativo, colaborativo, além de extrapolar os limites geográficos da escola dando grande visibilidade
a tudo que os estudantes produzem. À medida que fazem “posts”, os usuários e leitores dos blogs
trocam ideias e fomentam debates sobre diversas questões.
Boeira (2009) reconhece o avanço da utilização dos blogs em diversas áreas e aconselha as
escolas a não ignorarem essa situação. Para ela, os espaços escolares precisam refletir sobre os
limites e as possibilidades que os blogs oferecem e, a partir disso, planejar sua utilização ou não
como uma ferramenta pedagógica. Neste sentido, Mantovani (2006) alerta que não é somente
incluir tecnologias nas práticas escolares, mas transformar a visão que se tem dos estudantes,
entendendo-os como seres em situação privilegiada e que possuem capacidades para imaginar, criar
e interagir nesse novo contexto marcado por múltiplas tecnologias.
Fogaça (2011) defende que grande parte dos jovens urbanos constrói suas identidades em
contato com as tecnologias digitais e que os blogs, usados de forma dialógica ajudam no ensino das
ciências, oferecendo diversas possibilidades.
69
A partir de uma pesquisa na qual os alunos foram estimulados a discutir a temática
sexualidade em blogs e outras ferramentas tecnológicas, Bierwagen (2011) afirma que a inserção
das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nos processos educativos contribui para uma
participação ativa dos estudantes, melhorando as relações estabelecidas no ambiente escolar.
Contudo, a autora conclui que mesmo sendo bem conhecidas, as novas tecnologias ainda não foram
popularizadas nas práticas pedagógicas.
3 METODOLOGIA
Quanto à finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido sob uma perspectiva metodológica
quanti-qualitativa por oferecer tanto uma visão de quantidade para se medir as dimensões de
interesse a partir dos números, como por desvelar sentidos e visões do mundo do público
pesquisado.
Em relação ao delineamento, utilizou-se a pesquisa-ação como técnica para a realização de
trabalho de campo, observação, coleta e análise dos dados.
[...] a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2010, p. 20).
Para a coleta dos dados utilizou-se a observação participante, por promover além do contato
direto, a interação entre pesquisador e pesquisados (GIL, 2002). Ao mesmo tempo, foi aplicado um
questionário semiestruturado contendo 13 perguntas abertas e fechadas para toda a turma. Visando
buscar um conhecimento maior sobre as percepções dos estudantes, foram realizadas entrevistas
com seis alunos (25%) escolhidos de forma aleatória. Durante todo o processo foram utilizadas as
redes sociais Facebook e o Whatsapp como ferramentas de interação com a turma.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Durante o terceiro trimestre de 2014, os alunos de uma turma de 2.º ano do Ensino Médio
Técnico em Meio Ambiente de uma escola estadual no município de Viana – ES, divididos em
grupos de cinco estudantes, criaram blogs e os utilizaram para a realização de nove atividades da
disciplina de Sociologia. Os conteúdos do plano de ensino eram trabalhados em sala de aula e as
atividades nos blogs eram produzidas no laboratório de informática da escola e em atividades para
casa.
Quanto ao gênero dos alunos participantes, 87% são mulheres. Em relação à idade, a maior
parte deles (61%) têm 17 anos, 35% têm 16 anos e 4% com 18 anos. 96% dos estudantes possuem
70
conexão de internet em casa, o que mostra que os jovens estão conectados à grande rede e as
diversas possibilidades que se apresentam para se planejar ações pedagógicas que levem em
consideração os conhecimentos trazidos pelos alunos e propiciem a socialização.
Sobre os artefatos tecnológicos que os estudantes possuem e utilizam em suas vidas,
destacam-se o computador (36%), o smartphone (34%) e o notebook (22%), além do celular, e o
tablet, indicando que todos os alunos da turma têm e utilizam algum tipo de tecnologia. Assim, é
perceptível a necessidade de superação das práticas tradicionais de educação que consideram os
estudantes apenas como depósitos de conhecimento.
Em relação à frequência de uso da internet para realização de pesquisas, 78% dos alunos o
fazem muitas vezes; 22% disseram que usam internet poucas vezes para esse fim. Questionados se
acham importante a inclusão das tecnologias em sala de aula, os estudantes foram unânimes em
responder que sim.
Os jovens são tecnológicos e utilizam, em muitos casos, a internet para se informar e fazer
pesquisas. Reconhecer que a escola não é detentora de todo conhecimento pode ser um caminho
para que professores se tornem mediadores e construam práticas pedagógicas que estimulem a
autoria, parceria e colaboração.
De acordo com Freire (1996), é preciso reconhecer as demandas que os alunos trazem para a
escola. Cada vez mais eles chegam ao ambiente escolar trazendo diversas experiências de vida que
podem ser incorporadas às práticas pedagógicas, possibilitando uma identificação com o que
aprendem. “Por que não estabelecer uma ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais
aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?” (FREIRE, 1996, p. 30).
Para 70% dos alunos a experiência de utilização dos blogs durante o terceiro trimestre de
2014 foi boa, 17% não souberam responder e 13% a definiram como ruim. As respostas mostram
que a maior parte dos estudantes deseja que novas práticas pedagógicas sejam inseridas nas salas de
aula.
Na opinião de 100% dos estudantes pesquisados, o uso das redes sociais Facebook e
Whatsapp, como suportes às dúvidas e questionamentos que surgiram durante o período em que
desenvolveram os blogs, facilitou o contato e a superação das dificuldades. As redes sociais são
poderosas ferramentas quando se trata de interação e colaboração. Com o Facebook e o Whatsapp
sendo usados de forma acessória, os alunos puderam questionar, propor e se manter em contato com
o professor em tempo real e sem nenhuma barreira geográfica.
Para 57% dos alunos, o uso de blogs não estimulou a autonomia e a socialização da turma,
enquanto 39% acreditam que estimulou. Essas informações reforçam situações observadas nas aulas
com a turma, em que existem alguns grupos que não se falam. Por isso, ao longo da pesquisa foi
perceptível grande socialização concentrada em cada grupo, e um pouco menor dentro da turma.
71
A maior parte dos alunos (65%) aprova a repetição da experiência com uso de blogs,
enquanto 31% não gostariam que a experiência fosse repetida. Acredita-se, a partir de suas falas,
que o alto índice de rejeição deve-se à precariedade do laboratório de informática que dificulta o
uso de blogs e ao fato de três alunos da turma não possuírem computadores em casa.
Sobre a experiência individual com blogs, 73,91% dos estudantes a definiram como
razoável, 21,73% a consideraram boa e 4,34% afirmaram que foi ruim o contato. O período que a
turma teve para utilizar os blogs nas atividades de Sociologia foi relativamente curto. Essa situação
pode explicar a grande quantidade de alunos que consideraram essa experiência apenas razoável,
mesmo boa parte deles tendo dito que via muitos pontos positivos. Numa próxima utilização é
preciso pensar em um calendário maior que dê tempo para a familiarização e o efetivo uso da
ferramenta, e em ter estrutura no Laboratório de Informática para que os alunos que não têm tanto
acesso à internet possam utilizar.
No caso dessa pesquisa, os blogs serviram como ferramenta de mediação utilizada pelo
professor para estimular os estudantes a conhecê-los e usá-los nas atividades da disciplina de
Sociologia, considerando que todos eles usam a internet e possuem algum equipamento tecnológico.
Entende-se que o conhecimento é construído socio-historicamente a partir das relações
estabelecidas entre os seres humanos (VYGOTSKY, 1991) e que os adultos são mediadores das
relações que os mais jovens têm com as informações.
A utilização dos blogs no contexto educacional rompe com o cotidiano da reprodução
existente em muitas escolas. Ao produzir e manipular um blog, os estudantes tornam-se ao mesmo
tempo autores, leitores e organizadores dos conteúdos que postam (LENDENGUE, 2010). Os
espaços virtuais dos blogs também proporcionam a expressão pessoal das situações vividas que têm
conexão com algum conteúdo trabalhado em sala de aula, por isso podem ser uma extensão da
escola.
Para 92% dos alunos, a realização das atividades via internet não prejudica o aprendizado.
100% deles concordam que os professores deveriam incluir de forma mais efetiva em suas práticas
pedagógicas os meios tecnológicos, “Porque auxilia o professor na sala de aula e faz com que os
alunos fiquem mais interessados” (ALUNO 23).
Por fim, os alunos opinaram sobre os motivos que impedem professores de utilizar
tecnologias nas salas de aula: Para 26% dos discentes, os professores não consideram importante
utilizar meios tecnológicos, 18% afirmaram que os docentes não querem fazer uso, 9% pensam que
se as tecnologias não forem usadas de forma correta podem atrapalhar os alunos e 9% não
responderam a questão. Para a maioria dos alunos, a escola e, especialmente, os professores são
responsáveis pela pouca ou nenhuma utilização das tecnologias em salas de aula. Ao mesmo tempo,
72
em muitas situações, os professores são cobrados para que incluam nas aulas as tecnologias, porém
não são oferecidas condições em relação à infraestrutura, nem são estimuladas novas práticas.
Não é mais possível estabelecer percursos lineares para todos os alunos. Nesse sentido, a
internet possibilita uma gama de opções que contribuem para a visão de “[...] espaços de
conhecimento emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo
com os objetivos e contextos” (LEVY, 2010, p. 160). Os jovens do século XXI não suportam mais
frequentar aulas que não tenham conexão com seus cotidianos e projetos de vida. Nesse sentido, os
professores precisam se apropriar das tecnologias, incitando a troca de saberes e mediando os
percursos de aprendizagem dos estudantes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa buscou investigar/analisar as percepções dos estudantes do Ensino
Médio sobre o uso de blogs em sala de aula. Essa experiência ocorreu durante um trimestre letivo
com uma turma de estudantes do 2.º ano do Ensino Médio e se fundamentou na produção e no uso
coletivo de blogs, nos quais eram realizadas todas as atividades da disciplina de Sociologia.
Pode-se afirmar que a maior parte dos alunos tem acesso à internet e a utiliza para realização
de pesquisas; por isso, essa situação deve ser aproveitada no cotidiano escolar para que se
propiciem múltiplas formas de construir o conhecimento.
Freire (1987) convoca escolas e professores a repensarem a escolha dos saberes curriculares
para que as experiências sociais dos estudantes sejam incorporadas e discutidas em salas de aula.
A situação de perda do domínio sobre o conhecimento se mostra evidente quando
percebemos que na avaliação de boa parte dos estudantes a escola não oferece condições estruturais
para que o uso das tecnologias ocorra e também os professores não as consideram importantes ou
não querem usá-las.
A juventude que frequenta as escolas no século XXI traz diversas aprendizagens que foram
alcançadas por múltiplos meios e situações. Isso é reforçado quando todos os estudantes afirmam
possuir algum meio tecnológico. Essa mudança nos processos de socialização das crianças modifica
os papéis escolares, não sendo mais possível existir uma dicotomia entre aluno que somente
aprende e professor que somente ensina.
Ao definirem a experiência com blogs como boa para a maioria deles (alunos), a escola se
vê diante de muitas possibilidades de utilizá-los de formas mais constantes. Muitos estudantes
descreveram que foi interessante buscar conhecimento via blog, mesmo tendo pouco tempo para
utilizá-lo. Neste sentido, Lévy (2010) estimula uma postura de superação da visão de conhecimento
como uma grande arca, que concentra tudo, para outra na qual existem diversas arcas, com
73
pequenas totalidades, interesses e projetos que se misturam, se separam e se questionam dentro do
dilúvio.
Entendemos que a utilização de blogs como ferramenta pedagógica nas aulas de Sociologia
contribuiu para a construção da autonomia dos estudantes, que agora se enxergam como produtores
de conhecimento em colaboração com o professor.
Contudo, não parece prudente achar que o computador inserido na escola represente a
solução de todos os problemas educacionais. Ferramentas tecnológicas, equipamentos, etc., são
apenas programas e máquinas que sozinhos não podem fazer nada. Se não houver a mediação
humana (VYGOTSKY, 1991) esses equipamentos não se transformarão em meios que facilitam a
aprendizagem e a construção do conhecimento.
Reconhecemos que, como primeira experiência, a utilização de blogs ajudou a produzir uma
dinâmica diferente na prática de sociologia; mas considerando, por exemplo, que uma quantidade
relevante de alunos respondeu que não aprovaria a repetição da prática com blogs, entendemos que
é necessário repeti-la, mas em um espaço maior de tempo para uma avaliação mais aprofundada.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, E. Relações entre tecnologias digitais e educação: perspectivas para compreensão da aprendizagem escolar contemporânea. In: FREITAS, M. T. A. (Org.). Cibercultura e formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
BIERWAGEN, G. S. Uma proposta de uso do blog como ferramenta de auxílio ao ensino de ciências nas séries finais do ensino fundamental. (Mestrado em Educação). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
BOEIRA, A. F. Blogs na educação: blogando algumas possibilidades pedagógicas. 2014. Disponível em: <http://tecnologiasnaeducacao.pro.br/revista/a1n1/art10.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2017.
FOGAÇA, M. Blog no ensino de ciências: uma ferramenta influente na formação de identidades juvenis. Tese (Doutorado), Universidade de São Paulo, 2011.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
______. Conscientização – teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3 ed. São Paulo: Centauro, 2005.
______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
74
LENDENGUE, M.; SILVA, K. Blog na educação: criando ambientes virtuais de aprendizagem. 2014. Disponível em: <http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/viewFile/85/129>. Acesso em: 13 jan. 2017.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.
MANTOVANI, A. M. Blogs na educação: construindo novos espaços de autoria na prática pedagógica. 2015. Disponível em: <http://educivica.com.sapo.pt/blogsnaeduca.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2017.
MARINHO, S. P. P. Blog na educação & manual básico do blogger. 2015. Disponível em: <http://www.ich.pucminas.br/pged/db/txt/marinho_manualblog_v3P2.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2017.
MEIRIEU, P. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília: Unesco, 2011.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo, Corteza, 2011.
VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
75
"How I survived a no-technology day" – Criando vídeos no iPad para
desenvolver a oralidade em inglês
Sílvia Roda Couvaneiro7; Neuza Pedro
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
[email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
No âmbito de um projeto de pesquisa sobre a utilização de tablets nas aulas de Língua Inglesa dos 7.º e 8.º anos, acompanharam-se dois professores e quatro turmas de um projeto piloto com iPads 1:1 (na proporção de um equipamento por aluno) em um colégio privado, nos anos letivos de 2015-2016. O estudo tem como objetivo analisar as aprendizagens dos alunos, especificamente no que diz respeito a: i) motivação para a aprendizagem do Inglês – Língua Estrangeira (GARDNER, 1985); ii) competência comunicativa em língua inglesa, especificamente a produção oral; e iii) desenvolvimento de competências digitais (FERRARI, 2013). Neste artigo pretende-se partilhar uma das atividades desenvolvidas com a professora do 8.º ano para dar resposta a um problema assinalado pelo grupo de pais da turma: o excesso de utilização do iPad por estes jovens nos seus tempos livres. Assim, os alunos foram desafiados a escolher um dia em que não poderiam utilizar quaisquer dispositivos tecnológicos (televisão, celular, computador, etc.) para depois realizar um relato desse dia em formato de vídeo, fazendo uso integral da língua inglesa. Desta forma, os alunos treinariam a oralidade, recorrendo ao vocabulário e à gramática aprendidos em unidades de estudo anteriormente trabalhadas em Inglês. Para a produção do vídeo, os alunos deveriam utilizar o iPad, recorrendo a aplicações como iMovie e CartoonCam, o que contribuiria para o desenvolvimento das suas competências digitais. Todos os produtos multimídia desenvolvidos pelos alunos foram recolhidos e neste artigo se partilham exemplos do resultado desta atividade.
Palavras-chave: tablets, um-para-um, Inglês – Língua Estrangeira, motivação, competências digitais.
Abstract
As part of a research project on the use of tablets in English as a Foreign Language in grades 7 and 8, two teachers and four classes of a pilot project with iPad 1:1 (one device per pupil ratio) were followed at a private college in the school year 2015/2016. The study aims to analyse students' learning, specifically regarding: i) motivation to learn English - Foreign Language (Gardner, 1985), ii) communicative competence in English, specifically oral production, and iii) digital skills development (Ferrari, 2013). In this article we intend to share one of the activities developed with the teacher of the year 8 class to respond to a problem pointed out by the class’s group of parents: the overuse of the iPad by these students in their free time. Thus,
students were challenged to choose a day when they could not use any technological devices (TV, cell phone, computer, etc.) and should then make a video report of that in English. This way, the students would train their oral skills, using the vocabulary and grammar learnt in previous units in class. For the production of the video, students should use the iPad and applications such as iMovie and CartoonCam, which would contribute to the development of their digital skills. All the multimedia products developed by the students were collected, and in this article examples of the result of this activity are explained.
Keywords: tablets, one to one, English as a Foreign Language, motivation, digital competence
7 O estudo encontra-se em curso, sendo a autora bolsista do programa de doutorado “Technology
Enhanced Learning and Societal Challenges” (TELSC) da Fundação para a Ciência e a Tecnologia,
com a referência PD/BI/113595/2015.
76
1 APRENDER INGLÊS COM RECURSO DE TABLETS
Considerando que os equipamentos móveis vêm sendo integrados em contextos de
educação, diversas vantagens para a aprendizagem têm sido apontadas (BURSTON, 2015;
KUKULSKA-HULME, 2009; TRAXLER, 2011). Sendo os projetos de integração cada vez mais
frequentes nas escolas, esses levam ao aparecimento de novos desafios para a sociedade, por
exemplo, no acesso à informação e no desenvolvimento da competência digital (FERRARI;
BRECKO; PUNIE, 2014). Na Europa vão se alargando os contextos plurilíngues e pluriculturais
(COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2003), impondo-se como outra prioridade
desafiante no contexto educativo. No estudo que se apresenta neste artigo é intenção considerar
ambos esses desafios, procurando encontrar afinidades entre a aprendizagem móvel e a
aprendizagem de línguas estrangeiras.
Considerando as vantagens apontadas pela literatura quanto à integração das tecnologias
móveis, é relevante para esse estudo que essa integração seja feita de forma pedagogicamente
pertinente e com propósitos produtivos, ou seja, que leve os alunos à produção de conteúdos digitais
e à produção oral para a aprendizagem da língua inglesa. Acompanha-se um projeto em uma escola
privada de Lisboa em que cada aluno tem o seu tablet iPad, podendo utilizá-lo em aula. Assim, as
questões de investigação do estudo formulam-se para se estudar a motivação dos alunos face à
aprendizagem de Inglês Língua Estrangeira (ILE), o desenvolvimento da competência
comunicativa, em particular a produção oral, e a competência digital.
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM MÓVEL
Entidades internacionais como a Comissão Europeia ou a Unesco vêm apontando vantagens
e potencial educativo às tecnologias móveis (COMISSÃO EUROPEIA, 2012a; UNESCO, 2013). A
investigação carece ainda de desenvolver mais estudos na área, com mais tempo, como forma de
garantir os benefícios já assinalados na literatura existente. Autores como Kukulska-Hulme,
Pegrum, Oakley e Faulkner apontam já para a preferência de modelos de integração de tablets 1:1
(um-para-um) e com a propriedade dos equipamentos pelos alunos (KUKULSKA-HULME, 2009;
PEGRUM; OAKLEY; FAULKNER, 2013).
As vantagens da integração de aparelhos móveis em contextos educativos surgem associadas
à capacidade de diferenciar processos de aprendizagem, adaptando-se os equipamentos às
necessidades dos alunos, e por possibilitar tanto o trabalho autônomo como o colaborativo
(CLARK; LUCKIN, 2013, p. 23; GOODWIN, 2012, p. 51). Porém, a utilização colaborativa e
frequente das tecnologias móveis 1:1 parece surtir maiores efeitos e maior impacto nos resultados
77
dos alunos, principalmente em casos de alunos com dificuldades de aprendizagem (HIGGINS;
XIAO; KATSIPATAKI, 2012). Higgins, Xiao e Katsipataki constatam haver, contudo, dificuldade
pedagógica na planificação de interações ou trabalhos colaborativos e na formação dos professores
para o trabalho nesse sentido (Idem).
Pegrum, Oakley, e Faulkner (2013) referem que com tais recursos se tornará mais fácil
distanciar os professores do ensino meramente expositivo e relatam que em aula os professores
terão mais facilidade em adotar abordagens pedagógicas variadas, especificando que o iPad poderá
auxiliar na promoção de abordagens mais ativas, colaborativas e mais centradas no aluno, como no
caso do sócio-construtivismo (PEGRUM; OAKLEY; FAULKNER, 2013, p. 69).
Traxler considera que a aprendizagem móvel poderá enriquecer o contexto educativo
tradicional, melhorando os processos de ensino-aprendizagem; ultrapassando barreiras geográficas,
infraestruturais, sociais, cognitivas ou temporais; permitindo a construção de teorias, centrando-se
nas implicações que a mobilidade trará na prática; e motivando os alunos (TRAXLER, 2011, p. 35-
41). Contudo, considera serem ainda escassas as evidências de tais melhorias. Sugere que a
investigação seja mais prolongada no tempo para que haja uma estabilização do uso pedagógico da
tecnologia e possa ser estudado esse uso posteriormente (TRAXLER, 2011, p. 41-42). A
aprendizagem móvel poderá, ainda, ajudar noutros desafios, como sejam o ultrapassar de fossos
digitais, desenvolver a competência digital e motivar alunos e docentes (CARVALHO, 2012;
GAWELEK; SPATARO; KOMARNY, 2011).
Esses tipos de desafios têm-se tornado mais frequentes no contexto europeu, propondo-se o
seguinte na preparação dos alunos:
The recommendation of the European Parliament and the Council recognized eight key competences for Lifelong Learning: communication in the mother tongue; communication in foreign languages; mathematical competence and basic competences in science and technology; digital competence; learning to learn; social and civic competences; entrepreneurship; and cultural awareness and expression. Digital competence has been confirmed as a relevant priority for the European Commission in more recent policies, actions, and communications. (FERRARI, 2013, p. 7).
Destas medidas, duas revelam particular interesse para este estudo: a generalização do
multilinguismo europeu e o desenvolvimento da competência digital, constituindo-se como dois
desafios sociais.
Destacou-se a respeito do primeiro desafio o relatório “First European Survey on Language
Competences” (COMISSÃO EUROPEIA, 2012b), por informar sobre as línguas estrangeiras mais
estudadas e a proficiência linguística dos alunos, sendo o Inglês como Língua Estrangeira (ILE) a
mais estudada. Por outro lado, o relatório “DIGCOMP” da Comissão Europeia (FERRARI, 2013)
delimita os domínios que os alunos europeus deverão desenvolver no que respeita à competência
digital. Para Kukulska-Hulme (2010) estes dois desafios poderão responder-se mutuamente –
78
aprender línguas recorrendo a tecnologias móveis para proporcionar oportunidades de
aprendizagem autênticas, com situações de comunicação mais reais, e por outro lado desenvolver a
competência digital por meio do acesso contínuo à tecnologia.
MALL (Mobile Assisted Language Learning) é uma vertente da aprendizagem móvel na
qual tem surgido diversos estudos explorando este tipo de afinidades. Kukulska-Hulme (2009)
considera que a MALL se caracteriza pela flexibilidade de integração das tecnologias móveis nos
hábitos dos alunos, permitindo interações mais contínuas e espontâneas, quer seja entre alunos,
professores ou conteúdos (KUKULSKA-HULME, 2009).
3 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO E RESULTADOS ESPERADOS
Neste estudo, explora-se a produção de artefatos, de conteúdos digitais por parte dos alunos,
à produção comunicativa oral, explorando as afinidades referidas na literatura. O projeto se
desenvolve entre 2014 e 2017, realizando-se o trabalho de campo e a recolha de dados nos anos
letivos de 2015/2016. Participam 106 alunos de uma escola privada de Lisboa que iniciou um
programa com tablets 1:1. A amostra de alunos divide-se em três turmas do 7.º e uma do 8.º ano de
escolaridade do 3.º Ciclo de Ensino Básico, tendo os dois anos de escolaridade experiências e fases
diferentes de adoção da tecnologia em contexto escolar. Os alunos do 7.º usam tablets em aula nos
anos letivos de 2015/2016 pela primeira vez e os alunos do 8.º pelo segundo ano. Também seus
professores de inglês (2) participam do estudo.
São objetivos do estudo: 1) identificar benefícios e constrangimentos referidos na literatura
sobre a integração de tablets 1:1, procurando casos de aprendizagem de línguas estrangeiras e ILE,
especificamente; 2) aplicar um projeto com a duração de um ano letivo, explorando a adoção de
tablets 1:1 no contexto português; 3) analisar as aprendizagens dos alunos; 4) explorar eventuais
diferenças em fases diferentes de adoção da tecnologia móvel em contexto educativo. O problema
de investigação se formula da seguinte forma: terá a integração pedagógica de tablets 1:1 uma
contribuição favorável para a motivação dos alunos para a aprendizagem de ILE e para o
desenvolvimento de competências específicas e transversais?
Este problema se concretiza em três questões de investigação, interessando analisar a
percepção de alunos e professores de ILE sobre a utilização educativa de tablets 1:1 em dois
momentos diferentes, para verificar se há impacto quanto: i) à motivação dos alunos para a
aprendizagem do ILE; ii) ao desenvolvimento da competência comunicativa, mais especificamente
da produção oral e iii) ao desenvolvimento da competência digital. Formula-se uma questão de
investigação exploratória quanto à possibilidade de se compararem os dois níveis de experiência de
adoção da tecnologia.
79
Quanto à metodologia seguida, este projeto se enquadra no paradigma pragmático de
investigação, centrando-se no problema e assumindo uma metodologia mista de recolha e análise de
dados (CRESWELL, 2007). Os dados quantitativos são recolhidos ao longo de todo o ano letivo,
recolhendo-se dados qualitativos posteriormente, estratégia que Creswell apelidou de explanatória
sequencial (CRESWELL, 2007, p. 217), permitindo-se assim o alargamento dos dados iniciais
(CRESWELL; PLANO CLARK; GUTMAN; HANSON, 2003, p. 178) bem como a triangulação de
todos os resultados. Todos estes momentos de recolha de dados, bem como os instrumentos que
serão utilizados encontram-se na Figura 1.
Figura 1. Momentos e instrumentos de recolha e análise de dados
Os dados quantitativos contribuem para refletir sobre cada uma das questões de investigação
e os dados qualitativos para todas elas. Para responder às questões sobre a motivação e a
competência digital construiu-se um questionário para aplicar aos alunos conjugando dois conjuntos
de indicadores: um índice de motivação para aprender línguas estrangeiras adaptado de “The
Attitude/Motivation Test Battery” de Gardner (1985) e um conjunto de indicadores baseado no
quadro de referência “DIGCOMP” (FERRARI, 2013) para abordar a competência digital. Os
produtos digitais dos alunos, recolhidos ao longo do ano letivo, permitem avaliar a oralidade em
língua inglesa de acordo com descritores para cinco níveis de desempenho, formulados de acordo
com os níveis A2 e A2+ do Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas (CONSELHO
DA EUROPA, 2001). Após uma análise preliminar aos três tipos de dados quantitativos recolhidos
elabora-se a entrevista aos professores, que trará novas contribuições, permitindo a triangulação de
dados.
É esperado que o acompanhamento de um programa de integração de tablets 1:1 na
aprendizagem da língua inglesa no contexto português permita explorar as afinidades entre ambas,
bem como condições mais favoráveis a sua realização e a atividades apropriadas para o
desenvolvimento da produção oral. Do mesmo modo, é ambição deste projeto contribuir para uma
80
consciencialização das vantagens de abordagens pedagógicas inovadoras, para a aprendizagem
suportada por tecnologias móveis no contexto nacional.
4 ATIVIDADE “NO-TECHNOLOGY DAY”
Durante este estudo acompanhou-se o trabalho dos professores de forma contínua, sugerindo
ajustes na planificação de atividades com vista à produção oral, o que resultou na recolha de
conteúdos digitais dos alunos em três períodos letivos. Uma dessas atividades foi proposta aos
alunos no final do ano letivo na sequência de um problema apontado pelo grupo de pais da turma do
8.º ano – o excesso de utilização das tecnologias nos tempos livres. A docente de inglês propôs à
turma que, individualmente, cada aluno selecionasse um dia de suas vidas para viver sem
tecnologias. O resultado de suas reflexões resultaria num relatório em vídeo, explicando as várias
atividades que realizaram ao longo do dia, bem como foram se sentindo, recorrendo para tal à
língua inglesa. Desse modo, os alunos recorreriam à tecnologia como ferramenta de trabalho,
produzindo o seu vídeo em inglês, para ser apresentado posteriormente aos seus colegas na turma.
Sugeriu-se aos alunos a utilização de aplicações como iMovie e CartoonCam. A maioria dos
alunos utilizou a aplicação iMovie, relatando seus dias e as atividades realizadas, principalmente em
dias não escolares. Esses vídeos foram trazidos por cada aluno para a aula no seu iPad, projetando o
vídeo em aula com recursos como a Apple TV e o projetor da sala. Durante as apresentações, houve
lugar à troca de ideias sobre os conteúdos dos vídeos, mas também sobre a forma como foram
produzidos. Todos os alunos responderam ao desafio colocado, passando um dia sem recorrer a
tecnologias digitais, e todos relataram suas experiências aos colegas da turma em inglês. Tais
produtos foram avaliados quanto à oralidade para o nível A2+ considerando-se uma utilização
preparada da língua inglesa, já que os vídeos foram gravados em casa pelos alunos, que tiveram
oportunidade de corrigir seus erros. Essa possibilidade de correção espera-se poder explorar na
análise dos resultados do estudo, que ainda se encontra em curso.
REFERÊNCIAS
BURSTON, J. Twenty years of MALL project implementation: a meta-analysis of learning outcomes. ReCALL, v. 27, n. 1, 2015, p. 4-20.
CARVALHO, A. A. Aprender na era digital: jogos e mobile-learning. Santo Tirso: De Facto Editores, 2012.
CLARK, W.; LUCKIN, R. What the research says: iPads in the classroom. London: London Knowledge Lab – Institute of Education University of London, 2013.
81
COMISSÃO EUROPEIA. Digital agenda for Europe. 2012a. Disponível em: <http://ec.europa.eu/digital-agenda/>. Acesso em: 15 fev. 2015.
______. First european survey on language competences: final report. 2012b. Disponível em: <http://ec.europa.eu/languages/library/studies/executive-summary-eslc_en.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2015.
COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Communication from the Commission to the Council, the European Parliament, the European Economic and Social Committee and the Committee of the Regions: Promoting Language Learning and Linguistic Diversity: An Action Plan 2004-2006. Bruxelas, 2003. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52003DC0449&from=EN>. Acesso em: 15 fev. 2015.
CONSELHO DA EUROPA. Quadro europeu comum de referência para as línguas: aprendizagem, ensino e avaliação. Lisboa: Edições Asa, 2001.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: metodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2007.
______.; PLANO CLARK, V. L.; GUTMANN, M. L.; HANSON, W. E. Advanced mixed methods research designs. In: TASHAKKORI; TEDDLIE (Ed.). Handbook of mixed methods in social and behavioral research. Thousand Oaks, CA: Sage, 2003. p. 209-240.
FERRARI, A. DIGCOMP: a framework for developing and understanding digital competence in Europe. EC JRC IPTS, Sevilha, Espanha, 2013. Disponível em: <http://ftp.jrc.es/EURdoc/JRC83167.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2015.
______.; BRECKO, B.; PUNIE, Y. (2014). DIGCOMP: a framework for developing and understanding digital competence in Europe. Digital Literacies and eCompetence, eLearning Papers, 38, p. 3-16.
Gardner, H.Frames of mind. New York, Basic Books Inc., 1985.
GAWELEK, M. A.; SPATARO, M.; KOMARNY, P. Mobile perspectives: on iPads – why mobile? In: EDUCAUSE Review, v. 46, n. 2, 2011, p. 28-32.
GOODWIN, K. Use of tablet technology in the classroom. New South Wales, Australia: Institute of Early Childhood Macquarie University – Curriculum and Learning Innovation Centre, 2012.
HIGGINS, S.; XIAO, Z.; KATSIPATAKI, M. The impact of digital technology on learning: a summary for the education endowment foundation – full report. Durham, UK: Education Endowment Foundation – Durham University, 2012.
HUBER, S. iPads in the classroom: a development of a taxonomy for the use of tablets in schools. Tese de Doutoramento em Information Systems and Computer Media apresentado ao Institute for Graz University of Technology. Graz: Graz University of Technology, 2012.
KUKULSKA-HULME, A. Will mobile learning change language learning? In: ReCALL, v. 21, n. 2, 2009, p. 157–165.
______. Charting unknown territory: models of participation in mobile language learning. In: International Journal of Mobile Learning and Organization, v. 4, n. 2, 2010, p. 116-129.
82
PEGRUM, M.; OAKLEY, G.; FAULKNER, R. Schools going mobile: a study of the adoption of mobile handheld technologies in Western Australian independent schools. In: Australasian Journal of Educational Technology, 2013, v. 29, n. 1, p. 66-81.
TRAXLER, J. Aprendizagem móvel e recursos educativos digitais do futuro. In: Cadernos ERTE - Sacausef, n. 7, 2011, p. 36-47. Disponível em: <http://www.crie.min-edu.pt/index.php?section=402>. Acesso em: 15 fev. 2015.
UNESCO. Policy guidelines for mobile learning. 2013. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002196/219641e.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2015.
83
Subtema 2 – Projetos e designs de ensino interdisciplinares na integração curricular
84
RELATO DE
EXPERIÊNCIA
85
Utilização de um estúdio de televisão digital numa escola do ensino secundário
impacto na aprendizagem dos alunos
Ana Isabel Pires; Guilhermina Lobato Miranda
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
A pesquisa que descrevemos neste artigo está integrada num projeto mais amplo de investigação, que teve como principal objetivo analisar o papel de um Estúdio de Televisão Digital na produção e dinamização de Recursos Educativos Digitais, num Agrupamento de Escolas. Para este artigo escolhemos a produção de vodcasts, feita por professores e alunos, e analisamos o seu impacto na aprendizagem dos estudantes; recolhemos também as suas opiniões sobre a utilização destes recursos em sala de aula. Após a utilização dos vodcasts, aplicámos questionários aos alunos e analisámos os resultados de fichas de avaliação formativa, para saber se estas práticas trouxeram mudança e melhoria nos resultados escolares. Como principais resultados salientamos que os alunos demonstraram mais interesse pelas aulas em que os vodcasts foram utilizados. Os resultados obtidos nas fichas formativas foram, em termos estatísticos, significativamente diferentes, havendo uma melhoria nas suas avaliações. Estes alunos declararam preferir vodcasts de curta duração, em que o texto e a imagem se complementam, o que vai ao encontro de alguns dos Princípios da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimédia. Palavras–Chave: Aprendizagem multimédia, estúdio televisão digital, recursos educativos digitais, vodcasts.
Abstract
The research described in this article is integrated into a broader research project that aimed to analyses the role of a Digital Television Studio in the production and promotion of Digital Educational Resources in a Secondary School. For this article we choose the production of vodcasts made by teachers and students and we analyse their impact on student learning; we also collect their opinions on the use of these classroom resources. After the use of the vodcasts, we applied questionnaires to students and analysed the results of formative assessment tests, to see if these practices have brought change in educational practices and improve academic achievement. The main results point out that the students showed more interest in classes where vodcasts were used. The results obtained in the formative assessment tests were statistically significant, with an improvement in their learning. These students expressed a preference for short vodcasts, where text and image complement each other, which meets some of the principles of Cognitive Theory of Multimedia Learning. Keywords: Digital television studio, digital educational resources, multimedia learning, vodcasts.
86
INTRODUÇÃO
O multimédia na educação pode facilitar a concretização de diversos objetivos pedagógicos,
uma vez que estas ferramentas podem ser mais atrativas e motivadoras para os estudantes. Quando
bem usadas, ajudam os alunos a ser mais responsáveis pela aprendizagem e ampliam as suas
capacidades de análise, reflexão, organização e seleção da informação, disponível em diversas
fontes.
De acordo com Mayer (2001), durante os últimos 10 anos, a aprendizagem multimédia
surgiu como uma disciplina coerente com uma base de pesquisa acumulada que nunca foi
sintetizada e organizada. “A aprendizagem em ambiente multimédia inclui apresentações para as
diversas disciplinas, aulas interativas, jogos e realidade virtual” (Mayer, 2001, p.32), e pode ser
feita a partir de textos, mapas, sons ou vídeos e apresentada ao utilizador através de um computador
ou de um meio eletrónico (Mayer, 2005; Vaughan, 2008).
A integração deste tipo de recursos educativos digitais nos métodos de ensino e
aprendizagem constitui um passo significativo para a mudança neste domínio (Ramos, Teodoro e
Ferreira, 2011) e permite criar novos cenários educativos.
Quando estes recursos são produzidos pelos alunos sob a supervisão do professor, podem
fortalecer a relação professor-aluno, estimular a motivação para aprender e mudar as atitudes dos
alunos face à aprendizagem escolar, nomeadamente, a autonomia, a colaboração e a partilha
(Monteiro & Miranda, 2014).
O VÍDEO COMO PRINCIPAL ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM
A utilização do vídeo na sala de aula pode promover as i) aprendizagens cognitivas,
desenvolvendo conhecimentos e competências e, ii) aprendizagens afetivas, despertando o interesse,
a motivação e as atitudes dos alunos para o saber e a tecnologia (Frydenberg, 2006; Monteiro &
Miranda, 2014; Pintrich, 2004). O professor pode organizar as suas aulas de modo a que sejam os
seus alunos a produzir vídeos.
A utilização do vídeo como ferramenta didática na educação é uma oportunidade quer para
os alunos quer para os professores interagirem e adquirirem conhecimentos. Pode ser editado e
alterado, cortado, reagrupado, legendado ou dobrado noutra língua. Este recurso serve de veículo de
informação para ilustrar experiências e conceitos, para motivar os alunos, uma vez que possibilita o
desenvolvimento do trabalho educativo, impossível de realizar apenas com a escrita, ou a imagem
estática.
Existem formas diferentes de aprendizagem e diversas maneiras de aplicar o vídeo em
contexto educativo.
87
1.1 Aprendizagem multimédia e métodos educacionais
Os métodos educacionais eficazes têm em consideração sete processos que Clarks e Lyons
descreveram: (i) Atenção aos aspetos importantes da instrução; (ii) Ativação dos conhecimentos
prévios relevantes na memória de longo prazo; (iii) Gestão da carga cognitiva; (iv) Integração dos
novos conteúdos em si mesmos e com os conhecimentos prévios ativados, dando origem à
codificação de novas competências da memória de longo prazo; (v) Recuperação posterior de novos
conhecimentos e competências, quando forem necessários; (vi) Monitorização e gestão desses
processos através da metacognição; (vi) Motivação para iniciar e persistir num episódio de
aprendizagem (2011).
Contudo, se forem ignorados ou interrompidos mais do que um dos processos anteriormente
mencionados, a utilização destes métodos pode traduzir-se num resultado negativo.
Segundo Mayer (2001) existem vários princípios metodológicos na aprendizagem
multimédia que demonstram que a associação de palavras a imagens melhora a aprendizagem por
parte dos alunos. As palavras são importantes na educação, mas os modos verbais de instrução
parecem basear-se numa perceção errada do modo com os alunos aprendem.
Por exemplo, o princípio da modalidade, propõe que uma imagem ou um gráfico sejam
apresentados ao aluno juntamente com um texto narrado, uma vez que este poderá aprender com
maior facilidade através de uma narração em áudio dos elementos visuais apresentados em imagens
fixas ou em movimento (Mayer, 2001, Chandler & Sweller, 1991). Este princípio aplica-se a
situações de aprendizagem em que existe um excesso de carga cognitiva devido à utilização do
mesmo canal. Por exemplo, uma imagem acompanhada de texto escrito e narrado em simultâneo
para explicar um determinado conceito, o que sobrecarrega o canal visual (Sweller, van
Merrienboer e Paas, 1998).
METODOLOGIA
2.1 Contexto da investigação
A escola onde se realizou a investigação pertence a um agrupamento do Alentejo Central -
Portugal. É uma escola do ensino secundário com cerca de 63 professores, e contém, no ensino
básico, seis turmas do ensino regular e duas turmas de cursos vocacionais de Tecnologias
Interativas. Ao nível do ensino secundário possui nove turmas com um total de 611 alunos. A escola
mostrou ter uma grande atividade do ponto de vista extracurricular, visível através de um vasto
conjunto de projetos nas diferentes áreas de ensino, entre elas um Clube de Televisão Digital.
2.1.1 Opções metodológicas
A pesquisa que desenvolvemos foca-se num processo relativo a uma intervenção, tendo por
base a Design Based Reseach (DBR). Nela foi desenvolvido um processo formativo com o objetivo
88
de que fossem os professores, em conjunto com alguns alunos, a criar vodcasts; depois estes
recursos foram apresentados em sala de aula, de forma a perceber o seu impacto na aprendizagem
dos estudantes.
Escolhemos os três vodcasts produzidos pelos professores e alunos da escola durante a ação
de formação, “Conceção e desenvolvimento de vídeos educativos digitais”, com melhor avaliação
global, que foram: “A Luz: Brincar com as cores como Newton”, “A Multiculturalidade” e “Los
Tiempos de Pasado – Pretérito Indefinido”, para serem estudados.
