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FACULDADE VERDE NORTE – FAVENORTE
CURSO DE QUÍMICA
ELIZANDRA ROSA FROTA
O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS ENTRE OS
ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DA
ESCOLA ESTADUAL PREFEITO ODÍLIO
FERNANDES COSTA
MATO VERDE – MG
JULHO - 2011
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ELIZANDRA ROSA FROTA
O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS ENTRE OS
ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DA
ESCOLA ESTADUAL PREFEITO ODÍLIO
FERNANDES COSTA
Trabalho apresentado à Faculdade Verde Norte –
FAVENORTE, como requisito obrigatório do curso de
Química para obtenção do título de licenciatura em
Química.
Área de concentração: Química
Orientador: Prof. Wesley dos Reis Mesquita
MATO VERDE – MG
JULHO - 2011
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FROTA, Elizandra Rosa. O consumo de bebidas
alcoólicas entre os alunos do ensino fundamental e
médio da Escola Estadual Prefeito Odílio Fernandes
Costa
Mato Verde: FAVENORTE/MG
Curso de Química/2011
Número de páginas: 54
Monografia (licenciatura)
FACULDADE VERDE NORTE – FAVENORTE
CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
ATA DE DEFESA DE TRABALHO DE
CONCLUSÃO DE CURSO
ACADÊMICO (A): ELIZANDRA ROSA FROTA
TÍTULO: O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS ENTRE OS ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL PREFEITO ODÍLIO FERNANDES COSTA
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi avaliado adequado à obtenção do grau de
Licenciado em QUÍMICA e APROVADO (A) em sua forma final pelo Curso de
Licenciatura em Química da Faculdade Verde Norte – FAVENORTE.
Mato Verde – MG, ___ de julho de 2011.
___________________________________________________
Coordenadora: Alisson Rondinelly
Faculdade Verde Norte – FAVENORTE
___________________________________________________
Prof. Wesley dos Reis Mesquita
Faculdade Verde Norte – FAVENORTE
AGRADECIMENTOS
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Agradeço à Deus primeiramente, meu pai, minha mãe,
Além de meus colegas e amigos e parentes que me
Deram total apoio para chegar até aqui.
6
Dedico este trabalho a todos que direta ou
indiretamente contribuíram para que eu
pudesse chegar até aqui, principalmente meus
professores e colegas de classe, além é claro
de minha família que sempre esteve comigo
nos momentos difíceis.
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“(...) O adolescente busca elaborar uma síntese
dessas contradições: encontrar um novo
sentido para si mesmo e como ser-no-mundo.
Tudo isso caracteriza a crise de identidade que
permeia essa etapa da vida, cuja elaboração é
de fundamental importância para a
personalidade (ZAGO, 2002).”
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RESUMO
Nos últimos anos o consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes tem crescido abruptamente devido a forte influência neste aspecto exercida pela mídia, pela sociedade em geral, pela família e principalmente por uma visão utópica da bebida como sendo algo que alegra, socializa e é sempre usada em datas comemorativas. O perigo destas constatações não reside somente no aspecto social, físico e psicológico do usuário, mas evidencia também problemas escolares, familiares e até mesmo de comportamento, sendo que o jovem alcoólatra pode estar abrindo a porta para drogas bem mais potentes como maconha, cocaína ou crack. Os efeitos devastadores desta utilização massiva do álcool vão desde a euforia até o coma, passando pelo câncer, cirrose hepática e outras dezenas de possíveis enfermidades e nesse sentido a presente pesquisa monográfica pretende analisar este grave problema social buscando alternativas efetivas para a solução a curto e médio prazo deste problema e tomando como base o público estudantil dos anos finais do Ensino Fundamental e Médio da Escola Estadual Prefeito Odílio Fernandes Costa de Santo Antônio do Retiro - MG onde será realizada uma pesquisa direta de campo e para maiores constatações será realizada também uma pesquisa bibliográfica com Almeida (2008), Zago (2007), Soldera et.al. (2004), Lepre (2005), Catozzi (2010), Pinsky (1995), dentre outros.
Palavras-chave: Bebida alcoólica. Estudantes. Família.
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ABSTRACT
In recent years the consumption of alcohol by teenagers has risen steeply due to the strong influence exerted by the media in this regard by society in general, and especially the family of a utopian vision of the drink as something that cheers, socialize and is always used in anniversaries. The danger of these findings lies not only in social, psychological and physical user, but also shows problems in school, family and even behavior, and the young alcoholic may be opening the door to much more potent drugs such as marijuana, cocaine or crack. The devastating effects of this massive use of alcohol ranging from euphoria to coma, going through cancer, liver cirrhosis and dozens of other possible illnesses and in that sense this research monograph to examine this serious social problem and seeking effective alternatives to solve the short and medium term this issue and building on the student audience of the final years of the Elementary and Middle School State Odílio Mayor Fernandes Costa de Santo Antônio do Retiro - MG will be held where a lookup field and for further findings will be also carried out a search literature with Almeida (2008), Zago (2007), Soldera et.al. (2004), Lepre (2005), Catozzi (2010), Pinsky (1995), among others.
Keywords: Alcoholic beverage. Students. Family.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1:RELAÇÃO SENSIBILIZAÇÃO X TOLERÂNCIA ...............................17
FIGURA 2: EFEITOS DO ÁLCOOL......................................................................18
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: RISCOS À SAÚDE X CONSUMO DE ÁLCOOL.............................23
QUADRO 2: CONTEÚDO DAS PRINCIPAIS BEBIDAS EM NOSSO MEIO.......30
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: USO DA BEBIDA ALCÓOLICA......................................................40
GRÁFICO 2: IDADE DA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COM ÁLCOOL.................41
GRÁFICO 3: O ÁLCOOL E OS ACIDENTES DE TRÂNSITO.............................41
GRÁFICO 4: OS PROBLEMAS QUE O ÁLCOOL PODE CAUSAR....................42
GRÁFICO 5: RELAÇÃO FAMILIA E ALCOOLISMO...........................................43
GRÁFICO 6: CAUSAS PARA A UTILIZAÇÃO DO ÁLCOOL..............................44
GRÁFICO 7: O ÁLCOOL E A ESCOLA...............................................................45
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SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO................................................................................................12
1.1 – FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................12
1.2 – OBJETIVOS.................................................................................................12
1.2.1 – Objetivo Geral ...........................................................................................12
1.2.2 – Objetivos Específicos................................................................................13
1.3 – JUSTIFICATIVA ..........................................................................................13
1.4 – HIPOTESES ................................................................................................13
2 - REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................14
2.1 – O adolescente e o álcool..............................................................................14
2.2 – Os efeitos do álcool no corpo.......................................................................20
2.3 – Causas, consequências e possíveis soluções para o uso do álcool pelos
adolescentes.........................................................................................................26
3 – METODOLOGIA.............................................................................................40
3.1 – Caracterização de estudo.............................................................................40
3.2 – População.....................................................................................................40
3.3 – Amostra........................................................................................................40
3.4 – Instrumentos.................................................................................................40
3.5 – Procedimento de coleta de dados................................................................41
3.6 – Dados estatísticos........................................................................................40
3.7 – Cuidados éticos............................................................................................40
4 – DISCUSSÃO...................................................................................................42
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................49
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ..............................................................50
7 – APÊNDICE .....................................................................................................50
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1. INTRODUÇÃO
O alcoolismo é um problema social e traz consigo consequências
desastrosas para o usuário, o alcoolismo apesar de ser uma doença crônica é
tratável e se caracteriza pelo uso contínuo do álcool, interferindo em diversas áreas
sociais.
Dados recentes sobre o uso do álcool pela população brasileira apontam
que 25% d população brasileira adulta, ou seja, cerca de 30 milhões de brasileiros
consomem bebidas alcóolicas mais de uma vez na semana e os bebedores
frequentes e pesados chegam a 10% dos brasileiros, em número isso corresponde a
12 milhões de pessoas (LARANJEIRA et.al.(2007); ZORZELTO,(2007)). De acordo
com Zorzelto (2007) no Brasil 10% das mortes e doenças tem o álcool como
responsável direto e indireto, as passo que no mundo esse índice está entre 3% e
4%. Os acidentes de trânsito são as principais causas dessas mortes, especialmente
no Brasil, 20 mil pessoas morrem todos os anos em acidentes.
No contexto dessa discussão sobre o uso de álcool e outras substâncias
psicoativas, os adolescentes formam o grupo mais vulnerável ao uso de drogas e
aos problemas decorrentes desses. De acordo com Pinsey e Bessa (2004) o período
da adolescência é caracterizado por conflitos psicossociais, pela busca de
integração social e independência, além da consolidação da identidade sexual, tais
processos, entre outros, são fontes de emoções conflitantes e de difícil
entendimento para o próprio jovem.
1.1-FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Quais as consequências causadas aos estudantes do ensino fundamental e médio
da Escola Estadual Prefeito Odílio Fernandes Costa pelo consumo excessivo de
bebidas alcoólicas.
1.2 – OBJETIVOS
1.2.1 – Objetivo Geral
Analisar a prevalência do alcoolismo em escolares e sua influência no ensino.
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1.2.2 – Objetivos Específicos
Avaliar o grau de consumo de bebidas alcoólicas entre escolares;
Analisar fatores predisponentes ao consumo de bebida alcoólica;
Avaliar a percepção dos adolescentes ao hábito do alcoolismo;
Investigar junto aos participantes, experiências de beber com os amigos.
1.3 – JUSTIFICATIVA
No mundo atual a popularização e liberação das chamadas drogas lícitas tem
levado adultos e adolescentes a um elevado consumo de álcool e cigarro, fator que
tem preocupado vários estudiosos do assunto, médicos, demais profissionais da
área da saúde, familiares e amigos. Os motivos para tal abuso diferem de pessoa
para pessoa, porém a legalização, facilidade de acesso e os problemas emocionais
são muitas vezes fatores determinantes para que principalmente os jovens se
insiram nesta vida ilusória, problemática e insalubre. As consequências deste
problema não estão relacionadas somente com o usuário, mas com familiares,
amigos, cônjuges e até pessoas desconhecidas que podem sofrer certos abusos por
uma pessoa fora de si. Por tudo isso é fundamental compreender os motivos e
consequências deste elevado consumo de álcool pelo público adolescente, em
especial os estudantes de ensino fundamental e médio, buscando alternativas
práticas e efetivas para prevenir e combater o abuso do álcool por este público.
