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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA ESPECIALIZAÇÃO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE Marly Santana Nery ACESSIBILIDADE: A UNIDADE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA SALVADOR-BAHIA 2010 “Considera-se inaceitável que recursos públicos continuem sendo utilizados para a construção de qualquer tipo de barreira” Carta do Rio

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ESPECIALIZAÇÃO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE

Marly Santana Nery

ACESSIBILIDADE: A UNIDADE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

SALVADOR-BAHIA 2010

“Considera-se inaceitável que

recursos públicos continuem sendo utilizados para a

construção de qualquer tipo de barreira”

Carta do Rio

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ESPECIALIZAÇÃO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE

Marly Santana Nery

ACESSIBILIDADE: A UNIDADE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do Título de Especialista em Arquitetura em Sistemas de Saúde.

Orientadora: Márcia Maria Lisbôa Carramenha

SALVADOR-BAHIA 2010

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00000 Nery, Marly Santana 0000 Acessibilidade a Urgência e Emergência / Marly Nery, 2010. Monografia (Especialização) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura, 2010. 1. Arquitetura em Estabelecimentos do Sistemas de Saúde 2. Acessibilidade I. Título II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura III. Monografia.

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Marly Santana Nery

ACESSIBILIDADE: A UNIDADE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

TRABALHO FINAL ESPECIALIZAÇÃO

submetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de

ESPECIALISTA EM ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE

à Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa

da Universidade Federal da Bahia

Aprovado: Comissão Examinadora

Data da Aprovação: ......./......./......... Conceito:

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AGRADECIMENTOS

À meu Deus pelo conforto nos momentos de aflição, ansiedade, estress, durante o curso. Aos meus filhos, Guto e Tati.

À minha querida profª. Orientadora Márcia Carramenha, sempre carinhosa e atenciosa, eternamente agradecida. Aos professores do ARQSAUDE UFBA especialmente a Prof. Dr. Antônio Pedro de Carvalho pelo carinho, dedicação, orientação e ensinamentos. À colega e amiga Marlise Macêdo por me substituir na coordenação, pelo carinho, pelo apoio irrestrito e pela bondade incondicional em me servir. À colega Ana Margarida pelo carinho e disponibilidade em me ajudar À funcionária do Arqsaude Neila pelo apoio e presteza incondicional que serviu a turma durante o curso. Aos colegas da turma do Arqsaude 2009, pela formação da amizade e particularmente a minha equipe Bruna e Doris. Aos diretores da SUCAB (gestão 2009), por terem me concedido a oportunidade de cursar a especialização. Aos profissionais de saúde comprometido com a medicina e todos os funcionários que se empenham no cuidado aos seus pacientes.

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RESUMO

O presente trabalho enfoca a acessibilidade, o design universal, a mobilidade urbana no contexto da arquitetura e da engenharia, em especial a unidade de Urgência e Emergência nos ambientes de Saúde. Arquitetura e instalações inacessíveis criam barreiras à participação de pessoas com dificuldades de locomoção e deficiências físicas na condução diária de suas vidas. Melhorar o acesso aos Serviços de Saúde é um ponto indispensável para que os cidadãos participem dos espaços públicos e aumente a qualidade de suas vidas. Observou-se nas últimas décadas um “novo paradigma” da deficiência física e o crescente interesse no ambiente e em seu papel de “contribuinte” para a incapacidade. Nesse contexto, os objetivos de entidades e documentos como a CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da OMS, a NBR 9050 e as recomendações do CONADE - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, voltadas para identificar, avaliar e eliminar barreiras no ambiente construído, a fim de promover a independência e a participação, especialmente nos ambientes comunitários foram utilizadas como fontes de pesquisa norteadoras deste trabalho.

Foram efetuados Estudos de Caso a partir de visitas a seis Estabelecimentos Assistenciais de Saúde do município de Salvador-Ba, com perfil de atendimento a Urgência e Emergência, de gestão tanto pública como privada no qual são apresentadas barreiras encontradas acessos aos EAS visitados. Estes EAS foram analisados criticamente com propostas para enfrentamento dos problemas encontrados. Verificou-se que, em algumas situações, a tentativa de atender às exigências normativas sem planejamento, produziu resultados inadequados, demonstrado em registros fotográficos que as instituições ainda estão despreparadas para receber pessoas com deficiências seja temporária ou permanente. Observou-se -se também a indiferença com que a sociedade ainda trata a questão da Acessibilidade, o que é dramático em prédios que se destinam a dar assistência de saúde

É pouco provável que se possa projetar prédios e ambientes que atendam a todas as condições, principalmente adequar prédios antigos em funcionamento. Deve-se, contudo, ter em mente que a acessibilidade e o design universal podem ser melhor entendidos como um processo no qual os atores envolvidos precisam estar cientes de seu papel.

Palavras-chave: Acessibilidade. Unidade de Urgência e Emergência. Design Universal. NBR-9050/2004. Análise. Barreiras arquitetônicas

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ABSTRACT

This paper focuses on accessibility, universal design, urban mobility in the context of

architecture and engineering, in particular the Emergency Unit and Emergency Health

Architecture environments and inaccessible facilities create barriers to participation for

people with mobility difficulties and disabilities in daily driving in their lives. Improving

access to health services is an essential point for citizens to participate in the public

spaces and increase the quality of their lives. Observed in recent decades a "new

paradigm" of disability and the growing interest in the environment and in its role of

"contributor" to the disability. In this context, the objectives of bodies and documents

such as the ICF International Classification of Functioning, Disability and Health, NBR

9050 and the recommendations of CONADE - National Council for the Rights of

Persons with Disabilities, aimed to identify, assess and eliminate barriers in the built

environment in order to promote independence and participation, especially in

community settings were used as sources of research guiding this work.

Case studies were made from six visits to Health-Care Facilities in the city of Salvador-

Ba, with a profile of the Urgent and Emergency care, management in both public and

private which are presented barriers in access to EAS visited. These EAS were reviewed

with proposals for addressing the problems encountered. It was found that in some

situations, attempting to meet regulatory requirements without planning, produced

inadequate results, shown in photographs that institutions are still unprepared to

receive disability is temporary or permanent. There is also the indifference with which

the society still treats the issue of accessibility, which is dramatic in buildings that are

designed to give health care

It is unlikely that we can design buildings and environments that meet all conditions,

especially adapt old buildings in operation. It should, however, keep in mind that

accessibility and universal design can be better understood as a process in which the

actors involved need to be aware of their role.

Key-words: Accessibility, Urgent and Emergency Unit., Universal design analysis, architetual archiitectural barriers

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

Lista de Abreviaturas e Siglas

Lista de Quadros

Lista das Figuras

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11

1. ACESSIBILIDADE ......................................................................................................... 13

1.1. DESENHO UNIVERSAL ................................................................................................. 15

1.2. MOBILIDADE URBANA ................................................................................................ 17

1.3. AJUDAS TÉCNICAS ....................................................................................................... 18

1.4. BARREIRAS FÍSICAS ..................................................................................................... 19

1.5. ESPECIFICAÇÕES DE MATERIAIS .............................................................................. 19

2. LEGISLAÇÃO SOBRE ACESSIBILIDADE ............................................................... 20

3. A UNIDADE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA ....................................................... 23

3.1. ACESSIBILIDADE À URGÊNCIA E EMERGÊNCIA E SUAS DIFICULDADES:

LOCALIZAÇÃO ............................................................................................................... 25

3.2. A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E

EMERGÊNCIAS ............................................................................................................. 26

4. AS QUESTÕES DE ACESSIBILIDADE NA URGÊNCIA E EMERGÊN CIA -

APLICABILIDADE ........................................................................................................ 28

5. O QUE MUDOU COM AS NOVAS LEIS E NORMAS DE ACESSIBIL IDADE? .. 29

5.1. ELEMENTOS BÁSICOS .................................................................................................. 30

6. REGISTROS DE ACESSOS À UNIDADE DE EMERGÊNCIA E URGÊNCIA ..... 38

7. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 45

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LISTA DAS ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

CONADE Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência

DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

EAS Estabelecimento Assistencial de Saúde

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

PNE Portadores de Necessidades Especiais

PSF Programa da Saúde da Família

QUALISUS Política de Qualificação da Atenção à Saúde

SIH Sistema de Informação Hospitalar

SUS Sistema Único de Saúde

SOMASUS Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde

SUE Serviços de Urgência e Emergência

UTI Unidade de Terapia Intensiva

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LISTA DOS QUADROS

Quadro 1: Barreiras e Facilitadores Arquitetônicos ....................................................... 15