2.1.2 Procedimento e participantes
Num primeiro momento, prévio à utilização de cada vodcast, os alunos realizaram, na sala
de aula, uma ficha formativa, sobre os conteúdos lecionados nessa aula, e que seriam apresentados
nos diferentes vodcasts. Na aula seguinte à realização desta ficha, os professores utilizaram os
vodcasts, procedendo à realização de uma nova ficha formativa (diferente, mas incidindo sobre os
mesmos conteúdos). Depois de os alunos assistirem aos vodcasts, foi aplicado um questionário.
Responderam 64 alunos. A maioria tinha mais de 16 anos. Vinte por cento eram do 9.º ano
(Espanhol), 50% do ensino secundário (Filosofia/Curso de Ciências e Tecnologias) e 30% do ensino
profissional (Física/Curso Profissional de Técnico de Audiovisuais). Todos os alunos responderam
ao questionário, mas apenas realizaram as fichas formativas 89%. As aulas tiveram uma duração de
90 minutos, sendo que 15 minutos foram dedicados à visualização do vídeo, 50 minutos à
realização da ficha de avaliação formativa e os restantes 25 minutos ao preenchimento do
questionário.
Os professores avaliaram as fichas realizadas e só foram considerados os resultados dos
alunos que responderam a ambas as fichas, o que fez com que a amostra ficasse apenas com 89,1%,
em relação ao total de alunos de todas as turmas.
O questionário aos alunos (QA) teve como objetivo principal recolher informação que
permitisse compreender a relação entre o processo formativo e as práticas dos professores no que se
refere à utilização dos vodcasts produzidos e a opinião dos alunos face à utilização de vodcasts em
sala de aula. O QA integra três secções: (i) A primeira de «Caracterização dos Alunos» é composta
por 4 questões; (ii) A segunda sobre «O Vídeo como Recurso Educativo» é composta por 12 itens
(escala tipo Likert, com quatro pontos: 1 - Discordo totalmente; 2 – Discordo; 3 – Concordo; 4 –
Concordo Totalmente); (iii) A terceira sobre «O Vídeo Educativo Digital como Recurso para
Aprender», com 10 itens (escala tipo Likert igual à da secção 2) e um item de escolha múltipla
(item 3.1), onde os alunos podiam selecionar até três das seis opções presentes. O QA integra ainda
duas questões abertas sobre o vídeo e a sua importância para a aprendizagem.
2.1.3 Características psicométricas do questionário
89
Embora com uma amostra reduzida (n=64) determinámos a estrutura fatorial do
questionário, através da AFE (Análise Fatorial Exploratória), a sensibilidade dos itens (assimetria e
curtose) e a sua consistência interna (Alfa de Cronbach).
Os itens mostraram todos uma boa sensibilidade, com valores de assimetria inferiores a 3
(Sk< 3) e de curtose a 7 (Ku<7).
A AFE realizada mostrou que o questionário é multidimensional, pois após várias análises (a
partir das quais eliminámos 4 itens: 2.6, 2.12, 3.3 e 3.10), emergiram 4 fatores. Antes garantimos os
pressupostos da AFE que se mostraram preenchidos (KMO > ,749 e teste de esfericidade de Bartlett
p=,000).
Os 4 fatores podem ser caracterizados do seguinte modo: Fator 1 – inclui os itens 2.1 a 2.5 e
ainda o item 2.8, num total de 6 itens e que designámos de “Aprender com e através do vídeo
educativo”, que confirma a primeira análise feita, logo é o fator mais consistente; Fator 2 – incluiu
os itens 3.2, 2.7 e ainda os itens 2.9 a 2.11, num total 5 itens e que chamámos de
“Divulgar/disponibilizar os vídeos educativos para poder aprender melhor”; o Fator 3 – incluiu os
itens 3.4 a 3.7 e o item 3.11, num total de 5 itens que designámos de “Tipo de vídeos com que
aprendo melhor”; finalmente o Fator 4 – inclui os itens 3.8 e 3.9, num total de 2 itens e que se
prende com um tipo de vídeos associados a Desenhos Animados, que incluem figuras e personagens
animadas e que, em todas as análises realizadas, se apresentou sempre como um fator isolado e
consistente.
Os testes de consistência interna foram feitos tendo em conta esta estrutura fatorial.
Obtivemos bons indices de consistência interan para todos os fatores (Fator1 com um alfa de ,890;
Fator2 com um alfa de ,809; Fator3 com um alfa de ,802; e Fator4 com um alfa de ,877)
RESULTADOS
As três turmas tinham diferente número de alunos, razão pela qual as fichas formativas
foram preenchidas por 18 alunos de Física, 27 alunos de Filosofia, e 12 alunos responderam às
fichas de Espanhol. Pudemos constatar que em todas as disciplinas houve um aumento da
pontuação média obtida. A média de Física foi a que mais subiu, para 3,42 pontos, o que equivaleu
a um aumento de 17,1%; já a média de Filosofia apenas subiu 0,7 pontos (3,5%). Na turma de
9.ºano, onde a pontuação varia numa escala entre 0 a 100%, o aumento foi de 11,7 pontos (11,7%).
Na ficha formativa realizada após a visualização do vodcast nenhum aluno teve nota negativa a
Filosofia e a Espanhol.
Na disciplina de Filosofia, dos 27 alunos, 15 subiram o seu resultado, oito mantiveram a
mesma pontuação e quatro tiveram pontuação inferior. A classificação máxima manteve-se nos 19
valores, mas a nota mínima subiu dos 11 para os 13 pontos.
90
Na disciplina de Espanhol, uma disciplina de 9º ano, três alunos mantiveram a mesma nota,
e os restantes nove alunos melhoraram a sua pontuação.
A análise das classificações obtidas e da estatística descritiva apontam para uma melhoria dos resultados. No entanto, os resultados da turma de Física foram bastante díspares, com quatro alunos a baixarem a sua classificação e alunos com notas muito baixas a duplicarem a pontuação obtida. Já nas outras duas turmas os resultados foram mais consistentes, com variações mais suaves. Para podermos afirmar com segurança que a utilização dos vodcasts levou a uma melhoria geral das classificações, aplicámos um teste estatístico que nos permitisse verificar se existiam diferenças estatisticamente significativas entre as notas das fichas pré-vodcast e as notas das fichas pós-vodcast. No nosso caso nem todas as variáveis obedeciam a parâmetros de normalidade, pelo que optámos pelo teste de Wilcoxon (Quadro 1). Selecionamos como nível de significância α = 0,05, e corremos os dados em SPSS.
Quadro 1. Estatísticas do teste de Wilcoxon
Test Statisticsa fisica_depois -
fisica_antes filosofia_depois - filosofia_antes
espanhol_depois - espanhol_antes
Z -2,901b -2,466b -2,724b Asymp. Sig. (2-tailed) ,004 ,014 ,006 a. Wilcoxon Signed Ranks Test b. Based on negative ranks.
A leitura do Quadro 1 indica que podemos rejeitar a hipótese nula nas disciplinas de Física e
Espanhol, pois existem diferenças entre as médias das duas observações, ou seja detetaram-se
diferenças estatisticamente significativas entre as notas pré-vodcast e as notas pós-vodcast (p-value
<,005). O mesmo não se passou com a disciplina de Filosofia, em que tivemos que aceitar a
hipótese nula.
Apresentamos a seguir os resultados mais expressivos do questionário aplicado aos alunos
(QA),
O item que obteve melhor pontuação média (3,47) foi o 2.6. «Gostei da aula em que o
professor usou o vídeo». Os restantes 3 itens pontuados acima de 3 pontos dizem respeito à
divulgação do vodcast em outro espaço que não a sala de aula. Os alunos manifestaram-se bastante
a favor da divulgação dos vodcasts.
Na secção III, «O vídeo Educativo Digital como recurso para aprender», no primeiro item
desta secção (Item 3.1 «Num vídeo educativo digital o mais importante são:») diferiu dos restantes
itens, uma vez que se tratou de uma questão de resposta múltipla, onde os alunos podiam selecionar
três das seis opções disponíveis: i) Atores, ii) Efeitos especiais, iii) Imagem e recriação do
ambiente, iv) Os Conteúdos a serem aprendidos, v) A forma de apresentar os conteúdos, e vi) A
duração. Atribuímos pontuação 1 sempre que a opção era selecionada, e pontuação 2 quando a
opção não era selecionada. Assim, obtivemos um valor médio, que variou entre 1 e 2, em que
valores mais próximos de 1 significam que essa opção foi mais vezes escolhida, e valores mais
91
próximos de 2 significam que a opção foi menos escolhida. As respostas foram bastante
semelhantes em todas as turmas, sendo a opção v) «A forma de apresentar os conteúdos» (1,14) a
mais importante para todas as turmas, seguida da opção iv) «Os Conteúdos a serem aprendidos»
(1,22), e da opção iii) «Imagem e recriação do ambiente» (1,44). Todas estas opções foram
selecionadas por mais de 50% dos alunos.
Na secção III «O Vídeo como Recurso Educativo» existiam 3 grupos de itens, relativos à
duração dos vodcast (itens 3.3, 3.4, e 3.5), tipologia do vodcast (itens 3.2, 3.6, 3.7, 3.8, e 3.9), e
autoria do vodcast (item 3.10 e 3.11). Relativamente à duração, pudemos constatar que o item 3.5.
«Prefiro assistir a vídeos educativos digitais de duração longa (mais de 15 minutos)» foi o que
obteve pior valor de média (2,16), não só dentro do grupo, como dentro de toda a secção, o que
parece indicar que dos 64 alunos grande parte não gosta de vídeos de longa duração, preferindo os
de curta duração, até 5 minutos. Em relação à tipologia destacamos, com uma média de 3,48, o item
3.2. «Prefiro assistir a vídeos educativos digitais onde as imagens e as palavras se completam»
(item melhor pontuado de toda a secção). Observa-se ainda que os alunos acham mais importantes
para a sua aprendizagem os documentários (Item 3.6, M=2,97) do que os vídeos com animação,
item 3.8 (M=2,41).
Em relação à autoria, grande parte dos alunos considerou que os vodcasts elaborados por
alunos e professores são os que mais contribuíram para a sua aprendizagem (Item 3.10, M=3,02).
CONCLUSÕES
Podemos concluir pelos resultados obtidos que os vodcasts são bem aceites pelos estudantes,
que os consideram interessantes e importantes. Apesar de reconhecerem o caráter inovador e
dinâmico do seu uso na aprendizagem em sala de aula, e da sua divulgação digital, um terço dos
alunos não os consegue percecionar enquanto ferramentas de estudo, talvez pelo facto de estarem
habituados a um sistema de memorização centrado na leitura de texto. Os resultados obtidos nas
fichas formativas foram melhores após a visualização dos vodcasts, o que parece indicar que o seu
uso teve efeitos na melhoria da aprendizagem.
A utilização do ETD é bastante potenciadora da produção de vodcasts, e o uso de
ferramentas tecnológicas educativas melhora o rendimento dos alunos.
92
REFERÊNCIAS Chandler, P., & Sweller, J. (1991). Cognitive theory and the format of instruction. Congnition and Instrution, 8, 293-332. Clark, R., & Lyons, C. (2011). Graphics for learning: proven guidelines for planning, designing, and evaluating visuals in training materials . San Francisco: Pfeiffer . Frydenberg, M. (2006). Principles and pedagogy: The two P’s of Podcasting in the Information
Technology classroom. ISECON-EDSIG, 23, 1-10. Retirado de http://proc.isecon.org/2006/3354/ISECON.2006.Frydenberg.pdf Mayer, R. E. (2001). Multimedia learning. Cambridge New York: Cambridge University Press. Mayer, R. E. (Ed.) (2005). The Cambridge handbook of multimedia learning. New York: Cambridge University Press Monteiro, M. E., & Miranda, G. L. (2014). Produção de Vodcasts por alunos do 12.º ano de Geologia: Uma experiência em análise. In A. Rocha, D. Fonseca, E. Redondo, L. P. Reis, & M. C. Cota (Eds). Actas de la 9.ª Conferencia Ibérica de Sistemas y Tecnologías da Informacion, Vol. 1 (pp. 737-742). Braga: APPACDM. Pintrich, P. R. (2004). A conceptual framework for assessing motivation and self-regulated learning in college students. Educational Psychology, 16(4), 385-40. Ramos, J. L., Teodoro, J. P. S., e Ferreira, F. M. (2011). Recursos Educativos Digitais: Reflexões sobre a prática. Cadernos SACAUCEF, 2, 11-34. DGIDC/Ministério da Educação e Ciência. Sweller, J., van Merriënboer, J. J. G., & Paas, F. (1998). Cognitive architecture and instructional design. Educational Psychology Review, 10, 251-296. Vaughan, T. (2008). Multimedia making it work. Osborne: McGraw-Hill.
93
Com a mão na massa
Járede Sousa Barros de Oliveira
Centro Educacional Aprender Pensando
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O projeto Com a Mão na Massa foi desenvolvido na cidade de Balsas/MA, na escola Centro Educacional Aprender Pensando, com os alunos do 5º ano do Ensino Fundamental I. O projeto desenvolvido consistiu na elaboração e execução de um plano de negócios, contemplando a venda de bolos; os alunos passaram pelas seguintes etapas: organização de ideias, escolha de investidores, marketing e venda para os demais colegas, pais e comunidade. A turma foi dividida em quatro grupos e cada um montou a sua loja de bolo. No dia determinado, o projeto movimentou a escola e o lucro obtido com a venda foi revertido na compra de materiais de higiene e limpeza, que foram doados para um abrigo de idosos, o Lar São Vicente de Paula, quando representantes de cada grupo fizeram a entrega dos mesmos. Além dos alunos terem praticado o que aprenderam nas aulas de Empreendedorismo, também tiveram a oportunidade de contribuir com uma causa social. Palavras-chave: empreendedorismo; educação financeira; bolo; plano de negócios; vendas.
Abstract
The Project With Hands On was developed in the city of Balsas/MA in Educational Learning Center Thinking school, with students of the 5th year of elementary school I. The project was developed in the design and implementation of a Business Plan, covering the bake sale; students began the following steps: organizing ideas, choice of investors, marketing and sales to other colleagues, parents and community. The class was divided into four groups and each set up his cake shop in the given day, the project moved the school and the profit from the sale was reversed in buying hygiene and cleaning materials, which were donated for Shelter elderly, the Home St. Vincent de Paul, when representatives from each group made the delivery thereof. Besides the students have practiced what they learned in Entrepreneurship classes also had the opportunity to contribute to a social cause.
Keywords: entrepreneurship; financial education; cake; business plan; sales.
1 Introdução
Ao adotar o uso da coleção Empreendedorismo e educação financeira, da Editora Positivo,
o principal intuito do Centro Educacional Aprender Pensando foi introduzir para os alunos o
conceito de “empreendedorismo”, visando o desenvolvimento de características do comportamento
empreendedor, como iniciativa, persistência, comprometimento, estabelecimento de metas,
planejamento, entre outras citadas na referida coleção.
94
Algumas definições de empreendedorismo enfatizam a necessidade de aproveitar as
oportunidades, sobre planejamento, empenho e crédito em ideias que podem tornar-se realidade,
convergindo para o mesmo ponto: a inovação aliada à força de vontade e à grande busca de
resultados:
“[...] empreendedorismo é o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à
transformação de ideias em oportunidades”. (DORNELAS, 2011)
“[...] empreendedorismo é a habilidade de se conceber e estabelecer algo partindo de muito
pouco ou quase nada”. (BARRETO, 1998)
Partindo desses pressupostos, percebe-se a necessidade da existência de pessoas
empreendedoras, capazes de fixar metas e alcançá-las. Atribuindo, assim, à Educação
Empreendedora, um papel educacional e social para o desenvolvimento do país, sensibilizando cada
vez mais cedo nossos pequenos cidadãos para a “cultura empreendedora”, conscientizando-os de
que cada vez mais eles serão autores e protagonistas da transformação que nos cerca e nos limita.
Desafios estavam a postos, pois era necessário aproximar esses conceitos, até então distantes
e complexos, das crianças de 6 a 10 anos. A ideia inicial foi traçar um caminho norteador, por meio
das histórias baseadas em fatos reais, apresentadas nos volumes da coleção, de modo que, após
essas narrativas, os alunos pudessem trocar ideias sobre as situações apresentadas, realizar
atividades, jogos, vivências, trabalhos em grupo, etc. e, ao mesmo tempo, aprender noções de
educação financeira, bem como desenvolver atitude e comportamentos empreendedores.
Pretende-se, por meio deste artigo, pontuar a necessidade de trabalhar a Educação
Empreendedora na escola, pois esta passou a ocupar uma posição estratégica no campo econômico
brasileiro; e descrever um relato de experiência do projeto Com a Mão na Massa, desenvolvido com
a turma do 5º ano do Ensino Fundamental I, do Centro Educacional Aprender Pensando, que
proporcionou o conhecimento de diferentes formas de as pessoas buscarem a concretização dos seus
sonhos, a elaboração de um plano de negócios, a reflexão sobre o trabalho voluntário e a
valorização da responsabilidade social.
A turma conheceu a história de Ângela, uma empreendedora de sucesso que utilizou seu
talento para ganhar dinheiro e ajudar outras pessoas. A narrativa mostra todos os caminhos
percorridos pela personagem, desde sua atuação como cozinheira em um restaurante até a abertura
do seu próprio negócio: lojas de bolos.
Para obter êxito na abertura do seu empreendimento, Ângela precisou elaborar um plano de
negócios, documento que orientou todas as suas práticas, despertando nos alunos o interesse em
compreender sua forma de elaboração.
95
2 Empreendedorismo na escola
Novas posturas são exigidas das pessoas a partir das constantes mudanças socioculturais e
econômicas, refletindo diretamente no comportamento e atitude dos indivíduos. Manter-se inerte ou
passivo diante desse cenário, significa afastar-se das oportunidades de construir a si próprio e
interferir na própria realidade.
As instituições de ensino que se preocupam em acompanhar as transformações sociais
veem-se como aliadas, capazes de estimular o desenvolvimento das capacidades empreendedoras
dos seus alunos.
De acordo com Raquel Rezende, do site Empreendedor, o tema “empreendedorismo” está
muito ligado a se permitir sonhar. Mais do que saber montar um plano de negócios e ter
conhecimentos sobre uma série de áreas, o empreendedor deve estar conectado com seu sonho e
fazer tudo para concretizá-lo.
Dessa forma, a escola pode torna-se um ambiente propício para encorajar o desejo de buscar
mudanças, reagir a elas e, possivelmente, explorá-las, desde que se encarregue em oferecer
situações de novas aprendizagens, relacionadas aos conceitos e práticas empreendedoras.
Atributos e comportamentos empreendedores, estimulados na escola, por meio de diferentes
vivências, além de colaborarem para o desenvolvimento de capacidades e potencialidades dos
alunos, agregam valores para a gerência da própria vida (pessoal, profissional e social).
A ideia de empreendedorismo na escola, ou cultura de empreendedorismo escolar, é
difundida entre alguns órgãos ligados ao empreendedorismo no Brasil, entre eles, o Programa
Nacional de Educação Empreendedora do Sebrae, que tem o objetivo de ampliar, promover e
disseminar a Educação Empreendedora nas instituições de ensino, por meio da oferta de conteúdos
de empreendedorismo nos currículos, com o propósito de consolidar a cultura empreendedora na
educação.
Em um dos artigos disponibilizados no site do Sebrae, pontua-se o que a sociedade ganharia
se nossas escolas ensinassem os jovens a criarem projetos inovadores:
2.1 Formaríamos pessoas que são protagonistas e que executam
A capacidade de pensar em soluções é essencial para o desenvolvimento da sociedade, mas
nada vai acontecer se ela não estiver aliada com outra competência: executar aquilo que ainda está
apenas dentro de nossas mentes.
Aprender a empreender é, basicamente, ser forçado a tirar sua grande ideia do papel.
“O empreender é determinado por sua capacidade de mobilizar pessoas e recursos em prol
de um objetivo – ou seja, de colocar um negócio de pé. Ele forma pessoas protagonistas que trazem
96
autonomia e liderança”, afirma Paula Sato, gerente de projetos da aceleradora Artemisia. “Essa
capacitação, no final, beneficia não só os alunos, mas também a sociedade – afinal, os negócios a
impactam e a transformam diretamente”, explica.
2.2 Teríamos uma cultura de inovação que aprende com erros
O benefício de começar a empreender já na escola ou na universidade é ter um ambiente
seguro para errar, defende André Fleury, professor de Engenharia de Produção da Universidade de
São Paulo (USP) que auxilia o Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), feito por alunos. Ele
afirma que o grande desafio de criar um negócio está nas primeiras etapas: descobrir o cliente
e trabalhar seu produto ou serviço. Por isso, é preciso identificar os empreendedores, ajudá-los a
desenvolver ideias, achar consumidores, refinar o que a empresa oferece e chegar até a primeira
venda.
Marcus Quintella, coordenador do MBA em empreendedorismo da FGV, diz que é
fundamental a criança e o adolescente entenderem o que é risco e aprenderem a conviver com ele.
Assim, eles entendem que, apesar de tudo nascer de ideias, é preciso também consolidá-las em um
plano e obter a aceitação do mercado.
Fleury complementa e diz que a parte de desenvolvimento de produto ou serviço é mais
adequada ao Ensino Médio. O aluno consegue voltar e escolher novos caminhos sem muito risco,
por ser um ambiente simulado – inclusive na hora de decidir se quer mesmo empreender. Na
universidade, os alunos conseguem viabilizar esse empreendimento, inclusive financeiramente: eles
terão acesso ao ecossistema empreendedor, com investidores e concorrência, por exemplo.
2.3 As empresas ganhariam funcionários melhores
Nem todos que aprenderem sobre empreendedorismo na escola terão seu próprio negócio.
Mesmo assim, isso não quer dizer que as aulas serão jogadas no lixo: muitos conceitos podem ser
aplicados à vida de funcionário. Quintella afirma que esse empregado pode nem saber que é um
empreendedor, mas aplica os fundamentos de um negócio aprendidos de forma interna: é o
chamado “intraempreendedorismo”.
No fim, tudo é atividade empreendedora: toda escolha envolve planejar e conhecer riscos.
Fleury cita algumas das competências empreendedoras que podem ser aplicadas nas
organizações:
o pensamento estratégico;
o planejamento baseado em uma visão geral do negócio, por meio de ferramentas como o
Canvas;
97
a prototipagem de produtos e serviços da própria área em que o funcionário atua, fazendo
uma aprendizagem validada.
Tudo isso, claro, só aumenta a qualificação dos funcionários.
.
2.4 Veríamos empresas e pessoas mais comprometidas e responsáveis
Uma grande característica do empreendedorismo é trabalhar por um propósito: mesmo
diante dos riscos, há uma missão tão importante a ser cumprida que faz os empreendedores
largarem tudo pelo negócio – inclusive altos salários e carreiras estáveis.
Ricardo Yogui, coordenador da pós-graduação em Empreendedorismo, Inovação e Negócios
do IBMEC-RJ, conta que a consequência de trabalhar com grandes objetivos é criar a
responsabilidade, desde cedo, em crianças e adolescentes. Quando você se identifica com o
propósito, faz as tarefas não por obrigação, e sim, pela satisfação futura. É diferente de um sistema
escolar tradicional, que trabalha por punição e não por recompensa.
Além de criar pessoas mais comprometidas na hora de executar tarefas, o
empreendedorismo também as faz pensar como agentes transformadores da sociedade. Yogui ainda
afirma que o empreendedorismo vai criando o conceito de “empoderamento”, moldando a
consciência ambiental, econômica e social como uma coisa só – e não tendo apenas a recompensa
financeira como objetivo. Isso é essencial, inclusive, para a formação do cidadão.
A ação empreendedora pode, ainda, resolver gargalos no país – pensando especialmente nos
que mais são prejudicados pela ineficiência: os mais pobres.
Fleury diz que a sociedade está precisando de inovação e isso pode sair principalmente das
startups. Nós precisamos de melhores serviços e processos, e essas empresas podem suprir uma
parte das demandas por melhorias.
2.5 Pensaríamos mais na coletividade e menos no “cada um por si”
Outro conceito trabalhado no empreendedorismo, e que pode ser usado para toda a vida
profissional, é o senso de coletividade. Todos são responsáveis pelo bem geral da organização (ou
de um país), ainda que sejam especialistas em apenas uma área. Yogui afirma que no ambiente
escolar, e até na graduação, costumamos trabalhar em grupo e não em equipe – cada um cuida de
uma coisa e não há muito critério. Já quando você empreende, é realmente preciso pensar sobre
aproveitar as melhores habilidades de cada um, com um olhar mais crítico.
Atuar coletivamente desde cedo tem um desdobramento: ao conhecer diversas áreas, o aluno
trabalha com a interdisciplinaridade e pode adquirir diversas experiências ao longo da vida escolar.
2.6 Os empreendimentos brasileiros iriam sobreviver mais
98
A consequência de empreendedores e funcionários mais capacitados e responsáveis é óbvia:
os negócios conseguem ficar mais tempo operando, resolvendo o problema que apresentamos no
começo dessa matéria.
Quintella, da FGV, diz que ensinar o empreendedorismo melhora o nível das empresas,
porque ensina a criar negócios sustentáveis e com uma baixa taxa de mortalidade. Ele ainda afirma
que teremos empreendedores que são apaixonados, com foco em planejamento, com estudo de
mercado e com avaliação de risco. Assim, criamos uma cultura empreendedora com fundamento.
3 Plano de negócios
Conforme conceituado na coleção Empreendedorismo e educação financeira, o plano de
negócios é um documento que reúne informações sobre as características, condições e necessidades
do futuro empreendimento, com o objetivo de analisar sua potencialidade e viabilidade e facilitar
sua implantação.
O plano de negócios representa uma oportunidade única para o futuro empreendedor pensar
em todas as facetas do novo empreendimento e analisá-las. A ideia é adquirir, por meio da
elaboração, o conhecimento do tipo de negócio ou serviço que será ofertado, traçar os objetivos que
se pretende alcançar, estudar os clientes atuais e potenciais, o mercado, os preços, a concorrência,
os recursos financeiros disponíveis, as operações e o ambiente externo, para permitir melhor
administração das operações e o estabelecimento de estratégias que possibilitem alcançar melhores
resultados.
A elaboração do plano de negócios, antes do início de um novo empreendimento, traz os
seguintes benefícios:
1. reúne, de forma organizada, todas as ideias e permite a visão do conjunto, uma vez que
aborda todas as facetas do novo negócio, o que evita a parcialidade, que pode induzir a
erros;
2. impõe a avaliação do potencial de lucro e de crescimento do novo negócio e das suas
necessidades operacionais e financeiras;
3. estuda as consequências de diferentes estratégias competitivas de marketing, vendas,
produção e finanças;
4. constitui documento básico e indispensável para atrair sócios e investidores para o novo
negócio;
5. serve como instrumento administrativo para acompanhamento, avaliação e controle das
fases dos projetos da empresa.
As informações descritas acima, presentes nas orientações para o professor do livro
Empreendedorismo e educação financeira, do 5º ano, revelam a complexidade do conteúdo a ser
99
trabalhado com os alunos, que, neste momento, alvoroçaram-se diante das possibilidades de
elaboração e execução de um plano de negócios. Por isso, as etapas seguintes foram trabalhadas
minuciosamente, em vários encontros (aulas) para que o aprendizado se tornasse efetivo.
3.1 Contextualização
Para facilitar o entendimento dos alunos, foi imprescindível ter um período de leitura e
discussão da narrativa, protagonizada pela personagem Ângela, assim como a troca de ideias,
levantamento de palavras desconhecidas, realização de atividades individuais e em grupo,
confecção de cartazes, síntese dos principais conceitos e realização de dinâmicas.
3.2 Organização
A turma foi divida em quatro grupos, que compuseram as quatro lojas de bolos, inspiradas
no empreendimento da personagem da história, organizadas para estudo e elaboração de estratégias,
que logo transformar-se-iam num plano de negócios.
3.3 Elaboração
Após a familiarização dos alunos com os conceitos básicos sobre plano de negócios,
adquiridos durante as atividades anteriores, os grupos de empreendedores elaboraram seus
respectivos documentos, contendo as seguintes informações:
1. nome e slogan da loja;
2. dados da pesquisa aplicada entre os alunos, professores e colaboradores da escola, sobre
a preferência dos sabores de bolos;
3. definição das estratégias de markerting, como cartazes, cartões de visitas e mídias
sociais;
4. escolha dos investidores (os pais e/ou responsáveis);
5. levantamento de custos e dos materiais que seriam utilizados para a confecção dos bolos
e a organização da loja;
6. divisão das responsabilidades e funções dos integrantes do grupo.
3.4 Execução
Depois do período de divulgação do projeto, os empreendimentos tomaram forma, os grupos
de empreendedores organizaram suas respectivas lojas; na área da cantina da escola, cada uma
revelava suas particularidades, desde a ornamentação, indumentárias até os aromas e sabores, todos
os detalhes criteriosamente preparados para atrair os consumidores.
100
Iniciaram-se as vendas e o espaço começou a ser tomado por clientes, que surgiam
entusiasmados para deliciarem-se com uma diversidade de bolos, que enchiam os olhos. O
movimento foi intenso, durou em torno de uma hora, eram alunos, professores, famílias e outras
pessoas que foram atraídas pelo marketing.
4 Lidando com dinheiro
Pode-se entender por educação financeira a capacidade de uma pessoa lidar com o dinheiro
e os assuntos correlatos, ou seja, a forma como um indivíduo administra suas finanças, visando não
somente ao presente, mas ao futuro imediato ou em longo prazo.
Esse conceito não está diretamente relacionado à “habilidade de ganhar dinheiro” ou à
“capacidade de evitar gastos”. Ambas as ideias fazem parte do conceito de educação financeira, mas
elas não agregam muito. Pelo contrário, podem até ter efeito negativo se usadas de forma isolada,
pois pode não ser muito vantajoso saber ganhar dinheiro e não saber gastá-lo, e muito menos gastar
demais e não saber como poupá-lo.
4.1 Resultados
Finalizadas as vendas, apurou-se o lucro das lojas, premiando a que obteve rendimentos
mais significativos. Todos os empreendedores receberam certificados de elaboração e execução de
um plano de negócios.
O total do lucro obtido com a venda dos bolos foi revertido em compras de materiais de
higiene e limpeza para o Lar São Vicente de Paula (abrigo para idosos) da cidade, ressaltando que
foi uma decisão coletiva, pois também haviam aprendido com Ângela, personagem da história base,
sobre a importância dos projetos sociais e do trabalho voluntário.
No dia determinado, os representantes de cada loja fizeram a entrega dos materiais, gerando
gratidão, despertando emoções e agregando o valor da responsabilidade social, que são iniciativas
características de bons empreendedores.
As etapas do projeto Com a Mão na Massa foram acompanhadas pela comunidade educativa
e sociedade local, por meio da veiculação nas mídias sociais e nos jornais televisivos. O empenho e
a dedicação dos alunos foram fatores determinantes para o sucesso dos empreendimentos, assim
como a parceria da família, que foi a principal investidora financeira dos negócios.
O desenvolvimento do projeto aproximou a turma do 5º ano, crianças de 10 anos, de
conceitos e ações relacionadas ao Empreendedorismo, pois ao elaborarem um plano de negócios,
descobriram a necessidade de planejamento e monitoramento sistemáticos. Outro ganho
significativo foi a oportunidade que tiveram em colaborar e interferir na realidade de outras pessoas.
101
Acreditamos que esse foi um passo decisivo para nossa instituição, pois foi possível
acompanhar a motivação dos alunos para a continuidade de projetos e atividades relacionadas ao
contexto empreendedor.
Autonomia, competências múltiplas, trabalho em equipe, capacidade de aprender, adaptar-se
a situações novas e desafiadoras, enfrentar desafios e promover transformações são potencialidades
empreendedoras possíveis de serem estimuladas no ambiente escolar. Aluno, escola e sociedade se
beneficiam dessa cultura que chegou para concretizar sonhos por meio do fazer, pensar e aprender.
REFERÊNCIAS
BARRETO, L. P. Educação para o empreendedorismo. Salvador: Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica de Salvador, 1998
MORAES, J. et al. Coleção. Empreendedorismo e educação financeira. Curitiba: Editora Positivo, 2015. DOLABELA, F. Oficina do empreendedor. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. ______. Pedagogia empreendedora. São Paulo: Editora da Cultura, 2003. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. EMPREENDEDOR. Disponível em: <http://empreendedor.com.br/noticia/cultura-empreendedora-deve-comecar-nas-salas-de-aula/>. Acesso em: 15 nov. 2016. SEBRAE. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos,12b9e92a95776510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 15 nov. 2016.
102
Tecnologias nas bibliotecas escolares
Carmen Jorge Martins Valadas
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Este artigo pretende ser um contributo para a reflexão sobre a utilização das tecnologias digitais nas Bibliotecas Escolares e do uso destas pelos Professores Bibliotecários.
O acesso à informação é hoje muito facilitado pelas Tecnologias da Informação e Comunicação e pelas ferramentas da Web 2.0. Atualmente, o papel da escola é, de forma igualitária, facilitar o acesso às tecnologias e à informação e, por meio dela, possibilitar a construção de conhecimento pelos alunos. A Biblioteca Escolar apresenta-se como o local, por excelência, onde os alunos podem obter informação e adquirir competências fundamentais para a conseguirem manipular e aprender com ela. Para que isso aconteça terá de existir a intervenção do Professor Bibliotecário, como promotor desse processo. O estudo aqui apresentado pretende dar a conhecer contextos e tipos de utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação e das ferramentas da Web 2.0 na dinamização das Bibliotecas Escolares, pelos Professores Bibliotecários que nelas trabalham.
Na fundamentação teórica traçamos um breve enquadramento sobre a Sociedade da Informação e a alteração do paradigma da Educação. Abordamos a integração das tecnologias na Escola, o papel das Bibliotecas Escolares e dos Professores Bibliotecários na exploração das Tecnologias da Informação e da Comunicação e das ferramentas da Web 2.0 e como o seu uso potencia situações de aprendizagem significativa. Esta investigação de caráter qualitativo, que se enquadra num estudo de caso, envolveu sete participantes que pertencem a um grupo concelhio de Professores Bibliotecários integrados no Programa da Rede de Bibliotecas Escolares, com experiência na utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação na sua prática diária. Para a obtenção de dados recorreu-se à análise documental e a um roteiro de entrevista, recolhendo, assim, informação na perspectiva e experiência dos envolvidos. Este estudo permitiu-nos concluir que as Tecnologias da Informação e da Comunicação e as ferramentas da Web 2.0 são, fundamentalmente, utilizadas para tarefas de gestão e de divulgação das atividades realizadas na Biblioteca Escolar e que essa utilização está muito centrada no Professor Bibliotecário, dependendo muito da sua iniciativa e motivação. Concluímos ainda que estamos distantes de uma Biblioteca Escolar com verdadeiros serviços interativos.
Palavras-chave: Tecnologias da Informação e da Comunicação, Biblioteca Escolar, Professor
Bibliotecário, Web 2.0, Ferramentas da Web 2.0.
Abstract
This text intends to contribute to a reflection on the use digital technologies in school libraries and its use by the librarian teacher in that particular context. It is clear that access to information, through Information and Communication Technologies and Web 2.0 tools, is very easy today. Nowadays, the role of schools is to facilitate access to technologies and information equally, and through it, enable students to build its own knowledge. The school library is the venue where students can obtain information and fundamental skills to work and learn with it. For this to happen, a librarian teacher as promoter of success is necessary and fundamental. The research presented here aims at divulging contexts and ways of using Information and
103
Communication Technologies and Web 2.0 tools in invigorating school libraries, with intervention from the librarian teachers that work there.
In the theoretical framework, we outline the education paradigm change in view of the knowledge-based society. We discuss technology integration in school, and the role of school libraries and its librarian teachers in exploring Information and Communication Technologies and Web 2.0 tools, and how its use enhances significant learning situations. This research is a qualitative study which falls in a case study involving seven participants, part of a librarian teachers’ municipality group, integrated into the School
Libraries Network Program, with some experience in the use of Information and Communication Technologies. To collect the necessary data, we made a document analysis, along with an interview guide, to obtain information based in the participant point of view and experience. This study allowed us to conclude that Information and Communication Technologies and Web 2.0 tools are mainly used for management tasks and to promote school library activities and that this use is focused in the librarian teacher, mainly depending on their action and motivation. We also concluded that we are far away from a school library with true interactive services.
Keywords: Information and Communication Technologies – ICT, school libraries, librarian teacher,
Web 2.0, Web 2.0 tools.
104
1 INTRODUÇÃO
Com a generalizada difusão das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) em
contexto institucional, profissional e recreativo, a Escola iniciou um processo de perspectivar a
apropriação destas tecnologias em termos educativos.
Dentro da instituição escolar, a Biblioteca Escolar (BE) assume a esse nível um papel de
particular importância, nomeadamente se o objetivo for o de ajudar no desenvolvimento de leitores
e utilizadores autônomos na gestão e construção do seu próprio conhecimento. A realidade das
bibliotecas alterou-se e os utilizadores (alunos e professores) têm necessidades diferentes que
importa considerar à luz do potencial trazido pelas TIC e pela internet em particular. Nesta linha,
pode afirmar-se que se trata de um espaço que assume um papel de referência nas escolas, como
centro facilitador e mediador da diversidade de saberes, potenciando a capacidade de enfrentar os
desafios da era da informação e da comunicação. Trata-se de um contexto em que a função do
Professor Bibliotecário (PB) assume uma posição de dobradiça tendo em vista conseguir obter uma
ligação entre os currículos formais e todas as outras aprendizagens necessárias para formar cidadãos
conhecedores dos seus direitos e deveres, cidadãos críticos e intervenientes na sociedade a que
pertencem.
2 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A crescente construção e difusão do conhecimento advém das profundas alterações
científicas e tecnológicas que aconteceram no último século. A adoção das tecnologias e das
ferramentas associadas à internet, nas mais diversas situações diárias, conduziu à denominada
sociedade da informação. De acordo com Costa:
O incremento exponencial de informação disponível, mas principalmente a facilidade de acesso a essa informação que as tecnologias digitais em rede vieram permitir, transportam-nos para um mundo radicalmente diferente daquele que conhecíamos até há bem pouco tempo. (2011, p. 123). A aquisição de conhecimento processa-se hoje de forma distinta, sem necessidade da
existência de um espaço físico e temporal simultâneo com um professor para que a aprendizagem e
a construção de novos saberes se concretize.
A escola de hoje intervém numa realidade distinta da época em que foi concebida. O
paradigma educacional instrutivo criado pela sociedade industrial está desfasado perante as
modificações tecnológicas e sociais das últimas décadas. Segundo Gijón, “El crecimiento de las
TIC en los últimos años ha provocado una ruptura con ese paradigma educativo, haciendo
105
prácticamente imprescindible una formación continua en cada vez más profesiones.” (2006, p. 69).
Para Calixto, as evoluções tecnológicas “contribuíram decisivamente para a obsolescência de uma
pedagogia centrada no professor” (1966, p. 86). A aprendizagem realiza-se por meio de
experiências, sem espaço ou tempo previamente estabelecido e por meio de “situações estimulantes
e enriquecedoras” (idem, 1996, p. 86), com um maior ou menor acompanhamento pelos
professores. Na opinião de Meirinhos, uma “educação que prepare as pessoas para a sociedade da
informação tem de ser constituída em torno da aprendizagem, e não do ato de ensinar. A educação
deve ser centrada no agente que aprende.” (2000, p. 7), pressupondo um processo de evolução
também ao nível dos modelos e métodos de ensino.
2.1 O papel das Bibliotecas Escolares
Na última década, as Bibliotecas Escolares foram dotadas de equipamentos que permitem,
em um espaço mais informal, desempenhar um papel importante para um acesso universal. Segundo
Terra e Sá (2007, p. 83), são espaços que permitem a “inserção de todos os cidadãos na Sociedade
da Informação, contribuindo para resolver os problemas decorrentes da infoexclusão”. Dispondo de
recursos variados e sem os constrangimentos dos tempos curriculares, são espaços que
proporcionam uma aprendizagem de natureza construtivista, ou seja, numa “aprendizagem
individual e autônoma fora da sala de aula.” (DAS, 2008, p. 2), uma aprendizagem ativa e
significativa, por parte do aluno.
Perante a diversidade de recursos e de fontes de informação, a BE terá como base a função
de orientação, associada ao desenvolvimento das habilidades de aprendizagem ou “letramentos”
necessários a uma utilização competente dos recursos e da informação por eles facultada. De acordo
com o Quadro Estratégico 2014-2020 (RBE, 2013) “o sistema educativo necessita […] de
bibliotecas sólidas, capazes de ensinar e apoiar os alunos na obtenção de bons resultados escolares e
no domínio dos letramentos indispensáveis para o futuro” (p. 7). Para Terra e Sá (2007, p. 83),
“uma pessoa competente em termos de informação é aquela que aprendeu a aprender, sabe
encontrar a informação, sabe utilizá-la e sabe como organizá-la”. Esta é uma perspectiva que
concebe a tecnologia sobretudo como agente facilitador e mediador dessa aprendizagem. No
entender de Pinheiro (2009), a Web 2.0 e as TIC proporcionam “às bibliotecas um poderoso meio de
promoção da literacia da informação e de alargamento da sua base de competências e funções”.
Conde (2005) verificou que as Bibliotecas Escolares servem como instrumento formal na estratégia
de integração das TIC com o currículo, principalmente como suporte e meio de informação ou
como ferramenta de trabalho, apoiando cotidianamente equipe e utilizadores na resposta às
necessidades do dia a dia e como mediadora da informação face aos seus utilizadores.