1.4 – HIPÓTESES
H0 – O uso excessivo de bebidas alcoólicas influencia na qualidade do ensino;
H1 – O uso de bebidas alcoólicas não influencia na qualidade do ensino;
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 – O ADOLESCENTE E O ÁLCOOL
Segundo Fishman (1998) o período fundamental do desenvolvimento dos
indivíduos, a adolescência marca a transição da infância para a maturidade. É
caracterizada pelo aumento da liberdade e por maior mobilidade social e exige o
rápido desenvolvimento de habilidades em muitas áreas. Os adultos começam a
esperar atitudes mais responsáveis por parte das pessoas que deixam de ser
crianças e cobram dos adolescentes a adoção de comportamentos compatíveis com
os seus. E imitar o comportamento dos adultos inclui beber.
Em 13 de julho de 1990 a Lei Federal 8069 aprovou o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), que estabeleceu a faixa etária de 12 a 18 anos como o
período da adolescência. Dividido em duas partes, na primeira o ECA versa sobre os
direitos da criança e do adolescente; e na segunda sobre as providências para
cumprir a primeira parte e as sanções ou consequências de seu não cumprimento.
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) crianças e adolescentes
são indivíduos em desenvolvimento que necessitam de atenção especial e garantias
de defesa. Portanto, o Estatuto define também que crianças e adolescentes são
cidadãos com direitos, como o direito à convivência familiar e comunitária, direito a
saúde e alimentação, direito à liberdade, respeito e dignidade, direito à educação,
esporte, lazer, ao trabalho e à profissionalização. O ECA prevê também a proteção
integral, a existência de políticas básicas e as medidas de proteção no caso de ação
ou omissão do Estado, da sociedade ou dos pais ou dos responsáveis. Defende,
então, a ação socioeducativa e a proteção, ao invés de ações assistencialistas e
medidas repressivas. O ECA determina que todos são responsáveis pelas crianças
e adolescentes: pais, comunidade, sociedade e Estado.
Becker (1985) apud Zago (2007) aborda que num contexto em que atuam
fatores sociais, culturais, familiares e pessoais, os jovens assumem ideias e
comportamentos completamente diferentes. Há os que querem reproduzir a vida e
os valores da família e da sociedade, há os que contestam, rejeitam e querem
mudar; os que fogem, os que lutam, os que assistem, os que atuam... Enfim,
existem inúmeras escolhas.
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Fierro (1995) explica que quanto ao curso das relações sociais durante a
adolescência, ele está vinculado a vários fatores, principalmente ao desenvolvimento
da personalidade. Importantes elementos evolutivos da identidade pessoal possuem
componentes de relações sociais que, por sua vez, desempenham um papel
importante na gênese dessa mesma identidade.
Zago (2007) afirma que a adolescência, assim, é uma etapa de aquisições,
por exemplo, das operações formais, da internalização da moralidade, de um novo
modo de consciência; e também de profundas e significativas mudanças: físicas,
emocionais, sociais, culturais. Mudanças físicas repentinas, determinadas pela ação
dos hormônios, que muitas vezes incomodam a autoimagem do adolescente;
expectativas próprias, da família e da sociedade quanto a buscar um novo espaço
social, a busca da independência e o temor do fracasso, valores aprendidos na
família contrastados com o do grupo de companheiros, a necessidade de adotar ou
não as normas desse grupo para ser aceito, o desenvolvimento da autoestima, o
despertar para a sexualidade e para a paixão são alguns dos elementos conflitantes
do mundo adolescente. Dada sua capacidade agora de abstração, o adolescente
percebe também que o mundo exterior é contraditório. Isso se agrava quando o
ambiente familiar do adolescente é desorganizado no sentido das relações ali
estabelecidas, em função de problemas psicológicos e sociais que individualmente
os pais vivem e que influenciam a relação conjugal e consequentemente as relações
com os filhos.
Galduroz et.al. (2004) defende que a população jovem é vulnerável às
consequências negativas, e muitas vezes trágicas, do uso de bebidas alcoólicas.
Nos Estados Unidos, o álcool está envolvido nas quatro primeiras causas de morte
entre indivíduos na faixa de 10–24 anos: acidentes de trânsito, ferimentos não
intencionais, homicídio e suicídio. Dados brasileiros associados ao uso de álcool e
estas consequências ainda são escassos. Sabe-se, porém, que os acidentes de
trânsito são frequentemente relacionados à alta concentração de álcool no sangue.
Tais acidentes acontecem mais frequentemente à noite e aos finais de semana e a
maioria dos envolvidos são homens, majoritariamente jovens e solteiros.
Por isso que a adolescência é segundo Zago (2007) o período por excelência
de risco para o ingresso no uso de substâncias psicoativas. Não só pelo fato de
querer experienciar o novo, buscar novas emoções e desafios, mas também
encontrar nessas novas buscas "respostas" para o seu viver. A sociedade, em seus
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diversos segmentos e o poder midiático influenciando o comportamento social, na
maioria das vezes, apontam caminhos mais para a obtenção de objetos de
consumo, menos preocupados então com respostas visando o crescimento interior.
No meio de profundas desigualdades sociais e de uma mídia apelativa para o
consumismo e para pseudovalores da vida, os indivíduos sentem-se incluídos
socialmente quando cumprem com eficácia essas expectativas, ou seja, quando se
movem socialmente para um status considerado melhor pelo consumo, pela mera
aquisição e pela acumulação de objetos. A ideologia, linguagem dos que controlam
o poder, exatamente inculca a confusa percepção social de que padrão de vida é o
mesmo que qualidade de vida. Padrão e qualidade de vida não se excluem, mas o
jogo ideológico faz com que os indivíduos aceitem que basta melhorar o padrão de
vida que a qualidade virá por acréscimo.
Neste sentido o próprio Zago (2007) afirma que:
É em meio a essas contradições que o adolescente ora se mostra altruísta e cooperante, ora se mostra egoísta e transgressor de normas; ora idealista e reformador, ora sem iniciativa de cuidar de seus pertences; ora onipotente e inatingível, ora fragilizado e com baixo limiar à frustração. O adolescente se percebe despojado de sua infância e, ao mesmo tempo, frente a caminhos incertos. Então, com grande carga de angústia, o adolescente busca elaborar uma síntese dessas contradições: encontrar um novo sentido para si mesmo e como ser-no-mundo. Tudo isso caracteriza a crise de identidade que permeia essa etapa da vida, cuja elaboração é de fundamental importância para a personalidade (ZAGO, 2007).
Para Kalina & Grynberb (1985) a adolescência é o segundo nascimento. O
primeiro, evidentemente, é o nascimento biológico, do qual nada lembramos. O que
sabemos do nascimento biológico é pelas informações de nossos pais. Já, a
adolescência, é um novo despertar para vida. É o segundo nascimento, em todos os
sentidos, incluindo o físico, pois o corpo passa por significativas transformações. O
adolescente não pode abrir mão de elaborar esse novo nascimento; precisa ser
sujeito de sua história.
Para Zago (2007) o meio social oferece mais riscos que proteção aos
adolescentes. Não apenas ao problema das drogas, mas no todo. Pais preocupados
com seus filhos adolescentes não se sentem seguros ou tranquilos quando os filhos
saem de casa, mesmo que essas saídas sejam para locais considerados
tradicionalmente seguros, por exemplo, a escola e a Igreja. Pairam, principalmente,
o temor das drogas e o da violência. No que se refere ao álcool, o problema é mais
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grave. Por ele estar tão próximo, tão acessível, deixa a impressão de que é
semelhante a um animal doméstico que não causa mal algum. O álcool está inserido
na cultura, presente nos lazeres e encontros adolescentes, presente dentro das
casas, presente tanto na vida profana como no ritual religioso. Desse modo,
consumir álcool pode parecer normal para o adolescente, sem muita censura ou
orientação por parte dos pais, no entanto o consumo de álcool constitui um grave
problema de saúde pública, com complicações que podem atingir a vida pessoal,
familiar, escolar, ocupacional e social do usuário.
Soldera et.al. (2004) acredita que o uso de bebidas alcoólicas inicia-se cedo
na vida, entre o início e meio da adolescência, com o grupo de amigos ou mesmo
em casa. Este uso implica consequências médicas, psicológicas e sociais, podendo
ser, para muitos indivíduos, o início da trajetória que conduz à dependência do
álcool. Sendo assim, o conhecimento de fatores associados ao uso de álcool na
adolescência é de grande relevância, pois permite intervenções no sentido de
reduzir comportamentos de risco.
Sobre a legalização do álcool Zago (2007), comenta que:
Embora o álcool seja uma droga legalizada e inserida na cultura, há restrições legais quanto a venda e o consumo de bebida alcoólica. A venda de bebida alcoólica é proibida para menores de 18 anos, ratificado pelo artigo 81 do ECA que proíbe a venda a menores de 18 anos "de substâncias com risco de criar dependência”. E o decreto-lei 28.643, em vigor desde agosto de 1998, proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas a menos de 100 metros dos estabelecimentos de ensino. Na prática sabemos que adolescentes consomem bebida alcoólica publicamente, sem que sejam obrigados, pelos locais de venda, a apresentar documento que comprove idade igual ou superior a 18 anos para que a bebida seja vendida. A Lei Estadual (São Paulo) 10.501 de 16 de fevereiro e 2000, determina que estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas devem manter em local visível, e próximo às bebidas expostas, cartazes com os dizeres "Bebida Alcoólica é Prejudicial à Saúde, à Família e à Sociedade" também não é rigorosamente observada (ZAGO, 2007).
Para Lepre (2005) ao contrário das drogas ilícitas, o primeiro contato que a
maioria dos adolescentes tem com o álcool é dentro de casa, sob o olhar
complacente da família, que aceita e tolera esse tipo de substância, passando a
imagem de que o álcool, quando “devidamente” utilizado, tem boas funções, como
promover o encontro social ou o relaxamento após um dia estafante. O problema é
que esse uso nem sempre é devido e o exemplo exibido não é o da taça de
champanha para brindar o ano novo ou o de um copo de chope no final de semana,
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mas de doses diárias para “esquecer” dos problemas ou ficar “um pouco mais
alegre”.
Além da alta prevalência do consumo de álcool por adolescentes, dois
outros fatores são relevantes: a idade de início do uso de álcool e o padrão de
consumo. Estudos sugerem que a idade de início vem se tornando cada vez mais
precoce – no Brasil, a média de idade para o primeiro uso de álcool é 12,5 anos. Por
sua vez, quanto mais precoce a experimentação, pior as consequências e maior o
risco de desenvolvimento de abuso e dependência de álcool (MELONI &
LARANJEIRA, 2004).