Quadro 2: Os 7 princípios do Design Universal ............................................................. 17

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LISTA DAS FIGURAS

FIGURA 1: Entrada de unidade de urgência e emergência ............................................25

FIGURA 2: Modo de referência.............................................................................. 30

FIGURA 3: Portas e corredores...................................................................................... 33

FIGURA 4: Equipamentos sanitários ............................................................................. 34

FIGURA 5: Equipamentos sanitários ............................................................................. 35

FIGURA 6: Telefone ...................................................................................................... 35

FIGURA 7: Vagas especiais em estacionamento ........................................................... 36

FIGURA 8: Símbolo internacional ................................................................................. 39

FIGURA 9: Símbolo internacional ................................................................................. 40

FIGURA 10: Símbolo internacional ............................................................................... 37

FIGURA 11: Rampa de acesso principal ........................................................................ 38

FIGURA 12: Rampa de veículos .................................................................................... 38

FIGURA 13: Entrada da emergência............................................................................. 39

FIGURA 14: Estacionamento de veículos – entrada de emergência ............................. 39

FIGURA 15: Pisos inacessíveis ...................................................................................... 40

FIGURA 16: Entrada do pronto-atendimento exclusiva de veículos ............................. 40

FIGURA 17: Entrada de emergência – guias sem rebaixo ............................................. 41

FIGURA 18: Rampa com inclinação inacessível............................................................41

FIGURA 19: Corrimão – altura incorreta....................................................................... 41

FIGURA 20: Circulação com barreira............................................................................ 42

FIGURA 21: Circulação com barreiras...........................................................................42

FIGURA 22: Acesso de veículos - Ambulância ............................................................. 43

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INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende apresentar e analisar a situação em que se encontram os espaços

físicos dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), especificamente à unidade

de Urgência e Emergência, quanto às questões de Acessibilidade. Considerada

atualmente como porta principal de entrada da prestação de assistência à saúde, a

unidade de Urgência e Emergência é onde a população busca ajuda para seus problemas

de saúde. A questão da Acessibilidade é um dos itens importantes para a humanização

do atendimento nos EAS, humanização esta tão divulgada pelas administrações

hospitalares e almejada pelos pacientes.

Ainda se está longe do atendimento humanizado ideal, considerando–se a grande

procura das unidades de Urgências e Emergências pela população para questões que

poderiam ser resolvidas a nível ambulatorial, o que deixa estas unidades

sobrecarregadas, principalmente nos hospitais públicos, demonstrando visivelmente a

falta de condições de atendimento, em diversos aspectos.

Este trabalho foi norteado pelo questionamento quanto as quais soluções arquitetônicas,

ou elementos permitem eliminar as barreiras físicas e tornar os espaços da unidade de

Urgência e Emergência acessível, tendo como objetivo geral apresentar soluções

arquitetônicas para as unidades de Urgência e Emergência para que este se torne

estabelecimento acessível, inclusive na questão do pronto atendimento e como objetivo

específico efetuar visitas técnicas a diversos EAS a fim de ilustrar a atual situação da

Acessibilidade encontrada em EAS públicos e privados para atender aos pacientes,

acompanhantes, visitantes e funcionários.

O estudo foi feito através de observação. Para seu desenvolvimento foram executadas as

seguintes ações: (a) pesquisa documental, onde foi levantado o arcabouço legislativo

vigente; (b) Estudos de Casos, em que foram visitadas seis unidades de Urgência e

Emergência, tanto de gestão pública como privada no município de Salvador, no

período de maio a setembro de 2010, nas quais foram efetuados registros fotográficos

de seus acessos. As observações e análise crítica relativa à situação encontrada nos

Acessos às Unidades identificadas como A, B, C, D, E, F e G, são apresentadas no

capítulo 6.

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Espera-se, com este trabalho, evidenciar a necessidade de inclusão de elementos

arquitetônicos nos projetos de adequação dos prédios públicos, especificamente nas

unidades de Urgência e Emergência, capazes de possibilitar aos usuários destas

edificações independência para transitar, ou seja, dar condições de locomoção seja ele

com deficiência temporária ou permanente.

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1. ACESSIBILIDADE

No início dos anos 80 as pessoas com deficiência física reivindicavam eliminação de

barreiras arquitetônicas nas edificações. Na década de 90 foram reconhecidas as

barreiras ambientais, barreiras de comunicação, de transportes, atitudinais, que

passaram a ser estudadas como propostas de soluções independentemente.

Em seguida, surge o Desenho Universal apresentando um novo planejamento

arquitetônico, onde a prioridade é a Acessibilidade. E todas as deficiências deverão ser

atendidas independentemente das características físicas, estatura, condição de saúde, do

tipo de deficiência, ou seja, o Desenho Universal a ser aplicado é para todos.

Para Feket (1997) os fatores que interferem na Acessibilidade podem ser classificados

como de ordem geográfica, organizacional, sócio-cultural e econômica.

Até tempos relativamente recentes, os deficientes físicos e pessoas com problemas de

locomoção de alguma natureza tinham que enfrentar inúmeras barreiras que as excluíam

da participação plena nas atividades comuns da existência humana, como trabalhar,

assistir a apresentações e eventos esportivos, fazer compras e usar o transporte público.

Atualmente, apesar das exigências legais e de maior conscientização da população nas

questões relacionadas ao assunto, ainda há carência de políticas públicas e de uma maior

dedicação por parte dos técnicos, nos projetos arquitetônicos das edificações de uso

público. Também se observa a não priorização da Acessibilidade nas questões da

mobilidade urbana, implicando em distanciamento dos cidadãos de seu exercício do

direito à cidadania.

Segundo a ONU, cerca de 10% da população mundial é constituída por pessoas

portadoras de algum tipo de deficiência. No Brasil, o Censo de 2000 do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE mostra que esses números atingem 14,5%

da população, algo em torno de 25 milhões de pessoas (BRASIL, 2006). Portanto, a

inclusão destas pessoas no contexto da sociedade permite a elas participarem de

atividades diversas incluindo o uso de edifícios, produtos, serviços e informação.

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O Brasil tem avançado seus níveis de atendimento à saúde. A atenção básica tem

ampliado sua assistência, mas a dificuldade do acesso ainda é marcante,

especificamente à unidade de Urgência e Emergência com relação aos serviços mais

complexos, como por exemplo, a emergência cardíaca. Ao se considerar que a

Acessibilidade é um atributo dos Serviços de Saúde, esta pode ser analisada sob

distintas abordagens:

a) geográfica, que representa a distância a ser percorrida e as barreiras geográficas a serem transpostas;

b) funcional, pelo estudo dos programas e das ações de saúde oferecidas, seu horário de funcionamento e a qualidade da sua atenção;

c) cultural, ao se analisar a inserção dos serviços de saúde nos hábitos e costumes da população;

d) econômica, considerando que a atual oferta de serviços não está, em sua totalidade, desvinculada de um sistema de pagamento por parte do usuário (UNGLERT, 1995, p.36)

A legislação impõe critérios básicos para a promoção da Acessibilidade das pessoas

portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, porém a existência de barreiras

físicas (arquitetônicas) no espaço urbano atinge de forma mais acentuada a população

de menor poder aquisitivo, impedindo a mobilização destas pessoas com algum tipo de

deficiência. Para efeito de compreensão, são consideradas as seguintes definições para

os termos empregados no texto:

Barreira arquitetônica – qualquer elemento, natural, instalado ou edificado que impeça a acessibilidade de rota, espaço, mobiliário ou equipamento urbano (ABNT NBR 9050:2004, p.2).

Deficiência: o termo “deficiência” significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de a pessoa exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social (Decreto 3.956/01 citado em CEPAM, 2009, p.25).

Pessoa com deficiência – pessoa portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei 10.690, de 16 de junho de 2003, é a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade, enquadradas nas categorias: física, auditiva, visual, mental e múltipla (Decreto 3.956/01 citado em CEPAM, 2009, p.25 e 26).

Pessoa com mobilidade reduzida – definida como aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção (Decr. 5.296/04, art. 5o citado em CEPAM, 2009, p.27).