106
Constituindo a Web 2.0 uma plataforma com diversas ferramentas (de produção,
comunicação e partilha), muitas delas acessíveis gratuitamente, os seus utilizadores têm a
oportunidade não só de acessar com grande facilidade a informação disponível, indo muito além do
que uma biblioteca física disponibiliza, mas de poder publicar e compartilhar on-line conteúdos
fruto da sua própria produção (Pinheiro, 2009). É nesta perspectiva que as Bibliotecas Escolares
têm vindo a adaptar-se apresentando as mesmas características que a Web 2.0, tornando-se
colaborativa, interativa e dinâmica, isto é, uma Biblioteca 2.0 (MANESS, 2007), a que se constrói
adaptando-se às necessidades dos utilizadores.
2.2 O papel do Professor Bibliotecário
As Bibliotecas Escolares integradas na Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) beneficiam-se
da existência de um PB, um professor com formação específica na gestão de bibliotecas, mas com
formação inicial diversa. De acordo com a legislação portuguesa (2009), esta especialização
permite-lhe desempenhar diversos papéis que, em um contexto tecnologicamente desenvolvido,
importa considerar: i) promotor da leitura, com a missão de criar novos leitores, em que recursos
tecnológicos e ferramentas digitais são uma mais-valia para seduzir os leitores (RAMOS, 2012); ii)
promotor das literacias, conceito abrangente dos diferentes tipos de leitura que podemos fazer (a
RBE privilegia as Literacias da Leitura, a das Mídias e da Informação); iii) promotor da articulação
com o currículo, por meio do trabalho em conjunto com outros professores e outras estruturas, de
modo a conjugar as tecnologias e os recursos com o currículo das disciplinas.
Relativamente à utilização das ferramentas tecnológicas, os estudos de Pereira e Oliveira,
Pombo e Alves e Proença, em 2012, indicam que embora os Professores Bibliotecários conheçam
bastantes ferramentas da Web 2.0, não as utilizam em situações de aprendizagem. Costa (2012, p.
54) também refere que a “grande maioria dos professores bibliotecários utiliza a generalidade das
ferramentas da Web 2.0 essencialmente como meio de divulgação, difusão da biblioteca escolar, das
suas atividades e trabalhos realizados pelos alunos”. Isto significa que, nas Bibliotecas Escolares, se
verifica uma desfasagem entre o que é disponibilizado pelas tecnologias e na internet e o que é
utilizado na prática e que a utilização das ferramentas da Web 2.0, com caráter pedagógico, ainda é
reduzida ou rudimentar. De acordo com Pombo e Alves (2012, p. 38), ainda há “um longo caminho
a percorrer” para potenciar a mudança. O que existe, na sua maioria, são blogs que “funcionam
como meio de divulgar atividades, outros como se de páginas web institucionais se tratasse”
(FURTADO, 2009, p. 145), redes sociais e algumas outras plataformas que alojam conteúdos,
utilizadas, basicamente, como repositório e como forma de difusão. Para Ramos (2015, p. 13), “O
professor bibliotecário […] deve conhecer e utilizar as novas tecnologias, principalmente as
107
ferramentas e serviços da Web 2.0” tornando-se um verdadeiro “desafio pedagógico e
organizacional” (PINHEIRO, 2009, p. 6) na forma como se disponibilizam os produtos e os
serviços.
3 OBJETIVO Partindo do reconhecimento da importância e da utilidade na integração das TIC no contexto
da BE, visando a articulação com o currículo formal e introduzindo um caráter de inovação,
pretendeu-se traçar um retrato da realidade de um concelho, sob esta perspectiva. Empreendemos
este estudo na tentativa de compreender as linhas orientadoras, as opções, as metodologias e as
práticas de um conjunto de Professores Bibliotecários.
De que forma os Professores Bibliotecários integram as Tecnologias da Informação e da
Comunicação na Biblioteca Escolar foi a questão de partida, visando aprofundar o conhecimento da
realidade desses espaços informais e as práticas aí levadas a cabo com o intuito de desenvolver os
diferentes letramentos associadas à integração das TIC no leque de competências dos alunos.
4 METODOLOGIA O problema considerado no presente estudo – De que forma os Professores Bibliotecários
integram as Tecnologias da Informação e da Comunicação na Biblioteca Escolar? – emergiu da
verificação da crescente exploração das TIC em contexto educativo e, em particular, nas Bibliotecas
Escolares. Visando a compreensão do tipo de trabalho com tecnologias que é feito nas mesmas, o
estudo incidiu sobre sete Professores Bibliotecários a exercerem funções no concelho de Santarém,
em escolas do 2.º e 3.º ciclo e em escolas secundárias, integradas na RBE. A opção por centrar o
estudo nos professores de um concelho específico ficou devido à facilidade de acesso aos
informantes e consequente facilidade de auscultação desse grupo, constituindo-se, pois, numa
amostra de conveniência (COUTINHO, 2011; POMBO; ALVES, 2012).
Tendo como pano de fundo um paradigma de natureza qualitativa, optou-se por conduzir o
estudo numa lógica interpretativa que permitisse compreender o contexto particular em análise.
Como técnicas de recolha de dados recorreu-se a: a) entrevistas semiestruturadas visando a
obtenção do entendimento dos participantes sobre as TIC e a sua utilização na escola e na BE; b) e à
análise documental para a coleta de dados empíricos com o objetivo de reforço e confirmação dos
resultados obtidos nas entrevistas.
A opção pela realização de entrevistas como técnica de coleta de dados, comum em
investigação de caráter qualitativo, fundamentou-se no fato de ser “uma técnica muito eficiente para
a obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano” (GIL, 2008, p. 110).
108
Como complemento, “a consulta e análise de documentos é outra fonte de informação importante
no contexto da investigação, em particular na investigação em educação.” (MORGADO, 2012, p.
86), procurando assim enriquecer e fundamentar as informações obtidas por intermédio de outras
técnicas de coleta (as entrevistas).
No que diz respeito à análise e tratamento de dados, recorreu-se à criação de um sistema de
categorias que viria a permitir codificar as unidades de sentido em que o corpus das entrevistas foi
segmentado. A contagem de frequências (COUTINHO, 2011) possibilitou uma primeira abordagem
aos dados, continuada por meio da reconstrução dos significados atribuídos pelos sujeitos inquiridos
(BOGDAN; BIKLEN, 1994). Durante a investigação, procurou-se corresponder aos critérios de
relevância científica e social, com um objetivo de estudo bem definido e com base na triangulação
de fontes e de técnicas de coleta de dados (DENZIN, 1984).
5 PRINCIPAIS RESULTADOS
Do conjunto de sete professores entrevistados, cinco exercem a função de Professor
Bibliotecário por opção (manifestaram interesse e/ou concorreram a esta posição), tendo sido
nomeados os restantes. Formam um grupo heterogêneo relativamente ao tempo no cargo e na
formação específica para o desempenho destas funções. Existe também diversidade na formação de
base, embora com alguma predominância em duas áreas distintas (cursos de Literatura e Línguas e
cursos de História). Como formação complementar relacionada com o trabalho nas bibliotecas,
revelam formação específica direcionada para a área da Biblioteconomia, das Ciências Documentais
e das Bibliotecas Escolares, especificamente. A permanência em funções oscila entre elementos
com muita experiência (vinte anos) e outros com experiência mais reduzida (quatro anos).
Em termos gerais, apurou-se que eles consideram que o papel desempenhado apresenta um
caráter fundamental em uma escola. É uma ideia manifestada por meio de várias expressões que
refletem essa mesma concepção (agregador, central, mediador e elo de ligação). O PB é visto
também como um “divulgador”, quer da coleção, do patrimônio ou das atividades da escola. Alguns
dos entrevistados referem-se à vertente “criativo”, encarado como aquele que promove a inovação,
a originalidade e introduz estímulo para a diferenciação na prática letiva dos professores.
A relevância de um PB é muitas vezes referida como de “grande pertinência”, contribuindo
para a visão estratégica da escola e intervindo nos processos de avaliação. Comentam, contudo, que
a integração nas estruturas pedagógicas e a relevância desse papel não são uniformes, dependendo
da sensibilidade das direções das escolas para a sua função.
Na descrição de uma semana de trabalho, os participantes entrevistados revelaram que os
aspectos da gestão da BE são os que consomem a maior parte do seu tempo (41,1%), seguidos da
109
articulação curricular (18,5%) e do apoio ao utilizador (17,1%). O dispêndio de tempo na gestão,
em resultado da falta de uma equipe, é referido como uma das maiores dificuldades sentidas.
Concordam no geral que, tal como consta dos documentos orientadores institucionais, a
literacia da informação deve ser considerada área fundamental como forma de capacitar os alunos
para a construção da sua própria aprendizagem. Assumem, aliás, que essa deve ser uma das funções
primordiais no trabalho do PB, sobrepondo-se ao “apoio ao currículo”. De fato, embora
teoricamente a considerem relevante para a aprendizagem, a literacia da informação não é a prática
mais referida pelos inquiridos, denotando investimento sobretudo na “promoção da leitura”
(22,9%), na “articulação com o currículo” (20,6%) e no “apoio ao utilizador” (14%). Embora em
geral se preocupem em criar e manter leitores, na prática, verifica-se que as diligências para a
promoção da leitura não ocupam muito do seu tempo, visto ser referenciada apenas 2,8% no
respetivo indicador.
A pertinência e a importância do uso das TIC é comentada e reconhecida por todos os
participantes, que afirmam possuírem conhecimentos razoáveis no uso das tecnologias. Um
conhecimento adquirido sobretudo através da formação contínua, embora também seja referida a
sua formação autodidata.
Nas Bibliotecas Escolares onde trabalham, as tecnologias são usadas, na sua maioria, para
corrigir as falhas que os alunos revelam quanto à “literacia tecnológica” (17,1%), mas sem um
caráter sistemático e regular. As ferramentas da Web 2.0 são usadas principalmente para a
divulgação das atividades e dos trabalhos dos alunos e só depois como capacitação propriamente
dita em termos de literacia da informação (6,8%). Na análise dos dados recolhidos constata-se que
os Professores Bibliotecários possuem o conhecimento de variadas plataformas e ferramentas da
Web 2.0, ocupando as redes sociais um lugar predominante.
6 BREVE DISCUSSÃO
Com este estudo do caso delimitado aos Professores Bibliotecários que exercem a sua
atividade em escolas do concelho de Santarém, pretendeu-se aprofundar o conhecimento que
favoreça a reflexão sobre o nosso próprio trabalho na BE. Visamos um melhor serviço para os
utilizadores (professores e alunos), até porque o papel da BE e do PB tem sido sujeito a vários
desafios com a evolução tecnológica que nos últimos tempos se tem assistido. A nossa convicção é
que a vocação generalista do PB consegue agregar variadas formas de construir conhecimento,
permitindo a articulação efetiva dos diferentes intervenientes na escola e fora dela. No fundo, é no
espaço da BE que todos têm acesso às tecnologias e à informação que elas hoje tornam possível.
110
Em síntese, os participantes neste estudo advogam a importância e relevância das TIC,
apresentam alguns conhecimentos e exploram já algumas ferramentas online. Trata-se, porém, de
um uso que majoritariamente se destina à divulgação de iniciativas e atividades da BE. Resultados
que são coerentes com outras investigações na mesma área, tais como os de Costa (2012) e Proença
(2012), no qual também é manifestado o reconhecimento das potencialidades pedagógicas das
tecnologias na BE. Tal como nestas investigações, pode-se afirmar que os Professores
Bibliotecários em geral se confrontam com problemas, constrangimentos e desafios semelhantes.
Talvez o mais saliente seja o fato de, apesar de possuírem conhecimentos sobre as novas
ferramentas tecnológicas, estes ainda não tiram partido delas ao serviço da dinamização de
atividades na BE como poderia esperar-se (COSTA, 2012).
Na opinião dos Professores Bibliotecários entrevistados existe um conjunto de
constrangimentos que poderão contribuir para isso e que impedem uma maior utilização das TIC em
interação com os próprios alunos, dos quais se destacam, a falta de tempo, “devido à multiplicidade
de tarefas inerentes à sua função” (COSTA, 2012, p. 54), as dificuldades resultantes da resistência
de alguns docentes, a duplicação da informação em diferentes plataformas, o pouco investimento no
desenvolvimento das literacias da informação e tecnológica (quer para professores, quer para
alunos) e, por fim, a escassez ou obsolescência do equipamento.
REFERÊNCIAS
BOGDAN, R.; BILKEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994.
CALIXTO, J. A. A biblioteca escolar e a sociedade de informação. Lisboa: Editorial Caminho, 1996.
CONDE, E. A integração das tecnologias da informação e comunicação na biblioteca escolar. 2005. Proform@r Online, p. 1-13.
COSTA, F. A. Digital e currículo no início do século XXI. In DIAS, P.; OSÓRIO, A. (Ed.). Aprendizagem (in)formal na web social. Braga: Centro de Competências da Universidade do Minho, 2011. p. 119-142.
COSTA, T. S. de. As tecnologias de informação e comunicação e as bibliotecas escolares. Tese (Mestrado). Lisboa: Universidade de Lisboa - Instituto de Educação, 2012. Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/7609/1/ulfpie042913_tm.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
COUTINHO, C. P. Metodologias de investigação em ciências sociais e humanas: teoria e prática. Coimbra: Edições Almedina, 2011.
111
DAS, L. H. Bibliotecas escolares no século XXI: à procura de um caminho. Newsletter, (3). 2008. Disponível em: <http://www.rbe.min-edu.pt/newsletter/newsletter3/newsleter_n3_ficheiros/page0003.htm>. Acesso em: 14 jan. 2017.
FURTADO, C. C. Bibliotecas escolares e web 2.0: revisão da literatura sobre Brasil e Portugal. In: Em Questão, n. 15, 2009, p. 135-150.
GIJÓN, J. L;, LÓPEZ, A. P.; GÁLVEZ, C.; CARO, C. G. La biblioteca universitaria como apoyo al aprendizaje en el espacio europeo de enseñanza superior. In: Encontros Bibli: revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação (Especial 2), 2006, p. 63-81. [on-line]. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=14720596005>. Acesso em: 14 jan. 2017.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 2008. p. 200. [on-line]. Disponível em: <https://ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gil-a-c-mc3a9todos-e-tc3a9cnicas-de-pesquisa-social.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
MANESS, Jack M. Teoria da biblioteca 2.0: web 2.0 e suas implicações para as bibliotecas. Inf. & Soc.: Est, João Pessoa, v. 17, n. 1, p. 43-51, jan./abr., 2007.
MEIRINHOS, M. A escola perante os desafios da sociedade da informação. Encontro As Novas Tecnologias e a Educação, Instituto Politécnico de Bragança, 2000 [on-line]. Disponível em: <https://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=6&cad=rja&uact=8&ved=0CEIQFjAF&url=http%3A%2F%2Fwww.iProfessores Bibliotecários.pt%2F~meirinhos%2FEscolaSI.doc&ei=ij1sVaflG4GUNpf5gfAK&usg=AFQjCNGNZoVZ2u_IcmyntlCtANN_MO9uBg&sig2=L_5SSe8q0S-3RPxzvl2ROA&bvm=bv.94455598,d.d24>. Acesso em: 14 jan. 2017.
MORGADO, J. C. O estudo de caso na investigação em educação. Santo Tirso: De Facto Editores, 2012.
PEREIRA, E. G.; Oliveira, L. R. TIC na Educação: desafios e conflitos versus potencialidades pedagógicas com a web 2.0. Conferência Ibérica em Inovação na Educação com TIC, Bragança, 2012 [on-line]. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/19923>. Acesso em: 14 jan. 2017.
PINHEIRO, C. Biblioteca 2.0. In: Newsletter 05 RBE, 2009.
POMBO, L.; ALVES, A. Web 2.0 na biblioteca escolar: suas práticas de utilização. In: Indagatio Didactica, v. 4, n. 4, 2012, p. 23-40. [on-line]. Disponível em: <http://revistas.ua.pt/index.php/ID/article/view/1771>. Acesso em: 14 jan. 2017.
PORTUGAL. Rede de Bibliotecas Escolares. Aprender com a biblioteca escolar / coord. Elsa Conde [et al.]. Lisboa: RBE, 2012.
______. Rede de Bibliotecas Escolares. Programa Rede de Bibliotecas Escolares. Quadro estratégico: 2014-2020. Lisboa: RBE, 2013.
PROENÇA, J. P. d. S. Biblioteca Escolar e web 2.0 – questões em torno de algumas práticas em implementação e percepção do impacto no trabalho da biblioteca. II Congresso Internacional TIC e Educação, Lisboa, 2012a. [on-line] Disponível em: <http://ticeduca.ie.ul.pt/atas/pdf/178.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
______. Biblioteca Escolar e web 2.0 – questões em torno de algumas práticas em implementação e percepção do impacto no trabalho da biblioteca. Tese (Mestrado), Universidade Aberta, Lisboa,
112
2012b. [on-line]. Disponível em: <https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2149/1/Tese%20%20joao%20paulo%20proen%C3%A7a.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
RAMOS, M. C.; RAMOS, D. Bibliotecas escolares: estratégia, liderança e bom senso. Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, Lisboa, 2012 [on-line]. Disponível em: <http://www.bad.pt/publicacoes/index.php/congressosbad/article/view/360/pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
RAMOS, R. Fazer leitores na era digital: o contributo da biblioteca escolar (Biblioteca RBE), v. 8. p. 32. 2015 [on-line]. Disponível em: <http://www.rbe.min-edu.pt/np4/file/1490/bibliotecarbe8.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
TERRA, A. L.; SÁ, S. Uma análise do comportamento informacional: a utilização dos recursos da biblioteca escolar. In: Cadernos BAD 2, n. 2, 2007, p. 82-92. [on-line]. Disponível em: <http://www.bad.pt/publicacoes/index.php/cadernos/article/view/774/772>. Acesso em: 14 jan. 2017.
113
Dos Parâmetros Curriculares de Arte até a Base Nacional Comum Curricular: os caminhos percorridos.
Kelly Eloá Lotz de Souza
UNIVERSIDAD DE LA EMPRESA – UDE
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo O ensino de Arte no Brasil sempre foi pautado pelas condições políticas e culturais de cada momento
histórico, refletindo as concepções ideológicas dos grupos que estavam no poder. Mas é sobretudo a partir de seu reconhecimento como disciplina no currículo escolar, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996), com a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1998), e no momento vigente da escrita deste artigo que compreende a discussão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que os aspectos teóricos e metodológicos do ensino de Arte são discutidos de forma mais ampla e profunda, o que pode ser considerado um avanço em busca de um ensino de qualidade.
Palavras-chave: currículo, arte-educação, parâmetros curriculares, diretrizes curriculares estaduais –
Paraná, Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Abstract
Art education in Brazil, have always been supported by the political and cultural situations in each historical period, analyzing the ideological conceptions from the groups which were in government. But it is above all since its recognition as a discipline in the school curriculum, and the enactment of the National Education Directions and Foundations Law – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN/1996) – and the publication of the National Curricular Parameters – Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1998), and in the current moment of the writing of this article that includes the discussion of the National Common Curricular Base (BNCC), 2015- 2016, the theoretical and methodological aspects of Art teaching have been discussed in a wider and deeper way, which can be considered an improvement in searching for high quality education.
Keywords: curriculum, art-education, curricular parameters, Paraná state, curricular directions, National Common Curricular Base (BNCC).
114
1 INTRODUÇÃO
O ensino da arte na escola tornou-se obrigatório na década de 1970, por meio da lei n.º
5.692\71, desde quando é desejada uma melhoria no ensino desse componente para a educação
escolar. Historicamente, tendências teóricas da educação em Arte receberam destaque tornando
alguns momentos significativos para a história das pedagogias no ensino daquela disciplina, mas
ainda não são considerados ideais, ou seja, sem conteúdos claros e de pouco conhecimento. Esta
cultura de enfraquecimento de conteúdos e do ensino da Arte veio a ser rompida posteriormente em
virtude da promulgação de dois importantes documentos oficiais. São eles os Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN – e as Diretrizes Curriculares Estaduais – DCE.
O primeiro momento histórico caracterizava-se pelos postulados da Escola Tradicional. O
professor ocupava papel de destaque e a arte era vista como algo funcional com pouca relevância
aos aspectos estéticos e artísticos. Ao professor cabia o conhecimento acerca dos procedimentos de
como fazer e aos alunos competia reproduzir mimeticamente o objeto artístico. Fazer era mais
importante do que conhecer a arte. Como resultado, as práticas oferecidas aos alunos voltavam-se
preponderantemente a um ensino mecanizado sem relações com o cotidiano. A assinatura da arte na
escola não contemplava a criação, e, sim, a reprodução de modelos que demandavam da arte um
papel utilitarista e imediatista.
O segundo momento é assinalado pela ruptura do caráter tecnicista das práticas do fazer
artístico na escola e é fortemente influenciado pela estética modernista, tendo como referência a
Escola Nova. O fazer artístico passa, então, a ser um canal de livre expressão, com a intenção de
valorizar os processos criativos dos alunos. Cabe observar que esse momento de ruptura é norteado
pela crença de que o livre fazer irá proporcionar estímulos à criatividade. No entanto, se por um
lado tal pressuposto abria caminhos para a livre expressão, por outro lado oportunizava espaço para
a banalização do “deixar fazer”. Ao professor competia não interferir na criação, com o objetivo de
permitir o livre trânsito da expressão da criatividade do aluno. Esse filtro em relação à arte na escola
não raras vezes acabava em promover um completo esvaziamento dos conhecimentos estéticos e
artísticos.
O terceiro momento é assinalado por uma escola que pauta o ensino da arte na valorização
de seus elementos técnicos. Essa abordagem, preponderantemente tecnicista, parecia justificar-se
em virtude do propósito de preparar o aluno para as demandas industriais. E, para atender tal
demanda, os professores deveriam atuar nas diferentes modalidades artísticas. No entanto, se por
um lado havia a abertura para diferentes modalidades do fazer artístico na escola, por outro lado, a
licenciatura do professor não abrangia todas as linguagens desenvolvidas na escola.
115
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/96), a
Educação Artística tem seu nome alterado para Arte, deixando o status de atividade artística ou de
formação secundária para se reconfigurar em área de conhecimento, considerada igualmente
importante às demais áreas que contemplam os conhecimentos apresentados na escola. Desde então,
a Arte deverá ser contemplada desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e, dessa forma,
percebida como conhecimento importante para a formação cultural do aluno.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o ensino de Arte está
configurado contemplando quatro linguagens artísticas: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança.
Essa proposição é um desafio em termos de educação, ensino e aprendizagem, pois, considera-se a
formação dos professores – a qual contempla somente uma dessas linguagens – que irão atuar no
campo das artes, dentro da escola.
No ano de 2006, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica são oficialmente
publicadas pela Secretaria de Estado da Educação no Paraná, contemplando também a área de Arte,
que envolveu os professores da Rede Estadual de Ensino na escrita e leitura crítica de suas diretrizes
e que apresenta também uma relação de conteúdos básicos sistematizados por séries.
Desde então, o ensino da Arte na Educação Básica está respaldado por documentos que
norteiam a prática pedagógica dos professores. O presente artigo visa apresentar sinteticamente os
elementos pesquisados no percurso da institucionalização dos documentos oficiais de Arte desde os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1998) até a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC/1915-?), ainda em processo de estruturação.
2 METODOLOGIA
Para a escrita do artigo, buscou-se a pesquisa bibliográfica e a análise documental.
Na pesquisa bibliográfica, é apresentado o conceito de currículo com a intenção de ressaltar
a polissemia do termo e apresentar de que maineira o currículo pode estar atrelado às relações de
poder.
Este estudo apresenta o conceito de currículo nas perspectivas de Pedra (1997) e Silva
(2002), fazendo também menção a abordagens conceituais sobre o tema de autores a exemplo de
Moreira (1997) e Sacristán (1999). Este capítulo que enfatiza o currículo, traz a questão de que ele
não pode ser considerado apenas como um elemento neutro de transmissão de conhecimento social,
mas que se encontra atrelado às relações de poder.
Na sequência, abordam-se análises sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, as
Diretrizes estaduais do Paraná e a Base Nacional Comum Curricular, ainda em processo de
aprovação.
116
3 PRINCIPAIS RESULTADOS
A definição de currículo pode ser uma tarefa desafiadora em virtude da dimensão
polissêmica das teorias que permeiam seu estudo. No entanto, Alves (2004) enfatiza que “Apesar
destas, há consensos de todos os quadrantes teórico-conceituais: o termo currículo é um termo
polissêmico, querendo com esse rótulo significar que currículo veicula uma noção sujeita à
ambiguidade e diversidade de sentidos”, consoante essa ideia mostra o quadro a seguir:
Autor Ano Definição Ênfase
SILVA 1996 O currículo é um dos locais privilegiados onde se entrecruzam saber e poder, representação e domínio, discurso e regulação. É também no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação de subjetividades sociais. Em suma, currículo, poder e identidades sociais estão mutuamente implicados. O currículo corporifica relações sociais.
Saber Poder Formação de subjetividades sociais
MOREIRA E SILVA
1997 O currículo é um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação e recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão.
Produção e Política Cultural Criação Recriação Contestação Transgressão
SACRISTÁN 1998 O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a prática possível, dadas determinadas condições.
Ligação entre cultura e sociedade exterior Aprendizagem Contexto
QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DE CURRÍCULO Fonte: Elaborado com base em Silva (1996); Moreira e Silva (1997) e Sacristán (1998).
Ao analisar o quadro apresentado pode-se observar que estão presentes na noção de
currículo o saber, o poder, a produção política e cultural que promove desde a criação até a
contestação, o elo entre a cultura e a sociedade e a aprendizagem de contexto.
Cabe observar que Pedra (1997, p. 31) estabelece relevante crítica ao afirmar que “os
variados conceitos atribuídos ao termo currículo não descrevem realidades diferentes, apenas
informam sobre a interpretação que determinado autor ou escola teórica lhe deu.” De acordo com o
autor, as ênfases sofrem variações que podem ser percebidas no conteúdo, na experiência, nas
atividades ou na própria organização curricular. Entretanto, a realidade descrita não se modifica. De
acordo com esse autor, definir currículo é, então, uma questão de perspectiva e não propriamente de
polissemia. Pedra (1997) prossegue demonstrando que existem três modos possíveis de se entender
o currículo, pois as definições centram-se: em resultados, experiências ou princípios. Portanto,
117
dependendo da perspectiva, a ênfase estará em um desses modos de entender o currículo, não
alterando o que ele representa, em si mesmo.
No âmbito desta pesquisa, em face da flexibilidade acerca do conceito de currículo, este
estudo não é centrado a partir das diferenças, mas, sim, tendo em vista as semelhanças. Pedra (1997,
p. 38) afirma que “se não há um consenso definidor, se cada autor ou tendência teórica enfatiza este
ou aquele aspecto da educação, todos, entretanto, estão de acordo com que o currículo é um modo
pelo qual a cultura é representada e reproduzida no cotidiano das instituições escolares”.
3.1 Reformulação curricular: instrumento para uma nova organização educacional
A reformulação curricular pode ser compreendida como um instrumento que oportuniza
uma nova organização educacional no âmbito das políticas públicas. As mudanças curriculares
refletem também mudanças políticas e culturais que podem ser identificadas nos PCN (1998) e nas
DCE (2006) no contexto das medidas políticas educacionais acionadas pelo Poder Público e na
Base Nacional Comum Curricular (BNCC (2015 - ?) diante das esferas Federal e Estadual. Nesse
sentido, é oportuno demonstrar qual o sentido atribuído a esses documentos. Para isso, toma-se por
base o ciclo de políticas (de influência, de produção dos textos curriculares e da prática) formulado
por Ball (apud LOPES y MACEDO, 1992, p. 5-9 (1992). Conforme Lopes e Macedo (2006), os
contextos deste ciclo são assim definidos:
[...] O contexto de influência é aquele onde normalmente as definições políticas são iniciadas e os discursos políticos são construídos; onde acontecem as disputas entre quem influencia a definição das finalidades sociais da educação e do que significa ser educado. (LOPES; MACEDO, 2006, p. 6).
De acordo com os autores, no contexto de influência, são atuantes as redes sociais que
envolvem os partidos políticos do governo vigente e do governo de outros países utilizadas como
referência em função das políticas adotadas. Em relação ao “contexto de produção dos textos e das
definições políticas é constituído pelo poder central propriamente dito, que mantém uma associação
estreita com o primeiro contexto.” (LOPES; MACEDO, 2006, p. 6).
4 A ARTE NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
A apresentação da área de arte no documento já sinaliza a vinculação com o momento
histórico de sua formulação, pois a área de conhecimento Arte pretende dar ênfase para os aspectos
essenciais da alfabetização estética e da criação autônoma dos alunos de forma que eles possam
apropriar-se de conteúdos indispensáveis para a formação cultural do cidadão contemporâneo.
No entanto, na década de 1990, ainda verificava-se um problema apontado pelo documento
referente à lacuna existente entre teoria e prática no ensino de artes, uma vez que apresentam níveis
de qualidade significativamente diversificados no Brasil. Além disso, consoante Brasil (1998), em
muitas escolas se utilizam modelos estereotipados para serem repetidos ou apreciados,
118
empobrecendo o universo cultural do aluno, ao passo que, em outras escolas, todo o trabalho é
unicamente fundamentado na autoexpressão, sem introduzir outros saberes de arte. Dessa forma,
observa-se que a polivalência ainda se mantém em muitas regiões. Por outro lado, é notória a
existência de professores preocupados em também ensinar história da arte e levar alunos a museus,
teatros e apresentações musicais ou de dança.
O documento, além de considerar o conhecimento artístico como produção, fruição e
articulação dos sentidos, propõe, com base nos pressupostos da Abordagem Triangular organizada
por Ana Mae Barbosa, os três eixos de aprendizagem necessários para que a experiência do ensino
de Arte na escola ocorra de forma significativa: o fazer, o fruir e o contextualizar.
Como uma contribuição relevante para as mudanças do ensino deste componente
curricular, o documento apresenta, também, as linguagens da dança, do teatro, da música e das artes
visuais como linguagens autônomas, constituídas de códigos específicos.
5 A ARTE NAS DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS
Em contraponto às críticas relativas à falta de seleção e organização dos conteúdos nos
PCN, observa-se nas DCE uma organização mais clara dos conteúdos de cada linguagem da arte,
descrita para cada ano. Essa opção pela recuperação da importância intrínseca dos conteúdos tem
como horizonte a formação de sujeitos críticos das contradições presentes na sociedade. Note-se
que, se nos PCN buscava-se formar um cidadão que pudesse inserir-se nessa sociedade, nas DCE
almeja-se preparar um indivíduo crítico dessa sociedade, que pudesse contribuir para sua
transformação. Eis a diferença ideológica fundamental entre os documentos curriculares em
questão. A opção pelo currículo disciplinar presente nas DCE fundamenta-se em conteúdos
estruturantes definidos por Paraná (2006) como “conhecimentos de grande amplitude, conceitos,
teorias ou práticas, que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar,
considerados fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo/ensino.” Esses conteúdos
estruturantes são escolhidos a partir de uma análise histórica da ciência de referência e da disciplina
escolar contemplada, direcionados para a escola a fim de serem socializados e apropriados pelos
alunos, por meio das metodologias críticas de ensino-aprendizagem.
Os conteúdos estruturantes desdobram-se em conteúdos básicos. Porém, quanto à
metodologia observa-se um pluralismo metodológico e a possibilidade de várias concepções de
ensino e aprendizagem para o alcance de um objetivo maior.
Um fator de atenção entre a elaboração das Diretrizes Curriculares Estaduais que estão em
oposição aos Parâmetros Curriculares Nacionais, é o fato da participação direta dos docentes. No
documento de esfera Nacional (PCN) os professores não participaram da estruturação, enquanto
119
houve a participação dos professores de Arte no que tange a escolha dos conhecimentos e na
organização do detalhamento dos conteúdos das quatro linguagens para os níveis de ensino.
6 A ARTE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
No dia 16 de setembro de 2015, o Ministério da Educação (MEC) trouxe a público a
proposta preliminar para discussão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O texto inicial
foi elaborado por 116 especialistas em educação, contando com profissionais de 35 universidades.
O documento preliminar disponibilizado para consulta pública está dividido em quatro áreas
de conhecimento: matemática, linguagens, ciências da natureza e ciências humanas. A Base
Nacional propõe a arte como linguagem, e por isso está atrelada a esta área de conhecimento –
Linguagens – como subcomponente integrante desta grande área.
No presente momento da escrita deste artigo, o documento ainda conta com a estruturação
tendo em vista a participação pública com análises críticas de profissionais das áreas de dança,
música, teatro e artes visuais.
Ainda em fase de discussão, o documento que prevê a reformulação do currículo das escolas
brasileiras, pretende uniformizar 60% dos conteúdos dos ensinos Fundamental e Médio. A parcela
dos outros 40% serão selecionados pelas próprias instituições educacionais e redes de ensino, de
acordo com as particularidades de cada região.
Desta forma, este artigo não se encerra aqui.
Para traçar um percurso do ensino da Arte nas escolas, pautado pelos documentos oficiais
para o ensino deste componente, esta pesquisa deve seguir e analisar como a arte será prevista pela
versão finalizada do documento da Base Nacional Comum Curricular.
REFERÊNCIAS
ALVES, F. A. C. A novidade (ou continuidade?) de um currículo pós-moderno. In: Colabor@ – Revista Digital da CVA-Ricesu, v. 2, n. 6, mar. 2004.
ARCO-VERDE, Yvelise F. S. Introdução às diretrizes curriculares. Superintendência da Educação do Estado do Paraná. Curitiba: SEED, 2003.
BARBOSA, Ana M. (Org.). Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.
______. Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.
______.Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998.
______. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998a.
120
______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental – Arte. Brasília: MEC, 1998b.
______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Documento preliminar. Brasília: MEC, 2015.
BUORO, Anamelia B. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2003.
CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. Buenos Aires: Sudamericana, 1992.
CERVO, Armando Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. São Paulo: Makron Books, 1996.
COUTINHO, C. P; CHAVES, J. H. O estudo de caso na investigação da tecnologia educativa em Portugal. In: Revista Portuguesa de Educação, Universidade do Minho, 2002.
CRESWELL, J. W. Research design: qualitative and quantitative approaches. Thousand Oaks: SAGE, 1994.
FUSARI, Maria F. R; FERRAZ, Maria H. C. T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
LOPES, A. C; MACEDO, E. Nota introdutória: reconfigurações nos estudos sobre políticas de currículo. In: Currículo sem Fronteiras, v. 6, n. 2, p. 5-9, jul./dez. 2006.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MARRACH, S. A. Neoliberalismo e Educação. In: GHIRALDELLI JUNIOR, P. (Org.). Infância, Educação e Neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 1996. p. 42-56.
MATOS, M. C; PAIVA, E. V. Hibridismo e currículo: ambivalências e possibilidades. In: Currículo sem Fronteiras, v. 7, n. 2, p. 185-201, jul./dez. 2007.
MENDES, J. E. Ideologia neoliberal, gestão escolar e trabalho docente. GT 09 – Trabalho e Educação. 26.a Reunião Anual da ANPED, 2003. Disponível em: <www.anped.org.br>. Acesso em: dez. 2010.
MORAES, Reginaldo. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai? São Paulo: Editora Senac, 2001.
Em Moreira, M.A., Caballero, M.C. e Rodríguez, M.L. (orgs.) (1997). Actas del Encuentro Internacional sobre el Aprendizaje Significativo. Burgos, España. pp. 19-44.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Trad. Pedrinho A. Guareschi. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
OSINSKI, Dulce R. B. Arte, história e ensino: uma trajetória. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
PACHECO, José A. Currículo: teoria e práxis. Porto: Porto Editora, 1996.
PARANÁ. SEED. DEM. Diretrizes Curriculares de Arte, 2006.
PEDRA, José Alberto. Currículo, conhecimento e suas representações. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002.
PONTE, João Pedro. Estudos de caso em educação matemática. In: Bolema, n. 25, p. 105-132, 2006.
PORTILHO, Evelise. Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição. Rio de Janeiro: Wak, 2009.
121
RIZZI, Maria Christina de Souza. Caminhos Metodológicos. In: BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2003.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
SILVA, Manuel A. F da. A educação num contexto de hegemonia neoliberal. In: Currículo sem Fronteiras, v. 7, n. 1, p. 206-242, jan./jun. 2007.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. p. 156.
SOUZA, Denise Martins Américo de. Parâmetros curriculares de história: do discurso oficial sobre a explicação histórica às elaborações de professores das séries iniciais. Dissertação (Mestrado) – UEL. Londrina, 2009.
TAVARES, José Newton Tomazzoni. A Política Educacional da União e os Currículos do Ensino Fundamental: Os PCNs. Dissertação (Mestrado) – PUC-Minas Gerais. Belo Horizonte, 2002.
TEIXEIRA, B. B. Uma política e vários contextos: os PCN do ensino fundamental. In: Revista Inter Science Place, ano 1, n. 3, dez. 2008.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VOLPE, Patrícia. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino de Arte: um diálogo com docentes. Dissertação (Mestrado) – UNESP – SP. São Paulo, 2006.
YIN, Robert. Case Study Research: design and methods. 2 ed. Thousand Oaks, CA: SAGE Publications, 1994.
122
A perspectiva dos arte-educadores sobre os documentos oficiais de arte
Kelly Eloá Lotz de Souza
UNIVERSIDAD DE LA EMPRESA – UDE
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O ensino de arte no Brasil, assim como o ensino de outras disciplinas curriculares, sempre foi pautado pelas condições políticas e culturais de cada momento histórico, refletindo as concepções ideológicas dos grupos que estavam no poder. Mas somente a partir de seu reconhecimento como disciplina no currículo escolar, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN/1996) e com a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1998), que os aspectos teóricos e metodológicos do ensino de arte são discutidos de forma mais ampla e profunda, o que pode ser considerado um avanço em busca de um ensino de qualidade. Entretanto, no estado do Paraná, a partir do ano de 2003, iniciou-se um processo de reformulação curricular com a elaboração das Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE), tendo sido finalizado no ano de 2006. O objetivo geral deste artigo consiste em identificar a perspectiva dos arte-educadores do Paraná, especificamente dos professores da disciplina de Arte do Colégio Estadual do Paraná, da cidade de Curitiba – PR, em relação aos PCN e às DCE, e, consequentemente, sobre a aplicabilidade desses currículos na prática em sala de aula.
Palavras-chave: currículo, arte-educação, parâmetros curriculares, Diretrizes Curriculares Estaduais
– Paraná, Lei de Diretrizes e Bases (LDB).
Abstract
Art education in Brazil, as well as the teaching of other curricular disciplines have always been supported by the political and cultural situations in each historical period, analyzing the ideological conceptions from the groups which were in government. But it is above all since its recognition as a discipline in the school curriculum, and the enactment of the National Education Directions and Foundations Law – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN/1996) – and the publication of the National Curricular Parameters – Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1998), the theoretical and methodological aspects of Art teaching have been discussed in a wider and deeper way, which can be considered an improvement in searching for high quality education. However, in Parana state, Brazil, since 2003 a process of curricular reformulation took place with the elaboration of the Parana State Curricular Directions – Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE), which was finished in 2006. The general aim of this Masters dissertation is to identify the perspective from the Art educators in Parana, precisely from the teachers of the Art discipline from the school called Colégio Estadual do Paraná, in Curitiba city – PR, related to the PCNs and DCE, and also therefore on the use of those curricula in their practical experience in classroom.
Keywords: curriculum, art-education, curricular parameters, Parana State Curricular Directions, Law of Guidelines and Bases.
123
1 INTRODUÇÃO Atualmente, a Arte é uma área de conhecimento autônoma, constituída de multiplicidade de
códigos e estruturas que permeiam o imaginário e o cotidiano. A LDB n.º 9.394/96, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, indica a Arte como componente curricular obrigatório da
Educação Básica. Recentemente, houve a aprovação do projeto de lei n.º 7.032/2010, convertido na
lei n.º 13.278/2016, publicada no Diário Oficial da União de 03/05/2016 e que alterou os parágrafos
2.º e 6.º do art. 26 da lei n.º 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) para
determinar que, a partir dessa data, passem a ser consideradas como conteúdos obrigatórios no
ensino de Artes a música, as artes plásticas e as artes cênicas.
Considerando os apontamentos anteriores, o presente artigo advém de uma pesquisa que tem
por objetivo geral identificar a percepção dos arte-educadores do Colégio Estadual do Paraná, da
cidade de Curitiba (PR) em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais e às Diretrizes
Curriculares Nacionais.
2 METODOLOGIA Em relação aos aspectos metodológicos cabe informar que se trata de uma pesquisa de
natureza descritiva e exploratória que adota o delineamento embasado no estudo de caso, ou seja,
uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando se busca
compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão
simultaneamente envolvidos diversos elementos.
A pesquisa cumpriu etapas, tendo sido feita em um primeiro momento a pesquisa
bibliográfica e a análise documental e, posteriormente, tomou lugar a pesquisa de campo. A
ferramenta da coleta de dados utilizada para o levantamento das informações foi um questionário,
composto por 28 perguntas, sendo 26 fechadas e duas abertas, com o objetivo de identificar o perfil
do professor que atuava no ensino de Arte no Colégio Estadual do Paraná, na cidade de Curitiba, no
estado do Paraná. Também se levantou a média em tempo de sala de aula desses professores
dedicado ao ensino de Arte e também sua escolaridade. O questionário procurou investigar aspectos
sobre o quanto os professores consideram que conhecem os PCN e as DCN, acerca de sua
percepção do grau de dificuldade de compreensão, de possibilidades de aplicação desses elementos
em seu cotidiano de sala de aula, e os pontos fortes e as oportunidades de melhorias desses
documentos.