Zago (2007) argumenta que pelo álcool estar tão próximo, tão acessível,
deixa a impressão de que é semelhante a um animal doméstico que não causa mal
algum. O álcool está inserido na cultura, presente nos lazeres e encontros
adolescentes, presente dentro das casas, presente tanto na vida profana como no
ritual religioso. Desse modo, consumir álcool pode parecer normal para o
adolescente, sem muita censura ou orientação por parte dos pais. Conforme estudo
apresentado pela UNESCO, "estudantes começam a beber por curiosidade, pelo
desejo de inserção social, para esquecer problemas e para ‘ter coragem’ nas
‘paqueras’”.
Na elaboração de sua identidade o adolescente pode segundo Zago (2007)
perceber que o álcool pode amenizar momentos de angústias e interferir na
elaboração da busca do novo sentido de si mesmo, porém, esse amenizar, pode
implicar num sentido de vida fragilizado. Geralmente, o adolescente percebe que
quando consome álcool "teoricamente as coisas ficam mais fáceis", contudo, não
percebe que, inadvertidamente, pode transformar o consumo de álcool como parte
da busca de seu sentido de vida e de ser-no-mundo, ou seja, tornar o consumo de
álcool como ingrediente indispensável na elaboração de sua crise.
Há segundo Zago (2007) duas espécies de consumidores adolescentes de
álcool o fraco e o forte:
O adolescente fraco (sensível) para o beber é aquele que com uma ou duas doses de bebida alcoólica já se sente alterado e, ao mesmo tempo, pode passar mal com isso. Não consegue então beber mais que isso, porque não se sente bem. No dia seguinte ao uso ou ao abuso de álcool, o fraco para beber não pode ver bebida alcoólica em sua frente. Sente os efeitos do álcool: mal estar, dor de cabeça, problemas abdominais, indisposição. O adolescente forte (tolerante) para o beber é o que suporta beber quantias maiores sem muita alteração. Desenvolve também, com o aprendizado de beber, a tolerância comportamental, quer dizer, a capacidade de executar tarefas mesmo sob o efeito do álcool (SHUCKIT, 1999). É aquele que é
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enaltecido pela turma pelo fato de aguentar a beber. É o que ajuda a levar para a casa um colega que não passou bem com a bebida, isto é, o colega fraco para beber. No dia seguinte, o forte para o beber, mesmo sentido alguns efeitos do consumo de álcool do dia anterior, mostra disposição para beber novamente (ZAGO, 2007).
Catozzi (2010) afirma que o consumo de álcool, por si só, pode trazer
importantes prejuízos ao organismo e ao desenvolvimento do adolescente. Mas o
hábito de beber muito e regularmente também está frequentemente associado a
uma série de comportamentos de risco que aumentam as chances de envolvimento
em acidentes, violência sexual e até participação em gangues. "O consumo de
bebidas alcoólicas na adolescência está fortemente associado a morte violenta,
queda no desempenho escolar, dificuldades de aprendizado e prejuízos no
desenvolvimento e estruturação das habilidades cognitivo-comportamentais e
emocionais do jovem", alerta o psiquiatra Flávio Pechansky, da UFRGS.
Para Catozi (2010) Os jovens estão bebendo mais e cada vez mais cedo, o
que aumenta o risco de boa parte desta juventude desenvolver o alcoolismo. Esta
equação se repete em praticamente todo o mundo, inclusive no Brasil, apesar de as
pesquisas sobre o tema ainda serem bem escassas por aqui.
FIGURA 1 – RELAÇÃO SENSIBILIZAÇÃO X TOLERÂNCIA
Fonte: Goudie & Emmett-Oglesby, 1989
Zago (2007) aborda que conforme apresentado na figura 1, quando qualquer
efeito de uma substância psicoativa é reduzido em magnitude sobre o
comportamento, referimos à tolerância . Já a sensibilização é o aumento em
magnitude de qualquer efeito da substância sobre o comportamento. Em outras
palavras, a tolerância é a diminuição do efeito da substância psicoativa conforme é
consumida de forma repetida, sendo necessário que seja com mais frequência e em
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maiores quantidades para se obter o efeito desejado. Na sensibilização a resposta à
uma substância psicoativa é mantida mesmo que se diminua a quantidade da
substância consumida. Tolerância e sensibilização quando uma mesma dose de
droga é administrada repetidamente. No exemplo, as primeiras administrações da
droga têm o efeito de aumentar a resposta; à medida que a droga continua sendo
administrada, o organismo pode desenvolver tolerância (linha cinza) ou
sensibilização (linha preta). A linha pontilhada indica o momento em que a droga
começou a ser administrada.
Na tolerância, o álcool é um reforçador positivo, fazendo com que aumente a
frequência de consumo. No decorrer do uso, o valor reforçador do álcool,
emparelhado com outros estímulos ambientais, desenvolve condicionamentos e
reforçadores secundários. Conforme se instala a dependência, o álcool passa a ser
um reforçador negativo porque alivia o organismo dos sintomas de abstinência. Na
sensibilidade, o álcool pode ser um reforçador positivo, mas os efeitos ruins
experimentados posteriormente ao uso do álcool pelo organismo pode tornar o
álcool um estímulo aversivo. (ZAGO, 2007).
2.2. OS EFEITOS DO ÁLCOOL NO CORPO
FIGURA 02 – EFEITOS DO ÁLCOOL
FONTE: GOOGLE IMAGENS
21
De acordo com Reis (2008) é considerada bebida alcoólica aquela que
contém 0.5 grau Gay-Lussac ou mais de concentração, incluindo-se bebidas
destiladas, fermentadas e outras preparações, como a mistura de refrigerantes e
destilados, além de preparações farmacêuticas que contenham teor alcoólico igual
ou acima de 0.5 grau Gay-Lussac”. O álcool é uma substância capaz de causar
danos através de três diferentes mecanismos: toxicidade direta e indireta sobre
diversos órgãos e sistemas corporais, a intoxicação aguda, e a própria dependência
química.
Zago (2007) aborda que quanto aos marcadores da quantidade de consumo
de álcool, eles se referem aos riscos à saúde física. Embora o uso regular de álcool
dentro dos parâmetros que não constituem risco à saúde (física), por sua vez, no
decorrer do tempo, pode implicar no aprendizado do beber e, num futuro, constituir
um quadro de alcoolismo. Uma dificuldade quanto a esses marcadores, é que
adolescentes ou jovens podem estar consumindo bebidas alcoólicas em grupos de
colegas, o que dificulta ao certo a quantidade de gramas de álcool ingerida. Além
disso, há uma tendência não só do jovem, mas da maioria das pessoas que
consomem álcool, minimizar sobre a quantidade consumida. O mesmo se refere às
Escalas para avaliação do consumo de álcool. O adolescente que está consumindo
álcool, de maneira a causar a preocupação dos pais, geralmente não é receptivo à
ajuda dos familiares quando tentam encaminhá-lo para um profissional ou a um
serviço especializado.
De acordo com o trabalho de Balbach (s.d) apud Almeida (2008) podemos
listar como principais efeitos do álcool na saúde:
1. Efeitos do álcool sobre o esôfago, o estômago e os intestinos. O álcool
provoca irritações na mucosa gástrica e nas paredes do intestino, prejudicando a
digestão e diminuindo o apetite. Além disso, o câncer no estômago é mais frequente
nos alcoólatras que nos abstinentes e, 90% dos casos de câncer do esôfago são
devidos ao abuso do álcool;
2. Efeitos do álcool sobre o fígado. Autoridades competentes reconhecem que 90
% dos casos de cirrose hepática têm como causa o alcoolismo. Quando o fígado
sofre engrossamento pela cirrose as veias procedentes do intestino são
constringidas e o sangue é obrigado a deixar escapar, por escoamento, a parte
líquida, reunindo muito líquido no ventre. Daí, a ascite, vulgarmente conhecida como
“barriga d’água”;
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3. Efeitos do álcool sobre os rins. O álcool provoca irritação nos rins, prejudicando
seu funcionamento normal, acarretando a hidropisia (infiltração da água da urina nos
tecidos) e, posteriormente, a uremia (presença de grande quantidade de substâncias
tóxicas no sangue).
4. Efeitos do álcool sobre os brônquios e os pulmões. Parte do álcool é eliminada
pelos pulmões e pelos brônquios, provocando irritações nesses órgãos. Os
alcoólatras são muito sujeitos às bronquites, e também às afecções pulmonares,
especialmente à tuberculose.
5. Efeitos do álcool sobre o coração. O álcool, a princípio, acelera as contrações
cardíacas. Em seguida, o coração diminui seus batimentos e a circulação sanguínea
se torna mais lenta, acarretando má circulação do sangue. Além disso, o álcool
provoca lesões nas fibras nervosas e nos vasos do próprio coração.
6. Efeitos do álcool sobre o sistema vascular. O álcool é responsável por cerca de
25% dos casos de arteriosclerose. Ele também atua aumentando a pressão arterial
e maximizando os riscos de acidente vascular cerebral (AVC);
7. Efeitos do álcool sobre o sistema nervoso. O álcool prejudica o funcionamento
dos centros de coordenação motora e o sistema nervoso sensitivo. Ao agir sobre os
centros superiores do cérebro, priva o indivíduo, momentaneamente, do uso da
razão. Esse estado de loucura passageira é um fator muito importante na produção
de crimes. É também um fator de risco para uma diversidade de doenças mentais.
Segundo Freudenrich (2008) o corpo responde ao álcool em estágios, que
correspondem a um aumento de CAS, (É um número de registro único no banco de
dados do Chemical Abstracts Service), os efeitos do álcool, podem ser descritos
como:
Euforia (CAS = 0,03 a 0,12%), as pessoas se tornam mais autoconfiantes ou
atrevidas; sua atenção diminui; elas podem parecer coradas; seu raciocínio
não é tão bom - elas podem dizer a primeira coisa que vier à cabeça, em vez
de fazer um comentário adequado a dada situação; elas têm problemas com
movimentos finos, como escrever ou assinar o próprio nome.
Excitação (CAS = 0,09 a 0,25%) elas ficam sonolentas; elas têm problemas
para compreender ou se lembrar de coisas (mesmo acontecimentos
recentes); elas não reagem a situações rapidamente (se elas derramarem
bebida podem apenas ficar olhando); os movimentos do corpo não são
coordenados; elas começam a perder o equilíbrio facilmente; sua visão fica
23
embaralhada; elas podem ter problemas com os sentidos (audição, paladar,
tato, etc.).
Confusão (CAS = 0,18 a 0,30%), elas não conseguem saber onde estão ou o
que estão fazendo; elas ficam zonzas e podem cambalear; elas podem ficar
muito emotivas - agressivas, introvertidas ou muito afetivas; elas não
conseguem ver muito bem; elas ficam sonolentas; elas apresentam fala
indistinta; não coordenam os movimentos (têm problemas em pegar um
objeto quando atirado para elas); podem não sentir dor tão prontamente
quanto uma pessoa sóbria.
