UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA
INSTITUTO DE LETRAS E LINGUIacuteSTICA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Uberlacircndia
2013
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de
Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos
Linha de Pesquisa (i) Teoria descriccedilatildeo e anaacutelise
linguiacutestica
Orientador Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees
Uberlacircndia
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil
R467p
2013
Rezende Fernanda Alvarenga 1987-
O processo variaacutevel do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG Fernanda Alvarenga Rezende -- 2013
128 p il
Orientador Joseacute Sueli de Magalhatildees
Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Uberlacircndia
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos
1 Linguiacutestica - Teses 2 Foneacutetica - Teses 3 Liacutengua portuguesa -
Foneacutetica - Teses I Magalhatildees Joseacute Sueli de II Universidade Federal de
Uberlacircndia Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos III
Tiacutetulo
CDU 801
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de
Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos
Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e
Linguiacutestica Aplicada
Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013
Banca examinadora
__________________________________________________
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades
tatildeo valiosas em minhas matildeos
Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo
pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o
conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida
Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e
um exemplo na minha vida
Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com
muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional
e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes
contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem
aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que
fizeram
Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte
teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio
das entrevistas
Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente
agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre
tiveram conosco
Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos
compartilhados e pelas aulas enriquecedoras
Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme
colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam
Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por
estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me
Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte
Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade
Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de
informantes
Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas
oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado
Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo
nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo
Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o
GoldVarb X quando precisei
Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne
Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos
compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro
A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
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Campinas n 21 p 25-58 juldez1991
120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de
Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos
Linha de Pesquisa (i) Teoria descriccedilatildeo e anaacutelise
linguiacutestica
Orientador Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees
Uberlacircndia
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil
R467p
2013
Rezende Fernanda Alvarenga 1987-
O processo variaacutevel do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG Fernanda Alvarenga Rezende -- 2013
128 p il
Orientador Joseacute Sueli de Magalhatildees
Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Uberlacircndia
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos
1 Linguiacutestica - Teses 2 Foneacutetica - Teses 3 Liacutengua portuguesa -
Foneacutetica - Teses I Magalhatildees Joseacute Sueli de II Universidade Federal de
Uberlacircndia Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos III
Tiacutetulo
CDU 801
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de
Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos
Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e
Linguiacutestica Aplicada
Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013
Banca examinadora
__________________________________________________
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades
tatildeo valiosas em minhas matildeos
Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo
pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o
conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida
Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e
um exemplo na minha vida
Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com
muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional
e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes
contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem
aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que
fizeram
Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte
teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio
das entrevistas
Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente
agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre
tiveram conosco
Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos
compartilhados e pelas aulas enriquecedoras
Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme
colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam
Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por
estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me
Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte
Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade
Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de
informantes
Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas
oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado
Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo
nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo
Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o
GoldVarb X quando precisei
Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne
Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos
compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro
A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
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120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil
R467p
2013
Rezende Fernanda Alvarenga 1987-
O processo variaacutevel do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG Fernanda Alvarenga Rezende -- 2013
128 p il
Orientador Joseacute Sueli de Magalhatildees
Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Uberlacircndia
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos
1 Linguiacutestica - Teses 2 Foneacutetica - Teses 3 Liacutengua portuguesa -
Foneacutetica - Teses I Magalhatildees Joseacute Sueli de II Universidade Federal de
Uberlacircndia Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos III
Tiacutetulo
CDU 801
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de
Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos
Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e
Linguiacutestica Aplicada
Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013
Banca examinadora
__________________________________________________
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades
tatildeo valiosas em minhas matildeos
Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo
pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o
conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida
Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e
um exemplo na minha vida
Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com
muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional
e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes
contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem
aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que
fizeram
Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte
teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio
das entrevistas
Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente
agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre
tiveram conosco
Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos
compartilhados e pelas aulas enriquecedoras
Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme
colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam
Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por
estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me
Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte
Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade
Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de
informantes
Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas
oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado
Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo
nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo
Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o
GoldVarb X quando precisei
Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne
Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos
compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro
A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
7 REFEREcircNCIAS
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120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s
FERNANDA ALVARENGA REZENDE
O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de
Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos
Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e
Linguiacutestica Aplicada
Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013
Banca examinadora
__________________________________________________
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU
__________________________________________________
Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades
tatildeo valiosas em minhas matildeos
Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo
pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o
conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida
Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e
um exemplo na minha vida
Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com
muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional
e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes
contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem
aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que
fizeram
Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte
teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio
das entrevistas
Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente
agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre
tiveram conosco
Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos
compartilhados e pelas aulas enriquecedoras
Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme
colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam
Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por
estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me
Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte
Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade
Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de
informantes
Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas
oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado
Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo
nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo
Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o
GoldVarb X quando precisei
Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne
Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos
compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro
A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
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VIANA V F As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 2008 146 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais
Belo Horizonte 2008
VIEGAS M C Alccedilamento de vogais meacutedias pretocircnicas uma abordagem sociolinguiacutestica
1987 231 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica) ndash Faculdade de Letras Universidade
Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 1987
WETZELS L Harmonia vocaacutelica truncamento abaixamento e neutralizaccedilatildeo no sistema
verbal do portuguecircs uma anaacutelise autossegmental Cadernos de Estudos Linguiacutesticos
Campinas n 21 p 25-58 juldez1991
120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades
tatildeo valiosas em minhas matildeos
Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo
pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o
conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida
Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e
um exemplo na minha vida
Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com
muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional
e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes
contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo
Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem
aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que
fizeram
Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte
teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio
das entrevistas
Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente
agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre
tiveram conosco
Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos
compartilhados e pelas aulas enriquecedoras
Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme
colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam
Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por
estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me
Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte
Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade
Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de
informantes
Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas
oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado
Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo
nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo
Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o
GoldVarb X quando precisei
Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne
Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos
compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro
A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
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120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s
Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas
oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado
Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo
nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo
Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o
GoldVarb X quando precisei
Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne
Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos
compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro
A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
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SILVA A M Guia para normalizaccedilatildeo de trabalhos teacutecnico-cientiacuteficos projetos de
pesquisa trabalhos acadecircmicos dissertaccedilotildees e teses Angela Maria Silva Maria Salete de
Freitas Pinheiro Maira Nani Franccedila 5 ed rev e ampl Uberlacircndia UFU 2006 145 p
SILVA G M de O Coleta de dados In MOLLICA M C BRAGA M L (Orgs)
Introduccedilatildeo agrave Sociolinguiacutestica o tratamento da variaccedilatildeo 3 ed Satildeo Paulo Contexto 2007 p
117-133
SILVA A do N As pretocircnicas no falar teresinense 2009 236 f Tese (Doutorado em
Letras) ndash Faculdade de Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto
Alegre 2009
TARALLO F A Pesquisa Sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1994 96 p (Seacuterie
Princiacutepios)
TEYSSIER P Histoacuteria da Liacutengua Portuguesa 3 ed Traduccedilatildeo de Celso Cunha Satildeo Paulo
Martins Fontes 2007
VIANA V F As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 2008 146 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais
Belo Horizonte 2008
VIEGAS M C Alccedilamento de vogais meacutedias pretocircnicas uma abordagem sociolinguiacutestica
1987 231 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica) ndash Faculdade de Letras Universidade
Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 1987
WETZELS L Harmonia vocaacutelica truncamento abaixamento e neutralizaccedilatildeo no sistema
verbal do portuguecircs uma anaacutelise autossegmental Cadernos de Estudos Linguiacutesticos
Campinas n 21 p 25-58 juldez1991
120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s
ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode
descobrir sobre elardquo
Labov (2008 p 236)
RESUMO
O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e
e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio
para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos
preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as
entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados
confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas
estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este
estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49
anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com
mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de
articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da
siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba
tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item
lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos
todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na
posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas
no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba
pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento
das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da
assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da
siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra
preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da
Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o
processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento
por um segmento vizinho
PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo
ABSTRACT
The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid
vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio
and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of
Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews
as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte
Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic
variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old
between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11
years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of
articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of
articulation of the following context point of articulation of the following context vowel
height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel
quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable
distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-
stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we
selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels
e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs
GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of
e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the
realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the
lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process
of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This
feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent
from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on
phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)
which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of
features of a segment by a next segment
KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16
FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24
FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25
FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25
FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27
FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27
FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28
FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs
Brasileiro 30
FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31
FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31
FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32
FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33
FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes
de traccedilos 51
FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52
FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54
FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55
FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56
FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65
FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66
FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas
