Valor Local Edição Maio 2015

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Valor Local Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 25 • 22 Maio 2015 • Preço 1 cêntimo

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Valor LocalJornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 25 • 22 Maio 2015 • Preço 1 cêntimo

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“Caixa Agrícola de Azambuja”88 anos ao serviço do desenvolvimento do Concelho

“Um banco de proximidadede pessoas para pessoas”O Credito Agrícola de Azambuja, fundado em 1927 tem sidoum parceiro importante na economia local. Nos últimos anos,tem ajudado ao crescimento de novos projetos em váriasáreas. Quais as áreas e projetos que pode destacar?Francisco João Silva: Durante muitos anos a Caixa Agrícola sópodia financiar a área da agricultura e algumas áreas relacionadascom o bem-estar dos seus associados.Foi o período em que financiou muitos dos projetos de investi-mento desenvolvidos no Concelho, com especial relevância na vi-ticultura, pecuária, instalação de pomares, tomate, aquisição demáquinas e equipamentos. Posteriormente foi legalmente permi-tido o financiamento de outras áreas de atividade, o que vemcrescentemente acontecendo, com forte incidência na habitaçãoe em especial para os jovens.A ideia errada que a Caixa Agrícola é só para a agricultura, defini-tivamente morreu. Hoje é cada vez mais uma instituição de cré-dito universal, mas com características específicas e diferente dosoutros bancos. O termo “agrícola” associado à designação deum banco é segundo um antigo Presidente da República francesasinónimo de honradez, confiança e responsabilidade.O Crédito Agrícola, aposta também no financiamento de ins-tituições de Solidariedade Social, como foi o caso da CERCI.Este tipo de apostas e de financiamento só é possível dadoo fator proximidade entre a Caixa de Azambuja e as IPSS?As Caixas Agrícolas, regem- se por princípios éticos e de com-promisso, pertencem como instituições de crédito à grande Fa-mília da Economia Social, onde estão também as CERCI’s comoCooperativas de Solidariedade.Foi para a Caixa Agrícola dignificante financiar a construção danova sede da CERCI da Azambuja.A questão de proximidade é outro princípio da Banca Cooperati-va, pois são instituições que estão próximas dos seus clientes eé fundamental conhecer bem as pessoas, as empresas e os pro-jetos. A Caixa Agrícola é um Banco de proximidade de pessoas epara as pessoas.Ainda no que toca aos financiamentos, o Crédito Agrícola deAzambuja, consegue financiar muitos dos projetos sem ter derecorrer a dinheiro da Caixa Central. Isso significa que o mu-nicípio possui alguma riqueza, ou deve-se à gestão da Caixade Azambuja?A Caixa Agrícola não precisa de recorrer a recursos da Caixa Cen-tral, o que só acontece excecionalmente para algumas operaçõesespeciais para as quais não está legalmente autorizada ou devidoaos montantes envolvidos e ainda em operações de parceria.A Caixa hoje detém um confortável rácio de transformação (rela-ção entre a captação poupança/empréstimos) que oscila confor-me a época do ano entre 70 a 80%; portanto existem significati-vos meios financeiros excedentários para financiar, claro desdeque se trate de operações credíveis e viáveis, onde neste campode ação somos cada vez mais rigorosos na apreciação e decisãodas operações.O Crédito Agrícola tem apoiado inúmeras iniciativas. Apoiouo debate do Jornal Valor Local em Dezembro, sobre os novosfundos comunitários e mais recentemente a apresentação doorganismo que pretende acelerar a implantação de startupsem Azambuja. Parece-lhe que estas duas iniciativas vão aoencontro das necessidades do concelho?Todas as iniciativas que vão no sentido do desenvolvimento eco-nómico e social do Concelho fazem sentido. A Caixa participoude forma empenhada e participativa nas iniciativas referidas que,na nossa opinião, são parte de um conjunto cada vez mais vastode iniciativas que o Concelho cada vez mais carece, pois nestafase de vida do País, em que a competitividade está sempre pre-sente entre países, regiões e concelhos; Azambuja, pela sua in-vejável localização geoestratégica não pode ficar indiferente.Na sua apresentação, fez uma menção à criação do Gabinetede Apoio ao Empresário. Parece-lhe que tal é a base para fo-mentar a implantação de empresas?Defendi no citado colóquio, a necessidade de um Gabinete deApoio ao Investimento, como peça e instrumento de grande im-portância no presente e para o futuro. Cada vez mais Municípiosque elegem como prioridade o desenvolvimento económico, o in-vestimento e o empreendedorismo estão a criar e desenvolver es-truturas semelhantes.Quem quiser investir no Concelho, tem de saber de forma expe-dita, rápida e ter respostas para algumas questões como: comocriar uma Empresa no Concelho da Azambuja? Quais os apoiose incentivos existentes no Município para os investimentos (ex:fiscais, taxas, licenças, tempo para obter respostas, burocracia,etc). O investidor precisa de ter acesso rápido a informações úteise atualizadas, nomeadamente ao nível dos sistemas de incentivos

dos diferentes Fundos Comunitários que beneficiam o Concelhocomo zona privilegiada, agora que fazemos parte da grande re-gião Alentejo e hoje com as novas tecnologias de informação tudoestá mais facilitado.O Gabinete de Apoio ao Investimento é peça fundamental nestaestratégia de apoio ao desenvolvimento mas terá de ser tecnica-mente bem apetrechado, atualizado e eficaz.A Caixa Agrícola aqui, com apoio das suas estruturas nacionais,pode dar um apoio significativo a nível técnico, de divulgação eno financiamento de futuros projetos.Nessa mesma apresentação, referiu um excerto do estudo doEng Augusto Mateus para Azambuja, que aponta como im-prescindível o envolvimento do município nesse Gabinete deApoio, com o apontar de caminhos, mas sobretudo com a in-formação do que o município pode oferecer às novas empre-sas. Parece-lhe que esse é o passo mais acertado, ou se aexistência de um organismo independente emanado da so-ciedade civil seria mais assertivo?Sou defensor que este tipo de estruturas devem ser emanaçõesda sociedade civil, mas à falta destas, não me repudia que sejauma entidade pública, como a Câmara a assumir a iniciativa. Nãotenho complexos ideológicos nessa área. Sou keynesiano quantobaste e suficientemente liberal e defensor da iniciativa privadapara não excluir o papel do Estado seja a nível nacional ou autár-quico, quando necessário para suprir ou complementar a socie-dade civil, como é o caso.Nos últimos anos a economia de Azambuja teve vários seto-res. Começamos com a agricultura, passamos ao setor auto-móvel e agora temos a logística como grande parte do em-prego no concelho. Parece-lhe que são sinais dos tempos, ouhá ainda espaço para a coabitação entre setores no conce-lho.A pergunta revela que as sociedades não são imutáveis e as eco-nomias, em especial as atividades das pessoas e das empresassão dinâmicas e respondem aos estímulos do mercado.Mas Azambuja precisa também é de criar áreas de localizaçãoempresarial para Pequenas e Médias empresas, como recomen-da o Professor Augusto Mateus em estudo recente feito para aCâmara da Azambuja.A agricultura e a logística serão sempre, até pela qualidadedos solos do concelho e pela sua localização geoestratégicano retângulo nacional, áreas relevantes da nossa economia.Em época de Feira de Maio, qual a importância deste certamepara a economia do concelho, a par da Ávinho, em Aveiras deCima? Tudo o que for feito para a promoção do Concelho é louvável, asduas iniciativas referidas são já bandeiras culturais e históricas,mas há que ser mais exigente, ambicioso e desenvolver outrasiniciativas viradas para a economia, para as empresas, para o tu-rismo e também para a cultura ao longo do ano.Touros e vinho como “fazer render” estes produtos âncora doconcelho para além dos dois certames em causa?Touros e vinho, para um apreciador como eu, são duas referên-cias âncora que há que preservar, dignificar e divulgar as duasgrandes iniciativas – Feira de Maio e Ávinho.Agora também me parece que se pode desenvolver outras inicia-tivas com importância económica e turística em torno do conceitodo “Torricado da Azambuja”, tipificando-o e desenvolvendo umprojeto que envolva basicamente restaurantes do Concelho, umvinho específico e credenciado, um pão característico e adequa-do e em volta destas ideias básicas, montar um projeto turísticoque certamente não deixaria de ter crescente procura, visitantescuriosos e apreciadores e vir a constituir um fator diferenciador ecompetitivo do Concelho. Para completar este projeto justifica-sea existência de uma Associação específica e de uma Confraria do“Tornicado da Azambuja”.Trata-se de um projeto socioeconómico, cultural e turístico parao qual a Caixa Agrícola não deixaria de dar a sua modesta contri-buição.Uma iniciativa que considero importante é a criação de um Mer-cado de produtos agrícolas locais, que será apoiado pela atualgeração de Fundos Comunitários e que o Concelho tem grandespotencialidades nesta área.Outra iniciativa que penso poderá ser explorada é em torno do“Pinhal da Azambuja”, do seu enquadramento histórico, do apro-veitamento do Tejo e com uma forte componente turística e gas-tronómica.Existem assim, áreas onde se podem desenvolver através de Pro-tocolo de Cooperação com a Câmara Municipal, e no âmbito daintervenção e das atribuições da Caixa Agrícola, iniciativas julga-das apropriadas, nomeadamente em investimentos municipais e

outros projetos que possam contribuir para o desenvolvimentoeconómico e social do Concelho e que sejam de iniciativa públicamunicipal ou com a participação e iniciativa privada.Numa época de crise, e depois das notícias dos últimos tem-pos envolvendo outras instituições bancárias, como se cre-dibiliza este setor perante a opinião pública, habituada duran-te muito tempo a confiar no seu banco, mas que de um mo-mento para o outro coloca tudo em causa?A opinião pública não coloca tudo em causa, mas o mediatismoatual das notícias a incúria e má gestão de alguns banqueiros le-varam, infelizmente, no nosso País, ao descrédito e até à falênciade um banco de referência.No entanto, havendo problemas, como sempre houve e haveráno sistema financeiro, agora com a União Bancária, as suas aper-tadas regras e o crescente escrutínio da gestão dos bancos, estáa tornar-se cada vez mais rigorosa a gestão das suas atividades,desde a decisão do crédito, aos seus produtos e ao controle dosfinanciamentos.Apraz-me registar e referir que, recentemente, numa sondagemfeita por uma das mais credíveis empresas portuguesas da espe-cialidade, o Crédito Agrícola foi, entre as instituições bancáriasprivadas a operar em Portugal, aquela que mais confiança mere-cia por parte dos portugueses, só sendo ultrapassada pelo Bancodo Estado.No nosso Concelho, também sentimos que a Caixa Agrícola vemcrescentemente reforçando a sua credibilidade, consolidando asua posição e reforçando a confiança dos seus depositantes e aprocura dos seus serviços pela generalidade das pessoas, comespecial referência para a população jovem. A Caixa Agrícola daAzambuja é, de facto, o Banco do Concelho e para o Concelho.

Francisco João SilvaPresidente do Conselho de Administração

Pub

licidad

e

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Págs. 12, 13, 14 e 15

Falta pouco para os grandesdias da Feira de Maio

Entrada deAzambujana CIMLT foihá 11 anosMiguel Carrinho éo novo presidenteda comissãodas águasOrçamentoParticipativode Alenquercom boa adesãoPágs. 8

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Falta pouco para os grandesdias da Feira de Maio

Grande Reportagemna Cadeia de AlcoentreGrande Reportagemna Cadeia de Alcoentre

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2 Valor LocalEconomia

¢ Miguel A. Rodrigues

Omunicípio de Azambuja temdesde a passada semana o

“primeiro acelerador de logísticado Sul da Europa”, de acordocom os seus promotores, e foidado a conhecer numa cerimó-nia e debate públicos no dia 8 demaio.A iniciativa está integrada na es-tratégia do concelho para pro-mover o empreendedorismo e ainovação, pretendendo assimatrair startups nacionais e inter-nacionais que se foquem em re-solver problemas e desafios das

empresas de logística, sediadasna região.Com efeito, este programa quetem como objetivo o fomento àcriação de novas empresas,nesta área, conta com o apoioda Beta-i, empresa que estaráenvolvida na conceção, imple-mentação e gestão do programano concelho. Segundo os res-ponsáveis, a Beta-i “vai apoiardez empresas de cada vez, du-rante um mês e meio por edi-ção”. Luís de Sousa, presidentedo município de Azambuja, des-tacou como importante para o

fomento da economia local, estaparceria.O autarca lembrou de resto atentativa falhada para a instala-ção de um viveiro de empresasno ano passado. O presidenteda Câmara salienta que apesardas “adversidades, foi possívelchegar ao atual ponto”, tendosempre em conta “a implementa-ção de medidas concretas paraa valorização da inovação nomunicípio de Azambuja”.Nesse sentido, o autarca lembracomo crucial a atração de novostalentos oriundos “não só do pró-

prio concelho, mas também defora”, tendo em conta as diver-sas áreas, “da economia à edu-cação, passando pela ciência epela cultura”.O presidente da Câmara, dizque esse caminho está a serpercorrido e que já foi implanta-do “um departamento da inova-ção, para que possa ser criadoum observatório que vá ao en-contro das necessidades da po-pulação”.Com o atual programa, o presi-dente da Câmara destaca a ne-cessidade de atração de iniciati-

vas económicas e inovadoras,bem como a atração de profis-sionais qualificados, “ao mesmotempo que se pretende qualificaros protagonistas locais”.Quanto ao parceiro nesta inicia-tiva, o Credito Agrícola de Azam-buja, o presidente da Caixa,Francisco João Silva, destacou aimportância do acelerador de lo-gística, tendo em conta os novosdesafios por um lado e os velhosdesafios por outro.Francisco João Silva lembrou “anecessidade da criação de umgabinete de apoio ao empresá-

rio”, ao mesmo tempo que des-tacou o papel da Caixa de Azam-buja na comunidade local, “comobanco de proximidade”. Para oresponsável, o estudo encomen-dado pela autarquia a AugustoMateus que alertava para a ne-cessidade de apontar caminhospara a instalação de empresasno concelho, está mais do queatual, sendo por isso necessária“a criação de um estrutura quediga aos empresários o que omunicípio pode dar ou facilitar àsnovas empresas que se queiramfixar no município”.

A Inovação no Município de AzambujaRui Pinto, o novo gestor para a Inovação do concelho de Azambuja e responsável por este programa, destacou ao Valor Local que já se encontra

elaborado um estudo sobre o setor das empresas no município. Segundo o responsável, o tecido empresarial de Azambuja é marcado poruma predominância de micro e pequenas e médias empresas, à semelhança do território nacional, em nome individual ou com uma gestão emgeral de nível familiar, sobretudo orientadas para os mercados locais e regionais. Nesse sentido, lembra que no início do ano foi levado a cabo uminquérito através de um questionário às empresas do concelho e que estará pronto no final de maio.Rui Pinto vinca que com os dados recolhidos “poderemos interpretar quais as necessidades das empresas, assim como, perceber com algumaprofundidade que tecido empresarial temos no município”.Rui Pinto diz acreditar na existência de massa crítica no município para levar a cabo um dos pilares relacionados com a inovação. O gestor vincaque “temos pessoas de enorme qualidade e valia que todos os dias inovam e diferenciam-se nos seus produtos”. “É na colaboração e internalizaçãode novos métodos no nosso concelho que o nosso desiderato poderá acontecer. Pois o processo de inovação não é linear. A imprevisibilidade égrande. Não é uma ciência exacta. Mas estamos desde o início deste ano numa curva de aprendizagem que permite criar um padrão – base dosucesso”, explica.Trocando por miúdos, o novo responsável apresenta alguns exemplos do que pode ser feito: “deteção de ameaças e oportunidades”, (como sediz em linguagem de marketing), no que toca à implementação dos negócios; procurar a obtenção de meios que viabilizem uma resposta eficazpara garantir a sustentabilidade de Azambuja; atrair e desenvolver na região iniciativas económicas inovadoras, bem como captar para a regiãoprofissionais especializados, qualificando, ao mesmo tempo, os protagonistas locais no sentido da criação de comunidades de conhecimento, entreoutras.Rui Pinto vinca ainda que uma das apostas prende-se com as escolas, “promovendo o agregar do capital humano aí existente e com isso capitalizaros jovens para o florescimento da inovação em Azambuja”.Por outro lado, o gestor destaca que “na verdade, não é uma startup que se pretende implementar em Azambuja. Este projeto que queremos im-plementar vai tornar o concelho a âncora regional e nacional para a implementação e dinamização da inovação no que concerne à logística”. Porisso destaca que “um dos pressupostos para este objetivo estrutural é a criação de uma incubadora/viveiro de empresas que inclua um programade aceleração para startups na área da logística/cadeias de abastecimento”. Sendo que o programa de aceleração “terá uma duração de três me-ses“. “O LogA (logistics accelerator) oferece aos empreendedores a oportunidade de estarem em sessões de mentoring com as maiores figurasnacionais e europeias no que toca às cadeias de distribuição e de logística. Contudo o mais importante é que este acelerador permite às startupstestarem as suas ideias e os seus produtos em contexto real e se estas soluções forem eficientes poderão ainda conseguir os primeiros clientes”.Segundo o presidente da câmara de Azambuja, ao Valor Local, Rui Pinto não vai auferir para já qualquer remuneração.