Letargia (CAS = 0,25 a 0,4%): elas mal podem se mover; elas não respondem
a estímulos; não conseguem ficar em pé ou caminhar; podem vomitar; podem
ter lapsos de memória.
Coma (CAS = 0,35 a 0,50%); elas ficam inconscientes; seus reflexos são
depressivos, ou seja, suas pupilas não respondem adequadamente a
mudanças de luminosidade; elas sentem frio (temperatura do corpo mais
baixa do que o normal); sua respiração é mais lenta e não muito profunda;
seus batimentos cardíacos ficam mais lentos; elas podem morrer.
Morte (CAS mais de 0,50%).
Os efeitos em longo prazo podem ser descritos segundo Freudenrich (2008)
como: A atividade aumentada no fígado causa a morte das células e o
endurecimento do tecido (cirrose hepática); as células cerebrais em vários centros
morrem, reduzindo a massa encefálica total; úlceras estomacais e intestinais podem
se formar por causa do constante uso do álcool, que irrita e degenera as partes
internas desses órgãos; a pressão sanguínea aumenta à medida que o coração
compensa a redução inicial da pressão sanguínea causada pelo álcool; a produção
de esperma (célula sexual masculina) diminui por causa da redução da secreção
hormonal sexual do hipotálamo/pituitária e, possivelmente, pelos efeitos diretos do
álcool nos exames; nutrição pobre reduz os níveis de ferro e vitamina B, levando à
anemia; como os alcóolicos perdem o equilíbrio e caem com frequência, eles sofrem
mais frequentemente de hematomas e ossos fraturados, especialmente à medida
que envelhecem.
Finalmente Freudenrich (2008) aborda que o abuso e a dependência do
álcool causam problemas emocionais e sociais. Como o álcool afeta os centros
emocionais no sistema límbico, os alcóolicos se tornam ansiosos, depressivos e até
24
mesmo suicidas. Os efeitos emocionais e físicos do álcool podem contribuir para
problemas conjugais e familiares, incluindo violência doméstica, bem como
problemas relacionados ao trabalho, como faltas excessivas e fraco desempenho.
Embora o alcoolismo tenha efeitos devastadores no ambiente social e na saúde de
uma pessoa, há tratamentos médicos e psicológicos para solucionar o problema.
Lepre (2005) aborda ainda que outro fato bastante comum são os acidentes
de trânsito, na maioria das vezes envolvendo vítimas, com adolescentes que dirigem
embriagados. O uso abusivo de álcool faz o adolescente sentir-se, muitas vezes,
onipotente, o que o leva a adotar posturas de risco, como correr excessivamente,
dar “cavalos de pau”, derrapar com o carro, tirar “rachas”. As bebidas alcóolicas
estimulam a produção de betaendorfinas (dopaminas e analgésicos naturais do
organismo), responsáveis pela sensação de euforia, saciedade e poder. Já a
embriaguez e a dificuldade de discernimento, que aparecem junto com o quadro de
agitação, são consequências da depressão do Sistema Nervoso Central, também
provocada pelo álcool.
O álcool entra rapidamente no cérebro com inúmeros efeitos nos neurônios,
ou seja, sobre boa parte dos sistemas neuroquímicos, provocando alterações nos
neurotransmissores serotoninérgicos, nos dopaminérgicos no VTA e no núcleo
acumbente e na liberação de peptídeos opióides no sistema nervoso central que
causam seus efeitos prazerosos. A exposição ao álcool em um pequeno período de
tempo reduz os impulsos elétricos dos neurônios determinando a depressão da
atividade cerebral e dos nervos, como consequência do aumento da atividade do
GABA nos receptores GABA-érgicos já que diminui a ação dos aminoácidos
excitatórios, por exemplo, o glutamato ao nível dos receptores NMDA (HYMAN &
NESTLER, 1993; HUNT, 1993; FERREIRA & LARANJEIRA, 1998; SHUCKIT, 1999)
apud Zago (2007).
Zago (2007) afirma que a ação depressora do álcool no cérebro produz
mudanças emocionais e comportamentais. Os efeitos do uso crônico de álcool
podem causar alterações no lobo frontal e em diferentes áreas corticais e
subcorticais do cérebro, bem como déficits psicológicos específicos na memória de
figuras e na habilidade abstrata e verbal, além de problemas clínicos graves, entre
eles a dependência física e a síndrome de abstinência.
Ivankovich (2001) apud Zago (2007) aborda em pesquisa com adolescentes
verificou que o uso abusivo de álcool, além de diminuir o prazer sexual, faz com que
25
eles tenham menos cuidado nas relações sexuais. O pesquisador constatou que dos
42% de jovens que mantêm relação sexual depois de beber, 13% não usam a
camisinha frequentemente, expondo-se, assim, aos riscos das DSTs, incluindo a
AIDS e gravidez não planejada.
Ao ser metabolizado, o álcool transforma-se em acetaldeído, que tem forte
ação sobre os neurotransmissores, prejudica o aproveitamento das proteínas e
interfere no DNA, material genético das células. Mas não para por aí. Compromete,
ainda, a coordenação motora e libera emoções reprimidas ao derrubar o superego,
nossa censura interna. (TIBA, 1999).
Segundo Galduróz et. al. (2000), um estudo toxicológico com 5.960 amostras
de sangue e vísceras de vítimas com ferimentos fatais realizado em 1994 no
Instituto de Medicina Forense em São Paulo mostrou que 48,3% das vítimas tinham
alcoolemia positiva. As proporções, entretanto, variaram com a causa da morte: foi
detectada a presença de álcool no sangue em 64,1% das vítimas de afogamento;
52,3% dos homicídios; 50,6% das vítimas de acidentes de trânsito e 32,2% dos
casos de suicídio. Especificamente quanto à relação entre uso de álcool e homicídio,
estudo realizado entre 1990 e 1995 na cidade de Curitiba (Paraná) mostrou que
53,6% das vítimas e 58,9% dos autores dos crimes estavam intoxicados no
momento do crime.
O uso do álcool é perigoso na gravidez, em indivíduos que fazem uso de
medicamentos cujos efeitos são adversos com o álcool, para indivíduos com
problemas clínicos relevantes, em indivíduos que estejam recuperando de
alcoolismo ou para indivíduos com transtornos psiquiátricos que podem ser
intensificados pelo uso do álcool, como a esquizofrenia e a depressão maior
(SHUCKIT, 1999). Robins e Regier (1991) estimaram que cerca de 70% dos adultos
consomem álcool, sendo que 25% desenvolvem abuso ou dependência em algum
período da vida (FERREIRA & LARANJEIRA, 1998).
QUADRO 1. RISCOS À SAÚDE X CONSUMO DE ÁLCOOL
Risco Mulheres Homens
Baixo Menos de 14 unidades por semana Menos de 21 unidades por semana
Moderado 15 a 35 unidades por semana 22 a 50 unidades por semana
26
Alto Mais de 36 unidades por semana Mais de 51 unidades por semana
Fonte: LARANJEIRA & PINSKY, 1997.
2.3 – CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA
O USO DO ÁLCOOL PELOS ADOLESCENTES
Lepre (2005) aborda que um grande número de teorias atuais sobre o uso
abusivo de álcool por adolescentes acredita que a maioria dos adolescentes que se
iniciam no uso de álcool o fazem por pressões externas, pressões estas vindas do
próprio grupo que podem ser diretas, através de frases, ameaças, ironias ou de
forma indireta, através de sutilezas como olhares reprovadores, escassez de
convites para participar das atividades do grupo, preconceitos.
Segundo o médico Pechansky em Catozzi (2010) é preciso uma restrição
severa à imensa penetração da mídia na adolescência. "Há uma total liberdade para
propagandas de cerveja, bebida de baixo teor alcoólico. A legislação atual só regula
os horários de transmissão para bebidas com teor alcoólico acima de 13%", explica.
De fato há uma disputa, no mínimo, desproporcional entre as belas imagens
produzidas em um comercial e a tarja preta governamental, sóbria e obrigatória,
pedindo para o jovem "beber com moderação" ou "não dirigir, se beber".
Outro fator estimulante ao consumo segundo Catozzi (2010) é todo o glamour
associado ao ato de beber nesta idade. "Para os jovens, consumir álcool não é um
hábito apenas socialmente aceitável, mas quase uma necessidade se eles quiserem
participar dos grupos ao qual almejam pertencer. O bar se tornou o ponto de
encontro usual para eles, o centro da sua vida social. Para alguns, o único que
existe", escreve o psiquiatra irlandês John Cooney, especialista em dependência
alcoólica, em seu livro Sóbrio.
Lepre (2005) acredita que fatores sociais, psicológicos e religiosos, bem como
problemas temporários podem influenciar a decisão de beber tanto no adolescente
quanto no adulto jovem. Dada a alta taxa de prevalência de indivíduos que, por
qualquer motivo, num momento ou outro da vida fizeram uso de álcool, torna o beber
um fenômeno praticamente universal.
Entretanto, fatores que podem influenciar a decisão de beber ou fatores que
contribuem para problemas temporários, podem ser diferentes daqueles que
27
contribuem para os problemas recorrentes e graves da dependência de álcool
(SHUCKIT, 1999).
Fatores sempre postos em evidência são os genéticos. Dados que apoiam as
influências genéticas no alcoolismo são: familiares próximos apresentam um risco
quatro vezes maior que indivíduos que não têm familiares alcoolistas; o gêmeo
idêntico de um indivíduo com problemas de alcoolismo apresenta maior risco que
um gêmeo fraterno; e filhos de alcoolistas que foram adotados têm o risco quatro
vezes maior de apresentar alcoolismo, mesmo que separados dos pais após o
nascimento. A maioria dos estudos sobre a determinação genética no alcoolismo
aponta que geralmente indivíduos que um dos pais é ou foi alcoolista têm alto risco
para o alcoolismo (SHUCKIT, 1999).
Lewontin (2002) questionou a visão da biologia moderna fundamentar o
desenvolvimento dos organismos apenas em termos de genes e organelas
celulares, onde o ambiente teria um papel meramente passivo ou de cenário. Ou
seja, os genes no ovo fertilizado determinariam todo o desenrolar até o estado final
do organismo. Nisso também está contida a ideia de tendência. Metaforicamente,
seria como a revelação do filme fotográfico que, quando exposto à temperatura e
aos líquidos apropriados, produz a imagem que nele está imanente.