Este estudo apresenta o conceito de currículo nas perspectivas de Pedra (1997) e Silva
(1999), fazendo também menção a abordagens conceituais sobre o tema de autores a exemplo de
Moreira (1997) e Sacristán (1999). Este capítulo oferece ênfase à questão de que o currículo não
124
pode ser considerado apenas como um elemento neutro de transmissão de conhecimento social, mas
que se encontra atrelado às relações de poder.
Na sequência, aborda-se uma análise documental sobre os Parâmetros Curriculares
Nacionais, os contextos de influência política e de produção destes PCN, bem como sua
representação de sociedade, de aluno e de escola.
Posteriormente, são levantadas as Diretrizes Estaduais, seu contexto político e também a
sua representação de sociedade, aluno e escola. A apresentação e análise dos dados são
demonstradas no capítulo final, que oferece também detalhamentos sobre o procedimento
metodológico e a natureza da pesquisa.
3 PRINCIPAIS RESULTADOS
A pesquisa deste estudo apresentou que o perfil do professor de ensino de arte do Colégio
Estadual do Paraná contempla em sua maioria mulheres, com grau de especialista, com mais de
uma década de experiência em docência.
Em relação aos PCN, a maioria dos professores diz ter recebido orientações insuficientes
por parte do Governo Federal em relação à utilização do documento e nenhuma participação em sua
elaboração, o que pode justificar o motivo pelo qual a maioria concorda parcialmente a respeito da
facilidade de compreensão do referido documento e aponta a relativa falta de vínculo com a
realidade.
Contudo, a maioria dos professores afirmou utilizar o documento durante o planejamento
de sua prática pedagógica, por considerarem que o principal objetivo dos PCN é desenvolver o
ensino da arte como área do conhecimento levando em consideração a sua complexidade na
formação humana.
A minoria dos professores trabalha na perspectiva apresentada pelo documento, na qual as
linguagens da arte (teatro, dança, música e artes visuais) são previstas como ensino polivalente da
arte, e desenvolvem em suas aulas essencialmente sua linguagem de formação.
A pesquisa em relação às DCE inicia-se com um dado intrigante. A maioria dos
professores disseram conhecer razoavelmente o documento, entretanto houve uma considerável
porcentagem dos professores entrevistados que afirmam ter participado da elaboração do
documento.
Na percepção dos professores, as DCE não trouxeram inovações significativas para o
ensino de arte, porém a maioria considerara importante a valorização dos conhecimentos
específicos das linguagens da dança, do teatro, da música e das artes visuais e utiliza o documento
para seu plano de trabalho docente.
125
Os educadores apontaram como ponto negativo das DCE a obrigatoriedade de contemplar
todas as linguagens a partir de sua área de formação.
Assim, em resposta a um dos objetivos específicos deste estudo, que concerne à reflexão
sobre a reformulação curricular enquanto política pública, há que se levantar os pontos que remetem
para as diferenças e que explicitam uma considerável dissonância ideológica encontrada nos PCN e
nas DCE.
Para os PCN, a cidadania é alcançada por meio da instrumentalização ao aluno, para que
ele possa ser de fato inserido no mercado de trabalho, englobando também a inserção do indivíduo
na sociedade globalizada, por meio do desenvolvimento das habilidades e competências para que
ele possa contribuir cada vez mais com o aprimoramento daquele universo globalizado. Identifica-
se, desta forma, que tal prática atua por manter e reforçar o status quo da ideologia neoliberal.
As DCE, por sua vez, contemplam os pressupostos de que apenas por meio do
desenvolvimento do espírito crítico é que se promove a verdadeira capacitação, que por sua vez traz
consigo o poder de transformar a sociedade, percebida como desigual e, portanto, injusta. Sob essa
perspectiva, e somente assim, é que se pode de fato efetivar a cidadania.
Ao opor-se ao quadro de esvaziamento dos conteúdos que guiaram os PCN, a formulação
das DCE é realizada a partir de outra concepção de escola. Com isso observa-se que os PCN não
contemplam o detalhamento e a estratificação em níveis dos conteúdos a serem abordados e
desenvolvidos no ensino da arte. Ao passo que, ao avaliar as DCE, identifica-se a preocupação com
a definição e o detalhamento dos conteúdos estruturantes. Tais conteúdos passam a assumir
identidade organizada por meio da sistematização e estratificação em níveis que possibilitam ao
professor ter a clareza dos conteúdos sugeridos para o ensino da arte em virtude do amadurecimento
cognitivo e emocional dos alunos nos diferentes níveis de ensino.
Fica evidenciado, com isso, que as DCE consideram a escola pública como a principal
fonte de acesso ao saber. Deste modo, a importância da retomada do valor atribuído aos conteúdos
disciplinares que orientam este documento curricular fica em destaque.
Cabe notar, também, que as DCE têm como horizonte teórico o materialismo histórico
dialético e vinculam-se ao campo das teorias críticas que têm por objetivo a formação do estudante
para a compreensão da realidade visando à transformação social, política e econômica e não apenas
a reprodução de modelos que fortaleceram o quadro social no qual está inserido. Assim sendo, pode
se afirmar que as DCE contemplam saberes para a mudança de uma sociedade e não simplesmente a
manutenção do ambiente social e econômico fundamentado na desigualdade, sobretudo de
oportunidades.
Vale ressaltar que os PCN, então, foram elaborados partindo do pressuposto de que em
uma sociedade globalizada em termos econômicos, informacionais e culturais, altamente
126
dependente da tecnologia, o aluno deveria buscar a sua inserção em tal mundo globalizado
adquirindo competências e habilidades para tanto. Nesse sentido, a escola teria como função
precípua oferecer condições para a inserção, garantindo por meio do currículo o fornecimento das
condições básicas que encaminhariam os alunos nessa direção.
Sendo a cidadania o objetivo maior do currículo, esta seria alcançada a partir da formação
do sujeito crítico aqui compreendido como um indivíduo que conhece o mundo e sabe nele atuar, ou
seja, participa da sociedade não para transformá-la, no sentido de romper com a sua organização, e
sim contribuir cada vez mais para o aprimoramento do mundo globalizado.
A partir dessas representações, o ensino de arte teria uma função importante, pois a arte, ao
conter essencialmente elementos de expressão e de comunicação tão necessários à vida globalizada,
poderia auxiliar na tarefa de preparação para a inserção social dos alunos. Por meio da ênfase na
capacidade criadora, o professor seria um mediador no processo de ensino e aprendizagem,
considerando os alunos como pessoas criativas que muito poderiam contribuir para o processo
produtivo, pois a criatividade é uma das principais exigências do mundo globalizado.
Em contraposição a essas representações de sociedade, de aluno e de escola, bem como à
função do ensino de arte, é que foram elaboradas as DCE. Partindo da representação de que no
mundo globalizado, que é o atual estágio do capitalismo, a sociedade é desigual e injusta devido às
perversidades atribuídas ao sistema capitalista, busca-se a superação desse sistema no sentido de
fornecer elementos para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Nesse contexto, busca-se formar o aluno crítico que reconheça o mundo em que vive e
contribua para a transformação da sociedade globalizada tornando-a menos desigual e mais justa.
Para essa formação a escola deveria centrar-se nos conteúdos reforçando suas especificidades,
fornecendo elementos teóricos para a aquisição de conhecimentos que tornariam possíveis a
transformação da organização da sociedade capitalista.
O ensino de arte pautado na articulação dos sentidos e preconizado pelos PCN é
considerado alienação dos sentidos pelas DCE, que sugerem a humanização dos sentidos nessa área
específica do currículo para se opor à formação direcionada aos moldes neoliberais, pois, somente
através da humanização dos sentidos o ensino de arte poderia cumprir seu papel na formação de
sujeitos críticos ao sistema capitalista e dar condições para que eles se posicionem perante a
sociedade globalizada e atuem de modo a transformá-la. Eis as principais diferenças
representacionais e suas relações com o ensino de arte presentes nos currículos aqui abordados.
Em face dessas considerações, observaram-se, a partir da análise dos questionários com os
arte-educadores do Paraná, as representações e suas articulações com o ensino de arte presente nos
PCN e nas DCE, que foram reinterpretadas pelos professores, os quais consideraram a
aplicabilidade prática relativamente boa desses currículos no cotidiano escolar.
127
A partir da análise dos dados, pode-se perceber a necessidade de envolver os atores do
ensino da arte, no caso os professores das mais diversas linguagens artísticas, na construção e
reflexão sobre as diretrizes, uma vez que a maioria afirma não ter participado de modo algum da sua
elaboração. Talvez seja exatamente por esta razão que tenhamos a percepção da ausência de vínculo
entre os PCN e a realidade percebida em sala de aula pelo professor.
A apresentação dos dados coletados durante a pesquisa com os professores do Colégio
Estadual do Paraná confirma a crítica referida anteriormente pelos nossos referenciais que, apesar
de considerarem a compreensão dos PCN parcialmente fácil, a minoria recebeu orientações sobre os
parâmetros do documento e, mesmo em condições controversas a respeito da compreensão, a
maioria afirmou utilizar o documento na elaboração do seu planejamento em sala de aula após a
publicação dos parâmetros.
Outro dado relevante aponta que a maioria dos professores dedicam seus planejamentos
para contemplar nas suas aulas a área em que obteve formação na licenciatura. Contrapondo a esta
prática, os PCN sugerem que as linguagens da dança, teatro, música e artes visuais sejam
trabalhadas de forma integrada, mas esta proposta é interpretada pelos professores como
desvinculada da realidade da escola brasileira.
Entretanto, isso não significa que o professor considere as linguagens artísticas
classificadas por nível de importância e apontam a igualdade de abordagem da dança, do tetro, da
música e das artes visuais bastante positiva, mas preferem estabelecer trabalhos com seus alunos
principalmente na linguagem de sua formação acadêmica.
No que tange as práticas dos professores em relação às DCE, eles se percebem mais
participativos, não somente em relação à aplicação em sala de aula, mas também foram
entrevistados que declararam fazer parte do processo de escrita do documento. Esta participação na
escrita das DCE é exatamente o oposto ao processo de escrita dos PCN, no qual não foi identificada
nenhuma participação em sua escrita. Os professores afirmaram utilizar as DCE com frequência
como documento norteador do plano de trabalho docente e apontam como positiva a valorização
das diferentes linguagens artísticas, mesmo que ainda apontem como negativa a obrigatoriedade de
trabalhar com todas as linguagens.
4 BREVE DISCUSSÃO
Cabe observar que este estudo convida para que sejam desenvolvidos outros estudos no
sentido de conhecer melhor os atores no processo de ensino da arte do estado do Paraná; identificar
os pontos evidentes em que as DCE estão desvinculadas da realidade do cotidiano; incrementar a
comunicação das diretrizes; identificar as possíveis demandas de treinamento, oportunizar mais
128
troca entre os atores do fazer artístico e identificar como os professores de Arte perceberão a Base
Nacional Comum Curricular, documento que está em fase de aprovação e será tido como o
documento oficial vigente para os anos que seguem no caminho da arte-educação do Brasil.
Diante de todo o debate, este estudo não contempla todos os aspectos envolvidos no ensino
da arte, outrossim, abre inúmeras possibilidades para o aprofundamento do tema em outras
pesquisas.
REFERÊNCIAS
ALVES, F. A. C. A novidade (ou continuidade?) de um currículo pós-moderno. Colabor@ - Revista Digital da CVA-Ricesu, v. 2, n. 6, mar. 2004.
ARCO-VERDE, Yvelise F. S. Introdução às diretrizes curriculares. Superintendência da Educação do Estado do Paraná. Curitiba: SEED, 2003.
BARBOSA, Ana M. (Org.). Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.
______. Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.
______.Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998.
______. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998a.
______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental – Arte. Brasília: MEC, 1998b.
BUORO, Anamelia B. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
CANCLINI, Néstor García. Culturas hibridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. Buenos Aires: Sudamericana, 1992.
CERVO, Armando Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. São Paulo: Makron Books, 1996.
COUTINHO, C. P; CHAVES, J. H. O estudo de caso na investigação da tecnologia educativa em Portugal. Revista Portuguesa de Educação, Universidade do Minho, 2002.
CRESWELL, J. W. Research design: qualitative and quantitative approaches. Thousand Oaks: SAGE, 1994.
FUSARI, Maria F. R; FERRAZ, Maria H. C. T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
129
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LIMA, Marcio J. C. Neoliberalismo e educação. In: Studia Diversa, CCAE-UFPB, v. 1, n. 1, out. 2007.
LOPES, A. C; MACEDO, E. Nota introdutória: reconfigurações nos estudos sobre políticas de currículo. Currículo sem Fronteiras, v. 6, n. 2, p. 5-9, jul./dez. 2006.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MARRACH, S. A. Neoliberalismo e Educação. In: GHIRALDELLI JUNIOR, P. (Org.). Infância, Educação e Neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 1996. p. 42-56.
MATOS, M. C; PAIVA, E. V. Hibridismo e currículo: ambivalências e possibilidades. Currículo sem Fronteiras, v. 7, n. 2, p. 185-201, jul./dez. 2007.
MENDES, J. E. Ideologia neoliberal, gestão escolar e trabalho docente. GT 09 – Trabalho e Educação. 26º Reunião Anual da ANPED, 2003. Disponível em: <www.anped.org.br>. Acesso em: dez. 2010.
MORAES, Reginaldo. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai? São Paulo: Editora Senac, 2001.
MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: Investigações em Psicologia Social. Trad. Pedrinho A. Guareschi. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
OSINSKI, Dulce R. B. Arte, história e ensino: uma trajetória. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
PACHECO, José A. Currículo: Teoria e Práxis. Porto: Porto Editora, 1996.
PARANÁ. SEED. DEM. Diretrizes Curriculares de Arte, 2006.
PEDRA, José Alberto. Currículo, conhecimento e suas representações. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002.
PONTE, João Pedro. Estudos de caso em educação matemática. In: Bolema, n. 25, p. 105-132, 2006.
PORTILHO, Evelise. Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição. Rio de Janeiro: Wak, 2009.
RIZZI, Maria Christina de Souza. Caminhos Metodológicos. In: BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2003.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
SILVA, Manuel A. F da. A educação num contexto de hegemonia neoliberal. In: Currículo sem Fronteiras, v. 7, n. 1, p. 206-242, jan./jun. 2007.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. p. 156.
130
SOUZA, Denise Martins Américo de. Parâmetros curriculares de história: do discurso oficial sobre a explicação histórica às elaborações de professores das séries iniciais. Dissertação (Mestrado) – UEL. Londrina, 2009.
TAVARES, José Newton Tomazzoni. A política educacional da união e os currículos do Ensino Fundamental: os PCNs. Dissertação (Mestrado) – PUC-Minas Gerais. Belo Horizonte, 2002.
TEIXEIRA, B. B. Uma política e vários contextos: os PCN do ensino fundamental. In: Revista Inter Science Place, ano 1, n. 3, dez. 2008.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VOLPE, Patrícia. Parâmetros curriculares nacionais do ensino de Arte: um diálogo com docentes. Dissertação (Mestrado) – UNESP – SP. São Paulo, 2006.
YIN, Robert. Case study research: design and methods. 2 ed. Thousand Oaks, CA: SAGE Publications, 1994.
131
POSTERES
132
Formação de plateia
Junior Ken Iti Obata
Universidade Estadual do Paraná – Campus II FAP
Modalidade da apresentação: Pôster
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo relatar a minha experiência e os procedimentos artísticos e pedagógicos que nortearam o projeto de formação de plateia. Projeto que teve como finalidade aproximar o espaço físico e linguístico entre o aluno e a obra artística. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) no ensino de Arte, o documento objetiva ao profissional formado nesta área do conhecimento humano propiciar ao seu aluno uma educação que contribua para a sua formação humana, desenvolvendo a sua sensibilidade, percepção e a imaginação. É por meio das práticas artísticas que os alunos se relacionam com os diferentes saberes inerentes a obra de Arte; além disso, sendo a obra um objeto de conhecimento, deve-se atentar para os temas que são abordados nela, isto é, do que a obra está falando? E propor uma reflexão construtiva a partir disso. Nesse sentido, o desenvolvimento do trabalho consiste em relatar procedimentos básicos para ampliar as possibilidades de mediação teatral significativa, no âmbito da formação de plateia. Pretende-se que o profissional construa o conhecimento cênico, a partir da observação que o aluno tem sobre a encenação teatral, possibilitando com que o espectador/aluno construa a sua intepretação pessoal de forma autônoma e critica, respeitando a sua subjetividade e a poética do autor. Portanto, a formação de plateia tem por finalidade contribuir para a formação humana e sensível, por meio da apreciação crítica e reflexiva que o aluno tem sobre a obra.
Palavras-chave: mediação teatral, educação do sensível, interpretação pessoal.
Abstract
The present work has as objective to report my experience and the artistic and pedagogical procedures that guided the project of formation of audience. Project that had as purpose to approximate the physical and linguistic space between the student and the artistic work. According to the National Curricular Parameters (NCP) in Art teaching, the document aims to the professional trained in this area of human knowledge to provide to his student an education that contributes to his human formation, developing his sensitivity, perception and imagination. It is through artistic practices that students relate to the different knowledges inherent in the work of Art; Moreover, since the work is an object of knowledge, should we pay attention to the themes that are addressed in it, that is, what the work is talking about? And propose a constructive reflection from that. In this sense, the development of the work consists in reporting basic procedures to expand the possibilities of significant theatrical mediation, in the scope of audience formation. It is intended that the professional construct the scenic knowledge, based on the student's observation of the theatrical stage, allowing the viewer / student to construct their personal interpretation in an autonomous and critical way, respecting their subjectivity and the poetics of the author. Therefore, the formation of audience is intended to contribute to the human and sensitive formation, through the critical and reflective appreciation that the student has over the work.
Keywords: theatrical mediation, education of the sensitive, personal interpretation.
REFERÊNCIAS
133
DESGRANGES, Flávio. Mediação teatral: anotações sobre o projeto de formação de público. Urdimento, n.10, dez. 2008, p. 75-83.
PAVIS, Patrice. Análise dos espetáculos, São Paulo: Perspectiva, 2011.
PUPO, Maria. Mediação artística, uma tessitura em processo. Urdimento. n. 17, set. 2011, p. 113-121.
134
Subtema 3 – Designs de ensino em diferentes ambientes de aprendizagem
135
RELATO DE EXPERIÊNCIA
136
É brincando que se aprende
Ligia Ferreira Fedele
Colégio Dom Aguirre
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Ser professor é um desafio, mas trabalhar com adolescentes é um desafio ainda maior, pois essa fase da vida é muito importante e representa um período de transformações, em que o adolescente procura no meio a construção da própria identidade. Como forma diferente de ensinar, buscou-se nos jogos uma forma prática e lúdica de os alunos aprenderem e serem protagonistas da sua própria aprendizagem. Dessa forma, este trabalho teve como objetivos solicitar, aos alunos do 8.º ano do Ensino Fundamental II , a confecção de um jogo didático pedagógico sobre os cinco sentidos, desenvolvendo habilidades diversas, como, por exemplo, construir regras e trabalhar em grupo. Com este trabalho foi possível verificar que os alunos ficaram muito interessados e conseguiram absorver o conteúdo de uma forma prazerosa; e puderam perceber que são capazes de desenvolver atividades diversificadas e com qualidade.
Palavras-chave: brincadeiras, jogos, cinco sentidos.
Abstract
Being a teacher is a challenge, but working with teenagers is an even greater challenge, for this stage of life of a human being is very important and is a period of transformation, where adolescents searching in the middle, the construction of identity. How different way of teaching, sought to games in a way practical and playful students learn content and be protagonists of their own learning. Thus, this study aimed to ask the students of the 8th grade of elementary school II to manufacture a pedagogical educational game about the five senses, developing various skills, such as building rules and working together. With this work we found that the students were very interested and managed to absorb content in a pleasurable way and were able to realize that they are able to develop diversified and quality activities.
Keywords: jokes, games, five senses.
137
1 INTRODUÇÃO
A adolescência é uma fase da vida muito importante e representada por um período de
transformações, em que o adolescente procura no meio a construção da própria identidade.
Contudo, a adolescência não é um estado, mas um processo dinâmico, ou seja, é um período de
transição na vida do ser humano, em que ele deixa de ser criança para se tornar jovem e,
posteriormente, adulto. É nesse período que o adolescente adquire uma identidade particular e se
integra no mundo como um ser social (CAMPOS, 2002).
O trabalho da escola com o adolescente deve ser dinâmico e contextualizado, pois nessa fase
da vida ele deve se sentir autor do seu conhecimento e desenvolver atividades que o envolva,
sentindo que pode aprender na prática conteúdos que, muitas vezes, seriam irrelevantes em seu
ponto de vista, uma vez que o avanço tecnológico contribui para que as aulas tradicionais se tornem
desinteressantes e tediosas.
No cenário atual, uma das opções de se trabalhar de maneira diferenciada é fazer uso de
jogos pedagógicos. O jogo é importante para o desenvolvimento da aprendizagem de uma criança e
até mesmo de um adolescente, pois faz parte do seu processo de desenvolvimento. Desde os
primórdios, os jogos já eram utilizados, porém sua especificidade era atribuída de maneira diferente,
pois era colocada como forma de sobrevivência e não como entretenimento ou prazer natural,
levando o indivíduo a despertar o conhecimento de maneira prazerosa e lúdica.
Quando uma pessoa é levada a jogar, suas habilidades são colocadas em prática, de maneira
técnica e mágica, interagindo com o meio em que vive, relacionando a cultura e a educação. Se,
além de jogar, o aluno produzir seu próprio jogo, isso o tornará participante ativo de seu próprio
conhecimento, transferindo-lhe maiores responsabilidades para desenvolver não apenas seu
conhecimento, mas também sua capacidade cognitiva.
Os jogos já foram vistos como algo negativo, principalmente por profissionais de educação,
que chegaram a excluí-los de suas atividades diárias dentro do âmbito escolar por acreditarem que
se tratavam de algo que trazia prazer, porém não se agregava ao ato de estudar.
Mas Vygotsky (1991) afirma que a brincadeira, mesmo sendo livre e não estruturada, possui
regras. Para o autor, todo tipo de brincadeira está embutida de regras, até mesmo o faz de conta
possui regras que conduzem o comportamento do indivíduo. Para o autor, o brincar é essencial para
o desenvolvimento cognitivo, pois os processos de simbolização e de representação levam ao
pensamento abstrato.
138
Para Piaget (1975) os jogos e brinquedos aparecem sempre munidos de regras, fazendo com
que haja uma aceitação de regras impostas, principalmente pelas crianças. Mas os adolescentes,
confeccionando suas regras podem perceber o quão importante e necessário é o desenvolvimento de
regras para que o seu trabalho dê os resultados esperados. As regras dos jogos têm relação íntima
com as regras sociais, morais e culturais existentes (BROUGÈRE; WAJSKOP,1997).
Segundo Piaget (1995), a escola deverá ser primordial para a formação do indivíduo, pois
em seu âmbito o aluno se educa e incorpora conhecimentos; e os jogos não são meramente jogos,
eles trazem um teor de responsabilidade sem perder o prazer e o entusiasmo.
Em todos os níveis da educação, buscam-se formas diferentes de ensinar. O professor está
sempre à procura de estratégias, fazendo com que os alunos possam ser os protagonistas de seu
próprio conhecimento. Para Piaget (1975) “a educação lúdica contribui com as crianças e os
adolescentes em vários aspectos, pois lhes proporcionam um crescimento saudável e um
desenvolvimento completo de suas capacidades”.
Tudo que agrada e nos dá prazer nos ensina de forma mais eficaz.
2 OBJETIVOS
O presente trabalho teve como principais objetivos:
Confeccionar um jogo didático para a faixa etária dos adolescentes com cerca de 13
anos.
Estimular a aprendizagem dos alunos sobre o conteúdo dos cinco sentidos utilizando o
material didático do Sistema Positivo.
Proporcionar um espaço de troca de ideias sobre a confecção dos jogos, suas regras e
perguntas.
Desenvolver nos alunos a habilidade de trabalhar em grupo e organizar ideias.
Fazer os alunos valorizarem o seu trabalho e descobrir que têm capacidade para executar
tarefas diversas.
3 METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado por 105 alunos do 8.º ano do Ensino Fundamental II do
Colégio Dom Aguirre, da cidade de Sorocaba – SP, no mês de setembro de 2015 e 2016.
As etapas de desenvolvimento para a realização do trabalho foram as seguintes:
139
Apresentou-se a ideia dos jogos e o que era para fazer em linhas gerais; depois foi
dado um tempo para que os alunos pudessem se organizar em grupos (de até 5
pessoas) e desenvolver uma ideia inicial do que pretendiam fazer.
O prazo para organização das ideias e para a pré-confecção foi de 15 dias.
Foram dadas duas aulas para que os alunos terminassem os jogos.
Uma aula foi utilizada para que eles brincassem com os seus jogos e trocassem-nos
com outros grupos para brincar também.
Os jogos foram deixados em exposição no pátio principal do colégio para que os
demais alunos da escola pudessem ver e aprender um pouco sobre o assunto. Em
alguns casos, até puderam brincar também.
Os alunos foram avaliados da seguinte forma:
Pelo capricho e diversidade do trabalho.
Pela elaboração das regras e das perguntas do jogo.
Pelo momento que usaram para jogar.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O trabalho apresentado foi desenvolvido em quatro aulas e os alunos também tiveram que
dedicar um tempo extra-classe para a elaboração do jogo. Todos os alunos participaram do trabalho
e a maioria se empenhou muito para apresentar um jogo diferente e ao mesmo tempo atrativo, tanto
para si, como para os demais colegas.
No período de confecção dos jogos, os alunos mostraram que estavam dominando o
conteúdo abordado, pois tiveram que estudar para elaborar as questões. Quando estavam jogando,
ficou evidente que queriam ganhar e estavam atentos às perguntas para que não fossem enganados a
fim de ganhar o jogo.
Adiante, apresentam-se algumas imagens que demostram o desenvolvimento do trabalho:
Figura 1: alunos do 8.º ano B (2015) apresentando
seu jogo de tabuleiro e cartas.
Figura 2: alunas do 8.º ano B (2016) mostrando seu jogo de tabuleiro.
140
Figura 3: alunos do 8.º ano B (2016) confeccionando os jogos.
Figura 4: alunos do 8.º ano B (2016) confeccionando os jogos.
Figura 5: Alunos do 8.º ano B (2016) brincando e interagindo
Após toda essa dinâmica, os trabalhos foram expostos no pátio principal do colégio durante
uma semana. Nesse período, os alunos de outras séries puderem observar e até mesmo brincar com
141
alguns jogos expostos, sendo esta uma maneira diferente de aguçar a curiosidade dos demais e fixar
a expectativa de que poderão fazer o mesmo quando chegarem ao 8.º ano.
Figura 6: Trabalhos de 2015 expostos no pátio do colégio
Figura 7: Trabalhos de 2015 expostos no pátio do colégio
Figura 8: Trabalhos de 2016 expostos no pátio do colégio
Por meio do desenvolvimento de um trabalho diversificado, verificou-se que os alunos
participaram de forma mais ativa, aprenderam com o lúdico e puderam perceber que foram capazes
de produzir jogos interessantes e criativos. Com a exposição dos trabalhos, pode-se notar que
elevou-se a autoestima dos alunos, que conseguiram ficar mais confiantes para produzir cada vez
mais e melhor em sua jornada acadêmica e em sua vida.
Como cita Kishimoto (1996, p. 37) “a utilização do jogo potencializa a exploração e a
construção do conhecimento, por contar com a motivação interna típica do lúdico”.
Cordazzo & Vieira (2007) afirmam que brincar é uma estratégia a mais da aprendizagem e
que trará benefícios tanto para os alunos, como para os professores que podem utilizar recursos
diversificados para atingir os objetivos propostos.
142
Com isso, nota-se que o trabalho diferenciado e lúdico só tem a contribuir com o processo
de ensino e aprendizagem, trazendo muitos benefícios. O professor se desgasta menos em sala de
aula deixando um pouco de lado as aulas expositivas, e aproxima-se mais dos alunos, fazendo com
que eles se tornem capazes de construir seu próprio conhecimento de forma sutil e prazerosa, ou
seja, brincando.
5 CONCLUSÃO
De acordo com o exposto, pode-se concluir que a atividade prática contribuiu bastante para
o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Eles conseguiram adquirir o conhecimento teórico de
maneira prazerosa e se sentiram valorizados quando seus trabalhos foram expostos para os demais.
Além disso, desenvolveram ainda mais a práticas do trabalho em grupo, que trará benefícios
importantes para seu futuro.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, L. M. L. et al. A produção de jogos didáticos para o ensino de ciências e biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. 2002. Disponível em: <www.unesp.br/prograd/PDFNE2002/aproducaodejogos.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
BROUGÈRE, G.; WAJSKOP, G. Brinquedo e cultura. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
CORDAZZO, S. T. D. VIEIRA, M. L. A brincadeira e suas implicações nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento. In: Estudo e Pesquisa em Psicologia. v. 7, n. 1, UERG, Rio de Janeiro, jun. 2007. Disponível em: <www.revispsi.uerj.br/v7n1/artigos/pdf/v7n1a09.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.
PIAGET, J. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1975.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
143
Uma agência de propaganda em sala de aula
Antônio de Oliveira Filho
Professor de Língua Portuguesa, Especialista em metodologia do ensino de Língua Portuguesa e Literatura
Colégio Santa Teresinha – RS
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O presente trabalho apresenta o projeto “Uma agência de propaganda em sala de aula”, desenvolvido na disciplina de Língua Portuguesa do 8.º Ano do Ensino Fundamental, no Colégio Santa Teresinha, em Campo Bom – RS. O projeto surgiu da necessidade de se trabalhar elementos de persuasão: que eles possam ser identificados e utilizados pelos alunos em produções textuais. Ele utiliza a publicidade como objeto de estudo e de produção de texto, pois, através dos seus gêneros, utiliza a persuasão para vender um produto ou um serviço. O desenvolvimento do trabalho ocorreu em etapas, tais como Imersão, Análise, Concepção e Modelagem, e os alunos tiveram de produzir peças publicitárias em vídeo, áudio e impresso para “clientes
reais”. Proporcionar aos alunos a oportunidade de produzir textos utilizando um interlocutor concreto
engrandeceu o trabalho. Como resultado, o projeto obteve uma participação efetiva dos alunos e, por meio das apresentações das propagandas criadas, verificou-se a aquisição dos saberes propostos.
Palavras-chave: persuasão, texto, publicidade, propaganda, saberes.
Abstract
This article presents the project AN ADVERTISING AGENCY IN CLASSROOM, developed in the discipline of Portuguese Language of the 8th grade of Elementary School, at Santa Teresinha School, Campo Bom - RS. The project’s idea came up from the need to work on elements of persuasion: identification and
use by students in textual productions. The proposal uses Publicity as an object of study and text production, because its genres use the persuasion to sell the product or service. The project was developed in stages, such as Immersion, Analysis, Design and Modeling, and students had to produce advertisings in video, audio and printed for "real clients". Providing students with the opportunity to produce texts using a concrete interlocutor give the project a great importance. As a result, the project has an effective participation of the students and, through the presentations of the advertisements, it was verified the acquisition of the proposed knowledge.
Keywords: persuasion, text, publicity, advertising, knowledge.
144
1 INTRODUÇÃO
A cada dia que passa, a tarefa do professor de Língua Portuguesa torna-se mais difícil no
que se refere aos trabalhos de produção textual. Fazer com que os alunos produzam textos que
atendam a critérios como estrutura e correção ortográfica já é difícil, se acrescentarmos à proposta
critérios como o uso da criatividade e da persuasão, o trabalho se tornará ainda mais desafiador. É
de conhecimento geral que uma tarefa de produção textual não é o momento mais aguardado pelos
alunos.
Crianças, jovens e adultos estão cercados de propagandas que influenciam suas compras e,
até mesmo, seus estilos de vida. A publicidade tem o poder de seduzir, pois utiliza muita
criatividade e persuasão para atingir seus objetivos.
O texto publicitário é um excelente objeto de estudo, por ser atraente quando se tenta
“desvendar seus segredos”. Uma vez que os gêneros textuais da publicidade forem estudados e suas
características forem compreendidas, será o momento ideal para colocar em prática todo o
aprendizado por meio de uma produção textual.
Com os alunos inseridos dentro do universo publicitário, fica muito mais fácil e atrativa a
tarefa de produção de textos. A utilização de diferentes linguagens, seja por meio de imagem, vídeo
ou de áudio, auxilia muito nesse processo. Não bastasse isso, o “uso do concreto” proporciona ao
aluno um objetivo maior a ser atingido, um “desafio prazeroso”.
Assim surgiu o projeto “Uma agência de propaganda em sala de aula”, desenvolvido na
disciplina de Língua Portuguesa do 8.º ano do Ensino Fundamental, no Colégio Santa Teresinha,
em Campo Bom – RS.
2 OBJETIVOS
O projeto “Uma agência de propaganda em sala de aula” tem como objetivo abrangente a
aquisição de saberes que, por sua vez, resultam na produção de novos saberes por meio de textos.
De acordo com Chiappini (2000), conceber o texto como unidade de ensino/aprendizagem “é
entendê-lo como um lugar de entrada para este diálogo com outros textos, que remetem a textos
passados e que farão surgir textos futuros” (p. 22). A autora acrescenta que, uma vez definido o
aluno como produtor de textos, ele passa a ser reconhecido como “participante ativo deste diálogo
contínuo: com textos e com leitores”.
Já como objetivos mais específicos, o projeto espera:
Definir/diferenciar publicidade e propaganda;
Identificar gêneros publicitários por meio de suas características;
145
Identificar os tipos de linguagens utilizados pelos gêneros publicitários;
Identificar o uso de cores na publicidade;
Identificar elementos de persuasão no texto publicitário;
Definir/diferenciar produto e serviço;
Identificar produto e serviço;
Identificar público-alvo;
Produzir propagandas para clientes reais;
Utilizar recursos de mídia para a produção de textos;
Propiciar aos alunos atividades de produção de texto persuasivo;
Propiciar aos alunos atividades de leitura em voz alta;
Propiciar aos alunos atividades de dicção;
Promover a autoconfiança e a desinibição frente ao microfone e às câmeras;
Transpor a atividade de produção textual para fora da sala de aula.
3 METODOLOGIA Conforme Chiappini (2000, p. 21), “são os saberes do vivido que trazidos por ambos –
alunos e professores – se confrontam com outros saberes, historicamente sistematizados e
denominados ‘conhecimentos’ que dialogam em sala de aula”. Para tanto, é preciso criar espaços
para os saberes e confrontá-los com os conhecimentos sistemáticos.
Isso implica uma dialogicidade constante e o abandono de crenças, quer por parte do professor, quer do aluno. Aceitar a interação verbal como fundante do processo pedagógico é deslocar-se continuamente de planejamentos rígidos para programas de estudos elaborados no decorrer do próprio processo de ensino/aprendizagem. (CHIAPPINI, 2000, p. 21) Chiappini (2000) destaca, ainda, que a substituição de “redação” por “produção de textos” é
aceitar o “conjunto de correlações, que constitui as condições de produção de cada texto, cuja
materialização não se dá sem ‘instrumentos de produção’, no caso os recursos expressivos
mobilizados em sua construção” (p. 22).
Sendo assim, as atividades foram desenvolvidas por meio de:
Aulas expositivas / discussão oral / troca de experiências no grande grupo;
Trabalhos em grupos;
Pesquisa na internet no laboratório de informática;
Textos em áudio e vídeo;
Textos escritos;
Palestra / Relato de experiências;
146
Visita de campo;
Entrevista;
Gravações no laboratório de informática;
Produção de propaganda impressa;
Produção de propaganda em áudio;
Produção de propaganda em vídeo;
Apresentação oral argumentativa e persuasiva.
4 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
Para o seu desenvolvimento, o professor elaborou etapas que visam à organização dos
saberes (aquisição e troca) antes da produção textual. Para Chiappini (2000), “o ponto de partida
para o desenvolvimento de cada proposta de redação é um trabalho de sensibilização que
proporciona aos participantes um mergulho prático, pois participativo e reflexivo, no ato de redigir”
(p. 121).
Assim, o presente trabalho contou com as seguintes etapas:
1. Questionamento / Discussão Oral
O ponto de partida foi o questionamento que o professor fez à turma:
Qual a propaganda de TV que marcou a tua sua infância? Por quê?
É importante deixar que todos falem e se obedeça a uma ordem. É bem provável que a
discussão se torne uma “sessão nostalgia” em que os alunos, além das propagandas, comecem a
destacar outros programas de televisão. Sendo assim, é fundamental a mediação do professor para
que permaneçam focados na questão proposta.
Em seguida, apresentou a outra pergunta:
Qual a propaganda de TV da atualidade que tu mais gostas? Por quê?
Depois de discutidas as questões, o professor destacou a importância de que se possam ser
“relembradas visualmente” as propagandas citadas, já apresentando a continuidade do assunto
abordado, bem como a finalidade da criação de peças publicitárias.
2. Pesquisa Esta etapa foi desenvolvida no laboratório de informática da escola e contou com as
seguintes propostas:
Por meio de sites de vídeos, pesquisar os comerciais citados na discussão oral;
Por meio de sites de vídeos, pesquisar propagandas premiadas;
147
Pesquisar o uso de cores na publicidade (usos e significados);
Pesquisar exemplos de propagandas referentes à pesquisa sobre cores;
Identificar elementos de persuasão utilizados, como o apelo emocional direto ou, até
mesmo, mensagem subliminar.
Citelli (1997), afirma que os elementos de persuasão estão diretamente ligados ao discurso
“como a pele ao corpo”. Para o autor, “é muito difícil rastrearmos organizações discursivas que
escapem à persuasão; talvez a arte, algumas manifestações literárias, jogos verbais, um ou outro
texto marcado pelo elemento lúdico” (p. 6).
3. Palestra / Relato de experiência
Para uma abordagem mais profissional e direta, nesta etapa o professor trouxe como
palestrante o designer gráfico Gilnei Silva, com vasta experiência em agência de publicidade,
especialista em identidade visual corporativa <http://gilneisilva.com>.
O profissional falou sobre seu trabalho, destacando que, inicialmente, as agências
incorporavam vários profissionais, mas, hoje, muitos processos são desenvolvidos separadamente,
bem como foram criados novos processos, como é seu caso.
O que foi apresentado pelo palestrante vai ao encontro do que Barreto (1994) ressalta: “As
agências cresceram, amadureceram e descobriram a necessidade de outros departamentos e de
especialistas para operá-los” (p. 23). O autor lembra que, devido à comunicação eletrônica, outros
profissionais – músicos, cineastas, produtores de rádio e de televisão, teatrólogos, etc. – foram
inseridos nas agências.
Gilnei Silva destacou muito a palavra “criatividade”. Segundo Barreto (1994), “a
criatividade publicitária se exerce com todo o seu charme e toda a sua eficiência, para estabelecer
diferenciais atraentes a favor dos produtos ou serviços que anuncia” (p. 40).
Em seguida, o palestrante sugeriu os seguintes passos para a criação publicitária: Imersão,
Análise, Concepção e Modelagem, que foram incorporadas às etapas do projeto do professor.
Figura 1: Momento da palestra (foto produzida pelo professor)
148
4. Separação dos grupos
O professor destacou para os alunos que, a partir daquele momento, fariam parte de uma
agência de propagandas e teriam clientes para os quais deveriam criar três peças publicitárias: uma
impressa, uma em vídeo e uma em áudio. Para que a produção não fosse propriamente fictícia,
foram apresentados seis estabelecimentos comerciais do município: Reflexo Ótica, Reflexus
Cosméticos, Espaço Verde, Agropecuária Birk, Go Calçados e Apoteka Farmácia de Manipulação,
bem como um estabelecimento de serviço: Inspire Academia. Estes estabelecimentos foram
contatados anteriormente pelo professor, aceitando participar do projeto.
Os alunos foram divididos em grupos, conforme o estabelecimento. O sorteio dos grupos foi
por cores (os estabelecimentos tinham cores preestabelecidas pelo professor, sem que os alunos
soubessem). Os grupos foram formados por quatro ou cinco alunos.
5. Imersão
No primeiro passo para a realização do trabalho, os alunos tiveram de marcar visita e
entrevista nos estabelecimentos para conhecerem o(s) produto(s) comercializado(s) ou o(s)
serviço(s) prestado(s).
Figura 2: Visita do grupo à Go Calçados (foto produzida pelos alunos).
149
6. Análise
Depois de coletadas as informações, os grupos analisaram os apontamentos fornecidos pelos
proprietários/gerentes e definiram o público-alvo.
7. Concepção
Uma vez definido o público-alvo, os grupos passaram ao processo de criação das
propagandas por meio de sugestões de ideias (brainstorming). De acordo com Barreto (1994, p. 59),
“ideia não tem hora e nem lugar para chegar”.
Butenshaw, Mahon e Barfoot (2010, p. 104), ressaltam a importância de se ter muitas ideias,
embora seja muito “comum que nossas primeiras ideias acabem sendo nossas melhores ideias”. Os
autores falam que, mesmo que se tenha uma grande ideia, é importante guardá-la e passar para a
próxima para que se tenha opções de escolha.