Luís de Sousa aposta no projeto para mudar o panorama atual

Rui Pinto foi designado como gestor dainovação no concelho

Oradores deixaram várias sugestões para a inovação no concelho

Acelerador de logística prometeinovar concelho de Azambuja

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3Valor Local Sociedade

Joana, vítima de violência no namoro

A doceira de Benaventeque vende para todo o país¢ Sílvia Agostinho

Os doces tradicionais de Ger-trudes Fernandes já ultra-

passaram as fronteiras do muni-cípio de Benavente. São famo-sas as suas broas da Lezíria, asdelícias de Benavente e até assuas empadas. E no livro dehonra do estabelecimento cons-tam comentários de clientes detodo o país e pasme-se até dePassos Coelho e Manuel Alegre.Pelo menos neste ponto os doisantagonistas políticos concor-dam: os produtos de GertrudesFernandes são bons e de chorarpor mais.O Valor Local foi conhecer a do-ceira de Benavente. Pesquisa-dora de receitas antigas, emcima de uma das mesas do seuestabelecimento repousam algu-mas “bíblias” da culinária, comoo livro da cozinha tradicionalportuguesa de Maria de LurdesModesto entre outros. Foi neleque se inspirou para repescar asdelícias de Benavente, que le-vam batata, que não se nota nopaladar. A doceira dedica-se há longosanos a esta arte, antes passoupelo trabalho no campo. “Aos 16

anos fui servir em casas ricas.Andava sempre a espreitar a co-zinha e fui apanhando o jeito,nunca pensei que aprendia. Mas

aos 28 anos, estive na cozinhado irmão do Frei Hermano daCâmara num clube de bridge,onde se faziam bons lanches, e

boas sobremesas, e foi assimque aprendi”, recorda-se. Re-gressou mais tarde a Benaven-te, após o 25 de abril, onde pas-

sou a confecionar “iguarias paracasamentos, almoçaradas, bati-zados”. “Em 1989, já tinha Bena-vente na mão, trabalhava emcasa para fora, com muitos pedi-dos”.Hoje e com estabelecimentoaberto há vários anos, é comfrequência que recebe telefone-mas de todo o país a pedir osseus produtos. “Pessoas quevão em direção ao sul ou paraestas bandas dão um pulinho aBenavente para virem buscarempadas e doces. O ManuelAlegre é cliente das minhas em-padas, assim como, um grupode amigos dele. Quando regres-sam das caçadas passam poraqui”. No livro de honra, o poetaaté escreveu – “As melhoresempadas que comi, e a proprie-tária recebe muito bem”, lê orgu-lhosa – “Gosto de ler estas pala-vras que nos confortam”, acres-centa.Mas divulgar a terra é outra dasforças que a move, “pois Bena-vente não tem estado no auge,falta divulgar mais a nossa gas-tronomia. Falta alma às pes-soas”. Gertrudes Fernandes en-tende que o Ribatejo tem ficado

esquecido no mapa da gastrono-mia portuguesa. “Apenas é lem-brado o norte, o interior, Alentejoe Algarve, e é de lamentar; por-que nós também trabalhamos.Até o presidente da entidade deturismo já disse que temos detrabalhar com mais paixão, e emBenavente isso tem de aconte-cer”, dá conta – “Tenho lutadomuito para que mais eventos sefaçam no concelho, de modo achamar mais turistas. Cheguei asugerir uma semana da fava,porque se em Salvaterra de Ma-gos a enguia é um sucesso, aquitambém se deveria pensar nis-so”. E dá conta do potencial doconcelho – “Temos a sopa dechispe, a galinha de fricassé, ar-roz de feijoca, enguias fritas, esável”. Cansada de alguns cer-tames; é por exemplo uma críti-ca, em certo ponto, da festa dasardinha assada de Benavente.“A festa da sardinha assada émais copos do que sardinhas,porque sobram poucas. Há mui-ta gente a roubar as sardinhas,e a confusão é enorme. Traba-lhamos debaixo de bebedeiras,e passamos dias muito aperta-dos durante essa altura”.

Só em 2014 a PSP recebeu1549 participações de violên-

cia no namoro, mais 499 do queem 2013, quando deram entradanaquela força de segurança 1050.699 foram denunciadas por estu-dantes e em 1.457 casos as víti-mas eram estudantes. Joana, re-sidente no Cartaxo, contribuiutambém para estas estatísticas.Hoje com 20 anos, conta ao ValorLocal, que aos 17 quando namo-rou com um rapaz dois anos maisvelho foi parar ao hospital, numadas ocasiões, com a cana do na-riz partida. Foram dois anos emeio de namoro com constantesameaças e violência psicológica.Os maus tratos físicos chegaram

quando a relação tinha cerca deseis meses. Estranhamente o ex-namorado desta jovem não de-monstrava ser agressivo com ou-tras pessoas, pautando o seucomportamento pela boa educa-ção, nomeadamente, com os fa-miliares de Joana. “Nunca foiagressivo à frente de outras pes-soas”.“Demonstrava ser muito ciumentoquando não concordava com algoque eu queria fazer, bateu-me vá-rias vezes e numa dessas oca-siões fui para o hospital com o na-riz partido”. O medo também seapoderou de si durante a relação,com medo das reações do namo-rado, pois evitava responder aos

insultos, com medo de ser agredi-da. Antes de começar a namorar como rapaz em causa nunca suspei-tou que pudesse assumir este tipode comportamento. Era um jovemnormal, que já trabalhava en-quanto Joana ainda andava a es-tudar. Quanto aos insultos eagressões verbais, foram umaconstante e hoje confessa-semais atenta tendo em conta rela-ções futuras. “Ainda não assimilei tudo o quese passou comigo, mas ele nãoteve um comportamento digno deum homem. Para já, penso quenão vou deixar que se aproveitemde mim, e se souber que alguém

pode ser violento não arriscarei”.A problemática da violência nonamoro foi definida pela Políciade Segurança Pública como umadas “primeiras prioridades” para oano letivo 2014/2015, tendo emconta que a exposição a fenóme-nos de violência doméstica emambiente familiar é propiciador dereplicação entre os mais jovensnas relações de namoro e, no fu-turo, nas relações mais próximasde conjugalidade. Joana acreditaque pelo facto de o ex-namoradotambém ter assistido a cenas deviolência doméstica entre os paisque tal também abriu caminho aque adotasse semelhantes práti-cas.

Barco Vala Real mais pertode ser reparadoACâmara Municipal de Azambuja está expectante quanto a uma possibilidade de a reparação do barco

que fazia a Rota dos Mouchões ser uma realidade. O presidente da Entidade Regional de Turismo doAlentejo e Ribatejo, Ceia da Silva, tem-se comprometido o mais possível em conseguir fundos comunitáriospara tal, cerca de 60 mil euros, enchendo de expetativas a autarquia de Azambuja.Luís de Sousa, ao Valor Local, refere que outra das soluções poderá passar pela exploração da rota por umparticular, e no último ano muitos têm sido os empresários que contactaram a Câmara. Ainda recentementereuniu-se com um desses empresários tendo em vista um protocolo. Muito se fala da navegabilidade do Tejo,e dos caudais estarem cada vez mais secos, contudo para o Vala Real tal não se constituiria como um grandeentrave, dado que se trata de um barco “bastante direito que navega bem em pouca água”. A Rota dos Mouchões foi um dos ex-libris do concelho, quando Azambuja teve uma palavra dizer, há unsanos atrás, sempre que se fala em turismo fluvial, e o barco “Vala Real” adquirido pela autarquia dava nasvistas. Contudo, e algum tempo depois, a rota tornou-se deficitária. O barco está agora nuns estaleiros namargem sul à espera de voltar ao Tejo.

Reposição da iluminaçãopública ainda a meio gásAinda está em marcha, o plano para a iluminação pública no município de Azambuja, que numa fase

inicial optou por deixar “poste sim, poste não” com a luz ligada, mas tal revelou-se ineficaz. Agora apolítica parece ser deixar a iluminação ligada onde há pessoas a residir ou em locais de passagem fre-quente. Contudo, as queixas têm sido mais ou menos constantes sobretudo em zonas de pequenos aglo-merados populacionais: casais, quintas, entre outros.“Estamos a retificar em muitos locais, apagando umas e ligando outras luzes”, diz o presidente da Câ-mara, Luís de Sousa. Já houve lugar à reposição em Vale do Paraíso; algumas partes de Aveiras deCima, e em Casais de Baixo, mas Vila Noiva da Rainha ainda não foi alvo de reposição. “Mas tambémalertamos a população para que contacte a Câmara”. “Mas não nos digam que andamos a voltar a acen-der a luz em alguns locais por amizades, como já tenho ouvido por aí”, desabafa.Luís de Sousa refere que tem tido o melhor acompanhamento por parte da EDP no diálogo estabelecido,mas reconhece que por vezes a empresa demora demasiado tempo a efetuar as operações necessáriasà reposição da eletricidade nos postes pretendidos.

Gertrudes Fernandes e os seus doces

Casos de violência no namoro estãoa aumentar

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4 Valor LocalSociedade

Exposição “Pão e Vinho” na biblioteca de Salvaterra

Jovens filósofas do Cartaxo brilhamnos campeonatos da disciplina

Até 29 de maio, a BibliotecaMunicipal de Salvaterra de

Magos apresenta a exposição,inserida na Feira de Magos, su-bordinada ao tema “Pão & Vi-nho”. Trata-se de uma mostradas padarias mais antigas, aindaativas, de cada freguesia e dascasas agrícolas produtoras de vi-nho do concelho. De acordo com a vereadora daCultura do município, Helena Ne-ves, ao Valor Local, esta exposi-ção elenca as padarias mais an-tigas do concelho de Salvaterrade Magos: Francisco MendesSardinheiro no Granho; Pão deMagos II em Foros de Salvaterra;

Sociedade Panificação Central,em Marinhais; Liga Panificadora

Salvaterrense em Salvaterra deMagos. São padarias moderniza-

das que possuem todos os equi-pamentos necessários ao fabricodo pão como divisoras pesado-ras, amassadeiras, estancado-res, balanças, fornos de pratelei-ras contudo mantém ainda algu-mas características das padariasoriginais como os fornos a lenha.Além das fotografias dos espa-ços, esta exposição oferece ain-da uma visita às padarias atra-vés dos objetos expostos.No que respeita às casas agríco-

las presentes na exposição, des-taca que atualmente o concelhode Salvaterra de Magos possuiduas casas produtoras de vinho:Casa Cadaval, em Muge eAreias Gordas, em Salvaterra deMagos. Neste ponto, a exposi-ção apresenta uma pequenamostra dos vinhos que produ-zem, assim como alguns objetosutilizados na produção dos mes-mos. Esta exposição teve como ponto

de partida o livro “Pão & Vinho”de Paulo Moreiras, que estevepresente na inauguração no pas-sado dia 9 de maio, para a apre-sentação desta obra, que comoafirma o autor “com crise ou semela, o pão e o vinho nunca falta-ram na mesa dos Portugueses”.A Biblioteca Municipal de Salva-terra de Magos utilizou este livrocomo base para esta exposição,numa altura em que está a co-memorar 30 anos de existência.

Aumento de pedidos para estufasACâmara Municipal de Azambuja recebeu nos últimos tempos cerca de 14 pedidos prévios para a insta-

lação de estufas no concelho. Um desses pedidos contemplava a montagem de uma estrutura daqueletipo em zona da Reserva Ecológica Nacional (REN). “O projeto tinha alguma dimensão mas foi impossívelaprová-lo, ainda sugeri aos promotores que desviassem um pouco a localização das estufas no terreno emcausa, mas não optaram por tal, pois dava-lhes mais jeito ao pé da estrada, mas nesse caso o terreno estavacondicionado”, refere o presidente da Câmara, Luís de Sousa. Quando os interesses desses empresáriosesbarram nos condicionalismos da CCDR, pouco tem sido possível fazer, até porque apertou nos últimostempos a legislação sobre a REN. No entanto, e dentre esses projetos que chegaram à Câmara, já estão depé para já apenas duas estufas, uma em Maçussa da empresa Hortitorcato e outra na zona de Alcoentre.Houve pedidos para instalação de estufas em Manique, Aveiras de Baixo, Tagarro.

Maria João Robalo e PatríciaSilva da Escola Secundária

do Cartaxo brilharam nas mais re-centes olimpíadas nacionais deFilosofia. A primeira participou porestes dias numa competição in-ternacional na Estónia, e a se-gunda ganhou uma menção hon-rosa na competição nacional. OValor Local esteve à conversacom estas alunas do 10º ano ecom o professor de Filosofia, Ma-nuel João Pires.Patrícia Silva conta que o seu in-teresse pela disciplina foi “au-mentando consecutivamente”, aolongo do ano letivo. Sendo quenão contava com o resultado al-cançado. Numa altura, em quesubsiste na opinião pública aideia feita de que os mais jovenstêm dificuldade em articular umdiscurso e interpretar textos, estaaluna reforça que no seu casopossui um particular interesse pordebater as mais diversas ques-tões e tentar encontrar argumen-tos que fundamentem as suas ra-zões. Durante as Olimpíadas deFilosofia, teve de elaborar, entreoutros, um ensaio acerca da con-sideração ética sobre os animais.

Neste caso “defendi que temosde ter consideração por algunsanimais, mas não todos, apenasos que são capazes de sentir dore que podem ser prejudicados oubeneficiados pelas nossasações”. No caso da vencedora da meda-lha de ouro, foi uma completasurpresa. “Demorei muitos dias aassimilar”, refere Maria João Ro-

balo. Esta reportagem foi feitadias antes da partida da alunapara a Estónia, que considerou apossibilidade de estar presentenuma prova internacional comoum grande desafio. “É algo úni-co!”. Durante o ano, despertou oseu interesse o capítulo dedicadoao livre arbítrio e à Ética. “Che-guei à conclusão de que não so-mos livres”. Foi esta a teoria que

defendeu na prova que pelos vis-tos convenceu o júri. Depois doensino secundário, as duas alu-nas gostariam de continuar a es-tudar Filosofia mas conjugar esteinteresse com a especializaçãonoutra área.“Avaliar a consistência da refle-xão filosófica destes jovens” é oobjetivo das Olimpíadas acres-centa o professor Manuel João

Pires. Quanto aos resultados dasalunas em causa, “acabaram porser surpreendentes para a esco-la”, até porque estavam em com-petição 75 alunos de todo o país.Os 10 melhores ensaios foramavaliados por uma comissãoconstituída por professores uni-versitários. “Fiquei surpreendidomas tinha uma grande confiançanas capacidades filosóficas de-las, e que não seria totalmenteimpossível este resultado”. Este docente acredita que nemtodos os alunos possuem asmesmas capacidades filosóficas,mas que a ideia instalada de quea maioria dos jovens não conse-gue estruturar as suas ideias ouinterpretar textos devidamente “éum mito”. “É necessário que tam-bém lhes sejam dadas condições.Obviamente que nem todos, nocaso da minha disciplina, criamuma desejável empatia com a di-mensão filosófica, mas afirmarque não sabem pensar ou refletiré excessivo. Temos de saber sefoi dado a esses alunos o espaçoe o tempo para o conseguirem fa-zer”. Neste âmbito, considera quea nível do ensino no país, “os pro-

gramas do ministério da Educa-ção podiam ser melhor pensados,e as escolas também convergi-rem nesse aspeto da potenciaçãoda reflexão”. Nesta escola, fun-ciona um clube de filosofia, cujasportas “estão abertas para os queo queiram frequentar, sem quais-quer tipo de imposições”.Portugal tem tido boas presta-ções portuguesas nas olimpíadasinternacionais de Filosofia, e Ma-nuel João Pires lamenta que opaís não aposte mais nos filóso-fos e licenciados em Filosofia.“Noutros países, os filósofos es-tão presentes nas mais diversasáreas, que consideram funda-mental um pensador na dinâmicadas suas organizações. “No Rei-no Unido, a taxa de empregabili-dade é elevadíssima, há filósofosa trabalhar no marketing e publi-cidade”, por exemplo. Mas emPortugal a visão é restrita, e assaídas limitam-se quase ao ensi-no. “Os filósofos são capazes depensar todas as possibilidades, edar um contributo decisivo na teo-ria da decisão, ajudando o gestora decidir e a dar um upgrade naanálise da realidade”, considera.Maria João Robalo, Manuel João Pires e Patrícia Silva

Instrumentos antigos de fabrico na exposição

Ficha técnica:Valor Local jornal de informação regional Administração: Quinta da Mina 2050-273 Azam-buja Redação: Travessa da Rainha, 6, Azambuja Telefones: 263 048 895 - 96 197 13 23 Correio eletrónico: [email protected] Site: www.valorlocal.pt Propriedade e editor: Associação Comércio e Indústria do Município deAzambuja (ACISMA); Quinta da Mina 2050-273 Azambuja. NIPC 502 648 724 Diretor: Miguel António Rodrigues CP3351- [email protected] Colaboradores: Sílvia Agostinho CO-1198 [email protected], VeraGalamba CP 6781, José Machado Pereira, Daniel Claro, Rui Alves Veloso, Augusto Moita, Nuno Filipe Vicente [email protected], Laura Costa [email protected] Fotografia: José Júlio Cachado Publicidade: EduardoJorge Correio eletrónico: [email protected] Telefone: 932 446 322 Serviços administrativos: ACISMAN.º de Registo ERC: 126362 Depósito legal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Com-plexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga Tiragem média: 5000 exemplares

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5Valor Local Publicidade

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6 Valor LocalGrande Reportagem