Zago (2007) aborda que assim, o ponto de vista genético implicaria que um
indivíduo portador de um gene ou genes determinantes do alcoolismo estaria
praticamente condenado a ser um dependente de álcool, pois a sociedade ocidental
é estimuladora ao beber alcoólicos. Em sua crítica, Lewontin assim se posicionou
sobre essa visão unilateral da biologia:
"Existe já há muito tempo um vasto conjunto de evidências segundo as quais a ontogenia de um organismo é consequência de uma interação singular entre os genes que ele possui a sequência temporal dos ambientes externos aos quais está sujeito durante a vida e eventos aleatórios de interações moleculares que ocorrem dentro das células individuais. São essas as interações que devem ser incorporadas em uma explicação adequada acerca da formação de um organismo. (...) Não é possível formular a pergunta ‘Que genótipo produziu o melhor crescimento? ’ sem especificar o ambiente em que o crescimento se deu." (LEWONTIN, 2002).
O que temos observado segundo Zago (2007) na prática clínica é que o
conceito de determinismo genético, de modo geral, acaba sendo erroneamente
utilizado ou como uma defesa por muitos alcoolistas como forma de aceitar
passivamente o próprio comportamento de beber alcoólicos, entendendo-o como
28
parte intrínseca, portanto, insuperável de sua natureza humana; isto é, um destino
irreversível que inviabiliza, a priori, movimentos ou tentativas de mudanças.
Não há ainda certeza científica, mesmo que aproximada, sobre qual fator é o
mais determinante na etiologia do alcoolismo. Estudos apontam evidências para as
várias condições, mas sem conclusão definitiva. Em vários estudos realizados nas
três últimas décadas com o objetivo de diferenciar os etilistas e o restante da
população, nada se concluiu sobre um perfil do alcoolista, quer do ponto de vista
genético, quer da personalidade (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).
A mídia é segundo Lepre (2005) um bom exemplo de pressão externa no que
se refere à manipulação da opinião dos adolescentes. Fica claro que a veiculação
atual das empresas de bebidas alcóolicas, sobretudo as cervejarias, tem como foco
principal o público adolescente. A estratégia tem sido a de promover eventos
culturais, esportivos e musicais a fim de relacionar a cerveja aos jovens; além de
tentar vender uma imagem positiva dessa bebida chamando a atenção para o “baixo
índice” de teor alcóolico na sua constituição (em torno de 6%).
Lepre (2005) afirma que segundo um estudo realizado pelo Cebrid (Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) em 1999, ao lado das
propagandas de bebidas alcóolicas, os principais fatores que levam o adolescente a
beber abusivamente são o incentivo da sociedade e dos grupos para que as
pessoas bebam em situações sociais e a facilidade de menores adquirirem bebidas
em supermercados e lojas.
No entanto Lepre (2005) aborda que o fato da mídia desse setor ser apelativa, não
justifica isoladamente o uso abusivo de álcool pelos adolescentes. Apesar de todos
os fatores que possam levar os jovens ao abuso, não é possível atribuir única e
exclusivamente aos fatores externos a responsabilidade pelo problema, pois
estaríamos subestimando a capacidade do adolescente de decidir sobre si mesmo.
O que normalmente acontece é que o adolescente pode encontrar nas drogas, e
mais especificamente no álcool, a identidade que busca nesse período da vida. Os
grupos acabam se formando levando em conta algumas condições: aqueles que
transam e aqueles que não transam, os que estudam e os que não estudam, os
que fazem uso de bebidas alcóolicas e os que não fazem e assim por diante.
Tendo como base os estudos de Fishman (1988) e Vieira et al. (2007),
podem-se listar seis principais fatores que influenciam o comportamento de beber:
1. Contexto Familiar e Social. A crença de que uma reunião social possa não ser
29
agradável sem que inclua consumo de álcool é comum na nossa sociedade.
Os adolescentes são inclinados a imitar os pais, outros parentes e heróis da
televisão, dos livros, do rádio ou do cinema. É comum um adolescente dizer
que começou a beber porque viu que isso era um hábito de alguém que ele
admira. Uma pesquisa realizada por VIEIRA et.al. (2007) com estudantes de
Paulínia (SP), revela que 40,4% dos alunos relataram que familiares foram os
primeiros a lhes oferecer bebida alcoólica e, que quase metade (47,9%)
afirmou que há alguém na família que bebe demais;
2. Curiosidade e Experimentação. Muitos adolescentes sentem curiosidade de
experimentar o sabor da bebida que eles vêem os outros os outros ingerir.
Além disso, querem explorar os efeitos da bebida, por meio do abuso.
Querem saber como é estar embriagado ou intoxicado;
3. Pressão dos amigos. Para muitos garotos e garotas seguir a moda pode ser
uma necessidade, assim como gostar de certos tipos de música. Nesse
estágio eles se encontram psicologicamente imaturos para exercer o senso
crítico e a capacidade de julgamento, absorvendo influências sem refletir
sobre elas. Se beber está na moda entre determinado grupo de adolescentes,
poucos serão dotados de segurança e senso crítico suficiente para criticar a
bebida ou simplesmente recusar-se a beber. No estudo de VIEIRA et.al.
(2007), 35,5% dos alunos disseram que amigos foram os primeiros a lhes
oferecer bebida alcoólica e 62,4% relatam beber mais frequentemente na
companhia de amigos.
4. Prazer. Muitos adolescentes usam o álcool como estimulante para a diversão
e o namoro, isto é, para os prazeres. Incluem bebidas em festas, idas ao
cinema ou ao jogo de futebol como elementos favoráveis ao prazer. Trata-se
de um mecanismo cultural que identifica o álcool com o prazer e que deve ser
desmascarado.
5. Problemas emocionais. Um dos efeitos imediatos do álcool é o de
tranquilizante ou de causador de euforia e bem-estar. Um indivíduo que esteja
enfrentando momentos de tensão, nervosismo, conflitos com a família, com
amigos ou dificuldades no relacionamento pode entregar-se ao álcool para
suprimir temporariamente a depressão, a ansiedade e os sentimentos de
medo. Acabam aí agravando os problemas em vez de resolvê-los.
6. Facilidade de acesso. Além de tudo que já foi citado, outro fator que contribui
30
fundamentalmente para o uso do álcool entre adolescente é a disponibilidade
comercial e o preço. As bebidas alcoólicas são encontradas facilmente, em
qualquer lugar e com preços acessíveis aos jovens. Apesar de existirem leis
que proíbem a venda de bebidas a menores de 18 anos, essa é uma prática
comum e que deve ser combatida.
Segundo Blackson e Tarter (1994), o uso de álcool e outras drogas acaba
sendo o fator determinante na identificação e união dos adolescentes em grupos.
Fazer uso abusivo de bebidas alcóolicas representa, muitas vezes, a entrada
no mundo dos adultos. Dessa forma, beber, fumar, transar, funcionam como
referências aos adolescentes que estão passando por um período de confusão de
papéis.
Segundo Erikson (1972) essa confusão está relacionada a definição da
identidade que se configura em três áreas básicas: a identidade sexual, a
profissional e a ideológica. Dentre essas áreas, a ideológica é a que está mais
diretamente relacionada ao nosso estudo, ainda que não possamos pensar nesses
itens isoladamente no comportamento do adolescente, uma vez que esse é uma
pessoa integral. No entanto, a identidade ideológica refere-se aos posicionamentos
que o adolescente, em permanente reconstrução interna, deve tomar frente ao
mundo.
Lepre (2005) aborda que a construção da identidade envolve diversos fatores
como a personalidade individual, a consciência subjetiva, as relações sociais e os
fatores externos. Dessa forma, o adolescente se autodefinirá através da interação
entre esses fatores, sendo todos igualmente importantes para posteriores decisões.
É justamente neste momento de tomada de posições e decisões que o adolescente
pode “escorar-se” no álcool ou nas drogas em geral, associando uma fragilidade
(disponibilidade) interna e possibilidades (reforços) externos.
Segundo Osório (1989) há dois grandes equívocos relacionados ao uso de
drogas pelos adolescentes:
1) Por parte dos próprios adolescentes, a ilusão de que as drogas são sinônimo de
liberdade ou livre expressão, quando na verdade essas escravizam e submetem seu
usuário aos interesses, por exemplo, dos traficantes.
2) Por parte dos pais, que pensam que ao usar drogas os filhos estão protestando
ou desafiando a moral doméstica quando na verdade os estão imitando. Pais que
fumam, bebem ou fazem uso indiscriminado de tranquilizantes ou outras drogas,
31
estão transmitindo aos filhos a mensagem implícita de que as drogas têm sua
função no “mundo dos adultos.”
Com tais considerações não se está simplesmente procurando inocentar os
adolescentes ou incriminar os pais pela incidência, reconhecidamente cada vez
maior, das toxicomanias em geral entre os jovens, mas antes buscando assinalar
que uma abordagem compreensiva do uso de tóxicos na adolescência não é
possível sem incluir, ao lado dos estudos das motivações conscientes e
inconscientes dos jovens, a avaliação correta do papel dos pais e da sociedade na
gênese e manutenção do problema (OSÓRIO, 1989).
A idade do primeiro drinque (13-15 anos), a idade da primeira intoxicação (15-
17 anos) e a idade do primeiro problema relacionado ao consumo de álcool (16-22
anos) observados em indivíduos que desenvolveram alcoolismo, não diferem
basicamente do esperado da população geral que não tem problema posterior de
abuso ou dependência de álcool (SHUCKIT, 1999). Em suma, não há um consenso
entre os pesquisadores de que uma explicação causal para o alcoolismo seja mais
determinante do que outra.
É importante ressaltar que não é necessário um indivíduo ser dependente de
álcool para que possa apresentar transtornos relacionados ao álcool. Conforme
Romelsjo (1995) "Não existe consumo de álcool isento de riscos." (Citado por
MARQUES & RIBEIRO, 2002). Há muito mais indivíduos não diagnosticados
medicamente como alcoolistas, mas que consomem álcool de forma prejudicial à
saúde. Há fatores sociais com tanto poder de persuasão para a prevenção quanto
para estimular padrões inadequados para o beber, por exemplo, demanda e oferta
de bebida, informação e propaganda (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).
Zago (2007) aborda que uma dose de bebida alcoólica é definida como algo
consistindo entre 10 a 12 gramas de etanol, que equivale a uma unidade de álcool
puro. A quantidade de unidades de álcool é determinada pela concentração de álcool
num volume de uma bebida: Unidades de álcool = % da concentração de álcool em
dada quantidade (ml) de bebida ÷ 10
Com base nesses valores foram identificados padrões de quantas unidades
de álcool um adulto sadio poderia consumir semanalmente (LARANJEIRA, 1997;
LARANJEIRA & PINSKY, 1997; SHUCKIT, 1999). Por exemplo, uma dose de
aguardente – 50ml – com a concentração de álcool de 50%, conteria 25 gramas de
álcool ou 2,5 unidades de álcool. Uma lata de cerveja de 350ml com concentração
32
de 5% de álcool teria o equivalente a 17 gramas de álcool, aproximadamente 1,5
unidades de álcool (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).