Nesta etapa, os alunos também tiveram de definir a melhor ideia.
8. Modelagem
Esta etapa contou com a parte prática, como:
Filmagens nos estabelecimentos e outras locações;
Gravações de áudio;
Criação da propaganda impressa;
Edição dos vídeos e áudios.
O projeto contou com a colaboração do professor responsável pelo laboratório de
informática da escola, que auxiliou os alunos no processo de edição.
9. Apresentação
150
Os grupos apresentaram seus trabalhos na sala de vídeo do colégio para a própria turma,
quando tiveram de justificar suas escolhas e técnicas utilizadas, bem como argumentar e persuadir o
público quanto à aprovação dos seus projetos.
Os alunos estavam com total domínio sobre “saber publicitário”, que se sentiram
confortáveis em comentar e apresentar críticas aos trabalhos apresentados.
10. Retorno ao cliente
O passo final foi a apresentação dos trabalhos para “os clientes”. Os grupos visitaram os
estabelecimentos e apresentaram seus trabalhos, também, justificando suas escolhas para as
produções.
Figura 3: Material impresso produzido para o Espaço Verde (produzido pelos alunos)
5 CONCLUSÕES E RESULTADOS
Várias foram as conclusões, mas vamos tratá-las como resultados concretos:
Grande envolvimento dos alunos;
Os gêneros publicitários passaram a despertar maior atenção nos alunos;
Desenvolvimento da criticidade por meio das análises das propagandas;
Desenvolvimento do poder de síntese;
Grande preocupação e resultado quanto à pontuação e dicção utilizadas nos trabalhos;
151
Por meio das apresentações e dos trabalhos, confirmou-se o entendimento das questões
estudadas, principalmente em relação à intencionalidade e persuasão.
REFERÊNCIAS
BARRETO, E. Abóboras ao vento: tudo o que a gente sabe sobre propaganda mas está esquecido. São Paulo: Globo, 1994.
BUTENSHAW, K., MAHON, N.; BARFOOT, C. Fundamentos da publicidade criativa. Tradução: Francisco Araujo da Costa. Porto Alegre: Artmed Editora, 2010.
CHIAPPINI, L. Aprender e ensinar com textos. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2000.
CITELLI, A. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 1997.
152
Utilização de TIC no ensino de Biologia: uma proposta para melhorar o processo de ensino
Kione Baggio Bordignon
Curso e Colégio Alliança; UNISEP (União de Ensino do Sudoeste do Paraná).
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Este artigo visa apresentar algumas considerações e resultados obtidos em atividades relacionadas ao uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) em aulas de Biologia com alunos do Ensino Médio. O objetivo do estudo foi proporcionar aos alunos do colégio a ampliação de possibilidades em adquirir informações por vias tecnológicas sobre os processos de divisão celular, assunto abordado dentro da disciplina de Biologia. O desenvolvimento da atividade foi nas dependências do próprio Colégio, usando o laboratório de informática como ferramenta auxiliar, os alunos puderam usar a internet, realizar a busca de maiores informações e na sequência elaboraram uma microaula, expondo para os demais alunos da turma por meio do projetor multimídia.
Palavras-chave: célula, internet, ensino.
Abstract
The intention of this paper presents some considerations and results from activities related to the use of Information and Communication (ICT) in health class in high school students. The study aimed to provide students with the college to increase opportunities to acquire information by means of technological processes of cell division, subject matter within the discipline of biology. The development of the activity was on the premises of the College itself, using the computer laboratory as an auxiliary tool, students could use the internet, perform the search for more information and the sequence produced a micro-lesson, explaining to other students in the class through the multimedia projector.
Keywords: cell, internet, education.
153
1 INTRODUÇÃO
O estudo dos processos de divisão celular é fundamental para os alunos, se faz necessário
para entenderem como as células de um ser vivo se multiplicam, assim como surgem os gametas
reprodutivos. Porém, este assunto é complexo para o professor conseguir transmitir e difícil para o
aluno entender por ser algo considerado “abstrato”, já que os alunos não conseguem fazer a
manipulação. Portanto, para um educador de escola pública ou privada que não possui um
laboratório de biologia de qualidade, ou, muitas vezes nem o possui, é fundamental a busca de
outras fontes, maneiras diversificadas de ensinar para instrumentalizar o ensino.
A Instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para que o assimilem, o recriem e, ao incorporá-lo, transformem-no em instrumento de construção pessoal e profissional. (GASPARIN, 2005, p. 53). Uma das alternativas é utilizar o laboratório de informática, visando incentivar a busca de
informações e visualização de imagens para que possam compreender melhor o assunto, ao utilizar
os recursos da internet.
“Embora o potencial dos recursos audiovisuais no ensino de biologia seja amplamente
reconhecido, os dados disponíveis indicam que são poucos e mal utilizados.” (KRASILCHIK, 2004,
p. 63). Fica cada vez mais evidente que se tem grandes possibilidades em um acervo de informações
que pode ser usado em benefício da melhoria da qualidade do ensino, mas muitos professores não o
utilizam, ou, quando usam ainda o fazem de maneira incorreta.
Cada vez mais os computadores fazem parte do nosso dia a dia. O seu uso de forma adequada nas escolas vem preocupando educadores que buscam elaborar atividades que desenvolvam o raciocínio e facilitem o aprendizado. (KRASILCHIK, 2004, p. 69). Dentro desse contexto podemos inserir o uso da internet, que viabiliza a busca de
informações atualizadas, imagens ou vídeos que ilustram melhor os assuntos abordados em sala.
Cabe aqui ressaltar a importância de o professor estar atento às formas de manipulação da
internet, e não apenas disponibilizar esse recurso ao aluno, mas ensiná-lo a operacionalizar esta
fonte de informação.
Neste trabalho, apresenta-se os métodos utilizados na tentativa de conseguir realizar esta
atividade obtendo o resultado satisfatório.
2 AS TECNOLOGIAS E O CONHECIMENTO
O uso das tecnologias passou a firmar-se cada vez mais em nosso cotidiano, servindo para
inúmeras atividades exercidas pelo homem.
154
Os materiais com que a sociedade satisfaz suas necessidades incluem, ao mesmo tempo, os
recursos e a tecnologia que transforma os recursos e as coisas que o homem deseja. A tecnologia
inclui, entretanto, não apenas instrumentos, máquinas e outros implementos, mas também os
conhecimentos e a habilidade acumulados necessários à utilização de quaisquer instrumentos
disponíveis. (CHINOY, 1967, p. 418).
Um dos elementos dentro da tecnologia usado para desempenhar estas práticas, é o uso do
computador e por meio dele o uso da internet.
[...] os computadores servem para inúmeras outras atividades que simulam investigações científicas, para formar ou consultar bancos e dados, para intercâmbio com outros alunos, professores, especialistas de outras escolas, outras instituições científicas, até de outros países, para estudar e produzir modelos, e hoje para apresentação de multimídia em data-show. (KRASILCHIK, 2004, p. 69). O computador apresenta-se como um instrumento propiciador de alternativas metodológicas
de ensino, basta saber usar; cabe, então, ao professor desenvolver habilidades e a compreensão de
como fazer uso desses equipamentos para fins educacionais.
A utilização desse recurso tecnológico de maneira adequada proporciona mudanças no
campo educacional com consequências satisfatórias para os resultados da aprendizagem, porém,
não significa dizer que ele mudará completamente a maneira de ensinar, pois exige conhecimento
para realizar ensinamentos dentro deste contexto.
Mesmo que ainda existam barreiras para a utilização deste recurso na educação, não se pode
deixar de lado as tentativas de uso com fins educativos.
Ao incorporar o uso de novas tecnologias como forma de ensinar, inicia-se um processo
diferenciado de repasse de conteúdos, onde o educador proporciona ao seu aluno maneiras
diversificadas para melhor exemplificar e entender o que lhe é transmitido, ao mesmo tempo que
instiga no aluno a busca por mais informações relacionadas aos assuntos abordados em sala de aula.
Um laboratório de informática contendo computadores conectados à internet já proporcionam isso,
cabendo ao professor conduzir esta aula com objetivos previamente estabelecidos, emergindo uma
nova concepção em seus alunos pela busca de informações.
Qualquer que seja a modalidade didática que o professor escolha e use, ela pode ser
complementada, com vantagem, por recursos tecnológicos como vídeo, retroprojetor, filmes,
programas e ferramentas tecnológicas, entre muitos outros. Em nossas escolas, muitos desses
instrumentos são ainda pouco usados, mas é necessário que os docentes conheçam sua utilidade
para que possam reivindicar sua aquisição. (KRASILCHIK, 2004, p. 111).
Nesse contexto se enquadra o uso da internet, a qual possibilita o fornecimento de dados e
informações que possam ser úteis e atualizados, deixando assim os alunos que têm contato com este
recurso mais próximos do mundo globalizado. Todavia, como já mencionado, deve partir do
155
educador um direcionamento para o uso destas ferramentas, não deixando lacunas para a distração
na aula e nem o desvio do foco do trabalho.
3 O ALUNO E A INTERNET
Na atualidade são poucas as escolas que ainda estão exclusas da portabilidade de recursos
tecnológicos como computador e internet, porém ainda as encontramos. Mesmo assim, os alunos
que se inserem em instituições com ausência deste recurso também demonstram um grande
despertar pelo uso desta tecnologia, caracterizando, assim, um ponto positivo para a busca do
aprender.
O querer conhecer antecede o conhecer. “Estimular os alunos a assumir o papel de sujeitos,
de participantes do ato de conhecer, aguça a curiosidade epistemológica.” (AULER, 2007, p. 15)
Da mesma forma que os alunos ingressantes nas escolas já tiveram contatos com este tipo de
ferramenta, facilita ao professor programar uma aula com a utilização destes recursos, não tendo
que explicar como manusear um computador ou acessar a internet, o que dificultaria ainda mais o
trabalho, todavia não coibiria de aplicar a atividade, por meio da mídia.
“Nessa midiatização da sala de aula, as tecnologias passam a constituir e definir o ambiente
de ensino, o entorno e o meio a partir do qual a situação de aprendizagem ocorre”. (CRUZ, 2008. p.
204). A internet possibilita ao aluno a busca de conhecimentos, mas o “como” esta busca de
informações ocorre é que deve ser cuidadosamente levada em consideração para não deixar falhas
no sistema de busca, caso contrário, irá dispersar os alunos no seu ambiente escolar.
Os alunos cada vez mais emergem para um mundo virtual, interagindo com pessoas de
vários lugares e de distâncias variadas, mas que por meio deste recurso se aproximam e podem
trocar informações em tempo real ou não. Quando o professor apresenta a proposta de trabalho
diferenciado usando este recurso, muitas vezes dá a entender que será simplesmente mais um
momento de descontração do que realmente aprendizado. O professor deve orientar muito bem seu
aluno estipulando seus objetivos propostos e cobrando ao término do tempo estipulado que os
resultados apareçam.
Esse meio de repasse de informação ao aluno deve criar uma nova perspectiva em torno do uso de
tecnologias para melhoria na qualidade de ensino aprendizagem.
Para Rezende (2002, p. 6):
As principais características das novas tecnologias da informação e da comunicação presentes na elaboração de materiais didáticos e projetos fundamentados na abordagem construtivista são: (1) a possibilidade de interatividade; (2) as possibilidades que o computador tem de simular aspectos da realidade; (3) a possibilidade que as novas tecnologias de comunicação, acopladas com a informática, oferecem de interação a distância e (4) a possibilidade de armazenamento e organização de informações representadas de várias formas, tais como textos, vídeos, gráficos, animações e áudios, possível nos bancos de dados eletrônicos e sistemas multimídia.
156
4 ABORDAGEM METODOLÓGICA
O trabalho aqui apresentado relata a atividade executada no ano 2015, porém em 2014
também já tinha sido aplicado, mas sem relatos dos processos ocorridos. A aplicação da atividade se
deu em um Curso e Colégio Alliança do município de Francisco Beltrão (PR), em uma turma do 1.º
ano do Ensino Médio, com um total de 36, que foram divididos em nove (09) grupos de quatro (04)
integrantes cada equipe, para realizarem a pesquisa, no ano letivo de 2015.
O assunto escolhido para a aplicação do trabalho foi “Divisão celular”, por ser de extrema
importância para a compreensão da multiplicação das células em um ser vivo. Após a busca de
informações os alunos realizaram um seminário com a turma toda, cuja proposta era a de
proporcionar uma interação dos conhecimentos adquiridos e do material encontrado na grande
“biblioteca virtual”, a internet.
4.1 Distribuição dos temas que foram abordados pelos alunos
A primeira etapa foi definir os assuntos que deveriam ser trabalhados na pesquisa: Mitose e
Meiose. Na distribuição quatro (04) equipes abordaram Mitose e as outras cinco (05) abordaram
Meiose, sendo que o critério de escolha dos temas para cada equipe se deu por meio de um sorteio
aleatório, não havendo assim possibilidade de escolha de um tema específico por qualquer uma das
equipes.
Com a definição do tema foi necessário definir um padrão quanto aos assuntos abordados,
alguns requisitos básicos para que cada equipe apresentasse seu resultado final do trabalho, o qual
deveria constar a introdução do assunto, o tipo de células do organismo vivo que sofre o processo
de divisão celular pesquisado e suas fases, e assim os alunos puderam sistematizar os dados que
coletaram nas pesquisas realizadas.
Posteriormente definiu-se que as equipes tinham que, ao término da atividade, apresentar em forma
de Power Point ou com pequenas vídeo-aulas as informações que conseguiram encontrar na
internet, sem deixarem de estudar e compreender sobre o tema, pois teriam que preparar-se para
explicar o assunto aos demais colegas em forma de uma miniaula; a compreensão do tema foi o
compromisso firmado pelos alunos que participaram do desenvolvimento do trabalho. O tempo
estipulado para cada apresentação das miniaulas foi de 00:20 (vinte minutos), nos quais deveriam
abordar o seguintes tema: ciclo celular e todas as suas fases.
157
Todas as etapas foram acompanhadas e orientadas pelo professor, pois é o seu papel sanar as
dúvidas e guiar os alunos no caminho da aprendizagem; o recurso da internet se torna uma
facilitadora para percorrê-lo.
4.2 O desenvolvimento do trabalho
Após a apresentação do conteúdo com aulas expositivas, o professor explanou a
metodologia do trabalho, assim como os meios de os alunos obterem informações seguras sobre o
assunto.
A atividade foi desenvolvida de acordo com a disponibilidade de recursos que a escola oferece,
onde possui apenas um laboratório de informática com computadores e acesso à Internet.
Os alunos tiveram dois dias com duas (02) horas aulas, para visitarem o laboratório,
acompanhados do professor, em um total de quatro (04) horas/aulas. A função do professor foi
orientar individualmente as equipes sempre que surgissem dúvidas de como proceder diante do
computador ou fornecer outras fontes de pesquisas, e observar se as equipes não desvirtuavam do
assunto da aula, já que quando adolescentes encontram-se diante destes recursos a capacidade de
dispersão deles é alta.
A cada dia no final da aula os alunos encaminhavam os trabalhos executados para o e-mail
do professor, evitando-se dessa forma que os alunos não se preocupassem em fazer a pesquisa no
laboratório de acordo com o tempo estipulado.
4.3 O resultado da pesquisa no laboratório e a apresentação das miniaulas
Apesar de alguns alunos inicialmente não terem apreciado o fato de terem que trabalhar
dentro do laboratório com o assunto e eventualmente alguns tentarem dispersar buscando outros
tipos de informações, cabendo ao professor interferir, o trabalho teve grandes avanços.
Ao término da atividade de pesquisa no laboratório, foram usadas duas (02) aulas para a
apresentação dos trabalhos, que surpreenderam, pois as explicações dadas aos colegas conseguiram
sanar dúvidas que tinham, e quando repassados pelos colegas de uma maneira mais simples
conseguiram entender.
As nove (09) equipes puderam explanar diante da turma slides elaborados com imagens retiradas da
internet, pequenos esquemas de como ocorre o processo de divisão e suas fases e filmes didáticos
que possibilitaram uma melhor compreensão do assunto.
158
Quando feitos questionamentos sobre o assunto todos responderam, umas respostas mais
consistentes outras mais “pobres” de informações, porém sempre responderam, na ausência de boas
respostas ou duvidosas, houve a interferência e complementação por parte do professor.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado desta atividade prática possibilitou a verificação de atitudes responsáveis pelos
alunos que executaram a prática, e, proporcionaram aos colegas e ao próprio professor boas
ilustrações em relação aos processos do ciclo celular, demonstraram entusiasmados no recurso
multimídia, os resultados obtidos por eles no tempo de pesquisa no laboratório de informática.
Nesse sentido, o trabalho apresenta-se como uma alternativa para o professor utilizar-se dos
recursos tecnológicos disponíveis no ambiente escolar para estimular a pesquisa e a aprendizagem
dos conteúdos abordados.
De maneira simples, o professor tem grandes oportunidades de propiciar ao seu aluno
diferentes maneiras de busca de conhecimento e estímulo à melhor compreensão dos assuntos
abordados em sala de aula. O uso da internet pode ocorrer de maneira satisfatória, de modo que o
interesse do aluno pelo meio virtual leve-o a buscar as informações necessárias para o
desenvolvimento do trabalho proposto.
Uma questão importante dentro da proposta executada nesse trabalho foi a verificação das
disponibilidades de recursos para a aplicação da ideia, ou seja, o estado de funcionamento dos
computadores e da internet, assim como a quantidade de máquinas no laboratório para que os
alunos pudessem realizar o trabalho.
Importa destacar a importância do professor como mediador e observador das atitudes
desenvolvidas pelos seus alunos, em relação ao desenvolvimento da proposta inicial, no sentido de
evitar enganos, considerando-se essa perspectiva, o professor deverá assumir o compromisso com o
desenvolvimento do trabalho em busca dos resultados esperados, orientando e estimulando os
alunos para que não se desviem do caminho proposto.
A perspectiva de se trabalhar com tecnologias assusta alguns professores, porém alguns
começam a assumir autonomias e iniciam bons trabalhos com o uso destas ferramentas; muito se
tem para descobrir, mas existem muitas atitudes satisfatórias que já são tomadas por professores
com mentes abertas, dispostos a mudar sua ação docente. Assim, a formação continuada do
professor tem muito a contribuir para que os docentes possam utilizar as TIC em suas aulas de
forma satisfatória.
159
REFERÊNCIAS
AULER, Décio. Enfoque ciência-tecnologia sociedade: pressupostos para o contexto brasileiro. In: Ciência & Ensino, v. 1, número especial, nov. 2007. Disponível em: <www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/cienciaeensino>. Acesso em: 9 abr. 2009.
CHINOY, Ely. Sociedade: uma introdução à sociologia. 1 ed. São Paulo. Cultrix, 1967.
CRUZ, Dulce Márcia. A construção do professor midiático: o docente comunicador na educação a distância por videoconferência. In: Cadernos de Educação| FaE/PPGE/UFPel, Pelotas, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/fae/caduc>. Acesso em: 9 abr. 2009.
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para pedagogia histórico-crítica. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2005.
KRASILCHIK, Myriam. Prática de ensino de biologia. 4 ed. São Paulo: USP, 2004.
REZENDE, Flavia. As novas tecnologias na prática pedagógica sob a perspectiva construtivista. In: Revista Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 1, mar. 2002. Disponível em: <http://www.fae.ufmg.br/ensaio>. Acesso em: 9 abr. 2009.
160
A ilustração contemporânea no processo de leitura
Priscila Angélica Santos Sehnem
Centro Estadual de Capacitação em Artes Guido Viaro
Modalidade de apresentação: relato de experiência
Resumo
O propósito deste relato de experiência é desenvolver alguns argumentos apresentados em um dos
cursos que ministro para professores das redes estadual, municipal e particular de ensino, para estudantes universitários e para formação de docentes, no Centro Estadual de Capacitação em Artes Guido Viaro, Curitiba, Paraná. Estes argumentos surgem a partir de diversas observações realizadas sobre as práticas que, principalmente, os professores de Educação Infantil destinam ao livro infantojuvenil, sobretudo o contemporâneo. Verificou-se que o uso do livro em sala de aula resume-se basicamente em ler, mostrar a ilustração ou dramatizar. Por conta disso, o conceito de leitura aplicado é limitado ao código linguístico, não levando em conta a importância da ilustração. O que se pretende, portanto, é enfatizar a sua relevância nos livros infantis contemporâneos, mostrando que elas não são apenas ornamentos ou uma leitura secundária em relação ao texto escrito. Ao contrário, pretende-se mostrar que a ilustração também deve ser lida e interpretada, fornecendo ao leitor uma concepção mais abrangente do livro e contribuindo para a apropriação da leitura e da escrita. Quando lemos uma imagem descobrimos como o ilustrador brinca com o leitor, como ele o desafia e, se nós não estivermos atentos para esta leitura, deixamos passar despercebido todo o potencial lúdico, envolvente e interpretativo da ilustração. Pois ela nos conta a mesma narrativa sob uma outra interface. Portanto, trata-se de refletir sobre o professor, tomando-o como mediador de leitura, para que ele possa disseminar junto a seus alunos esta capacidade de explorar o livro literário como fonte educacional, que tem diversas possibilidades lúdicas de leitura, de modo a ampliar o repertório do aluno leitor, servindo como um exercício a ser difundido nas relações futuras com outros textos. Este relato tem como fonte bibliográfica primária o livro A casa sonolenta, de Audrey e Don Wood, que é bastante conhecido e difundido nas escolas, muito embora seu potencial de leitura não seja plenamente trabalhado.
Palavras-chave: livro, leitura, literatura, ilustração, formação do leitor.
Abstract
The purpose of this experience report is to develop some of the arguments presented in one of the
courses I teach to teachers of the state, municipal and private teaching networks, for university students and for teacher training, at the Guido Viaro State Training Center in Arts, Curitiba , Paraná. These arguments arise from several observations made on the practices that, mainly, the teachers of nursery and pre school destine to children's books, especially the contemporary ones. It has been found that the use of the book in the classroom basically boils down to reading, illustrating, or dramatizing. Because of this, the concept of reading that is applied is limited to the language code, not taking into account the importance of illustration. What is intended, therefore, is to emphasize its relevance in contemporary children's books, showing that they are not just ornaments or a secondary reading in relation to the written text. Rather, the intention is to show that the illustration should also be read and interpreted, providing the reader with a broader conception of the book and contributing to the appropriation of reading and writing. When we read an image we discover how the illustrator plays with the reader, how he challenges him, and if we are not attentive to this
161
reading, we let the whole playful and interpretative potential of illustration go unnoticed. For it tells us the same narrative under another interface. Therefore, it is a matter of reflecting on the teacher, taking him as a mediator of reading, so that he can disseminate with his students this ability to explore the literary book as an educational source, which has several playful possibilities of reading, in order to expand the repertoire of the student reader, serving as an exercise to be diffused in future relations with other texts. This report has as primary bibliographic source the book The Napping House, by Audrey and Don Wood, which is well known and widespread in schools, although its reading potential is not fully worked on.
Keywords: book, reading, literature, illustration, formation.
162
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, escolas e algumas políticas públicas falam muito sobre a importância da
formação de leitores, num país de leitores. Provas como Enem e a Prova Brasil já nos mostram, há
alguns anos, que a leitura é item fundamental para o bom desempenho do aluno.
Outro documento importante que apresenta a real situação dos leitores no país é a pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil, que está em sua quarta edição, e que tem entre seus objetivos
identificar qual é a intensidade, a forma, a motivação e as condições de leitura que surgem na
população brasileira. Ela mostra que a escola e o professor ainda são um dos principais responsáveis
por estimular e estabelecer o contato das pessoas com a leitura e com o livro.
Infelizmente a pesquisa mostra, também, que o livro didático desperta bem mais o interesse
do leitor que o livro literário, mostrando que o interesse pela leitura é funcional, prático, resultando
apenas em aprovações e retornos profissionais. Os livros literários, que nos interessam para a
formação de leitores, aproximam-se mais de uma construção de sentidos e de desenvolvimento
pessoal, social, humanitário e simbólico. Por isso precisamos democratizar o acesso aos diferentes
gêneros literários e ampliar o repertorio de nossos leitores, pois o ato de ler deve estabelecer uma
relação dinâmica entre linguagem e realidade sim, mas não só didática, como diz Costa:
“o ato de ler resulta na produção de sentidos pelo leitor. Essa consciência implica uma mudança de metodologia de trabalho com textos e com sua leitura em sala de aula. Privilegia as ações do leitor, que podem abranger desde a formação de imagens mentais, impulsionadas pelos elementos de linguagem de textos, quanto à capacidade de projeção e de inferência, bem como as modificações produzidas na significação a partir da intencionalidade do leitor. O que realmente tem valor no processo de leitura é a constituição do sujeito-leitor como um ser pensante, que faz escolhas e que assume os riscos de sua interpretação” (COSTA, p. 153). Observa-se, ainda, que a leitura não passa de uma apropriação obrigatória. Na escola nossos
alunos adquirem o conhecimento do código linguístico, mas não a capacidade de interpretá-lo. É
preciso, portanto, pensar a leitura como conhecimento que organiza o mundo em diferentes
intertextualidades e saberes, para estabelecer confiança naquilo que apreendemos do mundo.
“Portanto, a formação da pessoa como interlocutora do mundo está ligada aos acervos que partilha e
aos repertórios que elege como seus, inclusive seu desempenho expressivo, assentado sobre sua capacidade de pensar singularmente, com originalidade suficiente para que não seja mera repetidora do que ouve sem se colocar criticamente” (YUNES, 2009).
Apesar das diferentes iniciativas governamentais, sociais e privadas que enfatizam essa
preocupação em suas práticas para a formação de leitores, como a escola se posiciona acerca da
formação de leitores no século XXI? Como se dá a formação do leitor e qual sua relação com os
livros no âmbito escolar? Que tipo de leitores queremos formar? Que tipo de leitura e práticas
163
leitoras estabelecemos com os alunos? Qual o papel do professor? Dentro do ambiente escolar, de
quem é a responsabilidade de formar leitores? O que os nossos alunos leem? Essas são algumas
perguntas que nos fazemos enquanto formadores de leitores no âmbito escolar.
Atualmente nós nos deparamos ainda mais com outro desafio metodológico: o livro
ilustrado contemporâneo, que tem grande importância na contribuição para a criação de uma prática
leitora mais reflexiva e de um repertório para os nossos discentes.
Neste sentido, o que se observa em relação ao uso do livro em sala de aula, é que este se
resume na simples leitura e em mostrar a ilustração de forma instantânea ou dramática. O conceito
de leitura utilizado, como ainda é limitado ao código linguístico, não oferece a devida importância à
ilustração. Na maioria das vezes, a ilustração é considerada apenas um detalhe que enfeita o texto e
não como um componente rico e lúdico do processo de aprendizagem e de prática pedagógica para
a formação do leitor.
Minha proposta nos cursos é demonstrar que, por meio desse livro é possível desenvolver
uma prática pedagógica em que o ensino tenha, de fato, o objetivo de formar leitores, ampliar o
repertório do aluno e dinamizar os meios de apropriação da leitura e da escrita. Esse
desenvolvimento se dá com base em práticas metodológicas lúdicas que enfatizam: reflexão,
oralidade, leitura de imagem, contação de histórias e musicalidade.
Essas reflexões têm sua origem na observação das práticas pedagógicas que os professores,
principalmente de Educação Infantil das redes públicas e privadas, destinam ao livro infantil. São
experiências vivenciadas no Núcleo de Literatura do Centro Estadual de Capacitação em Artes
Guido Viaro, instituição vinculada à Secretaria de Estado de Educação do Paraná e que existe há
130 anos. Situado na Rua Francisco Mota Machado, 490, bairro Capão da Imbuia, oferece cursos de
arte nas áreas de: artes visuais, dança, música, teatro, literatura, fotografia, circo e cinema.
É no Núcleo de Literatura que se desenvolve o curso Contação de história e a Escola –
princípios fundamentais para a formação de leitores, que ministro para professores das redes
estadual e municipal de ensino, estudantes de Pedagogia e de formação de docentes. O relato a
seguir se fundamenta no terceiro encontro dos cinco que integram o curso.
2 ESCOLHA DO LIVRO
Para esse relato, tomarei como suporte o livro A casa sonolenta, de Audrey e Don Wood.
Trata-se de um livro bastante difundido nas escolas, apesar de seu potencial de leitura não ser
plenamente trabalhado.
Don Wood possui um trabalho bem lúdico, dinâmico e envolvente que desafia a percepção
do leitor. Suas ilustrações possuem uma capacidade narrativa própria, que mostra um processo de
descoberta, em que a ilustração de cada página desvenda segredos.
164
3 A EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA
O trabalho tem início com uma reflexão sobre o papel do livro literário na escola, como ele é
apresentado, explorado e visto pelos alunos e pela instituição: o livro ainda é um suporte didático e
não uma fonte de conhecimento. A casa do livro – a biblioteca escolar – é ainda muito
desvalorizada e desorganizada, e a relação com o livro por parte dos alunos é muito semelhante à de
trinta anos atrás, principalmente em escolas do Ensino Fundamental e Médio. Refletimos também
sobre que tipo de leitores temos e queremos na escola e qual o papel da instituição e do professor na
formação de leitores. Percebemos que, para a maioria de nossos alunos, a escola é, ainda, a fonte de
contato com o livro, e isso aumenta nossas responsabilidades enquanto mediadores de leitura.
Depois dessas reflexões, chegamos à conclusão de que ainda temos muito trabalho a
desenvolver em relação à formação de leitores e que não é reponsabilidade somente do professor de
Língua Portuguesa, mas de todos os envolvidos com o processo educacional. Pois o ato de ler vai
muito além de decifrar códigos linguísticos, como diz Freire:
Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos “lendo”, bem ou mal, o mundo que nos cerca. Mas este conhecimento que ganhamos de nossa prática não basta. Precisamos de ir além dele. Precisamos de conhecer melhor as coisas que já conhecemos e conhecer outras que ainda não conhecemos (FREIRE, 1992). Dentro desse contexto apresento, de forma geral, o livro contemporâneo, enfatizando que a
leitura começa a partir da capa do livro. Por meio das capas, por exemplo, podemos contar a história
da literatura infantil brasileira, pois elas nos demostram a evolução da importância dada ao autor e
ao ilustrador dos livros.
Apresento também o fato de que a ilustração é item de fundamental importância para
explorarmos o livro e também para ampliar o repertório dos nossos alunos leitores em relação aos
diferentes códigos e interfaces do texto. Pois a ilustração, a imagem, não é um mero detalhe, mas
sim um objeto de leitura para o qual é necessário algum tempo disponível, a fim de explorá-lo e
apreendê-lo conjuntamente com o texto. A ilustração requer atenção, conhecimentos de seus
códigos e uma interpretação igualmente profunda, como a do texto.
Ler um livro ilustrado é também apreciar o uso de um formato, de enquadramentos, da relação entre capa e guardas com seu conteúdo; é também associar representações, optar por uma ordem de leitura no espaço da página, afinar a poesia do texto com a poesia da imagem, apreciar os silêncios de uma relação à outra [...] Ler um livro ilustrado depende certamente da formação do leitor. (LINDEN, 2011).
165
A ilustração e o texto se complementam e precisamos estar bem atentos para a união e o
entendimento de ambos, pois a ilustração pode complementar a ideia da palavra, como por
exemplo, no caso do livro O pato, a morte e a tulipa, de Wolf Erlbruch. Em nenhum momento do
texto o autor apresenta a palavra tulipa, e só entendemos sua relação se lermos a ilustração.
Depois de situados sobre a importância de lermos as ilustrações, apresento os autores do
livro, suas características, curiosidades e obras. O primeiro contato dos participantes do curso com o
livro (apesar de muitos deles já o conhecerem e trabalharem com a obra) é por meio da visualização
das ilustrações. Exponho o livro somente com as imagens e em seguida pergunto o que viram, o que
perceberam de modo geral. Eles dizem que as acharam bonitas, observaram que há movimento,
mudanças de cor e que há uma narrativa. Peço para que armazenem essas primeiras impressões
estabelecidas.
Após isso, passo à leitura do texto juntamente com a ilustração. Explico o gênero
acumulativo do texto e suas características e retomo a leitura da ilustração página por página. Com
base nessa leitura orientada, fundamentada na leitura de imagens exploradas pelas artes visuais,
apresento os princípios: descrição, análise, interpretação e julgamento.
Por meio desses princípios analisamos a primeira ilustração da obra (Figura 1), nosso
primeiro exemplo:
Após uma leitura minuciosa estabeleço um conflito que as intrigam quando pergunto: “A
ilustração se apresenta no período diurno ou noturno?” Há uma diversidade de repostas e
argumentos, mas não há uma opinião incisiva. Peço para que guardem mais uma vez as impressões
estabelecidas com a imagem, pois iremos retomá-las na última página.
Percorrendo as outras páginas destaco que isso é um processo lúdico e desafiador da leitura
e de contato do leitor com o livro que precisamos explorar com os nossos alunos. Essa leitura
Figura 1 – Fachada da casa com chuva
166
precisa se estabelecer primeiro em nós, mediadores, para compartilharmos essas experiências com
os nossos alunos.
A curiosidade e a atenção se direcionam para diferentes detalhes e concepções nas próximas
páginas. O olhar atento busca detalhes, mas mesmo assim deixam passar elementos importantes em
algumas páginas, mas que depois serão retomados.
Vale notar que uso esta metodologia do ir e vir pelas páginas, pois a maioria dos
participantes conhece o livro e porque estou trabalhando com a formação de professores, quando a
intenção aqui não é somente apresentar o livro, mas sim refletir sobre a ilustração contemporânea e
a formação de leitores e do professor como mediador de leitura.
Ao chegar à última ilustração do livro (Figura 2), o conflito apresentado na primeira imagem
(Figura 1) é retomado naturalmente. Estabelecem-se comparações e novos argumentos são
discutidos principalmente em virtude do arco-íris. Pois as questões apresentadas giram em torno
dele como: “O arco-íris surge somente em dia com sol alto? O arco-íris aparece logo nas primeiras
horas da manhã? Há um horário apropriado para aparecer?” Várias questões se apresentam para
tentar chegar a alguma conclusão.
Nesse caso, apresento o conflito como uma das características da literatura: não fechar, não
determinar uma ideia única, mas abrir diferentes possibilidades de leitura e interpretação. Nesse
caso, ao estimularmos uma prática assim, possibilitamos, além da leitura pelos alunos, o estímulo ao
uso de argumentos para que ele possa defender suas ideias, além de ampliar o repertório deles em
relação às interfaces da leitura, para além do mero código linguístico.
No trabalho intenso e sem fim da formação de leitores, o professor, assim como todo agente de leitura que ocupa momentaneamente a função educativa, precisa incorporar os textos que variam, mas o leitor também tem múltiplas faces. Tanto no jogo textual quanto no jogo de significações, os jogadores precisam atuar com atenção, com recursos e com prazer (COSTA, 2009).
Figura 2– Fachada da casa com sol
167
Por isso, o papel do professor, enquanto mediador de leitura, é importante ao estabelecer um
melhor contato do aluno com o livro ilustrado contemporâneo. Isso deve estimular o processo de
decodificação do livro como uma forma de expressão e de possibilidades de produção de sentidos
em seu todo. A ilustração contemporânea não é mais somente complementação ou reforço do texto,
já não existem limites às variedades de técnicas e suportes onde a ideia se delineia. As imagens não
são mais independentes umas das outras, mas sim ligadas entre as páginas e o âmbito do livro.
Essa força da ilustração reforça e contribui para o surgimento do livro-imagem, tão em voga
– livros ilustrados que não possuem quaisquer palavras. Isso não quer dizer que haja uma ausência
de discurso ou narrativa. Muito pelo contrário. Há sim ideias ou expressões, como é o caso do livro
Zoom e a trilogia de Suzy Lee. Esse gênero de livro ainda é pouco explorado nas escolas devido à
falta de conhecimento do professor em se relacionar com o livro e apresentar este tipo de leitura.
Essa falta reforça, assim, a ideia de que o código linguístico é ainda a única fonte de leitura
explorada no livro infantojuvenil.
A ilustração, como já dito, possui uma narrativa. O que pretendo ressaltar é que, mesmo por
meio de uma abordagem tradicional, a apresentação do livro pode ser lúdica e interessante para o
ouvinte quando se faz uma leitura crítica e de entendimento da obra. O importante é mostrarmos ao
aluno o quanto o livro é lúdico e como posso estabelecer uma leitura de descobertas. E cada obra
terá sua especificidade. O aluno deve terminar a narrativa apreendendo a composição do livro como
um todo e não apenas o potencial interpretativo do professor mediador ou a possibilidade de
dramatizar a história.
Vale lembrar que o professor é um mediador de leitura que deve buscar o equilíbrio para
uma performance adequada em que a obra escolhida deve estar em primeiro plano. Certamente ele
se respalda em suas competências para tornar o trabalho interessante, mas sua fonte deve ser o livro
e sua função é mediar e equilibrar tudo que envolve o processo lúdico da obra escolhida, pois
estamos formando leitores e não fazendo entretenimento ou formação de plateia em teatro, quando
o livro é apresentado e usado somente para a encenação.
Então, volto à segunda imagem do livro (Figura 3):
168
Diante da imagem pergunto: “Vocês observaram, leram, mas não perceberam um detalhe
importante: os sete personagens: cama, avó, neto, cachorro, gato, rato e pulga estão presentes na
cena, onde estão eles?”.
Quando faço a pergunta, os participantes não acreditam que não viram todos os
personagens. Olham, olham e na maioria das vezes não acham. Depois de algum tempo alguns
identificam o lugar de cada um. Sobre isso, refletimos que a leitura é percepção. O processo da
leitura da imagem se faz pela percepção, pelo tempo que permanecemos diante do trabalho. Por isso
devemos prolongar o contato do leitor com a ilustração e com a obra em geral, em seus diferentes
códigos, pois tudo nela é leitura: capa, formato, guardas, folha de rosto, cores entre outros
elementos que caracterizam a opção do artista por determinada técnica. Toda sua composição é o
conjunto de uma ideia, de uma expressão, por isso não basta apresentar e estabelecer somente partes
da obra.
O livro infantil contemporâneo é uma criação integrada de duas pessoas – o autor e o
ilustrador – ou, mesmo por um único profissional que desempenha os dois papéis, para torná-la uma
obra única. Não há o que seja mais importante, o texto ou a ilustração, mas os dois aspectos da obra
possuem a mesma importância.
Por meio das imagens, por exemplo, Don Wood brinca a todo o momento com o leitor, o
instiga e, se não estivermos atentos para essa leitura, deixamos passar despercebido todo o potencial
lúdico, envolvente, detalhista e interpretativo que é fornecido ao leitor. Trata-se de um livro em que
as imagens não devem ser apenas passadas ou mostradas. É preciso parar e lê-las atentamente, pois
elas nos contam a mesma história sob uma outra interface. Afinal de contas, o ilustrador é
minucioso e criterioso na composição de cada página.
Figura 3 – O quarto
169
4 CONCLUSÃO
Ao abordar esse livro e, principalmente, sua ilustração, minha principal preocupação é
refletirmos que um livro em sala de aula é mais que um mero recurso didático lúdico. Ele é um
potencial educacional que deve ser visto, analisado e interpretado para estabelecer um processo de
ensino-aprendizagem por meio de diversas possibilidades de leitura, e não somente de conteúdos
possíveis de serem identificados em sua forma. A ludicidade, tão almejada nas metodologias, não se
apresenta pela forma de uso, mas pela identificação que o próprio livro apresenta. Esse é o grande
exercício do mediador: ler, explorar e identificar as características da obra para, posteriormente,
compartilhar sua descoberta com seus alunos leitores.
Não formamos leitores usando o livro literário como fundamento para outras disciplinas.
Formamos leitores possibilitando a eles perceberem o potencial da literatura. Não precisamos
pensar em explorar o livro com inúmeros exercícios posteriores que relacionam outras disciplinas.
Precisamos apresentar e explorar o livro dentro de seus fundamentos. Isso é uma prática
educacional tão complexa quanto formular um exercício. Investigar como apresentar o livro e seus
potenciais é o exercício literário. O ato de ouvir e ler é o exercício didático a ser realizado em sala
de aula com todas as complexidades que envolvem a construção da obra literária. O interessante é
levar o aluno a entender esse processo e exercitar essas práticas. Assim contribuímos para a
ampliação do repertório do aluno leitor, além de estabelecer uma prática leitora a ser difundida em
relações futuras com outros textos.
A leitura nada mais é que um exercício lúdico de descoberta, principalmente para a criança
ainda não letrada. Sobretudo porque o livro ilustrado é concebido para destinatários duplos, isto é,
para crianças letradas ou não, mas também para seus mediadores.
REFERÊNCIAS
BANYAI, I. Zoom. São Paulo: Brinque Book, 1995.
COSTA, M. M. da C. Sempreviva: a leitura. Curitiba: Aymará, 2009.
ERLBRUCH, W. O pato, a morte e a tulipa. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1992.
HUNT, P. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da Leitura no Brasil. 4 ed., 2016. Disponível em: <http://prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2016.
170
LEE, S. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2009a.
______. Espelho. São Paulo: Cosac Naify, 2009b.
______. A trilogia da margem: o livro imagem segundo Suzy Lee. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
______. Sombra. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
LINDEN, S. V. Der. Para ler o livro ilustrado. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
MORAES, O.; HANNING R.; PARAGUASSU, M. Traço e prosa: entrevistas com ilustradores de livros infantojuvenis. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
NIKOLAJEVA, M.; SCOTT, C. Livro ilustrado: palavras e imagens. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
OLIVEIRA, I. O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008.