O Mundo dentro da Prisão de Alcoentre¢ Sílvia Agostinho

“Ocrime não compensa, mes-mo!”. Esta é uma daquelas

frases batidas, mas que no casode Paulo, 36 anos, natural dosAçores, e a cumprir pena no Esta-belecimento Prisional de Alcoentreassenta que nem uma luva, pelomenos é o que nos garante. A dro-ga é que o levou a cumprir pena.“A minha vida estava mais ou me-nos estabilizada, mas cometi umerro e vim cá parar. Caí na burricede experimentar as drogas pesa-das, para manter o meu consumofui obrigado a vender-me”. Tempreenchido os seus dias a tirar umcurso profissional de mecânica au-tomóvel que lhe pode dar acessoao mercado de trabalho uma vezem liberdade. Contudo, adiantaque já tem uma vacaria montadapelo pai à sua espera na terra na-tal, e o curso tirado em Alcoentrepode ajudar “na manutenção dasmáquinas” da empresa. As sauda-des são muitas, e as visitas pou-cas, dada a distância. “É sempre importante aprendercoisas novas, e estes cursos sãofundamentais, tirei o nono ano”.Há um ano e quatro meses a cum-prir pena em Alcoentre, espera sairem 2017. “Espero que isso acon-teça, não me tenho metido em ba-rulhos, e porto-me razoavelmentebem”. Para já tem a primeira con-dicional em novembro- “Quero verse vou a casa no Natal, tenho doisfilhos, um de cinco e outro de 15,e não os vejo há algum tempo. Omeu mais velho quer ser músico,já atuou em Coimbra”, diz orgulho-so.À semelhança de Paulo, grandeparte da população prisional de Al-coentre, composta por 600 reclu-sos, pratica atividades nos cursosde formação profissional, nas ati-vidades de agropecuária, mastambém na serralharia, entre ou-

tras. Para além de lhes proporcio-nar alguma autonomia, e ajudar apassar as longas horas na prisão,também lhes pode abrir portasuma vez em liberdade. Ainda a ní-vel das atividades agrícolas e paraalém da vinha onde é produzido ojá muito afamado vinho desta pri-são, o Chão de Urze, há uma hor-ta cujos produtos são destinadosao Banco Alimentar de Santarém,onde são produzidos tomate, cour-gette e abóbora.João e Ivo Rafael, à semelhançade Paulo, também se encontramna oficina automóvel, e confiamque uma vez em liberdade pode-rão ter alguma possibilidade nomercado de trabalho graças aocurso. E até contestam o facto denos últimos tempos, a grave dosguardas prisionais ter afetado onormal curso das aulas. “As mu-danças de horário fazem com quetenhamos de faltar algumas au-las”, diz João. “Este curso de doisanos permitiu-me tirar o nono anoe ter acesso a uma profissão.Gostava muito de trabalhar nestaárea se me derem emprego”. IvoRafael também é da mesma opi-

nião – “Sem dúvida que gostavamuito, porque sempre gostei destaárea, pessoas da minha família játrabalham neste ramo, ganhei ex-periência”. Falta-lhe um ano paracumprir pena- “Este curso foi umachado para mim”. O mesmo écumprido ao abrigo do Centro Pro-tocolar de Formação Profissionalpara o Setor da Justiça.“É essencial para os presos quecá estão que cumpram hábitos detrabalho, e horários, que são im-portantes para a sua reinserção láfora”, refere António Leitão, diretorda cadeia, tendo em conta quemuitos dos presos foram ali pararporque nunca deram valor ao tra-balho, e acabaram atrás das gra-des devido a episódios de furtos,por exemplo.O Valor Local percorreu os diver-sos corredores do Estabelecimen-to Prisional de Alcoentre desde assalas de aula onde a populaçãopode terminar os estudos, até àcantina nova, pronta a estrear, queespera por melhores dias para serinaugurada finalmente, isto nanova ala recentemente inaugura-da. As celas deste estabelecimen-

to já eliminaram definitivamente obalde higiénico que acabou no sis-tema prisional. Numa das celas,um placard de cortiça com muitasfotos da família de um recluso euma pequeno televisor ajudam apassar os dias e trazem um poucodo mundo de fora para o interiorda cadeia. António Leitão refereque todos podem trazer aqueleeletrodoméstico para as suas ce-las. Contudo, a internet está veda-da. A célebre solitária também temum aspeto mais simpático do queaquele que vemos nos filmes- Emquase tudo idêntica às celas nor-mais, mas neste caso, os reclusosnão podem trazer televisão. Trata-se de uma divisão assética masonde a luz do sol entra. Vão paraestas celas, os presos que “se por-tam mal”. Em média, cumprem nomáximo cerca de 20 dias nestescompartimentos. Há também umasala de visitas grande, em que àvolta de pequenas mesas, o reclu-so recebe a visita dos seus fami-liares, revistos à entrada atravésde aparelhos eletrónicos e apalpa-ção. Um dos guardas confidenciouà nossa reportagem. “Por vezes

dizem que nós deixamos passarpessoas com droga, mas não hámaneira de controlar isso por com-pleto, há senhoras que até a tra-zem na vagina, e mesmo com câ-maras na sala, conseguem fazerpassar o produto”. Pelos corredores deste estabele-cimento vêm-se homens de todasas idades, alguns mais velhos têmtoda uma “carreira” ligada ao cri-me, outros foram traídos pelas cir-cunstâncias da vida e pela mentena hora errada, e cometeram oerro de matar um vizinho, ou a mu-lher. Em média, os reclusos da pri-são de Alcoentre têm uma penamédia para cumprir entre cinco adez anos. Trata-se de um estabe-lecimento destinado a acolher amédia criminalidade. Mas há tam-bém alguns casos de presos porcrimes sexuais, neste caso a dire-ção tenta mantê-los um poucomais à parte de outros presos,pois práticas de violação ou pedo-filia “são muito mal vistas por ou-tros reclusos”. António Leitão dizmesmo que, por vezes, um assas-sino que comete um crime passio-nal é melhor encarado do que umcriminoso sexual. Pelos corredores, António Leitão étratado por “senhor doutor” pelospresos, e durante esta reportagemnão raras vezes é abordado porum outro recluso que lhe perguntasobre o andamento dos proces-sos. Há quem se queixe do Servi-ço de Estrangeiros e Fronteiras,outros da pressa que têm em ace-der à liberdade condicional, porexemplo. A prisão de Alcoentre é em si mes-mo um mundo. Desde o ginásio àlavandaria passando pelos servi-ços clínicos, parque oficinal, arma-zém, é uma espécie de cidade emminiatura. Simão Garcia, é um doscivis que trabalha com os presosna secção de serralharia, e enten-

de a experiência como positiva –“Aprendemos sempre alguma coi-sa com eles, já passaram por aquibons profissionais, que normal-mente agradecem esta oportuni-dade”. Nesta cadeia, os presostêm acesso a médico de clínicageral, estomatologista, psiquiatra,psicólogo entre outras especialida-des. Funciona uma escola comseis salas, com horários e progra-mas como lá fora, com protocoloscom a escola de Rio Maior. Cercade 150 reclusos frequentam o en-sino no estabelecimento. Traba-lham mais de 200 pessoas na pri-são.Os amantes do artesanato tam-bém têm um espaço próprio.Numa sala, fomos encontrar trêshomens que se dedicam- todos osdias a fabricar desde caixinhas fei-tas com papel de jornal destinadasàs jóias das senhoras, até qua-dros, e telhas pintadas que refle-tem a luz fazendo um bonito can-deeiro improvisado, com motivosdesde animais a flores. As peçassão vendidas aos visitantes, e umdeles à nossa reportagem de-monstra “pena” por ainda não te-rem conseguido uma loja que ad-quira e venda as suas peças. Sen-tem-se valorizados, e o tempo nãocusta a passar. “Através de papel do jornal, faze-mos um pequeno rolo, aplicamosa cor que desejamos, leva um en-durecedor, o verniz e o desenhoescolhido, recorrendo a técnicasde craquelê. Demoro a fazer estacaixinha cerca de quatro dias”, re-fere um recluso que nunca tivera aoportunidade de fazer este estetipo de trabalho antes de vir paraAlcoentre. E vai mostrando todasas suas pequenas obras. Este ate-liê é dominado por uma profusãode materiais reciclados, onde tudose aproveita até tubos de papel hi-giénico. “Estou aqui há dois anos,

António Leitão, diretor da cadeia há 5 anos“É impossível controlar a 100 por cento a entrada de droga”Recentemente uma estação de

televisão fez uma reportagemque dava conta da entrada fácil deestupefacientes na cadeia de Al-coentre, alegando que no interiorda mesma facilmente os reclusosfaziam grandes regabofes e oacesso a telemóveis era fácil, tudomais ou menos com a conveniên-cia de um ou outro guarda prisio-nal. Acerca desta reportagem, odiretor refere que “todos os diassão efetuadas buscas, ou devidoa algum comportamento suspeito,ou porque essa informação nos foitransmitida”. Assegura ainda queno que toca a droga e a telemó-veis, “os números das apreensõessão significativos”. Contudo refereque o regime aberto em que estãoalguns reclusos pode facilitar aentrada de matéria proibida, “não

deixando esses reclusos de seremsubmetidos a testes com muita re-gularidade”. “Por outro lado, osmétodos de introdução estão cadavez mais sofisticado, nomeada-mente, através do corpo, querquando as pessoas vão a casa, ounas visitas. Os reclusos podem serrevistados pormenorizadamente,mas os familiares não, até porqueestamos a falar de zonas íntimas.”Contudo salvaguarda – “O que sepassa aqui não é muito diferentedo que se passa noutros estabele-cimentos. É uma luta diária na ten-tativa de se controlar o que aquivem parar, mas sabendo sempreque os estupefacientes não vãodeixar de entrar”.António Leitão não tem dúvidas –“Onde houver um consumidor, adroga chegará lá! Porque os trafi-

cantes vão arranjar uma forma deo fazer. Em Portugal e em nenhu-ma parte do mundo há sistemasque impeçam a cem por centoisso”. O facto de o nosso sistemaapostar na humanização da rela-ção com os reclusos, pode ser si-

nónimo de mais permissividade.“Mas por muito que se queira com-bater, os reclusos vão fazer detudo para arranjar uma forma dedriblar o sistema, contudo possodizer que não negando a existên-cia de consumos no interior da ca-deia, são em muito menor quanti-dade do que há mais anos atrás”.“Comparativamente com outrasépocas, via-se mais indivíduoscom elevada dependência de dro-ga e isso era notório nas cadeias,mas atualmente os consumos sãomuito mais baixos. As situações si-nalizadas pelos serviços clínicosdão conta disso mesmo. É impos-sível banir a droga das prisões”.Por outro lado, refere que a proxi-midade em relação à estrada, dáazo a que amigos ou familiares dedetidos arremessem produtos ilíci-

tos para os reclusos do regimeaberto. Portugal foi o primeiro país domundo a abolir a pena de morte, eo regime das prisões portuguesasé mais suave quando comparadocom outros no mundo, nomeada-mente, o norte americano maismusculado e duro, como é possí-vel observar em muitos programasna televisão por cabo. António Lei-tão é da opinião de que se a penade prisão tem por objetivo evitar areincidência, não há estatísticas nomundo que provem que os siste-mas mais severos conseguem evi-tar que o recluso uma vez em liber-dade não volte a reincidir.A crise por si só também não veiona sua opinião aumentar o númerode crimes de roubo e com isso apopulação prisional, embora reco-

nheça que há mais cidadãos nascadeias, embora não associe àcrise. Com 50 anos, natural deAnsião, está ligado ao meio des-de 1990. Já foi diretor da cadeiade Vale Judeus, nomeado em2003, e em 2010 veio para a deAlcoentre, passou antes pelas deLeiria e Caxias. Há 25 anos anosligado às prisões, refere que o pa-drão do recluso mudou em algunscasos, mas o ligado ao crime dedroga e roubo mantém a sua má-xima popularidade, se bem que ocrime passional, na sua opinião,tem alcançado nos últimos anos“mais protagonismo”, aliado ao deviolência doméstica. “No passa-do, a opinião publica não censu-rava, e a evolução da sociedadeveio a censurar esse crime. Foiuma conquista civilizacional.”

Obras realizadas pelos reclusos

António Leitão

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7Valor Local Grande Reportagem

o trabalho na oficina ajuda a pas-sar o tempo, embora seja das pou-cas coisas que posso fazer, poisfoi-me diagnosticado cancro. Te-nho também hérnia e sou cardía-co, não posso fazer tarefas muitoduras, tomo 30 comprimidos pordia. Estou proibido de pegar empesos, já tive muita sorte em o se-nhor diretor me ter deixado vir paraaqui.” “Acaba por ser terapêutico”,junta António Leitão. “Adoro fazeristo, passo aqui a vida”. Um colegade prisão peruano desenhou-lheentretanto o retrato de uma dasnetas, que será agora colocadonuma moldura. Reclusos, diretor eguardas que se juntaram nestasala gabam o jeito do cidadão es-trangeiro. “Bastou dar-lhe a foto-grafia dela”, concordam.

As vendas revertem a favor dosreclusos, neste como nos outrostrabalhos remunerados existentesna prisão, metade das verbas vaipara uma espécie de pé-de-meiaao qual só podem aceder uma vezem liberdade, a outra metade ser-ve para comprarem o que preci-sam a nível de bens de consumoacessíveis numa loja no interior daprisão.Numa das extremidades do com-plexo prisional, um conjunto depré-fabricados alberga os reclusosem regime aberto. Alguns traba-lham fora dos muros da prisão ematividades de limpeza em colabo-ração com autarquias da zona, ounas atividades ao ar livre ligadasao estabelecimento, no total, cercade 40 a 50 pessoas. Os quartos

são triplos, e num deles fomos en-contrar António, de 58 anos, deAzambuja. Na cadeia entrega-seàs funções de limpeza dos espa-ços. Quase a acabar a pena, to-dos os meses vai a casa para de-pois regressar. A família já nem ovisita, tendo em conta que as pre-cárias se têm sucedido. “Já estouna cadeia há quatro anos”, refere.No regime aberto, “a malta estámais junta, temos mais um boca-dinho de tudo, e só o fato de irmosmais vezes a casa ainda é me-lhor”. Os dias não custam tanto apassar desde que foi para os pavi-lhões, porque “nas alas era muitopior”. “De manhã faço as limpezas,à tarde vou apanhar sol, ou façouma sestada, ou então opto por lerum bocado ou ver televisão”. Diz

que não conta os dias para ir acasa, como se já fosse uma rotinaquase banal entrar e sair quase to-dos os meses ou de dois em doismeses. Quando se lhe perguntase fez amigos na prisão, responde– “Aqui não há amigos, só conhe-cidos ou os chamados amigos deocasião”.No final da visita, o Valor Local es-teve na menina dos olhos do esta-belecimento, a vinha onde é pro-duzido o “Chão De Urze”, bemafamado, que passa pelas mãosdos reclusos desde a apanha dauva até ao seu embalamento. Em2012, um dos melhores anos, pro-duziu-se 170 mil litros, mas numano normal chega aos 120 mil. “Otrabalho na agricultura pode tor-nar-se numa porta aberta uma vez

lá fora, pois ficam com uma ideiacomo se faz fertilização de solos,podas, vindimas. Como há falta demão-de-obra para a agricultura, talpoderá ser uma saída”, refereJosé Narciso, formador de opera-dor agrícola.A vasta complementaridade de ati-vidades aliada às produção ani-mal, e agrícola, sobretudo os vi-nhos faz com que este estabeleci-mento seja o que a nível do paísapresente uma faturação superior,cerca de 150 mil euros anuais. “Anossa principal fonte de receitasvem de facto do vinho, diversificá-mos este setor com brancos, ro-sés, tintos, brandys”, diz AntónioLeitão. Mesmo junto à cadeia, outro grupode reclusos tomava conta de um

grupo de vacas, por sinal amisto-sas. “Até lhes damos a comida àboca”, referiu um deles. Desde2013, a cumprir pena em Alcoen-tre, Paulo, 39 anos, licenciado emDesign, nunca imaginou vir parara uma prisão. Sem querer adiantaros motivos para tal, refere quetambém fez atividades de limpezana enfermaria e na escola da pri-são. “Vamos para a rua às 8h45 evoltamos ao fim da tarde”, refere.Faltam oito meses para acabar apena, e em princípio tem um tra-balho à sua espera. “Não me voumeter de certeza em mais nenhu-ma alhada lá fora, porque estaraqui não é uma experiência boni-ta, o que tem de bom é que conse-guimos ocupar o tempo com vá-rias atividades”.

Curso de pintura automóvelOutra das atividades ao ar livre

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8 Valor LocalPolítica

Azambuja há 11 anos na CIMLT, o que mudou?Azambuja saiu há 11 anos da Área Metropolitana de Lisboa para integrar a então antiga Comunida-de Urbana da Lezíria do Tejo, que entretanto mudou a designação para Comunidade Intermunicipalda Lezíria do Tejo. Esta mudança significou mais-valias para o concelho ou tudo não passou de algoapenas administrativo. E a nível dos fundos estruturais, Azambuja soube aproveitar a maré da novaintegração. Foi o que quisemos saber junto das forças políticas concelhias bem como do anteriorpresidente da Câmara, à época, Joaquim Ramos.Silvino Lúcio, PS

O facto de termos, ao tempo, muda-do demonstra que passados 11 anosa nossa visão era correta. Pois o en-quadramento sóciocultural dos terri-tórios onde atualmente nos encon-tramos inseridos tem mais a ver coma nossa realidade. Era também donosso conhecimento que a ÁreaMetropolitana (AM) devido ao eleva-do patamar de desenvolvimento,não seria contemplada com os no-

vos fundos que se aproximavam. Essa foi também uma das razões ob-jetivas da nossa tomada de decisão. A qual, até à data, foi consensualem termos políticos.Conseguimos atingir os objetivos que tínhamos em mente, quer ao níveldos financiamentos, quer ao nível de projetos. Na AM eramos o concelhomais pequeno em termos populacionais. Atualmente na nossa Comu-nidade quer em termos populacionais, quer em termos de área, os 11municípios são muito iguais entre si. Facto que também contribui parauma melhor ligação entre todos. Para além disso, o município de Azam-buja não se sentiu penalizado pelo facto de não pertencer ao distrito deSantarém. Sentimo-nos ribatejanos, continuamos a defender as nossasraízes culturais e a honrar o nosso passado.