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O conceito de que o ambiente pudesse representar um fator que contribuía igualmente

para a deficiência e a capacidade diminuída deu impulso à ampliação do escopo das

questões científicas relativas às incapacidades. Nesse novo modelo, as deficiências e

limitações físicas são vistas como resultantes das interações entre as barreiras pessoais,

biomédicas, limitações funcionais e as barreiras ambientais que se interpõem à

participação no âmbito social. (SÃO PAULO, 2010).

Quadro 1: Barreiras e Facilitadores Arquitetônicos

Estruturais Largura das portas, rampas de acesso, altura das calçadas

Amenidades Número de assentos, telefones, toalhas de papel e sabão acessíveis

Interpessoais Assistência ou falta da mesma por parte de empregados ou estranhos

Orientação Sinalização, design e layout

Outros Condições atmosféricas, entorno da edificação, tráfego de veículos

Fonte: Adaptado de Bernardi e Kowaltowski ( 2005); Carletto, Cambiaghi e Gabrielli (2008)

1.1. DESENHO UNIVERSAL

O Desenho universal é o desenho de produtos e ambientes utilizáveis por todas as

pessoas, no limite do possível, sem a necessidade de adaptação, tendo como princípios a

equiparação na possibilidade de uso, a flexibilidade no uso, de modo simples e intuitivo,

com comunicação eficaz, minimizando o risco de seu uso, oferecendo dimensão e

espaço para uso e interação.

A partir de 1990 o Desenho Universal ganhou visibilidade, significando produtos e

prédios acessíveis a todos e usáveis por qualquer pessoa, inclusive aquelas com

habilidades físicas reduzidas.

Os conceitos do desenho universal são utilizados não só para deficientes físicos como

para todas as pessoas. O objetivo é evitar a necessidade de ambiente e produtos

especiais e que o que se projeta seja utilizado por todos os cidadãos, independente das

características corporais, postura e mobilidade.

A inclusão social das pessoas com deficiência é uma ação que, hoje, já podemos afirmar que acontece na nossa sociedade. Não é ainda completa, mas já tomou forma e a consciência das pessoas e de alguns governantes.

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Com a inclusão arraigada na base da formação e informação, podemos dar um passo à frente e não falar mais nesse conceito isolado, que cria mecanismos e ferramentas para trazer ao seio social um grupo de pessoas que estão à margem desse processo. Estamos levantando agora uma outra questão, mais abrangente e, sem dúvida, principal: defender um mundo de acessos universais, sem segregações, um mundo para todos. Se caminharmos pela rua, poderemos notar que nenhum ser humano é igual ao outro e que o normal é, exatamente, ser diferente (CARLETTO, CAMBIAGHI e GABRILLI, 2008, p.1).

Conforme bem colocado pelas arquitetas Núbia Bernardi e Doris Kowaltowski (2008), a

problemática do Desenho Universal e do conforto ambiental tem sido cada vez mais

solicitada no ambiente construído:

Como arquitetos, a nossa preocupação recai não somente sobre a forma dos ambientes, seus dados conceituais, a inserção urbana e histórica do edifício, mas primordialmente sobre a vivência daqueles que irão ocupar este espaço projetado. É nesta questão que o conforto e a acessibilidade do ambiente exercem o seu papel principal: o respeito pelo usuário que usufrui o espaço onde realiza suas atividades cotidianas. O conceito arquitetônico de Desenho Universal propõe o espaço com uso democrático, para diferentes perfis de usuários prega que todas as pessoas, de criança a idosos, passando por quem possui limitações físicas (temporárias ou permanente), tenham condições igualitárias na qualidade de uso de uma casa ou de um ambiente construído, seja este interno ou no âmbito da cidade.(BERDINADI e KOWALTOWSKI, 2005, p.155).

Intervir nos espaços para propor condições acessíveis é papel do planejador, assim

como, utilizar o desenho universal significa o desenho de produtos e ambientes para ser

utilizáveis por todas as pessoas, no limite do possível, sem a necessidade de adaptação

ou desenho especializado. (WRIGHT, 2001, p.55)

As idéias e conceitos do Design Universal, que transcendem os da acessibilidade

(MOSCHETTA e BELOTO, 2007) se apresentam em sete princípios norteadores dos

projetos arquitetônicos, que podem ser vistos no Quadro 2 a seguir:

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Quadro 2: Os 7 princípios do Design Universal

PRINCÍPIOS DETALHES

1 Uso Equitativo

O projeto do prédio deve torná-lo igualmente acessível a - e usável por – todos. O ideal é que os meios pelos quais as pessoas usam o prédio sejam os mesmos (exemplo, um único acesso ao prédio que funcione para todos). Se não puderem ser idênticos, os vários acessos devem ser equivalentes em termos de privacidade, segurança e conveniência. O projeto nunca deve empregar meios que isolem nem estigmatizem um dado grupo de usuários nem que privilegiem um grupo em relação a outro.

2 Flexibilidade de

Uso

O projeto deve ser adaptado a um largo alcance de preferências e habilidades individuais.

3 Simples e Intuitivo

Fácil entendimento independente da experiência, conhecimento, linguagem e grau de concentração dos usuários.

4

Informação Perceptível

O projeto deve fornecer todas as informações essenciais numa variedade de meios (escrito, tátil, simbólico, sonoro) de modo a assegurar a efetiva comunicação independente da habilidade sensorial do usuário. A informação deve ser apresentada com suficiente contraste às condições do entorno, de modo que se possa distinguir do seu contexto e possa ser decifrada em cada um de seus variados modos de apresentação.

5

Tolerância a Erros

O ideal é que o projeto elimine ou isole os itens que se mostrem de algum modo perigosos e/ou inconvenientes ao usuário. Quando condições potencialmente perigosas forem inevitáveis, os usuários devem receber avisos de aproximação. O projeto deve antecipar acidentes e movimentos imprevidentes, a fim de minimizar a inconveniência e/ou proteger o usuário de quaisquer danos.

6 Baixo Esforço

Físico

O projeto deve ser usado eficiente e confortavelmente, com o mínimo de esforço possível.

7 Tamanho e Espaço para Acesso e Uso

Tamanho e espaços apropriados para acesso, manipulação, uso, independente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário.

Fonte: Adaptado de Bernardi e Kowaltowoski (2005, p.158); Carletto, Cambiagui e Gabrilli (2008, p.12)

1.2. MOBILIDADE URBANA

O crescimento desordenado das cidades, a ausência de planejamento arquitetônico e de

políticas públicas são os grandes problemas para se alcançar uma mobilidade urbana.

Conseqüentemente há a necessidade de reformas, adequações das edificações e serviços

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considerando as novas exigências impostas pelo Decreto Federal 5.296/04, que veio

para regulamentar as Leis de Acessibilidade e Mobilidade Urbana. Por este Decreto, os

prédios comerciais e prestadores de serviços são obrigados a se adequarem, cabendo à

prefeitura condicionar a emissão do alvará de funcionamento ao atendimento destas

exigências. A legislação é a resposta a uma vontade técnica, resultado das demandas da

sociedade.

As demandas atendidas relacionadas a PNE permitem um incremento econômico ao

garantir novos clientes e usuários no comércio e coloca os imóveis comerciais que

respeitam os portadores de deficiência e mobilidade reduzida, sejam cadeirantes, cegos,

gestantes, idosos, em destaque.

Não há respostas prontas para os questionamentos quanto ao atraso no atendimento às

demandas dos PNE e quanto a quem deve adequar os edifícios. Porém há a certeza de

que a sociedade deve ter atitude de mudar o quadro atual, com relação à Acessibilidade,

inclusive com a intervenção da administração pública, para que as pessoas usufruam dos

espaços urbanos e assim resgatem sua cidadania.

1.3. AJUDAS TÉCNICAS

Segundo a Organização Internacional de Normatização (ISO), entidade internacional

responsável pelo estudo e padronização dos materiais e equipamentos, as ajudas

técnicas são “qualquer produto, instrumento, equipamento ou sistema técnico usado por

uma pessoa deficiente, especialmente produzido ou disponível que previne, compensa,

atenua ou neutraliza a incapacidade”.

Ou seja, consideram-se ajudas técnicas os produtos, instrumentos, equipamentos ou

tecnologia adaptados ou especialmente projetados para ajudar a pessoa portadora de

deficiência ou com mobilidade reduzida, possibilitando a autonomia pessoal (BRASIL,

2004).