Zago (2007) aborda que assim, por esses padrões, que podemos denominar
de critérios da quantidade de consumo, é possível determinar as unidades de álcool
que um indivíduo vem consumindo. No quadro 1 são apresentadas as bebidas mais
consumidas em nosso meio com as respectivas concentrações de álcool, gramas de
álcool e unidades de álcool. No quadro 2 os padrões dos riscos à saúde pelo
consumo de álcool.
Quadro 2. Conteúdo das principais bebidas em nosso meio
Bebidas Uma dose de bebida alcoólica é definida como algo
consistindo entre 10 a 12 gramas de etanol, que equivale a
uma unidade de álcool puro. A quantidade de unidades de
álcool é determinada pela concentração de álcool num
volume de uma bebida: Unidades de álcool = % da
concentração de álcool em dada quantidade (ml) de bebida
÷ 10
Concentração de
álcool/gramas de álcool
Unidades
de álcool
1 lata de cerveja – 350 ml 5% = 17 gramas de álcool 1,5
1 dose de aguardente – 50 ml 50% = 25 gramas de álcool 2,5
1 copo de chope – 200 ml 5% = 10 gramas de álcool 1
1 copo de vinho – 90 ml 12% = 10 gramas de álcool 1
1 garrafa de vinho – 750 ml 12% = 80 gramas de álcool 8
1 dose de destilados (uísque, pinga, vodca etc.) – 50 ml 40%-50% = 20 g-25 gramas
de álcool
2 – 2,5
1 garrafa de destilados – 750 ml 40%-50% = 300 g-370
gramas de álcool
30 – 37
Fonte: LARANJEIRA & PINSKY, 1997. Reproduzido com permissão dos autores.
É importante esclarecer que esses padrões de consumo se referem às
unidades de álcool consumidas ao longo de uma semana, portanto, o consumo da
quantidade semanal de unidades de álcool em apenas um dia implicaria mais danos
à saúde do que quantidades um pouco maior, mas divididas durante a semana
(LARANJEIRA & PINSKY, 1997).
33
O consumo agudo de álcool torna o sujeito mais vulnerável a problemas de
saúde, por exemplo, intoxicação alcoólica, e propensão a acidentes. E o limite
permitido por lei é de 0,57 g de álcool por litro de sangue (MARQUES & RIBEIRO,
2002).
Nas mulheres, em comparação com os homens, o álcool atinge maiores
concentrações no sangue e é absorvido em maiores quantidades devido a
proporção de gordura corpórea maior e de menor quantidade de líquido corporal nas
mulheres que nos homens. Desse modo, o álcool causa mais problemas físicos nas
mulheres, comparadas com homens com o mesmo peso corporal. Tal padrão de
consumo refere-se a mulheres não grávidas, pois na gravidez é recomendável a
abstinência total de álcool (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).
Lepre (2005) afirma que os riscos e as consequências do uso abusivo de
álcool na escola relacionam-se à queda acentuada no desempenho escolar.
Adolescentes que bebem demais se ausentam com maior frequência das aulas
perdendo a totalidade do processo pedagógico. Aqueles que conseguem frequentar
as aulas apresentam sonolência, lentidão e dificuldade para entender o que o
professor diz. Algumas pesquisas, ainda não confirmadas, mas dignas de atenção,
apontam para danos cerebrais (no hipocampo) causados pelo uso abusivo de álcool
envolvendo o aprendizado e a memória.
Conforme estudo apresentado pela UNESCO, "estudantes começam a beber
por curiosidade, pelo desejo de inserção social, para esquecer problemas e para ‘ter
coragem’ nas ‘paqueras’." (NOSSA 2002).
Segundo Herculano-Houzel (2002), neurocientista brasileira, o hipocampo é o
local do cérebro onde a memória é formada e depois distribuída para o resto do
cérebro, onde é guardada. Danos no hipocampo poderiam prejudicar a formação de
novas memórias o que atrapalharia muito as novas aprendizagens.
Pesquisa envolvendo as 24 maiores cidades do Estado de São Paulo
(cidades com mais de 200 mil habitantes) revelou que o uso na vida de álcool na
faixa etária de 12 a 17 anos foi de 37,7% para o sexo masculino e 32,3% para o
sexo feminino e o uso regular foi de 0,7% para o sexo masculino e de 1,9% par a o
feminino. Na mesma faixa etária a prevalência de dependentes de álcool foi de 5,3%
para o sexo masculino e de 2,5% para o sexo feminino (GALDURÓZ, NOTO,
NAPPO & CARLINI, 2000).
34
Zakabi (2002) apud Zago (2007) afirma que a prevalência de casos de
alcoolismo entre garotas tem aumentado, bem como o envolvimento em acidentes
de carro quando embriagadas. Isso significa que vem ocorrendo uma mudança de
comportamento na última década: as garotas têm mais liberdade para frequentar
locais e eventos onde se consome bebida alcoólica antes mais restrito a
adolescentes do sexo masculino, aprendendo, então, os mesmos comportamentos
de consumo.
Segundo Soldera et. al.(2004) desde 1997, o Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) vem realizando levantamentos
sobre o uso de drogas por estudantes brasileiros dos ensinos fundamental e médio,
em dez capitais brasileiras. Esses levantamentos têm sido muito importantes, pois,
além de metodologia adequada, abrangem uma amostra muito grande (15.503
estudantes). O uso pesado de álcool (20 vezes ou mais por mês) nesses
levantamentos (1987, 1989, 1993 e 1997) foi significativo (de 3,3% a 10,1%). Além
disso, os levantamentos indicaram que o uso pesado de álcool aumentou em 8 das
10 capitais estudadas no período de 1987 a 1997. O quarto estudo (1997) mostrou
que o uso pesado de álcool foi maior nos estudantes do gênero masculino (5,2%)
em relação ao feminino (4,8%); na classe social A (10,7%) em relação à B (9,1%), C
(7,6%), D (6,8%) e E (4,9%); e nos que tinham defasagem escolar – entre os
estudantes que faziam uso pesado de álcool, 96,1% apresentavam defasagem
escolar. Os fermentados foram as bebidas mais consumidas e os bares foram os
locais preferidos entre os que fizeram uso pesado. Este estudo revelou também que
68,4% dos pais bebem muito, contra 6,2% das mães. Vários estudos internacionais
também mostraram a associação entre uso pesado de álcool por estudantes e
variáveis demográficas e psicossociais. Assim, o uso pesado de álcool mostrou-se
associado ao nível socioeconômico mais alto, à defasagem escolar e ao beber do
pai.
Cruz (2011) aborda em depoimento sua trajetória no mundo do àlcool:
“Comecei beber aos 14 anos junto com supostos amigos, pequenas doses que, aos poucos, foram aumentando”. Quando bebia ficava violento e não tinha medo de nada – o alcoolista se acha o “super-homem”. “Eu usava a bebida como válvula de escape para meus problemas, tentando sair da realidade, mas depois que o efeito acabava, os problemas retornavam e a frustração aumentava”, declara Luiz Antônio da Cruz, assistente de administração, alcoolista recuperado há 13 anos, aos longo tratamento. “Minha esposa me abandonou e minha família disse que se não parasse de beber iria morar na rua”. Resolvi tentar. Fui com minha mãe à Associação antialcoólica de São Paulo, assisti a vários depoimentos, que me deram
35
uma luz, e senti uma felicidade muito grande. “Foi então que decidi mostrar à minha esposa e família que nunca mais ninguém iria me chamar de bêbado”, conta Luiz Antônio. Hoje ele é responsável pelo site www.alcoolismo.com.br. (CRUZ, 2011).
Para Catozzi (2010) o último Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas,
realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid)
e pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), revela que o consumo de álcool por
adolescentes de 12 a 17 anos já atinge 54% dos entrevistados e desses, 7% já
apresentam dependência. O estudo foi realizado em 2004 e mostrou que entre
jovens de 18 a 24 anos, 78% já fizeram uso da substância e 19% deles são
dependentes. Para se ter uma ideia de como o consumo de bebidas alcoólicas na
adolescência aumentou, no levantamento anterior, realizado em 2001, apenas 5%
dos adolescentes pesquisados preenchiam os critérios para dependência do álcool.
Segundo recente estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em
comparação com os países da América Latina, o Brasil aparece em terceiro lugar no
consumo de álcool entre os adolescentes. A pesquisa foi feita com estudantes do
ensino médio e incluiu 347.771 meninos e meninas, de 14 a 17 anos, do Brasil, da
Argentina, da Bolívia, do Chile, do Equador, do Peru, do Uruguai, da Colômbia e do
Paraguai. Entre os brasileiros, 48% admitiu consumir álcool.
Segundo Vieira et al. (2007), apesar das diferenças socioeconômicas e
culturais entre os países, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta o álcool
como a substância psicoativa mais consumida no mundo e também como a droga
de escolha entre crianças e adolescentes. No Brasil, o álcool também é a droga
mais usada em qualquer faixa etária e o seu consumo entre adolescentes vem
aumentando, principalmente entre os mais jovens (de 12 a 15 anos de idade) e entre
as meninas.
Catozzi (2010) aborda que o consumo de álcool, por si só, pode trazer
importantes prejuízos ao organismo e ao desenvolvimento do adolescente. Mas o
hábito de beber muito e regularmente também está frequentemente associado a
uma série de comportamentos de risco que aumentam as chances de envolvimento
em acidentes, violência sexual e até participação em gangues. "O consumo de
bebidas alcoólicas na adolescência está fortemente associado a morte violenta,
queda no desempenho escolar, dificuldades de aprendizado e prejuízos no
desenvolvimento e estruturação das habilidades cognitivo-comportamentais e
emocionais do jovem", alerta o psiquiatra Flávio Pechansky, da UFRGS.
36
Zago (2007) aborda que a falta de uma política adequada de controle à
propaganda maciça de bebidas alcoólicas pelos meios de comunicação social,
geralmente associada aos "bons momentos da vida", e a facilidade de se obter o
produto, quer pela disponibilidade e variedade, quer pelo baixo preço, tornam o
álcool uma droga atrativa, acessível e presente nas mais diversas formas de
entretenimento do universo da juventude. Além disso, tanto as famílias quanto a
sociedade aceitam com certa naturalidade um adolescente consumir alcoólicos.
Alguma censura pode ocorrer em caso de algum abuso por parte desse
adolescente, contudo, de forma geral, o uso de bebida alcoólica por jovens é comum
e tolerada na vida familiar, em momentos de comemorações, na convivência grupal,
etc.