Maria João Canilho, Coligação Pelo Futuro da Nossa TerraSe encararmos a questão da CIMLTapenas do ponto de vista da capta-ção dos fundos comunitários, entãoo concelho de Azambuja não tem ra-zões para sorrir! Na verdade, desdesempre que Azambuja não é umbom exemplo de captação de fundoscomunitários. Ao contrário de outrosconcelhos, não soubemos aproveitara torrente dos chamados fundos co-munitários de 1.ª geração (que notempo coincidem com os mandatos

do antigo presidente João Benavente). Também nos mandatos do pre-sidente Joaquim Ramos, o recurso aos fundos europeus foi mínimo, ten-do-se optado antes pela criação da empresa municipal EMIA e o recursoao crédito bancário para garantir a realização de algumas infraestruturas.Agora, com a alteração do paradigma dos próprios fundos comunitários,Azambuja continuará a não estar no centro dos fundos comunitários.Quando não se sabe o que se quer dificilmente se consegue o que seprecisa! Azambuja saiu da chamada “Área Metropolitana de Lisboa” porduas razões principais: a inclusão de Azambuja na chamada NUT III du-rante o Governo Durão Barroso, o que permitiria à Azambuja ter acessoa mais fundos comunitários (a Área Metropolitana é NUT I pelo que

Azambuja não poderia continuar nesta entidade). A segunda porque anossa identidade cultural é ribatejana. O que tem penalizado o concelhode Azambuja é que há muitos anos não existe “liderança, equipa e pro-jeto”. Enquanto assim for nunca conseguiremos afirmar Azambuja no pla-no regional e nunca vamos deixar de ter índices de desenvolvimento só-cioeconómicos sofríveis ou medíocres.

Joaquim Ramos, presidente da Câmara na altura da transiçãoConsidero muito positivo para o con-celho de Azambuja o facto de termossaído da Área Metropolitana de Lis-boa e integrado a então Comunida-de Urbana da Lezíria do Tejo, desdelogo por razões de paridade de di-mensão, de semelhança da estrutu-ra económica e social e de afinida-des culturais. Fiz essa proposta aofim duma profunda reflexão que melevou à conclusão de que tínhamosmuito mais a ver, àqueles níveis,

com municípios como Cartaxo, Almeirim, Salvaterra, Benavente do quecom Lisboa, Amadora ou Odivelas. Mas também por razões de estratégiade desenvolvimento do concelho. Nos quadros comunitários que se se-guiriam, a área metropolitana não teria acesso a fundos de coesão, en-quanto a Comunidade da Lezíria continuaria a ter – Creio que foi e é una-nimemente reconhecido, até pela oposição, que soubemos aproveitar aomáximo os fundos comunitários. E não só os dos Fundos de Coesão aque tínhamos direito ( mais de dez milhões de euros) como também deoutros programas a que nos candidatámos autonomamente, como o PO-LIS ou o Programa Operacional do Desporto. Aliás, a prova disso é o fac-to de termos beneficiado da chamada reserva de eficiência, uma verbaadicional para os municípios que tinham alcançado os objetivos a nívelde utilização de fundos. Nunca senti que fôssemos prejudicados por sero único município da Lezíria a pertencer ao distrito de Lisboa, e não aode Santarém. A nossa capital cultural sempre foi Santarém e quando aca-baram os distritos a questão morreu, mesmo a nível formal.

David Mendes, CDUCheguei a referir a hipótese de umreferendo, à época, para tambémresponsabilizar os munícipes, embo-ra a mudança fosse para uma áreacom a qual a população se identifi-caria mais à partida. Embora o sul deAzambuja esteja muito habituado àurbanidade de Vila Franca e de Lis-boa, e também por isso sugeri o re-ferendo. Dar voz às populações aofim ao cabo, algo que nem sempre

se faz. Quanto ao balanço nessa nova estrutura, há elementos positivose negativos. Até porque quando falamos de algo que resultou de ema-nação superior, normalmente acaba coxo, como no caso dessa estruturaadministrativa. Se fosse uma comunidade intermunicipal na sua verda-deira aceção teria resultado de uma união de livres vontades das Câma-ras. A coisa foi começada pelo telhado. A central de compras da CIMLT,por exemplo, é positiva, mas ao gerirem milhões, dão origem ao apare-cimento de muitas empresas contratadas que inflacionam preços, o queacaba por ser prejudicial para a gestão da coisa pública. Se alguns dosdossiers como o da alimentação das escolas estivesse apenas entregueà Câmara de Azambuja poderia proporcionar que empresas do concelhopudessem concorrer, e isso desenvolveria a economia local, impedindoque matérias como essa ficassem nas mãos dos monopólios nacionais.No que respeita aos fundos comunitários são discutidos ao rateio, ficá-mos beneficiados, com a mudança, porque já não havia dinheiro em Lis-boa, só por isso.

Daniel Claro, Bloco de EsquerdaA estratégia de aderir à CULT(CIMLT) e consequente saída daAML justificou-se pela necessidadede, face ao quadro comunitário, sepotenciar o acesso a alguns progra-mas que de outra forma estariam ve-dados. Desse ponto de vista, foi umaboa decisão embora chocasse sem-pre com o facto de as maiores em-presas do concelho, a nível da suaestratégia económica e social, conti-

nuarem a privilegiar a AML. Esse constrangimento deveria e poderia tersido objeto de um tratamento mais cuidado através da criação de um ver-dadeiro Gabinete de Apoio à Atividade Económica. Em termos do apro-veitamento dos fundos comunitários, do ponto de vista quantitativo, aAzambuja soube fazer um bom aproveitamento. Em termos qualitativosficámos muito aquém. Na verdade, como o Bloco de Esquerda sempreafirmou, a falta de um plano estratégico que aferisse das potencialidadese debilidades concelhias de um ponto de vista social e económico levoua que os investimentos efetuados, com exceção do parque escolar, pri-vilegiasse na maior parte das vezes uma visão de aproveitamento elei-toral, com a disseminação de investimentos que hoje, alguns deles, seencontram com pouca utilização. Um dos problemas do concelho deAzambuja e que ainda hoje carece de solução, é precisamente o factode ser um concelho periférico qualquer que seja a zona de estratégiageográfica onde se insira. Foi assim na AML e é assim na CIMLT. Nãoraras vezes, em termos de organização social, no capítulo da segurançasocial, do instituto de emprego ou da educação, vamos, institucionalmen-te, sendo “atirados” para diferentes órgãos responsáveis com as inevitá-veis consequências ao nível do planeamento. Cremos que a única formade ultrapassar este constrangimento seria a regionalização.

Orçamento Participativo de Alenquer com boa adesãoEstá a decorrer desde o dia 6

de maio mais um conjuntode sessões do Orçamento Parti-cipativo de Alenquer, na sua se-gunda edição. Este ano a verbaé de 500 mil euros a distribuirpelos projetos que serão maisvotados, propostos pelos habi-tantes das freguesias do conce-lho. Paulo Franco, vereador quecoordena esta iniciativa autár-quica pela segunda vez, refereque para já “o balanço é extre-mamente positivo”, com um“acréscimo de população supe-rior ao registado em 2014”.No dia da entrevista do Valor Lo-

cal a Paulo Franco já se tinhamdesenrolado quatro sessões: emCabanas do Chão na União deFreguesias de Abrigada e Caba-nas de Torres; União de Fregue-sias de Aldeia Galega da Mer-ceana e Aldeia Gavinha; Carre-gado e Cadafais; e Casal das Ei-ras em Santana da Carnota. Àsemelhança do ano passado, aUnião de Carregado e Cadafaisrevelou uma menor predisposi-ção para participar na iniciativa,“talvez por ser a maior e mais ur-bana”.Para já as primeiras conclusõespermitem observar que as popu-

lações estão interessadas emobras na reabilitação de escolasprimárias mas também projetosque já vinham do ano passado,como a construção de um parquetemático na Merceana voltaram aser referidos. O teto máximo paracada projeto no ano passado erade 60 mil euros, este ano passaa ser de 100 mil o que abre por-tas para que alguns que não saí-ram do papel possam este anosair como vencedores. Não têmfaltado também propostas a exi-gir obras em questões mais ele-mentares como o arranjo de es-tradas. “Ainda temos esse tipo de

situações para resolver, e as pes-soas aproveitam para reivindicarobras, o que é natural”, acres-centa o vereador.Muitos foram também os que semostraram esperançados emconseguir ver aprovados projetosque apresentaram no ano passa-do. Ouviu-se muitas vezes: -“Vamos lá ver se é desta!”. Quanto aos projetos vencedoresdo orçamento do ano passado,Paulo Franco esclarece que emcada sessão procura-se fazer oponto de situação, e neste caso,todos os escolhidos em 2014 novalor total de 300 mil euros en-

contram-se em fase de contrata-ção pública. Todos deverão estar

prontos em 2016, mas três delesdevem terminar ainda em 2015.

Sessão de esclarecimento em Casal dasEiras, Santana da Carnota

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9Valor Local Política

Plano de combate a incêndiosapresentado na Câmara de SalvaterraApostar fortemente na sensibi-

lização da população é o quepreconiza o último plano de inter-venção e prevenção de incên-dios florestais desenhado paraos concelhos de Salvaterra deMagos, Benavente e Coruche,dado a conhecer numa das últi-mas reuniões de Câmara de Sal-vaterra. No terreno, os objetivospassam por diminuir o tempo mé-dio de ataque, abaixo dos 10 mi-nutos; reduzir o total da área ar-dida nos três concelhos abaixodos 35 hectares, e o número deocorrências abaixo das 60. A Comissão Intermunicipal dedefesa da Floresta dos três mu-nicípios pretende dar a conhecerentre a comunidade as diferen-ças entre queima e queimada ecom isso diminuir o número deocorrências. Mas a sensibiliza-ção também pode passar porcampanhas, e no horizonte esta-rá a divulgação de um folhetojunto com a fatura da Águas doRibatejo. O plano preconiza ainda a con-ceção de espaços de estaciona-mento definidos para as viaturasde modo a que o socorro possachegar com mais prontidão aos

locais. Pretende-se atender poresta ordem às premissas: da pla-nificação, vigilância, primeira in-tervenção, combate, rescaldo, enovamente vigilância.Fundamentais serão também oslocais onde estarão à partida in-tervenientes de prontidão a al-gum incêndio que possa ocorrer,nomeadamente, os bombeirosdos vários concelhos nos respe-tivos quartéis; a Casa Cadavalna propriedade em causa, o Clu-be de Caçadores de Glória eGranho na Estrada do Junco,União de Freguesia de Glória doRibatejo e Granho, Associaçãode Produtores Florestais de Co-ruche em localidades como Cas-cavel, Azerveira, Branca e Altoda Mata. No concelho de Bena-vente, tudo a postos no Campode Tiro de Alcochete e Compa-nhia das Lezírias. Em reunião de Câmara de Salva-terra, o vereador do Bloco de Es-querda, Luís Gomes, referiu quea associação de caçadores nãotem estado no local. O presiden-te da Câmara, Hélder Esménio,garantiu já se ter reunido com oclube de caçadores que demons-trou a sua disponibilidade em co-

laborar, embora se tenha queixa-do de que em anos anteriores aCâmara não cooperou como de-sejável nomeadamente no paga-mento de combustível para as

deslocações. Por parte da repre-sentante da comissão presente,foi deixado o compromisso deque se fará um contacto por es-tes dias no sentido de se auscul-

tar do grau de compromissoquanto a estarem ou não presen-tes no local em causa.Quanto ao difícil tema da limpezadas faixas de gestão de combus-

tível referiu que são da responsa-bilidade das Câmaras que nãopodem fazer muito mais nos ter-renos, que devem ser limpos pe-los particulares.

Eleitos esclareceram dúvidas sobre o que está concertado para o concelho

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10 Valor LocalDossier Águas

Miguel Carrinho é o novo presidenteda comissão da “Águas da Azambuja”

¢ Sílvia Agostinho

Depois de um processo quedemorou praticamente um

ano, eis que finalmente foi anun-ciado o nome que sossegou parajá as hostes políticas de Azambu-ja, e que vai presidir à comissãode acompanhamento do contratode revisão das águas e sanea-mento de Azambuja, Miguel Car-rinho.O também diretor financeiro daÁguas do Ribatejo tem um per-curso quase desconhecido,quando comparado com o nome

inicialmente destacado para afunção, Cunha Marques, consi-derado uma das vozes mundiaisdo setor, mas altamente repudia-do pelos vários partidos políticosda oposição de Azambuja. A Co-ligação Pelo Futuro da NossaTerra chegou mesmo a referir-seao mesmo como “uma raposa nomeio de um galinheiro”. Na basedas críticas, o facto de ter estadona escolha da Aquapor para geriro sistema em baixa de Azambuja,que na opinião da oposição setem revelado como uma “opção

fatal” que só tem “prejudicado osinteresses do município”. O pro-fessor do Instituto Superior Téc-nico viria a por o lugar à disposi-ção, depois das muitas críticasque lhe foram dirigidas. Miguel Carrinho constitui-se parajá como uma surpresa. Chegouhá pouco tempo ao setor, em2009, aquando da entrada emfuncionamento da Águas do Ri-batejo, não isento de algumascríticas, por ser filho de SérgioCarrinho, antigo presidente daCâmara da Chamusca, município

que também integra a empresaem causa.Licenciado em gestão de empre-sas pela Universidade de Coim-bra, Miguel Carrinho, para alémde diretor financeiro da Águas doRibatejo (AR), (depois de ter pas-sado pela comunidade intermuni-cipal), é também a cara do proje-to “Watersense” (biosensor quemonitoriza as águas subterrâ-neas) implementado na AR, dis-tinguido com o prémio Eureka em2012, e também no “EuropeanProjects Awards”. Miguel Carri-nho vai auferir 250 euros por mêsao serviço do concelho de Azam-buja nesta comissão. Valor bas-tante mais abaixo dos honoráriosque Cunha Marques pediu (cercado dobro) tendo em conta o seucurrículo internacional.“Recebi um convite da Câmarade Azambuja para esta posiçãona comissão das águas, porqueconheço o setor e a região, atéporque também trabalhei na co-munidade intermunicipal e tiveentre mãos projetos relacionadoscom Azambuja”, refere ao ValorLocal, Miguel Carrinho.O novo responsável da comissãodas águas dá conta que só hápouco tempo começou a debru-çar-se sobre o processo de revi-são do contrato e de todas asquestões que o rodeiam, sendoque também os contatos com aadministração da “Águas daAzambuja” são recentes. “Aguar-do a entrega da informação paraaprofundar o histórico de todo oprocesso, e tentar fazer o melhor

possível no que a comissão podeintervir”. Miguel Carrinho diz-se, ainda,preparado para todo e qualquerescrutínio que o seu trabalhopossa suscitar, tendo em contaque tudo o que diga respeito àconcessão costuma estar sobrea luz forte dos holofotes políticosque querem ver até onde estetécnico conseguirá defender osinteresses da população. “Admitosempre esse escrutínio, e todosna comissão temos essa cons-ciência”. Embora salvaguardeque “as decisões cabem às par-tes, e a comissão não é um ór-gão político. Cumpre a legislaçãoe dá todo o apoio que Câmara econcessionária precisem”, diz. “Oque se passou antes ficou nopassado e vamos pensar que ofuturo possa ser o mais simpáticopossível”, refere em relação àonda de críticas que avassalou aconcessionária em 2014.Questionado quanto à formacomo a entidade patronal “Águasdo Ribatejo” reagiu ao facto deMiguel Carrinho fazer agora parteda comissão das águas, respon-de que não foi observada “incom-patibilidade de funções”, pois am-bas as empresas possuem terri-tórios diferenciados, com mode-los diferentes. “Mas também es-tamos a falar de uma comissãoad-hoc, sem funções subordina-das, não temos patrão, estamosali, individualmente, enquantopessoas indicadas pelas entida-des, e livres para fazer o nossotrabalho”, elucida, esclarecendo:

“Houve o compromisso de queestas minhas novas funções nãocolidiriam com as que exerço naÁguas do Ribatejo”.Diogo Faria de Oliveira, adminis-trador da Aquapor que gere aÁguas da Azambuja, refere que anova comissão é bem-vinda, atéporque já devia ter sido constituí-da em 2012. Depois de ter ditoem entrevista ao nosso jornal,que Cunha Marques era uma es-pécie de José Mourinho do setor,é politicamente correto ao referir-se ao nome de Miguel Carrinho –“Foi o nome proposto. Conheci-oagora nestas novas funções.Fará certamente um excelentepapel”. Quanto ao elemento de-signado pela Câmara Municipalde Azambuja, António Nobre, de-putado da CDU, partido que nor-malmente alinha contra qualquertipo de modelo de privatizaçãomormente também no setor daságuas, reflete apenas – “Tambémé muito bem-vindo! Fará comcerteza o papel de zelar pelos in-teresses da concedente”. Sobrea saída de Cunha Marques –“Mais importante do que o nomeé o perfil, e na minha opinião opresidente desta comissão devereunir as seguintes qualidades –ser especialista no setor daságuas e saneamento; perceberde regulação e em último lugarcompreender os contratos deconcessão e o seu modelo de fi-nanciamento”. O último elementoda comissão é Enrique Castiblan-ques designado pela “Águas daAzambuja”.