O principal objetivo da ajuda técnica é facilitar a mobilização das pessoas que se

encontram em situação de dependência, isto é, diminuir suas dificuldades de

mobilização. Dentre os elementos considerados de ajuda técnica podem ser citados:

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• Cama articulada: proporciona conforto para o paciente acamado, regula a inclinação do tronco e posição dos pés.

• Cadeira de Banho: tem apoio que bloqueia nas quatro posições. Muito útil para pessoas com limitações físicas.

• Colchão anti-escaras; permite a circulação de ar na pele, diminuindo a pressão nas proeminências ósseas. Permiti distribui uniformemente a pressão do corpo.

• .Cadeira de rodas (adulto e criança): o maior benefício é proporcionar mobilidade, maior capacidade de independência, utilizada por indivíduos com dificuldades de locomoção seja temporário ou definitivo, podendo ser movida manual ou eletronicamente.

• Andarilhos: auxilia na marcha, pode ser fixo ou articulado, utilizado por pessoas com astenia, diminuição dos movimentos.

• Canadianas ou Muleta Axilares: Utilizadas para substituir a falta de um membro inferior , também usada quando existe dificuldade de apoiar um pé. (www.cm-seixal.pt/NR/.../vivercomajudastecnicas.pdf)

Cadeiras de rodas, andarilhos e muletas axilares são algumas das Ajudas Técnicas

utilizadas por pacientes ao acessar as unidades de Urgência e Emergência.

1.4. BARREIRAS FÍSICAS

É representado por qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação (BRASIL 2006)

Barreiras nas edificações: são as existentes no entorno e interior das edificações de uso público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações de uso privado multifamiliar. (Lei 7.853 de 2004, Decreto 5.296 de 2004 Artº8º.)

1.5. ESPECIFICAÇÕES DE MATERIAIS

Todos os materiais utilizados nos EAS devem atender às normas da ABNT. Especial

cuidado deve ser dado à especificação de materiais no ambiente dos sanitários.

Piso, porta, ferragens, bacia sanitária, torneiras, lavatórios, barras de apoio e espelhos

são elementos que merecem cuidados na hora de especificar, bem como os pisos para

calçadas e para os ambientes. Os corrimãos de rampas e escadas devem ter desenho e

material apropriado.

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A utilização de materiais inadequados num EAS onde as pessoas estão debilitadas pode

tornar os ambientes inacessíveis.

2. LEGISLAÇÃO SOBRE ACESSIBILIDADE

A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos explícitos no Art. 1º da

Constituição Brasileira de 1988, na qual também está descrito que um dos objetivos

fundamentais da República brasileira é “promover o bem de todos, sem preconceito de

origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (CF,1988).

Em seu Art. 5º a Constituição preconiza:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...) (CF, 1988, p.5)

o que garante, entre outros, o direito de ir e vir de todas as pessoas, com autonomia e

independência de modo que, proporcionar às pessoas com deficiência, definitiva ou

temporária, idosos e crianças, a participação em atividades que incluem o uso de

produtos, serviços e informação, é garantir o acesso amplo e democrático a todos os

espaços urbanos, praticando assim o exercício da cidadania destas pessoas, além de

promover a inclusão social e a equiparação de oportunidades para todos os cidadãos.

A Acessibilidade contribui para o exercício deste direito, de ir e vir com autonomia e

independência e é definida pela NBR 9050:2004 da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) como sendo “a possibilidade e condição de alcance para utilização,

com segurança e autonomia, de edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbano”.

Esta NBR 9050:2004 da ABNT estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem

observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações,

mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de Acessibilidade. Na questão

de estacionamentos, a NBR-9050 estabelece que deve ser destinado 1% das vagas para

Portadores de Necessidades Especiais (PNE) em todo estacionamento acima de 100

vagas.

A preocupação com a Acessibilidade no Brasil está retratada nas Leis Federais n°

10.048 e 10.098, aprovadas em 2000, que tratam da acessibilidade para as pessoas com

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deficiência nos espaços públicos (BRASIL, 2004 a). Estas Leis n° 10.048 e 10.098,

promulgadas respectivamente em 8 de novembro e 19 de dezembro de 2000,

determinam a garantia da Acessibilidade às edificações, vias públicas, mobiliário

urbano, sistemas de comunicação, transportes de uso coletivo e prestação de serviços

públicos.

Segundo a Fundação Prefeito Faria Lima - CEPAM (2009), a Lei 10.098/00 “estabelece

as normas gerais e os critérios básicos para a promoção da acessibilidade mediante a

supressão de barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano,

na construção e reforma de edifícios (...)”. Especificamente a respeito da Acessibilidade

nos edifícios públicos, é abordado em sua estrutura os seguintes aspectos:

• Prever reserva de vagas para veículos que transportem pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida localizadas próximas dos acessos de circulação de pedestres.

• No mínimo, garantir um acesso, ao interior da edificação, livre de barreiras.

• Garantir, no mínimo, um itinerário acessível que interligue todas as dependências e serviços do edifício.

• Os edifícios deverão dispor de, no mínimo, um banheiro acessível (CEPAM, 2009, p16).

Complementando, à respeito da comunicação e informação, que “compete, ao Poder

Público, estabelecer mecanismos e alternativas técnicas para tornar acessível, às pessoas

com deficiência sensorial ou dificuldade de comunicação, os meios de comunicação e

sinalização” (CEPAM, 2009, p.17).

No artigo n° 4, a Lei nº 10.048 de 2000 estabelece que para qualquer aprovação de

projetos arquitetônicos ou urbanísticos, concessão de alvará de funcionamento e

emissão de carta de “habite-se” deve ser atestado o atendimento às normas técnicas de

Acessibilidade, legislação específica e as regras contidas no Decreto (BRASIL, 2000).

O avanço das políticas públicas para com as pessoas portadoras de deficiência ou com

mobilidade reduzida no Brasil, reconhecendo seus direitos fundamentais, resultou no

Decreto 5.296/04, que regulamentou as leis 10.048/2000 e 10.098/2000 e estabeleceu

critérios básicos:

para promover a acessibilidade das pessoas com deficiência - física, auditiva, visual, mental ou múltipla -, ou com mobilidade reduzida, assim

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como de idosos, gestantes, obesos, lactantes e pessoas acompanhadas por criança de colo (CEPAM, 2009, p.15).

A aplicabilidade da Legislação abrange o atendimento às determinações do Decreto

extensivo à projetos e obras com destinação pública ou coletiva de qualquer natureza:

Art. 2o Ficam sujeitos ao cumprimento das disposições do Decreto, sempre que houver interação com a matéria nele regulamentada:

I - a aprovação de projeto de natureza arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação, de transporte coletivo, bem como a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva (...); (CEPAM, 2009, p.18 e 19)

No Brasil, a Acessibilidade nos espaços urbanos e edificações de uso público ou de uso

coletivo são legalmente garantidas por normas e legislação própria. O Plano Diretor

Municipal, as legislações específicas como o Código de Obras ou Edificações, o Código

de Posturas, a Lei de Uso e Ocupação, a Lei de Parcelamento do Solo e o Plano Diretor

de Mobilidade Urbana constituem um conjunto de instrumentos municipais,

complementares ao Decreto no 5.296 de 2004 (BRASIL, 2004) .

Porém, ainda não se percebe maior dedicação por parte dos técnicos, nos projetos

arquitetônicos das edificações de uso público, assim como a não priorização nas

questões da mobilidade urbana, implicando no distanciamento dos cidadãos de seu

exercício do direito à cidadania.

Observa-se o surgimento de algumas iniciativas pontuais para revisão deste quadro

como a determinação do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) em

formalizar o compromisso com a Acessibilidade através de declaração dos profissionais

ao registrar a Anotação de Responsabilidade técnica (ART).

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 50 da ANVISA também referencia a

Acessibilidade quando descreve, nos seus critérios de projetos de Estabelecimentos

Assistenciais de Saúde (EAS), no item acessos, que “(...) os acessos de pessoas

(pacientes, doadores, funcionários, alunos e público), devem possibilitar que os

portadores de deficiência ambulatória possam adentrar ao prédio sem a ajuda de

terceiros.” Orienta quanto às calçadas para que os meios-fios (guias) sejam rebaixados

nos trechos de acesso de modo a permitir o tráfego de cadeira de rodas ou macas.