Ainda segundo Zago (2007) se de um lado, para considerável parcela de
adolescentes, como qualquer outra substância psicoativa, além do apelo da
propaganda, o álcool tem seu poder de atração, por outro não tem a força de
censura atribuída às substâncias ilegais, dado que o uso do álcool, na prática, é
livre. Isso significa que um adolescente pode beber alcoólicos sem a culpa de estar
cometendo uma transgressão (que na realidade está) como poderia sentir se
consumisse alguma droga ilícita. Se consumir determinada droga ilícita, o
adolescente fará isso de forma velada a fim de não se expor, pois sabe que estará
transgredindo a lei ou ao menos emitindo um comportamento passível de
repreensão ou censura.
Se os familiares descobrem ou são informados de que o filho ou filha
adolescente está fazendo uso de uma droga ilícita, por exemplo, a maconha, os
pais, de uma maneira ou de outra, iniciam um processo de trabalhar a questão. Esse
modo de trabalhar a questão varia muito, desde a desconfiança, sondagem e
interrogatório até a frustração ou formas claras de explosão, raiva ou violência. A
droga ilícita, provavelmente por tal caráter e pela censura que desperta na
sociedade, desencadeia um pânico na família, denominado por KALINA &
KOVADLOFF (1976) de síndrome de alarme, na qual as pessoas próximas do
usuário estabelecem uma resistência criando um conflito. Ou seja, o uso de uma
droga ilícita simplesmente não é aceito de forma natural por aqueles que convivem
com o usuário. Com o álcool, dado seu caráter legal e de estar inserido na cultura,
tal síndrome de alarme não ocorre. Portanto, a bebida alcoólica, além de seu poder
atrativo, não contém poder de censura.
37
Kaminer e Szobot (2004) referem que existe pouco conhecimento sobre a
efetividade de diferentes tipos de tratamento para adolescentes, em relação ao
conhecimento disponível na área do tratamento para adulto. Os autores ressaltam
que mesmo para aqueles conhecidamente efetivos, ainda nos deparamos com as
maiores taxas de abandono e menor sucesso terapêutico em comparação com os
tratamentos para transtorno mental.
De acordo com Kaminer (2001), estudos regionais nos Estados Unidos da
América mostram que, de 7 a 10% dos adolescentes necessitam de algum tipo de
tratamento para uso de álcool ou outras drogas, porém, somente uma pequena
parcela desse grupo é atendida, aqueles com uso severo, com comorbidades
psiquiátricas, ou com problemas com a lei. Para o autor, isso acontece devido aos
limites de recursos disponíveis e destinados para essa questão, como também pela
inexistência de programas específicos para essa faixa-etária e pela falta de
consenso sobre as estratégias de tratamento mais adequadas.
Embora sejam poucos os estudos no Brasil, específicos sobre essa situação,
dos que se propuseram a realizar uma reflexão sobre a adesão ao tratamento para o
uso de álcool e drogas e as possíveis estratégias de enfrentamento, grandes
contribuições podem ser destacadas.
Pinsky et al. (1995) propuseram a realização de um estudo para investigar os
motivos para o abandono do tratamento apresentados por adultos atendidos na
unidade para tratamento de dependência de álcool e outras drogas do
Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo e pessoas
próximas a eles entre os anos de 1990 e 1993.
Segundo os autores, o abandono do tratamento é um dos problemas
enfrentados por profissionais que atuam na área. Citam autores que discutiram essa
questão nas décadas de 70, 80 e 90, do século passado, onde apresentam dados
que sugerem maior abandono nos tratamentos ambulatoriais do que em regime de
internação (Pinsky et.al., 1995).
A maioria dessas pesquisas tenta identificar as características “pré-
tratamento” dos pacientes que poderiam estar relacionadas com a interrupção do
programa. Essas características incluem variáveis sóciodemográficas, experiência
anterior de tratamento, características psicológicas do paciente, tipos de drogas,
gravidade da dependência, histórico escolar e de trabalho.
38
Apesar do grande número de pesquisas naquela época sobre essa questão,
os autores comentam que é pequena a relação existente entre o abandono do
tratamento e fatores como desemprego, múltiplas dependências, idade, problemas
psicológicos e etc. Os motivos mais citados tanto pelos usuários dos serviços, como
pelas pessoas próximas a eles foram os fatores ambientais, as recaídas ou pioras e
a melhora (Pinsky et.al., 1995, p.02).
No entanto, os autores enfatizam que a investigação junto aos próprios
usuários dos serviços sobre a questão da não adesão ao tratamento ainda é uma
estratégia pouco explorada (Pinsky et.al., 1995).
Marques, Buscatti e Formigoni (1995) entrevistaram 155 pessoas que buscaram
voluntariamente a mesma Unidade de Dependência de Drogas no período de 1993 à
1995, com os objetivos de observar a frequência de abandono nas diferentes fases
do tratamento; analisar o perfil dos pacientes que abandonaram o tratamento e;
estudar os fatores preditores do abandono.
Dos resultados obtidos, destacam-se as baixas taxas de abandono na fase
prévia ao tratamento, logo após o seu início e no período de tratamento. Poucos
interromperam antes de iniciar a avaliação, assim como após a primeira consulta,
muito provavelmente porque a expectativa e a confiança eram altas em relação ao
serviço e ao tratamento oferecido. Na etapa final do tratamento, o abandono foi 30%,
maior que os demais, em qualquer fase do tratamento. A recaída foi um fator que
apresentou tendência a se mostrar preditivo de abandono (Marques, Buscatti e
Formigoni, 1995).
Muitas vezes, apenas o conhecimento sobre os efeitos nocivos do consumo do
álcool podem não ser suficientes para evitar que os adolescentes se iniciem ao
consumo e abuso do álcool. Sendo o alcoolismo uma doença biopsicossocial, que
provoca danos gravíssimos ao organismo, é fundamental haver estratégias de
prevenção do alcoolismo na adolescência que envolvam as camadas sociais mais
jovens.
Tendo em conta que o acesso a bebidas alcoólicas é facilitado pela
nossa economia de super consumo, os jovens que tenham historiais de alcoolismo
na família correm um grave risco de se iniciar neste padrão de dependências caso
não sejam devidamente acompanhados. É para isso necessário que os médicos de
família estejam preparados para alertar e apoiar devidamente tanto o jovem como a
39
sua família. Como forma de prevenção do alcoolismo na adolescência devemos
também incutir-nos mais jovens a importância de um estilo de vida saudável.
Proibir apenas os adolescentes de beber como forma de prevenção do
alcoolismo na adolescência não adianta enquanto existirem bebidas alcoólicas de
fácil acesso, é necessário que haja uma sensibilização para a promoção da saúde e
segurança. Fazer seminários didáticos e interativos onde se expõem os perigos e
danos do uso e abuso do álcool. Proceder ao incentivo a atividades recreativas e
desportivas para os jovens ocuparem o seu tempo livre (fora das horas de estudo), e
para isso existem muitas alternativas de ocupação dos tempos livres.
É fundamental que todos os adolescentes tenham uma visão crítica sobre os
danos que o álcool pode provocar no corpo físico e que a dependência e abuso
podem causar danos irreversíveis nas suas vidas e a partir daqui tem de, tomar as
suas decisões e responsabilizar-se pelas suas opções. É urgente ter uma verdadeira
consciência do que é o alcoolismo, a prevenção das tendências de uso, abuso e
dependências do álcool como forma de prevenção do alcoolismo na adolescência.
40
3. METODOLOGIA
3.1 CARACTERÍSTICAS DE ESTUDO
A presente pesquisa que aborda o tema: O consumo de bebidas alcoólicas
entre os alunos do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Prefeito Odílio
Fernandes Costa é uma pesquisa direta de campo, de natureza descritiva, fazendo
uma abordagem qualitativa e quantitativa, onde a amostragem foi feita através de
um corte transversal.
3.2 POPULAÇÃO
A população desta pesquisa foi composta por alunos do Ensino Fundamental
e Médio da Escola Estadual Prefeito Odílio Fernandes Costa de Santo Antônio do
Retiro - MG
3.3 AMOSTRA
Para esta pesquisa realizada na Escola Estadual Prefeito Odílio Fernandes
Costa foram entrevistados 50 alunos dos últimos anos do Ensino Fundamental e
Ensino Médio.
3.4 INSTRUMENTOS
Os instrumentos para a seguinte pesquisa foram 01 questionário com 07
questões de múltipla escolha, microcomputador e impressora e copiadora.
3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Para se obter os dados da seguinte pesquisa foi realizada uma pequena
abordagem com os professores e direção da escola para que se diagnosticassem
possíveis candidatos à pesquisa e logo após, já com todos os entrevistados, fez-se
uma explanação dos objetivos propostos pela pesquisa e logo em seguida distribui-
se os questionários.
41
3.6 - TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Os dados foram tratados estatisticamente e os resultados foram
analisados com base nos fundamentos do referencial teórico e serão apresentados
em forma de gráficos, onde foi utilizado para a apresentação gráfica dos mesmos o
pacote estatístico será o Windows Microsoft Excel 2010.
3.7 - CUIDADOS ÉTICOS
Os dados coletados tiveram todas as salvas guardas estabelecidas perante o
sigilo de identidade dos alunos pesquisados. Não foram informados dados pessoais
dos pesquisados como nome e outras características.
42
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Escola Estadual Prefeito Odílio Fernandes Costa está situada na Praça
Sete de Setembro Nº.14, centro de Santo Antônio do Retiro.
Constatou-se que dos 50 alunos entrevistados com idades entre 11 a 18
anos, 60% eram do sexo feminino e 40% do sexo masculino, sendo que dentre os
entrevistados 33 tinham menos de 14 anos e 15 mais de 14 anos.
GRÁFICO 1 – USO DA BEBIDA ALCÓOLICA
FONTE: DADOS DA PESQUISA
Dentre os 50 alunos pesquisados notou-se que 60% dos mesmos já fizeram
uso de bebida alcoólica e 40% disseram que não, como se pode observar no gráfico
acima, algo explicitado em Soldera (2004) que acredita que o uso de bebidas
alcoólicas inicia-se cedo na vida, entre o início e meio da adolescência, com o grupo
de amigos ou mesmo em casa. Este uso implica consequências médicas,
psicológicas e sociais, podendo ser, para muitos indivíduos, o início da trajetória que
conduz à dependência do álcool.
43
GRÁFICO 2 – IDADE DA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COM ÁLCOOL
FONTE: DADOS DA PESQUISA
Os alunos foram questionados com respeito à idade da primeira utilização do
álcool, neste sentido 8% disseram que ocorreu antes dos 12 anos, 40% afirmaram
que ocorreu entre 12 e 13 anos, 12% disseram que aconteceu depois dos 13 anos e
40% disseram que nunca beberam, como se pode observar no gráfico acima, neste
sentido aborda-se Meloni e Laranjeira (2004) ao qual afirmam que no Brasil, a média
de idade para o primeiro uso de álcool é 12,5 anos.