Parecer da ERSAREntretanto a empresa aguarda que a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ER-

SAR) dê finalmente luz verde quanto à proposta de aditamento ao contrato que tem sido sucessiva-mente enviada para o regulador que tem pedido vários esclarecimentos. Faria de Oliveira refere que oúltimo parecer da ERSAR não foi no sentido de dar essa luz verde, porque as partes decidiram antes irpelo preconizado pelo Tribunal de Contas, “que vai contra o entendimento do regulador”, nomeadamente,no que respeita “à retirada da banda de consumos, ou seja colocar todo o risco da procura do lado daconcessionária”. A ERSAR refere ser insuficiente pois não deixa antever a possibilidade de fenómenoscomo a subsidiação cruzada, entre outros.

Obras: Limpos todos osreservatórios de águana crise da legionellaTendo em conta a onda de alarmismo suscitada pelo foco de legionella no concelho de Vila Franca de

Xira, a “Águas da Azambuja” procedeu a uma limpeza e higienização de todos os reservatórios deabastecimento de água em janeiro de 2015. No que se refere a obras de saneamento em falta no altodo concelho de Azambuja, das quais se tem falado nos últimos tempos, a empresa refere que ainda seencontram por terminar pontos de ligação à rede em alta da responsabilidade da Águas do Oeste no-meadamente em Tagarro, Espinheira e Casais das Boiças, prontas desde há vários anos na baixa porparte da “Águas da Azambuja”Recorde-se que a empresa intermunicipal colocou um processo de injunção, relativo a uma dívida de 1milhão 330 mil euros, a que se soma outra de dívida vencida de 2 milhões 453 mil à “Águas da Azam-buja”, contudo a Câmara de Azambuja deu luz verde à adesão ao novo sistema multimunicipal em pers-petiva, desde que a empresa intermunicipal faça estas e outras obras da sua competência.

Miguel Carrinho diz-se preparado para o escrutínio políticode que vai ser alvo

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11Valor Local Personalidades

15 anos de alternativa de Ana BatistaAcavaleira tauromáquica de

Salvaterra de Magos, AnaBatista, comemora este ano os15 anos de alternativa. Ao ValorLocal, Ana Batista assume quefaz o que gosta e que nem mes-mo as dificuldades geradas pelaprofissão, são suficientes paraabrandar a paixão pela arte.Para a cavaleira, toda a últimaépoca tem um balanço positivo.Ao todo foram 30 corridas. “Foiuma temporada bastante ponde-rada porque estamos em crise”.Para trás ficam 15 anos de alter-nativa e uma larga experiênciaprofissional. Para trás ficam tam-bém centenas de corridas, vin-cando que nunca sentiu qual-quer discriminação pelo facto deser uma mulher entre muitos ho-mens.A cavaleira lembra uma corridano Campo Pequeno de oportuni-dade aos jovens com cavaleirospraticantes. “Eu era a mais novae amadora com 14 anos, comtoiros grandes e muita responsa-bilidade. Mas as coisas correrambem e ganhei o Troféu Incenti-va”.A partir desta corrida, Ana Batis-ta descolou e acabou por ir paraEspanha onde surgiu a grandeoportunidade de integrar o quar-teto “Amazonas del Arte”, e apartir daí, a cavaleira vincou, de-

finitivamente, o seu respeito nopanorama nacional e internacio-nal. “Como éramos quatro mulheres,isso deu-nos uma perspetiva to-talmente diferente” nomeada-mente em Espanha, “onde os di-versos tipos de público são maisvariados”.“Nem tudo foram facilidades”,salienta a cavaleira, todavia oseu percurso acabaria por serimportante na carreira. Por tudoisto, Ana Batista preferiu tomar asua alternativa em Portugal.“Sempre quis que o públicoolhasse para mim enquanto tou-reira e não apenas por ser mu-lher. Quis fazer sempre um tou-reio sério e acho que as pessoasperceberam isso”, destacandoque é no norte “onde sentimosmais o apoio das mulheres”.Desde que se iniciou nas corri-das, Ana Batista tem tido umaconvivência razoável com oscontestatários das corridas detoiros, sendo politicamente cor-reta nas respostas, salienta –“Aparecem mensagens no face-book, mas é-me indiferente”.” Àsvezes, no Norte deparamo-noscom eles, tratam-nos mal, masestamos ali para fazer o nossotrabalho. Respeito as ideias de-les, e espero que respeitem asminhas, isso às vezes não acon-

tece, mas ignoro”.Ana Batista considera, entretan-to, que a crise tem afetado astouradas em Portugal. Não só noque respeita ao preço dos bilhe-tes, mas também no que se re-

fere aos hábitos que se criaram.A cavaleira lembra uma corridano México, onde a populaçãoesperou durante duas horasdentro da praça até que a arenasecasse, pois tinha chovido mui-

to. “Naquele país existe uma afi-ción diferente”, argumentandoque “onde há afición, o confortoda praça não é o mais importan-te”. Mas Ana Batista não teria su-

cesso se não fossem os seuscavalos. Os animais são de cer-ta forma seus confidentes, e a13 de Junho de 2013, despediu-se “de um grande amigo”. Umcavalo com o nome de Obelix,de 16 anos. Este foi um dos ca-valos mais importantes da suacarreira. Todavia este animalteve dois filhos que já fazem par-te da sua quadra (Obélix II eObélix III) e vinca a necessidadede confiar nesses cavalos. “Sãoquase a nossa família, passa-mos e treinamos muito tempocom eles. Ver a evolução doscavalos é como um pai ver um fi-lho a progredir na escola”. vincaAna Batista.Sair com um cavalo para a praça“pela primeira vez é espetacular”realça a cavaleira, que destacaa ajuda do marido na prepara-ção dos animais. Questionadasobre onde gosta mais de atuar,se em Portugal ou no estrangei-ro, a cavaleira de Salvaterra deMagos responde de uma formapoliticamente correta: “Gosto deatuar em todo o lado”. Em Julhovai tourear uma corrida em Sal-vaterra de Magos, sua terra na-tal, “particularmente especial”,porque pretende assinalar os 15anos de alternativa numa praçaque lhe traz grandes recorda-ções.

Ana Batista na sua quinta onde também recebe muitos jovensem estágio

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12 Valor LocalDestaque

Falta pouco para os grandes dias da FDe 28 de maio a 1 de junho, está aí a altura do ano pela qual os azambu-jenses mais anseiam. Para além das novidades deste ano, e de uma con-versa com o presidente da nova associação das tertúlias, falámos comalguns azambujenses que dão a conhecer memórias de outras feiras.

¢ Miguel A. Rodrigues*

AFeira de Maio está de regres-so a Azambuja. O certame

centenário há muito que é aguar-dado pelos munícipes e pelos visi-tantes, que contam os dias sobre-tudo a pensar nas largadas de toi-ros.Ao Valor Local, Luís de Sousa,presidente da Câmara Municipalde Azambuja, destacou que a Fei-ra de Maio “já é conhecida interna-cionalmente”, vincando que ogrande chamariz do certame sãoexatamente as largadas de toirose a tradição a elas associada.A Feira que decorre de 28 de maioa 1 de junho, é composta maisuma vez por largadas de toiros,gastronomia, representada na Pra-ça das Freguesias pelas respeti-vas freguesias e pelos aspetos li-gados não só à tauromaquia,como ligados também ao mundoequestre. Este ano a Feira tem uma novacomponente. É a primeira vez queas tertúlias se juntam para dar umanova cor à festa. Durante o últimoano, foi criada a União de Tertúlias

de Azambuja (UTA), que é com-posta pelas tertúlias que partici-pam no certame, e que também le-vam a cabo algumas iniciativas la-terais. Em anos anteriores, as ter-túlias juntaram-se e levaram a efei-to algumas iniciativas, nomeada-mente, torneios de futebol disputa-dos entre as mesmas, mas esteano, já organizadas em associa-ção, vão promover pela primeiravez uma largada de “touro à corda”algo mais tradicional nos Açores,mas que chega, pela primeira veza Azambuja.Sobre esta iniciativa, Luís de Sou-sa, destaca a sua importância noenriquecimento da feira. Para oautarca, esta actividade acaba porser mais um chamariz para o cer-tame de Azambuja, destacandoque o público ao qual se dirige,tem “bastante apetência para estetipo de divertimentos”.Aliás, Luís de Sousa que destacaa afición dos azambujenses, vincaigualmente que praticamente du-rante todo o ano, “tudo em Azam-buja gira à volta da feira”. A partirdo momento em que se começam

a colocar as tronqueiras, no iníciode maio, “aparecem também osprimeiros assadores à porta dastertúlias, e começa aí um ambienteespetacular que só se vive emAzambuja”.Esta é de resto uma edição ondeas restrições financeiras vão con-tinuar. Apesar do município ter me-lhorado as suas contas, o que écerto, é que a autarquia ainda nãovoltou a investir no certame comono início dos anos 2000, na alturaem que Luís de Sousa era apenasvice-presidente e Joaquim Ramos,presidente. Luís de Sousa vincacontudo que o orçamento subiuem relação ao ano passado, o que“por si só já é positivo”.Porém a Feira de Maio não se re-sume só aos toiros. O certameconta mais uma vez com a partici-pação da Associação Comércio eIndustria de Azambuja (ACISMA),que é responsável pelo pavilhãodas atividades económicas monta-do todos os anos no Campo daFeira de Azambuja. Como habi-tualmente o pavilhão vai ter ummisto de atividades económicas,

com a representação de empresase também de alguns artesãos quedemonstram ao vivo a sua arte.Mesmo ao lado, a Praça das Fre-guesias é a montra das freguesiasdo concelho de Azambuja. Cadadia é dedicado a uma localidade,com demonstração de folclore,bandas de música e ginástica,numa autêntica romaria das gen-tes das demais freguesias à sedede concelho.Em paralelo, vão ser realizadosconcursos equestres, e os habi-tuais concursos de montras, facha-das, largos e ruas com motivosalusivos à Feira de Maio.Luís de Sousa, espera este anoque o tempo volte a ajudar e quevoltem a ser milhares os forastei-ros que visitam a vila nestes diasde festa, com o destaque para a“Noite da Sardinha Assada” que serealiza na sexta-feira, com a distri-buição gratuita de sardinhas, pãoe vinho. Este ano, os valores man-têm-se, sendo que só as sardi-nhas, resultam em quatro tonela-das de distribuição gratuita.

*com Laura Costa e Nuno Vicente Câmara não alterou significativamente o orçame

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13Valor Local Destaque

Feira de Maio Preciosidades do mundo taurinono espólio de SalemaAntónio Salema é sem dúvida

uma figura de destaque navila de Azambuja, pelo seu percur-so ligado à tauromaquia. É umapersonagem que muitos conside-ram ter incrementado as tradiçõestaurinas na vila. O Valor Local de-cidiu ir conversar com ele, nestaaltura do ano. Fomos até à suaCasa Museu onde nos recebeude braços abertos e nos descre-veu todo o seu espólio: “Tudo oque tenho nesta casa vem desdeo meu tempo de juventude. Co-mecei por colecionar programas,fotografias e a contatar pessoasdo meio taurino, e com isso fui ga-nhando bastante conhecimentoao longo de todos estes anos.”Para além de todos os elementosmateriais, António Salema tam-bém possui outro património –uma vasta memória de tudo o queseus olhos viram: “Em Portugal vi77 corridas, em Espanha 200 cor-ridas.”Em Azambuja, ainda não existeum museu da tauromaquia, massegundo António Salema, a terramerece sem dúvida um espaçodaquela natureza pois está mes-mo situada no coração do Ribate-jo. Mas para tal seria “preciso umpouco mais de união por partedas pessoas da tauromaquia”,

não hesita em confessar.Memórias da feira são muitas, eAntónio Salema recorda-se da fei-ra de antigamente quando “ostouros eram enjaulados, e nin-guém calcula o que era ver asruas cheias de pessoas para ve-rem os toiros a serem enjaula-dos”. “Era algo impressionante”,recorda-se.Pedimos ainda a António Salema,uma visita guiada à sua casa mu-seu, para nos mostrar um poucomais do seu mundo. Em primeirolugar, deu-nos a conhecer algu-mas fotos de Alexandre Vieira, oprimeiro toureiro azambujense, ede seguida de Ana Maria d’Azam-buja a primeira mulher toureira em

Portugal. Mas neste mundo muitopróprio deste azambujense hátambém retratos de Carlos Pimen-tel, Etelvino Laureano, Maria Cris-tina Correia – pintora de toureios,Manuel Tavares, Manuel Jorge deOliveira e José Tavares, sempreprotegidos pela imagem da Vir-gem de Macarena que é a pa-droeira dos toureiros. Outra dasfotos significativas do seu espóliotrata-se de uma de Penha “CurroRomero” em Espanha. Ou umafoto da cavaleira peruana Conchi-ta Cintrón, a toureira femininamais conhecida da história da tau-romaquia. Guarda ainda uma fotoda antiga tertúlia tauromáquicaazambujense e em destaque uma

foto de Ortigão Costa, que dánome à praça de touros de Azam-buja.Mas as relíquias de Salema nãose ficam por aqui. Exposto tam-bém um programa da corrida detouros nas arenas de Valencia, naVenezuela, onde Etelvino Laurea-no toureou com Cesar Giron, umdos toureiros mais conhecidos daVenezuela. Deu-nos a conhecer alguns dos li-vros que editou para toureiroscomo Ana Maria d’Azambuja,Etelvino Laureano e Manuel JorgeD’Oliveira. Em 2001, foi realizadaem sua homenagem uma corridade toiros, e também guarda essarecordação.

ento

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14 Valor LocalDestaque

UTA quer revitalizar a festaNos últimos anos a Feira de

Maio de Azambuja tem fica-do marcada pelo número de ter-túlias que tem vindo a crescer.Com esse crescimento, surgiu anecessidade de mais organiza-ção, já que muitas apenas re-gistavam alguma atividade du-rante a Feira. Foi tendo em con-ta esta realidade que foi consti-tuída a União Tertúlias de Azam-buja (UTA) presidida por JoãoAlves.Embora o balanço no que tocaà adesão à associação seja po-sitivo, João Alberto Alves refereque a representatividade a nívelde associados ainda não é mui-to expressiva. Mas quando fala-mos nos eventos realizadospela UTA, “a adesão é significa-tiva”, “mesmo por parte dequem ainda não se associou.” Atítulo de exemplo destaca a“Festa Campera” organizada no

dia 29 de março, que contoucom a presença de 200 pes-soas, “mesmo com a realizaçãonesse dia da Procissão do Se-nhor dos Passos em Azambuja”.Com a Feira de Maio à porta,João Alves diz-se expectantequanto à possibilidade de maistertulianos se juntarem à asso-ciação. “Pois certamente quepara além das vantagens queterão em se associar, tambémnos dão mais força para a reali-zação de eventos”.Quanto aos objetivos, o presi-dente desta associação, commeia dúzia de meses, destacaque o principal objetivo passapela promoção do convívio en-tre os associados. Para alémdisso, a UTA aposta na dinami-zação da Feira de Maio deAzambuja e na promoção dastertúlias azambujenses desdeque se “enquadrem no verda-

deiro espírito do significado de‘tertúlia’ ou seja: organizar, pro-mover e apoiar todo o tipo deeventos relacionados com a fes-ta brava bem como as tradiçõesque se lhe encontram intima-mente ligadas, procurando aomáximo honrar e distinguir onome da nossa vila”.Tendo em conta o número deaficionados da festa brava exis-tente em Azambuja, o presiden-te da UTA destaca que a asso-ciação tem como objetivo tam-bém contribuir para o fomentoda afición. Assim, vinca: “Sabe-mos do que o povo gosta, co-nhecemos o caminho que te-mos de seguir”. “ Progressiva-mente, as pessoas e as coletivi-dades vão-nos conhecendo esabendo que podem contar con-nosco para colaborar e organi-zar eventos relacionados com afesta brava”.

Todavia a UTA está tambémaberta à restante comunidade,como a escolar. João Alberto Al-ves adianta ao Valor Local, queestá em curso uma parceriacom as escolas de Azambuja“com o lançamento de um con-curso para que os alunos dese-nhem a nossa bandeira”. “Rece-bemos mais de 100 participa-

ções, trabalhos fantásticos quevão estar expostos no pavilhãodas freguesias durante o perío-do da feira”.Outra das novidades da Feirade Maio deste ano é a realiza-ção do “Toiro à Corda”. Tal éuma tradição dos Açores, mas aUTA quer apostar na diversida-de, e por isso mesmo leva a

cabo pela primeira vez esteevento na rua principal da vila,no próximo dia 23 às 21h.A ideia de trazer este eventopara a Feira de Maio nasceu noano passado, mas vinca que taliniciativa não tem como objetivoalterar as tradições de Azambu-ja, ou implementar as tradiçõesde outros “mas sim mostrar di-ferentes culturas”. “Somos gen-te jovem com ideias novas e vá-lidas, queremos a divulgação danossa terra, e apoiar o comérciolocal, no fundo agitar as águaspara que a festa também saiada rotina”, elucida, acrescentan-do: “Não queremos ir contra nin-guém, nem sequer ferir quemquer que seja, mas não nos po-dem criticar a ambição de fazermais e melhor, e se o conse-guirmos, quem ganha é Azam-buja”.