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A questão da Acessibilidade é uma reivindicação antiga das pessoas portadoras de

necessidades especiais e, recentemente, tem tido grande visibilidade. Ao serem

consideradas as questões relacionadas à Acessibilidade nos projetos, estará sendo

possibilitado às pessoas com qualquer tipo de limitação, seja temporária ou permanente,

usufruir do que estiver à sua volta, ingressando em qualquer local e possibilitando a

estas pessoas exercer e praticar qualquer atividade.

3. A UNIDADE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Segundo Giovanella e Fleury (1996), é preciso, portanto, ao estudar condições de

acessibilidade no âmbito das políticas de saúde, ter uma visão compreensiva, na qual

seja possível comportar uma dimensão econômica referente à relação entre oferta e

demanda, uma dimensão técnica, relativa à planificação e organização da rede de

serviços; uma política, relativa ao desenvolvimento da consciência sanitária e da

organização popular; e uma dimensão simbólica, relativa às representações sociais

acerca da atenção e ao sistema de saúde .

Como um cadeirante faz para preencher a ficha de entrada na recepção da unidade de

emergência, com autonomia e independência,?

Este é o questionamento que os arquitetos de edificações públicas devem se fazer ao

projetar, especialmente um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS). Deve ser

dirigido não apenas aos projetistas das edificações, mas também aos gestores,

funcionários e todos aqueles que acolhem o paciente na entrada principal do EAS.

A ABNT NBR 9050:2004 define critérios para a resposta a este questionamento ao

prever as condições de acesso e uso aos mobiliários de recepção e atendimento quanto à

localização, características construtivas, quantidade e tipo.

A unidade de Urgência e Emergência é uma unidade do EAS considerada área de risco,

onde a entrada é completamente restrita e que recebe, segundo a política do Sistema de

Saúde Brasileiro, todo e qualquer cidadão, seja criança, idoso, portadores de

necessidades especiais.

No hospital de perfil de Urgência e Emergência, onde entram indivíduos debilitados e

outros na condição de acompanhante esta unidade está sempre exposta e, por isso, é de

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fundamental importância que esteja muito bem dimensionada e bem projetada com lay

out e instalações perfeitamente equilibradas, com boa sinalização (programação visual)

e que esteja privilegiando o desenho universal em todos os seus ambientes, tanto nos

espaços físicos como no mobiliário.

Como os serviços da unidade de Urgência e Emergência são a porta de entrada para

atender a grande parte dos problemas de saúde, muitos destes serviços, com

funcionamento de 24h, a identificação dos fluxos tanto de pacientes quanto de

funcionários são peças de grande importância para o bom funcionamento da unidade.

A localização, o dimensionamento, o lay out, a sinalização, as instalações, todos estes

elementos devem ser cuidadosamente estudados nos projetos da unidade de Urgência e

Emergência, de modo a permitir rápido e seguro acesso aos pacientes, fundamental para

atendimento imediato. Especificamente deve ser cuidada a questão da Acessibilidade

quando estes pacientes estão desacompanhados e necessitam de amparo, possibilitando

a autonomia e segurança nestes momentos prestando um atendimento humanizado.

Os ambientes da Unidade de Urgência e Emergência não estão apenas relacionados com

procedimentos cirúrgicos, ou mesmo procedimentos invasivos. O ambiente de

reidratação, por exemplo, é rotineiramente freqüentado por crianças (muitas vezes no

colo da mãe) e por idosos, pessoas que freqüentemente necessitam de ajuda e apoio.

Alguns relatos registram que a serviço de reidratação é atribuição do atendimento

primário, apesar de não ser este o foco deste trabalho, ela está inserida na Emergência e

é frequentada por pacientes, acompanhantes e funcionários em condições físicas

diversas.

Nas salas de atendimento ortopédico também é habitual serem vistas pessoas

impossibilitadas de andar sozinho, geralmente mancando e/ou necessitando de apoio

para se locomover.

Para UNGLERT (1995), o acesso à saúde está intimamente vinculado às condições de

vida. Portanto, a qualidade da acessibilidade aos serviços de saúde, está diretamente

ligada as boas condições de habitação, nutrição, educação e poder aquisitivo das

pessoas.

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Figura 1 – Entrada de uma Unidade de Urgência e Emergência Fonte: A Autora

3.1. ACESSIBILIDADE À URGÊNCIA E EMERGÊNCIA E SUAS

DIFICULDADES: LOCALIZAÇÃO

A Acessibilidade geográfica, se refere à distancia que o cidadão percorre para ter

atendimento e assistência médica. Até 1996, segundo Souza (1996), a maior parte dos

estudos de localização para implantação de unidades de atendimento de Urgência e

Emergência no Brasil não era científica. As unidades eram locadas sem planejamento,

sem critérios causando grandes dificuldades de acesso para a população. As diversas

publicações da ANVISA surgiram para reverter este cenário, estando até hoje em vigor

a RDC 50/02.

A localização de unidades de Urgência e Emergência inacessíveis significa barreiras

físicas às pessoas com dificuldades de locomoção e deficiências transformando-a em

obstáculo à Acessibilidade.

A má distribuição geográfica destes estabelecimentos nas cidades e regiões também

influencia na dificuldade de acesso a estas unidades. Geralmente a localização de um

hospital e conseqüentemente, da sua unidade de Urgência e Emergência são implantadas

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por definição de gestores que muitas vezes levam em conta apenas as questões

fundiárias, bem como a disponibilidade de terreno no município, colocando para

segundo plano as questões reais de boa Acessibilidade.

A locação de uma unidade de Emergência adequada deve preceder de estudos que

evidenciem as características da comunidade a ser atendida, sua população, a

disponibilidade de transporte coletivo próximo à unidade, ao percurso de chegada à

unidade, aí incluindo a preocupação e cuidado com a entrada no prédio para que seja

acessível. Todas as observações e críticas quanto à localização desta unidade se deve à

deficiência no sistema de saúde no que tange a atenção básica, considerando que a

unidade de Urgência e Emergência é a porta de entrada para a solução mais rápida das

questões de saúde da população.

Vários estudos demonstram que as barreiras de acesso existentes na atenção básica

direcionam a população para estas unidades de atendimento 24 horas.

Para Feket (1997), o principal entrave à Acessibilidade é o sistema organizacional dos

EAS que deve ser pensado para atender às características específicas de cada

territorialidade.

A territorialidade a que se refere Feket (1997) corresponde aos distritos sanitários,

divisão do município na área de saúde, utilizando condições geográficas,

epidemiológicas, administrativas, populacionais e políticas, conforme a Lei nº 8080/09

da reforma sanitária.

O Distrito Sanitário pode ser entendido como a menor unidade operacional e administrativa do sistema de saúde, definida através de critérios geográficos, populacionais, epidemiológicos, administrativos e políticos, onde são articuladas diferentes ações baseadas na natureza dos problemas e do perfil da população, e sob gestão de uma autoridade sanitária local (MENDES, 1993; BRASIL,1990, s.p. ).

3.2. A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS

Para entender a questão da Acessibilidade na Urgência e Emergência, é preciso

primeiramente fazer referências à política de humanização destas unidades. Foi

criado em 2004, pelo Governo Federal, um programa de humanização das unidades de

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Urgências e Emergências, com objetivo de qualificar o atendimento do Sistema Único

de Saúde (SUS), à população. Este programa foi denominado Política de Qualificação

da Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde – Política Qualisus. A implantação

desta política teve, como obstáculos identificados, o déficit de recursos humanos nos

hospitais e as melhorias estruturais previstas na Política.

• Demanda acolhida através de critérios de avaliação de risco, garantido o acesso referenciado aos demais níveis de assistência;

• Garantida a referência e contra-referência, resolução da urgência e emergência, provido o acesso à estrutura hospitalar e a transferência segura conforme a necessidade dos usuários;

• Definição de protocolos clínicos, garantindo a eliminação de Intervenções desnecessárias e respeitando a individualidade do sujeito. (HUMANIZA SUS, BRASÍLIA 2004, p.26)

Apesar de o programa ter proporcionado grande interesse por parte dos profissionais de

saúde, a hierarquização das atenções primária, secundária e terciária não teve êxito, pois

a planejada e real porta de entrada do sistema seria a rede básica.

Levando-se em conta que as portas do SUE encontra-se aberta ininterruptamente todos

os dias, durante as 24h do dia, estas unidades dos hospitais das regiões metropolitanas

tem assumido o papel de acolher pacientes com qualquer tipo de enfermidade.