POWERS, A. Era uma vez uma capa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
WOOD, A. A casa sonolenta. Ilustrações Don Wood. São Paulo: Ática, 1999.
YUNES, E. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.
171
Implantação do Laboratório de Cálculo Aplicado (LACA) na Universidade Positivo
Guilherme Lemermeier Rodrigues
Universidade Positivo
Modalidade da apresentação: Pôster
Resumo
São notórias as lacunas de conhecimentos matemáticos básicos que os alunos que estão ingressando no Ensino Superior têm. No PISA 2012, último relatório disponível no site do INEP, o Brasil ocupa a 58.º posição do total de 65 países avaliados. A defasagem de conteúdo e a falta de experiência dentro dos conceitos básicos de matemática são prejudiciais ao desempenho e manutenção dos estudantes dos cursos superiores de engenharias. Visando agregar a parte teórica com a prática na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I (Cálculo Diferencial e Integral a uma Variável) e principalmente buscando trazer ao aluno uma forma mais interativa e incentivadora de ver o conteúdo da disciplina de Cálculo I, a Universidade Positivo, em Curitiba, dentro do Ciclo Básico das Engenharias (1.º ano) implantou, em 2016, o Laboratório de Cálculo Aplicado (LACA). Em relação aos resultados práticos, temos percebido um gradativo aumento de interesse e participação dos estudantes dentro do LACA, o que reflete diretamente nas aulas teóricas de Cálculo I, e indiretamente o aumento com a identificação pessoal com o curso escolhido.
Palavras-chave: implantação, laboratório, prática, Cálculo I, universidade.
Abstract
There are notorious basic mathematical knowledge gaps that students who are entering the higher education have. In PISA 2012, latest report available on the INEP website, Brazil occupies the 58th position of the total of 65 countries assessed. The content gap and lack of experience within the basic mathematics concepts are detrimental to the performance and maintenance of the students of higher education in engineering. In order to add the theoretical with the practical in the discipline of Differential and Integral Calculus I (Differential and Integral Calculus to a Variable) and mainly to bring to the student a more interactive and encouraging way to see the contents of the discipline Calculus I. The Positivo University in Curitiba, in the Basics of Engineering Cycle (1st year) implemented in 2016, the Laboratory of Applied Calculus (LACA). In relation to practical results, we have noticed a gradual increase of interest and participation of students within the LACA. Which directly reflects in the lectures of Calculus I and indirectly increases the personal identification with the chosen course.
Keywords: implementation, laboratory, practice, Calculus I, university.
172
Quando pensamos na Educação Básica brasileira são notórias as lacunas de conhecimentos
matemáticos básicos que os alunos que estão ingressando no Ensino Superior têm.
Os dados apresentados no PISA 2012, relatório disponível no site do INEP, trazem o baixo
desempenho escolar que se verifica no ingressante do Ensino Superior de modo geral. Analisando,
em especial, o conhecimento de matemática, esse documento expõe que o Brasil ocupa a 58.ª
posição do total de 65 países avaliados.
A defasagem do conteúdo e a falta de experiência nos conceitos básicos de matemática são
prejudiciais ao desempenho e à manutenção dos estudantes nos cursos superiores de engenharias.
As exigências que as disciplinas básicas, tais como Cálculo, Geometria Analítica, Álgebra
Linear, Física e Química, e que os cursos superiores na área tecnológica têm, por características
próprias, tornam-se grandes barreiras ao estudante nessa área. Assim, o baixo desempenho (notas +
conhecimento agregado) apresenta-se como grande potencial para a evasão desses cursos, além de
outros fatores externos.
Em Fagundes (2009, p. 39) vemos que “o novo perfil do trabalhador demandado pelo
mercado de trabalho pressupõe atributos de competências que passam a ser definidos,
desenvolvidos e exaltados pelo sistema educacional, delegando um novo papel específico da
escola”, desta forma, visando agregar a parte teórica com a parte prática da disciplina de Cálculo
Diferencial e Integral I e, principalmente, buscando trazer ao aluno uma forma mais interativa e
incentivadora de ver o conteúdo da disciplina, a Universidade Positivo, em Curitiba, dentro do
Ciclo Básico das Engenharias implantou em 2016 o Laboratório de Cálculo Aplicado – LACA.
Visando formar “indivíduos capazes de desenvolver determinadas habilidades e
competências necessárias aos novos padrões de eficiência exigidos por um mercado flexível, ágil e
em constante processo de mudanças” (FAGUNDES, 2009, p. 40), a característica predominante do
LACA é a interação que os alunos têm com o conteúdo e com o professor de forma dinâmica e
vivencial.
Acreditando que “na sua pluralidade de funções a universidade tem no ensino o papel da
preparação de profissionais, que, através do apoio científico e da formação cidadã, recebam dela a
certificação para atuarem na sociedade como sujeitos sociais de formação superior”
(SHALLENBERGUER apud LIMA FILHO; TAVARES, p. 91), as atividades do LACA são
desenvolvidas em sala de aula na forma de trabalhos individuais ou em grupos, com uso de
aplicativos e softwares gratuitos (exemplo: GeoGebra) e as aferições das atividades são feitas por
meio de seminários, postagens em meio eletrônico e gravações de vídeos.
O público que é atendido no LACA é composto por todos os alunos do 1.º ano de
Engenharias da Universidade Positivo. O que representa um volume de, aproximadamente, 1.000
(um mil) alunos.
173
Percebendo que “a necessidade de variar as técnicas no decorrer de um curso, o que faz
oportuno pois são um forte elemento de atuação sobre a motivação dos alunos, assim como por
claramente os objetivos a serem alcançados” (MASSETO, 2012, p. 100) o LACA busca nos seus
objetivos:
Maior interatividade;
Metodologia incentivadora;
Vivência prática;
Preenchimento de lacunas do conteúdo;
Aproximação da teoria com a prática;
Aprendizagem significativa.
Desta forma, a Universidade Positivo busca por meio de um projeto de implantação de um
Laboratório de Cálculo Aplicado melhorar o desempenho e aumentar o interesse pelos cursos
escolhidos pelos seus alunos de Engenharias, por meio de uma aprendizagem significativa e
dinâmica.
CONCLUSÕES
Destacamos que as metodologias aplicadas no LACA aumentaram significativamente a
interação entre os alunos e o professor e, consequentemente, houve um maior interesse dos alunos
durante as práticas de ensino que são aplicadas com o uso de aplicativos celular e softwares;
portanto, a implantação do LACA mostra-se acertada, ainda que em desenvolvimento.
Outro ponto, como um efeito colateral benéfico, percebemos a utilização das ferramentas
tecnológicas utilizadas no LACA (GeoGebra) nas demais disciplinas do curso, principalmente em
Física I.
Quanto ao desempenho (notas e agregação de conhecimento) dos alunos que frequentam as
aulas do LACA, estamos em processo de investigação, porém temos indícios de melhora
verificados, principalmente por depoimentos pessoais dos alunos e comentários nas avaliações
institucionais do corpo docente de alunos novos e repetentes na disciplina de Cálculo Diferencial e
Integral I.
REFERÊNCIAS
MASSETO, M. T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus Editorial, 2012. p. 100.
174
FAGUNDES, E. D.; LUZ, N. S. da. (Org.). Universidade tecnológica, política educacional e organização dos trabalhadores. Curitiba: SINDUTR-PR, 2009. p. 39-40.
LIMA FILHO, D. L. L.; TAVARES, A, G. Universidade tecnológica: concepções, limites e possibilidades. Curitiba: PR: SINDOCEFET-PR, 2006. p. 91.
175
Dinamizando as aulas de Matemática e Geometria com o auxílio do software GeoGebra
Lidiane Ferreira Nunes
Colégio Alfa Guarujá
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Este trabalho tem como objetivo demonstrar algumas possibilidades para trabalhar com o software
de geometria dinâmica, GeoGebra, por meio de atividades práticas nas aulas de matemática, como ferramenta de apoio ao material de ensino do Sistema Positivo. As atividades foram desenvolvidas com alunos do 8.º ano e 9.º ano do colégio Alfa Guarujá, da cidade de Guarujá-SP. A escolha destas atividades visa novas constatações, novas conjecturas dos objetos matemáticos, na resolução de situações-problema. Ao utilizarmos as ferramentas disponibilizadas pelo sistema de ensino adotado na escola, senti a necessidade de buscar novos caminhos, aliando o dinamismo do portal educacional do Sistema Positivo de Ensino ao dinamismo do software GeoGebra. Como metodologia (design do modelo de formação) utilizamos Design Experiment de Cobb et al (2003) para a construção e condução dos experimentos de ensino. Essa metodologia prevê uma abordagem flexível, interativa e cíclica, permitindo que se façam adaptações durante o processo, de acordo com as produções fornecidas pelos estudantes. A escolha do software justifica-se por
ser uma ferramenta de fácil acesso, ser software livre, com linguagem acessível. A proposta inicial foi apresentar o software aos alunos, ensiná-los como fazer o download e solicitar que fizessem o download em seus celulares ou tablets. Nas aulas, em vez de usarmos a lousa e o giz somente, utilizarmos o GeoGebra, principalmente para construção de gráficos e figuras geométricas. Após a aplicação das atividades constatou-se que os objetivos foram atingidos. Observou-se que os alunos estavam entusiasmados para a realização das atividades propostas. Como a orientação para o planejamento das aulas buscou-se os objetivos do conteúdo estudado nas orientações do material apostilado do Sistema Positivo de Ensino.
Palavras chaves: ensino, GeoGebra, design, aprendizagem, objeto matemático.
Abstract
This work aims to demonstrate some possibilities to work with GeoGebra dynamic software, through practical activities in mathematics classes, as a tool to support Positive teaching material. The activities were developed with 8th and 9th grade students from the Alfa Guarujá College, in the city of Guarujá-SP. The choice of these activities aims at new findings, new conjectures of the mathematical objects, in the resolution of problem situations. By using the tools provided by the teaching system adopted at the school, I felt the need to seek new paths, combining the dynamism of the educational portal of the Positive Teaching System with the dynamism of GeoGebra software. As a methodology (design of the training model) we used Design Experiment by Cobb et al. For the construction and conduct of teaching experiments. This methodology provides a flexible, iterative and cyclical approach, allowing adaptations during the process, according to the productions provided by the students. The choice of software is justified because it is an easily accessible tool, it is free software, with accessible language. The initial proposal was to introduce the software to students, teach them how to download and request download on their phones or tablets. In class, instead of using the blackboard and chalk only, we use GeoGebra, mainly for the construction of graphs and geometric
176
figures. After the implementation of the activities it was verified that the objectives were achieved. It was observed that the students were enthusiastic to carry out the proposed activities. As a guide for the planning of the classes, the objectives of the studied content were sought in the guidelines of the apostille material of the Positive Teaching System. Keywords: teaching, GeoGebra, design, learning, mathematical object.
177
1 Introdução
O ensino de matemática é sempre um desafio para o professor, à nossa volta tudo parece
evoluir menos as aulas de Matemática. Sempre me incomodou o fato de ensinar matemática sem o
auxílio de ferramentas adicionais que contemplassem o dinamismo.
Diante de tantas mudanças, as inovações no campo da educação matemática, temos a
oportunidade de reinventar nossas aulas. O papel do professor não é mais o de repassar conteúdos,
mas o de construir o conhecimento junto aos seus alunos e, nesta perspectiva, comecei a pesquisar e
buscar meios que cooperassem na realização das atividades propostas pelo currículo de matemática.
Participando de cursos de formações virtuais e presenciais conheci o software GeoGebra,
diante de todas as possibilidades para trabalhar com essa ferramenta, me encantei, buscando
aperfeiçoamento por meio de participações nos grupos de discussões espalhados pelo país. A partir
desses momentos comecei a trabalhar com esse software nas minhas aulas, comentando com os
alunos que poderiam fazer o download e utilizá-lo tanto no computador como em tablets e
celulares.
Inicialmente apenas eu utilizava. De repente, comecei a ouvir comentários de alunos que
eles estavam estudando com o auxílio do software em casa e, para minha surpresa, este ano mais
alunos já realizam as atividades com o aplicativo GeoGebra.
Trabalhar com ferramentas adicionais é sempre um desafio, principalmente quando esta é
uma tecnologia, mas os resultados começam a surgir e percebemos que a escolha e a determinação
são fatores essenciais para construirmos novos paradigmas. As aulas de Matemática passaram a ser
mais dinâmicas e produtivas.
Para Gravina (1998), o dinamismo obtido por meio da manipulação direta das
representações faz com que um mesmo objeto matemático tenha representação mutável, o que
permite interpretações distintas das comumente obtidas em ambientes do tipo papel e lápis ou giz e
lousa.
O presente trabalho tem como objetivos iniciais:
Investigar as produções de estudantes diante de um experimento de ensino com auxílio
do software GeoGebra.
Dinamizar os processos de ensino e aprendizagem dos discentes.
Avaliar novos caminhos de aprendizagens.
Valorizar diferentes registros na resolução de situações-problema.
Esperamos que as abordagens propostas favoreçam a compreensão dos objetos matemáticos
e que o aspecto dinâmico do software GeoGebra forneça a elaboração de conjecturas e a
compreensão da passagem de um registro para outro.
178
2 METODOLOGIA
Quanto ao delineamento do plano de investigação, em relação à finalidade, ele é de natureza
aplicada porque objetiva gerar conhecimentos para a aplicação prática; quanto à natureza dos dados,
apresenta uma abordagem mista com predominância da abordagem qualitativa; em relação à
profundidade, é de caráter exploratório para proporcionar maior familiaridade com o problema;
quanto ao alcance temporal, os sujeitos da população serão estudados em diferentes momentos ao
longo de um determinado período, em amostras menores e diferentes, por meio de estudos de
tendência. Ressalto que, com base na investigadora Clara Coutinho, apesar de serem amostras
diferentes, elas representam a população, portanto, é legítimo falar de tendências. Quanto à adoção
de procedimentos técnicos, a investigação é de caráter participante; e, em relação à busca de dados,
ela é documental para aprofundar assuntos em relação a leis e bibliográfica em relação à literatura
que norteará o planejamento e o desenvolvimento das atividades.
As atividades foram realizadas com alunos do Ensino Fundamental 2 nos anos de 2015 e
2016, tendo como amostra alunos do 8.º e 9.º ano. Essas atividades foram realizadas no período
letivo, durante as aulas de Matemática, à medida que novos desafios de aprendizagem surgiam.
2.1 Metodologia (design do modelo de formação)
Para este estudo, utilizamos a metodologia de Design Experiment de Cobb et al. (2003), a
qual orienta a construção e a análise de experimentos de ensino de conteúdos matemáticos
específicos. Para Ribeiro (2007), esta metodologia está associada à explicação de como os alunos
entendem uma ideia matemática particular, considerando os meios, as tarefas e as ações do
professor/pesquisador.
2.2 Análise das atividades
As atividades desenvolvidas enriqueceram o meu trabalho, como docente, evidenciando que
há necessidade de modificarmos nossas aulas proporcionando aos educandos maior interação com o
conteúdo e a prática, ou seja, na experimentação de instrumentos voltados para a aprendizagem. A
utilização do software GeoGebra contribuiu significativamente com os processos de ensino e
aprendizagem dos alunos, dinamizando e motivando-os a novas descobertas, tornando as aulas de
Matemática motivadoras nas turmas de 8.º e 9.º anos do Ensino Fundamental 2.
179
A utilização do GeoGebra contemplou a metodologia do material didático adotado, bem
como a utilização do portal educacional da nossa escola. O ambiente virtual de aprendizagem mais
dinâmico e possível de construções e constatações de conceitos matemáticos pelos alunos, o aluno
protagonista da sua aprendizagem.
Abaixo apresenta-se o relato de uma das alunas, sobre a sua experiência com o GeoGebra.
Figura 1 – Relato de aluna
Fonte: Acervo pessoal
Como demonstração das aulas práticas, selecionei algumas fotos das atividades realizadas
com os alunos com o auxílio do GeoGebra.
Figura 2 – Atividades com o número de diagonais de um polígono, 8.º ano.
Fonte: Acervo pessoal
Figura 3 – Construção de gráficos
180
Fonte: Acervo pessoal
3 CONCLUSÃO
A inserção da ferramenta dinâmica GeoGebra nas aulas de Matemática evidenciou constante
elaboração de conjecturas e compreensão dos objetos matemáticos apresentados, despertando a
curiosidade e novas descobertas para os alunos.
O aspecto dinâmico do software GeoGebra favoreceu a elaboração de conjecturas e a
compreensão da passagem de um registro para outro.
4 AGRADECIMENTOS
Aos meus alunos do 8.º e 9.º anos do colégio Alfa Guarujá, pela colaboração na realização
das atividades, bem como a toda a equipe pedagógica dessa escola que apoiam iniciativas como
esta. As aulas foram sensacionais! A equipe do Sistema Positivo de Ensino pela oportunidade de
participar de eventos como este. Obrigada!
181
REFERÊNCIAS
BORBA, M. C.; Penteado, M. G. Informática e educação matemática. 4 ed. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2010.
COBB, P.; CONFREY, J.; DISESSA, A.; LEHRER, R.; SCHAUBLE, L. Design experiments in education research. In: Educational Researcher, v. 32, n. 1, 2003. p. 9-13.
COUTINHO, C. P. Metodologia de investigação em Ciências Sociais e Humanas: teoria e prática. Coimbra: Almedina, 2014.
GRAVINA, M. A.; SANTAROSA, L. M. A aprendizagem da matemática em ambientes informatizados. In: Revista Informática na Educação: teoria & prática. Porto Alegre, v. 1, n. 2. UFRGS, 1998. p. 73-88. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/InfEducTeoriaPratica/article/view/6275. Acesso em: 20 jul. 2015.
NÓBRIGA, J. Cássio C.; LA, Luís Cláudio. Aprendendo Matemática com o GeoGebra. Brasília-DF: Exato editora, 2011.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
RIBEIRO, Edith Valladão Campos. O design e o uso de um micromundo musical para explorar relações multiplicativas. Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação em Educação Matemática, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC, São Paulo – SP, 2007.
182
Estratégias ativas de ensino-aprendizagem no ensino de Física na Educação Básica
Sandro George Luciano Prass
Professor de Física, Universidade de Caxias do Sul, Colégio Regina Coeli,
Colégio São José, Colégio Murialdo, RS.
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo Neste artigo, apresentaremos algumas técnicas de abordagem no ensino de Física e uma análise
quantitativa dos resultados obtidos com a sua utilização, cuja metodologia de ensino privilegia a participação dos alunos no desenvolvimento das aulas de Física no Ensino Fundamental e Médio. A escolha da metodologia de ensino foi fundamentada pelos aportes teóricos fornecidos pela teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel e pela teoria Sociointeracionista de Vygotsky, com base em estratégias de ensino-aprendizagem de comprovada eficiência, tais como: Peer Instruction, Think-Pair Share, Just-in-time Teaching, Problem based learning, Flipped Classroom, entre outras. As aulas foram realizadas em turmas do 2.º ano do Ensino Médio de escolas da região de Caxias do Sul, com mais de 2.000 alunos. A análise dos resultados relativos ao desempenho das turmas indica um aumento significativo do rendimento (de 70% para 90%) e do interesse dos alunos pelos estudos da disciplina.
Palavras-chave: metodologia de ensino, aprendizagem significativa, ensino colaborativo.
Abstract
In this article, we will present some techniques of approach in the teaching of Physics and a quantitative analysis of the results obtained with its use, whose methodology of teaching that privileges the participation of students in the development of Physics classes in elementary and secondary education. The choice of teaching methodology was based on the theoretical contributions provided by Ausubel's Theory of Significant Learning and Vygotsky's Socio-Interventionist Theory, based on proven teaching-learning strategies such as Peer Instruction, Think-Pair Share, Just-in- Time Teaching, Problem based learning, Flipped Classroom, among others. The classes were held in classes of the second year of high school in the region of Caxias do Sul, with more than 2,000 students. The analysis of the results regarding the performance of the classes indicates a significant increase of the income (from 70% to 90%) and of the students' interest in the studies of the discipline.
Keywords: teaching methodology, meaningful learning, collaborative teaching.
183
1 INTRODUÇÃO
Em geral, o ensino de Física no ambiente escolar, desde a 8.a série, ou 9.º ano, do Ensino
Fundamental até as séries finais do Ensino Médio, resume-se à apresentação simplificada de
conceitos físicos associados a fenômenos pouco compreendidos pelos alunos e fortemente
associados à apresentação de um conjunto de fórmulas que devem ser utilizadas na resolução de
exercícios no momento da aplicação das provas e no vestibular. E, assim, os alunos mantêm-se
distantes do real objetivo da Física, que é o de explicar os fenômenos que ocorrem na natureza.
Os estudantes não conseguem fazer quase nenhuma associação entre o conteúdo estudado
nas aulas e o seu cotidiano; e sua função nesse processo de ensino-aprendizagem resume-se a ser
ouvinte durante as aulas e um aplicador de fórmulas durante as avaliações. Quadro este que acentua
o desinteresse dos alunos pela aprendizagem da Física, [1], já que é indispensável para que haja
uma aprendizagem significativa, que os alunos se predisponham a aprender significativamente. Daí
a importância de que o professor desperte a necessidade, a “sede” de aprender no aluno.
Tal quadro de ensino deficiente é praticado tanto no ambiente escolar quanto no Ensino
Superior, cujo fracasso reflete-se na evasão escolar, no alto índice de reprovação e no baixo
desempenho dos alunos em avaliações externas às instituições, como o Programa Internacional de
Avaliação – Pisa, as provas do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem ou, no caso do Ensino
Superior, no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – Enade. Visto que o ensino
científico, que tem sido oferecido nas escolas, mostra-se inadequado para que as pessoas saibam
lidar com essas questões, [2].
2 OBJETIVOS
O objetivo principal deste artigo é relatar metodologias de ensino-aprendizagem utilizadas
experimentalmente no ensino de Física, que foram elaboradas com base em metodologias de
ensino-aprendizagem de reconhecida eficácia em inúmeras instituições de ensino no mundo.
3 METODOLOGIA
Neste artigo, apresentaremos algumas metodologias de ensino-aprendizagem utilizadas no
ensino de Física e uma análise quantitativa dos resultados obtidos com a sua utilização, cuja
metodologia de ensino privilegia a participação dos alunos no desenvolvimento das aulas de Física
no Ensino Fundamental e Médio. Trata-se de estratégias de ensino-aprendizagem baseadas na teoria
184
Sociointeracionista de Vygotsky e na teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, utilizando
algumas metodologias de ensino-aprendizagem de reconhecida eficácia no ensino da Física (e
outras disciplinas) no mundo inteiro, tais como a Instrução por colegas (ou aos pares) do professor
Eric Mazur de Harvard – Peer Instruction; a metodologia Pense-Par-Compartilhe do professor
Frank Lyman de Maryland – Think-Pair Share; o Ensino na hora certa (ou ensino sob medida) do
professor Gregor Novak da Purdue University Indianapolis – Just-in-time Teaching; o Problem
based learning (aprendizagem baseada em problemas), o Flipped Classroom (sala de aula invertida),
entre outras.
Entendemos que tais estratégias de ensino-aprendizagem, amplamente reconhecidas no
mundo acadêmico, poderiam contribuir com alguns elementos para que elaborássemos um modelo
eficiente à realidade da educação básica (Ensino Médio e Fundamental) e a cultura do nosso
estudante no Brasil. Feito isso, testamos durante cinco anos, com mais de 2.000 estudantes de
colégios da região de Caxias do Sul (RS – Brasil), diferentes estratégias para chegarmos a um
modelo que indicasse uma maior eficiência na tarefa de envolver ativamente os alunos nas aulas de
física, fazendo-os inclusive se prepararem para ajudar a construir a aula junto com o professor,
fazendo-os autores da própria aprendizagem. Tendo como resultado, além do maior envolvimento
dos alunos, uma elevação de 70% a 90% do índice de aprovação nas avaliações que se seguiam.
O trabalho apresenta indicadores e argumentos utilizados durante o período de pesquisa para
o mestrado em ensino nessa área e também ao projeto de pesquisa desenvolvido junto ao CNPQ e a
Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Muitos professores de Física têm se dedicado a desenvolver técnicas que tornem o ensino de
Física menos enfadonho, mais atrativo, para que os estudantes tenham maior interesse pelo estudo
dessa ciência e, assim, melhorem o seu aprendizado. Tal esforço é de cunho totalmente
metodológico, ou seja, tem ligação direta com a forma como o conteúdo é ensinado. Pois, muitas
vezes, o problema da falta de interesse em estudar os conteúdos, por parte dos alunos, é provocado
pelo próprio professor, pela metodologia inadequada que este aplica nas suas aulas e, como
consequência, os alunos saem da escola apenas com um conhecimento trivial, quase sem conexões
entre os conceitos mais importantes, com concepções erradas de como o mundo natural e
fenomenológico funciona, saem acríticos e sem capacidade de aplicar o conhecimento em novos
textos [7].
Elaborar uma técnica de ensino-aprendizagem que fosse mais atraente aos alunos e
prioritariamente colaborativa e conceitual foi uma proposta que começou a ser pensada durante
estudos realizados no mestrado, por se mostrar bastante interessante, provavelmente eficiente, fácil
de ser aplicada e, principalmente, se fosse bem aceita pelos alunos promoveria uma fantástica
participação destes às nossas aulas de Física.
185
Já existem inúmeros trabalhos que apontam para um cenário construtivista que apresenta
resultados bastante positivos quando o processo de ensino aprendizagem se torna mais colaborativo,
deixando em segundo plano a resolução equacional de problemas, [4].
Nos colégios onde foram desenvolvidos os trabalhos, as aulas sempre foram bastante
agitadas pela forma, ritmo e dinâmica imposta pelo professor, tanto com os alunos do Ensino
Fundamental, Médio e do cursinho pré-vestibular. Mas o fator mais relevante nesta proposta e a
ideia de ter em aula alunos discutindo os conteúdos, explicando, falando sobre eles, dando
exemplos, conceitos, propondo experimentos e no geral, construindo a própria aula junto com o
professor, que antes era totalmente orientada pelos docentes.
A técnica rompe com a ideia, adotada em todo o mundo, de que "as aulas de Ciências são
momentos de “transferência de informação". Retira a transferência de informação da sala de aula
dizendo aos alunos, por exemplo, coisas tão simples como estudarem um assunto em casa para
posteriormente o discutirem na aula. Recorre à chamada aprendizagem conceitual, faz com que os
alunos se tornem os seus próprios professores ou pelo menos colabora com o processo.
A seguir encontram-se algumas possibilidades de estratégias de ensino-aprendizagem, à luz
do referencial teórico já citado, que foram utilizadas durante as aulas de Física:
I – Durante a resolução de exercícios (exercícios de aula), a correção de tarefas de casa ou das
avaliações, o professor convida os alunos a fazerem a leitura das questões, motiva estes a proporem
uma resposta, oportuniza a todo o grupo contribuir e finalmente construir uma resposta em conjunto
com o professor.
II – Em todos os momentos da aula, sempre que um aluno fizer uma pergunta, este será convidado a
expor o que já imagina ser resposta para a dita pergunta ou parte desta. Exposta a pergunta e a
suposta resposta, a turma num todo ou aos pares propõe possíveis soluções para o questionamento
do colega e, colaborativamente, auxiliados pelo professor, respondem a questão.
III – Com base em estudos mais básicos, o professor divide a turma em grupos de até quatro alunos
para que estes resolvam problemas mais complexos. Momento este em que os grupos podem
utilizar recursos didáticos diferenciados (e não apenas a apostila escolar): livros, CDs, DVDs,
pesquisa na internet ou na biblioteca e até realizar experimentos no laboratório (ensaios). Após o
fim do prazo determinado para os trabalhos, os grupos devem entregar as soluções desenvolvidas e
apresentá-las para toda a turma.
IV – Na aula anterior à aula em que um conteúdo novo será desenvolvido, o professor propõe aos
alunos que realizem uma pesquisa sobre o assunto que será abordado, solicitando que estes anotem
elementos/características principais do objeto em estudo e inicia a aula ouvindo dos alunos o que
estes anotaram sobre o assunto e, conforme estes vão citando as suas compreensões do assunto, o
professor ou um aluno vai organizando estas em um quadro de informações na lousa, a fim de que
186
momentos depois se tenha construído um esquema conceitual (ou mapa conceitual) sobre o assunto.
Em seguida, o professor propõe algumas (de duas a cinco) questões teóricas que devem ser
resolvidas com base no estudo realizado por eles, em casa, e com o que foi discutido em aula. Tais
questões são resolvidas preferencialmente aos pares e as soluções devem ser posteriormente
apresentadas e debatidas com a turma toda.
V – Nas avaliações, propor intencionalmente pelo menos uma questão mais complexa e inédita
(problema) ao que já foi trabalhado em aula, desafiando os alunos a resolvê-la com base nos estudos
realizados e, assim, transformando o momento da avaliação em um momento de aprendizagem e
não apenas de repetição.
VI – Explorar durante as resoluções de exercícios ou das avaliações os erros dos alunos, analisando
o erro e trazendo-o à análise da turma para que entendamos qual raciocínio levou ao erro; e
transformando-o em uma possibilidade de aprendizagem.
VII – Ao iniciar um conteúdo novo ou ao responder a uma pergunta feita fora do contexto do
conteúdo em desenvolvimento, solicitar aos alunos que digam o que sabem sobre o tal assunto, a
fim de explorar os seus conhecimentos prévios, como ponto de partida para o estudo mais apurado.
Identificados os conhecimentos prévios dos alunos e concluída a etapa formal dos estudos, pode-se
retomar esses conhecimentos prévios (até mesmo durante a avaliação) para que eles percebam
eventuais diferenças conceituais que possam existir e, desta forma, objetivar uma aprendizagem
mais significativa. Esses conhecimentos prévios poderiam ser anotados e entregues ao professor no
dia da primeira aula e serem devolvidos e analisados após o encerramento do módulo.
Ao dar-se a oportunidade para que os alunos participem da aula, questionando, refletindo e
sugerindo soluções para as situações que vão se apresentando, estabelecendo conexões entre as
atividades em questão e os conhecimentos conceituais correlacionados, concretiza-se o que se
poderia chamar de aprendizagem significativa, [1].
Um elemento fundamental para a consolidação da aprendizagem é o da valorização das
perguntas dos alunos, ou seja, quando um aluno faz uma pergunta, deve-se questioná-lo sobre o
contexto da sua pergunta, o porquê dela, em que ela se baseia, o que ele já entendeu sobre o
assunto. Não é interessante responder de imediato a pergunta e nem dar imediatamente a palavra
para que o grupo responda ao que foi questionado. Pois quando o aluno tenta contextualizar uma
pergunta, muitas vezes o que falta é que ele organize suas ideias sobre o assunto; e é normal que
quando faça essa operação de racionalização, essa assimilação, na tentativa de construir um modelo
mental que explique a realidade dos fatos em estudo, que ocorra uma acomodação e que ele mesmo
responda a pergunta que iria fazer. Segundo Vygotsky, é neste momento que o desenvolvimento
não se dá em círculos, como ocorre frequentemente, e sim em espiral, pois a leitura que o aluno tem
187
do problema já passou pelo mesmo ponto diversas vezes durante os debates enquanto avança para
um nível superior, [8].
Existem momentos em que se um aluno explica um conceito aos demais, a aprendizagem se
dá de uma forma extremamente mais simples, rápida e direta. No momento em que se faz
necessário responder uma pergunta feita por um aluno, a qual devolvemos ao grupo, é nítido que o
aluno que perguntou estava quase entendendo o que queria saber e que algumas simples palavras já
o fizeram concretizar as suas ideias sobre o assunto. Tanto que alguns usam a expressão “ah tá” ou
“ah sim” ou “agora sim”, demonstrando que este se encontrava, na verdade, na Zona de
Desenvolvimento Próximo (ZDP), tão estudada por Vygotsky, [3].
É fundamental que, no fim dessas aulas interativas, o professor vá ao quadro e retome o que
foi dito, faça uma síntese, faça-os verificar as suas anotações da pesquisa e complementar com o
que falta. Solicita-se aos alunos que ditem, ao professor ou a um aluno que se encontra junto ao
quadro para fazer anotações, um esquema-resumo de tudo que foi percebido de mais significativo
durante as discussões e, em seguida, que tal esquema se transforme em um mapa conceitual do que
foi trabalhado. É neste momento que se percebe o quanto a aprendizagem realmente ocorreu e o
quanto ela é significativa.
Feitas as considerações finais por parte do professor e a elaboração do mapa conceitual ou o
esquema de estudo do conteúdo são propostos exercícios sobre o assunto, tanto por meio de listas,
como através do livro didático ou apostila adotada pela turma. A correção dos exercícios ocorre de
uma forma igualmente colaborativa, quando cada resposta certa ou errada é discutida. Inclusive nas
questões de múltipla escolha de vestibular ou do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.
4 PRINCIPAIS RESULTADOS
Com base nas avaliações aplicadas sobre o mesmo assunto em 2011 e 2012 (com os
resultados sobre o desempenho neste período apresentado sob a forma de média harmônica dos
resultados individuais) sem o uso desta técnica e com o emprego de uma metodologia de ensino
totalmente expositiva dada pelo mesmo professor e em 2013 com o emprego do que foi descrito
anteriormente neste artigo, aplicando-se um instrumento de avaliação quase que totalmente igual
nos dois momentos, obteve-se os seguintes índices de desenvolvimento dos alunos nas avaliações,
conforme apresentado na tabela e no gráfico a seguir.
Tabela comparativa das notas dos alunos entre 2011/2012 e 2013.
RESULTADOS/NOTAS 2011 e 2012 2013 Ótimo ou Gabarito 5 – 8,3% 14 – 23,3%
188
Gráfico comparativo das notas dos alunos entre 2011/2012 e 2013.
Considerando que ambas as turmas tiveram aula com o mesmo professor, a mesma carga
horária, utilizando o mesmo material didático e praticamente a mesma avaliação, que as diferenças
evidenciadas surgiram devido a utilização da técnica de ensino-aprendizagem descrita neste artigo.
A aprovação da turma passou de 78,2% para 89,9%, o que indica um aumento de 14,9% no
número de alunos que conquistaram no mínimo a média na avaliação.
Ocorreu um aumento de 180% no número de alunos que obtiveram nota entre 9 e 10, pois
no primeiro período apenas 5 alunos estavam nessa categoria e em 2013 foram 14.
Verifica-se um aumento de 35% na quantidade de alunos que obtiveram um resultado
classificado como “Muito Bom” na avaliação e tiveram nota entre 8 e 9.
Em 2013 não houve alunos com nota acentuadamente insuficiente, ou seja, nota inferior a 4.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a metodologia de ensino-aprendizagem descrita neste artigo, em que se
verifica a priorização da participação ativa dos alunos no desenvolvimento das aulas de Física, cuja
sustentação teórica é alicerçada na teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel e na teoria
(9,0 a 10,0) Muito Bom (8,0 a 9,0) 14 – 23,3% 19 – 31,6%
Média (7,0 a 8,0) 28 – 46,6% 21 – 35% Insuficiente (4,0 a 7,0) 8 – 13,3% 6 – 10%
Muito Insuficiente (0,0 a 4,0) 5 – 8,3% 0 – 0% Aprovação 78,2% 89,9%
189
Sociointeracionista de Vygotsky, entendemos que esta metodologia tenha influenciado
significativamente nos resultados da avaliação aplicada aos alunos, considerando o substancial
aumento no nível de alunos que obtiveram média na avaliação de 14,9%, ou pelo aumento no
número de alunos que conseguiram um surpreendente desempenho na avaliação e obtiveram notas
entre 9 e 10, ou seja, gabaritaram ou quase gabaritaram a avaliação, que foi 180%.
A aplicação da técnica atingiu até mesmo aqueles alunos que têm uma dificuldade acentuada
em compreender conceitos físicos ou em se interessar pela aula de Física. Pois, segundo
apontamentos, com o uso da técnica não tivemos nenhum aluno com o grau “Muito Insuficiente”,
ou seja, nota abaixo de 4.
Da forma como os resultados se mostraram substancialmente positivos do ponto de vista do
envolvimento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem, do aprendizado significativo dos
conceitos acerca dos fenômenos físicos envolvidos e dos resultados das avaliações, consideramos
que esta metodologia continuará a ser utilizada no ensino de Física e também experimentada no
ensino de outras disciplinas.
REFERÊNCIAS [1] AUSUBEL, D. P. Educational psychology: a cognitive view. New York: Holt, Rinehart, 1968.
[2] CASTRO, C. M. A hora da sala de aula. In: Veja, São Paulo, 8 maio 2002, p. 67.
[3] CHAIKLIN, S. et. al. The zone of proximal development in Vygotsky’s analysis of
learning and instruction in kozulin, 2003.
[4] MAZUR, E; LASRY, N. Implementting the Warvard Peer Instruction Method in CEGEP. In: Pédagogie Collégiale, Quebec, v. 21, n. 4, 2008, p. 1-7.
[5] MAZUR, E. Peer Instruction: a user’s manual. Upper Saddle River: Prentice Hall, 1999.
[6] NOVAK, G. M. Just-in-time teaching: blending active learning with web technology. Upper Saddle River: Prentice Hall, 1999.
[7] PISA 2001. Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Relatório Nacional. Brasília, 2001 Disponível em: <http://www.pisa.oecd.org/NatReports/PISA2000/Brazilnatrep.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2013.
[8] VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 56.
190
Subtema 4 – Designs de ensino e recursos didáticos para os processos de alfabetização e letramento
191
RELATO DE EXPERIÊNCIA
192
Ser professor na era digital – concepções de educadores e professores de 1.º CEB
Lilian Moreira; Zélia Anastácio; Altina Ramos
CIEd Universidade do Minho; CIEC Universidade do Minho; CIEd Universidade do Minho
[email protected]; [email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Atualmente, as exigências que são feitas aos profissionais de educação diferem bastante daquelas que eles enfrentavam há quinze ou vinte anos, essencialmente no que diz respeito ao uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação em contexto educativo. Sendo assim, o nosso estudo teve como principal objetivo conhecer a percepção de educadores de infância e de professores de primeiro ciclo do Ensino Básico com relação ao que é ser professor na era digital. Este foi um estudo transversal, para o qual construímos e validamos um questionário específico, com questões fechadas e questões abertas. O instrumento de coleta de dados foi disponibilizado aos profissionais e preenchido via on-line por meio do Google Forms. A amostra foi de conveniência, tendo sido constituída por 83 indivíduos (77 mulheres, 6 homens) com idades compreendidas entre os 25 e os 60 anos, que lecionavam na Educação de Infância e no 1.º Ciclo do Ensino Básico.
Os resultados evidenciaram que os professores e educadores tendem para a concepção de que ser professor na era digital é utilizar as tecnologias em sala de aula, ou seja, a tecnologia parece ser vista apenas como mais um instrumento para facilitar o modo de ensinar e/ou de motivar os alunos para a aprendizagem. Os sujeitos também concordaram que ser professor na era digital é ter acesso a mais informação a qualquer hora e em qualquer lugar.
Parece, pois, que os professores que responderam a este questionário carecem de uma formação específica para perceberem melhor que os aspectos metodológicos, didáticos e pedagógicos são os que mais interessam no uso das tecnologias com propósito educativo.
Palavras-chave: educadores, professores, era digital, tecnologia educativa.
Abstract
Currently what is required from education professionals is very different from what was required fifteen or twenty years ago, essentially about the use communication and information technologies in educative context. In this sense, our study aimed to know the perception of early childhood educators and primary school teachers regarding to what means to be a teacher in the digital age. It was a cross-sectional study, for which we carried out and validated a specific questionnaire with closed and open questions. The instrument was available for the professionals and filled in online through Google Forms. It was a convenience sample, which included 83 individuals (77 women, 6 men) aged between 25 and 60 years, which were teaching in nursery school and primary school.
The results showed that teachers and educators tend to believe that being a teacher in the digital age is to use technology in the classroom, i. e, technology seems to be just a tool to facilitate the way of teaching and/or to motivate pupils for learning. Individuals also agree that being a teacher in the digital age is to have access to more information anytime and anywhere.
193
It seems, therefore, that teachers who responded to this questionnaire, lack a specific training to realize better that the methodological, didactic and pedagogical aspects are the most important in the educational use of technologies.
Keywords: technology education, teacher training, digital age.
194
1 INTRODUÇÃO
Ser professor em qualquer nível de ensino implica uma constante predisposição para receber
o novo conhecimento e acomodá-lo junto ao anteriormente adquirido, bem como transpô-lo para a
sua prática pedagógica. Atualmente, o que é exigido aos professores e educadores de infância difere
bastante do que lhes era solicitado há anos, essencialmente no que diz respeito ao uso das
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) e atendendo a que:
[...] não só é muito diferente o contexto social e profissional em que os professores e educadores são chamados a intervir, como é substancialmente diferente o modo como são hoje entendidas quer a função docente quer o seu crescimento e desenvolvimento enquanto profissionais. Fruto das rápidas e constantes mudanças sociais, os professores passaram a ser confrontados com exigências do ponto de vista metodológico que se afastam cada vez mais daquilo que tradicionalmente lhes era exigido sem que isso seja acompanhado, na maior parte dos casos, de um conjunto de medidas adequadas que se imporiam em áreas especificamente relacionadas com a organização e gestão do processo de ensino e de aprendizagem, mas também ao nível das condições de trabalho na escola e do seu desenvolvimento profissional, para só referirmos algumas. (COSTA, 2009, p. 294-295).