Tertúlias querem dinamizar Feira de Maio

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15Valor Local DestaqueMemórias da feira Centro Hípico Lebreiro cativa

os jovens de Azambuja

OCentro Hípico Lebreiro de Azambuja continua a dar cartas no setor. Rui Santos, da direção da associa-ção, explicou ao Valor Local, que um dos objetivos é o fomento do gosto pelos deportos equestres, e

que isso tem-se notado, não só, através do número de alunos que estão no centro, como também atravésdos prémios arrecadados pelos seus pupilos.Numa destas manhãs de sábado, a reportagem do Valor Local testemunhou isso mesmo em loco. Algumasdezenas de crianças praticavam atividades equestres nas instalações do centro, com preços que rondam os40 euros mensais, “que, contudo, mal dão para as despesas correntes”, refere o dirigente.Esta é de resto uma realidade comum a muitas assocializações. “Manter esta casa não é fácil, sabemos quea situação económica e social do país não é das melhores, mas infelizmente não podemos dar aulas deforma gratuita. Também temos as despesas com o treinador, os tratadores, os cavalos e sabemos que osalunos também têm dificuldades, mas ainda assim, levamos a casa para a frente”, refere Rui Lopes, que con-fessa não assistir a um grande entusiasmo por parte do mecenato local.“Não fora o empenho dos diretores, treinadores, e alunos, a tarefa seria bastante mais difícil”. Contudo, osresponsáveis salientam os resultados que “enchem” de orgulho aqueles que diariamente vestem a camisolado “picadeiro”, como de resto é conhecida a associação.Rui Santos vinca o trabalho feito junto das crianças que todas as semanas estão presentes nos treinos, masdestaca igualmente que o centro também tem adultos na sua escola. “Temos cerca de 45 a 50 alunos inscritosneste momento. As aulas de equitação são três vezes por semana e os resultados estão à vista”.O responsável anunciou que, nesta altura, o Centro Hípico tem alguns participantes no Circuito Ensino doRibatejo: “Temos tido belíssimos resultados nas várias modalidades desse campeonato, com destaque paraos alcançados no dia nove de maio, na Escola Superior Agraria de Santarém, onde conseguimos os primeirostrês lugares na prova de preliminar 1, o que na nossa opinião é bastante bom, tendo em conta o valor daconcorrência”.Rui Santos salienta que um dos objetivos é a pro-moção dos desportos equestres, e nesse capítulo,considera que os resultados estão a ser cumpri-dos. O responsável vinca que a associação temconseguido “tirar os nossos jovens da rua e ligá-los às nossas culturas, ao cavalo e ao touro”. Sen-do que no aspeto do touro, “há outras associaçõescom mais apetência para essa vertente que estábastante bem entregue aqui na nossa vila”.Rui Santos salienta entretanto que a grande apos-ta do centro é que cada aluno tenha o seu própriocavalo, embora acentue que a associação dispo-nibiliza também os animais. Dirigente salienta os resultados

obtidos pelos jovens

Mário Fernando Pinto, 64 anos

“Estive 23 anos ligado ao mundo tauromáquico, nomeadamente, aos Forcados deAzambuja, e tive várias lesões. Quando era forcado, recordo-me que numa ocasiãofomos pegar a Alter do Chão e depois da corrida fomos jantar. Quando terminámosa refeição, o nosso cabo dos Forcados, que na altura era o José António Carlos, foifalar com o empresário da praça e quando saíu do restaurante, a conta já estavapaga. Deixámos o cabo em Alter do Chão, que teve de vir no dia seguinte de com-boio.”

Manuel Rosa, 63 anos

“Recordo-me bem de uma feira, embora não saiba precisar o ano, quando os tourosandavam juntos ao contrário do que acontece hoje e chocaram um com o outro. Noano passado, lembro-me de um toiro bastante maroto que deu uma pancada ali natronqueira junto ao meu estabelecimento e a portinhola foi ao ar. Eu fiquei a olharpara o bicho muito calmo e sereno, mas apanhei um susto. Sabia que ele não en-trava no meu estabelecimento, no entanto assustei-me.”

Vítor Teixeira, 79 anos

“Por hábito tenho uma tertúlia junto da biblioteca onde passamos os cinco dias dafeira, a comer, a beber, e a dar as boas vindas aos forasteiros que vem até a estavila. Lembro-me que houve uma Feira de Maio logo após o 25 de abril, na qual fuio tesoureiro, e nessa altura conseguíamos fazer o certame com apenas 70 contosou menos que isso.”

João Luís Simão, 75 anos

“Há uns anos atrás, quando iniciei a minha profissão, a feira era diferente, sobretudono trabalho que era mais abundante naquele tempo. Trabalhávamos muito para asempresas de cavalaria e agora isto está muito fraco. Até chegámos a vender naFeira, o artesanato que tínhamos. Lembro-me que numa ocasião, estava na rua abrincar com os toiros, queria fugir tive praticamente de ‘voar’ para o touro não meapanhar”

Joaquim Ramos, antigo presidente da Câmara de Azambuja

“A Feira de Maio na minha opinião é realmente ‘a mais castiça do Ribatejo’, se com-pararmos com outras feiras verificamos que esta é de fato um ponto de encontrode afetos, onde a cultura ribatejana explora todas as suas diversas vertentes, eonde já vem pessoas de todo o país inclusive do estrangeiro. Gostava de partilharo empenho das pessoas relativamente à Feira de Maio, a união das freguesias eraalgo notável na praça das freguesias, e enquanto antigo Presidente da Câmara es-tas são as melhores memórias que tenho.

João Benavente, antigo presidente da Câmara de Azambuja

“Houve uma situação, nas largadas, em que fiquei pendurado num antigo portão,e ao fugir do toiro, saltei e agarrei-me a esse portão e cortei as mãos. Também hou-ve uma situação, quando eu fiz uma visita à Tertúlia dos Forcados, e quando o úl-timo touro ia ser recolhido, o João Alves veio à porta chamar o touro, e este apa-nhou-o e partiu-lhe a perna. Ficou com uma fratura exposta, os amigos com as lá-grimas nos olhos, e ele gritava: Não chorem, viva a Feira de Maio! Foi um dos mo-mentos mais marcantes para mim enquanto azambujense”

Inês Louro, presidente da Junta de Freguesia de Azambuja

“Quanto a uma boa recordação da Feira de Maio, lembro-me que de uma de infân-cia que costumo partilhar frequentemente: houve um ano em que a parte dos car-rosséis foi na Água Férrea, exatamente em frente à casa da minha mãe, e foi terrívelpara ela pois eu queria estar lá constantemente. Mas as memórias da Feira de Maiosão sempre idênticas: Receber os nossos amigos e familiares, sendo a feira umaocasião para criar e fortalecer laços de amizade.”

João Alves, 71 anos

“Tenho muitas expectativas para a Feira de Maio deste ano, tenho expectativas mui-tos suscetíveis, e viva a feira de maio” Tenho um episódio que posso contar: Na-quela altura, há anos atrás, as tronqueiras ainda eram feitas de varolas de eucaliptoe o largo da Câmara estava fechado, a Câmara só tinha um piso. Fui brincar como toiro, escondo-me na porta da câmara e o touro vem atrás de mim para dentro doedifício, o presidente da Câmara da altura até me quis mandar prender!”

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16 Valor LocalNegócios com Valor

Construaza há 24 anos no mercadoda construção

Valor Local: A Construaza temsido uma empresa muito pre-sente em Azambuja e na re-gião. Como é que nasceu?Fernanda Monteiro: A Construa-za nasce com a pretensão doEng. Orlando Monteiro que apóster estado onze anos numa em-presa de construção civil, decidiutrabalhar por conta própria, crian-do a empresa.Foi fundamental a formação deengenheiro para dar este pas-so?Sim. A sua licenciatura em Enge-nharia Civil do ISEL e o mestradoda Universidade de Coimbra pe-saram nessa decisão.Então já foi há algum tempo?A Construaza constituiu-se emJaneiro de 1991, tendo alvará,desde essa altura.Na empresa trabalha, paraalém da Fernanda e do seu ma-rido, o vosso filho. Podemosdizer que é uma empresa fami-liar?É uma empresa familiar, sendouma sociedade por quotas, inte-gralmente do casal, Orlando eFernanda Monteiro, tendo entra-do este ano o filho mais velho,Guilherme Monteiro, após ter ter-minado a licenciatura e o mestra-do em Engenharia Civil no IST.Começou, assim, a dar os primei-ros passos com o pai. A empresatem um efetivo de 18 funcioná-rios.A vossa empresa acaba por serbastante versátil no que tocaao género de obras que realiza.Reconstruções, construções,ou remodelações fazem partedesse leque. Era esse o cami-nho, que idealizaram, ou é umanova tendência?Quando diz reconstrução está-sea referir a reabilitação. Tem sidoum dos objetivos ao longo destesanos. Fizemos várias reabilita-ções em edifícios habitacionais

em Lisboa (Avenida Conde Val-bom, Praça de Alvalade e PraçaLuís de Camões). Recentementeem Azambuja, reabilitámos umedifício no Largo da Igreja Matriz.Atualmente, encontramo-nos areabilitar a “Casa Azul” na RuaEng.º Moniz da Maia, em frenteao Edifício Atrium Azambuja.Para além da reabilitação, naparte da construção, construímosum total de 150 fogos para vendaem Azambuja e em Aveiras deCima. Outra vertente da nossaatividade são as empreitadasparticulares, nomeadamente, asmaiores para a TOUL, CAMPIL eainda a JODEL Produtos Quími-cos. As mais pequenas envolvemvárias moradias unifamiliares emAzambuja e na Ramada – Odive-las. Para estas obras, tem havido anecessidade de contratar ou-tras empresas para trabalhosmais específicos?Estamos ligados a diversas em-presas específicas relacionadascom a aplicação de estuque, ele-tricidade, pintura, AVAC (ar con-dicionado), rede de águas e es-gotos, caixilharias (alumínio,PVC), metalomecânica. As vossas obras têm um selode qualidade, que enaltecem avossa marca. Há por isso crité-rios apertados, na hora da es-colha desses parceiros?Sim. Essa é uma preocupaçãoda Construaza. Os parceiros sãoselecionados mediante as garan-tias que nos possam dar, tanto naqualidade, como na resolução deproblemas futuros.Tem no currículo obras impor-tantes a nível social, como asda Santa Casa da Misericórdia,a da Cerci ou a da AssociaçãoNossa Senhora do Paraíso.Este poderá tornar-se num se-tor onde a empresa possaapostar mais, tendo em conta

o vosso know-how?Claro que sim. Nos últimos anostemos adquirido bastante expe-riência ao nível do funcionamentodas I.P.S.S.’ s. São obras ganhasem concurso público, que dãomuito trabalho na elaboração daspropostas, mais especificamente,a colocação das mesmas nasplataformas electrónicas. Possocitar entre outras o Centro Infantilda Santa Casa da Misericórdiade Azambuja. Para além disso,construímos também o edifíciodo Centro de Atendimento Ocu-pacional e Lar Residencial daCerci Flor da Vida em Azambuja,e procedemos à ampliação doedifício destinado a Centro deDia da Nossa Senhora Paraíso eServiço de Apoio Domiciliário deVale do Paraíso. Reabilitamosainda o centro de recolha daSanta Casa da Misericórdia, aCasa Dr. Jaime.Nos últimos anos, o setor daconstrução caíu muito. Toda-via, a Construaza parece nãose ter ressentido dessa crise.Como fez para passar um pou-co ao lado da situação?A Construaza também se ressen-tiu desta crise. Alguns clientes,nomeadamente da parte fabril,deixaram de fazer as obras deque necessitavam por receio epor dificuldades financeiras e al-gumas acabaram por encerrar.Temos tido dificuldade nas ven-das dos apartamentos do EdifícioModerno, junto à Estação deComboios, em Azambuja, nãopor falta de clientes, mas por faltade financiamento aos clientes porparte da Banca. Tentamos passarao lado, trabalhando, com maisexigência ultrapassando a buro-cracia, que é cada vez maior,concorrendo a concursos públi-cos que noutra conjuntura não te-ríamos necessidade de o fazer.Uma das obras mais emblemá-

ticas foi o Centro ComercialAtrium Azambuja. Que balançofaz deste empreendimento?Como empresária e sócia daConstruaza, o balanço é negativodo ponto de vista financeiro. Tam-bém para a família o balanço énegativo, os problemas existemdurante as 24 horas ininterrupta-mente. Manter um edifício destes

a funcionar é complicado. A logís-tica é difícil, e muitas pessoas,não compreendem isso. O Centro já foi alvo de atos devandalismo?Sim é verdade. O que é triste,

pois nós quisemos, como sabe,dotar Azambuja deste espaço,que fazia muita falta a todos.Como resultante desses atos devandalismo, fomos obrigados acolocar algumas regras, tantoaos nossos condóminos como aopúblico. Uns entendem, outrosnão.O empreendimento trouxe para

Azambuja um tipo de negócioque não existia. O cinema foiuma das inovações. Hoje fariatudo exatamente na mesma?Quanto ao comércio e às inova-ções, nomeadamente o cinema,

fizemos o que achámos ser omelhor, tanto para nós como paraa população de Azambuja. OAtrium Cinema encontra-se en-cerrado por não haver verba parasubstituir a máquina que temosque projeta filmes em formato35mm por uma para formato digi-tal na ordem de 40 mil euros.Não está prevista uma alterna-

tiva à máquina, por exemploatravés de protocolos com acâmara?Nesta altura, estamos a estudartodas hipóteses. Tudo está emaberto.

Pais e familiares que não sai-bam o que fazer para ocupar

os seus educandos nas férias deverão, têm agora na oferta doGrau de Prova, Escola de Lín-guas e Centro de Estudos, noCartaxo, um programa recheadopara os mais pequenos.As inscrições já estão abertas edisponíveis na sede da Escola.As atividades, que irão decorrerde 15 de junho a 11 de setem-bro, passam por conjunto de vi-sitas de estudo por vários locaisdo nosso país, desde Coimbra,

Lisboa, Tomar, Alcobaça, Santa-rém, Montemor-o-Novo, mastambém por ateliers diversoscom o intuito de continuarem aaprender brincando.Nas viagens vão conhecer oPortugal dos Pequenitos, o Ex-ploratório, o Parque Verde, oPlanetário Calouste Gulbenkian,o Oceanário de Lisboa, o MuseuNacional de Arquelogia, o Mos-teiro dos Jerónimos, a Torre deBelém, o Pavilhão do Conheci-mento, o Museu da Marinha, oJardim Botânico Tropical, o Jar-

dim Zoológico de Lisboa, o Mu-seu Militar, o Museu da Eletrici-dade, o Museu dos Comboios, oParque dos Monges, o Castelode Tomar, o Convento de Cristo,o Monte Selvagem, entre outros.Em cada semana haverá um diacom uma saída para fora doCartaxo, outro dia com visitasguiadas pelos locais mais em-blemáticos da cidade do Carta-xo, nomeadamente, os Bombei-ros Municipais, o Museu do Vi-nho, a Quinta das Pratas e aGaleria José Tagarro. Os restan-

tes dias serão dedicados aoLego, aos Jogos Tradicionais einformáticos, ao Cinema, aoZumba, às Ciências, ao futebole muito mais.Outra das grandes novidadesserá o espaço onde vão decor-rer as atividades. Na escola jáestá quase tudo preparado. Ascrianças que já frequentam oscursos e o apoio educativo fo-ram convidadas a participar nadecoração dos muros do pátioque servirá de sala de aula ao arlivre.

Grau de Prova proporciona férias divertidas

Há 24 anos no mercado, a Construaza tem-se vindo a afirmar como empresa de referência nas áreas da cons-trução, requalificação e remodelação. Com sede em Azambuja, a firma, propriedade do Engº Orlando Mon-teiro e Fernanda Monteiro, aposta igualmente na elaboração de projetos de arquitetura e engenharia.

Fernanda Monteiro, sócia gerente da empresa

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17Valor Local Eventos

Avila de Azambuja recebe nopróximo dia 4 de julho, a pri-

meira edição do AZBeer. A ini-ciativa que vai decorrer no Pá-teo do Valverde tem a sua apre-sentação formal marcada para odia 4 de junho na Cerveteca emLisboa.De acordo com Marta Figueire-do, responsável da imagem edivulgação do evento, esta ini-ciativa surgiu num convívio deamigos, que em comum têm ofacto de fazerem cerveja emcasa. Esses amigos trouxeramda República Checa , durante aaltura em que frequentavamprogramas europeus de inter-câmbio, “vários estilos de cerve-ja”.Explica Marta Figueiredo que osabor de todas as cervejas queiam criando fascinou-os peloque passaram a querer consu-mir cerveja artesanal sempreque iam a restaurantes. Dessainiciativa nasceu a necessidadede divulgar a cerveja artesanal,“pois ainda são poucos os lo-cais de restauração que a co-nhecem e que apostam nesterecente conceito”. “A cerveja ar-tesanal pode ser tão cara comoum bom vinho mas uma coisanão tem de substituir outra”.

Quanto aos objetivos deste fes-tival, Maria Conceição, relaçõespúblicas do evento, destaca queentre os principais está a divul-gação da cerveja artesanal e adinamização do concelho deAzambuja. Todavia salienta:“Sabemos que são muitas aspessoas que fazem cerveja evendem-na sem critérios dequalidade, e por isso passou aser um objetivo nosso (AZBeer)juntar as melhores marcas dopaís, com a melhor qualidade/ri-gor e com provas dadas fora dePortugal”, enaltecendo os casosdas cervejas “Maldita, Vadia,Passarola, Mean Sardine, entreoutras, que vão estar presentes

nesta primeira edição”. Reforçaainda a ideia de promover tam-bém e em primeiro lugar “a cer-veja de Azambuja”Nesta primeira iniciativa, vãoparticipar doze marcas nacio-nais e duas “Craft Beer Shopque nos vão dar a conhecer al-gumas cervejas artesanais in-ternacionais” oriundas da Dina-marca, Escócia e Holanda.Quanto aos maiores desafios, aorganização aponta para a difi-culdade em encontrar algunsapoios na divulgação. “A cervejaartesanal ainda está a crescer eé difícil inserir o conceito craftbeer sem as pessoas o conhe-cerem”, refere Marta Figueiredo.