O cenário relativo à atenção das Urgências e Emergências no Brasil pode ser mostrado

como: falta de integração da atenção básica, média e alta complexidade; a gestão

voltada para oferta dos serviços e não a necessidade das pessoas; a deficiência de

acolhimento; insuficiência de portas de entradas para média complexidade; grande

demanda da alta complexidade; insuficiência de leitos, especialmente leitos de UTI; a

falta de legislação específica para o SUE; precariedade das áreas físicas e equipamentos

inadequados e insuficientes das unidades de Urgência e Emergência; o despreparo

profissional que está associado à deficiência da formação profissional; a inexistência da

interligação e hierarquização insuficiente entre os níveis de atenção primário,

secundário e terciário do sistema.

Com este cenário, pode ser observada a fragilidade que o Sistema de Saúde se apresenta

com relação ao atendimento nas Urgências e Emergências no Brasil. A ausência de

gestão comprometida e voltada para a assistência à população na atenção básica,

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provoca descontrole e desencadeia todo tipo de obstáculos, surgindo barreiras e,

consequemente, impedindo o atendimento.

4. AS QUESTÕES DE ACESSIBILIDADE NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA - APLICABILIDADE

A RDC 50/02, como marco nas diretrizes do planejamento e projetos físicos dos EAS,

ainda não incorporou recomendações legais específicas para as questões da

Acessibilidade em seu Manual. O texto destaca:

“A presente norma não estabelece uma tipologia de edifícios de saúde (...) procurou-se tratar genericamente todos esses edifícios como sendo Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), que devem se adequar as peculiaridades epidemiológicas, populacionais e geográficas de cada região onde estão inserido. Portanto, são EAS diferentes mesmo quando se trata de edifícios do tipo centros de saúde,por exemplo.” (BRASIL, 2002, p.36).

Observa-se que ainda não existe preocupação direcionada para os quesitos que tornam

uma unidade acessível e que permitam a qualquer cidadão trânsito independente, seja

funcionários, acompanhantes e principalmente usuários e as pessoas que necessitam dos

serviços desta unidade.

Outro elemento importante no planejamento dos projetos dos EAS é o Sistema de Apoio

à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde – SOMASUS criado em 2004 pelo

Ministério da Saúde, através da ANVISA, onde são encontrados parâmetros para

elaboração de projetos e adequação física. Muito embora sejam abordadas as questões

de fluxos e orientações de acessos aos ambientes, não se faz referências específicas às

questões de Acessibilidade nos EAS.

Como bem o coloca os professores Luiz Alberto de Souza e Anderson Viera Thomé

(2007) o cumprimento das normas referentes à garantia da acessibilidade universal aos

espaços de uso público, conforme prevê a norma ABNT NBR 9050:2004, ainda não

estão sendo cumpridas em sua plenitude:

Essa questão ainda encontra resistências em diversos níveis seja por uma questão cultural ou mesmo, de natureza econômica para que haja uma correta e boa acessibilidade aos espaços de uso público. Muitos alegam que elas são impraticáveis nas edificações já existentes em face das dificuldades em se adaptar a edificação às exigências da ABNT 9050 (...) nota-se que ainda existe

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um descaso em fiscalizar a aplicação das leis e das normas específicas, em particular, a ABNT NBR 9050 no ambiente urbano.

A temática da acessibilidade universal é, a nosso ver, não uma mera questão de se prover o meio urbano de rampas, calçadas e mobiliário urbano adequado à boa norma técnica ou à legislação. Nesse aspecto, cabe aos futuros profissionais do espaço urbano, sejam eles arquitetos, urbanistas, engenheiros, designers, pensar e projetar o ambiente construído para que esse possa atender as necessidades de toda população, independente de suas condições físicas ou mentais (SOUZA e THOMÉ, 2007, s.p).

5. O QUE MUDOU COM AS NOVAS LEIS E NORMAS DE ACESSIBILIDADE ?

Apesar das dificuldades de comunicação entre mecanismos que articulam a política de

acessibilidade e o poder público, quanto ao atendimento das necessidades dos

portadores de deficiência, houve relativo avanço neste processo. Entidades, associações

e diversas organizações, são responsáveis pela articulação com os órgãos públicos além

de traçarem ações.

Neste processo de discussão das políticas de Acessibilidade, suas conquistas e avanços

são atribuídas às próprias pessoas com deficiência. Porém é evidente que os benefícios

conseguidos têm importância para todos os cidadãos. Podem-se elencar algumas

hipóteses para retratar as razões para o pouco avanço nestas questões:

• a arquitetura dos prédios existentes que oferecem dificuldades físicas de

adequações, que aliada às limitações estruturais, dificultam aplicação das

exigências normativas;

• Os custos decorrentes dos projetos e execução das adaptações no cumprimentos

das normas;

• o desconhecimento por parte de técnicos e gestores, das imposições normativas,

que tratam as políticas públicas de acesso e mobilidade com autonomia e

segurança do cidadão .

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Portanto a criação de conselhos municipais é uma ferramenta importante para o

desenvolvimento e implementação das ações que dizem respeito a Acessibilidade,

consequentemente a inclusão social.

A sociedade não atingiu um nível de conscientização frente as questões da inclusão das

pessoas com mobilidade reduzida e ou portadoras de deficiência definitiva e temporária,

no mundo urbano e nas edificações acessíveis. A falta de incentivo para a

implementação de ações nas Políticas Públicas são evidentes, apesar a existência de

arcabouço legislativo em todas as esferas de governo e considerando os prazos para

adequação de edificações e afins definidos no Decreto 5296/2004.

o processo de acessibilidade começa na cabeça de quem projeta, arquitetos e engenheiros, passa por quem contrói, reforma ou presta serviços, construtores, engenheiros, técnicos, concessionárias de água, luz, transporte etc, continua na mão de quem autoriza, fiscaliza e certifica a obra ou serviço, técnicos da prefeitura, e por fim termina com a utilização de quem mais necessita dele, ou seja, as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida (BRASIL ACESSÍVEL 2006 s. p. )

5.1. ELEMENTOS BÁSICOS

A ABNT NBR 9050, recomenda a adoção de alguns elementos básicos para adotar

Acessibilidade, que serão relacionados a seguir. São elementos de fáceis adequações,

que podem tornar os ambientes e os acessos acessíveis, incluindo suas dimensões, para

os deficientes físicos e ou pessoas com mobilidade reduzida e que poderão ser utilizados

como subsídios para o desenvolvimento de novos projetos.

Figura 2: Módulo de Referência Fonte: NBR 9050

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•••• ROTA ACESSÍVEL: trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta

os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser

utilizado, de forma autônoma e seguro, por todas as pessoas, inclusive aquelas

com deficiência. A rota acessível externa pode incorporar estacionamentos,

calçadas rebaixadas, faixas de travessia de pedestres, rampas, etc. A rota

acessível interna pode incorporar corredores, pisos, rampas, escadas, elevadores,

etc (ABNT NBR 9050:2004 citado em CEPAM, 2009).

Art. 19. A construção, ampliação ou reforma de edificações de uso público deve garantir, pelo menos, um dos acessos ao seu interior, com comunicação com todas as suas dependências e serviços, livre de barreiras e de obstáculos que impeçam ou dificultem a sua acessibilidade (DECRETO 5.296/04, s.p.).

•••• RAMPAS DE ACESSO: devem ter piso antiderrapante; largura mínima de

1,20m com inclinação adequada. No início ou término de cada segmento de

rampa, deve ser previsto um patamar com comprimento longitudinal de, no

mínimo, 1,20m, porém recomenda-se que tenha 1,50m; corrimão de ambos os

lados com altura máxima de 0,80m; proteção lateral de segurança; e declive de

5% (cinco por cento) a 6% (seis por cento), nunca excedendo a 8,33% (oito

vírgula trinta e três por cento) e 3,50m (três metros e cinqüenta centímetros) de

comprimento; Em caso de reforma, na impossibilidade de aplicar as condições

mencionadas, a inclinação pode ser de até de 12,5%, com desnível máximo de

0,075m e com apenas um segmento (CEPAM, 2009).