GRÁFICO 3 – O ÁLCOOL E OS ACIDENTES DE TRÂNSITO
FONTE: DADOS DA PESQUISA
44
Foi perguntado aos alunos se eles achavam que o álcool pode causar
acidentes de trânsito, nesta questão 98% disseram que sim e 2% disseram que não,
como observado no gráfico abaixo, e indo de encontro a Lepre (2010) que aborda
ainda que outro fato bastante comum são os acidentes de trânsito, na maioria das
vezes envolvendo vítimas, com adolescentes que dirigem embriagados. O uso
abusivo de álcool faz o adolescente sentir-se, muitas vezes, onipotente, o que o leva
a adotar posturas de risco, como correr excessivamente, dar “cavalos de pau”,
derrapar com o carro, tirar “rachas”.
GRÁFICO 4 – OS PROBLEMAS QUE O ÁLCOOL PODE CAUSAR
FONTE: DADOS DA PESQUISA
Quando questionados sobre o conhecimento dos problemas que o álcool
pode causar os discentes responderam da seguinte maneira, assim como mostrado
acima no gráfico, 80% disseram que sim e 20% afirmam que não conhecem os
problemas que o álcool pode causar, porém estes dados podem se confrontados
com Zago (2002) que argumenta que pelo álcool estar tão próximo, tão acessível,
deixa a impressão de que é semelhante a um animal doméstico que não causa mal
algum. O álcool está inserido na cultura, presente nos lazeres e encontros
adolescentes, presente dentro das casas, presente tanto na vida profana como no
ritual religioso. Desse modo, consumir álcool pode parecer normal para o
adolescente, sem muita censura ou orientação por parte dos pais. Conforme estudo
45
apresentado pela UNESCO, "estudantes começam a beber por curiosidade, pelo
desejo de inserção social, para esquecer problemas e para ‘ter coragem’ nas
‘paqueras’”. E ????? que aborda que é fundamental que todos os adolescentes
tenham uma visão crítica sobre os danos que o álcool pode provocar no corpo físico
e que a dependência e abuso podem causar danos irreversíveis nas suas vidas e a
partir daqui tem de, tomar as suas decisões e responsabilizar-se pelas suas opções.
É urgente ter uma verdadeira consciência do que é o alcoolismo, a prevenção das
tendências de uso, abuso e dependências do álcool como forma de prevenção do
alcoolismo na adolescência.
GRÁFICO 5 – RELAÇÃO FAMILIA E ALCOOLISMO
FONTE: DADOS DA PESQUISA
A próxima questão foi relacionada ao conhecimento da família sobre o uso do
álcool pelos estudantes, neste sentido 40% disseram que sim, os pais sabiam que
seus filhos já tinham usado bebidas alcóolicas, 20% disseram que não, seus pais
não sabiam que eles tinham utilizado bebidas alcóolicas e 40% afirmaram que nunca
usaram bebidas alcóolicas. Neste sentido aborda-se Lepre (2011) que afirma que ao
contrário das drogas ilícitas, o primeiro contato que a maioria dos adolescentes tem
com o álcool é dentro de casa, sob o olhar complacente da família, que aceita e
46
tolera esse tipo de substância, passando a imagem de que o álcool, quando
“devidamente” utilizado, tem boas funções, como promover o encontro social ou o
relaxamento após um dia estafante. O problema é que esse uso nem sempre é
devido e o exemplo exibido não é o da taça de champanha para brindar o ano novo
ou o de um copo de chope no final de semana. E ????? que explicam que Além
disso, tanto as famílias quanto a sociedade aceitam com certa naturalidade um
adolescente consumir alcoólicos. Alguma censura pode ocorrer em caso de algum
abuso por parte desse adolescente, contudo, d
e forma Geral, o uso de bebida alcoólica por jovens é comum e tolerada na vida
familiar, em momentos de comemorações, na convivência grupal, etc.
GRÁFICO 6 – CAUSAS PARA A UTILIZAÇÃO DO ÁLCOOL
47
FONTE: DADOS DA PESQUISA
A próxima questão a ser respondida pelos entrevistados, que afirmaram já ter
bebido álcool, diz respeito ao porquê de terem experimentado o álcool, nesta
questão 20% disseram que utilizaram por curiosidade, 30% disseram que foi por
problemas emocionais, 40%afirmaram ter bebido por pressão dos amigos e 10%
citaram a facilidade de acesso como causa da primeira utilização. Neste quesito
Fishman (1988) e Vieira et. al. (2007), citam como possíveis causas da primeira
utilização do álcool pelos adolescentes: Contexto familiar e social, curiosidade e
experimentação, pressão dos amigos, busca pelo prazer, problemas emocionais,
facilidade de acesso.
GRÁFICO 7 – O ÁLCOOL E A ESCOLA
48
FONTE: DADOS DA PESQUISA
A última questão a ser respondida pelos discentes foi a seguinte: O uso do
álcool interfere no desempenho escolar? Nesta questão 90% disseram que sim e
10% afirmaram que não. Neste sentido aborda-se ???? que afirma que os riscos e
as consequências do uso abusivo de álcool na escola relacionam-se à queda
acentuada no desempenho escolar. Adolescentes que bebem demais se ausentam
com maior frequência das aulas perdendo a totalidade do processo pedagógico.
Aqueles que conseguem frequentar as aulas apresentam sonolência, lentidão e
dificuldade para entender o que o professor diz. Algumas pesquisas, ainda não
confirmadas, mas dignas de atenção, apontam para danos cerebrais (no hipocampo)
causados pelo uso abusivo de álcool envolvendo o aprendizado e a memória.
Com os dados obtidos ficou evidente que há uma massiva utilização de
bebidas alcóolicas pelos discentes pesquisados, (60%) e que apesar de não constar
no questionário 50% é do sexo feminino e 10% do sexo masculino, e que estes
começam a utilizá-lo entre os 12 e 13 anos (40%), ao que se pode inferir um
princípio de problematização social, pois crianças com tão pouca idade, não tem
maturidade ou mesmo capacidade física para suportar os efeitos devastadores do
álcool no corpo.
Uma ambiguidade relacionada à pesquisa é o conhecimento dos problemas
causados pelo álcool por parte dos adolescentes (80%), dos problemas do álcool no
trânsito (98%) e mesmo assim fazem uso da bebida alcoólica.
49
Outro dado importante observado na pesquisa foi o fato de que 40% dos pais
estão cientes que seus filhos já beberam algum tipo de bebida alcoólica e que a
pressão dos amigos (40%), problemas emocionais (30%), curiosidade (20) e
facilidade de acesso (10) são as maiores causas dentre o público pesquisado para a
primeira utilização do álcool pelos estudantes. Neste sentido observou-se que a
utilização do álcool é um problema social fortemente alicerçado na conivência dos
pais e da sociedade em geral, haja vista que o fato de ser uma droga lícita bastante
difundida nos meios sociais e ser considerada um meio de interação faz do álcool
um problema de difícil solução. Ao fato dos amigos serem os maiores incentivadores
para o aumento deste número de usuários infere-se que a necessidade de se criar
elos com determinados grupos sociais é ainda um forte determinante social para uso
de drogas lícitas como o álcool.
É evidente que o álcool não traz qualquer benefício para um estudante, pois
qualquer que seja o motivo para se utilizá-lo é evidente que as consequências serão
bem piores do que os resultados que se deseja.
A conscientização por parte da escola, centros de saúde e principalmente dos
pais é fundamental para se solucionar este terrível problema, pois principalmente
nas festas e comemorações não há qualquer fiscalização na utilização de bebidas
por adolescentes da mais tenra idade, mesmo sendo proibido por lei a
comercialização de bebidas alcoólicas por menores de 18 anos.
50
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos fatores mais preocupantes quanto ao alcoolismo por parte de jovens
estudantes do Ensino Fundamental e Médio é o fato de grande parte da sociedade e
principalmente da família não considerar este fator um problema e o que é ainda
pior, muitas vezes o próprio pai ou mãe são incentivadores deste consumo, fator que
dificulta bastante a solução deste grande mal social.
Encontrar benefícios no uso prolongado e massivo do álcool é algo
extremamente errôneo, pois já se comprovou cientificamente os grandes males da
bebida alcoólica e que esta obrigatoriamente encaminha o usuário para diversos
tipos de doenças e para uma morte prematura.
Buscar soluções para este problema é extremamente importante, mas para
que isso aconteça é necessário inicialmente um trabalho de conscientização dos
pais, demais familiares e sociedade, haja vista que para se chegar a esta solução é
necessário a participação de todos e o fim de antigos hábitos como oferecer bebida
para os adolescentes, deixar de fazer uso em datas comemorativas e ainda deve-se
denunciar comerciantes que vendem bebidas para menores, além é claro de uma
conversa franca com os adolescentes sobre os riscos do alcoolismo.
51
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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55
7. APÊNDICE
QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO AOS ALUNOS DOS ANOS FINAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL
PREFEITO ODÍLIO FERNANDES COSTA
Sexo: ________________ Idade: ____________________
1. VOCÊ JÁ USOU ALGUM TIPO DE BEBIDA ALCOÓLICA?
a. ( ) Sim b. ( ) Não
2. CASO VOCÊ JÁ TENHA BEBIDO, COM QUANTOS ANOS ACONTECEU?
a. ( ) Antes dos 12
b. ( ) De 12 a 13
c. ( ) Depois dos 13
d. ( ) Nunca Bebi
3. VOCÊ ACREDITA QUE O ÁLCOOL PODE CAUSAR ACIDENTES DE
TRÂNSITO?
a. ( ) SIM
b. ( ) NÃO
4. VOCÊ CONHECE OS PROBLEMAS QUE O ÁLCOOL PODE CAUSAR?
a. ( ) SIM
b. ( ) NÃO
5. SUA FAMÍLIA SABE QUE VOCÊ JÁ BEBEU?
a. ( ) SIM
b. ( ) NÃO
c. ( ) NUNCA BEBI
6. CASO JÁ TENHA BEBIDO POR QUAL MOTIVO VOCÊ BEBEU
a) ( ) CURIOSIDADE
b) ( ) PROBLEMAS EMOCIONAIS
c) ( ) PRESSÃO DOS AMIGOS
d) ( ) FACILIDADE DE ACESSO
7. O USO DO ÁLCOOL INTERFERE NO DESEMPENHO ESCOLAR?
a) ( ) SIM
b) ( ) NÃO
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