Feira da Agricultura com 1 milhãode euros de orçamento

Azbeer, a festa da cervejaartesanal em Azambuja

AFeira Nacional de Agriculturatem lugar de seis a 14 de ju-

nho, e vai para a sua edição nº52, no Cnema em Santarém. Aorganização a cargo da CAP pos-sui um orçamento de 1 milhão deeuros, mais 100 mil do que noano passado, e anunciou algu-mas das novidades para esteano, nomeadamente, uma apos-ta na melhoria das condições deorganização e de logística commais zonas de sombra nos res-taurantes.Na zona de pecuária vão ser ins-taladas novas estruturas, queirão permitir melhores condiçõesaos animais, melhor organizaçãoe concentração numa só zonados efetivos em exposição comum novo layout. Deste modo, osvisitantes poderão apreciar equi-nos, bovinos, caprinos, ovinos esuínos, entre outras espécies,sem percorrer grandes distân-cias.A organização pretende ainda re-forçar a aposta na colocação demais sinalética bem como na re-ciclagem. Só em 2014, foramproduzidas 110 toneladas de lixo.Em parceria com a Resitejo – As-sociação de Gestão e Tratamen-to dos Lixos do Médio Tejo, o re-

cinto terá diversas “baterias” paraseparação dos resíduos (papel,vidro e embalagens). Neste con-texto, a Resitejo e a SociedadePonto Verde, vão dinamizar umespaço com 150 m2 cujo objetivoé alertar para a importância destatemática. Paralelamente, e emcolaboração com a empresa RuiNeta, Lda, também se fará a re-colha de óleos alimentares.Na edição deste ano, a Feira Na-cional de Agricultura e a CP esta-beleceram para este evento umaparceria que permitirá aos visi-tantes do certame viajar de com-boio com bilhetes mais baratos.Neste âmbito, a CP – Comboiosde Portugal proporcionará aos vi-sitantes da Feira 30% de descon-to, em viagens de ida e volta, emqualquer classe, entre os dias 5e 15 de junho de 2015, nos com-boios Alfa Pendular, Intercidades,Regionais e Inter-regionais. Odesconto é válido para viagenscom destino/origem - a estaçãode Santarém, não sendo cumula-tivo com outros descontos oupromoções em vigor.À semelhança dos outros anos,decorrerá em paralelo a Lusoflo-ra; a Fersant; o Salão Prazer deProvar entre outras iniciativas.

Este ano, e a nível dos debates ecolóquios, a floresta portuguesaestará em destaque. “Embora afeira coincida com o início dafase crítica dos incêndios, contu-do a data do certame é algo quenão mudamos”, referiu Mira, emconferência de imprensa.A nível dos esperados concertos,atuam na feira: The Gift a seis dejunho; Tiago Bettencourt a 9; Da-vid Antunes no mesmo dia; osAzeitonas a 12 e Anselmo Ralpha 13 de junho. Com mais de 203 mil visitantesregistados na edição anterior, in-cluindo 30 mil profissionais, “aFeira Nacional de Agricultura é amais importante e representativamontra da agricultura portugue-sa”, refere a organização. Recor-de-se que nas três últimas edi-ções cerca de seis mil profissio-nais participaram nestas iniciati-vas.A Feira contará com a participa-ção de várias personalidades,marcando a agenda política eeconómica ao longo dos novedias do evento e contribuindotambém para o debate em tornodos programas e das políticas dosetor agrícola. O certame conta,na zona exterior, com uma expo-

sição de maquinaria agrícola quepermitirá aos visitantes observare experimentar os modelos ino-vadores.

A Associação para a Competitivi-dade da Indústria da Fileira Flo-restal vai estar presente na Feiracom um espaço dedicado à flo-

resta, contando com a participa-ção de algumas das empresasmais representativas do setor.

Apresentação à imprensa de mais uma edição do certame

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18 Valor LocalAmbiente

Arrancaram os trabalhos de campono Canhão Cársico da OtaJá começaram os trabalhos de

campo no Canhão Cársico daOta, Alenquer, com o objetivo doestudo e caracterização daquelapaisagem natural. De facto, JoséCarlos Morais, biólogo e propo-nente desta ideia (à qual foi atri-buída uma verba de 45 mil eurosna primeira edição do Orçamen-to Participativo de Alenquer) re-vela que logo após a divulgaçãoda nossa reportagem, na ediçãode janeiro, e foi imediatamentecontactado pela Câmara comvista ao início dos trabalhos.José Carlos Morais falava nessaentrevista na urgência que sen-tia quanto à necessidade de separtir para o terreno o quanto an-tes. Neste momento, decorre a con-tratação das equipas de trabalhoque vão assinar contrato, atra-vés de uma plataforma de com-pras públicas. Estão definidos oscoordenadores de arqueologia,botânica, fauna e de geologia. Jáhá trabalhos a decorrer e embo-ra as conclusões ainda possamser extemporâneas já foi possí-vel observar pormenores muitointeressantes desta paisagemimportante, embora ameaçadapela laboração das pedreiras.

Em princípio, os 45 mil eurosvão chegar nesta fase. “Pensoque vamos conseguir fazer umtrabalho em condições no prazode dois anos, o período aponta-do para o consagrado no nossoprojeto, sendo que não abdica-mos da edição de brochuras, ex-posição e seminário de divulga-ção”, refere José Carlos Morais.A título de exemplo, refere que aequipa abdicou de algum mate-rial mais dispendioso como umdetetor de morcegos por sonar,de forma a não ultrapassar o or-çamento.Para já, foi definido o caderno deencargos, e a equipa. José Car-los Morais expressara em entre-vista ao nosso jornal, no iníciodo ano, querer contar com espe-cialistas do concelho, e nesteâmbito, o responsável pela ar-queologia é de Ota, o de Geolo-gia é de Alenquer, e na parte dabiologia, o coordenador tambémé da casa- Ota. A equipa éapoiada também por especialis-tas da Sociedade Portuguesa deBotânica, e Sociedade Portugue-sa para o Estudo das Aves. “Háum misto de conhecimento cien-tífico aliado ao conhecimento lo-cal que me parece que vai resul-

tar muito bem”. Os jovens cien-tistas são recém-licenciados nassuas áreas, “algo positivo poiscomo se sabe é muito difícil paraos mais novos conseguirem em-prego”.“A única coisa que, neste mo-

mento, faz com que o nosso es-tado de espírito não seja o maisexuberante possível prende-seapenas com alguma burocracianormal nestes processos”, con-fessa.No terreno, foi para já descober-

ta a existência de uma plantarara no país, “uma população dearabis verna”; também foi avista-da uma das maiores aves de ra-pina do mundo, o bufo-real, bemcomo a espécie gineta tambémdesignada por gato bravio. A ní-

vel da arqueologia, “também hásurpresas, mas ainda não se de-terminou a sua importância”.“Tudo o que estamos a encon-trar vem de encontro ao que deimportante já sabíamos existir nolocal”.

Canhão Cársico já começou a ser estudado pelas várias equipas

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19Valor Local Publicidade

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20 Valor LocalDesporto

Miguel Rodrigues, O “Rei” PescadorSe a participação numa gran-

de competição internacionalé o sonho de qualquer atleta,então o jovem azambujense Mi-guel Rodrigues está prestes arealizar esse sonho pela tercei-ra vez.O jovem pescador do GrupoDesportivo de Azambuja, que seiniciou nas lides da pesca quan-

do tinha três anos de idade aoacompanhar o pai e o avô naspescarias familiares; e que en-tre os cinco e os seis anos deidade entrou na pesca de com-petição, vai, agora, passadauma dezena de anos represen-tar mais uma vez a selecção na-cional de sub 18. O campeonatomundial de pesca desportiva

disputar-se-á no próximo mêsde agosto na Sérvia. Miguel Ro-drigues repete, assim, a partici-pação de 2014, a que se juntauma anterior participação em2012 no mundial de sub 14.Mas não se pense que é fácil, otreino exige muita entrega e édesgastante a nível físico pois épreciso contar com longas des-

locações para se treinar nosmelhores locais. Apesar deAzambuja estar junto ao rio Tejoe com a Vala Real aos seuspés, é impossível treinar ali pe-las condições existentes - “Numtreino na Vala Real, o pescadorarrisca-se a deixar no local cer-ca de 20 euros em material per-dido entre bóias, fios e anzóis.E com todas essas perdas, aca-ba por ser mais barato gastarapenas o combustível necessá-rio à deslocação para outro pon-to de pesca”. Por outro lado, ou-tro fator que obriga a que o trei-no seja efetuado noutras zonasdo pais, relaciona-se com a cir-cunstância de este atleta prati-car uma pesca de pista, com es-

pecificidades que não existemnum rio devido a diversos fato-res tais como as correntes e asmarés. Segundo o atleta e o seu treina-dor Alexandre Rodrigues, emPortugal, a pesca desportiva éuma modalidade amadora, edesta forma, vive à base da boavontade de alguns clubes e dospescadores. “Como não é umamodalidade mediática que ar-raste multidões, os patrocíniossão difíceis de obter”, consta-tam.Por outro lado, a pesca de altacompetição, segundo AlexandreRodrigues, não é uma modali-dade barata: “Uma cana podecustar entre 1000 a 5000 euros,

a que acresce todo o outro ma-terial para treino e competição,como iscos, anzóis, engodo,fios; sem esquecer as despesascom a alimentação e as deslo-cações para treinos.” No casode Miguel, este estima que se-manalmente tenha uma despe-sa de cerca de 80 euros com amodalidade.Mas todos estes sacrifícioscompensam, como provam osresultados alcançados por Mi-guel Rodrigues desde 2008, nosquais se contam um título regio-nal de sub 14, dois regionais desub 18, num percurso que foicoroado no ano de 2014 com otítulo de campeão nacional desub 18.

Prova de motonáutica que causoupolémica no Escaroupim játem nova data

Será a 26 de setembro que se vai realizar a etapa que chegou a estar programada para junho do cam-peonato nacional de motonáutica, no Escaroupim.

Na base da mudança de data, a circunstância de se ter verificado que a prova coincidia com o períodode nidificação das aves que escolhem aquele local da paisagem de Salvaterra de Magos que motivouuma onda de protestos da Quercus. A Câmara e a federação de motonáutica voltaram atrás na decisão,mas agora já foi dada a conhecer a nova data que à partida não será suscetível de novos protestos porjá não chocar com o ciclo de nidificação das aves que povoam aquela paisagem.O presidente da Câ-mara, Hélder Esmé-nio, referiu que “nuncateve intenção de inter-ferir de forma negativacom o normal habitatdas espécies”, salien-tando que todas asentidades envolvidas -Câmara, federação eQuercus acordaramna nova data. Subli-nhou o autarca, emreunião de Câmara,realizada no dia 6 demaio, que a federaçãoprocura reduzir os im-pactes ambientais nassuas provas, com autilização de óleosbiodegradáveis e ta-petes absorventes.

Miguel Rodrigues e um dos seus troféus

Prova passou de junho para setembro

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21Valor Local Publicidade

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22 Valor LocalOpinião

A feira de maioEstamos às portas de mais uma

Feira de Maio. Da CentenáriaFeira de Maio de Azambuja. Mascomo todas os acontecimentoscentenários, a nossa Feira evoluiu,à medida que foram evoluindo avila, a vida das pessoas, a socie-dade, a estrutura do Concelho eas características da sua popula-ção.Tenho algum orgulho em poderafirmar que, durante os meus dozeanos de mandato como Presiden-te da Câmara, a Feira de Maioalargou os seus horizontes, ex-pandiu-se para o Ribatejo, o Paíse até o estrangeiro, diversificou-see adaptou-se aos tempos moder-nos, sem perder as suas caracte-rísticas nucleares de certame deexaltação e vivências ribatejanas.Hoje, a Feira de Maio é um grandecertame, nas rotas do turismo cul-tural nacional, num trabalho depromoção organização e divulga-ção que, é justo referi-lo, foi inicia-do por quem me antecedeu na

Câmara e ao qual tem sido dadacontinuidade entusiástica porquem me sucedeu.Particularmente, e para além dasdiversas iniciativas da Feira –agradam-me mais umas que ou-tras, como em todas as coisas davida…-, existem alguns aspectosque julgo dever realçar.A Feira de Maio é, naturalmente,uma manifestação coordenada eexecutada em termos logísticospelo Município, mas o que lhe atri-bui um carácter peculiar é o factode ser participada por toda a popu-lação. Não é uma festa que apare-ça feita, é um processo que se vaifazendo ao longo de todo o ano,que acelera e Março e Abril e noqual todos participam.A Feira de Maio contribuiu, paraalém dos seus aspectos festivos edos seus componentes sociais,duma forma definitiva para trêsgrandes objectivos estratégicos noperíodo em que presidi à Câmara:preservar a nossa identidade en-

quanto comunidade, fomentar oconvívio dos azambujenses eaproximar todas as pessoas dasdiversas Freguesias, fomentandoassim a coesão do Concelho de

Azambuja, de Vila Nova da Rainhaa Vila Nova de S. Pedro.Penso que a marca cultural daFeira de Maio contribuiu e contri-bui muito para que Azambuja não

seja engolida pela expansão dagrande Lisboa (do ponto de vistacultural, evidentemente). O fomen-to da convivência entre os Azam-bujense, até na vertente intergera-cional, dos emigrantes que regres-sam na Feira, dos amigos que sereencontram, é bem patente no in-cremento que o movimento Tertu-liano teve ao longo dos últimosanos. Hoje, é impossível pensar aFeira de Maio dissociada da cen-tena de Tertúlias que se foramconstituindo e são hoje os princi-pais dinamizadores da Feira. Porúltimo, a iniciativa da Praça dasFreguesias, para além de dar aconhecer a todos a gastronomia ea cultura particular de cada fregue-sia, é também um local de reen-contro de amigos, de coesão so-cial, de defesa daquilo que é anossa cultura específica.Naturalmente que muito mais ha-veria a dizer sobre a nossa Feirade Maio, mas como diria Camões,melhor é experimentá-la que julgá-

la e já se contam pelos dedos dasmãos os dias que faltam para queesta grande festa de exaltação doRibatejo, de reencontros e ale-grias,de aromas e sabores, enchaas ruas de Azambuja.PS: Apesar de, a partir de ontem,o (des)acordo ortográfico, passara ser obrigatório, continuo a escre-ver da mesma forma. Primeiro,porque burro velho não aprendelínguas. Segundo, porque respeitoa versão brasileira da língua portu-guesa, mas não me ajoelho peran-te ela.

Segredos da JustiçaO recibo eletrónico nos arrendamentosCom a entrada em vigor da

Portaria n.º 98-A/2015, de 31de março, a emissão do recibode renda eletrónico passou a serobrigatória desde o dia 1 de ja-neiro de 2015, devendo os reci-bos de rendas relativos aos me-ses de janeiro a abril, inclusive,ser passados conjuntamentecom o recibo a emitir no presentemês de maio. Apesar deste pra-zo, o Governo veio clarificar queaté ao dia 01/11/2015 não há lu-gar ao pagamento de qualquercoima caso os recibos entretantoentregues pelo senhorio não te-nham sido emitidos através doPortal das Finanças Sublinhe-se que nem todos ossenhorios estão obrigados a emi-

tir recibo de renda eletrónico, en-contrando-se dispensados destaobrigação todos aqueles que cu-mulativamente (i) não possuam,nem estejam obrigados a possuircaixa postal eletrónica, nos ter-mos do artigo 19.º da Lei GeralTributária, (ii) e não tenham aufe-rido, no ano anterior, rendimentosprediais (categoria F) em montan-te superior a duas vezes o valordo IAS (838,44 €) ou, não tendoauferido naquele ano qualquerrendimento desta categoria, pre-vejam que lhe sejam pagas oucolocadas à disposição rendasem montante não superior àquelelimite.Também os senhorios que te-nham idade igual ou superior a 65

anos (aferidos a 31 de dezembrodo ano anterior àquele a que res-peitam os rendimentos prediais)estão dispensados da obrigatorie-dade de emissão do recibo derenda eletrónico, mesmo quepossuam a caixa postal eletrónica(serviço ViaCTT). Esta dispensaabrange igualmente as situaçõesde contratos de arrendamento deimóveis pertencentes a uma he-rança indivisa e cujo cabeça decasal tem mais de 65 anos deidade.Outra questão que importa desta-car é a de que a emissão do reci-bo de renda electrónico não éapenas obrigatório para os rendi-mentos provenientes de contratosde arrendamento. De facto, a

emissão do recibo de renda ele-trónico é igualmente obrigatóriapara (i) as importâncias relativasà cedência do uso do prédio oude parte dele e aos serviços rela-cionados com aquela cedência,onde se inclui o arrendamento,bem como a promessa do arren-damento com a entrega do bemlocado; (ii) as importâncias relati-vas ao aluguer de maquinismos emobiliários instalados no imóvellocado; (iii) a diferença, auferidapelo sublocador, entre a renda re-cebida do subarrendatário e apaga ao senhorio; (iv) e as impor-tâncias relativas à cedência douso, total ou parcial, de bens imó-veis para quaisquer fins espe-ciais, designadamente publicida-

de; (v) as importâncias relativas àcedência do uso de partes co-muns de prédios em propriedadehorizontal. Como é óbvio, não existe a obri-gação de emissão do reciboquando não se tiver recebidoqualquer importância, pois o reci-bo – seja ele eletrónico ou não - éum documento de quitação, peloque o mesmo só deve ser emitidoquando existir recebimento deuma determinado valor.Por isso, no caso de ter sido emi-tido um recibo de renda eletrónicopelo senhorio e o inquilino nãopague a renda, é sempre possívelanular esse recibo até ao final doprazo de entrega da declaraçãode IRS Modelo 3 do ano a que

respeita a renda a anular, sendoque essa anulação tem de sersolicitada pelo emitente do recibono Portal das Finanças e deter-mina a comunicação desse facto,pela Autoridade Tributária eAduaneira, à pessoa/entidade aquem o recibo havia sido emitido. E aqui concluo os breves apon-tamentos sobre o novo regimedo recibo de renda eletrónico.