•••• PISOS: Há necessidade de preocupação com os materiais de acabamento das

superfícies. Os pisos devem ter superfícies regulares e antiderrapantes e não

devem provocar trepidação em dispositivos com rodas (cadeiras de rodas ou

carrinhos de bebê). A utilização de materiais indevidos acaba por dificultar e

impedir o livre acesso. Deve haver a preocupação com a instalação de sinalização

através de pisos táteis “caracterizados pela diferenciação de textura em relação

ao piso adjacente, destinado a constituir alerta ou linha guia, perceptível por

pessoas com deficiência visual” (ABNT NBR 9050:2004 citado em CEPAM,

2009), que podem ser de alerta ou direcionais. Nos EAS podem ser aplicados

pisos táteis de alerta nos rebaixamentos das calçadas em torno do EAS, nas faixas

elevadas de travessia, no início e término de escadas e rampas, em frente às

portas de elevadores, sob mobiliário urbano suspenso entre 0,60m e 2,10m, de

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cor que contraste com o piso adjacente, em conformidade com a ABNT NBR

9050:2004.

•••• BALCÕES DE ATENDIMENTO: O posicionamento e o design dos balcões de

atendimento devem, obrigatoriamente, permitir a aproximação frontal de uma

pessoa em cadeira de rodas. Uma parte da superfície do balcão, com extensão de,

no mínimo, 0,90m, deve estar a uma altura de, no máximo, 0,90m do chão; e ter

altura livre inferior de, no mínimo, 0,73m do piso, com profundidade mínima de

0,30m. em frente aos balcões, bilheterias e mesas de atendimento deve estar

prevista uma área de manobra com rotação de 180º, para possibilitar o

deslocamento de pessoas em cadeira de rodas (CEPAM, 2009)

•••• ESCADA: com largura mínima de 1,20m para acesso de serviço e 1,50m para

pacientes; corrimão de ambos os lados coma altura máxima de 80cm; degraus

com altura entre 16cm de 18cm e largura mínima de 25cm. Se estiverem na rota

acessível, não podem ter seu espelho vazado e devem ter sinalização específica

em cada degrau (ABNT NBR 9050:2004).

•••• CORRIMÃOS: Os corrimãos devem ser instalados em ambos os lados das

escadas fixas e rampas em duas alturas: a 0,92m e 0,70m do piso, arredondados

na parte superior, de fácil deslizamento, preferencialmente, de seção circular,

com diâmetro de 3,0cm a 4,5cm, contínuo, com a haste de fixação localizada na

parte inferior, para permitir o melhor deslizamento da mão, com as extremidades

recurvadas para baixo ou voltadas para a parede lateral, a fim de evitar

acidentes. Para auxiliar o deslocamento de pessoas com baixa acuidade visual,

recomenda-se utilizar corrimãos com cor que contraste com a da parede (NBR

9050:2004 citada em CEPAM, 2009).

•••• ELEVADORES: A área em frente ao elevador deve ter piso tátil em cor

contrastante com a do piso existente e uma forma que permita a inscrição de um

círculo, com diâmetro mínimo de 1,50m, para permitir a manobra de uma pessoa

em cadeira de rodas.

Os elevadores novos devem possuir cabinas com dimensões mínimas de 1,10m

por 1,40m e os elevadores existentes, quando adequados para atender pessoas

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com deficiência, devem ter distância mínima de 1,30m entre o painel frontal e o

de fundo e portas acessíveis (ABNT NBR 13.994:2000 citado em CEPAM,

2009, p.129).

O Decreto 5.296/04 determina que, para instalação de elevadores novos ou

adaptações em edificações existentes:

Art. 27. A instalação de novos elevadores ou sua adaptação em edificações de uso público ou de uso coletivo, bem assim a instalação em edificação de uso privado multifamiliar a ser construída, na qual haja obrigatoriedade da presença de elevadores, deve atender aos padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

§ 1o No caso da instalação de elevadores novos ou da troca dos já existentes, qualquer que seja o número de elevadores da edificação de uso público ou de uso coletivo, pelo menos um deles terá cabine que permita acesso e movimentação cômoda de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, de acordo com o que especifica as normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

§ 2o Junto às botoeiras externas do elevador, deverá estar sinalizado em braile em qual andar da edificação a pessoa se encontra. (DECRETO 5296/04, s.p.).

•••• PORTAS E CORREDORES: As portas devem ter um mínimo de 0,80 m de

vão livre. Devem dispor de sinalização com informação visual e tátil no batente

ou na parede próxima da maçaneta. As circulações de serviço devem ter no

mínimo 1,20m e a de pacientes no mínimo 1,50m, exceto aquelas de acesso a

macas que devem dispor de largura mínima de 2,00m com tolerância de 5%

(NBR 9050:2004).

Figura 3 – Portas e Corredores Fonte: Manual para Acessibilidade aos prédios residenciais

da cidade do Rio de Janeiro citado por Carramenha ( 2009, não paginado)

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•••• EQUIPAMENTOS SANITÁRIOS instalação adaptada para deficientes físicos

em locais de uso público,com dimensões apropriadas, conforme NBR 9050 e

determinado no Decreto nº 5.296/04:

Art. 22. A construção, ampliação ou reforma de edificações de uso público ou de uso coletivo devem dispor de sanitários acessíveis destinados ao uso por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (...)

3o Nas edificações de uso coletivo a serem construídas, ampliadas ou reformadas, onde devem existir banheiros de uso público, os sanitários destinados ao uso por pessoa portadora de deficiência deverão ter entrada independente dos demais e obedecer às normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

§ 4o Nas edificações de uso coletivo já existentes, onde haja banheiros destinados ao uso público, os sanitários preparados para o uso por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida deverão estar localizados nos pavimentos acessíveis, ter entrada independente dos demais sanitários, se houver, e obedecer as normas técnicas de acessibilidade da ABNT (DECRETO 5296/04, s.p.).

Os sanitários acessíveis devem estar localizados preferencialmente próximos aos demais

sanitários, ter entrada independente de modo a permitir o uso com acompanhante do

sexo oposto, e com dimensão tal que permita conter um círculo com diâmetro de 0,60m

sem interferência da abertura da porta. Deve ainda ter como características:

“a borda superior da bacia deve estar situada a uma altura entre 0,43m e 0,45m do piso acabado, podendo, com o assento, chegar, no máximo, a 0,46m o banco do boxe deve estar a 0,46m; o lavatório deve ser suspenso e estar a uma altura que varie entre 0,78m e 0,80m; o mictório suspenso deve ter a borda frontal a uma altura entre 0,60m e 0,65m; os acessórios, como saboneteiras, toalheiros, papeleiras, cabides, prateleiras, etc. devem estar localizados em uma faixa de alcance manual entre 0,80m e 1,20m de altura do piso; os espelhos devem ser instalados com a borda inferior a 0,90m do piso e superior a 1,80m, quando paralelos à parede; e com a borda inferior a 1,10m do piso, quando inclinados em 10º em relação à parede; a papeleira da bacia sanitária deve ser instalada na parede lateral ao vaso e, de acordo com o modelo adotado, acima ou abaixo da barra de apoio” (CEPAM, 2009, p.101 a 102).

FIGURA 4 Fonte: Manual para Acessibilidade (…) citado por Carramenha (2009, não paginado)

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FIGURA 4: Equipamentos sanitários

Fonte: Manual para Acessibilidade (…) citado por Carramenha (2009, não paginado)

FIGURA 5: Equipamentos Sanitários Fonte: Manual para Acessibilidade (…) citado por Carramenha (2009, não paginado)

•••• TELEFONES com altura máxima do receptáculo de fichas de 1.20m

FIGURA 6: Telefone

Fonte: Manual para Acessibilidade (…) citado por Carramenha (2009, não paginado)

•••• BEBEDOUROS com altura inferior a 0,73m do piso.

•••• ESTACIONAMENTO: dispor de vagas privativas para deficientes físicos ou

pessoas com incapacidade física temporária em estacionamentos.

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As vagas acessíveis para veículos conduzidos, ou que conduzam pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, devem ficar em locais próximos à entrada principal do edifício ou ao elevador, para facilitar a circulação de pedestres e sempre interligadas a uma rota acessível. O percentual de vagas, para pessoa com deficiência, exigido para qualquer área de estacionamento, é de 2% do total existente, sendo, no mínimo, uma.

As vagas devem ter dimensões de, no mínimo, 5,00m de comprimento por 2,50m de largura. Para embarque ou desembarque das pessoas, é necessário prever uma faixa de 1,20m de largura, devidamente sinalizada, ligada à calçada por meio de rampa e conectada a uma rota acessível. Devem estar dispostas paralelas, ou a 90° ou 45° em relação à calçada, sinalizada horizontalmente, com o SIA e, verticalmente, com placas (CEPAM, 2009, p.119 a 122).