Concordamos inteiramente com Silva (2002), quando afirma que “as tecnologias, só por si,
não fazem a mudança” e que “a prática e as investigações mostram que as tecnologias asseguram
apenas uma parte do vasto pacote do processo de mudança” (p. 43). Sendo assim, para que haja uma
mudança eficaz durante o desenvolvimento profissional dos professores, Day (2001) considera que
a mesma não pode ser feita de forma forçada e/ou obrigada, isso porque:
O desenvolvimento profissional não é algo que se possa impor, porque é o professor que se desenvolve (ativamente) e não é desenvolvido (passivamente); a mudança que não é interiorizada será provavelmente cosmética, “simbólica” e temporária; a mudança, a um nível mais profundo e contínuo, envolve a modificação ou transformação de valores, atitudes, emoções e percepções que informam a prática e é improvável que estes ocorram, a não ser que haja participação e sentido de posse nos processos de tomada de decisões sobre a mudança. (p. 153).
É justamente por isso que acreditamos que os professores devem primeiramente querer ser
capazes de mobilizar competências pedagógicas e tecnológicas para conseguirem uma efetiva
integração das TIC nas suas práticas letivas, já que integrá-las “no processo de ensino/aprendizagem
provoca mais alterações que apenas a alteração das ferramentas utilizadas” (HARRIS; MISHRA;
KOEHLER, 2007, p. 4). Esta perspectiva tem implicação, naturalmente, na alteração das estratégias
pedagógicas, nas formas de ensinar, de aprender e de se relacionar com a construção dos seus
conhecimentos (LOPES, 2011), numa ideia muito bem sintetizada por Salomon (2002, apud
COSTA; VISEU, 2008, p. 238) “it is the pedagogical way in which it is used that makes the
difference”.
O modelo Techonological Pedagogical Content Knowledge (TPACK) apresentado por
Mishra e Koelher (2006) sugere um leque de conhecimentos e de competências que um professor
195
deve possuir, de forma a ser capaz de utilizar, de modo coerente e consistente, as Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TIC), em contexto de sala de aula, colocando as tecnologias ao
serviço da construção do saber pelo aluno e não apenas como um apoio ao professor para ensinar.
Capacitando os professores para o uso das várias tecnologias de fácil acesso nas escolas, utilizando
as mais diversas ferramentas e/ou aplicações gratuitas para a concepção e imediata aplicação nas
atividades letivas, torna-se possível dotá-los das adequadas “competências de utilização das TIC
como ferramentas cognitivas no processo didático” (COUTINHO, 2011, p. 5).
O modelo teórico do TPACK assenta em três tipos de competências básicas. Uma é a
competência pedagógica que pressupõe que o professor domina a pedagogia, as estratégias e as
teorias da aprendizagem. Outra é a competência de conteúdo, que sugere que o professor domina o
conteúdo a ser lecionado, pois é qualificado para tal. A terceira competência básica é a competência
tecnológica, significando que o professor domina as ferramentas tecnológicas e está apto a ajudar os
seus alunos no uso das mesmas.
A zona central deste referencial é, muito provavelmente e por enquanto, um lugar um tanto
utópico e de difícil alcance para a maior parte dos professores: aos mais experientes, com muitos
anos de serviço, faltar-lhes-á um nível adequado de competências tecnológicas ou de familiarização
com as destrezas relativas tanto ao manuseio como à sua interligação efetiva com o conteúdo e
pedagogia, o que lhes proporcionaria uma confortável dose de autoconfiança. Do lado oposto
estarão os jovens professores que poderão ter as competências tecnológicas mais desenvolvidas,
mas ainda são muito inexperientes na integração das tecnologias na prática pedagógica e na arte de
interpretar o conteúdo e transformá-lo em algo compreensível para os alunos.
Na Figura 1 poderá ser observado o que cada uma das áreas representa no saber do professor
e onde cada um dos professores poderá se integrar de acordo com este modelo teórico.
Figura 1 – Interpretação do Referencial TPACK – adaptado de <http://www.learnovationlab.org/tpack html>
196
2 OBJETIVO
O nosso estudo teve como principal objetivo conhecer a percepção de educadores de
infância e de professores de primeiro ciclo do Ensino Básico com relação ao que é ser professor na
era digital.
3 METODOLOGIA
A metodologia utilizada considera-se ser mista, uma vez que se combinaram métodos de
análise quantitativos com técnicas de análise qualitativa e interpretativa, constituindo assim uma
abordagem dialógica (BROWN; DOWLING, 1998). Contudo, as dimensões apresentadas neste
estudo são essencialmente de índole qualitativa. Foi um estudo transversal, para o qual construímos
e validamos um questionário específico, com questões fechadas e questões abertas. O instrumento
foi disponibilizado e preenchido via on-line, através do Google Forms, por educadores de infância e
professores do primeiro Ciclo do Ensino Básico.
A nossa amostra incluiu 20 educadores de infância (24,1%), 60 professores do primeiro
Ciclo do Ensino Básico (72,3%) e 3 professores que lecionavam em ambos os níveis de ensino, mas
que eram professores do Ensino Especial (3,6%). Da totalidade, 77 eram do sexo feminino e 6 do
sexo masculino.
A faixa etária situou-se entre os 25 e os 60 anos de idade. Organizando por intervalos, 9,6%
tinham até 30 anos de idade, de 31 a 40 anos eram 34,9%, de 41 a 50 anos de idade eram 27,7% e
acima de 51 anos tínhamos também 27,7%.
197
Quanto ao tempo de serviço a que lecionavam, 16,9% possuíam até 5 anos de serviço, 8,4%
tinham entre 6 a 10 anos, 21,7% de 11 a 15 anos, 15,7% de 16 a 20 anos, 3,6% de 21 a 25 anos,
16,9% tinham uma experiência profissional de 26 a 30 anos, 14,5% de 30 a 35 anos e somente 2,4%
possuía mais de 35 anos de serviço.
Os dados foram recolhidos diretamente numa tabela do Excel de onde copiamos as respostas
dos inquiridos para o Word. Depois foram importados para o NVivo 11 onde foram tratados e
submetidos a análise de conteúdo. Com isso, conseguimos minimizar a maioria dos problemas
associados à transcrição de dados, nomeadamente rigor e dispêndio de tempo (GIBBS, 2009).
Para categorizar as respostas usamos como base o modelo TPACK e criamos as seguintes
categorias:
Tabela 1 – Categorias das respostas segundo o modelo TPACK
A nossa pergunta As categorias das respostas segundo o modelo TPACK
Para si, o que é ser professor na era digital?
Competências tecnológicas
Competências pedagógicas
Competências conteúdos
Competências tecnológicas e pedagógicas
Competência pedagógica e de conteúdos
Competência tecnológica e de conteúdos
Competência tecnológica, pedagógica e de conteúdos
Não respondeu
Pelo fato de mais da metade, no caso 61,5%, das respostas dos profissionais manifestarem
que ser professor na era digital era “ter competências tecnológicas” achamos interessante criar
subcategorias para esta categoria de modo a analisá-la melhor. Essas subcategorias emergiram dos
dados que foram agrupados conforme a argumentação de cada um dos inquiridos. Neste caso,
emergiram das respostas 6 subcategorias como poderá ser observado na tabela abaixo.
Tabela 2 – Subcategorias das respostas em relação à categoria “competência tecnológica”
Categoria Subcategoria
Competências Tecnológicas
Atualização constante do professor
O professor utiliza as tecnologias
Ter acesso a informação
Existem vantagens e desvantagens
Ter mais tecnologia nas escolas
É um desafio
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
198
Segundo Ponte (2002), baseado nas perspectivas dos próprios professores, há dez anos,
havia os que olhavam as TIC com desconfiança, procurando adiar a sua utilização na sala de aula,
assim como os que as usavam para os mais diversos fins, mas sem saberem muito bem como as
integrar na sua prática profissional; enquanto outros procuravam usar sem, contudo, alterar as suas
práticas. Atualmente, os nossos dados não nos revelam grandes diferenças.
Os educadores de infância e os professores de primeiro Ciclo do Ensino Básico, na sua
grande maioria, tendem a saber usar algum software/aplicativo (Word, Powerpoint, ferramentas de
busca e e-mail) e, provavelmente, já possuem ideias de possíveis abordagens pedagógicas em
benefício da construção do saber por parte dos seus futuros alunos, como revelaram as respostas de
alguns. No entanto, torna-se pertinente a questão de Paraskeva e Oliveira (2006): será que estes
educadores e professores são capazes de usar as TIC não apenas como mais um meio de apoio do
professor fora ou dentro da sala de aula?
Aparentemente a resposta tende a ser não. O que nos mostra isso é o fato de 61,5% dos
inquiridos referirem que ser professor na era digital é saber utilizar as tecnologias em favor da
aprendizagem, ou seja, para eles ser professor na era digital é ter competência tecnológica como
mostra a tabela 3.
Tabela 3 – Dados das categorias das respostas segundo o modelo TPACK
A nossa pergunta As categorias das respostas segundo o modelo TPACK
N.º de resposta
% da resposta
Para si, o que é ser professor na era digital?
Competências tecnológicas 51 61,5%
Competências pedagógicas 1 1,2%
Competências de conteúdos 1 1,2%
Competências tecnológicas e pedagógicas
11 13,3%
Competência pedagógica e de conteúdos
1 1,2%
Competência tecnológica e de conteúdos
6 7,2%
Competência tecnológica, pedagógica e de conteúdos
8 9,6%
Não respondeu 4 4,8%
Dos 83 inquiridos, 51 afirmaram que ser professor na era digital é ter competência
tecnológica. Como essa categoria teve grande destaque, criamos subcategorias para analisar melhor
esses dados, os quais se apresentam na tabela 4.
Tabela 4 – Dados das subcategorias das respostas em relação à categoria “competência tecnológica”
Categoria Subcategoria N.º resposta
% da resposta
199
Competências tecnológicas
Atualização constante do professor 11 21,6% O professor usa as tecnologias de forma pessoal
26 51%
Ter acesso a informação 3 5,9%
Existem vantagens e desvantagens 4 7,8%
Ter mais tecnologia nas escolas 3 5,9%
É um desafio 4 7,8%
Dentro dessa categoria salientamos a subcategoria que mais se destacou “o professor utiliza
as tecnologias” (51%). Como exemplos temos as seguintes respostas: “temos de usar as tecnologias
com as crianças pois elas são uma fonte inesgotável de informação”; “Usar as novas tecnologias em
sala de aula permitindo assim que os alunos vejam outro lado sem ser os jogos;” ou ainda quando
dizem “é fundamental que a escola/professores estejam familiarizados com as ferramentas
informáticas e saibam utilizá-las na ação educativa normal.”
A segunda subcategoria que emergiu dos dados diz respeito a estar sempre atualizado.
Obtivemos 21,6% dos entrevistados dizendo que ser professor na era digital é estar sempre
atualizado não só em relação à informação, mas principalmente, em relação ao uso instrumental das
tecnologias. Para eles, se antes era importante que os professores estivessem informados, agora o é
ainda mais como diz um dos inquiridos: “Ser professor significa atualização diária. Ser professor na
era digital significa atualização bi-diária!” (ponto de exclamação colocado pelo respondente). Outro
tipo de respostas foi: “É um professor atualizado, ou seja, sabe usar bem e acompanhar a evolução
das tecnologias” ou ainda, “Sentir a obrigação de estar atualizada”.
A terceira e quarta subcategorias encontradas, com 7,8% de frequência relativa das respostas
obtidas em cada, referem-se ao fato de as tecnologias serem ainda um “desafio” para muitos
docentes e o argumento que elas apresentam são as vantagens e desvantagens. Para alguns docentes
(4) as tecnologias representam um desafio, como diz um dos docentes: “É um desafio quase
impossível para os professores como eu, com muitos anos de serviço. Seria preciso reformar os
professores muito mais cedo e dar lugar aos novos.”
Não estabelecemos aqui associações entre estas respostas e o fator idade, porém sabemos
pela literatura e pela experiência que os professores mais velhos são os que apresentam maior
resistência ao uso das TIC em sala de aula, como evidencia a resposta seguinte com relação às
vantagens e desvantagens das TIC:
Penso que nesta era digital, é importante os professores relembrarem os seus alunos das vantagens e desvantagens que a era digital pode implicar nos discentes. Pelo que vemos, nos dias de hoje, a era digital está demasiado presente na vida dos alunos, isto é, penso que, de certa forma, os alunos encontram-se dependentes das tecnologias (Facebook e afins) e fizeram disso um modo de vida. A meu ver, isso é mau, pois cria sedentarismo, isolamento, dificuldades no estudo e os alunos esquecem-se de uma coisa muito importante que é socializar. Posto isto, ser professor na era digital não é fácil, mas é importante fazer com que os alunos se apercebam das desvantagens que a era digital pode causar.
200
As quinta e sexta subcategorias, ambas referidas por 5,9% dos professores, mostram que ser
professor na era digital é ter acesso a informação em qualquer lugar e que é preciso haver mais
equipamentos tecnológicos nas escolas. Para estas subcategorias temos as seguintes afirmações: “É
ser capaz de utilizar todas as tecnologias disponíveis na sala de aula, mas estas são quase
inexistentes, na maior parte das escolas do 1.º ciclo. É também ter formação adequada para este tipo
de desempenho”; “Muito difícil pois as escolas não estão preparadas para esta nova era”; “É ter
acesso à informação na palma da mão”; “Estar atento e informado”. Curiosamente, também se
encontra uma maneira tradicional de ver o uso das TIC quando um dos inquiridos respondeu: “É ser
um professor com muita informação para abordar, muita imaginação para fugir ao tradicional e
pouco tempo para transmitir informação de outra forma mais ‘digital’”. A ideia de transmissão de
informação continua presente no seu discurso assim como no de outro professor quando diz que ser
professor na era digital é “Ser inovador nos métodos de transmissão do conhecimento”.
Também obtivemos respostas mais abrangentes que associam o aspeto tecnológico com o
pedagógico (13,3%). Consideramos as respostas em que os inquiridos responderam que usavam a
tecnologia aliada à pedagogia de sala de aula, como podemos ver em alguns exemplos: “Permitir o
uso controlado em sala de aula de ferramentas úteis para o dia a dia”; “É poder tirar partido de todas
as ferramentas digitais/tecnológicas de forma a melhorar a prática pedagógica sempre que
possível;” “Ser professor na era digital é utilizar a tecnologia para auxiliar em sua prática
pedagógica”.
No que diz respeito à categoria “Competência Tecnológica e de Conteúdo” obtivemos 7,2%
das respostas. Esses docentes acreditam que ser professor na era digital “É adaptar os conteúdos às
novas tecnologias”; ou “É ser capaz de tirar o maior partido dos meios ao seu dispor de forma que
os seus alunos adquiram conhecimentos e desenvolvam capacidades de forma mais atrativa e mais
eficiente, além de fomentar uma adequada utilização dos meios digitais pelos seus educandos.”
Conseguimos entender que, para muitos professores, a tecnologia passou a ser um meio no qual
buscar os conteúdos, e isso é verdade, porém mais que ir buscar os conteúdos é preciso haver uma
boa pedagogia na sala de aula para que o processo de ensino-aprendizagem não se dilua em tanta
informação e tecnologia.
Apenas 1,2% dos professores referiram a competência de conteúdo, ou a competência
pedagógica ou, ainda a competência de conteúdo e pedagógica. Isso já era esperado visto que para
os docentes ser professor na era digital é, essencialmente, saber usar as tecnologias em sala de aula.
Se juntarmos esses dados poderemos ter um outro olhar, na medida em que 3,6% dos docentes
tendem a acreditar que ser professor na era digital é ser o mesmo professor do século XX, ou seja, é
ensinar os conteúdos com a melhor estratégia sem o uso das tecnologias. Isso faz com que fique
201
uma interrogação no ar: por que será que a profissão docente continua igual há tantos anos? Um dos
professores revela que ainda se sente “preso” aos manuais, pois diz que “É ser um professor com
muita informação para abordar, muita imaginação para fugir ao tradicional e pouco tempo para
transmitir informação de outra forma mais "digital". Uma vez que os manuais têm imensos
exercícios e não nos dão margem para fugirmos ao obvio do dia a dia do manual escolar”. Ou
quando outro docente diz que ser professor na era digital “é o mesmo que antes”. Resta-nos assim a
reflexão: Será que não evoluímos face à inovação e diversidade de ferramentas pedagógicas?
As respostas que consideramos enquadrarem-se mais no modelo TPACK (integram as três
competências básicas) representam 9,6% dos resultados. Como exemplos de respostas dentro do
modelo TPACK consideramos: “Conhecer e dominar as ferramentas digitais, para estar apto a usá-
las no processo de ensino aprendizagem e criar condições na sala de aula para o seu uso por parte
dos alunos, na obtenção e criação de conteúdos curriculares ou extracurriculares.“; “Ser professor
na era digital é utilizar a tecnologia para auxiliar em sua prática pedagógica, sempre relacionando os
interesses dos alunos aos conteúdos, utilizar diversas ferramentas e recursos para tornar sua aula
diversificada e aplicar conceitos novos como gameficação, revendo a sua prática a todo o
momento”; “É um professor que utiliza eficazmente as TIC na sua vida profissional com vista a
melhorar as suas práticas pedagógicas e que estimula os seus alunos a utilizarem, de forma
adequada/apropriada, as ferramentas ao seu alcance com vista à ampliação/consolidação de
conhecimento” e “Quanto à questão ser professor na era digital, para mim é ser um moderador,
estimulando a descoberta e orientando no uso das tecnologias mas promovendo os valores da
interação pessoal, o gosto e o prazer por estar em grupo e partilhar as aprendizagens, da parte lúdica
que não se consegue quando está sozinho.”
Cabe ressaltar que quatro docentes (4,8%) não responderam a nossa pergunta.
5 CONCLUSÃO
Os nossos resultados permitem-nos concluir que ser professor na era digital, em termos das
concepções manifestadas pelos inquiridos, é essencialmente saber usar as tecnologias em proveito
próprio para, por exemplo, preparar as aulas ou para ensinar os alunos “de forma mais fácil e
motivadora”.
O discurso dos educadores e professores evidencia que a maioria está consciente dos
grandes desafios que a sociedade do século XXI coloca à escola e ao professor e que, cada vez
mais, estes precisam desenvolver as suas competências tecnológicas para complementar e atualizar
as competências pedagógicas e de conteúdo curricular já adquiridas. Se os professores apostarem
202
nesta vertente de desenvolvimento profissional, teremos professores mais bem preparados e,
consequentemente, mais aptos a contribuir para uma formação mais completa dos seus alunos.
Sabemos que para um professor alcançar o centro do referencial TPACK não basta que ele
tenha as suas competências pedagógicas, de conteúdo e tecnológicas de forma equilibrada. É
preciso que ele rompa com paradigmas transmissivos e que aceite inovar, a fim de melhorar as
estratégias de ensino-aprendizagem e de diversificar as suas aulas, com vista a maior sucesso
educativo dos seus alunos. É ainda importante que o professor adquira um maior nível de
autoconfiança, com reflexo na criação de rotinas de integração das TIC nas suas práticas. Porém,
além de mudar o discurso é preciso mudar a prática e aprender a refletir sobre a ação, é preciso
quebrar esse fosso entre o discurso e a prática. Em síntese, precisamos de professores reflexivos,
que tentem realizar práticas inovadoras com TIC, analisar os resultados, com a ajuda de colegas e
ou/formadores que os ajudem a melhorar ou mesmo alterar as suas práticas pedagógicas com TIC.
REFERÊNCIAS
BROWN, A.; DOWLING, P. Doing Research/Reading Research. A Mode of Interrogation for Education. London: Falmer Press, 1998.
COSTA, F. A. Um breve olhar sobre a relação entre as tecnologias digitais e o currículo no início do séc. XXI [Edição em CD-Rom]. In: DIAS; OSÓRIO. (Ed.). Actas da VI Conferência Internacional de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação, Challenges 2009. Braga: Centro de Competência da Universidade do Minho, 2009. p. 293-307.
COSTA, F. A.; VISEU, S. Formação – Acção – Reflexão: um modelo de preparação de professores para a integração curricular das TIC. In: COSTA; PERALTA; VISEU. As TIC na Educação em Portugal. Concepções e práticas. Porto: Porto Editora, 2008.
COUTINHO, C. M. TPACK: em busca de um referencial de professores em Tecnologia Educativa. In: Revista Paidéi@, Unimes Virtual, v. 2, n. 4, jul. 2011.
DAY, C. Desenvolvimento profissional de professores: os desafios da aprendizagem permanente. Porto: Porto Editora, 2001.
GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. R. C. Costa, Trad. Porto Alegre: Artmed, 2009.
HARRIS, J.; MISHRA, P.; KOEHLER, M. Teachers’ technological pedagogical content knowledge: curriculum-based technology integration reframed. In: Annual Meeting of the American Educational Research Association, 2007.
LOPES, J. J. A introdução da informática no ambiente escolar. Disponível em: <http://www.clubedoprofessor.com.br/artigos/artigojunio.htm>. Acesso em: 28 nov. 2011.
MISHRA, P.; KOELHER, M. J. Technological pedagogical content knowledge: a new framework for teacher knowledge. In: Teachers College Record, v. 108, n. 6, 2006, p. 1017-1054.
203
PARASKEVA, J. M.; OLIVEIRA, L. R. Currículo e tecnologia educativa. v. 1. Mangualde: Edições Pedago, 2006.
PONTE, J. P. As TIC no início da escolaridade: perspectivas para a formação inicial de professores. In: ______. A formação para a integração da TIC na educação pré-escolar e no 1.º Ciclo do Ensino Básico. Porto: Porto Editora, 2002. p. 19-26.
SILVA, B. D. A Tecnologia é uma estratégia para a renovação da Escola. In: Revista da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, n. 5, Tecnologia Comunicação e Educação, 2002.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à FCT o financiamento concedido para esta investigação, através da bolsa SFRH/BD/113151/2015 concedida no âmbito do doutoramento.
204
Construindo os caminhos da educação indígena xavante de Campinápolis, Mato Grosso – Brasil
Emival Pereira da Costa; José Luiz Silva dos Santos; Marilene Correa Borges; Nelson Gonçalves de Melo
Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Campinápolis – MT
E-mail: [email protected]
Modalidade da Apresentação: Relato de experiência
Resumo
Esse trabalho consiste no esforço para construir uma educação diferenciada entre o povo xavante. Ou seja, no desenvolvimento de mecanismos, material e metodológico, que proporcione a formação dos profissionais da Educação que prestam serviço nestas comunidades, visando a melhoria e o desenvolvimento do ensino-aprendizagem nestas comunidades. De forma que os valores éticos, sociais e culturais sejam respeitados. Além dos problemas relacionados a patologias e mudanças de hábitos do povo xavante, devido ao contato, é necessário um projeto de educação capaz de assegurar o desenvolvimento sustentável destas comunidades, uma vez que os seus meios de sobrevivência diminuem de forma inversamente proporcional ao seu crescimento. Assim, esse projeto visa, não somente, a permanência desta cultura e o desenvolvimento do seu meio de sobrevivência, baseado num processo educacional de qualidade; mas, a alfabetização de crianças na idade certa, a escrita de sua própria língua e a produção de material didático. Entretanto, é um processo que demanda tempo; mas que verdadeiramente, tenha sentido para eles.
Palavra-chave: sustentabilidade, qualidade, escola diferenciada.
Abstract
This work consists of the effort to build a differentiated education among the Xavante people. That is, in the development of mechanisms, material and methodological that provides the training of education professionals who serve in these communities, aiming at improving and developing teaching learning in these communities. So that social and cultural ethical values are respected. Besides the problems related to pathologies and changes in the habits of the Xavante people, due to the contact, it is necessary an education project capable of ensuring the sustainable development of these communities, since their means of survival decrease inversely proportional to their growth. Thus, this project aims not only at the permanence of this culture and the development of its means of survival, based on a quality educational process; But the literacy of children at the right age, the writing of their own language and the
production of didactic material. However, it is a time-consuming process; but which truly makes sense to them.
Keywords: sustainability, quality, differentiated school.
205
1 INTRODUÇÃO
Atualmente no município de Campinápolis, Estado de Mato Grosso, vivem cerca dez mil
indígenas da etnia xavante. Deste total, a maioria encontra-se habitando pequenas comunidades
(aldeias), distribuídas na imensa área da reserva Parabubure. Esta reserva conta-se com 224.447 ha,
situada a leste do estado de Mato Grosso, na região Centro-Oeste do Brasil. Cercada por fazendas
por todos os lados, a maioria delas com atividades agrícola e pecuária, faz a população xavante
limitar-se aos meios de subsistências existentes na própria reserva. Com a escassez dos meios de
sobrevivência, uma taxa elevada de natalidade e com ritmo de crescimento acelerado avoluma os
problemas relacionados a desnutrição e mortalidade infantil e baixa perspectiva de vida para os
indivíduos com mais de 50 anos de idade. Na conjuntura geral, leva o município de Campinápolis a
ser classificado na última posição em relação ao IDH-M, quando se compara aos demais municípios
do estado de Mato Grosso, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD).
Os rios, devido os desmatamentos, os defensivos agrícolas e a exploração desordenada da pesca
já não oferecem tantos peixes como em outros tempos. Enquanto a população cresce em escala
exponencial, na reserva não há um programa para a produção de alimentos em alta escala. As roças
de subsistências não produzem alimentos o suficiente para dar conta da demanda. Mesmo se tivesse
autorização para produzir alimentos em alta escala eles não teriam recursos, nem tecnologia para
maximizar essa produção. Além desse quadro, há pouca ação concreta do estado, em termo de
política de desenvolvimento para as provisões aos meios de subsistências. Ainda assim, essas
provisões ficam comprometidas quando não há uma construção efetiva de consciência capaz de
romper com os paradigmas culturais, ainda existente. O que leva esse povo a viver fora da
realidade, por não perceber as mudanças do entorno. E, se percebem, não reagem como deveriam
reagir.
Em virtude disso, os xavantes vivem a triste realidade de pobreza extrema, a alta taxa de
mortalidade infantil, tuberculose e outras patologias provenientes de mudanças de hábitos
alimentares impostas de forma indireta pela população não indígena. Atualmente eles consomem
muito açúcar, carboidratos e muitos alimentos industrializados, em consequência disso, há um
número crescente de diabéticos e outras doenças causadoras de óbitos em pessoas adultas e idosos.
Além dos problemas relativos às mudanças de hábitos, existem outros problemas relativos à
disseminação das drogas e do alcoolismo. Apesar de não serem todos os indígenas que se
embriagam ou que usam entorpecentes, atualmente o alcoolismo está se disseminando, também,
entre o sexo feminino, tornando-se, o problema crescente. Mais agravante ainda é que o problema
do alcoolismo e das drogas se dissemina mais entre os jovens, e destes, a maioria de sexo
206
masculino. Mas há também comentários de prostituição entre as mulheres indígenas que encontram-
se residindo na cidade.
Sendo assim, quanto ao modo de vida, não se pode mais pensar o xavante como um indivíduo
selvagem que habita floresta e que vive somente da caça e da pesca. Até porque não trata apenas de
um pequeno grupo de indivíduos vivendo em um determinado território. Só no município de
Campinápolis, vivem cerca de mais de sete mil habitante constituindo mais de 54% dos habitantes
total do município. Trata-se de pessoas normais, que às vezes se vestem melhor do que um branco e
que usam telefone celular de última geração. Apesar de não ser uma realidade para todos. Tais
regalias limitam-se apenas aos filhos de servidores da FUNAI ou da CASAI. A maioria desta
população vive graças à aposentadoria dos idosos e do programa Bolsa Família do Governo
Federal. É necessário que se desenvolvam projetos de educação de qualidade, capazes de inserir
esse pessoal no mercado de trabalho ou que permitam sua capacitação para construir os seus
próprios meios de subsistências de forma autônoma. Foi pensando nisso que o projeto “Construindo
os caminhos da educação indígena xavante de Campinápolis, Mato Grosso – Brasil” está sendo
construído.
2 O PROCESSO EDUCACIONAL NAS COMUNIDADES XAVANTES
A implantação das escolas nas comunidades xavantes ocorreu nos moldes da educação
escolar urbana, com materiais, métodos, filosofia, didática e processo avaliativo que se usa em todo
o país, sem levar em conta as particularidades de uma sociedade seminômade, com poucos anos de
contato com outras sociedades, cheia de ritos, costumes, tradições, dual e totalmente oral. Até
recentemente, cerca de vinte anos atrás, raramente se via xavante aqui na cidade. Campinápolis era
apenas rota de passagem de caravanas que vinham de outros municípios em período de festas ou de
conflitos entre branco e indígena. E, não foram pouco os conflitos, alguns com óbitos, mais por
questões culturais, pelo fato da incompreensão por parte da população não indígena dos fatores
culturais e juízos de valores sobre esta cultura; que se mostrava aparentemente estranha para alguns
devido a sua natureza pouco revelada, de tradição simplesmente oral. Sem se revelar ou deixar ser
revelada, não se sabe se por cautela, até para se proteger de violações externas do waradzu, como se
costuma chamar a população não indígena.
Antes de 1997, quando foi instituído a nível federal a Lei do FUNDEF, a FUNAI mantinha
umas duas escolas em toda a área da reserva Parabubure, pertencente ao município de
Campinápolis. Com a regulamentação do FUNDEB, por meio da Lei Federal n.º 9.424, de 24 de
dezembro de 1997 e pelo Decreto n.° 2.264, de junho do mesmo ano, instituído pela Emenda
Constitucional n.º 14, de setembro de 1996; o Secretário Municipal de Educação e Cultura da época
207
resolveu assumir toda a educação na área de reserva. A partir daí muitas escolas foram abertas no
município, a maioria delas na área de reserva com o fim de alavancar o processo educacional nestas
comunidades e melhorar a convivência entre indígenas e a população não indígena.
Entre 1996 a 2000 foi implantado no estado de Mato Grosso o programa de formação de
professores indígenas para o magistério denominado “Projeto Tucum”, segundo Camargo e
Albuquerque (2013, p. 340), das 13 etnias participantes, distribuídas em quatro polos, nas diferentes
regiões do estado, os xavantes, cuja história da educação escolar tem início em 1957, por meio dos
projetos educativos dos salesianos, têm se destacado, mais recentemente, por reivindicarem, como
cidadãos, um currículo diferenciado, a organização etária das crianças segundo as tradições de seu
povo, calendário próprio, aposentadoria para os professores indígenas e construção de textos
didáticos referentes à cultura. Com o fim do projeto, os xavantes buscaram construir coletivamente
uma concepção de currículo que pudesse contribuir para a elaboração dos projetos político-
pedagógicos de suas escolas com a participação da comunidade. Uma pena que desses professores
formados na época, pouquíssimos permaneceram em sala de aula. A maioria deles foi ocupar cargos
em outros órgãos que lhes renderam melhores salários e melhor qualidade de vida para suas
famílias.
Depois do Projeto Tucum, outros projetos de formação de professores foram criados no
estado de Mato Grosso, mas poucos continuaram a dar aulas. Até porque existem entre estas
comunidades a política do protecionismo. As comunidades entenderam a criação de escolas como
mais um posto de trabalho nestas comunidades. E grupos de interesses, dentro da própria
comunidade, passaram a controlar essas vagas de emprego. Empregando não as pessoas
qualificadas para o posto de trabalho, mas alguns apadrinhados protegidos das lideranças. São
poucas as aldeias que de fato compreenderam a importância da qualificação profissional e do
trabalho qualificado nas suas comunidades. Nestas aldeias o trabalho tem evoluído bem. Mas é um
trabalho lento, de resultados não imediatos, que demandam tempo e esse tempo só se concretiza
com o amadurecimento das comunidades. Talvez isso aconteça com a escolarização das novas
gerações e o novo pensar dessas novas gerações em relação ao processo educacional. Enquanto não
ocorre a intervenção da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, é necessário que essa nova
mentalidade seja gestada, não de forma impositiva, mas de forma conciliativa até que chegue o
entendimento da necessidade de mudanças, que todos aspirem um projeto educacional libertador,
que venha de encontro aos seus interesses e que tenha sentido para eles dentro de sua forma de ver e
perceber o mundo.
Assim, a intenção deste projeto é auxiliá-los na construção do seu próprio sistema
educacional, partindo do aprimoramento de experiências vivenciais, das suas tradições culturais
presente em contos, imagens e no aprendizado da escrita de sua própria língua para o conhecimento
208
do patrimônio cultural de outras civilizações, da contribuição que ambos passam a compartilhar
para o bem-comum na construção do homem como um ser pleno, participante do universo, dando-
os a oportunidade de apossar-se de todas as formas de conhecimento atualmente existente,
necessário a sua autopromoção neste mundo cada vez mais integrado e globalizado. De forma que
elas se desenvolvam preservando sua cultura.
3 PROBLEMAS A SEREM INVESTIGADOS
Construir uma educação diferenciada demanda um esforço conjunto entre o poder público e
estas comunidades. É necessário aceitação e vontade de mudança. O processo educacional a se
construir deve ter significado prático para estas comunidades. É preciso que a comunidade escolar
discuta o processo educacional sob a ótica de suas necessidades práticas. Cabendo, portanto, ao
poder público empreender ações que viabilizem a construção de um documento, constando de
mecanismos pedagógicos que levem para a sala de aula os anseios da comunidade na formação
escolar de seus filhos. Não é um documento que se constrói considerando apenas um lado, os
docentes destas comunidades, até porque parte dos anciões ditam as regras das decisões nestas
comunidades. Assim, para qualquer inciativa de empreender mudanças significativas na forma de
pensar do povo xavante é necessário que as discussões nasçam no local e tenha a aprovação dos
anciões, senão é apenas uma tentativa frustrada.
Em suma, não se pode negar o esforço que o poder público municipal, nestes últimos anos,
tem desprendido em termos de recursos humanos e financeiros para a construção de uma educação
de qualidade nas comunidades xavantes, mas caminha a passos lentos. A Prefeitura tem melhorado
a infraestrutura, tem investido em material didático, em formação de professores, em merenda
escolar, mas essas ações não têm sido eficazes para melhorar satisfatoriamente o processo de
ensino-aprendizagem nestas comunidades, o que se percebe é que a maioria dos professores tem
demonstrado não ser alfabetizado em sua própria língua. Durante os trabalhos relacionados a esse
projeto percebeu-se muitas dificuldades na hora de fazer a tradução de textos em português,
completamente entendido e falado oralmente pelos professores indígenas, porém poucos sabem
escrever esses textos, oralmente traduzido, em sua própria língua.
Assim esse trabalho tem como problema a ser investigado o conjunto dos fatores culturais,
sociais e as práticas pedagógicas que desencadeiam o baixo índice de rendimento e aprendizagem
nas escolas das comunidades xavantes. Mas o baixo índice de rendimento não acontece somente nas
escolas das comunidades xavantes, atualmente é comum receber alunos transferidos das aldeias
para as escolas da zona urbana do município que não sabem ler ou escrever. Muitos não sabem falar
português ou falam muito mal, ou seja, entendem pouco a estrutura linguística; isso dificulta a esses
209
estudantes a compreensão dos textos escritos em diferentes disciplinas e a comunicação com os
professores durante as aulas; desta forma, o resultado é ruim na hora das avaliações e há baixo
desempenho em avaliações do Governo Federal, como a Prova Brasil.
As escolas acabam sendo penalizadas pelo IDEB, o índice que mede o desenvolvimento da
educação básica no Brasil, pois a avaliação do Governo Federal não leva em consideração as
particularidades vivenciais dos municípios, como o de Campinápolis, onde a maioria de seus
habitantes são indígenas. As escolas urbanas do município recebem anualmente um número
crescente de crianças e jovens de várias aldeias que estão em processo de participação de
cerimonial. E, há um esforço muito grande dos anciões destas aldeias para garantir que os jovens
não abandonem as tradições de seu povo. Assim, muitos pais acabam levando seus filhos para
participar das festas cerimoniais, que às vezes duram períodos relativamente longos, fazendo com
que muitos jovens se afastem da escola por muito tempo; às vezes, a alta frequência de festas anuais
ocasionam desistência, uns se casam, e muitos dos que dão continuidade no final do ano são
reprovados por faltas, por notas, resultando em um número muito grande de desistente e reprovados
no caso do Ensino Médio.
4 OBJETIVOS E METODOLOGIA
Portanto, o objetivo deste trabalho é desenvolver mecanismos, material e métodos que
poderão proporcionar formação dos profissionais da educação indígena xavante de Campinápolis,
objetivando a melhoria e o desenvolvimento do ensino-aprendizagem dos educandos, respeitando
seus valores éticos, sociais e culturais. Os objetivos específicos são:
Enumerar os principais fatores que interferem no processo de ensino-aprendizagem dos
alunos indígenas xavantes;
Mapear a situação da educação indígena no município de Campinápolis;
Estabelecer parcerias com a iniciativa pública e privada para a produção de materiais
didáticos permanentes para o trabalho nas salas de aulas nas comunidades xavantes.
Organizar o curso de formação e de qualificação de Ensino Médio e de formação
continuada para a população xavante do município;
Desenvolver mecanismos que valorizem a cultura indígena xavante, os rituais, a língua
falada e escrita;
Fortalecer seu modus vivendi.
A metodologia empregada, durante toda a pesquisa foi:
Enfoques e níveis de investigação: mista – fenomenológica/qualitativa
210
Finalidade: aplicada
Métodos e técnicas de coleta de dados: Os dados serão coletados in loco, por meio da
observação não estruturada, de entrevistas, da história de vida, dos levantamentos de
informações bibliográficas e oficinas.
Considerações éticas: ao realizar a pesquisa e, consequentemente, divulgar os resultados,
serão aplicados e mantidos todos os padrões éticos.
População: 150 professores indígenas xavantes.
Amostra: Aleatória (de acordo com a participação nas oficinas e reuniões).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Está na hora de começarmos a contar outra história, uma história que fale também dos
habitantes originais deste País, seus costumes, suas crenças e suas línguas.
O ensino na aldeia deve ser voltado para os acontecimentos cotidianos da tribo, os próprios
xavantes têm o direito de escolher o que é melhor para eles, e compreender os fatores culturais e
sociais relacionados a esse povo é importante para a construção da educação diferenciada e que
atenda as suas reais necessidades.
O desenvolvimento de pesquisas permite que tenhamos informações e conhecimentos
aprofundados a respeito das populações indígenas que vivem no Brasil. Somente estas pesquisas
permitirão que a educação indígena seja construída pelos próprios indígenas, nos moldes de sua
cultura.
Deste modo, a Secretaria Municipal de Educação, por meio de seus professores formadores,
responsáveis pelo projeto “Construindo os caminhos da educação indígena xavante de
Campinápolis, Mato Grosso – Brasil”, e de parcerias com as demais instâncias de Governo propõe a
elaboração completa do material didático, de formação continuada para professores indígenas e o
acompanhamento de suas práticas, dando-lhes suportes pedagógicos para construção de uma escola
diferenciada que atenda aos interesses da população xavante do município.
REFERÊNCIAS CAMARGO, Maria Pompêo de; ALBUQUERQUE, Judite Gonçalves de. Projeto pedagógico xavante: tensões e rupturas na intensidade da construção curricular. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v23n61/a06v2361.pdf> Acesso em: 8 de out. 2016
BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília-DF: Senado Federal, 1998.
______. Lei de Diretrizes e Base da Educação 1996. Brasília – DF: Senado Federal, 1996.
211
______. Ministério da Educação e Cultura. Resolução n. 3, de 10/11/1999, do Conselho Nacional de Educação. Brasília-DF: MEC, 1999.
______. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Campinápolis-MT. Lei n.° 1.117/2015, Plano Municipal de Educação, 2015.
212
Projeto piloto Academia de Código Júnior: percepções de alunos e de professores
Filipe T. Moreira1; Isabel Barbosa2; Filipa Carneiro2; Lúcia Pombo1; M.ª José Loureiro3; M.ª João Loureiro1
1Universidade de Aveiro; 2Academia de Código; 3ccTICUA
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
O projeto piloto Academia de Código Júnior visa generalizar o ensino de programação e código nas escolas em Portugal, promovendo o letramento digital e desenvolvendo a capacidade de resolução de problemas dos alunos. O estudo piloto de índole qualitativa que se apresenta envolve alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico em três escolas do município de Lisboa, tendo como parceiros a Câmara Municipal de Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Universidade de Aveiro. Como principais resultados preliminares destaca-se que existe uma elevada motivação e empenho dos alunos para a programação, o que provavelmente diminuirá a taxa de abandono escolar.
Palavras-chave: programação, 1.º Ciclo do Ensino Básico, letramento digital, competências para o
século XXI.
Abstract
The Junior Code Academy is a pilot project that aims to generalize the teaching of programming and code in schools in Portugal, promoting digital literacy and developing skills of problem solving. The presented qualitative pilot study involves students from the 1st cycle of basic education in three schools of Lisbon Municipality, comprising partnership with Calouste Gulbenkian Foundation and University of Aveiro. The main preliminary results emphasized that there is a high motivation and commitment of students towards programming, which potentially prevents early school dropout.
Keywords: programming, 1st Cycle of Basic Education, digital literacy, 21st century skills.
213
1 INTRODUÇÃO
Saber programar é uma competência com importância emergente no âmbito das
competências para o século XXI (BALANSKAT; ENGELHART, 2014) constituindo-se como uma
ferramenta excelente e facilitadora, com implicações ao nível do desenvolvimento de um leque
alargado de competências, como as de comunicação, resolução de problemas, entre outras,
transversais a qualquer contexto de vida.