António Jorge LopesAdvogado

Joaquim António Ramos

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23Valor Local Publicidade

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www.valorlocal.pt

O Tesouro da Feira de Maio

Razões para preocupação coma reestruturação do setor das águas

Em Maio de 2009 a CâmaraMunicipal de Azambuja publi-

cou um livro para crianças, cujo tí-tulo era “Em Busca do Tesouro daFeira de Maio”. Esse livro relatavaa ansiedade que toma conta denós quando se aproxima maisuma Feira de Maio, as brincadei-ras que as crianças têm na escolae que aqueles que vieram paraAzambuja, muito recentemente,não percebem, “brincar aos toi-ros”. Fala também da satisfação que éreceber familiares e amigos, quese juntam a nós, em nossa casa,para assistir aos toiros, das pare-des das tertúlias repletas de fotose cartazes, dos lenços das maisvariadas cores que identificam atertúlia a que determinada pessoaestá mais ligada. Também referecomo nesses dias temos as nos-sas casas a abarrotar, algumassão pessoas amigas de longadata, outros nem tanto, mas todassão recebidas de igual forma.

A determinada altura, o pai deuma das crianças do livro disseaos filhos que lhes ia confiar umsegredo muito importante sobre aFeira de Maio. “Existe um tesourona Feira que só os bafejados pelasorte e com um espirito abertoconseguem encontrar. É um te-souro infinito, mas que torna to-dos os que o descobrem mais ri-cos e felizes.” Começou a odis-seia dos miúdos, tentar encontrartão fabuloso tesouro. Para os aju-dar o pai deu-lhes o mapa da vilade Azambuja, porque o tesouropoderia estar em qualquer lugar.Procuraram incessantementepelo tesouro, só abrandavam aprocura quando as largadas co-meçavam. Quando não havia tou-ros na rua ou atividades comcampinos, procuravam em todo olado e perguntavam às pessoascom quem falavam se os podiamajudar a encontrar o tesouro. Umtio com quem falaram disse queconhecia o tesouro da Feira de

Maio, mas não os podia ajudar,que teriam de encontrar o tesourosozinhos. Deu-lhes apenas umapista: o tesouro que procurampode estar em qualquer lado. Chegou o domingo de manhã edo tesouro, NADA… No fim dodia de segunda-feira, estavammuito preocupados, divertidos,mas preocupados, a Feira estavaa terminar e não conseguiam en-contrar o tesouro. A Feira tinhasido fantástica, eles tinham-se di-vertido muito e antes de se des-pedirem resolveram fazer umpacto de amizade, esticaram to-dos os braços, de punhos fecha-dos e disseram: “Um por Todos eTodos por Um, Amigos para Sem-pre”. Sem darem por isso, o paide um deles entrou na sala e dis-se: “Vejo que encontraram o te-souro”. Os miúdos pensaram queo pai estava afetado da cabeçacom tantas noites mal dormidas.Onde é que ele estava a ver o te-souro? O pai sorriu e respondeu

que o tesouro era a Amizade.Mais que tudo o resto, a amizadeque nos une nestes dias suplantatudo, mas como diz no livro nãoestá ao alcance de todos…A Feira de Maio não é proprieda-de de ninguém, a Feira de Maionão reconhece patrões, todos so-mos iguais, ainda que alguns,com mais responsabilidades, masporque as quiseram ter. Nuncaaqueles que há muito descobri-ram o tesouro da Feira de Maiopermitirão que a mesma seja usa-da como arma política, para servirmesquinhos interesses que emnada dignificam a nossa Feira.Diz o meu parente e amigo Se-bastião Mateus Arenque que en-quanto houver campinos nãomorre o Ribatejo, todos temos odever de defender o Nosso Riba-tejo. Temos um governo que tudo vi-gia, tudo quer controlar. Até aoano passado os campinos da Fei-ra de Maio recebiam uma peque-

na gratificação por participaremnas atividades da Feira, essa gra-tificação era paga como prémio.Este ano já não poderá ser assim,todos os campinos, dos mais no-vos aos mais velhos, para rece-beram essa pequena gratificaçãoteriam de ir às Finanças e à Se-gurança Social buscar uma decla-ração de não dívida às mesmas.Alguém de bom senso acreditaque eles o fariam? Correríamossérios riscos de não poder contarcom alguns, mas como a Câmarae todos nós queremos contar comtodos os campinos e eles mere-cem essa pequena gratificação,decidiu a Câmara fazer um proto-colo com a Poisada do Campinopara mais facilmente poder fazerchegar essa gratificação aosmesmos. Qual é o problema? O problema são as mesmas pes-soas de sempre, que em tudovêem problemas, o objetivo ésempre e apenas um, meter areia

na engrenagem… Mas eles estãoidentificados… são sempre osmesmos… por isso nunca mere-ceram e dificilmente merecerão aconfiança do povo do Concelhode Azambuja.Vamos ter o espirito aberto, fazerdesta Feira de Maio um Hino àAmizade, e que o Largo do Muni-cípio seja pequeno para tantoscampinos. Nesta Feira, se Deus quiser, queninguém se magoe.Viva Azambuja, Viva o Ribatejo,Viva a Feira de Maio.

Quando se estuda o setor daságuas percebe-se que se trata

de área muito propensa a emoçõese pouco virada para a implementa-ção de soluções racionalmenteconcebidas e discutidas. Meios-ter-mos, múltiplos objetivos, complexi-dade de modelos e falta de clarezana definição das funções dos inter-venientes e na comunicação de so-luções expõem o setor a acessose pouco esclarecedores debates.Importa recordar que em termosorganizacionais, desde a conceçãode um modelo complexo na primei-ra metade da década de 1990,tem-se assistido em Portugal a su-cessivos avanços e recuos na ma-téria. O assunto voltou a estar naordem do dia desde a apresenta-ção em 2014 de um plano de rees-truturação do setor das águas (edo grupo Águas de Portugal - AdP)pelo Governo português, em con-sequência dos resultados insatisfa-tórios, em matéria organizacional e

tarifária, do Programa Estratégicode Abastecimento de Água e deSaneamento de Águas Residuais(PEAASAR II). O plano de reestru-turação apresentado tem sido jus-tificado com argumentos de pro-moção da eficiência e sustentabili-dade económico-financeira, entreoutros. Em consequência, duas or-dens de preocupações emergem:a primeira relacionada com a ne-cessidade e a adequação do mo-delo de reorganização aos objeti-vos definidos e a segunda com apotencial preparação da privatiza-ção da AdP.No que toca à primeira preocupa-ção, o problema não está, em abs-trato, nos objetivos definidos noplano, reconhecidas que são, de-signadamente, as virtudes da ges-tão integrada do recurso ou as ca-raterísticas de monopólio natural,de base local ou regional, do setor.O problema parece estar antes nacapacidade do modelo traçado

para assegurar, em particular, asustentabilidade económica defen-dida. De facto, a agregação dosatuais 19 sistemas multimunicipaisem 5 mega sistemas não garanteper se a promoção de tais objeti-vos. Neste sentido, é preciso per-ceber que as economias de esca-la, de gama e de processo não sãoinfinitas, pelo que se as escalas efi-cientes forem ultrapassadas entrar-se-á em zonas de rendimentos de-crescentes. A própria lógica dagestão integrada do recurso, ne-cessária para a recuperação inte-gral de custos (conforme imposi-ção da Diretiva Quadro da Água),que faz todo o sentido à escala dabacia hidrográfica, é amplamenteextravasada pelo modelo de fusãodefendido, que vai para além dodomínio, não só da bacia, como daregião hidrográfica. Em relação aos receios relaciona-dos com a privatização (ainda quea mesma tenha sido negada, já em

2015, tanto pelo ministro do Am-biente, Ordenamento do Territórioe Energia, como pelo presidenteda AdP) este também não é temanovo em Portugal. Desde 1993 épermitida a participação privada nosetor, sob a forma de concessãodo direito de exploração (privatiza-ção em sentido lato). Acresce quea preocupação com o saneamentofinanceiro do grupo AdP parece se-guir outros exemplos da história re-cente de Portugal, com o sanea-mento financeiro de empresas pú-blicas a preceder a sua privatiza-ção. Para além disto, exemplos in-ternacionais, como o caso inglês,seguiram um processo semelhan-te: agregação e posterior privatiza-ção da propriedade. Neste âmbito,a teoria económica permite-nosperceber que não é o tipo de pro-priedade que condiciona a promo-ção da eficiência mas antes a con-corrência. E aqui chegados, o pro-blema ganha nova dimensão, na

medida que não existe campo paraa promoção da concorrência em si-tuações que uma única empresagera a solução mais eficiente. Preocupações com a reestrutura-ção do grupo AdP e, mais em con-creto, com a resolução do déficetarifário, estão reveladas em legis-lação recente, por exemplo na Leida Fatura Detalhada (Lei n.º12/2014 de 6 de março). Esta Leiimpõe que as faturas detalhadasaos utilizadores finais incluam adecomposição das componentesde custo do serviço prestado, de-signadamente o custo do serviçoem “alta”. Define também que apercentagem do produto da co-brança de cada fatura emitida pelaentidade gestora do sistema muni-cipal a afetar ao pagamento dosserviços prestados pela entidadegestora do sistema multimunicipalé de 50 % sobre o valor da fatura,em caso de dívidas dos municípiosà AdP (decorrentes, muitas vezes,

da imposição de consumos míni-mos inadequados nos contratos deconcessão).Não será, porém, a obrigatorieda-de de afetação de metade das re-ceitas dos sistemas em “baixa” aopagamento de dívidas aos opera-dores da “alta” que irá resolver asua sustentabilidade económica amédio e longo prazo e, ainda me-nos, se se persistir em avançarcom um modelo de agregação queultrapasse as escalas eficientes.

*Faculdade de Economiada Universidade de Coimbra

António José Matos

Rita Martins*

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A caixa de Azambuja foi constituída a 13 de Dezembro de 1927.Consta da 1º Acta da sessão ordinária da Direção realizada a 12 de Janeiro de 1928que “Tomaram conhecimento do ofício nº 452 da Direção Geral do Crédito Agrícola 1ºdivisão, comunicando que por despacho Ministerial de 14 de Dezembro de 1927 foramsuperiormente aprovados os estatutos, por que se deve reger a Caixa de Crédito Agrí-cola Mútuo do Concelho de Azambuja que foi publicado no Diário do Governo nº286– 2º Série de 20 de Novembro de 1927”. Esta sessão foi presidida pelo “director maisvelho” João Gerardo Garcia da Maia. Além do presidente, faziam parte da direção ossenhores, Nuno Paulo da Silva de Noronha e Pedro António Abreu, que na ocasião“prometeram todo o seu esforço e boa vontade no sentido de conquistar o maior nú-mero de interesses para esta Caixa e também a confiança absoluta de todos os as-sociados”.É uma instituição especial de Crédito sob a forma Cooperativa, cujo objetivo era ape-nas o exercício de funções de crédito agrícola em favor dos seus associados. Atual-mente pratica todos os demais atos inerentes à atividade bancária, e rege-se pelasnormas aplicáveis às Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras e pelo RegimeJurídico do Crédito Agrícola.Tem como órgãos superiores de representação e coordenação a FENACAM – Fede-ração Nacional das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo e a Caixa Central, e pertenceao sistema Integrado do Crédito Agrícola Mútuo, constituindo um grupo que se temmodernizado em consonância com o reforço dos seus laços com as comunidades lo-cais, em cujo seio teve a sua origem.A FENACAM coordena e representa as Caixas Agrícolas a nível Nacional e Internacio-nal, e promove auditorias, e apoio técnico de retaguarda, e produção documental.A Caixa Central, representa as Caixas, que são bancos rurais e locais, junto do Bancode Portugal, administra os excedentes líquidos das mesmas, podendo investir emmercados de capitais. Tem o dever de orientação e fiscalização dos serviços a nívelNacional, e procede a todas as operações bancárias incluindo as de âmbito Interna-cional.A caixa de Azambuja, cuja sede atual foi inaugurada em 23 de Outubro de 1983, tinhaem 31 de Dezembro de 2014, 2.013 associados. Além do Balcão Sede, dispõe de mais 4 Delegações:- Alcoentre, inaugurada em 27 de Junho de 1982;- Aveiras de Cima, inaugurada em 3 de Outubro de 1982;- Manique do Intendente, inaugurada em 2 de Fevereiro de 1986;- Vila Nova da Rainha, inaugurada em 2 de Fevereiro de 2002.Atualmente a Caixa de Azambuja, para além das operações de âmbito estritamenteagrícolas – investimentos, atividade produtiva e de bem-estar rural, está autorizadapelo Banco de Portugal a executar operações não agrícolas a não associados e as-sociados, dentro de determinados limites impostos por lei.A gestão cabe a uma Administração eleita em Assembleia Geral por períodos de 3anos, Administração essa, composta por um presidente e dois vogais.- Como órgão de fiscalização, também eleito em Assembleia Geral por igual período,possui um Conselho Fiscal composto por um presidente, e dois secretários, e aindaum revisor oficial de contas, eleito pela assembleia geral sob proposta do ConselhoFiscal. - Entre outras competências importantes, cabe à Assembleia Geral, a apreciação evotação do Relatório e Contas, do plano e orçamento e a eleição dos órgãos sociaisda Caixa.

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O responsável da delegação de Alcoentre, Firmino Morgado

O responsável da delegação de Aveiras de Cima, Joaquim Varino

A responsável da delegação de Manique do Intendente, Ana Paula

A responsável da delegação de Vila Nova da Rainha, Anabela AnastacioA Subgerente da Caixa de Crédito Agrícola de Azambuja, Sónia Real

Breve resenha histórica

Caixa Agrícolade Azambuja

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Caixa de Crédito AgrícolaMútuo de Azambuja

Desde 1927A Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Azambuja é uma insti-tuição de Crédito sob a forma cooperativa, fundada a 13 deDezembro de 1927. O objetivo inicial era apenas o exercíciode apoio financeiro às atividades agrícolas, limitações entãovigentes sobre todo o Crédito Agrícola em Portugal. Com o tempo a persistência, e o reconhecimento da sua for-ma tradicional de atuar, virada para o cliente e não para osacionistas, o Crédito Agrícola em Portugal, à semelhança dosseus parceiros Europeus, foi conquistando o seu espaço nopanorama financeiro Português, posicionando-se atualmentecomo um grupo capaz de dar respostas a todas as questõesque em termos de operações bancárias, possam ser coloca-das.A Caixa Agrícola de Azambuja integrante do Crédito Agrícolaem Portugal, faz parte dos Bancos cooperativos Europeusque historicamente têm desempenhado um papel importan-tíssimo e central no desenvolvimento das economias locais,designadamente no apoio à agricultura, à indústria e ao co-mércio. Atualmente os Bancos cooperativos Europeus Repre-sentam 40% do sector financeiro Europeu. Nalguns países,como é o caso da Alemanha e da França, os Bancos coope-rativos representam já 60% a 70% do sector financeiro des-ses países. Os bancos cooperativos demonstraram granderesiliência na recente crise financeira.A caixa de Azambuja tem como órgãos superiores de repre-sentação e coordenação a Caixa Central e a FENACAM – Fe-deração Nacional das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo - queatualmente a Caixa de Azambuja preside. A Caixa de Azambuja pertence ao Sistema Integrado do Cré-dito Agrícola Mútuo (SICAM) grupo este, que tem vindo a mo-dernizar-se não só como resposta às exigências cada vezmaiores e mais complexas dos reguladores, mas também,para manter e ampliar o seu espaço num mercado cada vezmais concorrencial.Dentro da sua área geográfica de atuação, a Caixa tem vindoa conquistar mercado tanto na captação de recursos comona concessão de financiamentos, dispondo de capacidade deanálise e razoável assunção de riscos, aplicando os recursosdisponíveis de acordo com as regras de boa gestão e políti-cas de desenvolvimento do território; é pois um banco comfortes ligações ao tecido produtivo local, com uma rede decinco balcões cobrindo todo o território do Concelho deAzambuja e que apoia não só os sectores específicos ligadosaos investimentos agrícolas e agroalimentares mas tambémtodos os outros sectores de atividade e que se pauta por umposicionamento de proximidade ligado sempre aos interes-ses e iniciativas locais, aos atores sociais e à solidariedade.

Conselho de administração Caixa Agrícola de AzambujaJosé Silva Rocha - Vogal, Francisco João Silva - Presidente, Lourenço José Luzio - Vogal

O Gerente da Caixa de Crédito Agrícola de AzambujaAntónio Silva P

ublic

idad

e