FIGURA 7: Vagas especiais em estacionamentos Fonte: Manual para Acessibilidade (…) citado por Carramenha (2009, não paginado)

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•••• SÍMBOLO INTERNACIONAL DE ACESSO: Uso em todos os locais e

serviços que permitam sua utilização por pessoas portadoras de deficiência (LEI

N° 7.405 de 1985).

FIGURA 8: Símbolo internacional Fonte: NBR 9050

•••• SÍMBOLO INTERNACIONAL DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA:

.. FIGURA 9: Símbolo internacional

Fonte: NBR 9050

•••• SÍMBOLO INTERNACIONAL DE DEFICIÊNCIA VISUAL:

FIGURA 10: Símbolo internacional Fonte: NBR 9050

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6. REGISTROS DE ACESSOS À UNIDADE DE EMERGÊNCIA E URGÊNCIA

Foram visitadas Unidades de Emergência e Urgência cidade de Salvador, no período de

maio a setembro de 2010, nas quais foram efetuados registros fotográficos de seus

acessos. As Unidades serão identificadas como A, B, C, D, E, F e G. As observações

relativas à situação encontrada serão a seguir apresentadas:

Nas Figuras 11 e 12, observa-se o estacionamento de veículos exatamente na entrada da

unidade A visitada, comprometendo a passagem simultânea de pacientes e

acompanhantes, dificultando a ajuda. Apesar de ter havido a preocupação com a

colocação da rampa de acesso, o local escolhido foi impróprio: verifica-se que o término

da rampa está exatamente na posição do estacionamento da ambulância que está

comprometido com a corrente que impede o acesso das pessoas. Não se pode desviar

devido também à interferência do estacionamento de veículos de um lado e a passagem

de veículos do outro.

Figura 11: Rampa de acesso principal-unidade A

Fonte: A autora

FIGURA 12: Rampa de veículo-unidade A

Fonte: a Autora

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Na Figura 13 é mostrada a porta principal de entrada da Unidade de Emergência B.

Verifica-se que o estacionamento de veículos está localizado em frente à porta principal,

dificultando o acesso ao EAS a qualquer pessoa que pretenda utilizar esta unidade.

FIGURA 13: Entrada da Emergência B

Fonte: a Autora

Observa-se que, apesar de ter sido deixado espaço entre os veículos e o prédio, este está

desempenhando apenas a função de proteger a fachada dos veículos, uma vez que o

espaço deixado não tem dimensões adequadas para ter função de circulação de pessoas

com mobilidade reduzida, principalmente aos portadores de deficiência que utilizam

cadeiras de rodas. (Figura 14 – unidade C).

FIGURA 14: Estacionamento de veículos-entrada de Emergência C

Fonte: a Autora

A Figura 15 mostra o acesso à Unidade D de Emergência Cardiológica. Como pode ser

observado, o piso utilizado encontra-se sem manutenção, e, apesar de plano, não há

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sinalização e apoios, não foi instalado piso tátil, verificando-se falta de

comprometimento para que se possa identificar o EAS como acessível.

FIGURA 15: Pisos inacessíveis – unidade D

Fonte: a Autora

No Pronto atendimento E, identificado na Figura 16, pode ser evidenciado o

descumprimento da legislação de Acessibilidade. É um EAS onde foi priorizado a

chegada de veículos. Não foi encontrada passagem alguma exclusiva para pedestre com

acesso ao atendimento. Falta corrimão, sinalização e piso tátil nos locais necessários.

Nenhum elemento que proporcione apoio para pessoas com mobilidade reduzida foi

encontrado.

FIGURA 16: entrada do Pronto Atendimento E exclusiva de veículos Fonte: a Autora

Nesta Emergência F (Figura 17), observa-se também o descumprimento da legislação

de Acessibilidade. Verifica-se desde o piso das calçadas sem rebaixo, passando por

ausência de corrimãos, de sinalização, piso tátil, até a evidência do acesso de veículos

sendo priorizado à entrada de pedestres.

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FIGURA 17: Entrada de Emergência F, guias sem rebaixo

Fonte: a Autora

Neste EAS G (Figuras 18 e 19), a inexistência de sinalização dificulta o acesso. Embora

exista a rampa de acesso, o corrimão está instalado com altura e desenho incorretos,

além de ter sido instalado apenas de um lado da rampa. A existência de um gradil numa

lateral, dificulta o apoio pois o desenho não é adequado para servir de corrimão.

FIGURA 18: rampa com inclinação inacessível –unidade G Fonte: a Autora

FIGURA 19: rampa de acesso-corrimão altura incorreta-unidade G Fonte: a Autora

Na Figura 20, é mostrada a calçada comprometida com a locação de um pilar obstruindo

a passagem. Como esta é a única passagem que dá acesso à Urgência e Emergência, fica

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demonstrada a despreocupação e falta de planejamento que este EAS tem no aspecto de

acolhimento dos pacientes e acompanhantes.

FIGURA 20: circulação com barreiras – unidade G

Fonte: a Autora

Na figura 21 é mostrada a continuação da circulação (acesso principal e único a

emergência) com mais locação de pilares obstruindo toda a passagem de qualquer

usuário do EAS G. A ausência de estudo para viabilizar um acesso possível a todos, seja

usuário de cadeira de rodas, pacientes ou pessoas com mobilidade reduzida, é evidente.

Observa-se que encontrar solução para minimizar os transtornos que estas pessoas

passam ainda não é prioridade para os gestores deste EAS.

FIGURA 21: Circulação com barreiras – unidade G

Fonte: a Autora

Na Figura 22, unidade G, é demonstrado que as pessoas utilizam o acesso de veículos

como passagem para se dirigir à Emergência, porque a entrada destinada a entrada e

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saída das pessoas, não é acessível. O acesso de pacientes e acompanhantes a pé se dá

por uma via de risco, que é a entrada e saída de ambulância.

FIGURA 22: Acesso de veículos e ambulância – unidade G Fonte: a autora

7. CONCLUSÃO

O atual conjunto de normas e legislação existente para incentivar ações que facilitem a

Acessibilidade da população aos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde ainda não

surtiram os efeitos desejados para que a sociedade atinja o patamar de consciência de

seus deveres.

Atitudes continuam sendo tomadas sem critérios e sem planejamento. Como agravante,

a elaboração de projetos que desconsideram o uso da edificação por portadores de

necessidades especiais geram resultados indesejáveis, pois, em lugar de facilitar a

locomoção das pessoas, dificultam sua mobilidade. Como exemplo, pode ser citado o

projeto de uma rampa com inclinação indevida, ou a locação de estacionamento de

veículos na entrada de pedestres dos Serviços de Saúde, conforme retratado nas visitas

de campo efetuadas pela autora. As normas orientadoras estão disponíveis para serem

usadas com critérios, principalmente para as edificações existentes.

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Diariamente depara-se com rampas com declividade acentuada, calçadas estreitas e/ou

sem manutenção, elevadores sem possibilidade de uso por pessoa com mobilidade

reduzida permanente ou temporária fazendo uso de cadeira de rodas, ou por portador de

necessidades especiais visuais ou auditivas. Encontram-se escadas inadequadas, portas e

corredores estreitos, vagas de veículos em estacionamentos apertados, principalmente

nas construções antigas. Este é um cenário que demonstra o quanto a indiferença e a

exclusão de pessoas permeiam a sociedade, exatamente nas cidades onde os portadores

de necessidades especiais vivem. A percepção que se tem é que para técnicos e gestores

a Acessibilidade não é uma prioridade.

Portanto, pesquisas que direcionem para o despertar desta consciência por parte de

arquitetos e projetistas, contribuirão para que a interferência ocorra antes que o

problema se concretize, ainda na fase de elaboração dos projetos, sejam de reforma,

adequação ou mesmo na criação de novos espaços urbanos e, assim, sejam previstos

antecipadamente espaços Acessíveis, de modo que rebaixamento de calçadas na entrada

dos prédios e de pontos de ônibus, rampas, portas que permitam passagem de uma

cadeira de rodas, adaptação de banheiros, bebedouros com altura acessível, piso de

calçadas adequadas, piso sinalizado (tátil) serão ações naturais que proporcionarão o

exercício da cidadania seja para o proponente, seja para qualquer cidadão.

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REFERÊNCIAS

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