Gerais 66
FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e
grau de escolaridade 68
FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105
FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106
FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107
FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da
vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109
FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica 110
FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba
pretocircnica 111
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para
o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que
favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim
imperial 23
TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23
TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e
para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82
Anaacutelise da vogal pretocircnica e
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85
TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86
TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87
TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 88
TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89
TABELA 7 - Item lexical 89
TABELA 8 - Sexo 90
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91
TABELA 10 - Escolaridade 92
Anaacutelise da vogal pretocircnica o
TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95
TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96
TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97
TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98
TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99
TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica 100
TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100
TABELA 8 - Sexo 101
TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102
TABELA 10 - Escolaridade 103
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao
Portuguecircs do Brasil 22
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise
variacionista 37
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de
Piranga e de Ouro Branco 40
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo
linguiacutestica 42
235 As pretocircnicas no falar teresinense 45
236 A proposta de Lee e Oliveira 48
24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50
3 METODOLOGIA 58
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68
34 O Programa Estatiacutestico 72
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74
351 Variaacutevel dependente 74
352 Variaacuteveis independentes 75
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75
35211 Contexto precedente 75
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76
35214 Contexto seguinte 77
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80
352113 Item lexical 80
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA
DE TRACcedilOS 105
6 CONCLUSAtildeO 112
7 REFEREcircNCIAS 117
ANEXOS 120
ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121
ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel
das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse
processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de
[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que
representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro
Altas i u
Meacutedias altas e o
Meacutedias baixas ɛ ɔ
Baixa a
Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)
Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo
podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada
respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos
o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e
de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de
o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na
fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos
No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao
municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com
1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute
internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave
transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso
estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo
Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob
financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica
PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura
de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao
alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito
17
mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves
vogais meacutedias pretocircnicas
A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma
pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto
carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde
pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas
Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na
economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo
ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda
mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos
trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG
Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de
se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro
decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno
entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas
O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas
com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com
25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com
26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa
que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria
e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias
e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades
diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo
sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino
As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo
pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo
abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos
catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do
contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto
precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica
6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos
englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa
estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas
18
distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade
de siacutelabas da palavra e classe da palavra
Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo
pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes
rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis
significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o
programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do
contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na
siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as
vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o
abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na
siacutelaba pretocircnica do que a mulher)
Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze
foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no
GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs
variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De
acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de
articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram
o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]
enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel
extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais
frequecircncia do que a mulher)
Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o
abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes
carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo
sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro
Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro
ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma
pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com
o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O
7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar
19
projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um
projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve
pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional
O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos
especiacuteficos
Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais e e o
Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em
Monte Carmelo-MG
Portanto essa pesquisa se justifica por
Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo
construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo
Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala
dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio
que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico
Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo
Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras
que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que
buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa
Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo
pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos
O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de
o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa
([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este
Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
20
Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo
diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto
que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos
O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica
analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para
ambas as vogais
Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica
estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer
A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais
meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais
realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher
Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais
abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de
idade)
O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento
Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo
Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos
palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e
ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme
jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE
MORAES 2002)
palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e
leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p
5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas
caracterizando hiatordquo
palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo
fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p
65)
palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)
mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os
sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas
21
por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho
v[e]rde rarr v[e]rdinho
Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)
esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt
1995 p 5)
Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir
No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do
abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as
hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo
No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na
primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro
desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico
pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em
todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na
quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para
representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados
O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco
seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos
preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao
municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o
detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo
deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb
X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as
variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo
A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que
discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5
representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a
variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas
O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados
para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como
alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de
perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e
seus respectivos fatores
22
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua
portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de
Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o
Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a
evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela
objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois
por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos
atualmente na nossa liacutengua
A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo
acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico
aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos
estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia
vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -
24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos
auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo
21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do
Brasil
Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em
portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje
Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o
latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o
galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de
Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de
Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-
portuguesa do Norte
O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais
divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada
timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas
transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de
23
vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre
resultantes dos variados graus de aberturardquo
Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como
consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na
Tabela 1 abaixo
Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
ī i fīcum gt port figo
ĭ
ẹ
sĭtim gt port sẹde
ē rēte gt port rẹde
ĕ ę tĕrra gt port tęrra
ă
a
lătus gt port lado
ā amātum gt port amado
ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta
ō ọ amōrem gt port amọr
ŭ bŭcca gt port bọca
ū u pūrum gt port puro
Fonte TEYSSIER (2007 p 9)
Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a
vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir
Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial
Latim claacutessico Latim imperial Exemplos
aelig ę caecum gt port cęgo
œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais
no latim imperial
24
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 2 - As vogais do latim imperial
Fonte TEYSSIER (2007 p 10)
Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval
pois
[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas
individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas
palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo
permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter
conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como
uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)
No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa
semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por
exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma
tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que
se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e
caldo em portuguecircs
Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos
muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o
caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar
nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais
abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007
p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees
ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra
[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo
O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e
nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs
25
acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os
seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e
natildeo entram mais em contato
Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros
textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo
com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-
portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu
a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o
Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere
agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte
Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees
graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)
Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e
ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo
(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica
que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e
muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas
i u
ẹ ọ
ę ǫ
a
Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a
(i)
e o
a
Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 30)
26
Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um
fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e
partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas
essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o
sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o
Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa
substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso
do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs
pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo
Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas
grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou
como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a
melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como
[ọ] fechadordquo
Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos
vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute
que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer
esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de
falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo
fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas
formas prevaleccedila
Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da
siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u
Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos
antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha
chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo
Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-
nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ
desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica
27
i u
e o
a
Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs
Fonte TEYSSIER (2007 p 31)
Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs
tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o
eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo
(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias
onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir
O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo
com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua
literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego
serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p
48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como
exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais
ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute
nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo
A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que
aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-
portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 50)
28
Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as
contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a
e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em
hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em
oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o
sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo
tocircnica
i u
ẹ ọ
auml
ę ǫ
a
Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu
Fonte TEYSSIER (2007 p 51)
Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental
para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a
chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os
iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como
escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros
constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil
Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu
a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de
Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo
tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a
populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas
natildeo da forma como os europeus falavam
Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a
liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram
Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier
(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de
mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e
29
de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi
proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa
Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio
[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala
pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem
distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as
fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa
(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os
brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam
os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)
Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees
foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal
central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas
no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em
outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba
pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul
Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier
(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a
pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o
Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga
por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar
e istar para entrar e estar
Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor
argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela
pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo
da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um
ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais
niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma
30
Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final
i u i u i u
e o E O
ɛ ɔ
A9 a a
Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro
Fonte TEYSSIER (2007 p 104)
Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo
discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro
Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10
afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais
latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para
a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao
contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o
espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos
variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs
Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com
exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas
vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u
Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar
de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da
posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se
apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em
portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11
pois aleacutem das cinco vogais jaacute
9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e
Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois
fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo
entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute
transcrita como bolU 10
Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi
publicada em 1970 11
Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone
31
mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as
vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos
visualizar na figura abaixo
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ
Baixa a
Anteriores Central Posteriores
Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)
De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as
vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo
meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais
altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute
a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo
das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando
ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006
p 41)
Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante
de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a
figura a seguir
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
[ɐ]
Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)
Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma
consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e
32
aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a
eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o
u) como vimos na Figura 10
Altas i u
Meacutedias (2ordm grau) e o
Baixa a
Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico
denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que
desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada
pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)
citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras
perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade
fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em
duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI
VIEIRA 2005 p 173)
Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas
pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior
para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que
se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute
caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]
Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com
relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a
realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes
do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as
realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza
pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E
como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG
33
realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa
regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente
Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como
podemos visualizar na Figura 12 a seguir
i u
a
Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final
Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)
Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da
palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute
condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais
altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica
que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona
final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas
trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem
seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-
mudo e pent[i] para pente
As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi
definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva
desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua
tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para
Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave
assimilaccedilatildeo12
das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente
seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como
em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal
tocircnica que impulsionar o processo
Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees
feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e
12
De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento
vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo
34
afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final
Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como
argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas
na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso
porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos
encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na
siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a
variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB
A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de
muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para
estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13
(1987) que
pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que
estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco
Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas
no dialeto de Teresina-PI
Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser
considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo
que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia
vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo
Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo
desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas
Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos
que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os
processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se
nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees
entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute
dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho
13
Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento
35
231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel
Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias
pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento
que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil
tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a
harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O
corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos
trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees
portugueses e italianos
Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados
coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou
sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado
[o]perar ~ [u]perar14
Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou
S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como
afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem
situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15
Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce
influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro
~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16
A variaacutevel dependente do trabalho
da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em
vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p
38)
Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados
encontrados por Bisol (1981)
Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a
elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar
para comprar
Tonicidade
a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a
vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo
14
Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15
Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16
Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)
36
b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo
pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a
natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras
ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo
c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de
harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo
d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a
vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a
assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)
Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo
menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL
1981 p 41)
Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade
ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como
exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel
e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante
Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares
(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes
alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia
posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a
elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a
alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)
Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal
(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as
alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)
e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar
(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)
Variaacuteveis extralinguiacutesticas
- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17
foram os que mais aplicaram a
regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18
foram os que menos aplicaram
- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem
17
Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18
Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do
paiacutes vizinho o Uruguairdquo
37
- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre
(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)
- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores
condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas
permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada
agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~
custelardquo
Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de
sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos
formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt
flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo
vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p
104-108)
Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]
a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p
111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)
A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na
fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre
a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba
seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os
principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho
232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista
Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte
influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt
(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como
exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo
(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas
delimitaccedilotildees Ele desconsiderou
as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo
pronunciadas como um hiato
38
as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a
maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem
palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa
a fronteira vocabular
palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e
ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos
O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta
por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em
Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum
havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que
faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria
conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a
escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica
(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada
uma das trecircs capitais pesquisadas
Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o
na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a
seguir
Homorganicidade19
das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a
elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex
ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex
ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a
vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex
ldquoconduccedilatildeordquo)
A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave
pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex
ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica
analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata
Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a
elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)
do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)
19
Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
39
Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o
favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o
processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)
Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e
desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex
ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o
favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e
desfavoreceu o processo a pausa
Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex
ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo
o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a
elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o
processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes
Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para
a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees
verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os
seguintes
Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e
para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os
informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo
aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de
o do que os entrevistados mais jovens
Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de
elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau
Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de
harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto
Alegre)
Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas
Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal
condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na
siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as
variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por
40
exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas
vogais meacutedias pesquisadas
233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-
MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio
mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da
Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e
testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo
aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e
feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)
Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a
pesquisa
As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico
vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe
morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da
palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical
Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias
pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees
para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as
vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao
abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o
processo de nosso maior interesse
Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto
de Piranga-MG foram
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1
Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba
41
Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe
Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais
Gecircnero masculino
Faixa etaacuteria jovem
Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes
variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica pronome adjetivo
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais
Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas
Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o
abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Classe morfoloacutegica adjetivo
Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas
Gecircnero feminino
Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as
seguintes variaacuteveis independentes
Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ
Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ
Paradigma com vogal aberta com paradigma
Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais
Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas
Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas
Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas
42
Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel
extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila
qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa
uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o
de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de
uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba
pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente
234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica
Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo
individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente
de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima
de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade
(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas
o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal
Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que
participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679
referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012
corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20
ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram
obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173
ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb
2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia
do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros
apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o
nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo
Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006
selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis
43
Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram
os verbos (ex ldquochegavardquo)
Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou
valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica
baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a
vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo
Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu
a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)
Contexto precedente20
- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes
(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)
Contexto seguinte21
- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex
ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)
Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex
ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)
Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e
por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal
tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente
contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto
precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto
seguinte e classe da palavra
Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o
abaixamento de e foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum
abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos
uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na
siacutelaba pretocircnica
Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados
pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas
20
Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as
consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por
consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21
A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana
(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e
semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais
44
Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as
anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)
Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)
Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)
desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais
(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente
Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)
desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)
Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex
ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes
oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes
(ex ldquocomigordquo)
Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)
desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)
Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os
verbos (ex ldquoconversarrdquo)
Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do
abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica
contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto
seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2
Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico
para o abaixamento de o foram
Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento
de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma
ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba
Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os
homens
Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com
45
mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de
siacutelaba
Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que
no informal
As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb
2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da
vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento
quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois
houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e
em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo
Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias
pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como
jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das
vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a
realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana
(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo
se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal
235 As pretocircnicas no falar teresinense
O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais
meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou
com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero
(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50
anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino
Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas
Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas
eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de
Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como
vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo
poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias
na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse
46
Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o
comportamento das vogais meacutedias foram
Contiguidade
Homorganicidade
Tonicidade
Paradigma
Distacircncia da tocircnica
Derivada de tocircnica
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa
etaacuteria e escolaridade
As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219
ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve
2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na
seguinte ordem
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Paradigma
Contexto fonoloacutegico seguinte
Faixa etaacuteria
Escolaridade
Homorganicidade
Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou
sete variaacuteveis
Vogal contiacutegua
Contexto fonoloacutegico precedente
Contexto fonoloacutegico seguinte
Paradigma
Escolaridade
Faixa etaacuteria
Gecircnero
47
Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram
que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais
tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o
foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as
velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva
(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)
as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o
abaixamento de o
Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto
para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o
que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na
posiccedilatildeo pretocircnica
Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex
ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das
velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o
processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel
homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel
selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu
nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal
Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada
para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas
pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos
ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito
aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os
fatores analisados
Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos
do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e
[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e
Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa
etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse
cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as
vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao
passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram
48
uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p
138)
Com base nesses resultados a autora concluiu que
[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a
escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de
mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os
mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema
(SILVA 2009 p 139)
A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres
embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os
homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um
papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos
em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos
Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente
relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar
de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias
pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que
nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas
pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do
processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica
236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)
Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se
preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e
Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo
Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o
primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes
vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves
palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo
pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG
49
Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo
ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo
De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma
pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e
pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes
sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs
falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)
questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas
consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver
este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees
A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e
expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w
seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA
2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para
liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas
Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca
entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem
dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo
Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]
consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados
reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a
fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)
Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema
apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um
conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema
computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional
Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter
um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo
aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]
(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u
o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)
Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo
aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias
altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer
50
foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status
fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de
entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do
exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo
Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e
que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou
c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas
foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem
que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e
que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto
(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)
Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos
fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os
fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a
essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um
modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual
desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo
Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma
teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais
meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte
24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos
Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma
perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas
o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos
um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o
modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto
recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia
Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo
independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo
51
Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva
(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22
que o representa a Teoria
Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa
Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em
que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa
restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um
segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o
segmento tambeacutem mudaraacute
Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee
o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a
representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir
t d
- soante - soante
- contiacutenuo - contiacutenuo
coronal coronal
+ anterior + anterior
- sonoro + sonoro
Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)
Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre
alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a
[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda
que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d
visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro
A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia
Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas
consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um
segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento
de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo
22
Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter
acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-
ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo
52
O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma
hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em
camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente
Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume
(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando
Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo
traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e
relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees
fonoloacutegicasrdquo23
Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia
existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto
manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)
Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados
por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais
representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo
pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14
Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)
23
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists
have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological
representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)
53
Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como
unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam
grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que
os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os
traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas
de associaccedilatildeo
Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos
assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24
Desse modo os
autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas
um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14
um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem
parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo
fazerem parte de um mesmo constituinte
A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de
consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)
24
Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995
p 250)
54
Consoantes Vogais
Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais
Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)
Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel
representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita
acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura
15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as
especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a
representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que
consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe
apenas na representaccedilatildeo das vogais
55
Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal
Fonte MATZENAUER (2005 p 51)
O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]
[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em
grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade
desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de
cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode
espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que
estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para
indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os
segmentos nasais e [- nasal] para os orais
56
Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de
consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas
pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum
Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em
anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as
diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a
vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais
ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as
vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios
O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as
semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea
vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como
pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de
ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao
noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal
Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de
abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e
quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para
caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo
Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo
representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a
seguir
Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs
Fonte WETZELS (1991 p 31)
A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro
alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais
57
meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as
vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo
caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do
que as outras duas vogais meacutedias
Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i
u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura
negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais
fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui
todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2
deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico
do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema
vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos
desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No
Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa
58
3 METODOLOGIA
Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da
Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar
a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo
da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte
foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos
dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa
estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das
definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa
31 A Sociolinguiacutestica Variacionista
Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem
conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos
estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o
estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave
formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras
variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo
Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e
extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo
Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas
de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem
nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de
estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25
desde o surgimento da Teoria Um
desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos
ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos
Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em
duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da
populaccedilatildeo permanente
Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se
dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa
que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia
25
Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs
59
portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-
canadenses irlandeses alematildees poloneses
Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e
aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)
tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as
diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A
investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da
populaccedilatildeo que foram assim divididos
Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa
Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na
construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14
estudantes
Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9
descendentes de iacutendios
As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov
(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos
Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a
centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os
pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de
ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de
indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw
Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram
pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar
registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo
dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha
Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em
Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em
novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a
ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era
estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus
da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV
2008 p 64)
Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque
quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S
60
Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein
Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos
Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o
valor do r
ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo
ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo
ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo
Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram
mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a
atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo
de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos
onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes
de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os
primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia
diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram
menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da
ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares
De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo
estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks
pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status
superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de
prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel
linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo
Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma
comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito
no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita
que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser
considerado
Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores
sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os
chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa
teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a
sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a
Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas
61
Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir
quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem
ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel
dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica
Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de
fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as
variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a
idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de
textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo
assunto ou de tema semelhante
Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre
sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas
podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse
modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008
p 21) explica que
[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica
sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou
dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila
social imanente agindo no presente vivo
Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos
da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas
fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios
linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa
porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma
extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee
dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador
Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o
segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas
usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)
foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo
62
observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural
possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em
grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que
estatildeo sendo observados
Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que
Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No
estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas
que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou
simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele
momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para
natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de
departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor
(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da
loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem
O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a
obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo
mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da
investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas
de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar
ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar
que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de
fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)
Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor
empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute
quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer
pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na
Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir
uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis
riscos que ele pode correr ao participar do estudo
Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar
narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que
fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida
porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e
63
assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da
entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou
Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem
sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida
Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se
lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema
que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos
e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade
acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos
gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um
informante nem sempre levaraacute outro a falar
Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute
fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso
deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta
Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute
ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal
forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade
Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um
roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode
abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia
tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como
percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi
usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante
Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para
saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual
gostaria de falar
A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi
realizado
64
32 A Cidade de Monte Carmelo-MG
O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26
era habitado inicialmente por iacutendios das tribos
ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado
comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a
cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de
diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos
garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave
excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte
Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde
hoje fica o bairro Tamboril
Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa
fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos
moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem
era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas
casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo
Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa
Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma
cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no
litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa
ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga
Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo
foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo
e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade
Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os
habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na
cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de
Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees
de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de
Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia
Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo
26
As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na
paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet
httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013
65
A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto
positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da
Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como
transporte lazer e mais oportunidades de emprego
A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos
ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na
produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari
Uberaba e Patrociacutenio27
Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG
Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-
carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013
De acordo com dados28
do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em
2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772
habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade
carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de
27
As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site
da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28
Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-
carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013
66
Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia
Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com
relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte
Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)
Acessado em 10 nov 2013
Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais
Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-
mghtml Acessado em 10 nov 2013
Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi
realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como
foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo
67
33 A Constituiccedilatildeo da Amostra
Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o
Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de
Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia
Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da
comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o
GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta
com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo
Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste
nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram
selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau
de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois
informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que
analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de
dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes
seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado
A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte
forma
68
Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade
Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para
essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios
a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade
b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos
c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo
Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar
os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte
331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas
feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa
ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129
e fazem parte do banco de dados do
29
Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam
para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011
69
GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um
gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita
conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para
facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas
Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador
estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus
possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda
a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa
conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo
inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e
selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado
explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do
informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento
Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir
do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso
proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do
entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro
tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira
de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as
entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de
perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como
relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se
sentisse mais agrave vontade e disposto a falar
Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns
casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com
exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso
uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder
o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais
como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria
natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov
(2008) e Tarallo (1994)
De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las
ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o
entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a
70
gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa
seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias
altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e
seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30
feita com um informante do sexo
masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de
estudo
E Boa noiti
I Boa noiti
E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu
I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui
gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um
ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo
assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo
mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi
adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im
Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u
ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada
muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu
moraacute aqui
[]
E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji
I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a
genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi
sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num
consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru
anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns
mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu
Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di
caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt
perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute
30
Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas
com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica
realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]
palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada
71
discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji
neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute
presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz
tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas
coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu
neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois
noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim
eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a
crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais
perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram
us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi
ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute
(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)
Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados
com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler
os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31
definida para a pesquisa e
para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32
pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos
Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do
informante 23
31
A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32
Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na
paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo
72
(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti
Em que
2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
k = consoante (contexto precedente)
f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)
k = consoante (contexto seguinte)
t = tepe (modo do contexto seguinte)
e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)
m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)
q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)
n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)
0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)
1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)
v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)
a = adjetivo (item lexical)
w = informante 23
m = sexo masculino
a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)
s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)
Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do
GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte
34 O Programa Estatiacutestico
Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de
anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras
variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das
versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse
tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores
contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores
condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente
73
para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade
dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)
O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica
A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute
uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter
em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode
ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador
elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido
definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na
seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados
Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos
a seguinte codificaccedilatildeo
(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute
Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute
feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado
o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e
em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados
para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador
pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise
Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees
(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos
grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to
memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta
a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da
anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em
nocaute33
ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo
aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo
haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34
Para esse procedimento
ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes
nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos
os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)
33
Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34
A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico
74
Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo
arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram
retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem
nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a
rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda
o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada
stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada
stepping down (em Best stepping down run)
A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados
da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes
aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer
em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores
no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na
ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor
e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem
desfavorece o fenocircmeno em estudo
Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa
estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb
X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que
for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os
procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por
exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas
separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador
faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados
encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado
35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis
Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram
selecionadas para este estudo
351 Variaacutevel dependente
A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o
abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia
75
do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel
dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma
[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega
[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega
352 Variaacuteveis independentes
As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a
variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para
esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo
dos dados
3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia
que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A
seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para
o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG
35211 Contexto precedente
Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria
relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar
se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35
uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa
(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais
meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o
segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que
precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel
35
Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores
aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias
ocorreu exatamente com essas palavras
76
tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a
variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram
divididos em
nasal ([m]elhor [n]ovela)
oclusiva ([p]eroba [b]olada)
fricativa ([v]estibular [f]ormado)
liacutequidas ([l]egal [x]odada)
pausa (elenco olhar)
tepe (escu[ɾ]ecer)
vogal36
baixa ([a])37
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (v[i]olecircncia)
35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos
velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)
alveolar ([d]efende [t]omada)
labial ([p]eroba [b]olada)
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)
pausa (evangeacutelica operou)
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)
vogal baixa ([a])
vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])
vogal meacutedia alta (r[e]eleito)
vogal alta (pr[i]oridade)
36
Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para
Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto
de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37
Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que
natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos
77
35214 Contexto seguinte
Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva
(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada
tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes
carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel
pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l
re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto
de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica
quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo
35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou
que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais
nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves
vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]
Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em
nasal (ave[n]ida mo[m]ento)
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)
fricativos (pre[f]iro le[v]ado)
liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)
alveolar (de[z]esseis go[s]tar)
labial (rece[b]er co[m]eccedila)
78
palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)
labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)
vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)
vogal meacutedia alta (re[e]leito)
vogal alta (ve[i]culo)
35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS
2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para
a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o
abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou
refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica
influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as
vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura
altas i u (acred[i]to prod[u]to)
meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)
meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)
baixa a (deleg[a]do)
35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba
tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados
obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo
oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em
frontais38
ɛ e i
central a
38
A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao
gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua
teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem
nenhuma obstruccedilatildeo
79
posteriores ɔ o u
35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de
Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na
posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]
no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas
orais (proc[ɛ]sso)
nasais (oraccedil[ɐ ]o)
352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado
encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima
da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de
o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos
permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica
favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte
Carmelo-MG
Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este
estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica
analisada
distacircncia zero (remeacutedio costura)
distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)
distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)
352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as
palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao
abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por
acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de
o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior
80
para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de
siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra
distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)
distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)
distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)
distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)
352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica
Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram
mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por
meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das
vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo
as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como
leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)
pesadas VC (hospital) CVC (gostar)
352113 Item lexical
Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens
lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos
como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais
meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave
variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas
analisadas nas seguintes categorias lexicais
substantivo (pessoa local)
verbo (levar prometer)
adjetivo (diferente invocado)
pronome (vocecirc comigo)
numeral (sessenta dezesseis)
adveacuterbio (depois)
conjunccedilatildeo (entretanto portanto)
81
3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas
De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta
fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou
trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos
parte do modo como se segue
Sexo
Masculino
Feminino
Faixa etaacuteria
Entre 15 e 25 anos de idade
Entre 26 e 49 anos de idade
Com mais de 49 anos de idade
Escolaridade
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)
Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)
Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este
estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento
das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para
fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo
82
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos
relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e
extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi
relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros
estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de
Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto
carmelitano
Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3
todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja
para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em
seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois
realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o
Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte
Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a
vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora
a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a
vogal meacutedia frontal e
Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a
manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas
Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais
meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o
aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente
no dialeto de Monte Carmelo-MG
Aplicaccedilatildeo
(abaixamento)
Natildeo aplicaccedilatildeo
(manutenccedilatildeo)
Total de
ocorrecircncias
Total de
aplicaccedilatildeo
Vogal e
635 4016 4651 137
Vogal o
402 1910 2312 174
TOTAL
1037 5926 6963
83
Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos
muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e
como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o
abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados
referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees
41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e
Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na
ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs
extralinguiacutesticas a saber
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
6 Tipo de siacutelaba pretocircnica
7 Item lexical
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Contexto seguinte
4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
84
Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela
correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e
pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que
foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input40
0071 Significacircncia41
0000
A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto
precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de
articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na
tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068
favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi
obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro
Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o
abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados
Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o
fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora
Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano
a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense
ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo
39
O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40
O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada
nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41
O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes
etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis
satildeo os dados
[ɛ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (Jesus39
) 1651118 148 041
oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045
pausa (eterna) 29341 85 041
nasal (melhor) 72498 145 051
liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068
TOTAL 6354651 137
85
a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute
comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo
acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da
vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes
fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte
agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto
precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o
abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o
modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia
frontal
Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados
para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras
do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase
21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados
com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as
nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-
MG
Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de
066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de
[ɛ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
tepe (diferente) 106547 194 066
fricativa (resposta) 1571907 82 036
oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058
liacutequidas (inteligente) 195973 200 061
nasal (enorme) 34163 209 067
africadas (coletivo) 10169 59 026
TOTAL 6354651 137
86
e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o
dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes
liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro
Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum
fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das
consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior
representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve
um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias
Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de
e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como
estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer
Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica
exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros
expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior
motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas
tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288
ocorrecircncias
Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008
SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a
harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de
[ɛ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043
vogal alta (equipe) 77818 94 047
vogal baixa (elevado) 3021647 183 055
vogal meacutedia baixa
(dezenove)
68288 236 067
TOTAL 6354651 137
87
Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba
tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados
Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar
como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste
caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado
pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta
dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos
De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se
das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos
traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto
3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta
tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a
tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica
Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando
a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa
posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a
conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano
Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias
baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs
Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso
relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo
agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais
fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e
[ɛ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076
vogal oral (errado) 3433471 99 040
TOTAL 6354651 137
88
Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana
(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas
orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias
(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro
Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores
responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]
Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram
em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior
seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator
distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso
relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a
porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)
Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor
da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal
meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em
Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)
[ɛ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056
Distacircncia de uma siacutelaba
(relaccedilatildeo)
1261051 120 042
Distacircncia de duas siacutelabas
(executivo)
31378 82 023
TOTAL 6354651 137
89
Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias
(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-
MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a
variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643
ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram
sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas
desfavorecedoras do abaixamento de e
Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade
muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada
esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV
o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas
Tabela 7 - Item lexical
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas
(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)
foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no
[ɛ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047
siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063
TOTAL 6354651 137
[ɛ]
Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
adjetivos (legal) 133759 175 059
substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048
verbos (levar) 1941557 125 050
adveacuterbios (depois) 6158 38 021
TOTAL 6354651 137
90
dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os
substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o
peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze
por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica
Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram
considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500
ocorrecircncias
Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a
variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de
e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal
meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso
relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de
abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero
de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da
vogal meacutedia frontal
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento
de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no
comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento
de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as
mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem
disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado
com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres
Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no
municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para
[ɛ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 2112241 94 038
Masculino 4242410 176 060
TOTAL 6354651 137
91
essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a
vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO
que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino
realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto
apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte
Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de
e em Piranga-MG
Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a
anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais
do que os homens42
e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a
norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais
conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica
Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela
classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados
encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o
autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o
processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de
substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra
por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0071 Significacircncia 0000
42
Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e
que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet
httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-
ibgehtml Acessado em 12 nov 2013
[ɛ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028
Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047
Com mais de 49 anos de
idade
3771398 270 077
TOTAL 6354651 137
92
A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa
etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que
tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de
ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade
foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a
vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os
informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria
tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas
mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto
carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos
de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo
sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os
informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos
Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a
faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba
pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa
etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada
como favorecedora dos processos estudados por esses autores
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0071 Significacircncia 0000
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o
grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria
relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X
selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente
significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica
[ɛ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065
Com mais de 11 anos de
estudo
2652625 101 038
TOTAL 6354651 137
93
De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11
anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte
Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de
ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia
[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram
ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale
a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior
escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em
posiccedilatildeo pretocircnica
O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido
por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo
tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade
no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em
posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau
Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com
ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo
pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos
foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e
sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo
GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis
relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais
inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais
meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba
pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo
abaixamento de e
Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os
resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia
posterior
94
42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o
Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como
estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo
sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam
Variaacuteveis independentes selecionadas
1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente
2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente
3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
7 Tipo de siacutelaba pretocircnica
8 Sexo
9 Faixa etaacuteria
10 Escolaridade
Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de
o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem
excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber
Variaacuteveis independentes eliminadas
1 Contexto precedente
2 Contexto seguinte
3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte
4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica
5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra
6 Item lexical
A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o
haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o
abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados
que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas
95
Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal
pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como
aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras
ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias
o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o
tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as
nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese
de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa
de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute
m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43
Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo
acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela
vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes
tiveram
Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem
inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com
a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do
abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua
anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator
favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo
43
Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa
[ɔ]
Contexto precedente
(modo)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
nasal (morar) 66260 254 068
oclusiva (pastoral) 151922 164 051
liacutequidas (processo) 78579 135 046
fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031
pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057
TOTAL 4022312 174
96
Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento
precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros
da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes
apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por
terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas
favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes
favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos
dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto
precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em
Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi
selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados
Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto
carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as
principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas
consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem
aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu
As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais
baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em
[ɔ]
Contexto precedente
(ponto)
AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040
palatal (melhorar) 1264 188 063
alveolar (professor) 116759 153 053
velar (coluna) 93548 170 042
labiodental (formar) 22119 185 060
pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051
poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082
TOTAL 4022312 174
97
estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante
de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta
na siacutelaba pretocircnica
Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave
vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido
selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos
demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores
analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com
peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o
Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba
pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as
consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica
nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG
[ɔ]
Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
fricativa (movimento) 109643 170 050
tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057
nasal (momento) 23223 103 031
liacutequidas (morrer) 98545 180 052
oclusiva (poderia) 93600 155 050
TOTAL 4022312 174
98
Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como
verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que
essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse
processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior
De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de
o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas
tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso
relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por
Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG
respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por
Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o
abaixamento da vogal meacutedia posterior
Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a
vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da
siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de
harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia
baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo
estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver
como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de
e quanto para a de o
[ɔ]
Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030
vogal alta (corrupto) 47353 133 055
vogal baixa (formar) 2321115 208 055
vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084
TOTAL 4022312 174
99
Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da
siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute
se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a
vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez
que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras
do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais
Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo
esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda
mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em
posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que
natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na
liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave
qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs
Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais
expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o
No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ
ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do
abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem
pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo
[ɔ]
Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070
vogal oral (colega) 2691759 153 043
TOTAL 4022312 174
100
Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a
vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses
sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto
mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na
posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento
de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)
quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias
de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse
percentual
Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-
MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi
selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em
180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015
Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica
Input 0096 Significacircncia 0010
[ɔ]
Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057
Distacircncia de uma siacutelaba
(choradeira)
116797 146 048
Distacircncia de duas siacutelabas
(horrorizada)
6180 33 015
Distacircncia de mais de duas
siacutelabas (oportunidade)
557 88 029
TOTAL 4022312 174
[ɔ]
Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo
siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046
siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063
TOTAL 4022312 174
101
A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para
a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a
variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior
de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve
tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para
e
Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos
jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente
do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)
concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as
siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana
(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica
analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo
houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator
Tabela 8 ndash Sexo
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel
mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal
meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de
ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados
o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal
meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o
que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do
abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG
[ɔ]
Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Feminino 1581179 134 041
Masculino 2441133 215 059
TOTAL 4022312 174
102
Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e
Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras
Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias
(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores
Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e
confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes
com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo
pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em
742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo
da regra
Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG
essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre
a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou
que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro
Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela
autora
Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram
apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os
informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes
entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao
dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os
[ɔ]
Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029
Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040
Com mais de 49 anos de
idade
262742 353 079
TOTAL 4022312 174
103
informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior
frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo
Tabela 10 ndash Escolaridade
Input 0096 Significacircncia 0010
A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba
pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na
tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese
que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem
apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de
estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo
pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro
Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de
dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos
dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo
programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva
(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes
com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior
tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin
(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de
orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da
vogal meacutedia posterior
Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os
resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis
referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados
[ɔ]
Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo
Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065
Com mais de 11 anos de
estudo
1611316 122 038
TOTAL 4022312 174
104
surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise
de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram
a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia
vocaacutelica
Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo
seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da
Geometria de Traccedilos
105
5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS
Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma
breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser
realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte
Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a
variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este
parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado
Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de
Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra
por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento
manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em
outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns
nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes
especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22
A B ou B A
F F
Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo
Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)
Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um
segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as
mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define
como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma
que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados
independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da
vogal alta44
seguinterdquo como podemos ver na Figura 23
44
Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila
de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito
106
Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica
Fonte BISOL (2009 p 79)
Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de
abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na
posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)
a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em
conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e
preenchimentordquo
Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo
que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute
vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal
meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que
desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma
vogal meacutedia baixa tocircnica
A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de
traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal
tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor
que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor
107
Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica
pela vogal e pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a
Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo
sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme
vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo
classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto
3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute
Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo
classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por
serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao
contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos
108
positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra
vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais
meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ
satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem
mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]
Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+
aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal
e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o
desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol
(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica
Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que
conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de
[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG
Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o
principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a
presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo
de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura
25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada
como n[ɔ]vela
109
Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica
pela vogal o pretocircnica
Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)
A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que
ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila
apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal
meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+
aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica
Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante
ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal
pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas
o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o
noacute do que de um uacutenico traccedilo
110
Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir
duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de
Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na
realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba
Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-
aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]
da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e
[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta
e ɛ ɔ [ɛ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica
Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica
Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ
ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como
resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o
traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal
meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]
111
o ɛ ɔ [ɔ]
V V
Ponto de V Ponto de V
Abertura Abertura
[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]
Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica
Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela
representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no
dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia
vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica
mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo
pretocircnica
112
6 CONCLUSAtildeO
As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse
estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos
no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo
635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash
137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que
aventamos no iniacutecio dessa pesquisa
Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que
de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido
superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total
de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de
abaixamento do que a vogal e
Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba
pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com
base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do
Brasil
Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com
relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o
sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a
e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]
respectivamente
Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo
fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila
de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na
siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias
pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel
Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a
pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na
siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG
esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas
as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de
113
erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia
baixa
Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis
para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas
pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para
ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]
e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais
orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o
Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que
trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator
distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a
siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia
posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da
vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do
abaixamento
Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram
selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como
favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica
Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os
informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica
se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do
sexo feminino
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes
com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo
pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e
para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria
relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi
selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das
vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos
de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os
informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais
114
significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores
da regra na anaacutelise dessa variaacutevel
Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores
selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem
houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada
por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as
vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o
abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo
pretocircnica
Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados
para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram
considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de
articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as
palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto
precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas
favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal
Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na
variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os
adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica
os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal
Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes
linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que
favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o
Variaacuteveis
analisadas
Abaixamento da vogal
pretocircnica e
Abaixamento da vogal
pretocircnica o
Contexto precedente
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes liacutequidas
Desfavorecem a pausa e as
consoantes fricativas
Favorecem consoantes nasais e a
pausa
Desfavorecem consoantes
fricativas
Contexto precedente
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Favorecem consoantes poacutes-
alveolares palatais e labiodentais
Desfavorecem consoantes velares
e labiais
115
Contexto seguinte
(modo de
articulaccedilatildeo)
Favorecem consoantes nasais
liacutequidas e o tepe
Desfavorecem consoantes
africadas e fricativas
Favorecem o tepe e as consoantes
liacutequidas
Desfavorecem as consoantes
nasais
Contexto seguinte
(ponto de
articulaccedilatildeo)
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Altura da vogal da
siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais meacutedias
baixas tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias
altas tocircnicas
Favorecem vogais meacutedias baixas
tocircnicas
Desfavorecem vogais meacutedias altas
tocircnicas
Qualidade da vogal
da siacutelaba tocircnica
Favorecem vogais nasais
tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Favorecem vogais nasais tocircnicas
Desfavorecem vogais orais
tocircnicas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo agrave siacutelaba
tocircnica
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas
siacutelabas
Favorece distacircncia zero
Desfavorece distacircncia de duas ou
de mais de duas siacutelabas
Distacircncia da vogal
meacutedia pretocircnica com
relaccedilatildeo ao iniacutecio da
palavra
Essa variaacutevel natildeo foi
selecionada pelo GoldVarb X
para o abaixamento de e
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Tipo de siacutelaba
pretocircnica
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Favorecem siacutelabas pesadas
Desfavorecem siacutelabas leves
Item lexical
Favorecem adjetivos
Desfavorecem adveacuterbios
Essa variaacutevel natildeo foi selecionada
pelo GoldVarb X para o
abaixamento de o
Sexo Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Favorecem informantes do sexo
masculino
Desfavorecem informantes do
sexo feminino
Faixa etaacuteria Favorecem informantes com
mais de 49 anos de idade
Favorecem informantes com mais
de 49 anos de idade
116
Desfavorecem informantes
entre 15 e 25 anos de idade
Desfavorecem informantes entre
15 e 25 anos de idade
Escolaridade Favorecem informantes entre 0
e 11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Favorecem informantes entre 0 e
11 anos de estudo
Desfavorecem informantes com
mais de 11 anos de estudo
Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e
de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo
da regra
E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que
estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria
linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros
pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-
fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro
117
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120
ANEXOS
121
ANEXO 1
ROTEIRO DE PERGUNTAS
A) Origem e habitaccedilatildeo
1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui
2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje
3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais
4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece
5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade
7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a
educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio
8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor
9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo
B) Infacircncia
1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade
2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia
3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava
4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc
5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc
nunca esqueceu
6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia
7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje
8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por
quecirc
C) Escola
1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio
2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que
esse professor fez que deixou marcas
3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava
4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que
122
5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de
amizade que vocecirc nunca esqueceu
5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo
6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola
7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc
8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc
9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje
10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco
disso
D) Atividades profissionais
1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc
2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo
3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual
4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc
5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)
6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro
7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse
momento
8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia
9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc
10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho
E) Lazer
1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas
2 Como as pessoas costumam se divertir aqui
3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc
4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual
5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes
6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo
e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este
lugar e por que levaria esta pessoa
7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por
quecirc
123
8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa
9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time
10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual
11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc
12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc
13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha
14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum
F) Relacionamentos
1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram
2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram
3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo
4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)
5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc
6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil
7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc
8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo
9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito
preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra
gays preconceito religioso etc)
10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes
11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como
e onde vocecircs se conheceram
12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc
G) Perigo de vida
1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como
vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo
2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como
foi isso
3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc
4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi
5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria
124
H) Religiatildeo
1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo
2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo
3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja
4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc
5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre
6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo
I) Sobrenatural
1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi
isso
2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc
3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma
maneira Como vocecirc explica isso
4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com
algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi
5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O
que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso
6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda
7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau
8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc
9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso
10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET
J) Aspiraccedilotildees
1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria
2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade
3 Qual eacute o maior sonho de sua vida
4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a
trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada
5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que
vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo
125
ANEXO 2
COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS
VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o
VARIANTES [ɛ] e [ɔ]
Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1
Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2
Para a realizaccedilatildeo de o colega 3
Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4
VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES
VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS
1 CONTEXTO PRECEDENTE
consoante ([m]enor es[k]olaridade) k
vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v
pausa (elenco olhar) p
2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)
nasal ([m]elhor [n]ovela) n
oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o
fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f
liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l
pausa (elenco olhar) p
tepe (escu[ɾ]ecer) t
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (v[i]olecircncia) h
3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)
velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r
126
alveolar ([d]efende [t]omada) e
labiais ([p]eroba [b]olada) b
palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d
pausa (evangeacutelica operou) p
labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s
poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j
vogal baixa (a) v
vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w
vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g
vogal alta (pr[i]oridade) h
4 CONTEXTO SEGUINTE
consoante (re[s]posta pro[m]essa) k
vogal (re[a]lizar re[e]leito) v
5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)
nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n
oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o
fricativos (re[v]er atro[f]iado) f
liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l
tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t
africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a
vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)
velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r
alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e
labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b
palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d
labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s
poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j
127
vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v
vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w
vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g
vogal alta (ve[i]culo) h
7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a
meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m
meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y
baixa a (deleg[a]do) b
8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
frontais ɛ e i q
central a c
posteriores ɔ o u p
9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA
oral (proc[ɛ]sso) o
nasal (oraccedil[ɐ ]o) n
10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA
TOcircNICA
Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3
11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA
PALAVRA
Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0
Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1
Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2
Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3
128
12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA
leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v
pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c
13 ITEM LEXICAL
substantivo (pessoa local) s
verbo (levar prometer) v
adjetivo (diferente invocado) a
pronome (vocecirc comigo) p
numeral (sessenta dezesseis) n
adveacuterbio (depois) b
conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j
VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS
1 SEXO
Masculino m
Feminino f
2 IDADE
Entre 15 e 25 anos de idade j
Entre 26 e 49 anos de idade a
Com mais de 49 anos de idade e
3 ESCOLARIDADE
Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p
Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s