A abordagem da programação, apesar de estar prevista no currículo do Ensino Básico, é
ainda insipiente, refletindo o fosso que existe entre a ubiquidade das tecnologias na sociedade em
geral e a sua quase ausência na escola. A introdução da programação na escola não tem como
objetivo formar especialistas em Informática ou Programação. Esta iniciativa na escola procura
contribuir para o letramento digital dos alunos (LEDESMA, 2014) e, particularmente, para o
desenvolvimento do pensamento computacional que quanto mais cedo for iniciado, maior potencial
poderá oferecer nesta “fase sensível” da formação dos jovens, que ocorre até os 15 anos (RAMOS,
2014).
No contexto nacional, os objetivos gerais da inclusão da programação, como componente
das TIC, são descritos como se transcreve:
Criar um produto original de forma colaborativa e com uma temática definida, com recurso a ferramentas e ambientes computacionais apropriados à idade e ao estádio de desenvolvimento cognitivo dos alunos, instalados localmente ou disponíveis na internet, que desenvolvam um modo de pensamento computacional, centrado na descrição e resolução de problemas e na organização lógica das ideias (HORTA; MENDONÇA; NASCIMENTO, 2012, p. 13).
Em simultâneo, emergem ideias que defendem a inclusão da programação, por si só,
realçando a importância do seu papel para o desenvolvimento do pensamento computacional,
designadamente por meio da decomposição/simplificação de problemas, do raciocínio lógico, dos
conceitos de lógica e da programação, tais como, refletir, discutir e apresentar resultados
(LEDESMA, 2014). Entendemos que a abordagem transversal da programação não é suficiente para
aprender código.
O projeto piloto, que seguidamente se descreve, baseia-se nos pressupostos acima
enunciados.
2 BREVE DESCRIÇÃO DA ACADEMIA DE CÓDIGO JÚNIOR
O projeto Academia de Código Júnior iniciou-se em janeiro de 2015 como um projeto
educativo, em três escolas do município de Lisboa, abrangendo um total de 65 crianças, oriundas de
214
contextos sociais distintos, que frequentavam o 3.º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB). A
Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Universidade de
Aveiro (UA) são os parceiros principais deste projeto piloto que terá a duração de cinco trimestres
de aulas, terminando em junho de 2016. Este piloto caracteriza-se por ser o primeiro Título de
Impacto Social em Portugal, sendo financiado por uma metodologia inovadora importada do Reino
Unido, onde uma entidade do setor público (CML) celebra um contrato com investidores privados
(FCG). Esta parceria procura alcançar resultados sociais específicos (neste caso, a melhoria dos
resultados dos alunos nas áreas indicadas e a subsequente diminuição da taxa de reprovação e de
abandono escolar). A concretização dos objetivos do contrato é monitorizada por uma entidade
externa, a Universidade Nova de Lisboa.
O projeto prevê uma carga horária de duas horas por semana, em bloco. Estas horas são
implementadas, no tempo de Apoio ao Estudo que no âmbito da matriz curricular para o 1.º CEB
prevê o desenvolvimento de atividades em articulação, de forma transversal, relacionadas com a
educação para a cidadania e os componentes de trabalho com as TIC.
Como referido anteriormente, os principais objetivos da Academia de Código Júnior,
seguem os pressupostos enunciados pela União Europeia (FERRARI, 2015), para as competências
digitais (BALANSKAT; ENGELHART, 2014), que não passam pela formação de programadores,
mas sim pela contribuição para o desenvolvimento do letramento digital e do pensamento
computacional dos alunos.
Segundo Figueiredo & Torres (2015) embora o pensamento computacional seja mais do que
programar computadores, uma forma de promover o seu desenvolvimento relaciona-se com a
aprendizagem de pelo menos uma linguagem de programação. A estes objetivos acrescenta-se o
desenvolvimento de competências transversais, com potencial impacto nas áreas curriculares de
Matemática, Português e Estudo do Meio, assim como o desenvolvimento de capacidades de
comunicação e de inter-relação entre os pares.
No roteiro de atividades elaborado para o projeto indicam-se recursos, estratégias e o tipo de
avaliação, bem como um conjunto de atividades integradas em diferentes temas (Figura 1). Este
reflete ainda a preocupação de articular as atividades com um conjunto de competências específicas,
no âmbito das ciências da computação, e transversais, do letramento digital, a saber: nos domínios
da informação, comunicação, criatividade, segurança e resolução de problemas. Em termos
operacionais, para atingir estes objetivos, adotou-se a utilização de computadores Magalhães (um
para cada dois alunos) e o ambiente computacional gráfico de programação, o Scratch. A opção por
este ambiente gráfico recaiu no fato de se tratar de um programa gratuito que foi desenvolvido
essencialmente para a faixa etária alvo e que se adequa ao desenvolvimento das competências
enunciadas (RESNICK et al., 2009; BALANSKAT; ENGELHART, 2014). O roteiro prevê, ainda, a
215
programação de diversos robots por meio de ambientes gráficos de programação como o mBlock. A
opção por este ambiente gráfico de programação resulta dos motivos já enunciados para o Scratch
(LOUREIRO et al., 2015).
Na elaboração do acima referido roteiro para além dos pressupostos enunciados pela União
Europeia para as competências digitais, no âmbito da aprendizagem ao longo da vida, contribuíram
as Metas TIC para o 1.º Ciclo (COSTA, 2010), bem como para o 7.º e 8.º ano (HORTA;
MENDONÇA; NASCIMENTO, 2012), e ainda a proposta de programa do Reino Unido (BERRY,
2012) tendo sido realçada a dimensão da programação e feitas adaptações à faixa etária deste
projeto. Este roteiro procurou, ainda, ser uma abordagem ajustada aos interesses dos alunos e,
sempre que possível, recorre a conteúdos de outras disciplinas.
Figura 1 – Esquema do roteiro da “Academia de Código Júnior”
As sessões são asseguradas por dois formadores, com áreas de formação distintas,
respectivamente Educação Básica e Ciências da Computação, sendo um do sexo masculino e outro
do sexo feminino com o objetivo de não criar possíveis estereótipos nos alunos. Refira-se que o
professor titular está também presente nas sessões, uma vez que este é o responsável pelos alunos.
Importa destacar o envolvimento do docente como aprendente e parte da mudança perspectivada ao
nível do letramento digital de todos os cidadãos. A sua presença e acompanhamento do projeto
permitem, ainda, uma ligação mais direta da programação aos conteúdos abordados em outras áreas
disciplinares, facilitando a transversalidade preconizada no roteiro.
A planificação inicial de cada sessão é desenvolvida pelos formadores em parceria com os
professores titulares e com a equipe da UA. O plano é alvo de várias reformulações por parte de
216
todos os intervenientes, de forma a contemplar, para além dos objetivos e competências definidos,
as necessidades individuais dos alunos e as características das turmas em que se inserem.
Relativamente às estratégias adotadas nas sessões, tem-se dado ênfase à metodologia
centrada no aluno e ao trabalho de projeto (BELL, 2010), e ao trabalho colaborativo de especial
relevância (essencialmente a pares). Dá-se ainda destaque aos momentos de apresentação dos
trabalhos realizados pelos alunos e subsequente reflexão e discussão no grupo-turma, com o
objetivo de se corrigirem possíveis desvios em relação ao que seria pretendido.
3 METODOLOGIA DO PLANO DE MONITORIZAÇÃO
Neste ponto refere-se a metodologia adotada no plano de monitorização do roteiro. A
finalidade deste plano é a de analisar a viabilidade do roteiro proposto e das estratégias adotadas
para a introdução do código no 1.º CEB. Pretende-se conseguir reunir um conjunto de
recomendações que permita contribuir para a generalização da introdução do código no 1.º CEB,
em Portugal, explorando uma abordagem qualitativa.
A monitorização engloba três dimensões principais: i) implementação; ii) competências e
iii) aproveitamento escolar (ver Tabela 1). Na dimensão da implementação foi desenvolvida uma
grelha de observação a ser preenchida pelos formadores da ação. Quanto às competências, centradas
nas que estão definidas no roteiro, são monitorizadas por meio de um registo de avaliação pelos
formadores. O aproveitamento tem por base os resultados escolares dos alunos por cada trimestre,
havendo nas três escolas envolvidas uma turma de controle.
Os dados referentes às capacidades de pensamento lógico, de inter-relação entre pares, de
comunicação e de eventual impacto em outras áreas curriculares, serão analisados pela entidade
externa, (conforme já referido), a Universidade Nova de Lisboa.
Tabela 1 – Plano de monitorização do projeto “Academia de Código Júnior”
217
Realça-se ainda que na dimensão da implementação são contemplados aspectos tais como: i)
tipologia e adequação dos recursos logísticos; ii) a adequação do tempo disponibilizado à
planificação prevista, qualidade dos recursos e adequação das tarefas propostas; iii) desempenho e
motivação dos alunos e iv) competências dos formadores (capacidade de motivação, dinamismo e
relacionamento com os alunos).
4 BALANÇO DOS TRÊS PRIMEIROS TRIMESTRES
Neste balanço preliminar do projeto dar-se-á enfoque às percepções dos alunos sobre as
aulas já decorridas, uma vez que a análise de outros dados está sob responsabilidade da equipe da
Universidade Nova de Lisboa. Os resultados aqui explanados foram obtidos através de
questionários por inquérito realizados aos alunos no final de cada trimestre de aulas. Acrescenta-se
que os alunos responderam de forma anônima.
Quando questionados se gostavam de ter atividades/animações de Scratch inseridas nas
horas das outras áreas curriculares, 79% dos alunos optaram por uma resposta afirmativa. No final
do primeiro trimestre, cerca de 60% dos inquiridos afirmou preferir a Academia de Código Júnior
em detrimento das outras áreas curriculares (LOUREIRO et al., 2015), porém, no final do segundo
trimestre, este valor subiu para 80,3%, mantendo-se igual no fim do terceiro trimestre.
Uma das questões formuladas prendia-se com o contributo da Academia de Código Júnior
nas motivações, vontades e confiança dos alunos. Assim, na Tabela 2 apresentam-se os resultados
obtidos, no final do terceiro trimestre do projeto.
Tabela 2 – Contributos da Academia de Código Júnior na motivação, vontade e confiança dos alunos
218
No segundo trimestre, na perspectiva de 88,5% dos alunos, a Academia de Código Júnior
contribuiu de forma efetiva para melhorar as aprendizagens nas outras áreas curriculares. No
terceiro trimestre este valor subiu para 91,38%. Os valores apresentados corroboram com a opinião
das professoras titulares das três turmas do projeto. Acrescenta-se que estes dados são mais
relevantes quando se considera que dois dos três contextos da intervenção são afetados por uma
elevada taxa de abandono escolar.
Relativamente à confiança na utilização de equipamentos tecnológicos, os resultados
indicam que 86,9% dos alunos sente, no presente, mais confiança na sua utilização. Este valor é
mais expressivo quando comparado com o registado no primeiro trimestre (67,7%).
Finalmente, no que diz respeito às expectativas iniciais dos alunos, no final do terceiro
trimestre 98,3% afirmou que este projeto os superou; e 100% manifestou o seu interesse em
continuar nos próximos períodos.
5 CONCLUSÕES
Apesar de se estar ainda numa fase intermédia da implementação, é possível constatar que o
caráter geral do roteiro de atividades elaborado para o projeto Academia de Código Júnior permite a
sua adaptação às diferentes realidades das três escolas envolvidas, assumindo particular relevância o
papel dos formadores, do professor titular e da equipa da UA na planificação das atividades para
cada sessão.
Nesta fase, a título de conclusão, foi possível constatar que a maioria dos alunos prefere a
Academia de Código Júnior às outras áreas curriculares e que gostariam de poder usar atividades de
programação nas horas dessas áreas. Sobre as motivações, vontades e confiança dos alunos, a
maioria deles afirma sentir mais vontade de ir à escola e de estar na sala de aula e de participar nas
aulas. Em termos mais diretamente relacionados com a Academia de Código Júnior, os alunos
demonstraram motivação para participar nas aulas de código e aprender mais sobre programação. A
maioria dos alunos considerou que a Academia de Código Júnior superou as suas expectativas
Mais Igual/Igualmente Menos
67,2% 31,0% 1,7% Senti vontade de vir para a escola.
94,8% 5,2% 0,0% Senti vontade de saber coisas sobre código.
55,2% 39,7% 5,2% Tive motivação para estar na sala de aula.
84,5% 12,1% 3,4% Tive motivação para participar nas aulas todas.
84,3% 12,1% 3,4% Tive motivação para participar nas aulas de código.
219
iniciais para estas aulas, contribuiu para melhorar as suas aprendizagens nas outras áreas
curriculares e para aumentar a sua confiança na utilização de equipamentos tecnológicos.
No futuro, pretende-se validar a adequação do roteiro de forma mais consistente através da
análise das competências desenvolvidas pelos alunos e dos seus resultados escolares recorrendo-se,
entre outros, aos dados fornecidos pelos instrumentos acima referidos, que dada as características
do projeto serão analisados pela equipe da Universidade Nova de Lisboa, estimando-se ter os
resultados finais no verão de 2016.
REFERÊNCIAS
BALANSKAT, A., ENGELHART, K. Computing our future: computer programming and coding – Priorities, school curricula and initiatives across Europe. In: European Schoolnet. 2014. Disponível em: <http://www.eun.org/c/document_library/get_file?uuid=521cb928-6ec4-4a86-b522-9d8fd5cf60ce&groupId=43887>. Acesso em: 27 fev. 2015.
BELL, S. Project-based learning for the 21st century: Skills for the future. In: The Clearing House, v. 83. n. 2, 2010, p. 39-43.
BERRY, Miles. Computer science: a curriculum for schools. Cambridge: Computing at School Working Group, 2012. Disponível em: <http://www.computingatschool.org.uk/data/uploads/ComputingCurric.pdf>. Acesso em 16 jan. 2017.
COSTA, F. A. (Coord.). Projecto metas de aprendizagem, Metas TIC. DGIDC. Ministério da
Educação. 2010. Disponível em: <http://metasdeaprendizagem.min-edu.pt>. Acesso em: 5 abr. 2015.
LEDESMA, F. Iniciação à programação no ensino básico. Code Week – Semana Europeia da Programação 2014: enquadramento e desafios. Escola Secundária António Damásio, Santa Maria dos Olivais. Comunicação oral. Lisboa, 2014.
RAMOS, J. Pensamento computacional na escola e no currículo. Code Week – Semana Europeia da Programação 2014: enquadramento e desafios. Escola Secundária António Damásio, Santa Maria dos Olivais. Comunicação oral. Lisboa, 2014.
HORTA, M. J.; MENDONÇA, F.; NASCIMENTO, R. Metas curriculares TIC: 7.º e 8.º anos. 2012. Disponível em: <http://dge.mec.pt/ metascurriculares/data/metascurriculares/E_Basico/eb_tic_7_e_8_ano.pdf>. Acesso em: 5 de abril de 2015.
FERRARI, A. DIGCOMP: a framework for developing and understanding digital competence in Europe. EC JRC IPTS, Sevilha, Espanha, 2013. Disponível em: <http://ftp.jrc.es/EURdoc/JRC83167.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2015.
FIGUEIREDO, M.; TORRES, J. Iniciação à Programação no 1.º Ciclo do Ensino Básico: linhas orientadoras. DGE. Disponível em: <http://programacao1ceb.dge.mec.pt/files/2015/09/linhas_orientadoras.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2015.
220
LOUREIRO, M. J.; MAGALHÃES, J.; MOREIRA, F.; BARBOSA, I.; POMBO, L. Academia de Código Júnior: um projeto piloto. Challenges 2015. Atas. Braga, 2015.
RESNICK, M.; MALONEY, J.; MONROY-HERNÁNDEZ, A.; RUSK, N.; EASTMOND, E.; BRENNAN, K.; MILLNER, A.; ROSENBAUM, E.; SILVER, J.; SILVERMAN, B.; KAFAI, Y. Scratch: Programming for all. Communications of the ACM, 2009. p. 60-68.
221
A percepção do professor atuante na Educação Básica acerca das práticas de letramento no ambiente familiar do aluno e seu uso como recurso didático em
sala de aula
Marcos Anderson Tedesco; Rosana Mara Koerner
CEEDUC/Faculdade Refidim; UNIVILLE/Universidade da Região de Joinville
[email protected]; [email protected]
Modalidade da apresentação: Relato de experiência
Resumo
Este estudo tem como objetivo geral conhecer a percepção do professor acerca das práticas de letramento no ambiente familiar do aluno da Educação Básica a partir da análise e do confronto dos discursos dos professores e dos pais e/ou responsáveis. Inicialmente é proposta uma reflexão envolvendo trabalho docente, família, capital cultural e educação formal, não formal e informal. Em seguida é contemplada a questão do letramento e o uso social da escrita na escola e na esfera familiar, trabalhando conceitos como letramento, alfabetização, prática e eventos de letramento, agência e agente de letramento e mito do letramento. Finalmente, com o auxílio da Análise do Discurso Crítica (ADC), desenvolvo a análise dos dados buscando compreender as práticas de letramento no ambiente familiar dos alunos na voz dos professores atuantes na Educação Básica. A percepção dos professores acerca das práticas de letramento no ambiente familiar do aluno pode contribuir para que haja uma abordagem que privilegie na educação as particularidades que fazem parte do processo de formação de cada indivíduo, permitindo, assim, que seja vivenciada uma aprendizagem dentro de uma perspectiva mais abrangente e que contemple o individual e o coletivo de forma integrada. Alguns dos teóricos que dão suporte a esse estudo são: sobre trabalho e formação docente foram consultadas as obras de Tardif (2010), Marcelo (1999) e Imbernón (2010). Acerca das temáticas que envolvem família, capital cultural e educação informal, Szymanski (2004), Bourdieu (1964), Bakhtin (2004) e Freire (1996) contribuíram com seus estudos. Já sobre letramento, deram base a esse estudo as obras de Tfouni (2006), Soares (2003) e Kleiman (1995). Foram realizados questionários e entrevistas com professores de Língua Portuguesa e pais e/ou responsáveis pelos alunos de turmas de uma escola da rede municipal de Joinville (SC). Os dados apontaram para uma realidade em que há por parte dos professores uma preocupação em perceber as referências que fazem parte do ambiente familiar do aluno, entre elas as práticas de letramento. Espera-se, ainda, que essa pesquisa contribua para que o tema letramento possa ser contemplado ainda mais nas ações de formação docente.
Palavras-chave: formação docente, práticas de letramento, relação escola e família.
Abstract
This research has as main aim to recognize the perception of the teachers about literacy practices in the familiar environment of the student of basic education, starting from analysis and confrontation of discourses of teachers and parents and / or responsible. Firstly, is proposed a reflection involving teaching work, family, cultural capital and formal education, non-formal and informal. Next, is contemplated issue of literacy and social use of writing in school and family environment working concepts like literacy, alphabetization, practice and literacy events, agency and literacy agent and the Literacy Myth. Finally, with the support of Critical Discourse Analysis (CDA), I develop data analysis seeking to understand the literacy practices in the familiar environment of students in the voice of active teachers in Basic Education. The perception of teachers about literacy practices in the familiar environment of student, may contribute to there is an approach that favors in education the particularities that are part of the formation of each individual
222
process, thus allowing an experience of learning within a broader perspective and that contemplate the individual and the collective in an integrated manner. Some theorists who support this study are: About work and teacher formation were consulted the works of Tardif (2010), Marcelo (1999) and Imbernón (2010). About themes involving family, cultural capital and informal education, Szymanski (2004), Bourdieu (1964), Bakhtin (2004) and Freire (1996) contributed their studies. Already on literacy, this study was based in the works of Tfouni (2006), Soares (2003) and Kleiman (1995). Questionnaires and interviews with Portuguese Language teachers and parents and / or responsible by students of classes from one school in the Joinville (SC) were performed. The data pointed to a reality of concern of the teachers to perceive the references that are part of the familiar environment of the student, including the literacy practices. It is also hoped that this research will contribute to the literacy issue can be contemplated even further in the action of teacher formation.
Keywords: teacher formation; literacy practices; relationship between school and family.
223
1 INTRODUÇÃO
A principal justificativa para a temática proposta para o presente estudo – o reconhecimento
de como professores percebem as práticas de letramento no ambiente familiar de seus alunos –
reside na compreensão do papel desempenhado pelos professores na promoção do letramento de
seus alunos e do quão significativo poderá ser o seu (re)conhecimento do que eles já fazem em suas
famílias envolvendo a escrita. Profícuas reflexões sobre as questões relacionadas ao letramento e
como esse saber pode ser inserido nas questões de formação docente são algumas contribuições
possíveis a partir desse estudo.
2 PENSANDO O LETRAMENTO
Vivemos em uma sociedade caracterizada por atribuir uma centralidade de suas atividades
mais significativas em torno da escrita. Diante dessa realidade, os sujeitos que (se) constituem
(n)essa sociedade são impelidos à apropriação de uma série de competências para o uso da escrita.
Em nossa sociedade é exigida uma diversidade de habilidades que vai além do aprendizado da
tecnologia da escrita e da leitura. Estar alfabetizado não caracteriza estar preparado para os desafios
de nossa sociedade, ela é apenas uma condição mínima para a inserção desse sujeito nas complexas
atividades do cotidiano. Mais do que ser alfabetizado, é preciso ser letrado.
Kleiman (1995, p. 19) define letramento como “um conjunto de práticas sociais que usam a
escrita, enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Para Tfouni
(2006, p. 10), o letramento busca compreender os aspectos sócio-históricos que envolvem o
processo de alfabetização, ou seja, a aquisição da tecnologia da leitura e da escrita. Para Soares
(2003, p. 38), “aprender a ler e a escrever e, além disso, fazer uso da leitura e da escrita
transformam o indivíduo, levam o indivíduo a outro estado ou condição sob vários aspectos: social,
cultural, cognitivo, linguístico, entre outros.” Porém, alfabetização e letramento são processos
interdependentes e indissociáveis, embora distintos. Enquanto o alfabetizado é aquele que lê e
escreve, o letrado usa socialmente, pratica e consegue relacionar-se socialmente por meio da leitura
e da escrita.
Chega-se, assim, a conceitos que perpassam o de escolarização, ultrapassando-o: eventos e
práticas de letramento. Para Kleiman (1995, p. 44), os eventos de letramento são momentos em que
a escrita é a parte essencial em uma situação; porém, as práticas de letramento têm uma amplitude
maior do que o evento, pois possibilitam que esse tenha atribuição de sentido por estar relacionado
a essas práticas e por elas sendo mediado. Sendo assim, sem as práticas de letramento, os eventos
224
não possuem significado. Essas práticas de letramento são, para Pelandré e Aguiar (2009, p. 5),
determinadas por “características sócio-históricas e, portanto, diferenciadas dependendo do período
e do local em que se realizam e dos objetivos ao analisá-las”.
Assim, a escola pode ser compreendida como uma importante agência de letramento.
Segundo Baltar (2011), a escola é a grande agência de letramento da sociedade moderna por receber
estudantes durante um grande período de suas vidas. Porém, a escola não é a única agência de
letramento. Segundo Galvão (2004, p. 150), o estudante vivencia eventos de letramento em seu
ambiente familiar, na igreja, na associação, enfim, em diversos outros espaços além da escola.
Mas, para que aconteça essa interação é necessário que o professor leve em consideração as
questões relacionadas ao letramento e, para isso, não basta proporcionar eventos de letramento, é
preciso conhecer as práticas de letramento que fazem parte das referências e contexto social dos
estudantes.
Ao levarmos em conta que a escola, segundo Pillotto e Tamanini (2012), “trabalha
essencialmente com memórias, saberes, identidades, patrimônios herdados, acúmulos sociais
representados fortemente pelos conhecimentos repassados em seus conteúdos programáticos”,
percebemos que sua função social é extremamente significativa e ela não pode abrir mão da valiosa
bagagem cultural que a criança traz de casa. Porém, muitas vezes, o vivido nos ambientes que não
fazem parte do sistema formal de ensino é desvalorizado em função de um modelo institucional que
impõe uma “cultura” que não tem muito a dizer, justamente por sua artificialidade e pouca relação
com o que é próprio do cotidiano das ruas.
Quando a escola não se atenta para as diferenças entre os indivíduos, ela promove uma
desigualdade de oportunidades. Essa desigualdade, explicada pelo “capital cultural” (conceito
proposto por Bourdieu e Passeron, 1964), reflete o fato de que as crianças das classes dominantes
vivem uma realidade diferente das que vêm das classes dominadas. O que faz sentido para uma, não
faz para outra. Logo, se o desempenho escolar é uma ação direta dos hábitos culturais do meio
familiar dos alunos, a escola, quando percebe e trabalha de forma diferenciada de acordo com a
necessidade de cada indivíduo, consegue dar um passo significativo em direção à formação de
“sujeitos de si”. Porém, quando isso não acontece, a escola acaba por cumprir o papel de reforçar o
domínio daqueles que já são historicamente favorecidos. Em outras palavras, quando a educação e a
escola possibilitam um movimento dialético entre as histórias de vida trazidas do ambiente familiar
e o vivido no espaço escolar, o ser humano vai desenvolvendo a capacidade de se perceber como
alguém que se constitui enquanto sujeito e não mais como alguém que passivamente aceita o que
lhe é imposto.
Quando a escola, ao propor o uso social da escrita, valoriza as práticas de letramento, com
base em um “capital cultural” já existente, ela consegue atribuir sentido ao que é ensinado e
225
aprendido. Não apenas a escola vive esse processo, mas também a família e a comunidade, sendo
espaços de constituição e ressignificação de valores culturais num movimento contínuo e sempre
inconcluso. Para Freire (1996), o indivíduo precisa se relacionar com o mundo que o cerca, não
apenas constatando o que ocorre, mas também intervindo como sujeito a todo o tempo.
Assim, reconhecer como o professor percebe tais experiências poderá trazer indicativos de
posturas assumidas frente ao que o aluno traz de casa e, a partir daí, provocar reflexões acerca dos
direcionamentos dados na formação docente, em geral.
3 O PERCURSO METODOLÓGICO
Essa pesquisa adotou uma abordagem de caráter qualitativo, que tornasse possível a
compreensão de processos vividos por determinados grupos sociais.
Para desenvolver a análise dos dados foi feito uso dos pressupostos teórico-metodológicos
da Análise do Discurso Crítica, entre os quais está a relação entre linguagem e poder e o contexto
social no qual se encontram inscritos os sujeitos da pesquisa. Assim, tendo o discurso como tema
central, a Análise do Discurso Crítica se apresentou como uma base teórica que privilegia os
objetivos dessa pesquisa que é conhecer como o professor percebe as práticas de letramento no
ambiente familiar do aluno.
Optamos por delimitar a pesquisa apenas aos Anos Finais dos dois ciclos do Ensino
Fundamental, ou seja, uma turma do 5.º ano e outra do 9.º ano, sendo os sujeitos da pesquisa:
professores de Língua Portuguesa que concordaram em participar do estudo e as famílias dos
alunos. Assim, a partir das respostas dos professores, obtidas por meio de um questionário de
sondagem e uma entrevista semiestruturada sobre as práticas de letramento no ambiente familiar do
aluno, foi possível delinear suas representações sobre tais práticas. Tais respostas foram
confrontadas com as respostas dos pais dos estudantes, obtidas também por meio de um
questionário de sondagem (enviado a todos os pais dos estudantes das turmas selecionadas) e por
meio de entrevista semiestruturada com uma amostra constituída por representantes de 4 famílias,
com a intenção de se perceberem contradições, desvios, conformações e o quanto isso pode afetar o
fazer pedagógico desses professores. Os sujeitos estão identificados pelas seguintes siglas P1 e P2,
para as professoras, e F1, F2, F3 e F4, no caso dos responsáveis pelas famílias.
Foi entregue aos familiares dos alunos um total de 63 questionários, dos quais 42 foram
devolvidos, sendo 67% do 5.º ano e 33% do 9.º ano. As mães correspondem a dois terços dos que
responderam ao questionário. Com relação à escolaridade, apenas um pai está frequentando um
curso universitário na área de Engenharia Química, 15% possui curso técnico completo, 18% o
Ensino Médio completo, 18% o Ensino Médio incompleto, 11% o Ensino Fundamental completo,
226
29% o Ensino Fundamental incompleto e 3,7% de analfabetismo. O índice de analfabetismo não
chega à metade do índice nacional que está em torno de 8%.
4 AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO AMBIENTE FAMILIAR DOS ALUNOS NA
VOZ DOS SEUS FAMILIARES: ALGUMAS PERCEPÇÕES
Com a intenção de identificar as práticas de letramento no ambiente familiar dos alunos foi
perguntado aos pais, por meio do questionário, sobre quais eram as atividades mais frequentes no
dia a dia em família. As mais citadas foram os afazeres domésticos, as práticas religiosas, a leitura e
os passeios em família. Em um total de 12 atividades apontadas pelos pais, a leitura de livros foi a
quarta mais citada. Com relação ao uso de computador com acesso à internet, 65% das famílias não
dispõe do aparelho em casa e apenas 6% têm acesso a revistas e jornais. Na região, a telefonia
atende poucas ruas, inexistem livrarias e bancas de revistas e jornais e muitas famílias moram em
terrenos irregulares onde até a energia elétrica é obtida de forma irregular. Aqueles que possuem
acesso a materiais que despertem o interesse pela leitura e a escrita, o têm porque o buscam em
outras instâncias como, por exemplo, uma biblioteca no local de trabalho, uma mesa repleta de
revistas de um consultório odontológico ou ainda, em uma porta da igreja preparando-se para a
liturgia.
Com relação à leitura, 68% dos pais disseram gostar de ler. Entre os materiais contemplados
nessas leituras, foram citados os seguintes: Bíblia, jornais, gibis, revistas, livros de autoajuda,
religiosos, romances, educativos, técnicos, de empreendedorismo e de história. Os materiais
apontados indicam, em sua maioria, livros que, de alguma forma, trazem alguma contribuição para
a vida em si, com todos os seus desafios. Lê-se para mudar de condição. Isso gera certa crença no
poder de transformação do livro:
Olha, quando tenho tempo, sim. É difícil ter tempo para ler mais. Elas leem mais e o meu marido lê
mais. Nós lemos à noite antes de ir dormir. Cada um lê um livro. Ela lê o dela, o meu marido está
lendo um sobre “Negras Raízes” e eu estou lendo um de dieta: “100 maneiras para emagrecer”, mas
estou lendo, [risos]. Ele é negro e tem curiosidade de saber assim como é a história, ele lê muito.
Elas também leem bastante. Qual o nome do livro que você leu? Aquele último. “De meninas para
meninas”. Histórias de meninas. (F1)
Nessa fala há várias questões que merecem ser destacadas: quando a mãe faz referência ao
momento em que a leitura acontece, “à noite antes de ir dormir”, faz uma indicação de esforço, mas,
ao mesmo tempo, da instalação de um hábito, normalmente referenciado quando se fala de leitura.
Já ao usar a expressão “mas estou lendo”, esse “mas” indica que há uma avaliação depreciativa
desse tipo de material de leitura. Apesar disso, o que está sendo valorizado aqui é o ato de ler em si,
e isso é frisado pelo uso do gerúndio “lendo” que dá a ideia de algo contínuo, frequente. Quando a
227
mãe usa a palavra “muito”, ao referir-se ao quanto o seu esposo lê, ela indica um dos motivos que o
movem para a leitura. Na verdade, não muito diferente dela que está lendo um livro não pelo
simples ato de ler, mas porque busca algo que possa lhe ajudar em sua vida. Finalmente, ao
informar o livro que a filha lia ela reconhece que há leituras para diferentes finalidades.
Ao serem questionados se os filhos tinham o hábito da leitura, 42% dos pais responderam
que sim, 36% responderam que às vezes e 22% responderam que não. As leituras se concentram
mais em torno de gibis, literatura infantojuvenil e livros religiosos. Os pais reconhecem a
importância do ato de ler na vida dos filhos: “Eu me sinto muito feliz de elas lerem, pais sempre
gostam, né. Ainda mais quando aprendem.” (F1) O “aprender” deixa a leitura mais significativa. O
discurso oculto é o de que a leitura pela leitura (leitura de fruição) tem um valor menor do que
aquela que produz conhecimento.
Há práticas de leitura coletiva: “No final de semana a gente para e lê junto a Bíblia. A esposa
lê, e a gente senta junto, nós sete, e ouve o que ela lê. Aí a gente conversa o que entendeu. É muito
importante.” (F3) Em uma família onde o pai lê com muita dificuldade e mora em um lugar onde
não há rede de energia elétrica regular, e por isso, constantemente há quedas que ocasionam
“apagões”, no meio de uma invasão de terras, ainda é encontrado um momento em que nove
pessoas se sentam ao redor de um livro, leem e debatem acerca dele.
Sobre leitura feita por eles na presença dos filhos, 58% responderam que sim. É importante
destacar que a leitura é mais recorrente no caso da presença de filhos menores, do 5.º ano. Talvez
ainda esteja um pouco presente a ideia de que é preciso ler para as crianças. As condições de
trabalho podem contribuir para tal cenário. Pais que trabalham longe de casa demandam de mais
tempo de deslocamento, o que diminui, consequentemente, o tempo de permanência no ambiente
familiar, sem mencionar a questão do cansaço. Quando perguntados se costumavam ler histórias
infantis para os seus filhos, 19% disseram que sim, 46% afirmaram que liam às vezes e 35% não
liam. O livro infantil tem um custo geralmente elevado, o que pode ter contribuído para os baixos
números. Também a questão do tempo.
5 AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO AMBIENTE FAMILIAR DOS ALUNOS NA
VOZ DOS PROFESSORES ATUANTES NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ALGUMAS
PERCEPÇÕES
Quando questionadas sobre se as características específicas do ambiente familiar dos seus
alunos influenciam nas aulas, as professoras declararam que acham muito importante conhecer a
realidade familiar dos alunos; porém, curiosa foi a constatação quando perguntado sobre a
frequência que esse “conhecer a realidade” é levado em conta na hora de planejar as atividades a
228
serem aplicadas em sala. As duas professoras declararam que esse conhecimento não as auxilia
muito na preparação das aulas, embora algumas informações ajudem a entender possíveis
dificuldades em alguns alunos. É importante destacar que em respostas a outras perguntas,
curiosamente as professoras revelaram que em alguns momentos sua prática pedagógica também é
orientada pelo contexto familiar do aluno. P1 faz a seguinte consideração acerca dessa questão
norteadora:
Interfere muito né, bastante. Se você tem um grupo de 33 alunos, em que digamos, 22 desses não
têm um acompanhamento em casa, então aí você já percebe que os pais não estão interessados. Eles
colocam as crianças na escola porque elas têm que vir. Mas na verdade eles não se envolvem. [...]
Isso prejudica muito o aprendizado das crianças porque eles não têm o incentivo em casa. Bastante
complicado essa região aqui.
Além de apresentar o problema da falta de comprometimento de alguns pais, a professora
faz uma relação da escola com a questão da região onde as crianças moram como fator
determinante. A generalização se dá por uma espécie de critério geográfico, o bairro,
reconhecidamente tido como tendo dificuldades de ordem socioeconômica. Há certo fatalismo em
seu discurso. Algo como: “como o bairro é assim não há muito que fazer.”
Aos professores foram perguntadas no questionário quais as estratégias que utilizam, como
agentes de letramento, para incentivar a leitura de seus alunos. Várias foram as estratégias citadas,
que podem ser ilustradas no depoimento de P1:
São vários tipos de estratégia. Eu trabalho a leitura todos os dias em sala de aula. Eu começo com a
minha leitura, meu exemplo. Fazendo a minha leitura diária para eles. Escolho vários gêneros, às
vezes um texto que eu acho importante para eles, na realidade deles. Ou leio um livro em partes.
Enfim, eu faço minha leitura diária, por aí. Sempre faço a minha leitura compartilhada. Outros
gostam de leituras jogralizadas, eu pego seis deles e eles leem juntos e eles adoram. Há até uma
disputa para ver quem lê melhor. Então eles trabalham vários tipos de texto, a fluência, a entonação,
e está ajudando no desenvolvimento deles de adquirir um gosto pela leitura. Tem a leitura individual
na sala de aula. Que eu tenho a sacola da leitura na sala de aula. São várias formas. Produção textual:
eu dou um texto iniciado ou com várias imagens e eles vão desenvolver e depois socializam esse
texto para estarem lendo. Tudo é uma forma de incentivarem-nos na prática da leitura. (P1)
A professora, em seu relato, indica a insistência no ato de ler para a criação do hábito.
Também enfatiza o fato do exemplo que o professor deve representar. Ao escolher diversos
gêneros, reconhece a diversidade que é própria do grupo de alunos.
Quando perguntado às professoras se conheciam as famílias de seus alunos, as respostas
apontaram que elas conheciam poucas famílias, embora considerassem muito importante tal
conhecimento. Possivelmente, a falta de momentos nos quais pais e professores possam conversar
acaba contribuindo para caracterizar essa diferença entre a percepção da professora e a informação
dada pelos pais, principalmente do 5.º ano, em que o número de pais que afirmaram conhecer a
professora foi consideravelmente maior do que o percebido pela docente.
229
Finalmente é necessário conhecer a concepção de letramento que as professoras apresentam
e que explica, um pouco, o modo como algumas delas trabalham com os seus alunos, aparentemente
mais preocupadas com a compreensão e a interpretação dos textos. Há algumas concepções que
estendem o conceito para fora do âmbito escolar, inserindo a família no escopo. Daí talvez uma
melhor aceitação do que o aluno já traz da família.
Também foi percebido que as professoras têm certa compreensão acerca do conceito de
letramento. Dessa forma, há os meios para que se consiga nas salas de aula fugir apenas da
mecanicidade dos processos de leitura e escrita e, segundo Soares (2003), levar os alunos a
vivenciarem uma nova realidade social, cultural, cognitiva, linguística, entre outras.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível perceber que na maior parte dos casos, há por parte do professor uma
preocupação em perceber o que acontece no ambiente familiar dos seus alunos. Porém essa
percepção, na maioria das vezes, não é precisamente para usá-las como ponto de partida de uma
atividade pedagógica, mas sim para suprir uma necessidade, uma carência ou, ainda, estabelecer
uma relação de proximidade.
Por meio de questionários e entrevistas semiestruturadas identificaram-se uma diversidade e
uma quantidade de práticas de letramento que em muitos momentos não eram percebidas pelas
professoras. Os pais se mostraram bastante preocupados com a questão da leitura, talvez movidos
pela questão do “mito do letramento”, e disponibilizavam aos seus filhos diversos materiais.
Também foi possível perceber que em muitos momentos as professoras, assim como a
escola, não conseguiam criar situações em que fosse possível um contato mais próximo com as
famílias dos alunos e a consequente percepção das práticas de letramento e das referências
familiares. Considerando a formação docente como uma importante instância aonde o professor vai
se constituindo ao longo de sua carreira, pode se dizer que há espaço para as temáticas que
envolvam não só o letramento, mas também outros temas relevantes. Entre eles, os que auxiliem a
ver no outro aquilo que é próprio da identidade dele e permitir que essa face seja contemplada nas
salas de aula.
A partir da contemplação dessas questões e das respostas encontradas, algumas medidas
podem ser sugeridas para que sejam alvo de apreciação: Promover cursos de formação que
contemplem a temática do letramento ao longo de toda a Educação Básica; viabilizar eventos onde
a escola receba a família com a finalidade de conhecer as histórias de vida, as práticas de
letramento, os valores culturais dando evidência a um espaço de educação informal por excelência;
implantar meios para que escola e professores vejam o currículo, o sistema e os planos de ensino de
230
forma dinâmica, dialógica e significativa para a comunidade escolar; criar eventos onde as práticas
e eventos de letramento vividas nas casas dos alunos e na comunidade possam ser socializadas;
capacitar e incentivar os professores a usarem sua percepção acerca das histórias de vida dos alunos
nas atividades pedagógicas.
Considerando que ainda há muito campo para pesquisas na área do letramento no ambiente
familiar, desejamos que este estudo possa contribuir para que outras investigações, discussões e
reflexões aconteçam mediante os resultados aqui delineados.
REFERÊNCIAS
BALTAR, M. Letramentos e gêneros textuais midiático-escolares. In: Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, jan./jun. 2010, p. 177-190.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. Les héritiers. Paris: Les Éditions de Minuit, 1964.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GALVÃO, A. M. O. Leitura: algo que se transmite entre as gerações? In: RIBEIRO, V. M. (Org.). Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF. 2 ed. São Paulo: Global, 2004. p. 125-153.
IMBERNÓN, F. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010.
KLEIMAN, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: ______. (Org.). Os significados do letramento. Campinas-SP: Mercado de Letras, 1995. p. 15-61.
PELANDRÉ, N. L., AGUIAR, P. A. Práticas de letramento na educação de jovens e adultos. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 6, n. 2, jul.-dez. 2009, p. 55-65.
PILLOTTO, S. S. D., TAMANINI, E. Educação popular e patrimônio cultural: a complexidade do modo de construir saberes formais e não formais interdisciplinares entre museu, escola e comunidade. In: CAMPOS, R., VENERA, R. A. S. (Org.). Abordagens teórico-metodológicas: primeiras aproximações. Joinville (SC): Univille, 2012.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
Szymanski, H. (2004). A Prática Reflexiva com Famílias de Baixa Renda. Anais do II Seminário Internacional de Pesquisa e estudos Qualitativos. Bauru:SEPQ.
TFOUNI, L. V. Letramento e alfabetização. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2006.